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palavras & Atos COMBATER A CORRUPÇÃO É VALORIZAR O RIO GRANDE palavras & Atos palavras & Atos Stela Farias

Atos e Palavras

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Stela Farias

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palavras & Atos

COMBATER A CORRUPÇÃOÉ VALORIZAR

O RIO GRANDE

StelaFarias

Deputada Estadual

palavras & Atospalavras & AtosStela Farias

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Palavras&

atos

Março de 2010

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Uma Publicação do Gabinete da Deputada Stela Farias

Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, 4º andar

Praça Marechal Deodoro, 101 – Centro – Porto Alegre – RS

CEP: 90010-900 Telefone: (51) 3210-2670

Site: www.stelafarias.com.br

Email: [email protected]

Edição e Planejamento Gráfico: Ricardo Dias

Capa:

Rogério Teles

Supervisão: Adriano Marcello Santos

Coordenação:

Andrew Carvalho

Revisão: Tiago Allmer

Fotos:

Adriano Marcello Santos

Impressão Corag

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Apresentação

O Parlamento tem limites muito claros. Apesar de sua importância para a Democracia, o parlamentar não tem ao seu alcance mais direto a pos-sibilidade de inferir sobre a vida das pessoas, a dinâmica da economia, a con-strução de políticas públicas, como tem o Executivo.

Podemos propor, discutir, cercar de garantias legais algumas políticas. Podemos fiscalizar e denunciar, quando o que deveria ser feito, não o é. Mas não temos, como parlamentares, o poder de que dispõe um governo, seja no âmbito municipal, estadual e federal.

Mas, no parlamento, temos à disposição dois instrumentos potentes: por Palavras & Atos, buscamos transformar a realidade que nos cerca. Bus-camos construir condições melhores, especialmente para os que mais precisam. Para nós, que temos esse compromisso, nossa atenção deve se voltar para que possamos, pelo poder da palavra e pela força de nossa ação, estabelecer condi-ções melhores para nossa gente.

A mim, que fui honrada pelo povo do Rio Grande do Sul com um man-dato parlamentar, cabia um compromisso: não me calar e não me omitir! Bus-camos estabelecer isso, ao longo de nosso trabalho.

Queremos que as coisas mudem, queremos dias melhores, queremos que nosso povo tenha uma vida digna, com mais oportunidades. Para as mu-lheres, os índios, os jovens, os dedicados servidores públicos de nosso estado. Para os que se sentem inseguros, para os que trabalham ou precisam da área da saúde. Para aqueles que, como nós, não se calam diante da corrupção e desejam ver os culpados punidos.

Para todos estes – e pelo Rio Grande – nossas Palavras & Atos esti-veram voltados. Que neste material, eles possam continuar encontrando eco, para reforçar a nossa luta e ampliar a nossa capacidade de construir vitórias!

Um fraterno abraço, Stela Farias

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Um Governo de crises

O Governo Yeda é o governo dos “mantras”. Eu já havia dito isto, recentemente, no Programa Conversas Cruzadas. Primeiro, foi o “mantra” do AUMENTO DE IMPOSTOS: “não é possível viver sem o aumento de impostos”, “o estado vai parar sem o aumento de im-postos”, “os servidores não vão receber, sem o aumento de impostos”. Esta Casa teve a altivez de dizer NÃO, ouvindo o clamor da sociedade gaúcha e recusou essa fórmula. O Estado não apenas não parou, como ainda sobraram recursos, não apenas para o governo colocar em dia o 13º dos servidores e, até mesmo Sr. Presidente, influir em alguns pro-cessos eleitorais em cidades pelo Rio Grande, a favor de candidatos que lhes eram simpáticos.

Depois, o mantra do REALISMO ORÇAMENTÁRIO: “não po-demos gastar mais do que arrecadamos”; “o orçamento será cumprido conforme a receita”; “não podemos continuar a utilizar o caixa único”. A situação financeira líquida ajustada aponta mais de R$5,7 bilhões em despesas vinculadas não empenhadas e restos a pagar, além de quase R$ 1 bilhão utilizado do Caixa Único.

Em seguida, veio o CHOQUE DE GESTÃO: “o público não funciona”; “precisamos privatizar serviços”; “temos que contratar os-cips”; “precisamos fechar estatais deficitárias”; “o estado precisa fun-cionar melhor”. As estruturas do estado têm sido progressivamente desmontadas. Os investimentos mínimos não são realizados. E os ser-viços públicos estão – não por culpa do público, mas pela paralisia de um governo – cada vez piores.

Mais recentemente, o discurso da TRANSPARÊNCIA: “precisa-mos ser transparentes”; “criamos a secretaria da transparência”; “te-mos que combater a corrupção”. Pena, que só veio depois de o estado ficar paralisado por quase 180 dias, em função de um mar de corrup-ção, que atolou um governo que já não vinha bem. Nada menos do que cinco secretários caíram. Um deles, gravado em confidências bastante graves, pelo próprio Vice-Governador.

O mantra seguinte, foi o da intolerância: “Manifestantes não podem fugir à lei”; “Manifestações atrapalham o serviço”; “Grevistas devem ser descontados”; “As manifestações poderiam ter um local

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próprio – e de preferência, longe”. O que só revela uma indisposição absoluta para ouvir, para discutir, para receber a crítica. O que revela uma faceta autoritária e anti-democrática.

Estamos diante de uma nova cantilena: “Os contratos de pe-dágio, têm desequilíbrio financeiro”. “O estudo sério da FGV mostra isso”. “É preciso ampliar a concessão”. “Não há outra forma de resol-ver o problema”. “As rodovias não receberão obras, se não for assim”. “O Estado ficará paralisado até 2013”...

É o governo das cantilenas. Das cantilenas e da pressa. Sempre tudo é urgente. Essa é a primeira discussão que eu gostaria de apontar, Srs. deputados, Sras. deputadas. Por que, afinal, tanta pressa? Os con-tratos não vencem apenas em 2013? Parece que estão vencendo ama-nhã! Vamos decidir mais 20 anos da economia do Estado em 30 dias? Sem discussão nas comissões temáticas? Sem a realização de audiên-cias públicas, para ouvir as comunidades? Sem chamar especialistas que possam nos orientar sobre a melhor decisão a tomar? Sem ouvir os técnicos da FGV, que fizeram o tão brilhante relatório?

Retomo esta discussão, por que parece que o Governo não a de-seja. Aliás, revendo o histórico, a que discussão se propôs o atual go-verno? Esse é o governo da falta de discussão! Da ausência de debate. Do “rolo compressor”. Esse “rolo compressor” já não funcionou uma vez aqui. E oxalá, não funcione de novo.

O segundo elemento, que é sempre preciso reforçar. Aqui, alguns colegas deputados, que já se posicionam favoráveis à prorrogação, di-rão: “ah, mas esse assunto já está vencido, já foi muito debatido”. Pode até ter sido debatido, mas ainda há perguntas sem resposta. E é pre-ciso que se repita toda a pergunta que fica sem a resposta devida. E a nova é: por que, afinal, aqui no Estado o contribuinte deve pagar mais de R$5,00 por um carro de passeio, quando nos pedágios federais, ro-dovias foram concedidas com pedágios a menos de R$1,00? Por que, afinal, a taxa de retorno do investimento chega a mais de 21%, quando em outros países do mundo não passa de 15% e quando o Tribunal de Contas da União apontou que essa taxa não poderia passar de 12,8%?

Por que empresas que alegam estar tendo prejuízo com os con-tratos, fazem tanto força para prorrogá-los? Por que as despesas de cus-

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teio e os investimentos realizados não sofrem uma verificação maior? O Tribunal de Contas da União, através de ajustes propostos nesses dois temas – revisão de critérios das despesas e redução da taxa de retorno – e o Governo Federal, que escutou o Tribunal, não teve pressa, não teve açodamento, conseguiram uma economia de R$17 bilhões aos contribuintes, nos pedágios federais, nos próximos 20 anos.

Aqui no Estado, mais de R$ 6 bilhões serão postos no caixa das concessionárias, sem que o Legislativo deste Estado se faça, ao menos, algumas perguntas? Tudo isso porque um governo, que até aqui deu prova de erros gritantes, tem pressa? Tudo isso porque as concessioná-rias têm pressa? Tudo porque, aqui nesta Casa, ainda há alguns depu-tados que fazem uma análise apenas sobre o que se pode ganhar e não sobre o que o Estado pode perder?

Haverão investimentos? Por óbvio. Há problemas nos contra-tos e eles devem ser ajustados? Admitamos que sim. Investimentos de mais de R$ 1 bilhão em estradas são positivos? Claro. O Estado não te-ria como investir esse valor? Talvez. Mas mesmo diante de todos esses argumentos, porque o Governo não quer explorá-los melhor? Por que não se dedica a um bom debate com a sociedade. Se há tantos pontos positivos na proposta, porque não debatê-la intensamente? Por que, ao contrário, apressar a discussão, fazendo votar a toque de caixa, em 30 dias, uma projeto sobre o qual pairam – no mínimo – argumentos de dúvida?

Há uma fábula, muito interessante, que fala sobre as artimanhas da pressa. Na floresta, a onça estava para casar. E todos acharam aqui-lo maravilhoso, porque haveria festa. E haveria comemoração. E have-riam comes e bebes. E música. E dança. Todos achavam lindo. Todos, menos a rã, que torcia o nariz para o casório. Provocada pelos outros animais, que a acusavam de estar com inveja, ela disse: Vivi mais e sei mais da vida. Vocês analisam apenas o que é festa e não o que vem de-pois: casa-se a onça e já de começo, será ela e o marido a perseguirem os animais. Depois virão as oncinhas e os bichos se verão com a fome da família inteira. Ora, se um só apetite já provoca tanto estrago, o que será de nós, quando forem quatro, cinco ou seis?

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Eu espero, Sr. Presidente, sinceramente, que uma análise apres-sada sobre o que pode ser positivo, não acabe por “devorar” a econo-mia do Rio Grande e a todos nós, pelos próximos 20 anos!

Pronunciamento realizado na Tribuna da Assembleia no dia 10 de dezembro de 2008

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stelA vAi percorrer o estAdo pArA debAter A crise econômicA no rs e o “déficit zero”

A deputada Stela Farias (PT) iniciou no último sábado (14/02), em Butiá, uma agenda sobre a crise econômica e o Programa “Déficit Zero” com lideranças partidárias da região Carbonífera e Costa Doce. Na Câmara Municipal de Vereadores, a parlamentar falou para cerca de 50 pessoas, entre vereadores, prefeitos e dirigentes partidários da Região. Stela deixou claro que não é contra o equilíbrio das contas, que segundo ela, é uma prática tradicional nas administrações do Partido dos Trabalhadores (PT), mas considera falaciosa a ideia de déficit zero divulgada pela governadora, porque na prática nenhum dos proble-mas estruturais das finanças do Estado foi resolvido.

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Munida de um lap-top, um datashow e uma apresentação de Powerpoint desenvolvida a partir de informações técnicas levantadas pela Bancada do PT na Assembleia, a deputada vai percorrer o Rio Grande do Sul, realizando plenárias regionais, demonstrando que o “déficit zero” está baseado na ampliação do endividamento e no desmonte do serviço público, com o não cumprimento dos mínimos constitucionais e não execução das rubricas de investimentos e custeio aprovadas em Orçamento.

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redUção dAs tArifAs

A deputada Stela Farias defendeu a redução das tarifas dos pe-dágios com base em estudo do Instituto de Pesquisa Aplicadas (Ipea). A análise sustenta que a taxa de retorno das concessionárias de rodo-vias no Brasil tem sido muito superior à média praticada nos Estados Unidos e na Europa. Enquanto aqui a Taxa Interna de Retorno (TIR) gira em torno de 18%, nos EUA cai para 15% e na Europa, para 12%. Segundo a parlamentar, aplicando a TIR americana, é possível reduzir as tarifas dos pedágios gaúchos entre 21,28% e 26,15%.

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deficit zero oU estAdo mínimo?

Também estou aqui, nesta tarde, para fazer algumas comunica-ções.

Em primeiro lugar, cumprimento o Partido dos Trabalhadores, que há 29 anos foi criado e, desde o início da sua trajetória, jovem ain-da, tem contribuído enormemente, numa caminhada de muitas con-quistas e de muito sucesso, para a classe trabalhadora do nosso País.

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Em segundo lugar, quero referir uma informação que recebi em minha casa.

Em torno da meia-noite de ontem, telefonou-me um familiar de um jovem indígena Guarani da região de Barra do Ribeiro que foi es-pancado por três PMs sem razão alguma. Mesmo que razão tivessem, espancamento, agressão e violência não podem ser tolerados, princi-palmente se partirem daqueles que devem fazer a proteção dos cida-dãos, em especial dos que fazem parte da minoria neste País e são os mais vulneráveis, como a pequena comunidade indígena do Estado do Rio Grande do Sul.

O desespero daqueles familiares era grande. Esse menino foi enviado ao pronto-socorro. Ele passou por exame de corpo e delito também.

Hoje, pela manhã, o coordenador da Funai na Região Metropoli-tana acompanhou o menino, o cacique dessa tribo e também familiares numa audiência com o Ministério Público Federal, que fez a denúncia. Estiveram também aqui, nesta Casa, na Comissão de Cidadania e Di-reitos Humanos, que é presidida pelo companheiro Marquinho Lang. Foram recebidos pelo deputado Dionilso Marcon – que presidirá, a partir da próxima semana, essa comissão – e por mim. Ficamos saben-do dos horrores e do absurdo ocorridos na noite de ontem.

Também tomamos a iniciativa de pedir, com urgência, uma au-diência à Secretaria da Segurança Pública do Estado, somada ao co-mando da Brigada Militar.

Essas situações não devem ser toleradas. Se há algum tipo de intolerância, discriminação racial ou qualquer coisa que o valha, o que não podemos, como cidadãos, população gaúcha, sendo nós parla-mentares ou não, é tolerar esse tipo de situação.

Portanto, o governo tem mais uma situação de absoluto cons-trangimento ocorrida com a Brigada Militar, que temos que verificar. Estamos esperando o retorno da secretaria para termos essa audiên-cia.

Gostaria de dizer também que estamos preocupados. O deputa-do Elvino Bohn Gass aqui se referiu à viagem da governadora. Hoje,

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pela manhã, quando vinha para esta Casa ouvi, numa determinada rádio de grande audiência no Estado, os comunicadores discordando entre si sobre o dia que a governadora retornará ao Estado de sua via-gem.

Ficou patente que não está confirmado o retorno da Sra. Go-vernadora, que já viaja há sete dias fora do Estado propagandeando o chamado déficit zero, que eu ainda quero analisar melhor. Desafio o governo a vir a esta Casa e nos comprovar a eficácia e a forma como se deu esse temporário, fictício e falacioso déficit zero.

Tenho dito desde a semana passada que déficit zero não com-bina com medidas anticrise, que é o que o Estado é chamado, neste momento, a tomar. Não combina.

Déficit zero é Estado mínimo. Déficit zero é recrudescimento do investimento público, é encolhimento de políticas sociais, é encolhi-mento de serviços públicos.

Neste momento em que até os países mais liberais do mundo têm feito investimentos públicos – inclusive no setor privado, o que é discutível – e vultosos para fazer a roda da economia movimentar-se para frente, a governadora até parece que vive em outro planeta.

Viajando pelo País – em descanso ou não, o que é legítimo , não venha propagandear aquilo que não combina. Tenho certeza de que nenhum governador que ela visitou se utilizou da propaganda do dé-ficit zero, pois ela não fecha com o momento de crise que vivemos.

Encerro, Sr. Presidente, dizendo que estamos aguardando há oito dias a resposta a um pedido de informação que fizemos ao secre-tário da Fazenda, Ricardo Englert. Quero receber do secretário o nome das empresas beneficiárias do Integrar/RS e Fundopem, que têm rece-bido e estão demitindo pessoal. Trata-se de recursos importantes.

A governadora precisa nos dizer quais as medidas urgentes para o setor produtivo, a fim de conter o desemprego, manter e elevar o consumo neste Estado. Muito obrigada.

Pronunciado na Tribuna da Assembleia na tarde do dia 10 de fevereiro de 2009

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stelA seGUe bUscAndo medidAs pArA enfrentAr A crise econômicA mUndiAl

Em audiência dia 20/02 com o secretário estadual da Fazenda Ri-cardo Englert, a deputada Stela Farias entregou oficialmente, em nome da Bancada do PT na Assembleia, o conjunto de 22 medidas elabora-das pelos parlamentares para enfrentar a crise econômica no estado.

Além da entrega do documento, a parlamentar cobrou do se-cretário, informações sobre os termos de compromisso estabelecidos com as empresas para acessar os recursos públicos do Fundopem, em especial, os itens sobre garantia de geração, manutenção e ampliação do emprego.

Ricardo Englert limitou-se a reafirmar seu compromisso do go-verno, com o ajuste fiscal, garantiu que já tem ações delineadas para o combate a crise e que está conversando com os empresários, além da intenção de executar o orçamento para investimentos integralmente.

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Stela reiterou a importância do Governo do Estado participar das mesas de negociação com diferentes setores da sociedade e a ne-cessidade de medidas mais contundentes para enfrentar a crise.

“Preocupa-nos é que o histórico de execução orçamentária do Governo do Estado, não nos permite ter a segurança de que as medi-das anunciadas vão sair do papel” ponderou a deputada.

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direito A Greve

Na manhã de hoje, infelizmente, não obtivemos o quórum re-gimental para realizar o debate acerca do parecer, de nossa autoria, sobre o Veto da Governadora Yeda Crusius ao Projeto de Lei que abo-na as faltas, decorrentes de movimentos de paralisação, de algumas categorias profissionais de servidores do nosso Estado.

É lamentável que não tenha ocorrido a discussão - apesar do esforço que fizemos por mantê-la eu e mais alguns colegas, com as entidades sindicais que acompanhavam a reunião - pois trata-se de um tema da mais alta relevância para a sociedade gaúcha.

Digo para a “sociedade” – e poderia parecer um exagero, pois trata-se de tema que diz respeito à vida funcional apenas dos servi-dores públicos – não como figura de retórica, no sentido de ampliar propositadamente um tema menor, para torná-lo mais relevante.

Digo para a “sociedade”, porque é elucidativo analisar como e especialmente, porque chegamos até aqui. Fazendo uma rápida di-gressão, a aprovação do Projeto de Lei 285/2008, deu-se com 41 votos favoráveis ao texto final, que recebeu quatro emendas – todas apro-vadas – estendendo o abono – proposto em projeto com origem no Executivo – a outras datas e categorias.

A Governadora veta três dessas emendas: A que abonou a para-lisação dos servidores do Centro de Saúde Murialdo (entre os dias 06

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a 14 de Outubro); a dos servidores da Polícia Civil (nos dias 04, 05, 06 e 17 de novembro); e ao magistério (paralisado entre os dia 14 a 28 de novembro). E nós queremos aqui afirmar: esse é um veto de CONTRA-DIÇÃO, um veto de DESCUMPRIMENTO DE PALAVRA, um veto de CONSTRANGIMENTO e um veto de DESSERVIÇO.

O primeiro elemento é que esse é um veto de CONTRADIÇÃO: o governo acha “justo o abono de faltas de servidores que participa-ram de movimentos reivindicatórios”, como diz textualmente, a pró-pria mensagem da Governadora, mas justo em alguns dias e em outros não.

De outra parte, o Governo, através de seu Secretário de Segu-rança e do Chefe de Polícia à época, havia se comprometido com os grevistas da Polícia Civil a não descontar os dias parados, que se inte-gravam a um movimento nacional. Portanto, esse é um veto de DES-CUMPRIMENTO DE PALAVRA.

É evidente que o Governo pretende com esse movimento, criar uma barreira para futuras paralisações. Por um canetaço, sem diálogo, sem nenhum esforço em dialogar com as categorias de servidores pú-blicos. Portanto, esse também é um veto de COERÇÃO e CONSTRAN-GIMENTO.

Mas o mais grave, Sr. Presidente, Srs. Deputados, é que boa par-te dos movimentos reivindicatórios que estão em pauta ocorrem não por um pedido de aumento. Não por salários. Mas por condições de trabalho.

Relatos impressionantes, como os que ouvimos hoje pela ma-nhã, dos trabalhadores do Centro de Saúde do Murialdo, deveriam ser ouvidos pelo conjunto deste parlamento. Devem ser ouvidos pela sociedade gaúcha. Um governo que executou em custeio – destaco: CUSTEIO – apenas 35,38% do orçado para a Habitação; 41,16% para o Meio Ambiente; apenas 60,58% do que ficou estabelecido para Obras, está gerando sob a justificativa do “ajuste fiscal” um enorme “déficit social”.

E isso fica demonstrado nas péssimas condições de trabalho, da qual se queixam boa parte dos servidores deste Estado. E É por isso que dizemos, que essa questão vai muito além do interesse corporati-

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vo. Por que essa situação está afetando a qualidade do serviço público. A qualidade da prestação de serviços que o cidadão – que paga seus impostos para tê-los – encontra cada vez mais precarizada, do outro lado do balcão.

Portanto, esse é também um veto de DESSERVIÇO à sociedade do Rio Grande. Porque não quer que seja exposto à sociedade, através dos movimentos reivindicatórios, através da justa mobilização dos ser-vidores, através do instrumento legítimo, legal, constitucional e justo da greve a situação em que se encontra o serviço público e a necessi-dade urgente de se discutir uma política que tem levado o Estado ao sucateamento de estruturas e serviços, que tem custado vidas. Está aí a matéria de Zero Hora, no último domingo, que mostra que a maior parte dos Policiais Militares mortos em serviço o foi pela falta de equi-pamentos adequados.

E, diante disso, Sr. Presidente, o melhor serviço que este par-lamento pode prestar à sociedade – não aos servidores, repito, mas à sociedade – é proceder à derrubada do veto da Governadora Yeda Crusius.

Pronunciado na Tribuna da Assembleia dia 03 de Março de 2009

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teoriA dA conspirAção

Ocupo hoje a Tribuna desta Casa, para trazer à discussão um tema que considero – e todos aqueles que são defensores da democra-cia e do estado democrático de direito, também irão considerar – da maior gravidade.

O Jornal Zero Hora, do último dia 03 de Março, traz uma repor-tagem em que a Sra. Governadora do Estado diz-se “vítima de uma extrema direita golpista” e de uma “esquerda pseudorrevolucionária”, em alusão às denúncias das quais é acusada, apresentadas no final do mês de fevereiro, último.

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Pois bem, Sr. Presidente. “Golpe”, “Revolução”, foram temas bastante presentes, infelizmente, no histórico deste País, ao longo de mais de 30 anos, na nossa história recente. Na passagem pelo regime ditatorial que vivemos, era comum o uso dos “serviços de inteligência” para a repressão, coerção e intimidação política. Ficaram tristemente famosos e conhecidos do grande público o Serviço Nacional de Infor-mações – SNI; o Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna – DOI-CODI; e o Departamento de Ordem Política e Social – DOPS.

Ao que parece, essa temática está sendo ressuscitada no Estado do Rio Grande do Sul. O mesmo governo que acusa, de forma injusta e sem fundamento na realidade, o Ministro Tarso Genro, que vem con-duzindo a Polícia Federal de maneira “republicana”, como ele mesmo gosta de referir. Esse mesmo Governo, deveria explicar o que determi-na ao serviço de inteligência do Palácio Piratini.

A colunista Rosane Oliveira, que assina a sempre referida “Pá-gina 10”, do jornal Zero Hora, publicou ontem que “a inteligência do Palácio Piratini” apurou um encontro entre o Vereador Pedro Ruas e o Vice-Governador, na véspera da apresentação das denúncias pelo PSOL, contra a Governadora.

Até aí, por “inteligência”, poder-se-ia pensar um bando de aspones, destacados para “ficar de olho” no Vice. O que já seria um absurdo, posto que trata-se de dinheiro público empregado para fins nada convencionais. Mas, ao que tudo indica, o caso é de muito, muito maior gravidade, Sr. Presidente.

Na coluna de hoje, Rosane Oliveira diz ter sido causado um “mal-estar”, um certo “desconforto” entre os Policiais Militares que trabalham no serviço de inteligência do Palácio Piratini, “a informação de um secretário de Estado de que eles teriam descoberto um encontro do vereador Pedro Ruas com o vice-governador”.

Ora, Srs. Deputados e Sras. Deputadas, estamos diante de um fato da maior gravidade, do ponto de vista institucional. Então, o Go-verno do Estado determina ao Serviço de Inteligência da Polícia Mi-litar, organismo de Estado, com caráter institucional que “espione” o vice-Governador? É esse o ponto a que chegamos neste Estado?

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E se não foi a própria Governadora, quem foi? Quem responde-rá por esse absurdo? Sim, porque o mínimo que se pode fazer numa democracia é não deixar esse como um fato pouco relevante. Esse é um fato para ser APURADO e DEVIDAMENTE PUNIDO!

Por conta de fatos como esse, um Presidente da maior potência do planeta, Richard Nixon, nos Estados Unidos, se viu obrigado a re-nunciar ao mandato.

É fato que, no dia seguinte à coletiva do PSOL, o “Porta Voz Não Nomeado” do Palácio Piratini, Políbio Braga, dono, nos últimos anos de patrocínios de estatais - que tanto combate publicava em seu site uma foto, que dizia ser do carro da deputada Luciana Genro.

O Governo imediatamente partiu para o ataque, com a “teoria da conspiração”: Luciana, por ser filha do Ministro Tarso, estaria arti-culando com o vice-Governador a queda de Yeda, para atender aos in-teresses de ambos. Seguiram-se declarações de lideranças e secretários de governo. Mas nunca explicaram como obtiveram a foto.

A “Página 10” explica. E elucida de forma dramática, em minha opinião. Nós temos hoje um governo que se serve de um aparelho de inteligência institucional para realizar espionagem política. Espiona-gem política, que é uma marca de governos autoritários. Uma marca de quebra instituicional.

É diante disso que estamos, Sras. e Srs. E diante disso não pode-mos nos furtar ao nosso papel. Exigir esclarecimento, exigir apuração e exigir a responsabilização dos responsáveis é o mínimo que a preser-vação da democracia exige de nós!

Pronunciado na Tribuna da Assembleia dia 05 de Março de 2009

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stelA já hAviA encAminhAdo pedido de informAções sobre “ArAponGAGem” do pirAtini

A deputada Stela Farias (PT) já havia encaminhado ao presi-dente da Assembleia Legislativa, deputado Ivar Pavan, na quarta-feira (04/03), uma solicitação para o parlamento pedir informações ao Go-verno do Estado, sobre os registros das atividades dos integrantes do Serviço de Inteligência, vinculados à Casa Militar, quando o ex-ouvi-dor da Segurança Pública, Adão Paiani, demitido sem comunicação prévia, revelou em entrevista coletiva, na sexta-feira (13/03), a utiliza-ção de mecanismos da polícia para espionagem entre os integrantes do próprio Governo do Estado.

O pedido da deputada se deu depois da divulgação de notícias sobre a apuração realizada pelo referido serviço do Palácio Piratini, em relação a visita do vereador Pedro Ruas ao vice-governador Pau-lo Feijó, na véspera da coletiva realizada pelo PSOL, para apresentar supostas irregularidades na campanha eleitoral da governadora Yeda Crusius.

“Diante da informação de que o governo está fazendo uso políti-co de instrumentos de investigação de maneira ilegal, sem autorização prévia do Judiciário e comprometendo a própria estrutura das polícias, vamos solicitar a presença do ex-ouvidor da Segurança Pública, na Comissão de Serviços Públicos, na próxima semana.” Afirmou Stela.

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protestAr não é crime

O Art. 37, inciso VII garantiu o direito de greve, inclusive, aos servidores públicos civis.

Foi uma luta de muitos anos, porque, dado regime de exceção que vivemos por três décadas no Brasil, o instrumento de greve foi considerado, durante muito tempo, uma afronta à lei e à ordem.

Muitos lutaram para que tal direito fosse consolidado. Muitos morreram, para que tal direito fosse garantido.

Atentar contra a greve é atentar contra a DEMOCRACIA. Con-tra a legitimidade dos trabalhadores de buscarem, com a paralisação de seus serviços, chamar a atenção de seus empregadores para sensi-bilizá-los, após esgotadas outras tentativas.

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foi o qUe fez o mAGistério GAúcho...

Mas vejam, Srs. deputados, o Governo Gaúcho superou-se no seu viés anti-democrático. Em 23 de março de 2008, a pedido do Go-verno Gaúcho é exarado um parecer, pela Procuradoria Geral do Es-tado, que dá conta de responder à LEGALIDADE dos movimentos grevistas no Estado do RS.

O Governo buscava, por certo, uma sustentação para sua tese base-ada na jurisprudência “PAULO MENDES” de que as greves são ilegais.

A Procuradoria, no entanto, afirmou que, dado entendimento do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, mantido nos Mandados de Injunção nº 670/ES, 708/DF e 712/PA, a greve dos servidores públicos que teve, durante muitos anos, inclusive pelo próprio STF, o entendimento da falta de uma base legal para regular os movimentos grevistas, tendo em vista a expres-são, presente na Constituição Federal, “nos termos e nos limites definidos em lei”, lei esta, que nunca foi estabelecida.

O Supremo modifica então seu entendimento, declarando que as greves no serviço público – e o direito de greve – não poderia ser obsta-do pela ausência de regulamentação legislativa. Assim, entendeu a Corte Maior que deveria ser aplicada a Lei 7.783/89 (Lei de Greve da Iniciativa Privada), em termos que o próprio Supremo determinou quais seriam.

diz A lei 7.783/89, dentre oUtrAs coisAs, no § 2º do Art. 6º:

“É vedado às empresas adotar meios para constranger o emprego ao comparecimento ao trabalho, bem como capazes de frus-tar a divulgação do movimento”.

O que faz o Governo Yeda? Edita o Decreto 45.959, em 28 de Ou-tubro, determinando o desconto dos dias parados, para quaisquer ser-vidores que LEGITIMAMENTE EXERÇAM SEU SAGRADO, CONS-TITUCIONAL E LEGAL DIREITO DE GREVE.

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nAdA é por AcAso, qUAndo se trAtA desse Governo...

No que tange à remuneração dos dias parados, o Ministro Lewandowski, do STF, inspira-se na redação proposta em Projeto de Lei da então deputada Rita Camata, que tramita até hoje no Le-gislativo Federal, para determinar que OS DIAS PARADOS SERÃO COMPUTADOS COMO DE EFETIVO EXERCÍCIO PARA TODOS OS EFEITOS, INCLUSIVE, REMUNERATÓRIOS, desde que atendidas as exigências da Lei 7.783/89 (a saber: aprovação em assembleia da cate-goria, estatutariamente convocada para tal fim e comunicação ao em-pregador, com 72 horas de antecedência da paralisação) e DESDE QUE SEJAM REPOSTAS AS HORAS NÃO TRABALHADAS, CONFORME CRONOGRAMA ESTABELECIDO PELA ADMINISTRAÇÃO, COM A PARTICIPAÇÃO DA ENTIDADE REPRESENTATIVA DOS SERVI-DORES.

o qUe está Acontecendo neste momento, sr. presidente?

Exatamente, o que dispõe o entendimento do STF, que o Gover-no do Estado JÁ CONHECE, no mínimo, DESDE SEIS MESES ANTES DE LANÇAR ESSE DECRETO ILEGAL E ARBITRÁRIO!

Esta Casa tem a oportunidade de fazer justiça. Esta Casa já fez isso em outros momentos. Nos últimos anos, em pesquisa no Siste-ma Legis, encontramos mais de 08 normas, entre leis e decretos, que abonaram faltas ao serviço, decorrentes de movimentos de greve (Leis 12.406/05, 11244/98, 10724/96, 9345/91, Decretos 42748/03, 37503/97, 33918/91), o que indica que esta Casa e Governos mais sensíveis, já estabeleceram esta possibilidade antes.

Pronunciado na Tribuna da Assembleia dia 11 de Março de 2009

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Abono de fAltAs: Governo do estAdo qUer pUnir cAteGoriAs descontentes

Depois da decisão ter sido adiada por duas vezes, a base gover-nista na Assembleia Legislativa, conseguiu garantir o veto parcial do governo ao projeto de lei que abona os dias parados por professores e policiais em função de reivindicações salariais em 2008. Nas duas ses-sões anteriores, a base governista não conseguiu manter em plenário o número mínimo de parlamentares (28) para que a matéria fosse vo-tada, uma vez que a oposição não registrou presença com o propósito de construir um acordo para evitar prejuízos aos servidores. O veto foi mantido por 27 votos favoráveis e 21 contrários.

Stela classificou a manobra como injustiça e criticou o empenho do governo em derrotar três categorias de servidores públicos.

“Afinal, quem ganha com a derrota destas categorias, que aten-dem diretamente a população? Só o PSDB e este governo, cada vez mais enredado em denúncias de corrupção”, criticou a parlamentar.

Diante da manutenção do veto, foi anunciado pelo presidente da Assembleia Legislativa, Ivar Pavan (PT), uma proposta das bancadas de oposição (PT, PDT, PCdoB e PSB) de novo projeto de lei para abonar as faltas dos grevistas. Como o abono foi aprovado no ano passado e o veto analisado somente em 2009, a matéria pode voltar a tramitar no parlamento.

A votação foi acompanhada por professores e policiais de um lado e por assessores da governadora no lado oposto.

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escolAs itinerAntes: projeto pioneiro

No dia de hoje, em que o Parlamento Gaúcho presta sua ho-menagem à luta de todas as mulheres, através da distinção que cada Deputada faz a uma mulher que tenha se destacado em algum campo, nós tomamos a iniciativa de homenagear não a uma, mas a um traba-lho coletivo. Coletivo e importante, que está sob ameaça daqueles que não aceitam – como o machismo – a diversidade, a diferença, a outra sensibilidade e a pluralidade e convivência harmônica.

Poderíamos tratar da luta das professoras da rede pública de ensino, por uma educação pública de qualidade, na maioria das vezes, sem que o Estado lhes proporcione os meios mínimos para sua ativi-dade.

Poderíamos falar das mulheres camponesas, da via campesina, que há um ano, nesta mesma época, foram brutalmente agredidas pela Polícia Militar, que à época, era presidida pelo comando de criminali-zar os movimentos sociais.

Mas consideramos, neste momento, Sr. Presidente, ser impor-tante exaltar um trabalho de enorme relevância social e política e um trabalho que enfrenta o preconceito e a intolerância. Tratam-se, Sr. Pre-sidente, das Educadoras das Escolas Itinerantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST. O projeto de Escolas Itineran-tes tem início em 1996, portanto, há 13 anos, tendo o Rio Grande do Sul como estado pioneiro. Este exemplo foi seguido pelos estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Alagoas, Pernam-buco e Piauí.

As escolas itinerantes, é importante ressaltar, não tratam apenas da educação de crianças. Jovens e adultos também são educados e, pelos cálculos do movimento, mais de 50.000 pessoas em todo o País aprenderam a ler, nos últimos dois anos, graças a esse tipo de escola.

O projeto surge, por uma avaliação do Movimento, de que o analfabetismo e a ignorância eram um entrave a mais à luta e à capaci-dade de organização dos sem-terra. Foi identificado, pelas lideranças,

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que em muitos acampamentos as cartilhas impressas pelo MST, sim-plesmente não tinham utilidade. No MA, por exemplo, onde a experi-ência ainda não foi implantada, 50% dos assentados e acampados são analfabetos. E ao melhor estilo de Paulo Freire, o Movimento dos Sem Terra descobriu o que ele já dizia: “A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.”

E assim se constituiu esse projeto, vitorioso, exemplar e edifi-cante. Mas que, apesar de todas essas qualidades – ou talvez, justa-mente por elas – encontra-se sob pesado e duro ataque. Um ataque que não surgiu agora.

Notícia publicada no Jornal Zero Hora, de 13 de Outubro do ano passado, já mostrava a manifestação de professores, que realizaram uma greve de fome, para tentar persuadir o Governo do Estado a reali-zar os repasses, que estavam atrasados há mais de seis meses. Ou seja, não é “nova” a ameaça à manutenção das escolas itinerantes.

Mas o golpe mais duro veio a partir do Termo de Ajustamen-to de Conduta, assinado entre o Governo e o Ministério Público. Ele determina o fechamento definitivo das escolas, acabando com o con-vênio realizado entre o estado e a Associação Estadual de Cooperação Agrícola.

As escolas são legais. Estão baseadas em um parecer, aprova-do pelo Conselho Estadual de Educação, sob nº1313/96. Pelo parecer 1489/2002 tiveram sua existência confirmada.

Tem base na Lei de Diretrizes e Bases da Educação – a LDB – que garante a adequação da escola à população rural, no Art. 28 e, sobretudo, o pluralismo de ideias e concepções, garantido pelo Art. 3º, inciso III.

Essa experiência importante e inovadora é conduzida, sobretu-do, por mulheres. Mulheres educadoras, que buscam transformar a sociedade em que vivem, criando condições para que as pessoas do campo se libertem dos grilhões da ignorância. Vejam os Senhores e as Senhoras: agora, próximos de comemorarmos o dia internacional dedicado à luta das mulheres, ao invés de reconhecimento, essas mu-lheres vêem ameaçado o trabalho que construíram a duras penas.

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Mais de 650 crianças atendidas, com perdas evidentes: ficarão afastadas de suas famílias, de seu meio social, de seu espaço de con-vivência onde são protegidas e educadas a partir de sua própria vida, em seu próprio meio.

As mulheres educadoras das escolas itinerantes estão na raiz da formação dos sujeitos do campo, entendendo que a vida no campo é diferente da vida na cidade e que, os dois modos de vida, se comple-mentam e se distinguem. Elas tem, na essência do seu trabalho, o com-promisso que caracteriza as mulheres: a percepção e a sensibilidade à diversidade e à convivência com as diferenças.

Percepção que está em falta, nos parece, entre os que atacam as escolas itinerantes. Em recentes declarações publicadas no jornal Zero Hora, em 19 de Fevereiro, o Promotor responsável pelo Termo de Ajus-tamento de Conduta diz que “a fundamentação não tem nada de ide-ológica”, para dizer logo depois que os defensores das escolas do MST “Querem dar um ensino à Fidel Castro”. Ora, se aí não há contradição e posição ideológica, onde haverá?

Pensamos que falta muito esse elemento: o da tolerância, do res-peito à divergência, do convívio com a posição diferente. Não fosse assim, as escolas itinerantes não estariam sob ameaça. E essa intole-rância e desrespeito desconsidera o trabalho de mulheres. O impor-tante trabalho de mulheres que sempre foi muito além de ensinar a ler, escrever, contar. Sempre foi no sentido de formar homens e mulheres para a generosa e grandiosa tarefa de plantar e colher.

Dizem que as escolas tem conteúdo ideológico, porque vão além do que as escolas comuns costumam ensinar. Há posição ideológica sim! E quando não há? Até a ausência de ideologia, reflete uma po-sição ideológica. E por acaso é crime, ensinar a questionar? Ensinar a cultivar uma horta, um pomar, um jardim, é desnecessário ou prejudi-cial? Ensinar a preservar as florestas e as águas não é algo que hoje a escola tradicional busca? Até no ensino técnico-profissionalizante, que sempre se pautou pela objetividade e pragmatismo do currículo, não está hoje presente a preocupação com a consciência ecológica?

Ensinar o respeito pela diferença e a lutar pelos próprios direitos é algum crime? Não, muito pelo contrário. As educadoras das escolas itinerantes são, antes de tudo, mulheres que estão fazendo história.

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Que se dedicam a aprender e ensinar cidadania. Dedicam-se a formar sujeitos para a sociedade, sujeitos capazes de transformar o mundo e a si mesmos.

A humanidade nem sempre foi leal com suas heroínas. Estão aí exemplos às mãos cheias. Joana D´Arc, Frida Kahlo, Rosa Luxemburgo, Alexandra Kolotai, Simone de Beauvoair, Pagú e tantas outras. Mulheres a frente de seu tempo. Mulheres que foram perseguidas por seus contemporâneos e resgatadas pela história.

Mulheres como – um dia mostrará a história – as nossas edu-cadoras do campo. As mulheres que reúnem, a um só tempo a força feminina, plural, multifacetada e com respeito à divergência, com tole-rância, mas também com posição, que mais do que nunca, é necessário ter!

Mulheres que transformam a sociedade com a ferramenta mais poderosa de transformação social de que se tem notícia: a educação.

Mulheres que são conscientes de seu papel no mundo e propa-gam essa consciência, através do ato revolucionário de ensinar.

Mulheres que, neste dia, merecem nossa homenagem e nosso reconhecimento. Que a história possa resgatar com vocês, a injustiça que sofrem em seu tempo. Que nossa sociedade possa construir uma saída, que permita que ela não seja vista, daqui há alguns anos, como a sociedade intolerante e injusta, que perseguiu grandes e valorosas mulheres: as educadoras das escolas itinerantes, do Movimento dos Sem Terra.

Pronunciado na Tribuna da Assembleia dia 10 de Fevereiro de 2009

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depUtAdA dá AUlA, em protesto contrA o fechAmento dAs escolAs itinerAntes

A deputada estadual Stela Farias (PT), que também é professora da rede pública estadual e o representante do CPERS-Sindicato, Antô-nio Branco ministraram uma aula sobre a importância das diferenças, na segunda-feira (02/03), na entrada principal da 27ª Coordenadoria Estadual de Educação, em Canoas, para mais de 30 estudantes das Es-colas Itinerantes de acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

A aula foi uma forma encontrada pelo Movimento para pro-testar contra o fechamento de escolas pela governadora Yeda Crusius (PSDB) e pelo Ministério Público Estadual.

As Escolas Itinerantes beneficiavam 600 crianças e foram fecha-das pela decisão unilateral da governadora do Estado e do Ministério Público, sem consultar pais, educadores ou estudantes. Antes do fe-char, as escolas já sofriam pressão contra seu funcionamento, segundo

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denunciou o MST. Em 2008, o Governo do Estado atrasou em 9 meses os salários dos educadores e interrompeu a entrega de material didá-tico. Agora, determinou a transferência das crianças acampadas para escolas nos municípios onde estão os acampamentos.

Algumas prefeituras já se manifestaram contra a decisão, ale-gando não possuírem recursos para receberem as crianças. No atual formato, as Escolas itinerantes custam R$16 mil ao Governo do Estado, com a transferência de responsabilidade para os municípios, o valor gasto pode triplicar.

Outros protestos devem ocorrer também em Carazinho, Pelotas, Santa Maria, Santana do Livramento e São Luiz Gonzaga, municípios próximos de acampamentos do MST.

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todos os cAminhos levAm Ao pirAtini

Eu poderia utilizar este tempo, para falar de uma das duas crises éticas, que assolam o Governo do Estado, nesta semana.

Uma, tem fonte na publicação da revista “Isto É”, trazendo no-vas revelações sobre a Operação Solidária. Segundo documentos e de-gravações a que a reportagem teve acesso, funcionava um esquema de beneficiamento de uma empreiteira em “obras importantes do Rio Grande do Sul”, “licitações da Secretaria de Irrigação” e “elos entre a Operação Solidária” e a “Operação Rodin”.

É atingido, especialmente, o Deputado Federal Eliseu Padilha, nome destacado do PMDB do Rio Grande do Sul. Mas a reportagem – baseada no inquérito – refere alguns operadores já conhecidos, desde a fraude que atingiu o Detran, investigada por esta Casa. Faz menção especial, também, à mesma empresa que é objeto da denúncia, apre-sentada pelo PSOL, que teria sido doadora irregular da campanha de Yeda Crusius ao governo do estado, em 2006.

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A outra, sobre as gravações obtidas pelo Ex-Ouvidor da Segu-rança Pública, Adão Paiani, que mostram claro e nítido uso eleitoral dos sistemas de inteligência das polícias no estado, dentre outras coi-sas, verificando “fichas” de adversários políticos, placas de veículos que seguiam candidatos do PSDB em campanha e demonstravam uso da influência de, ninguém menos que o Chefe de Gabinete da governadora, para encaminhar pedidos de verificação, junto a órgãos policiais.

Poderia tratar dessas crises, especificamente. Mas não vou. Que-ro buscar o cerne da questão. Por que penso que o debate nesta Casa não pode ficar na superficialidade, quando são tantos e tão comuns os escândalos.

A Governadora declara hoje, nos principais jornais, que o Rio Grande passa por uma fase “muito negativa”. E o que momento é “surreal”. Em sua opinião, é absurdo ter de dar explicações sobre gra-vações – ela se refere a “fitas”, que já foram substituídas há muito pelo meio digital – obtidas de forma ilegal.

Primeiro, não me parece “surreal” que autoridades tenham de explicar-se quando são flagradas cometendo ilegalidades. “Surreal”, para mim, como para boa parte dos gaúchos é que um governo tenha de se explicar tantas vezes. E, algumas delas, de forma tão pouco efi-ciente, tão pouco esclarecedoras.

Vejamos, por exemplo, a instauração da sindicância que irá apu-rar a participação do Chefe de Gabinete da Governadora, no recente episódio das interceptações telefônicas. Ora, até as paredes no serviço público sabem que, num caso como este, o mínimo que se exigiria seria o afastamento da autoridade no transcurso das investigações. Do car-go onde está, poderia facilmente, interferir no processo.

Mas voltemos ao centro do debate. Se avaliarmos, desde o início deste Governo já foram duas dezenas de crises. Boa parte delas, de cunho ético. Uma CPI já foi realizada por esta Casa e derrubou nada menos do que cinco secretários. Aliás, a vinculação dos esquemas da “Rodin” com a “Solidária”, promete ressuscitar boa parte das cone-xões que não chegaram a ser aprofundadas, por ausência de condições políticas aqui na assembleia.

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Em todas as crises, em todas as negociatas, em todos os inqué-ritos, não aparecem somente “pessoas do governo”. Nenhum gover-no é imune à desvios éticos, Sr. Presidente. Nenhum partido o é. Mas estes casos são diferentes, posto que aqui não se tratam de quaisquer pessoas. São sempre, de uma ou de outra forma, pessoas vizinhas ao Gabinete da Governadora.

E esta vizinhança incomoda. Incomoda porque vai colocando, no mínimo, um questionamento razoável: quando tanta gente próxima de alguém, realiza ações condenáveis do ponto de vista ético, algumas delas baseando-se nessa proximidade e utilizando-a como elemento de pressão, favorecimento ou barganha. Quando essas pessoas são co-laboradores tão diretos. Quando são, em alguns casos, amigos de tanto tempo. Em outros, apoiadores fundamentais nos processos políticos. Quando isso acontece, a dúvida razoável que se coloca é: fariam isso sem o conhecimento desse alguém?

A reação desproporcional – e em algumas situações, até descabi-da – da Governadora, acaba por reforçar a dúvida. Relembremos algu-mas de suas manifestações: durante a CPI, contestava o “massacre às carreiras políticas”; no episódio da gravação que atingiu seu Chefe da Casa Civil, condenou apenas a participação do Vice-Governador; após a morte de seu ex-Chefe da Representação do Governo em Brasília, Marcelo Cavalcante, tentou transformar em algozes os investigadores. E agora, não manifesta um único gesto de reprovação ao conteúdo, mas pretende desqualificar a prova.

Yeda Crusius cria em torno de si uma redoma, que não lhe per-mite ver a realidade com clareza. Já se disse vítima de “golpistas”. Já vociferou contra Sindicatos, que traziam seu rosto, associado a maze-las que afligem o Estado, utilizando isto, inclusive, como pretexto para a manutenção da coerção anti-greve. Já teve iniciativas, sempre tardias e sempre no reflexo das crises e não como prevenção a elas, como a criação de um “Conselho Político”, durante a CPI do Detran. Ou como a “Secretaria da Transparência”, ao final dela. Secretaria para a qual teve, inclusive, dificuldade de manter titular. Iniciativas que procura-vam dar resposta à total falta de respostas.

Por que, há dois anos, o Estado convive com um Governo que acha que não tem que responder. Que não lhe deve satisfações. A cada

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nova crise, a cada novo elemento que comprometeria qualquer gover-no, este governo entende por desqualificar provas, detratores, inves-tigações, opositores mas nunca, nunca, por fazer alguma autocrítica e dizer: sim, aqui alguns dentre nós erraram.

Nunca justificar a proximidade absoluta com o Gabinete Cen-tral do Palácio Piratini, que é o local por onde transitam quase todos os que já estiveram em protagonismo de tantos e tão comuns atos de transgressão da lei.

No jornalismo, quando ocorre um fenômeno natural de propor-ções avassaladoras, como um tsunami ou um terremoto, quase sempre as atenções se voltam para os efeitos da destruição e para o local onde ela ocorreu. “En passam”, descreve-se o local que seria o “epicentro” do fenômeno.

Na política, não pode ser assim. É preciso determinar o “epicen-tro” antes de qualquer outra coisa. E deter-se sobre ele. E analisar, a partir dele, suas conexões e seus efeitos.

Pois aqui, no Rio Grande do Sul, no epicentro de todos os “ter-remotos políticos” que atingiram o estado nos últimos dois anos, está o Gabinete da Governadora. Estão as relações que ela forja. Estão pes-soas muito, muito próximas a ela.

Os fatos – e não a oposição – mostram isso. Suas reações, por vezes características de quem está privado do senso de realidade, cor-roboram isso. Yeda não pode admitir a falha de colaboradores tão pró-ximos. Não pode conviver com essa possibilidade. Não pode, nem por um minuto, analisar a atuação dessas pessoas, nos episódios que as envolvem. Quanto mais, criticar sua postura.

Não pode por que fazer isso, remeteria necessariamente à ela própria. E ensejaria, no mínimo, uma mínima autocrítica. E esse, Sr. Presidente, Srs. Deputados, é um “luxo” que a governadora deste es-tado desconhece.

Pronunciado na Tribuna da Assembleia dia 08 de Abril de 2009

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pArA stelA denúnciAs contrA o Governo YedA podem ser “A crise definitivA”

A deputada Stela Farias (PT) ocupou a tribuna na tarde desta quinta-feira, surpresa com a divulgação de novas denúncias contra o governo Yeda Crusius. São gravações em áudio e vídeo, feitas pelo lobista Lair Ferst, um dos principais réus da Operação Rodin, que teria aceitado a proposta de delação premiada oferecidas pelo Ministério Público Federal. As denúncias foram feitas durante uma entrevista co-letiva convocada pelo PSOL, no início da tarde.

“Num governo de tantas crises, talvez tenhamos chegado a crise definitiva” ponderou a parlamentar.

Stela lembrou que a bancada do PT apresentou voto separado e entrou com representação no Ministério Público Federal, solicitando a responsabilização da governadora Yeda Crusius e integrantes do go-verno pelo desvio de R$ 40 milhões dos cofres públicos gaúchos.

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“Nós vamos encaminhar um pedido formal ao Ministério Públi-co Federal para que as provas da Operação Solidária sejam anexadas à representação do PT. Parece que estamos diante dos verdadeiros abu-tres do erário público,” afirmou a deputada.

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escolAs: Gestão GerenciAlistA AmeAçA qUAlidAde do ensino

Utilizamo-nos deste Grande Expediente na tarde de hoje, não para fazer homenagens, nem para destacar um segmento em particu-lar. Tão pouco, queremos destacar pessoas ou organizações. Utiliza-mo-nos deste espaço para fazer – e propor - uma reflexão.

No último dia 15 de Março – ou no dia 19, como sugerem alguns autores – comemorou-se o “Dia da Escola”. A palavra escola tem ori-gem no grego, skholê, que significava precisamente “descanso, repouso, lazer, tempo livre”, pois na Grécia antiga, apenas os que não tinham obrigações com o trabalho braçal podiam ter acesso à educação. Vê-se que, em quase 4.000 anos nem tudo mudou, pois ainda hoje muitos daqueles que tem por obrigação sustentar suas famílias e buscar o pró-prio sustento, já desde muito jovens, encontram dificuldade no acesso ao ensino.

Embora muito já tenha sido feito – e são louváveis iniciativas como a expansão do ensino técnico e o PROUNI, capitaneadas pelo Governo Lula, apenas para citar duas das mais recentes ou ainda, me permito aqui fazer justiça a um líder do trabalhismo, a iniciativa de Le-onel de Moura Brizola, que expandiu o ensino fundamental aos mais longínquos rincões deste Estado, espalhando as “brizoletas”, onde an-tes só havia campo. Embora muito esforço tenha sido empregado por tantos e tão diferentes atores, há por certo muito a fazer.

Mas hoje, Sr. Presidente, o que mais nos preocupa é a ameaça que paira sobre a escola e sobre o processo educacional, de um modo geral. Está em pauta uma disputa de visão, de concepção, de sociedade

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e de Estado, que por certo tem desdobramento numa das mais elemen-tares atividades desses dois entes: a educação.

Trata-se de uma divisão nítida entre duas visões. De um lado, a concepção que trata da Escola como um lugar de pluralidade, forma-ção cidadã e humana aliada à formação técnica, do processo de apren-dizagem como um processo de contínua e coletiva caminhada. De ou-tro, uma visão gerencialista, que procura aplicar ao processo educativo uma dinâmica da iniciativa privada, sem a mediação necessária que a atividade requer. Trabalha, exclusivamente, assentada em números e medições.

Platão, filósofo grego, que viveu entre 427 e 347 a.C., dizia que “os números governam o mundo”. Essa política, parece levar o con-ceito ao pé da letra. Tudo, tudo mesmo deve ser transformado em nú-meros, medido, esquadrinhado e analisado sob a ótica de premiar os melhores e execrar os piores.

Não se trata aqui – como alguns desejam passar a ideia, criando uma falsa dicotomia – de estabelecer uma divisão entre os que defen-dem a modernidade, a avaliação e o método e aqueles que defendem concepções atrasadas e ausência de organização.

Como dissemos, nos preocupa é a ausência da mediação neces-sária, entre uma coisa e outra. Nos preocupa uma visão que coloca o processo educacional em segundo plano. Estabelece as avaliações como um processo “plano”, padronizado, sem respeitar as diferenças naturais entre ambientes, atores, cenários, tempos e métodos. Uma vi-são que, no fundo, busca desonerar o Estado de uma de suas compe-tências mais básicas, mais fundamentais.

Senão, vejamos: aqui no estado, a política do propalado “Défi-cit Zero” está baseada no descumprimento explícito da Constituição. Se é certo que, pelas dificuldades financeiras do Governo Estadual, o percentual de 35% poucas vezes foi atingido, ele nunca foi tão baixo como no ano de 2008. E, ressalte-se, o descumprimento foi oficializado – para não dizer “escancarado” – na peça orçamentária deste ano, que não contempla mais do 10% a menos do que manda a Carta Magna. Não é de hoje que dizemos: houvessem os governos anteriores adota-do a mesma política, teríamos atingido superávit em 2002 e 2003. O que

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diriam, naquela época, os que hoje compõem a base do governo? Por certo, não seria com aplausos que saudariam Olívio Dutra.

Mas voltemos ao tema: com essa política, o atual governo reti-rou da educação R$911,4 milhões. Nitidamente, a situação de nossas escolas não deixa dúvidas, quanto à falta que fazem estes recursos. Prédios em situação deplorável, recursos didáticos mínimos em falta, situação lastimável de equipamentos que deveriam estar servindo ao aprimoramento do processo de aprendizagem, como laboratórios de ciências, de informática, bibliotecas. Isto, sem falar na falta de profes-sores, em todas as áreas, por todo o estado.

Então, vejam: está no centro do principal projeto político do atu-al governo a retirada de recursos da educação. E como é possível, com tal quadro, discutir políticas educacionais? Parte-se de uma base torta. Inverte-se a ordem da discussão. Pois se o estado não cumpre a sua parte, como pode se arvorar no papel de uma “consciência crítica”, em relação à qualidade do ensino?

Outro elemento que merece destaque e que compõe a visão ge-rencialista da qual falamos é o processo de municipalização do ensino. Processo que o Governo Yeda demonstra estar desejoso de implemen-tar, com a pressa de sempre. Justiça seja feita ao CPERS, ao tão atacado Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul, este processo só não foi levado a cabo em outros governos, graças a sua resistência. A criação do FUNDEF – Fundo de Desenvolvimento do Ensino Funda-mental, em 1997, pelo Governo Fernando Henrique deu o argumento financeiro a um discurso que já existia há muitos anos na Secretaria de Educação do Estado. Mas o que hoje se pretende fazer é um verdadeiro banditismo.

Apontam a municípios, ávidos por minimizar as mazelas finan-ceiras por que passam, com o instrumento do FUNDEB e a ampliação dos recursos que um maior número de matrículas na rede fundamen-tal traria a eles. O Fundo de Desenvolvimento do Ensino Básico, aliás, criado no Governo Lula, que tem méritos inegáveis. Que traduziu um anseio de estados, municípios, educadores e comunidades escolares, ampliando a ideia original, para toda a educação básica e aprimoran-do a aplicação dos recursos em diversos pontos. Depois de aceitar, o

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município será atirado à própria sorte. O estado se retira e para onde estava, jamais voltará.

Vejamos, ainda, a questão da educação infantil. Pela Constitui-ção Federal, o estado e os municípios compartilham a responsabili-dade. Mas, pela legislação infra-constitucional, apenas os municípios recebem recursos de outra esfera de governo para tal encargo. O que faz o estado? Desonera-se, mais uma vez. O que não gera recurso não tem vez para essa política fiscalista. Ainda que esteja sob o abrigo das responsabilidades constitucionalmente outorgadas ao ente federativo.

Aliás, o estado só tem apontado que deseja trabalhar na políti-ca do “aparar bordas”. Por “bordas”, entendem os defensores dessa política, qualquer outra coisa que não seja o ensino médio – responsa-bilidade primaz do estado. Assim, jogue-se a educação fundamental para os municípios. Reduza-se as turmas do Ensino de Jovens e Adul-tos, quase até a extinção. Desmonte-se o Movimento de Alfabetização, MOVA. Sucateie-se a educação especial. Supostamente, para centrar “foco”, naquilo que é competência do estado. Mas nisso, demonstram também não haver competência: aumentam o número de alunos por sala, desarticulam coordenações pedagógicas, fecham laboratórios e bibliotecas. Então, afinal, qual a responsabilidade de estado que cabe nesta visão?

Vamos a outro elemento: a desestruturação do vínculo profis-sional. Há praticamente dois anos o governo decidiu não renovar um concurso público já existente, sob o argumento de que o mesmo não contemplava provas específicas, por área de docência. Muito bem. Afi-nal, ao governo cabe governar. Lhes sejam dadas as prerrogativas que são suas. De lá, para cá, passaram-se “apenas” 24 meses. Repito: 24 meses, sem que nenhuma ideia vaga de concurso brilhasse no hori-zonte das mentes que gestionam a educação no Rio Grande. A precari-zação da relação é evidente. Professores contratados já se equiparam, em número, aos professores efetivos em algumas escolas. Veremos isto melhor, inclusive, quando o governo do estado responder a um pedido de informações, de nossa autoria, recentemente encaminhado.

Outra diferença marcante: o atendimento das diferenças. Nesse campo, igualmente, a política gerencialista mostra também sua face autoritária. A educação rural foi desarticulada, mas o que ficou mais

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notório: o fechamento das escolas itinerantes. Experiência precursora no País e que hoje motiva mais de sete outros estados da federação. Pois acabamos sendo precursores também na intolerância e, não sem muita luta e muita resistência, tenta-se mandar todo esse acúmulo às favas.

Na questão da Gestão Democrática, também se demarcam posi-ções, nitidamente contrastantes. O conceito de gestão democrática da escola pública é construído mais firmemente nas últimas três décadas. Após o fim do regime de exceção vivido no Brasil, o setor educacional é um dos mais mobilizados e com discurso embasado, no sentido da necessidade de construir seu funcionamento em bases democráticas. Fundamentam esse início de processo três pilares: a eleição de dire-tores de escola; a autonomia financeira e a instituição de Conselhos Escolares, com participação de Professores, Funcionários, Alunos e Pais – entendidos como uma “Comunidade”: a comunidade escolar – como órgão máximo de deliberação e discussão do funcionamento da escola.

Hoje, o conceito de gestão democrática evoluiu. Não se pen-sa a democracia apenas sobre a estrutura escolar, mas sobretudo na construção de um projeto pedagógico e, mais ainda, na construção de relações que, por si, significam aprendizagem e formação para a cida-dania.

A gestão gerencialista desconhece esse avanço, posto que não discute – e não aceita discutir – condições de trabalho nas escolas. Quanto mais, abre a discussão sobre projeto e concepção pedagógica, até porque, como já dito, só o que importam são os números.

E quanto a eles, importa ressaltar: não é verdade que aqueles que pensam diferente do modelo gerencialista sejam contrários a pro-cessos de avaliação. Não há dúvida de que avaliações devem, precisam existir. Múltiplas. Plurais. Atendendo a toda a diversidade do tema. Sim. Que se façam todas e tantas quantas forem necessárias. A questão fundamental não reside aí, em fazer as avaliações – apesar de que, no mínimo, há que se fazer a discussão sobre como elas serão feitas. Resi-de, sim, no uso que se pretende fazer delas.

David Hilbert, matemático alemão que viveu entre a segunda metade do século XIX e a primeira do século XX, dizia que “Nas ques-

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tões matemáticas não se compreende a incerteza nem a dúvida, assim como tampouco se podem estabelecer distinções entre verdades mé-dias e verdades de grau superior.” Já Gregg Easterbrook, premiado jornalista e escritor norte-americano, disse mais recentemente: “Tortu-re os números e eles confessarão qualquer coisa.”

Aqui, no caso, os números servem como justificativa e pretexto a um processo que se quer implantar. Assim como servirão a uma po-lítica de “prêmio e castigo”, que se pretende, seja a substituta de uma remuneração digna e de uma avaliação mais detida sobre o papel do estado na educação, as condições de trabalho postas à disposição de professores e estudantes, concepção pedagógica e outras “pequenas coisas” que não cabem num balanço de final de ano, a ser publicado em duas páginas...

Não há nenhuma dês-sintonia em fazer-se avaliação, reitero. Há sim, uma profunda divergência sobre o que fazer com os resultados dela. Tomemos como exemplo o Governo Lula: a partir dos resultados da “Prova Brasil”, os 100 municípios com os piores índices receberam a visita de consultores, especialmente contratados para essa finalida-de, que tinham por missão produzir um diagnóstico – entender o re-sultado e não apenas obtê-lo é um elemento chave no processo – e esse diagnóstico deu origem ao PAR – Plano de Ação Articulado, com iniciativas para corrigir os problemas. Em Minas Gerais, foram “elei-tas”, a partir dos resultados, 100 escolas “modelo”, diferenciadas no status e no tratamento recebido pela Secretaria de Educação, dentre as melhores colocadas no mesmo exame.

Uma avaliação deve servir, sobretudo, para orientar a ação pedagógica. Não como mero retrato, que reforça a ideia de situação consolidada. Muito menos, como parâmetro para diferenciação, entre realidades que já são diferentes.

Mais um foco de diferença reside na justificativa. “Devemos fa-zer ajustes, porque são uma exigência do Banco Mundial”. Ora, en-tendemos que ajustes devem ser feitos, para buscar uma educação de qualidade. Esse argumento não difere em nada do processo de ajuste fiscal, conduzido por Fernando Henrique Cardoso, sob o “manto” de que se tratava de uma exigência para liberação de recursos, por parte do FMI. Instituições de cooperação bilateral dizem que alguma coisa

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deve ser feita. Nunca como fazer. Até porque isto feriria a soberania. Há formas e formas de avançar na implantação de políticas e pode-se perfeitamente, encontrar formas alternativas, dentro das orientações que a instituição colocou.

Vivemos hoje um novo mundo. Um mundo repleto de inovações, tecnologia, mudança de conceitos e transformações de toda ordem. A escola deve não apenas incorporar e acompanhar essa evolução. É de-sejável que ela seja um agente precursor nessas transformações. E é triste verificar que, apenas mais recentemente – e com muita precarie-dade – algumas dessas novidades chegam aos bancos escolares. Um atraso cujo principal responsável é o próprio estado.

É de conhecimento público que estivemos, recentemente, levan-do a cabo uma iniciativa da Bancada do Partido dos Trabalhadores, em São Paulo e Minas Gerais. A escolha não foi aleatória. Tratam-se de dois estados que são a “fonte” de onde bebem os defensores de uma “nova política” para a educação do Rio Grande. Em que pese as dife-renças – regionais e de projeto – a concepção é a mesma. E o que vimos não foi muito alentador.

Até para contribuir melhor para o debate e não sermos pegos no roldão da “apresentação de maravilhas”, estamos articulando a re-alização de um seminário, que reunirá bancadas e entidades sindicais dos três estados, de forma a aprofundar a discussão. Traremos o tes-temunho do que está acontecendo lá, de coisas que podem se repetir aqui. Como a lei que instituiu o abono por premiação aos professores, cujos alunos tenham melhor desempenho nas avaliações realizadas e que aniquilou qualquer perspectiva de discussão de aumentos sala-riais ao magistério local.

A propósito, Platão defendia uma concepção de educação que valorizava os métodos de debate e conversação, como forma de al-cançar o conhecimento. Para ele, “educação é liberdade”. É ela que liberta-nos da condição de ignorância. Ele insistia que educar não era “impingir ciência”, mas sim, essencialmente, a arte de motivar para aprender, dar os meios para isso e ser companheiro nesse percurso. Defendia que toda a educação era de responsabilidade estatal e – à frente de seu tempo – uma educação inclusiva, igual para meninos e meninas. Apesar das críticas a algumas de suas concepções, excessiva-

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mente idealistas e, em certo ponto, elitistas, Platão é considerado como o precursor da ideia de que as bases, condições e a direção para a edu-cação são elementos a serem providos pelo Estado. Talvez, aqueles que só se preocupam com os números, devessem revisitá-lo.

Grande Expedientedia 25 de Março de 2009

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preocUpAção com edUcAção AcimA dAs diferençAs pArtidáriAs

Apesar da disputa pela derrubada ou manutenção do veto da governadora esquentar o plenário da Assembleia Legislativa, os de-putados, Stela Farias (PT), da oposição e Mano Changes (PP), da base governista, foram conferir juntos, na manhã desta quinta-feira (12/03), a situação de 350 crianças de 1ª a 6ª série, transferidas da Escola Es-tadual de Ensino Fundamental General Neto, na Zona Sul de Porto Alegre, para contêineres metálicos no terreno em frente às novas obras da escola.

Os parlamentares voltaram chocados com a situação. Além do desconforto térmico e do pouco espaço para as crianças nos contêine-res, a obra orçada em R$ 940.260,59, iniciou em janeiro de 2008 e menos de 10 meses depois foi embargada pela Fundação de Ciência e Tecno-logia (Cientec) e não tem prazo para ser retomada.

A situação da comunidade escolar da Escola será pauta da Co-missão de Educação, presidida pelo deputado Mano Changes e inte-grada pela deputada Stela Farias, na próxima semana.

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no Governo YedA são recorrentes As crises, As qUedAs e As trocAs de postos chAve no estAdo.

Ênio Bacci, Mercedes Rodrigues, o Delegado Mallmann, Aod Cunha, Adão Paiani, a Delegada Stela Simon; fora outros nomes – como Cézar Busatto, Flávio Vaz Neto, Ariosto Culau, Delson Martini, que acabaram tragados pela crise ética, desencadeada no mesmo local que, agora, é novamente alvo de uma saída nebulosa.

A dança das cadeiras no Governo Yeda tem sempre explicações tênues. Sempre justificativas pueris. Há sempre questões que não apa-recem. Há sempre condições que não vêm a público.

Não é possível que o Estado continue dessa forma. Não é pos-sível que haja tal dissolução de continuidade. Não é admissível que um governo que prometeu um “novo jeito de governar”, aflija o Rio Grande com uma insegurança institucional permanente.

Não é possível, sobretudo, Sr. Presidente, que os gaúchos sejam obrigados a conviver com a dúvida. Sim, porque o governo Yeda faz questão de não esclarecer. Faz questão de deixar “à sombra dos fatos” cada um desses acontecimentos. Mandar às calendas gregas a transpa-rência e as contas à opinião pública.

A saída da Delegada Stela Simon e os motivos nebulosos que levaram a ela, apenas reforçam a necessidade de instalação imediata de uma Comissão Parlamentar de Inquérito.

Pronunciado na Tribuna da Assembleia dia 05 de Maio de 2009

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presidente do detrAn se demitiU por pressão políticA

Para a deputada Stela Farias, a demissão da presidente do De-tran, Estella Maris Simon, impedida de levar adiante um conjunto de medidas para moralizar o órgão, depois que a Polícia Federal e o Mi-nistério Público revelaram a fraude de R$ 44 milhões, que indiciou seu antecessor, o procurador Flavio Vaz Netto, não é um fato isolado e reforça a necessidade de instalação de uma CPI do Parlamento para investigar o conjunto de irregularidades, suspeitas e denúncias envol-vendo secretários e assessores do alto escalão do Governo do Estado, que se somam a cada dia.

“O mais grave no fato do pedido de demissão da presidente do Detran, Estella Simon, é a pressão do próprio secretário de Transpa-rência do Governo, Carlos Otaviano Brenner, para a manutenção de um contrato considerado irregular e danoso para os cofres públicos. A este episódio, somente neste ano, se somam a demissão do Ouvidor, Adão Paiani, que denunciou o uso irregular do Sistema Guardião, pelo chefe de Gabinete da Governadora, Ricardo Lied, para espionar adver-sários políticos. Em seguida, a secretária pessoal da Governadora Wal-na Villarins é flagrada fraudando licitações para beneficiar empresas” afirmou Stela.

Para Stela, a secretaria de Transparência, criada pelo Governo do Estado, no auge das denúncias de corrupção do Detran, serviu ape-nas como cortina de fumaça para se eximir de explicações à sociedade gaúcha.

“Lamentavelmente hoje se comprova que essa manobra era ver-dadeira. O secretário de Transparência tenta forçar a presidente Estella a manter um contrato irregular. Como em outras oportunidades, fica evidente que a governadora sabia das irregularidades, nada fez para saná-las e, mais grave, há fortes indicativos de que tenha concordado nas operações para manter esse esquema funcionando.”

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Stela e o deputado Daniel Bordignon também estão aguardando as cópias dos processos de licitação das barragens de Jaguari e Taqua-rembó, solicitadas depois de uma diligência na Secretaria de Irrigação e no setor da CAGE do Palácio Piratini.

servidores do detrAn entreGAm docUmentos nA comissão de serviços públicos

A presidente do Sindicato dos Servidores do Detran, Maria Go-reti Alves da Costa entregou documentos relativos à reestruturação da autarquia à Comissão de Serviços Públicos da Assembleia, no final da tarde desta terça-feira. Maria Goreti afirmou ao presidente da Comis-são, deputado Fabiano Pereira, que os funcionários da autarquia apro-varam a gestão da presidente Estella e que a decisão de se demitir do cargo não foi pessoal, mas em função das pressões políticas exercidas por assessores do Governo que impediram a implantação da medidas para moralizar e reestruturar o órgão.

Para a deputada Stela Farias, vice-presidente da Comissão de Serviços Públicos, todas as medidas sugeridas pelo parlamento para reestruturar o órgão não foram cumpridas. “O Governo do Estado, amarrou na burocracia todos os processos de reestruturação, para que vencessem os prazos e o Estado mantivesse ou prorrogasse, inclusive com autorização do Ministério Público, os contratos em caráter emer-gencial, para não parar os serviços prestados à população”, destacou.

detrAn: stelA considerA injUstificável estAdo AssUmir dívidA sem AUditoriA

A deputada Stela Farias considera injustificável a prontidão do Governo do Estado, em assumir publicamente a suposta dívida de mais de R$ 16 milhões apresentada pela empresa de guinchos Atento, que mantém contrato com o Detran, sem nem mesmo haver uma audi-toria para comprovar o valor da dívida.

“Assim como foi com as concessionárias de pedágio, que alega-ram dívidas de R$ 500 a R$ 800 milhões e o Estado prontamente assu-miu, sem realizar nenhuma auditoria, como justificativa para manter os contratos, vemos o mesmo comportamento no caso da Atento. A manutenção de contrato com uma empresa que figura nas investiga-

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ções da Operação Rodin da Polícia Federal, confirma nossas suspeitas, de que todas aquelas recomendações que o parlamento Gaúcho apon-tou, durante o final da CPI do Detran para a reestruturação da autar-quia, não foram efetivamente implementadas. Inclusive, foi justamen-te a resistência as medidas de reestruturação que levaram à demissão da presidente do Detran”, afirmou.

Stela defende o afastamento imediato do secretário de Transpa-rência, Carlos Otaviano Brenner e representará ao Ministério Público Estadual e ao Ministério Público de Contas para que se verifique ou não a existência de advocacia administrativa. Otaviano foi a público defender os interesses da empresa e o pagamento da suposta dívida.

O procurador-chefe do Ministério Público de Contas, Geraldo da Camino recomendou uma ação cautelar suspendendo qualquer pa-gamento até que se apure se a dívida realmente existe e se o Estado é responsável por ela.

No requerimento de abertura da CPI no parlamento já foi aden-dado em seu objeto as irregularidades nos contratos do Detran.

“Pretendemos investigar com a CPI, quem de fato, são os verda-deiros proprietários da Atento” afirmou Stela

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síndrome dA deGolA

O Rio Grande está atônito esta semana. Descobriram-se os res-ponsáveis pela crise que assola o governo Gaúcho. Sabemos agora, graças à governadora Yeda Crusius, que o Ministro Tarso Genro e sua filha, a Deputada Luciana Genro, numa conspiração político-familiar, nomearam Lair Ferst coordenador de campanha de Yeda, ainda em 2006.

Não satisfeitos, indicaram Chico Fraga para intermediar inte-resses no Governo do Estado, Flávio Vaz Neto para a presidência do

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Detran e determinaram a Marcelo Cavalcante, que captasse dinheiro para a campanha da governadora. Foram eles, os responsáveis pelo envolvimento dos cinco secretários que caíram durante a CPI do De-tran. Sabe-se lá até se não foram eles, ao invés do vice-governador, que gravaram o diálogo com Cezar Buzzato, Delson Martini, Walna Vilarins, Chico Fraga, são todos agentes da Polícia Federal, infiltrados no governo.

Não há mais dúvida, de que estão envolvidos na queda dos mais de vinte secretários que este governo já trocou. Sim, Senhores deputados, Tarso e Luciana arquitetaram e puseram em operação uma conspiração diabólica, para prejudicar um governo sério, probo e res-ponsável.

E nós, a sociedade gaúcha, somos todos uns ingênuos. Como não percebemos isso antes? Como não vimos que os Genro estavam por trás de tudo, o tempo todo?

Ora, Sr. Presidente, até alucinação tem limite! A abstração da re-alidade não comporta uma coisa assim. Por que um argumento como esse, que a Governadora vem usando não é um problema de demên-cia: é um problema de caráter!

Tarso Genro, para quem não lembra, é o ministro que implantou o Pró-Uni, a Reforma do Ensino Universitário e o FUNDEB, enquanto esteve à frente da educação. É o homem que tem comandado a Polícia Federal, de forma republicana, a desbaratar quadrilhas que se locuple-tavam do dinheiro público, há décadas neste País.

A deputada Luciana Genro é uma ferrenha crítica do Governo Lula, todos sabem. Não compartilhamos da mesma posição política, motivo pelo qual ela está no PSOL e eu, no PT. Mas é uma mulher honrada, batalhadora, uma deputada que já esteve nesta casa e vem merecendo, eleição após eleição, a confiança do eleitorado gaúcho.

Estamos, Sr. presidente, Srs. deputados, assistindo aos “atos fi-nais” do Governo Yeda. Somente um governo que chegou ao fim, acu-ado, pressionado e atormentado por irregularidades que não consegue explicar, pode ser capaz de produzir um absurdo tão gritante.

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Nada se sustenta no governo Yeda. Nem secretários, nem pro-grama, nem a realidade. A verdade é um termo relativo para este go-verno e a realidade vira “suco” para apresentar ao Gaúchos o que se deseja que a sociedade gaúcha creia, ao invés do que é real.

Está aí o Déficit Zero como prova. O Governo anunciava que havia resolvido a questão das finanças públicas do Estado, quando não mexeu em um único elemento estrutural do problema. O passivo pre-videnciário, o endividamento do estado, jamais foram tocados em uma única iniciativa. Agora, o Rio Grande não está preparado para a crise, como se preparou o Brasil, que com o Governo Lula, atingiu os funda-mentos de uma economia sólida e se mantém, mesmo diante de uma brutal adversidade econômica no cenário mundial. Já o Déficit Zero, vai virar pó. Como dissemos que viraria. Yeda deve R$ 2,5 bilhões para a saúde e a educação dos gaúchos.

Mas a governadora já arranjou em quem por a culpa: agora, é o governo federal que não tem mandado recursos para o Rio Grande. Isso só não é mais absurdo do que acusar Tarso Genro de estar por trás de toda a crise ética vivida pelo governo Yeda.

Quem sabe, não estão todos juntos? Lula, Mantega, Paulo Ber-nardo e Tarso? Quem sabe não é tudo parte de um mesmo e monstru-oso plano, para desestabilizar o governo do Rio Grande?

Sim, é isto! Só pode ser isto! Não há outra justificativa plausível... Por que, se não aceitarmos isso, teríamos que aceitar que o Governo do Estado é incompetente, inábil e tem gravíssimos problemas, do ponto de vista da probidade e do cumprimento da lei.

Teríamos que aceitar que este governo está destruindo o Rio Grande e que há uma locupletação da máquina pública, instalada, no mínimo, na ante-sala da governadora do estado.

Se não for a tese da conspiração, nada mais justifica que esta Casa ainda não tenha instalado uma CPI, para averiguar as graves de-núncias que rondam o Piratini, praticamente, desde o início do gover-no.

Mas, há uma explicação para tamanho desvario: hoje, é o dia da queda da bastilha. Deve se tratar, no ano da França no Brasil, de

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uma síndrome de degola, de quem, definitivamente, e já de há muito, perdeu a cabeça...

Pronunciado na Tribuna da Assembleia dia 14 de Junho de 2009

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cresce A Adesão Ao reqUerimento pArA iniciAr UmA cpi nA AssembleiA

A intenção da Polícia Federal de dar continuidade às investi-gações das denúncias envolvendo o governo do Estado é um claro indicativo da pertinência da abertura de uma CPI na Assembleia Le-gislativa. A avaliação é da deputada Stela Farias, primeira a assinar o requerimento para a instalação de uma comissão parlamentar de in-quérito no parlamento gaúcho. “A Polícia Federal aguarda o sinal ver-de do STJ para aprofundar o trabalho de investigação, demonstrando que, ao contrário do que alegam setores governistas, não faltam fatos a serem investigados. Isso é uma desculpa para acobertar o medo que toma conta de integrantes do governo e da base aliada”, acredita a parlamentar

Segundo a petista, o requerimento para a instalação da CPI dei-xa claro os fatos determinantes sobre os quais os deputados deverão se debruçar. O primeiro deles envolve fraude em licitações de obras viá-rias e de saneamento sob responsabilidade do Estado. Há indícios de direcionamento das licitações e de vazamento de informações privile-giadas para beneficiar determinadas empresas. Também deverá ser in-vestigada a conexão entre os fatos e os personagens investigados pela Operação Rodin, que desvendou o esquema de corrupção montado para desviar recursos do Detran, e Solidária, que apurou crimes de la-vagem de dinheiro, ocultação de bens, formação de quadrilha e fraude em licitações. O requerimento prevê, ainda, a investigação de denún-cias de interferência irregular de agentes públicos na gestão do Detran com o propósito de manter contrato com a empresa Atento Service, que presta serviços de remoção e depósito de veículos. Além disso, o documento propõe a apuração das denúncias feitas pelo PSOL.

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Segundo Stela, a CPI poderá ser o instrumento menos traumá-tico para a sociedade e para o próprio parlamento. “Com a avalanche diária de denúncias e novos indícios de irregularidades, não é de se descartar a possibilidade dos deputados terem de optar entre assinar a CPI ou um pedido de impeachment”, prevê.

As Bancadas do PT e do PCdoB foram as primeiras a assinar o pedido. Na quinta-feira, a Bancada do PSB acrescentou dois deputa-dos que querem a CPI. Com 12 assinaturas, mais as duas garantidas pelos deputados do DEM, será o apoio do PDT que deverá decidir pela investigação e responsabilização dos sucessivos escândalos de corrup-ção do Governo do Estado. Também não está descartada assinaturas isoladas de deputados da base governista, como o PTB e o PMDB.

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discUrso de posse como presidentA dA cpi dA corrUpção

Não há o que comemorar, diante do que ora instalamos. Fatos de maior ou menor monta, em se tratando de corrupção, entristecem o Rio Grande

Não é portanto, com prazer que assumimos esta tarefa. Mas le-varemos a cabo o compromisso de esclarecer à sociedade, que deseja ver apurados os graves fatos de que se tem notícia

Não vamos pré-julgar ninguém. não vamos investigar pessoas, mas sim, fatos. Indícios graves, que abriram uma crise sem preceden-tes na história gaúcha

Não vamos, igualmente, compactuar com um “faz de conta”. Devemos apurar cada um dos fatos, elencados no requerimento inicial da CPI

O faremos com o devido rigor jurídico. Com o devido cuidado à preservação das pessoas. Com a devida legalidade. mas o faremos,

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também, conscientes de que temos um compromisso com o Rio Gran-de

Buscaremos todos os elementos probatórios, que possam contri-buir, nas esferas cívil, criminal e política.

O que a CPI tem a agregar às investigações que já se encontram no âmbito da justiça e do ministério público, é sobretudo o conteúdo político, mas também, a produção de provas que possam auxiliar os trabalhos do ministério público e da justiça.

Fiscalizar o executivo é um dever constitucional, político e ético do parlamento.

Para isso, tem diferentes instrumentos, dentre os quais, as CPI´s.

Numa concepção mais elementar, o dever de buscar a verdade.

Para buscá-la, não podem haver presunções. Nem mesmo a de que não é legítimo que um órgão, formado pela representação da so-ciedade, possa encontrá-la, ainda que dividido em dois lados, cada qual com sua versão.

Estamos diante de um dos maiores desafios da história política recente do Rio Grande.

E temos, todos, independente de nossa posição política, um compromisso: trazer a verdade à sociedade gaúcha.

O parlamento é capaz disso!

Não podemos, de outra ordem, conviver com a banalização ou a naturalização dos escândalos.

As CPI´s são um instrumento da minoria. Para que essa minoria exerça seu direito legítimo de fiscalizar e cobrar dos governantes as explicações que devem ao povo.

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Qualquer tentativa de obstruir este trabalho, é uma tentativa de fechar os olhos e silenciar a opinião pública e, com isso, não compactu-aremos de nenhuma forma.

Exerceremos esse papel, através primeiro do convencimento. Temos aqui 12 deputados, que creditamos, estarem conscientes de seu dever.

Mas também buscaremos, uma vez impedidos, por todos os meios legais a produção de provas, inquirições e testemunhos que fo-rem necessários à elucidação da verdade

Buscaremos a parceria devida, sempre em caráter institucional e republicano, com todos os órgãos de fiscalização e controle, que pude-rem auxiliar nosso trabalho.

Buscaremos acordar, com todos nesta comissão, sobre os tempos necessários, tanto em relação ao número de sessões, quanto em relação à tomada de depoimentos e ao próprio andamento dos trabalhos.

Mas devemos reafirmar que a limitação do tempo, não pode ser-vir como subterfúgio para que algo que importa, seja deixado para trás.

A polêmica, por certo, não pode ser evitada. ela é própria da democracia e esta, nos é muito cara.

Buscaremos o equilíbrio devido para que essa polêmica não as-suma o centro de nossa ação.

Exerceremos a presidência, no estrito papel que nos incumbe o regimento, a constituição e o dever, ético e político, que acima de tudo deriva do mandato com que o povo gaúcho nos honrou para cumprí-lo na busca da verdade.

Exercerei a autoridade que a função de presidenta me confere. A autoridade que é o exercício pleno e legítimo da função da presidên-cia que me é conferida.

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Porque o autoritarismo é o exercício da autoridade por quem não a detém.

Que possamos realizar um bom e competente trabalho. Que possamos honrar nossos mandatos e o voto dos gaúchos. Que possa-mos esclarecer e informar. que possamos achar a verdade.

E que Deus nos abençoePronunciado na sala da Presidência da Assembleia

dia 26 de Agosto de 2009

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stelA vAi presidir cpi pArA investiGAr corrUpção no Governo YedA

Depois de ficar engavetado quase três meses à espera de duas assinaturas e de insistentes pedidos da deputada Stela Farias na Tribuna da Assembleia, o requerimento da CPI ganhou fôlego a partir da ação de improbidade administrativa ajuizada pelo Ministério Pú-blico Federal contra a governadora Yeda Crusius (PSDB) e mais oito integrantes do governo. Na quarta-feira (05/08), após o anúncio do MPF, três deputados do PDT, subscreveram o pedido, garantindo o

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número de assinaturas para que o documento fosse protocolado. Na quinta-feira, até os parlamentares da base aliada que estavam bloque-ado a instalação da CPI assinaram o requerimento somando 40 assina-turas. Stela entregou em mãos ao presidente do Assembleia, deputado Ivar Pavan o requerimento solicitando a instalação da Comissão.

Os parlamentes signatários do pedido de CPI já encaminharam pedido ao presidente da assembleia, deputado Ivar Pavan para solici-tar à juíza federal Simone Barbisan Fortes cópia da ação de improbi-dade administrativa ajuizada pelo MPF. O corregedor da Assembleia, deputado Miki Breier (PSB), também pedirá ao presidente da Casa, a documentação relativa aos deputados envolvidos na ação.

Stela foi a primeira parlamentar a assinar o requerimento de CPI ainda em maio e vai presidir os trabalhos da Comissão, a partir do dia 20 de agosto, data prevista para a instalação da CPI.

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bUscAr A verdAde: dever do pArlAmento

Stela Farias*

O Parlamento tem constitucional, política e eticamente, o dever de fiscalizar os atos do Poder Executivo. Igualmente, pelo princípio fiscalizador, tem a atribuição de instaurar procedimentos especiais, que visem buscar elementos e provas que possam determinar quando algo está errado e sugerir a forma de correção. Um deles é a Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI.

Na concepção mais elementar, cabe ao Parlamento, elucidar a verdade. E sempre que se fala na verdade, pode parecer presunçoso determinar de que lado ela está. Entretanto, se fizermos uma busca pelo significado da verdade, veremos que não é nada pretensioso que um órgão, formado pela mais absoluta representação da sociedade, pretenda buscá-la. Aristóteles dizia: “Negar aquilo que é, e afirmar

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aquilo que não é, é falso, enquanto afirmar o que é e negar o que não é, é a verdade.”

A verdade, portanto, é muito simples. Ela é, o que é! Segundo a concepção filosófica do “desvelamento”, conhecer a verdade é deixar que “o ser se manifeste”. Ou seja, basta permitir, que ela aparecerá. Basta deixar que as coisas se mostrem como são e encontraremos a verdade.

Esse será nosso principal compromisso, à frente daquela que provavelmente será a CPI mais importante da história política recente do Rio Grande. A mais importante porque, pela primeira vez, estará em verificação a postura da autoridade maior do estado. E aqui, segu-ramente, reside a principal dúvida da opinião pública, que deve ser respondida: teve ou não a governadora, participação nos atos que es-candalizam os gaúchos? Sua responsabilidade é por ação ou omissão? Ou por ambos?

A verdade precisa aparecer! Nosso principal discurso em defesa da CPI – quando muitos não acreditavam que ela fosse possível e, até mesmo, ridicularizaram-na – continua absolutamente válido como di-retriz do nosso trabalho: queremos que a verdade apareça. Queremos eliminar a dúvida. Queremos que a sociedade tome conhecimento do que existe e do que não existe em todos esses processos, que envolvem os mais rumorosos casos de corrupção que o estado já vivenciou.

Temos certeza de que seremos capazes dessa construção, menos por nossos méritos individuais mas porque o Parlamento, como um espaço de representação, reúne de fato um conjunto de capacidades e de experiências que, como um substrato do Rio Grande, tem toda a condição de produzir um excelente trabalho. Mas é necessário, para isso, que todos entremos com o espírito de apostar no “desvelamento”: nada pode ser omitido, nada pode ser escondido, nada será varrido “para baixo do tapete”. Nosso compromisso maior, como mandatários é com o povo e, em seu nome, em buscar a verdade, para que ela liberte o estado da dúvida e da corrupção que o atrasa.

*Deputada Estadual.Plublicado no jornal Correio do Povo

dia 15 de Agosto de 2009

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stelA: todos nA cpi tem responsAbilidAde em esclArecer A sociedAde GAúchA

“Nós esperamos que, agora que estamos finalmente encami-nhando a instalação da CPI, a sociedade gaúcha possa conhecer e aces-sar o conteúdo das denúncias que pesam contra agentes públicos e assessores da governadora. Durante os últimos meses, nós assistimos à um bloqueio da maioria governista para que não protocolássemos o pedido de investigação das pesadas denúncias de corrupção através da instalação de uma CPI. A Assembleia foi constrangida e não estava exercendo seu poder fiscalizador, por força de uma maioria que prefe-ria permanecer em silêncio apesar dos nossos apelos e principalmente dos apelos da sociedade gaúcha.”

O desabafo foi feito pela deputada Stela Farias, depois que ela e outros 16 parlamentares que pediam a instalação da CPI desde maio, foram referendados pelo aguardado pronunciamento do Ministério Público Federal, na quarta-feira (05/08).

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Para a deputada a expectativa em torno dos parlamentares da base governista que também vieram a assinar a CPI depois que o MPF apresentou o resultado de mais de um ano de trabalho, ouvindo gra-vações feitas pela Polícia Federal, analisando documentos e ouvindo testemunhas, é de que eles também estejam dispostos a esclarecer à so-ciedade gaúcha e a responsabilizar quem quer que esteja envolvido.

“Não posso acreditar que diante da gravidade da situação, de-putados ligados ao governo, venham até a CPI para tentar bloquear os trabalhos ou impedir qualquer tipo de investigação. Como repre-sentantes eleitos, todos temos o dever constitucional e o compromisso com a população gaúcha de irmos até as últimas conseqüências para apurar todos os fatos, doa a quem doer” afirma Stela.

o trAbAlho do mpf

A ação movida pelo Ministério Público Federal, envolve além da governadora Yeda Crusius e seu ex-marido Carlos Crusius, os de-putados José Otávio Germano (PP), Luiz Fernando Záchia (PMDB), Frederico Antunes (PP) e o presidente do Tribunal de Contas do Es-tado, João Luis Vargas, todos ex-presidentes da Assembleia. Também são citados o ex-secretário Delson Martini, a principal assessora da go-vernadora, Walna Villarins Meneses eo vice-presidente do Banrisul e ex-tesoureiro de campanha da governadora, Rubens Bordini.

O Ministério Público Federal pediu a perda do cargo e função pública dos citados, a suspensão dos direitos políticos de 8 a 10 anos, o pagamento de multa, a proibição de contratação pelo poder público e o ressarcimento dos recursos desviados.

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GrAnde expediente em homenAGem Ao Aniversário de AlvorAdA

Senhor Presidente; Senhores e Senhoras deputados e deputadas; Excelentíssimo Prefeito Municipal de Alvorada, Senhor Carlos Brum; Excelentíssimo Presidente da Câmara Municipal de Alvorada, Senhor Miro Joaquim dos Santos; Ilustríssimo Senhor, Tenente-Coronel Esti-valete, Digníssimo Comandante do 24º Batalhão de Polícia Militar de Alvorada, Senhor Gilberto Perroni, companheiro de tantas lutas, dig-níssimo Presidente da União das Associações de Moradores de Alvo-rada; demais autoridades presentes; lideranças comunitárias, empre-sariais, cidadãos e cidadãs de nossa querida Cidade.

Quero, nesta data, prestar uma homenagem de gênero. Talvez alguns dos senhores e senhoras presentes estranhem, afinal foram convidados para um Grande Expediente em homenagem a uma cida-de. Mas hoje, quero prestar homenagens a uma mulher. E contar um

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pouco da sua história, do seu presente e do que eu imagino para o seu futuro. Em 17 de setembro de 1965, nascia essa mulher. Uma mulher que, como mãe, abriga, ampara e acalenta os seus entes queridos. Essa mulher nasceu pobre, muito pobre. Nasceu em tempos conturbados num Brasil que, à época, tinha acabado de transformar-se em um País, vitimado por uma ditadura.

Por filiação, essa mulher, nascida em 1965, tinha como pai o êxo-do urbano e como mãe, a falta de opções. Seus filhos, até bem pouco tempo atrás, eram em muito maior número, os adotados. Sua irmã, a capital já não tinha mais espaço para tantos que chegavam do interior, com a promessa de uma vida melhor, que para alguns, jamais che-gou... E, até hoje, os adotivos ainda são a grande maioria.

Essa mulher, mãe, chefe de família, ainda jovem aos 44 anos, chama-se Alvorada. Como qualquer um de nós, a escolha de seu nome também tem uma história – ou até mais de uma. Alguns dizem que foi assim batizada por uma referência ao movimento diário de seus filhos, que se deslocavam para o trabalho, ainda nas primeiras horas da ma-nhã. Outros, pela lógica incompreensível, que à época vigorava, de se distribuírem os recursos federais pela ordem do alfabeto...

Sua infância foi difícil. Muito difícil. Foi preciso muita luta, por aqueles que dela cuidaram nos primeiros anos, para que a mesma se desenvolvesse, minimamente. Quase como uma criança prematura, Alvorada nasceu sem contar com o básico que precisaria para sobrevi-ver. Mas como toda lutadora, sobreviveu!

A ainda pequena Alvorada cresceu envolta em todo tipo de di-ficuldades. Brincava em meio à miséria, ao barro e a poeira, por sobre o esgoto a céu aberto. A criança que tinha sonhos, como tantas outras crianças, sonhos de ser gente grande, via no dia-a-dia os limites de sua vida dura. Mas, nem por isso - como toda criança - deixava de sonhar...

A cidade era, de fato, a filha preterida. Não foram poucas as coisas que ela via as outras ganharem e que, a ela, nunca chegaram. Muitos, de olho em seus numerosos filhos, a enchiam de promessas, que depois se esvaiam, em meio a um mar de decepção.

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Ainda na adolescência, como tantas outras mulheres da peri-feria dos grandes centros nos dias atuais, ela foi vítima da violência. Caso rumoroso; ganhou repercussão nacional, numa época em que a violência não havia atingido a banalidade de hoje e ainda chocava as pessoas. Isso lhe deixou marcas, cicatrizes profundas.

Por essas cicatrizes ela foi, ao longo dos anos, sempre apontada nas ruas. Alvorada passou a ser ligada, a toda hora, à violência. As referências a ela, vinham sempre acompanhadas de uma certa dúvi-da, de um certo medo, de uma certa aura negativa. Essa ainda jovem mulher passou a ser sinônimo do que mais assusta as pessoas: a inse-gurança.

Apesar disso, seguiu-se a vida. Alvorada e seus filhos, nunca pararam de lutar por uma vida melhor. Os filhos lhe chegaram muito cedo. Foi um caso onde as pessoas chegaram antes que a cidade. E por conta disso, cada melhoria em sua vida, por menor que fosse, era comemorada. A esperança – que é por vezes a única arma dos mais humildes – ganha contornos únicos em Alvorada.

Ali, a esperança é “ferramenta de trabalho”. É parte do pão de cada dia. Assenta-se à mesa, divide a cama. Deita e levanta com os fi-lhos de Alvorada. Se a cor da esperança é verde, embora não hajam lá muitos campos – 97% de sua construção é urbana – não há lugar mais verde que Alvorada.

As relações de afeição, com os próprios filhos, não foram fáceis. A grande maioria morava com sua mãe a contra gosto. A ideia de boa parte deles era fazer de sua casa uma passagem. Ponto de partida para uma vida melhor, não junto à mãe. Mas em outro lugar. Demorou até surgir nessa família, o sentimento de que eram, realmente, ligados ao seu lugar. De que formavam, de fato, uma família.

Não é que não houvesse motivo para sua revolta. Esses filhos, ganham apenas 2/3 do que ganham os filhos de suas irmãs e 1/5 do que ganham os primos, filhos da capital. E tem quase duas vezes e meia menos acesso a emprego, do que a média dos habitantes da Região, excluída Porto Alegre. O pior é que, segundo os mesmos estudos que apontam essa desigualdade, se nada for feito, ela – que já perdura por dezenas de anos - se manterá quase inalterada, pelas próximas duas décadas.

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Mas, ainda assim, os filhos foram desenvolvendo cada vez mais amor por sua mãe. E hoje, já não se imaginam vivendo longe dela. Criaram o sentimento que filhos amorosos nutrem por suas mães: que-rem cuidá-la, vê-la bem, tendo todas as suas necessidades atendidas e com um futuro de saúde e prosperidade.

Como mulher madura, aos trinta e poucos anos, Alvorada viu, a possibilidade de dar a seus filhos uma vida melhor. E a família toda agarrou-se a essa esperança e, de fato, construiu melhorias significati-vas. Não que muito não tivesse sido feito por quem chegou antes, mas quero aqui contar um pouco da história que me enche de orgulho, de um jeito que só se orgulha quem tomou parte dela.

De tudo o que se obteve de resultado, Alvorada e seus filhos foram sempre os maiores responsáveis pelos sucessos obtidos. Eles, mais do que nós, trabalharam duro, incansavelmente, para melhorar suas próprias vidas. As feições de Alvorada mudaram. Seu semblante e seu corpo já não eram mais os mesmos. Mas especialmente, a relação entre a família havia mudado. Mais orgulhosos de sua mãe, seus filhos viram-na se tornar mais forte, mais bela, com mais saúde e cada vez mais acolhedora. Já não queriam mais deixar sua casa. Já tinham orgu-lho da mãe que os adotara.

Alvorada se tornou conhecida no mundo. Gente de fora, que-ria vê-la. Encantava-os a perseverança dessa mulher-cidade. A forma como agregava seus filhos. O jeito que esses filhos trabalhavam e a relação que desenvolviam com sua mãe. França, Espanha, Portugal e outros lugares mandavam gente para saber mais dessa mulher. E, fi-nalmente, num Fórum do Mundo, ela teve espaço para falar, manifes-tar-se, contar sua história.

Conseguimos, graças também a tudo que já tinha sido feito an-tes de nós, produzir uma mudança de vida para a família de Alvorada. Nos dedicamos a ela, com tanto afinco e com tanta força, que nunca mais nos distanciamos.

Contar a vida dessa mulher não é falar apenas de limitações e tristezas. É importante também, dizer de sua maior riqueza e sua maior alegria – como o são, para qualquer mãe: os filhos!

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Não são todas as mães que possuem filhos tão altivos. Gente tra-balhadora, lutadora. Exemplos de perseverança e de fé. Aliás, ela própria – Alvorada – é muito religiosa. Crê num Deus bom e fiel, que nunca lhe faltou nas horas mais difíceis. Crê numa fé tão ampla, que abriga várias crenças. Crê com tanta força, que as manifestações de sua religiosidade são quase incontáveis, em todos os cantos de sua casa, em todos os momentos de sua vida.

Os filhos de Alvorada – alguns nascidos em tantos lugares dife-rentes – dão à casa um jeito de Rio Grande. Há os que vieram da Serra, da Fronteira, do Litoral, da Campanha, há até os que vieram de outros estados. Essa profusão de culturas e de origens faz da casa de sua mãe um lugar tão rico em cultura, tão rico em diversidade, tão maravilho-samente rico em sotaques, crenças e costumes, como não podem ima-ginar os que não a conhecem direito.

Na casa de Alvorada, se conservam as tradições. As mais ricas tradições. Como boa gaúcha, Alvorada tem a alma farroupilha! Seu aniversário é próximo da data maior da revolução farrapa não por aca-so.

São mais de 200.000 os filhos de Alvorada com o Rio Grande. Um mar de gente em número, mas muito mais do que isso em grande-za de caráter, de vontade, de obstinação.

Ao deixarem a casa de sua mãe, para ganharem o pão de cada dia, provam isso toda manhã. Não é tarefa fácil. Não lhes foram dadas as mesmas oportunidades que aos filhos de outras mães. Sua vida é feita de luta. Não é uma vida de conforto. Enfrentam, muitas vezes, o preconceito que cerca sua mãe. Mas a cada dia, são motivo de orgulho para a mãe que os acolheu.

Hoje, mulher madura, Alvorada está pronta para novos passos. Tem a convicção e a firmeza que só as mulheres maduras ganham de presente da vida. Forte e guerreira, quer proteger suas crias. Quer lhes assegurar melhores condições do que tiveram até hoje. Ainda tem mui-to pelo que lutar. Emprego, transporte, saúde, educação, gerar riqueza, proteger-se da violência, garantir sua qualidade de vida... Alvorada ainda tem muito a conquistar. Quer ir mais longe, quer ser mais reco-nhecida, quer gerar a admiração, ser respeitada, cuidada e amada... Os sonhos que tem qualquer mulher.

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Na condição que ela própria me deu de falar hoje aqui, desta Tribuna, do Parlamento Rio Grandense, de falar aos gaúchos em seu nome, condição que nunca antes havia dado a ninguém e que muito, muito me honra. Quero dizer que não há dia, em que eu não tenha o peito cheio de orgulho e não sinta em meus ombros o peso da respon-sabilidade, que eu procuro honrar a cada dia. Por que, definitivamen-te, não é pouco ser a primeira deputada da história de Alvorada, ainda que eu já tenha tido a honra de ser a sua primeira prefeita mulher e a primeira prefeita reeleita da história da Cidade.

Dessa condição privilegiada, de falar ao Rio Grande, em nome dessa mulher-cidade honrada, altiva, trabalhadora eu quero fazer um chamado: este estado e o Brasil têm responsabilidade com o futuro dessa mulher!

Ainda que - é preciso destacar - nos últimos anos o Governo do Brasil tenha – como é característico de um governo que é feito para os que mais precisam – operado muitas transformações e renovado, sobretudo, a esperança em dias melhores.

Nós todos, temos o dever de proporcionar-lhe um outro futuro. Por tudo o que ela já mostrou, por tudo o que ela já lutou, por tudo o que ela representa para este Estado, Alvorada merece ter todas as oportunidades que lhe foram negadas, subtraídas e postergadas até hoje!

Os governantes, tem a obrigação de olhar por essa mãe de famí-lia e por seus mais de 200 mil filhos e lhes proporcionar todas as condi-ções de acessarem as três coisas mais fundamentais para qualquer ser humano: saúde, paz e possibilidade de futuro.

É preciso que se construa um plano de desenvolvimento para sua vida. Integrado, sim, com suas irmãs mais próximas. Com um olhar para as qualidades que ela tem, para as vocações que apresenta, que a integre com o que o mundo do trabalho pede hoje, que a coloque em condição de igualdade e, por que não dizer, de prioridade.

Alvorada não aceita mais ser estigmatizada, apontada por uma pecha que não é justa consigo e com seu povo. Ela não é a cidade “mais violenta da Estado”. Violência é o descaso, o abandono e o descompro-misso com que muitos a trataram, ao longo de décadas!

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O Estado e o País precisam resgatar a dívida que tem com essa mulher-cidade e sua prole. Tudo será diferente, daqui para frente, se lhe dermos o que deveria ser dado a cada mãe brasileira: 1) Educação, preparando-a cada vez melhor para os desafios da sociedade moder-na; 2) Estrutura, possibilitando a ela e a seus filhos, mais facilidade de acesso, mais conforto e mais segurança; e 3) Desenvolvimento, econo-mico – com mais oportunidades de gerar riqueza e trabalho – e social – atendendo suas carências mais prementes, porque a fome e a miséria não são apenas más conselheiras: são geradoras de mais mazelas, de violência, de exclusão e de falta de perspectivas.

Por fim, eu quero aqui prestar um compromisso e fazer uma de-claração. Todos sabem da luta que viemos travando, neste parlamento, para fazer valer o direito dos gaúchos em conhecer a verdade, sobre graves e tristes episódios que envolvem a política do Rio Grande.

Esta é uma luta árdua, à qual eu me entrego também com a cer-teza de que, combater a corrupção é combater a exclusão. É fazer com que o dinheiro do povo seja utilizado – inteiro – em benefício de quem mais precisa dele. Quando estou nessa luta, honro também o mandato que me foi conferido pelo povo de Alvorada.

Em muitos dias sou, como a maioria dos filhos de Alvorada, alguém que volta a ela, ao fim de um dia duro de trabalho, para ali repousar.

Eu, também mulher, também aos 44 anos, me sinto irmã da mi-nha Cidade. Nós crescemos juntas. Nós trocamos brincadeiras, sonhos, confidências, planos e projetos. Nós construímos nossas vidas “par e passo”. Conheci o homem de minha vida, junto a Alvorada, o pai dos meus três filhos, com o qual estou casada há 25 anos.

Junto de Alvorada, construí minha militância política e minhas vitórias eleitorais, com a confiança que ela sempre depositou em mim. Foram vividas com ela minhas esperanças, minhas decepções, meu trabalho e minhas alegrias. Isso é um laço tão forte, que não se desfaz em momento algum. Meu pensamento está sempre com Alvorada.

Hoje, aqui, do alto desta Tribuna, da Tribuna do Povo Rio Gran-dense, num dia de festa, comemorando os 44 anos da cidade que me acolheu, que me deu as maiores alegrias de minha vida, quero fazer

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uma declaração e um compromisso: declaro meu amor por ti, Alvo-rada e renovo o compromisso de não deixar de lutar um só dia, deste parlamento ou de qualquer lugar onde eu esteja, para que teus próxi-mos anos sejam anos com toda a felicidade, que dia-a-dia tu me des-te!

Viva Alvorada, viva o povo alvoradense, viva o orgulho e a certeza de que nossa terra é fecunda em valor e significado!

Muito obrigado! STELA FARIAS, Cidadã de Alvorada

Pronunciado na Tribuna da Assembleia dia 17 de Setembro de 2009

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AlvorAdA discUte constrUção dA escolA técnicA em AUdiênciA públicA

A audiência pública da Comissão de Educação, Cultura, Des-porto, Ciência e Tecnologia realizada por solicitação da deputada Stela Farias (PT) na manhã desta segunda-feira, 13 de julho, lotou o plenário da Câmara Municipal de Vereadores de Alvorada para debater a cons-trução de uma escola técnica com a comunidade, autoridades munici-pais, estaduais e federais.

Foi encaminhada a criação de uma Comissão de Acompanha-mento do projeto, composto por representantes do Executivo e do Le-gislativo das esferas federal, estadual e municipal, além da comunida-de escolar, entidades comunitárias, representantes dos trabalhadores e dos empresários. A liberação do recurso para a construção da escola técnica depende apenas da apresentação das certidões do terreno ce-dido pela prefeitura municipal de Alvorada. A Comissão de Acompa-nhamento deverá fiscalizar o andamento de todas as fases do projeto, desde a licitação da obra, pelo Governo do Estado, até a definição dos cursos.

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Também ficou acertado a utilização de estudos da Fundação de Economia e Estatística (FEE) e do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socio-Economicos (Dieese) sobre as tendências de desenvolvimento econômico regional e sobre mercado de trabalho como referência da Comissão de Acompanhamento.

Para Stela, a instalação de um estabelecimento de ensino do tipo profissionalizante é estratégica para o desenvolvimento econômico da cidade e da região. Somente a partir da qualificação da mão-de-obra, é possível ampliar também a capacidade de competir no mercado de trabalho local e na Região Metropolitana. A realização da audiência pública da Comissão de Educação para discutir o tema, além de articu-lar a participação das esferas públicas e da comunidade, quer garantir a efetivação da obra.

“O Governo Federal garantiu recursos da ordem de R$ 6 mi-lhões para a construção da escola técnica. Estão previstos no projeto a construção de 12 salas de aula, 6 laboratórios científicos e outros dois específicos. A audiência pública serve como instrumento para que a comunidade de Alvorada, seus representantes, as autoridades envol-vidas possam assumir publicamente seu compromisso com essa de-manda e definir qual as peculiaridades dessa escola para que ela seja realmente útil para o desenvolvimento da cidade.” afirmou.

A presidenta da Comissão de Educação da Câmara Federal, de-putada federal Maria do Rosário, convidada para compor a mesa da audiência, chamou atenção para o perfil da maioria da juventude bra-sileira, que segundo a parlamentar, precisa trabalhar antes de acessar a universidade, no entanto não possui qualificação profissional. Rosário lembrou que durante o Governo FHC, chegou a ser proibido a criação de escolas técnicas. A deputada federal não poupou críticas ao Gover-no do Estado: “ de todos os estados brasileiros, o Rio Grande do Sul é o que menos está investindo em educação, na construção e manuten-ção das escolas, em recursos pedagógicos ou em quadro de pessoal” cobrou.

O secretário nacional de Educação Profissional e Tecnologia do Ministério da Educação, Eliezer Pacheco saudou a pluralidade com a que a audiência foi organizada, citou as realizações do Governo Lula na área da Educação, a criação de 90 novos campi, 16 universidades

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federais e 214 unidades de ensino técnico profissionalizante. Para o secretario, o Governo Federal está fazendo um esforço para recuperar o Ensino Médio, porque tem um projeto de Nação, qual seja, o de-senvolvimento soberano, democrático e com inclusão social. Eliezer reafirmou a maneira republicana com que os recursos são liberados pelo Governo Federal, salientando a necessidade das administrações municipais e estaduais apresentarem projetos para garantir sua via-bilização.

O representante da Secretaria Estadual de Educação, Lúcio Viei-ra reconheceu o empenho da comunidade de Alvorada para a cons-trução da escola técnica e garantiu que o Governo do Estado deverá se empenhar para dar inicio ao processo de licitação da obra.

A secretária municipal de Educação, Jussara Bitencourt afirmou que existem entraves em relação a liberação do terreno cedido pela prefeitura, em função da área não ter registro, mas salientou que a administração está trabalhando para garantir que isso não impeça o inicio das obras.

Também participaram como convidados, o presidente da Câma-ra Municipal de Vereadores, Miro Joaquim dos Santos; o vice-presi-dente do Conselho Estadual de Educação, professor Raul Oliveira, os vereadores do PT, Professor Serginho, Cristiano Schumacher e Marcus Thiago e a presidente da Comissão de Educação da Câmara de Verea-dores, Professora Nadir.

morAdores de AlvorAdA bUscAm Apoio de stelA pArA resolver trAnstornos de obrAs

Atendendo a uma solicitação das comunidades dos bairros Onze de Abril e Campos Verdes, em Alvorada, a deputada Stela Farias e o vereador do PT, Marcus Thiago conversaram na manhã desta quarta-feira (1°/07) com os moradores sobre transtornos causados pelas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

A população, que organizou um abaixo-assinado com mais de 60 assinaturas, reclama que as obras de saneamento realizadas pela Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) e autorizadas pela prefeitura municipal estão causando danos estruturais nas moradias.

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Depois de reclamar da situação à prefeitura e à Corsan sem obter retor-no, os moradores procuram a parlamentar e o vereador.

Stela e Marcus Thiago vão solicitar uma reunião com a prefeitu-ra municipal, a Corsan, a empresa responsável pelas obras e a comuni-dade, para encaminhar uma solução ao problema.

“Alvorada vive um momento ímpar de sua história, com gran-des obras de saneamento e infra-estrutura garantidas pelo Governo Lula através do PAC. É evidente que isso causa transtornos à popu-lação. Agora, quem gerencia e fiscaliza não só os recursos, mas o an-damento das obras é a prefeitura municipal. Nós viemos conversar com os moradores, porque isto não está acontecendo. As pessoas estão enfrentando problemas graves decorrentes da condução das obras e não estão recebendo a atenção devida. Vamos solicitar uma reunião com representantes da prefeitura, da Corsan e da empresa responsá-vel, para encaminhar uma solução. Não é possível que uma obra que vai gerar tantos benefícios à população seja motivo de transtornos in-contornáveis, muito menos, de colocar em risco a vida da população” afirmou Stela.

Para o vereador Marcus Thiago, se o município foi escolhido pelo Governo Federal para receber investimentos dessa magnitude, o mínimo que o poder público local deve fazer é acompanhar as obras. “É inadmissível que a prefeitura municipal tenha um comportamen-to sectário em relação a realização das obras pelo Governo Federal. É preciso deixar as diferenças partidárias de lado, quando se trata de garantir benefícios diretos e permanentes a população alvoradense. Não cabe numa democracia que a verba venha para o município e a prefeitura se negue a sequer fiscalizar sua aplicação,” reclamou o Mar-cus Thiago.

O Governo Federal liberou R$ 107 milhões somente para obras de saneamento em Alvorada. A execução se dará em três fases. A pri-meira já está em andamento no Bairro Americana, com investimentos de R$ 27 milhões.

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emendA dA depUtAdA stelA qUer recUrsos pArA constrUção de UmA deleGAciA dA mUlher em AlvorAdA

A deputada Stela Farias já conseguiu a assinatura de 7 parla-mentares para a Emenda de sua autoria, que destina R$ 500 mil, dos recursos do Orçamento do Estado, para a construção de uma delegacia de atendimento especializado à mulher no município de Alvorada.

Na justificativa da Emenda ao Projeto de Lei 226/09, a parlamen-tar lembra que um dos principais motivos para que os atos de violên-cia contra a mulher fiquem impunes, é a falta de assistência especiali-zada.

“Além do constrangimento físico, muitas vezes, as vítimas en-frentam o constrangimento moral de ter de expor sua situação, num ambiente impróprio, sem pessoal especializado e, na maioria das ve-zes, por agentes do mesmo gênero do agressor,” cobra a parlamentar.

Para Stela, as delegacias especializadas de atendimento a mu-lher não representam um avanço, mas uma necessidade, para o qual o Estado ainda é deficitário. “De nada adianta uma lei moderna e eficaz, como a Lei Maria da Penha, sem que seja garantido às vítimas de vio-lência um espaço adequado, de acolhimento e proteção, voltado para o tipo de problema que estas vítimas enfrentam” afirmou.

vereAdores pedem inspeção do ministério público de contAs em obrAs de AlvorAdA

Acompanhados da deputada Stela Farias, os vereadores do PT de Alvorada, Professor Serginho e Marcus Thiago reuniram, na manhã desta quarta-feira (04/11) com o procurador-chefe do Ministério Públi-co de Contas, Geraldo Da Camino, para solicitar uma inspeção extra-ordinário do MPC nas obras com participação da MAC Engenharia na Prefeitura de Alvorada.

Os vereadores entregaram ainda documentos e evidências rela-cionados a fraude em obras de saneamento e habitação e o recebimento de propina envolvendo o secretário de Planejamento Urbano e Habita-ção de Alvorada, Francisco Carlos Ramos. O esquema foi denunciado em matéria do repórter Giovani Grizzoti, da RBS TV.

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Da Camino informou que o expediente do MPC foi aberto e su-geriu que os vereadores também solicitem uma inspeção a Controla-doria Geral da União (CGU), que poderá ser realizada em conjunto com o Tribunal de Contas do Estado.

Em Alvorada, os vereadores aprovaram a criação de uma CPI na Câmara para tratar do tema. “Nos agora vamos trabalhar para apro-fundar os fatos, a partir da instalação da CPI na Câmara de Vereado-res, que foi aceita na última terça-feira, vamos investigar os detalhes do esquema” afirmou o vereador Professor Serginho.

Para o vereador Marcus Thiago, a reportagem revelou, além de um esquema de propina com empreiteiras, o envolvimento de agentes políticos no esquema. “Nos queremos saber agora o alcance e a pro-fundidade do esquema. Quem são os servidores públicos e agentes políticos envolvidos, quem são as empresas de fachada que serviam ao esquema?” questionou.

Na quinta-feira (05/11), os vereadores vão a CGU para solicitar a fiscalização do órgão.

A deputada Stela Farias, que é presidenta da CPI da Corrupção na Assembleia, deve apresentar requerimento para que Francisco Ra-mos compareça à Comissão. “É o mesmo esquema que investigamos no âmbito do Estado, a MAC aparece na Operação Solidária e nós que-remos saber detalhes desse ramo das fraudes em Alvorada” afirmou.

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nem tUdo qUe é leGAl é honesto

A Procuradora Regional da República, membro do Instituto de Estudos Direito & Cidadania, Ana Lúcia do Amaral, em seu artigo in-titulado “Nem meu, nem seu, nosso”, descreve com uma precisão tão milimétrica os fatos acontecidos na política gaúcha de tempos para cá, que parece que o artigo foi feito para atender a este triste momento.

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Diz ela: “A utilização da coisa pública como objeto de livre dis-posição de quem está no exercício de função pública dá-se de variadas formas. Pode ela ocorrer pela fruição direta e pessoal – incluam-se aí parentes e afins – dos recursos do erário público, seja pela aquisição de bens de utilização pessoal e/ou doméstica”.

E continua, demonstrando como, tantas vezes, quem investiga, apura e denuncia, acaba por virar alvo da ira daqueles que são flagra-dos em situação absurda de usurpação da coisa pública: “Quando se procura restabelecer o equilíbrio, é tal o espanto por parte dos que con-fundiram o público com o seu privado que parece estar errado querer restabelecer o certo. (...)Parece que a regra era tão somente para outros que não eles... ”.

Já vimos, de há muito, que os atuais ocupantes do Palácio Pirati-ni tem uma dificuldade enorme em separar o “público” do “privado”. Isto já tinha ficado evidenciado em mais de uma oportunidade, onde a locupletação e a “farra” com o dinheiro público nos davam a exata dimensão do que fala a Dra. Ana Lúcia em seu artigo.

Mas os últimos fatos, relacionados à compra de móveis, artigos de decoração e outros objetos para uso pessoal da governadora, entre-gues diretamente em sua residência, como restou comprovado pelos documentos que ontem chegaram à CPI da Corrupção, que presidi-mos, são um ingrediente que, embora não mais expressivo em valor, é extremamente simbólico em termos de conduta...

Se é que é legal – fato que ainda não foi totalmente provado pelo governo – é preciso que se recupere os princípios da administração pública, descritos no Art. 37, da Constituição Federal da República, que diz: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”.

Ora, se é legal é certo também que não é moral. E segundo o imi-nente jurista Hely Lopes Meirelles, o pai da doutrina do Direito Brasileiro “Cumprir simplesmente a lei na frieza de seu texto não é mesmo que atendê-la na sua letra e no seu espírito. A administração (...) deve ser orientada pelos princípios do direito e da moral, para que ao legal se junte o honesto e o conveniente aos interesses sociais(...) A moralidade

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administrativa (...) constitui pressuposto da validade de todo ato da Administração Pública. O ato administrativo não terá que obedecer apenas à lei jurídica, mas também à lei ética (...) por que nem tudo que é legal é honesto.”

E, do ponto de vista da moralidade, estes atos são absolutamen-te condenáveis. Muito mais, num estado que não coloca as mínimas condições e estrutura para a prestação de um serviço público decente, nem a seus funcionários, quanto mais à população.

Num estado onde escolas caem por sobre as cabeças de estudan-tes, onde outros estudam em escolas de lata, onde servidores traba-lham em mesas consumidas pelos cupins, o governo gasta na compra de móveis, para os netos da governadora...

Mais uma vez destaco: o valor pecuniário tem muito menos im-portância do que o valor simbólico. Muito mais se desviou, nas fraudes que temos combatido até agora. Mas a questão é de debate necessário pelo conjunto da sociedade e tal debate não é uma intromissão na es-fera da vida pessoal da governadora, porque na hora de pagar a conta foi a sociedade que foi chamada a fazê-lo.

Eu me pergunto, Sr. Presidente, Nobres Colegas: talvez seja lí-cito que sejam adquiridos todo o tipo de bens e serviços que sirvam ao pleno exercício do mandato, de quem ocupa tão relevante função, como a de dirigir o nosso estado. Mas onde, afinal, está a relevância para o pleno exercício do mandato de governadora em adquirir mó-veis infantis, móveis para o quarto de dormir, piso emborrachado para a garagem da casa da governadora? Era impossível a ela, gerir o es-tado sem isso? Causaria prejuízo ao interesse público, a ausência de tais elementos? Sim, porque essas eram as perguntas que deferiam se fazer, os que determinaram ou concorreram para que tais atos fossem realizados.

R$7.920,00 gastos no “Pagamento do Jantar nos Jardins do Palá-cio Piratini, para a Confraternização dos Funcionários”, segundo diz o próprio processo 8334-0801/08-8. R$1.982,00 para “Aquisição de Coní-feras”, segundo o processo 3438-0801/09-9.

Mas onde está o interesse público? Mas onde está a moralidade? Onde isto casa com o discurso de racionalidade de gastos e austerida-

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de, patrocinado por uma governadora durante quase três anos e que cortou R$2 bilhões da saúde e da educação sob a égide de garantir o equilíbrio das contas públicas?

Mas a pergunta principal poderia ser outra: onde afinal foram parar nossos brios, Sr. Presidente? Será que esta casa não tem mais a capacidade de indignar-se, acompanhando o sentimento da socieda-de?

Sim, porque o mínimo que a essa altura, o Seu José, a Dona Ma-ria, cidadão e cidadã gaúchos, que trabalham duro, pagam seus im-postos, lutam cotidianamente para adquirir algum conforto, o mínimo que essa gente espera é que estejamos tão indignados quanto eles.

Não é possível que sejam conduzidas coisas de extrema relevân-cia – como o Processo de Impeachment, que ora tramita nesta casa – no afogadilho tresloucado e desesperado do caminho para o arquivamen-to, especialmente, quando se verificam fatos dessa natureza.

Não é possível que se admita os sucessivos boicotes às investi-gações da CPI da Corrupção, quando a sociedade inteira não para de se surpreender, a cada dia, com novas e chocantes revelações sobre a forma como é tratado seu dinheiro, por aqueles que ganharam uma eleição prometendo o maior respeito com o erário público.

E se uma coisa podemos dizer, sem medo de errar, sobre o Go-verno Yeda é que ele é uma “fábrica de surpresas”. Infelizmente, bas-tante negativas...

Agora, o que surpreenderá, de fato, à sociedade gaúcha é se esta Casa, do alto do seu papel, consagrado pela Constituição Federal e Es-tadual, de fiscalizar, exigir contas e zelar pelo interesse público, apenas silenciar.

Se esta Casa não puder ser a último pilastra de resgate da digni-dade e da preservação da distinção entre o público e o privado, certa-mente não será absurdo entender por que o cidadão comum acaba não vendo nenhuma utilidade ao Parlamento...

É nosso dever, nossa obrigação, neste caso, sem dúvida alguma LEGAL e também MORAL.

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docUmentos revelAm Uso de dinheiro público pArA comprA de piso e de móveis pArA A cAsA de YedA

Em entrevista coletiva concedida pouco antes do início da ses-são da CPI da Corrupção na quarta-feira (07/10), a presidenta Stela Farias, acompanhada de deputados da oposição, denunciou a compra de materiais de construção e móveis comprados com dinheiro público e entregues na casa da governadora Yeda Crusius, rua Araruama, nº 806.

Stela havia recebido a denúncia no dia 14 de setembro, mas não a tornou pública antes de verificar sua veracidade. A parlamentar solici-tou aos deputados membros da CPI, Daniel Bordignon (PT) e Paulo Bor-ges (DEM) uma diligência uma loja de material de construção de Porto Alegre que confirmaram a nota fiscal de uma das compras irregulares. A descrição da nota e o seu número conferem com os documentos que acompanham a denúncia.

As comprAs dA GovernAdorA

Um dos itens adquiridos é um piso de borracha com metragem de 70 m², que recobre a garagem da mansão. A compra foi efetuada no dia 14 de abril de 2007 e entregue na casa da governadora 15 dias depois. A mer-cadoria custou R$ 1.863,72. Na nota fiscal, verificada pelos parlamentares numa loja de construção de Porto Alegre, consta o Gabinete Militar-Casa Civil como comprador e o endereço da governadora como o local para a entrega do material.

Outra compra envolve móveis que, segundo a denúncia, seriam para mobiliar quartos de crianças. A nota fiscal (número 117196/07) mostra que o montante pago foi de R$ 6.005,00. A mobília foi entre-gue no Palácio Piratini, mas transferida para a casa de Yeda. O chefe da Casa Civil, Otomar Vivian, considerou o procedimento legal.

Ao todo, as denúncias de aquisição irregular de material de construção, móveis, produtos para jardinagem e alimentos somam cerca de R$ 100 mil.

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palavras ............................................................

de leGAlidAde e morAlidAde

Stela Farias*

Non omne quod licet honestum est! Nem tudo que é legal é ho-nesto, já proclamavam os Romanos...

Já vimos, de há muito, que os atuais ocupantes do Palácio Pirati-ni tem uma dificuldade enorme em separar o “público” do “privado”. Isto já tinha ficado evidenciado em mais de uma oportunidade, onde a “farra” com o dinheiro público nos davam a exata dimensão do que fala a Procuradora Regional da República, Ana Lúcia do Amaral, em seu artigo intitulado “Nem seu, nem meu, nosso”. Diz ela: “Quando se procura restabelecer o equilíbrio, é tal o espanto por parte dos que con-fundiram o público com o seu privado que parece estar errado querer restabelecer o certo”.

Os últimos fatos, relacionados à compra de móveis, artigos de decoração e outros objetos para uso pessoal da governadora, entregues diretamente em sua residência, como restou comprovado pelos docu-mentos que chegaram à CPI da Corrupção, são um ingrediente que, embora não mais expressivo em valor, é extremamente simbólico em termos de conduta... É certo que muito mais se desviou, nas fraudes que temos combatido até agora. Mas a questão é de debate necessário pelo conjunto da sociedade e tal debate não é uma intromissão na es-fera da vida pessoal da governadora, porque na hora de pagar a conta foi a sociedade que foi chamada a fazê-lo.

Ainda que sejam legais – o que é totalmente discutível – tais compras certamente não foram morais. E tal como ensinam os princi-pais doutrinadores do direito, a legalidade não é simplesmente cum-prir a lei na frieza de seu texto, mas também, revestir e orientar cada ato, pelos princípios da administração pública, descritos no Art. 37 da Constituição Federal, dentre os quais se destaca a moralidade.

Os bens, ainda que devessem ser comprados pelo Estado, deve-riam destinar-se exclusivamente aquilo que permita o pleno exercício da função pela Chefe do Executivo estadual. E onde está o interes-

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se público na compra de mobília infantil, “puff”, piso emborrachado para garagem e coníferas? Onde isto é indispensável ao pleno exercício das funções de governança? Onde está, além disso, a coerência com o discurso de uma governadora que se elegeu com o discurso da auste-ridade no gasto público? Onde está a coerência com o “déficit zero”, que retira recursos das áreas mais essenciais, em nome do equilíbrio financeiro da fazenda pública?

Como ficam os servidores públicos, que trabalham em condições muitas vezes insalubres? Como ficam os estudantes, que tem aulas em escolas de lata? Como ficam os contribuintes, que para adquirirem al-gum bem para suas casas, algum conforto, lutam muito e pagam – ao adquiri-los – pesados impostos?

A obrigação mínima do Parlamento é apurar, trazer à luz estes e outros fatos e, sobretudo, ser capaz de indignar-se, refletindo a indig-nação que seguramente é do conjunto da sociedade. Este é um dever que sem dúvida é não apenas legal, mas também, moral!

*Deputada Estadual, Presidente da CPI da Corrupção.Publicado na edição do dia

12 de Outubro de 2009 no jornal Zero Hora, pag.19

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stelA e bordiGnon encAminhAm representAção Ao ministério público de contAs

A presidenta da CPI da Corrupção, deputada Stela Farias e o de-putado Daniel Bordignon encaminharam, na quinta-feira (08/10) uma representação ao procurador geral do Ministério Público de Contas, Geraldo Da Camino, solicitando que o órgão analise a legalidade da aquisição, por parte do governo estadual, de material de construção e móveis destinados à casa da governadora Yeda Crusius. Os parla-mentares entregaram ao procurador toda a documentação que tinham em mãos - notas fiscais e reprodução de telas de computadores com os processos administrativos e os empenhos financeiros das respec-tivas compras. Stela e Bordignon solicitaram ainda que o procurador analise os livros de tombamento do patrimônio do Estado do ano de 2007, data dos comprovantes. Da Camino prometeu uma resposta até a próxima terça-feira (13/10). “Vou avaliar o material durante o feriado e na terça-feira devo anunciar uma posição, pelo menos preliminar,

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sobre o procedimento que vamos adotar, dependendo da procedência da denúncia”, anunciou o procurador-geral.

O pedido dos parlamentares engloba as despesas efetuadas pela Casa Civil, gabinetes Militar, da Governadora e de Comunicação du-rante a gestão de Yeda Crusius no Palácio Piratini. Além das denúncias apresentadas em coletiva a imprensa na última quarta-feira (07/10) so-bre o piso de borracha e os móveis infantis, os parlamentares levaram ao procurador novos indícios de gastos irregulares, desta vez com con-fraternizações, recepções e ajardinamento. “Somente uma festa de fi-nal de ano, oferecida aos servidores do Palácio Piratini, custou mais de R$ 7 mil, o que é um abuso. Estas atividades não podem ser bancadas com dinheiro público”, condenou Stela Farias.

O deputado Daniel Bordignon, que já comandou a adminis-tração de Gravataí, lembrou que por muito menos do isto prefeitos deixam o prédio do Executivo municipal algemados. “A lei é clara; o dinheiro público não pode ser desviado para despesas pessoais do go-vernante. Não tenho a menor dúvida de que a governadora infringiu a legislação”, observou Bordignon.

O deputado ainda apresentou uma cópia da nota fiscal de uma loja de móveis de Porto Alegre, comprovando a aquisição de móveis para a residência de Yeda Crusius. O documento foi entregue a Bordig-non pelo líder do governo na Assembleia, Pedro Westphalen, e mostra que o montante pago foi de R$ 6.005,00. Em diligência na Casa Civil na manhã da quarta-feria (07/10), Bordignon confirmou que a mobília foi para a casa de Yeda. A informação partiu do próprio chefe da Casa Civil, Otomar Vivian, que prometeu mostrar a nota nesta quinta-feira (8). Apesar de Vivian afirmar que os móveis foram arrolados no Patri-mônio do Estado, isto não foi confirmado pelo procurador Geraldo Da Camino.

A representação foi assinada ainda pelos deputados Marqui-nhos Lang (DEM), Raul Carrion (PCdoB), Ronaldo Zulke (PT), Adão Villaverde (PT), Marisa Formolo (PT) e Fabiano Pereira (PT).

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impeAchment enGAvetAdo

Napoleão Bonaparte costumava dizer que “A história é a versão dos eventos passados, sobre os quais as pessoas decidiram concordar”. E nós não queremos que no futuro – talvez, no futuro bem próximo - quando se fizer referência à tarde em que o Plenário da Assembleia Legislativa do Estado decretou o fim de um processo que merecia ser levado a cabo, nós não queremos estar entre os que concordaram.

Por que não é possível, Sr. Presidente, que não haja uma reflexão da maioria, ainda que no seu papel de maioria e de base de sustentação de um governo que já não se sustenta... Uma reflexão simples, com uma tranqüilidade maior e uma atenção redobrada, sobre o conjunto de fatos, graves fatos, que pesam contra este governo e sua governa-dora.

A edição da Revista “Isto é”, da última semana, traz sob o tí-tulo “O arrecadador de Yeda”, uma reportagem que trata sobre o en-volvimento do Deputado Federal José Otávio Germano na fraude do Detran. E o envolvimento da governadora Yeda com o deputado José Otávio.

Fica claro como água, que houve um grande acordo: dinheiro por cargos; cargos para a manutenção do esquema; o esquema, trazen-do mais dinheiro... Diz a matéria: “Os procuradores do Estado conclu-íram que José Germano, em troca do direito de nomear o diretor do Detran, ajudou Yeda a arrecadar recursos após a campanha”.

Diz ainda: “De acordo com as informações, levantadas pelo MP, José Germano fez um acordo com a Governadora Yeda Crusius, para continuar a escoar recursos do Detran em seu governo. A negociação envolvia arrecadação de recursos junto a empresários para a campa-nha – antes e depois das eleições – em troca do direito de José Germano escolher novamente o presidente do órgão”.

Seria, na leitura da base do governo, mais um elemento da “enorme conspiração”, da qual fazem parte a Procuradoria Geral da República, o Ministério Público, a Polícia Federal. Conspiração que,

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nas palavras da Governadora ou nas ações de sua base na Assembleia já envolveram um sem número de pessoas e instituições...

Pois bem, diante de mais esse ato “conspiratório”, de uma das publicações mais respeitadas do País, o que faz o parlamento gaúcho? Na mesma semana, na mesma semana, Srs. deputados, rejeita o reque-rimento que convidava o Deputado José Otávio a comparecer à CPI da Corrupção e arquiva o processo de Impeachment da Governadora.

Essa é a resposta que damos ao Brasil! Funciona com o binômio que tem caracterizado as ações da base governista, aqui na Assembleia: leniência para investigar e celeridade, para arquivar.

Num momento em que, na CPI, recebemos os documentos da “Operação Solidária”. O maior esquema de corrupção de que já se teve notícia no Estado e que faz a fraude do Detran, parecer brincadeira de criança. Isso deveria servir como um alerta aos deputados: o voto de hoje, não encerra a questão.

Mas nada disso foi visto no Relatório final da Comissão de Im-peachment. Não se viu o indiciamento de pessoas, absolutamente liga-das ao centro do governo. Não se viu os fortíssimos indícios de que a Governadora não apenas tinha conhecimento dos esquemas, mas ope-rava com o poder de governo, a favor da continuidade deles. Não se viu as chantagens à Governadora.

A base do governo, ao atribuir todos os fatos e informações levantadas a uma “conspiração” contra o Piratini, preferiu não ver a conspiração, que de fato havia. Um grande esquema de conspiração e chantagem, que esteve dentro de seu próprio governo.

A começar por Lair Ferst, nas palavras da Governadora “um bom amigo, leal e festeiro”. O empresário que locou seu comitê de campanha, arrecadou fundos e esteve ao seu lado, até ser preterido pelo “novo” esquema de fraude, que iniciou-se no atual governo. Ami-go esse, que segundo Flávio Vaz Neto, um outro chantagista, tinha que ser resgatado para poder pagar as contas da Governadora.

Chico Fraga, personagem do sub-mundo da política, operador principal de alguns dos maiores esquemas investigados, ameaçava de-latar a todos: Marcelo Cavalcante, Delson Martini e outros – inclusive

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deputados desta Casa, com função preponderante no atual processo – e a própria Governadora.

Flávio Vaz Neto, que instabilizado emocionalmente, por se con-siderar “abandonado” pelo governo, ameaçou mais de uma vez, vir a público para, afinal, fazer o que não era de seu costume: contar toda a verdade.

Uma rede de conspiração. Um conluio de chantagistas. Aliás, eu chego a pensar que, afastando a Governadora, lhe faríamos um favor: afastando-a do poder, a livramos da chantagem...

A Relatora, nobre Deputada Zilá Breitenbach, não se deteve em alguns “pormenores”. Solenemente, desconsiderou as confissões de Lair Ferst e Marcelo Cavalcante, em seu diálogo.

As interceptações reveladoras de diálogos entre Delson Martini – o principal operador da Governadora – e Antônio Dorneu Maciel – o maior agente da fraude.

As reuniões entre o Deputado José Otávio e a Governadora. Reuniões mais do que comprometedoras, uma semana antes de todos serem apanhados pela Polícia Federal, na operação Rodin.

O processo de investigação da famosa compra da casa, que tem segmento na Procuradoria Geral da República. Casa, que tem sua mon-tagem com dinheiro público – patrocinando toalhas “frapê”, puff´s e piso emborrachado. Mas, mais do que isso, com indícios fortes de que sua aquisição se deu com recursos escusos, oriundos da operação de interesses privados, sobre o erário público.

Nada disso foi visto. Nada disso foi relatado. Nada foi conside-rado. A não ser a pressa, o açodamento em arquivar. Este relatório não representa a realidade. Não poderia receber a aprovação deste Parla-mento. E se não por nós, na tarde de hoje, ele será desmentido pela história, porque alguns não deram consenso.

Pronunciado na tribuna da Assembleia dia 20 de Outubro de 2009

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pAlestrA proferidA por ocAsião do primer foro reGionAl

políticA edUcAtivA, jUsticiA Y derechos hUmAnos en el mercosUr

Aconteceu numa cidade muito longe daqui que tinha os proble-mas que parecem os problemas daqui’’.

Quero iniciar minha exposição, falando de alguns dos elemen-tos que constam na Declaração Universal dos Direitos Humanos, pro-clamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em dezembro de 1948, e que é a base de um código de conduta mínimo de valorização e dignidade dos seres humanos e seus direitos:

Art. I - Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos.

Art. II - Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie

Art. III - Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à seguran-ça pessoal.

Art. VII - Todos são iguais perante a lei e tem direito, sem qual-quer distinção, a igual proteção da lei.

Art. VIII - Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacio-nais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.

Art. XIII - 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.

Art. XXII - Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social

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Art. XXIII - 1.Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.

Art. XXIV - Toda pessoa tem direito a repouso e lazer

Art. XXV - 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida ca-paz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive ali-mentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de sub-sistência fora de seu controle.

2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistên-cia especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.

Art. XXVI - 1. Toda pessoa tem direito à instrução.

A relação que prentendo fazer, da conta de vincular a questão dos direitos humanos a uma luta específica que travamos, desde o ano 2000, portanto, há quase uma década, começou despretenciosa e vai, ano após ano, tomando corpo, pois inclusive os fundadores dessa luta – no caso nós – vamos nos dando conta do que ela significa para a dignidade humana e a possibilidade de futuro de pessoas, regiões e nações.

Trata-se da organização de uma rede que tem buscado compre-ender, avaliar e propor políticas públicas para as periferias. No contex-to brasileiro, a palavra periferia é algo típico do processo de metropo-lização dos anos 60 e 70. O boom de desenvolvimento gerado durante a ditadura militar – a custa de altíssimos financiamentos internacio-nais – produziu uma situação de êxodo urbano: já não havia lugar nas grandes cidades para o povo, em sua maioria, vindo do interior. Era necessário “reacomodar” essa gente. E a vida – e não os governos – foi se encarregando disso. Pessoas constituíam núcleos de moradia, ao mesmo tempo distantes e próximos dos grandes centros urbanos.

Próximos o suficiente para que essa força de trabalho pudesse ser aproveitada pelas empresas instaladas nas capitais. Distantes o su-ficiente para agravar ainda mais a desigualdade social, marcar a falta

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de oportunidades e separar por muros invisíveis os que tinham, dos que não tinham.

Segundo o professor Manoel Lemes da Silva, professor de pla-nejamento urbano e regional, da Faculdade São Marcos, de São Pau-lo, o termo periferia carrega consigo um sentido político, econômico e social. Segundo ele, “Não dá para pensar em periferia sem pensar em centro. É um par dialético que faz parte dos fundamentos da teoria do desenvolvimento econômico”, diz o professor.

O que poderia parecer algo exclusivo de um país chamado de “terceiro mundo” como o Brasil, mostrou-se, a partir de nossos conta-tos com outras experiências, especialmente a francesa, uma tônica no mundo inteiro. A constituição, normalmente, se dá por outros motivos, mas a dinâmica é a mesma. Nos arredores de Paris – um dos berços da cultura ocidental moderna – aglomeram-se pessoas que também sentem os efeitos da exclusão, de forma muito efetiva.

A partir de nosso contato, inicialmente com a cidade de Nantér-re, fomos descobrindo uma identidade em comum entre as periferias de qualquer região do mundo. Fomos descobrindo, aliás, que as peri-ferias são como os círculos que se formam quando jogamos pedrinhas na água. E para cada pedrinha jogada (no caso, a constituição de um centro urbano) haverá periferias. E, portanto, haverá periferias, dentro das periferias. Vivemos isso na cidade de Alvorada, que governei por 8 anos. Ela própria, uma cidade periférica, situada na região metropo-litana de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, tem um centro urbano e bairros periféricos. E, surpreendentemente, nos bairros peri-féricos, encontraremos os centros de bairro e as suas periferias.

Se pensarmos, em termos mundiais, o conceito de periferia foi reforçado após as duas grandes guerras e acirrado com a Guerra Fria, destinando o status de centro àqueles países de maior poder econômi-co e militar, e de periférico aos mais pobres, dependentes, com proble-mas de infra-estrutura. O conceito sempre se aplica aqueles que estão à margem de onde está o centro econômico de poder. O professor Silva afirma que o conceito surgiu na tentativa de tornar toleráveis a ma-nutenção de cidades ao Estado. Mas o que se tem na verdade, é uma perpetuação das desigualdades sociais e econômicas. O que era para ser temporário vira permanente. Para as pessoas e para o Estado.

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As periferias são o símbolo mais translúcido da exclusão do mo-delo capitalista. Tratam-se de um universo, onde o conceito de “exclu-ído” não é abstrato. É real. Duramente real. Exclusão social, política, geográfica, educacional, de saúde, de acesso aos serviços governamen-tais, econômico, de oportunidades, de conhecimento, de cultura, de uma vida digna e, na maioria das vezes, do direito de sequer sonhar com tudo isso.

Falamos muitas vezes de países que, por sua política, por seu autoritarismo, por sua truculência ou pela sua insegurança, afrontam os direitos humanos. Pois as periferias são o lugar, em todos os paí-ses, que afronta os direitos humanos. Os princípios mais básicos, mais elementares da dignidade humana. E não escolhem nacionalidade, idioma ou raça. Acontecem em todos os lugares do mundo. Escolhem apenas, classe social...

Segundo dados divulgados, no início deste ano, pela Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), as condições de pobreza e desigualdade social nesta região fazem com que 44% de sua população viva em favelas ou subúrbios, com estrutura precária e con-dições mínimas de sobrevivência.

No estudo intitulado “Pobreza e precariedade do habitat na América Latina”, surpreende ao demonstrar que, ao contrário do que se pensa, a precariedade é maior nas periferias das cidades do interior pois em sua maioria, são as que menos recebem ajuda federal. Não se trata pois de um problema de “grandes centros”. A periferia é um câncer, próprio de um organismo econômico doente por um regime que só pode funcionar pela exclusão – o regime capitalista e que foi agravada por seu “aperfeiçoamento”, que é o sistema neo-liberal.

Ainda segundo a Cepal, dos domicílios em bairros precários, 76% têm problemas de qualidade da construção e dos serviços básicos, como saneamento e iluminação. E um outro dado que, para nós que vivemos a periferia, não chega a surpreender: a maioria desses domicí-lios é chefiada por mulheres. O que torna ainda mais viva a relação que pretendemos aqui, entre os direitos humanos e a luta das periferias, visto que, nesta matéria, a questão de gênero é uma questão altamente importante. Pois eu afirmo a vocês que não há como falar em igualda-de entre homens e mulheres, em um novo status de participação da

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mulher na sociedade, sem que possamos dar a oportunidade a essas mães, a essas mulheres, de crescerem num ambiente onde sejam mais respeitadas como seres humanos e tenham alguma perspectiva de fu-turo.

As periferias surgem rapidamente, fruto de uma ocupação ur-bana desordenada, baseada na necessidade econômica de ter a mão-de-obra próxima. São um símbolo da exclusão de modelo capitalista. Provam a incapacidade do sistema econômico em oferecer oportuni-dades para todos e do sistema político convencional em equilibrar mi-nimamente essa relação.

Costumamos definir que, nas periferias, os cidadãos chegaram ANTES das cidades. E a questão do direito à cidade é uma questão muito relevante. As cidades são o lugar onde as pessoas vivem. São a menor célula de um tecido que forma estados regionais e países. Pre-cisam ter política e presença, de forte cunho para o desenvolvimento humano, de pessoas e comunidades.

E como poderia se estabelecer esse equilíbrio? Como garantir essa presença? Somente os serviços públicos são a garantia do acesso a bens e serviços essenciais para a vida cotidiana e do exercício de direitos fundamentais e elementares, de homens e mulheres. Às ad-ministrações governamentais deveriam garantir que esse acesso seja em qualquer parte do território, sem discriminação e de igual modo a todos.

Entretanto, a descentralização dos serviços públicos ainda é uma realidade distante para a grande maioria de nossos países. E ela só poderá avançar se conseguirmos adicionar um outro elemento nes-sa equação da reformulação do poder público, que é a participação efetiva e protagonista das populações, na definição de prioridades e dos investimentos de governos.

É necessário, igualmente, que sejamos capazes de formular polí-ticas no contexto de nossas nações, políticas afirmativas em relação às cidades periféricas. Em temas como a distribuição do bolo tributário, por exemplo, que é determinante para afirmar a capacidade de inves-timentos públicos, a lógica determinante é a reprodução das injustiças e da falta de distribuição do sistema: no Brasil, os municípios recebem muito mais recursos pela instalação de grandes empresas do que pelo

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número de pessoas – e mais do que isso, pelo número de pessoas po-bres, que seria um critério justo – que tem em seu território.

O Fórum Social Mundial foi uma rica experiência da esquerda mundial, até hoje ainda subestimada por muitos de nós. Levará tal-vez, algumas décadas para que percebamos os efeitos positivos que esse ato de contestação e questionamento do sistema produziu. Dentre outros, posso citar o início de nossa luta, de forma um pouco mais organizada.

Foi a partir da primeira edição do Fórum, ainda quando realiza-do em Porto Alegre, que iniciamos a constituição da Rede de Cidades Periféricas, que inicialmente contaram com Alvorada, Nanterre (FR), Vija El Salvador (PERU) e outras poucas cidades.

De lá para cá, conseguimos avançar na construção da rede FALP – Fórum de Autoridades Locais de Periferia, para o qual estamos bus-cando adesões, no mundo inteiro, com a conscientização de líderes, governantes e militantes de organizações sociais e políticas de que dis-cutir as questões quem envolvem as periferias é discutir, ao mesmo tempo, ações políticas afirmativas, políticas públicas eficientes, ques-tões de gênero, de anti-racismo, de direitos humanos...

Outra ação importante, trata da formação de uma rede acadê-mica, que procure desenvolver, pela pesquisa e pelo ensino, políticas públicas eficientes e a formação de agentes públicos qualificados para enfrentar essa questão. Através do Observatório Franco-Brasileiro de Periferias, já estamos realizando pesquisas e desenvolvendo projetos que contribuirão para a evolução dessa temática.

O desenvolvimento e a consolidação da temática de discussão sobre as periferias é um instrumento adicional – e considerando que 55% da população das américas, encontra-se habitando os grandes centros urbanos – e importantíssimo da construção de segurança e promoção de paz. E não apenas para as periferias. Diria, mais especial-mente, para os grandes centros.

A violência, a drogadição, a criminalidade que assola as grandes cidades, as capitais, as cidades mais ricas, não encontra morada nelas. É, na verdade, a “válvula de escape” dos focos de pressão social e eco-nômica que se formam em seu entorno. Portanto, discutir as periferias

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é trabalhar pela paz e pela promoção da vida. De todas as vidas. E não apenas daquelas que podem pagar por sua segurança.

Discutir a temática das periferias é discutir uma aliança entre todos pelo bem comum. É trabalhar num espírito de cooperação, so-lidariedade e qualidade de vida. Trabalhar portanto, no cerne do que conceituam e significam os direitos humanos.

A crise mundial que vivenciamos nesse momento, sem dúvida trará uma agudização dos problemas que aqui explanamos. Por que se a crise atinge a todos, ela também atinge de maneira mais cruel os que menos podem suporta-la. E assim como em outras das tantas crises cíclicas do capitalismo, a atual crise econômica mundial traz o sério risco às periferias de que elas se transformem na “variável de ajuste” do sistema. Ou seja, é admissível considerar que aqueles que já vivem com pouco, possam passar a receber nada, em nome de que o grande capital precisa reestruturar seus lucros recordes e sua expansão desor-denada e aventureira, para eclodir em nova crise, daqui mais alguns anos.

A construção de políticas para as periferias significa construir uma contra-ordem, uma contra-cultura e, sobretudo, uma contra-hegemonia. Significa vencer as barreiras do senso comum. Significa vencer preconceitos. Teses arcaicas e arraigadas. Significa estabelecer um vínculo real com o que ocorre tão perto, mas que ao mesmo tempo, para as camadas médias da população, é algo tão distante.

Nós demonstramos, no início de nossa fala, mais de 13 artigos da Declaração Universal dos Direitos do Homem que são apenas “le-tra morta” em milhares de lugares periféricos, em todo o mundo. Pelo menos 13 artigos do documento mais importante sobre os direitos de homens e mulheres, que são constante, cotidiana e afrontosamente violados. Isso, entre outras coisas, nos identifica, profunda e definiti-vamente, com a luta pelos direitos humanos. Nos coloca como aliados, irmãos e parceiros. E nos remete à responsabilidade de ajudarmo-nos, mutua e continuamente, em nossas empreitadas que são tão difíceis, quanto morar em núcleos urbanos afastados e, a cada novo dia, des-locar-se para os grande centros para ter a oportunidade de ganhar o seu pão.

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A relação pode parecer descabida, para quem nunca teve, como Dona Maria, mãe de 4 filhos, sem marido, empregada doméstica, que levantar às 4:00h, arrumar os pequenos, dar-lhes a primeira refeição (às vezes, em detrimento da sua própria), leva-los à casa de uma vizi-nha, porque não dispõe de creche ou pré-escola e ir para a parada do ônibus, para lá ficar por até uma hora em pé e, depois, em um coletivo lotado, agüentar mais uma hora ou duas de deslocamento, aonde já chegará exausta, para um dia de trabalho duro.

Ela faz isto todo o santo dia. Seu trabalho não parece render, pois ela não avança em sua condição. Todo o dia, seu calvário se repete. A cada dia, sua rotina se refaz. É como o mito grego de Prometeu: parece que diariamente, os abutres vem comer seu fígado, cedo da manhã, que acabara de se refazer após uma curta noite de sono, entrecortada por tiroteios, gritos e fanfarras de bêbados.

Mas ela não desiste. Ela continua, mesmo sem nenhum motivo aparente para tal, acreditando que sua vida pode ser melhor. Que uma nova oportunidade surgirá, senão para ela, para os seus pequenos, que não quer, passem os trabalhos que ela passou.

Esse é o exemplo da nossa luta. É assim que persistimos, nas lutas por mais direitos, pelo respeito à pessoa humana e por melhores condições de vida e dignidade de homens e mulheres. Todo o dia que nasce é uma repetição infindável do trabalho, que por vezes temos a impressão que não avança. O dia começa cedo e fraquejamos, achando que não daremos conta. Mas sabemos que em nossa luta, temos que ser como D. Maria. E enquanto ela não desistir, nós também, não de-sitiremos...

Palestra proferida na UNINORTE Asunción, Paraguai dia 28 de Julho 2009

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stelA é pAinelistA em debAte sobre direitos hUmAnos no mercosUl

A deputada Stela Farias esteve em Asunción, no Paraguai du-rante o recesso parlamentar, na última semana de julho (27 a 31 de julho), à convite da Universidad del Norte (Uninorte) para palestrar no Primer Foro Regional “ Política Educativa, Justicia y Derechos Huma-nos en el MERCOSUR, promovido pela instituição, em parceria com o Centro Cultural Paraguayo Americano.

Durante uma semana o fórum reuniu, em diferentes painéis, gestores públicos, intelectuais e professores brasileiros, argentinos e paraguaios, para contar suas experiências e problematizar a vigência dos Direitos Humanos nos países do Mercosul, em relação à Educação e ao Meio Ambiente. Ao final do encontro foi elaborada uma carta di-rigida aos governos do Mercosul.

“O Paraguai vive um momento muito importante de sua histó-ria, muito semelhante ao que viveu o Brasil quando o líder operário Luis Inácio Lula da Silva foi eleito presidente do país. Nossos vizinhos foram assombrados por governos autoritários que se prolongaram no poder, mesmo depois da abertura democrática. A eleição do presiden-te Lugo iniciou um novo momento político no Paraguai. Aceitei com muita honra o convite da Universidad del Norte para falar sobre a mi-nha experiência enquanto fui prefeita de Alvorada, no desenvolvimen-to de políticas públicas de inclusão social e na constituição da Rede Mundial de Cidades de Periferia” contou Stela.

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estUdAntes brAsileiros no pArAGUAi

Um grupo de estudantes brasileiros aproveitou a presença de Stela em Asuncion para tratar do tema da validação de diplomas de pós-graduação, mestrado e doutorado daquele país no Brasil.

“É uma comunidade de mais de 5 mil brasileiros que estuda no Paraguai, grande parte em busca de cursos de pós-graduação, cujos custos ainda são muito elevados no Brasil. Eu vou protocolar um pe-dido de audiência sobre o tema na Comissão de Educação e debater o tema da validação dos diplomas no Brasil, com os representantes do Ministério da Educação” afirmou.

O tema da validação dos diplomas também foi pauta de um con-junto de reuniões com professores universitários e representantes dos ministérios da Educação dos países do Mercosul que estavam presen-tes em Asunción.

palavras ............................................................

A sociedAde tem o direito de sAber

Cumpro aqui hoje, desta Tribuna, um de meus deveres, como Presidenta, regimentalmente designada, da Comissão Parlamentar de Inquérito da Corrupção, que é o de prestar contas à sociedade gaúcha e a este Parlamento, ainda que de modo parcial, sobre o andamento dos trabalhos que estamos realizando e até onde eles nos levaram, nesses quase dois meses de CPI.

Todos sabem que, desde o dia 14 de maio, quando anunciamos publicamente a disposição de coletar assinaturas para a instalação da CPI, temos enfrentado uma verdadeira “cruzada”, no intento de dar ao povo gaúcho a possibilidade de conhecer toda a verdade, sobre os graves fatos que abalaram o estado e, em especial, o atual governo.

Fatos esses que não nos alegram, Sr. Presidente. Ao contrário, nos envergonham, nos chocam e nos revoltam. Mas, diferentemente

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do que sempre disseram os adversários da investigação, de modo al-gum nos trazem satisfação por estarem ocorrendo.

Finalmente, em 26 de agosto último, com 39 assinaturas – ou seja, expressão da vontade de mais de 70% do Parlamento Gaúcho – a CPI sai do papel. Ressalte-se que nessas assinaturas, não se encontrou nenhuma, ressalto: nenhuma, do bloco governista, afora o PMDB. Fi-guras iminentes no processo de investigação, como o nobre Deputado Coffy Rodrigues, hoje Relator da Comissão, não deram sua assinatura ao requerimento.

Disso, colegas Deputados, já tiramos uma lição – que é um dos principais resultados desse tipo de processo: aprimorar o legislativo. Assim como, sabiamente, o Regimento determina que caberá a Presi-dência – portanto, a responsabilidade maior – ao primeiro signatário, deveria ele definir que as funções de maior responsabilidade – como a relatoria – só pudessem ser exercidas dentre aqueles que tiveram o compromisso com a instalação das investigações...

Mas bem, sigo o meu relato, que considero um dever de ofício: disse na instalação do processo: “Não vamos prejulgar ninguém. Não vamos investigar pessoas, mas sim, fatos, indícios graves que abriram uma crise sem precedentes na história gaúcha”. Disse ainda que apu-raríamos tudo com o devido rigor jurídico e o devido cuidado, mas também cientes do compromisso que tínhamos – e temos – com o povo do Rio Grande.

Já desde a primeira sessão, no início de setembro, a base aliada, especialmente na figura do vice-presidente, Deputado Gilberto Capo-ani e do Relator, buscaram em questões secundárias - prendendo-se ao que não era de sua competência e buscando, a todo momento e por todas as formas, desconstituir e desautorizar a Presidência da Comis-são – buscaram no acessório, tergiversar sobre o principal...

Ainda haverá um capítulo na história da Assembleia, para con-tar sobre o dia em que, através de requerimentos, Deputados tentaram – sem sucesso – “cassar” a autoridade e a legitimidade de fiscalização e apuração sobre os atos do Executivo, de outros Deputados.

E continuando a determinar que o que não era o principal fosse o centro do debate, boa parte dos integrantes da CPI, que receberam a

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missão do Legislativo do Rio Grande de investigar e apurar denúncias sérias, graves e rotundos elementos de que estávamos diante de um dos maiores esquemas de corrupção de que já se teve notícia, boa parte dos integrantes boicotaram, deliberadamente, diversas sessões.

Esse boicote, ainda não terminou. E é preciso que a Sociedade gaúcha o saiba, ainda que após a minha fala – tenho certeza – suceder-se-ão inúmeros Deputados que apresentarão todo tipo de justificativa para seu comportamento, inclusive, a continua tentativa de desconsti-tuir esta Presidenta.

Mais uma vez dirão: “a Presidenta Stela é inábil. Ora, onde já se viu, falar em boicote?” Boicote sim! Ou que outro nome se daria ao fato de que, até agora, apenas quatro oitivas, de um total de 26 outros no-mes sugeridos para serem ouvidos, foram aprovadas pelo colegiado? Que outro nome dar ao fato, comprovado pelas atas dos trabalhos, de que alguns integrantes da Comissão tem em seu currículo mais ausên-cias do que presenças, apenas falando das sessões ordinárias?

Chegou-se ao absurdo, Sr. Presidente, e isto deve ser inédito na história das CPI´s, não no estado, mas no País, de tentar-se refutar o recebimento de provas, enviadas pela Justiça Federal, provas às quais uma parte considerável da Comissão jamais envidou sequer o esforço de dirigir-se à Secretaria, para ter acesso...

De toda sorte, com o trabalho e a dedicação de Deputados, que querem a verdade, que desejam que a Sociedade conheça a verdade; com o trabalho árduo e que merece reconhecimento de servidores dedicados desta Casa; e com a atenção que – também merece registro – a imprensa vem dando ao tema, não poucas vezes esse movimento de boicote foi for-çado a dobrar-se, não ao que diversas vezes conceituram como “autori-tarismo” da Presidente, mas à autoridade da Sociedade Gaúcha, que não aceitou as tentativas deliberadas de implodir com a investigação...

Se mais não tivesse feito até então, a CPI já valeria pela possibi-lidade que teve o povo gaúcho, de saber melhor como operava, como pensava e agia – e o que dizia -o cerne e os cérebros do esquema cor-rupto que operava no Detran. Saber como funcionaram as pressões, a guerra de bastidores e as operações sem escrúpulos, que buscavam jogar sombras às investigações que eram efetivadas, à época, pela CPI da qual fui membro.

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Se mais não tivesse sido constatado, apenas na descoberta de que o erário público financiava o melhor interesse e o conforto pri-vado de sua governante, com os recursos parcos, que muitas vezes faltam aqueles que mais precisam, já teria sido válido, porque nós, Sr. Presidente, reafirmamos: a sociedade tem o direito de saber e nós, o Parlamento, especialmente quando não o faz de forma transparente o Executivo, o dever de informar!

Entramos agora em uma nova fase. O Judiciário, mais uma vez, entendendo e reafirmando a legitimidade dessa Comissão – e, espe-cialmente, me atrevo a dizer, sua importância e conveniência para o interesse da sociedade, libera um novo conjunto de documentos, agora, do esquema ainda menos conhecido e que foi responsável por um desvio quase dez vezes maior do que aquele que operava no De-partamento de Trânsito Estadual.

Mais uma vez, estou certa, haverá aqueles que se insurgirão contra o recebimento de novas provas. Haverá aqueles que não irão as sessões. Haverá os que criticarão as escutas dos áudios. Haverá os que criticam, os que boicotam, os que não aprovam e os que prefe-riam que tudo fosse omitido...

Mas, como disse... Pronunciado na Tribuna da Assembleia

dia 05 de Novembro de 2009

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stelA desAfiA bAse AliAdA A pedir A qUebrA de siGilo de docUmentos dA operAção solidáriA

A presidenta da CPI da Corrupção, Stela Farias (PT), desafiou os oito parlamentares governistas que integram a comissão de inqué-rito a solicitarem oficialmente à Justiça Federal a quebra do sigilo das investigações da Operação Solidária. A manifestação foi uma resposta à nota divulgada pela base governista na semana passada, acusando o PT de promover o vazamento de informações que se encontram sob segredo de Justiça e distorcer o teor das gravações efetuadas pela Polí-

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cia Federal. A parlamentar defendeu, na abertura da sessão da CPI na segunda-feira (09/11), que a quebra do sigilo se estenda também aos deputados José Otávio Germano (PP), Eliseu Padilha (PMDB), Alceu Moreira (PMDB) a ao secretário de Habitação, Marco Alba. “Nem a mais ingênua das criaturas seria capaz de acreditar nas assertivas dos deputados governistas de que gravações foram distorcidas, se nenhum deles, oficialmente, ouviu ou leu a respeito, pois se recusam a partici-par dos trabalhos”, contestou.

Segundo a parlamentar, os documentos sigilosos são de tal or-dem reveladores da existência de uma superestrutura criminosa, que a tentativa de jogar sobre os petistas a acusação de que o segredo de Justiça não vem sendo preservado, evidencia o desespero de alguns diante da possibilidade de que a verdade venha à tona. “Atribuir ao PT o vazamento de informações é uma acusação falaciosa, que cumpre o objetivo de desviar o fogo das investigações”, frisou.

Stela voltou a criticar o boicote às investigações, promovido pela base aliada. “A obstaculização dos trabalhos constitui não só um des-respeito à população gaúcha e às instituições, mas verdadeira tentativa de encobrir fatos que evidenciam a existência do maior esquema de corrupção da história do Rio Grande do Sul”, apontou.

Depois de 14 sessões sem quorum, hoje a CPI tem número sufi-ciente de deputados para votar a convocação de novas testemunhas.

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Anotações:

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