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O QUE É DEFICIÊNCIA INTELECTUAL OU ATRASO COGNITIVO? Marina da Silveira Rodrigues Almeida Consultora em Educação Inclusiva Psicóloga e Pedagoga especialista Instituto Inclusão Brasil 1. O que é Deficiência Intelectual ou atraso cognitivo? Deficiência intelectual ou atraso mental é um termo que se usa quando uma pessoa apresenta certas limitações no seu funcionamento mental e no desempenho de tarefas como as de comunicação, cuidado pessoal e de relacionamento social. Estas limitações provocam uma maior lentidão na aprendizagem e no desenvolvimento dessas pessoas. As crianças com atraso cognitivo podem precisar de mais tempo para aprender a falar, a caminhar e a aprender as competências necessárias para cuidar de si, tal como vestir-se ou comer com autonomia. É natural que enfrentem dificuldades na escola. No entanto aprenderão, mas necessitarão de mais tempo. É possível que algumas crianças não consigam aprender algumas coisas como qualquer pessoa que também não consegue aprender tudo. 2. Quais são as causas da Deficiência Intelectual ou Atraso Cognitivo ? Os investigadores encontraram muitas causas da deficiência intelectual, as mais comuns são: Condições genéticas: Por vezes, o atraso mental é causado por genes anormais herdados dos pais, por erros ou acidentes produzidos na altura em que os genes se combinam uns com os outros, ou ainda por outras razões de natureza genética. Alguns exemplos de condições genéticas propiciadoras do desenvolvimento de uma deficiência intelectual incluem a síndrome de Down ou a fenilcetonúria. Problemas durante a gravidez: O atraso cognitivo pode resultar de um desenvolvimento inapropriado do embrião ou do feto durante a gravidez. Por exemplo, pode acontecer que, a quando da divisão das células, surjam problemas que afetem o desenvolvimento da criança. Uma mulher alcoólica ou que contraia uma infecção durante a gravidez, como a rubéola, por exemplo, pode também ter uma criança com problemas de desenvolvimento mental. Problemas ao nascer: Se o bebê tem problemas durante o parto, como, por exemplo, se não recebe oxigênio suficiente, pode também acontecer que venha a ter problemas de desenvolvimento mental. Problemas de saúde: Algumas doenças, como o sarampo ou a meningite

Atraso cognitivo

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Page 1: Atraso cognitivo

O QUE É DEFICIÊNCIA INTELECTUAL OU ATRASO COGNITIVO?

Marina da Silveira Rodrigues Almeida

Consultora em Educação Inclusiva

Psicóloga e Pedagoga especialista

Instituto Inclusão Brasil

1. O que é Deficiência Intelectual ou atraso cognitivo?

Deficiência intelectual ou atraso mental é um termo que se usa quando uma

pessoa apresenta certas limitações no seu funcionamento mental e no

desempenho de tarefas como as de comunicação, cuidado pessoal e de

relacionamento social.

Estas limitações provocam uma maior lentidão na aprendizagem e no

desenvolvimento dessas pessoas.

As crianças com atraso cognitivo podem precisar de mais tempo para

aprender a falar, a caminhar e a aprender as competências necessárias

para cuidar de si, tal como vestir-se ou comer com autonomia. É natural

que enfrentem dificuldades na escola. No entanto aprenderão, mas

necessitarão de mais tempo. É possível que algumas crianças não consigam

aprender algumas coisas como qualquer pessoa que também não consegue

aprender tudo.

2. Quais são as causas da Deficiência Intelectual ou Atraso Cognitivo?

Os investigadores encontraram muitas causas da deficiência intelectual, as

mais comuns são:

Condições genéticas: Por vezes, o atraso mental é causado por genes

anormais herdados dos pais, por erros ou acidentes produzidos na altura em

que os genes se combinam uns com os outros, ou ainda por outras razões de

natureza genética. Alguns exemplos de condições genéticas propiciadoras do

desenvolvimento de uma deficiência intelectual incluem a síndrome de Down

ou a fenilcetonúria.

Problemas durante a gravidez: O atraso cognitivo pode resultar de um

desenvolvimento inapropriado do embrião ou do feto durante a gravidez. Por

exemplo, pode acontecer que, a quando da divisão das células, surjam

problemas que afetem o desenvolvimento da criança. Uma mulher alcoólica ou

que contraia uma infecção durante a gravidez, como a rubéola, por exemplo,

pode também ter uma criança com problemas de desenvolvimento mental.

Problemas ao nascer: Se o bebê tem problemas durante o parto, como, por

exemplo, se não recebe oxigênio suficiente, pode também acontecer que

venha a ter problemas de desenvolvimento mental.

Problemas de saúde: Algumas doenças, como o sarampo ou a meningite

Page 2: Atraso cognitivo

podem estar na origem de uma deficiência mental, sobretudo se não forem

tomados todos os cuidados de saúde necessários. A mal nutrição extrema ou a

exposição a venenos como o mercúrio ou o chumbo podem também originar

problemas graves para o desenvolvimento mental das crianças.

Nenhuma destas causas produz, por si só, uma deficiência intelectual. No

entanto, constituem riscos, uns mais sérios outros menos, que convém evitar

tanto quanto possível. Por exemplo, uma doença como a meningite não

provoca forçosamente um atraso intelectual; o consumo excessivo de álcool

durante a gravidez também não; todavia, constituem riscos demasiados graves

para que não se procure todos os cuidados de saúde necessários para

combater a doença, ou para que não se evite o consumo de álcool durante a

gravidez.

A deficiência intelectual não é uma doença. Não pode ser contraída a partir do

contágio com outras pessoas, nem o convívio com um deficiente intelectual

provoca qualquer prejuízo em pessoas que o não sejam. O atraso cognitivo

não é uma doença mental (sofrimento psíquico), como a depressão,

esquizofrenia, por exemplo. Não sendo uma doença, também não faz sentido

procurar ou esperar uma cura para a deficiência intelectual.

A grande maioria das crianças com deficiência intelectual consegue aprender a

fazer muitas coisas úteis para a sua família, escola, sociedade e todas elas

aprendem algo para sua utilidade e bem-estar da comunidade em que vivem.

Para isso precisam, em regra, de mais tempo e de apoios para lograrem

sucesso.

3. Como se diagnostica a Deficiência Intelectual ou Atraso Cognitivo?

A deficiência intelectual ou atraso cognitivo diagnostica-se, observando

duas coisas:

A capacidade do cérebro da pessoa para aprender, pensar, resolver

problemas, encontrar um sentido do mundo, uma inteligência do mundo

que as rodeia (a esta capacidade chama-se funcionamento cognitivo ou

funcionamento intelectual)

A competência necessária para viver com autonomia e independência na

comunidade em que se insere (a esta competência também se chama

comportamento adaptativo ou funcionamento adaptativo).

Enquanto o diagnóstico do funcionamento cognitivo é normalmente

realizado por técnicos devidamente habilitados (psicólogos,

neurologistas, fonoaudiólogos, etc.), já o funcionamento adaptativo deve

ser objeto de observação e análise por parte da família, dos pais e dos

educadores que convivem com a criança.

Para obter dados a respeito do comportamento adaptativo deve procurar

Page 3: Atraso cognitivo

saber-se o que a criança consegue fazer em comparação com crianças da

mesma idade cronológica.

Certas competências são muito importantes para a organização desse

comportamento adaptativo:

As competências de vida diária, como vestir-se, tomar banho, comer.

As competências de comunicação, como compreender o que se diz e saber

responder.

As competências sociais com os colegas, com os membros da família e com

outros adultos e crianças.

Para diagnosticar a Deficiência Intelectual, os profissionais estudam as

capacidades mentais da pessoa e as suas competências adaptativas.

Estes dois aspectos fazem parte da definição de atraso cognitivo comum

à maior parte dos cientistas que se dedicam ao estudo da deficiência

intelectual.

O fato de se organizarem serviços de apoio a crianças e jovens com

deficiência intelectual deve proporcionar uma melhor compreensão sobre

a situação concreta da criança de quem se diz que tem um atraso

cognitivo.

Após uma avaliação inicial, devem ser estudadas as potencialidades e as

dificuldades que a criança apresenta. Deve também ser estudada a

quantidade e natureza de apoio de que a criança possa necessitar para

estar bem em casa, na escola e na comunidade.

Esta perspectiva global dá-nos uma visão realista de cada criança. Por

outro lado, serve também para reconhecer que a “visão” inicial pode, e

muitas vezes devem mudar ou evoluir. À medida que a criança vai

crescendo e aprendendo, também a sua capacidade para encontrar o seu

lugar, o seu melhor lugar, no mundo aumenta.

4. Qual é a freqüência da Deficiência Intelectual?

A maior parte dos estudos aponta para uma freqüência de 2% a 3% sobre as

crianças com mais de 6 anos. Não é a mesma coisa determinar essa

freqüência em crianças mais novas ou em adultos. A Administração dos EUA

considera o valor de 3% para efeitos de planificação dos apoios a conceder a

alunos com atraso cognitivo. Esta percentagem é um valor de referência que

merece bastante credibilidade. Mas não é mais do que um valor de referência.

5. Orientação aos Pais:

Procure saber mais sobre deficiência intelectual: outros pais, professores e

técnicos poderão ajudar.

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Incentive o seu filho a ser independente: por exemplo, ajude-o a aprender

competências de vida diária, tais como: vestir-se, comer sozinho, tomar banho,

arrumar-se para sair.

Atribua-lhe tarefas próprias e de responsabilidade. Tenha sempre em mente a

sua idade real, a sua capacidade para manter-se atento e as suas

competências. Divida as tarefas em passos pequenos. Por exemplo, se a tarefa

do seu filho é a de pôr a mesa, peça-lhe primeiro que escolha o número

apropriado de guardanapos; depois, peça-lhe que coloque cada guardanapo no

lugar de cada membro da família. Se for necessário, ajude-o em cada passo da

tarefa. Nunca o abandone numa situação em que não seja capaz de realizar

com sucesso. Se ele não conseguir, demonstre como deve ser.

Elogie o seu filho sempre que consiga resolver um problema. Não se esqueça

de elogiar também quando o seu filho se limita a observar a forma como se

pode resolver a tarefa: ele também realizou algo importante, esteve consigo

para que as coisas corram melhor no futuro.

Procure saber quais são as competências que o seu filho está aprendendo na

escola. Encontre formas de aplicar essas competências em casa. Por exemplo,

se o professor lhe está ensinando a usar o dinheiro, leve o seu filho ao

supermercado. Ajude-o a reconhecer o dinheiro necessário para pagar as

compras. Explique e demonstre sempre como se faz, mesmo que a criança

pareça não perceber. Não desista, nem deixe nunca o seu filho numa situação

de insucesso, se puder evitar.

Procure oportunidades na sua comunidade para que ele possa participar em

atividades sociais, por exemplo: escoteiros, os clubes, atividades de desporto.

Isso o ajudará a desenvolver competências sociais e a divertir-se.

Fale com outros pais que tenham filhos com deficiência intelectual: os pais

podem partilhar conselhos práticos e apoio emocional.

Não falte às reuniões de escola, em que os professores vão elaborar um plano

para responder melhor às necessidades do seu filho. Se a escola não se

lembrar de convidar os pais, mostre a sua vontade em participar na resolução

dos problemas. Não desista nunca de oferecer ajuda aos professores para que

conheçam melhor o seu filho. Pergunte também aos professores como é que

pode apoiar a aprendizagem escolar do seu filho em casa.

6. Orientação aos Professores:

Aprenda tudo o que puder sobre deficiência intelectual. Procure quem possa

aconselhar na busca de bibliografia adequada ou utilize bibliotecas, internet,

etc.

Reconheça que o seu empenho pode fazer uma grande diferença na vida de

um aluno com deficiência ou sem deficiência. Procure saber quais são as

potencialidades e interesses do aluno e concentre todos os seus esforços no

Page 5: Atraso cognitivo

seu desenvolvimento. Proporcione oportunidades de sucesso.

Participe ativamente na elaboração do Plano Individual de Ensino do aluno e

Plano Educativo. Este plano contém as metas educativas, que se espera que o

aluno venha a alcançar, e define responsabilidades da escola e de serviços

externos para a boa condução do plano.

Seja tão concreto quanto possível para tornar a aprendizagem vivenciada.

Demonstre o que pretende dizer. Não se limite a dar instruções verbais.

Algumas instruções verbais devem ser acompanhadas de uma imagem de

suporte, desenhos, cartazes. Mas também não se limite a apoiar as

mensagens verbais com imagens. Sempre que necessário e possível,

proporcione ao aluno materiais e experiências práticas e oportunidade de

experimentar as coisas.

Divida as tarefas novas em passos pequenos. Demonstre como se realiza cada

um desses passos. Proporcione ajuda, na justa medida da necessidade do

aluno. Não deixe que o aluno abandone a tarefa numa situação de insucesso.

Se for necessário, solicite ao aluno que seja ele a ajudar o professor a resolver

o problema. Partilhe com o aluno o prazer de encontrar uma solução.

Acompanhe a realização de cada passo de uma tarefa com comentários

imediatos e úteis para o prosseguimento da atividade.

Desenvolva no aluno competências de vida diária, competências sociais e de

exploração e consciência do mundo envolvente. Incentive o aluno a participar

em atividades de grupo e nas organizações da escola.

Trabalhe com os pais para elaborar e levar a cabo um plano educativo que

respeite as necessidades do aluno. Partilhe regularmente informações sobre a

situação do aluno na escola e em casa.

7. Que expectativas de futuro têm as crianças com Deficiência

Intelectual?

Sabemos atualmente que 87% das crianças com deficiência intelectual só

serão um pouco mais lentas do que a maioria das outras crianças na

aprendizagem e aquisição de novas competências. Muitas vezes é mesmo

difícil distingui-las de outras crianças com problemas de aprendizagem sem

deficiência intelectual, sobretudo nos primeiros anos de escola. O que distingue

umas das outras é o fato de que o deficiente intelectual não deixa de realizar e

consolidar aprendizagens, mesmo quando ainda não possui as competências

adequadas para integrá-las harmoniosamente no conjunto dos seus

conhecimentos. Daqui resulta não um atraso simples que o tempo e a

experiência ajudarão a compensar, mas um processo diferente de

compreender o mundo. Essa diferente compreensão do mundo não deixa, por

isso, de ser inteligente e mesmo muito adequada à resolução de inúmeros

problemas do quotidiano. È possível que as suas limitações não sejam muito

visíveis nos primeiros anos da infância. Mais tarde, na vida adulta, pode

também acontecer que consigam levar uma vida bastante independente e

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responsável. Na verdade, as limitações serão visíveis em função das tarefas

que lhes sejam pedidas.

Os restantes 13% terão muito mais dificuldades na escola, na sua vida familiar

e comunitária. Uma pessoa com atraso mais severo necessitará de um apoio

mais intensivo durante toda a sua vida.

Todas as pessoas com deficiência intelectual são capazes de crescer,

aprender e desenvolver-se. Com a ajuda adequada, todas as crianças com

deficiência intelectual podem viver de forma satisfatória a sua vida adulta.

8. Que expectativas de futuro têm as crianças com Deficiência Intelectual

na Escola?

Uma criança com deficiência intelectual pode obter resultados escolares muito

interessantes. Mas nem sempre a adequação do currículo funcional ou

individual às necessidades da criança exige meios adicionais muito distintos

dos que devem ser providenciados a todos os alunos, sem exceção.

Antes de ir para a escola e até ao três anos, a criança deve beneficiar de um

sistema de intervenção precoce. Os educadores e outros técnicos do serviço

de intervenção precoce devem pôr em prática um Plano Individual de Apoio à

Família.

Este plano define as necessidades individuais e únicas da criança. Define

também o tipo de apoio para responder a essas necessidades. Por outro lado,

enquadra as necessidades da criança nas necessidades individuais e únicas

da família, para que os pais e outros elementos da família saibam como ajudar

a criança.

Quando a criança ingressa na Educação Infantil e depois no Ensino

Fundamental, os educadores em parceria com a família devem por em prática

um programa educativo que responda às necessidades individuais e únicas da

criança. Este programa é em tudo idêntico ao anterior, só que ajustado à idade

da criança e à sua inclusão no meio escolar. Define as necessidades do aluno

e os tipos de apoio escolar e extraescolar.

A maior parte dos alunos necessita de apoio para o desenvolvimento de

competências adaptativas, necessárias para viver, trabalhar e divertir-se na

comunidade.

Algumas destas competências incluem:

A comunicação com as outras pessoas.

Satisfazer necessidades pessoais (vestir-se, tomar banho).

Participar na vida familiar (pôr a mesa, limpar o pó, cozinhar).

Competências sociais (conhecer as regras de conversação, portar-se bem em

grupo, jogar e divertir-se).

Saúde e segurança.

Leitura, escrita e matemática básica; e à medida que vão crescendo,

competências que ajudarão a crianças na transição para a vida adulta.

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