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Atriz? DAIANA MOURA Resumo O que é ser uma mulher negra e atriz? Por que ouvir uma mulher negra? Por que buscar compreender seu pensamento? Perguntas que estão orbitando essa reflexão e a vida- obra de Beatriz Nascimento, Lélia Gonzales, Angela Davis, bell hooks e Glória Anzaldúa nos surgem como fachos de luzes para discutir as questões relacionadas às opressões sociais. De forma crítica, com um raciocínio rigoroso, potente e sem meias palavras essas autoras denunciam e travam embates de cunho militante e acadêmico ao mesmo tempo, isso porque suas experiências e condutas éticas transparecem coerência e labor em prol do povo negro e para, além disso, práticas e marcas profundas em suas próprias experiências como mulheres negras. E são essas referências que dialogam com as falas de atrizes negras da região de Sorocaba nesta escrita. Os mitos de democracia racial, igualdade e liberdade, são postos em cheque diante da fala de uma artista negra. Trajetórias que em seus territórios e temporalidades, são vozes reveladoras de disputas de poder, bem como são portadoras de possibilidades reais de mudanças. Introdução: Trajetórias, memórias e resistências de atrizes negras Este trabalho é parte do processo da pesquisa de mestrado Mulher Negra EnCena Performances de Encontros e Devir. As fontes são as falas de mulheres negras que estão sendo ouvidas em entrevistas durante esta etapa da pesquisa. As mulheres negras que entrevisto são atrizes da região de Sorocaba e falam sobre suas trajetórias e memórias de vida na arte teatral, bem como explicitam suas buscas e trazem em suas falas pontos que se encontram e também pontos divergentes. Dessas experiências a pesquisa observa oito temas, oito nós em que as falas se debruçam e que emergem como categorias para observação e análise da história de vida dessas mulheres enquanto sujeitos históricos. São eles: Cabelos, Ufscar Sorocaba-SP, Programa de Pós Graduação em Educação. Pesquisa realizada com o apoio da CAPES.

Atriz? - HISTORIA ORAL€¦ · Atriz? DAIANA MOURA ... tempo todo carregam em si a ambiguidade, mulheres marcadas pela ilegitimidade, mas que buscam legitimar suas vozes através

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Atriz?

DAIANA MOURA

Resumo

O que é ser uma mulher negra e atriz? Por que ouvir uma mulher negra? Por que

buscar compreender seu pensamento? Perguntas que estão orbitando essa reflexão e a vida-

obra de Beatriz Nascimento, Lélia Gonzales, Angela Davis, bell hooks e Glória Anzaldúa nos

surgem como fachos de luzes para discutir as questões relacionadas às opressões sociais.

De forma crítica, com um raciocínio rigoroso, potente e sem meias palavras essas

autoras denunciam e travam embates de cunho militante e acadêmico ao mesmo tempo, isso

porque suas experiências e condutas éticas transparecem coerência e labor em prol do povo

negro e para, além disso, práticas e marcas profundas em suas próprias experiências como

mulheres negras. E são essas referências que dialogam com as falas de atrizes negras da

região de Sorocaba nesta escrita. Os mitos de democracia racial, igualdade e liberdade, são

postos em cheque diante da fala de uma artista negra. Trajetórias que em seus territórios e

temporalidades, são vozes reveladoras de disputas de poder, bem como são portadoras de

possibilidades reais de mudanças.

Introdução: Trajetórias, memórias e resistências de atrizes negras

Este trabalho é parte do processo da pesquisa de mestrado Mulher Negra EnCena

Performances de Encontros e Devir. As fontes são as falas de mulheres negras que estão

sendo ouvidas em entrevistas durante esta etapa da pesquisa. As mulheres negras que

entrevisto são atrizes da região de Sorocaba e falam sobre suas trajetórias e memórias de vida

na arte teatral, bem como explicitam suas buscas e trazem em suas falas pontos que se

encontram e também pontos divergentes. Dessas experiências a pesquisa observa oito temas,

oito nós em que as falas se debruçam e que emergem como categorias para observação e

análise da história de vida dessas mulheres enquanto sujeitos históricos. São eles: Cabelos,

Ufscar Sorocaba-SP, Programa de Pós Graduação em Educação. Pesquisa realizada com o apoio da CAPES.

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Rede de mulheres, Única negra do rolê, Políticas públicas e espaços mágicos, Amor,

Formação acadêmica, Família-Umbuntu, Eu vivo de Arte?

Identificados os temas pelos quais as experiências transitam, se aproximam e se

separam, ressaltamos que nosso objetivo neste artigo não é o aprofundamento nas

informações dessas categorias que se apresentam. Intencionamos discutir através de alguns

pontos delas os fatores históricos e sociais que constroem uma estereotipia e uma demarcação

territorial e simbólica em experiências de vidas de mulheres negras, bem como colocaremos

esses pontos em rede com as complexas teorias organizadas por mulheres acadêmicas negras.

As demarcações construídas historicamente pressionam a imagem desses corpos em

determinados lugares tornando improvável o trânsito em setores considerados elitizados da

sociedade. Espaços como a academia, a política, o magistrado, a arte são ocupados por esses

corpos com vivências peculiares, experiências particulares e extremamente difíceis de

compartilhar e de explicar com profundidade, por esse motivo nos amparamos nos valiosos

estudos desenvolvidos por mulheres negras, que mesmo em diferentes épocas apontam para as

mesmas questões. Fato que nos move ainda mais fortemente a discutir essa temática, pois

significa que as sociedades em seus vários âmbitos têm avançado muito lentamente no que

tange ao bem estar de mulheres negras no país.

As diferenças, particularidades e peculiaridades que essas mulheres vivem na arte

teatral são fruto da demarcação que existe sobre a cor de sua pele, seu gênero, sua classe

social, sua sexualidade. Esses marcadores atuam de forma indissociável na trajetória de vida

narrada por essas vozes de resistência. Histórias de vidas improváveis, que reconhecemos

como movimento de resistência e transgressão justamente porque logram escapar das

determinações históricas, sociais e culturais.

Nos interessa portanto ouvir essas experiências que contrariam as estatísticas como

cantam os rappers Racionais Mc’s1. Interessa também contextualizá-las no atual período

histórico, desvelando as cortinas que ora escondem e ora explicitam o quanto esses

marcadores são determinantes para os processos e relações em cena, na vida artística como

1 Trecho de uma das letras mais emblemáticas do grupo Racionais Mc’s. Entendemos que o trecho especifico é

simbólico para referendar essas vidas e utilizaremos outras vezes a expressão contrariar as estatísticas. A

música diz: (...) mas não, permaneço vivo. Não sigo a mística, vinte e sete anos contrariando a estatística. Seu

comercial de TV não me engana, Eu não preciso de status nem fama. Música: Capítulo 4 Versículo 3. In.

Sobrevivendo no Inferno. São Paulo: Cosa Nostra, 1997.

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um todo e na vida pessoal. Quando escondidos e silenciados relegam experiências de

invisibilidade na sociedade, quando escancarados e explicitados expõem essas mulheres a

situações vexatórias, perturbações emocionais, debilidade da saúde psicológica e agressões

simbólicas, verbais, etc. E esse movimento dialético de vidas marcadas por dores, mas que

falam e denunciam essas mazelas está presente sempre que algum depoimento evoca alguma

situação vivida. Então esse processo de vida na arte está engendrado no vivido, atravessado

por muitos fatores. Através das falas podemos sentir o quanto as experiências corporificadas,

o desejo de manter-se em cena e reconhecer-se enquanto atriz tem potência suficiente para

superar as barreiras da cor da pele, do gênero e da classe social.

Trazer essas vozes para a discussão acadêmica faz parte de um movimento contra

hegemônico do pensar. Ouvir esses sujeitos e aproximar sua visão de mundo do ambiente

acadêmico significa romper com os parâmetros históricos sob os quais alguns saberes são

estabelecidos e podem ser reconhecidos como válidos, em detrimento de relegar à

marginalidade, invisibilidade e silenciamento vidas e conhecimentos que são minorados.

Essas mulheres que reconhecem a guerra de poderes de que fazem parte enquanto

cidadãs negras, atrizes brasileiras nos ensinam uma pedagogia da resistência. Entender as

estratégias e ferramentas que lançam mão historicamente para subverter a lógica da

hegemonia branca existente na arte teatral é movimentar-se na direção de incessantes

tentativas de mudanças e também significa estar em contato com o cotidiano de luta de

mulheres guerreiras que nunca descansam. Debruçar-se sobre experiências de vida que o

tempo todo carregam em si a ambiguidade, mulheres marcadas pela ilegitimidade, mas que

buscam legitimar suas vozes através do teatro, pode nos ajudar a compreender e agir com

outros olhares e de outras formar no funcionamento do mundo que fazemos parte.

Transgressões Artísticas e Acadêmicas

Aproximar as histórias de vida de mulheres negras atrizes do pensamento acadêmico

militante de pensadoras negras como Sueli Carneiro, Lélia Gonzales, Beatriz Nascimento, as

norte-americanas bell hooks e Angela Davis, a Glória Anzaldua, nos possibilita criar uma rede

de mulheres que comungam entre si um profundo conhecimento sobre ser o outro, sobre ter a

experiência de vida objetificada, subalternizada, e principalmente compartilham a experiência

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da transgressão ao conseguir escapar da norma que ciclicamente busca manter esses corpos no

silenciamento.

Essas mulheres que contrariam as estatísticas, antes de tudo falam, possuem a

experiência corporificada, não distanciam teoria e prática, corpo e mente, ao contrário

observa-se nessas trajetórias um esforço em fugir de dicotomias e reiteram sempre a

impossibilidade de neutralidade cientifica, política e no caso das atrizes, artística. Rompem

com ciclo e ao fazê-lo revelam primeiro que ele existe e segundo que possui determinadas

maneiras de oprimir e silenciar e que essas maneiras fazem parte de um acordo velado, que

torna o assunto desagradável, incômodo, são vozes que geram um mal estar quando se

levantam e se pronunciam. E neste ponto é necessário salientar que a essa pesquisa não será

possível fugir do assunto desse ciclo incômodo, gostaríamos de nos ater as formas e discursos

das obras teatrais de mulheres negras, porém, sentimos que antes disso, é em sua presença no

teatro que reside nossa maior urgência. Inclusive como tentativa de fortalecer suas presenças,

talvez chamando atenção para o fato de que todas as entrevistadas são sempre a única negra

do grupo em que são integrantes conseguimos demonstrar o abismo que separa o imenso

número de cidadãs e cidadãos negros de espaços artísticos.

Ao falar desse mal estar é preciso tocar em lugares que são profundamente enraizados

nas vidas que se fazem dentro do contexto atual, resultante de uma série de processos que não

podemos nos ausentar de denominá-los. E é isso que essas mulheres fazem, estão sempre

fincadas no presente, observando e situando os acontecimentos passados buscando um futuro

que possa pertencer a suas descendentes.

Esses corpos de artistas negras são obrigados a criar armaduras, estratégias, jeitinhos

para conseguir a cada dia, a cada projeto, a cada ensaio, enfrentar o olhar do outro, a

exposição do corpo e das fragilidades, o mostrar-se, o protagonizar, parte de um processo de

aprendizado, que nem sempre é superado sem maiores conflitos (internos e externos). Artistas

são pessoas que dão matéria, consistência, ao inanimado, ao profundo, dão vida ao indizível,

entregam ao mundo a possibilidade do sonho, do delírio, do futuro. Portanto atrizes negras

são sujeitos que transitando em processos artísticos deslocam e transmutam a experiência

ancestral de dor de corpos negros. O direito ao sonho, a criação, ao delírio e ao aspecto

dionisíaco da arte teatral é social e culturalmente reconhecido como direito de brancos, ricos,

ou classe média, de forma que à grosso modo caberia aos negros sobreviver, trabalhar,

sustentar a família, etc.

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Assim sendo corporeidade, território, memória são noções marcantes para as

trajetórias de vida dessas mulheres no teatro e reverberam em reconhecimento de identidades,

militâncias e lutas sociais, em contraste com o modo como historicamente as palavras atriz ou

artista se constroem no imaginário histórico, cultural e social.

Diante do exposto, elucidamos que essas dores são corpo, o corpo é o território onde

essas tensões se dão, é esse corpo que vai estar espaços que parecem querer expulsá-lo, é esse

corpo que carrega a dor de seres humanos que compartilham a experiência do escuro, do

negrume, da sombra, do invisível, do deboche, do escarnio, do emudecimento...

Compartilhamos enquanto negras como diz Beatriz Nascimento (1989) a experiência de não

querer ser escrava, compartilhamos a experiência de desejar que a escravidão nunca tivesse

existido.

A memória é o conteúdo do continente, da sua vida, da sua história do seu passado como se o corpo fosse o documento. Não é à toa que a dança é um momento de libertação. O

homem negro não pode estar liberto enquanto ele não esquecer o cativeiro, não esquecer no

gesto que ele não é mais um cativo. A linguagem do transe é a linguagem da memória. Tudo

isso não resgata a dor de um corpo histórico, aquela matéria se distende mas ao mesmo tempo

ela traz com muito mais intensidade a história, a memória, o desejo. O desejo de não ter vivido

a experiência do cativeiro. A escravidão é uma coisa que está presente no corpo, no nosso

sangue, nas nossas veias. (Gerber e Nascimento, 1989, transcrição nossa)

A própria escrita da vida brota de contradições e ambiguidades, o corpo histórico da

mulher negra que é ele mesmo documento onde essas marcas estão sempre latentes, uma vez

que a sociedade é construída no pilar hierárquico de relações, e todas as relações sociais são

racializadas, a raça é a mediadora das relações do corpo negro no mundo. A dança desse

corpo, movimento, o ritmo, a cena é a busca mesma de libertação. Conseguir inscrever-se no

mundo enquanto criadoras, elaboradoras e participes, enquanto corpo que dança, canta, atua,

festeja é em si um fato marcante da resistência histórica de mulheres negras na arte brasileira,

estar em cena é dizer não sou mais cativa.

As linhas de pensamento construídas pelas mulheres negras acadêmicas são de uma

complexidade e riqueza profundas. Quando escrevem é a voz desse corpo histórico que se faz

presente, são as memórias desse corpo-documento que ao mesmo tempo em que doem são as

ferramentas de luta e de buscas. Esse entrelaçamento temporal (passado-presente-futuro)

exige um grande panorama dos acontecimentos históricos, políticos, culturais, artísticos. É

emblemático o modo como ao citar as condições de seus pares negros esses estudos lançam

mão de um escopo não só teórico, como já citado as experiências de vida se enredam às

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teorias, a militância se enreda à teoria. Um exemplo disso é a forma como a ideologia do

feminismo negro alcança e atravessa essas obras, é um feminismo que abarca uma rede densa

com inúmeras camadas que provocam e podem até instaurar conflitos. Uma vez que está

disposto a retirar da invisibilidade histórias que normalmente podem ser violentas, hostis e

brutais. Pois é assim que essas histórias são tratadas pela sociedade. Estão nomeando as

opressões, dando direção e corpo. Estão saindo do silêncio e se fazendo durante o processo.

Esse processo costuma ser longo e insidioso e começa já na escola primária. Lá em

Sergipe, para citar um fato concreto, eu estudava numa escola que era num terreno

arrendado de minha avó, era em frente à casa dela; pois bem, eu muitas vezes

inventava um dor de barriga e fugia, sabe por quê? Porque tinha pouquíssimas

crianças negras, iguais a mim na escola. E esse fenômeno acontece comigo até hoje.

Eu me sinto mal, me dá uma sensação de isolamento quando eu estou num grupo onde

não têm muitos pretos. (Ratts, 2007, p. 49)

A sensação de dor de barriga pode ser aqui entendida como símbolo do medo, da

opressão, da escola como primeiro ambiente hostil que vai lembrar a cada segundo as marcas

históricas. O isolamento, a sensação de não ser parte, de não pertencer ao espaço, ao grupo

acompanham desde a infância.

Eu lembro que na escola eu era pequeninha eu lembro uma vez que dois amiguinhos

falaram assim: ah você não vai brincar com a gente porque você é preta! E eu fiquei

chateada e contei pra minha mãe. Aí pretinha, negrinha, não sei o que... E minha mãe

deu a melhor resposta que ela pôde me dar e eu faço isso com meus alunos também,

ela disse assim: você é preta! Você é negra! Não entenda filha isso como uma ofensa

porque é o que você é. Ismênia Leão

Aproximando esses depoimentos conseguimos observar que a experiência da menina

negra na escola é muito diferente das experiências de outras crianças. A diferença nesse caso

não se dá apenas por se reconhecer como diferente.

Acho que muita criança negra tem esse mesmo problema e é por isso que não estuda,

muitas vezes não passa de ano, tem dificuldade na escola por causa de um certo tipo

de isolamento que não é facilmente perceptível. É aquela mecânica de educação que

não tem nada a ver com esses grupos de educação familiar, a mecânica da leitura,

onde você não sabe quem é, porque não está nos livros. (Ratts, 2007, p. 49)

A escola nesse sentido apontado por Beatriz Nascimento é um reflexo da sociedade. E

também a sociedade é reflexo dela.

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O que ela não passou com isso eu passei muito. Em escola, em tudo. E a gente reagia

das piores maneiras possíveis, saía no tapa. Porque... Sabe? Cabelo de bombril na

escola. Tinha uma... um livro que a professora tinha que tinha uma bonequinha que

chamava Bortolina. Então ela tinha cabelinho todo, todo que nem tonhonhoin, então

os meninos apelidavam a gente assim. E a gente brigava muito, brigava muito, sabe?

(Solange Nunes, 2018)

A questão dos livros didáticos2 apontada no depoimento de Solange vem sendo

repensada na atualidade, muito por conta da lei 10. 639. Lei que ainda encontra entraves seja

pela questão religiosa, pela ingenuidade ou superficialidade que os temas são tratados, pela

forma como o fenótipo negro ou indígena é visto pelos escritores brancos. Ainda hoje nos

deparamos com a imagem da menina negra muito estereotipada, e existem dificuldades ao

explicitar para os autores os motivos das ofensas e injurias. Para citar dois exemplos

discutidos recentemente, podemos falar do livro Peppa distribuído em algumas secretarias de

educação do sudeste e do nordeste, militantes negras denunciaram que a personagem era

negra, com fenótipo negro e era extremamente agredida na história. A autora se ofendeu e

com relutância pediu para a editora retirar o livro de circulação. Também existe o caso livro

Omo-oba – Histórias de Princesas, com princesas inspiradas em divindades africanas e afro-

brasileiras. O livro foi retirado da escola por pressão de pais cristãos que se sentiram

ofendidos com a temática.

Tudo isso reverbera para todos os âmbitos da vida e das relações da menina negra.

Acontece que às vezes antes mesmo de nascer a marca da cor está presente: temor da família

de que nasça com cabelo duro, nariz achatado, lábios grossos, etc. Na infância esses insultos

que os depoimentos trazem são recados diretos são a faca afiada que em dores lancinantes

marcam o corpo e a alma. Só brincam com a menina preta com ela leva brinquedo, ela

sabendo o porquê responde bem: “É porque sou preta. A gente tava brincando de mamãe, a

Catarina branca falou: Eu não vou ser tia dela. A Camila (que também) é branca não tem nojo

de mim, as outras crianças tem” (Carneiro, 2011), esse depoimento vem de uma menina negra

ainda na educação infantil.

2 Os livros didáticos são os maiores exemplos do desprezo e ignorância em relação aos afrodescendentes e das ligações do

Brasil com o continente africano. Em seu trabalho que desmistifica ideias racistas sobre a África e falando sobre sua

produção cartográfica que demarca as reais dimensões do continente africano e dos países do sul, o Professor Doutor Rafael

Sanzio dos Anjos diz que “Primeiro são os livros didáticos, que ignoram a população africana e o brasileiro com ascendência

na África, como agentes ativos na formação territorial e histórica do país. Em seguida, a escola tem funcionado como uma

espécie de segregadora informal. A ideologia subjacente a essa prática de ocultação e distorção das comunidades brasileiras

de referência africana e seus valores tem como objetivo não oferecer modelos relevantes que ajudem a construir uma

autoimagem positiva nem dar verdadeira referência a sua verdadeira territorialidade aqui, e, sobretudo no continente

africano” (ANJOS, p. 18 grifos nossos).

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Se essas são experiências de crianças negras, no atual sistema, por força dele

segregadas, diminuídas, reduzidas, tornadas mercadoria, como podemos almejar experiências

diferentes na vida juventude e na vida adulta? Se o sistema é o mesmo, mais tarde explora,

estupra, mata e joga na cova rasa, essa juventude que automaticamente é relacionada com o

termo marginal, e isso independe de classe social. “A questão econômica não é o grande

drama, apesar de ser o grande drama. O grande drama é o reconhecimento de pessoa. O

homem negro nunca foi reconhecido no Brasil” (Gerber e Nascimento, 1989, transcrição

nossa). E se não é reconhecido como ser humano, como pessoa, esse corpo pode se tornar o

objeto que vai suprir desejos e servir para determinados papeis sociais. Nas ocasiões em que

esse corpo se vê encaixado no mundo dos brancos, vemos estereotipias que se repetem:

mulata festiva, globeleza, favelada escandalosa, boba, ingênua, serviçal dócil, essa tantas

vezes repetidas nas novelas, a babá querida que até hoje vive bem próximo da relação de

embalar o sinhozinho e seus filhos, etc.

Quando mulheres negras transgridem esses papeis sociais impostos contrariando os

ideais de sujeição e submissão precisam de um escopo para lidar com as reações contrarias. A

experiência de mãe e filha, sucessivamente professora e atriz, demonstram o quanto essa força

contrária é violenta:

E o mais engraçado ainda é que aqui em Porto Feliz negro serve pra limpar chão. (...)

Ela colocou no facebook dela (que estava estagiando no cartório) e falaram assim: ai

você está limpando o cartório?

Que nem aconteceu outro dia comigo. A menina perguntou: onde você trabalha? Eu

falei: eu trabalho no presídio. Daí ela pegou e falou pra mim: que que você faz? Você

limpa lá? Eu falei: eu ministro aulas. Ela perguntou: o que é que é isso. Falei: Sou

professora! Nossa, não sabia. (Solange Nunes, 2018)

Todas as facetas do racismo brasileiro são perversas. Tudo o que viemos descrevendo

sobre o período escolas, a infância, as delimitações históricas são tão intensas e repetidas

tantas vezes e em tantas ocasiões diferentes que são naturalizadas, normalizadas. Quando o

normal deveria ser o oposto. Lélia Gonzales começou a chamar do “lugar de negro” (Ratts e

Rios, 2010) aos lugares sociais predestinados a população negra e ela própria tem uma

trajetória de fuga dos significados que esse termo possui:

Nesse sentido, vale apontar para um tipo de experiência muito comum. Refiro-me aos

vendedores que batem à porta da minha casa e, quando abro, perguntam gentilmente:

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A madame está? Sempre lhes respondo que a madame saiu e, mais uma vez, constato

como somos vistas pelo “cordial” brasileiro. Outro tipo de pergunta que se costuma

fazer, mas aí em lugares públicos: “Você trabalha na televisão?” ou “Você é artista?”

E a gente sabe o que significa esse “trabalho” e essa “arte” (Ratts e Rios, 2010, pg. 63)

Essas perguntas supostamente ingênuas contêm em si um forte laço com o passado

histórico, essas perguntas querem dizer que não parece comum ou normal que esta mulher

negra esteja neste espaço. Perguntas, gestos, olhares, atitudes, carregados do racismo que

durante muito tempo esteve escondido debaixo do manto do mito da democracia racial.

Quando Lélia Gonzales diz que constata a forma como as mulheres negras são vistas pelo

“cordial” brasileiro está se referindo a isso. O homem cordial, o povo cordial, o negro cordial,

durante o período da ditadura militar o auge dessa falsa ideia era reprimir todo e qualquer

movimento coletivo negro, os negros não podiam denunciar o racismo para não perturbarem a

“ordem vigente”.

Em todos os períodos que sucederam a escravidão negra no Brasil, as políticas e os

setores sociais estavam profundamente contaminados por esse discurso.

Nas ruas as pessoas me agridem das mais diversas formas. No meu interior há

recalcamento das aspirações mais simples. Em contato com as outras pessoas tenho

que dar praticamente todo o meu “curriculum vitae” para ser um pouquinho

respeitada. Há oitenta anos atrás minha raça vivia nas condições mais degradantes.

(...) a maioria dos meus iguais permanece social e economicamente rebaixada, sem

acesso às riquezas do país que construiu. Quando de volta ao cotidiano, verifico que as

pessoas vêem minha cor como meu principal dado de identificação, e nesta medida

tratam-me como um ser inferior. Me pergunto que ideologia absurda é essa, dessas

pessoas que querem tirar minha própria identidade? (Ratts, 2007, p. 48, grifo nosso)

Esse desabafo de Beatriz Nascimento (2007) é um retrato de sua época, para ser

respeitada necessitava dizer seu currículo, precisava demarcar que venceu a delimitação da

cor. Sua pergunta é extremamente atual: que ideologia absurda é essa, dessas pessoas que

querem tirar minha própria identidade? Além de todas as agressões as mulheres negras que se

deslocam do “lugar de negro” como dissemos anteriormente, sofrem a pressão do

embranquecimento, como se precisassem despir-se de toda sua história e ancestralidade para

ser aceita, incluída no mundo dos brancos.

O termo moreninha é parte desse cruel panorama: “Da mesma forma que eu trouxe

isso pra minha vida inteira e acho ofensivo quando alguém tenta esconder a minha cor de mim

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dizendo que eu sou moreninha: não filho, pára de economizar tinta. Eu sou preta, sou negra!”

(Ismênia Leão, 2017) O racismo deseja apartar o ser de si mesmo. As humilhações visíveis e

invisíveis agem de forma a diminuir a existência do corpo negro. A dita pressão do

embranquecimento conduz ao distanciamento de suas idiossincrasias, ao apagamento de sua

história. Mas em resposta a isso as mulheres negras reivindicam a construção de um novo

mundo, não desejando ser incluídas ou aceitas em espaços onde o racismo, discriminação e

preconceito imperam. Essas vozes estão dizendo que se recusam a participar desse ciclo. Não

aceitam embranquecer querem ser o que são e ter sua diferença contemplada.

Negra e Atriz?

O que acontece com a subjetividade quando essas fronteiras se encontram: mulher,

negra e atriz? Sendo a artista ainda hoje marcada como desviante, insubordinável, subversiva,

boêmia, vagabunda. Retomando à ideia de perguntas supostamente ingênuas “Você é atriz?”

“Qual o seu trabalho de verdade?” “Você é atriz então chora ai!” “Você é atriz, quando vamos

te ver na globo?” São questionamentos que visam deslegitimar a experiência da mulher negra

enquanto artista. Representam a resistência da sociedade ao trânsito, ao deslocamento do

“lugar de negro”.

Beatriz Nascimento diz “é preciso imagem para identidade, é preciso tornar-se visível”

(Gerber e Nascimento, 1989, transcrição nossa). O corpo-documento da mulher negra artista

é o registro de suas marcas, é a matéria que torna visível todas essas problemáticas de raça na

cena teatral. Território de narrativas polifônicas que se contradizem, se chocam o tempo

inteiro, é fronteirizo. Transita entre o visível da exposição cênica e o invisível do processo

histórico cultural.

No início deste trabalho dissemos que artistas são pessoas que dão vida ao inanimado,

dão ao mundo a possibilidade do sonho, do delírio, do futuro. O encontro do corpo-

documento negro com a arte teatral faz “renascer” a possibilidade de sonhar com outros

papeis sociais, outras formas de participação. “Olha sinceramente foi o teatro que me fez

renascer! Foi o teatro, porque quando eu subia no palco pra fazer uma peça, eu logo lembrava

que eu era a negra preta, que eu era não sei o que, achava que a plateia estava reparando em

mim.” (Linda Duraes, 2017)

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Obviamente não desejamos romantizar a arte teatral. O teatro sendo parte da sociedade

possui estruturas fundadas em posições hierárquicas e não está isento de posturas machistas e

racistas. Mas estar presente no teatro é uma possibilidade de reação a uma vida inteira de

experiências racializadas. Com dezesseis anos de idade e várias participações em intervenções

e peças teatrais na sua cidade, Maria Eduarda se coloca de forma contundente: “Eu posto a

foto com meu figurino e falo que é a única época do ano que eu posso ser quem eu realmente

sou” (Maria Eduarda Nunes, 2018).

Podemos perceber o quanto a experiência de mulheres negras no teatro parecem ser

potencializadoras: “Agora quanto artista isso que minha amiga falou foi muito forte, d’eu ser

a primeira professora mulher e negra da cidade. Não, não. É. É muito lindo. Isso é muito

lindo. É uma conquista que você tem que... (silêncio)” (Vitoria Cardoso, 2017, grifo nosso).

Considerações Finais

O corpo em cena e o desejo de manter-se nela parecem contar que essas mulheres

encontram-se não apenas com a arte teatral, mas também com elas mesmas. Termos como

renascer, ser quem realmente sou, assumir minhas raízes, sou negra, sou preta, fazem parte

de um vocabulário comum, um vocabulário que não era possível antes da trajetória no teatro.

O corpo negro e o teatro emergem como dois territórios que formam um terceiro, um devir,

uma possibilidade de novos encontros.

Se somos entre negros e negras mais de 54% da população do país, a negritude estaria

em outros lugares sociais se houvessem mais oportunidades de encontros potentes, se

democracia racial e justiça social fossem realidades mais próximas da realidade atual. Se hoje

são as negras que majoritariamente sofrem violência física e as violências invisíveis (verbal,

epistêmica, simbólica e assédios) se fossem as que majoritariamente concluem os estudos,

como seria a face do teatro nacional? Do cinema nacional? Entendemos que os méritos e

vitórias das mulheres negras são geracionais, e mesmo as menores conquistas devem ser

valorizadas principalmente porque não são garantidas eternamente, periodicamente é preciso

renovar lutas e conquistas, o cenário político atual de perda de direitos trabalhistas e

educacionais que atingem diretamente o corpo negro nos prova esse fato. O extermínio tão

violento, tão brutal de Mariele Franco também sinaliza para a barbárie que está em curso. Os

direitos e os corpos, a subjetividade e a voz são territórios em disputa. E hoje mais do que

nunca esses corpos históricos se fortalecem para gritar que o papel que cabe ao corpo negro é

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não aceitar qualquer papel que nos seja imposto. O orgulho e honra aos ancestrais, como

podemos sentir na fala de artistas negras é basilar para enfrentar qualquer gesto, discurso,

atitudes de espaços, instituições, grupos, coletivos, companhias que nos insinue a cozinha, a

faxina, os bastidores, a subalternidade e a submissão como sendo seu destino.

Ao resistir com orgulho a mulher negra incomoda, porque onde estiver o seu corpo vai

denunciar o racismo, onde estiver uma ou duas mulheres negras geram o mal estar, o

incômodo da branquitude quando tem que reconhecer as injustiças sociais e as desigualdades

entre classes, onde estiver esse corpo é o documento que registra os olhares e movimentos,

mas é também o anúncio de novas possibilidades de transformação do mundo. A utopia do

novo nos pertence, pois como brilhantemente exemplifica Angela Davis (2016) com sua vida

e sua teoria: nós somos a maior prova de que as opressões são indissociáveis, para combater o

racismo, é preciso combater a pobreza e também o machismo, o sexismo, a homofobia, mudar

os índices de escolaridade, de acesso a empregos, acesso a moradia, combater o genocídio, o

feminicídio.

Não existe uma fórmula mágica para a sociedade se tornar menos racista, sabendo

disso, sem perder e sem temer, mulheres negras estão agarradas às unhas com essa construção

de uma nova utopia, o que existe é a luta. Também é de Angela Davis (2016) a máxima que

diz que Quando as mulheres negras se movimentam toda a estrutura se move com elas! Então

rachando as estruturas expusemos essa pesquisa com o desejo de que muitos encontros e

projetos transformadores floresçam no sentido de fortalecer e multiplicar as experiências

produtivas e alegres de mulheres negras artistas, militantes, acadêmicas, em rede, em

coletividade. Essas mulheres que contrariando as estatísticas saem dos escombros dessa

sociedade bárbara, saem do lado invisível da fronteira pra dizer: Nós existimos! Não somos

mudas. Nossas línguas selvagens nunca mais se permitirão ser decepadas.

Referências bibliográficas

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2014.

ANZALDÚA, Glória. Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do terceiro

mundo. Brasil, 2000. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/9880.>

Acesso: 01 de Março de 2017.

ANZALDÚA, Glória. Como domar uma língua selvagem. Brasil, 2009. Disponível em:

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<http://www.uff.br/cadernosdeletrasuff/39/traducao.pdf. > Acesso: 24 de Maio de 2017.

CARNEIRO, Sueli. Racismo, Sexismo e Desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2011.

DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016.

EVARISTO, Conceição. Olhos D’água. 1ªed. Rio de Janeiro: Pallas Fundação Biblioteca Nacional,

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HOOKS, Bell. Intelectuais Negras. Brasil, 1995. Disponível em:

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RATTS, Alex. Eu sou Atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento. São Paulo:

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RATTS, Alex; RIOS, Flávia. Lélia Gonzalez. São Paulo: Selo Negro, 2010.

ORI. Documentário. Direção e Produção de Raquel Gerber. Roteiro Beatriz Nascimento. São Paulo:

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Acesso em 10 de março de 2018.

Entrevistas:

CARDOSO, Vitória. Entrevista I. [Novembro, 2017]. Entrevistadora: Daiana de Moura. Sorocaba, São

Paulo, 2017. Arquivo.mp3 (73 min.). A entrevista na íntegra se encontrará transcrita nos apêndices da

pesquisa de mestrado Mulher Negra EnCena: Performances de Encontros e Devir pelo PPGED –

Ufscar-Sorocaba.

DURAES, Linda. Entrevista I. [Novembro, 2017]. Entrevistadora: Daiana de Moura. Sorocaba, São

Paulo, 2017. Arquivo.mp3 (73 min.). A entrevista na íntegra se encontrará transcrita nos apêndices da

pesquisa de mestrado Mulher Negra EnCena: Performances de Encontros e Devir pelo PPGED –

Ufscar-Sorocaba.

LEÃO, Ismênia. Entrevista I. [Fevereiro, 2018]. Entrevistadora: Daiana de Moura. Sorocaba, São

Paulo, 2017. Arquivo.mp3 (76 min.). A entrevista na íntegra se encontrará transcrita nos apêndices da

pesquisa de mestrado Mulher Negra EnCena: Performances de Encontros e Devir pelo PPGED –

Ufscar-Sorocaba.

NUNES, Maria Eduarda. Entrevista I. [Fevereiro, 2018]. Entrevistadora: Daiana de Moura. Sorocaba,

São Paulo, 2017. Arquivo.mp3 (55 min.). A entrevista na íntegra se encontrará transcrita nos

apêndices da pesquisa de mestrado Mulher Negra EnCena: Performances de Encontros e Devir pelo

PPGED – Ufscar-Sorocaba.

NUNES, Solange. Entrevista I. [Fevereiro, 2018]. Entrevistadora: Daiana de Moura. Sorocaba, São

Paulo, 2017. Arquivo.mp3 (55min.). A entrevista na íntegra se encontrará transcrita nos apêndices da

pesquisa de mestrado Mulher Negra EnCena: Performances de Encontros e Devir pelo PPGED –

Ufscar-Sorocaba.