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UNIVERSIDADE DE SANTO AMARO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MANEJO E CONSERVAÇÃO DA FAUNA SILVESTRE JULIANA DE LIMA CIANFA Levantamento de Atropelamento da Fauna Silvestre nas Alamedas do Loteamento Residencial Vila Verde em Itapevi, São Paulo. São Paulo 2012

Atropelamento Da Fauna Silvestre

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UNIVERSIDADE DE SANTO AMARO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MANEJO E CONSERVAÇÃO DA FAUNA SILVESTRE

JULIANA DE LIMA CIANFA

Levantamento de Atropelamento da Fauna Silvestre nas Alamedas do Loteamento Residencial Vila Verde em Itapevi, São Paulo.

São Paulo 2012

JULIANA DE LIMA CIANFA

Levantamento de Atropelamento da Fauna Silvestre nas Alamedas do Loteamento Residencial Vila Verde em Itapevi, São Paulo.

Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização apresentado para obtenção do título de Especialista Lato Sensu em Manejo e Conservação da Fauna Silvestre da Universidade de Santo Amaro, sob orientação da Profª MSc. Paula Ribeiro Prist.

São Paulo 2012

AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo fim de mais uma etapa.

Ao Biólogo Daniel Martins pelo incentivo e ideias que tornaram possíveis a

realização desta monografia.

À MSc. e orientadora Paula Prist por seu apoio e inspiração no amadurecimento dos

meus conhecimentos e conceitos que me levaram a execução e conclusão desta

monografia.

Aos amigos e colegas de curso, pela cumplicidade, ajuda e amizade.

Aos amigos e colegas de trabalho, pelo total apoio, amizade e oportunidade.

Ao Cleber de Oliveira e ao Grupo Execução Segurança, pelo apoio na realização

desse trabalho.

Às pessoas que estão a frente da Associação dos Amigos do Vila Verde: obrigada

pela credibilidade postada em mim.

A todos que, direta ou indiretamente, participaram desta minha etapa, que me

fizeram crescer, tanto pessoalmente como profissionalmente. Obrigada!

“Somos todos energia, distribuídas em níveis tróficos, relacionados por simbiose. O

um no todo, o todo no um. Eis o legado às gerações futuras: garantir a incrível

biodiversidade da qual fazemos parte.”

Carvalho Junior

RESUMO

As estradas são uma das principais causas de fragmentação de áreas preservadas,

atraindo pessoas para áreas antes não habitadas e contribuindo para a perda da

fauna silvestre através dos atropelamentos. Este estudo teve como objetivo realizar

um levantamento do número de vertebrados silvestres que vieram a óbito devido a

atropelamentos dentro do loteamento residencial Vila Verde. As coletas foram

realizadas entre abril e outubro de 2011 e todas as alamedas do residencial eram

percorridas de hora em hora todos os dias. Durante esse período registrou-se o

atropelamento de 14 indivíduos pertencentes a três classes e seis espécies. Os

mamíferos foram as espécies mais afetadas, contabilizando 78,6 % de todos os

animais que vieram a óbito. Dentre esses as espécies mais comumente encontradas

foram Didelphis aurita e Callithrix penicillata. O estudo também registrou, no entorno

do residencial, um indivíduo de Leopardus tigrinus, espécie ameaçada de extinção.

O número de atropelamentos registrados reflete a necessidade dos animais em se

deslocar em busca de alimentos e a necessidade de se criar medidas de mitigação

para que esses efeitos negativos sejam diminuídos. Os resultados sugerem que a

área onde o residencial está inserido, bem como sua região de entorno, ainda abriga

uma expressiva riqueza de animais silvestres, com a presença de animais

endêmicos e especialistas e que medidas de mitigação, principalmente a

implementação de passagens de fauna aéreas são importantes para diminuir os

impactos dos atropelamentos e para a conservação das espécies da região.

Palavras-chave: Atropelamento de vertebrados silvestres. Ecologia de estradas.

Medidas de mitigação. Mata Atlântica.

1 INTRODUÇÃO

As estradas são vitais para o crescimento da economia de uma nação,

gerando novas oportunidades de serviços, novos empregos e a instalação de novos

pontos residenciais e industriais, o que resulta na atração de pessoas para áreas

antes não habitadas (FEARNSIDE, 1989, 1990; WILKIE et al., 2000). Muitas destas

novas áreas ocupadas por estradas e que, consequentemente, se tornam

urbanizadas, passam a ser ecologicamente vulneráveis, apresentando alto risco de

perda da integridade biótica das comunidades que compõe essa paisagem (KARR,

1993), pois as estradas também provocam outros impactos ao meio ambiente, como,

por exemplo, a poluição sonora e luminosa, a fragmentação de habitats, a dispersão

de espécies exóticas, a perda de fauna silvestre por atropelamento, entre outros

(SPELLERBERG, 1998; TROMBULAK e FRISSEL, 2000).

A construção de estradas é um dos principais mecanismos de fragmentação,

removendo a cobertura vegetal original, provocando efeito de borda e alterando a

estrutura e função da paisagem (FERREIRA et al., 2004). A fragmentação de áreas

preservadas, provocada pelas estradas, cercas, cultivos e outras atividades

humanas, provoca efeitos negativos sobre espécies e populações, limitando a

capacidade de dispersão, colonização e de alimentação dos animais (PRIMACK e

RODRIGUES, 2002).

Os impactos das estradas sobre a fauna, causados principalmente pelos

atropelamentos, têm recebido a atenção de pesquisadores de diversos países há

mais de vinte anos (VAN DER ZANDE et al., 1980; KUIKEN, 1988; PHILCOX et al.,

1999; TROMBULAK e FRISSEL, 2000), porém no Brasil, esse tema vem

aparecendo há pouco tempo, com o primeiro trabalho científico sobre

atropelamentos sendo publicado por Novelli et al. em 1988, e pouco tendo sido feito

desde então.

Quase sempre estudos envolvendo estradas se apresentam associados à

áreas de interesse para preservação (FISHER, 1997; FARIA e MORENI, 2000;

SCOSS e JUNIOR, 2000; RODRIGUES et al., 2002). Para OLMOS (1997) as

estradas que cruzam estas áreas de preservação ou ecossistemas naturais afetam

negativamente a diversidade biológica destas regiões, contribuindo para a

destruição física das manchas de habitat natural, para a fragmentação e o

isolamento, através da criação de uma barreira entre os fragmentos e ainda a morte

de animais por atropelamento.

A travessia de animais pelas estradas está correlacionada com diferentes

necessidades como migração, procura de alimentos ou simplesmente ocupação de

territórios, expondo esses animais ao risco de atropelamento por veículos

automotores (FARIA e MORENI, 2000). Para SEILER e HELLDIN (2006) nas últimas

décadas, os atropelamentos passaram a ser mais importantes que a caça como

causa indireta de mortalidade de vertebrados terrestres e tendem a se tornar uma

ameaça significativa à biodiversidade em países em rápido desenvolvimento, tais

como a China e a Índia, situação que pode ser comparada com a do Brasil. Alguns

autores estimam que, anualmente, morram cerca de 159.000 indivíduos de

mamíferos e 653.000 de aves na Holanda, sete milhões de aves na Bulgária, cinco

milhões de anfíbios e répteis na Austrália e, diariamente, um milhão de vertebrados

nas rodovias dos Estados Unidos (FORMAN e ALEXANDER, 1998; BECKMANN et

al., 2010).

Estudos envolvendo os impactos da construção de estradas possuem duas

faces relevantes e extremamente importantes: a segurança dos usuários nas

rodovias e a conservação da biodiversidade. Em 2007, por exemplo, quase dois

milhões de acidentes envolvendo veículos automotores e mamíferos de grande porte

foram contabilizados nos Estados Unidos (HUIJSER et al., 2007), assim além da

morte de espécies muitas vezes endêmicas e ameaçadas, esses acidentes ainda

provocam a morte de seres humanos, causando enormes prejuízos para as políticas

públicas.

As rodovias também provocam impactos ambientais indiretos nos padrões e

processos ecológicos, através dos efeitos de barreira para a fauna silvestre e da

perda de conectividade entre ambientes naturais (BISSONETE e ADAIR, 2008).

Para as espécies nativas, a quebra de conectividade entre os remanescentes

naturais é uma grande ameaça, acarretando em problemas de trocas gênicas e

declínio populacional regional (IUELL, 2003; TAYLOR e GOLDINGAY, 2004; MMA,

2005). A conectividade da paisagem é, portanto, considerada um elemento vital na

estrutura da paisagem para a sobrevivência de populações animais e vegetais.

A Ecologia de Estradas considera o uso de passagens de fauna uma das

maneiras mais simples e efetivas para manter ou restaurar a conectividade da

paisagem. O maior desafio, porém, é projetar passagens adequadas para que sejam

abrangidos diferentes grupos faunísticos e um maior número de espécies. Ainda,

não apenas o tipo de passagem, mas a escala de conectividade abrangida deve ser

considerada (BECKMANN, 2010).

1.1 Mata Atlântica

A Mata Atlântica abriga hoje cerca de 70 % da população humana brasileira,

com as maiores cidades e polos industriais do país localizadas nesse bioma (MMA,

2002). Sua área geográfica inicialmente cobria 12 % do território brasileiro, mas hoje,

restam menos de 8 % de sua extensão original que, mesmo encontrando-se em

situação crítica, ainda abriga altos índices de diversidade e endemismo (SOSMA e

INPE, 1993). Esse alto nível de ameaça e mais de 8000 espécies endêmicas fazem

da Mata Atlântica um dos 25 hotspots (pontos quentes/maiores pontos) mundiais de

biodiversidade (TABARELLI et al., 2005).

A Mata Atlântica possui cerca de 7 % das espécies de todo o mundo

(TABARELLI et al., 2005), apresentando um alto grau de endemismo, o que torna

essencial e prioritária sua conservação. Além disso, a Mata Atlântica ainda é

responsável pelo fornecimento de água potável para 60 % da população brasileira

(CALMON et al., 2011), pela regulação do clima, pela fertilidade do solo, entre outros

serviços ambientais. Obviamente, a maior ameaça ao já precário equilíbrio da

biodiversidade é justamente a ação humana, a pressão da sua ocupação e os

impactos de suas atividades (SOSMA, 2011).

1.2 Medidas Compensatórias, Preventivas e Mitigatórias

Medidas compensatórias, preventivas e mitigatórias têm sido estudadas e

efetivadas, em sua maioria, no exterior, para atenuar os impactos das estradas

(REED et al., 1975; FALK et al., 1978; FELDHAMER et al., 1986; VICENTINI, 1999).

O fato de algumas terem eficácia incerta e serem relativamente custosas aponta

para a necessidade de se conhecerem bem os fatores envolvidos nas ocorrências

em cada região (FELDHAMER et al., 1986; TROMBULAK & FRISSEL, 2000).

O manejo de estradas e rodovias para que estas mantenham a

permeabilidade da paisagem e evitem atropelamentos de fauna, são potencialmente

conflitantes, devendo ser “negociados”. Reduzir os atropelamentos, segundo os

autores, implica em reduzir o trânsito de animais sobre a pista, mas isso em

essência irá reduzir a conectividade. Permitir ampla passagem dos animais, porém

de maneira segura, é a saída para este conflito (PRADA, 2004).

A literatura cita medidas compensatórias, preventivas e mitigatórias do

impacto de estradas ao meio ambiente (REED et al., 1975; FALK et al., 1978;

FELDHAMER et al., 1986). Vicentini (1999) menciona como medida compensatória

do impacto à flora e à fauna a preservação de áreas vegetadas similares próximas.

A autora cita como preventiva, a criação de medidas que vão diminuir situações em

que veículos em velocidade e fauna silvestre venham a se encontrar. Para

Tsunokawa (1997), as medidas mitigatórias devem ser tomadas com o objetivo de

diminuir a mortalidade da fauna por atropelamento. É importante reconhecer que

implantar medidas mitigatórias é apenas o início de um processo trabalhoso, e não o

fim deste. A adoção de uma abordagem de gestão biorregional para a conservação

dos recursos naturais, incluindo e adotando a biodiversidade como foco principal

para o planejamento das atividades antrópicas, e, em especial para a infraestrutura

de transportes, teria papel fundamental na resolução deste problema e de suas

causas (PIRES et al., 2003).

2 OBJETIVOS

O presente trabalho teve como objetivo realizar o levantamento do número de

vertebrados silvestres de médio e grande porte, que vieram a óbito devido a

atropelamentos dentro do loteamento residencial Vila Verde e identificar os trechos

com maior incidência de colisões (hotspots de atropelamento) para assim propor

medidas de mitigação adequadas para a presente área de estudo.

3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Área de estudo

Este estudo foi realizado no loteamento Residencial Vila Verde, que está

inserido em um grande fragmento florestal da Mata Atlântica, chamado de Cinturão

Verde, dentro do estado de São Paulo, implantado no município de Itapevi (Figura

1).

Figura 1: Limites do Loteamento Residencial Vila Verde, localizado na cidade de Itapevi, São Paulo. Fonte: Google Earth, 2011.

O loteamento Residencial Vila Verde possui 14 km de rua, 7.319 m de

perímetro e uma área aproximada de 1.245.813 m², sendo que deste total 51 % são

constituídas por áreas de preservação, sendo cortado por alguns córregos e

possuindo algumas nascentes. Está localizado a 39 km de São Paulo pela Rodovia

Raposo Tavares e 37 km pela Rodovia Castello Branco (Figura 2).

Figura 2: distância de São Paulo ao Residencial. Em azul: Loteamento Residencial Vila Verde – Itapevi, SP; em verde: Praça da Sé, marco 0 de São Paulo. Fonte: Google Earth, 2011.

3.2 Dados Climatológicos

O clima, segundo a classificação de Koeppen, é subtropical de altitude, com

inverno seco e verão ameno (Cwb), com pluviometria anual entre 1.300 e 1.500 mm³

e temperatura média de 20 a 22 °C.

3.3 Procedimentos

As coletas de dados foram realizadas durante sete meses, com início em 1º

de abril de 2011 e término em 31 de outubro de 2011. Foram percorridas todas as

alamedas do residencial, totalizando 14 km de rua de 7 m de largura, de hora em

hora todos os dias, com veículos a uma velocidade de 20 km/h e com o auxílio da

segurança local. Cada animal atropelado encontrado era fotografado, medido,

identificado e como não estavam com vida foram descartados (os animais eram

retirados da via e enterrados), de acordo com a orientação do Instituto Brasileiro do

Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e Polícia Ambiental de

Barueri.

Cada atropelamento foi registrado em uma planilha contendo data, horário,

nome popular e científico do animal e sua medida aproximada, além da marcação no

mapa, com sua respectiva coordenada geográfica.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante os sete meses de coleta de dados, foram registrados 14 animais

silvestres mortos (Figura 3), pertencentes a três classes distintas de vertebrados:

mamíferos, aves e répteis. A classe mais afetada pelo trânsito de veículos foi a dos

mamíferos com 85,71 % de espécies atingidas, seguida da classe dos répteis com

14,28 % e das aves com 7,14 %.

Figura 3: Pontos dos atropelamentos, de “A” a “N”. Em verde: Rua Pau Brasil (alameda principal); em amarelo: Rua Bem-te-vi (2ª alameda mais movimentada); em marrom: alamedas pouco movimentadas. Fonte: Google Earth, 2011.

A maior ocorrência de atropelamentos foi observada durante o mês de

outubro, provavelmente devido ao início da estação reprodutiva o que acarreta em

maior deslocamento das espécies, uma vez que nessa época os animais mais saem

à procura de parceiros, com 6 animais encontrados mortos, sendo três mamíferos,

dois répteis e uma ave (Figura 4).

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

Abril

Maio

Junho

Julho

Agosto

Setembro

Outubro

Mamíferos

Répteis

Aves

Figura 4: Número de atropelamentos de animais silvestres registrados no decorrer do levantamento.

Os mamíferos, vítimas de atropelamento, foram encontrados em cinco dos

sete meses de realização do estudo, enquanto que répteis e aves tiveram registro de

atropelamento em apenas um mês. Provavelmente esses atropelamentos limitados a

apenas um mês, possam estar relacionados com o aumento da temperatura nessa

época do ano; uma vez que com este regime climático as taxas de atropelamento de

répteis são comumente mais altas, as quais correspondem ao período de maior

atividade desses animais (BONNETA et al., 1999). Para aves é difícil identificar um

padrão em relação à variação sazonal. Isso ocorre provavelmente devido a grande

diversidade desse grupo e a necessidade de um maior esforço de amostragem

quando comparado aos demais grupos (BAGER e ROSA, 2011). Já os médios e

grandes mamíferos não costumam apresentar variações sazonais em ambientes

subtropicais (CARO et al., 2000; COELHO et al., 2008). Porém estudos mais longos

são necessários para se comprovar se esse fato ocorreu ao acaso ou a algum fator

ecológico relacionado.

Verificou-se que 12 dos 14 atropelamentos ocorreram na alameda principal do

loteamento, provavelmente por haver uma circulação maior de veículos, sendo

responsável por 85,7 % dos atropelamentos (Figura 5). Em todas as alamedas do

residencial existem lombadas, valetas e diversas placas indicando um baixo limite de

velocidade (30 km/h), o que indica a preocupação do residencial com a circulação de

automóveis e os possíveis impactos causados pelos mesmos.

Figura 5: Alameda principal (em verde). Fonte: Google Earth, 2011.

Dentre os mamíferos atingidos, destacam-se: 4 espécimes de Didelphis aurita

(gambá-de-orelha-preta), 4 espécimes de Callithrix penicillata (sagui-do-tufo-preto), 2

espécimes de Sciurus ingrami (caxinguelê) e 1 espécime de Nasua nasua (quati-de-

cauda-anelada). Entre as aves cita-se 1 espécime de Megascops choliba (corujinha-

do-mato). E entre os répteis 2 espécimes de Tomodon dorsatus (cobra-espada)

(Figura 6).

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

Animais encontrados

atropelados

Sciurus ingrami

Nasua nasua

Didelphis aurita

Callithrix penicillata

Megascops choliba

Tomodon dorsatus

Figura 6: Porcentagem de animais encontrados atropelados.

Todas as espécies citadas acima estão em uma categoria de baixo risco de

extinção, ou seja, são classificadas pela União Internacional para Conservação da

Natureza (IUCN) como espécies Pouco Preocupantes (IUCN, 2011).

Todos os animais mortos encontrados foram registrados em uma planilha

(Tabela 1) e fotografados (Figuras 7 a 20), utilizando-se como referência de escala

uma caneta de 14 cm.

Tabela 1 – Planilha de marcação dos acidentes

DATA HORÁRIO ESPÉCIE COORDENADA GEOGRÁFICA

19/04/2011 17h00 Sciurus ingrami 23º 35’ 11.60” S e 46º 57’ 49.40” O

03/06/2011 11h30 Nasua nasua 23º 35’ 10.30” S e 46º 57’ 50.40” O

04/06/2011 20h00 Didelphis aurita 23º 35’ 21.50” S e 46º 57’ 48.30” O

25/06/2011 14h30 Callithrix penicillata 23º 35’ 14.40” S e 46º 57’ 50.70” O

01/07/2011 08h15 Sciurus ingrami 23º 35’ 17.00” S e 46º 57’ 33.00” O

02/07/2011 20h00 Didelphis aurita 23º 35’ 21.50” S e 46º 57’ 48.70” O

04/08/2011 16h20 Callithrix penicillata 23º 35’ 25.80” S e 46º 57’ 57.80” O

15/08/2011 13h45 Callithrix penicillata 23º 35’ 19.00” S e 46º 57’ 38.90” O

02/10/2011 03h00 Didelphis aurita 23º 35’ 10.10” S e 46º 57’ 50.70” O

12/10/2011 05h30 Megascops choliba 23º 35’ 6.00” S e 46º 57’ 57.55” O

14/10/2011 11h10 Callithrix penicillata 23º 35’ 7.60” S e 46º 57’ 55.30” O

19/10/2011 18h30 Tomodon dorsatus 23º 35’ 29.30” S e 46º 57’ 48.80” O

24/10/2011 22h00 Didelphis aurita 23º 35’ 18.30” S e 46º 57’ 37.40” O

26/10/2011 09h50 Tomodon dorsatus 23º 35’ 20.80” S e 46º 57’ 46.00” O

No dia 19 de abril, por volta das 17h, um espécime de Sciurus ingrami

(Thomas, 1901), medindo aproximadamente 32 cm (Figura 7), foi atropelado na

alameda principal. Trata-se de uma espécie de hábito diurno, arbóreo e terrestre;

solitário e às vezes aos pares. Alimenta-se de pequenas frutas, coquinhos e

sementes. Extremamente ágil, utiliza todos os níveis das florestas. Ocorre na região

amazônica e na Mata Atlântica (IBAMA-FAUNA, 2012).

Figura 7: espécime de Sciurus ingrami, atropelado na alameda principal (em verde); ponto “A” no mapa. Coordenadas Geográficas: 23º 35’ 11.60” S e 46º 57’ 49.40” O. Fonte figura B: Google Earth, 2011.

No dia 3 de junho, por volta das 11h30, um espécime de Nasua nasua

(Linnaeus, 1766), medindo aproximadamente 90 cm (Figura 8), foi atropelado na

alameda principal. Trata-se de uma espécie geralmente ativa durante o dia, solitária

ou com grupos de 8 a 18 indivíduos. Alimenta-se de pequenos animais e frutos.

Muito ligeiro e hábil, prefere regiões de mata fechada com árvores de porte alto,

podendo ser visto também em ambientes de campo aberto. Ocorre na floresta

atlântica (RA-BUGIO, 2010).

A B

Figura 8: espécime de Nasua nasua, atropelado na alameda principal (em verde); ponto “B” no mapa. Coordenadas Geográficas: 23º 35’ 10.30” S e 46º 57’ 50.40” O. Fonte figura B: Google Earth, 2011.

No dia 4 de junho, por volta das 20h, um espécime de Didelphis aurita (Wied-

Neuwied, 1826), medindo aproximadamente 65 cm (Figura 9), foi atropelado na

alameda principal. Trata-se de uma espécie de hábito noturno; se alimentam de

insetos, frutos, ovos e pequenos vertebrados; são encontrados em ambientes

florestais e também em meio urbano e possui ampla distribuição, ocorrendo do

nordeste do Brasil até o Paraguai (GARDNER,1993).

Figura 9: espécime de Didelphis aurita, atropelado na alameda principal (em verde); ponto “C” no mapa. Coordenadas Geográficas: 23º 35’ 21.50” S e 46º 57’ 48.30” O. Fonte figura B: Google Earth, 2011.

A B

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No dia 25 de junho, por volta das 14h30, um espécime de Callithrix penicillata

(É. Geoffroy, 1812), medindo aproximadamente 37 cm (Figura 10), foi atropelado na

alameda principal. Trata-se de uma espécie de hábitos diurnos; que se alimenta de

frutos, flores, sementes, insetos, goma e ovos de aves; habita cerrados, florestas

semidecíduas, florestas secundárias e matas ciliares, além de adaptar-se à

ambientes antropizados; ocorre na região nordeste, central e sudeste do Brasil

(AURICCHIO, 1995).

Figura 10: espécime de Callithrix penicillata, atropelado na alameda principal (em verde); ponto “D” no mapa. Coordenadas Geográficas: 23º 35’ 14.40” S e 46º 57’ 50.70” O. Fonte figura B: Google Earth, 2011.

No dia 01 de julho, por volta das 08h15, um espécime de Sciurus ingrami

(Thomas, 1901), medindo aproximadamente 34 cm (Figura 11), foi atropelado na

alameda principal.

A B

Figura 11: espécime de Sciurus ingrami, atropelado na alameda principal (em verde); ponto “E” no mapa. Coordenadas Geográficas: 23º 35’ 17.00” S e 46º 57’ 33.00” O. Fonte figura B: Google Earth, 2011.

No dia 02 de julho, por volta das 20h, um espécime de Didelphis aurita (Wied-

Neuwied, 1826), medindo aproximadamente 58 cm (Figura 12), foi atropelado na

alameda principal.

Figura 12: espécime de Didelphis aurita, atropelado na alameda principal (em verde); ponto “F” no mapa. Coordenadas Geográficas: 23º 35’ 21.50” S e 46º 57’ 48.70” O. Fonte figura B: Google Earth, 2011.

A B

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No dia 04 de agosto, por volta das 16h20, um espécime de Callithrix

penicillata (É. Geoffroy, 1812), medindo aproximadamente 40 cm (Figura 13), foi

atropelado na Rua Bem-te-vi, 2ª alameda mais movimentada.

Figura 13: espécime de Callithrix penicillata, atropelado na Rua Bem-te-vi (em amarelo), a 2ª alameda mais movimentada; ponto “G” no mapa. Coordenadas Geográficas: 23º 35’ 25.80” S e 46º 57’ 57.80” O. Fonte figura B: Google Earth, 2011.

No dia 15 de agosto, por volta das 13h45, um espécime de Callithrix

penicillata (É. Geoffroy, 1812), medindo aproximadamente 50 cm (Figura 14), foi

atropelado na alameda principal.

Figura 14: espécime de Callithrix penicillata, atropelado na alameda principal (em verde); ponto “H” no mapa. Coordenadas Geográficas: 23º 35’ 19.00” S e 46º 57’ 38.90” O. Fonte; figura B: Google Earth, 2011.

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No dia 02 de outubro, por volta das 03h, um espécime de Didelphis aurita

(Wied-Neuwied, 1826), medindo aproximadamente 66 cm (Figura 15), foi atropelado

na alameda principal.

Figura 15: espécime de Didelphis aurita, atropelado na alameda principal (em verde); ponto “I” no mapa. Coordenadas Geográficas: 23º 35’ 10.10” S e 46º 57’ 50.70” O. Fonte figura B: Google Earth, 2011.

No dia 12 de outubro, por volta das 05h30, um espécime de Megascops

choliba (Vieillot, 1817), medindo aproximadamente 20 cm (Figura 16), foi atropelado

na alameda principal. Trata-se de uma espécie de hábito estritamente noturno;

comum em cidades, parques urbanos e fazendas, além de habitar capoeiras e beiras

de matas secas ou úmidas, porém evita o interior de florestas densas; ocorre em

todo o Brasil (MENG, 2011).

A B

Figura 16: espécime de Megascops choliba, atropelado na alameda principal (em verde); ponto “J” no mapa. Coordenadas Geográficas: 23º 35’ 6.00” S e 46º 57’ 57.55” O. Fonte figura B: Google Earth, 2011.

No dia 14 de outubro, por volta das 11h10, um espécime de Callithrix

penicillata (É. Geoffroy, 1812), medindo aproximadamente 50 cm (Figura 17), foi

atropelado na alameda principal.

Figura 17: espécime de Callithrix penicillata, atropelado na alameda principal (em verde); ponto “K” no mapa. Coordenadas Geográficas: 23º 35’ 7.60” S e 46º 57’ 55.30” O. Fonte figura B: Google Earth, 2011.

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No dia 19 de outubro, por volta das 18h30, um espécime de Tomodon

dorsatus (Duméril, Bibron & Duméril, 1854), medindo aproximadamente 56 cm

(Figura 18), foi atropelado em uma alameda menos movimentada. Trata-se de uma

espécie da Mata Atlântica; ocorre também em áreas degradadas (matas secundárias

e capoeiras) e se alimenta exclusivamente de lesmas. Ocorre na Mata Atlântica do

Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul (RA-BUGIO, 2012).

Figura 18: espécime de Tomodon dorsatus, atropelado em uma alameda menos movimentada (em marrom); ponto “L” no mapa. Em vermelho, limite do residencial. Coordenadas Geográficas: 23º 35’ 29.30” S e 46º 57’ 48.80” O. Fonte figura B: Google Earth, 2011.

No dia 24 de outubro, por volta das 22h, um espécime de Didelphis aurita

(Wied-Neuwied, 1826), medindo aproximadamente 63 cm (Figura 19), foi atropelado

na alameda principal.

A B

Figura 19: espécime de Didelphis aurita, atropelado na alameda principal (em verde); ponto “M” no mapa. Coordenadas Geográficas: 23º 35’ 18.30” S e 46º 57’ 37.40” O. Fonte figura B: Google Earth, 2011.

No dia 26 de outubro, por volta das 09h50, um espécime de Tomodon

dorsatus (Duméril, Bibron & Duméril, 1854), medindo aproximadamente 50 cm

(Figura 20), foi atropelado na alameda principal.

Figura 20: espécime de Tomodon dorsatus, atropelado na alameda principal (em verde); ponto “N” no mapa. Coordenadas Geográficas: 23º 35’ 20.80” S e 46º 57’ 46.00” O. Fonte figura B: Google Earth, 2011.

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A B

As áreas onde ocorreram os 14 atropelamentos se caracterizam por

Vegetação Secundária em estágio médio de regeneração; próximas a algumas

áreas existe residência de um ou dois lados, porém a maioria havia mata dos dois

lados da via ou bem próximo ao local. A um raio de 50 m do local da colisão não

existe corpo d’água (Figura 21).

Figura 21: Mapa visando os corpos d’água existentes no residencial. E azul: corpos d’água; em verde: Rua Pau Brasil; em marrom: alamedas menos movimentadas; em laranja: Rua Bem-te-vi; pontos em preto (no interior dos círculos vermelhos): pontos dos atropelamentos; círculos em vermelho: 50 m de diâmetro medido a partir do ponto do atropelamento. Fonte: EMPLASA, 1996.

No decorrer da coleta de dados foi registrado um acidente com um espécime

de Veado mateiro/catingueiro, Mazama gouazoubira (Fischer, 1814), na estrada que

liga a Rodovia Raposo Tavares com o Residencial, na Estrada do Pau Furado, no

dia 26 de julho, por volta das 20h30. No dia seguinte, o animal foi levado com vida à

Associação Mata Ciliar, em São Paulo. Porém, devido aos vários ferimentos nas

patas, na região próxima ao focinho e aos olhos e arranhões pelo corpo, o animal

veio a falecer três dias após o incidente. Não houve registro de fotos, apenas das

coordenadas geográficas (Figura 22). Ocorre em toda a América do Sul, habitando

desde áreas florestadas a pequenas manchas de mata (DELLAFIORE e MACEIRA,

2001). É classificado pela IUCN como espécie Pouco Preocupante (IUCN, 2011). A

presença desse gênero indica a importância de se criar medidas de mitigação que

contribuam para a diminuição dos impactos das estradas, em um bioma já tão

ameaçado como a Mata Atlântica.

Figura 22: Em vermelho, limites do Loteamento; em azul, Estrada do Pau Furado; em amarelo, Rod. Raposo Tavares SP-270; ponto “O” onde ocorreu o atropelamento do espécime de Mazama gouazoubira. Coordenadas Geográficas: 23° 35' 40.80" S e 46° 57' 10.90" O. Fonte: Google Earth, 2011.

Também foi registrado outro acidente na mesma estrada, agora envolvendo

um espécime de Gato-do-mato-pequeno, Leopardus tigrinus (Schreber, 1775)

(Figura 23); a colisão ocorreu no dia 24 de outubro, por volta das 21h30. O espécime

morreu na hora do acidente; tinha aproximadamente 77 cm de comprimento, medido

da ponta do focinho à extremidade da cauda. É uma das menores espécies de

felinos presentes no território nacional (CARVALHO et al., 2007). Ocorre da Costa

Rica até o norte da Argentina e em todo o Brasil, ocupando geralmente ambientes

variados, desde áreas mais abertas àquelas com vegetação densa (CARNEIRO,

2012). A caça para o comércio de peles e a destruição das florestas é a principal

causa de ameaça para essa espécie (ZOOSP, 2012; NOWAK 1999; OLIVEIRA

1994). É classificado pela IUCN como espécie Vulnerável (IUCN, 2011) e pelo

IBAMA como ameaçada de extinção (IBAMA, 2011). A presença dessa espécie

ressalta a necessidade de diminuir os impactos antrópicos ao qual tanto o bioma

quanto a região enfrentam, uma vez que esses fragmentos ainda possuem espécies

consideradas especialistas e ainda pouco estudadas.

Figura 23: figura A: espécime de Leopardus tigrinus. Figura B: Em vermelho, limites do Loteamento; em azul, Estrada do Pau Furado; em amarelo, Rod. Raposo Tavares SP-270; ponto “P” onde ocorreu o atropelamento. Coordenadas Geográficas: 23° 36' 15.00" S e 46° 56' 59.20" O. Fonte figura B: Google Earth, 2011.

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B

5 MEDIDAS MITIGATÓRIAS

Espalhadas pelo residencial existem placas informativas (Figuras 24 e 25) nos

pontos onde a travessia da fauna silvestre ocorre com maior frequência.

Figura 24: Placa informativa de travessia presente no residencial; o objeto registrado com a placa possui 12 cm.

Figura 25: Placa informativa de animais silvestres presente no residencial; o objeto registrado com a placa possui 12 cm.

Porém, para uma melhor visualização por parte dos motoristas, uma das

medidas a serem propostas seria a confecção de placas mais atrativas, com figuras

e cores vibrantes, como as exemplificadas nas Figuras 26 e 27, que poderiam

substituir as já existentes.

Figura 26: Modelo de placa para substituir as existentes, onde há passagens aéreas.

Figura 27: Modelo de placa para serem espalhadas por todo o residencial.

A travessia da fauna de maneira mais segura pode ser incentivada de três

formas. Na primeira forma, os animais e os veículos transitam em um mesmo nível

na rodovia, mas a possibilidade de acidente é minimizada pela diminuição drástica

do limite de velocidade no local, com obstáculos que obriguem o motorista a

efetivamente respeitá-lo. Esta solução implica em relativo pouco investimento em

reformas na pista e pode ser aplicada em locais onde já se tenha identificado um

trecho de maior ocorrência de atropelamentos.

Pelo condomínio estão espalhadas algumas passagens aéreas de fauna

(Figura 28), porém nos pontos onde mais ocorreram os atropelamentos, essas

passagens não existem (Figura 29). De baixo custo, essas podem ser

confeccionadas com cordas e pedaços de madeira ou apenas uma corda ligando a

parte da copa de uma árvore de um lado da rua para o outro, fundamental para a

locomoção dos pequenos primatas.

Figura 28: Passagem aérea de fauna existente no condomínio.

Figura 29: Passagens aéreas. A: locais onde elas existem (em marrom) na alameda principal (em verde). B: sugestão de outros locais para colocação dessas (em rosa claro) – sugestão para as alamedas de maior movimento. Fonte: Google Earth, 2011.

A

B

Na segunda forma de travessia, os animais passam por baixo da estrada

através de passagens subterrâneas/galerias. É uma medida que também não

enfrenta resistência dos motoristas, pois não implica em redução rigorosa de

velocidade nem aumento de percurso ocasionado por desvios. Essas passagens

devem ser combinadas à cercas ou barreira vegetal/artificial, direcionando os

animais para as devidas passagens, para que não tenham acesso à pista nesta área

(Figura 30). É ideal para animais silvestres terrestres de pequeno ou médio porte,

porém é uma medida custosa, pois implica na construção e manutenção destas

estruturas e nem sempre sua implantação é possível.

Figura 30: Ilustração de um modelo de passagem subterrânea para fauna terrestre. Fonte: OIKOS, 2004.

Na terceira forma de travessia, os veículos atravessam túneis por baixo do

habitat das populações naturais (Figura 31). Também é uma medida custosa,

dependendo do relevo da região. Para os motoristas é uma medida confortável e,

para os animais, aparentemente é a melhor solução, pois estes não têm de se

habituar a passagens artificiais para transitarem por suas áreas de vida.

Figura 31: Exemplo de ponte suspensa para passagem de urso no Canadá. Fonte: ESTRADAS, 2012.

Existem alternativas mais baratas e de implantação mais fácil para passagens

de fauna voltadas para animais terrestres, como pontes suspensas, também

associadas a cercas e grandes faixas de tecido suspensas como pontes para a

travessia de roedores e marsupiais, porém são pouco utilizadas no Brasil e sua

eficácia ainda foi pouco estudada (Figura 32).

Figura 32: Exemplo de cercas de contenção. Fonte: ESTRADAS, 2012.

A realização de campanhas educativas junto aos moradores de todas as

idades, sendo eles motoristas ou não, também seria uma medida para diminuir essa

frequência de acidentes, sendo realizadas principalmente no período que antecede

os meses de maior ocorrência. Folhetos entregues na portaria do Residencial com

informações sobre as espécies presentes e os efeitos que os atropelamentos

causam, também poderiam contribuir para a conscientização dos motoristas, assim

como a presença de faixas com fotos dos animais e da importância de se dirigir

devagar e prestar atenção à fauna local.

Acreditamos que essas medidas possam contribuir para a diminuição do

impacto das estradas sobre os animais presentes nessa região. Através dos

resultados, percebemos que o fragmento onde o residencial está inserido, ainda

possui espécies importantes de mamíferos de médio e grande porte, o que torna

essencial a conservação e preservação dos fragmentos presentes tanto no

residencial quanto na região. Caso as medidas forem adotadas com sucesso,

sugere-se também a implantação das mesmas medidas nas estradas do entorno,

principalmente onde foram encontrados os espécimes de Mazama gouazoubira e de

Leopardus tigrinus, o que ressalta a importância dessa região para a manutenção

dessas espécies.

6 CONCLUSÃO

O alto número de atropelamentos registrados no loteamento reflete a

necessidade dos animais em se deslocar para conseguir alimento e possivelmente

buscar um habitat adequado para viver, pois há um grande número de vendas de

terrenos e consequentemente o corte da vegetação para a construção das

residências. Possivelmente também, as estradas estão localizadas dentro da área

de vida desses animais, o que torna imprescindível a adoção de medidas

mitigatórias.

No período do estudo, ao menos quatro espécime de gambás-de-orelha-preta

e quatro de sagui-do-tufo-preto foram mortos; dessa forma, há a necessidade de

estudos de estimativas populacionais das espécies na área para mensurar o impacto

desses atropelamentos na população local.

Além de um número relativamente alto de animais atropelados, incluindo o

registro de uma espécie ameaçada de extinção, mesmo fora da área em questão

estudada, sugere-se que a área e seus arredores comportam uma expressiva

riqueza de animais silvestres, apesar da pressão antrópica nelas existente.

As medidas de mitigação aqui propostas são essenciais para uma redução na

taxa de atropelamentos e manutenção das populações de animais silvestres nessa

área.

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