Atualização-Manual Proc Civil- Daniel Assunção 4 - 5 Ed

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  • 8/17/2019 Atualização-Manual Proc Civil- Daniel Assunção 4 - 5 Ed

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    Manual de Direito Processual Civil – Volume Único

    Daniel Amorim Assumpção Neves

    4.ª para 5ª edição 

    Prezado  Leitor,  os  trechos  em  fonte  na  cor  vermelha  indicam  que  houve  alteração  ou acréscimo de  texto pelo autor. Os  trechos  tachados  foram excluídos do  texto. Os  trechos em  fonte preta  já  existiam  na  edição  anterior  da  obra.  Para  localização  do  conteúdo,  foram  indicados  os números dos  itens onde o texto se encontra. Observe que os números das notas de rodapé podem divergir do seu livro impresso, atente‐se ao conteúdo do paragráfo ao qual a nota está ligada. 

    3.1.5. TEORIA DA ASSERÇÃO Em síntese conclusiva, o que  interessa para  fins da existência das condições da ação para a 

    teoria da asserção é a mera alegação do autor, admitindo‐se provisoriamente que o autor está dizendo a verdade. Se o autor alega  ser o possuidor numa ação possessória,  já basta para  considerá‐lo parte 

    legítima, 

    sendo 

    análise 

    da 

    veracidade 

    ou 

    não 

    dessa 

    alegação 

    relegada 

    ao 

     juízo 

    de 

    mérito

    1

    Existem 

    decisões do Superior Tribunal de Justiça que adotam a teoria da asserção2. 

    3.3.3.3. PEDIDO IMPLÍCITO Quanto aos  juros moratórios, é preciso lembrar o teor da Súmula 254 do STF, que admite sua 

    inclusão na  liquidação de sentença mesmo quando omissa a sentença  liquidanda. Esse entendimento torna os  juros moratórios uma verdadeira “condenação  implícita”3, porque o autor  terá direito a eles mesmo que o  juiz não os conceda expressamente na sentença. Ainda haverá um  juiz que extinguirá o pedido de condenação do réu ao pagamento de  juros moratórios por falta de  interesse de agir com o argumento de que não é necessário  se pedir  tutela que o autor ganhará  independentemente de sua concessão pela decisão  judicial. Registre‐se que o Superior Tribunal de Justiça não admite a inclusão de  juros remuneratórios e moratórios capitalizados4. 

    4.5.5.2. JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS  – LEI 10.259/2001 A competência do Juizado Cível Federal vem prevista no art. 3.º da Lei 10.259/2001, contendo 

    logo em seu caput a regra de competência em razão do valor da causa: 60 salários‐mínimos, afirmando ainda que apenas as causas de competência da Justiça Federal (art. 109 da CF) até esse valor serão de competência do Juizado Especial Federal, o que parece inclusive desnecessário pela obviedade. Segundo entendimento  do  Superior  Tribunal  de  Justiça,  havendo  litisconsórcio  ativo  o  teto  indicado  pela  lei deverá ser calculado de forma autônoma.5 

    Há  também  no  dispositivo  legal  várias  restrições  concernentes  à  matéria,  que obrigatoriamente deverão seguir perante a Justiça Comum Federal. Na verdade, numa análise do artigo legal ora anunciado à luz do art. 109 da CF, se perceberá que, a  priori , tão somente as causas previstas por seu inciso I poderão tramitar perante o Juizado Especial Federal6. 

    4.7.2.1.4.  OBRIGATORIEDADE  OU  FACULTATIVIDADE  NA  REUNIÃO  DE  PROCESSOS  EM RAZÃO DA CONEXÃO 

    Apesar de toda a polêmica que envolve a questão da obrigatoriedade ou não da reunião de processos  conexos,  acredito  que  uma  reunião  que  não  possa  alcançar  nenhum  dos  dois  objetivos 

    1 Greco,  A  teoria, n. 2.3, p. 23‐25; Marinoni,  Teoria, p. 181‐182; Câmara,  Lições,  v. 1, p. 122; Barbosa Moreira, Legitimação, p. 200. 2  Informativo 488/STJ, 4ª Turma, REsp 595.188‐RS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira,  julgado em 22/11/2011;  STJ, 3.ª  Turma,  REsp  832.370/MG,  Rel. Min.  Nancy  Andrighi,  j.  02.08.2007;  REsp  265.300/MG,  2.ª  Turma,  rel. Min. Humberto Martins,  j. 21.09.2006. 3  Contra: Calmon de Passos, Comentários, n. 32.2, p. 237. 

    4 Informativo

     492/STJ:

     2ª

     Seção,

     EInf 

     nos

     EDcl

     na

     AR

     3.150

    ‐MG,

     Rel.

     Min.

     Massami

     Uyeda,

      julgados

     em

     29/2/2012.

     5 Informativo 507/STJ: 2ª Turma, REsp 1.257.935‐PB, Rel. Min. Eliana Calmon,  julgado em 18/10/2012.. 6  Nesse sentido Lima Freire‐Guedes,  Juizados, p. 590. 

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    Manual de Direito Processual Civil – Volume Único

    Daniel Amorim Assumpção Neves

    4.ª para 5ª edição 

    traçados  para  o  instituto  está  totalmente  fora  de  questão.  A  aplicação  automática,  sem  nenhuma ponderação  a  respeito  da  ratio  da  norma  não  se  justifica.  E  parece  concordar  com  tal  posição  a  jurisprudência, sumulando o Superior Tribunal de Justiça o entendimento de que não existe reunião de processos  conexos quando um deles  já estiver no  tribunal7,  circunstância esta em que obviamente a reunião dos processos não geraria qualquer economia processual ou harmonia dos  julgados, visto que em um deles a prova  já foi produzida e a decisão  já foi prolatada. 

    Há diversos  julgados do Superior Tribunal de Justiça que afirmam expressamente existir um verdadeiro  juízo de conveniência baseado em  juízo de discricionariedade na reunião de ações conexas, deixando suficientemente claro não ser obrigatória tal reunião no caso concreto8. 

    Pacificada  a  não  obrigatoriedade  de  reunião  de  ações  conexas,  é  preciso  registrar  que 

    havendo 

    ações 

    conexas 

    de 

    diferentes 

    competências 

    absolutas 

    em 

    trâmite 

    haverá 

    um 

    impedimento 

    legal 

    para sua reunião perante o  juízo prevento9. Havendo o perigo de decisões conflitantes, o máximo que poderá ser feito é a suspensão de uma das ações em razão de prejudicialidade externa (art. 265, IV, a, CPC)10. 

    Durante certo tempo houve dúvida acerca de como proceder na hipótese de ações coletivas conexas em trâmite na Justiça Federal e na Justiça Estadual. Enquanto a 1.ª Seção do Superior Tribunal de Justiça entendia no sentido de ser possível a reunião de ações coletivas originariamente em trâmite na  Justiça  Estadual  e  na  Justiça  Federal  perante  a  segunda,  aparentemente  desprezando  as  demais regras que determinam a prevenção do  juízo11, a 2.ª Seção entendia pela  inviabilidade de reunião em razão das diferentes competências de Justiça das duas ações coletivas12. O primeiro entendimento, pela reunião perante a Justiça Federal, acabou prevalecendo e gerou a Súmula 489. 

    5.1. CONCEITO Para a existência do litisconsórcio é irrelevante a postura no processo dos sujeitos que litigam 

    no  mesmo  polo,  sendo  admissível,  inclusive,  que  sejam  adversários  entre  si  na  demanda   judicial. Registre‐se a corrente doutrinária que faz distinção entre litisconsórcio  – multiplicidade de sujeitos com certa  afinidade  de  interesses  –  e  cumulação  subjetiva  –, multiplicidade   de  sujeitos  com  interesses contrapostos  . Prefiro, entretanto, o entendimento de que, havendo a possibilidade de a decisão  ser diferente para os  litisconsortes  –  litisconsórcio  simples  –, não deixará de existir um  litisconsórcio na hipótese  de  os  litisconsortes  terem  interesses  conflitantes  .  Basta  imaginar  o  litisconsórcio  passivo formado em ação de consignação de pagamento em razão de dúvida a respeito de quem é o credor da dívida. 

    5.10.6. PRAZO PARA OS LITISCONSORTES Segundo o art. 191 do CPC, havendo  litisconsortes com patronos diferentes os prazos para 

    contestar, recorrer

     e,

     em

     geral,

     falar

     nos

     autos

     serão

     contados

     em

     dobro.

     A

     literalidade

     da

     norma

     deixa

     

    suficientemente  claro  que  não  basta  uma  pluralidade  de  sujeitos,  devendo  também  existir  uma 

    7  Súmula 275 do STJ. 8STJ, 4ª Turma, REsp 1.278.217/MG, rel. Min. Luis Felipe Salomão,  j. 16/02/2012, DJe 13/03/2012; STJ, 3ª Turma, REsp 1.226.016/RJ, rel. Min. Nancy Andrighi,  j. 15/03/2011, DJe 25/03/2011. 9 Informativo 504/STJ, CC 119.090‐MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,  julgado em 12/9/2012. 10

     Informativo 496/STJ, 2ª Seção, AgRg no CC 112.956‐MS, Rel. Min. Nancy Andrighi,  julgado em 25/4/2012. 11

      CC  78.058/RJ,  Conflito  de  Competência  2007/0013713‐0,  1.ª  Seção,  Rel.  Min.  Herman  Benjamin  (1132),  j. 24.11.2010, DJe 01.02.2011;  CC  90.722/BA, Conflito de  Competência  2007/0244194‐7,  1.ª  Seção, Rel. Min.  José Delgado (1105), Rel. p/ Acórdão Min. Teori Albino Zavascki (1124),  j. 25.06.2008, DJe 12.08.2008 12

     CC 11.1727 / SP, Conflito de Competência, 2010/0073662‐0, 2ª Seção, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO (1143),  j. 

    25/08/2010, DJe

     17/09/2010;

     CC

     53435

     / RJ,

     Conflito

     de

     Competência,

     2005/0136633

    ‐6,

     2ª

     Seção,

     Rel.

     MIn.

     CAstro

     Filho (1119),  j. 08/11/2006, DJ 29/06/2007 

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    Manual de Direito Processual Civil – Volume Único

    Daniel Amorim Assumpção Neves

    4.ª para 5ª edição 

    pluralidade de patronos, sendo nítida a razão da norma, porquanto somente quando há pluralidade de patronos  se  verificam  no  caso  concreto  dificuldades  de  acesso  aos  autos  que  justifiquem  um  prazo diferenciado para a efetiva prática dos atos processuais. 

    Como  se pode notar da norma ora  analisada, os  requisitos para  a  contagem de prazo  em dobro são objetivos, sendo  irrelevante quem sejam os  litisconsortes ou seus patronos. Partindo dessa premissa, o Superior Tribunal de Justiça  já teve a oportunidade de decidir que, mesmo na hipótese de litisconsórcio  entre  pessoas  casadas,  havendo  diversidade  de  patronos,  os  prazos  se  contarão  em dobro13. 

    Nem sempre, entretanto, o prazo recursal dos litisconsortes será contado em dobro, mesmo que com patronos diferentes. O entendimento consolidado pela Súmula 641 do STF é de que não se 

    conta 

    em 

    dobro 

    prazo 

    para 

    recorrer 

    quando 

    só 

    um 

    dos 

    litisconsortes 

    haja 

    sucumbido. 

    teor 

    da 

    súmula,  na  realidade,  diz menos  do  que  gostaria.  Os  precedentes  que  possibilitaram  a  sua  edição demonstram que o prazo não será em dobro se não houver mais a  justificativa de dificuldade de acesso aos autos no caso concreto. É natural que, sucumbindo somente um litisconsorte, o prazo não deva ser em  dobro,  mas  também  não  será  diferenciado  o  prazo  na  hipótese  de  mais  de  um  litisconsorte sucumbir,  desde  que  representados  pelo  mesmo  patrono14.  Tanto  num  caso  como  no  outro  a  justificativa de dificuldade de acesso aos autos está afastada, devendo ser aplicado o entendimento de que o prazo recursal será simples. 

    Registre‐se,  por  fim,  que  o  entendimento  sumulado  não  se  aplica  aos  embargos  de declaração, considerando que, nesse recurso, mesmo a parte vencedora tem interesse recursal. Como o objetivo  dessa  espécie  recursal  é melhorar  a  qualidade  formal  da  decisão,  é  inegável  que  tanto  os vencedores quanto os derrotados têm interesse nessa melhora, de forma a ser sempre aplicável a regra do prazo em dobro previsto no art. 191 do CPC 

    6.1.1.1. AMICUS CURIAE Interessante  consignar  entendimento  de  doutrinador  especialista  no  tema  que  defende, 

    mesmo  sendo  considerado  o  amicus  curiae  um  mero  auxiliar  do   juízo,  sua  legitimidade  recursal. Aproximando a participação do amicus curiae do custos legis, por uma aplicação extensiva do art. 499, § 2.º, do CPC, admite a legitimidade recursal do amicus curiae quando sua atuação se assemelhar à de um fiscal da lei, incumbência atualmente dada de forma expressa por nossa legislação ao Ministério Público. E mesmo nos casos em que essa proximidade não seja  tão evidente, valendo‐se da existência de um interesse institucional por parte do terceiro, entende que o amicus curiae pode ser compreendido como espécie de terceiro prejudicado para fins de legitimidade recursal15. 

    Registre‐se, por fim, posicionamento do Superior Tribunal de Justiça que limita a intervenção do  amicuscuriae  às  hipóteses  expressamente  consagradas  em  lei16,  restringindo  sua  atuação  ao 

    processo objetivo,

     à analise

     da

     repercussão

     geral

     no

     recurso,

     ao

      julgamento

     por

     amostragem

     dos

     

    recursos excepcionais e ao incidente de inconstitucionalidade. 

    6.5.2.3.  DENUNCIAÇÃO  DO  OBRIGADO,  POR  LEI  OU  CONTRATO,  A  INDENIZAR REGRESSIVAMENTE A PARTE (ART. 70, III, DO CPC) 

    Não  é  unânime  a  doutrina  a  respeito  do  tema17,  e  a   jurisprudência  parece  estar  se modificando,  registre‐se,  para melhor.  Após  um  posicionamento  pela  adoção  da  teoria  restritiva18, 

    13 Informativo 506/STJ, 4.ª Turma, REsp 973.465‐SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,  j. 04.10.2012. 

    14 STJ, 4.ª Turma, AgRg nos EDcl no Ag 1.145.386/SC, Rel. Min. Raul Araújo,  j. 10.08.2010, DJe 25.08.2010. 

    15  Cassio Scarpinella Bueno,  Amicus curiae, p. 565‐569. 

    16 Informativo 488/STJ: 2ª Seção, REsp 1.023.053‐RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti,  julgado em 23/11/2011. 

    17 A

     favor,

     Theodoro

     Jr.,

     Curso,

     v.

     1,

     p.

     144

    ‐145.

     18  STJ, 1.ª Turma, REsp 903.949/PI, Rel. Min. Teori Albino Zavascki,  j. 15.05.2007, DJ 04.06.2007; STJ, 2.ª Turma, REsp 299.833/RJ, Rel. Min. Castro Meira,  j. 14.11.2006, DJ 15.12.2006; STJ, 1.ª Seção, REsp 313.886/RN, Rel. 

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    Manual de Direito Processual Civil – Volume Único

    Daniel Amorim Assumpção Neves

    4.ª para 5ª edição 

    inclusive  adotada  em  outras  hipóteses,  tal  como  em  ação  movida  por  paciente  contra  o  hospital (responsabilidade  objetiva)  com  vedação  de  denunciação  da  lide  do  médico  (responsabilidade subjetiva)19,  há  decisões  mais  recentes  do  Superior  Tribunal  de  Justiça  que  reafirmam  não  ser obrigatória a denunciação da lide, permitindo ao  juiz no caso concreto avaliar se o ingresso do terceiro ocasionará prejuízo à celeridade ou à economia processuais20. 

    Por outro lado, mesmo que se admita a teoria restritiva, há uma hipótese em que não haverá qualquer sentido no  impedimento da denunciação da  lide. Alegado pelo Estado em sua defesa, como excludente  de  sua  responsabilidade,  a  culpa  exclusiva  da  vítima,  ou  ainda  culpa  concorrente,  o  juiz necessariamente enfrentará a questão da culpa na demanda originária, e, nesse caso, a denunciação da lide ao funcionário público não traz nenhuma ampliação objetiva indevida21. 

    6.5.4. QUALIDADE PROCESSUAL DO DENUNCIADO Mas nada disso macula o fato de o denunciado realmente não ser titular do direito discutido 

    na  ação  originária,  o  que,  entretanto,  não  afasta  totalmente  a  possibilidade  de  ser  tratado  como litisconsorte do denunciante. Sabe‐se que a legitimação extraordinária permite que um sujeito em nome próprio defenda  interesse de  terceiro, e, embora o art. 6.º do CPC exija a expressa previsão em  lei, a melhor doutrina entende que tal espécie de legitimação pode decorrer  logicamente do sistema, sendo excepcionalmente dispensável a expressa previsão legal. O mais adequado, portanto, à luz da previsão legal de litisconsórcio formado entre denunciante e denunciado, e da ausência de titularidade de direito deste  na  ação  originária,  é  concluir  pela  existência  de  uma  legitimação  extraordinária   autônoma  do denunciado, que permitirá a conclusão de que atua como litisconsorte do denunciante . 

    Registre‐se  que  o  Superior  Tribunal  de  Justiça,  em  especial  nas  demandas  envolvendo denunciação  da  lide  de  seguradora,  vem  entendendo  que,  por  serem  denunciante  e  denunciado litisconsortes,  a  condenação  da  demanda  originária  cria  uma  responsabilidade  solidária  de  ambos perante a parte contrária, admitindo‐se que a execução seja movida diretamente contra o denunciado. A tese vem, inclusive, sendo ampliada para se permitir a execução direta do denunciado para qualquer hipótese de denunciação da lide22. 

    Há decisões que, para manter a coerência do  raciocínio, permitem o  ingresso da demanda diretamente contra a seguradora, deixando‐se fora dela o causador do dano23, ou mesmo a formação de litisconsórcio passivo inicial entre eles,  justamente em razão da solidariedade existente entre ambos24. Registre‐se,  entretanto, decisão  recente que não  admite  a propositura da  ação pela  vítima  somente contra  a  seguradora,  argumentando  que  sendo  necessária  a  discussão  sobre  a  responsabilidade  do segurado na demanda  judicial, sua ausência impediria o exercício da ampla defesa pela seguradora, que sem  condições  de  saber  o  que  efetivamente  ocorreu  não  teria  como  devidamente  se  defender25.  É interessante notar que muitas dessas decisões fundamentam‐se em questões pragmáticas, na busca de 

    uma maior

     efetividade

     do

     processo.

     Afirma

    ‐se

     que

     muitas

     vezes

     o causador

     do

     dano,

     condenado

     na

     

    demanda em que figurou como réu, não tem condições de ressarcir a vítima do ato danoso, de forma 

    Min. Eliana Calmon,  j. 26.02.2004, DJ 22.03.2004. 19

     REsp 801.691/SP, Recurso Especial 2005/0200144‐0, 3.ª Turma, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva (1147),  j. 06.12.2011, DJe 15.12.2011. 20

     REsp 1.187.456/RJ, Recurso Especial 2010/0033058‐5, 2.ª Turma, Rel. Min. Castro Meira (1125),  j. 16.11.2010, DJe 01.12.2010; REsp 955.352/RN, Recurso Especial 2007/0120643‐4, 2.ª Turma, Rel. Min. Eliana Calmon (1114),  j. 18.06.2009, DJe 29.06.2009. 21

      Arruda Alvim, Manual , n. 71, p. 170. 22

     A favor: Theodoro Jr., Curso, v. 1, p. 144; Contra: Marinoni‐Arenhart, Manual , p. 193. 23

     Informativo 488/STJ: 3ª Turma, REsp 1.245.618‐RS, Rel. Min. Nancy Andrighi,  julgado em 22/11/2011.  

    24 STJ,

     3.ª

     Turma,

     REsp

     713.115/MG,

     Rel.

     Min.

     Castro

     Filho,

      j.

     21.11.2006,

     DJ

     04.12.2006;

     STJ,

     4.ª

     Turma,

     REsp

     

    401.718, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira,  j. 03.09.2002, DJ 24.03.2003. 25

     Informativo 490/STJ: 2ª Seção, REsp 962.230‐RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,  julgado em 8/2/2012. 

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    que  não  sofre  real  prejuízo  econômico,  o  que  inviabiliza  a  cobrança  desse  valor  da  seguradora.  O processo,  portanto,  fica  travado;  a  vítima  tem  decisão  a  seu  favor  e merece  receber,  bem  como  o causador  do  dano  tem  decisão  contra  a  seguradora, mas  por  ausência  de  condições  financeiras  do causador do dano em satisfazer a vítima, o credor originário  – vítima  – não recebe, e com isso o devedor final  –  seguradora  –  não  precisa  pagar  nada.  Para  evitar  tal  situação  de  impasse  e  frustração  dos resultados do processo, aplica‐se a literalidade dos arts. 74 e 75, I, do CPC, admitindo‐se o litisconsórcio entre denunciante e denunciado, o que permitirá a condenação e execução direta desse último26. 

    É  interessante  notar  que  muitas  dessas  decisões  fundamentam‐se  em  questões pragmáticas,  na  busca  de  uma  maior  efetividade  do  processo.  Afirma‐se  que  muitas  vezes  o causador  do  dano,  condenado  na  demanda  em  que  figurou  como  réu,  não  tem  condições  de 

    ressarcir 

    vítima 

    do 

    ato 

    danoso, 

    de 

    forma 

    que 

    não 

    sofre 

    real 

    prejuízo 

    econômico, 

    que 

    inviabiliza 

    a cobrança desse valor da seguradora. O processo, portanto,  fica  travado; a vítima  tem decisão a seu favor e merece receber, bem como o causador do dano tem decisão contra a seguradora, mas por  ausência  de  condições  financeiras  do  causador  do  dano  em  satisfazer  a  vítima,  o  credor originário  – vítima  – não recebe, e com isso o devedor final  – seguradora  – não precisa pagar nada. Para evitar tal situação de impasse e frustração dos resultados do processo, aplica‐se a literalidade dos arts. 74 e 75,  I, do CPC, admitindo‐se o  litisconsórcio entre denunciante e denunciado, o que permitirá a condenação e execução direta desse último. 

    Emblemática nesse  sentido decisão da 2ª  Seção  do  Superior  Tribunal de  Justiça na qual o fundamento para  justificar a condenação direta do denunciado à lide é privilegiar o propósito maior do processo, que  é  a pacificação  social,  a efetividade da  tutela  judicial prestada,  a duração  razoável do processo e a indenizabilidade plena do plenamente o dano sofrido27. 

    6.5.7. PROCEDIMENTO DA DENUNCIAÇÃO PELO RÉU Segundo o art. 76 do CPC, a sentença que  julgar procedente a ação, declarará o direito do 

    evicto ou a responsabilidade por perdas e danos, servindo como título executivo. A doutrina majoritária entende haver uma  imprecisão da  redação do dispositivo  legal porque a  sentença não  tem natureza declaratória  no  capítulo  em  que  decide  a  denunciação  da  lide  com   julgamento  de  procedência. Entendendo o  juiz existir o direito regressivo alegado pelo denunciado, não bastará a mera declaração da existência do direito, mas além de tal declaração deve condenar o denunciado nos termos do pedido do denunciante, que naturalmente não tem natureza meramente declaratória, e sim condenatória . De todo modo, qualquer que se entenda ser a natureza da sentença no capítulo que decide a denunciação da lide, trata‐se de título executivo  judicial, por expressa previsão legal. 

    6.6.2. HIPÓTESES

     DE

     CABIMENTO

     

    Sendo demandado apenas um ou alguns dos devedores solidários, admite‐se o chamamento ao processo dos demais devedores solidários não escolhidos originariamente pelo credor que moveu a demanda  judicial. O  art.  77,  III,  do  CPC,  portanto,  prevê  a  hipótese  típica  de  dívida  solidária  entre  os  devedores principais quando nem todos são escolhidos pelo credor para figurar no polo passivo da demanda  judicial. 

    No tocante a essa última hipótese de cabimento prevista pelo art. 77 do CPC, entendimento consagrado nos  tribunais  superiores  pela  impossibilidade  de  chamamento  ao  processo da União  em ação  na  qual  se  pede  a  condenação  de  Estado‐membro  a  entrega  de medicamentos.  Além  de  se entender  que  a medida  é meramente  protelatória,  sem  qualquer  efeito  prático  para  o  processo28, também é  limitado o chamamento ao processo de devedores solidários à obrigação de pagar quantia 

    26 Informativo

     490/STJ:

     2ª

     Seção,

     REsp

     925.130

    ‐SP,

     Rel.

     Min.

     Luis

     Felipe

     Salomão,

      julgado

     em

     8/2/2012

     27 Informativo 490/STJ, 2ª Seção, REsp 925.130‐SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,  julgado em 8/2/2012. 

    28 STF, 1ª Turma, RE 607.381 AgR/SC, rel. Min. Luiz Fux,  j. 31/05/2011, DJe 16/06/2011. 

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    certa29. 

    12.4.1. PARTICIPAÇÃO DO RÉU REVEL NO PROCEDIMENTO PROBATÓRIO No  campo  probatório,  entretanto,  a  aparente  simplicidade  da  regra  prevista  no  art.  322, 

    parágrafo único, do CPC pode  esconder  algumas  complicações. Naturalmente  a  regra  continua a  ser aplicada, mas  é  imprescindível para  fixar o  seu  exato  alcance  a percepção  de que  a prova  surge no processo mediante um procedimento probatório,  sendo a participação  do  réu  revel  condicionada ao momento desse procedimento probatório quando  ingressa no processo  . A  Súmula  231 do  Supremo Tribunal  Federal  permite  a  produção  de  prova  pelo  réu  revel, mas  há  limitações  que  dependem  do momento de ingresso no processo. 

    16.2.2.1.8. DESISTÊNCIA DA AÇÃO É preciso atenção  com a previsão do art. 267, § 4.º, do CPC, que exige a anuência do  réu 

    depois de decorrido o prazo de defesa para que o  juiz possa extinguir o processo por desistência do autor. Na realidade, o momento a partir do qual se exige a anuência do réu não é o decurso do prazo de resposta, mas a efetiva apresentação de defesa no processo, razão pela qual não se exige a intimação de réu revel para que o  juiz acate a desistência pedida pelo autor30. Tampouco poderá o autor desistir da demanda sem a anuência do réu caso este tenha apresentado sua defesa antes do vencimento do prazo legal para tanto (apresentada contestação no quinto dia, a anuência passa a ser exigida nesse momento, e não somente depois do décimo quinto dia)31. Basicamente, sem contestação do réu não é necessária sua anuência quanto ao pedido de desistência do autor32, sendo entendido que seu silêncio quanto ao pedido representa aceitação tácita da desistência33. 

    16.5.1. RECORRIBILIDADE DA SENTENÇA EXTRA PETITA Proferida sentença extra  petita, o recurso cabível é a apelação

    34, com pedido de anulação da 

    sentença 

    fundada 

    no 

    error  in  procedendo intrínseco. O ingresso de embargos de declaração não deve ser 

    a  priori  e genericamente descartado, ficando reservado, entretanto, para as excepcionais hipóteses em 

    que 

    se 

    admite 

    que 

    esse 

    recurso 

    tenha 

    efeitos 

    infringentes. 

    Provida 

    apelação, 

    com 

    consequente 

    anulação da sentença, o processo retorna ao primeiro grau de  jurisdição para a prolação de uma nova 

    sentença35, 

    existindo 

    doutrina 

    que 

    defende 

    aplicação 

    por 

    analogia 

    da 

    teoria 

    da 

    causa 

    madura 

    (art. 

    515, 

    § 3.º, do CPC), o que permitiria ao  tribunal  julgar  imediatamente o mérito da demanda após anular a 

    sentença 

    recorrida36. 

    19.2. OBJETO IMEDIATO DO RECURSO 

    Sempre que

     o objetivo

     do

     legislador

     não

     consistir

     em

     preservar

     o ordenamento

      jurídico,

     ou

     

    29 Informativo 490/STJ, 2ª Turma, REsp 1.009.947‐SC, Rel. Min. Castro Meira,  julgado em 7/2/2012. 

    30  Nery‐Nery, Código, p. 505. 

    31 Theodoro Jr., Curso, n. 322, p. 356‐357; Moniz de Aragão, Comentários, n. 532, p. 451; Greco Filho, Direito, n. 17.2, p. 73. 32

      STJ, 5.ª Turma, REsp 591.849/SP, rel. Min. Laurita Vaz,  j. 10.08.2004, DJ 06.09.2004. 33

     Informativo 499/STJ, 3ª Turma, REsp 1.036.070‐SP, Rel. Min. Sidnei Beneti,  julgado em 5/6/2012. 34

      Nery‐Nery, Código, p. 669. 35

     Marinoni‐Arenhart, Manual , p. 413; Costa Machado, Código, p. 468. Informativo 504/STJ, 4ª Turma, REsp 1.294.166‐GO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,  julgado em 18/9/2012.  

    STJ,  2.ª  Turma,  REsp  988.870/SP,  rel. Min.  Castro Meira,  j.  27.11.2007,  DJ  10.12.2007;  STJ,  1.ª  Turma,  REsp. 

    784.159/SC, rel.

     Min.

     Denise

     Arruda,

      j.

     17.10.2006,

     DJ

     07.11.2006.

     36  Bedaque, Apelação, n. 2.1, p. 450‐451; STJ, 1.ª Turma, REsp 796.296/MA, rel. Min. José Delgado,  j. 04.05.2006, DJ 29.05.2006. 

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    4.ª para 5ª edição 

    ainda,  o  direito  objetivo,  mas  proteger  o  interesse  particular  da  parte  (direito  subjetivo)  no  caso concreto, o recurso será classificado como ordinário. Em regra, o recurso é ordinário, sendo que todos os  recursos  com  previsão  legal  que  não  sejam  extraordinários  são  considerados  como  ordinários.  É evidente que, nesses casos, também se obterá uma preservação do direito objetivo por meio de uma melhor aplicação da lei, mas essa é uma mera consequência do provimento do recurso, cuja existência se  justifica na proteção do direito subjetivo  da parte. 

    20.3. EFEITO DEVOLUTIVO Carlos figura em demanda  judicial no polo passivo, alegando em sua defesa 

    a  prescrição  da  dívida  cobrada  e,  subsidiariamente,  a  sua  extinção  em  razão  de 

    compensação 

    com 

    outra 

    dívida. 

    Acolhida 

    prescrição, 

    é 

    natural 

    que 

     juiz 

    não 

    enfrente a alegação de compensação, atividade que se mostra inútil nesse momento processual  em  razão  da  vitória  do  réu  fundada  em  decisão  de  mérito.  Sendo  a prescrição  a  única  matéria  enfrentada  na  sentença,  o  recurso  do  autor  terá exclusivamente tal matéria como objeto. Ocorre, entretanto, que, uma vez afastada a prescrição em grau recursal, em aplicação das  regras referentes à profundidade do efeito devolutivo, o Tribunal deverá passar a análise da alegação de compensação, ainda que  a mesma não  tenha  sido  enfrentada  no primeiro  grau ou  ainda que  as partes  não  tenham  a  ela  se  referido  no  recurso  ou  nas  contrarrazões37.  Esse  julgamento imediato, entretanto, depende de como o processo se encontra no caso concreto, porque sendo necessária instrução probatória para se decidir a respeito da compensação, e não tendo tal prova sido produzida, é natural que a demanda volte ao primeiro grau de  jurisdição para regular andamento. 

    Cumpre destacar elogiosamente  julgamento do Superior Tribunal de Justiça que, ao aplicar a profundidade  do  efeito  devolutivo  permitiu  o  conhecimento  de  matéria  que  não  havia  sido anteriormente decidida em  julgamento de  recurso especial38. A espécie de  recurso  chama a atenção porque nesse caso a profundidade da devolução afasta o prequestionamento, conforme expressamente reconhecido no  julgamento mencionado. 

    20.5. EFEITO TRANSLATIVO Tal entendimento acaba por exigir tanto o prequestionamento quanto a aplicação do efeito 

    translativo. As matérias de ordem pública, portanto,  somente poderão  ser  conhecidas,  ainda que ex  officio,  se  o  recurso  for  conhecido.  Caso  o  recurso  especial  ou  extraordinário  tenha  como  objeto somente a pretensa ofensa a uma matéria de ordem pública que não  tenha sido discutida e decidida 

    pelo Tribunal,

     o recurso

     não

     deverá

     ser

     conhecido,

     e assim

     tal

     matéria

      jamais

     chegará

     a ser

     analisada39.

     

    Mas  se  outra matéria  qualquer  foi objeto  de  prequestionamento  e  é  impugnada  pelo  recorrente,  o recurso  deve  ser  conhecido  e  a  partir  desse momento  admite‐se  o  enfrentamento  das matérias  de ordem pública (alegadas pelo recorrente ou de ofício). 

    Apesar de  ter durante  razoável período de  tempo adotado  tal  entendimento40, o  Superior 

    37  Informativo STJ/329, 6.ª Turma, REsp 794.089/RJ, rel. Min Maria Thereza de Assis Moura,  j. 28.08.2007. 

    38 I490/STJ: 2ª Seção, EREsp 595.742‐SC, Rel. originário Min. Massami Uyeda, Rel. para o acórdão Min. Maria Isabel Gallotti,  julgados em 14/12/2011. 39

     Gusmão Carneiro, Requisitos, p. 119, Oliveira, Recurso, p. 339‐342; Lima Freire, Condições, p. 89. 40

      AgRg  no  Ag  1.357.618/SP,  AgRg  no  AI  2010/0174457‐4,  rel. Min. Maria  Isabel Gallotti  (1145),  4.  ª  Turma,  j. 26.04.2011,  publ.  /Fonte  DJe  04.05.2011;  AgRg  no  Ag  1.382.247/RS,  AgRg  no  AI  2010/0210946‐0,  rel.  Min. 

    Humberto Martins,

     2.ª

     Turma,

      j.

     14.04.2011,

     publ.

     /Fonte

     DJe

     26.04.2011;

     EDcl

     no

     AgRg

     no

     AgRg

     1.185.325/RJ,

     EDcl

     

    no AgRg no AI 2009/0083436‐4, rel. Min. Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ/SP) (8175), 6.ª Turma,  j. 22.02.2011, publ./Fonte DJe 14.03.2011; EDcl no AgRg no REsp 1.043.561/RO, EDcl no AgRg no REsp 2008/0064147‐

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    Tribunal de Justiça passou a decidir conforme o entendimento desde sempre consagrado no Supremo Tribunal Federal, de  forma a exigir o prequestionamento de  todas as matérias,  inclusive as de ordem pública41. 

    21.3. SINGULARIDADE (UNIRRECORRIBILIDADE OU UNICIDADE) Existe  ainda  doutrina  que  entende  haver  exceção  ao  princípio  ora  analisado  em  razão  da 

    previsão  de  cabimento  de  embargos  de  declaração  contra  qualquer  pronunciamento  judicial. Nesse caso,  além  do  recurso  especificamente  cabível,  será  também  cabível  o  recurso  de  embargos  de declaração42.  Apesar  de  concordar  com  a  possibilidade  de  uma  das  partes,  por  exemplo,  apelar  da sentença,  enquanto  a  outra  ingressa  com  embargos  de  declaração  –  não  parece  admissível  que  a 

    mesma 

    parte 

    ingresse 

    com 

    os 

    dois 

    recursos 

    simultaneamente

    43 

     –, 

    essa 

    situação 

    decorre 

    da 

    excepcional 

    circunstância da ausência de efeito preclusivo dos embargos de declaração. Essa também é a razão pela qual a parte pode aparentemente optar pela utilização dos embargos de declaração e do outro recurso cabível44. Ocorre, entretanto, que o princípio da singularidade continua a ser aplicado, porque, sendo a decisão omissa, obscura ou contraditória, o recurso cabível são os embargos de declaração, ainda que se admita outro em razão da ausência de eficácia preclusiva dos embargos de declaração. 

    O Superior Tribunal de  Justiça  já  teve a oportunidade de decidir que a  interposição de um mesmo recurso contra duas diferentes decisões não viola o princípio da taxatividade 45. Concordo com o entendimento,  mas  não  do   julgado  que  o  consagrou.  De  fato  duas  decisões  interlocutórias sucessivamente  proferidas  podem  ser  objeto  de  apenas  um  agravo  de  instrumento,  em  respeito  ao princípio da economia processual, mas para que isso seja possível deve se respeitar o prazo recursal da decisão anteriormente proferida. No  julgado mencionado as decisões  foram proferidas  com  cerca de três meses de intervalo, de forma que a primeira decisão proferida, por estar preclusa, não poderia mais ser  impugnada. Entendo que nesse caso o recurso deveria ter sido parcialmente recebido, somente no tocante à impugnação da segunda decisão. 

    21.5. DIALETICIDADE O  princípio do contraditório exige do recorrente a exposição de seus fundamentos recursais, 

    indicando precisamente qual a  injustiça ou  ilegalidade da decisão  impugnada. Essa exigência permite que o recurso tenha efetivamente uma característica dialética, porque somente diante dos argumentos do  recorrente  o  recorrido  poderá  rebatê‐los,  o  que  fará  nas  contrarrazões  recursais46.  É  de  fato impossível ao recorrido rebater alegações que não existam, ainda que sabidamente as contrarrazões se prestem  a  defender  a  legalidade  e  a  justiça  da  decisão  impugnada.  Significa  dizer  que  a  tônica  da manifestação é presumível, mas os seus limites objetivos somente poderão ser determinados diante da fundamentação da pretensão recursal. 

    3, rel. Min. Francisco Falcão (1116), rel. p/ Acórdão Min. Luiz Fux (1122), 1.ª Turma,  j. 15.02.2011, publ. /Fonte DJe 28.02.2011, RDDP, vol. 98, p. 134. 41

     STJ, 2ª Turma, AgRg no REsp 1.271.016/RS, rel. Min. Humberto Martins,  j. 26/06/2012, DJe 29/06/2012; STJ, 1ª Turma, AgRg no REsp 1.269.158/DF, rel. Min. Benedito Gonçalves,  j. 19/06/2012, DJe 22/06/2012; STJ, 4ª Turma, EDcl no REsp 1.282.259/AL, rel. Min. Maria Isabel Gallotti,  j. 19/06/2012, DJe 26/06/2012; STJ, 3ª Turma, AgRg no REsp 1.189.824/RS, rel. Min. Massami Uyeda,  j. 10/04/2012, DJe 20/04/2012. 42

     Araken de Assis, Manual , n. 7, p. 84; Pimentel Souza,  Introdução, n. 4.3, p. 110; Marinoni‐Arenhart, Manual , p. 521. 43

     Nery Jr., Teoria, n. 2.4, p. 138. 44

     Contra, entendendo haver preclusão diante da não interposição de embargos de declaração, Nery Jr., Teoria, n. 2.4, p. 138. 

    45 Informativo

     503/STJ,

     3ª

     Turma,

     REsp

     1.112.599

    ‐TO,

     Rel.

     Min.

     Nancy

     Andrighi,

      julgado

     em

     28/8/2012.

     46  Informativo 507/STJ, 3ª Turma, REsp 1.320.527‐RS, Rel. Min. Nancy Andrighi,  julgado em 23/10/2012; Nery Jr., Teoria, n. 2.6, p. 177; Araken de Assis, Manual , n. 9.2, p. 96. 

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    21.9.  COMPLEMENTARIDADE No direito processual civil as razões recursais devem ser apresentadas no ato de interposição 

    do recurso, não se admitindo que o recurso seja  interposto num momento procedimental e as razões apresentadas posteriormente,  como ocorre no processo penal. Aplica‐se a  preclusão  consumativa no momento  da  interposição  de  recurso,  de  forma  que,  após  esse momento,  é  vedado  ao  recorrente complementar seu recurso  já interposto com novas razões47. Nem mesmo o falecimento do recorrente permite  a  complementação,  por  seu  sucessor,  do  recurso   já  interposto48.  Caso  nenhuma fundamentação  tenha  sido  feita,  o  recurso  é  inadmissível,  e,  sendo  incompleta  ou  falha  a 

    fundamentação, 

    somente 

    esta 

    será 

    apreciada 

    pelo 

    órgão 

     julgador 

    competente 

    para 

     julgamento 

    do 

    recurso. 

    22.3.1. TEMPESTIVIDADE O Ministério Público  será  intimado pessoalmente, nos  termos do art. 236, § 2.º, do CPC, 

    bem como o defensor público estatutário49, e nesse caso o Superior Tribunal de Justiça entende que o termo inicial do prazo recursal é a data do recebimento dos autos com vista no respectivo órgão, e não da ciência pelo seu membro no processo50. 

    (...) Apesar  de  existir  decisão  da  Corte  Especial  do  Superior  Tribunal  de  Justiça  no  sentido  de 

    rejeitar a tese criada pelo Supremo Tribunal Federal51, infelizmente existem decisões posteriores a essa em sentido contrário, adotando a tese do recurso prematuro por  intempestividade ante tempus52. Por outro  lado,  o  Superior  Tribunal  de  Justiça  flerta  perigosamente  com  a  adoção  da  tese  no  tocante  à interposição antes do  julgamento de embargos de declaração interposto pela parte contrária, conforme analisado no Capítulo 27. Recentemente o  Supremo Tribunal Federal  teve a oportunidade de decidir contra  a  tese,  admitindo  como  tempestivo  recurso  interposto antes da  intimação do  recorrente, em demonstração de que ainda há esperança para se afastar o absurdo entendimento da intempestividade ante tempus

    53. (...) Os  tribunais  superiores  consagraram  o  entendimento  de  que  a  tempestividade  deve  ser 

    provada  pelo  recorrente  no  momento  da  interposição  do  recurso,  sob  “pena”  de  preclusão consumativa.  São  inúmeros  os   julgados  que  exigem  da  parte  a  comprovação  de  feriado  local  no momento de  interposição do recurso extraordinário e especial para  justificar a  interposição depois do prazo legal de 15 dias54. Não concordo com o fundamento de que por ser o feriado local (e instituído por lei local) o recorrente tem o dever de produzir a prova de sua existência no momento de interposição do 

    47 Nery Jr., Teoria, n. 2.9, p. 181. 

    48 Informativo 505/STJ, 3ª Turma, REsp 1.114.519‐PR, Sidnei Beneti, 2/10/2012. 

    49 Araken de Assis, Manual , n. 20.1.2, p. 184.  Informativo 356/STJ, 1.ª T., REsp 1.035.716‐MS, rel. Min. Luiz Fux,  j. 20.05.2008. 50

     Informativo 507/STJ, 3ª Turma, REsp 1.278.239‐RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi,  julgado em 23/10/2012. 51

     EAg 522.249/RS, Corte Especial, rel. Min. José Delgado,  j. 02.02.2005. 52

     STJ, 2ª Turma, AgRg no REsp 1253756 / SC,j. 21/06/2012; STJ, 2ª Turma, EDcl no AgRg no AREsp 48105 / RR,  j. 27/03/2012; STJ, 4ª Turma, AgRg nos EDcl no AgRg no Ag 1398897 / SC,  j. 13/09/2011 53

     Informativo 665/STF, 1ª Turma, HC 101.132 ED/MA, rel. Min. Luiz Fux,  j. 24/04/2012. 54

      STF,  2.ª  Turma,  RE‐AgR‐ED  400.120/RS,  rel.  Min.  Eros  Grau,   j.  16.10.2007;  STJ,  4.ª  Turma,  AgRg  no  REsp 945.127/SP,  rel. Min.  Luis  Felipe  Salomão,  j.  28.10.2008;  AgRg  no  Ag  938.156/SP,  2.ª  Turma,  rel. Min. Mauro 

    Campbell Marques,

      j.

     14.10.2008.

     Informativo

     523/STF,

     Plenário,

     RE

     536881,

     AgR/MG,

     rel.

     Eros

     Grau,

      j.

     08.10.2008;

     

    Informativo 344/STJ, Corte Especial, EREsp 299.177‐MG, rel. Eliana Calmon,  j. 11.02.2008. 

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    recurso: primeiro, porque o art. 337 do CPC  só exige a prova de direito  local “se assim determinar o  juiz”;  segundo, porque, mesmo que  assim não  seja, não há qualquer  razão plausível  para o  tribunal deixar de  intimar a parte para produzir  tal prova, em  respeito ao princípio da  instrumentalidade das formas.  Ao  menos  se  admite  a  comprovação  do  feriado  por  meio  de  informação  obtida  no  sítio eletrônico do tribunal de segundo grau, desde que devidamente identificada55. 

    Felizmente  o  Supremo  Tribunal  Federal  reviu  seu  posicionamento,  passando  a  admitir  a comprovação  do  feriado  local  em  momento  posterior  ao  da  interposição  do  recurso56.  Após  esse posicionamento  adotado  pelo  Supremo  Tribunal  Federal,  o  Superior  Tribunal  de  Justiça  passou  por momentos  de  indefinição,  com  julgados  consoantes  ao  correto  entendimento  do  Supremo  Tribunal Federal57  e  outros  que mantinham  o  equivocado  entendimento  fundado  na  preclusão  consumativa 

    ocorrida 

    no 

    momento 

    de 

    interposição 

    do 

    recurso

    58

    Felizmente 

    tribunal 

    pacificou 

    entendimento 

    no 

    mesmo sentido da mudança verificada no Supremo Tribunal Federal, passando a admitir a comprovação do feriado  local após a  interposição do recurso,  inclusive em sede de agravo  interno contra a decisão monocrática que não admitiu o recurso por intempestividade59. 

    Por  fim, mais uma vez  com  fundamento na preclusão  consumativa, os  tribunais  superiores entendem  como  intempestivos  os  recursos  nos  quais  seja  ilegível  o  carimbo  de  protocolo60,  em entendimento que deixaria Franz Kafka61 boquiaberto. Atribui‐se à parte um ônus processual por ato que  não  lhe  incumbe  praticar,  considerando‐se  que  o  Poder  Judiciário  é  o  único  responsável  por carimbar  a  petição.  Ademais,  como  lembra  a melhor  doutrina,  qual  é  o  conceito  de  “legibilidade” adotado pelos  tribunais62? Tudo dependerá da aptidão do examinador do  carimbo? Da  luminosidade existente no recinto no momento da análise? Da atenção dispensada ao exame? 

    Na hipótese de interposição de recurso por fax, cabe à parte, nos termos do art. 2º, caput  da Lei  9.800/1999,  apresentar  em  juízo o  original  em  até  cinco  dias do  vencimento  do  prazo.  Segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, esse prazo é contado de forma contínua, inclusive tendo início em dia sem expediente forense63. Registre‐se por fim que o mesmo tribunal entende que recurso interposto  por  fax  no  último  dia  do  prazo  após  o  expediente  forense  é  intempestivo  porque  só  é registrado no dia seguinte64. 

    O  recorrente  tem  até  o  último momento  do  prazo  para  a  interposição  do  recurso,  o  que significa o último minuto do último dia de prazo fixado em lei. Não pode a parte, entretanto, se valer do plantão  judiciário para interpor o recurso após o encerramento do expediente forense, cujo horário de 

    55 Informativo 447/STJ, Corte Especial, AgRg no Ag 1.251.998‐SP, rel. Min. Luis Felipe Salomão,  j. 15.09.2010. 

    56 Informativo 659/STF, Tribunal Pleno, RE 626358 AgR/MG, rel. Min. Cezar Peluso, 22.3.2012. (RE‐626358). 

    57 Informativo 499/STJ, 6ª Turma, AgRg no REsp 1.080.119‐RJ, Rel. originário Min. Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ‐RS), Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior,  julgado em 5/6/2012. 58

     STJ, 1ª Turma, EDcl no AREsp 166.034/PE, rel. Teori Albino Zavascki,  j. 12/06/2012, DJe 15/06/2012; STJ, 3ª Turma, AgRg no Ag 1.189.100/PE, rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,  j. 12/06/2012, DJe 18/06/2012; STJ, AgRg no Ag 1.320.641/MG, rel. Min. Gilson Dipp,  j. 12/06/2012, DJe 20/06/2012. 59

     Informativo 504/STJ, Corte Especial, AgRg no AREsp 137.141‐SE, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira,  julgado em 19/9/2012. 60

     STJ, AgRg no Ag 1.409.746/RS, 4ª Turma, rel. Min. Antonio Carlos Ferreira,  j. 14/08/2012, DJe 28/08/2012; 

    STJ,  EDcl  nos  EDcl  no  AgRg  no  Ag  1.273.104/SE,  6ª  Turma,  rel.  Min.  Og  Fernandes,   j.  12/06/2012,  DJe 

    27/06/2012; STJ, AgRg no Ag 1.175.256/SP, 3ª Turma, rel. Min. Ricardo Villas Boas Cueva,  j. 05/06/2012, DJe 

    18/06/2012. 61

     Diz‐se  kafkiano,  segundo o Dicionário Houaiss,  tudo aquilo que, de  forma  semelhante à  sua obra, evoca uma atmosfera de pesadelo, de absurdo, especialmente em um contexto burocrático que escapa a qualquer  lógica ou racionalidade (diz‐se de situação, obra artística, narração etc.). 62

     Barbosa Moreira, Restrições, p. 276. 

    63 Informativo

     503/STJ,

     5ª

     Turma,

     HC

     244.210

    ‐RS,

     Rel.

     Min.

     Jorge

     Mussi,

      julgado

     em

     6/9/2012.

     64 Informativo 358/STJ, 2.ª T., Ag 742.801‐SP, rel. Humberto Martins,  j. 03.06.2008. 

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    funcionamento dependerá de lei local de organização  judiciária. Nesse caso, sendo interposto o recurso no  último  dia  de  prazo  após  o  encerramento  do  expediente  forense,  o  Superior  Tribunal  de  Justiça entende pela intempestividade recursal65. 

    22.3.2. PREPARO Essa regra extremamente  formal pode ser afastada em situações excepcionais.  Interposto o 

    recurso  em dia no qual o  expediente  forense  (funcionamento do  protocolo)  se  encerrou depois  do encerramento do expediente bancário, admitem‐se o recolhimento e comprovação no primeiro dia útil subsequente66. Nesse caso o Superior Tribunal de Justiça também admite que o preparo seja recolhido em cartório67. Na realidade, demonstrando‐se uma  justa causa para o não recolhimento do preparo, a 

    deserção 

    será 

    relevada 

    por 

    decisão 

    irrecorrível 

    (art. 

    519 

    do 

    CPC). 

    Já 

    se 

    decidiu 

    no 

    Superior 

    Tribunal 

    de 

    Justiça  que  a  troca  de  guias  entre  processos  é  vício  sanável68,  não  obstante  ser  deserto  o  recurso quando a guia não indica os dados do processo (Resolução 12/2005‐STJ)69. Não gera a deserção preparo recolhido com código errado70 ou em guia inadequada71. 

    25.2.1.2.1.3. PEÇAS ESSENCIAIS Por  fim, é  importante  ressaltar que a análise de quais  são as  peças obrigatórias é  feita de 

    maneira objetiva, bastando conhecer o art. 525,  I, do CPC. O mesmo, entretanto, não ocorre  com as  peças  essenciais,  porque  a  depender  do  caso  concreto  não  é  incorreto  concluir  que,  ao menos  em determinadas situações, a definição do que seja essencial exige uma análise subjetiva. Nesses casos, o tribunal  pode  entender  como  essencial  alguma  peça  que  não  parece  ter  tal  característica  para  o agravante, e deixar de conhecer o  recurso é medida extremamente  injusta e  traiçoeira. Seria o  caso, portanto, de abrir prazo ao agravante para  juntar a peça  faltante72, entendimento que  finalmente  foi adotado  pelo  Superior  Tribunal  de  Justiça  em  modificação  de  posicionamento  pela  aplicação  da preclusão consumativa73. 

    25.3.2.4. DECISÃO MONOCRÁTICA DO RELATOR COM BASE NO ART. 557 DO CPC Questão interessante a ser observada é o âmbito de aplicação da previsão legal, tomando‐se 

    por base que o artigo ora comentado menciona expressamente que a regra do  julgamento monocrático vale tão somente para o caso de recursos. Uma interpretação literal afasta de sua incidência as ações de competência originária do tribunal ou outros  incidentes que possam se  instalar perante os tribunais74. Aqui  se  faz  somente  a  ressalva  de  que  vem  se  estendendo  tal  possibilidade  também  ao  reexame necessário75,  que,  apesar  de  não  ser  recurso,  é  tratado  como  tal  em  determinadas  situações  pelos 

    65 Informativo 502/STJ, 3ª Turma, AgRg no AREsp 96.048‐PI, Rel. Min. Nancy Andrighi,  julgado em 16/8/2012. 

    66  Súmula  484/STJ;  Informativo  445/STJ,  Corte  Especial,  REsp  1.122.064‐DF,  rel.  Min.  Hamilton  Carvalhido,   j. 1.º.09.2010; STJ, Corte Especial, AgRg nos EREsp 711.929/DF, rel. Min. João Otávio de Noronha,  j. 15.10.2008; Barbosa Moreira, Comentários, n. 219, p. 392; Cheim Jorge, Teoria, n. 9.3.3.3, p. 157; Fux, Curso, p. 953. Contra: Araken de Assis, Manual , n. 20.3, p. 203. 

    67  Informativo 386/STJ, 3.ª T., REsp 814.512‐PI, rel. Nancy Andrighi, 10.03.2009. 

    68  STJ, 3.ª Turma, REsp 867.005/PR, rel. Min. Humberto Gomes de Barros,  j. 09.08.2007. 

    69  STJ, 1.ª Turma, AgRg no Ag 942.873/RS, rel. Min. Luiz Fux,  j. 11.11.2008; AgRg no Ag 923.345/RJ, 3.ª Turma, rel. Min. Massami Uyeda,  j. 13.05.2008. 

    70  STJ, 1.ª Turma, AgRg no Ag 623.371/PR, rel. Min. José Delgado,  j. 17.03.2005. 

    71  STJ, 3.ª Turma, REsp 205.561/SP, rel. Min. Castro Filho,  j. 03.06.2003. 

    72  Barbosa Moreira, Comentários, n. 275, p. 507; Pimentel Souza, Introdução, n. 9.13, p. 255; Didier‐Cunha, Curso, p. 155‐156. 

    73 Informativo 496/STJ, Corte Especial, REsp 1.102.467‐RJ, Rel. Min. Massami Uyeda,  julgado em 2/5/2012. 

    74 Barbosa

     Moreira,

     Comentários,

     n.

     366,

     p.

     681;

     Câmara,

     Lições,

     v.

     2,

     p.

     141.

     75  Súmula 253/STJ. 

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    tribunais, em especial no que tange à proibição da reformatio in  peius e à possibilidade de  julgamento monocrático. 

    Segundo  posicionamento  adotado  pelo  Superior  Tribunal  de  Justiça,  o   julgamento monocrático não será admissível na hipótese de necessidade de reexame de fatos com reapreciação das provas , quando o  julgamento colegiado será indispensável76. 

    26.1. CABIMENTO Em  regra, uma  sentença  terminativa  recorrida, qualquer que  seja o  resultado da apelação, 

     jamais  proporciona  à  parte derrotada  o  ingresso  de  embargos  infringentes. Mas nesse  tocante  uma observação é  imprescindível: sendo o acórdão da apelação de mérito, ainda que a sentença recorrida 

    seja 

    terminativa, 

    caberá 

    recurso 

    de 

    embargos 

    infringentes 

    desde 

    que 

    esse 

    acórdão 

    seja 

    proferido 

    por 

    maioria de votos. Tal circunstância torna‐se possível diante da aplicação do art. 515, § 3.º do CPC, por meio do qual o tribunal poderá na apelação  julgar originariamente o mérito da demanda. Nesse caso o tribunal anula a sentença terminativa em razão do equívoco do  julgador de primeiro grau em extinguir o processo sem resolução do mérito e passa imediatamente ao  julgamento de mérito da demanda, desde que a causa esteja madura para o  julgamento. Sendo esse acórdão não unânime (2x1), com  julgamento de mérito da demanda  – acolhimento ou  rejeição do pedido do autor  –, caberá à parte  sucumbente ingressar com embargos infringentes77. 

    Registre‐se  também nesse tocante decisão do Superior Tribunal de Justiça que entendeu pelo cabimento  dos  embargos  infringentes  em  aplicação  da  teoria  da  asserção,  entendendo  que  o fundamento formal de ilegitimidade de parte foi um acórdão que na realidade  julgou o mérito78. 

    27.2.1. PRONUNCIAMENTOS  RECORRÍVEIS No Supremo Tribunal Federal existem decisões que apontam para o manifesto não cabimento 

    dos embargos de declaração contra a decisão proferida pelo  tribunal de segundo grau  – por meio do presidente ou vice‐presidente, a depender do Regimento Interno  – que denega o seguimento de recurso extraordinário, inclusive com a prejudicial consequência de não haver nesse caso interrupção do prazo para a interposição de outros recursos79. O Superior Tribunal de Justiça compartilha do entendimento, afirmando serem os embargos de declaração nesse caso manifestamente incabíveis80. O entendimento não  tem  nenhum  substrato  jurídico  aceitável  que  o  possa  embasar, mas  de  qualquer  forma  essas decisões servem de aviso aos operadores do direito. 

    28.2.2. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA O mandado de  segurança  será necessariamente de  competência originária do  tribunal que 

    proferiu  a  decisão,  sendo  essa  decisão  necessariamente  colegiada.  Eventual  decisão  de  tribunal que 

     julga mandado

     de

     segurança

     em

     sede

     recursal

     não

     é recorrível

     por

     recurso

     ordinário81,

     mas

     por

     recurso

     

    especial ou extraordinário, sendo que o Superior Tribunal de  Justiça entende que a  troca de  recursos nesse  caso  caracteriza  erro  grosseiro, afastando a aplicação do princípio da  fungibilidade82. Além do  julgamento de mandado de segurança, admitindo‐se a possibilidade de seu  julgamento monocrático no 

    76 Informativo 502/STJ, 3ª Turma, REsp 1.261.902‐RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi,  julgado em 16/8/2012. 

    77  Dinamarco,   A  reforma,  n.  139,  p.  204;  Theodoro  Jr.,  Curso,  p.  694;  Informativo  449/STJ,  3.ª  Turma,  REsp 1.194.166‐RS, rel. Min. Nancy Andrighi,  j. 28.09.2010; STJ, REsp 832.370/MG, 3.ª Turma, rel. Min. Nancy Andrighi,  j. 02.08.2007, DJ 13.08.2007. 78

     Informativo 502/STJ, 3ª Turma, REsp 1.157.383‐RS, Rel. Min. Nancy Andrighi,  julgado em 14/8/2012. 79

      Informativo STF/462: AI 588.190 AgR/RJ, rel. Min. Ricardo Lewandowski,  j. 03.04.2007. 80

     Informativo 505/STJ, 4ª Turma, AgRg no Ag 1.341.818‐RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti,  julgado em 20/9/2012. 

    81 Barbosa

     Moreira,

     Comentários,

     n.

     311,

     p.

     569.

     82  STJ, AgRg no RMS 15.126/SC, 6ª Turma, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,  j. 18.12.2008, DJ 16.02.2009. 

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    tribunal,  deve‐se  também  admitir  o  recurso  ordinário  contra  acórdão  que  decide  agravo  interno interposto  contra  decisão  monocrática  que  denegou  o  mandado  de  segurança  de  competência originária  do  tribunal83. Da  decisão monocrática,  ainda  que  denegatória,  não  cabe  recurso  ordinário constitucional84.  O mesmo  ocorre  com  os  embargos  de  declaração,  que,  sendo  interpostos  contra acórdão que denegou mandado de  segurança de  competência originária de  tribunal,  criarão acórdão que será recorrível por recurso ordinário. 

    29.1.1.1. DECISÃO DE ÚNICA OU ÚLTIMA INSTÂNCIA O mesmo ocorrerá na hipótese de  julgamento monocrático do relator, sendo antes cabível o 

    recurso de agravo  interno para o órgão colegiado, e somente do  julgamento desse  recurso o  recurso 

    especial

    85

    Segundo 

    Superior 

    Tribunal 

    de 

    Justiça, 

    sempre 

    que 

    houver 

    interposição 

    de 

    embargos 

    de 

    declaração  contra  decisão  monocrática,  não  sendo  enfrentado  o  mérito  de  tal  decisão,  após  o  julgamento  dos  embargos, mesmo  que  de  forma  colegiada,  a  parte  deverá  ingressar  com  o  agravo interno para exaurir as vias ordinárias de impugnação. O recurso especial nesse caso só será admitido se os  embargos  de  declaração  forem  recebidos  como  agravo  interno  ou  quando  o mérito  da  decisão monocrática for  julgado colegiadamente nos embargos de declaração86. 

    29.1.2.1. DECISÃO QUE CONTRARIAR OU NEGAR VIGÊNCIA A TRATADO OU LEI FEDERAL No  tocante  ao  tratado,  é  importante  lembrar  que  a  Emenda  Constitucional  45/2004 

    acrescentou um parágrafo  3.º no  art.  5.º da CF, que passou  a prever que os  tratados e  convenções internacionais sobre direitos humanos, desde que aprovados em cada casa do Congresso Nacional, em dois  turnos,  por  três  quintos  dos  votos  dos  respectivos membros,  serão  equivalentes  às  emendas constitucionais. É natural que nesse  caso, havendo  contrariedade ou negativa de vigência, não seja a decisão recorrível por recurso especial, porque dessa forma o Superior Tribunal de Justiça seria levado a decidir em última análise a  respeito de matéria  constitucional,  tarefa exclusiva do  Supremo Tribunal Federal. Tratando‐se de norma com força constitucional, aplica‐se de forma extensiva o art. 102,  III, a, da CF, permitindo‐se o ingresso de recurso extraordinário87. 

    Sendo  interposto o  recurso especial com  fundamento no art. 105,  III, “a” da CF, o Superior Tribunal  de  Justiça  entende  ser  indispensável  a  indicação  do  dispositivo  legal  federal  que  haja  sido violado,  afirmando  que  a  ausência  de  tal  indicação  cria  um  vício  que  impossibilita  a  admissão  do recurso88. 

    29.1.2.3. DECISÃO QUE DER A LEI FEDERAL INTERPRETAÇÃO DIVERGENTE DA QUE LHE HAJA ATRIBUÍDO OUTRO TRIBUNAL 

    A divergência deve ser atual, o que não significa que o acórdão paradigma deva ser recente, 

    bastando que

     continue

     a conter

     o entendimento

     atual

     do

     tribunal89.

     Como

     será

     necessária

     ao

     

    recorrente  a  realização  de  uma  comparação  analítica,  por  vezes  é mais  interessante  que  o  acórdão paradigma  seja mais  antigo  do  que  outros  disponíveis  com  o mesmo  entendimento, mas  não  tão próximos do acórdão recorrido. Nesse caso, cumpre ao recorrente demonstrar que a divergência ainda 

    83  Nery‐Nery, Código, nota 5 ao art. 539, p. 917‐918. 

    84 Informativo 505/STJ, 3ª Turma, AgRg na MC 19.774‐SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,  julgado em 2/10/2012. 85STJ, REsp 1.082.653/SP, 1ª Turma, rel. Min. Benedito Gonçalves,  j. 05.03.2009, DJe 18.03.2009; Gusmão Carneiro, 

    Recurso, n. 8, p. 19. 86

     Informativo 505/STJ, Corte Especial, AgRg no REsp 1.231.070‐ES, Rel. Min. Castro Meira,  julgado em 3/10/2012. 87

      Assis, Manual , 9.2.2.2, p. 788. 

    88 Informativo

     506/STJ,

     2ª

     Turma,

     AgRg

     no

     AREsp

     135.969

    ‐SP.

     Rel.

     Min.

     Castro

     Meira,

      julgado

     em

     9/10/2012.

     89  Mancuso, Recurso, p. 207. 

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    é  atual,  o  que  fará  com  a  mera  indicação  de  julgados  no  mesmo  sentido  do  acórdão  paradigma proferido pelo mesmo tribunal. Também não será admitido o recurso especial no caso de a divergência ter sido superada por entendimento consolidado do Superior Tribunal de Justiça90. 

    Cabe ao recorrente a  indicação expressa do dispositivo de  lei que foi  interpretado de forma divergente pelo acórdão recorrido e pelo acordão paradigma, entendendo o Superior Tribunal de Justiça que a ausência de tal indicação impede a admissão do recurso especial91. 

    31.5. JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM O Superior Tribunal de Justiça, entretanto, entende que, mantendo sua decisão, o tribunal de 

    segundo grau, por meio do órgão competente, deverá fundamentar sua decisão, rechaçando todos os 

    fundamentos 

    utilizados 

    pelo 

    tribunal 

    superior 

    no 

     julgamento 

    dos 

    recursos 

    por 

    amostragem, 

    sob 

    pena 

    de 

    violação  ao  princípio  da  fundamentação  (art.  93,  IX,  da  CF)92.  Mantida  a  decisão,  se  analisará  a admissibilidade recursal e, sendo o resultado positivo, remeterá o(s) recurso(s) para o tribunal superior. 

    Registre‐se que, segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça a geração de efeitos do  julgamento paradigma sobre os recursos sobrestados não depende do trânsito em  julgado da decisão que fixa a tese no tribunal superior93. 

    32.2. CABIMENTO Tratando‐se  de  recurso  voltado  à  uniformização  da   jurisprudência  interna  do  Supremo 

    Tribunal  Federal  e  do  Superior  Tribunal  de  Justiça,  é  indispensável  que  exista  nos  embargos  de divergência uma comparação entre o acórdão  recorrido e o acórdão  paradigma, considerando‐se que dessa análise comparativa será verificada a efetiva existência da divergência a permitir o cabimento do recurso  ora  analisado.  Já  decidiu  o  Superior  Tribunal  de  Justiça  que  não  se  admite  embargos  de divergência na ausência de similitude fática entre os arestos paradigma e embargado94. 

    Como o objetivo é  a uniformização  jurisprudencial,  é natural que  se exija entre o acórdão recorrido e o acórdão paradigma uma similitude fática, porque sem o preenchimento desse requisito se buscará  a uniformização de  situações  fático‐ jurídicas distintas95.  Em outra  forma procedimental  pela qual se busca a uniformização  jurisprudencial, o recurso especial fundado no art. 105, III, “c” da CF, essa mesma  realidade  se  repete,  sendo  exigida a  similitude  fática  entre o acordão  recorrido e o acórdão paradigma96. 

    Nesse sentido  julgamento do Superior Tribunal de Justiça que entendeu pelo não cabimento de embargos de divergência porque, apesar de ambos os acórdãos  – recorrido e paradigma  – tratarem de dano moral, em um deles o dano foi gerado por acidente do trabalho e no outro por exoneração de servidor público97. O mesmo Tribunal sumulou o entendimento de que não cabe o recurso ora analisado 

    para discutir

     valor

     de

     indenização

     por

     danos

     morais,

      justamente

     em

     razão

     das

     diferenças

     entre

     as

     

    situações fáticas98. É preciso registrar, entretanto, conforme  já corretamente decidido pelo Superior Tribunal de 

    90  Súmulas 286 do STF e 83 do STJ; Fux, Curso, p. 1.198. 

    91 Informativo 506/STJ, 2ª Turma, AgRg no AREsp 135.969‐SP. Rel. Min. Castro Meira,  julgado em 9/10/2012.  

    92  Informativo 419/STJ, Corte Especial, QO no REsp 1.148.726‐RS, rel. Min. Aldir Passarinho Junior,  j. 10.12.2009. 

    93 Informativo 507/STJ: 2ª Turma, EDcl no AgRg no Ag 1.067.829‐PR, Rel. Min. Herman Benjamin,  julgado em 9/10/2012. 94

      Informativo  494/STJ,  2ª  Seção,  EREsp  419.059‐SP,  Rel. Min.  Luis  Felipe  Salomão,  julgados  em  11/4/2012.; Informativo 421/STJ: Corte Especial, AgRg nos EREsp 997.056‐RS, rel. Min. Luiz Fux,  j. 03.02.2010. 

    95 STJ, 3ª Seção, AgRg nos EREsp 975111 / RS, rel. Min. Vasco Della Giustina, 26/10/2011, DJe 30/11/2011. 

    96 STJ,

     2ª

     Turma,

     AgRg

     no

     Ag

     1417809

     / PR,

     rel.

     Min.

     Herman

     Benjamin,

     25/10/2011,

     DJe

     28/10/2011.

     97 STJ, 1ª Turma, AgRg nos EREsp 997.056‐RS, Rel. Min. Luiz Fux,  julgado em 3/2/2010. 

    98 Súmula 420/STJ. 

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    Justiça99,  que  deve  ser  conhecido  o  recurso  quando  a  divergência  recair  sobre  questão  de  direito processual  civil, mesmo que não haja  similitude  fática  entre os pressupostos de  fato do processo. A decisão, na  realidade, não  afasta o  entendimento  consagrado pela exigência da  similitude  fática nos embargos de divergência, mas lembra com propriedade que nas questões processuais essa similitude é dispensável. Naturalmente deve  se  tratar da mesma questão processual, que deverá  ser aplicada de forma distinta,  independentemente de diferenças fáticas existentes entre as demandas decididas pelo acórdão recorrido e o paradigma. Por exemplo, se numa hipótese é admitida uma complementação de preparo  em  apelação  e  noutra  não,  é  irrelevante  que  o  primeiro  processo  tenha  como  objeto  uma rescisão contratual e o segundo um divórcio. 

    Em  razão da  exigência da  similitude  fática  é  importante o  registro de decisão do  Superior 

    Tribunal 

    de 

    Justiça 

    que 

    conheceu 

    de 

    embargos 

    de 

    divergência 

    sobre 

    questão 

    de 

    direito 

    processual, 

    mesmo  sem  a  ocorrência  da  exigida  similitude  fática100.  A  decisão,  na  realidade,  não  afasta  o entendimento consagrado pela exigência da similitude fática nos embargos de divergência, mas lembra com  propriedade  que nas questões processuais  essa  similitude  é dispensável. Naturalmente deve  se tratar da mesma questão processual, que deverá ser aplicada de forma distinta, independentemente de diferenças  fáticas existentes entre as demandas decididas pelo acórdão  recorrido e o paradigma. Por exemplo, se numa hipótese é admitida uma complementação de preparo em apelação e noutra não, é irrelevante  que  o  primeiro  processo  tenha  como  objeto  uma  rescisão  contratual  e  o  segundo  um divórcio. 

    32.2.1. ACÓRDÃO EMBARGADO A  expressa  previsão  legal  de  que  o  acórdão  recorrido  tenha  sido  proferido  em  recurso

     

    especial  ou  extraordinário  impede  a  propositura  dos  embargos  de  divergência  contra  acórdão 

    proferido 

    em 

    ação 

    de 

    competência 

    originária101, 

    acórdão 

    proferido 

    em 

    grau 

    de 

    recurso 

    ordinário 

    e acórdão  de  agravo  do  art.  544  do  CPC  em  que  não  se   julga  o  mérito  do  recurso  especial  ou extraordinário. A expressa previsão de que somente a decisão da turma é embargável (art. 546, caput , do CPC) afasta o cabimento dos embargos de divergência contra acórdão da Seção, Corte Especial e Tribunal Pleno. 

    38.4.2.4. GANHOS APTOS A MANTER A SUBSISTÊNCIA DO EXECUTADO Registre‐se,  mais  uma  vez,  o  art.  649,  §  2.º,  do  CPC,  que  prevê  a  inaplicabilidade   da 

    impenhorabilidade  tratada  pelo  inciso  IV  desse  dispositivo  legal  para  o  pagamento  das  prestações alimentícias, havendo  decisão do  Superior  Tribunal de  Justiça  admitindo  a penhora  em  execução de honorários advocatícios em razão de sua natureza alimentar102. O Superior Tribunal de Justiça entende que a excepcional penhorabilidade atinge também a gratificação de  férias e natalina  (décimo  terceiro 

    salário)103. O

     mesmo

     tribunal

     permite

     o afastamento

     da

     impenhorabilidade

     ora

     analisada

     na

     hipótese

     de

     

    dívida derivada de honorários advocatícios sucumbenciais em  razão de sua natureza alimentar104. No mais, o Superior Tribunal de  Justiça é bastante  severo na aplicação da norma, não admitindo outras exceções que não aquela expressamente prevista em lei105. 

    99 Informativo 490/STJ: 2ª Seção, EREsp 595.742‐SC, Rel. originário Min. Massami Uyeda, Rel. para o acórdão Min. Maria Isabel Gallotti,  julgados em 14/12/2011. 100

     Informativo 490/STJ, 2ª Seção, Rel. originário Min. Massami Uyeda, Rel. para o acórdão Min. Maria Isabel Gallotti,  julgados em 14/12/2011. 101

     Informativo 504/STJ, 3ª Seção, EREsp 998.249‐RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,  julgados em 12/9/2012.  102

     Informativo 488/STJ, 3ª Turma, REsp 948.492‐ES, Rel. Min. Sidnei Beneti,  julgado em 1º/12/2011. 103

      Informativo 417/STJ: 2.ª Seção, REsp 1.106.654‐RJ, rel. Min. Paulo Furtado,  j. 25.11.2009. 

    104 Informativo

     488/STJ:

     3ª

     Seção,

     REsp

     948.492

    ‐ES,

     Rel.

     Min.

     Sidnei

     Beneti,

      julgado

     em

     1º/12/2011.

     105  Informativo 485/STJ: 4.ª Turma, REsp 904.774/DF, rel. Min. Luis Felipe Salomão,  j. 18.10.2011. 

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    16/25

     

    Manual de Direito Processual Civil – Volume Único

    Daniel Amorim Assumpção Neves

    4.ª para 5ª edição 

    38.4.2.10. VALORES DEPOSITADOS EM CADERNETA DE POUPANÇA É natural que, mantendo o devedor mais de uma poupança, a proteção limitar‐se‐á ao valor 

    de 40  salários‐mínimos na  soma de  todas elas, e nunca  individualmente,  sob pena de a norma  legal transformar‐se em arma de devedores pouco afeitos ao cumprimento de suas obrigações106. 

    38.5.4 BENS DO CÔNJUGE, NOS CASOS EM QUE OS SEUS BENS PRÓPRIOS, RESERVADOS OU DE SUA MEAÇÃO RESPONDEM PELA DÍVIDA 

    É pacífica a doutrina e  jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça quanto ao entendimento de que o cônjuge não devedor tem legitimidade para os embargos à execução e embargos de terceiro, 

    que 

    parece 

    confirmar 

    entendimento 

    de 

    condição 

    simultânea 

    de 

    parte 

    terceiro 

    desse 

    sujeito

    107

    Apesar de poder ingressar com embargos à execução e embargos de terceiro, tanto os prazos como as matérias  de  cada  uma  dessas  ações  devem  ser  respeitados108. Os  embargos  à  execução  devem  ser opostos  no  prazo  de  15  dias  da  juntada  do mandado  de  citação  cumprido  aos  autos,  cabendo  ao cônjuge não devedor alegar as matérias típicas de defesa do executado (arts. 745 do CPC), enquanto os embargos  de  terceiro  poderão  ser  interpostos  até  cinco  dias  após  a  arrematação,  adjudicação  ou remição (art. 1.048 do CPC), versando exclusivamente sobre a proteção da meação. 

    Nos  embargos  de  terceiro  será  discutida  a  responsabilidade  secundária  do  cônjuge  não devedor, que existirá sempre que o produto da dívida tiver beneficiado o casal ou a família. Caso reste comprovado que não houve tal benefício, o cônjuge não devedor não terá responsabilidade patrimonial, preservando, assim, sua meação. Não que essa proteção signifique que a penhora será retirada sobre 50% ideal do imóvel, o que manteria sua propriedade sobre essa fração ideal do imóvel. Nos termos do art. 655‐B do CPC, a preservação da meação nesse caso significa apenas que o vencedor dos embargos receberá 50% do produto da alienação  judicial do imóvel109. 

    O Superior Tribunal de Justiça entende que o ônus da prova dos beneficiados pelo produto da dívida é do credor, salvo na hipótese de aval concedido pelo cônjuge devedor, hipótese na qual caberá ao cônjuge não devedor demonstrar que a dívida não reverteu em benefício do casal ou da família110. 

    38.6.2. FRAUDE À EXECUÇÃO A doutrina nesse ponto é pacífica em aceitar que o ato cometido em fraude à execução é válido, 

    porém  ineficaz  perante  o  credor,  ou  seja,  o  ato  não  lhe  é  oponível. Não  é  necessário  o  ingresso  de qualquer ação  judicial por parte do credor (como ocorre no caso de fraude contra credores), bastando uma mera petição no processo  já pendente para que o  juiz reconheça a fraude111. A exceção fica por conta de alegação de  fraude à execução após a alienação  judicial do bem, quando será necessário o  ingresso de ação anulatória,  inclusive com a formação de  litisconsórcio necessário entre o adquirente e as partes do 

    processo no

     qual

     ocorreu

     a alienação

      judicial112.

     

    39.2.1. SENTENÇA PROFERIDA NO PROCESSO CIVIL QUE RECONHEÇA A EXISTÊNCIA DE UMA OBRIGAÇÃO DE FAZER, NÃO FAZER, ENTREGAR COISA OU PAGAR QUANTIA 

    No  Superior  Tribunal  de  Justiça,  a  primeira  sinalização  de  que  a  sentença  meramente declaratória poderia ser considerada um  título executivo veio com a Súmula 461, que expressamente 

    106 Informativo 501/STJ, 3ª Turma, REsp 1.231.123‐SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,  julgado em 2/8/2012. 

    107 Súmula  134/STJ:  “Embora  intimado  da  penhora  em  imóvel  do  casal,  o  cônjuge  do  executado  pode  opor embargos de terceiro para defesa de sua meação”. 

    108 STJ, 1.ª Turma, REsp 740.331/RS, rel. Min. Luiz Fux,  j. 14.11.2006. 

    109 Neves, Reforma, p. 300‐304. 

    110 STJ,

     3.ª

     Turma,

     AgRg

     no

     Ag

     702.569/RS,

     rel.

     Min.

     Vasco

     Della

     Giustina,

      j.

     25.08.2009,

     DJe

     09.09.2009.

     111 Zavascki, Processo, p. 215; Theodoro Jr., Processo, n. 109, p. 167; Greco Filho, Direito, n. 5, p. 42. 

    112 Informativo 494/STJ, 3ª Turma, REsp 1.219.093‐PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,  julgado em 27/3/2012. 

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    4.ª para 5ª edição 

    permite  a  execução  de  sentença meramente  declaratória  de  repetição  de  indébito  tributário..  Há, inclusive,  posicionamento  no  sentido  de  se  entender  como  título  executivo   judicial  a  decisão meramente declaratória de obrigação ilíquida, hipótese em que o valor devido será fixado em liquidação de sentença113. 

    39.2.6. SENTENÇA ESTRANGEIRA HOMOLOGADA PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Para que produza efeitos em território nacional, a sentença estrangeira  –  judicial ou arbitral  – 

    deve obrigatoriamente passar por um processo de homologação perante o Superior Tribunal de Justiça (art. 483 do CPC c/c o art. 105, I, “i”, da CF). Além da sentença  judicial e arbitral114, o Superior Tribunal de  Justiça   já  admitiu  a  homologação  de  acordo  de  divorcio  realizado  no  estrangeiro  perante  a 

    autoridade 

    administrativa 

    competente 

    para 

    tal 

    tarefa

    115

    39.3.1. LETRA DE CÂMBIO, NOTA PROMISSÓRIA, DUPLICATA, DEBÊNTURE E CHEQUE Registre‐se  interessante  decisão  do  Superior  Tribunal  de  Justiça,  que  entendeu  ser  título 

    executivo extrajudicial duplicatas virtuais  – emitidas por meio magnético ou de geração eletrônica, não se exigindo, para o  ajuizamento da execução  judicial,  a  exibição do  título116.  Também os boletos de cobrança  bancária  vinculados  ao  título  virtual  devidamente  acompanhados  dos  instrumentos  de protesto por  indicação  e dos  comprovantes de  entrega da mercadoria ou da prestação dos  serviços suprem a ausência  física do  título  cambiário eletrônico e  constituem, em princípio,  títulos executivos extrajudiciais117. 

    Já o mero borderô  (contrato de desconto ban