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Agências Reguladoras Miguel Zimmermann Martins
TEORIA 1
Aula Demonstrativa do Curso sobre Agências Reguladoras para ANATEL
Tema: História das Autarquias e suas características
Nível Superior
“Para se tornar verdadeiramente grande, é preciso
estar ao lado das pessoas, e não acima delas". Montesquieu
1. Apresentação: Olá caro aluno, seja bem-‐vindo ao Curso sobre Agências Reguladoras desenvolvido especialmente para sua preparação em busca de uma das vagas dos diversos cargos de nível superior do Concurso Público da Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL). Eu sou Miguel Zimmermann Martins e estou preparando este curso com muito cuidado e capricho. Para quem não me conhece, faço uma breve apresentação: tenho 29 anos e atualmente exerço o cargo de Técnico-‐Administrativo no Ministério Público da União. Estou lotado na Procuradoria da República no Distrito Federal. Obtive alguns bons resultados no mundo dos concursos, como o primeiro lugar no concurso do SEBRAE Nacional (analista), em 2011, aprovação no concurso de Analista-‐técnico Administrativo do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) (cargo que exerci em 2013 até o início de 2014) e de Analista Administrativo do SERPRO. Além disso, obtive aprovação no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil quando cursava o 4º/5º Semestres da graduação em Direito. As aulas deste curso são desenvolvidas para que o aluno consiga completar o conteúdo proposto em 1h30 a 2h de estudo. É uma forma que encontramos de auxiliar
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a elaboração seu planejamento, facilitando o encaixe deste conteúdo no seu cronograma de estudos. Neste curso, serão disponibilizadas 06 aulas conforme o cronograma abaixo. A primeira aula estará disponível para download no dia 10 de julho e encerraremos o curso no final de Agosto. Esse cronograma é previsto e pode sofrer eventuais alterações por motivos de força maior, porém, gostaria de ressaltar que nosso objetivo é que todas as aulas estejam disponíveis ao menos vinte dias antes da prova.
CRONOGRAMA Aula Assunto Data 00 História das Autarquias e suas características 10/jul 01 As Agências Reguladoras e o Princípio da Legalidade 16/jul 02 Teorias e Formas de Regulação 24/jul 03 Lei nº 9.472/1997 -‐ parte 01 30/jul 04 Lei nº 9.472/1997 -‐ parte 02 06/ago 05 Boas práticas regulatórias e revisão em exercícios 14/ago
O investimento é de R$75,00 (setenta e cinco reais) para o curso completo. 2. Sobre o Concurso: O Edital nº 01 foi publicado em 25 de junho de 2014, trazendo vagas de nível superior (analistas e especialistas em diversas áreas) e de nível médio. São 12 cargos em diversas áreas, sendo que um deles (Cargo 07) pode ser disputado por pessoas que tenham graduação em qualquer área do conhecimento. A remuneração dos cargos de analista é de R$ 10.543,90, já para os cargos de especialista é de R$ 11.403,90 todas para uma jornada de 40 horas semanais. A prova esta marcada para o dia 14 de setembro, turno da manhã, com 5h30 de duração para a resolução de 120 questões (verdadeiro ou falso), sendo 50 de conhecimentos básicos e 70 de conhecimentos específicos. Importante ressaltar que, neste certame, as questões tem o mesmo peso, ou seja, tanto as questões de CB, quanto as de CE, valem 1 ponto cada, totalizando 120 pontos. Além disso, existe o critério de penalização do CESPE, onde a questão que o candidato responder de forma diferente do gabarito adotado pela banca vale menos um ponto (-‐1). Caso a questão fique sem resposta (em branco) ou o candidato resolva anular sua resposta (marcando o campo Certo e o campo Errado) não serão contabilizados pontos, nem para mais, nem para menos (0). Teremos também a prova discursiva e avaliação de títulos. Creio que esses são apontamentos importantes para que você não seja pego de surpresa na hora da prova. Ressalto a necessidade do aluno ler o edital antes mesmo de
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começar a estudar qualquer matéria. Fique atento a todo o conteúdo programático que esta lá exposto, os prazos para recurso e as proibições que o CESPE impõe durante as provas!!! Vamos estudar??? 3. Teoria: Nesta aula demonstrativa iremos abordar o item 2 do edital. Falaremos sobre “Órgãos reguladores no Brasil: histórico e característica das autarquias”. Decidi começar o curso por este tópico pois acredito que é neste item que formaremos a base do conhecimento necessário para vencer este edital. É conhecendo a história da regulamentação no Brasil que conseguiremos identificar quais são as principais características das autarquias no nosso ordenamento jurídico. Precisamos estabelecer, inicialmente, o que deve ser entendido pelo termo “regulação”. Este é um tema de vital importância tanto no estudo do Direito econômico quanto no estudo do Direito Administrativo “pois traz reflexos diretos sobre a economia nacional, em um aspecto geral, bem como em relação aos setores regulados”1. Em resumo, regulação é a ação de um indivíduo ou entidade que busca influenciar, reprimir, dirigir ou controlar, em maior ou menor grau, as atividades de outros indivíduos ou grupos sociais ou econômicos. No nosso caso, vamos nos concentrar em um tipo específico de relações com sujeitos determinados: estudaremos a regulação que o Estado exerce sobre a atividade da iniciativa privada e, consequentemente, sobre os particulares, em busca da proteção do “interesse público”.
Segundo Fernando Herren Aguillar a regulação pode ser classificada, quanto ao modo de exercício, em regulação operacional e regulação normativa.
1. Regulação Operacional – é “aquela em que o Estado exerce seu poder
sobre a economia como ator econômico, como agente que exerce atividade econômica (que deve ser entendida em sentido amplo, incluindo a prestação dos serviços públicos) no mercado”.
2. Regulação Normativa – é a atividade “em que o Estado não atua diretamente como agente econômico, mas através de um aparato normativo induz e direciona a conduta dos atores econômicos”.
O primeiro tipo de regulação (operacional) ocorre quando o Estado desconfia que os agentes privados não tem capacidade ou interesse econômico para realizar os serviços de maneira satisfatória. Dessa forma, desloca-‐se a responsabilidade, ampliando a atuação estatal no mercado privado. Assim, o Estado pode competir em igualdade de condições ou atuar em sistema de monopólio. Já o segundo tipo de regulação (normativa) tem em sua terminologia uma pequena inconsistência. A
1 SANTOS, Rodrigo, Neves, Função Normativa e Agências Reguladoras, 2009.
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atividade estatal neste caso não se limita a produção normativa. É muito mais ampla abrangendo a fiscalização, a resolução de conflitos e a produção de estudos que possam embasar o desenvolvimento técnico-‐cientifico da sociedade como um todo. Eros Roberto Grau critica, inclusive, a terminologia “intervenção do Estado no domínio econômico”. Alega o autor que esse termo sugere uma ingerência do Estado em um campo no qual não deveria atuar, sugerindo a utilização do termo “atuação estatal na economia”. Essa diferença fica mais nítida se observarmos a atual configuração da regulação estatal na sociedade brasileira. Estudaremos ao correr dessa aula alguns aspectos importantes sobre a descentralização Estatal promovida pelo Programa Nacional de Desburocratização. A prestação de diversos serviços públicos foi deslocada para a iniciativa privada, porém, a titularidade desse serviços permaneceu com o poder público. Logo, ao regular a prestação desses serviços o Estado esta agindo em uma área que é sua, por direito e por dever. O mesmo autor apresenta outra classificação sobre a atuação do Estado no Domínio econômico, subdividas em três classes:
1. Intervenção por absorção ou participação – nesse caso o Estado intervém na economia como agente econômico, no exercício de uma atividade econômica, em concorrência ao particular.
2. Intervenção por direção – aqui o Estado atua na economia através de comandos imperativos (normativos), determinando condutas aos agentes econômicos com o fim de dirigir o mercado.
3. Intervenção por indução – O Estado funciona como mecanismo indireto de estímulo aos agentes econômicos. Esses meios podem ser incentivos fiscais ou fomentos a determinadas atividades que, na visão estatal, são positivas e necessárias naquele momento.
Um raciocínio interessante é apresentado por Diogo de Figueiredo Moreira
Neto. Ele apresenta a metáfora da bola de ferro que controlava a pressão da máquina a vapor, no sentido de estabelecer o equilíbrio desejado ao sistema.
Interessante observar que a ideia de regulação e intervenção estatal nesta forma
é resultado de uma evolução socioeconômica acumulada em diversos anos de história. Partindo da ideia Liberal de Estado (que entrou em colapso com a crise de 1929) até o seu completo oposto: o Estado Intervencionista (meados do século XX). Ocorre que ambos modelos extremos acabam se mostrando ineficientes em algum ponto. A “mão invisível” de Adam Smith acabou se mostrando insuficiente para evitar abusos e rupturas alarmantes nos mercados livres. Por sua vez, ao concentrar tarefas na esfera estatal, o Estado Intervencionista acabou se mostrando lento e ineficiente para atuar de forma satisfatória na economia, gerando problemas que antes não existiam.
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No meio termo desses extremos encontramos uma visão próxima do Estado de Direito Social que a República Federativa do Brasil incorpora. Uma leitura atenta da Constituição (CRFB/88) do nosso país revela traços de um mercado semi-‐livre. Uma junção ideológica valorizando a livre-‐iniciativa e a propriedade privado com contrapontos, não de forma ilimitada, mas sim, de forma responsável.
Talvez você tenha notado que ao longo dessa aula tenho utilizado apenas a
expressão “regulação” e não o termo “regulamentação”. Em sentido amplo, ambas terminologias podem ser utilizadas para se referir ao assunto aqui tratado, porém, optei pela primeira opção para afastar qualquer confusão que possa gerar outro instituto do nosso ordenamento jurídico: o Decreto Regulamentar previsto no inciso IV, o art. 84 da CRFB/88.
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: IV -‐ sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução;
Dessa forma, adotamos o entendimento apresentado por Rodrigo Santos Neves,
que diferencia regulamento (ato privativo do Chefe do Poder Executivo, com objetivo de aclarar, pormenorizar ou explicar uma lei para sua fiel execução) da regulação (ato praticado por entidades estatais que buscam induzir comportamentos dos agentes econômicos e corrigir falhas do mercado, podendo atuar de diversas maneiras, como criando normas, fiscalizando, aplicando sanções e compondo conflitos).
Essa função reguladora pode ser apresentada de duas formas:
1. Regulação Executiva: “As Agências Reguladoras são autarquias, isto é, entidades que compõe a Administração Pública Indireta (Poder Executivo), que têm a finalidade de regularem seus respectivos setores da economia”.
2. Regulação Judicante: quando a agência reguladora tem poder decisório sujeita ou não a revisão judicial. Uma pergunta se faz importante: quando uma Agência Reguladora exerce a
função judicante (ou regulação judicante), qual a natureza do ato emanado? É um ato judicial ou administrativo? Em nosso ordenamento jurídico vigora a ideia da jurisdição Una, ou seja, o Poder Judiciário é competente para apreciar todos os tipos de matérias, em virtude do inciso XXXV, do art. 5º da CRFB/88;
XXXV -‐ a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
A partir desse argumento, aliado a ideia da supervisão ministerial exercida por
órgãos do poder Executivo, podemos concluir que, quando as Agências Reguladoras
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atuam na resolução de conflitos, em verdadeira regulação judicante, ela emite atos administrativos. Esses atos tem sua essência, seu mérito, protegidos da ação do poder Judiciário, porém seu forma e motivação podem ser alvos de revisão judicial.
Chegamos ao ponto em que devemos analisar o produto dessas formas de
regulação: A Regulação Normativa, que é aquela que o Estado emite normas com o fim de induzir os administrados a se comportarem de determinado modo, para que economia siga os caminhos desejados pelo Estado. Esse poder foi atribuído, diretamente, pelo constituinte originário, que inscreveu no caput do art. 174 a seguinte norma:
Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado.
Observem que as principais atividades das Agências Reguladoras estão ai citadas: fiscalização, incentivo e planejamento. A parte final desse artigo fala que o produto da regulação econômica é de observância obrigatória para o setor público e indicativo para o setor privado. Não podemos interpretar essa afirmação de modo literal pois mesmo as pessoas pertencentes ao setor privado quando desempenharem funções públicas (serviços públicos) deverão observar, obrigatoriamente, os preceitos de regulação emanados pelo Estado. A produção de normas pelas Agências Reguladoras é feita de forma diferente das normas produzidas pelo Poder Legislativo por dois aspectos básicos: o primeiro é a celeridade (atento ao mercado, as normas regulatórias devem ser temporâneas, ou seja, devem ser editadas no momento em que produzam maiores efeitos e sejam mais necessárias. Com a dinâmica e evolução dos meios de comunicação, os acontecimentos são propagados de maneira mais rápida e difusa, exigindo uma atuação estatal diferente da apresentada na sua esfera concentrada); a segunda característica é a amplitude da discricionariedade, as Agências Reguladoras estão adstritas aos “standards” traçados na legislação que cria a própria entidade. Além disso, relembra Maria Sylvia Zanella di Pietro o princípio da Especialidade, segundo o qual a entidade criada por lei (Agência Reguladora) não pode exercer atividades estranhas àquelas delegadas pela concessão legislativa.
Após essa explanação geral sobre regulação vamos conhecer um pouco da história das Agências Reguladoras. ASPÉCTOS HISTÓRICOS: Primeiro passo que devemos esclarecer é que as Agências Reguladoras no Brasil surgiram como alternativa para solucionar uma crise pela qual passava o Estado. Essa crise era resultando do crescimento de atividades tidas como de competência do Estado. Atividades típicas dos setores privados que, com a ampliação do estado de bem-‐estar social, passaram a ser incumbência de um Estado não totalmente preparado.
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Alie-‐se uma máquina inchada, burocrática (em seu sentido disfuncional) e corrupta e temos os motivos ideais para reformular a atuação estatal, aplicando a descentralização (conhecida como desestatização ou privatização). Esse movimento ficou conhecido como Estado Subsidiário, um termo cunhado por Juan Carlos Cassagne. Segundo o autor, o que se segue é uma organização binária que exerce “funções indelegáveis, como a justiça, defesa, seguridade e “funções desenvolvidas por um conjunto de organizações menores que cumprem uma missão supletiva da atividade privada (educação, saúde e serviços públicos)”. A partir do momento em que colocasse em pauta a ideia do princípio da subsidiariedade (cunhado e defendido por Maria Sylvia Zanello di Pietro), é possível defender a ideia da privatização de determinadas atividades que antes eram responsabilidade do Estado. A ideia de Estado Subsidiário é aquele no qual o individuo é livre para propor e controlar o seu desenvolvimento, participando do processo político, no controle das atividades governamentais. Desse ponto, são divididas as atividades privativas do Estado e as atividades Não-‐privativas do Estado. Segundo Regina Bernardes Rocha “No Brasil, o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, editado pelo Presidente Fernando Henrique Cardo, em 1995, almejou diminuir o tamanho do Estado, por meio das privatizações, possibilitando, ao mesmo tempo, uma prestação mais eficaz dos serviços, com a manutenção da função estatal fiscalizatória (a execução fica com o setor privado, sob a fiscalização do setor público).” Leciona Vanessa Vieira de Mello que o “Estado passa a ter uma ‘administração pública gerencial’, baseada em conceitos de administração e eficiência, advindos do direito privado”. Em resumo, podemos dizer que o processo de privatização acaba sendo um mecanismo que visa repensar as atividades e prioridades do Estado frente a sociedade. Ao retirar a atuação estatal direta do mercado econômico surge a necessidade de criar regras básicas para evitar a volta da ideia liberal, em sua plenitude. Até mesmo a busca pelo interesse público legitima o Estado a manter, apesar da privatização, o poder de dizer os “standards” mínimos que devem ser seguidos pelo mercado. Porém, surge um problema crucial: como amenizar os problemas de influência política na regulação de serviços eminentemente técnicos? A resposta encontrada teve como base o modelo norte-‐americano das regulatory agencies. Importante ressaltar que não somente a nomenclatura (Agências Reguladoras) foi importada do direito comparado. A própria estrutura independente, gerando conflitos em virtude da inadequação com o nosso ordenamento jurídico. Originalmente, a Administration Procedure Act (APA) é a lei que regulamenta o procedimento administrativo americano e considera “agência como autoridade do Governo Federal, distinta do Legislativo e do Judiciário”. Assim, a atuação das Agências Reguladoras americanas é muito mais ampla e discricionária do que o modelo
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implementado no Brasil, justamente pela incompatibilidade desses mecanismos com os dizeres básicos dos Direitos Administrativo e Constitucional Brasileiro. Uma classificação importante nas espécies de Agências Reguladoras Americanas é aquela que subdivide-‐as em “regulatory agencies” e “non regulatory agencies”. As primeiras podem exercer o poder regulatório (normativo e decisório) já as segundas são incumbidas de prestar serviços aos cidadãos, como proteção aos trabalhadores ou pagamento de pensão, não podendo criar normas gerais. Além disso, podemos classificar as Agências Americanas em “independente regulatory agencies” e “executive agencies” -‐ as primeiras gozam de certa autonomia e liberdade em relação ao Poder Executivo, as segundas tem menor grau de independência. É com base nestes institutos que surgem as nossas Agências. No Brasil, as Agências Reguladoras tem, em regra, a forma de Autarquias em Regime Especial, porém, adverte Di Pietro que “Agência reguladora, em sentido amplo, seria, no direito brasileiro, qualquer órgão da Administração Direta ou entidade da Administração indireta com função de regular matéria específica que lhe está afeta”. Aqui podemos concluir que é o critério objetivo e não subjetivo que caracterizaria a definição do que é uma Agência Reguladora no Brasil. José Cretella Júnior ensina que o vocábulo “autarquia” é formado por dois elementos compostos – autós (próprio) e arquia (direção, governo, comando), significando, etimologicamente, autogoverno ou comando próprio. Segundo Di Pietro, a primeira vez que esta palavra foi utilizada remete a Itália, em 1897, por Santi Romano ao transcorrer sobre o tema da “Descentralização Amdinistrativa”, publicada na Enciclopédia Italiana para substituir o termo “ente autônomo” que se referia as comunas italianas. Observem que a definição de autarquia surge, originariamente, como uma AUTARQUIA TERRITORIAL (descentralização territorial). Defendem os doutrinadores que, no Brasil, as autarquias já existiam antes mesmo da elaboração do seu conceito doutrinário e legal, apontando como principal exemplo a Caixa Econômica Federal, criada em 1861, pelo Governo Imperial. Por outro lado, referente a ideia das Agências Reguladoras (que nada mais são do que Autarquias em Regime especial que recebem do ente que as criou a incumbência de regular determinada matéria econômica/social) sua origem também se deu antes das definições doutrinárias. Aponta Manoel Gonçalves Ferreira Filho entidades como o Comissariado de Alimentação Pública (1918), o Instituto de Defesa Permanente do Café (1932), o Instituto do Açúcar e do Álcool (1933), “todos esses institutos instituídos como autarquias econômicas, com a finalidade de regular a produção e o comércio”. A primeira referencia legal (no Brasil) estava inscrita no Decreto-‐Lei nº 6.016 de 22 de novembro de 1943 sendo autarquia “o serviço estatal descentralizado, com
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personalidade de direito público, implícita ou explicitamente criado por lei”. Atualmente é definido no artigo 5º, I, do Decreto-‐Lei nº 200/67
Autarquia -‐ o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da Administração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada.
A Constituição de 1967 considerava as autarquias pessoas jurídicas de direito privado, mas a Emenda Constitucional nº1/69 alterou novamente sua natureza, transformando-‐as em pessoas jurídicas de direito público. Originalmente, a CRFB/88 também previa que as autarquias seriam pessoas jurídicas de direito privado (art. 173, §1º) no entanto, a EC nº19/98 as excluiu desse regime. Atualmente o Código Civil diz que
Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno: IV -‐ as autarquias, inclusive as associações públicas;
CARACTERÍSTICAS DAS AUTARQUIAS: Listaremos em tópicos as principais características das Autarquias e, posteriormente, analisaremos quais características que conferem o “regime especial”. Essas são as cinco principais características apontada por Di Pietro:
1. São criadas por lei. Essa exigência esta inscrita tanto no Decreto-‐lei nº200/67 quanto na CRFB/88 (art. 37, XIX).
2. São pessoas jurídicas de direito pública que passam a ter existência com a promulgação da lei criadora. É pessoa jurídica distinta da entidade que a criou. Possui direitos, patrimônio e obrigações próprios e se submente ao regime jurídico administrativo.
3. São independentes em sentido relativo. Não sofrem ingerências políticas e tem capacidade de autoadministração porém, não são autônomas, ou seja, não tem o poder de criar o próprio direito. Estão vinculadas aos elementos instituídos em sua lei criadora. Detém capacidade de decisão sobre suas matérias próprias.
4. Possuem elevado nível de especialização para lidar comas matérias que lhe foram delegadas.
5. Submetem-‐se a controle administrativo, mais conhecido como TUTELA ADMINISTRATIVA ou TUTELA MINISTERIAL. Isso é, o órgão responsável pela sua criação mantém a fiscalização em busca da eficiência e da manutenção dos limites de atuação que foram traçados na lei instituidora.
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A partir dessas características, é proposta a seguinte definição parar autarquia “a pessoa jurídica de direito público, criada por lei, com capacidade de autoadministração, para o desempenho de serviço público descentralizado, mediante controle administrativo exercido nos limites da lei”2.
Quanto ao regime especial esta acesa a polêmica. Parte da doutrina refuta essa ideia dizendo que não existem características que possam diferenciar uma autarquia de uma autarquia em regime especial. Já os autores que defendem a existência dessa categoria dizem que os elementos especiais são definidos na lei criadora da Autarquia e que, em regra, têm as seguintes características: maior autonomia em relação à Administração Direta, à estabilidade de seus dirigentes, garantida pelo exercício de mandato fixo com prazo certo, que os dirigentes só podem perder o seu cargo nas hipóteses previstas em lei, ficando afastada a possibilidade de exoneração ad nutum, caráter final das suas decisões, que não são passíveis de apreciação por outros órgão ou entidades da Administração Pública (Parte da doutrina chama esta característica de possibilidade de produção de coisa julgada administrativa – este elemento será melhor estudado em aulas futuras)
CLASSIFICAÇÃO DAS AUTARQUIAS: Diversos critérios são utilizados para classificar as autarquias. Não podemos
dizer, veementemente, que algum dos critérios esta mais certo do que o outro. Podemos, porém, afirmar que alguns são mais úteis do que os outros. O primeiro critério que estudaremos é o mais antigo. Atualmente, tem valor meramente histórico. Esse critério leva em consideração o tipo de atividade que a autarquia desempenha, classificando-‐as em:
1. “Autarquias econômicas – destinadas ao controle e incentivo à
produção, circulação e consumo de certas mercadorias, como o Instituto do Açúcar e do Álcool.
2. Autarquias de Crédito -‐ como as Caixas Econômicas (hoje transformadas em empresas públicas).
3. Autarquias Industriais – como a Imprensa Oficial do Estado (hoje também transformada em empresa).
4. Autarquias de previdência e assistência – como o INSS e o IPESP. 5. Autarquias profissionais ou corporativas – que fiscalizam o exercício
das profissões como o CREA, o CRM e tantas outras. 6. Autarquias culturais ou de ensino – em que se incluem as
Universidades”3 Outro critério apresentado diz respeito a capacidade administrativa, que se
subdivide em:
2 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella – Direito Administrativo, pág. 501. 3 Idem, pág 502
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Autarquia Geográfica (Territorial) Autarquia de Serviço (Institucional) Corresponde a descentralização
territorial Corresponde a descentralização por
serviços. Tem, em regra, as mesmas atribuições dos Entes políticos que a criaram, porém, sem a capacidade política.
Tem capacidade especifica e limitada pela lei instituidora.
Ex: Territórios Federais Ex: ANATEL Um outro critério considera a estrutura, subdivididas em:
1. Fundacionais: o elemento principal é o patrimônio destinado a realização de certos fins que ultrapassam o âmbito da própria entidade, indo beneficiar terceiros estranhos a ela.
2. Corporativas ou associativas: o elemento principal são os membros que se reúnem para atingir determinado fim.
E para finalizarmos a aula de hoje, faremos breves considerações sobre a
Ordem dos Advogados do Brasil. segundo o Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI 3.026-‐4/DF “não procede a alegação de que a OAB sujeita-‐se aos ditames impostos à Administração Pública Direta e Indireta da União. A Ordem não é uma entidade da Administração Indireta da União. A Ordem é um serviço público independente, categoria ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro. A OAB não está incluída na categoria na qual se inserem essas que se tem referido como ‘autarquias especiais’ para pretender-‐se substanciar uma entidade da Administração Indireta, a OAB não esta sujeita a controle da Administração, nem a qualquer das suas partes está vinculada. Essa não vinculação é formal e materialmente necessária” (Relator: Ministro Eros Grau; julgamento 8-‐6-‐2006, pelo Tribunal Pleno, DJ 29-‐09-‐06).
A partir dessa decisão podemos afirmar que a OAB vive no “melhor dos
mundos” pois é pessoa jurídica de direito público, gozando de todos os benefícios que esta prerrogativa possa conferir e, ao mesmo tempo, não se sujeitando aos tradicionais ônus suportados por tais entidades, como a sujeição ao controle administrativo exercido em regra pelo Tribunal de Contas da União.
Um último critério de classificação, não menos importante, é aquele que
distingue o âmbito de atuação da autarquia, sendo divididas em autarquias Federais, Estaduais e Municipais.
Finalizamos por hoje! Espero, sinceramente, que você tenha aproveitado
esta aula, que ela agregue muito conteúdo e te dê disposição necessária para vencer esse caminho de preparação e estudos! Que neste momento você fique mais próximo da sua aprovação! Nos vemos na próxima aula! Abraços!
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