Aula 02 aula dois CPC

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    OAB 2 ª FASEDireito Civil

    Roberto Figueiredo

    OAB 2ª Fase  – XII Exame

    Aula 2

    Elaboração: Roberto Figueiredo1.

    EMENTA:

    OBRIGAÇÕES (PARTE 2) 

    1. Classificação das Obrigações1.1. Obrigação de Dar.

    1.1.1. Obrigação Pecuniária.1.2. Obrigação de Fazer x de Não Fazer.1.3. Obrigações Alternativas.1.4. Obrigações Solidárias.1.5. Obrigações de meio, de resultado e de garantia.

    2. Do Adimplemento e da Extinção das Obrigações (Teoria do Pagamento Direto).a) Quem Deve Pagar (solvens).b) A Quem Pagar (accipiens).c) Do Objeto do Pagamento.d) Da Prova do Pagamento.e). Do Lugar do Pagamento.f) Do Tempo do Pagamento.

    Classificação das Obrigações

    1 Procurador do Estado da Bahia. Mestre em Direito Privado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Advogado e Consultor.

    Professor de Direito Civil. Palestrante. Autor de Artigos Científicos e Livros Jurídicos. Twitter: @Roberto_Civil.  

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    Coisa Certa

    Dar

    Coisa Incerta

    Positivas

    Fungível

    Fazer

    Obrigações

    Infungível

    Negativas – Não-Fazer

    Obrigação de Dar.

    a) Dar : Transferindo a propriedade das coisas;b) Entregar : Transferindo a posse ou detenção das coisas;c) Restituir : Devolução ao credor da posse ou detenção da coisa.

     Atenção!

    Esta obrigação de dar pode ser dividida em um dar coisa certa (arts. 233 - 242 do CC) e em um darcoisa incerta (arts. 243 - 246 do CC). 

    Obrigação de Dar Coisa Certa

    Nas obrigações de dar coisa certa o objeto  está completamente individualizado: gênero,quantidade e qualidade.  (Ex: a obrigação de entrega de um veículo, tendo especificado a suamarca, ano, placa policial e chassi.) 

    Dica!

     Art. 233 do CC - o acessório segue a sorte do principal: nas obrigações de dar coisa certa, asbenfeitorias e os demais acessórios, à exceção das pertenças (arts. 93 e 94 do CC), devemacompanhar o bem principal.

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     Aplicação prática!

    Total: Perecimento

    Perda

    Parcial: Deterioração

    Sem culpa do Devedor: Resolve a Obrigação.

    Equivalente

    Perecimento

    Com culpa do Devedor +

    Perdas e Danos

    Obrigação de restituir (artigos 238 - 241, CC).

    a) Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor , se perder (perecer),antes da tradição, sofrerá o credor a perda e a obrigação se resolverá.

    b) Se a coisa se perder (perecer) por culpa do devedor , responderá este pelo equivalente, maisas perdas e danos.

    c) Se a coisa restituível se deteriorar  sem culpa do devedor , recebê-la-á o credor, tal qual se ache,sem direito a indenização.

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    d) Se houver  culpa do devedor , responderá este pelo equivalente, mais as perdas e danos.

    Obrigação de Dar Dinheiro (Pecuniária) – arts. 315 e 947 do CC.

    Princípio do nominalismo - o art. 318 do CC veda, como regra, o pagamento em ouro ou moedaestrangeira.

    Obrigação de Dar Coisa Incerta ou Genérica – (243, CC).

    Obrigação genérica indicada apenas pelo gênero (espécie)2 e quantidade, carecendo de qualidade  3. Ex: a obrigação de entregar 15 (quinze) sacas de cacau. Há espécie (cacau) e quantidade (quinzesacas). Todavia, como não houve ainda individualização, não há qualidade. 

     A concentração do débito ou da prestação. Caberá ao devedor  (CC, art. 244). A escolha deveráguiar-se por um critério médio (CC, arts. 113 e 245).

    Dica!

    Está consolidado no direito civil a expressão segundo a qual o gênero não perece nunca (genusnunquam perit ). Desta forma, não se deve aplicar para as obrigações de dar coisa incerta, antes daescolha do objeto, o regramento do res perit domino. É o que prescreve o art. 246 do CC. Sendoassim, se a perda do objeto ocorrer antes da concentração do débito, responderá o devedor, aindaque diante de um caso fortuito ou força maior.

    Obrigação de Fazer (Obligat io Ad Faciendum )

     A obrigação de fazer pode ser fungível ou infungível:

    a) Fungível: Aqui pouco importa quem está cumprindo com a prestação (arts. 633 e 634 do CPC).

    b) Infungível: Personalíssima, seja pela natureza do bem, seja pela convenção das partes. Nesta, o

    2  Malgrado a doutrina falar em espécie, o Código Civil utiliza-se da expressão gênero. O futuro aprovado deve ficar atento,

    inclusive, nas provas objetivas.3 Apesar do art. 243 do CC afirmar que a coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade, tecnicamente é

    mais correto utilizar o signo espécie no lugar do gênero, termo extremamente genérico.

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    devedor  é o elemento causal da obrigação.

    Obrigação de Não Fazer (Obligat io Ad Non Faciendum ).

     A obrigação de não fazer está prevista nos arts. 250/251 do CC. É a única obrigação negativaadmitida no Direito Privado! Configura-se pelo compromisso de abstenção de uma conduta.Exemplo: não despejar lixo em determinado local; não divulgar segredo industrial; não construir acimado terceiro andar; não abrir um estabelecimento comercial nesta vizinhança; não poluir o meioambiente; não concorrer num determinado ramo do comércio, etc.

    Obrigação de não fazerinstantânea

    Obrigação de não fazerpermanente

    Inadimplemento: perdas e danos. Inadimplemento:  desfazimento doato. 

    Exemplos. A obrigação de não prestar um serviço em uma empresa concorrente é instântanea. O seudescumprimento culposo ocasionará o pedido de perdas e danos, pois resta impossível odesfazimento. Já a obrigação de não erguer um muro acima de determinada altura, é permanente. Oseu descumprimento culposo autoriza o pedido de desfazimento do ato, cumulado com as perdas edanos.

    Obrigações alternativas (art. 252, CC).

     A escolha do objeto (concentração da prestação)  caberá ao devedor , se outra coisa não seestipular, ou não se extrair da interpretação do caso concreto. Aqui se insere o brocardo: electa unavia, altera non datur ; ou seja: eleita uma via, não há retorno.

     Atenção!

    Se houver uma pluralidade de optantes, a escolha haverá de ser unânime. Em não existindounanimidade no prazo delineado na obrigação, a escolha caberá ao juiz (CC, art. 252, §3°). Se nãohouver prazo estabelecido no vínculo obrigacional, este será de 10 (dez) dias, contados da citação

    (CPC, Art. 571). No silêncio, o magistrado irá suprir a escolha.

    E poderia o devedor concentrar o débito parcialmente em uma prestação e parcialmente em outra? Aresposta é negativa. A alternância impede que os objetos das prestações sejam confundidos emisturados, sendo proibido ao devedor adimplir parte em um objeto e parte em outro ( princípio daindivisibilidade do objeto).

    Obrigação alternativa de trato sucessivo, ou diferida no tempo, como proceder a escolha? Poderá serrealizado em cada um dos respectivos momentos, ante o jus var ian d i  na hipótese: balanceamentoda concentração, ou seja, em cada pagamento será exercido o direito de escolha.

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    Vamos iniciar tratando do perecimento (perda total):

    a) Se o perecimento foi sem culpa do devedor , a exemplo de um caso fortuito ou força maior, aobrigação se resolve (CC, art. 256).b) Se a escolha caberia ao devedor  e o perecimento foi com culpa, haverá de adimplir ao credor ovalor equivalente da prestação que por último se impossibilitou, mais as perdas e danos.c) Se a escolha caberia ao credor   e houve culpa do devedor  no perecimento, o credor poderáescolher o valor de quaisquer das prestações impossibilitadas, mais as perdas e danos (CC, art.255).

    Já diante da deterioração (perda parcial):

    a) Se a deterioração foi sem culpa do devedor , o débito será concentrado na prestaçãoremanescente (CC, art. 253).

    b) Se a deterioração foi com culpa do devedor :

    b.1) e a escolha  caberia ao credor , este poderá exigir a prestação remanescente, ou oequivalente da impossibilitada, mais as perdas e danos (CC, art. 255);

    b.2) e a escolha  cabe ao devedor , basta que este concentre o débito na prestaçãoremanescente (CC, art. 253).

     Atenção!

    No campo do Direito Processual, o art. 288 do CPC autoriza a elaboração de pedidos alternativos,toda vez que a obrigação, no plano do direito material, for alternativa.

    Pegadinha!

    Obrigação facultativa, também chamada de obrigação com faculdade alternativa ou obrigação comfaculdade de substituição.

     Apesar de não prevista explicitamente com este nome na lei, é defendida por parte da doutrina.Nesta modalidade obrigacional (para quem admite a existência da mesma), haveria apenas uma

    prestação, acompanhada por uma faculdade a ser exclusivamente realizada pelo devedor, deacordo com a sua opção ou conveniência, no sentido de substituir a prestação, de modo que ocredor não poderia exigir qualquer tipo de alternância.

    Portanto, a obrigação facultativa seria uma obrigação simples, como sustentam M ARIA HELENADINIZ4  e SILVIO DE S ALVO VENOSA5, trazendo a doutrina o exemplo do contrato estimatório ou porconsignação (CC, art. 534).

    4In Curso de Direito Civil Brasileiro. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 124.

    5In Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 360.

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    O poder de substituição da prestação é exclusivo do devedor. Exemplifica-se: o devedor deveentregar um carro, mas, acaso não o tenha, deverá adimplir com uma prestação de serviço. Trata-sede uma relação de preferência, e não de alternância.

    Obrigações solidárias (CC, art. 264 e seguintes).

     Assim, há solidariedade quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de umdevedor, cada um com direito ou obrigado à dívida toda (unidade do objeto).

    Duas questões devem, inicialmente, serem lembradas:

    (i) A solidariedade não se presume, decorre de lei (solidariedade legal) ou da vontade daspartes (solidariedade convencional) - CC, art. 265.

     Atenção! Pode decorrer da lei. Exemplos: ato ilícito (arts. 932 e 942 do CC, bem como no art.

    7º, parágrafo único, do CDC), lei do inquilinato (art. 2° da Lei 8.245/91); pluralidade defiadores (art. 829 do CC) e pluralidade de comodatários (art. 585 do CC).

    (ii) Decorrendo da autonomia privada, nada impede que a solidariedade seja pura ou simples,condicional, a termo ou com modo ou encargo, conforme rol exemplificativo do art. 266 do CC.

     Atenção! Enunciado 347 do CJF: “A solidariedade admite outras disposições de conteúdo particularalém do rol previsto no art. 266 do Código Civil”. Com efeito, é até mesmo possível que asolidariedade seja, em um mesmo vínculo, pura para um dos devedores e condicionada para outro.

    Temas de segunda fase sobre a solidariedade:

    a) A solidariedade ativa (CC, 268) e a prevenção judicial! 

    b) A refração do crédito solidário (art. 270 do CC) para caso de óbito.

    c) A refração do débito solidário (art. 276 do CC).

    d) As exceções pessoais (CC, 273).

    e) O pagamento parcial (CC, 275)

    f) a renúncia x a remissão.

    Obrigações de Meio, Resultado e Garantia

    Na lição de SÍLVIO DE S ALVO VENOSA6, nesta modalidade de obrigação o resultado é o que importa,independente dos meios utilizados para tanto, de modo que apenas assim a obrigação seráconsiderada adimplida. O fundamental é saber o que o devedor prometeu e o que o credor poderazoavelmente esperar. Ex: contrato de transporte (CC, art. 737).

    Como se posicionou o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA sobre o tema?

    Em outubro de 2011 o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA decidiu que o dentista ortodôntico assume

    6In Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 52/53.

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    obrigação de resultado, de modo que sua responsabilidade civil será objetiva acaso o fim avençadonão seja atingido (REsp. 1.238.746).

    Também entende a jurisprudência deste mesmo Egrégio Tribunal que o médico cirurgião plásticoestético  – cirurgia plástica embelezadora ou cosmetológica - assume obrigação de resultado (REsp.236.708). Idem sobre o contrato de corretagem (REsp. 208.508).

    Também é este o entendimento nos diversos Tribunais de Justiça do país, especialmente para oscasos de cirurgia plástica cosmetológica (TJSP, AP. 132.990-4/2003) e dentista estético (TAMG,acórdão 0377927-1/2002).

    Na obrigação de resultado cabe arguição de excludente de responsabilidade civil?

    Sim!

    No caso de contrato de transporte, por exemplo, malgrado resistências doutrinárias, que serãoenfrentadas quando da análise das excludentes de responsabilidade civil, o art. 737 do CC firma apossibilidade de arguição da força maior, especialmente o fortuito externo.  

    Como se posicionou o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA sobre o tema?

    Em outubro de 2012 o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA  decidiu que processo alérgico posterior àcirurgia plástica estética é fortuito. Desde que o médico tenha agido com toda a diligência possível,não há de ser responsabilizado (REsp 985888 / SP. Rel. Min. Luis Felipe Salomão. Quarta Turma.Publicado em: 13/03/12).

    Outras obrigações são as de meio. Nestas, o devedor não tem como (ou não deseja) secomprometer com o resultado. Ex: art. 14, §4° do CDC os profissionais liberais.

     Atenção!

    Cirurgia plástica reparadora, decorrente de queimaduras ou acidentes, por exemplo, consistem emobrigação de meio. Nestas o médico agirá com a maior diligência e prudência possível, sem,contudo, assegurar um resultado. 

    Já na obrigação de garantia o devedor, mediante contraprestação pecuniária, assume (garante) umrisco. O garantidor tem como principal compromisso eliminar os riscos do credor.

    SÍLVIO DE S ALVO VENOSA7 sustenta que o conteúdo desta modalidade reside no desejo de se eliminarum risco, que pesa sobre o credor. Dessa forma, a simples assunção do risco pelo devedor dagarantia representa o adimplemento da prestação. Assim, em um contrato de segurança patrimonialprestado por empresa especializada, onde este negócio jurídico se apresenta ao lado de umaobrigação de meio, ou ainda nos casos de seguro e fiança, quando se tem uma típica obrigaçãoexclusivamente de garantia (garantia pura).

    Como se pronunciou o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA sobre o tema?

    Por essência, a obrigação de garantia é acessória de uma principal, de modo que o adimplemento daprimeira extingue a segunda, como já entendeu o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (REsp 174.246).

    7In Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 52/53.

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    Do adimplemento das obrigações.

    Quem Deve Pagar (solvens )? Artigos 304 - 307 do CC.

    De acordo com a legislação, qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se ocredor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor, a exemplo de uma consignaçãoem pagamento, prevista tanto no CPC (art. 890), quanto no CC (art. 334).

    Como o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA se posicionou sobre o tema?

    No REsp. 85.551-PB, o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA entendeu ser possível ao terceiro “requerer aconsignação” admitindo-se, no caso concreto, que um descendente-sucessor se utilize da medida judicial de forma legítima.

    Mas, quem seria qualquer interessado?

    a) Devedor

    b) Representante do Devedor

    Interessado

    c) Terceiro Pague em Nome Próprio

    Desinteressado

    Pague em Nome do Devedor

    Mas o que eu devo entender por terceiro ineteressado?

    O interesse referido pela lei seria apenas o jurídico, ou também englobaria o moral?

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    Se ligue!

      Se o terceiro não interessado pagar em seu próprio nome, terá direito ao reembolso do quepagou, através de uma ação em regresso. Não se sub-roga, registre-se. O que há é meraação em regresso. Se pagar antes de vencida a dívida, somente terá direito ao reembolsoquando do vencimento da mesma (CC, art. 305).

      Se o terceiro não interessado fizer o pagamento em nome e conta do devedor, sem oposiçãodeste, não terá direito a exigir o reembolso. Neste caso, estar-se-á diante de uma meraobrigação natural, já mencionada nesta obra (CC, art. 304).

    Pegadinha:

    O artigo 307 do CC8  trata do pagamento efetuado mediante transmissão da propriedade, tambémdenominado de alienação a non domino. Tal conduta é ineficaz, pois se refere a uma alienação feitapor quem efetivamente não é o dono do bem. Só terá eficácia o pagamento que importar transmissãoda propriedade quando feito por quem possa alienar o objeto em que ele consistiu. Contudo, se fordado em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor que, de boa-fé, arecebeu e consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la. Trata-se de execção àregra do art. 307, prevista em seu parágrafo único. Isto porque o bem fungível acaba sendoconsumido, a exemplo de valores pecuniários.

    A Quem Pagar (accipiens )? artigos 308 a 312 do CC.

    a) Credor

    b) Representante

    c) Terceiro

     Atenção!

     A expressão adjectus solutionis causa é a pessoa expressamente indicada em determinado

    documento para receber a prestação. É, portanto, um representante convencional do credor queestá, por este, autorizado a receber.

    Mas, quando o pagamento for feito a terceiro terá eficácia?

     A pergunta é interessante, mormente diante do famoso adágio do direito obrigacional segundo oqual: “quem paga mal, paga duas vezes”.

    Seguindo a linha de intelecção dos artigos 308 e 309 do CC apenas terá validade o pagamento feito

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    a terceiro se:

    a) For ratificado pelo credor;

    b) Comprovar que fora revertido em proveito do credor.

    c) Caso se esteja diante de um credor putativo, também chamado de imaginário ou aparente.

    Vamos aprofundar as hipóteses!

    O art. 308 do CC considera válido o pagamento feito a terceiro se for ratificado pelo credor ou sereverter em favor deste, de modo a evitar o locupletamento ilícito ou sem causa, nos padrões daeticidade e da função social do pagamento. Considerando que a ideia de “reverter em favor” ou aindaa noção de “proveito” constituem signos abertos, é possível sustentar que o aludido benefício pode

    ser tanto direto e imediato, quanto indireto e mediato.

    Já o credor putativo está tratado no art. 309 do CC. Trata-se do credor imaginário, aparente. Leia-se: aquele que aparenta ser o seu credor, mas não o é. Como aparenta ser, o devedor, de boa-fé,realiza o pagamento. Este adimplemento é considerado válido. Consagra-se aqui o respeito à Teoriada Aparência e ao Princípio da Confiança nas relações obrigacionais (eticidade e socialidade).

    Como se posicionou o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA sobre o tema?

    O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA  no REsp. 12.592-SP admitiu o pagamento realizado à credorputativo com base em dois requisitos, quais sejam: a) a boa-fé e b) a escusabilidade do erro.

    E se o pagamento for realizado a um credor incapaz?

    O pagamento ao credor incapaz de quitar não é válido, a não ser que o devedor comprove que estereverteu em favor do incapaz, a teor do art. 310 do CC. Sendo absolutamente incapaz, o pagamentoé nulo (CC, 166). O pagamento feito a relativamente incapaz é anulável (CC, 171, I), e pode serratificado pelo seu representante legal à luz do princípio da conservação do negócio jurídico (CC,172).

     Atenção!

    Na forma do art. 180 do CC “o menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se deuma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ouse, no ato de obrigar-se, declarou-se maior”. Trata-se de clara adoção da nemo potest venire contrafactum proprium (proibição do comportamento contraditório), pois não poderia o incapaz, nacasuística, declarar-se maior e depois anular o negócio com base na idade, sem incorrer em clarocomportamento contraditório.

    Também se considera autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as

    circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante (CC, 311).

    Já o art. 312 do CC consagra dois institutos: o da penhora prévia e o da oposição, a obstruir a

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    eficácia  do pagamento em tais situações: se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado dapenhora feita sobre o crédito, ou da oposição apresentada por terceiros, o pagamento não surtiráefeitos jurídicos contra estes, que poderão constranger o devedor a pagar novamente, ressalvado a

    este a repetição de indébito em face de quem inadvertidamente recebeu a prestação.

    Do Objeto do Pagamento - Artigos 313 a 318 do CC.

    Princípio da exatidão (art. 313 do CC): “o credor não é obrigado a receber prestação diversa da quelhe é devida, ainda que mais valiosa”. 

    Princípio da identidade física da prestação: “ainda que a obrigação tenha por objeto prestaçãodivisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim nãose ajustou (art. 314, CC)” .

     Atenção!

    Nada impede, porém, que no exercício da mesma autonomia, o próprio credor aceite receber coisadiversa oferecida pelo devedor. Tal concretiza-se através da dação em pagamento, forma indiretaou especial de adimplemento apta a extinguir a relação obrigacional (CC, 356). Para tanto, repise-se,será imprescindível a aquiescência do credor.

    Outrossim, no âmbito processual, o art. 745-A do CPC flexibiliza as regras de direito materialsupracitadas, ao consagrar a possibilidade da moratória legal. Assim, o devedor, no prazo dosembargos, poderá depositar apenas 30% (trinta porcento) do valor contra si executado, e pagar oremanescente em até 6 (seis) parcelas mensais, desde que o MM. Juiz da Execução defira o pleito.

    A teoria da imprevisão (CC, 317).

     Atenção!

    Enunciado 176 do CJF, sensibilizado com a ideia da conservação do negócio jurídico, entendeu que

    tanto o art. 317 (Teoria da Imprevisão), quanto o 478 do CC (Teoria da Onerosidade Excessiva),devem, sempre que possível, sujeitar-se ao aproveitamento e à revisão, sendo a resolução (extinção)sua ultima ratio.

    Da Prova do Pagamento

    O art. 319 do CC é claro ao afirmar: “O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode retero pagamento, enquanto não lhe seja dada” . Tal redação demontra a importância do recibo dequitação, autorizando ao devedor, até mesmo, a exercitar retenção do pagamento  –  direito deretenção  – caso não conceda o credor o respectivo recibo.

     A prova do pagamento é disciplina contida entre os arts. 319 a 326 do CC. 

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    Dica !

    Enunciado 18 do Conselho da Justiça Federal. Assim, admite-se a quitação  por meios

    eletrônicos, ou por quaisquer formas de comunicação a distância apta a ajustar negócios jurídicos epraticar atos jurídicos sem a presença corpórea simultânea das partes ou de seus representantes.

     Ainda versando sobre o pagamento, o Código Civil veicula algumas presunções relativas  ( juristantum). Vamos a elas:

    a) Na forma do art. 321 do CC a devolução do título  - nas obrigações cuja entrega da cártularepresente a quitação - constitui presunção jurídica favorável ao pagamento;

    Também prescreve o art. 324 que a entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento,salvo se o credor, no prazo de 60 (sessenta) dias, provar a falta do pagamento, situação na qual anorma qualifica como “sem efeito” a quitação.

    b) Seguindo com as presunções de pagamento, o art. 322 do CC trata do   pagamento deprestações periódicas, para presumir, salvo prova em contrário, quitação pretérita de todas asdemais parcelas anteriores ao último pagamento;

    c) Nas pegadas do art. 323 do CC, o pagamento do principal (capital) presume a quitação dosacessórios (juros), se não houver ressalva em contrário. Isto porque o acessório segue a sorte doprincipal (gravitação jurídica).

    Em arremate, deve-se lembrar que as despesas com o pagamento e a quitação, referidas no art.325 do CC, presumem-se a cargo do devedor. Nada impede que outra coisa seja ajustada pelaspartes. A norma é dispositiva ou supletiva, agindo no silêncio do pacto.

    Da mesma forma, acaso o credor dê causa a acréscimos nas despesas, evidentemente que deveráeste suportar o custo do acréscimo, tais como transporte, pesagem e taxas de banco.

    Do Lugar do Pagamento

     A regra geral no Brasil é que o pagamento deve ser efetuado no domicílio do devedor , salvo se aspartes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou

    das circunstâncias. É o que afirma o art. 327 do CC.

     Atenção!

    Quando o pagamento é realizado no domicílio do  devedor , chama-se a dívida de quesível ou querable . Já quando é no domicílio do credor , denomina-se a dívida de portável ou portable.

     Ainda sobre o lugar do pagamento, há regra específica para questão do imóvel, assim como asprestações referentes ao mesmo. Trata-se do art. 328 do CC, segundo o qual o pagamento, em taiscasos, deve acontecer no lugar onde o bem estiver situado. Evidentemente que a hipótese envolveos direitos reais imobiliários.

     Atenção!

  • 8/18/2019 Aula 02 aula dois CPC.

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    OAB 2 ª FASEDireito Civil

    Roberto Figueiredo

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     Art. 329 do CC. Ocorrendo motivo grave para que não se efetue o pagamento no lugar determinado,poderá o devedor fazê-lo em outro lugar, sem prejuízo para o credor.

     Art. 330 do CC: “O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credorrelativamente ao previsto no contrato”. 

    Do Tempo do Pagamento

    Os arts. 331 a 333 do CC disciplinam o momento no qual a prestação deve ser adimplida. A isto sedenomina de vencimento, data ou tempo do pagamento.

    Quando as partes nada disserem a respeito de quando o adimplemento deve ocorrer, o credor podeexigí-lo imediatamente, na forma do art. 331 do CC. Evidencia-se que o pagamento, em regra, éimediato, sob pena de incidência de juros moratórios (ex re).  Afinal de contas “o inadimplemento da

    obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor” (CC. 397). O art. 332 do CC trata das obrigações submetidas à condição. Neste específico caso, enquanto ocredor não comprovar o implemento da condição, não poderá exigir o adimplemento.

    Outra importante regra é a do vencimento antecipado, agora prevista no art. 333 do CC. Incide noscasos de falência do devedor ou concurso de credores (vide ainda art. 77 da Lei 11.101/2005,denominada Lei de Falências), se os bens destes forem hipotecados, empenhados (ofertados empenhor), penhorados ou, finalmente, se cessarem ou se tornarem insuficientes às garantias dodébito, sejam elas fidejussórias ou reais, e o devedor, intimado, negar-se a reforça-las.