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CURSO ON-LINE – TRIBUNAL REGULAR – DIREITO CIVIL Prof: Dicler Ferreira 1 www.pontodosconcursos.com.br AULA 8 – CONTRATOS EM ESPÉCIE Introdução Já estudamos na penúltima aula os conceitos gerais aplicáveis às diversas espécies de contratos existentes, sejam eles previstos em lei (contratos típicos) ou não previstos em lei (contratos atípicos). Dessa forma, hoje abordaremos algumas espécies de contratos previstas no Código Civil e cobradas em provas de concursos públicos para os diversos tribunais de nosso país. Fazendo uma análise dos principais editais, conclui que as espécies de contratos a serem estudadas hoje são: - Da compra e venda; - Do contrato estimatório; - Da doação; - Do empréstimo; - Da prestação de serviço; - Da empreitada; - Do seguro; e - Da transação. Percebe-se que temos muito trabalho para hoje. É tanto trabalho que resolvi deixar para a aula que vem os contratos de mandato, de depósito e de fiança. Da compra e venda A definição do contrato de compra e venda é dada pelo art. 481 do CC. Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro. Percebe-se que a simples celebração do contrato de compra e venda não transfere a propriedade, pois cria apenas uma obrigação de dar. O Código Civil brasileiro adotou o sistema romano ou alemão, diferente do sistema francês ou italiano onde o simples contrato já transfere a propriedade da coisa para o comprador. Então, quando que se transfere a propriedade no Direito Civil brasileiro? A resposta é dada pelos arts. 1.245 e 1.267 do CC. Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis.

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AULA 8 – CONTRATOS EM ESPÉCIE

Introdução

Já estudamos na penúltima aula os conceitos gerais aplicáveis às diversas espécies de contratos existentes, sejam eles previstos em lei (contratos típicos) ou não previstos em lei (contratos atípicos).

Dessa forma, hoje abordaremos algumas espécies de contratos previstas no Código Civil e cobradas em provas de concursos públicos para os diversos tribunais de nosso país. Fazendo uma análise dos principais editais, conclui que as espécies de contratos a serem estudadas hoje são:

- Da compra e venda;

- Do contrato estimatório;

- Da doação;

- Do empréstimo;

- Da prestação de serviço;

- Da empreitada;

- Do seguro; e

- Da transação.

Percebe-se que temos muito trabalho para hoje. É tanto trabalho que resolvi deixar para a aula que vem os contratos de mandato, de depósito e de fiança.

Da compra e venda

A definição do contrato de compra e venda é dada pelo art. 481 do CC.

Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro.

Percebe-se que a simples celebração do contrato de compra e venda não transfere a propriedade, pois cria apenas uma obrigação de dar.

O Código Civil brasileiro adotou o sistema romano ou alemão, diferente do sistema francês ou italiano onde o simples contrato já transfere a propriedade da coisa para o comprador.

Então, quando que se transfere a propriedade no Direito Civil brasileiro?

A resposta é dada pelos arts. 1.245 e 1.267 do CC.

Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis.

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Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição.

Em se tratando de bens imóveis, o comprador só adquire a propriedade quando efetua o registro do bem no Cartório de Imóveis, por outro lado, quando o bem for móvel, a propriedade é adquirida com a tradição (entrega da coisa ao adquirente).

SISTEMAS JURÍDICOS NO CONTRATO DE COMPRA E VENDA

SISTEMA FRANCÊS OU ITALIANO

O simples contrato de compra e venda já transfere a propriedade da coisa.

SISTEMA ALEMÃO OU ROMANO

O contrato de compra e venda cria uma obrigação de dar. É o sistema adotado no Brasil.

Sobre a natureza jurídica do contrato de compra e venda temos que ele é:

- bilateral ou sinalagmárico: gera obrigações para ambas as partes;

- oneroso: ambas as partes auferem vantagens e ônus;

- típico: está previsto no Código Civil;

- consensual: em relação aos bens móveis se forma com o simples acordo de vontades;

- solene: em relação aos bens imóveis a validade depende da lavratura de escritura pública.

- comutativo (regra): costuma haver equivalência de prestações, entretanto, pode, excepcionalmente ser aleatório, como vimos na aula passada (emptio spei e emptio rei speratae).

O comprador tem a obrigação de pagar o preço, receber a coisa vendida e devolver a duplicata da fatura, se for o caso. Ao vendedor cabe a obrigação de transferir a propriedade, com a tradição dos bens móveis ou escritura dos imóveis, bem como de responder pela evicção e pelos vícios redibitórios, salvo estipulação em contrário.

OBRIGAÇÕES

DO COMPRADOR DO VENDEDOR

- pagar o preço; - receber a coisa; e - devolver a duplicata, se houver.

- transferir a propriedade; - responder pela evicção; e - responder pelos vícios redibitórios.

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O contrato de compra e venda possui três ELEMENTOS ESSENCIAIS (art. 482 do CC): a coisa ou objeto (res), o preço (pretium) e o acordo de vontades (consensus).

Art. 482. A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço.

Quando a compra e venda se referir a bens imóveis cujo valor supere 30 salários mínimos, além dos três elementos citados, é necessária a forma especial (escritura pública).

1. COISA OU OBJETO A coisa, objeto de um contrato de compra e venda, deve atender a três requisitos:

- existência potencial: segundo o art. 483 do CC são suscetíveis de venda as coisas atuais (que já existem) ou as coisas futuras (que irão existir);

Art. 483. A compra e venda pode ter por objeto coisa atual ou futura. Neste caso, ficará sem efeito o contrato se esta não vier a existir, salvo se a intenção das partes era de concluir contrato aleatório.

- individualização: a coisa deve ser determinada ou então determinável ao tempo do cumprimento da obrigação; e

- disponibilidade jurídica: as coisas insuscetíveis de apropriação (indisponibilidade natural), legalmente inalienáveis (indisponibilidade legal) e gravadas com cláusula de inalienabilidade (indisponibilidade voluntária) não podem ser objeto de um contrato de compra e venda. Já as coisas litigiosas podem ser objeto, desde que o adquirente assuma o risco da evicção (art. 457 do CC).

Ainda sobre a coisa, temos o art. 484 do CC que trata da venda realizada através de amostras.

Art. 484. Se a venda se realizar à vista de amostras, protótipos ou modelos, entender-se-á que o vendedor assegura ter a coisa as qualidades que a elas correspondem. Parágrafo único. Prevalece a amostra, o protótipo ou o modelo, se houver contradição ou diferença com a maneira pela qual se descreveu a coisa no contrato.

2. PREÇO

Sem haver preço em dinheiro, estaríamos diante de um contrato de doação, pois a onerosidade do negócio deixaria de existir. Se o preço não for em dinheiro, estaríamos diante da uma troca ou permuta

Os arts. 485 a 489 do CC tratam do assunto. Art. 485. A fixação do preço pode ser deixada ao arbítrio de terceiro, que os contratantes logo designarem ou prometerem designar. Se o terceiro não aceitar a incumbência, ficará sem efeito o contrato, salvo quando acordarem os contratantes designar outra pessoa.

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Como regra, o preço é fixado pelos próprios contratantes, entretanto pode ser ajustado pelas partes que um terceiro determine o preço.

Art. 486. Também se poderá deixar a fixação do preço à taxa de mercado ou de bolsa, em certo e determinado dia e lugar.

Como exemplo do art. 486 do CC, temos um contrato de compra e venda onde o preço do café será indicado pela Bolsa de Mercadorias e Futuros de São Paulo em determinado dia.

Art. 487. É lícito às partes fixar o preço em função de índices ou parâmetros, desde que suscetíveis de objetiva determinação.

Pode também o vendedor de barras de ouro estipular o preço com base no valor do grama a taxa de certo dia.

Art. 488. Convencionada a venda sem fixação de preço ou de critérios para a sua determinação, se não houver tabelamento oficial, entende-se que as partes se sujeitaram ao preço corrente nas vendas habituais do vendedor. Parágrafo único. Na falta de acordo, por ter havido diversidade de preço, prevalecerá o termo médio.

Como exemplo do art. 488 do CC, se o vendedor de verduras omitir o preço em

determinado contrato, o valor que poderá ser cobrado será aquele habitualmente praticado nas outras vendas.

Art. 489. Nulo é o contrato de compra e venda, quando se deixa ao arbítrio exclusivo de uma das partes a fixação do preço.

Como o consenso é um dos requisitos a serem observados, não pode o preço ser arbitrado por uma das partes, sob pena de nulidade.

3. ACORDO DE VONTADES

Uma pergunta que já me fizeram em sala de aula diz respeito à pessoa que entra em uma loja para comprar uma roupa que estava na vitrine com um preço já fixado. Tal caso seria um arbítrio do preço?

A resposta é negativa, ou seja, se você entrou na loja é porque concordou com o preço da vitrine configurando-se o consensus.

O contrato de compra pode ocasionar diversos EFEITOS E CONSEQUENCIAS, dentre eles destacamos:

- Despesas do Contrato (art. 490 do CC): cabe ao comprador pagar as despesas de escritura (caso a venda seja solene), bem como de um eventual registro do contrato; por outro lado, cabem ao vendedor as despesas referentes à entrega (tradição da coisa que estava em seu poder).

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Art. 490. Salvo cláusula em contrário, ficarão as despesas de escritura e registro a cargo do comprador, e a cargo do vendedor as da tradição.

DESPESAS DE ESCRITURA E REGISTRO COMPRADOR

DESPESAS COM A TRADIÇÃO VENDEDOR

- Pagamento do preço (art. 491 e 495 do CC): a obrigação pelo pagamento do preço surge para o comprador antes do vendedor entregar o objeto, dessa forma, se o comprador não paga o preço, pode o vendedor se recusar a entregar a coisa.

Art. 491. Não sendo a venda a crédito, o vendedor não é obrigado a entregar a coisa antes de receber o preço.

A exceção ocorre quando a venda é a crédito, pois, neste caso, o vendedor é obrigado a entregar a coisa antes de receber o pagamento.

Art. 495. Não obstante o prazo ajustado para o pagamento, se antes da tradição o comprador cair em insolvência, poderá o vendedor sobrestar na entrega da coisa, até que o comprador lhe dê caução de pagar no tempo ajustado.

Também nas vendas a prazo, ocorrendo a insolvência (valor das dívidas superior ao valor dos bens) do comprador, a lei permite ao vendedor que retenha a coisa vendida até que o comprador apresente uma caução.

- Riscos da coisa e do preço (arts. 492 a 494 do CC): risco é o perigo a que a coisa está sujeita de perecer ou deteriorar, por caso fortuito ou força maior. Dessa forma, antes da tradição, o vendedor ainda é dono e, por isso, se a coisa perecer antes da entrega, deve suportar o prejuízo devendo o eventual dinheiro recebido ser devolvido.

Art. 492. Até o momento da tradição, os riscos da coisa correm por conta do vendedor, e os do preço por conta do comprador.

antes da tradição

Riscos da coisa: vendedor Riscos do preço: comprador

§ 1o Todavia, os casos fortuitos, ocorrentes no ato de contar, marcar ou assinalar coisas, que comumente se recebem, contando, pesando, medindo ou assinalando, e que já tiverem sido postas à disposição do comprador, correrão por conta deste.

O art. 492, § 1º do CC se refere à tradição simbólica, ou seja, quando a coisa comprada é colocada à disposição do comprador, para que as conte, marque ou assinale. Os casos fortuitos ocorridos no ato de contar, marcar e assinalar (ex: no ato de contar

tradição

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várias caixas uma delas cai de determinada altura e o objeto nela guardado se quebra) correrão por conta do comprador.

§ 2o Correrão também por conta do comprador os riscos das referidas coisas, se estiver em mora de as receber, quando postas à sua disposição no tempo, lugar e pelo modo ajustados.

No art. 492, § 2º do CC temos outra situação onde o comprador arcará com os prejuízos se estiver em mora de as receber (mora accipiendi). Ou seja, o vendedor colocou o bem a disposição para o comprador receber e este, por algum motivo não recebeu. Neste caso, os riscos da coisa correm por conta do comprador.

Riscos da coisa: comprador

Art. 493. A tradição da coisa vendida, na falta de estipulação expressa, dar-se-á no lugar onde ela se encontrava, ao tempo da venda.

A entrega da coisa ocorrerá no lugar previsto pelas partes no contrato. Em caso de silêncio, a norma supletiva da vontade dos contratantes indica que o local do cumprimento será aquele em que a coisa se encontrava ao tempo da venda.

Art. 494. Se a coisa for expedida para lugar diverso, por ordem do comprador, por sua conta correrão os riscos, uma vez entregue a quem haja de transportá-la, salvo se das instruções dele se afastar o vendedor.

Se o comprador determinar o envio ou expedição da coisa para local diverso do convencionado, correrão por conta dele os riscos da perda.

Art. 502. O vendedor, salvo convenção em contrário, responde por todos os débitos que gravem a coisa até o momento da tradição.

Caso existam dívidas que gravem a coisa no momento da tradição, tais dívidas, em regra, serão de responsabilidade do vendedor.

- Defeito oculto na venda de coisas conjuntas (art. 503 do CC): o Código Civil brasileiro optou pela redibição parcial, permitindo apenas a devolução da coisa viciada e mantendo as demais que estejam intactas.

Art. 503. Nas coisas vendidas conjuntamente, o defeito oculto de uma não autoriza a rejeição de todas.

O Código Civil também prevê, em certas situações, que determinadas pessoas não podem celebrar o contrato de compra e venda sob pena de nulidade. Tais situações

coisa colocada à disposição mora do

credor

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ocasionam uma FALTA DE LEGITIMAÇÃO PARA CELEBRAÇÃO DA COMPRA EVENDA.

- Venda de ascendentes para descendentes (art. 496 do CC): com a intenção de evitar possíveis fraudes por ocasião da sucessão legítima (ex: o pai simular a transferência dos bens para um dos filhos prejudicando os demais), a compra e venda entre ascendentes e descendentes pode ser anulada pelo cônjuge (se o regime de bens não for o da separação obrigatória) e demais descendentes se eles não manifestarem consentimento expresso na venda.

Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido. Parágrafo único. Em ambos os casos, dispensa-se o consentimento do cônjuge se o regime de bens for o da separação obrigatória.

- Compra por pessoas com poder sobre os bens do vendedor (arts. 497 e 498 do CC): o tópico em questão não permite que determinadas, em razão do poder que exercem sobre os bens do vendedor, comprem os bens citados, ainda que a venda seja realizada em hasta pública.

Art. 497. Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em hasta pública: I - pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados à sua guarda ou administração; II - pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa jurídica a que servirem, ou que estejam sob sua administração direta ou indireta; III - pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros serventuários ou auxiliares da justiça, os bens ou direitos sobre que se litigar em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde servirem, ou a que se estender a sua autoridade; IV - pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens de cuja venda estejam encarregados. Parágrafo único. As proibições deste artigo estendem-se à cessão de crédito.

Art. 498. A proibição contida no inciso III do artigo antecedente, não compreende os casos de compra e venda ou cessão entre co-herdeiros, ou em pagamento de dívida, ou para garantia de bens já pertencentes a pessoas designadas no referido inciso.

Para os casos aqui citados o legislador impôs como pena a nulidade absoluta dos atos.

- Venda por condômino de coisa indivisível (art. 504 do CC): o condômino (propriedade comum – pertencente a mais de uma pessoa)) de coisa indivisível permanece no regime de condomínio por obrigação, pois as únicas formas de extinção do condomínio são: um dos condôminos comprar as demais partes ou a venda da coisa com a repartição do valor.

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Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua parte a estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O condômino, a quem não se der conhecimento da venda, poderá, depositando o preço, haver para si a parte vendida a estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de decadência. Parágrafo único. Sendo muitos os condôminos, preferirá o que tiver benfeitorias de maior valor e, na falta de benfeitorias, o de quinhão maior. Se as partes forem iguais, haverão a parte vendida os comproprietários, que a quiserem, depositando previamente o preço.

- Venda a cônjuge (art. 499 do CC):um cônjuge pode vender um bem para outro quando o bem não integrar o patrimônio comum do casal, ou seja, quando estiver excluído da comunhão.

Art. 499. É lícita a compra e venda entre cônjuges, com relação a bens excluídos da comunhão.

Como exemplo, temos a vende entre casais cujo regime seja o da separação total de bens.

Alguns tipos de venda apresentam certas peculiaridades que são resolvidas por regras específicas. Nesse contexto encontram-se a VENDA AD MENSURAM e a VENDA AD CORPUS tratadas nos arts. 500 e 501 do CC.

- Venda ad mensuram (art. 500, caput do CC): é a venda feita por medida, ou seja, aquela em que o preço é fixado tendo em consideração a real dimensão da área. Ou seja, a metragem é mencionada a título taxativo, de modo que a dimensão exata da área é um requisito essencial do contrato.

Art. 500. Se, na venda de um imóvel, se estipular o preço por medida de extensão, ou se determinar a respectiva área, e esta não corresponder, em qualquer dos casos, às dimensões dadas, o comprador terá o direito de exigir o complemento da área, e, não sendo isso possível, o de reclamar a resolução do contrato ou abatimento proporcional ao preço.

É o que ocorre na venda onde se estipule o preço de cada unidade, alqueire, metro quadrado, ou metro de frente. Como exemplo, temos a venda de 100 alqueires de terra por R$ 30.000,00 cada um.

Caso a dimensão não corresponda à que foi indicada, resta ao comprador propor a complementação da área ou devolução de parte do preço ou resolução do contrato.

- Venda ad corpus (art. 500, § 3º do CC): é a que compreende uma coisa certa e determinada, de modo que o preço não tem relação direta com a extensão exata do imóvel. Ou seja, a metragem é mencionada a título meramente enunciativo, porque a preocupação é a venda e compra de um imóvel certo e determinado, de modo que a dimensão exata da área não é requisito essencial do contrato.

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§ 3o Não haverá complemento de área, nem devolução de excesso, se o imóvel for vendido como coisa certa e discriminada, tendo sido apenas enunciativa a referência às suas dimensões, ainda que não conste, de modo expresso, ter sido a venda ad corpus.

Como exemplo, temos a compra de uma fazenda determinada sem referência à sua área, ou com alusão a esta, mas em caráter meramente enunciativo, isto é, apenas para caracterizar melhor a coisa, utilizando-se de expressões do tipo “mais ou menos 500 alqueires”.

Na venda ad corpus não cabe a complementação no preço, caso a área seja maior, nem complementação da área, se esta for menor.

De acordo com o art. 500, § 1º do CC, tem-se uma presunção relativa de que a venda foi ad mensuram quando a diferença for inferior a 1/20 (5%).

§ 1o Presume-se que a referência às dimensões foi simplesmente enunciativa, quando a diferença encontrada não exceder de um vigésimo da área total enunciada, ressalvado ao comprador o direito de provar que, em tais circunstâncias, não teria realizado o negócio.

Já o art. 500, § 2º do CC prevê uma situação inversa, ou seja, se a área real for maior que a mencionada no instrumento contratual.

§ 2o Se em vez de falta houver excesso, e o vendedor provar que tinha motivos para ignorar a medida exata da área vendida, caberá ao comprador, à sua escolha, completar o valor correspondente ao preço ou devolver o excesso.

Através do art. 501 do CC, o prazo decadencial para o comprador que recebeu área menor ou para o vendedor que vendeu área excessiva em compra ad mensuram exercerem seus direitos expostos é de um ano contado a partir do registro do título no Cartório de Imóveis.

Art. 501. Decai do direito de propor as ações previstas no artigo antecedente o vendedor ou o comprador que não o fizer no prazo de um ano, a contar do registro do título. Parágrafo único. Se houver atraso na imissão de posse no imóvel, atribuível ao alienante, a partir dela fluirá o prazo de decadência.

É possível que algumas cláusulas especiais atribuam um feitio diferenciado ao contrato de compra e venda, subordinando a sua duração ou eficácia a um evento futuro e incerto. Essas CLÁUSULAS ESPECIAIS, também chamadas de pacto adjeto, são:

- retrovenda; - venda a contento; - preempção ou preferência; - venda com reserva de domínio; - venda sobre documentos.

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Retrovenda (arts. 505 a 508 do CC) é uma cláusula especial num contrato de compra e venda na qual se estipula que o vendedor poderá resgatar a coisa vendida, dentro de um prazo determinado, pagando o mesmo preço ou diverso, desde que previamente convencionado (incluindo, por exemplo, as despesas investidas na melhoria do imóvel).

A cláusula deve ser inserida no contrato de compra e venda, entretanto, não há na legislação proibição de que possa ser acordada em pacto apartado. Esta cláusula tem natureza jurídica acessória à compra e venda. É caracterizada a retrovenda como condição resolutiva expressa, tendo como conseqüência o desfazimento da venda. Ou seja, no prazo determinado o comprador tem a propriedade resolúvel do imóvel e, após o prazo, não sendo exercido o direito de resgate, a propriedade passa a ser plena.

A retrovenda, aplicável somente aos imóveis, não é considerada uma nova venda, ou seja, é uma consequencia da venda anterior. Seu prazo máximo é de três anos, ou seja, o vendedor só poderá reaver o imóvel através da retrovenda durante este período, e para ser exercitado este direito, deverá constar expressamente no contrato. O prazo de três anos é improrrogável e, chegando o termo final, extingue-se o direito, independentemente de interpelação. Conta-se o dies a quo (termo inicial do prazo) a partir da data do contrato e não do registro.

Art. 505. O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o direito de recobrá-la no prazo máximo de decadência de três anos, restituindo o preço recebido e reembolsando as despesas do comprador, inclusive as que, durante o período de resgate, se efetuaram com a sua autorização escrita, ou para a realização de benfeitorias necessárias.

Art. 506. Se o comprador se recusar a receber as quantias a que faz jus, o vendedor, para exercer o direito de resgate, as depositará judicialmente. Parágrafo único. Verificada a insuficiência do depósito judicial, não será o vendedor restituído no domínio da coisa, até e enquanto não for integralmente pago o comprador.

Art. 507. O direito de retrato, que é cessível e transmissível a herdeiros e legatários, poderá ser exercido contra o terceiro adquirente.

Art. 508. Se a duas ou mais pessoas couber o direito de retrato sobre o mesmo imóvel, e só uma o exercer, poderá o comprador intimar as outras para nele acordarem, prevalecendo o pacto em favor de quem haja efetuado o depósito, contanto que seja integral.

Venda a contento (arts. 509 a 512 do CC) é uma cláusula pactuada em contrato de compra e venda (pode abranger coisa móvel ou imóvel) através da qual o comprador

Compra com cláusula de retrovenda Prazo de Resgate

(até 3 anos)

Propriedade Resolúvel

Propriedade Plena

Após o Prazo de Resgate

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tem a prerrogativa de devolver a coisa quando esta não o satisfizer. Ou seja, a venda só se efetiva se o comprador aprovar a coisa; caso contrário, o contrato se desfaz. Vale aqui o comum ditado: "Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta!".

Trata-se de uma venda realizada sob a condição suspensiva, ou seja, o comprador toma a posse da coisa como mero comodatário e o domínio só será transmitido após a manifestação positiva.

Art. 509. A venda feita a contento do comprador entende-se realizada sob condição suspensiva, ainda que a coisa lhe tenha sido entregue; e não se reputará perfeita, enquanto o adquirente não manifestar seu agrado.

Art. 510. Também a venda sujeita a prova presume-se feita sob a condição suspensiva de que a coisa tenha as qualidades asseguradas pelo vendedor e seja idônea para o fim a que se destina.

Art. 511. Em ambos os casos, as obrigações do comprador, que recebeu, sob condição suspensiva, a coisa comprada, são as de mero comodatário, enquanto não manifeste aceitá-la.

Art. 512. Não havendo prazo estipulado para a declaração do comprador, o vendedor terá direito de intimá-lo, judicial ou extrajudicialmente, para que o faça em prazo improrrogável.

Na preempção ou preferência (arts. 513 a 520 do CC), que pode incidir sobre bens móveis e imóveis, o comprador se compromete a dar preferência ao vendedor se vier a vender a coisa posteriormente. Difere-se da retrovenda porque o preço a ser pago deve ser o exigido pelo comprador, e não o preço da venda anterior.

Compra com cláusula de venda

a contento Prazo para manifestar o agrado

Posse Propriedade Plena

Compra com cláusula de preempção Prazo para exercer a

preferência

Na hipótese de venda o bem deve ser oferecido

primeiramente ao vendedor primitivo.

B. Móveis: até 180 dias B. Imóveis: até 2 anos

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Dessa forma, caso o bem seja vendido no prazo para exercer o direito de preferência sem ser oferecido ao devedor principal, nos termos do art. 518 do CC, deverá o vendedor responder por perdas e danos.

Art. 513. A preempção, ou preferência, impõe ao comprador a obrigação de oferecer ao vendedor a coisa que aquele vai vender, ou dar em pagamento, para que este use de seu direito de prelação na compra, tanto por tanto. Parágrafo único. O prazo para exercer o direito de preferência não poderá exceder a cento e oitenta dias, se a coisa for móvel, ou a dois anos, se imóvel.

Art. 514. O vendedor pode também exercer o seu direito de prelação, intimando o comprador, quando lhe constar que este vai vender a coisa.

Art. 515. Aquele que exerce a preferência está, sob pena de a perder, obrigado a pagar, em condições iguais, o preço encontrado, ou o ajustado.

Art. 516. Inexistindo prazo estipulado, o direito de preempção caducará, se a coisa for móvel, não se exercendo nos três dias, e, se for imóvel, não se exercendo nos sessenta dias subseqüentes à data em que o comprador tiver notificado o vendedor.

Art. 517. Quando o direito de preempção for estipulado a favor de dois ou mais indivíduos em comum, só pode ser exercido em relação à coisa no seu todo. Se alguma das pessoas, a quem ele toque, perder ou não exercer o seu direito, poderão as demais utilizá-lo na forma sobredita.

Art. 518. Responderá por perdas e danos o comprador, se alienar a coisa sem ter dado ao vendedor ciência do preço e das vantagens que por ela lhe oferecem. Responderá solidariamente o adquirente, se tiver procedido de má-fé.

Art. 519. Se a coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, não tiver o destino para que se desapropriou, ou não for utilizada em obras ou serviços públicos, caberá ao expropriado direito de preferência, pelo preço atual da coisa.

Art. 520. O direito de preferência não se pode ceder nem passa aos herdeiros.

Na venda com reserva de domínio (arts. 521 a 528 do CC) o vendedor transfere ao comprador a posse da coisa, mas conserva para si a propriedade sobre a mesma, até que o preço seja quitado.

Trata-se de um contrato formal, que deve ser feito por escrito e, para valer contra terceiros (eficácia erga omnes), deve ser registrado no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do comprador. A doutrina predominante considera-o como sendo uma venda sob condição suspensiva, ou seja, a venda se torna perfeita quando o preço é quitado.

Compra com cláusula de reserva

de domínio Antes do preço ser totalmente quitado

Posse Propriedade

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Art. 521. Na venda de coisa móvel, pode o vendedor reservar para si a propriedade, até que o preço esteja integralmente pago.

Art. 522. A cláusula de reserva de domínio será estipulada por escrito e depende de registro no domicílio do comprador para valer contra terceiros.

Art. 523. Não pode ser objeto de venda com reserva de domínio a coisa insuscetível de caracterização perfeita, para estremá-la de outras congêneres. Na dúvida, decide-se a favor do terceiro adquirente de boa-fé.

Art. 524. A transferência de propriedade ao comprador dá-se no momento em que o preço esteja integralmente pago. Todavia, pelos riscos da coisa responde o comprador, a partir de quando lhe foi entregue.

Art. 525. O vendedor somente poderá executar a cláusula de reserva de domínio após constituir o comprador em mora, mediante protesto do título ou interpelação judicial.

Art. 526. Verificada a mora do comprador, poderá o vendedor mover contra ele a competente ação de cobrança das prestações vencidas e vincendas e o mais que lhe for devido; ou poderá recuperar a posse da coisa vendida.

Art. 527. Na segunda hipótese do artigo antecedente, é facultado ao vendedor reter as prestações pagas até o necessário para cobrir a depreciação da coisa, as despesas feitas e o mais que de direito lhe for devido. O excedente será devolvido ao comprador; e o que faltar lhe será cobrado, tudo na forma da lei processual.

Art. 528. Se o vendedor receber o pagamento à vista, ou, posteriormente, mediante financiamento de instituição do mercado de capitais, a esta caberá exercer os direitos e ações decorrentes do contrato, a benefício de qualquer outro. A operação financeira e a respectiva ciência do comprador constarão do registro do contrato.

Se o comprador não pagar uma prestação no vencimento, pode o vendedor escolher duas alternativas:

- mover ação para cobrança das prestações vencidas e vincendas (art. 526 do CC); e

- recuperar a posse da coisa vendida, com a devolução das prestações pagas, podendo, porém, retê-las até o necessário para cobrir a depreciação da coisa, as despesas feitas e o mais que de direito lhe for devido (art. 527 do CC).

Do contrato estimatório

O contrato estimatório (arts. 534 a 537 do CC) é conhecido no comércio como venda em consignação. Trata-se de um contrato equivalente à compra e venda em consignação onde o comprador recebe as mercadorias em depósito e, após um prazo fixado pelas partes, paga as que conseguir revender e devolve as restantes.

Como exemplo, temos a pessoa que combina com o amigo para deixar o carro em sua concessionária para ser vendido por um preço determinado. Caso o amigo consiga

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vender por um preço maior, então terá um lucro, pois é obrigado a entregar apenas o preço ajustado.

No exemplo citado, o dono da coisa é chamado de consignante e aquele que recebe a coisa em depósito (ex: o amigo) é chamado de consignatário.

Durante o período de consignação, em regra, o consignatário é um mero depositário do bem, ou seja, não pode usá-lo.

A natureza jurídica da venda em consignação é a seguinte:

- unilateral: a questão é controvertida, mas a doutrina majoritária entende que com a entrega da coisa e o nascimento do contrato, todas as obrigações são do consignatário, sendo a principal delas o pagamento do preço estimado;

- oneroso: ambas as partes auferem vantagens;

- real: só se aperfeiçoa quando o bem consignado é entregue ao consignatário;

- típico: está previsto no Código Civil; e

- não solene: independe de forma especial.

Art. 534. Pelo contrato estimatório, o consignante entrega bens móveis ao consignatário, que fica autorizado a vendê-los, pagando àquele o preço ajustado, salvo se preferir, no prazo estabelecido, restituir-lhe a coisa consignada.

Art. 535. O consignatário não se exonera da obrigação de pagar o preço, se a restituição da coisa, em sua integridade, se tornar impossível, ainda que por fato a ele não imputável.

Art. 536. A coisa consignada não pode ser objeto de penhora ou seqüestro pelos credores do consignatário, enquanto não pago integralmente o preço.

Art. 537. O consignante não pode dispor da coisa antes de lhe ser restituída ou de lhe ser comunicada a restituição.

Da doação

O conceito de doação é dado pelo art. 538 do CC.

Art. 538. Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra.

Entrega do bem consignado

Período de Consignação

Posse do consignatário como se fosse um

depositário

Restituição do bem

consignado ou preço

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Desse conceito é possível extrairmos dois elementos: o subjetivo e o objetivo.

- elemento subjetivo: é o animus donandi que consiste na intenção de fazer uma liberalidade em favor do donatário; e

- elemento objetivo: consiste na transferência da propriedade de bens ou direitos do patrimônio do doador para o patrimônio do donatário.

Deve-se salientar que o contrato de doação apenas gera a obrigação de transferir os bens e direitos indicados. A efetiva transferência representa a execução do contrato de doação. O domínio (propriedade), como vimos, só se efetua com a tradição (bens móveis) ou com o registro (bens imóveis).

Quanto à natureza jurídica do contrato de doação, temos o seguinte:

- unilateral: só o doador assume obrigação; entretanto, devemos ressaltar a doação com encargo que é considerada bilateral, pois ambas as partes assumem obrigações recíprocas;

- gratuito: apenas uma das partes aufere vantagens, enquanto a outra não assume qualquer ônus;

- típico: está previsto no Código Civil;

- solene: a lei, em regra (art. 541 do CC), exige forma escrita para os bens móveis e escritura pública para os imóveis, para que a doação se aperfeiçoe; entretanto, excetua-se a doação verbal que poderá ocorrer quando o bem doado for de pequeno valor e houver a imediata tradição.

Art. 541. A doação far-se-á por escritura pública ou instrumento particular. Parágrafo único. A doação verbal será válida, se, versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição.

Apesar da doação ser unilateral, trata-se de um contrato que, para se formar, depende da convergência de duas vontades. Ou seja, na doação, não basta o doador querer doar, pois o donatário também deve manifestar a sua aceitação. Sendo fixado um prazo pelo doador, o silêncio acarretará uma aceitação tácita da doação, desde que seja pura.Tal assunto é tratado no art. 539 do CC:

Art. 539. O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita ou não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça, dentro dele, a declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação não for sujeita a encargo.

O Código Civil enumera diversas espécies de doação. Vejamos uma a uma:

- doação pura e simples: é aquela que não está sujeita a uma condição ou um encargo, que são os elementos acidentais que alteram os efeitos normais do negócio jurídico. É o que ocorre quando alguém doa uma casa para um amigo sem nada exigir-lhe em troca.

- doação contemplativa (art. 540, 1ª parte, do CC): ocorre quando uma pessoa doa e declara o motivo de sua doação. Temos como exemplo o doador que doa um bem a uma fundação em razão dos seus excelentes trabalhos com as crianças carentes.

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Art. 540. A doação feita em contemplação do merecimento do donatário não perde o caráter de liberalidade, como não o perde a doação remuneratória, ou a gravada, no excedente ao valor dos serviços remunerados ou ao encargo imposto.

- doação remuneratória (art. 540, 2ª parte, do CC): é a doação feita para agradecer um serviço prestado ou por alguma atitude do donatário. Ressalta-se que não se trata de um pagamento, mas de uma simples gratidão.

- doação com encargo ou onerosa: ocorre quando o doador impõe ao donatário um encargo como contraprestação. Ocorre, por exemplo, quando A doa para B um terreno para que nele seja construído um hospital.

Possuem legitimidade para exigir o cumprimento do encargo (art. 553 do CC) o próprio doador, o terceiro por ele beneficiado, ou mesmo o Ministério Público (após a morte do doador), se o encargo for em benefício de interesse geral.

Art. 553. O donatário é obrigado a cumprir os encargos da doação, caso forem a benefício do doador, de terceiro, ou do interesse geral. Parágrafo único. Se desta última espécie for o encargo, o Ministério Público poderá exigir sua execução, depois da morte do doador, se este não tiver feito.

Caso a doação com encargo não estipule prazo certo para o seu cumprimento, pode o beneficiário conceder um prazo razoável, devendo para tanto constituir o donatário em mora através de uma interpelação judicial ou notificação, nos termos do art. 562, 2ª parte, do CC.

Art. 562. A doação onerosa pode ser revogada por inexecução do encargo, se o donatário incorrer em mora. Não havendo prazo para o cumprimento, o doador poderá notificar judicialmente o donatário, assinando-lhe prazo razoável para que cumpra a obrigação assumida.

Em decorrência do encargo a doação passa a ter um caráter oneroso e, por isso, aplicam-se as regras referentes aos vícios redibitório (art. 441, § único do CC) além de surgir a possibilidade de revogação da doação por inexecução do encargo (art. 562, 1ª parte, do CC). Conclui-se então que a inexecução do encargo é uma causa de resolução da doação.

Mais adiante trataremos de outras formas de se revogar as doações.

- doação em forma de subvenção periódica (art. 545 do CC): é a doação feita através de vários atos, ao invés de uma única vez. Ou seja, trata-se de um benefício periódico, que pode ser mensal, semestral, anual, etc.

Art. 545. A doação em forma de subvenção periódica ao beneficiado extingue-se morrendo o doador, salvo se este outra coisa dispuser, mas não poderá ultrapassar a vida do donatário.

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Entretanto, esta doação se extingue com a morte do doador, salvo se houver previsão no contrato sobre a transferência da obrigação para os herdeiros, hipótese que ficará limitada ao valor da herança.

De qualquer forma, a obrigação não pode ultrapassar a vida do donatário, ou seja, não há um caráter de perpetuidade.

- Doação com cláusula de reversão (art. 547 do CC): ocorre quando o bem doado retorna ao patrimônio do doador, na hipótese de morte do donatário.

Art. 547. O doador pode estipular que os bens doados voltem ao seu patrimônio, se sobreviver ao donatário. Parágrafo único. Não prevalece cláusula de reversão em favor de terceiro.

Entretanto, ressalta-se que as partes não podem pactuar sobre a reversão em favor de terceiro, apenas é permitida a reversão em favor do doador. Caso fosse possível a reversão em favor de terceiro, estaríamos admitindo a possibilidade de um pacto sucessório (pacta corvina) que é expressamente proibido pelo art. 426 do CC.

Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.

- Doação universal (art. 548 do CC): é aquela que abrange todos os bens do doador, sem deixar uma reserva para a sua própria subsistência. Tal doação é passível de nulidade absoluta, pois visa impedir que em um momento de afobação o doador ultrapasse os limites do patrimônio a ser doado.

Art. 548. É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do doador.

Caso seja estipulada uma reserva de usufruto ao doador, então a doação universal será válida.

Doação de ascendente para descendente ou de um cônjuge a outro (art. 544 do CC): como exemplo, o pai poderá fazer doação a seus filhos, e um cônjuge ao outro, porém, tal ata acarretará um adiantamento da herança (legítima), devendo, por isso, ser verificada no inventário do doador por meio da colação.

Art. 544. A doação de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamento do que lhes cabe por herança.

Vejamos o exemplo a seguir, onde foi desconsiderada a parte disponível da herança:

Um pai (viúvo) possui um patrimônio de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais), e, ainda em vida, faz uma doação para um de seus três filhos no valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais).

Patrimônio inicial do Pai: 1.500.000,00

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Patrimônio do Pai após a doação: 1.5000.000,00 – 300.000,00 = 1.200.000,00

Por ocasião da morte do pai, não basta dividir por 3 o valor de 1.200.000,00, pois o valor doado em vida deve ser “colado” aos 1.200.000, totalizando 1.500.000,00. Após a colação o patrimônio será dividido e o filho que recebeu a doação terá o valor doado subtraído de sua parte.

Valor a ser dividido: 1.500.000,00

- Valor do Filho 1: 1.500.000,00 / 3 = 500.000,00

- Valor do Filho 2: 1.500.000,00 / 3 = 500.000,00

- Valor do Filho 3: 1.500.000,00 / 3 = 500.000,00 – 300.000,00 (doação) = 200.000,00

Doação inoficiosa (art. 549 do CC): é aquela que excede a parte do patrimônio que poderia ser incluída em testamento. Ou seja, se houver herdeiros necessários (ascendentes, descendentes ou cônjuge) o doador só pode dispor da metade de seus bens. A parte da doação que ultrapassar este limite será nula.

Art. 549. Nula é também a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento.

Doação ao cônjuge adúltero (art. 550 do CC): tal doação poderá ser anulada, bastando que se verifique a infidelidade. Tal ação de anulação poderá ser proposta em um prazo decadencial de dois anos a contar do fim da sociedade conjugal.

Art. 550. A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal.

Doação conjuntiva (art. 551 do CC): é a doação realizada para mais de uma pessoa.

Art. 551. Salvo declaração em contrário, a doação em comum a mais de uma pessoa entende-se distribuída entre elas por igual. Parágrafo único. Se os donatários, em tal caso, forem marido e mulher, subsistirá na totalidade a doação para o cônjuge sobrevivo.

Doação a entidade futura (art. 554 do CC): é aquela cujo donatário é uma pessoa jurídica que ainda não existe, mas que será constituída. Caso tal constituição não ocorra em dois anos, ocorrerá a caducidade do ato. Trata-se de uma doação sob condição suspensiva.

Art. 554. A doação a entidade futura caducará se, em dois anos, esta não estiver constituída regularmente.

Outro assunto muito cobrado em provas de concurso é a REVOGAÇÂO DA DOAÇÂO.

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Em regra, a doação é irrevogável por vontade unilateral do doador, pois, a partir do momento em que ocorre a aceitação do donatário, passa a valer a máxima do pacta sunt servanda.

Art. 555. A doação pode ser revogada por ingratidão do donatário, ou por inexecução do encargo.

De acordo com o art. 555 do CC a doação pode ser revogada em duas hipóteses:

- ingratidão do donatário: o donatário tem o dever de ser grato ao doador e, por isso, deve se abster de atos que constituem prova de ingratidão e revelem sua insensibilidade ao favor recebido.

- inexecução do encargo (art. 562 do CC): quando a doação for onerosa e o encargo não for cumprido pode haver a revogação da doação.

Art. 562. A doação onerosa pode ser revogada por inexecução do encargo, se o donatário incorrer em mora. Não havendo prazo para o cumprimento, o doador poderá notificar judicialmente o donatário, assinando-lhe prazo razoável para que cumpra a obrigação assumida.

Sobre a revogação por ingratidão do donatário temos os seguintes artigos do Código Civil:

Art. 557. Podem ser revogadas por ingratidão as doações: I - se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de homicídio doloso contra ele; II - se cometeu contra ele ofensa física; III - se o injuriou gravemente ou o caluniou; IV - se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este necessitava.

Art. 558. Pode ocorrer também a revogação quando o ofendido, nos casos do artigo anterior, for o cônjuge, ascendente, descendente, ainda que adotivo, ou irmão do doador.

Art. 559. A revogação por qualquer desses motivos deverá ser pleiteada dentro de um ano, a contar de quando chegue ao conhecimento do doador o fato que a autorizar, e de ter sido o donatário o seu autor.

Art. 560. O direito de revogar a doação não se transmite aos herdeiros do doador, nem prejudica os do donatário. Mas aqueles podem prosseguir na ação iniciada pelo doador, continuando-a contra os herdeiros do donatário, se este falecer depois de ajuizada a lide.

Art. 561. No caso de homicídio doloso do doador, a ação caberá aos seus herdeiros, exceto se aquele houver perdoado.

Art. 563. A revogação por ingratidão não prejudica os direitos adquiridos por terceiros, nem obriga o donatário a restituir os frutos percebidos antes da citação válida; mas sujeita-o a pagar os posteriores, e, quando não possa restituir em espécie as coisas doadas, a indenizá-la pelo meio termo do seu valor.

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Para finalizar o tópico das doações, temos o art. 564 do CC que trata das doações que são consideradas irrevogáveis.

Art. 564. Não se revogam por ingratidão: I - as doações puramente remuneratórias; II - as oneradas com encargo já cumprido; III - as que se fizerem em cumprimento de obrigação natural; IV - as feitas para determinado casamento.

Do empréstimo (comodato e mútuo)

O Código Civil trata de duas modalidades de empréstimo: o comodato e o mútuo.

a) comodato: nos termos do art. 579 do CC, trata-se do empréstimo gratuito de um bem infungível pelo qual o comodante (dono da coisa) transfere sua posse ao comodatário por um determinado período de tempo.

Art. 579. O comodato é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis. Perfaz-se com a tradição do objeto.

O comodato é chamado de um empréstimo de uso, ou seja, o bem é emprestado para ser usado e depois devolvido.

Como exemplo, temos a pessoa que empresta a casa de praia gratuitamente para um amigo passar as férias do mês de janeiro.

Tal contrato envolve as seguintes pessoas:

- comodante: aquele que empresta;

- comodatário: aquele que toma emprestado.

É fundamental a gratuidade, pois se houver um pagamento como contraprestação teremos uma locação. Destaca-se também a infungibilidade do bem emprestado, ou seja, deve ser devolvido exatamente o mesmo bem que foi tomado como empréstimo, e não um bem semelhante.

Entretanto, o comodato poderá versar sobre um bem fungível e consumível, se houver sido contratado ad pompam vel ostentationem, como, por exemplo, o empréstimo de uma cesta de frutas tropicais exóticas para ornamentação de um salão de festas.

Quanto à natureza jurídica do contrato de comodato, temos o seguinte:

- unilateral: só o comodatário assume obrigação;

- gratuito: apenas uma das partes aufere vantagens (comodatário),

- real: se perfaz com a tradição do objeto;

- típico: está previsto no Código Civil;

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- não solene: a lei não exige forma especial para a celebração do contrato, podendo até ser realizado de forma verbal.

De forma semelhante à doação, o comodato é puro quando traduz um ato de simples liberalidade. É modal ou com encargo quando se impõe uma obrigação especial ao comodatário. Porém, ressalta-se que, segundo entendimento doutrinário, a existência de encargo não retira a gratuidade, nem o animus comodandi da relação negocial.

Os artigos 580 a 585 do CC também tratam do assunto ao apresentar as obrigações do comodatário:

Art. 580. Os tutores, curadores e em geral todos os administradores de bens alheios não poderão dar em comodato, sem autorização especial, os bens confiados à sua guarda.

Percebe-se que certas pessoas não podem dar bens de terceiros em comodato sem possuir autorização especial. Ou seja, estamos diante de uma situação de falta de legitimidade.

Art. 581. Se o comodato não tiver prazo convencional, presumir-se-lhe-á o necessário para o uso concedido; não podendo o comodante, salvo necessidade imprevista e urgente, reconhecida pelo juiz, suspender o uso e gozo da coisa emprestada, antes de findo o prazo convencional, ou o que se determine pelo uso outorgado.

Como exemplo do art. 581 do CC, temos o comodante que empresta a casa de paria sem estipulação de prazo. Como regra, a exigência da devolução só poderá ocorrer após o fim do verão.

Art. 582. O comodatário é obrigado a conservar, como se sua própria fora, a coisa emprestada, não podendo usá-la senão de acordo com o contrato ou a natureza dela, sob pena de responder por perdas e danos. O comodatário constituído em mora, além de por ela responder, pagará, até restituí-la, o aluguel da coisa que for arbitrado pelo comodante.

O art. 582 do CC apresenta inúmeros conceitos. Vamos separá-los para fins didáticos:

obrigação do comodatário de conservar a coisa como se fosse sua;

utilizar a coisa emprestada de acordo com o contrato e a natureza (ex: a casa de família não pode ser utilizada para a realização de um evento com centenas de pessoas);

restituição da coisa por ocasião do final do prazo estipulado (ex: se eu não devolver a casa de praia ao final do prazo estipulado, o comodante poderá me cobrar aluguel pelo período que eu ficar a mais).

Art. 583. Se, correndo risco o objeto do comodato juntamente com outros do comodatário, antepuser este a salvação dos seus abandonando o do comodante, responderá pelo dano ocorrido, ainda que se possa atribuir a caso fortuito, ou força maior.

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Sendo o comodato um contrato gratuito, pois só traz vantagens ao comodatário, nada mais justo que este anteponha a salvação dos bens emprestados à salvação de seus próprios bens, mesmo que a situação decorra de caso fortuito ou força maior.

Art. 584. O comodatário não poderá jamais recobrar do comodante as despesas feitas com o uso e gozo da coisa emprestada.

Também é obrigação do comodatário arcar com as despesas feitas com o uso da coisa emprestada, tais como IPTU, água, luz, condomínio, etc.

Art. 585. Se duas ou mais pessoas forem simultaneamente comodatárias de uma coisa, ficarão solidariamente responsáveis para com o comodante.

No caso de haver mais de um comodatário, as obrigações aqui citadas são consideradas solidárias.

: nos termos do art. 586 do CC, o mútuo é um contrato pelo qual o mutuante b) mútuo transfere a propriedade de determinada coisa móvel e fungível ao mutuário, que deverá restituir, findo o contrato, bem equivalente do mesmo gênero, qualidade e quantidade.

Art. 586. O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade.

Trata-se de um empréstimo de consumo, pois o bem emprestado é consumido e devolvido um bem equivalente.

Como exemplo temos a pessoa que toma emprestado um quilo de açúcar com o vizinho.

Tal contrato envolve as seguintes pessoas:

- mutuante: é o que empresta.

- mutuário: é o que toma emprestado.

Quanto à natureza jurídica do contrato de mútuo, temos o seguinte:

- unilateral: só o mutuário assume obrigação;

- gratuito: em regra é um contrato gratuito, onde apenas o mutuário aufere vantagens, entretanto, excepcionalmente, o mútuo poderá ser considerado oneroso (art. 591 do CC);

Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalização anual.

O mútuo será considerado oneroso (mútuo feneratício) quando se destinar a fins econômicos (ex: empréstimo de dinheiro a juros)

- real: se perfaz com a tradição do objeto;

- típico: está previsto no Código Civil;

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- não solene: a lei não exige forma especial para a celebração do contrato, podendo até ser realizado de forma verbal.

Analisando o art. 587 do CC, percebemos que enquanto o comodato transfere a posse do bem, o mútuo transfere a propriedade, pois o bem mutuado poderá ser consumido.

Art. 587. Este empréstimo transfere o domínio da coisa emprestada ao mutuário, por cuja conta correm todos os riscos dela desde a tradição.

Se o mútuo for feito à pessoa menor, sem a prévia autorização de seu representante legal, como regra, o mutuante não poderá reaver a coisa emprestada emprestada por ser inválido o contrato. É o que se depreende dos arts. 588 e 589 do CC.

Art. 588. O mútuo feito a pessoa menor, sem prévia autorização daquele sob cuja guarda estiver, não pode ser reavido nem do mutuário, nem de seus fiadores.

Art. 589. Cessa a disposição do artigo antecedente: I - se a pessoa, de cuja autorização necessitava o mutuário para contrair o empréstimo, o ratificar posteriormente; II - se o menor, estando ausente essa pessoa, se viu obrigado a contrair o empréstimo para os seus alimentos habituais; III - se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho. Mas, em tal caso, a execução do credor não lhes poderá ultrapassar as forças; IV - se o empréstimo reverteu em benefício do menor; V - se o menor obteve o empréstimo maliciosamente.

Se, durante o mútuo, o mutuário sofrer uma notória mudança na sua situação econômica, então, nos termos do art. 590 do CC, poderá ser exigido pelo mutuante uma garantia de que o empréstimo será restituído.

Art. 590. O mutuante pode exigir garantia da restituição, se antes do vencimento o mutuário sofrer notória mudança em sua situação econômica.

Finalizando o estudo do mútuo, o art. 592 do CC estabelece o seu prazo de duração na falta de convenção expressa.

Art. 592. Não se tendo convencionado expressamente, o prazo do mútuo será: I - até a próxima colheita, se o mútuo for de produtos agrícolas, assim para o consumo, como para semeadura; II - de trinta dias, pelo menos, se for de dinheiro; III - do espaço de tempo que declarar o mutuante, se for de qualquer outra coisa fungível.

Da prestação de serviço

A prestação de serviço é o contrato pelo qual determinada pessoa física ou jurídica (prestador) se compromete com outra (tomador) a realizar certa atividade mediante remuneração.

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Art. 594. Toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial, pode ser contratada mediante retribuição.

Excluídos os serviços regulados pela legislação trabalhista, Código de Defesa do Consumidor (CDC) ou outras leis especiais, todas as demais prestações de serviços serão reguladas pelo Código Civil. Ou seja, através do art. 593 do CC pode-se afirmar que o contrato de prestação de serviço regulado pelo Código Civil tem caráter residual, pois só é aplicado quando não há aplicação da legislação trabalhista, do CDC ou de outras leis especiais..

Art. 593. A prestação de serviço, que não estiver sujeita às leis trabalhistas ou a lei especial, reger-se-á pelas disposições deste Capítulo.

Quanto à natureza jurídica do contrato de prestação de serviço, temos o seguinte:

- bilateral: ambas as partes assumem obrigações, o prestador assume uma obrigação de fazer, ao passo que o tomador assume uma obrigação de pagar a remuneração;

- oneroso: ambas as partes auferem vantagens,

- consensual: o contrato se aperfeiçoa com o simples acordo de vontade das partes, podendo ser provado por testemunhas, seja qual for o valor, independente de começo de prova por escrito;

- típico: está previsto no Código Civil;

- não solene: a lei não exige forma especial para a celebração do contrato, podendo até ser realizado de forma verbal.

Caso a forma utilizada seja a escrita, se uma das partes não soubre ler e nem escrever, o instrumento poderá ser assinado a rogo e subscrito por duas testemunhas. Isso significa que o contrato pode ser assinado por outra pessoa, a pedido do contratante analfabeto, na presença de duas testemunhas. Vide art. 595 do CC.

Art. 595. No contrato de prestação de serviço, quando qualquer das partes não souber ler, nem escrever, o instrumento poderá ser assinado a rogo e subscrito por duas testemunhas.

De acordo com o art. 594 do CC a retribuição é uma parte integrante das obrigações daquele que contrata (tomador). Os arts. 596 e 597 do CC tratam do assunto.

Art. 596. Não se tendo estipulado, nem chegado a acordo as partes, fixar-se-á por arbitramento a retribuição, segundo o costume do lugar, o tempo de serviço e sua qualidade.

Art. 597. A retribuição pagar-se-á depois de prestado o serviço, se, por convenção, ou costume, não houver de ser adiantada, ou paga em prestações.

Os arts. 605 e 606 do CC estabelecem as obrigações das partes:

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Art. 605. Nem aquele a quem os serviços são prestados, poderá transferir a outrem o direito aos serviços ajustados, nem o prestador de serviços, sem aprazimento da outra parte, dar substituto que os preste.

Caberá ao prestador executar pessoalmente o serviço contratado, não podendo transferi-lo a outro prestador, em razão da impessoalidade e da confiança que decorrem da prestação. Da mesma forma, não pode o tomador exigir que o prestador preste para um terceiro o serviço contratado.

Art. 606. Se o serviço for prestado por quem não possua título de habilitação, ou não satisfaça requisitos outros estabelecidos em lei, não poderá quem os prestou cobrar a retribuição normalmente correspondente ao trabalho executado. Mas se deste resultar benefício para a outra parte, o juiz atribuirá a quem o prestou uma compensação razoável, desde que tenha agido com boa-fé. Parágrafo único. Não se aplica a segunda parte deste artigo, quando a proibição da prestação de serviço resultar de lei de ordem pública.

A principal obrigação do tomador é o pagamento da remuneração, mas, nos termos do art. 606 do CC, é possível que o direito à remuneração seja perdido.

Sobre o prazo do contrato de prestação, o assunto é abordado pelos arts. 598 a 602 do CC.

Art. 598. A prestação de serviço não se poderá convencionar por mais de quatro anos, embora o contrato tenha por causa o pagamento de dívida de quem o presta, ou se destine à execução de certa e determinada obra. Neste caso, decorridos quatro anos, dar-se-á por findo o contrato, ainda que não concluída a obra.

Através do dispositivo acima, percebe-se que o prazo máximo de um contrato de prestação de serviços é de 4 anos.

Art. 599. Não havendo prazo estipulado, nem se podendo inferir da natureza do contrato, ou do costume do lugar, qualquer das partes, a seu arbítrio, mediante prévio aviso, pode resolver o contrato. Parágrafo único. Dar-se-á o aviso: I - com antecedência de oito dias, se o salário se houver fixado por tempo de um mês, ou mais; II - com antecipação de quatro dias, se o salário se tiver ajustado por semana, ou quinzena; III - de véspera, quando se tenha contratado por menos de sete dias.

No art. 599 do CC o termo resolver é empregado erroneamente, pois, na verdade, trata-se de uma resilição unilateral (por vontade da parte) da prestação de serviço sem prazo de duração..

Art. 600. Não se conta no prazo do contrato o tempo em que o prestador de serviço, por culpa sua, deixou de servir.

Sobre o cômputo do tempo do contrato, não é computado o prazo em que o prestador deixou de servir culposamente (ex: simulando doença), mas será computado o

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tempo que deixou de prestar serviço sem haver culpa de sua parte (ex: em razão de serviço militar, ou de enfermidade comprovada, etc.).

Art. 601. Não sendo o prestador de serviço contratado para certo e determinado trabalho, entender-se-á que se obrigou a todo e qualquer serviço compatível com as suas forças e condições.

O art. 601 do CC trata da natureza do serviço contratado. Como exemplo de aplicação temos a pessoa que foi contratada para fazer uma faxina não pode ser obrigada a realizar trabalho de pedreiro.

A extinção da prestação de serviço é abordada nos arts. 602 a 604 e 607 a 609 do CC.

Art. 602. O prestador de serviço contratado por tempo certo, ou por obra determinada, não se pode ausentar, ou despedir, sem justa causa, antes de preenchido o tempo, ou concluída a obra. Parágrafo único. Se se despedir sem justa causa, terá direito à retribuição vencida, mas responderá por perdas e danos. O mesmo dar-se-á, se despedido por justa causa.

Tal dispositivo estabelece uma proibição/penalidade quando houver rescisão unilateral pelo prestador de serviço sem e com justa causa.

Art. 603. Se o prestador de serviço for despedido sem justa causa, a outra parte será obrigada a pagar-lhe por inteiro a retribuição vencida, e por metade a que lhe tocaria de então ao termo legal do contrato.

Se uma pessoa foi contratada para prestar serviços durante 6 meses por R$ 6.000,00 e foi despedida sem justa causa ao final do 3º mês, então a ela deverá ser paga a retribuição vencida (R$ 3.000,00) e a metade da restante (R$ 1.500,00).

Art. 604. Findo o contrato, o prestador de serviço tem direito a exigir da outra parte a declaração de que o contrato está findo. Igual direito lhe cabe, se for despedido sem justa causa, ou se tiver havido motivo justo para deixar o serviço.

No art. 604 do CC temos a possibilidade de exigência da declaração de término do contrato.

Art. 607. O contrato de prestação de serviço acaba com a morte de qualquer das partes. Termina, ainda, pelo escoamento do prazo, pela conclusão da obra, pela rescisão do contrato mediante aviso prévio, por inadimplemento de qualquer das partes ou pela impossibilidade da continuação do contrato, motivada por força maior.

A extinção do contrato de prestação de serviços ocorre através:

- da morte do solicitante ou do executor;

- do escoamento do prazo contratual;

- da conclusão da obra;

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- da rescisão do contrato mediante aviso prévio;

- do inadimplemento de qualquer das partes; e

- da impossibilidade de cumprir o avençado em razão de força maior ou caso fortuito.

Art. 608. Aquele que aliciar pessoas obrigadas em contrato escrito a prestar serviço a outrem pagará a este a importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de caber durante dois anos.

A questão do aliciamento de executores é bastante cobrada em provas de concursos. De acordo com o art. 608 do CC, imagine a seguinte situação: João contratou Paulo para prestar-lhe um determinado serviço durante o prazo de uma ano pela remuneração de R$ 20.000,00. Entretanto, durante o contrato, Paulo foi aliciado por Antonio a desfazer o contrato com João e celebrar um outro contrato consigo.

Diante da situação apresentada, João foi prejudicado e poderá exigir de Antonio (aliciador) uma indenização referente ao valor de dois anos de prestação de serviços (2 x 20.000,00 = 40.000,00) independente da quantidade de serviço que já havia sido prestada..

Art. 609. A alienação do prédio agrícola, onde a prestação dos serviços se opera, não importa a rescisão do contrato, salvo ao prestador opção entre continuá-lo com o adquirente da propriedade ou com o primitivo contratante.

O último dispositivo legal sobre a prestação de serviço trata da alienação de um prédio agrícola (ex: uma fazenda). Caso uma fazenda seja vendida, o prestador de serviço que lá se encontre pode optar entre continuar na fazenda prestando serviços ao novo proprietário e sair acompanhando o novo proprietário.

Da empreitada

A empreitada é o contrato em que uma das partes (o empreiteiro) se obriga a realizar determinada obra, pessoalmente ou por meio de terceiros, mediante remuneração a ser paga pela outra (o dono da obra), de acordo com as instruções desta e sem relação de subordinação.

Quanto à natureza jurídica do contrato de empreitada, temos o seguinte:

- bilateral: ambas as partes assumem obrigações;

- oneroso: ambas as partes auferem vantagens,

- consensual: o contrato se aperfeiçoa com o simples acordo de vontade das partes, independente da tradição;

- típico: está previsto no Código Civil;

- não solene: a lei não exige forma especial para a celebração do contrato, podendo até ser realizado de forma verbal.

Diferenças entre a empreitada e a locação de serviços:

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EMPREITADA LOCAÇÃO DE SERVIÇOS

- o objeto do contrato é a obra em si, permanecendo inalterada a remuneração, qualquer que seja o tempo de trabalho despendido.

- a direção do serviço compete ao próprio empreiteiro; e

- o empreiteiro assume os riscos do empreendimento (art. , sem estar subordinado ao dono da obra.

- o objeto do contrato é a atividade do prestador, sendo a remuneração proporcional ao tempo dedicado ao trabalho;

- a execução do serviço é dirigida e fiscalizada por quem contratou o prestador, a quem este fica diretamente subordinado; e

- o patrão assume os riscos do negócio.

Sobre as espécies de empreitada, vejamos o art. 610 do CC.

Art. 610. O empreiteiro de uma obra pode contribuir para ela só com seu trabalho ou com ele e os materiais. § 1o A obrigação de fornecer os materiais não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes. § 2o O contrato para elaboração de um projeto não implica a obrigação de executá-lo, ou de fiscalizar-lhe a execução.

- empreitada de mão-de-obra ou de lavor: o empreiteiro colabora apenas com o seu trabalho;

- empreitada mista: o empreiteiro colabora com o seu trabalho e com os materiais necessários para a obra; e

- empreitada de projeto: o empreiteiro elabora um projeto que possibilite a realização tangível da obra.

Através do § 1º, percebe-se que em caso de dúvida decide-se pela não responsabilidade do empreiteiro no fornecimento dos materiais.

EM CASO DE DÚVIDA HÁ PRESUNÇÃO RELATIVA DE QUE A EMPREITADA É DE MÃO DE OBRA OU LAVOR !!!

O § 2º trata do contrato para elaboração de um projeto que requer do empreiteiro apenas a execução de uma “obra intelectual”, não requerendo dele a obrigação de execução ou fiscalização.

Sobre os riscos na empreitada, devemos analisar os arts. 611, 612, 613 e 617 do CC.

Art. 611. Quando o empreiteiro fornece os materiais, correm por sua conta os riscos até o momento da entrega da obra, a contento de quem a encomendou, se este não estiver em mora de receber. Mas se estiver, por sua conta correrão os riscos.

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Art. 612. Se o empreiteiro só forneceu mão-de-obra, todos os riscos em que não tiver culpa correrão por conta do dono.

Conclui-se o seguinte:

- empreitada de mão-de-obra ou de lavor (art. 612 do CC): não havendo culpa do empreiteiro, os riscos da obra correm por conta do dono, pois o material lhe pertence; e

- empreitada mista (art. 611 do CC): os riscos da obra correm por conta do empreiteiro.

Art. 613. Sendo a empreitada unicamente de lavor (art. 610), se a coisa perecer antes de entregue, sem mora do dono nem culpa do empreiteiro, este perderá a retribuição, se não provar que a perda resultou de defeito dos materiais e que em tempo reclamara contra a sua quantidade ou qualidade.

Pelo art. 613 do CC, está prevista a perda da retribuição devida ao empreiteiro na hipótese de perecimento da obra por caso fortuito ou força maior antes da entrega da coisa ao dono.

Art. 617. O empreiteiro é obrigado a pagar os materiais que recebeu, se por imperícia ou negligência os inutilizar.

Ainda temos o risco sobre o material utilizado. Se o empreiteiro compra cimento e uma fortíssima tempestade estraga o material, então a perda será do empreiteiro. Caso o material seja do dono da obra a perda será do dono da obra. Entretanto, se a perda do material ocorrer por descuido ou desperdício do empreiteiro, este deverá pagar perdas e danos ao dono da obra.

No art. 614 do CC temos a principal obrigação do dono da obra: realizar o pagamento da remuneração/retribuição ao empreiteiro.

Art. 614. Se a obra constar de partes distintas, ou for de natureza das que se determinam por medida, o empreiteiro terá direito a que também se verifique por medida, ou segundo as partes em que se dividir, podendo exigir o pagamento na proporção da obra executada. § 1o Tudo o que se pagou presume-se verificado. § 2o O que se mediu presume-se verificado se, em trinta dias, a contar da medição, não forem denunciados os vícios ou defeitos pelo dono da obra ou por quem estiver incumbido da sua fiscalização.

Sobre o pagamento da empreitada, é interessante também avaliarmos o art. 619 do CC:

Art. 619. Salvo estipulação em contrário, o empreiteiro que se incumbir de executar uma obra, segundo plano aceito por quem a encomendou, não terá direito a exigir acréscimo no preço, ainda que sejam introduzidas modificações no projeto, a não ser que estas resultem de instruções escritas do dono da obra. Parágrafo único. Ainda que não tenha havido autorização escrita, o dono da obra é obrigado a pagar ao empreiteiro os aumentos e acréscimos, segundo o que for

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arbitrado, se, sempre presente à obra, por continuadas visitas, não podia ignorar o que se estava passando, e nunca protestou.

São previstas as seguintes espécies de empreitada, de acordo com o preço:

- empreitada a preço fixo: quando a retribuição é estipulada para a obra inteira, sem considerar o fracionamento da atividade:

- empreitada a preço fixo absoluto: quando não se admite qualquer alteração na remuneração, seja qual for o custo da mão-de-obra ou dos materiais; e

- empreitada a preço fixo relativo: quando se permite a variação em decorrência do preço de alguns dos componentes da obra ou de alterações que já estavam programadas por influência de fatos previsíveis.

Apesar da previsão de imutabilidade do preço da empreitada, em decorrência da cláusula rebus sic stantibus é permitida a revisão contratual quando houver desequilíbrio que implique em onerosidade excessiva. É o que se infere do art. 61 do CC.

Art. 620. Se ocorrer diminuição no preço do material ou da mão-de-obra superior a um décimo do preço global convencionado, poderá este ser revisto, a pedido do dono da obra, para que se lhe assegure a diferença apurada.

Nos arts. 615 e 616 do CC temos a outra obrigação do dono que é receber a obra:

Art. 615. Concluída a obra de acordo com o ajuste, ou o costume do lugar, o dono é obrigado a recebê-la. Poderá, porém, rejeitá-la, se o empreiteiro se afastou das instruções recebidas e dos planos dados, ou das regras técnicas em trabalhos de tal natureza.

Art. 616. No caso da segunda parte do artigo antecedente, pode quem encomendou a obra, em vez de enjeitá-la, recebê-la com abatimento no preço.

O dono da obra tem o dever de receber a obra encomendada desde que ela esteja concluída de acordo com os ajustes e o costume do local. Só poderá haver rejeição se houver descumprimento do avençado por parte do empreiteiro.

Entretanto, ao invés de rejeitar a obra, o encomendante (dono da obra) pode pedir abatimento no preço.

Os arts. 621 e 622 tratam da empreitada de projetos citada no art. 610, § 2º do CC.

Art. 621. Sem anuência de seu autor, não pode o proprietário da obra introduzir modificações no projeto por ele aprovado, ainda que a execução seja confiada a terceiros, a não ser que, por motivos supervenientes ou razões de ordem técnica, fique comprovada a inconveniência ou a excessiva onerosidade de execução do projeto em sua forma originária. Parágrafo único. A proibição deste artigo não abrange alterações de pouca monta, ressalvada sempre a unidade estética da obra projetada.

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Art. 622. Se a execução da obra for confiada a terceiros, a responsabilidade do autor do projeto respectivo, desde que não assuma a direção ou fiscalização daquela, ficará limitada aos danos resultantes de defeitos previstos no art. 618 e seu parágrafo único.

Finalizando o tema, os arts, 623 a 626 tratam da extinção da empreitada:

Art. 623. Mesmo após iniciada a construção, pode o dono da obra suspendê-la, desde que pague ao empreiteiro as despesas e lucros relativos aos serviços já feitos, mais indenização razoável, calculada em função do que ele teria ganho, se concluída a obra.

No art. 623 do CC temos uma hipótese de resilição unilateral do contrato de empreitada por parte do dono da obra. Trata-se de um caso de suspensão da obra.

Art. 624. Suspensa a execução da empreitada sem justa causa, responde o empreiteiro por perdas e danos.

No art. 624 do CC temos uma hipótese de resilição unilateral do contrato de empreitada por parte do empreiteiro. Também se trata de um caso de suspensão da obra.

Art. 625. Poderá o empreiteiro suspender a obra: I - por culpa do dono, ou por motivo de força maior; II - quando, no decorrer dos serviços, se manifestarem dificuldades imprevisíveis de execução, resultantes de causas geológicas ou hídricas, ou outras semelhantes, de modo que torne a empreitada excessivamente onerosa, e o dono da obra se opuser ao reajuste do preço inerente ao projeto por ele elaborado, observados os preços; III - se as modificações exigidas pelo dono da obra, por seu vulto e natureza, forem desproporcionais ao projeto aprovado, ainda que o dono se disponha a arcar com o acréscimo de preço.

Já no art. 625 do CC estão previstas situações que acarretam a resolução do contrato.

LEMBRE-SE !!! - RESILIÇÃO: decorre da vontade das partes;

-RESOLUÇÃO: decorre do inadimplemento da obrigação.

Art. 626. Não se extingue o contrato de empreitada pela morte de qualquer das partes, salvo se ajustado em consideração às qualidades pessoais do empreiteiro.

A morte das partes, em regra, não significa a extinção da empreitada. Entretanto, em se tratando de uma empreitada de projeto, muitas vezes o projetista é escolhido de acordo com as suas habilidades específicas, caracterizando-se uma empreitada intuitu personae.

Ou seja, a grosso modo existem duas formas de extinção da empreitada:

- em razão da suspensão da obra; e

- em razão da morte das partes (é exceção).

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Do seguro

O contrato de seguro é a convenção pela qual alguém adquire, mediante pagamento de um premio, o direito de exigir da outra parte uma indenização, caso ocorra o risco futuro assumido. Tem por objetivo garantir o interesse legítimo do assegurado, relativo à pessoa ou coisa, contra riscos predeterminados. (art. 757 do CC).

Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados. Parágrafo único. Somente pode ser parte, no contrato de seguro, como segurador, entidade para tal fim legalmente autorizada.

São partes no contrato de seguro:

- segurador: é aquele que suporta o risco mediante o recebimento do premio. Deve ser, necessariamente, uma sociedade anônima, uma sociedade mútua ou uma cooperativa, com autorização governamental. Ou seja, não é qualquer pessoa que pode exercer atividade securitária.

- segurado: é aquele que adquire a apólice pagando o prêmio ao segurador.

- beneficiário: é a pessoa física ou jurídica que fará jus à indenização, podendo ser o próprio segurado ou um terceiro.

Cabe comentarmos o que vem a ser interesse legítimo.

Quanto à natureza jurídica do contrato de seguro, temos o seguinte:

- bilateral: ambas as partes assumem obrigações;

- oneroso: ambas as partes auferem vantagens,

- formal: vide comentários ao art. 758 do CC;

- típico: está previsto no Código Civil;

- aleatório: a prestação (indenização) depende de um fato eventual (ex: ocorrência de um sinistro).

- de adesão: as regras da apólice são estipuladas pelo segurador e o segurado apenas adere ao contrato.

Art. 758. O contrato de seguro prova-se com a exibição da apólice ou do bilhete do seguro, e, na falta deles, por documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio.

O contrato de seguro é formal, pois é obrigatória a forma escrita, já que as pessoas não se obrigam antes do contrato ser reduzido a escrito. Torna-se perfeito o contrato a partir do momento que o segurador remete a apólice ao segurado, ou, faz nos livros o lançamento usual da operação.

Art. 759. A emissão da apólice deverá ser precedida de proposta escrita com a declaração dos elementos essenciais do interesse a ser garantido e do risco.

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A proposta é o elemento informativo prévio que serve como declaração de vontade do segurado em face do segurador e revela, junto com o pagamento do prêmio, a complexidade contratual necessária para que sejam gerados os efeitos jurídicos daí decorrentes.

Art. 760. A apólice ou o bilhete de seguro serão nominativos, à ordem ou ao portador, e mencionarão os riscos assumidos, o início e o fim de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido, e, quando for o caso, o nome do segurado e o do beneficiário. Parágrafo único. No seguro de pessoas, a apólice ou o bilhete não podem ser ao portador.

Os requisitos da apólice estão inseridos no art. 760 do CC. É interessante citarmos a classificação da apólice quanto à titularidade:

- nominativas: mencionam o nome do segurador, do segurado e do seu representante (se houver), ou do terceiro (beneficiário) em cujo nome se faz o seguro.

- à ordem: são as transmissíveis por endosso em preto (com indicação);

- ao portador: são as transferíveis por tradição simples, outorgando-se o direito ao detentor da apólice. São inadmissíveis em se tratando de seguro de vida ou de pessoas.

Art. 761. Quando o risco for assumido em co-seguro, a apólice indicará o segurador que administrará o contrato e representará os demais, para todos os seus efeitos.

O co-seguro ocorre quando várias seguradoras são contratadas e dividem o risco entre elas. Neste caso haverá uma seguradora-lider que representará as demais.

Art. 762. Nulo será o contrato para garantia de risco proveniente de ato doloso do segurado, do beneficiário, ou de representante de um ou de outro.

Um exemplo de nulidade do contrato de seguro previsto no art. 762 do CC ocorre quando uma pessoa destrói propositalmente o próprio automóvel com a finalidade de receber a indenização.

Art. 763. Não terá direito a indenização o segurado que estiver em mora no pagamento do prêmio, se ocorrer o sinistro antes de sua purgação.

Se o segurado estiver em atraso no pagamento das parcelas do seguro, então ele não terá direito à indenização.

Art. 764. Salvo disposição especial, o fato de se não ter verificado o risco, em previsão do qual se faz o seguro, não exime o segurado de pagar o prêmio.

A aleatoriedade é uma característica essencial ao contrato de seguro, dessa forma, se não ocorrer o sinistro, mesmo assim o prêmio pago pelo segurado será devido.

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Art. 765. O segurado e o segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele concernentes.

O art. 765 do CC confirma o princípio da boa-fé objetiva inerente aos contratos em geral.

Art. 766. Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou omitir circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa do prêmio, perderá o direito à garantia, além de ficar obrigado ao prêmio vencido.

Parágrafo único. Se a inexatidão ou omissão nas declarações não resultar de má-fé do segurado, o segurador terá direito a resolver o contrato, ou a cobrar, mesmo após o sinistro, a diferença do prêmio.

Sobre o art. 766 do CC, temos as conseqüências da falta de sinceridade e da má-fé por parte do segurado.

Art. 767. No seguro à conta de outrem, o segurador pode opor ao segurado quaisquer defesas que tenha contra o estipulante, por descumprimento das normas de conclusão do contrato, ou de pagamento do prêmio.

O seguro à conta de outrem é aquele em que há estipulação em favor de terceiro (beneficiário), como ocorre no seguro de vida.

Art. 768. O segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato.

O segurado deve agir com cautela e abster-se de situações que possam aumentar o risco objeto do contrato.

Art. 769. O segurado é obrigado a comunicar ao segurador, logo que saiba, todo incidente suscetível de agravar consideravelmente o risco coberto, sob pena de perder o direito à garantia, se provar que silenciou de má-fé.

§ 1o O segurador, desde que o faça nos quinze dias seguintes ao recebimento do aviso da agravação do risco sem culpa do segurado, poderá dar-lhe ciência, por escrito, de sua decisão de resolver o contrato.

§ 2o A resolução só será eficaz trinta dias após a notificação, devendo ser restituída pelo segurador a diferença do prêmio.

Cumpre ao segurado comunicar à seguradora os fatos e circunstâncias suscetíveis de agravarem o risco assumido, permitindo-se a esta resolver o contrato, se não lhe convier assumir o agravamento. em prazo quinzenal contado da recepção do aviso da agravação. Como exemplo, temos a instalação de uma fábrica pirotécnica ao lado da casa segurada.

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Art. 770. Salvo disposição em contrário, a diminuição do risco no curso do contrato não acarreta a redução do prêmio estipulado; mas, se a redução do risco for considerável, o segurado poderá exigir a revisão do prêmio, ou a resolução do contrato.

No art. 770 do CC temos a conseqüência da redução do risco de ocorrer o sinistro.

Art. 771. Sob pena de perder o direito à indenização, o segurado participará o sinistro ao segurador, logo que o saiba, e tomará as providências imediatas para minorar-lhe as conseqüências.

Parágrafo único. Correm à conta do segurador, até o limite fixado no contrato, as despesas de salvamento conseqüente ao sinistro.

Também é dever do segurado a comunicação da ocorrência do sinistro para a seguradora.

Art. 772. A mora do segurador em pagar o sinistro obriga à atualização monetária da indenização devida segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, sem prejuízo dos juros moratórios.

Havendo atraso no pagamento da indenização pelo segurador, sem prejuízo dos juros moratórios, haverá atualização monetária do valor.

Art. 773. O segurador que, ao tempo do contrato, sabe estar passado o risco de que o segurado se pretende cobrir, e, não obstante, expede a apólice, pagará em dobro o prêmio estipulado.

Da mesma forma que deve haver honestidade do segurado, também deve haver honestidade por parte do segurador. Um exemplo de aplicação do art. 773 do CC é o seguro de transporte de uma carga de um local A para um local B, sendo que a seguradora já sabe que a carga já chegou ao local B (destino), ou seja, o transporte já foi feito.

Art. 774. A recondução tácita do contrato pelo mesmo prazo, mediante expressa cláusula contratual, não poderá operar mais de uma vez.

O dispositivo legal acima limita a ocorrência de renovações sucessivas e automáticas, por recondução tácita dessa espécie de contrato.

Art. 775. Os agentes autorizados do segurador presumem-se seus representantes para todos os atos relativos aos contratos que agenciarem.

Desde que autorizados, os agentes securitários são, para os efeitos do contrato que agenciarem, os representantes do segurador, quando em verdade atuam “em nome e para o benefício da empresa”.

Art. 776. O segurador é obrigado a pagar em dinheiro o prejuízo resultante do risco assumido, salvo se convencionada a reposição da coisa.

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Como regra, a indenização dos danos decorrentes do risco assumido deve ser feita em dinheiro.

Art. 777. O disposto no presente Capítulo aplica-se, no que couber, aos seguros regidos por leis próprias.

As disposições referentes aos seguros aqui no CC, aplicam-se, no que couber, aos seguros regidos por leis próprias, tal como a Lei 9.656/1998, que dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde.

O Código Civil ainda trata de duas espécies de seguros: o seguro de dano e o seguro de pessoa.

SEGURO DE DANO: é aquele de natureza essencialmente indenizatória, restrita essa indenização ao valor do interesse segurado no momento do sinistro. Como exemplos, temos o seguro de veículo em caso de roubo ou furto e o seguro de casa na hipótese de um incêndio. Os arts. 778 a 788 do CC tratam do assunto:

Art. 778. Nos seguros de dano, a garantia prometida não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento da conclusão do contrato, sob pena do disposto no art. 766, e sem prejuízo da ação penal que no caso couber.

O valor da garantia está previsto no art. 778 do CC.

Art. 779. O risco do seguro compreenderá todos os prejuízos resultantes ou conseqüentes, como sejam os estragos ocasionados para evitar o sinistro, minorar o dano, ou salvar a coisa.

Aqui temos a abrangência do risco do seguro de dano.

Art. 780. A vigência da garantia, no seguro de coisas transportadas, começa no momento em que são pelo transportador recebidas, e cessa com a sua entrega ao destinatário.

No art. 780 do CC está registrado o período de abrangência do seguro para coisas transportadas.

Art. 781. A indenização não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento do sinistro, e, em hipótese alguma, o limite máximo da garantia fixado na apólice, salvo em caso de mora do segurador.

Pelo art. 781 do CC se percebe que o legislador se preocupou em evitar o enriquecimento sem causa por parte do segurado.

Art. 782. O segurado que, na vigência do contrato, pretender obter novo seguro sobre o mesmo interesse, e contra o mesmo risco junto a outro segurador, deve previamente comunicar sua intenção por escrito ao primeiro, indicando a soma por que pretende segurar-se, a fim de se comprovar a obediência ao disposto no art. 778.

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A cumulação de seguros de uma mesma coisa pelos mesmos riscos somente é permitida se o primeiro seguro não alcançar o seu valor integral, ou seja, o valor do interesse segurado ao tempo da conclusão do contrato.

Art. 783. Salvo disposição em contrário, o seguro de um interesse por menos do que valha acarreta a redução proporcional da indenização, no caso de sinistro parcial.

O seguro é fixado pelas partes de acordo com o valor de seu objeto. Caso este seja segurado por menos do que valha, em sucedendo sinistro parcial a obrigação do segurador será também proporcional.

Art. 784. Não se inclui na garantia o sinistro provocado por vício intrínseco da coisa segurada, não declarado pelo segurado.

Parágrafo único. Entende-se por vício intrínseco o defeito próprio da coisa, que se não encontra normalmente em outras da mesma espécie.

É uma causa excludente de garantia haver sido o sinistro provocado por vício intrínseco da coisa segurada. Como exemplo, temos a coisa que se perde por defeito de fabricação.

Art. 785. Salvo disposição em contrário, admite-se a transferência do contrato a terceiro com a alienação ou cessão do interesse segurado.

§ 1o Se o instrumento contratual é nominativo, a transferência só produz efeitos em relação ao segurador mediante aviso escrito assinado pelo cedente e pelo cessionário.

§ 2o A apólice ou o bilhete à ordem só se transfere por endosso em preto, datado e assinado pelo endossante e pelo endossatário.

Esse artigo trata da transmissibilidade dos direitos inerentes ao contrato de seguro. Conclui-se que a transferência do contrato a terceiro por alienação ou cessão do interesse segurado é admitida como válida, salvo existindo cláusula expressa em contrário.

Art. 786. Paga a indenização, o segurador sub-roga-se, nos limites do valor respectivo, nos direitos e ações que competirem ao segurado contra o autor do dano.

§ 1o Salvo dolo, a sub-rogação não tem lugar se o dano foi causado pelo cônjuge do segurado, seus descendentes ou ascendentes, consangüíneos ou afins.

§ 2o É ineficaz qualquer ato do segurado que diminua ou extinga, em prejuízo do segurador, os direitos a que se refere este artigo.

Após ocorrer o pagamento da indenização, a seguradora tem direito de cobrar os prejuízos do causador do dano, caracterizando um direito de regresso.

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Art. 787. No seguro de responsabilidade civil, o segurador garante o pagamento de perdas e danos devidos pelo segurado a terceiro.

§ 1o Tão logo saiba o segurado das conseqüências de ato seu, suscetível de lhe acarretar a responsabilidade incluída na garantia, comunicará o fato ao segurador.

§ 2o É defeso ao segurado reconhecer sua responsabilidade ou confessar a ação, bem como transigir com o terceiro prejudicado, ou indenizá-lo diretamente, sem anuência expressa do segurador.

§ 3o Intentada a ação contra o segurado, dará este ciência da lide ao segurador.

§ 4o Subsistirá a responsabilidade do segurado perante o terceiro, se o segurador for insolvente.

O seguro de responsabilidade civil se caracteriza pelo fato da seguradora garantir o pagamento de danos que o segurado causar a um terceiro. È muito comum em seguros de automóveis.

Art. 788. Nos seguros de responsabilidade legalmente obrigatórios, a indenização por sinistro será paga pelo segurador diretamente ao terceiro prejudicado.

Parágrafo único. Demandado em ação direta pela vítima do dano, o segurador não poderá opor a exceção de contrato não cumprido pelo segurado, sem promover a citação deste para integrar o contraditório.

O art. 788 do CC trata dos seguros de responsabilidade civil obrigatórios, tal como o DPVAT nos acidentes de trânsito.

SEGURO DE PESSOA: é aquele que tem por objeto a vida ou a integridade física de determinada pessoa. Os arts. 789 a 802 do CC tratam do assunto:

Art. 789. Nos seguros de pessoas, o capital segurado é livremente estipulado pelo proponente, que pode contratar mais de um seguro sobre o mesmo interesse, com o mesmo ou diversos seguradores.

Diferentemente do seguro de dano (art. 782 do CC), no seguro de pessoa o valor da indenização é livremente estipulado pelo proponente, podendo haver a contratação de várias seguradoras, independentemente do valor de cada contrato.

Art. 790. No seguro sobre a vida de outros, o proponente é obrigado a declarar, sob pena de falsidade, o seu interesse pela preservação da vida do segurado.

Parágrafo único. Até prova em contrário, presume-se o interesse, quando o segurado é cônjuge, ascendente ou descendente do proponente.

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Quando o seguro de pessoa não compreender a do próprio segurado, mas de outrem, o proponente terá de justificar as razões legítimas e lícitas para a instituição do beneficio, sejam de ordem jurídica, econômica, moral ou sentimental.

Art. 791. Se o segurado não renunciar à faculdade, ou se o seguro não tiver como causa declarada a garantia de alguma obrigação, é lícita a substituição do beneficiário, por ato entre vivos ou de última vontade.

Parágrafo único. O segurador, que não for cientificado oportunamente da substituição, desobrigar-se-á pagando o capital segurado ao antigo beneficiário.

No art. 791 do CC, a lei permite a substituição do beneficiário do seguro de vida, por ato unilateral de vontade do segurado.

Art. 792. Na falta de indicação da pessoa ou beneficiário, ou se por qualquer motivo não prevalecer a que for feita, o capital segurado será pago por metade ao cônjuge não separado judicialmente, e o restante aos herdeiros do segurado, obedecida a ordem da vocação hereditária.

Parágrafo único. Na falta das pessoas indicadas neste artigo, serão beneficiários os que provarem que a morte do segurado os privou dos meios necessários à subsistência.

Uma característica essencial do seguro de vida é a livre escolha dos beneficiários. Por isso, diz-se que o segurado pode, legitimamente, preterir os próprios parentes, em favor de estranhos. É lícito, porém, ao segurado não indicar, desde logo, o nome do beneficiário, ou, fazendo-o, por alguma razão, não prevalecer tal nomeação; nessas duas hipóteses negativas, a lei determina seja o montante segurado pago, pela metade, ao cônjuge não separado judicialmente, revertendo-se a outra metade aos herdeiros do segurado.

Art. 793. É válida a instituição do companheiro como beneficiário, se ao tempo do contrato o segurado era separado judicialmente, ou já se encontrava separado de fato.

Pelo art. 793 do CC é admitida a possibilidade do companheiro do segurado ser beneficiário.

Art. 794. No seguro de vida ou de acidentes pessoais para o caso de morte, o capital estipulado não está sujeito às dívidas do segurado, nem se considera herança para todos os efeitos de direito.

A verba oriunda de indenização de seguro de vida não está sujeita à execução, não podendo ser dada em garantia, porque é impenhorável. Porém, a jurisprudência tem averbado que “é lícito estipular que a soma do seguro responda pelo pagamento dos prêmios atrasados ou empréstimos feitos pelo próprio segurado sobre a apólice”.

Conclui-se que o capital estipulado no seguro de vida ou de acidentes pessoais para o caso de morte não é considerado como herança e, portanto, não integra o espólio.

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Art. 795. É nula, no seguro de pessoa, qualquer transação para pagamento reduzido do capital segurado.

No seguro de pessoa, qualquer transação feita entre seguradora e beneficiário para que haja pagamento reduzido do capital segurado deverá ser declarada nula.

Art. 796. O prêmio, no seguro de vida, será conveniado por prazo limitado, ou por toda a vida do segurado.

Parágrafo único. Em qualquer hipótese, no seguro individual, o segurador não terá ação para cobrar o prêmio vencido, cuja falta de pagamento, nos prazos previstos, acarretará, conforme se estipular, a resolução do contrato, com a restituição da reserva já formada, ou a redução do capital garantido proporcionalmente ao prêmio pago.

Pelo art. 796 do CC percebemos dois tipos de seguros de vida:

- seguro de vida inteira com prêmio temporário: o segurado paga o prêmio avençado durante um certo número de anos, para que o segurador pague indenização aos beneficiários após a sua morte.

- seguro de vida inteira: o segurado se obriga a pagar mensalmente um prêmio fixo, enquanto vivo, para que o segurador pague indenização aos beneficiários após a sua morte.

Art. 797. No seguro de vida para o caso de morte, é lícito estipular-se um prazo de carência, durante o qual o segurador não responde pela ocorrência do sinistro.

Parágrafo único. No caso deste artigo o segurador é obrigado a devolver ao beneficiário o montante da reserva técnica já formada.

O prazo de carência estipulado neste artigo tem por finalidade proteger a figura do segurador.

Art. 798. O beneficiário não tem direito ao capital estipulado quando o segurado se suicida nos primeiros dois anos de vigência inicial do contrato, ou da sua recondução depois de suspenso, observado o disposto no parágrafo único do artigo antecedente.

Parágrafo único. Ressalvada a hipótese prevista neste artigo, é nula a cláusula contratual que exclui o pagamento do capital por suicídio do segurado.

Não haverá pagamento de seguro se o segurado vier a falecer em razão de suicídio premeditado.

Art. 799. O segurador não pode eximir-se ao pagamento do seguro, ainda que da apólice conste a restrição, se a morte ou a incapacidade do segurado provier da utilização de meio de transporte mais arriscado, da prestação de serviço militar, da prática de esporte, ou de atos de humanidade em auxílio de outrem.

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O dispositivo em questão confirma, em maior escala, a responsabilidade do segurador, ainda que o óbito provenha de ato do segurado, no qual se sobreleve maior risco e mesmo que da apólice conste essa restrição.

Art. 800. Nos seguros de pessoas, o segurador não pode sub-rogar-se nos direitos e ações do segurado, ou do beneficiário, contra o causador do sinistro.

Aqui o legislador ressalta a importância do bem jurídico objeto do seguro. Nesse caso, não faz sentido transferir-se ao segurador o direito de acionar o terceiro causador do sinistro, já que o interesse do segurado ou do beneficiário pelo reconhecimento judicial de sua pretensão ante aquele é, evidentemente, muito mais relevante do que o do segurador em recuperar o prejuízo sofrido.

Art. 801. O seguro de pessoas pode ser estipulado por pessoa natural ou jurídica em proveito de grupo que a ela, de qualquer modo, se vincule.

§ 1o O estipulante não representa o segurador perante o grupo segurado, e é o único responsável, para com o segurador, pelo cumprimento de todas as obrigações contratuais.

§ 2o A modificação da apólice em vigor dependerá da anuência expressa de segurados que representem três quartos do grupo.

O art. 801 do CC visa à garantia dos segurados nos contratos de seguro em grupo, pondo-os a salvo de acordos feitos à sua revelia, pelos chamados estipulantes.

Art. 802. Não se compreende nas disposições desta Seção a garantia do reembolso de despesas hospitalares ou de tratamento médico, nem o custeio das despesas de luto e de funeral do segurado.

Os dispositivos do Código Civil sobre o seguro de pessoa não são aplicáveis para garantir reembolso de despesas médico-hospitalares, de luto e de funeral do segurado, que poderá ser objeto de seguro de dano. O segurador tem apenas a obrigação de assumir o risco previsto no ajuste, pagando o capital fixado em favor do beneficiário se houver a ocorrência do sinistro.

Da transação

A transação, conforme o art. 840 do CC, é o contrato pelo qual as partes, por meio de concessões mútuas, previnem ou extinguem um determinado conflito.

Art. 840. É lícito aos interessados prevenirem ou terminarem o litígio mediante concessões mútuas.

Segundo o art. 841 do CC, apenas se pode transigir sobre direitos patrimoniais de caráter privado, ou seja, é inadmissível a transação sobre o estado e a capacidade das pessoas, sobre os efeitos do casamento, guarda de filhos, poder familiar, etc.

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Art. 841. Só quanto a direitos patrimoniais de caráter privado se permite a transação.

Quanto à natureza jurídica do contrato de transação, temos o seguinte:

- bilateral: ambas as partes assumem obrigações, o prestador assume uma obrigação de fazer, ao passo que o tomador assume uma obrigação de pagar a remuneração;

- oneroso: ambas as partes auferem vantagens;

- consensual: o contrato se aperfeiçoa com o simples acordo de vontade das partes,

- típico: está previsto no Código Civil;

- solene: a transação pode ser de duas espécies (judicial ou extrajudicial). Será judicial aquela realizada pelas partes para pôr fim a uma demanda judicial que esteja em curso. Nesta hipótese a lei exige instrumento público ou termo nos autos do processo (art. 842 do CC). Será extrajudicial se entre as partes não houver demanda judicial em trâmite. Neste caso será exigida escritura pública apenas nos casos citados pelo art. 108 do CC (estudado na aula de negócios jurídicos).

Art. 842. A transação far-se-á por escritura pública, nas obrigações em que a lei o exige, ou por instrumento particular, nas em que ela o admite; se recair sobre direitos contestados em juízo, será feita por escritura pública, ou por termo nos autos, assinado pelos transigentes e homologado pelo juiz.

Por se tratar de um acordo, ao interpretar a transação não se pode inferir mais do que as partes efetivamente declararam e, por isso, conforme o art. 843 do CC, a interpretação deve ser feita de forma restritiva.

Além disso, a transação é um negócio declaratório cuja finalidade é transformar em incontestável no futuro o que hoje é litigioso ou incerto.

Art. 843. A transação interpreta-se restritivamente, e por ela não se transmitem, apenas se declaram ou reconhecem direitos.

No artigo a seguir (844) é tratada a exclusão de terceiros dos efeitos da transação. Ou seja, em regra, apenas os que transigirem estarão vinculados pela máxima do pacta sunt servanda.

Entretanto, nos §§ 1º a 3º temos casos excepcionais onde os efeitos da transação repercutem sobre terceiros.

Art. 844. A transação não aproveita, nem prejudica senão aos que nela intervierem, ainda que diga respeito a coisa indivisível. § 1o Se for concluída entre o credor e o devedor, desobrigará o fiador. § 2o Se entre um dos credores solidários e o devedor, extingue a obrigação deste para com os outros credores. § 3o Se entre um dos devedores solidários e seu credor, extingue a dívida em relação aos co-devedores.

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Se houver evicção da coisa renunciada por um dos transigentes, ou por ele transferida à outra parte, a obrigação extinta pela transação não renascerá. O evicto poderá tão-somente pleitear o pagamento das perdas e danos.

Art. 845. Dada a evicção da coisa renunciada por um dos transigentes, ou por ele transferida à outra parte, não revive a obrigação extinta pela transação; mas ao evicto cabe o direito de reclamar perdas e danos. Parágrafo único. Se um dos transigentes adquirir, depois da transação, novo direito sobre a coisa renunciada ou transferida, a transação feita não o inibirá de exercê-lo.

De acordo com o art. 846 do CC se a transação versar sobre uma obrigação oriunda de um delito, a obrigação na esfera civil fica extinta, mas a ação penal não.

Art. 846. A transação concernente a obrigações resultantes de delito não extingue a ação penal pública.

Na transação é possível a estipulação de cláusula penal para reforçar o cumprimento da obrigação pactuada.

Art. 847. É admissível, na transação, a pena convencional.

A nulidade de qualquer cláusula do contrato de transação, em regra, acarreta a contaminação de todo o contrato que será passível de nulidade absoluta.

Art. 848. Sendo nula qualquer das cláusulas da transação, nula será esta. Parágrafo único. Quando a transação versar sobre diversos direitos contestados, independentes entre si, o fato de não prevalecer em relação a um não prejudicará os demais.

Através do art. 849 percebe-se que o erro de direito (decorrente da ignorância ou da falsa interpretação da norma jurídica) não é capaz de anular o contrato de transação.

Art. 849. A transação só se anula por dolo, coação, ou erro essencial quanto à pessoa ou coisa controversa. Parágrafo único. A transação não se anula por erro de direito a respeito das questões que foram objeto de controvérsia entre as partes.

Por fim, são estabelecidas, pelo art. 850 do CC, duas causas de nulidade absoluta da transação:

Art. 850. É nula a transação a respeito do litígio decidido por sentença passada em julgado, se dela não tinha ciência algum dos transatores, ou quando, por título ulteriormente descoberto, se verificar que nenhum deles tinha direito sobre o objeto da transação.

- o litígio já decidido por sentença passada em julgado, sem o conhecimento de algumas das pessoas que estão transigindo, pois o direito deixou de ser duvidoso; logo, nada mais haverá que transigir; e

- a descoberta de título anterior, que indique ausência de direito sobre o objeto da transação relativamente a qualquer das pessoas que estão transigindo.

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LISTA DE QUESTÕES DA BANCA CESPE/UnB

1. (TRE/MT – Analista Judiciário – 2010) A propriedade da coisa vendida, salvo disposição em contrário, transfere-se no momento do contrato, por isso, considera-se tal operação como contrato real.

Gabarito: Errada. Nos termos do art. 481 do CC, o contrato de compra e venda é

consensual.

2. (TRE/MT – Analista Judiciário – 2010) Será suspensa por tempo determinado a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido.

Gabarito: Errada. A venda pode ser anulada (art. 496 do CC), mas não há suspensão

temporária.

3. (TRE/MT – Analista Judiciário – 2010) Desde a celebração do contrato, independentemente da tradição, os riscos da coisa correm por conta do comprador e os riscos do preço, por conta do vendedor.

Gabarito: Errada. As características estão invertidas na questão, ou seja, os riscos da

coisa correm por conta do vendedor e os riscos do preço, por conta do comprador (art.

492 do CC).

4. (TRE/MT – Analista Judiciário – 2010) Salvo cláusula em contrário, ficarão a cargo do comprador as despesas de escritura, registro e tradição.

Gabarito: Errada. Segundo o art. 490 do CC, as despesas com a tradição ficam a cargo

do vendedor.

5. (TRE/MT – Analista Judiciário – 2010) O preço corrente nas vendas habituais do vendedor é critério válido de atribuição do preço, quando a venda for feita sem

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fixação do preço ou de critérios válidos para a sua determinação e não houver tabelamento oficial para o objeto do contrato.

Gabarito: Certa. Conforme o art. 488 do CC.

6. (TRE/GO – Analista Administrativo – 2009) Na retrovenda, o direito de retrato poderá ser exercido contra o terceiro adquirente do bem retrovendido.

Esta questão trata da retrovenda que consiste no direito do vendedor de recobrar o

bem imóvel vendido, mediante o pagamento do preço pago pelo comprador e das

despesas do contrato, no prazo de três anos (art. 505 do CC).

Gabarito: Certa. Conforme os arts. 505 e 507 do CC.

7. (TRE/GO – Analista Administrativo – 2009) Na compra e venda de bens móveis ou imóveis, o direito de prelação poderá ser cedido por ato inter vivos, bem como passar aos herdeiros do preemptor por ato causa mortis.

Gabarito: Errada. Através do art. 520 do CC, percebe-se que o direito de preferência é um

direito personalíssimo, não podendo ser transmitido por ato inter vivos e se extinguindo

com a morte do vendedor.

8. (TRE/GO – Analista Administrativo – 2009) Na compra e venda a contento, o contrato se aperfeiçoa no momento em que ocorre a tradição da coisa alienada.

Gabarito: Errada. De acordo com o art. 509 do CC, caso o comprador não se agrade com

o bem, basta devolvê-lo que o contrato não se aperfeiçoa.

9. (TRE/GO – Analista Administrativo – 2009) O contrato de mútuo tem por objeto o empréstimo de coisas infungíveis.

Gabarito: Errada. O mútuo é considerado um empréstimo de consumo, onde a pessoa

toma o bem emprestado, o consome e, posteriormente, devolve um bem igual. Diante

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disso percebe-se que o mútuo envolve bens fungíveis (que podem ser substituídos por

outros de mesma espécie, qualidade e quantidade). Vide art. 586 do CC.

10. (BRB – Advogado – 2010) No contrato de mútuo, o acordo de vontades devidamente firmado pelas partes é suficiente para aperfeiçoá-lo, de modo que se o objeto não for entregue pelo mutuante, o mutuário pode compeli-lo a tanto. E

Gabarito: Errada. Apenas o acordo de vontades não é suficiente para aperfeiçoar o

contrato de mútuo, pois se trata de um contrato real.

11. (BRB – Advogado – 2010) A respeito do contrato de comodato, é de sua essência a transferência da posse do bem que integra seu objeto. Todavia, no que tange ao comodato de automóvel, mesmo essa transferência não é bastante para eximir o comodante da responsabilidade pelos danos causados pelo comodatário que usa o bem.

Gabarito: Certa. O comodato é considerado um empréstimo de uso, onde a pessoa toma

o bem emprestado, usa e, posteriormente, devolve exatamente o mesmo bem. Ex:

emprestar a casa de praia para um amigo. Vide art. 579 do CC.

12. (SERPRO - Analista Jurídico - 2010) Mauro, técnico altamente especializado, presta seus serviços à empresa XX, por meio de contrato escrito. Ocorre que a empresa ZZ, concorrente da empresa XX, aliciou Mauro, que passou a prestar os seus serviços, com exclusividade, à empresa ZZ. Nessa situação hipotética, a empresa XX poderá pleitear da empresa ZZ indenização correspondente ao valor que Mauro receberia da empresa XX, durante dois anos, se lá ainda estivesse

prestando os seus serviços.

Gabarito: Certa. Conforme o art. 608 do CC a empresa prejudicada pode pleitear

indenização referente a dois anos de prestação de serviços, independente do prazo do

contrato.

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13. (TRE-GO - Analista Judiciário - 2009) Assinale a opção que não se configura cláusula especial nos contratos de compra e venda. a) venda ad mensuram b) retrovenda c) venda sobre documentos d) venda a contento

A venda ad mensuram não representa uma cláusula especial do contrato de

compra e venda.

Gabarito: A _________ 14. (TRE-GO - Analista Judiciário - 2009) Assinale a opção correspondente a característica própria do contrato de seguro. a) comutativo b) unilateral c) personalíssimo d) aleatório

A principal característica do contrato de seguro é a aleatoriedade, ou seja, a

incerteza na contraprestação por parte da seguradora.

Gabarito: D

15. (DPE-ES - Defensor Público - 2009) A doação de um imóvel a duas pessoas, dando a uma delas o direito de usá-lo durante dez anos, e à outra, o direito de usá-lo uma vez decorrido esse período, é tida como doação sob forma de subvenção periódica.

Gabarito: Errada. A questão descreve uma doação a termo e não sob forma de

subvenção periódica.

16. (BACEN – Procurador - 2009) Apesar de a doação ter na aceitação um ato indispensável a seu aperfeiçoamento, essa aceitação poderá ser até mesmo ficta, se o donatário for absolutamente incapaz e a doação for pura.

Gabarito: Certa. Conforme o art. 543 do CC.

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17. (BACEN – Procurador - 2009) O contrato de mútuo é essencialmente gratuito, de modo que, mesmo se tratando de empréstimo de dinheiro, o silêncio das partes impedirá a cobrança de juros.

Gabarito: Errada. De acordo com o art. 591 do CC o mútuo que se destina a fins

econômicos é considerado oneroso.

18. (PGE-PI – Procurador - 2008) No contrato de empreitada de mão-de-obra, por se tratar de obrigação de meio, o empreiteiro tem o direito de exigir do proprietário

que, uma vez concluída a obra nos termos contratuais, ele a aceite, pois, nesse tipo de empreitada, todos os riscos correm por conta do dono.

Gabarito: Errada. Em desacordo com o art. 612 do CC. Na empreitada de mão-de-obra,

os riscos que forem de culpa do empreiteiro correrão por sua conta.

19. (PGE-CE – Procurador - 2008) Se o contrato de prestação de serviço for omisso quanto à retribuição devida ao prestador de serviço e houver discordância das partes quanto à remuneração, a sua fixação será feita por meio de arbitramento, que atenderá aos costumes locais, ao tempo e à qualidade do serviço prestado.

Gabarito: Certa. De acordo com o art. 596 do CC.

20. (SERPRO - Analista Jurídico - 2010) Alfredo contratou uma empreiteira para a construção de um edifício de quatro andares, sendo que a referida empresa foi responsável não só pela mão de obra, como também pelo fornecimento de todo o material da obra, que foi, finalizada em 29/5/2004. Em 1/4/2008, foram detectadas diversas rachaduras na fachada do edifício, razão pela qual Alfredo ingressou com ação, em face da empreiteira, em 19/10/2008. Nessa situação hipotética, quando da propositura da ação contra a empreiteira, já havia decaído o direito de Alfredo.

Gabarito: Certa. Segundo o art. 618, § único, o a decadência do direito de propor a ação

ocorre em 180 dias a partir do momento em que o vício é descoberto. Entre o dia 01/ABR

e 19/OUT transcorreram mais de 180 dias.

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LISTA DAS QUESTÕES APRESENTADAS

1. (TRE/MT – Analista Judiciário – 2010) A propriedade da coisa vendida, salvo disposição em contrário, transfere-se no momento do contrato, por isso, considera-se tal operação como contrato real.

2. (TRE/MT – Analista Judiciário – 2010) Será suspensa por tempo determinado a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido.

3. (TRE/MT – Analista Judiciário – 2010) Desde a celebração do contrato, independentemente da tradição, os riscos da coisa correm por conta do comprador e os riscos do preço, por conta do vendedor.

4. (TRE/MT – Analista Judiciário – 2010) Salvo cláusula em contrário, ficarão a cargo do comprador as despesas de escritura, registro e tradição.

5. (TRE/MT – Analista Judiciário – 2010) O preço corrente nas vendas habituais do vendedor é critério válido de atribuição do preço, quando a venda for feita sem fixação do preço ou de critérios válidos para a sua determinação e não houver tabelamento oficial para o objeto do contrato.

6. (TRE/GO – Analista Administrativo – 2009) Na retrovenda, o direito de retrato poderá ser exercido contra o terceiro adquirente do bem retrovendido.

7. (TRE/GO – Analista Administrativo – 2009) Na compra e venda de bens móveis ou imóveis, o direito de prelação poderá ser cedido por ato inter vivos, bem como passar aos herdeiros do preemptor por ato causa mortis.

8. (TRE/GO – Analista Administrativo – 2009) Na compra e venda a contento, o contrato se aperfeiçoa no momento em que ocorre a tradição da coisa alienada.

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9. (TRE/GO – Analista Administrativo – 2009) O contrato de mútuo tem por objeto o empréstimo de coisas infungíveis.

10. (BRB – Advogado – 2010) No contrato de mútuo, o acordo de vontades devidamente firmado pelas partes é suficiente para aperfeiçoá-lo, de modo que se o objeto não for entregue pelo mutuante, o mutuário pode compeli-lo a tanto. E

11. (BRB – Advogado – 2010) A respeito do contrato de comodato, é de sua essência a transferência da posse do bem que integra seu objeto. Todavia, no que tange ao comodato de automóvel, mesmo essa transferência não é bastante para eximir o comodante da responsabilidade pelos danos causados pelo comodatário que usa o bem.

12. (SERPRO - Analista Jurídico - 2010) Mauro, técnico altamente especializado, presta seus serviços à empresa XX, por meio de contrato escrito. Ocorre que a empresa ZZ, concorrente da empresa XX, aliciou Mauro, que passou a prestar os seus serviços, com exclusividade, à empresa ZZ. Nessa situação hipotética, a empresa XX poderá pleitear da empresa ZZ indenização correspondente ao valor que Mauro receberia da empresa XX, durante dois anos, se lá ainda estivesse prestando os seus serviços.

13. (TRE-GO - Analista Judiciário - 2009) Assinale a opção que não se configura cláusula especial nos contratos de compra e venda. a) venda ad mensuram b) retrovenda c) venda sobre documentos d) venda a contento

14. (TRE-GO - Analista Judiciário - 2009) Assinale a opção correspondente a

característica própria do contrato de seguro. a) comutativo b) unilateral c) personalíssimo

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d) aleatório

15. (DPE-ES - Defensor Público - 2009) A doação de um imóvel a duas pessoas, dando a uma delas o direito de usá-lo durante dez anos, e à outra, o direito de usá-lo uma vez decorrido esse período, é tida como doação sob forma de subvenção

periódica.

16. (BACEN – Procurador - 2009) Apesar de a doação ter na aceitação um ato indispensável a seu aperfeiçoamento, essa aceitação poderá ser até mesmo ficta,

se o donatário for absolutamente incapaz e a doação for pura.

17. (BACEN – Procurador - 2009) O contrato de mútuo é essencialmente gratuito, de modo que, mesmo se tratando de empréstimo de dinheiro, o silêncio das partes impedirá a cobrança de juros.

18. (PGE-PI – Procurador - 2008) No contrato de empreitada de mão-de-obra, por se tratar de obrigação de meio, o empreiteiro tem o direito de exigir do proprietário que, uma vez concluída a obra nos termos contratuais, ele a aceite, pois, nesse tipo de empreitada, todos os riscos correm por conta do dono.

19. (PGE-CE – Procurador - 2008) Se o contrato de prestação de serviço for omisso quanto à retribuição devida ao prestador de serviço e houver discordância das

partes quanto à remuneração, a sua fixação será feita por meio de arbitramento, que atenderá aos costumes locais, ao tempo e à qualidade do serviço prestado.

20. (SERPRO - Analista Jurídico - 2010) Alfredo contratou uma empreiteira para a construção de um edifício de quatro andares, sendo que a referida empresa foi responsável não só pela mão de obra, como também pelo fornecimento de todo o material da obra, que foi, finalizada em 29/5/2004. Em 1/4/2008, foram detectadas diversas rachaduras na fachada do edifício, razão pela qual Alfredo ingressou com ação, em face da empreiteira, em 19/10/2008. Nessa situação hipotética, quando da propositura da ação contra a empreiteira, já havia decaído o direito de Alfredo.

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GABARITO

1 E 2 E 3 E 4 E 5 C 6 C 7 E 8 E 9 E 10 E

11 C 12 C 13 A 14 D 15 E 16 C 17 E 18 E 19 C 20 C

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LISTA DE QUESTÕES DE BANCAS DIVERSAS

1. (FCC - TCE/AL – Procurador – 2008) Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes (A) se obriga a transferir o domínio de certa coisa e o outro a recebê-lo, mediante o pagamento em dinheiro ou em outros bens. (B) transfere o domínio de certa coisa, e o outro, se obriga a pagar-lhe certo preço em dinheiro. (C) quando se tratar de venda sobre documento, transfere o domínio da coisa mediante a tradição, obrigando-se a entregar os documentos exigidos pelo contrato, ou pelos usos locais, em prazo fixado de comum acordo entre as partes. (D) se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro. (E) transfere a propriedade resolúvel de certa coisa, e o outro se obriga a pagar-lhe certo preço em dinheiro, como condição para adquirir o domínio pleno.

2. (FCC - SEFAZ/PB – Auditor Fiscal – 2006) A compra e venda é considerada contrato (A) consensual, apenas se celebrado verbalmente ou por instrumento particular, tendo por objeto coisa móvel. (B) real, porque, se pura e simples, só se considerará perfeita e acabada com a tradição do objeto. (C) consensual, porque, se pura e simples, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordem no objeto e no preço. (D) consensual, se tiver por objeto coisa imóvel, e real, se a coisa for móvel. (E) real, apenas se celebrado por instrumento público levado a registro no Serviço de Registro de Imóvel.

3. (NCE – ADVOGADO – SEFAZ-MT – 2006) Em hipótese de contrato de compra e venda de coisa móvel, pode-se afirmar que a propriedade da coisa se transmite: (A) com a celebração do contrato; (B) com a tradição; (C) com o registro do contrato; (D) dez dias após a entrega da coisa; (E) dez dias após a celebração do contrato.

4. (FCC - TJ/SE – Analista Judiciário – Direito – 2009) Na compra e venda, (A) prevalece a amostra, o protótipo ou o modelo, se houver contradição ou diferença com a maneira pela qual se descreveu a coisa no contrato. (B) convencionada a venda, sem fixação de preço ou de critério para a sua determinação, se não houver acordo por ter havido diversidade de preço, prevalecerá o termo mínimo. (C) a fixação do preço pode, no contrato, ser deixada ao arbítrio exclusivo de uma das partes. (D) nas coisas vendidas conjuntamente, o defeito de uma autoriza a rejeição de todas. (E) é vedada a compra e venda entre cônjuges com relação aos bens excluídos da comunhão.

5. (FCC - TRF 2ª - Analista Judiciário – Judiciária – 2007) A respeito do contrato de compra e venda, é correto afirmar: (A) Se a venda se realizar à vista de amostras, protótipos ou modelos, prevalece sobre estes a matéria pela qual se descrever a coisa no contrato. (B) Em decorrência da liberdade de contratar assegurada pelo Código Civil Brasileiro, a fixação do preço pode ser deixada ao arbítrio exclusivo de uma das partes. (C) Convencionada a venda sem fixação de preço ou critérios para sua determinação, se não houver tabelamento oficial, entende-se que as partes se sujeitaram ao preço corrente nas vendas habituais do vendedor. (D) Não é lícita a compra e venda entre cônjuges com relação a bens excluídos da comunhão, por implicarem em alteração do regime estabelecido por ocasião da celebração do matrimônio. (E) Nas coisas vendidas conjuntamente, o defeito oculto de uma autoriza a rejeição de todas.

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6. (FCC - Pref. São Paulo/SP – Auditor Fiscal Tributário Municipal – 2007) Caio vendeu a Tício imóvel de sua propriedade, pelo preço de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Durante as negociações, Caio mencionou que o imóvel tinha área de 1.000 m2 (mil metros quadrados). Todavia, ao ingressar na posse, Tício constatou que a área, na realidade, era de 900 m2 (novecentos metros quadrados). Neste caso, Tício (A) não terá direito à restituição proporcional do preço, em nenhuma hipótese. (B) terá direito à restituição proporcional do preço, se a venda houver sido estipulada ad mensuram. (C) terá direito à restituição proporcional do preço, se a venda houver sido estipulada ad corpus. (D) teria direito à restituição proporcional do preço, se a diferença não fosse superior a 1/20 (um vigésimo) da área declarada. (E) terá direito à restituição proporcional do preço, em qualquer hipótese.

7. (CESGRANRIO - DIREITO – ANP – 2008) Quanto às cláusulas especiais à compra e venda, analise as afirmações a seguir. I - O prazo para o exercício de cláusula de retrovenda tem caráter prescricional e deve ser exercido no tempo máximo de dois anos. II - A venda feita a contento do comprador não se reputará perfeita, enquanto o adquirente não manifestar seu desagrado. III - O prazo para exercer o direito de preferência não poderá exceder a cento e oitenta dias, se a coisa for móvel, ou a dois anos, se imóvel. IV - A cláusula de reserva de domínio será estipulada por escrito e depende de registro no domicílio do comprador para valer contra terceiros. V - Na venda sobre documentos, a entrega do seu título representativo e dos outros documentos exigidos pelo contrato não substitui a tradição da coisa. Estão corretas APENAS as afirmações (A) I e II (B) I e V (C) III e IV (D) I, II, III e IV (E) II, III, IV e V

8. (FCC - Pref. Recife/PE – Procurador Judicial – 2008) Considere os seguintes conceitos estabelecidos pelo Código Civil: I. O comprador é obrigado a oferecer ao vendedor a coisa que aquele vai vender, ou dar em pagamento, para que este use de seu direito de prelação na compra, tanto por tanto. II. O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o direito de recobrá-la no prazo máximo de decadência de três anos, restituindo o preço recebido e reembolsando as despesas do comprador, inclusive as que, durante o período de resgate, se efetuaram com a sua autorização escrita, ou para a realização de benfeitorias necessárias. III. O consignante entrega bens móveis ao consignatário, que fica autorizado a vendê-los, pagando àquele o preço ajustado, salvo se preferir, no prazo estabelecido, restituir-lhe a coisa consignada. Estes conceitos referem-se, respectivamente, aos institutos: (A) preempção, retrovenda e contrato estimatório. (B) retrovenda, contrato estimatório e preempção. (C) contrato estimatório, preempção e retrovenda. (D) preempção, contrato estimatório e retrovenda. (E) retrovenda, preempção e contrato estimatório.

9. (CESGRANRIO – Procurador Jurídico – FENIG - 2005) O contrato pelo qual o consignante entrega bens móveis ao consignatário, que fica autorizado a vendê-los, pagando àquele o preço ajustado, salvo se preferir, no prazo estabelecido, restituir-lhe a coisa consignada, é chamado de contrato: (A) de corretagem.

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(B) de constituição de renda. (C) de agência e distribuição. (D) de empreitada. (E) estimatório.

10. (CESGRANRIO - DIREITO - BNDES – 2008) Considerando as classificações adotadas por Caio Mário da Silva Pereira (Instituições de Direito Civil, 12a ed., v. III, Rio de Janeiro: Forense), o contrato de mútuo com finalidade econômica deve ser classificado como (A) típico, real, unilateral e aleatório. (B) típico, real, bilateral e comutativo. (C) típico, consensual, unilateral e comutativo. (D) atípico, real, bilateral e comutativo. (E) atípico, consensual, bilateral e aleatório.

11. (FCC - TJ/PI - Analista Judiciário – Oficial de Justiça e Avaliador – 2009) O contrato de comodato se caracteriza como (A) empréstimo de consumo, cuja restituição deve ser feita pelo equivalente, diferentemente do mútuo, que é empréstimo de uso, porque o bem deve ser restituído em sua individualidade. (B) empréstimo de uso, porque o bem deve ser restituído em sua individualidade, diferentemente do mútuo, que é empréstimo de consumo, cuja restituição deve ser feita pelo equivalente. (C) espécie do gênero contrato de mútuo, por configurar uma obrigação de restituir coisa fungível. (D) negócio jurídico bilateral e oneroso. (E) negócio jurídico oneroso.

12. (FCC - CGJ/ES – Atividade Notarial e de Registro – 2007) A respeito do comodato é correto afirmar: (A) O comodatário pode recobrar do comodante as despesas feitas com o uso e gozo da coisa emprestada. (B) Os tutores e curadores poderão dar em comodato, sem autorização especial os bens confiados à sua guarda. (C) Se duas ou mais pessoas forem simultaneamente comodatárias de uma coisa, ficarão solidariamente responsáveis para com o comodante. (D) O comodato é o empréstimo oneroso de coisas fungíveis e perfaz-se com a tradição do respectivo objeto. (E) No comodato presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder o preço médio de mercado.

13. (VUNESP – PROCURADOR – PGE-SP – 2005) Analisando-se as características do contrato de comodato, pode-se afirmar a possibilidade de empréstimo de bem fungível nessa modalidade? (A) Não, pois é da essência do contrato de comodato a fungibilidade do bem, do contrário será contrato de mútuo. (B) Sim, pois não é da natureza do contrato de comodato a infungibilidade do bem móvel, em razão da indicação real que o contrato se perfaz com sua tradição. (C) Não, pois o Código Civil determina expressamente que o bem seja infungível, por ser impossível converter a infungibilidade em fungibilidade. (D) Não, pois não é da natureza do comodato a infungibilidade do bem, por não haver bens móveis infungíveis. (E) Sim, pois as partes podem convencionar a infungibilidade de um bem naturalmente fungível.

14. (ESAF – IRB – Advogado – 2006) É obrigação do comodante: (A) pagar despesas ordinárias feitas com o uso e gozo da coisa. (B) responsabilizar-se, solidariamente, se houver mais comodatários. (C) restituir a coisa emprestada in natura no momento devido.

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(D) pagar não só as despesas extraordinárias e necessárias, feitas em caso de urgência, para a conservação da coisa, mas também os dispêndios não relacionados com a fruição do bem dado em comodato. (E) responder pela mora, suportando os riscos.

15. (FCC - TCE/PI – Procurador – 2005) Considere as seguintes proposições: I. O instrumento de contrato de prestação de serviços, quando uma das partes não souber ler e escrever, poderá ser assinado a rogo e subscrito por duas testemunhas. II. O contrato de prestação de serviços regido pelo Código Civil não poderá ter prazo superior a quatro (04) anos. III. A morte do prestador de serviços não extingue o contrato, se a obrigação avençada não for personalíssima. IV. O prestador de serviço despedido sem justa causa tem direito a receber por inteiro a retribuição vencida e metade da que lhe tocaria ao término legal do contrato. V. Aquele que aliciar pessoas, obrigadas em contrato escrito a prestar serviço a outrem, pagará a este a multa contratual proporcionalmente ao prazo faltante para o término do contrato. SOMENTE estão corretas (A) I, II e IV. (B) I, III e V. (C) I, IV e V. (D) II, IV e V. (E) III, IV e V.

16. (ESAF – IRB – Advogado – 2006) Se A efetivar com B contrato escrito para a prestação do serviço “x” por 4 anos, pactuando retribuição de 100 mil reais pelo tempo de duração do acordo, havendo aliciamento de B por C, este deverá indenizar A, pagando (A) 100 mil reais. (B) 150 mil reais. (C) 250 mil reais. (D) 200 mil reais. (E) 50 mil reais.

17. (ESAF – IRB – Advogado – 2004) "A", prestador de serviços, foi despedido sem justa causa, logo: (A) só terá direito à integralidade da remuneração vencida. (B terá direito à retribuição vencida e responderá pelas perdas e danos. (C) receberá apenas a metade do que lhe caberia ao termo legal do contrato. (D) terá direito à integralidade da remuneração vencida e, ainda, à metade que lhe caberia ao termo legal do contrato. (E) terá direito de receber o quantum proporcional ao serviço prestado.

18. (FCC - Pref. São Paulo/SP – Auditor Fiscal Tributário Municipal – 2007) Por meio de determinado contrato, João transferiu a Antônio a propriedade de um bem imóvel. Em contrapartida, Antônio se compromete a pagar a Pedro a quantia de R$ 1.000,00 (mil reais) mensais, em caráter vitalício, a partir da transmissão da propriedade. Este negócio jurídico é tipificado como (A) compromisso de compra e venda. (B) locação. (C) constituição de renda. (D) mandato. (E) permuta.

19. (FCC – PGE/AM – Procurador - 2010) Transação é a) modo de extinção de obrigações, pelo qual uma obrigação anterior é substituída por outra obrigação da mesma natureza, entre as mesmas partes, e é anulável em razão de qualquer vício de consentimento.

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b) contrato consensual, que tem força de coisa julgada, não permitindo ao que se sentir prejudicado o ajuizamento de ação anulatória, mas apenas se lhe faculta a ação rescisória. c) modo de extinção das obrigações, que substitui o pagamento, de natureza extracontratual, só podendo ser anulada por erro de direito. d) contrato real que previne ou termina litígio mediante concessões mútuas, tendo, necessariamente, de ser homologada pelo Juiz. e) contrato pelo qual os interessados previnem ou terminam litígio mediante concessões mútuas, e só se anula por dolo, coação, ou erro essencial quanto à pessoa ou coisa controversa.

20. (FCC - TRE/RS – Analista Judiciário – 2010) Se, na venda de um imóvel, se estipular o preço por medida de extensão, ou se determinar a respectiva área, e esta não corresponder, em qualquer dos casos, às dimensões dadas, o comprador terá o direito de exigir o complemento da área, e, não sendo isso possível, o de reclamar (A) apenas a resolução do contrato, decaindo do direito de propor a respectiva ação no prazo de um ano a contar do registro do título. (B) a resolução do contrato ou abatimento proporcional ao preço, decaindo do direito de propor a respectiva ação no prazo de um ano a contar do registro do título. (C) apenas o abatimento proporcional ao preço, decaindo do direito de propor a respectiva ação no prazo de um ano a contar do registro do título. (D) a resolução do contrato ou abatimento proporcional ao preço, decaindo do direito de propor a respectiva ação no prazo de cinco anos a contar do registro do título. (E) apenas o abatimento proporcional ao preço, decaindo do direito de propor a respectiva ação no prazo de cinco anos a contar do registro do título.

GABARITO

1 D 2 C 3 B 4 A 5 C 6 B 7 C 8 A 9 E 10 B

11 B 12 C 13 E 14 D 15 A 16 E 17 D 18 C 19 E 20 B