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DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO DO TJDFT PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1 AULA 10 ESPÉCIES DE CONTRATOS Itens específicos do edital que serão abordados nesta aula 11.4 Espécies de contratos regulados no Código Civil. SUBITENS. Compra e Venda. Troca ou Permuta. Estimatório. Doação. Locação de coisa móvel e imóvel. Prestação de serviços. Empreitada. Empréstimo: mútuo e comodato. Depósito. Mandato. Comissão. Agência e Distribuição. Corretagem. Transporte. Seguro. Constituição de Renda. Jogo e Aposta. Fiança. Transação. Compromisso. Legislação a ser consultada Código Civil: Compra e Venda (arts. 481 a 532). Troca ou Permuta (art. 533). Estimatório (arts. 534 a 537) Doação (arts. 538 a 564). Locação de coisa móvel e imóvel (arts. 565 a 578). Lei das Locações (Lei n° 8.245/91). Empréstimo: mútuo e comodato (arts. 579 a 592). Prestação de serviços (arts. 593 a 609). Empreitada (arts. 610 a 626). Empréstimo: a) Comodato (arts. 579 a 585); b) Mútuo (arts. 586 a 592). Depósito (arts. 627 a 652). Mandato (arts. 653 a 692). Comissão (arts. 693 a 709). Agência e Distribuição (arts. 710 a 721). Corretagem (arts. 722 a 729). Transporte (arts. 730 a 756). Seguro (arts. 757 a 802). Constituição de Renda (arts. 803 a 813). Jogo e Aposta (arts. 818 a 817). Fiança (arts. 818 a 839). Transação (arts. 840 a 850). Compromisso (arts. 851 a 853). ÍNDICE Compra e Venda ...................................................................... 02 Troca ou Permuta .................................................................... 10 Estimatório ............................................................................. 11 Doação .................................................................................... 13 Locação ................................................................................... 18 Empréstimo ............................................................................. 32 Mútuo ................................................................................. 32 Comodato ........................................................................... 35 Prestação de Serviço ............................................................... 37 Empreitada .............................................................................. 39 Depósito .................................................................................. 43 Mandato .................................................................................. 47

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AULA 10

ESPÉCIES DE CONTRATOS

��� Itens específicos do edital que serão abordados nesta aula →→→

11.4 Espécies de contratos regulados no Código Civil.

SUBITENS. Compra e Venda. Troca ou Permuta. Estimatório. Doação. Locação de coisa móvel e imóvel. Prestação de serviços. Empreitada. Empréstimo: mútuo e comodato. Depósito. Mandato. Comissão. Agência e Distribuição. Corretagem. Transporte. Seguro. Constituição de Renda. Jogo e Aposta. Fiança. Transação. Compromisso.

���Legislação a ser consultada →→→ Código Civil: Compra e Venda (arts.

481 a 532). Troca ou Permuta (art. 533). Estimatório (arts. 534 a 537) Doação (arts. 538 a 564). Locação de coisa móvel e imóvel (arts. 565 a 578). Lei das Locações (Lei n° 8.245/91). Empréstimo: mútuo e comodato (arts. 579 a 592). Prestação de serviços (arts. 593 a 609). Empreitada (arts. 610 a 626). Empréstimo: a) Comodato (arts. 579 a 585); b) Mútuo (arts. 586 a 592). Depósito (arts. 627 a 652). Mandato (arts. 653 a 692). Comissão (arts. 693 a 709). Agência e Distribuição (arts. 710 a 721). Corretagem (arts. 722 a 729). Transporte (arts. 730 a 756). Seguro (arts. 757 a 802). Constituição de Renda (arts. 803 a 813). Jogo e Aposta (arts. 818 a 817). Fiança (arts. 818 a 839). Transação (arts. 840 a 850). Compromisso (arts. 851 a 853).

ÍNDICE

Compra e Venda ...................................................................... 02 Troca ou Permuta .................................................................... 10 Estimatório ............................................................................. 11 Doação .................................................................................... 13 Locação ................................................................................... 18 Empréstimo ............................................................................. 32 Mútuo ................................................................................. 32 Comodato ........................................................................... 35 Prestação de Serviço ............................................................... 37 Empreitada .............................................................................. 39 Depósito .................................................................................. 43 Mandato .................................................................................. 47

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Comissão ................................................................................. 55 Agência e Distribuição ............................................................. 56 Corretagem ............................................................................. 57 Transporte .............................................................................. 58 Seguro .................................................................................... 63 Constituição de Renda ............................................................. 68 Jogo e Aposta .......................................................................... 69 Fiança ..................................................................................... 70 Transação ............................................................................... 76 Compromisso .......................................................................... 77

RESUMO DA AULA ................................................................... 78

Bibliografia básica ................................................................... 83

EXERCÍCIOS COMENTADOS ..................................................... 83

Meus Amigos e Alunos

Como o edital para o Analista Judiciário do TJDFT fala expressamente em “espécies de contratos regulados no Código Civil”, teremos que ver todos os contratos do Código. Por isso a aula acabou ficando grande... É certo que, como está no edital, qualquer um dos contratos pode cair na prova... no entanto, aconselho vocês focarem mais nos principais contratos, ou seja: Compra e Venda, Doação, Locação, Empréstimo (Mútuo e Comodato), Depósito, Mandato, Seguro e Fiança.

Então... comecemos... vamos a eles...

COMPRA E VENDA (arts. 481 a 532, CC)

Contrato de compra e venda é aquele pelo qual um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro lhe pagar o preço em dinheiro (art. 481, CC). É importante deixar uma coisa bem clara: o contrato de compra e venda não transfere o domínio (ou seja, a propriedade). A propriedade é transferida pela tradição (em relação aos bens móveis: art. 1.267, CC) ou pelo registro do título aquisitivo no cartório de Registro de Imóveis (em relação aos bens imóveis: art. 1.245, CC). O contrato de compra e venda dá aos contratantes tão somente um direito pessoal, gerando ao vendedor a obrigação de transferir o domínio (obrigação de dar). Caso o vendedor não entregue a coisa vendida, o contrato será resolvido nos termos do inadimplemento das obrigações de dar (que vimos na aula anterior).

CARACTERÍSTICAS

• Bilateral ou sinalagmático: cria obrigações para ambos os contratantes, que serão ao mesmo tempo credores e devedores, uns dos outros.

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• Oneroso: ambas as partes auferem vantagens e ônus patrimoniais de suas prestações.

• Tipico: previsto do Código. • Comutativo: em regra possui objeto certo com equivalência das prestações

e contraprestações. Admite-se, em algumas hipóteses, que seja Aleatório, quando dependente de um evento incerto.

• Consensual: o contrato de compra e venda é consensual, pois ele se aperfeiçoa com o simples consenso ou manifestação de vontade dos contraentes, principalmente no que toca os bens móveis. Pode ter a forma solene em algumas situações (ex.: escritura pública para a compra de bens imóveis).

• Translativo do domínio: embora a propriedade só seja transferida com a tradição (para bens móveis) ou com o registro (para bens imóveis), serve como título adquirendi, isto é, serve como fato gerador da transmissão da propriedade; cria a obrigação para a transferência da coisa.

ELEMENTOS ESSENCIAIS

São elementos dos contratos de compra e venda, além dos comuns a todos os negócios jurídicos e os contratos: a) coisa; b) preço e c) consentimento. Art. 482, CC: A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço. Vejamos cada um deles.

A) COISA OU OBJETO (res) é o objeto da compra e venda. Segundo a doutrina deve ser corpórea (móveis ou imóveis). Isto porque os bens incorpóreos (direitos de invenção, de propriedade literária, científica ou artística) somente poderiam ser objeto de contrato de cessão de direitos. Características: • Disponibilidade: a coisa deve ser disponível (estar in commercium); as

coisas insuscetíveis de apropriação (indisponibilidade natural), legalmente inalienáveis (indisponibilidade legal) e gravadas com cláusula de inalienabilidade (indisponibilidade voluntária) não podem ser objeto de contrato. A coisas litigiosas podem ser objeto , desde que o adquirente assuma o risco da evicção (art. 457, CC).

• Existência potencial: segundo o art. 483, CC, o contrato pode se referir a coisas atuais (já existe) ou futuras (irão existir), como ocorre nos contratos aleatórios (ex.: frutos de uma colheita esperada), embora deva ser individualizada no momento da execução do contrato (coisa determinada ou determinável).

B) PREÇO (pretium) é a quantia que o comprador é obrigado a pagar pela coisa; é o valor da compra e venda. Se não houver preço, estaríamos diante de uma doação. A lei diz que deve ser pago em dinheiro (art. 481, CC). Todavia, nada impede que o valor expresso em dinheiro seja pago por coisas representativas de dinheiro (cheque, nota promissória, etc.). Se constituir numa coisa por outra, não haverá compra e venda, mas sim uma troca ou permuta. O preço deve ser certo e fixado de comum acordo pelas

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partes. É nulo o contrato em que o preço pode ser fixado ao livre arbítrio de uma das partes (art. 489, CC). Todavia, pode ser fixado: • no futuro, ao arbítrio de terceiro (art. 485, CC) que os contratantes

designarem no contrato ou prometerem designar. Neste caso, se o terceiro não aceitar a incumbência, o contrato será considerado sem efeito (nulo), salvo se as partes concordarem, no contrato, em designar outra pessoa;

• à taxa de mercado ou da bolsa, em certo e determinado dia e lugar. Não sendo a venda à crédito (ou seja, a compra e venda foi

instantânea), o vendedor não é obrigado a entregar a coisa antes de receber o preço (art. 491, CC).

C) CONSENTIMENTO (consensus) é o acordo de vontade entre os contratantes sobre a coisa, o preço e as demais condições do negócio.

EFEITOS DO CONTRATO DE COMPRA E VENDA

A) Tradição: obrigação do vendedor de entregar a coisa com todos os seus acessórios, transferindo ao adquirente a propriedade. Geralmente a tradição é efetiva ou real. Mas em certos casos pode ser simbólica, como a entrega de algo que represente a coisa (ex.: as chaves do carro).

B) Garantia: o vendedor deve garantir a qualidade e o bom funcionamento da coisa alienada (garantia quanto aos vícios redibitórios – art. 441 a 446, CC; garantia contra os vícios do produto – art. 18 e 26, do CDC - Lei n° 8.078/90). O vendedor também deve assegurar ao comprador a propriedade da coisa (garantia contra a evicção – arts. 447 a 457, CC). Os vícios aparentes poderão ser reclamados dentro do prazo decadencial de 30 (produtos não duráveis) ou 90 dias (produtos duráveis), contados da entrega do produto. Se o vício for oculto o prazo computa-se no instante em que o defeito se evidenciar.

C) Riscos (perigo que a coisa está sujeita): relacionam-se com a responsabilidade, caso a coisa ou preço não seja pago. Determina o art. 492, CC que até o momento da tradição os riscos da coisa correm por conta do vendedor e os do preço por conta do comprador. Assim, temos como regras:

• risco da coisa: se o bem vier a se perder ou a se deteriorar, por caso fortuito ou força maior, até o momento da entrega (antes da tradição), o vendedor sofrerá as consequências, devendo restituir o preço, se já o havia recebido; se o fato se der após a tradição, sem culpa do vendedor, este terá direito ao preço.

• risco do preço: se o preço se perder ou se degradar antes da tradição, o comprador sofrerá o risco; se isso ocorrer após o pagamento, o vendedor arcará com o prejuízo.

Exceções • Se a coisa, para ser entregue, necessitar de ser contada, pesada,

medida ou assinalada, desde o momento em que tiver sido colocada à disposição do comprador, por sua conta correm os riscos.

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• Correm por conta do comprador os riscos das coisas que já tiverem sido colocadas à sua disposição no tempo, lugar e pelo modo ajustados, se o comprador estiver em mora para recebê-las.

D) Despesas: aquilo que se gasta para a transferência do bem. Segundo o art. 490, CC, temos como regra (admite-se disposição contratual em contrário):

• despesas da tradição: correm por conta do vendedor (ex.: de transporte ou carreto, frete, corretagem, comissão, etc.).

• despesas da escritura: correm por conta do comprador (além dos impostos sobre transmissão da propriedade, registro, etc.).

E) Defeito oculto na venda de coisa conjuntas (art. 503, CC): o Código optou pela redibição parcial, permitindo apenas a devolução da coisa viciada, mantendo ad demais que estejam em ordem, ou seja, o defeito oculta de uma coisa não autoriza a rejeição de todas as demais.

F) Complemento de Área: um contrato de venda de terras pode ser feito de duas maneiras: ad mensuram e ad corpus.

A venda ad mensuram ou por medida (art. 500, CC) é aquela em que no contrato se fixa área determinada e estipula o preço por medida de extensão (a área é requisito essencial do contrato). O comprador adquire uma determinada metragem de terreno e o vendedor tem de entregar a quantidade vendida (há uma tolerância em favor do vendedor de até menos de 1/20 da área total enunciada). Se a medida for menor, o comprador terá o direito de exigir o complemento da área, e, não sendo possível, o de reclamar a rescisão do contrato ou abatimento proporcional do preço. Se a área encontrada for maior do que a declarada no título, o vendedor tem direito, por escolha do comprador, de receber a complementação do preço ou a devolução do excesso, desde que o vendedor possa provar que tinha motivo suficiente para ignorar a medida exata da área vendida. Tanto o vendedor quanto o comprador têm o prazo de um ano (decadencial) para ingressaram com as ações correspondentes (art. 501, CC).

Considera-se ad corpus (art. 500, §3°, CC) a compra e venda de uma gleba determinada de terra, com limites e confrontações conhecidas por ambos os contratantes e colocados na descrição no título. As partes não estão interessadas em medidas, mas no todo que compõe a gleba (compro a Fazenda Cara Feliz). Neste caso não haverá complementação da área e nem devolução do excesso.

G) Certidões Negativas de Impostos: a lei determina que em toda escritura de imóveis devam ser transcritas as certidões de se acharem eles quites com a Fazenda Federal, Estadual e Municipal, de quaisquer impostos a que possam estar sujeitos. Isto é, quando se compra um imóvel deve ser apresentado, no momento do registro, uma certidão de que aquele imóvel está quite de todo e qualquer imposto. Chamamos este documento de Certidão Negativa de Impostos. Por outro lado, existe a regra de que os ônus dos impostos sobre prédios se transmitem aos adquirentes, exceto se constarem da escritura pública as certidões de recebimento, pelo fisco, dos impostos devidos. Desta forma, o adquirente do imóvel pode ser exonerado de exibir

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certidão negativa de débito fiscal a que possa estar sujeito o bem adquirido, de responsabilidade por dívida anterior do imóvel por impostos.

Resumindo. Obrigações do comprador: pagar o preço e receber a coisa. Obrigações do vendedor: transferir a coisa (tradição ou escritura) e responder pela evicção e pelos vícios redibitórios.

PROIBIÇÃO DE VENDA

• A lei proíbe que os ascendentes vendam aos descendentes quaisquer bens, sem que haja o consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante, salvo se casado sob o regime de separação obrigatória de bens (art. 496 e seu parágrafo único, do CC), sob pena de anulação do ato. Isto porque essa venda poderia simular uma doação em prejuízo dos demais herdeiros. Pergunto: Um pai pode vender um imóvel para um de seus filhos? Resposta: pode, mas com o consentimento de todos os outros filhos e também da esposa do pai (que é o alienante), sob pena de anulação posterior da venda.

• Uma pessoa casada (exceto no regime de separação absoluta de bens) não poderá alienar ou gravar de ônus (ex.: hipotecar) os bens imóveis do seu domínio sem a autorização do outro cônjuge (art. 1.647, CC). Trata-se da outorga: a) uxória (a mulher autoriza a venda feita pelo marido); b) marital (o marido autoriza a venda realizada pela esposa).

• Os consortes (marido e mulher) não poderão, em regra, fazer contrato entre si, com relação aos bens incluídos na comunhão (nulidade absoluta). Observem que se isto for realizado no regime da comunhão universal teremos uma venda fictícia, pois os bens do casal já são comuns e ninguém pode comprar o que já lhe pertence. No entanto se a compra e venda tem por objeto bem excluído da comunhão (ex.: regime da separação total de bens), o negócio pode ser realizado.

PROIBIÇÃO DA COMPRA

Não podem ser comprados, ainda que em hasta pública (art. 497, CC): • Pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens

confiados à sua guarda ou administração. A lei receia que estas pessoas se façam prevalecer de sua posição especial para lograrem vantagem em detrimento dos titulares dos bens que guardam ou administram.

• Pelos servidores públicos, os bens da União, dos Estados e dos Municípios, que estiverem sob sua administração direta ou indireta, aplicando-se a mesma disposição aos juízes, arbitradores, ou peritos que, de qualquer modo, possam influir no ato ou no preço da venda.

• Pelos juízes, empregados da Fazenda, secretários de tribunais, escrivães e outros oficiais da Justiça, os bens ou direitos, sobre os quais se litigam em tribunal, juízo, ou conselho, no lugar onde esses funcionários servirem ou a que se estender sua autoridade.

• Pelos leiloeiros e seus prepostos quanto aos bens de cuja venda estejam encarregados e os corretores das Bolsas quanto aos bens a eles confiados.

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• O proprietário de coisa alugada, para vendê-la deverá dar conhecimento do fato ao inquilino, que terá direito de preferência (veremos isso melhor ainda na aula de hoje) para adquiri-la em igualdade de condições com terceiros.

• O condômino, enquanto pender o estado de indivisão, não poderá vender a sua parte a estranho, se o outro condômino a quiser (art. 504, 1a parte, CC). Trata-se do chamado direito de preferência do condômino sobre a venda de bem indivisível. O condômino a quem não se der conhecimento da venda, poderá, depositando o preço, haver para si a parte vendida a estranhos, no prazo de seis meses. Um condomínio pode ser classificado em: a) pro indiviso: quando o bem se encontra indiviso (não foi dividido) entre os vários proprietários, de modo que cada um apenas possui parte ou fração ideal) ou b) pro diviso: quando apesar de possuírem em condomínio, cada condômino já tem a sua parte delimitada e determinada. Nesta última hipótese, cada condômino pode vender sua parte a terceiro sem oferecer aos outros condôminos. No caso do condomínio ser pro indiviso, e o bem for indivisível, cada condômino só pode vender sua parte a estranhos se antes oferecer aos outros condôminos (como dissemos, há o direito de preferência).

CLÁUSULAS ESPECIAIS À COMPRA E VENDA

Um contrato de compra e venda, desde que os contraentes consintam, pode vir acompanhado de cláusulas especiais, que não retiram sua essência, mas alteram um pouco sua “fisionomia”, inserindo uma obrigação acessória. A doutrina costuma chamar estas cláusulas especiais de pactos adjetos à compra e venda. São eles: a retrovenda; a venda a contento; a preempção; a venda com reserva de domínio e a venda sobre documentos. Vejamos.

1) Retrovenda (arts. 505 a 508, CC)

Retrovenda (ou direito de retrato) é o direito que tem o vendedor de readquirir o imóvel que vendeu, dentro de certo prazo, restituindo ao comprador o preço recebido, mais as despesas feitas pelo comprador, inclusive as que, durante o período de resgate, se efetuaram com a autorização escrita, ou para a realização de benfeitorias necessárias (art. 505, CC).

A retrovenda é uma cláusula acessória da compra e venda, caracterizando-se como uma condição resolutiva expressa, tendo como consequência o desfazimento da venda. Ela não é considerada como uma nova venda, mas sim como consequência da venda anterior. Ex.: estou passando por necessidades financeiras e não desejo perder um imóvel. Desta forma eu vendo este imóvel para você. No entanto estabeleço uma cláusula que posteriormente você deverá revender o imóvel para mim pelo mesmo preço que pagou (acrescidos dos dispêndios feitos como escritura, impostos, etc.). Na prática ela não é usada, por trazer certa insegurança nos negócios jurídicos. Esta cláusula tem que ser expressa no contrato. A propriedade resolúvel se extinguirá no instante em que o alienante exercer seu direito de reaver o bem.

As partes podem pactuar o prazo de retrovenda, mas o máximo é de 03 (três) anos. Trata-se de prazo decadencial. Este prazo é improrrogável,

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ininterrupto e insuscetível de suspensão. No caso de não se estipular o prazo, este será considerado como sendo de três anos. Na hipótese de se estipular prazo maior, este será considerado não escrito e ficam valendo os três anos. Vencido o prazo e não exercido o direito, a venda se torna irretratável.

Se o direito de retrato couber a duas ou mais pessoas sobre o mesmo imóvel, e só uma o exercer, poderá o comprador intimar as outras para nele acordarem, prevalecendo o pacto em favor de quem haja efetuado o depósito, contanto que seja integral (art. 508, CC).

2) Venda a contento e Venda sujeita a prova (arts. 509 a 512, CC)

Venda a contento consiste na hipótese de venda feita sob condição suspensiva, em que o negócio não se aperfeiçoa enquanto o comprador não se declarar por satisfeito. Ex.: A vende para B certa quantidade de vinho e a entrega. No entanto a conclusão do negócio fica na dependência de B manifestar sua aceitação, após provar o produto. Enquanto o comprador não manifestar sua vontade, suas obrigações são de mero comodatário. Até esse ato a coisa pertence ao vendedor. Pode haver uma cláusula de manifestação de aceitação tácita. Ex.: se você não se manifestar em 30 dias, estamos entendendo que você está satisfeito e não poderá mais reclamar.

Não havendo prazo estipulado para a manifestação do comprador, o vendedor terá direito de intimá-lo, judicial ou extrajudicialmente, para que o faça em prazo improrrogável.

Ocorre a venda sujeita a prova quando o vendedor apresenta ao comprador amostras que indiquem a qualidade do produto a ser vendido. Neste caso, entende-se que o vendedor assegura ter a coisa vendida as qualidades por ele apresentadas. Ex.: você prova um copo de vinho e o acha excelente. Compra uma caixa deste produto. Mas as demais garrafas não são tão boas quanto àquela que você provou. Na hipótese da coisa não apresentar as qualidades explicitadas pelo vendedor, ela poderá ser enjeitada, aplicando-se as regras do vício redibitório (art. 510, CC).

3) Preempção, preferência ou prelação (arts. 513 a 520, CC)

O contrato de compra e venda pode conter a cláusula segundo a qual o comprador se obriga a oferecer ao vendedor a coisa objeto do contrato (móvel ou imóvel), se caso o comprador for vendê-la a terceiro ou dá-la em pagamento, para que o comprador use de seu direito de prelação (preferência) na compra. O preço será "tanto por tanto", isto é, o valor que seria pago pelo terceiro.

���Cuidado para não confundir o direito de preempção (preferência) com a retrovenda. Nesta última a pessoa é obrigada (num prazo de até três anos) revender a coisa para quem lhe vendeu inicialmente, sendo que o preço é o mesmo que ela pagou (mais despesas de transferência). No direito de preempção, quando eu for revender a coisa (se um dia eu for revendê-la), devo oferecer primeiro ao primeiro vendedor. E o preço será o de mercado, ou seja, o mesmo valor que o terceiro interessado pagaria se ele fosse comprar a coisa. É muito parecido. Mas existem diferenças. E o examinador gosta de confundir tais institutos.

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O direito de preferência é intransmissível, isto é, não se pode ceder a terceiros e nem passar aos seus herdeiros, sendo personalíssimo (art. 520, CC). Prazo máximo para o exercício da preempção: a) se a coisa for móvel, não poderá exceder 180 dias; b) se for imóvel, não poderá exceder 02 anos.

Observação: não sendo fixado um prazo determinado, o direito de preempção caducará em 03 dias se for móvel, ou 60 dias se for imóvel.

Se o comprador alienar a coisa sem ter dado ciência ao vendedor do preço e das vantagens que por ela lhe ofereceram, responderá por perdas e danos. Se o adquirente também estiver de má-fé, responde solidariamente (art. 518, CC).

Como regra o direito de preferência decorre do contrato. Mas em algumas situações é a lei que o prevê. Assim, têm direito de prelação (ou preferência) legal:

• o dono de bem desapropriado (trata-se do direito de retrocessão, previsto no art. 519, CC); ou seja, se a coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade pública, ou interesse social, não tiver o destino para que se desapropriou, ou não for utilizada em obras ou serviços públicos, caberá ao expropriando o direito de preferência, pelo preço atual da coisa.

• o condômino de bem indivisível – um condômino só pode vender sua parte a estranhos, se oferecer primeiro a outro condômino, nas mesmas condições. O condômino preterido poderá, depositando o preço, requerer para si a coisa vendida a estranhos, se o fizer no prazo (decadencial) de 180 dias.

• o locatário em relação ao bem locado – o art. 27, da Lei n° 8.245/91 prevê que o locatário tem preferência para adquirir o imóvel locado, em igualdade de condições com terceiros, nos casos de venda ou promessa de venda. O locatário deverá exercer este direito no prazo (decadencial) de 30 dias. Se o locador não respeitar o direito de preferência, há duas opções para o locatário preterido: reclamar perdas e danos ou depositar o preço (e demais despesas do ato de transferência) e haver para si o imóvel locado. Nesta última hipótese deve requerer no prazo de 06 (seis) meses, a contar do registro do ato no cartório de imóveis, desde que o contrato de locação esteja averbado pelo menos 30 dias antes da alienação, junto à matrícula do imóvel.

4) Reserva de domínio (arts. 521 a 528, CC)

Ocorre quando se estipula em contrato de compra e venda de coisa móvel infungível (regra), que o vendedor reserve para si a propriedade do bem, até o momento em que se realize o pagamento integral do preço, quando então o negócio terá eficácia plena. O vendedor transfere ao comprador a posse da coisa, mas conserva a propriedade até o pagamento (art. 521, CC). Ex.: eu vendo um carro para você em dez prestações; transfiro a posse para você. Mas a propriedade continua sendo minha. Quando você me pagar o preço integralmente, somente aí eu irei transferir a propriedade para você em definitivo.

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Trata-se de um contrato formal, que deve ser feito sempre por escrito. Para valer contra terceiros (erga omnes) deve ser registrado no Cartório de Títulos e Documentos. A doutrina predominante o considera como sendo uma venda sob condição suspensiva, em que o evento futuro e incerto é o pagamento integral do preço; suspende-se a transmissão da propriedade até que se tenha o implemento da condição, isto é, o pagamento integral do preço ajustado. Efetuado o pagamento, a transferência do domínio opera-se automaticamente. Se o comprador não pagar as prestações no vencimento, poderá o vendedor:

• Pleitear a rescisão do contrato, reintegração de posse da coisa, devolvendo as prestações pagas (deduzidas as despesas);

• Mover ação pleiteando a cobrança das prestações vencidas e vincendas, pois o atraso de uma prestação acarreta no vencimento antecipado das demais. Observem os arts. 1.070 e 1.071 (especialmente o seu §3o), do Código de Processo Civil.

Observação: o comprador somente poderá dispor ou alienar esse bem se houver a expressa autorização do vendedor.

5) Venda sobre documentos (arts. 529 a 532, CC) Esta prática vem sendo usada em negócios de importação e exportação, ligando-se à técnica de pagamento denominada crédito documentado (trust receipt). Isso porque os encontram-se em lugares diversos de onde está a mercadoria no ato da conclusão do contrato. Substitui-se a tradição da coisa, pela entrega de seu título representativo ou outros documentos exigidos no contrato. O vendedor, entregando os documentos, se libera da obrigação e tem direito ao preço; o comprador, na posse justificada de tais documentos, pode exigir do transportador a entrega da mercadoria.

6) Pacto Comissório É a cláusula por força da qual se opera a extinção (resolução) dos

direitos contratuais da parte contratante que não cumpre a sua prestação. Era um dispositivo expresso no Código Civil anterior. O atual não cuida mais de tal cláusula nos contratos em geral. Tal cláusula não é contrária à lei, nem à ordem pública e nem aos bons costumes, como também não está proibida a sua utilização em nenhum dispositivo da lei. Portanto, entendo que o simples fato de o novo Código não mais se referir, de modo expresso, à cláusula “pacto comissório” não excluiu a possibilidade dela vir a ser adotada, principalmente nos negócios jurídicos bilaterais. Quando expressamente previsto no contrato de compra e venda, pelas partes intervenientes, ele funciona como condição resolutiva expressa.

TROCA OU PERMUTA (art. 533, CC)

O contrato de troca ou permuta é aquele pelo qual as partes se obrigam a dar uma coisa por outra coisa que não seja dinheiro. Operam-se,

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ao mesmo tempo, duas vendas, servindo as coisas trocadas de compensação recíproca. Este contrato também é chamado de escambo.

CARACTERÍSTICAS

• Trata-se de um contrato bilateral, oneroso, comutativo e translativo de propriedade (há duas tradições, duas entregas).

OBJETO O objeto da permuta há de ser dois bens. Se um dos contraentes der

dinheiro ou prestar serviços, não haverá a troca ou permuta. Podem ser trocados todos os bens que puderem ser vendidos, mesmo sendo de espécies diversas e valores diferentes. Assim como na compra e venda, gera para cada contratante a obrigação de transferir para o outro o domínio da coisa objeto de sua prestação.

RELAÇÃO COM A COMPRA E VENDA Há uma grande analogia entre os dois institutos. Por isso o legislador

(art. 533, CC) determina que se apliquem à permuta as mesmas disposições relativas à compra e venda (em relação às garantias, vícios redibitórios, evicção, etc.). No entanto, ressaltamos as seguintes diferenças:

na troca, ambas as prestações são em espécie; na venda, a prestação de um dos contratantes é em dinheiro.

o vendedor, uma vez entregue a coisa vendida, não poderá pedir-lhe a devolução no caso de não ter recebido o preço; já o permutante terá o direito de repetir o que deu, se a outra parte não lhe entregar o objeto permutado. (lembrando que repetir é devolver coisa ou dinheiro; ou seja, restituir o que foi entregue).

EFEITOS • a permuta encerra uma dupla venda.

• cada um dos permutantes pagará metade das despesas da troca, além de pagar, cada um, o imposto sobre o valor do bem adquirido.

• é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem o expresso consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante; se os valores forem iguais a troca é válida.

CONTRATO ESTIMATÓRIO (arts. 534 a 537, CC)

Contrato estimatório ou venda em consignação é o negócio jurídico em que alguém (consignatário) recebe de outrem (consignante) bens móveis, ficando autorizado a vendê-los, obrigando-se a pagar um preço estimado previamente, se não restituir as coisas consignadas, dentro do prazo ajustado (art. 534, CC). É considerado com sendo um contrato real, pois há necessidade da entrega do objeto. Exemplo: Digamos que em minha residência eu

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fabrique, manualmente, alguns brinquedos ou enfeites, doces ou salgados, etc. Desejo vender esses bens. Mas não tenho um ponto de venda. Assim, eu deixo esses bens na padaria de um amigo ou no salão de beleza de outra amiga. Esses bens ficam expostos para à venda. Entrego os bens a meus amigos e eles podem vender os bens. Posteriormente eles vendem e devem prestar contas comigo. Também usamos a expressão “venda em consignação”.

CARACTERÍSTICAS • Trata-se de um contrato bilateral ou sinalagmático (obrigações para

ambas as partes), oneroso (envolve sacrifício patrimonial), real (exige a entrega), comutativo (as partes têm conhecimento prévio acerca de suas prestações), informal (não exige forma solene, podendo ser verbal) e temporário.

PARTES • Consignante – é aquele que entrega a coisa; no exemplo fornecido

acima, sou eu.

• Consignatário – é aquele que recebe a coisa para vendê-la; no nosso exemplo, são os meus amigos: o do dono da padaria, a dona do salão de beleza, etc.

EFEITOS • o consignante não perderá o domínio (a propriedade) da coisa

consignada, até que o consignatário a negocie com terceiros.

• o consignante não poderá dispor da coisa antes de lhe ser restituída ou de lhe ser comunicada a restituição.

• a coisa consignada não poderá ser objeto de penhora pelos credores do consignatário, enquanto não for pago integralmente o seu preço.

• o consignatário deverá pagar as despesas de custódia e venda.

• o consignatário não se libertará da obrigação de pagar o preço, se a restituição da coisa consignada, em sua integridade, se tornar impossível, ainda que por fato a ele não imputável.

Venda em Consignação X Pagamento em Consignação É muito comum o aluno confundir o contrato de venda em

consignação (contrato estimatório) com o pagamento em consignação. Já vimos este último instituto na aula sobre Obrigações – Parte Geral. Este é uma forma especial de pagamento e extinção da obrigação. Trata-se do depósito da coisa devida (judicial ou extrajudicialmente) feito pelo devedor, com o objetivo de liberar-se da obrigação líquida e certa. O exemplo clássico é o do credor que, sem justa causa, se recusa a receber a coisa (ou dar a quitação); neste caso o devedor deposita a coisa e se libera da obrigação.

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DOAÇÃO (arts. 538 a 564, CC)

Doação é o contrato pelo qual uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra, que os aceita. Exige-se, para tanto, dois elementos: a) subjetivo: o animus donandi, ou seja, a vontade de se fazer uma liberalidade espontânea; b) objetiva: transferência da propriedade de bens ou direitos do patrimônio de uma pessoa para outra.

Da mesma forma que a compra e venda, a doação apenas gera a obrigação de transferir os bens e direitos e não a propriedade (esta se transmite com a tradição ou o registro).

PARTES

• Doador: é a pessoa que doa. • Donatário: é a pessoa que recebe o bem objeto da doação.

CARACTERÍSTICAS

• Contrato unilateral e gratuito: requer intervenção de duas partes contratantes. No entanto, apenas o doador assume a obrigação de transferir bens ao donatário (apenas uma é devedora), não havendo contraprestação por parte do donatário. A doação é ato de liberalidade. Todavia, pode ser estipulado um encargo, caso o doador vincule o donatário a determinado ônus. Ex.: dou-lhe um terreno, desde que você plante determinada cultura, ou construa uma casa, etc.

• Consensual: aperfeiçoa-se com a manifestação de vontade das partes.

• Supõe a aceitação: o contrato de doação só se aperfeiçoa com a aceitação do bem por parte do donatário. Portanto trata-se de um negócio receptício (quer dizer, exige a manifestação de vontade da outra parte: ou seja, a aceitação). Referida aceitação pode ser expressa ou tácita. Neste último caso o doador marca um prazo para que o donatário recuse a doação. Se ele não se manifestar neste prazo, o silêncio acarreta em aceitação tácita da doação, desde que seja “pura”: presume-se que ele aceitou a doação. Se a doação for com encargos, exige-se a forma expressa.

• Forma: em regra, trata-se de um contrato solene, pois o art. 541, CC impõe uma forma que deverá ser respeitada, sob pena de não valer o contrato. É obrigatória a forma escrita, uma vez que se exige instrumento público ou particular. Admite-se a forma verbal (seguida de tradição) para os bens móveis de pequeno valor (é chamada de “doação manual” – art. 541, parágrafo único, CC). É necessária a forma de escritura pública para imóveis de valor superior a 30 vezes o maior salário mínimo vigente no País (art. 108, CC), sujeita à posterior transcrição no Registro Imobiliário.

• Ato inter vivos: Não existe doação para após a morte (caso contrário estaríamos diante de uma cláusula testamentária e não de uma doação).

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CAPACIDADE ATIVA PARA DOAR

Para que a doação seja válida, além dos elementos genéricos e comuns a todos os negócios jurídicos, ainda é imprescindível observar os seguintes requisitos:

• Os absoluta ou relativamente incapazes em regra não podem doar, nem mesmo por meio de representantes legais, visto que tais liberalidades não são feitas no interesse do representado. O pródigo (pessoa que dissipa seus bens; dilapida seu patrimônio) pode doar, desde que assistido por seu curador, que dará ou não sua anuência para o ato.

• Os cônjuges, sem a devida outorga (exceto no regime da separação absoluta), estão impedidos de fazer doação, não sendo remuneratória, com os bens e rendimentos comuns, ou dos que possam integrar futura meação.

• O cônjuge adúltero não pode fazer doação a seu cúmplice, sob pena de anulabilidade (pleiteada pelo cônjuge inocente ou seus herdeiros necessários, no prazo decadencial de até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal: art. 550, CC).

• Os consortes (marido e mulher) não podem fazer doações entre si se o regime for da comunhão universal; se outro for o regime, não havendo disposição em contrário, nada obsta a doação, importando em adiantamento do que lhes couber por herança (art. 544, CC).

• As pessoas jurídicas de direito privado podem fazer e receber doações.

• O falido não pode fazer doações porque perdeu a administração de seus bens e isso lesaria seus credores.

REQUISITOS OBJETIVOS PARA A DOAÇÃO

Inicialmente é necessário que a coisa esteja in commercium. Esta coisa pode se referir a bem móvel ou imóvel; corpóreo ou incorpóreo; presente ou futuro; etc. Além disso, deve ser observado:

• Uma pessoa não pode doar todos os seus bens (doação universal), sem reserva de parte ou renda suficiente para sua subsistência (art. 548, CC). Nula será tal doação. Mas a proibição será eliminada se o doador se reservar o usufruto dos bens. Ex.: uma pessoa, já com 80 anos, deseja doar todos os seus bens em vida, para evitar “futuras desavenças familiares” após a sua morte. Ele não pode fazer a doação pura e simples. Qual a solução? Ele doa os bens e no mesmo instrumento se reserva no direito de usufruto. Desta forma ele perde a propriedade dos bens, mas continua a usufruir (morar ou alugar) o mesmo.

• Se com a doação o doador ficar insolvente (passivo maior que o ativo – em outras palavras tem mais dívidas do que patrimônio), os credores prejudicados poderão anulá-la, pois neste caso pode ter ocorrido a fraude contra credores (caso tenha ficado com alguma dúvida, releia este ponto na aula referente aos Fatos e Atos Jurídicos).

• Nula também será a doação da parte excedente do que poderia dispor o doador em testamento (doação inoficiosa, que veremos logo adiante).

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DOAÇÃO A INCAPAZES As pessoas que não podem contratar (os incapazes, relativa e

absolutamente) podem aceitar doações puras (isto é, sem encargos art. 543, CC). A doação feita ao nascituro é válida, desde que aceita pelos pais (art. 542, CC). Trata-se de caso de ato jurídico sujeito a condição suspensiva, pois a doação somente se efetivará se houver o nascimento com vida do nascituro. Caso ele nasça morto (natimorto), o contrato será considerado ineficaz. Igualmente válida será a doação feita em contemplação de casamento futuro e referente aos filhos futuros do casal.

ESPÉCIE DE DOAÇÃO

• Pura e simples ou típica: é aquela feita por mera liberalidade; quando não se impõe nenhum ônus, nenhuma restrição ao donatário, que desfrutará amplamente do bem recebido, sem qualquer limitação.

• Condicional: quando surte efeitos somente a partir de determinado momento ou ao findar uma determinada situação (lembrem-se que condição se subordina a ocorrência de um acontecimento futuro e incerto). Exemplo: doação feita subordinando-se a realização de um casamento (chamamos de doação propter nuptias). Neste caso há uma condição suspensiva: a doação só terá efeito se o casamento se realizar. A doação também pode ser condicionada aos futuros filhos do casal (art. 546, CC). Se houver dúvidas sobre o tema, retorne à aula sobre Fatos e Atos Jurídicos.

• A termo: quando contém um termo inicial ou final (lembrem-se que o termo se subordina à ocorrência de um evento futuro e certo). Ex.: doei um sítio a João, que terá o direito de usá-lo durante dez anos; após esta data o direito de usar passará a ser de Antônio.

• Contemplativa: ocorre quando a pessoa doa e declara o motivo da doação. Ex.: doo uma casa a uma fundação séria, em razão dos excelentes trabalhos prestados com crianças carentes e sabendo que a doação será revertida para suas finalidades (art. 540, 1ª parte, CC).

• Subvenção periódica: o doador estipula rendas ao donatário em periodicidade (semanal, quinzenal, mensal, etc.). Ao invés de haver apenas um ato na doação, esta é feita por meio de vários atos, daí ser uma modalidade de contrato de “trato sucessivo”. Obs.: este tipo de doação extingue com a morte do doador, salvo se houver previsão no contrato sobre a transferência da obrigação para os herdeiros (hipótese em que ficará limitada ao valor da herança). No entanto o prazo máximo é a vida do donatário, que não poderá estendê-la a seus herdeiros (art. 545, CC).

• Com encargo ou modal ou onerosa: quando o doador impõe ao donatário alguma incumbência em seu benefício, em proveito de terceiro ou de interesse geral. Ex.: doei um terreno com a obrigação de o donatário ali construir uma escola; doei uma casa com a obrigação de se colocar os impostos em dia, etc. Com esse encargo a doação passa a ser onerosa, aplicando-se as regras referentes aos vícios redibitórios (art. 441, parágrafo único, CC), além de surgir a possibilidade de revogação da

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doação por inexecução do encargo. Têm legitimidade para exigir o cumprimento do encargo o próprio doador, o terceiro por ele beneficiado, ou mesmo o Ministério Público (após a morte do doador), se o encargo for em benefício de interesse geral (art. 533, CC). Caso a doação não estabeleça um prazo para o cumprimento do encargo, pode o beneficiário conceder um “prazo razoável”, devendo constituir o donatário em mora por meio de uma interpelação judicial ou notificação (art. 562, 2ª parte, CC). O não cumprimento do encargo é causa de resolução da doação.

• Remuneratória: é aquela que tem por finalidade recompensar ou agradecer um serviço ou favor prestado pelo donatário ao doador (art. 540, 2ª parte, CC). Esta doação não é tida como gratuita, mas onerosa. Ex.: doação de um leitão ao médico que tratou do doador sem nada cobrar. Na verdade a parte que corresponde à retribuição do serviço prestado é pagamento; só será doação, propriamente dita, quanto à parte que exceder o valor desse serviço.

• Com cláusula de reversão (resolutiva): o doador estipula que se o donatário morrer antes dele, os bens doados retornarão ao patrimônio do doador, gerando, assim, uma sucessão anômala (isto porque não segue o caminho natural de uma sucessão, que seria rumo ao patrimônio dos sucessores do donatário). Não prevalece a cláusula de reversão em favor de terceiro; apenas é permitida em favor do próprio doador (art. 547 e seu parágrafo único, CC), ou seja, o doador não pode, por exemplo, estipular que caso João (donatário) morra este bem vá para o patrimônio de José. Se isso fosse admitido, ainda que de forma indireta, estaríamos diante de um caso de pacto sucessório (pacta corvina), expressamente proibido por nosso Direito (art. 426, CC). Tem efeitos retroativos, anulando eventuais alienações feitas pelo donatário, fazendo os bens reverterem livres de quaisquer ônus ao doador.

• Doação conjuntiva: é aquela feita em comum a mais de uma pessoa, sendo distribuída por igual entre os diversos donatários, exceto se o contrato estipulou o contrário (art. 551, CC). Caso os beneficiários sejam marido e mulher, falecendo um deles, terá o cônjuge sobrevivente o direito de acrescer à sua parte a do falecido.

• Doação inoficiosa: segundo o dicionário jurídico “De Plácido e Silva”, inoficioso é o “ato que se pratica, injustamente, em detrimento de outrem, privando-o do que lhe deveria competir”. Portanto doação inoficiosa é a ocorre quando uma pessoa doa a um filho bens que deveriam pertencer à legítima do outro, ou seja, é a que excede a parte do patrimônio que poderia ser incluída no testamento. Assim, havendo herdeiros necessários (art. 1.845, CC: descendentes, ascendentes ou cônjuge) o doador não pode ultrapassar metade dos bens da herança (art. 1.846, CC); aquilo que ultrapassar deve ser desconsiderado, nulo (art. 549, CC).

• Doação a entidade futura (art. 554, CC): é aquela cujo donatário é uma pessoa jurídica que ainda não foi criada, mas que será constituída. Se isso não ocorrer no prazo de dois anos, haverá a caducidade do ato (trata-se de uma doação sob condição suspensiva: a criação da pessoa jurídica).

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���IMPORTANTE ��� DOAÇÃO A DESCENDENTES

É permitida a doação de bens dos pais aos filhos. E não é imprescindível a autorização dos outros filhos para esta doação. No entanto, "a doação de ascendente a descendente, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamento do que lhes cabe por herança" (art. 544, CC). Exemplo: Um homem viúvo possui três imóveis do mesmo valor e três filhos. Pergunto: ele pode doar em vida um imóvel a um dos filhos? Necessita de autorização dos outros filhos? Resposta: o pai pode fazer a doação do bem sem autorização dos demais filhos. No entanto, quando esse pai falecer, esta situação será levada em consideração no inventário. Aquele filho que recebeu a doação, em tese, não terá mais direito à herança. Houve o que chamamos de adiantamento da parte que lhe era cabível, ou seja, adiantamento da legítima. Ele terá que prestar contas desta doação no inventário, trazendo aquele bem à colação, para um “acerto de contas”. Portanto os dois imóveis restantes serão divididos entre os outros dois filhos. Vamos dar outro exemplo em cifras. Um pai (viúvo) tinha três filhos e um patrimônio de 150. Em vida doou 30 para um dos filhos. Patrimônio restante: 120. Logo depois o pai faleceu. Não basta simplesmente dividir o que restou por três. No inventário a quantia doada deve ser “colada” ao que restou, totalizando os 150. Somente após a colação o patrimônio será dividido. Assim os outros dois filhos receberão 50 cada um e o que recebeu a doação inicial receberá somente 20, pois já havia recebido 30 antes. Outra pergunta: E se o pai, que tinha três imóveis, doar dois deles a um dos filhos? Resposta: neste caso a doação de um dos imóveis será válida, pois está dentro de sua parte disponível. Mas o outro não. Nesse caso, a doação que ultrapassou a parte disponível é considerada nula. Isto porque qualquer cláusula que altere normas de ordem pública de direito sucessório é considerada nula.

Por ocasião da morte do doador, se faz necessário que os bens recebidos pelos filhos sejam arrecadados no inventário, para nova conferência, por meio da colação. Colação consiste na arrecadação dos bens recebidos pelos herdeiros do de cujus, quando este ainda vivia, trazendo-os todos para o processo de inventário, a fim de serem submetidos a uma conferência e divisão no juízo do inventário.

Todavia, pode ocorrer que a doação tenha sido feita saindo os bens da parte disponível de seu patrimônio, dispensando-se expressamente o donatário da colação. Neste caso, a doação não importa em adiantamento da legítima.

REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO

A doação é um contrato e, como tal, uma vez aperfeiçoado (com a aceitação do donatário), só pode ser rescindido pela vontade de ambas as partes ou pela presença de algum vício, gerando nulidade ou anulabilidade (ex.: coação, estado de perigo, não se respeitar a forma adequada, etc.). Todavia, excepcionalmente a doação poderá ser revogada por ingratidão do donatário ou por inexecução do encargo (art. 555, CC). Vejamos.

A) Ingratidão do donatário. Isto ocorrerá se o donatário:

• atentar contra a vida do doador.

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• cometer alguma ofensa física contra o doador.

• injuriar ou caluniar o doador.

• recusar alimentos ao doador, desde que pudesse ministrá-los.

A revogação deve ser pleiteada dentro do prazo decadencial de um ano, a partir do conhecimento do fato que a autorizar pelo doador, mediante ação judicial. Trata-se deu um direito personalíssimo (art. 560, CC), ou seja, somente o próprio doador pode revogar uma doação. No entanto, se a ingratidão consistiu em homicídio doloso contra o doador, a ação caberá aos seus herdeiros (art. 561, CC). Além disso, nas outras hipóteses, se o doador requereu a revogação judicialmente e depois faleceu, seus herdeiros podem continuar com a ação.

Não se pode renunciar antecipadamente o direito de revogar a liberalidade por ingratidão do donatário (art. 556, CC), sendo nula disposição neste sentido.

A revogação não prejudica os direitos adquiridos de terceiros (art. 563, CC). Isto é, revogada a doação, os bens voltam ao patrimônio do doador, respeitados, porém, os direitos dos terceiros. Se o donatário já vendeu um bem, o terceiro não fica prejudicado. Porém o preço recebido pelo donatário na venda deve retornar ao doador.

Não se revogam por ingratidão as doações

• puramente remuneratórias. • oneradas com encargo. • que se fizerem em cumprimento de obrigação natural (dívidas de

jogo ou prescritas). • feitas para determinado casamento.

B) Descumprimento do encargo imposto (se houver): a doação onerosa poderá ser revogada pela inexecução de um encargo, desde que o donatário incorra em mora. Não havendo prazo para o cumprimento, o doador poderá notificar judicialmente o donatário, assinalando-lhe prazo razoável para que cumpra a obrigação assumida (art. 562, CC).

LOCAÇÃO

A locação é o contrato pelo qual uma das partes, mediante remuneração paga pela outra, se compromete a fornecer-lhe, durante certo lapso de tempo, o uso e gozo de uma coisa infungível, a prestação de um serviço apreciável economicamente ou a execução de alguma obra determinada. Levando-se em consideração este conceito, podemos estabelecer três espécies de locação:

a) Locação de Coisas (locatio rei) – uso e gozo de bem infungível. b) Locação de Serviços (locatio operarum) – prestação de serviços

economicamente apreciável. c) Locação de Obras ou empreitada (locatio operis faciendi) –

execução de obra ou trabalho.

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���Observações ���

01) Pela disposição atual no Código Civil, a prestação de serviços e a empreitada não são mais espécies de locação, até porque o legislador as colocou no Código após o contrato de empréstimo, fazendo questão de separar esses contratos (prestação de serviços e empreitada) da locação de coisas.

02) É conveniente também esclarecer que as expressões “locação” e “arrendamento” são usadas como sinônimas. No entanto, na prática, se costuma usar o termo arrendamento para se designar o aluguel de imóveis rústicos (ou rurais) e locação para bens (móveis ou imóveis) urbanos. Trata-se apenas de uma questão de terminologia da doutrina, não estando expressa na lei.

CARACTERÍSTICAS COMUNS

As três modalidades de contrato acima mencionadas apresentam as seguintes características comuns:

• Cessão temporária do uso e gozo da coisa, sem haver a transmissão da propriedade.

• Termos usados para a Remuneração: a) na locação de coisas → aluguel b) na prestação (locação) de serviços → salário c) na empreitada (locação de obras) → preço

• Classificação de uma forma geral, trata-se de contrato: bilateral (obrigações recíprocas), oneroso (visa determinada vantagem), comutativo (mútuas vantagens conhecidas e equivalentes) e consensual (sem forma especial, exceto hipóteses especiais).

LOCAÇÃO DE COISAS (arts. 565 a 578, CC)

É o contrato pelo qual uma das partes (locador, senhorio) se obriga a ceder à outra (locatário, inquilino), por tempo determinado, ou não, o uso e gozo de coisa não-fungível (ou infungível – que não pode ser substituído por outro igual), mediante certa remuneração (art. 565, CC). Portanto é oneroso. Se houver mais de um locador ou locatário, entende-se que são solidários, se o contrato não estipulou o contrário.

Caso se referisse a bem fungível, teríamos o mútuo (que veremos mais adiante) e não a locação. No entanto, em certas hipóteses, os bens fungíveis podem ser alugados. Isto quando o seu uso e gozo for concedido ad pompam vel ostentationem. Ex.: ceder ao locatário garrafas de vinho, ou cestas de frutas, para que sirvam apenas de ornamentação em uma festa, sendo que estes bens serão devolvidos depois da festa. Por outro lado, se a coisa fosse

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infungível, porém gratuita, teríamos não uma locação, mas sim o comodato (que também será analisado mais adiante).

PARTES

• Locador (senhorio ou arrendador): É quem oferece a coisa em locação, transmitindo a posse direta ao locatário, reservando para si a posse indireta. Em regra o locador é o proprietário da coisa. No entanto isso nem sempre ocorre, pois em algumas situações o locador pode não ser o titular do domínio. Ex.: no usufruto o nu proprietário possui o título de propriedade e o usufrutuário tem o direito de usar a coisa alheia (morar) ou retirar os frutos por ela produzidos, sem alterar-lhe a substância (alugar); portanto, o usufrutuário, embora não seja proprietário, pode ser locador. O mesmo ocorre na sublocação, desde que expressamente permitida em contrato, e com o inventariante, que pode alugar os bens do espólio.

• Locatário (inquilino ou arrendatário) é o que recebe a coisa em locação e que por sua vez, deve pagar o aluguel.

ELEMENTOS

Sendo a locação um contrato, e, portanto, um negócio jurídico, será sempre um ato jurídico bilateral. Portanto, seus elementos serão os mesmos previstos para um negócio jurídico em geral, acrescentando-se: a coisa (res), o preço (pretium) e o consenso (consensus):

• Coisa: como vimos, o bem a ser locado pode ser móvel ou imóvel, corpóreo ou incorpóreo, divisível ou indivisível. Por outro lado ele deve ser infungível, inconsumível e suscetível de gozo. Além disso, deve ser sempre lícito e possível. É conveniente ressaltar que mesmo um bem inalienável (ex.: bem gravado com cláusula de inalienabilidade, bem de família) pode ser locado.

• Preço: remuneração, aluguel ou renda é a importância que o locatário paga periodicamente pelo uso da coisa. O valor do aluguel pode ser estipulado livremente pelas partes, sendo proibida a imposição unilateral. Ele deve ser certo, podendo ser em dinheiro ou qualquer outro bem. Deve também ser sério; se for irrisório será um empréstimo da coisa de forma dissimulada. Como vimos na aula sobre Obrigações, é proibida qualquer forma de vinculação ao salário mínimo, moedas estrangeiras e metais preciosos (art. 318, CC). Os reajustes devem seguir o disposto em lei específica. Se o locatário não pagar o preço, sua cobrança poderá ser feita judicialmente, havendo motivo para rescisão contratual.

• Consentimento válido: é o acordo de vontades. Os incapazes só poderão alugar se forem representados (para os absolutamente incapazes) ou assistidos (para os relativamente incapazes) por seus representantes legais (pais, tutores ou curadores).

FORMA E PRAZO

A forma do contrato de locação pode ser qualquer uma, inclusive a verbal, posto que é um contrato consensual.

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O prazo é sempre temporário. Poderá até ser vitalício, mas nunca perpétuo. O prazo pode ser determinado ou indeterminado, dependendo do que se pactuar no contrato. Se não for estipulado um prazo exato, ele será indeterminado. Na locação predial urbana, se for igual ou superior a dez anos, dependerá de autorização conjugal (outorga marital ou uxória), na hipótese de apenas um dos consortes ser o locador.

Se o contrato de locação for pactuado com prazo fixo o locador não poderá reaver a coisa alugada antes do seu vencimento (salvo se rescindir o contrato e indenizar o locatário pelas perdas e danos resultantes desta quebra de contrato; neste caso o locatário terá direito de retenção do bem até o pagamento da indenização). Por outro lado o locatário poderá devolver a coisa pagando a multa prevista no contrato de forma proporcional ao tempo que resta para o fim da locação (art. 571, CC). Se este valor for excessivo, o Juiz pode reduzir este valor para “bases razoáveis” (art. 572, CC). Tal dispositivo está em sintonia com o art. 413, CC que permite ao Juiz “reduzir equitativamente” o valor da cláusula penal, quando a obrigação principal tiver sido cumprida em parte ou se o seu montante for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio. Nota-se, mais uma vez, a presença da “função social do contrato” (art. 421, CC).

ESPÉCIES

De uma forma geral a locação pode ser de:

1) Coisa

a) Móvel: rege-se pelo Código Civil (ex.: locação de um carro).

b) Imóvel: rege-se pelo Código Civil (ex.: locação de um terreno, de uma garagem autônoma, etc.).

2) Prédios Urbanos (neste caso aplica-se a Lei nº 8.245/91)

a) Residenciais urbanos

b) Não residenciais: • comerciais ou industriais urbanos e rústicos (art. 51). • hospitais, unidades sanitárias oficiais, asilos, estabelecimentos de

saúde e de ensino autorizados e fiscalizados pelo Poder Público (art. 53).

• lojistas e empreendedores de shopping center (art. 54). • não comerciais urbanos (ex.: prédio para rede de associação).

3) Prédios Rústicos (destinados à atividade rural) neste caso aplica-se o Dec. 59.566/66 e o Estatuto da Terra.

LOCAÇÃO NO CÓDIGO CIVIL As regras do Código Civil aplicam-se à locação de objetos (móveis e

imóveis), que não se enquadram como prédios urbanos com fins residenciais e comerciais (pois nestes casos aplica-se a Lei 8.245/91). Assim continuam sendo regulados pelo Código Civil:

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1) Locações

• de imóveis de propriedade da União, dos Estados, dos Municípios. • de vagas autônomas de garagem ou de espaços para

estacionamentos de veículos. • de espaços destinados à publicidade. • de apart-hotéis, hotéis-residência ou equiparados

2) Arrendamento Mercantil.

LOCAÇÃO DE COISAS MÓVEIS E IMÓVEIS

a) Pode ela ser por tempo determinado ou indeterminado. Se por prazo determinado, ela cessa de pleno direito, findo o prazo estipulado, independente de notificação ou aviso (art. 573, CC).

b) Findo o prazo da locação, se o locatário continuar na posse da coisa alugada, sem oposição do locador, presumir-se-á prorrogada sem prazo determinado (art. 574, CC).

c) A qualquer tempo, vencido o prazo do contrato, pode o locador notificar o locatário para restituir a coisa.

d) Alienada a coisa, o novo proprietário não é obrigado a respeitar o contrato, a não ser que o contrato esteja na sua vigência, por prazo determinado, e contenha cláusula de sua vigência no caso de alienação, e constar de Registro de Imóveis (art. 576, CC).

e) Morrendo o locador ou locatário transfere-se a locação a seus herdeiros (art. 577, CC), por esse motivo a doutrina afirma que o contrato de locação não é personalíssimo.

f) Na dúvida quanto à interpretação do contrato, deve ser entendida a que mais favorecer o locatário.

Direitos do locador

• Receber pagamento do aluguel. • Exigir algumas garantias do locatário, como a fiança (veremos isso mais

adiante de forma minuciosa). • Mover ação de despejo nos casos em que a lei permitir. • Autorizar (ou não) a sublocação ou a cessão de locação. • Pedir revisão judicial do aluguel.

Obrigações do locador

• Entregar ao locatário a coisa alugada, com seus acessórios, em estado de servir ao uso a que se destina.

• Manter a coisa alugada neste estado pelo tempo do contrato, salvo cláusula expressa.

• Garantir ao locatário o uso pacífico da coisa, durante o prazo do contrato.

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• Resguardar o locatário dos embaraços e turbações de terceiros (tanto o locador como o locatário possuem legitimidade para ingressar com as ações possessórias).

• Indenizar benfeitorias úteis e necessárias feitas pelo locatário de boa-fé.

Direitos do locatário

• Exigir a entrega da coisa e recibo de aluguel. • Reter o bem no caso de benfeitorias necessárias ou úteis feitas com o

consentimento por escrito do locador enquanto não receba indenização relativa a elas.

• Preferência na aquisição no caso de alienação do imóvel locado. • Purgar a mora. Trata-se do ato que repara ou corrige a falta cometida.

No caso é o pagamento da dívida, ou seja, os eventuais aluguéis vencidos, para evitar a rescisão do contrato.

Obrigações do locatário

• Servir-se da coisa alugada apenas para os usos convencionados ou presumidos conforme a natureza dela.

• Tratar a coisa alugada como se fosse sua. • Pagar pontualmente o aluguel nos prazos ajustados e na falta de ajuste,

segundo os costumes do lugar. • Restituir a coisa, finda a locação, no estado em que a recebeu, salvo as

deteriorações naturais do uso.

LOCAÇÃO DE IMÓVEL URBANO

Lei n° 8.245/91 com as alterações da Lei n° 12.112/09

Estas leis regulam a locação de imóveis urbanos residenciais e não residenciais. O Código Civil, apesar de ser uma lei posterior, não afastou a aplicação da Lei 8.245/91 para as locações de imóveis urbanos. É o que dispõe o art. 2.036, CC, que dispõe: “a locação de prédio urbano, que esteja sujeita à lei especial, por esta continua a ser regida”. O art. 1o da Lei de Locações afirma que ela não terá incidência:

a) na locação de:

• imóveis de propriedade da União, dos Estados e dos Municípios, de suas autarquias e fundações públicas; o fundamento para esta não incidência é o interesse público, que não permite que tais locações se sujeitem ao regime privado;

• vagas autônomas de garagem ou espaços para estacionamentos de veículos, desde que não haja vinculação com o imóvel locado;

• espaços destinados à publicidade (neste caso aplicam-se as regras do poder de polícia concedidas às autoridades municipais, na regulação do interesse local);

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• apart-hotéis, hotéis-residências ou equiparados (flats); entende-se que esta hipótese se refere mais a um contrato de hospedagem do que de locação, pois o pagamento é feito na forma de diárias e não de aluguel e não há ação de despejo.

b) no arrendamento mercantil (leasing); o fundamento de sua exclusão reside no fato de que o pagamento que se faz nestes casos não é de aluguel, pois ele pode servir de pagamento parcial do bem arrendado, sendo regulado por lei própria;

c) em imóveis rurais, entendidos conforme a sua destinação e não de acordo com sua localidade.

CLASSIFICAÇÃO

a) Locação residencial

• prazo certo igual ou superior a 30 meses. • com prazo indeterminado ou inferior a 30 meses.

b) Locação não residencial

• Locação comercial com direito à renovatória. • Outras locações livres.

c) Locação especial ou por temporada

CARACTERÍSTICAS GERAIS

• A locação pode ser fixada por qualquer prazo. Sendo igual ou superior a dez anos, é necessária a outorga (ou vênia) conjugal (art. 3°, LI).

• Havendo prazo determinado, o locador não pode reaver o imóvel. Já o locatário pode devolvê-lo, desde que pague a multa, caso pactuada, proporcional ao período de cumprimento do contrato ou, na sua falta, a que for judicialmente estipulada (art. 4o, 2a parte, LI, com redação dada pela Lei 12.112/09). Entende-se que o caráter da multa é compensatório. Embora a lei use a expressão “multa”, trata-se, na verdade, de uma prefixação de indenização por perdas e danos, estimada de acordo com a natureza e o vulto do contrato. Por tal motivo, não se pode cumular essa multa com eventuais perdas e danos, nos termos do artigo 413 do Código Civil. Eventual indenização suplementar somente será devida se o contrato permitir e houver provas de efetivo prejuízo. Não havendo prazo determinado o locatário poderá rescindir a locação, mediante aviso por escrito ao locador, com antecedência mínima de 30 dias.

• O locatário pode ser exonerado da multa pela resilição antecipada da locação no caso de transferência do seu local de trabalho, determinada pelo empregador (art. 4o, parágrafo único, LI). Para ter este direito deve notificar o locador por escrito, com antecedência mínima de 30 dias, sob pena de incorrer na multa. Este benefício não se aplica quando o pedido de transferência é de iniciativa do próprio locatário. É admissível quando a mudança do local de trabalho se dá de um bairro para outro nos

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grandes centros urbanos, dada a dificuldade de locomoção do empregado.

• É livre a convenção do preço do aluguel, podendo as partes fixar novo valor para o aluguel, bem como inserir ou modificar cláusula de reajuste (art. 18, LI). No entanto é vedada a sua estipulação em moeda estrangeira e a sua vinculação à variação cambial ou ao salário-mínimo (art. 17 e 85, LI).

• O aluguel não pode ser cobrado adiantado, salvo se a locação for por temporada (art. 49, LI) e nos casos em que o contrato foi celebrado sem garantia alguma.

• Após três anos de vigência do contrato ou do último acordo, não havendo composição, caberá o ajuizamento de ação revisional de aluguel (arts. 19 e 68 a 70, LI), a fim de adequá-lo ao preço de mercado.

• A alienação do imóvel durante a locação rompe o contrato (denúncia vazia ou imotivada), devendo ser exercida no prazo de 90 dias. O adquirente do bem, por ser estranho ao pacto locatício, ingressa na posição de locador somente se o desejar. Ocorre exceção a esta regra se a locação for por tempo determinado e o respectivo contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e constar do Registro de Imóveis (art. 8o, LI).

• A ação do locador para reaver o imóvel é sempre o despejo, que pode ser cumulada com a cobrança dos alugueis vencidos e acessórios. A petição inicial deve ser instruída com o cálculo, discriminando, pormenorizadamente o valor do débito e todos os acréscimos, permitindo ao devedor impugnar algum que repute indevido. O locatário deve ser citado para responder ao pedido de rescisão contratual. Se houver pedido de cobrança cita-se o locatário e o eventual fiador. Nesta hipótese, com a petição inicial deve ser apresentado cálculo discriminado do valor do débito (arts. 62, I, LI).

• O locatário e o fiador poderão evitar a rescisão da locação efetuando, no prazo de 15 dias, contado da citação da ação de despejo e independentemente de cálculo, depósito judicial que contemple a totalidade dos valores devidos atualizados (art. 62, II, LI, com a redação dada pela Lei 12.112/09), abrangendo: aluguéis e acessórios da locação que vencerem até a sua efetivação, multas ou penalidades contratuais (quando exigíveis), juros de mora, custas e honorários do advogado do locador. Trata-se da purgação (ou emenda) da mora. Esta não será admitida se o locatário já utilizou tal faculdade nos 24 meses imediatamente anteriores à propositura da ação (art. 62, parágrafo único, LI, com redação dada pela Lei 12.112/09). Efetuada a purga da mora, se o locador alegar que a oferta não é integral, justificando a diferença, o locatário poderá complementar o depósito no prazo de 10 dias, contado da intimação, que poderá ser dirigida ao locatário ou diretamente ao patrono deste, por carta ou publicação no órgão oficial, a requerimento do locador. Não sendo integralmente complementado o

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depósito, o pedido de rescisão prosseguirá pela diferença, podendo o locador levantar a quantia depositada.

• Se a ação de despejo for julgada procedente, o juiz determinará a expedição de mandado de despejo, com prazo de 30 dias para a desocupação voluntária (art. 63, LI, com redação dada pela Lei 12.112/09).

• Se o bem locado for apartamento, o locatário poderá votar nas assembleias que não envolvam despesas extraordinárias de condomínio, caso o locador a ela não compareça (art. 24, §4o, Lei 4.591/64).

GARANTIAS

O locador pode exigir uma das seguintes modalidades de garantia (art. 37, LI):

a) Caução: O termo vem do latim cautio, que, de modo geral, significa a cautela que se tem ou que se toma como garantia ou segurança do cumprimento da obrigação. Pode se referir a bens (caução real) móveis ou imóveis. Ex.: se o locatário for proprietário de um imóvel em outro Estado, pode caucioná-lo por meio de uma averbação no Registro de Imóveis, deixando-o como garantia da locação. No entanto, na prática esta garantia é em dinheiro, não podendo exceder a três meses de aluguel, efetuada mediante depósito em caderneta de poupança (art. 38, LI), em nome do locador e do locatário (conta conjunta), pelo prazo de duração da locação. As correções monetárias e os juros revertem em favor do inquilino quando levantados no término da locação.

b) Garantia fidejussória: trata-se da fiança, que poderá ser pessoal ou bancária. É a preferida pelo locador, pois possibilita avaliar a capacidade econômica do fiador para garantir eventual inadimplemento do locatário. (Vejam o tópico “Fiança” mais adiante)

c) Seguro de fiança locatícia: é o pagamento de uma taxa correspondente a um prêmio anual ou mensal ao locador. Garante-se, mediante prêmio, o pagamento de indenização dos prejuízos sofridos como o inadimplemento do locatário. É comum nas locações comerciais.

d) Cessão fiduciária de quotas de fundo de investimento (art. 37, IV, LI, acrescido pela Lei 11.196/05): o locatário (devedor) cede, até que se dê a liquidação total da dívida ao locador (credor), os seus direitos creditórios, representados em quotas emitidas por entidade financeira, originárias de operações nos segmentos financeiro, comercial, industrial, arrendamento mercantil, prestação de serviços, sistema de distribuição de valores mobiliários destinados à aplicação em empreendimentos imobiliários (construção de imóveis, aquisição de imóveis prontos ou investimentos em projetos, visando viabilizar o acesso à habitação e serviços, inclusive em áreas rurais para posterior alienação, locação ou arrendamento).

OBSERVAÇÕES

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O locador não pode exigir, sob pena de nulidade da cláusula contratual, mais de uma das modalidades de garantia no mesmo contrato de locação (art. 37, parágrafo único, LI).

O aluguel somente pode ser cobrado adiantado (até o sexto dia útil do mês vincendo) se o contrato não estiver garantido por nenhuma das modalidades citadas (art. 42, LI). Se o locador impôs que o locatário apresentasse um fiador, não pode exigir que o aluguel seja pago de forma adiantada.

��� FIANÇA ���

Prevista nos artigos 818 e seguintes do Código Civil, fiança (ou caução fidejussória), é a promessa feita por uma ou mais pessoas (fiadores), de garantir ou satisfazer a obrigação de um devedor principal (no caso o locatário), se este não a cumprir, assegurando ao credor (locador) o seu efetivo cumprimento. Pode ser fiador qualquer pessoa maior que esteja na livre administração de seus bens. Na locação exige-se que tenha pelo menos um bem imóvel, devidamente quitado. Como o patrimônio do fiador será exposto à execução do credor caso o locatário não pague os aluguéis, se o fiador for casado é necessária a outorga conjugal. Assim, salvo no regime de separação absoluta de bens, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro prestar fiança (art. 1.647, CC). A falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando necessária, tornará anulável o ato praticado, podendo o outro cônjuge pleitear-lhe a anulação, até dois anos depois de terminada a sociedade conjugal (art. 1.649, CC). Assim, havendo a arguição da anulabilidade da fiança dada sem o devido consentimento do outro cônjuge, essa garantia fidejussória será anulada não apenas quanto à metade do cônjuge que não deu o seu consentimento, e sim por inteiro. É neste sentido o teor da Súmula 332 do STJ: "A fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges implica a ineficácia total da garantia".

A fiança (assim como as demais garantias da locação) se estende até a efetiva devolução do imóvel, ainda que prorrogada a locação por prazo indeterminado, salvo disposição contratual em contrário (art. 39, LI, com redação dada pela Lei 12.112/09). No entanto, o fiador pode se eximir da obrigação, notificando o locador da sua intenção de desoneração. Mesmo assim, ainda ficará obrigado por todos os efeitos da fiança durante 120 dias após a notificação. Neste caso o locador pode notificar o locatário para apresentar nova garantia locatícia no prazo de 30 dias, sob pena de desfazimento da locação (art. 40, inciso X e parágrafo único, LI, com a redação dada pela Lei 12.112/09).

LOCAÇÃO RESIDENCIAL – Hipóteses:

• Contratos fixados por 30 meses ou mais (art. 46, LI) Nas locações ajustadas por escrito e por prazo igual ou superior a 30 meses, a resolução (extinção) do contrato ocorrerá quando terminar o prazo estipulado, independentemente de notificação ou aviso. Findo o prazo ajustado, se o locatário não desocupar o imóvel, o locador tem 30 dias para notificar o locatário e a partir do prazo concedido na notificação deve

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ingressar com ação de despejo, sob pena de perder a eficácia. Decorrido o prazo, se o locatário continuar na posse do imóvel alugado sem oposição do locador, presumir-se-á prorrogada a locação por prazo indeterminado, mantidas as demais cláusulas e condições do contrato. Ocorrendo a prorrogação, o locador poderá pedir o imóvel para si (o que é chamado de “denunciar o contrato”) a qualquer tempo (denúncia vazia), apenas concedendo o prazo de 30 dias para desocupação. Se houver ação de despejo e o locatário concordar em sair do imóvel, terá seis meses para a desocupação.

• Contratos fixados até 30 meses (art. 47, LI) Quando ajustado verbalmente ou por escrito e com prazo inferior a 30 meses, findo o prazo, a locação prorroga-se automaticamente, por tempo indeterminado. Neste caso o imóvel somente pode ser retomado (denúncia cheia ou motivada) nas seguintes hipóteses: a) por mútuo acordo; b) em decorrência da prática de infração legal ou contratual (arts. 22 e 23, LI); c) por falta de pagamento do aluguel e demais encargos; d) para a realização de obras urgentes determinadas pelo poder público, que não possam ser normalmente executadas com a permanência do locatário no imóvel ou, podendo, ele se recuse a consenti-las; e) em decorrência de extinção do contrato de trabalho, se a ocupação do imóvel pelo locatário for relacionada com o seu emprego (ex.: zelador do prédio); f) se for pedido para uso próprio, de seu cônjuge ou companheiro (neste caso a retomada pode ser para fim residencial ou não), ou para uso residencial de ascendente ou descendente que não disponha, assim como seu cônjuge ou companheiro, de imóvel residencial próprio (neste caso a retomada somente pode ser feita para uso residencial destas pessoas); g) se for pedido para demolição e edificação licenciada ou para a realização de obras aprovadas pelo Poder Público, que aumentem a área construída, em, no mínimo, 20%, se o imóvel for destinado a exploração de hotel ou pensão, em 50%; h) se a vigência ininterrupta da locação ultrapassar cinco anos, ou seja, se for pactuada locação verbal ou se por escrito seu período for inferior a 30 meses, somente após cinco anos de vigência do contrato o locador pode despejar o inquilino de forma imotivada.

• Locação por temporada (arts. 48 a 50, LI) É a locação ajustada por até 90 dias para certos fins, como lazer, tratamento de saúde ou realização de obras. O aluguel e os encargos podem ser cobrados antecipadamente e de uma só vez.

��� Observação

O contrato de locação somente é rescindido com a efetiva entrega das chaves do imóvel ao locador, ou sua imissão na posse por ato judicial, sendo irrelevante a simples desocupação do imóvel. Este ato, por si só, não exonera o locatário da responsabilidade pelo pagamento dos aluguéis e demais encargos contratuais.

DIREITO DE PREFERÊNCIA (arts. 27 a 34, da Lei n° 8.245/91)

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No caso de alienação do imóvel, o locatário tem preferência para adquirir o bem locado, em igualdade de condições com terceiros (e em especial no preço), devendo o locador dar-lhe conhecimento do negócio mediante: notificação judicial, ou notificação extrajudicial, ou qualquer outro meio de ciência inequívoca.

O locatário deve se manifestar no prazo de 30 dias, sob pena de caducar o direito. Ocorrendo a aceitação da proposta e posterior desistência por parte do locador, este deve responder pelos prejuízos causados (danos emergentes e lucros cessantes).

O locatário preterido no seu direito de preferência poderá reclamar do alienante as perdas e danos. Poderá alternativamente, depositar o preço e demais despesas do ato de transferência e haver para si o imóvel locado. Mas isso se o requerer no prazo de seis meses a contar do registro do ato no cartório de imóveis, desde que o contrato de locação esteja averbado pelo menos 30 dias antes da alienação, junto à matrícula do imóvel.

Benfeitorias: arts. 35 e 36

As benfeitorias necessárias (são as têm por finalidade conservar ou evitar que o bem se deteriore) introduzidas pelo locatário, ainda que não autorizadas pelo locador, bem como as úteis (são as que aumentam ou facilitam o uso da coisa), desde que autorizadas, são indenizáveis e ainda permitem o direito de retenção.

Já as benfeitorias voluptuárias (destinadas ao embelezamento ou ao recreio) não são indenizáveis, podendo ser levantadas pelo locatário, finda a locação, desde que a sua retirada não afete a estrutura e a substância do imóvel.

Tais disposições podem ser deliberadas de modo diverso no próprio contrato de locação.

Transferência do contrato de locação

É perfeitamente admissível que um contrato de locação seja transferido para terceiros nas seguintes hipóteses:

• Ato inter vivos: cessão locacional, sublocação ou empréstimo. • Morte de um dos contratantes.

Cessão locacional

A cessão locacional consiste na transferência a outrem, mediante alienação, da posição contratual do locatário. O locatário desliga-se do contrato primitivo, desaparecendo a sua responsabilidade. O cessionário se entenderá com o locador. A cessão, por importar em transferência de direito pessoal, rege-se pelas disposições do Código Civil atinentes à cessão de crédito (arts. 286/298, CC).

Sublocação (arts. 14 a 16)

A Sublocação consiste na concessão do gozo (parcial ou total) da coisa locada, por parte de um locatário e uma terceira pessoa, que se torna locatária

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do locatário, tendo os mesmos direitos e deveres. O locatário primitivo não se exonera da locação original.

Rescindida ou finda a locação resolvem-se (extinguem-se) as sublocações, salvo o direito de indenização que possa competir ao sublocatário contra o sublocador.

Empréstimo

Se o locatário empresta de forma gratuita o imóvel locado a uma terceira pessoa, mesmo que por breve tempo, ele (o locatário) continua responsável perante o locador.

���Observação ��� Na cessão locacional, na sublocação e no empréstimo deve haver consentimento prévio, por escrito, do locador.

Morte (arts. 10 e 11)

Na locação de prédio urbano, falecendo o locador, os herdeiros receberão os direitos inerentes à locação. Em outras palavras, não se extingue a locação, uma vez que seus direitos e obrigações passarão aos sucessores. Em caso de óbito do locatário, têm direito à continuidade da locação (sub-rogação) o:

• Cônjuge sobrevivente e sucessivamente os herdeiros necessários e pessoas que viviam na dependência econômica do locatário, desde que residentes no imóvel para fins residenciais (inclui o/a companheiro/a).

• Espólio do locatário falecido e a seguir o seu sucessor, no caso de locação não residencial.

Locação de imóvel residencial ao empregado e direito de retomada

A locação para locatário empregado é aquela em que a figura do locador se confunde com a figura do patrão e destina-se a uso residencial de empregado e de sua família, em razão do emprego. Esse tipo de locação exige contrato que contenha cláusula registrando que a locação somente vigerá enquanto o locatário trabalhar para o locador. Exige ainda que haja valor efetivamente pago ou descontado, a título de aluguel. O desconto pode ser efetuado na folha de pagamento ou pode ser cobrado normalmente como em qualquer outra situação. O que importa é que a locação tenha relação com o emprego, e as condições da locação sejam formalmente estabelecidas (locação vinculada). Nesta hipótese o art. 47, II permite da denúncia imotivada do contrato de locação. Esta norma procurou envolver zeladores, vigias, porteiros, etc. Assim, desfeito o vínculo trabalhista, abre-se ensejo ao despejo. O art. 59, §1º, II, abre-se a possibilidade de despejo liminar nestes casos, evitando-se que o empregador tenha que tolerar ex-empregado no local até a sentença.

No entanto, se o empregador fornece moradia ao empregado sem cobrar qualquer contraprestação (aluguel), não se cogita do uso da faculdade de retomada prevista na Lei do Inquilinato. Neste caso não está caracterizada a

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locação, mas sim um comodato. Portanto, a retomada não se processará pela via de ação de despejo, mas pela via da ação de reintegração de posse.

EXTINÇÃO DA LOCAÇÃO DAS COISAS

A locação das coisas, de uma forma geral, cessará se houver:

• Distrato ou resilição bilateral (mútuo acordo). • Retomada do bem locado. • Implemento de condição resolutiva. • Perda ou destruição da coisa.

• Vencimento do prazo sem prorrogação ou renovação. • Desapropriação. • Morte do locatário sem sucessores. • Resilição unilateral por inexecução contratual ou infração à lei. A resilição

por parte do locador também é denominada de denúncia, que se consuma com a sentença de despejo.

• Extinção do usufruto, tratando-se de contrato ajustado pelo usufrutuário (salvo se com ele anuiu, por escrito, o nu proprietário).

LOCAÇÃO NÃO RESIDENCIAL Nesta área existem quatro hipóteses:

• Locação comercial ou empresarial: contrato por qualquer prazo, com prorrogação por tempo indeterminado, se no seu término ficarem silentes as partes por mais de 30 dias. Ocorrida a prorrogação, caberá denúncia imotivada (denúncia vazia), a qualquer tempo, com 30 dias para a desocupação. O locatário comerciante ou industrial pode obter judicialmente a renovação do aluguel, e continuar no imóvel desde que haja contrato escrito com prazo determinado, vigente, por mais de 05 (cinco) anos ininterruptos, estando o locatário exercendo o mesmo ramo de atividade há pelo menos 03 (três) anos ininterruptos, sendo proposta a ação renovatória de aluguel de 01 ano até 06 meses antes do fim do prazo contratual. As sociedades civis com fins lucrativos têm também direito à ação renovatória. A atual Lei sobre Locações revogou expressamente a antiga Lei de Luvas (Decreto nº 24.150, de 1934), incorporando no seu texto a matéria revogada.

• Locação não residencial civil: abrange locatários com atividades civis, suas sedes, escritórios, estúdios e consultórios. Rege-se pelos princípios da locação comercial (denúncia vazia). No entanto, nesta hipótese, o locatário não tem direito à ação renovatória.

• Locação não residencial especial: abrange escolas, hospitais e asilos. Rege-se por sistemática própria, que exclui a denúncia vazia e prevê prazo de desocupação de 06 meses até 01 ano.

• Locação de benefício ou vantagem profissional indireta: ocorre quando o locatário é pessoa jurídica e o imóvel é destinado ao uso de seus

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dirigentes ou empregados. Segue, como regra, a locação comercial: denúncia vazia.

EMPRÉSTIMO (arts. 579 a 592, CC)

Empréstimo é o contrato pelo qual alguém entrega uma coisa para outrem, gratuitamente, obrigando-se este a devolver a mesma coisa ou a devolver outra da mesma espécie e quantidade. O contrato de empréstimo poderá se materializar em um comodato ou em um mútuo.

Ambos, em regra, são contratos: benéficos (gratuitos), temporários (com prazo determinado ou determinável), unilaterais (havendo obrigação apenas para uma das partes) e reais (exigem a entregado bem para que se reputem perfeitos). Portanto, são suas espécies:

Comodato: empréstimo de uso em que o bem é emprestado para ser usado e depois deverá ser restituído, não podendo ser fungível ou consumível. Também é chamado de empréstimo civil de uso. Ex.: empresto a você minha casa na praia.

Mútuo: empréstimo de consumo em que o bem usado sendo fungível ou consumível não poderá ser devolvido e a restituição será no seu equivalente, por outra coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade. Também é chamado de empréstimo civil de consumo. Ex.: empréstimo de 1 kg de feijão, carioquinha, tipo 01; empréstimo de dinheiro, etc.

���Observação ��� no mútuo opera-se a transferência do domínio da coisa a quem a emprestou, que poderá até mesmo aliená-la. Já no comodato haverá apenas o direito de usar a coisa, restituindo-a posteriormente. Resumindo: comodato transfere a posse; mútuo transfere a propriedade.

COMODATO (arts. 579 a 585, CC)

Comodato é o contrato unilateral, a título gratuito, pelo qual alguém entrega a outra pessoa coisa infungível, para ser usada temporariamente e depois restituída.

CARACTERÍSTICAS

• Contrato unilateral: é contrato, pois decorre de acordo de vontades; no entanto é unilateral, pois apenas o comodante assume obrigação: a de entregar a coisa para uso do comodatário.

• Gratuito: não exige contraprestação do comodatário (caso contrário seria uma locação). Se o empréstimo for de um apartamento, pode-se convencionar que o comodatário pague o condomínio, sem que isso

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desnature o contrato, pois a onerosidade é inferior à contraprestação (chamamos isso de comodato modal ou de comodato com encargo).

• Real: o contrato se perfaz com a entrega (tradição) da coisa ao comodatário (que passará a ter a posse direta da coisa).

• Não solene: não se exige uma forma especial para a celebração do contrato; pode até ser verbal.

• Temporário: o uso da coisa deverá ser temporário, podendo o prazo ser determinado ou indeterminado. Sendo por prazo indeterminado, a lei prevê que o contrato terá a duração necessária para o uso convencionado, ou para o fim a que se destinou (ex.: comodato de terras para plantio de cultura temporária). Não se admite o comodato perpétuo (pois neste caso poderia estar havendo a simulação de uma doação).

• Intuitu personae (personalíssimo): é pessoal; ou seja, não poderá ser cedido pelo comodatário a terceiros.

PARTES

• Comodante: o que empresta a coisa, gratuitamente.

• Comodatário: o que toma a coisa emprestada e tem o dever de devolvê-la posteriormente, quando do término do contrato.

FORMA

O contrato de comodato pode ser pactuado por qualquer das formas permitidas pelo Direito, inclusive a verbal. Mas, na prática, por cautela, é preferível fazer um contrato escrito, para se evitar problemas posteriores.

OBJETO

O objeto do comodato deve ser coisa infungível e inconsumível, podendo recair sobre bens móveis (ex.: um automóvel) ou imóveis (ex.: uma casa, um terreno), que deverão ser entregues ao comodatário. Ou seja, deve ser devolvido exatamente o mesmo bem que foi emprestado.

RESTITUIÇÃO DA COISA

Terminado o prazo do comodato por tempo determinado ou notificado, para que seja posto fim ao contrato de comodato por tempo indeterminado, o comodatário há de devolver a coisa recebida. Não restituída a coisa no prazo acertado, ocorre o esbulho possessório, ou seja, a “posse” do comodatário passa a ser injusta e de má-fé. Nesse caso, o comodante deverá utilizar a ação de reintegração de posse.

��� Atenção ��� Cuidado! Trata-se da ação de reintegração de posse e não da ação de despejo. Vejam uma decisão de nossos Tribunais a respeito: Comodato – Ação Possessória – Reintegração de Posse – Imóvel objeto de contrato não restituído quando findo o prazo contratual – Esbulho Possessório caracterizado – Justifica-se, inclusive, a concessão de liminar, reintegrando-se o comodante de imediato – in RT 779/264.

Segundo jurisprudência do STJ, a natureza do “aluguel” é de uma autêntica pena privada, e não de indenização pela ocupação indevida do imóvel

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emprestado. O objetivo central dele não é transformar o comodato em contrato de locação (daí porque não ser o caso de despejo), mas sim coagir o comodatário a restituir o mais rapidamente possível a coisa emprestada, que indevidamente não foi devolvida no prazo legal. O arbitramento do aluguel-pena não pode ser feito de forma abusiva, devendo respeito aos princípios da boa-fé objetiva (art. 422, CC), da vedação ao enriquecimento sem causa e do repúdio ao abuso de direito (art. 187, CC). Havendo arbitramento em valor exagerado, poderá ser objeto de controle judicial, com eventual aplicação analógica da regra do parágrafo único do art. 575, CC, que, no aluguel-pena fixado pelo locador, confere ao juiz a faculdade de redução quando o valor arbitrado se mostre manifestamente excessivo ou abusivo. Assim, para não se caracterizar como abusivo, o montante do aluguel-pena não pode ser superior ao dobro da média do mercado, considerando que não deve servir de meio para o enriquecimento injustificado do comodante.

PROIBIÇÃO DE CONTRATO DE COMODATO

São proibidos de dar bens em comodato: os tutores, os curadores e os administradores, relativamente aos bens confiados à sua guarda. Cessa a proibição se houver autorização especial do Juiz.

MORA DO COMODATÁRIO

Não devolvida a coisa ao término do contrato ou após a competente notificação, o comodatário é constituído em mora. Neste caso:

• Deverá pagar o aluguel arbitrado pelo comodante. • Ficará responsável pelos riscos, perda ou deterioração da coisa.

OBRIGAÇÕES DO COMODATÁRIO

• Conservar e guardar a coisa como se fosse sua, pagando as despesas ordinárias feitas com o uso e gozo da coisa (conta de luz, água, gás, condomínio, etc.).

• Usá-la de acordo com o contrato ou sua natureza, ou seja, uma casa residencial deve ser realizada para moradia e não para a realização de eventos (salvo estipulação expressa em contrário), sob pena de responder por perdas e danos.

• Restituir a coisa no final do prazo. • Pagar aluguel, se constituído em mora. • Responder pelos danos causados à coisa. • Não emprestá-la a terceiro, nem alugá-la sem autorização.

���Observação. Se houver mais de um comodatário, todos responderão de forma solidária. Por outro lado o comodante continuará responsável pelas despesas extraordinárias e necessárias, feitas em caso de urgência, para a conservação da coisa.

INDENIZAÇÃO DE BENFEITORIAS

O comodatário é um possuidor de boa-fé (pois há um contrato autorizando a posse). Se ele realizar benfeitorias na coisa recebida em

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comodato, no término do contrato, terá direito à indenização das benfeitorias úteis e necessárias, bem como a levantar (levar embora) as voluptuárias, se a retirada não danificar o bem.

MÚTUO (arts. 586 a 592, CC)

Mútuo é o contrato pelo qual alguém transfere a propriedade de bem fungível a outrem, que se obriga a lhe restituir coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade (art. 586, CC). Ex.: empréstimo de sacas de arroz para consumo, devolvendo-se outras da mesma qualidade e quantidade.

PARTES • Mutuante: é a pessoa que dá por empréstimo. • Mutuário: é a pessoa que toma emprestado.

DESTINO DO BEM E FORMA

A coisa recebida em mútuo passa para a propriedade do mutuário, que lhe dará o destino que quiser, consumindo-a, guardando-a, emprestando-a para terceiro ou mesmo alienando-a por venda ou doação. A lei não exige um modo especial para a sua celebração (possui forma livre), exceto se for o mútuo oneroso, hipótese que deverá ser convencionada expressamente (art. 591, CC).

DEVOLUÇÃO DO BEM A coisa a ser devolvida deve ser da mesma espécie, qualidade e

quantidade da recebida. Não pode ser devolvida coisa diversa ou soma em dinheiro, pois teríamos outro tipo de contrato, como p. ex.: troca ou compra e venda.

CARACTERÍSTICAS

• Contrato unilateral e gratuito (regra): por ser um contrato, requer a manifestação de duas vontades; é unilateral pois somente o mutuário assume obrigações (devolver o empréstimo); é gratuito porque o mutuante nada recebe do mutuário em troca do empréstimo. No entanto o contrato de mútuo pode ser oneroso, se se referir a empréstimo de dinheiro, onde se estipula o pagamento de juros. “Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, CC, permitida a capitalização anual” (art. 591, CC).

• Real: somente se perfaz com a entrega da coisa emprestada. • Não solene: a lei não exige forma especial para a sua celebração,

podendo até ser verbal. • Temporário: por prazo curto e determinado ou determinável. Caso

contrário, seria doação. Se não for estipulado prazo, o mútuo será (art. 592, CC):

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- até a próxima colheita, se o mútuo for de produtos agrícolas (consumo ou semeadura). - de 30 (trinta) dias, pelo menos, se for de dinheiro. - do espaço de tempo que declarar o mutuante, se for qualquer outra coisa fungível.

• Que supõe a transferência do domínio: pois sendo o mútuo referente a coisa fungível e portanto móvel, só se perfaz com a tradição (entrega da coisa) e esta transfere o domínio (a propriedade) ao mutuário.

MÚTUO FENERATÍCIO

Trata-se do mútuo oneroso, permitido por nossa legislação, pois o Código Civil prescreve que se presumem devidos juros, (que não poderão exceder a taxa legal), destinando-se o mútuo a fins econômicos (art. 591, CC). São nulas de pleno direito as estipulações cujos valores forem superiores às legalmente permitidas (isto é chamado de usura). O Juiz deverá ajustá-las à medida legal; mas se já foram pagas deve ordenar a restituição em dobro da quantia paga em excesso.

A capitalização de juros (a doutrina chama isso de anatocismo, ou seja, juros sobre juros) foi proibida pela Lei de Usura (Dec. n° 22.262/33), mas nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, é admissível a capitalização com periodicidade inferior a um ano. No entanto passou-se a utilizar a correção monetária para garantir a integridade do valor emprestado, isto é, do poder aquisitivo da moeda que será restituído no final do contrato. Atualmente a correção monetária passou a ser um ajuste do valor do débito, podendo ser convencionada nos contratos de mútuo, mesmo fora do sistema financeiro.

MÚTUO FEITO A PESSOA MENOR Em regra, se o mútuo for feito à pessoa menor, sem prévia autorização

de seu representante legal, o mutuante não poderá reaver a coisa emprestada uma vez que o contrato é inválido (art. 588, CC). Todavia, cessa essa disposição se (art. 589, CC):

– a primeira pessoa de cuja autorização o menor precisava, ratifica o ato posteriormente.

– estando ausente essa pessoa, o menor se viu obrigado a contrair o empréstimo para seus alimentos habituais (inclui estudos, vestuário, médico, etc.).

– o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho (nessa hipótese a execução do credor não pode ultrapassar as forças dos ganhos).

– o empréstimo reverteu em benefício do menor. – o menor obteve o empréstimo maliciosamente.

Alteração da situação econômica: o mutuante pode exigir garantia da restituição, se antes do vencimento o mutuário sofrer notória mudança em sua situação econômica.

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PRESTAÇÃO DE SERVIÇO (arts. 593 a 609, CC)

Prestação de serviço (ou locação de serviço) é o contrato em que uma das partes (pessoa física ou jurídica: prestador) se compromete com a outra (tomador) a realizar certa atividade, mediante remuneração, mas sem vínculo empregatício.

Excluídos os serviços regulados pela legislação trabalhista (Consolidação das Leis do Trabalho: CLT), Código de Defesa do Consumidor (CDC) ou mesmo outras leis especiais (art. 593), todas as demais prestações de serviço serão reguladas pelo Código Civil. Ou seja, percebemos que o contrato de prestação de serviço do Código Civil tem natureza residual, pois somente será aplicado, quando não houver aplicação das demais leis. Apesar de restrito, ele ainda existe.

O contrato de trabalho cria a chamada relação de emprego (ou vínculo empregatício), de ordem trabalhista, com seus três elementos: habitualidade, subordinação e dependência econômica.

Já a prestação de serviços não gera qualquer vínculo trabalhista. Ficam sob a égide da prestação de serviços os profissionais liberais e representantes comerciais; o trabalhador eventual (ex.: jardineiro). Assim, aplica-se a lei civil para os serviços prestados quando não se estabelecer vínculo empregatício.

OBJETO Toda espécie de serviços ou trabalhos (material ou imaterial), desde que lícitos, isto é, não proibido pela lei e pelos bons costumes. Trata-se de uma obrigação de fazer.

PARTES • Prestador de serviços (prestador de serviços, executor, contratado,

locador): é o que entrega sua força de trabalho; compromete-se a prestar certos serviços.

• Tomador (tomador, solicitante, contratante, locatário): é o que contrata os serviços da outra parte; necessita do serviço e o remunera.

CARACTERÍSTICAS Trata-se de contrato: bilateral (ambos assumem obrigações),

comutativo (prestações conhecidas e equivalentes), oneroso (transferência recíproca de direitos e vantagens) e consensual (o contrato se aperfeiçoa com o simples acordo de vontades, podendo ser provado por testemunhas, seja qual for seu valor), não solene (forma livre)

PAGAMENTO A remuneração é estipulada livremente entre as partes. Se elas não o

fizerem, a remuneração será fixada por arbitramento, segundo o costume do

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lugar, o tempo de serviço e a qualidade. A regra é que seja feita em dinheiro, mas nada impede que seja em alimento, vestuário, moradia, etc.

Em regra, a retribuição será paga depois de prestado o serviço, se, por convenção ou costume do lugar, não houver de ser adiantada ou paga em prestações.

PRAZO A locação de serviço não pode ser convencionada por mais de quatro

anos. Decorrido este prazo, dar-se-á por findo o contrato, ainda que não concluída a obra (caso contrário haveria uma verdadeira escravidão). Terminado o prazo o prestador pode despedir-se ou ser despedido unilateralmente. Nada impede que outro contrato seja celebrado.

Não havendo prazo estipulado, nem se podendo concluir seu prazo pela natureza do contrato ou pelo costume do lugar, qualquer das partes pode rescindir o contrato, a qualquer tempo, bastando simples aviso prévio, com antecedência de:

a) 08 (oito) dias, se o salário for fixado por um mês ou mais.

b) 04 (quatro) dias, se o salário for fixado por uma semana ou quinzena.

c) de véspera, se por menos de 07 (sete) dias.

TIPOS DE SERVIÇOS O contrato deverá determinar o serviço a ser prestado. Caso seja

omisso, entende-se que o locador de serviços se obrigou a todo e qualquer serviço compatível com suas forças e condições.

RESCISÃO DO CONTRATO O locador de serviços, contratado por tempo certo ou por dia

determinado, não pode se ausentar ou rescindir o contrato, sem justa causa, antes de preenchido o tempo ou concluída a obra.

Se rescindir o contrato sem justa causa, terá direito à retribuição vencida, mas responderá por perdas e danos.

O locatário que, sem justa causa, despedir o locador, será obrigado a pagar-lhe por inteiro a retribuição vencida e por metade a que lhe tocaria se concluísse o contrato.

SUBSTITUIÇÃO Caberá ao prestador executar pessoalmente o serviço contratado, não

podendo transferi-lo a outro prestador, em razão da impessoalidade e da confiança que decorrem da prestação. Da mesma forma, não pode o tomador exigir que o prestador preste para um terceiro o serviço contratado.

TÉRMINO DO CONTRATO a) Pelo vencimento do prazo.

b) Pela conclusão da obra a que se referir o serviço contratado.

c) Pela morte de qualquer uma das partes.

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d) Pela rescisão contratual, com ou sem justa causa, com ou sem indenização, respectivamente. • Se o prestador de serviço for despedido sem justa causa, a outra parte

será obrigada a pagar-lhe por inteiro a retribuição vencida, e por metade a que lhe tocaria de então ao termo legal do contrato.

• Findo o contrato, o prestador de serviço tem direito a exigir da outra parte a declaração de que o contrato está findo. Igual direito lhe cabe, se for despedido sem justa causa, ou se tiver havido motivo justo para deixar o serviço.

Aliciamento de executores (art. 608. CC): “A” contratou “B” para prestar-lhe um determinado serviço durante o prazo de um ano, pela remuneração de 20 mil. Durante o contrato “C” aliciou “B” para desfazer o contrato com “A” e celebrar outro consigo mediante o valor de 30 mil. Neste caso, como “A” foi prejudicado, poderá exigir de “C” (aliciador) indenização referente ao valor de dois anos de prestação de serviço (40 mil), independentemente da quantidade de serviço que já foi prestada.

EMPREITADA (arts. 610 a 626, CC)

Empreitada ou locação de obras é o contrato pelo qual uma das partes (empreiteiro) se obriga, sem subordinação ou dependência, a realizar, pessoalmente ou por meio de terceiros, certa obra para a outra parte (dono da obra ou comitente), com material próprio ou por este fornecido, mediante remuneração determinada ou proporcional ao trabalho executado. Assim, o empreiteiro pode contribuir somente com o seu trabalho. Ou pode contribuir com seu trabalho e os materiais. No entanto a obrigação de fornecer os materiais não se presume: resulta da lei ou da vontade das partes.

O empreiteiro se obriga a entregar uma obra pronta por um preço determinado ou proporcional ao serviço, sem se prender ao tempo nela empregado. Mesmo que demore mais que o esperado, não terá direito a qualquer majoração. A direção e fiscalização competem ao próprio empreiteiro, que contratará ou despedirá os operários. Pode ter por finalidade uma obra material (ex.: ponte, conserto de veículo, plantações, etc.) ou intelectual (ex.: elaboração de um projeto, de uma obra literária, etc.).

PARTES • Comitente (proprietário da obra, dono da obra, empreitante,

empreitador ou contratante): é o que contrata a obra.

• Empreiteiro (contratado): é o que põe à disposição sua atividade.

CARACTERÍSTICAS • Trata-se de contrato: bilateral (ambos assumem obrigações),

comutativo (prestações equivalentes), oneroso (transferência recíproca de direitos e vantagens), consensual (o contrato de

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aperfeiçoa com o simples acordo de vontade das partes, independentemente de tradição) e não solene (não se exige forma especial; pode até mesmo ser verbal).

EMPREITADA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

O objeto do contrato é a obra contratada, permanecendo inalterada a remuneração, qualquer que seja o tempo de trabalho consumido na execução.

O objeto do contrato é a atividade do prestador, sendo a remuneração proporcional ao tempo dedicado ao trabalho.

A direção do serviço compete ao próprio empreiteiro. Ele é o responsável pela entrega de uma obra terminada (o resultado), não apenas pela execução de serviços.

A execução do serviço é dirigida e fiscalizada por quem contratou o prestador, a quem este fica diretamente subordinado.

O empreiteiro assume os riscos do empreendimento, sem estar subordinado ao dono da obra.

O patrão (locatário) assume os riscos do negócio.

CLASSIFICAÇÃO DA EMPREITADA

A) QUANTO AO MODO DE FIXAÇÃO DO PREÇO OU REMUNERAÇÃO:

1. Empreitada a preço fixo (ou marché à forfait): a retribuição é estipulada para a obra inteira, de antemão, em quantia certa e invariável, sem considerar o fracionamento da atividade. Esta espécie possui uma subdivisão:

a) empreitada a preço fixo absoluto: não admite qualquer alteração na remuneração, seja qual for o custo da mão-de-obra ou dos materiais.

b) empreitada a preço fixo relativo: quando permite variação em decorrência do preço de algum dos componentes da obra, ou de alterações que já estejam programadas por influência de fatos previsíveis, ainda que não constatados.

2. Empreitada por medida (ou ad mensuram, ou marché sur dévis): se na fixação do preço se atender ao fracionamento da obra, considerando-se as partes em que ela se divide ou a medida. Estipula-se o pagamento por parte concluída.

3. Empreitada de valor reajustável: se contiver cláusula permissiva de variação do preço em consequência de aumento ou diminuição valorativa da mão-de-obra e dos materiais; possibilita que o preço varie segundo índices oficiais, procedendo-se à revisão periódica em datas preestabelecidas. Protege-se o empreiteiro de variações de preços repentinas em períodos de grande inflação.

4. Empreitada por preço máximo: se estabelecer um limite de valor que não poderá ser ultrapassado pelo empreiteiro.

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5. Empreitada a preço de custo: se o empreiteiro se obrigar a realizar o trabalho, ficando sob sua responsabilidade o fornecimento dos materiais e o pagamento da mão-de-obra, mediante o reembolso do dependido, acrescido do lucro assegurado.

B) QUANTO À EXECUÇÃO DO TRABALHO PELO EMPREITEIRO:

1. Empreitada de lavor: o empreiteiro assume a obrigação de prestar o trabalho; fornece apenas a mão-de-obra (sem os materiais) para a confecção, produção, construção ou execução da obra.

2. Empreitada de materiais de construção (ou mista): o empreiteiro, além do trabalho, fornece também os materiais; contrai, ao mesmo tempo, uma obrigação de fazer e de dar.

3. Empreitada de projeto: o empreiteiro elabora um projeto que possibilite a realização tangível da obra.

Em caso de dúvida, há presunção juris tantum (relativa, que admite prova em contrário) que a empreitada é de mão-de-obra (lavor).

DIREITOS E DEVERES

A) Direitos do Empreiteiro

• Receber a remuneração pactuada. • Exigir a aceitação da obra concluída. • Reter a obra para assegurar o recebimento do preço, se cumpriu com

seus deveres. • Constituir o comitente em mora, consignando judicialmente a obra. • Ceder o contrato (desde que não seja intuitu personae –

personalíssimo) – trata-se da subempreitada. • Suspender a obra (nos casos de culpa do dono, dificuldades

imprevisíveis, etc.).

B) Deveres do Empreiteiro

• Executar a obra conforme as determinações contratuais, corrigindo os vícios e defeitos que a mesma apresentar e entregando-a concluída ao dono.

• Não fazer acréscimos ou mudanças sem necessidade e sem consentimento do comitente.

• Pagar os materiais que recebeu do comitente, se por negligência ou imperícia os inutilizar e responder por perdas e danos se suspender a empreitada sem justa causa.

• Apontar os defeitos nos materiais entregues pelo comitente, que possam comprometer a execução da obra.

C) Direitos do Comitente (dono da obra)

• Acompanhar a execução da obra e recebê-la concluída, exigindo a observância do contrato.

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• Enjeitar a obra ou pedir o abatimento proporcional do preço. • Pedir o pagamento dos materiais que forneceu e foram inutilizados

por culpa do empreiteiro.

D) Deveres do Comitente • Verificar o que foi feito, pagar a remuneração e receber a obra. • Não alterar o projeto da obra, sem anuência do seu autor. • Indenizar o empreiteiro pelos trabalhos e despesas que houver feito,

se rescindir ou suspender o contrato sem justa causa.

RESPONSABILIDADES • Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras construções

consideráveis, o empreiteiro de materiais e o de lavor responderão durante 05 (cinco) anos pela solidez e segurança do trabalho, tanto em relação aos materiais, como ao solo, exceto quanto a este, se prevenir a tempo o dono da obra.

• Quando o empreiteiro fornece os materiais, correm por sua conta os riscos até o momento da entrega da obra, não estando o comitente em mora. Estando em mora, os riscos correrão, por igual, contra as duas partes.

• Quando o empreiteiro só fornece a mão-de-obra, todos os riscos correrão por conta do dono, exceto se o empreiteiro tiver culpa.

• Sendo a empreitada unicamente de lavor, se a coisa perecer antes de ser entregue, sem mora do dono, nem culpa do empreiteiro, este perderá o salário, a não ser que prove que a perda resultou de defeito dos materiais, sobre cuja qualidade e quantidade reclamou a tempo.

• O arquiteto ou construtor que, por empreitada, se incumbir de executar uma obra segundo aceito por quem a encomendou, não terá direito de exigir acréscimo de preço, ainda que haja aumento de salários ou encarecimento de materiais, nem ainda que se altere ou aumente a obra em relação à planta, exceto se alterou por instruções escritas do contratante.

RECEBIMENTO DA OBRA

Concluída a obra de acordo com o ajuste ou o costume do lugar, o dono é obrigado a recebê-la. No entanto, o dono não é obrigado a receber a obra, se:

• O empreiteiro se afastou das instruções percebidas e dos planos dados.

• O empreiteiro descumpriu regras técnicas previstas para trabalhos da espécie; neste caso, o empreitante pode receber a obra com abatimento do preço.

RESCISÃO DO CONTRATO Pode o dono da obra (empreitante) rescindir o contrato de empreitada,

sem pagamento de indenização nas seguintes hipóteses:

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• Se ocorrer enfermidade do empreiteiro, ou outra causa que o tome, deixando-o incapaz de executar a obra contratada.

• Por vício ou procedimento errôneo do empreiteiro. • Pela não observância do contrato pelo empreiteiro.

Fora desses casos, se o proprietário rescindir o contrato com o empreiteiro, apesar de começada a execução, indenizará o empreiteiro pelas despesas e trabalhos já feitos, bem como pelos lucros que este poderia ter se concluísse o trabalho (lucros cessantes).

EXTINÇÃO • Execução da obra. • Morte do empreiteiro (somente se o ajuste foi celebrado intuitu pesonae:

art. 626, CC). • Resilição unilateral. • Distrato. • Resolução por inexecução contratual.

DEPÓSITO (arts. 627 a 652, CC)

Depósito é o contrato pelo qual uma pessoa (depositária) recebe de outra (depositante) um objeto móvel, para guardá-lo, temporária e gratuitamente, até que o depositante o reclame. Ex.: depósito de sacas de café em um armazém para posterior venda. Difere-se do comodato, pois neste haverá uso da coisa, enquanto no depósito haverá somente a guarda desta coisa.

PARTES • Depositário: a pessoa que recebe a coisa em depósito.

• Depositante: a pessoa que entrega a coisa em depósito.

CARACTERÍSTICAS

• Contrato Unilateral (como regra): é contrato, pois exige mútuo consenso, duas vontades; no entanto é unilateral, pois origina obrigações apenas para o depositário (o depósito, às vezes pode ser bilateral, pois pode ser cobrado).

• Real: para ele se tornar perfeito é necessária a efetiva entrega (tradição) da coisa, exceto se o depositário já se encontrava na sua posse.

• Gratuito: determina o art. 638, CC que: “O contrato de depósito é gratuito, exceto se houver convenção em contrário, se resultante de atividade negocial ou se o depositário o praticar por profissão”. Se o depósito for oneroso e a retribuição do depositário não constar de lei, nem resultar de ajuste, será determinado pelos usos do lugar, e, na falta destes, por arbitramento.

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• Coisa móvel e corpórea: se for imóvel entende-se haver locação de serviços, em que se recebe o bem para guarda e conservação; se for incorpóreo não tem consistência e não poderá ser manipulada para a guarda.

• Contrato temporário: o depositário deverá apenas guardar a coisa que lhe foi confiada, e, ao final do contrato, tem a obrigação de restituir a coisa depositada. Não há depósito perpétuo. Caso o prazo não seja estipulado, a Lei n° 2.313, de 03/09/1954 estabeleceu que ele será de no máximo 25 anos, findo os quais o bem depositado é recolhido ao Tesouro Nacional, onde aguardará seu dono por mais 05 (cinco) anos. Exaurido este prazo, se os bens não forem reclamados, passará ao patrimônio nacional.

DIREITOS E OBRIGAÇÕES NO DEPÓSITO

1) Obrigações do depositário

• Ter na custódia da coisa o cuidado e diligência exigíveis, como se a coisa fosse sua, respondendo pelos prejuízos a que der causa.

• Não usar a coisa depositada sem autorização, nem transferi-la, sob pena de responder por perdas e danos.

• Manter a coisa no estado em que lhe foi entregue. • Restituí-la ao final do contrato ou quando solicitada, no local

convencionado.

2) Direitos do depositário • Receber as despesas feitas com a coisa e a indenização dos prejuízos. • Exigir a remuneração, se esta for pactuada. • Reter a coisa até que se lhe pague a retribuição devida. • Requerer o depósito judicial, nos casos permitidos (arts. 635 e 641,

CC).

3) Obrigações do depositante • Pagar a remuneração, se convencionado e reembolsar as despesas

necessárias. • Responder pelo risco do contrato de depósito.

4) Direitos do depositante • Exigir a conservação da coisa que entregou e a sua restituição, com

todos os seus acessórios, a qualquer tempo (mesmo que haja prazo estipulado), e impedir o uso da coisa, se não o autorizou.

MODALIDADES 1) Voluntário ou Convencional (arts. 627 a 646, CC): resulta de livre

acordo entre as partes. Deve ser feito por escrito, pois a lei só permite sua prova se for escrito.

2) Necessário (arts. 647 a 652, CC): a) por imposição de lei (legal). Ex.: depósito de objeto achado; de

dívida vencida, na pendência da lide, se vários credores disputarem o

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montante; feito pelo administrador dos bens do depositário que tenha se tornado incapaz, etc.

b) por ocasião de calamidade (também chamado de depósito miserável). Ex.: terremoto, incêndio, inundação, naufrágio ou saque, quando o depositante é obrigado a se socorrer de pessoa que aceita depositar os bens que conseguiu salvar, etc. Observação: esta modalidade de depósito admite qualquer meio como prova de sua existência.

c) depósito do hoteleiro ou hospedeiro (art. 649, CC)– vamos analisá-lo adiante de forma mais minuciosa, em item autônomo.

Observação: O depósito necessário não se presume gratuito; a remuneração do depósito do hoteleiro está incluída no preço da hospedagem (art. 651, CC).

3) Judicial (também chamado de sequestro): determinado por ato judicial, que entrega a terceiro, coisa litigiosa (móvel ou imóvel), com o intuito de preservá-la até que se decida a causa principal. Esse depósito é remunerado e confere poderes de administração, necessários à conservação dos bens (art. 635, CC).

BAGAGEM EM HOTEL E SIMILARES

A bagagem deixada em hotel, hospedaria, pensão, etc., é considerada depositada em mãos do dono do hotel, hospedaria, etc., o qual responde como depositário (art. 649, CC). Trata-se de depósito necessário.

Esta responsabilidade se estende mesmo em casos de furtos e roubos perpetrados pelos empregados e pessoas admitidas na hospedaria.

A responsabilidade cessa se: celebrar convenção com o hóspede, o prejuízo não poderia ter sido evitado, o fato se deu por caso fortuito ou força maior (ex.: roubo a mão armada – se for furto há responsabilidade) ou houver culpa do hóspede (ex.: deixou a porta de seu quarto aberta).

A responsabilidade do hospedeiro se caracteriza pela ocorrência do dano, desde que haja contrato de hospedagem. Este depósito não é gratuito, sendo que seu preço se considera incluído no valor da diária.

PRISÃO DO DEPOSITÁRIO

A prisão civil vem regulada na Constituição Federal de 1988, em seu no art. 5°, LXVII, que impede, como regra, a prisão do devedor. Mas existem duas exceções: o inadimplemento inescusável das obrigações alimentares e o depositário infiel. Assim, o depositário que injustificadamente não restituir a coisa depositada, ao final do contrato, ou quando solicitada, e desde que não esteja amparado pelas causas de exclusão da obrigação de restituir (arts. 633 e 634, CC), passa a ser considerado depositário infiel. Estabelece o art. 652, CC que pode ser decretada a prisão, pelo prazo de até um ano, além de ser obrigado a indenizar o depositante pelos prejuízos decorrentes de sua infidelidade. Bem... isso é o que está previsto no Código Civil. Porém... vejamos o item abaixo...

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���ATENÇÃO!!! ���

O Supremo Tribunal Federal, em recentes decisões (Recursos Extraordinários 466.343/SP e 349.703/RS e Habeas Corpus 87.585/TO), estendeu a proibição de prisão civil por dívida (art. 5°, LXVII, CF) à hipótese de infidelidade no depósito de bens e, por analogia, também à alienação fiduciária, revogando a Súmula 619. Explicando melhor o assunto:

A Emenda Constitucional 45/04 tornou os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos equivalentes à norma constitucional, desde que aprovados pelo Congresso Nacional, pela maioria de dois terços, em dois turnos de votação (art. 5°, §3°, CF/88). Como o Pacto de São José da Costa Rica (Convenção Interamericana de Direitos Humanos), que proíbe a prisão civil por dívidas (exceto quanto ao devedor voluntário de pensão alimentícia), do qual o Brasil é signatário (Decreto n° 678/92), não foi submetido a essa votação especial após a edição da emenda, a posição majoritária do STF dá a ele um “status supralegal”. Ou seja, o Pacto de São José estaria acima da legislação ordinária, porém abaixo da Constituição Federal. No entanto, como ele conflita com a nossa Constituição, a solução fornecida pela maioria dos membros do STF é buscada não na hierarquia das leis, mas sim no princípio pro homine. Ou seja, independentemente da hierarquia da norma, prepondera sempre a de conteúdo mais favorável aos direitos humanos.

Já para outros Ministros do STF, o mencionado Pacto possui status constitucional. Consoante esta corrente destacam-se “três distintas situações relativas a esses tratados: 1) os tratados celebrados pelo Brasil (ou aos quais ele aderiu), e regularmente incorporados à ordem interna, em momento anterior ao da promulgação da CF/88, revestir-se-iam de índole constitucional, haja vista que formalmente recebidos nessa condição pelo §2o do art. 5o da CF; 2) os que vierem a ser celebrados por nosso País (ou aos quais ele venha a aderir) em data posterior à da promulgação da EC 45/2004, para terem natureza constitucional, deverão observar o iter procedimental do §3o do art. 5o da CF; 3) aqueles celebrados pelo Brasil (ou aos quais nosso País aderiu) entre a promulgação da CF/88 e a superveniência da EC 45/2004, assumiriam caráter materialmente constitucional, porque essa hierarquia jurídica teria sido transmitida por efeito de sua inclusão no bloco de constitucionalidade”.

Seja como for, independentemente do status que assumem os tratados e convenções internacionais de direitos humanos, no ordenamento jurídico brasileiro, é possível concluir, que o Pacto de São José da Costa Rica, subscrito pelo Brasil, torna inaplicável a legislação com ele conflitante, não havendo mais base legal para a prisão civil do depositário infiel, sendo admitida apenas na hipótese de inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia.

Em decorrência de toda essa discussão, foi editada a Súmula Vinculante no 25 pelo Supremo Tribunal Federal que estabelece: “É ilícita a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito”.

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MANDATO (arts. 653 a 692, CC)

Mandato é um contrato pelo qual alguém (mandatário) recebe de outro (mandante) poderes para, em seu nome (em nome do mandante), praticar atos ou administrar interesses (art. 653, CC). Por este contrato, A, mandante, confere poderes a B, mandatário, e este age em nome de A, como se fosse o próprio A, a praticar os atos jurídicos. O mandatário é um representante do mandante; fala e age em nome e por conta dele. É o mandante quem contrai as obrigações e adquire os direitos como se tivesse tomado parte pessoalmente no negócio jurídico. Os atos jurídicos praticados por B são assumidos por A como se ele próprio os tivesse praticado. Como veremos, pode ser expresso ou tácito, verbal ou escrito.

PARTES • Mandante (outorgante): a pessoa que confere os poderes.

• Mandatário (outorgado, procurador): a pessoa que recebe os poderes outorgados pela outra parte.

CARACTERÍSTICAS • Contrato Bilateral: contrato porque são necessárias duas vontades:

além do mandante, o mandatário deve aceitar o mandato, embora este, como regra, não assine o instrumento. A aceitação pode ser expressa ou tácita (se resultar do começo da execução, ou seja, se o mandatário der início a atos de execução, presume que aceitou o mandato). O simples silêncio não indica aceitação do encargo. É bilateral porque gera efeitos tanto para o mandante quanto para o mandatário.

• Gratuito ou Remunerado (oneroso): o mandato presume-se gratuito quando não houver sido estipulada retribuição, exceto se o seu objeto corresponder ao daqueles que o mandatário trata por ofício ou profissão lucrativa (ex.: o advogado, o despachante, etc.). Se a retribuição não estiver prevista no contrato o quantum será determinado pelos usos e costumes locais ou, na sua ausência, por arbitramento judicial.

• Intuitu personae: é celebrado em consideração à idoneidade técnica e moral do mandatário, predominando a mútua confiança entre os contratantes.

• Representatividade: é imprescindível a ideia de representação, que estabelece um liame obrigacional entre o mandante e a terceira pessoa, por meio do representante (mandatário).

• Revogabilidade: qualquer dos contratantes poderá por fim ao contrato, sem a anuência do outro ou qualquer justificativa: revogação por parte do mandante e renúncia por parte do mandatário. Há casos de irrevogabilidade, que serão analisados adiante.

• Forma Livre: não exige forma especial, podendo ser até verbal. É contrato consensual (depende só da vontade das partes) e não formal (não tem forma prevista em lei). Todavia, para os atos que exigem

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instrumento público ou particular (ex.: compra e venda de bens imóveis por escritura pública, fiança, aceite de cambial, etc.), o mandato não pode ser verbal, necessitando de instrumento.

Observação: é inadmissível mandato verbal para os atos que exigem instrumento público ou particular (art. 657, CC).

INSTRUMENTO DO MANDATO O instrumento do mandato escrito é a procuração, que é uma

autorização representativa. É muito comum o aluno confundir Mandato com Procuração. Na prática, muitas vezes estes termos são usados como sinônimos. Mandato é o nome do contrato. Já a Procuração é o instrumento do Mandato; é a forma pela qual o contrato de mandato se instrumentaliza, se materializa, se torna concreto. A procuração pode ser outorgada por instrumento público ou particular.

A procuração por instrumento público só é exigida em casos especiais (ex.: para os relativamente incapazes, o cego, o analfabeto, etc.). Fora desses casos, é lícito outorgar procuração mediante instrumento particular, somente tendo validade se tiver assinatura do mandante (art. 654, in fine, CC). O reconhecimento da firma do outorgante no instrumento particular será condição essencial à sua validade em relação a terceiros (efeito erga omnes), que poderão exigi-lo. Como a procuração geralmente é destinada para produzir efeitos perante terceiros, recomenda-se sempre o reconhecimento de firma.

A procuração deve ser por instrumento público quando dada por um cônjuge para o outro para: alienar, hipotecar ou gravar de ônus real os bens imóveis do casal; prestar fiança; fazer doação de bens ou rendimentos comuns, etc.

ESPÉCIES O mandato, que é caracterizado pela ideia de representação, podendo

ser classificado em: legal, judicial ou convencional (ad judicia ou ad negotia).

1) Mandato Legal É o que decorre da lei e dispensa qualquer instrumento. São seus

exemplos: o mandato que os pais têm para representar os filhos menores e administrar-lhes seus negócios, bem como o dos tutores e curadores em relação aos tutelados e curatelados. Os sindicatos têm mandado legal para representar seus associados perante autoridades administrativas e judiciais, etc.

2) Mandato Judicial É o conferido em virtude de um processo judicial, sendo o mandatário

nomeado pela autoridade judicial, como o Inventariante (que representa o espólio), o Administrador Judicial (anteriormente falava-se em Síndico da Falência) a representa ativa e passivamente a massa falida, etc.

3) Mandato Convencional

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Decorre de contratos entre as partes, dos quais cuidaremos mais adiante, sendo que o ad judicia é conferido a advogado, e o ad negotia é conferido a qualquer pessoa, com 16 anos ou mais, para administrar interesses.

NÃO SE ADMITE MANDATO

Nada obsta que atos extrapatrimoniais sejam praticados por meio de procuração. Poucas pessoas sabem disso, mas um casamento pode ser realizado por procuração (conforme o art. 1.542, CC, exigindo-se, para tanto poderes especiais e instrumento público). Outro exemplo é o reconhecimento de um filho.

No entanto proíbe-se a realização de certos atos personalíssimos como fazer testamento ou revogá-lo, prestar exames, exercer cargos ou funções, exercício do voto, depoimento pessoal, recebimento de indenização por acidente trabalhista, etc.

CLASSIFICAÇÃO DO MANDATO

O Mandato pode ser classificado de diversas formas. Vejamos:

1) Quanto às relações entre mandante e mandatário • Oneroso: quando a atividade do mandatário é remunerada; ou seja,

se ele recebe algo para exercer o Mandato. • Gratuito: quando o mandatário exerce o Mandato sem remuneração.

2) Quanto à pessoa do procurador • Singular ou simples: quando há apenas um mandatário. • Plural: quando há vários procuradores. Neste caso há uma

subclassificação: a) Conjunto: se os mandatários não puderem agir separadamente. b) Solidário: se os mandatários puderem agir separadamente e independentemente da ordem de nomeação (qualquer um pode fazer qualquer coisa). c) Fracionário: se a ação de cada mandatário estiver delimitada, devendo cada qual agir em seu setor. d) Substitutivo: se um puder agir na falta do outro, mas observando sempre a ordem de nomeação.

3) Quanto ao modo de manifestação de vontade • Expresso: específico daquelas hipóteses onde há uma procuração

contendo poderes específicos. • Tácito: quando a aceitação do encargo se der por atos que se

presumem (ex.: pessoa já começa a praticar atos de execução, como pedido de certidões para venda de um imóvel, etc.).

4) Quanto à forma de celebração • Verbal: quando se efetiva via oral; é permitido em todos os casos onde

não se exige a forma escrita; pode ser provado até mesmo por testemunhas.

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• Escrito: se feito por escrito: por instrumento particular (ou seja, uma procuração simples – lembrando que para valer perante terceiros é necessário reconhecimento de firma) ou por instrumento público (ou seja, a procuração feita em cartório).

5) Quanto ao objeto • Empresarial (comercial ou mercantil): se o mandatário tiver de praticar

atos de comércio (geralmente oneroso). • Civil: as obrigações do procurador não constituem na prática ou

administração de interesses mercantis. 6) Quanto ao fim

• Ad Negotia (ou extrajudicial): se a ação do mandatário se der fora do âmbito judicial.

• Ad Judicia: mandatário (que deve ser sempre um advogado) age em juízo em nome do constituinte, sendo sempre oneroso. Deve ser por escrito e tem por objeto o patrocínio dos interesses de uma pessoa perante Juízos ou Tribunais.

MANDATO AD JUDICIA O mandato ad judicia também é conhecido como mandato judicial. É o

conferido a Advogado. Para ser Advogado, não basta ser formado em Direito. A pessoa, para exercer o mandato judicial, deve ser inscrita na Ordem dos Advogados do Brasil, sob pena de nulidade do ato. Com isso, pode praticar todos os atos do fórum em geral, excetuados os que exigem poderes especiais. É um contrato intuitu personae (pessoal, personalíssimo), lastreado na mútua confiança. É admissível a sua resilição unilateral e será oneroso (há uma presunção de onerosidade), devendo ser feito por escrito.

A procuração ad judicia, que é instrumento do mandato, pode ser outorgada por instrumento público ou particular, dependendo da hipótese. Dispensa-se o instrumento o defensor que foi nomeado pelo Juiz. Ex.: uma pessoa foi presa em flagrante e será processada criminalmente. Comparece em juízo desacompanhada de advogado constituído. Neste caso o Juiz deve nomear um advogado dativo ao réu, sem a necessidade de uma procuração.

Não podem ser procuradores ad judicia: • os menores de 18 anos, a não ser que sejam emancipados. • os funcionários judiciais, escrivães, Juízes e membros do Ministério

Público. • ascendentes, descendentes e irmãos do Juiz da causa. • ascendentes ou descendentes da parte adversa, exceto em causa

própria. • vereadores, deputados e senadores não podem patrocinar causas contra

as pessoas jurídicas de direito público.

QUEM PODE OUTORGAR PROCURAÇÃO Todas as pessoas capazes (maiores ou emancipadas) podem outorgar

(conferir, conceder) procuração mediante instrumento particular, que valerá,

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desde que tenha a assinatura do mandante (art. 654, CC). Os absolutamente incapazes não podem outorgar procuração, pois eles já têm um representante legal. Os relativamente incapazes só poderão outorgar mandato se estiverem assistidos pelo representante legal e mesmo assim deve ser feito por instrumento público. No entanto há hipóteses que o relativamente incapaz pode praticar o ato sem ser assistido. Nestes casos ele pode outorgar a procuração sem problemas; ele não precisa da assistência e nem que a procuração seja por instrumento público. Ex.: o art. 792 da CLT permite que o menor, entre 16 e 18 anos, pleiteie na Justiça do Trabalho sem assistência dos pais ou tutores.

REQUISITOS ESSENCIAIS DA PROCURAÇÃO

• a designação do Estado, Cidade e circunscrição civil onde é passada; • a data em que é outorgada; • o nome do outorgante e a sua qualificação civil; • o nome do outorgado e sua qualificação; • o objetivo da procuração; • a natureza, designação; • e extensão dos poderes conferidos.

SUBSTABELECIMENTO Apesar do mandato ser intuitu personae (pessoal), o mandatário pode

convocar auxiliares para a realização de certos atos. Substabelecer significa transferir ou conferir a outra pessoa os poderes que o mandatário recebeu do mandante. Ex.: “A” (mandante) outorgou poderes para “B” (mandatário) realizar um negócio perante “C”. Como “B” também não poderá realizar este negócio neste dia, transferiu os poderes que recebeu para “D”.

O substabelecimento pode ser feito por instrumento particular, ainda que o mandatário tenha recebido os poderes por procuração pública (art. 655, CC), desde que a lei não exija instrumento público para a realização do ato. Às vezes uma pessoa outorga uma procuração e permite que o mandatário transfira estes poderes a terceiros. Às vezes pode não permitir. E é importante notar as consequências deste fato. Assim, tendo-se em vista a possibilidade do Mandato permitir (ou não) o substabelecimento, podemos estabelecer as seguintes situações:

1) O mandato possibilita o substabelecimento: neste caso, como é evidente, o substabelecimento é válido e o substabelecido (também chamado de submandatário, ou seja, a pessoa que recebeu os poderes do mandatário ou substabelecente) responde pessoalmente perante o mandante, como seu procurador. Neste caso haverá responsabilidade do mandatário que substabelece, só se o substabelecido for notoriamente incapaz ou insolvente.

2) O mandato não confere poderes para substabelecer: o mandato é omisso; neste caso o substabelecimento é válido, mas o mandatário continua responsável por prejuízo causado a título de culpa do substabelecido.

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3) O Mandato proíbe o substabelecimento: neste caso o substabelecimento também é válido, sendo que o mandatário responde perante o mandante por qualquer prejuízo que aquele lhe causar, mesmo que seja por caso fortuito, salvo provando que o fato teria ocorrido ainda que não tivesse havido o substabelecimento.

O substabelecimento também pode ser classificado em:

a) Sem reserva de poderes: o procurador (chamado de substabelecente) transfere os poderes ao substabelecido (neste caso este passa a ser o único procurador), definitivamente, renunciando ao mandato. Nesta hipótese deve haver a notificação do constituinte (mandante), pois se assim não proceder, não ficará isento de responsabilidade pelas obrigações. Ex.: um advogado está representando um cliente; ele não deseja mais representá-lo; entra em um acordo com o cliente lhe dá ciência da renúncia e faz um substabelecimento sem reservas de poderes, em nome de outro advogado, retirando-se, definitivamente da causa. Na prática este substabelecimento contém a expressão: “sem reserva de iguais”.

b) Com reserva de poderes: o procurador (substabelecente) outorga poderes ao substabelecido (novo procurador), sem perdê-los; qualquer um dos dois pode exercer os poderes outorgados. Ex.: um escritório de advocacia está representando um cliente. Este escritório cresceu e necessita de mais um advogado. Contrata outro profissional. Para que este tenha acesso aos processos deve ter procuração nos autos. É feito um substabelecimento. Assim, tanto os antigos advogados, quanto o novo podem continuar trabalhando na causa. Na prática este substabelecimento contém a expressão: “com reserva de iguais”.

PODERES ESPECIAIS O mandato ad negotia confere poderes para os atos de administração em

geral, e o ad judicia confere poderes para advogado praticar todos os atos do processo, com exceção dos que exigem poderes especiais. Em determinadas situações exige-se que a procuração seja minuciosa, dizendo exatamente quais os seus termos, quais os poderes que está outorgando, quais os limites dos poderes conferidos. Assim:

A) Exige poderes especiais, o mandado ad negotia para: alienar, levantar dinheiro, hipotecar, dar fiança, casar (art. 1.542, CC), emitir cheque, transigir (por fim a uma demanda através de um acordo), oferecer queixa-crime, etc.

B) Exige poderes especiais o mandato ad judicia para: receber citação, receber e dar quitação, confessar, representar testamenteiro, transigir, etc.

GESTÃO DE NEGÓCIOS RATIFICAÇÃO O mandatário pode se exceder no cumprimento do mandato e praticar

atos para os quais não tinha procuração. Estes atos podem ser impugnados pelo mandante. Mas em algumas hipóteses os atos podem ser ratificados, ou seja, confirmados. Tudo vai depender do caso concreto. Ex.: o mandatário

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pode praticar atos mesmo após o término do mandato, como, recebendo pagamento de aluguéis, dando quitação, adquirindo ou vendendo bens, etc.

Quando o mandatário extrapola os poderes da procuração dizemos que ele agiu como gestor de negócios, que é a pessoa que, sem autorização, gera negócios alheios segundo a vontade presumível do dono. Ratificados tais atos pelo dono do negócio, tornam-se válidos e perfeitos.

PROCURAÇÃO DADA A MENORES Vimos que os atos praticados por menores entre 16 e 18 anos dependem

de assistência de seus representantes legais. Se não houver a assistência o ato será anulável. No entanto, no tocante ao mandato, os menores, a partir de 16 anos, já podem ser mandatários ad negotia. Mas há um inconveniente: o mandante não tem ação de regresso contra ele, para cobrar-lhe os prejuízos eventualmente causados, exceto:

• Se o menor foi autorizado pelo seu representante. • Se o menor se apresentou como maior ou ocultou a própria idade.

Exemplo: vamos supor que eu outorguei uma procuração para uma pessoa de 17 anos para ela alugar minha casa de praia por R$ 200,00 a diária. O menor aluga minha casa por R$ 100,00, sendo que o locatário não sabia deste ajuste, estando de boa-fé. Neste caso o contrato de mandato, mesmo celebrado por menor de 18 anos (embora maior de 16 anos), é válido, mesmo não emancipado e sem a assistência de seu representante legal. Também não será possível a anulação do contrato de locação. Se a pessoa fosse maior, eu apenas poderia responsabilizá-la civilmente; iria mover uma ação contra o mandatário para que me indenizasse no prejuízo que me causou. No entanto, sendo menor eu não tenho esse direito de regresso. É o que determina o art. 666, CC. Observe-se que terceiros com quem o mandatário menor contratou não podem ser prejudicados (nossa lei protege o terceiro de boa-fé), por isso o mandatário irá arcar com o prejuízo sozinho. Devemos recordar, ainda, que deve ser respeitada a regra geral do art. 180, CC: “O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior”.

OBRIGAÇÕES DO MANDATÁRIO • Cumprir fielmente o mandato, de modo que se não o cumprir responde

por culpa (em sentido amplo). • Não substabelecer sem autorização, sob pena de responder pelos

prejuízos, como já visto anteriormente. • Prestar contas ao mandante, transferindo-lhe as vantagens. • Representar a procuração com quem tratar.

OBRIGAÇÕES DO MANDANTE • Assumir as obrigações contraídas nos limites do mandato. • Reembolsar as despesas decorrentes do mandato (a regra é adiantá-las). • Pagar a remuneração tratada.

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• Cobrir os prejuízos do mandatário.

VÁRIOS MANDATÁRIOS Se houver mais de dois mandatários nomeados no mesmo instrumento,

qualquer deles poderá exercer os poderes outorgados (salvo se não forem expressamente declarados conjuntos, nem especificamente designados para atos diferentes, ou subordinados a atos sucessivos). Se os mandatários forem declarados conjuntos, todos deverão praticar o ato em conjunto, sob pena de não produzir efeitos (ressalvada a ocorrência de ratificação, que retroagirá a data do ato).

EXTINÇÃO DO MANDATO • Por revogação do mandante, que pode ser expressa ou tácita. Ex.: o

mandante assume pessoalmente a realização do negócio.

• Por renúncia do mandatário. No entanto ele deve comunicar a renúncia antecipadamente ao mandante, sob pena de arcar com os prejuízos daí decorrentes.

• Por morte ou interdição de qualquer das partes. • Pela mudança de estado civil que o inabilite para a outorga do mandato.

Ex.: mulher solteira outorgou uma procuração para vender um imóvel de sua propriedade; posteriormente ela se casou pelo regime da comunhão parcial (ou mesmo universal) de bens. Aquela procuração não tem mais valor, pois depois do casamento ela necessita da outorga de seu marido para a venda do imóvel.

• Pelo término do prazo ou conclusão do negócio. • Pela extinção da pessoa jurídica, quando o mandato for daqueles que

decorrer do contrato social.

Observações 1) Revogação tácita Pode ocorrer:

a) quando o mandante constituir novo mandatário. Neste caso, se o mandante não comunicou ao primeiro mandatário, os atos por este praticados não são considerados excessivos e valem.

b) quando o mandante assume pessoalmente o negócio.

2) Na hipótese de morte, há que se observar: a) até se provar que o mandante faleceu, deve o mandatário cumprir o

mandato, sendo os atos válidos. b) a morte do representante do incapaz não extingue o contrato. c) a morte do representante da pessoa jurídica não extingue o mandato

conferido a terceiro. d) ocorrendo a morte do mandatário, seus herdeiros têm obrigação de

prestar contas.

MANDATO IRREVOGÁVEL Como vimos, o mandato pode ser revogado a qualquer tempo. No

entanto é irrevogável o mandato quando:

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• assim se convencionar. • conferido a sócio, pelo estatuto social. • forem condição de um contrato bilateral • em causa própria (vejamos isso melhor abaixo).

MANDATO EM CAUSA PRÓPRIA Trata-se de mandato em que o beneficiário é o próprio mandatário. É o

mandato outorgado no exclusivo interesse do mandatário. Ex.: A confere mandato para B vender um terreno, sendo que B pode vendê-lo a si mesmo ou para terceiro. Este mandato:

• É irrevogável. • Isenta o mandatário de prestação de contas. • Tem seus poderes ilimitados e não se extinguem pela morte do

mandante. • Equivale a uma verdadeira venda ou cessão de direitos, se contiver os

respectivos requisitos (res, pretium et consensus), sendo pago o imposto de transmissão, acaso devido.

• O mandatário pode acioná-lo em seu próprio nome, como se proprietário fosse.

• Não se extingue com a morte do mandante, mas passa aos seus herdeiros.

Observação apesar de irrevogável e se mesmo assim o mandante o revogar, a revogação terá validade. No entanto ele responderá por perdas e danos.

COMISSÃO (arts. 693 a 709, CC)

Comissão é o contrato pelo qual uma pessoa (comissário) adquire ou vende bens, em seu próprio nome e responsabilidade, mas por ordem e por conta de outrem (comitente), em troca de certa remuneração, obrigando-se para com terceiros com quem contrata (art. 693, CC). A expressão vem do latim, committere, que significa incumbência, ou seja, atribuir uma tarefa a outrem. O contrato de comissão não tem um fim em si mesmo; ele é preparatório de outros contratos que o comissário vai celebrar com terceiros.

Trata-se de um contrato parecido com o mandato. O art. 709, CC prevê que são aplicáveis à comissão, no que couber, as regras sobre o mandato. No entanto na comissão não há uma representação direta. Neste caso a representação é indireta. Ou seja, no mandato o representante (mandatário) age em nome do representado (mandante). Já na comissão o representante (comissário) age em nome próprio. O comissário contrata diretamente com terceiros em seu nome, vinculando-se obrigacionalmente. Por isso, as pessoas com as quais contratar não poderão acionar o comitente; e este também não

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poderá acioná-las. O comissário (pessoa física ou jurídica) deverá ser, em regra, empresário (comerciante), ainda que o comitente não o seja.

Características Trata-se de um contrato bilateral, oneroso, consensual e personalíssimo

(intuitu personae: baseado na confiança que se deposita no comissário). Trata-se de uma intermediação aliada à prestação de serviços.

Responsabilidade A responsabilidade do comissário vem estabelecida no art. 696, CC: No

desempenho das suas incumbências o comissário é obrigado a agir com cuidado e diligência, não só para evitar qualquer prejuízo ao comitente, mas ainda para lhe proporcionar o lucro que razoavelmente se podia esperar do negócio. Parágrafo único. Responderá o comissário, salvo motivo de força maior, por qualquer prejuízo que, por ação ou omissão, ocasionar ao comitente.

Comissão del credere A comissão pode ser simples ou del credere (= da confiança). Esta é

uma modalidade em que o comissário assume a responsabilidade de responder pela solvência daquele com que vier a contratar no interesse e por conta do comitente. Assim, nesta hipótese, o comissário responde solidariamente com as pessoas com quem houver tratado em nome do comitente. Ex.: o comissário vende o café do comitente e dá prazo para o terceiro pagar. Ocorre que este terceiro não paga... neste caso o comissário deve pagar ao comitente e depois executa (processualmente falando) o terceiro. Tendo em vista o maior risco assumido, o comissário faz jus a uma remuneração bem mais elevada.

AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO (arts. 710 a 721, CC)

Na realidade, neste tópico o legislador tratou de dois contratos: o de agência e o de distribuição.

AGÊNCIA

É o contrato pelo qual uma pessoa (agente ou representante comercial), sob remuneração, mas sem vínculo trabalhista, se obriga em caráter duradouro a negociar em certo lugar por conta do proponente (art. 710, 1ª parte, CC). O agente cabe fazer propaganda dos produtos do proponente, conhecer o mercado, captar clientela, intermediar os negócios, fiscalizar os concorrentes e encaminhar os pedidos, tudo sob orientação do proponente (art. 712, CC). O agente deve ter cuidado para não vender além da capacidade de produção do proponente. O agente ou representante comercial precisa ser registrado no conselho da categoria, nos mesmos termos da OAB para os advogados, o CREA para os engenheiros e o CRM para os médicos etc. Esse contrato também é conhecido como “representação comercial”, sendo útil ao comerciante que deseja expandir suas vendas para outras praças, como uma

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“longa mão” da empresa. Está previsto no Código Civil e em leis especiais. Aplicam-se supletivamente as regras do mandato e da comissão. O que diferencia a agência da comissão é que na agência a coisa vendida tem marca. Além disso, na agência não se aplica a cláusula “del credere”, que vimos acima e o agente tem sempre que divulgar o nome do proponente, o que pode não ocorrer na comissão.

Características Gerais

Contrato bilateral, oneroso, comutativo, consensual (pode até ser verbal) e personalíssimo (intuitu personae). Contém cláusula de exclusividade de produto e de local de venda (área específica). Há habitualidade e autonomia na prestação do serviço. O chamado “promotor de eventos” que tanto vemos na mídia, dedicado a promover shows, comícios, jogos e feiras, nada mais é do que o agente. Ele é autônomo e tem seus próprios empregados, mas sem vínculo com o proponente.

Ao representado cabe fornecer os produtos vendidos, pagar a comissão do representante e respeitar sua exclusividade na área, não podendo naquela região constituir outro representante.

DISTRIBUIÇÃO Quando o agente tem à sua disposição, a coisa do proponente, o

contrato de agência chama-se de distribuição (art. 710, in fine, CC). O agente (nesse caso chamado de distribuidor) se obriga a comprar a mercadoria do proponente (fornecedor, fabricante) regularmente, para ser revendida em determinada região por ele determinada com exclusividade (ex: as distribuidoras/revendas de veículos); o fabricante fica obrigado a não vender a mercadoria a outro negociante na mesma região.

Diferença básica: o agente promove negócios; o distribuidor realiza vendas.

CORRETAGEM (arts. 722 a 729, CC)

O atual Código Civil trata a corretagem e a mediação como sinônimos, embora a doutrina faça distinções. É interessante deixar claro que o Código procura disciplinar o contrato de corretagem. E não a profissão de corretor.

Corretagem (ou mediação) é o contrato pelo qual uma pessoa, sem relação de dependência, se obriga, mediante remuneração, a obter para outrem um ou mais negócios, conforme as instruções recebidas, ou a fornecer-lhe as informações necessárias para a celebração do contrato. O corretor aproxima pessoas que pretendem contratar, procurando conciliar interesses; ele coloca o seu cliente em contato com pessoas interessadas a celebrar contratos com ele (ex.: corretor de imóveis, automóveis, seguros, obras de arte, etc.). É uma intermediação entre um vendedor e um comprador. No entanto ele não está vinculado àquele que pretendem efetuar entre si o

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contrato futuro. Realizado o negócio fará jus a uma remuneração. E não terá culpa se o acordo visado fracassar.

Características: contrato bilateral, oneroso, aleatório ou comutativo, consensual e acessório. Trata-se de uma obrigação de fazer. E de resultado (e não de meio), pois não depende do serviço prestado propriamente, mas em razão do resultado obtido (a venda).

TRANSPORTE (arts. 730 a 756, CC)

O contrato de transporte é a aquele em que uma pessoa ou empresa se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um local para outro, pessoas ou coisas animadas ou inanimadas.

O contrato de transporte é celebrado entre o transportador e a pessoa que vai ser transportada (viajante ou passageiro – no caso de transporte de pessoas) ou a pessoa que entrega o objeto a ser transportado (remetente ou expedidor – no caso de transporte de coisa). O destinatário, a quem a mercadoria deverá ser expedida, não é contratante, embora tenha alguns direitos e obrigações.

CARACTERÍSTICAS • Bilateral: cria obrigações tanto para o transportador (remover a coisa

ou pessoa de um lugar para o outro), como o passageiro ou expedidor (pagar o preço ajustado – passagem ou frete).

• Oneroso: há interesse e utilidade para ambas as partes.

• Comutativo: as prestações de ambas as partes já estão certas, não ficando na dependência de evento incerto (que seria o contrato aleatório).

• Consensual: aperfeiçoa-se pelo mútuo consentimento dos contraentes.

CLASSIFICAÇÃO

1) Quanto ao objeto conduzido • Transporte de pessoas • Transporte de coisas

2) Quanto ao meio empregado • Rodoviário • Ferroviário • Marítimo ou Fluvial • Aéreo

TRANSPORTE DE COISAS OU MERCADORIAS

O transporte de coisas ou mercadorias é aquele em que o expedidor ou rementente entrega ao transportador determinado objeto para que, mediante

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pagamento de frete, seja remetido a outra pessoa (consignatário ou destinatário), em local diverso daquele em que a coisa foi recebida (arts. 743, 744 e 745, CC).

Partes

• Remetente ou Expedidor: pessoa que entrega a mercadoria para ser transportada.

• Transportador: pessoa que recebe a mercadoria, encarregando-se de transportá-la.

• Destinatário: pessoa a quem a mercadoria deve ser entregue. Esta pessoa, na verdade, não integra a relação contratual, será apenas a pessoa a que, a mercadoria será enviada.

É possível que o próprio remetente seja, também destinatário (ex: alguém muda de residência, sendo convencionado que seus móveis lhe sejam entregues em seu novo endereço. Será, ao mesmo tempo, remetente e destinatário).

Conhecimento de Transporte

A mercadoria a ser transportada será entregue ao transportador que emitirá, como prova do recebimento da coisa, um documento designado Conhecimento de Transporte, Conhecimento de Carga ou Conhecimento de Frete. Esse documento deverá conter:

• nome comercial da empresa emissora do Conhecimento de Frete (ou seja, do transportador)

• número de ordem do Conhecimento • data da emissão do Conhecimento • nome do remetente e do destinatário • lugar em que a mercadoria é recebida • espécie, quantidade e peso da mercadoria • importância do frete, com a declaração de que é pago ou a pagar • assinatura da empresa emissora (transportador)

Devido ao caráter probatório de entrega da mercadoria pelo remetente ao transportador, o Conhecimento de Transporte representa as mercadorias expedidas que só poderão ser retiradas pelo destinatário mediante sua apresentação. É considerado um título de crédito, representativo das mercadorias nele mencionadas, sujeitando-se às normas de circulação desses títulos. Tratar-se de um título normalmente negociável, suscetível de transferência por endosso.

Obrigações do Remetente

• entregar a mercadoria que deverá ser transportada.

• pagar o frete nos modos e condições pactuadas, porque ele representa a contraprestação pelo serviço. O frete será ajustado entre as partes nos transportes livres. Nos transportes de estrada de ferro ou empresa de

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aviação, o transportador fixa uma tabela de preços aprovada por órgãos oficiais, firmando-se um contrato por adesão. O preço pode ser pago antes da execução do transporte (frete pago) ou depois de executado o transporte (frete a pagar).

• acondicionar bem a mercadoria para o transporte, para que possa ser transportada sem perigo de perda ou deterioração. O transportador poderá recusar despacho se a mercadoria estiver mal acondicionada.

• declarar a natureza, o valor e a relação das mercadorias a serem transportadas. Isto porque, quando o remetente entrega os objetos ao transportador, este se responsabilizará pela perda total ou parcial, furto ou avaria que venham a sofrer durante o transporte, sendo que sua culpa será sempre presumida (salvo exceções prevista na lei).

• correr os riscos oriundos de vício próprio, de caso fortuito ou força maior.

• responder por prejuízos causados à mercadoria durante o transporte, se a espécie de transporte faz naturalmente correr ou se a perda ou avaria decorrer do fato de a mercadoria ter sido entregue mal acondicionada, ou se o dano for anterior ao transporte, etc.

Direitos do Remetente

• variar a consignação antes da entrega da mercadoria ao destinatário, ou seja, o remetente pode mudar a pessoa a quem a mercadoria deverá ser entregue, alterar o seu destino, fazendo-a entregar em local diverso do anteriormente combinado.

• receber indenização por furto, perda ou avaria do transportador,desde que se prove que o dano ocorreu quando o objeto estava sob os cuidados do transportador.

Obrigações do Transportador

• receber, transportar e entregar as mercadorias no tempo e no lugar convencionados.

• transportar as mercadorias com diligência, tomando todas as providências necessárias para que não se deteriorem, sob pena de responder por danos que vierem a sofrer enquanto estiverem sob seus cuidados.

• expedir Conhecimento do Frete ou Carga, contendo todos os requisitos legais.

• seguir itinerário ajustado, exceto se o caminho for intransitável ou oferecer maiores riscos.

• assumir a responsabilidade pelas perdas, furtos ou avarias que as mercadorias transportadas, sofrerem, exceto se oriundos de vício próprio, força maior ou caso fortuito. Deverá pagar, em caso de perda ou furto, indenização equivalente ao preço da mercadoria. Se houver avaria, a indenização será proporcional à depreciação sofrida pelo objeto. Só se responsabiliza pelas mercadorias constantes do Conhecimento. A cláusula de não-responsabilidade reputa-se como não escrita.

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Direitos do Transportador

• reter a mercadoria até receber o frete. • reajustar o frete se houver variação de consignação. • receber indenização pelo prejuízo que vier a sofrer, com informação

falsa. • recusar mercadoria cujo transporte não seja permitido ou esteja

desacompanhado de documentos legais.

TRANSPORTE DE PESSOAS

O contrato de transporte de pessoas é aquele em que o transportador se obriga a remover uma pessoa e sua bagagem de um local para outro, mediante remuneração (arts. 734 a 742, CC).

Obs: O transporte feito gratuitamente (por amizade, cortesia ou auferindo vantagens indiretas) não se subordina às normas do contrato de transporte (art. 736, CC).

Conforme o meio em que é feito o transporte, o contrato poderá ser:

• Terrestre: se em terra ou em pequeno percurso de água.

• Marítimo: se feito em alto mar ou rios e lagos navegáveis em longos percursos.

• Aéreo (ou aeronáutico): se utilizar o espaço aéreo.

Partes • Transportador: pessoa que se compromete a fazer o transporte.

• Passageiro: pessoa que se propõe a ser transportada, pagando um certo preço.

Ambos deverão ser capazes, em se tratando de viagens de longos percursos, e nelas os passageiros menores serão representados por seus pais. Nos transportes urbanos, qualquer menor ou incapaz poderá fazer uso dos veículos, pagando o preço da passagem. Crianças até 12 anos não podem viajar para fora da comarca onde residem, exceto se estiverem acompanhadas dos pais ou de responsável, ou devidamente munidas de autorização judicial.

Bilhete O passageiro adquire um bilhete de passagem, que poderá ser

nominativo ou ao portador, e que dará direito a quem o apresentar de ser transportado. É um título de legitimação, que atesta a vontade do adquirente de ser transportado de um lugar para outro, e a do transportador de realizar o transporte. Poderá designar lugares para os passageiros.

O bilhete de passagem não é indispensável para a efetivação do contrato.

Bagagem O contrato de transporte de pessoas abrangerá a obrigação de

transportar a bagagem do passageiro ou viajante no próprio compartimento

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em que viajar ou em depósitos apropriados dos veículos, mediante despacho, hipótese em que o transportador fornecerá uma nota de bagagem, que servirá de documento para a sua retirada no local de destino.

O viajante, ao contratar o transporte, pagando o bilhete de passagem, adquirirá o direito de transportar consigo sua bagagem, e o condutor assumirá a obrigação de fazer esse transporte. O passageiro só pagará o transporte de sua bagagem se houver excesso de peso, de tamanho ou de volumes.

Obrigações do Transportador • transportar o passageiro de um local para outro, no tempo e modo

convencionados.

• efetuar o transporte com cuidado, exatidão e presteza.

• responder pelos danos causados ao viajante, oriundos de desastres não provocados por força maior ou caso fortuito, ou culpa do passageiro, pagando uma indenização variável, conforme a natureza ou a extensão do prejuízo. Deverá, ainda, indenizar pela perda ou avaria de bagagens dos viajantes.

• responder pelos prejuízos causados aos passageiros em virtude de atraso dos transportes, na saída ou na chegada, se esse atraso não for motivado por força maior.

• concluir o transporte contratado, se a viagem se interromper por fato imprevisível, em outro veículo, à sua custa, correndo também durante a espera de novo transporte.

Direitos do Transportador • reter até 5% da importância a ser restituída ao passageiro, a título de

multa compensatória, se ele desistir da viagem.

• reter a bagagem do passageiro para garantir-se do pagamento do preço da passagem que não tiver sido paga no início do percurso.

• exigir declaração do valor da bagagem a fim de fixar o limite da indenização.

Deveres do Passageiro • pagar a importância determinada de acordo com a tarifa estabelecida.

• apresentar-se no local de embarque antes da hora marcada para partida, pois não terá direito a ser reembolsado do preço do bilhete, por não estar presente no local e no horário fixados, perder a condução, salvo se provar que outra pessoa foi transportada em seu lugar.

• sujeitar-se às normas estabelecidas pelo condutor.

• não conduzir armas.

• não se debruçar fora das janelas com o veículo em movimento.

• proceder de modo a não perturbar demais passageiros, e não danificar o veículo.

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• não transportar objeto que cause perigo ou incômodo aos viajantes.

• apresentar documento de identidade nos transportes de navio ou avião.

• apresentar bilhete de viagem quando lhe for pedido, mesmo no curso da viagem.

Direitos do Passageiro • exigir o transporte, uma vez apresentado o bilhete de passagem.

• ser transportado com cuidado, presteza e exatidão, do lugar do início de sua viagem ao local de chegada.

• ocupar o lugar mencionado no bilhete, ou, se o bilhete não mencionar local certo, ocupar qualquer um do veículo, já que o transportador não poderá vender bilhetes em número superior aos dos lugares existentes. Em certos tipos de transportes coletivos, para facilitar o tráfego das pessoas, será permitido ao condutor transportar um número de pessoas superior ao dos assentos existentes.

• desistir do transporte, mesmo depois de iniciada a viagem, com direito à devolução do valor correspondente ao trecho não utilizado, desde que comprove que outro passageiro foi transportado em seu lugar.

• receber a restituição do valor do bilhete não utilizado se deixar de embarcar e provar que outro foi transportado em seu lugar.

Observação: o art. 734, CC determina que o transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente de responsabilidade. Já o art. 735, CC determina que a responsabilidade do transportador não é elidida (eliminada) por culpa de terceiro. Se ocorrer algum acidente por culpa de terceiro, o transportador deve indenizar o transportado e depois acionar, de forma regressiva, o terceiro responsável pelo acidente.

SEGURO (arts. 757 a 802, CC)

Contrato de seguro é aquele pelo qual uma pessoa (segurador) se obriga perante outra (segurado), mediante o pagamento de um prêmio, a garantir-lhe interesse legítimo relativo a pessoa ou coisa e a indenizá-la de prejuízo decorrentes de riscos futuros, previsto no contrato.

A noção de seguro supõe a de risco, isto é, o fato de estar o sujeito exposto à eventualidade de um dano (à pessoa ou a seu patrimônio).

Assim, o contrato de seguro é o meio pelo qual a pessoa física ou jurídica se protege contra os riscos que podem incidir sobre a sua vida, ou sobre o objeto de seus negócios.

Partes

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• Segurador: é o que suporta o risco. A atividade do segurador é exercida por entidades legalmente autorizadas isto é, por sociedades anônimas, mediante prévia autorização do governo federal.

• Segurado: é o que tem interesse direto na conservação da pessoa ou coisa, fornecendo uma contribuição periódica e moderada, isto é, o prêmio, em troca do risco que o segurador assumirá.

Características Gerais • Contrato Bilateral: gera obrigações para o segurado e para o

segurador.

• Oneroso: traz prestações e contraprestações.

• Aleatório: por não haver equivalência entre as prestações, o segurado não pode antever, de imediato, o que receberá em troca de sua prestação. O segurador assume o risco, ressarcindo o dano sofrido pelo segurado, se o evento incerto (embora previsto no contrato) ocorrer. Observem que o evento pode ocorrer ou não! Vamos tomar como exemplo o seguro de um veículo. Se não ocorrer o sinistro (acidente com o veículo), o segurador irá receber o prêmio (quantia paga pelo segurado) sem nada desembolsar. Mas se o sinistro ocorrer, ele deverá pagar uma indenização cujo valor pode ser muito maior do que o prêmio recebido.

• Formal: a forma escrita é obrigatória; para se provar é necessária a exibição da apólice ou do bilhete do seguro e, na falta deles, de um documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio.

• Por adesão: o segurado deve aceitar, sem qualquer discussão, as cláusulas impostas pelo segurador na apólice impressa.

• Boa-fé: conduta sincera e leal das partes, em especial do segurado (no contrato de seguro de vida, deve o segurado indicar moléstias de que sofre; se ocultar, perderá o direito ao valor do seguro). Se o segurado mentir ou omitir:

a) se estiver de má-fé: paga o prêmio vencido e perde o direito à garantia.

b) se não estiver de má-fé: o segurador pode extinguir o contrato ou cobrar, mesmo após o sinistro, a diferença do prêmio.

Requisitos • Segurador só poderá ser entidade devidamente autorizada pelo Governo

Federal para operar no ramo.

• Capacidade civil do segurado.

• O objeto do segurado deve ser lícito e possível (ex.: é nulo o contrato de seguro de uma operação de contrabando).

• O valor do objeto deve ser determinado.

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• O pagamento da seguradora deverá ser equivalente ao valor real do bem ou de sua reposição.

• O contrato exige forma escrita para ser obrigatório. Esse instrumento chama-se apólice ou bilhete do seguro.

Prêmio Estabelecido o contrato de seguro, o segurado deve fornecer uma

contribuição, periódica e moderada, chamada prêmio, em troca do risco que o segurador assumirá em caso de incêndio, abalroamento, naufrágio, furto, falência, acidente, morte, etc.

As partes fixam livremente a taxa do prêmio, tendo-se em vista a duração do risco, as causas que possa efetivá-lo e o montante da indenização. O prêmio deve ser líquido e certo.

Apólice Como já vimos, o contrato de seguro exige a forma escrita que se

instrumentaliza pela apólice ou bilhete do seguro. Deverão mencionar os riscos assumidos, o início e o fim de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido, e , quando for o caso, o nome do segurado e o do beneficiário.

Classificação das Apólices: a) Quanto à titularidade

• nominativas: quando mencionarem o nome do segurador, do segurado e do beneficiário.

• à ordem: quando transmissíveis por endosso.

• ao portador: quando transferíveis por simples tradição (inadmissíveis em se tratando de seguro de vida).

b) Quanto ao risco

• específicas: ocupam de um risco apenas.

• plúrimas: dizem respeito a vários riscos dentro de um mesmo contrato

• abertas: se o risco se desenvolver ao longo da atividade.

c) Quanto à substituição

• simples: se o objeto do seguro é determinado precisamente sem que haja possibilidade de substituí-lo;

• flutuantes: se for possível a substituição da coisa segurada.

Observações

1) A apólice deverá ser precedida de proposta escrita com a declaração dos elementos essenciais do interesse a ser garantido e do risco.

2) A falta de apólice pode ser suprida pelo registro mediante a comprovação do pagamento do prêmio.

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3) As apólices de acidentes são plurianuais.

4) O seguro pode ser contratado por meio de bilhete de seguro, que é um instrumento simplificado.

Espécies de Contrato de Seguro 1) Quanto às normas que disciplinam

• comerciais: regidas pelo Código Comercial.

• civis: disciplinados pelo Código Civil.

2) Quanto ao número de pessoas

• individuais: um só segurado.

• coletivos: abrangem várias pessoas.

3) Quanto ao objeto

• patrimoniais: cobrir perdas resultantes de obrigações.

• reais: prejuízos sofridos por uma coisa.

• pessoais: faculdades humanas, saúde, vida.

SEGURO DE DANO Nos seguros de dano, a garantia prometida não pode ser maior que o

valor do interesse segurado na conclusão do contrato e a indenização não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento do sinistro, e, em hipótese alguma, o limite máximo da garantia fixado na apólice.

O risco do seguro compreendem todos os prejuízos ocasionados pelos estragos para evitar o sinistro, minorar o dano, ou salvar a coisa.

No seguro de coisas transportadas, a garantia começa no momento em que o transportador recebe e, termina com a entrega ao destinatário. Não se inclui na garantia o sinistro provocado por defeito próprio da coisa segurada, não declarado pelo segurado.

Pode ocorrer a transferência do contrato a terceiro com a alienação ou cessão do interesse segurado. Se o contrato for nominativo, a transferência só terá efeito para o segurador, mediante aviso escrito assinado pelo cedente e pelo cessionário. No caso de apólice ou o bilhete à ordem, o contrato só poderá ser transferido por endosso em preto, datado e assinado pelo endossante e pelo endossatário.

O segurador garante o pagamento de perdas e danos devidos pelo segurado a terceiro, no caso de seguro de responsabilidade civil. Em caso de responsabilidade legal obrigatória, a indenização por sinistro será paga pelo segurador diretamente ao terceiro prejudicado.

SEGURO DE PESSOA O Código Civil permite que a vida humana seja objeto de seguro contra

os riscos de morte involuntária. O seguro não será pago se o segurado vier a falecer de morte voluntária nos dois primeiros anos de vigência inicial do

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contrato (ex.: suicídio premeditado, duelo, etc.) e no caso em que o beneficiário foi o assassino do segurado. No entanto, é admissível o seguro em casos de esportes arriscados, alistamento militar, ato de heroísmo, etc.

Pelo Código Civil, o seguro de pessoas garante, que o capital segurado seja livremente estipulado pelo proponente, que pode contratar mais de um seguro sobre o mesmo interesse, com o mesmo ou diversos seguradores (art. 789, CC). É nula qualquer transação para pagamento reduzido do capital segurado (art. 795, CC).

Pode ser feito por pessoa natural ou jurídica em proveito de grupo que a ela se vincule (art. 801, CC). A apólice de seguro só poderá ser modificada mediante a expressa anuência de segurados representados por três quartos do grupo.

SEGURO SOBRE A VIDA DE OUTROS O proponente é obrigado a declarar qual o seu interesse em preservar a

vida do segurado (cônjuge, ascendente ou descendente).

Caso não seja indicada a pessoa beneficiária, o capital segurado será pago a metade ao cônjuge não separado judicialmente, e o restante aos herdeiros do segurado (art. 792, CC). A instituição do companheiro como beneficiário é valida, se ao tempo do contrato o segurado era separado judicialmente, ou de fato (art. 793, CC).

SEGURO DE VIDA No caso de seguro de vida ou acidentes pessoais para o caso de morte, o

capital estipulado não está sujeito às dívidas nem herança do segurado.

O prêmio será conveniado por prazo limitado, ou por toda a vida do segurado.

Para o caso de morte poderá ser estipulado um prazo de carência, durante o qual o segurador não responde pelo sinistro. O segurador é obrigado a devolver ao beneficiário o montante da reserva já formada.

Obrigações do Segurado • Pagar o prêmio convencionado no prazo estipulado.

• Caso atrase o pagamento do prêmio, deve pagá-lo com juros moratórios.

• Abster-se de tudo que possa aumentar os riscos e for contrário ao estipulado.

• Comunicar ao segurador todos os fatos imprevistos que possam agravar o risco.

• Levar ao conhecimento do segurador a ocorrência do sinistro.

• Demonstrar os prejuízos que sofreu com o sinistro.

• Abster-se de transacionar com a vítima, com o responsável pelos danos sem o prévio consentimento do segurador.

Direitos do Segurado

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• Receber a indenização e a reparação do dano.

• Não ver aumentado o prêmio, embora agravados os riscos, em razão de fato alheio à sua vontade.

• Receber reembolso de despesas feitas no interesse da seguradora para diminuir prejuízos.

• Ser defendido pela segurado nos casos de responsabilidade civil, cuja reparação esteja a cargo dela.

Obrigações do Segurador • Indenizar o segurado quanto aos prejuízos resultantes do risco

assumido.

• Aceitar cessão do seguro e pagar a terceiro, havendo a transferência do contrato.

• Constituir reservas técnicas, fundos especiais e provisões para garantir obrigações assumidas.

Direitos do Segurador • Receber o prêmio durante a vigência do contrato.

• Isentar-se do pagamento da indenização no caso de má-fé do segurado, ou se este deu à coisa segurada valor superior ao real ou no caso de caducidade da apólice.

• Responder somente pelos riscos que assumiu.

• Reajustar o prêmio para que este corresponda ao risco assumido.

EXTINÇÃO DO SEGURO • decurso do prazo estipulado.

• distrato – ambos os contratantes concordam em dissolver os vínculos.

• inadimplemento de obrigação legal.

• superveniência do risco – o contrato perde o objeto e a seguradora paga o valor assegurado.

• cessação do risco.

• nulidade, tornando o contrato ineficaz.

Observação: além do Código Civil, outras leis regem a matéria. Extrai-se destas que as Sociedades de Seguro não estão à falência e também não podem ingressar com pedido de recuperação judicial. Em caso de insolvência ou má situação financeira, a empresa é submetida a um processo de liquidação, acarretando em dissolução compulsória.

CONSTITUIÇÃO DE RENDA (arts. 803 a 813, CC)

Contrato em que uma pessoa (instituidor ou censuísta) entrega certo capital, em dinheiro, bem móvel ou imóvel, a outra (rendeiro ou censuário),

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que se obriga a pagar, temporariamente, renda ou prestação periódica. O contrato de constituição de renda será feito a prazo certo (até uma data determinada) ou incerto (até a morte do beneficiário). Ele pode ultrapassar a vida do devedor, mas nunca a do credor, seja ele o contratante, seja terceiro. Exemplo: “A” transfere a “B” a propriedade de um imóvel; “B” deverá, então, pagar uma renda, vitalícia ou não, ao próprio instituidor ou a terceiro (“C”), que será o beneficiário.

Partes: a) censuário ou rendeiro – recebe o capital com o encargo de pagar certa renda; é o devedor da renda e o adquirente do capital; b) censuísta (ou instituidor), que entrega o capital e constitui renda em benefício próprio ou alheio; é o credor da renda.

Características: trata-se de um contrato muito peculiar, podendo assumir diversos aspectos: unilateral ou bilateral; gratuito ou oneroso (pode haver uma contraprestação); comutativo ou aleatório; real (entrega efetiva); temporário (pode até ser vitalícia, mas é proibida a perpetuidade e não se transmite aos herdeiros do beneficiário).

Modos constitutivos: ato inter vivos (contrato – escritura pública), ato causa mortis (testamento – o testador deixa a renda de herança) ou por sentença judicial (o Juiz, em ação de responsabilidade civil condena o réu a prestar alimentos ao ofendido ou pessoa de sua família).

Extinção: expiração do prazo estipulado em contrato, rescisão contratual, declaração de ausência do credor, implemento de condição resolutiva e perecimento ou destruição do imóvel a que a renda estiver vinculada.

JOGO E APOSTA (arts. 814 a 817, CC)

O legislador colocou jogo e aposta no mesmo dispositivo, entretanto, estes contratos não são sinônimos, havendo distinção quanto a resultado ganho ou perda.

JOGO

É o contrato aleatório, em que duas ou mais pessoas convencionam entre si pagar certa soma àquela que conseguir um resultado favorável de um acontecimento incerto.

APOSTA É a convenção em que duas ou mais pessoas de opiniões discordantes

sobre qualquer assunto prometem, entre si, pagar certa quantia ou entregar determinado bem àquela cuja opinião prevalecer em virtude de um evento incerto. Diferencia-se primordialmente do jogo, pois nela sempre haverá um perdedor e um ganhador, e o seu cumprimento ou entrega dependerá de ato de terceiro.

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Espécies Embora haja controvérsias, a doutrina costuma distinguir os jogos da

seguinte forma: a) Proibidos ou ilícitos: o ganho ou a perda dependem da sorte (jogo do

bicho, roleta, máquina caça-níquel, etc.). Quem perde não tem o dever de pagar. Se pagar não poderá pedir o dinheiro de volta. As dívidas de jogo resultam são só da importância perdida no jogo, mas também de empréstimos feitos ao jogador. A cobrança não é admitida sequer mediante confissão de dívida pelos contraentes.

b) Tolerados: o resultado não depende exclusivamente da sorte, mas também da habilidade do jogador (poker, truco, etc.). Não são contravenções, mas a ordem jurídica não lhes regula os efeitos. Da mesma forma não podem ser cobrados.

c) Autorizados ou lícitos: decorrem estritamente de lei e para a sua regularização, todas as suas exigências devem ser cumpridas sob pena de tornar-se ilícito. São os que visam uma utilidade social, trazendo proveito a quem os pratica, incrementando a destreza, força, coragem, inteligência (ex.: futebol, boxe, corridas, xadrez, etc.). Ex.: Lei Pelé, loteria esportiva, mega sena, turfe, etc. Nesses casos há um benefício por parte do Estado, que emprega parte de seu resultado na realização de obras sociais, eventos esportivos etc.

Consequências jurídicas Como vimos, o jogo e aposta não obrigam o pagamento, salvo casos

excepcionais. Mas havendo o pagamento, não haverá repetição. Isso tem aplicação em caso de jogos proibidos e tolerados; só se excetuando os jogos e apostas legalmente permitidas (art. 814, §2°, CC). Além disso, a dívida de jogo não pode ser usada para compensação e também não pode ser garantida por ônus real nem haver clausula penal (multa).

Observação: não se pode confundir o jogo e aposta com os contratos sobre títulos de bolsa valores. Os negócios de mercadorias, derivativos e futuro têm seu risco (possibilidade de alguém perder, e, de outro, alguém ganhar), mas isso não pode ser considerado ilegal, até porque há toda uma regulamentação rigorosa a respeito.

FIANÇA (arts. 818 a 839, CC)

Fiança (ou caução fidejussória) é a promessa feita por uma ou mais pessoas, de garantir ou satisfazer a obrigação de um devedor, se este não a cumprir, assegurando ao credor o seu efetivo cumprimento (art. 818, CC).

No direito brasileiro temos duas espécies de contratos de caução ou garantia:

Garantia Real: lembrando que res significa coisa; ou seja, a coisa garante a dívida. Ex.: penhor, hipoteca, anticrese e alienação fiduciária

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(tais temas são desenvolvidos na aula Direito das Coisas, quando isso é exigido no edital).

Garantia Fidejussória: é o outro nome que se dá à garantia pessoal. Ex.: fiança e aval.

Como se vê, a fiança é uma espécie dos contratos de caução ou garantia. É negócio entabulado entre credor e fiador; portanto o devedor (afiançado) não é parte na relação jurídica fidejussória. A fiança pode ser dada a qualquer tipo de obrigação, seja ela de dar (coisa certa ou incerta), de fazer ou de não fazer.

CARACTERÍSTICAS

• Acessório: não existe a fiança sem que haja um contrato, onde se encontra a obrigação que está sendo garantida pela fiança. Ex.: José contrata um mútuo (empréstimo) de dinheiro com um Banco (contrato principal). Pedro, seu fiador, assume obrigação acessória de quitar a dívida, caso José não pague (fiança – contrato acessório). Como o acessório segue o principal (accessorium sequitur principale), se o contrato principal for nulo, nula também será a fiança (art. 824, CC). No entanto a recíproca não é verdadeira. Além disso, abrange todos os acessórios da dívida principal (juros, cláusula penal, despesas judiciais, etc.). Apesar de ser sempre acessória, a fiança pode ser estipulada em um contrato diverso do garantido ou inserido em uma das cláusulas do contrato principal. A fiança pode ser de valor inferior da obrigação principal; no entanto nunca poderá ser superior ao valor do débito principal, nem ser mais onerosa do que ele, sob pena de ser reduzida ao nível da dívida afiançada (art. 823, CC).

• Unilateral: gera obrigação apenas para o fiador que se obriga para com o credor, mas este nenhum compromisso assume em relação àquele.

• Gratuito: como regra, o fiador não recebe remuneração; apenas ajuda o devedor. No entanto nada obsta que se pactue certa remuneração, muito comum em contratos bancários, em que os bancos assinam termos de responsabilidade em favor de seus clientes, em troca de uma porcentagem sobre o montante garantido.

• Forma escrita: a forma da fiança é obrigatoriamente escrita (art. 819, CC), por instrumento público ou particular e assinada, não se admitindo a fiança verbal, ainda que com muitas testemunhas. Fiança não se presume; trata-se de um contrato solene. Ela pode ser realizada no próprio instrumento do contrato principal.

• Não admite interpretação extensiva: a fiança sempre será interpretada restritivamente, isto porque é contrato benéfico. O fiador responde apenas por aquilo que efetiva e expressamente se consignou no instrumento. Se alguma dúvida surgir, interpreta-se favoravelmente ao fiador. Ex.: se concedida para garantir aluguel, não se estende a danos causados no prédio por eventual incêndio. Se concedida para garantir aluguel, não se estende a pagamentos de impostos, etc.

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• Não se estende além do tempo convencionado: para prorrogar-se a fiança, caso o contrato se prorrogue, exige-se disposição expressa a esse respeito. Costuma-se dizer: “a fiança não se estende de uma coisa para outra, de uma pessoa para outra, de um tempo para outro”.

• Subsidiária: o fiador somente se obrigará pela dívida se o devedor principal (afiançado) não cumprir a prestação devida. Ou seja, o credor aciona primeiro o devedor principal. Se este não pagar a dívida, acionará então o fiador (trata-se do “benefício de ordem”, do qual falaremos logo adiante). No entanto pode ser pactuada a solidariedade. Nesse caso o fiador assume a posição de codevedor (sem desnaturar a fiança); ou seja, o credor pode acionar tanto o devedor principal como o fiador ou os dois ao mesmo tempo.

• Súmula 214 do Superior Tribunal de Justiça: se houver alguma modificação ou aditamento no contrato principal e o fiador não foi consultado para esta alteração, não pode ele ser responsável. Nestes termos é o teor da Súmula: “o fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu”.

• Súmula 332 do Superior Tribunal de Justiça (nova redação): “A fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges implica a ineficácia total da garantia”.

SUBSTITUIÇÃO O credor pode exigir a substituição do fiador se este (art. 826, CC):

• Se tornar insolvente (não tiver bens para responder pela obrigação assumida).

• Se tornar incapaz (foi acometido de alguma doença mental).

CONDIÇÕES PARA SER FIADOR Para ser fiador, é necessário que a pessoa: • seja idônea (moral e financeiramente). • Resida no mesmo município onde tenha que prestar fiança (será mais fácil

avisá-lo do inadimplemento do devedor).

Podem ser fiador: todas as pessoas maiores ou emancipadas, que tenham a livre disposição de seus bens e preencham os requisitos descritos acima.

Não podem ser fiador

• Os pródigos, sem assistência do curador. • Os absolutamente incapazes, mesmo que representados por seus

curadores. • O cônjuge, sem o consentimento do outro (outorga uxória ou marital),

exceto no regime da separação total de bens. Se for dada fiança sem outorga, será anulável (Súmula 332 STJ). O prazo para anular esta fiança é de quatro anos, a partir da dissolução da sociedade conjugal.

• O analfabeto, a não ser que o faça por procurador constituído por instrumento público, com poderes especiais.

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• Certas pessoas em razão de seu ofício (tesoureiros, leiloeiros – Dec. nº 2.198/32, tutores, curadores, etc.).

Observação. Embora não haja previsão legal expressa, segundo a professora Maria Helena Diniz, os menores de 18 anos, mesmo emancipados não podem ser fiador, ainda que representados ou assistidos por seus representantes legais. Isso porque segundo a doutrinadora, a emancipação confere o direito de administrar seus próprios negócios e a fiança é uma obrigação por dívida alheia. Ocorre que tal posição já caiu em uma prova da CESPE/UnB e a questão não foi anulada (Técnico Bancário da Caixa Econômica Federal, em 2006)...

FIANÇA DE OBRIGAÇÃO NULA

As obrigações nulas não são suscetíveis de fiança. Assim, sendo nula a obrigação principal, nula também será a fiança. Ex.: fiança dada em contrato de locação assinado por absolutamente incapaz, interditado por ter doença mental.

FIANÇA DE OBRIGAÇÕES CONTRAÍDAS POR MENOR

Vimos que as obrigações nulas não são suscetíveis de fiança. No entanto, se a fiança foi dada tendo-se em vista uma obrigação contraída por menor, embora a obrigação principal seja nula ou anulável, mesmo assim prevalece a fiança. Trata-se de uma exceção, conforme estipula o art. 824, CC. Ex.: menor de 16 anos assina contrato de locação; o contrato é considerado nulo; mesmo assim, prevalece a obrigação do fiador quanto aos aluguéis não pagos pelo menor. O mesmo ocorre se a pessoa for menor de 18, porém maior de 16 anos (relativamente incapaz – anulável).

FIANÇA A MÚTUO CONTRAÍDO POR MENOR Se a fiança se referir a contrato de mútuo contraído por menor, sendo

nulo ou anulado o contrato de mútuo, nula também será a fiança. Esta é uma exceção à regra acima (trata-se, portanto de uma exceção da exceção). É o que determina o parágrafo único do art. 824, CC. Ex.: menor toma dinheiro emprestado e terceira pessoa assina o contrato como fiador. Declarado nulo ou anulado o contrato de mútuo, exonera-se também o fiador.

BENEFÍCIO DE ORDEM

É o direito assegurado ao fiador de exigir do credor que acione, em primeiro lugar, o devedor principal, isto é, que os bens do devedor principal sejam executados antes dos seus (art. 827, CC). A invocação desse benefício deve ser manifestada expressamente.

O fiador não poderá se socorrer deste benefício se renunciou o benefício, ou se se obrigou como principal pagador (ou devedor solidário), ou se o devedor for insolvente ou falido (art. 828, CC).

Observação: O Superior Tribunal de Justiça tem entendido que havendo cláusula expressa no contrato de locação de que a responsabilidade do fiador perdura até a efetiva entrega das chaves do imóvel, objeto da locação, não há

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que se falar em desobrigação do mesmo, ainda que o contrato tenha se prorrogado por prazo indeterminado.

BENEFÍCIO DE DIVISÃO

Havendo mais de um fiador garantindo a mesma obrigação, estes são solidários entre si, aplicando-se-lhes as regras das obrigações solidárias.

Todavia, podem os fiadores, entre si, prever expressamente no contrato de fiança, que se utilizarão o benefício de divisão, isto é, de que a obrigação entre eles seja divisível. Assim, cada fiador só responderá pela parte que, em proporção, lhe couber no pagamento (art. 829 e parágrafo único, CC).

SUB-ROGAÇÃO

O fiador que pagar integralmente a dívida ficará sub-rogado nos direitos do credor, mas só poderá demandar a cada um dos outros fiadores pela respectiva cota (art. 831, CC). Recordando: sub-rogar significa estar no lugar de. Sub-rogação nos direitos do credor significa que o fiador que paga passa a ocupar o lugar do credor, assumindo-lhe todos seus direitos, inclusive o de executar o devedor, ou os outros fiadores.

RESPONSABILIDADE DOS HERDEIROS

É necessário esclarecer que a morte do fiador extingue a fiança. Mas os herdeiros do fiador respondem quanto às obrigações assumidas pelo de cujus em razão de fiança. Ou seja, a obrigação pode ser transmitida aos herdeiros do fiador. Mas a responsabilidade da fiança não pode ultrapassar as forças da herança e se limitará até a data da morte do fiador. Ex.: “A” firmou um contrato de locação com “B”, sendo este último o locatário. “C” é fiador de “B”. Este último sempre honrou com os seus débitos. Passado um tempo, “C”, o fiador, morreu. A fiança se extingue e os herdeiros de “C” por nada responderão. Outra situação, aproveitando o mesmo exemplo: “B” (locatário) não paga o aluguel devido. Digamos que já esteja devendo dez meses de aluguel. Logo o credor “A” pode acionar “B” (locatário) e “C” (o fiador). Neste ínterim “C” morreu. Neste momento a fiança se extingue. No entanto os herdeiros de “C” irão responder por suas dívidas (no caso os dez meses de aluguel atrasado) até o momento de sua morte e até o limite das forças da herança. A partir daí eles nada mais responderão, pois com a morte extingue-se a fiança.

EXTINÇÃO DA FIANÇA • Por vontade do fiador, quando tiver assinado o contrato de fiança sem

limitação de tempo. Neste caso, a exoneração pode ser por ato amigável entre o fiador e o credor ou por decisão judicial.

• Pela morte do fiador. • Por anulação judicial, nos casos de anulabilidade dos atos jurídicos em

geral (falta de legitimação, vícios do ato jurídico, etc.). • Se, sem o consentimento do fiador, o credor conceder moratória ao

devedor;

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• Se, por algum fato causado pelo credor, tornar-se impossível a sub-rogação do fiador nos seus direitos e preferências. Ex.: credor levanta hipoteca que garante a dívida, sendo que por isso o fiador não pode se sub-rogar no direito de executar aquela hipoteca.

• Se o credor, em quitação amigável, aceitar do devedor objeto diverso do que venha a perdê-lo por evicção (perda da coisa em virtude de sentença judicial e sentença anterior). Ex.: A, credor, aceita do devedor um terreno para quitar a dívida, em lugar de pagamento em dinheiro (novação). Se A vier a perder este terreno, mesmo por evicção, o fiador está liberado.

• Se o fiador indicar bens do devedor para serem executados em primeiro lugar, demorando-se o credor a executá-los, e caindo, posteriormente, o devedor em insolvência, libera-se o fiador.

AVAL O aval, a exemplo da fiança, é uma garantia pessoal, em que uma

pessoa (o avalista) obriga-se a pagar a dívida de outrem (o avalizado). O avalista é devedor solidário (diferentemente da fiança em que o fiador é devedor subsidiário). O aval é figura do direito cambiário, isto é, uma garantia própria dos títulos de crédito (letra de câmbio, nota promissória, etc.) que importa na responsabilidade autônoma do avalista, independente da validade da obrigação garantida. Para dar o aval, basta que o avalista aponha sua assinatura, de próprio punho, ou mesmo através de procurador, no título.

Fiança X Aval

Fiança Aval

Inserida nos contratos de uma forma geral e não nos títulos de crédito.

Inserido nos títulos de crédito (cambial) e não em contratos.

Obrigação acessória em relação à outra obrigação assumida pelo devedor.

Obrigação autônoma em relação à obrigação avalizada.

Fiador – Devedor subsidiário. Em regra responde apenas quando o devedor não o faz, havendo o benefício de ordem.

Avalista – Devedor solidário. Torna-se codevedor. Não pode ser alegado o benefício de ordem.

Exige outorga conjugal. Também se exige outorga.

Instrumento escrito. Assinatura do avalista no título.

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TRANSAÇÃO (arts. 840 a 850, CC)

Trata-se de um negócio jurídico bilateral em que as partes fazem mútuas concessões, prevenindo ou extinguindo obrigações. É a composição amigável entre as partes, em que cada qual abre mão de suas pretensões, para evitar riscos de uma futura demanda (extrajudicial) ou extinguir um litígio que já foi instaurado (judicial). Exemplo: A alega que B lhe deve 200; B, por sua vez, admite que deve, mas afirma que a dívida é apenas de 100. As partes acabam entrando em acordo por 150. Assim, uma pessoa cede um pouco... a outra cede um outro tanto... e um acordo acaba saindo. Na realidade a transação é um negócio jurídico bilateral declaratório, indivisível e de interpretação restrita.

ELEMENTOS • Existência de uma dúvida. • Intenção em se dirimir a dúvida, extinguindo o conflito (acordo de

vontade entre os interessados capazes). • Reciprocidade de concessões - ambos os transigentes devem conceder

alguma coisa ou abrir mão de algum direito; não há transação se apenas uma das partes receber privilégios e a outra, sacrifícios.

MODALIDADES • Judicial: realizada no curso de um processo, recaindo sobre direitos

disputados em juízo.

• Extrajudicial: levada a efeito para se evitar a ação judicial. Pode ser realizada por instrumento público ou particular, dependendo do que a lei determina.

É importante observar que o Código atual trata a transação como um contrato típico ou nominado e não mais como uma forma de pagamento indireto.

A transação somente é permitida em relação a direitos patrimoniais de caráter privado, ou seja, somente pode haver transação quanto a direitos disponíveis, em que a parte pode dispor. Portanto, não é possível transação em relação às coisas fora do comércio, como o estado e a capacidade das pessoas, legitimidade e dissolução do casamento, investigação de paternidade, etc. Pergunto: Cabe transação referente aos alimentos? Resposta: – Não! Os alimentos envolvem direitos de personalidade; são indisponíveis não podendo ser objeto de transação, tanto no caso de alimentos devidos em decorrência de parentesco, casamento ou união estável (há uma proteção constitucional da dignidade da pessoa humana – art. 3°, III, CF/88). No entanto pode haver transação acerca do quantum devido. Ou seja: não pode haver transação em relação ao direito de alimentos; mas pode haver quanto aos valores devidos. No entanto, tecnicamente falando, para se alterar os valores dos alimentos

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deve-se ingressar com uma ação específica chamada de “revisional de alimentos”. Da mesma forma não é permitida a transação em relação à guarda de filhos, investigação de paternidade, legitimidade ou dissolução do casamento, posto que estes não são direitos disponíveis.

COMPRIMISSO (arts. 851 a 853, CC)

A exemplo da transação, o atual Código Civil não mais considera o compromisso (ou arbitragem) como uma forma de pagamento indireto. Mas sim como uma espécie de contrato típico ou nominado.

Trata-se de um acordo de vontades (bilateral) por meio do qual as partes, preferindo não se submeter à decisão judicial (ou seja, a um processo judicial), confiam a árbitros a solução de seus conflitos de interesses. Exemplo: A celebrou um contrato com B, sendo que surgiu um conflito de interesses em relação a algumas cláusulas que estavam ambíguas no contrato. A, ao invés de se ingressar com uma ação judicial contra B, pode pactuar que irão por fim ao conflito por meio de um árbitro (e não um Juiz), cuja decisão as partes se comprometem a acatar. Com isso, além de proporcionar decisão mais rápida, é menos formal, menos dispendioso (custas processuais, honorários advocatícios, etc.) e mais discreto (não tem a publicidade de um processo judicial). O Código Civil trata do tema na parte alusiva às várias espécies de contratos. O assunto, atualmente, também é regulado pela Lei n° 9.307/96, tanto no plano interno, como internacional. A exemplo da transação, também se restringe a direitos patrimoniais disponíveis.

ESPÉCIES

1. CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA (pactum de compromittendo – tem um caráter preventivo): é a promessa de celebrar o compromisso futuramente; convenção (preliminar) através da qual as partes, em um contrato, comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato. Exemplo: vou celebrar um contato; ainda não tenho problema algum neste contrato; mas eu penso: e se surgir algum problema? E eu mesmo respondo: se surgir o problema nós o resolveremos por meio da arbitragem. Portanto as partes pactuam isso no próprio contrato, de forma preventiva. Esta cláusula é autônoma em relação ao contrato. Deve ser estipulada por escrito. Nos contratos de adesão só terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição.

2. COMPROMISSO ARBITRAL: é a regulamentação definitiva da arbitragem, feita após o surgimento do conflito de interesses. Surgindo um conflito de interesses durante a execução de um contrato as partes podem convencionar a se submeterem à arbitragem. Pode ser classificada em:

a) Judicial: na pendência do processo judicial (por isso é chamado também de “endoprocessual”) – faz-se um termo nos autos, cessam as funções do Juiz togado (isto é, aquele que é concursado, de carreira) e a

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partes passam a resolver suas pendências, a partir daí, por meio de nomeação de árbitros.

b) Extrajudicial: não foi ajuizada ação (extraprocessual) – pode ser celebrado por escritura pública ou escrito particular – eventual ação não pode ser mais ajuizada, pois as partes abriram mão de tal direito (salvo exceções previstas na lei).

Quem pode ser árbitro? Resposta: qualquer pessoa física capaz (excetuando-se o analfabeto), que tenha a confiança das partes. Estas podem nomear um ou mais árbitros, sempre em número ímpar e eventuais suplentes. Considera-se instituída a arbitragem quando aceita a nomeação pelos árbitros. É licito às partes estabelecer o procedimento, um rito a ser seguido. Não havendo previsão a respeito, competirá ao árbitro ou tribunal arbitral discipliná-lo.

A sentença arbitral será proferida no prazo estipulado pelas partes ou no prazo de seis meses, contado da instituição da arbitragem. Produz, entre as partes e seus sucessores os mesmos efeitos da sentença proferida pelos Juízes togados. Sendo condenatória, é considerada como um título executivo. A sentença proferida pelo árbitro não fica sujeita a recurso ou homologação do Poder Judiciário. No entanto pode ser impugnada se for nula (ex: o árbitro era absolutamente incapaz).

RESUMO DA AULA TODOS OS CONTRATOS EM ESPÉCIE PREVISTOS PELO

CÓDIGO CIVIL

COMPRA E VENDA (arts. 481 a 532, CC)

Um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe o preço em dinheiro. O contrato não transfere a propriedade da coisa. A propriedade é transferida pela tradição ou registro. O contrato somente cria a obrigação de uma transferência da coisa.

Elementos: coisa, preço e consenso. Não se transfere o domínio. Este é transferido pela tradição (bens móveis) ou pelo registro do título aquisitivo no Cartório de Registro de Imóveis (bens imóveis).

A lei proíbe que os ascendentes vendam aos descendentes quaisquer bens, sem que haja o consentimento dos outros descendentes e o cônjuge do alienante, salvo se casado sob o regime de separação obrigatória (art. 496, CC), sob pena de anulação do ato. Essa venda poderia simular uma doação em prejuízo dos demais herdeiros. Cláusulas especiais (pactos adjetos):

a) Retrovenda (arts. 505 a 508): o vendedor se reserva o direito de reaver, em prazo certo, o imóvel alienado, restituindo ao comprador o preço mais as despesas realizadas.

b) Venda a contento (arts. 509 a 512): o negócio somente se perfaz se o comprador se declarar satisfeito (condição suspensiva).

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c) Preempção (arts. 513 a 520): o comprador se obriga a oferecer ao vendedor a coisa móvel ou imóvel, caso for vendê-la a terceiro, para que se exerça o direito de prelação (preferência) em igualdade de condições.

d) Reserva de domínio (arts. 521 a 528): o vendedor reserva para si a propriedade do bem até que se realize o pagamento integral do preço.

TROCA OU PERMUTA (art. 533, CC)

As partes se obrigam a dar uma coisa por outra que não seja dinheiro. Operam-se, ao mesmo tempo, duas vendas, servindo as coisas trocadas de compensação recíproca. É anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem o expresso consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante. Em regra aplicam-se as mesmas disposições da compra e venda.

CONTRATO ESTIMATÓRIO (art. 534 a 537, CC)

Alguém recebe de outrem bens móveis, ficando autorizado a vendê-los e obrigando-se a pagar um preço estimado previamente, se não restituir as coisas consignadas, dentro do prazo ajustado. Também conhecido como venda em consignação. O consignante não perde a propriedade da coisa, até que o consignatário a negocie com terceiros. O consignatário deve pagar as despesas de custódia e venda. A coisa consignada não pode ser penhorada por credores do consignatário.

DOAÇÃO (arts. 538 a 564, CC)

Uma pessoa, por liberalidade, transfere de seu patrimônio, bens ou vantagens para o de outra, que os aceita. Espécies: pura e simples, com encargo, condicional, a termo e remuneratória (há o propósito de se recompensar o donatário por serviços prestados). Os ascendentes podem fazer doações a seus filhos, mas isso importa em adiantamento da legítima. Nula será a doação da parte excedente do que poderia dispor em testamento. Há nulidade da doação inoficiosa apenas no que exceder à legítima dos herdeiros. A doação pode ser revogada se houver ingratidão (ex.: atentar contra a vida ou caluniar o doador) ou descumprimento de encargo. Como regra deve ser por escrito (verbal em caso de bens móveis de pequeno valor).

LOCAÇÃO

(arts. 565 a 578, CC e Lei n° 8.245/91, com suas alterações)

Locação de coisas. É o contrato pelo qual uma das partes (locador ou senhorio) se obriga a ceder à outra (locatário ou inquilino), por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa remuneração (art. 565, CC). Se houver mais de um locador ou locatário, entende-se que são solidários, se o contrato não estipulou o contrário. A locação de imóvel urbano é regulada pela Lei n° 8.245/91. O locador só pode exigir uma das seguintes garantias sob pena de nulidade: a) caução (máximo 03 meses); b) fiança; c) seguro-fiança locatícia; d) cessão fiduciária de quotas de fundo de investimento. Durante o prazo convencionado não poderá o locador reaver o imóvel alugado; o locatário poderá devolvê-lo, pagando a multa pactuada. O locatário poderá denunciar a locação por prazo indeterminado mediante aviso por escrito ao locador, com antecedência mínima de trinta dias. No caso de alienação o locatário tem direito de preferência para adquirir o imóvel em igualdade de condições com terceiros.

EMPRÉSTIMO (arts. 579 a 592, CC)

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Alguém entrega uma coisa para outrem, gratuitamente, obrigando-se este a devolver a mesma coisa ou devolver outra da mesma espécie e quantidade. Modalidades:

1) Comodato (arts. 579 a 585, CC): empréstimo de uso em que o bem emprestado deverá ser restituído, não podendo ser fungível ou consumível (uma casa). Não restituindo o bem, o comodante pode ingressar com ação de reintegração de posse e cobrar aluguel.

2) Mútuo (arts. 586 a 592, CC): empréstimo de consumo em que o bem usado, sendo fungível ou consumível, não poderá ser devolvido e a restituição será em seu equivalente, por outra coisa da mesma espécie, qualidade e quantidade (um quilo de feijão). Pode ser gratuito ou oneroso (feneratício).

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS (arts. 593 a 609, CC)

Prestação de serviço (ou locação de serviço) é o contrato em que uma das partes se obriga para com a outra lhe fornecer a prestação da sua atividade, sem vínculo empregatício, mediante remuneração.

EMPREITADA (arts. 610 a 626, CC)

Empreitada ou locação de obras é o contrato pelo qual uma das partes (empreiteiro) se obriga, sem subordinação ou dependência, a realizar, pessoalmente ou por meio de terceiro, certa obra para a outra parte (dono da obra ou comitente), com material próprio ou por este fornecido, mediante remuneração determinada ou proporcional ao trabalho executado. O empreiteiro pode contribuir somente com o seu trabalho ou contribuir com seu trabalho e os materiais. No entanto a obrigação de fornecer os materiais não se presume: resulta da lei ou da vontade das partes.

Obs. Pela disposição atual no Código Civil, a prestação de serviços e a empreitada não são espécies de locação, mas sim contratos autônomos.

DEPÓSITO (arts. 627 a 652, CC)

Uma pessoa (depositária) recebe de outra (depositante) um objeto móvel para guardá-lo, temporária e gratuitamente, até que o depositante o reclame. A Súmula Vinculante no 25 do STF estabelece: “É ilícita a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito”.

MANDATO (arts. 653 a 692, CC)

Alguém (mandatário) recebe de outro (mandante), poderes para, em seu nome (em nome do mandante), praticar atos ou administrar interesses. O instrumento do mandato escrito é a procuração. O mandato pode ser legal, judicial ou convencional (ad judicia ou ad negotia). Substabelecer uma procuração significa conferir a terceira pessoa os poderes que recebeu do mandante.

COMISSÃO (arts. 693 a 709, CC)

Alguém (comissário) adquire ou vende bens, em seu próprio nome e responsabilidade, mas por ordem e conta de outrem (comitente), em troca de remuneração, obrigando-se com terceiros com quem contrata. É intermediação aliada à prestação de serviços. O comissário contrata diretamente com terceiros em seu nome, vinculando-se obrigacionalmente. As pessoas com as quais contrata não podem acionar o comitente; este também não pode acioná-las. Como regra o comissário deve ser empresário (pessoa física ou jurídica), ainda que o comitente não o seja.

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Responsabilidade: O comissário é obrigado a agir com cuidado e diligência, para evitar prejuízos ao comitente e para lhe proporcionar lucro razoável que se podia esperar. Comissão del credere. Modalidade em que o comissário assume a responsabilidade pela solvência daquele com quem vier a contratar no interesse e por conta do comitente. O comissário responde solidariamente com as pessoas com quem tratou em nome do comitente. Por isso, tem direito a remuneração mais elevada, compensando o risco assumido.

AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO (arts. 710 a 721, CC)

Pessoa se obriga, mediante retribuição, a realizar negócios, com habitualidade, em favor e por conta de outrem, sem subordinação hierárquica. O distribuidor compra a mercadoria do fabricante para revendê-la em região por ele determinada, com exclusividade. O fabricante fica obrigado a não vender a mercadoria a outro negociante na mesma região. Previsto também em leis especiais. É contrato bilateral, oneroso, consensual e personalíssimo. Aplicam-se supletivamente as regras do mandato.

CORRETAGEM (arts. 722 a 729, CC)

Pessoa (corretor), sem relação de dependência, se obriga, mediante remuneração, a obter negócios para outrem, conforme instruções recebidas, ou a fornecer-lhe informações necessárias para a celebração. O corretor aproxima pessoas que pretendem contratar, procurando conciliar interesses. Coloca seu cliente em contato com interessados em celebrar contratos com ele. É intermediação entre vendedor e comprador, não se vinculando aos que pretendem efetuar o contrato futuro. Realizado o negócio faz jus à remuneração; não terá culpa se o acordo fracassar.

TRANSPORTE (arts. 730 a 756, CC)

Pessoa ou empresa se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um local para outro, pessoas ou coisas animadas ou inanimadas. Transporte de Coisas: alguém entrega ao transportador objeto para, mediante pagamento de frete, ser remetido a outrem, em local diverso daquele em que foi recebido. Transporte de Pessoas: pessoa se obriga a remover outra de um local para outro, mediante remuneração. Se gratuito (amizade ou cortesia) não se subordina a estas normas.

SEGURO (arts. 757 a 802, CC)

Uma das partes (segurador) se obriga perante outra (segurado), mediante o pagamento de um prêmio, a garantir-lhe interesse legítimo relativo a pessoa ou coisa e a indenizá-la de prejuízo decorrente de riscos futuros, previstos no contrato. Seguro de Dano: Garantia prometida não pode exceder o valor do interesse segurado. Indenização não pode ultrapassar seu valor no momento do sinistro e nunca o limite máximo da garantia fixado na apólice. Seguro de Pessoa: a vida humana pode ser objeto de seguro contra riscos de morte involuntária. O seguro não será pago se o segurado falecer de morte voluntária nos dois primeiros anos de vigência do contrato (ex: suicídio, duelo)

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e quando beneficiário é o assassino do segurado. É admissível o seguro em casos de esportes arriscados, alistamento militar, ato de heroísmo, etc. Seguro de Pessoa: o proponente é obrigado a declarar o interesse em preservar a vida do segurado (cônjuge, ascendente ou descendente).

CONSTITUIÇÃO DE RENDA (arts. 803 a 813, CC)

Alguém (instituidor ou censuísta) entrega capital, em dinheiro, bem móvel ou imóvel, a outrem (rendeiro ou censuário), que se obriga a pagar, temporariamente, renda ou prestação periódica.

JOGO E APOSTA (arts. 814 a 817, CC)

Jogo: duas ou mais pessoas prometem, entre si, pagar certa soma àquela que conseguir um resultado favorável de um acontecimento incerto.

Aposta: convenção em que duas ou mais pessoas de opiniões discordantes sobre qualquer assunto prometem, entre si, pagar certa quantia ou entregar determinado bem àquela cuja opinião prevalecer em virtude de um evento incerto.

Em regra as espécies de jogo ou aposta não obrigam o pagamento. Mas se houver o pagamento este valeu e não se pode pedir a repetição (devolução) da quantia paga. O pagamento não pode ser garantido por nenhum ônus real.

FIANÇA (arts. 818 a 839, CC) ou caução fidejussória

Promessa feita por uma ou mais pessoas de garantir ou satisfazer a obrigação de um devedor, se este não a cumprir, assegurando ao credor seu efetivo cumprimento. Trata-se de um negócio entre credor e fiador. Portanto o devedor (afiançado) não é parte na relação jurídica. Súmulas STJ. 214: O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu. 332: A fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges implica a ineficácia total da garantia. Não confundir fiança com aval.

TRANSAÇÃO (arts. 840 a 850, CC)

As partes, por composição amigável, fazem mútuas concessões, prevenindo ou extinguindo obrigações. Ambos abrem mão de suas pretensões, evitando riscos de futura demanda ou extinguindo litígio já instaurado. Espécies: a) judicial – No curso do processo; b) extrajudicial – Previne ação judicial; formalizada por instrumento público ou particular.

COMPROMISSO (arts. 851 a 853, CC)

As partes, preferindo não se submeter à decisão judicial, confiam a árbitros a solução de conflitos de interesses. Restringe a direitos patrimoniais disponíveis. Espécies: 1. Cláusula compromissória: Promessa por escrito de celebrar o compromisso futuramente (caráter preventivo) caso venha a surgir conflito em um contrato, sendo autônoma em relação a este. Se de adesão só terá eficácia se o aderente concordar expressamente com a arbitragem. 2. Compromisso arbitral – Regulamentação definitiva da arbitragem, feita após o surgimento do conflito

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de interesses. Classifica-se em: a) Judicial – Pendência de processo judicial: faz-se um termo nos autos, cessam as funções do juiz togado e a partes e as pendências se resolvem por meio de árbitros. b) Extrajudicial – Não foi ajuizada ação e não poderá ser proposta, salvo exceções, pois as partes abriram mão do direito.

BIBLIOGRAFIA-BASE

Para a elaboração desta aula foram consultadas as seguintes obras:

DINIZ, Maria Helena – Curso de Direito Civil Brasileiro. Ed. Saraiva.

DINIZ, Maria Helena – Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro Interpretada. Ed. Saraiva.

GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA, Rodolfo Filho – Novo Curso de Direito Civil. Ed Saraiva.

GOMES, Orlando – Direito Civil. Ed Forense.

GONÇALVES, Carlos Roberto – Direito Civil Brasileiro. Ed. Saraiva.

MAXIMILIANO, Carlos – Hermenêutica e Aplicação do Direito. Ed. Freitas Bastos.

MONTEIRO, Washington de Barros – Curso de Direito Civil. Ed. Saraiva.

NERY, Nelson Jr. e Rosa Maria de Andrade – Código Civil Comentado. Ed. Revista dos Tribunais.

PEREIRA, Caio Mário da Silva – Instituições de Direito Civil. Ed. Forense.

RODRIGUES, Silvio – Direito Civil. Ed. Saraiva.

SERPA LOPES, Miguel Maria de – Curso de Direito Civil. Ed. Freitas Bastos.

SILVA, De Plácido e – Vocabulário Jurídico. Ed. Forense.

VENOSA, Silvio de Salvo – Direito Civil. Ed Atlas.

EXERCÍCIOS COMENTADOS

As questões adiante seguem o padrão da CESPE/UnB, julgando as assertivas e colocando CERTO ou ERRADO.

QUESTÃO 01 (CESPE/UNB – TRE/MS – Analista Judiciário – 2013) No tocante aos contratos em espécie, julgue os itens a seguir.

a) A fiança admite interpretação extensiva. b) Se o indivíduo X outorgar, por instrumento público, mandato ao indivíduo Y para, em nome de X, praticar determinados atos e, nesse mesmo instrumento, permitir o substabelecimento dos poderes outorgados, Y poderá substabelecer tais poderes por instrumento particular. c) A venda a contento é cláusula inserida em contrato de compra e venda pela qual o vendedor se reserva o direito de reaver, em certo tempo, o bem alienado.

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d) De acordo com os regramentos relativos ao contrato de seguro e a jurisprudência do STJ, o atraso no pagamento de prestação mensal acarreta o desfazimento automático do contrato, mesmo sem prévia notificação do segurado.

COMENTÁRIOS

a) Errado. Segundo o art. 819, CC a fiança somente poderá ser fornecida por escrito e não admite interpretação extensiva.

b) Certo. Estabelece o art. 655, CC que ainda quando se outorgue mandato por instrumento público, pode substabelecer-se mediante instrumento particular.

c) Errado. A venda a contento (art. 509, CC) consiste na hipótese de venda feita sob condição suspensiva em que o negócio não se aperfeiçoa enquanto o comprador não se declara satisfeito.

d) Errado. O entendimento do STJ é no sentido de que o atraso no pagamento de prestação do prêmio do seguro não importa em desfazimento automático do contrato, para o que se exige, ao menos, a prévia constituição em mora do contratante pela seguradora, mediante interpelação.

QUESTÃO 02 (CESPE/UnB – STM – Analista Judiciário – 2011) Com relação ao Novo Código Civil, julgue os itens seguintes.

a) No contrato de compra e venda, até a tradição, em regra, os riscos pela perda da coisa objeto do contrato correm por conta do comprador.

b) A execução da fiança está subordinada ao não cumprimento da obrigação pelo devedor e, uma vez nula a obrigação principal, a fiança se extingue. Ao contrário, a nulidade do contrato de fiança não tem qualquer efeito no que concerne à validade da obrigação principal.

c) O contrato de mútuo se presta ao empréstimo de coisa infungível, a qual, com a tradição, passa a ser de propriedade do mutuário.

COMENTÁRIOS

a) Errado. Segundo o art. 492, CC, no contrato de compra e venda, até o momento da tradição, os riscos pela perda da coisa objeto do contrato correm por conta do vendedor (e não do comprador).

b) Certo. De fato, a execução de da fiança está subordinada ao não cumprimento da obrigação principal pelo devedor (art. 818, CC). Uma obrigação nula, como regra, não pode ser suscetível de fiança (art. 824, CC). Se mesmo assim foi elaborado o contrato, este também é nulo e deve ser extinto. Porém se o vício atingir apenas à fiança, este fato não contaminará a obrigação principal.

c) Errado. O mútuo é o contrato pelo qual alguém transfere a propriedade de bem fungível, ou seja, que pode ser substituído por outro igual (e não infungível como na afirmação) a outrem, que se obriga a lhe restituir coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade (art. 586, CC). A outra afirmação está correta, pois a coisa recebida em mútuo passa para a propriedade do

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mutuário, que lhe dará o destino que quiser, consumindo-a, guardando-a, emprestando-a para terceiro ou mesmo alienando-a por venda ou doação. A lei não exige um modo especial para a sua celebração (possui forma livre), exceto se for o mútuo oneroso, hipótese que deverá ser convencionada expressamente (art. 591, CC).

QUESTÃO 03 (CESPE/UnB – TJ/AC – Juiz de Direito – 2012) Acerca do contrato de locação, julgue o item que se segue.

a) Nos contratos de locação, é inválida a cláusula de renúncia à indenização das benfeitorias e ao direito de retenção.

COMENTÁRIOS

a) Errado. Segundo a Súmula 335 do Superior Tribunal de Justiça, “Nos contratos de locação, é válida a cláusula de renúncia à indenização das benfeitorias e ao direito de retenção”.

QUESTÃO 04 (CESPE/UnB – TRF/5ª Região – Juiz Federal – 2009) Acerca dos contratos segundo as disposições do Código Civil, julgue os itens subsequentes.

a) o comodatário poderá recobrar do comodante as despesas feitas com o uso e o gozo da coisa emprestada.

b) pelo contrato de depósito recebe o depositário um objeto móvel ou imóvel, para guardar, até que o depositante o reclame.

COMENTÁRIOS

a) Errado. Nos termos do art. 584, CC, o comodatário jamais poderá recobrar do comodante as despesas feitas com o uso e o gozo da coisa emprestada.

b) Errado. O art. 627, CC menciona apenas os bens móveis como objeto do depósito.

QUESTÃO 05 (TRT/9ª Região/PR – Magistratura do Trabalho – 2012) Jéssica Alseda e Marcopolo Fernandes celebraram contrato de comodato de imóvel residencial com vigência de 15/4/2007 a 15/4/2012. Marcopolo, no entanto, não devolveu a Jessica o imóvel ao término do prazo convencionado. Em 30/5/2012, foi notificado extrajudicialmente para desocupar o imóvel no prazo de trinta dias e pagar aluguel de R$ 1.500,00 por mês. Marcopolo ainda permanece no imóvel, não tendo pago qualquer valor a título de aluguel. Baseado nestes fato, julgue as proposições abaixo:

a) Será lícito a Jessica arbitrar o valor do aluguel que será de uma autêntica pena privada, tendo por objetivo central coagir o comodatário a restituir o mais rapidamente possível a coisa emprestada, que indevidamente não foi devolvida no prazo legal.

b) O montante do aluguel-pena, para não se caracterizar como abusivo, não pode ser superior ao dobro da média do mercado, pois não deve também servir de meio para o enriquecimento injustificado do comodante.

COMENTÁRIOS

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a) Certo. Comodato é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis que se perfaz com a tradição do objeto. Nele a posse é transmitida a título provisório (posse precária), sendo o comodatário obrigado a devolvê-la tão logo o comodante a reclame de volta. Com a notificação extrajudicial, extingue-se o comodato, transformando-se a posse anteriormente justa, em injusta, em virtude da recusa de devolução do imóvel após o transcurso do lapso temporal estipulado, caracterizando o esbulho, sendo possível ingressar com a ação de reintegração para reaver o imóvel. Além disso, segundo estabelece a segunda parte do art. 582, CC, o comodatário constituído em mora (no problema, a notificação extrajudicial), além de por ela responder, pagará, até restituí-la, o aluguel da coisa que for arbitrado pelo comodante. Segundo jurisprudência do STJ, a natureza do “aluguel” é de uma autêntica pena privada, e não de indenização pela ocupação indevida do imóvel emprestado. O objetivo central dele não é transformar o comodato em contrato de locação, mas sim coagir o comodatário a restituir o mais rapidamente possível a coisa emprestada, que indevidamente não foi devolvida no prazo legal.

b) Certo. O arbitramento do aluguel-pena não pode ser feito de forma abusiva, devendo respeito aos princípios da boa-fé objetiva (art. 422, CC), da vedação ao enriquecimento sem causa e do repúdio ao abuso de direito (art. 187, CC). Havendo arbitramento em valor exagerado, poderá ser objeto de controle judicial, com eventual aplicação analógica da regra do parágrafo único do art. 575, CC, que, no aluguel-pena fixado pelo locador, confere ao juiz a faculdade de redução quando o valor arbitrado se mostre manifestamente excessivo ou abusivo. Assim, para não se caracterizar como abusivo, o montante do aluguel-pena não pode ser superior ao dobro da média do mercado, considerando que não deve servir de meio para o enriquecimento injustificado do comodante. Gabarito: “C”.

QUESTÃO 06 (CESPE/UnB – TJ/Pará – Juiz de Direito – 2012) Ricardo, casado com Carla, pretende proceder à doação pura e simples de bem imóvel de sua propriedade a seu único filho, Rafael, de quatorze anos de idade. Acerca dessa situação hipotética, julgue os itens a seguir.

a) Mesmo que Ricardo não demonstre os motivos da revogação, a doação poderá ser revogada antes de Rafael completar dezoito anos de idade.

b) O nascimento de outro filho do casal não tornará a doação ineficaz.

c) Para aperfeiçoamento da doação é necessária a aceitação, mesmo que seja tácita.

COMENTÁRIOS

a) Errado. A doação somente poderá ser revogada por ingratidão e pelo não cumprimento de encargo (art. 555, CC). Nenhuma destas hipóteses ocorreu no caso concreto.

b) Certo. O nascimento de outro filho do casal não tornará a doação ineficaz. O que eventualmente pode ocorrer é se considerar esta doação como um adiantamento do que lhe cabe como herança (art. 544, CC)

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c) Errado. No caso, como o donatário é absolutamente incapaz, dispensa-se a aceitação, desde que se trate de doação pura.

QUESTÃO 07 (CESPE/UnB – Defensoria Pública do Estado do Espírito Santo – 2013) Com relação aos contratos, julgue os itens subsequentes, de acordo com o previsto no Código Civil.

a) Caso João venda seu terreno mediante contrato de compra e venda ad corpus, o tamanho do terreno será fator preponderante para a realização do negócio jurídico.

b) Considere que João, proprietário de um apartamento de três quartos, avaliado em R$ 1.000.000,00, proponha a seu descendente José contrato de permuta do referido imóvel pela casa de praia de José, avaliada em R$ 800.000,00. Nessa situação, caso não haja o consentimento dos demais descendentes, o contrato é nulo de pleno direito.

c) Suponha que Manuela doe, verbalmente, a Marcela um broche de ouro avaliado em R$ 200,00. Nessa situação, para que a doação seja válida, é necessário que Manuela entregue o broche a Marcela e redija um instrumento particular formalizando a doação.

d) Caso Marcos empreste sua casa de praia a Joana, esta fica obrigada a conservar a coisa como se sua fosse, devendo pagar a conta de água e de luz referente ao que tiver sido gasto durante o período em que utilizar a casa, podendo, posteriormente, cobrar esses valores de Marcos.

e) Suponha que Carla entregue a Letícia um envelope lacrado a título de depósito voluntário. Nessa situação, conforme o pactuado, não pode Letícia abrir o envelope para verificar o seu conteúdo, devendo devolver o envelope como lhe foi entregue.

COMENTÁRIOS

a) Errado. Considera-se ad corpus (art. 500, §3°, CC) a compra e venda de uma gleba determinada de terra, com limites e confrontações conhecidas por ambos os contratantes e colocados na descrição no título, sendo que as partes não estão interessadas em medidas (neste caso seria venda ad mensuram), mas no todo que compõe a gleba.

b) Errado. Segundo o art. 533, II, CC, é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante.

c) Errado. De fato, como regra, uma doação deve ser feita por escritura pública ou instrumento particular. No entanto, estabelece o parágrafo único do art. 541, CC que a doação verbal será válida, se, versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição.

d) Errado. O acordo celebrado é um comodato. Nos termos do art. 582, CC, o comodatário é obrigado a conservar, como se sua própria fora, a coisa emprestada, não podendo usá-la senão de acordo com o contrato ou a natureza dela, sob pena de responder por perdas e danos. Completa o art.

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584, CC no sentido de que o comodatário não poderá jamais recobrar do comodante as despesas feitas com o uso e gozo da coisa emprestada.

e) Certo. Trata-se do contrato de depósito. Segundo o art. 627, CC, pelo contrato de depósito recebe o depositário um objeto móvel, para guardar, até que o depositante o reclame. Completa o art. 630, CC que, se o depósito se entregou fechado, colado, selado, ou lacrado, nesse mesmo estado se manterá.

QUESTÃO 08 (CESPE/UNB – TRE/MS – Analista Judiciário – 2013) Considere a seguinte situação hipotética. Célia, ao retornar para a sua residência, deu carona a Pedro, seu colega de universidade, vizinho e trabalhador autônomo, e, no trajeto, ao passar por um buraco na pista, Célia perdeu o controle do carro, que colidiu contra um poste. Devido a esse acidente, Pedro se feriu gravemente e ficou hospitalizado por dois meses. Nessa situação, Célia poderá ser responsabilizada pelos danos causados a Pedro. COMENTÁRIOS a) Errado. De acordo com a Súmula 145 do STJ, “No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave”.

QUESTÃO 09 (CESPE/UnB – TRT/10ª Região/DF/TO – Analista Judiciário – 2013) Julgue o próximo item relativo aos contratos.

a) Se o indivíduo “A” receber do indivíduo “B”, mediante contrato estimatório, duas dúzias de bordados, esses bens não poderão ser penhorados pelos credores de A, salvo se o preço já houver sido pago integralmente.

COMENTÁRIOS

a) Contrato estimatório (arts. 534 a 537, CC) é aquele em que alguém recebe de outrem bens móveis, ficando autorizado a vendê-los e obrigando-se a pagar um preço estimado previamente, se não restituir as coisas consignadas, dentro do prazo ajustado. Também conhecido como venda em consignação. O consignante não perde a propriedade da coisa, até que o consignatário a negocie com terceiros. Nos termos do art. 536, CC a coisa consignada não pode ser objeto de penhora ou sequestro pelos credores do consignatário, enquanto não pago integralmente o preço.

QUESTÃO 10 (CESPE/UnB – TJ/RO – Analista Processual – 2012) Pedro vendeu um apartamento a Paulo, o qual se comprometeu a oferecer primeiro a Pedro na hipótese de pretender vender o referido imóvel futuramente. Nesse caso, verifica-se a figura da cláusula de

a) venda com encargo. b) venda a termo. c) preempção. d) condição.

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e) retrovenda. COMENTÁRIOS. Segundo o art. 513, CC, a preempção, ou preferência, impõe ao comprador a obrigação de oferecer ao vendedor a coisa que aquele vai vender, ou dar em pagamento, para que este use de seu direito de prelação na compra, tanto por tanto. Gabarito: “C”.

QUESTÕES CESPE/UnB MAIS ANTIGAS

ANTIGAS 01 (CESPE/UnB – Procurador do Estado da Paraíba – 2008) Com relação aos contratos, julgue os itens a seguir:

a) O comodato, se remuneratório, equivale ao mútuo, por isso transfere o domínio da coisa e assegura ao proprietário proteção possessória quando vencido o prazo ajustado, bem como assegura o direito de resolver o contrato se o comodatário deixar de pagar a retribuição pelo uso do bem.

b) Na venda de imóveis por extensão, se o comprador verificar que a área existente não corresponde às dimensões dadas pelo vendedor, o comprador irá obter redução proporcional do preço, em razão de vício oculto, que lhe diminua o valor.

COMENTÁRIOS

a) Errado. No comodato não se transfere o domínio da coisa; apenas a sua posse. Não há comodato remuneratório. No máximo, o que pode haver é a imposição de algum ônus (como o pagamento do IPTU e/ou condomínio).

b) Errado. Pelo art. 500, CC, se, na venda de um imóvel, se estipular o preço por medida de extensão ou se determinar a respectiva área (venda ad mensuram), e esta não corresponder, em qualquer dos casos, às dimensões dadas, o comprador terá o direito de exigir o complemento da área, e, não sendo isso possível, o de reclamar a rescisão do contrato ou abatimento proporcional ao preço. Portanto não é caso de vício oculto que lhe diminua o valor.

ANTIGAS 02 (CESPE/UnB – Defensor Público da União) Julgue os itens seguintes, acerca dos contratos regidos pelo Código Civil.

a) A retrovenda é condição resolutiva expressa do contrato, simplesmente potestativa, e consiste na vontade unilateral e imotivada do alienante de reaver o imóvel, desde que indenizado o comprador. O direito de retrato não é suscetível de cessão por ato entre vivos, nem transmissível aos herdeiros por causa de morte do alienante, isto é, por sucessão hereditária.

b) João Victor alienou seu veículo automotor a Monalisa, sua única filha, sem o consentimento expresso de seu cônjuge. Nesse caso, a referida venda é sempre anulável, podendo, outrossim, ser validada pelo consentimento posterior do cônjuge.

c) A fiança dada por duas ou mais pessoas acarreta sempre na solidariedade entre os fiadores. A referida solidariedade se apresenta entre os fiadores e o devedor principal. Assim, se o devedor principal não pagar o débito, cada

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fiador obriga-se a pagá-lo na totalidade. Poderá o credor executar todos eles e, se forem penhorados bens de todos, os fiadores têm o direito de exigir que os bens do executado sejam leiloados primeiro.

COMENTÁRIOS

a) Errado. Pelo art. 507, CC o direito de retrato é cessível (inter vivos) e transferível causa mortis aos herdeiros e legatários.

b) Errado. Nem sempre é anulável, pois nos termos do art. 544, CC a doação de ascendente para descendente pode se constituir em adiantamento da legítima.

c) Errado. Podem os fiadores, entre si, prever expressamente no contrato de fiança, que se utilizarão o benefício de divisão, isto é, de que a obrigação entre eles seja divisível. Neste caso, cada fiador responderá apenas pela parte que lhe couber em proporção no pagamento (art. 829 e parágrafo único, CC).

ANTIGAS 03 (CESPE – CEF – Técnico Bancário – 2006) Os bancos, em suas operações ativas, que são aquelas por meio das quais eles emprestam dinheiro a seus clientes, buscam resguardo por meio de sistemas de garantias. As garantias mais utilizadas pelos bancos são as chamadas cauções pessoais (o aval e a fiança) e as cauções reais (a hipoteca, o penhor e a alienação fiduciária). Diante dessas informações e com base na legislação vigente, julgue os itens a seguir.

a) A hipoteca tem como regra o oferecimento de coisas imóveis do devedor ou de terceiros.

b) O penhor, em regra, é constituído pela transferência efetiva da posse de coisa móvel, suscetível de alienação, que o devedor faz em garantia do débito ao credor.

c) O aval difere da fiança em vários pontos; um deles é que, em regra, o aval não requer a outorga conjugal para a sua validade.

d) A fiança pode ser prestada por menor de idade, desde que esse menor seja emancipado ou haja autorização judicial.

e) O avalista pode desistir de ser avalista, desde que comunique ao credor essa decisão por escrito.

COMENTÁRIOS

a) Certo. Esta matéria pertence ao direito das coisas. No entanto, segundo o art. 1.743, I, CC a hipoteca recai em regra sobre bens imóveis.

b) Certo. Nos termos do art. 1.431, CC.

c) Errado. Ambos necessitam da outorga conjugal.

d) Questão muito controvertida. Não deveria ter caído. Mas caiu e não foi anulada. O gabarito deu a afirmação como errada. No entanto os autores de uma forma geral afirmam que se a fiança for prestada por pessoa emancipada ela é válida. Porém a professora Maria Helena Diniz entende que a emancipação confere o direito de administrar seus próprios negócios e a fiança

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é uma obrigação por dívida alheia. Tal posição, ao que parece, foi acolhida pela CESPE. Mas repito... há controvérsia a respeito.

e) Errado. O avalista não pode desistir de continuar a sê-lo simplesmente comunicando ao credor a sua decisão. O aval até pode ser cancelado, mas o credor deve permitir tal situação; não se trata de uma decisão unilateral do avalista, mas bilateral.

CAROS ALUNOS

Como o CESPE possui poucos exercícios sobre este tema, entendi que seria interessante inserir nesta aula mais exercícios, só que estes são de variados, ou seja, de bancas examinadoras variadas, elaboradas pelo professor, mais antigas, etc. O intuito é somente para reforçar o estudo.

EXERCÍCIOS VARIADOS

01) Sobre o contrato de compra e venda, marque a opção INCORRETA.

a) é nulo quando se deixa ao arbítrio exclusivo de uma das partes a fixação do preço.

b) quando o contrato de compra e venda for puro, considera-se obrigatório e perfeito, desde que as partes acordem no objeto e no preço.

c) é lícito o contrato de compra e venda entre os cônjuges, com relação a bens pertencentes à comunhão.

d) a cláusula de reserva de domínio deve ser estipulada por escrito e depende de registro para valer contra terceiros.

COMENTÁRIOS. Alternativa incorreta: letra “c”. O contrato de compra e venda entre cônjuges só pode dizer respeito a bens excluídos da comunhão, ou seja, só pode recair sobre bens particulares, conforme determinação do art. 499, CC. Como vimos o contrato está perfeito quando há acordo sobre a coisa e o preço (consensus, res e pretium), sendo nulo quando há arbítrio de uma das partes em relação a qualquer de seus elementos (portanto as letras “a” e “b” estão corretas). Na cláusula com reserva de domínio se estipula em contrato de compra e venda de coisa móvel, que o vendedor reserve para si a propriedade do bem, até o momento em que se realize o pagamento integral do preço. Somente neste momento o negócio terá eficácia plena. O vendedor transfere ao comprador a posse da coisa, mas conserva a propriedade até o pagamento total do preço (art. 521, CC). Trata-se de um contrato formal (solene), que deve ser feito por escrito. Para ter efeito perante terceiros (erga omnes) ainda deve ser registrado no Cartório de Títulos e Documentos.

02) (OAB/SP – 2007) São pactos adjetos à compra e venda com previsão legal, EXCETO: a) a retrovenda. b) a preempção. c) a venda a contento.

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d) a venda com reserva de domínio. e) o laudêmio.

COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra “e”. O contrato de compra e venda pode ser puro e simples. Mas se as partes assim desejarem, o contrato pode ser acompanhado de algumas cláusulas especiais. Estas não retiram sua essência, apenas alteram sua fisionomia. O Código Civil usa o termo “cláusulas especiais”, mas a doutrina costuma chamá-las de “pactos adjetos” à compra e venda e os concursos também gostam desta terminologia (para que simplificar se eu posso complicar?). Pacto quer dizer acordo; adjeto, de adjetivo, de qualidade ou acessório do principal. Eles estão previstos expressamente na lei: retrovenda (arts. 505/508, CC); venda a contento e da sujeita a prova (arts. 509/512, CC); preempção ou direito de preferência (arts. 513/520, CC); venda com reserva de domínio (arts. 521/528, CC) e a venda sobre documentos (arts. 529/532, CC). Portanto, a única hipótese que não é um pacto adjeto é o laudêmio. Este termo é analisado na aula referente ao Direito das Coisas, em especial na Enfiteuse. Antecipando o tema, laudêmio é uma quantia que alienante de um imóvel dado em enfiteuse paga ao proprietário do imóvel por ocasião da venda do mesmo. É de se acrescentar que para o Direito Civil está proibida a cobrança do laudêmio (art. 2.038, §1°, I, CC).

03) Sobre o contrato de compra e venda é CORRETO afirmar que: a) pode ser gratuito. b) é sinalagmático. c) é sempre solene. d) só é válido se registrado no registro de imóveis e) se não for cumprido acarretará sempre perdas e danos.

COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra “b.” Sinalagmático quer dizer bilateral. O contrato de compra e venda é bilateral, pois cria obrigações para ambos contratantes. As demais alternativas estão erradas. A compra e venda não pode ser gratuita (se assim fosse seria doação). Nem sempre uma compra e venda é um ato solene: quando o objeto for um bem móvel de pequeno valor ela pode ser até verbal. Não é necessário o registro do contrato no registro de imóveis, especialmente se o bem for móvel. Finalmente, nem sempre o não cumprimento do contrato gera perdas e danos. É possível que o não cumprimento (inadimplemento) se deu por caso fortuito ou força maior. Nestes casos não há indenização.

04) Um pequeno agricultor colheu toda a sua produção de café, guardando-a em um depósito. Dirigiu-se à cidade e vendeu toda colheita, inclusive assinando um contrato a respeito. Foi marcado um encontro para a entrega da colheita. No dia marcado o agricultor compareceu ao local designado, porém o comprador não compareceu. Naquele dia houve uma grande tempestade, que molhou toda a produção, estragando todo café. Neste caso o dano:

a) será suportado pelo vendedor, posto que a tempestade é considerada caso fortuito.

b) será suportado pelo comprador, pois o mesmo estava em mora.

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c) será suportado pelo comprador, posto que o café é um produto que precisa ser medido (pesado) para que a venda se torne perfeita.

d) será suportado pelo vendedor, pois ele assume todos os riscos até a entrega, especialmente quando ocorre algum fato de natureza (tempestade).

e) será suportado por ambos, comprador e vendedor, pois uma tempestade, sendo considerada como caso fortuito, os riscos são divididos equitativamente.

COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra “b”. Segundo o art. 492, CC até o momento da tradição (entrega), os riscos da coisa correm por conta do vendedor e os do preço por conta do comprador. Portanto, se a tempestade caísse antes da entrega e estragasse a colheita, o prejuízo seria suportado somente pelo vendedor, embora não gerasse perdas e danos. No entanto, no caso concreto, o vendedor foi ao local no dia combinado para a entrega da colheita, colocando a coisa a sua disposição, sendo que o comprador não compareceu. Por tal motivo o comprador está em mora. Neste caso aplica-se o §2° do mesmo dispositivo: correrão por conta do comprador os riscos das coisas, se estiver em mora de recebê-las, quando postas a sua disposição no tempo, lugar e modo ajustados.

05) O direito que tem o vendedor de readquirir o imóvel que vendeu dentro de certo prazo, restituindo o preço recebido e reembolsando as despesas ao comprador, denomina-se: a) venda a contento. b) preempção. c) pacto comissório. d) retrovenda. e) perempção.

COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra “d”. Trata-se da retrovenda, disciplinada nos arts. 505 a 508, CC. Este instituto não é utilizado, por não ser muito conveniente na prática (ex: eu vendo um imóvel para você; posteriormente você deve revendê-lo para mim pelo mesmo preço que comprou). Trata-se de uma condição resolutiva.

06) É considerada como venda sob condição suspensiva a: a) retrovenda. b) venda com pacto comissório. c) preempção. d) venda por amostra. e) venda a contento.

COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra “e”. A venda a contento (art. 509, CC) consiste na hipótese de venda feita sob condição suspensiva. Isto porque a venda não se aperfeiçoa enquanto o comprador não se declara satisfeito. Ex: A vende para B um utensílio doméstico, entregando-lhe o objeto. No entanto, a conclusão do negócio fica na dependência de B

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manifestar sua aceitação, após provar o produto ou depois de determinado prazo. Até esse ato a coisa ainda pertence ao vendedor.

07) Relaciona-se com direito de preferência a: a) preempção. b) venda com pacto comissório. c) venda a contento. d) perempção. e) venda por amostra

COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra “a”. Direito de preferência tem como sinônimos: prelação e preempção. Cuidado para não confundir com perempção que outro instituto, referente à hipoteca; tal instituto também é estudado no Direito Processual Civil e Processual Penal, embora com outro significado.

08) A cláusula inserida no contrato de compra e venda pela qual o vendedor reserva para si a propriedade até que o preço esteja integralmente pago chama-se: a) retrovenda. b) venda a contento. c) preempção. d) reserva de domínio. e) pacto comissório.

COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra “d”. Segundo o art. 521, CC pela venda com reserva de domínio o vendedor pode reservar para si a propriedade até que o preço esteja integralmente pago. Ex: vendo meu carro para você em dez prestações. Eu lhe dou a posse imediata do bem. Mas a propriedade somente será entregue após a quitação das dez prestações. Antes disso eu mantenho a propriedade em meu nome. Esta cláusula deve ser sempre expressa no contrato (ou seja, estar prevista por escrito).

09) São elementos do contrato de compra e venda, além dos elementos gerais dos atos jurídicos: a) a tradição e a transcrição. b) o preço, a coisa e a forma prescrita em lei. c) o preço, o consenso e a forma prescrita em lei. d) o preço, a coisa e a transcrição. e) o preço, a coisa e o consenso.

COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra “e”. Pelo que se extrai do art. 481, CC, são elementos dos contratos de compra e venda, além dos comuns a todos os atos jurídicos e a todos os contratos: a) coisa (é o objeto da compra e venda seja ela corpórea ou incorpórea, podendo se referir a uma coisa futura, como a safra a ser colhida); b) preço (é a quantia certa em dinheiro ou por coisas representativas de dinheiro, como o cheque, que o comprador é

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obrigado a pagar pela coisa) e c) consentimento (é o acordo de vontade entre os contratantes sobre a coisa, o preço e as demais condições do negócio – lembrem-se de que é nulo o contrato em que o preço é fixado ao arbítrio exclusivo de uma das partes).

10) Considere as assertivas abaixo a respeito do contrato de compra e venda.

I. Pode ser válida a compra e venda de bens que inexistem no momento da celebração do contrato.

II. Como um contrato somente obriga e relaciona o contratante, o preço não pode ser fixado por terceira pessoa.

III. Até o momento da tradição, os riscos da coisa correm por conta do vendedor e os do preço por conta do comprador.

Quais são as afirmativas VERDADEIRAS? a) apenas a I. b) apenas a III. c) apenas a I e III. d) apenas a II e III. e) todas estão corretas.

COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra “c”. Estão corretas as afirmações I e III. A afirmação I está correta, pois o art. 483, CC prevê que a compra e venda pode ter por objeto coisa atual ou futura. Lembrando que o contrato ficará sem efeito se a coisa não vier a existir (salvo se a intenção era a de realizar contrato aleatório – com risco). A afirmação II está errada. O art. 489, CC dispõe que é nulo o contrato quando a fixação do preço é deixada ao arbítrio de uma das partes; porém o art. 485, CC permite que ele seja deixado ao arbítrio de terceiro, que os contratantes logo designarem ou prometerem a designar. A assertiva III está correta, pois é o que dispõe expressamente o art. 492, CC.

11) (FCC – Auditor-Fiscal Tributário Municipal de São Paulo – ISS/SP - 2007) Caio vendeu a Tício imóvel de sua propriedade, pelo preço de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Durante as negociações, Caio mencionou que o imóvel tinha área de 1.000 m² (mil metros quadrados). Todavia, ao ingressar na posse, Tício constatou que a área, na realidade, era de 900 m² (novecentos metros quadrados). Neste caso, Tício a) não terá direito à restituição proporcional do preço, em nenhuma hipótese. b) terá direito à restituição proporcional do preço, se a venda houver sido estipulada ad mensuram. c) terá direito à restituição proporcional do preço, se a venda houver sido estipulada ad corpus. d) teria direito à restituição proporcional do preço, se a diferença não fosse superior a 1/20 (um vigésimo) da área declarada. e) terá direito à restituição proporcional do preço, em qualquer hipótese.

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COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra “b”. Um contrato de venda de terras pode ser feito de duas maneiras: ad mensuram e ad corpus. A venda ad mensuram ou por medida (art. 500, CC) é aquela em que se fixa área determinada e estipula o preço por medida de extensão. O comprador adquire uma determinada metragem de terreno e o vendedor tem de entregar a quantidade vendida (há uma tolerância em favor do vendedor de até menos de 1/20 da área total enunciada). Se a medida for menor, o comprador terá o direito de exigir o complemento da área, e, não sendo possível, o de reclamar a rescisão do contrato ou abatimento proporcional do preço. Se a área encontrada for maior do que a declarada no título, o vendedor tem direito, por escolha do comprador, de receber a complementação do preço ou a devolução do excesso, desde que o vendedor possa provar que tinha motivo suficiente para ignorar a medida exata da área vendida. Tanto o vendedor quanto o comprador têm o prazo de um ano para ingressaram com as ações correspondentes (art. 501, CC). Considera-se ad corpus (art. 500, §3°, CC) a compra e venda de uma gleba determinada de terra, com limites e confrontações conhecidas por ambos os contratantes e colocados na descrição no título. As partes não estão interessadas em medidas, mas no todo que compõe a gleba. Neste caso não haverá complementação da área e nem devolução do excesso.

12) Negando-se o comodatário, constituído em mora, a devolver o bem ao comodante...

a) fica obrigado a restituir a coisa com juros legais, juros compensatórios e penalidades moratórias e, em se tratando de comodato de dinheiro, a restituir em dobro o valor emprestado.

b) passa a dever ao comodante valor correspondente a aluguel pelo uso do bem, até a sua efetiva devolução.

c) comete esbulho, sujeitando-se à propositura de ação de reintegração de posse, sem pagamento de aluguel, pois é gratuito o comodato.

d) não responde pelo perecimento do bem em caso de força maior ou por caso fortuito, a não ser que não tenha tomado as cautelas de praxe para a guarda da coisa e que não tenha registrado o contrato de comodato no Cartório competente.

COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra “b”. O comodato é o empréstimo gratuito de coisa não fungível (ou seja, que não pode ser substituída), também chamado de empréstimo de uso. Por determinação do art. 582, CC, caso o comodatário se negue a restituir o bem, responderá por qualquer dano causado e deverá pagar aluguel fixado pelo comodante. A letra “a” contém um erro sério, pois não existe comodato de dinheiro. Como vimos o comodato é para bens infungíveis (não pode ser substituído por outro igual) e o dinheiro é coisa fungível. A letra “c” também está errada. Embora o comodatário esteja sujeito a ação de reintegração de posse, fica responsável, também, pelo pagamento do aluguel da coisa que não devolveu (art. 582, CC). Se o comodatário for constituído em mora, terá responsabilidade total sobre a coisa,

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devendo reparar eventual dano ainda que se possa atribuir a caso fortuito ou força maior (art. 583, CC).

13) (Advogado da I.R.B. – Brasil Resseguros – 2006) É obrigação do comodante: a) pagar despesas ordinárias feitas com o uso e gozo da coisa. b) responsabilizar-se, solidariamente, se houver mais comodatários. c) restituir a coisa emprestada in natura no momento devido. d) pagar não só as despesas extraordinárias e necessárias, feitas em caso de urgência, para a conservação da coisa, mas também os dispêndios não relacionados com a fruição do bem dado em comodato. e) responder pela mora, suportando os riscos.

COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra “d”. Inicialmente temos que saber “quem é quem” no comodato. Comodante é a pessoa que empresta a coisa (de forma gratuita). Já o comodatário é a pessoa que toma a coisa emprestada e tem o dever de devolvê-la posteriormente, quando do término do contrato. Portanto todas as alternativas (a exceção da letra “d”) são deveres do comodatário e não do comodante. Este continuará responsável pelas despesas extraordinárias e necessárias. Exemplo: empresto o meu apartamento para um amigo. Se em uma reunião de condôminos fica resolvida a reforma da parte da entrada do edifício, como embelezamento e mesmo para uma melhor segurança dos moradores, com instalação de circuito interno de câmeras, etc., esta despesa deverá ser paga por mim (comodante), o mesmo ocorrendo em uma locação.

14) (OAB/SP – 2007) Comodatário (dentro do prazo estabelecido no contrato) vê a moto que lhe foi emprestada desaparecer por conta de um caso fortuito. Neste caso, é CORRETO afirmar que: a) o comodante tem direito à indenização pelo valor da moto, além das demais perdas e danos. b) o comodante tem direito apenas à indenização pelo valor da moto. c) o comodatário nada deve ao comodante e a obrigação de restituir está extinta. d) a obrigação está mantida, devendo o comodatário restituir um bem do mesmo gênero e qualidade.

COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra “c”. Embora a questão fale especificamente sobre o comodato, esta é uma regra comum a todo o Direito das Obrigações. Em qualquer obrigação de restituir coisa certa (obrigação de dar), se esta se perder ou se deteriorar antes da tradição, sem culpa do devedor, sofrerá o credor a perda e a obrigação se extinguirá para ambas as partes. Trata-se da regra res perit domino (ou creditori), ou seja, a coisa perece para o dono (ou para o credor). Assim, se a coisa se perde sem culpa do devedor, quem arca com o prejuízo é o credor, consoante os termos do art. 238, em consonância com o art. 234, ambos do Código Civil. No entanto, se houver culpa do devedor, responderá ele pelo valor do bem, acrescido de perdas e danos.

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15) Assinale a alternativa INCORRETA, relativamente ao mandato. a) o mandante é obrigado a satisfazer todas as obrigações contraídas pelo mandatário, na conformidade do mandato conferido, e adiantar a importância das despesas necessárias à execução dele quando o mandatário lhe pedir. b) o mandante é obrigado a pagar ao mandatário a remuneração ajustada e as despesas da execução do mandato, ainda que o negócio não surta o efeito esperado, salvo se o mandatário for culpado pela não conclusão do negócio. c) o mandato presume-se oneroso quando o contrário não tiver sido estipulado pelas partes. d) o mandatário que exceder os poderes do mandato, ou proceder contra eles, será considerado gestor de negócios, enquanto o mandante não lhe ratificar os atos.

COMENTÁRIOS. Alternativa incorreta: letra “c”. Mandato é contrato pelo qual alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses. O art. 658, CC estabelece presunção relativa (também chamada de presunção juris tantum, ou seja, que admite prova em contrário) de gratuidade do mandato quando não houver estipulação contratual, exceto se o seu objeto corresponder ao daqueles em que o mandatário trata por ofício ou profissão lucrativa (ex: um advogado, um despachante, etc.). Portanto, o estipulado pelo Código Civil é exatamente o contrário do que está disposto na questão. As demais alternativas estão corretas.

16) (OAB/SP – 2007) Sobre o mandato, é ERRADO afirmar que: a) o noivo pode ser representado por mandatário na celebração do casamento. b) outorgado mandato por instrumento público com o fim especial de o mandatário alugar a casa do mandante, eventual substabelecimento pode ser feito por instrumento particular. c) o mandato pode ser verbal. d) é nulo o mandato que contiver a cláusula “em causa própria”. e) a aceitação do mandato pode ser tácita.

COMENTÁRIOS. Alternativa errada: letra “d”. O mandato que tenha a cláusula “em causa própria” é aquele em que o beneficiário é o próprio mandante. O exemplo clássico é aquele em que uma pessoa (mandante) dá poderes a outra (mandatário) vender uma casa, sendo que esta pode vendê-la para si mesmo (daí em causa própria) ou para terceira pessoa. Ao contrário do que constou na alternativa, ele é considerado válido (art. 685, CC), porém ele é irrevogável. Assim, eventual “revogação” não terá eficácia e nem se extinguirá pela morte de qualquer das partes. A letra “a” está correta, pois um casamento pode ser celebrado por procuração, conforme prevê o art. 1.542, CC. No entanto exige-se que o procurador tenha poderes especiais para tanto e que a procuração seja feita por instrumento público. A letra “b” está correta, pois o art. 655, CC prevê que ainda quando se outorgue mandato por instrumento público, pode substabelecer-se mediante instrumento particular. A letra “c” está correta, pois o art. 656, CC permite que o mandato seja expresso

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ou tácito, verbal ou escrito. Finalmente a letra “e” também está correta, pois o art. 659, CC admite a aceitação do mandato de forma tácita.

17) Se Carlos, ao instituir Roberto e Maurício como seus mandatários, delimitar, no instrumento do mandato a ação de cada um ter-se-á mandato plural... a) conjunto. b) solidário. c) ad negotia. d) substitutivo. e) fracionário.

COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra “e”. Chamamos de singular (ou simples) o mandato em que há apenas um mandatário. Quando há vários mandatários chamamos de plural. Neste caso há uma subclassificação. O fracionário é aquele em que a ação de cada mandatário está delimitada, devendo cada qual agir em seu setor. O conjunto ocorre quando os mandatários não puderem agir separadamente; todos devem agir em conjunto. O solidário ocorre quando os mandatários podem agir separadamente e independentemente da ordem de nomeação (qualquer um pode fazer qualquer coisa). O substitutivo é aquele em que um pode agir na falta do outro, mas observando sempre a ordem de nomeação.

18) Durante a vigência de uma locação residencial (Lei n° 8.245/91) com prazo determinado de 30 (trinta) meses, o locador:

a) não poderá reaver o imóvel locado; o locatário poderá devolvê-lo, pagando proporcionalmente a multa pactuada no contrato.

b) somente poderá reaver o imóvel locado se demonstrar que necessita do mesmo para uso próprio; o locatário somente poderá devolvê-lo se for transferido de emprego para fora da Comarca onde se situa o imóvel.

c) somente poderá reaver o imóvel locado se demonstrar que necessita do mesmo para uso próprio, para ascendente ou descendente; o locatário não poderá devolvê-lo, a não ser que notifique o locador de seu intento com antecedência mínima de seis meses e pague integralmente a multa prevista no contrato.

d) não poderá reaver o imóvel locado em hipótese alguma; o locatário não poderá devolvê-lo em hipótese alguma.

COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra “a”. Nas locações residências (Lei n° 8.245/91) ajustadas por escrito e por prazo igual ou superior a trinta meses, a extinção do contrato ocorrerá quando findar o prazo ajustado, independentemente de notificação ou aviso (art. 46). Durante este período o locador não poderá reaver o imóvel locado (art. 4o), nem mesmo nas hipóteses de “denúncia cheia”. Somente haverá o despejo em situações anormais, como o não pagamento do aluguel, descumprimento de alguma cláusula contratual, etc. Já o locatário poderá devolver o imóvel, desde que pague proporcionalmente a multa pactuada no contrato. Se a locação estiver

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vinculada com a atividade de trabalho e ocorrer transferência de emprego para outro local, o inquilino ficará isento do pagamento da multa (parágrafo único do art. 4o). Terminado o prazo ajustado, se o locatário continuar na posse do imóvel alugado por mais de trinta dias sem oposição do locador, presumir-se-á prorrogada a locação por prazo indeterminado, mantidas as demais cláusulas e condições do contrato. Ocorrendo a prorrogação, o locador poderá pedir o imóvel para si a qualquer tempo, concedido o prazo de trinta dias para desocupação (art. 46, §§1o e 2o).

19) Durante a vigência de uma locação residencial (Lei n° 8.245/91) com prazo determinado de 30 (trinta) meses:

a) o locador poderá, imotivadamente, devolver o imóvel, indenizando o inquilino das despesas de mudança e pagando a multa pactuada.

b) o locatário poderá, imotivadamente, devolver o imóvel e pagar a multa proporcional ao locador.

c) nem o locador, nem o locatário poderão, em hipótese alguma, denunciar o contrato imotivadamente, pois devem respeitar o prazo contratual estabelecido.

d) o locatário não poderá imotivadamente, devolver o imóvel, mas o locador poderá denunciar o contrato se pedir o imóvel para uso próprio, ou para ascendente ou descendente.

COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra “b”. Nas locações residenciais ajustadas por escrito e por prazo igual ou superior a trinta meses, durante a vigência do contrato o locador não poderá denunciar (reaver o imóvel locado), conforme o art. 46 da lei inquilinária. Já o locatário poderá devolver o imóvel, desde que pague proporcionalmente a multa pactuada no contrato (art. 4o).

20) De acordo com a lei inquilinária (Lei n° 8.245/91), é vedado, sob pena de nulidade da cláusula contratual, exigir: a) no mesmo contrato, dois ou mais casais de fiadores. b) no mesmo contrato, seguro fiança e fiança bancária. c) no contrato de locação para temporada, garantia fidejussória. d) quando não houver garantia alguma, o pagamento antecipado do aluguel.

COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra “b”. Observem que a questão, na verdade, deseja que o candidato aponte a alternativa que não é admitida pela Lei do Inquilinato. E o que não é permitido é a exigência de mais de uma modalidade de garantia em um mesmo contrato de locação (art. 37, parágrafo único). A letra “a” está correta, pois não há nada que impeça a nomeação de dois (ou até mais) casais de fiadores. A letra “c” está correta, ou seja, na locação para temporada o locador pode exigir garantia fidejussória. Lembrem-se que esta expressão significa fiança. Em outras palavras, o locador pode exigir que o locatário apresente um fiador. Isto porque o art. 49 permite que se exija “qualquer das modalidades de garantia previstas no art. 37”. A letra “d” está correta, pois o art. 20 determina que a regra é que não se pode exigir o pagamento antecipado do aluguel. Mas o próprio dispositivo estabelece duas

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exceções: a) locação para temporada (em que pode haver não só o pagamento antecipado, com também integral – art. 49); b) quando a locação não estiver garantida por nenhuma das modalidades previstas em lei (caução, fiança ou seguro de fiança) – art. 42.

21) A respeito da matéria de locação de imóvel urbano, assinale a assertiva CORRETA:

a) vigorando a locação por prazo determinado, o locatário não pode pôr fim ao contrato para devolver o imóvel.

b) o direito de preferência do locatário outorga ao seu titular apenas efeitos obrigacionais.

c) o locatário pode exigir indenização por benfeitorias necessárias, ainda que não autorizadas pelo locador.

d) fiança e seguro de fiança locatícia são modalidades de garantia previstas para a locação de prédio urbano, sendo permitida sua cumulação num mesmo contrato.

COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra “c”. Como regra, as benfeitorias necessárias (art. 96, §3º, CC) introduzidas pelo locatário, ainda que não autorizadas pelo locador e as úteis (art. 96, §2°, CC), desde que autorizadas, são indenizáveis. No entanto, é possível que o contrato estabeleça outras regras a respeito (art. 578, CC e art. 35 da Lei n° 8.245/91). A letra “a” este errada, pois durante o prazo determinado no contrato de locação, o locatário pode por fim ao contrato e restituir a posse direta do bem imóvel ao proprietário, desde que pague a cláusula penal compensatória constante no título (que poderá ser reduzida equitativamente pelo juiz – art. 413, CC), ou, na falta desta, eventualmente, a multa estipulada judicialmente. Lembrando que a cláusula penal compensatória pode ser afastada no caso do locatário (com a devida notificação por escrito ao locador), restituir o imóvel em decorrência de transferência de local de serviço (art. 4o, parágrafo único da Lei n° 8.245/91). A letra “b” está errada. De fato, o locatário goza de preempção (direito de preferência) legal sobre o bem locado no caso de venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de direitos ou dação em pagamento, devendo o locador dar-lhe ciência inequívoca da proposta com todas as condições do negócio (preço, forma de pagamento, existência de ônus reais etc.). Por sua vez o locatário deve se manifestar, sob pena de decadência, no prazo de trinta dias (art. 27 e 28 da Lei n° 8.245/91). Se o locatário for preterido em seu direito de preferência são gerados direitos com efeitos pessoais (exigir perdas e danos) e reais (haver para si o imóvel locado). Nesta última hipótese o locatário deve oferecer o preço e mais despesas de transferência, requerendo no prazo de seis meses a contar do registro do ato no cartório de imóveis, desde que o contrato de locação esteja averbado junto à matricula do imóvel (sendo subscrito por duas testemunhas) pelo menos trinta dias antes da alienação (art. 33 da Lei n° 8.245/91 e arts. 167, inciso II, item 16, e 169, inciso III da Lei n° 6.015/73). A letra “d” está errada. As garantias locatícias consistem em: a) caução; b) fiança e c) seguro de fiança. É proibida, sob pena de nulidade, a exigência de mais de uma destas

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modalidades de caução em um mesmo contrato (arts. 37 e 43 II da Lei n° 8.245/91).

22) (FCC - Procurador do Banco Central – 2005) Sobre o depósito considere as seguintes afirmações:

I. O contrato de depósito é oneroso, exceto se houver convenção em sentido contrário.

II. O depósito necessário não se presume gratuito.

III. O depósito miserável não se inclui na classificação de depósito necessário.

IV. O contrato de depósito só pode ter por objeto coisa móvel.

V. O depósito voluntário provar-se-á por escrito.

São CORRETAS:

a) I, II e III. b) I, III e V. c) II, III e IV. d) II, IV e V. e) III, IV e V.

COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra “d”. Estão corretas as afirmações II, IV e V. Depósito é o contrato pelo qual uma pessoa (depositária) recebe de outra (depositante) uma coisa móvel, para guardá-la, temporária e gratuitamente, até que o depositante o reclame. A afirmação I está errada, pois o art. 628, CC prevê que o contrato de depósito é gratuito, salvo se houver convenção em contrário ou se o contrato for resultante de atividade negocial ou se o depositário o praticar por profissão. A afirmação II está correta, pois o art. 651, CC afirma que o depósito necessário (o que se faz, por exemplo, em desempenho de obrigação legal, como no depósito de coisa achada – art. 647, CC) não se presume gratuito. A afirmação III está errada, pois o depósito necessário (arts. 647 a 652, CC) abrange três situações: a) legal (art. 647, I, CC); b) hospedagem (art. 649, CC) e c) miserável, ou seja, o que ocorre por ocasião de alguma calamidade (incêndio, terremoto, etc. – art. 647, II, CC). A afirmação IV está correta, pois o art. 627, CC determina que só pode ser objeto de depósito coisas móveis. Finalmente a afirmação V está correta, pois o art. 646, CC determina que o depósito voluntário somente pode ser provado por escrito (diferente do depósito miserável que pode ser provado por qualquer meio – art. 647, II, CC).

23) O depósito de bagagem dos hóspedes nas hospedarias onde estiverem é modalidade de depósito: a) irregular. b) convencional. c) necessário. d) voluntário.

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e) infiel.

COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra “c”. Pelo contrato de depósito, o depositário recebe uma coisa móvel para guardar, até que o depositante o reclame. O depósito pode ser voluntário (ou convencional – resulta de acordo de vontades), judicial (por mandado do Juiz, quando a coisa for litigiosa) ou necessário (que independe da vontade das partes). Este, por sua vez pode ser constituído no desempenho de obrigação legal (depósito legal) ou em caso de calamidade pública (também chamado de depósito miserável). O depósito das bagagens dos hóspedes é equiparado ao necessário (conforme determina o art. 649, CC).

24) (FCC - Procurador do Banco Central – 2007) O contrato de fiança:

a) estabelece solidariedade legal do fiador e do afiançado pelo pagamento ao credor.

b) admite prova exclusivamente testemunhal se for de valor inferior a 10 (dez) salários mínimos.

c) não admite o benefício de ordem.

d) não admite que, existindo vários fiadores, cada um fixe a parte da dívida que toma sob sua responsabilidade.

e) pode ser estipulado sem consentimento do devedor ou contra a sua vontade.

COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra “e”. Fiança é a promessa feita por uma ou mais pessoas, de garantir ou satisfazer a obrigação de um devedor, se este não a cumprir, assegurando ao credor o seu efetivo cumprimento. A alternativa “e” está certa, pois o art. 820, CC, prevê que a fiança pode ser estipulada mesmo que sem o consentimento do devedor, e até mesmo contra a sua vontade. A letra “a” está errada, pois por meio da fiança se estabelece como regra a subsidiariedade (e não a solidariedade) do fiador. Ou seja, o fiador somente ficará obrigado pela dívida se o devedor principal (afiançado) não cumprir a prestação devida. A letra “b” está errada, pois a fiança deve ser sempre por escrito (art. 819, CC), não se admitindo também a interpretação extensiva. A letra “c” está errada, pois nossa legislação permite a renúncia do benefício de ordem. Ou seja, o credor deve acionar primeiro o devedor principal. Se este não pagar a dívida, acionará então o fiador. Esta é a regra prevista no art. 827, CC. No entanto o art. 828, inciso I, CC, permite que haja a renúncia a este benefício, desde que feita expressamente. Finalmente a letra “d” está errada, pois o art. 830, CC determina que cada fiador pode fixar no contrato a parte da dívida que toma sob sua responsabilidade, caso em que não será obrigado por quantia superior a que se obrigou.

25) (FCC - Tribunal Regional Federal – 4a Região – Analista Judiciário – 2004) A respeito da fiança no Direito Civil Brasileiro, é CERTO que:

a) não pode ser de valor inferior ao da obrigação principal. b) pode ser dada verbalmente. c) admite interpretação extensiva.

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d) não pode ter como objeto dívidas futuras. e) pode ser estipulada sem o consentimento do devedor.

COMENTÁRIOS. Alternativa correta: letra “e”. O art. 820, CC, prevê que a fiança pode ser estipulada mesmo que sem o consentimento do devedor, e até mesmo contra a sua vontade. A letra “a” está errada, pois o art. 823, CC permite que a fiança seja de valor inferior ao da obrigação principal e contraída em condições menos onerosas. Mas quando o valor exceder o valor da dívida ou for mais onerosa que ela, não valerá, senão até o limite da obrigação afiançada. A letra “b” está errada, pois a fiança somente pode ser dada por escrito (art. 819, CC). A letra “c” está errada, pois o mesmo art. 819 proíbe a interpretação extensiva da fiança. A alternativa “d” também está errada, pois o art. 821, CC permite que as dívidas futuras sejam objeto de fiança; mas o fiador, neste caso, não será demandado senão depois de se fizer certa e líquida a obrigação do principal devedor.

LISTA DE EXERCÍCIOS SEM COMENTÁRIOS

Questões CESPE/UnB Mais Atuais

QUESTÃO 01 (CESPE/UNB – TRE/MS – Analista Judiciário – 2013) No tocante aos contratos em espécie, julgue os itens a seguir.

a) A fiança admite interpretação extensiva. b) Se o indivíduo X outorgar, por instrumento público, mandato ao indivíduo Y para, em nome de X, praticar determinados atos e, nesse mesmo instrumento, permitir o substabelecimento dos poderes outorgados, Y poderá substabelecer tais poderes por instrumento particular. c) A venda a contento é cláusula inserida em contrato de compra e venda pela qual o vendedor se reserva o direito de reaver, em certo tempo, o bem alienado. d) De acordo com os regramentos relativos ao contrato de seguro e a jurisprudência do STJ, o atraso no pagamento de prestação mensal acarreta o desfazimento automático do contrato, mesmo sem prévia notificação do segurado.

QUESTÃO 02 (CESPE/UnB – STM – Analista Judiciário – 2011) Com relação ao Novo Código Civil, julgue os itens seguintes.

a) No contrato de compra e venda, até a tradição, em regra, os riscos pela perda da coisa objeto do contrato correm por conta do comprador.

b) A execução da fiança está subordinada ao não cumprimento da obrigação pelo devedor e, uma vez nula a obrigação principal, a fiança se extingue. Ao contrário, a nulidade do contrato de fiança não tem qualquer efeito no que concerne à validade da obrigação principal.

c) O contrato de mútuo se presta ao empréstimo de coisa infungível, a qual, com a tradição, passa a ser de propriedade do mutuário.

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QUESTÃO 03 (CESPE/UnB – TJ/AC – Juiz de Direito – 2012) Acerca do contrato de locação, julgue o item que se segue.

a) Nos contratos de locação, é inválida a cláusula de renúncia à indenização das benfeitorias e ao direito de retenção.

QUESTÃO 04 (CESPE/UnB – TRF/5ª Região – Juiz Federal – 2009) Acerca dos contratos segundo as disposições do Código Civil, julgue os itens subsequentes.

a) o comodatário poderá recobrar do comodante as despesas feitas com o uso e o gozo da coisa emprestada.

b) pelo contrato de depósito recebe o depositário um objeto móvel ou imóvel, para guardar, até que o depositante o reclame.

QUESTÃO 05 (TRT/9ª Região/PR – Magistratura do Trabalho – 2012) Jéssica Alseda e Marcopolo Fernandes celebraram contrato de comodato de imóvel residencial com vigência de 15/4/2007 a 15/4/2012. Marcopolo, no entanto, não devolveu a Jessica o imóvel ao término do prazo convencionado. Em 30/5/2012, foi notificado extrajudicialmente para desocupar o imóvel no prazo de trinta dias e pagar aluguel de R$ 1.500,00 por mês. Marcopolo ainda permanece no imóvel, não tendo pago qualquer valor a título de aluguel. Baseado nestes fato, julgue as proposições abaixo:

a) Será lícito a Jessica arbitrar o valor do aluguel que será de uma autêntica pena privada, tendo por objetivo central coagir o comodatário a restituir o mais rapidamente possível a coisa emprestada, que indevidamente não foi devolvida no prazo legal.

b) O montante do aluguel-pena, para não se caracterizar como abusivo, não pode ser superior ao dobro da média do mercado, pois não deve também servir de meio para o enriquecimento injustificado do comodante.

QUESTÃO 06 (CESPE/UnB – TJ/Pará – Juiz de Direito – 2012) Ricardo, casado com Carla, pretende proceder à doação pura e simples de bem imóvel de sua propriedade a seu único filho, Rafael, de quatorze anos de idade. Acerca dessa situação hipotética, julgue os itens a seguir.

a) Mesmo que Ricardo não demonstre os motivos da revogação, a doação poderá ser revogada antes de Rafael completar dezoito anos de idade.

b) O nascimento de outro filho do casal não tornará a doação ineficaz.

c) Para aperfeiçoamento da doação é necessária a aceitação, mesmo que seja tácita.

QUESTÃO 07 (CESPE/UnB – Defensoria Pública do Estado do Espírito Santo – 2013) Com relação aos contratos, julgue os itens subsequentes, de acordo com o previsto no Código Civil.

a) Caso João venda seu terreno mediante contrato de compra e venda ad corpus, o tamanho do terreno será fator preponderante para a realização do negócio jurídico.

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b) Considere que João, proprietário de um apartamento de três quartos, avaliado em R$ 1.000.000,00, proponha a seu descendente José contrato de permuta do referido imóvel pela casa de praia de José, avaliada em R$ 800.000,00. Nessa situação, caso não haja o consentimento dos demais descendentes, o contrato é nulo de pleno direito.

c) Suponha que Manuela doe, verbalmente, a Marcela um broche de ouro avaliado em R$ 200,00. Nessa situação, para que a doação seja válida, é necessário que Manuela entregue o broche a Marcela e redija um instrumento particular formalizando a doação.

d) Caso Marcos empreste sua casa de praia a Joana, esta fica obrigada a conservar a coisa como se sua fosse, devendo pagar a conta de água e de luz referente ao que tiver sido gasto durante o período em que utilizar a casa, podendo, posteriormente, cobrar esses valores de Marcos.

e) Suponha que Carla entregue a Letícia um envelope lacrado a título de depósito voluntário. Nessa situação, conforme o pactuado, não pode Letícia abrir o envelope para verificar o seu conteúdo, devendo devolver o envelope como lhe foi entregue.

QUESTÃO 08 (CESPE/UNB – TRE/MS – Analista Judiciário – 2013) Considere a seguinte situação hipotética. Célia, ao retornar para a sua residência, deu carona a Pedro, seu colega de universidade, vizinho e trabalhador autônomo, e, no trajeto, ao passar por um buraco na pista, Célia perdeu o controle do carro, que colidiu contra um poste. Devido a esse acidente, Pedro se feriu gravemente e ficou hospitalizado por dois meses. Nessa situação, Célia poderá ser responsabilizada pelos danos causados a Pedro.

QUESTÃO 09 (CESPE/UnB – TRT/10ª Região/DF/TO – Analista Judiciário – 2013) Julgue o próximo item relativo aos contratos.

a) Se o indivíduo “A” receber do indivíduo “B”, mediante contrato estimatório, duas dúzias de bordados, esses bens não poderão ser penhorados pelos credores de A, salvo se o preço já houver sido pago integralmente.

QUESTÃO 10 (CESPE/UnB – TJ/RO – Analista Processual – 2012) Pedro vendeu um apartamento a Paulo, o qual se comprometeu a oferecer primeiro a Pedro na hipótese de pretender vender o referido imóvel futuramente. Nesse caso, verifica-se a figura da cláusula de a) venda com encargo. b) venda a termo. c) preempção. d) condição. e) retrovenda.

LISTA DE EXERCÍCIOS SEM COMENTÁRIOS

Questões CESPE/UnB Mais Antigas

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ANTIGAS 01 (CESPE/UnB – Procurador do Estado da Paraíba – 2008) Com relação aos contratos, julgue os itens a seguir:

a) O comodato, se remuneratório, equivale ao mútuo, por isso transfere o domínio da coisa e assegura ao proprietário proteção possessória quando vencido o prazo ajustado, bem como assegura o direito de resolver o contrato se o comodatário deixar de pagar a retribuição pelo uso do bem.

b) Na venda de imóveis por extensão, se o comprador verificar que a área existente não corresponde às dimensões dadas pelo vendedor, o comprador poderá obter redução proporcional do preço, em razão de vício oculto, que lhe diminua o valor.

ANTIGAS 02 (CESPE/UnB – Defensor Público da União) Julgue os itens seguintes, acerca dos contratos regidos pelo Código Civil.

a) A retrovenda é condição resolutiva expressa do contrato, simplesmente potestativa, e consiste na vontade unilateral e imotivada do alienante de reaver o imóvel, desde que indenizado o comprador. O direito de retrato não é suscetível de cessão por ato entre vivos, nem transmissível aos herdeiros por causa de morte do alienante, isto é, por sucessão hereditária.

b) João Victor alienou seu veículo automotor a Monalisa, sua única filha, sem o consentimento expresso de seu cônjuge. Nesse caso, a referida venda é sempre anulável, podendo, outrossim, ser validada pelo consentimento posterior do cônjuge.

c) A fiança dada por duas ou mais pessoas acarreta sempre na solidariedade entre os fiadores. A referida solidariedade se apresenta entre os fiadores e o devedor principal. Assim, se o devedor principal não pagar o débito, cada fiador obriga-se a pagá-lo na totalidade. Poderá o credor executar todos eles e, se forem penhorados bens de todos, os fiadores têm o direito de exigir que os bens do executado sejam leiloados primeiro.

ANTIGAS 03 (CESPE – CEF – Técnico Bancário – 2006) Os bancos, em suas operações ativas, que são aquelas por meio das quais eles emprestam dinheiro a seus clientes, buscam resguardo por meio de sistemas de garantias. As garantias mais utilizadas pelos bancos são as chamadas cauções pessoais (o aval e a fiança) e as cauções reais (a hipoteca, o penhor e a alienação fiduciária). Diante dessas informações e com base na legislação vigente, julgue os itens a seguir.

a) A hipoteca tem como regra o oferecimento de coisas imóveis do devedor ou de terceiros.

b) O penhor, em regra, é constituído pela transferência efetiva da posse de coisa móvel, suscetível de alienação, que o devedor faz em garantia do débito ao credor.

c) O aval difere da fiança em vários pontos; um deles é que, em regra, o aval não requer a outorga conjugal para a sua validade.

d) A fiança pode ser prestada por menor de idade, desde que esse menor seja emancipado ou haja autorização judicial.

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e) O avalista pode desistir de ser avalista, desde que comunique ao credor essa decisão por escrito.

GABARITO “SECO” CESPE/UnB (Mais Atuais)

Questão 01 a) Errado b) Certo c) Errado d) Errado

Questão 02 a) Errado b) Certo c) Errado

Questão 03 a) Errado

Questão 04 a) Errado b) Errado

Questão 05 a) Certo

b) Certo

Questão 06 a) Errado b) Certo c) Errado

Questão 07 a) Errado b) Errado c) Errado d) Errado e) Certo

Questão 08 a) Errado

Questão 09 a) Certo

Questão 10: “C”

GABARITO “SECO” CESPE/UnB (Mais Antigas)

Antigas 01

a) Errado b) Errado

Antigas 02 a) Errado b) Errado c) Errado

Antigas 03 a) Certo b) Certo c) Errado d) Errado (sob protesto) e) Errado

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GABARITO “SECO” EXERCÍCIOS VARIADOS

01) C

02) E

03) B

04) B

05) D

06) E

07) A

08) D

09) E

10) C

11) B

12) B

13) D

14) C

15) C

16) D

17) E

18) A

19) B

20) B

21) C

22) D

23) C

24) E

25) E