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    Direito Penal

    O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir

    da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementao do estudo em

    livros doutrinrios e na jurisprudncia dos Tribunais.

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    Sumrio

    1 Crimes Omissivos ............................................................................................................... 2

    1.1 Critrios para a Distino de Ao e Omisso ............................................................. 2

    1.1.1 Critrio da Causalidade ....................................................................................... 2

    1.2 Sujeito Ativo Garantidor ............................................................................................ 4

    1.2.1 Omisso Prpria X Omisso Imprpria ................................................................ 5

    1.2.2 Tipicidade dos Crimes Omissivos Imprprios e Princpio da Legalidade ................ 5

    1.2.3 Espcies de Garantidor ....................................................................................... 6

    1.2.3.1 Obrigao de Cuidado, Proteo ou Vigilncia.....................................................61.2.3.2 De outra Forma Assumiu Responsabilidade de Evitar o Resultado......................6

    1.2.3.3 Comportamento Anterior que Cria o Risco do ResultadoIngerncia................6

    1.3 Capacidade de Agir .................................................................................................... 7

    1.4 Causalidade e Imputao Objetiva na Omisso .......................................................... 8

    1.5 Erro nos Crimes Omissivos Imprprios ....................................................................... 8

    2 Tentativa e Crime Consumado ........................................................................................... 9

    2.1 Iter Crimins................................................................................................................ 9

    2.2 Natureza da Tentativa ............................................................................................. 10

    2.3 Atos Preparatrios X Atos de Execuo .................................................................... 11

    2.3.1 Teoria Formal-objetiva...................................................................................... 11

    2.3.2 Teoria Material-objetiva ................................................................................... 11

    2.3.3 Teoria Subjetivo-objetiva .................................................................................. 11

    2.4 Casos Especiais ........................................................................................................ 12

    2.4.1 Contravenes (art. 4 da LCP).......................................................................... 12

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    1 Crimes Omissivos

    Para melhor estudo dos crimes omissivos, vale a adoo das seguintes etapas

    de raciocnio:(i) ao ou omisso no caso concreto?Se a resposta for omisso, mantm-se a

    indagao;

    O intrprete deve inicialmente observar se no caso concreto se est diante de

    uma ao ou de uma omisso. Imaginemos que o sujeito, em uma estrada, deixe de

    ligar os faris e, pela baixa visibilidade, acaba atropelhando um ciclistas, evadindo-se

    do local. Em outro caso, o indivduo passa por um sujeito acidentado na estrada.

    Inicialmente, ele presta socorro, mas, ao perceber que se trata do seu maior inimigo,

    cessa a conduta e foge do local.

    Faz-se necessrio a identificao da omisso no caso concreto, pois a

    responsabilidade penal muito mais exigente nesse caso, quando comparada com a

    responsabilidade penal por ao.

    Regra geral, a omisso menos grave e vai levar a um crime tambm menos

    grave, que o crime omissivo prprio. Entretando, algumas omisses se equiparam a

    aes, destinadas a determinadas pessoas.

    Quando para matar por ao, por exemplo, qualquer um pode ser sujeito

    ativo da conduta. Diferentemente, para matar por omisso, o sujeito ativo devepossuir relao de proteo em relao vtima.

    Nota-se, ento, que excepcionalmente a omisso ter a mesma gravidade da

    ao, notadamente quando o agente possuir relao de garantidor em relao

    vtima.

    (ii) garantidor?A partir da resposta, possvel a identificao do tipo penal

    aplicado (se afirmativo, aplica-se o tipo penal por ao. Se negativo, aplica-se o tipo

    penal omissivo);

    (iii) h dolo ou culpa?Qual a roupagem legal?

    1.1 Critrios para a Distino de Ao e Omisso1

    1.1.1 Critrio da Causalidade

    O critrio predominante, adotado por Roxin, o critrio da causalidade. Por

    esse critrio, existe ao sempre que o agente der causa material ao resultado, nos

    1Sero abordados os principais critrios da doutrina estrangeira e da leitura nacional.

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    termos da teoria da conditio, notadamente por conta do processo de eliminao

    hipottica do resultado.

    A (tiro) + B (afogamento) = C (resultado morte)Apaga-se uma conduta e, desaparecendo o resultado, tem-se que ela causa

    do resultado.

    No primeiro exemplo acima, em que pese a conduta de esquecer de ligar o

    farol tenha sido relevante para a ocorrncia do resultado, a conduta do motorista foi

    comissiva, j que ele atropelou o ciclista. Esse crime, ento, culposo por ao.

    Na prova da Defensoria do Rio de Janeiro caiu a seguinte questo: um sujeito

    morava em um terreno muito grande, onde existia uma rvore. Ao efetuar um corte na

    rvore, esta cai sobre a casa do vizinho, levando-o morte. O gabarito era que osujeito respondia por homicdio por ao, j que ele no tinha a condio de

    garantidor. Muitos candidatos, contudo, acabaram afirmando que a conduta seria

    omissiva, ou mesmo que ele seria garantidor, o que est incorreto.

    O critrio da causalidade complementado pela ideia de introduo positiva de

    energia, quando se introduz energia no processo de causao, momento em que se

    tem ao, e no omisso.

    Esse critrio possui diversos problemas, mesmo sendo o predominante na

    doutrina nacional e estrangeira, sendo aquele, ento, que ser adotado ao longo dasaulas.

    Alguns grupos de casos no so bem justificados pelo critrio da causalidade,

    recebendo, com isso, tratamento diferenciado pela doutrina. O mais importante o

    grupo de casos da interrupo de esforos de salvamento.

    Exemplo: uma pessoa est em perigo, ou se acidentou, e est sendo salva. Os

    esforos de salvamento so, porm, interrompidos. Deve-se questionar se essa

    interrupo representa ao ou omisso. Se for omisso, o agente responde por

    homicdio apenas se for garantidor. Do contrrio, ser omisso de socorro. Se, porm,for ao, o agente responde por homicdio, independentemente da sua condio de

    garantidor.

    A doutrina distingue se os esforos de salvamento so alheios ou prprios. Se

    um terceiro que est salvando e um sujeito impede o salvamento, sendo este um

    inimigo da vtima, por exemplo, a interrupo de esforos de salvamento de terceiros

    representa uma ao e, com isso, ele vai responder por homicdio, a depender a sua

    inteno. Nota-se que essa situao seria resolvida pelo prprio critrio da

    causalidade.

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    No exemplo acima, em que o sujeito inicia um salvamento, mas o interrompe,

    em regra, tem-se uma omisso, por ser uma interrupo de salvamento prpria. Ter-

    se- uma ao, todavia, se o sujeito j atingiu a pessoa em perigo, abrindo-lhe uma

    possibilidade concreta de salvamento.

    Roxin apresenta o seguinte exemplo: um sujeito est morrendo afogado. Ao

    passar pelo local, um terceiro lana uma boia. Prestes a ser iado, o terceiro joga a

    vtima novamente ao mar e vai embora. Nota-se que no caso concreto j houve uma

    possibilidade concreta de salvamento, razo pela qual se tem uma nova linha de risco,

    anulando-se a hiptese anterior, j que a vtima tinha possibilidade concreta de

    salvamento. Nesse caso, tem-se ao, mesmo que no haja qualquer relao de

    garantia entre os sujeitos envolvidos no caso.

    Por fim, diante da indagao, se a resposta for ao, o intrprete deve buscartipos penais que descrevam uma ao. Por outro lado, se a resposta for omisso, deve-

    se buscar tipos que descrevam uma omisso ou tipos que descrevam uma ao, neste

    ltimo caso apenas se o agente for garantidor.

    A segunda etapa de raciocnio identificar se os tipos so aqueles que

    descrevem uma ao ou uma omisso, ou seja, deve-se verificar se o sujeito

    garantidor.

    1.2

    Sujeito Ativo Garantidor

    A omisso do garantidor equivale a uma ao. Viu-se que as omisses so

    menos graves que as aes. No entanto, algumas omisses podem levar

    responsabilidade por crimes comissivos.

    Omisso do garantidor = ao

    A clusula de equivalncia est prevista no art. 13, 2, do CP. Se o sujeito no

    garantidor, porm, a sua omisso vai levar responsabilidade por um crime cujo tipo

    descreva uma omisso.Se o sujeito garantidor, deve-se buscar tipos penais que descrevam ao.

    CP, art. 13, 2 - A omisso penalmente relevante quando o omitente devia e

    podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:(Includo pela

    Lei n 7.209, de 11.7.1984)

    a) tenha por lei obrigao de cuidado, proteo ou vigilncia;(Includo pela Lei n

    7.209, de 11.7.1984)

    b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;(Includo

    pela Lei n 7.209, de 11.7.1984)

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art13http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art13http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art13http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art13http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art13http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art13http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art13http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art13http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art13http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art13http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art13http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art13
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    c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrncia do

    resultado.(Includo pela Lei n 7.209, de 11.7.1984)

    1.2.1 Omisso Prpria X Omisso Imprpria

    Essa distino entre omisses menos graves e omisses mais graves gera uma

    distino tambm em relao s espcies de crimes omissivos, que podem ser prprios

    ou imprprios. Os primeiros so aqueles cujos tipos descrevem uma omisso. Neles

    no h, via de regra, exigncia em relao ao sujeito ativo, sendo crimes comuns, ou

    seja, podem ser praticados por qualquer pessoa e so tambm, normalmente, crimes

    de mera conduta.

    A omisso imprpria equivale a uma ao, porque o sujeito ativo do crime especial, ou seja, possui relao de especialidade em relao ao bem jurdico atingido.

    So, portanto, crimes prprios, pois exigem uma qualidade especial do agente, sendo,

    inclusive, crimes materiais, em regra.

    Crimes omissivos:

    - prprios: crimes comuns e, normalmente, de mera conduta;

    - imprprios (comissivos por omisso): crimes prprios e materiais, em regra

    Assim, a omisso prpria aquela omisso tpica que no tem correspondncia

    com um delito de ao. Trata-se de omisso de quem no garantidor, sendo o tipo

    penal necessariamente omissivo.

    Omisses imprprias so aquelas para as quais se torna necessria uma

    clusula de equiparao ao correspondente.

    1.2.2 Tipicidade dos Crimes Omissivos Imprprios e Princpio da Legalidade

    Matar algum

    Clusula de equivalncia

    Me deixa de amamentar e filho morre (art. 121

    do CP c/c art. 13, 2 do CP)

    CP, Art. 121. Matar alguem:

    Pena - recluso, de seis a vinte anos.

    O tipo do homicdio descreve uma ao. Se no existisse a clusula de

    equivalncia, no seria possvel inserir uma omisso em tal tipo, sendo, ento, a

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art13http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art13
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    conduta atpica. No Brasil, o legislador tratou legalmente da clusula de equivalncia,

    prevendo as condies que geram a condio de garantidor.

    possvel afirmar que a clusula de equivalncia uma norma de extenso, jque um tipo que, inicialmente, previa apenas ao, passa a contemplar tambm

    omisses (adequao tpica mediata). a mesma hiptese da norma de extenso da

    tentativa.

    Em alguns pases, o legislador no adotou a previso tpica de disciplinar as

    condies de garantidor, de maneira que tal abertura gera perigos ao princpio da

    legalidade.

    No Brasil, no h, em princpio, dificuldades em relao ao princpio da

    legalidade, por conta da expressa previso da clusula de equivalncia, no obstante a

    hiptese de elementos normativos que demandam juzo de valor e que geram

    abertura ao intrprete.

    1.2.3 Espcies de Garantidor

    1.2.3.1Obrigao de Cuidado, Proteo ou Vigilncia

    Exige-se lei formal para a criao de obrigao de cuidado, proteo ou

    vigilncia, no sendo admissvel qualquer outro ato normativo. Enquadram-se nesse

    caso pais, policiais, bombeiros etc..

    1.2.3.2De outra Forma Assumiu Responsabilidade de Evitar o Resultado

    Muitos falam que o contrato pode ensejar a responsabilidade de evitar o

    resultado. Nota-se, porm, que qualquer assuno ftica de responsabilidade cabe

    nessa hiptese.

    Assim, interessa apenas a assuno ftica de uma funo de proteo baseada

    numa relao de confiana.

    1.2.3.3Comportamento Anterior que Cria o Risco do Resultado Ingerncia

    Muitos confundem essa hiptese com aqueles casos em que os crimes so

    verdadeiramente comissivos. Se o sujeito atropela algum culposamente e deixa de

    socorrer, o caso de crime culposo por ao.

    Essa situao se destina necessariamente responsabilidade por determinadas

    fontes de perigo.

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    Exemplo: o sujeito, ao fazer uma obra em sua casa, deixa de tampar buracos no

    caminho de pedestres. Outro caso aquele no qual o sujeito deixa de dar cuidados a

    um imvel muito frequentado por pessoas, o que gera o seu desabamento. Mais um

    caso, o sujeito deixa de dar cuidados ao seu cachorro, o que enseja a sua fuga e

    ataques aos transeuntes.

    Ateno: a doutrina nacional e estrangeira acordam que a responsabilidade por

    ingerncia existe apenas quando o sujeito deixa de administrar a fonte de perigo, ou

    seja, a fonte de perigo surge apenas em decorrncia do dolo, ou ao menos culpa, do

    sujeito.

    Se o indivduo no deixa o cachorro fugir e sua casa possui sistemas que

    impedem a sua fuga (muro alto, por exemplo), porm, ao invadir o local, um terceiro

    acaba sendo atacado pelo animal, no h qualquer conduta do dono do animal, j queele administra a fonte de leso dentro do risco permitido. A posio de garantidor do

    agente surge apenas se ele age fora dos riscos permitidos, como, por exemplo, deixar

    o porto aberto, possibilitando a fuga do animal.

    Caiu na prova do MPRJ a seguinte questo: um sujeito, policial e em servio,

    encontra o seu maior inimigo em uma situao de risco. A vtima morre. A primeira

    etapa identificar se a conduta do policial comissiva ou omissiva. No caso, fica

    evidente que h omisso, j que o policial no possui qualquer antecedente causal do

    resultado. Na segunda etapa de raciocnio, deve-se identificar se o policial possuinatureza de garantidor, sendo afirmativa a resposta. Ento, a sua omisso imprpria.

    Aplica-se ao caso o art. 121 do CP. Por fim, a terceira etapa identificar se o policial

    agiu com dolo ou culpa em relao ao resultado. Na questo, fica claro que ele agiu

    objetivando o resultado, sendo hiptese de crime doloso.

    Nota-se que o garantidor pode perfeitamente responder por um crime culposo.

    Imaginemos que o salva-vidas, ao perceber a presena de uma mulher muito bonita,

    deixa de figiar uma criana que estava na piscina. Se a criana morrer, o salva-vidas

    ser responsabilizado por homicdio culposo, tendo em vista a sua condio de

    garantidor.

    1.3 Capacidade de Agir

    A capacidade fsica de agir tida como um elemento prprio da omisso. Sabe-

    se, ademais, que a omisso a no realizao da ao esperada.

    A omisso um conceito normativo, pois pressupe uma ao esperada, isto ,

    significa deixar de realizar o que esperado de algum.

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    S possvel a ocorrncia da omisso se houver possibilidade fsica de

    realizao da ao esperada. Por exemplo, s possvel configurar omisso de socorro

    se houver a possibilidade fsica de agir do omitente. Se ele no sabe nadar e se depara

    com algum se afogando, buscar socorro a nica conduta que lhe exigida.

    1.4 Causalidade e Imputao Objetiva na Omisso

    No existe causalidade fsica na omisso. A doutrina afirma do nada, nada

    surge. A causalidade fsica de algum que se afoga o afogamento. A causa fsica da

    morte do acidentado a coliso, e no a omisso de socorro. Tem-se como causa fsica

    aquilo que vai aparecer no prprio laudo cadavrico. A omisso, por sua vez, nunca

    ser causa fsica. H, porm, imputao.

    Na responsabilidade pelo resultado, existem duas etapas. A primeira a

    causalidade fsica. A segunda, imputao. Isso s vale, todavia, para os crimes por

    ao, j que nos crimes omissivos no h causalidade fsica e, consequentemente, no

    h eliminao hipottica.

    Na omisso, estuda-se apenas a imputao. Acrescenta-se, ento, apenas a

    ao realizada. Se o resultado desaparecer, imputa-se o resultado ao sujeito.

    A imputao objetiva do resultado tpico na omisso pensada atravs da

    ideia de conexo de risco: a ao esperada ou devida deve ser uma tal que teriadiminudo o risco da verificao do resultado

    2.

    1.5 Erro nos Crimes Omissivos Imprprios

    Matar algumart. 121 do CP Art. 13, 2 do CP

    A clusula de equivalncia permite a adequao tpica de condutas omissivas

    em tipos comissivos. Dessa forma, as situaes fticas descritas na clusula de

    equivalncia passam a ser elementos do tipo, nos crimes omissivos imprprios.

    Imaginemos que o sujeito mora perto da praia, onde h uma criana se

    afogando, que na verdade seu filho. Ocorre, contudo, que o sujeito no consegue

    perceber que a vtima seu filho e, deliberadamente, deixa de socorr-lo. H, no caso,

    um erro de tipo, em relao ao homicdio por omisso, razo pela qual o sujeito

    responde apenas por omisso de socorro.

    2Informao presente no material fornecido em aula.

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    Se o erro sobre a situao de fato, que gera a posio de garantidor, tem-se

    um erro de tipo. Sendo invencvel, excluem-se dolo e culpa. Sendo vencvel, exclui-se

    dolo, matendo-se a culpa.

    Pode ser que o erro no seja sobre a situao de fato que gera a posio de

    garantidor, mas sobre os deveres de garantidor. Por exemplo, um mdico de um

    hospital pblico em greve acredita que no tem o dever de socorrer. Ele no erra

    sobre a situao de fato, j que ele reconhece que garantidor, mas erra sobre os seus

    deveres. Nesse caso, isso um erro de proibio (erro de mandamento).

    Sendo invencvel, o erro de proibio exclui a culpabilidade. Sendo vencvel, o

    erro de proibio diminui a pena. Nota-se que o crime nunca vira crime culposo, salvo

    se, por natureza, o crime j for crime culposo. Na aula passada, viu-se que possvel

    erro de proibio em crime culposo, quando o agente desconhece as regras de cuidadoe, com isso, gera risco ao bem jurdico.

    2 Tentativa e Crime Consumado

    2.1 Iter Crimins

    Quando se fala em tentativa, por uma questo didtica, importante tratar do

    caminho do crime. possvel que tais etapas no sejam verificadas no caso concreto,

    mas esse caminho ser tomado como padro para o estudo.(i) cogitao: impunvel;

    (ii) atos preparatrios: em princpio, impunveis;

    (iii) execuo: punio, ao menos em tentativa;

    (iv) consumao;

    (v) exaurimento: a conduta prevista na figura tpica esgota todas as suas

    potencialidades lesivas.

    O exaurimento s importante nos chamados crimes formais. Vejamos:

    Conduta Resultado

    Extorso Pagamento da vantagem

    No crime formal, a consumao ocorre com a mera realizao da conduta,

    sendo prescindvel a ocorrncia do resultado. A extorso o exemplo mais conhecido,

    em que a obteno da vantagem configura mero exaurimento do crime, influenciando

    diretamente na aplicao da pena.

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    A doutrina admite que, em regra, s possvel o ingresso de coautor ou

    partcipe at a consumao do crime. Entretanto, a melhor doutrina (Nilo Batista)

    admite que no crime formal o termo final o exaurimento.

    Alm disso, a jurisprudncia admite o flagrante nos crimes formais tanto no

    momento da consumao quanto no momento do exaurimento, flexibilizando esse

    rigor. Esse entendimento importante nos crimes de corrupo, j que so tidos como

    crimes formais.

    Em alguns casos, atos preparatrios de um crime podem configurar crime

    autnomo. Por exemplo, ter maquinrio ato preparatrio de fabricar moeda falsa.

    Esse ato preparatrio previsto tambm como crime autnomo. Vamos tratar apenas

    das hipteses em que os atos preparatrios no so crimes autnomos. Assim, em

    regra, atos preparatrios so impunveis. Com efeito, no se admite flagrante em atopreparatrio impunvel.

    O mais importante problema no estudo da tentativa reside em distinguir atos

    preparatrios de atos de execuo.

    O sujeito s pode ser preso em flagrante nos atos de execuo. A dvida

    saber em que momento ele ingressa nos atos de execuo.

    2.2

    Natureza da Tentativa

    Tentativa tipo objetivo matar algum

    (art. 121 do CP) tipo subjetivo conscincia e vontade de matar algum

    O tipo objetivo do homicdio, por exemplo, exige a morte de algum. Na

    tentativa, o tipo objetivo no se completa, j que se tem uma conduta, porm sem o

    resultado morte. O tipo subjetivo, porm, igual ao do crime consumado. Se,

    porventura, houver a necessidade de um elemento subjetivo especial, este deve

    ocorrer tambm na tentativa.

    Portanto, a tentativa representa um defeito no tipo objetivo, com total

    preenchimento do tipo subjetivo.

    Art. 121 do CPMatar algum

    Art. 14, II do CP

    A tenta matar B

  • 7/25/2019 Aula 14.1

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    Direito Penal

    O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir

    da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementao do estudo em

    livros doutrinrios e na jurisprudncia dos Tribunais.

    11www.enfaseonline.com.br

    Art. 14, II - tentado, quando, iniciada a execuo, no se consuma por

    circunstncias alheias vontade do agente.

    Essa ideia exatamente a mesma para os crimes omissivos imprprios. A parte

    especial descreve apenas as formas consumadas de crime, salvo no caso dos crimes de

    atentado. Se h uma tentativa, no possvel a adequao tpica diretamente, sendo

    imprescindvel a combinao do tipo penal com a norma de extenso do art. 14 do CP.

    Dessa forma, a tentativa s tpica por conta da sua previso na parte geral do CP,

    servindo como norma de extenso, de maneira que a adequao tpica ser sempre

    indireta, ou mediata.

    2.3 Atos Preparatrios X Atos de Execuo

    A tentativa composta por um incio de execuo e pela no execuo por

    circunstncias alheias vontade do agente. Questiona-se, ento, a partir de qual

    momento possvel verificar, no caso concreto, o incio dos atos de execuo,

    momento em que, por exemplo, ser possvel a priso em flagrante do agente.

    2.3.1 Teoria Formal-objetiva3

    Para essa teoria, s h incio de execuo quando o agente comea a realizar o

    verbo (ncleo do tipo). No caso do homicdio, o sujeito s comea a realizar atos deexecuo quando ele puxa o gatilho. Apontar a arma seria apenas um ato

    preparatrio. No crime de furto, subtrair coisa alheia mvel significa apanhar a coisa.

    Se o sujeito apenas ingressa no domiclio, sem apanhar coisa alheia mvel, no h

    tentativa de furto, mas apenas violao de domiclio.

    2.3.2 Teoria Material-objetiva

    Essa teoria afirma que ato de execuo aquelo que produz perigo ao bem

    jurdico. Essa teoria, porm, no segura.

    2.3.3 Teoria Subjetivo-objetiva4

    Essa teoria afirma que, se o sujeito realiza o ncleo do tipo, h ato de execuo,

    afirmando a primeira teoria. Ser tambm ato de execuo aquele nico ato

    imediatamente anterior realizao do ncleo do tipo segundo o plano do autor.

    3

    Melhor teoria para a defesa.4Teoria adotada por Zaffaroni e Greco.

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    Nesse caso, o nico ato imediatamente anterior a puxar o gatilho apontar a

    arma para a vtima. Na hiptese do furto, seria o sujeito j estar dentro do imvel e

    prestes a apanhar as coisas.

    Essa teoria no possui a insegurana da anterior, pois no so todos os atos

    que geram perigo, mas apenas aquele que antecede diretamente ao ato tpico (ao

    ncleo do tipo).

    2.4 Casos Especiais

    Em regra, todos os crimes dolosos admitem a forma tentada, j que crimes

    culposos no admitem tentativa, com exceo da culpa imprpria, que ainda ser

    estudada.

    Excepcionalmente, algumas hipteses de crimes dolosos so incompatveis com

    a tentativa, ou mesmo deve-se descobrir em que condies a tentativa vai acontecer.

    2.4.1 Contravenes (art. 4 da LCP)

    LCP, Art. 4 No punvel a tentativa de contraveno.

    Por motivos poltico-criminais, no se admite tentativa em contravenes

    penais. Nesse caso, a tentativa de contraveno atpica.Vimos que a parte especial do CP prev apenas as formas consumadas, de

    maneira que a incidncia da forma tentada demanda a combinao com a norma de

    extenso do art. 14 do CP. No caso de contraveno, essa norma de extenso

    expressamente inaplicvel, de maneira que a conduta passa a ser atpica.