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Aula 3 - As organizações no fordismo Sociologia das Organizações Faculdade Piaget - Suzano - 1º semestre de 2020 Profº Me Antonio Gracias Vieira Filho

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Aula 3 - As organizações no fordismo

Sociologia das Organizações

Faculdade Piaget - Suzano - 1º semestre de 2020Profº Me Antonio Gracias Vieira Filho

Bibliografia, citações e créditosCHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração: Edição compacta. 4ª ed. Barueri (SP), Manole, 2014. Biblioteca eletrônica: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788520440452>

DE MASI, Domenico. O futuro do trabalho. Rio de Janeiro, José Olympio, 2001 [1999].

MORRIS, Charles R. Os magnatas. Porto Alegre (RS), L&PM, 2009.

WOOD JR, Thomaz. Fordismo, Toyotismo e Volvismo: os caminhos da indústria em busca do tempo perdido. In: Revista de Administração de Empresas. São Paulo, EAESP/FGV, vol.32, n.4, 1992, pp. 6-18.

Para biografia de Henry Ford, foi consultado seu verbete na versão em língua inglesa da Wikipedia, inclusive com a adaptação de textos do original. Texto disponível em <https://en.wikipedia.org/wiki/Henry_Ford>. Consultado em 16/01/2020.

Página para personalização e compra de veículo retirada do site institucional da Ford: <www.ford.com.br>. Consulta em 20/10/2018.

Premissas e tópicos para debate

Nesta apresentação, vamos realizar uma leitura mais abrangente do paradigma fordista. Além da costumeira análise do modelo produtivo e gerencial, abordaremos a biografia do personagem que deu nome a esse fenômeno. Assim, trataremos dos seguintes tópicos:1. A biografia de Henry Ford como empreendedor;2. Características fundamentais do fordismo;3. Crise e decadência do modelo fordista.

1. A biografia de Henry Ford como empreendedor● Criador de inovações gerenciais e

produtivas;● O estabelecimento da cultura

automobilística;● As bases para criação do

fordismo.

Foto: Ford em 1919. Autoria: Hartsook, domínio público.

Henry Ford [1]

Henry Ford nasceu em 30 de julho de 1863, em uma fazenda no estado de Michigan, nos EUA. Embora seu pai desejasse que assumisse o controle da fazenda, Ford não tinha simpatia pelo trabalho rural. Aos 16 anos, deixou a família para trabalhar como aprendiz de maquinista em empresas de Detroit. Posteriormente, foi obrigado a retornar a Michigan e trabalhar na fazenda, onde tornou-se adepto do uso de motores a vapor portáteis com finalidades agrícolas. Por conta dessa experiência, acabou contratado pela Westinghouse para trabalhar com a manutenção dos motores a vapor fabricados por essa empresa. Nesse período, também estudou contabilidade em uma faculdade de Detroit.

Henry Ford [2]

Em 1891, Ford se tornou engenheiro na Edison Illuminating Company (do inventor e empresário Thomas Edison). Em 1893, passou a engenheiro-chefe. Após a promoção, Ford passou a ter tempo e dinheiro para se dedicar às suas experiências com motores a gasolina. A partir desses experimentos, ele criou, em 1896, o veículo motorizado chamado Ford Quadricycle (quadriciclo). Com o apoio de Edison, criou um segundo modelo de veículo, completado em 1898. Sua primeira iniciativa como produtor de carros veio com a criação da Detroit Automobile Company, em 1899. Mas os veículos produzidos tinham baixa qualidade e custavam mais do que Ford desejava. A companhia não teve sucesso e foi dissolvida em 1901.

Henry Ford [3]

Após outras experiências com a criação de empresas e projetos de veículos, em 1903 foi criada a Ford Motor Company. A grande criação da empresa aconteceu em 1908, com a introdução do modelo T. Esse projeto trouxe inovações importantes: a barra de direção posicionada no lado esquerdo; todo o motor e a transmissão ficavam em um compartimento fechado; os quatro cilindros do motor eram fundidos em um bloco sólido; entre outros itens. Um veículo fácil de dirigir e de manutenção simples e barata. O seu preço era muito atrativo para a época (US$ 825; aproximadamente US$ 22.000 em valores atualizados) e caiu consistentemente ao longo de sua história de produção.

Henry Ford [4]

As vendas do modelo T foram ampliadas pelas campanhas de publicidade desenvolvidas por Ford e por sua rede de vendedores independentes. Essas franquias ajudaram a gerar uma cultura automobilística, com a criação de clubes que incentivavam a formação de novos motoristas e o uso do carro para exploração das paisagens do interior do país. Em 1913, Ford introduziu uma inovação em seu processo produtivo que iria revolucionar o capitalismo industrial e marcar o desenvolvimento econômico ao longo do século XX: a linha de montagem móvel.

Acima, a linha de montagem móvel da Ford (1913). Abaixo, a linha de desmontagem da empresa Swift & Co (1906). Ford afirma, em sua autobiografia (My life and Work, 1922), que a visita a uma linha de desmontagem abriu seus olhos sobre as vantagens de postos de trabalho fixos combinados a uma linha móvel. Créditos: arquivo Ford e Biblioteca do Congresso/domínio público.

Henry Ford [5]

Entre 1909 e 1927 (quando foi substituído pelo modelo A), foram produzidas 14.689.525 unidades do modelo T.

Foto: Ford Modelo T, versão Touring de 1920 (Lars-Göran Lindgren Sweden, CC 3.0).

Henry Ford [6]

Além da criação de um produto revolucionário e das mudanças do modelo produtivo, Ford inovou no tratamento dispensado a seus trabalhadores. Ele foi um pioneiro do capitalismo de bem-estar. Além de beneficiar seus empregados, havia o interesse em reduzir o elevado turnover herdado das práticas tayloristas - com a necessidade de contratação de 300 pessoas ao ano para manter preenchidas 100 vagas. Ford acreditava que a eficiência estava ligada à contratação e manutenção dos melhores profissionais.

Henry Ford [7]

Para levar adiante a política de retenção e bem-estar de seus funcionários, Ford adotou as seguintes inovações:● Criou, em 1914, o salário de 5 dólares por dia trabalhado (o

equivalente a 120 dólares em valores atualizados);● Estabeleceu uma política de participação nos lucros para

funcionários com 6 meses ou mais de empresa;● Em 1926, estabeleceu a semana de 5 dias de trabalho, com

jornada de 8 horas diárias e 40 semanais.

Mais que generosidade, Ford acreditava que seus empregados deveriam comprar e desfrutar dos produtos que fabricava.

Henry Ford [8]

Imagem: manchete do The Detroit Journal de 05 de janeiro de 1914 com a manchete “Henry Ford distribui US$ 10.000.000,00 em lucros de 1914 para seus funcionários”. Fonte: Ford Motor Company Archives.

Henry Ford [9]

Importante destacar que Henry Ford, mesmo com tantas inovações gerenciais, também tinha posições que reprimiam a liberdade de seus trabalhadores. A participação nos lucros estava vinculada a um comportamento que fosse aprovado pelo Departamento Social da Ford - que chegou a ter 50 investigadores contratados. Atitudes não aprovadas incluíam alcoolismo, jogo e pais pouco atuantes na educação dos filhos. Posteriormente, os aspectos mais invasivos dessa política foram abandonados. Ele também se opôs vigorosamente aos sindicatos e postergou até 1941 a assinatura do primeiro acordo trabalhista da Ford com a United Automobile Workers.

2. Características fundamentais do fordismo

Imagem: cena típica de um escritório/área administrativa em empresa estadunidense na década 1940. Eis a versão gerencial do fordismo. Reprodução para fins educacionais.

Características fundamentais do fordismo [1]

O termo fordismo descreve os sistemas econômicos e sociais que dominaram o mundo ao longo de todo o século XX. Tais sistemas são baseados na produção seriada, estandardizada e industrializada destinada ao consumo de massa. O fordismo também leva em conta a ideia de que salários elevados são importantes para dinamizar o consumo. O termo ganhou proeminência quando foi usado pelo filósofo e sociólogo italiano Antonio Gramsci em 1934, no ensaio “Americanismo e Fordismo”, presente em seus Cadernos do cárcere (1929-1935). Desde então, tem sido utilizado por um grande número de teóricos das ciências humanas e sociais em geral.

Características fundamentais do fordismo [2]

O modelo produtivo e gerencial desenvolvido por Henry Ford tinha os seguintes aspectos básicos (Chiavenato, 2014:13):● Intercambialidade de partes e simplicidade de montagem;● Organização da produção em linha;

○ O fluxo do produto no processo produtivo é planejado, ordenado e contínuo;

● O trabalho é entregue ao operário ao invés de este ter de ir buscá-lo;

● Burocratização da produção;● Ganhos de produtividade, custos e qualidade (em relação a

modelos anteriores).

Características fundamentais do fordismo [3]

O fordismo operava com uma lógica de produção empurrada. Com a criação de um produto tecnologicamente disruptivo - automóvel/modelo T - e a alta demanda gerada, a produção era empurrada para o mercado consumidor. Essa abordagem, orientada para o produto, pode ser eficaz no caso de uma grande novidade e de um mercado pouco exigente quanto à variedade. Com o aumento da flexibilidade da demanda, um modelo produtivo voltado ao desejo do cliente se impõe.

Página da Ford, visitada em 10/2018, na qual o cliente encontra a seção Monte o seu, em que ele pode escolher um modelo de veículo e personalizar a seu gosto. A diferença em relação ao modelo T na cor preta é marcante.

Características fundamentais do fordismo [4]

O fordismo estabelece organogramas bem definidos, com hierarquias claras. De um lado, temos executivos com uma carreira claramente traçada a seguir, com a certeza de ascensão profissional: de auxiliar de escritório à diretoria. De outro, no chão da fábrica, temos operários alienados do processo produtivo, com trabalho fracionado e pouco significativo. A combinação de mão de obra pouco participativa e linhas de montagem muito longas contribuía para geração de defeitos e problemas de qualidade.

Problemas do modelo gerencial fordista/da Ford [1]

● O trabalhador tinha apenas uma tarefa na linha de montagem e sequer sabia o que seu vizinho fazia;

● Superespecialização e perda das habilidades genéricas dos trabalhadores: o operário fica sem perspectiva de carreira e destinado à desabilitação total;

● O engenheiro industrial surge para planejar e controlar tarefas e pensar o sistema de forma mais ampla, numa tentativa de superar as limitações do modelo;

● A resposta de Ford, conhecido pelo estilo centralizador e autoritário, foi a verticalização total e produção de todos os componentes dentro da própria empresa.

Problemas do modelo gerencial fordista/da Ford [2]

As limitações desse paradigma vitimaram algumas grandes corporações, que enfrentaram dificuldades para se adaptar às rápidas mudanças de mercado ocorridas a partir dos anos 1970. Um caso emblemático é a reorganização da IBM, motivada por perda de lucratividade e decisões estratégicas equivocadas. A empresa, que tinha 400.000 empregados em 1985, chegou a 1995 com apenas 225.000. Um traumático processo massivo de demissões. Atualmente, as empresas não podem mais escapar à flexibilidade produtiva e organizacional.

Consequências desse modelo de produção

As inovações gerenciais implementadas por Ford, com o uso da linha de produção e a busca da racionalização, garantiram enormes ganhos de produtividade e qualidade na produção industrial. Por outro lado, uma consequência negativa desse modelo foi a introdução em larga escala de um sistema de controle da produção altamente burocratizado. Nessa abordagem, as empresas acabam por se converter em grandes elefantes, com pouco dinamismo ou inovação e lentidão nas respostas ao mercado.

As contribuições da General Motors (GM)

Um aperfeiçoamento relevante do modelo criado por Ford se deu a partir das contribuições fundamentais de Alfred Sloan, executivo da General Motors. Ele conseguiu superar, na GM, alguns dos impasses que vitimaram a Ford:● Criou divisões na empresa e implantou um

rígido sistema de controle;● Criou uma linha de cinco modelos básicos de

veículos para atender melhor ao mercado;● Criou funções nas áreas de finanças e

marketing.Foto: Alfred Sloan, 1937 (domínio público).

3. Crise e decadência do

modelo fordista

Edição especial da Revista Time, de 5 de outubro de 2009: A tragédia de Detroit. A antiga capital mundial do automóvel, outrora um grande pólo industrial, vive uma severa crise que se arrasta desde os anos 1980. Antes símbolo da prosperidade estadunidense, a cidade é agora associada à crise urbana e desindustrialização. Reprodução para fins educacionais.

A crise do fordismo [1]Fatores que propiciaram a crise do modelo fordista, que se arrasta desde meados da década de 1970:● Excesso de rigidez interna;● Choques do petróleo (1973 e 1979): o petróleo, que até esse

momento era barato e abundante, teve seu preço repentinamente multiplicado. A demanda por eficiência não poderia mais ser negligenciada. Uma cena emblemática foi a instalação de painéis de energia solar na Casa Branca, durante a gestão do presidente Jimmy Carter (1977-1981);

● Aumento da competição externa, vinda principalmente da Ásia, com o toyotismo e suas inovações gerenciais;

A crise do fordismo [2]

Aceleração dos ciclos tecnológicos, com crescente uso de tecnologias da informação e comunicação. Os computadores tomam conta de todos os espaços e a comunicação passa a ocorrer de modo cada vez mais veloz. A base fordista, apoiada em paradigmas oriundos das engenharias - civil, elétrica, mecânica, etc - é posta em questão pela chegada do modelo informacional. As tecnologias tornam-se mais flexíveis e portáteis: dos computadores industriais às versões domésticas; dos telefones fixos às versões móveis; até a aceleração extrema do século XXI, com a convergência tecnológica (informática, nanotecnologia, ciências cognitivas e biotecnologia).

A crise do fordismo [3]

O colapso da organização fordista. O modelo de empresa altamente verticalizado e burocratizado, que foi tão importante no início do século XX, tornou-se inviável. À flexibilidade na produção, passou a corresponder uma atitude análoga nas formas de gestão. Desse modo:● O organograma claro e bem definido, que estabelecia um

plano de carreira, passou a ser questionado. O organograma deu lugar às redes corporativas e a carreira foi substituída pelas metas e concorrência interna;

● A gestão lenta e burocrática, apoiada em muitos formulários de papel e departamentos, deu lugar à informatização;

A crise do fordismo [4]

● O discurso da antiguidade, antes tão valorizado, é substituído pelas palavras-chave meritocracia e empreendedorismo. Profissionais jovens ganham espaço;

● As empresas deixam de se preocupar com o bem-estar dos empregados. A pretexto de combater o paternalismo fiscalizador, são eliminados vários benefícios sociais;

● Chega ao fim o pacto entre sindicatos, empresas e Estado, que resultava em relativa paz social e acordos que beneficiavam os trabalhadores;

● Com o toyotismo e, posteriormente, a acumulação flexível de capital, chega ao fim o domínio da organização fordista.

Bibliografia

Bibliografia, citações e créditosCHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração: Edição compacta. 4ª ed. Barueri (SP), Manole, 2014. Biblioteca eletrônica: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788520440452>

DE MASI, Domenico. O futuro do trabalho. Rio de Janeiro, José Olympio, 2001 [1999].

MORRIS, Charles R. Os magnatas. Porto Alegre (RS), L&PM, 2009.

WOOD JR, Thomaz. Fordismo, Toyotismo e Volvismo: os caminhos da indústria em busca do tempo perdido. In: Revista de Administração de Empresas. São Paulo, EAESP/FGV, vol.32, n.4, 1992, pp. 6-18.

Para biografia de Henry Ford, foi consultado seu verbete na versão em língua inglesa da Wikipedia, inclusive com a adaptação de textos do original. Texto disponível em <https://en.wikipedia.org/wiki/Henry_Ford>. Consultado em 16/01/2020.

Página para personalização e compra de veículo retirada do site institucional da Ford: <www.ford.com.br>. Consulta em 20/10/2018.

Muito obrigado por sua atenção!

Profº Me Antonio Gracias Vieira Filho

Contato: [email protected]

Visite: www.sociologiadagestao.com