16
1ª Edição | 2010 | O Brasil sob a Nova Ordem A economia brasileira contemporânea Uma análise dos governos Collor a Lula Rosa Maria Marques e Mariana Ribeiro Jansen Ferreira Organizadoras

Aula 31 a questão agrária no brasil (economia brasileira)

Embed Size (px)

Citation preview

1ª Edição | 2010 |

O Brasil sob a Nova Ordem

A economia brasileira contemporânea – Uma análise dos governos Collor a Lula

Rosa Maria Marques e Mariana Ribeiro Jansen Ferreira

Organizadoras

Capítulo 14 A Questão Agrária no Brasil

Luiz Alberto de Jezus

Capítulo 14

A Questão agrária no Brasil

Introdução As leis e propostas de reforma agrária no Brasil nunca foram além de dar alguns pequenos “sustos” nas oligarquias agrícolas ou, de outra perspectiva, de se configurarem como pequenos momentos de esperança para os camponeses sem-terra. O primeiro Plano Nacional de Reforma Agrária, elaborado no início do processo de redemocratização política de 1985, resultou de uma longa discussão com os diversos segmentos da sociedade.

Capítulo 14

A Questão agrária no Brasil

No campo das ideais, a reforma agrária ficou restrita a um pleito social, deixando de lado a antiga discussão sobre produtividade e necessidade de aumento da produção para o barateamento dos alimentos, por exemplo. O objetivo deste capítulo é, no campo da discussão da reforma agrária, mostrar a atual estrutura fundiária do Brasil, sua formação e suas consequências.

Capítulo 14

A Questão agrária no Brasil

1. Antecedentes Esta parte do capítulo descreve os mais importantes marcos, legais ou institucionais, que deveriam ter contribuído para a realização da reforma agrária no Brasil ou que contribuíram para seu retrocesso. - De 1500 a 1850. Durante esse período, o regime de obtenção da terra era o de sesmarias, seguido por um movimento de ocupação. - A Lei de Terras de 1850. Em 1850 foi promulgada a Lei de Terras. Respondendo ao pleito da oligarquia rural da época, basicamente mudou o regime de posse e propriedade da terra.

Capítulo 14

A Questão agrária no Brasil

- O Estatuto da Terra de 1964 (Lei n. 4.504 de 30 de novembro de 1964). Ato contínuo à Emenda Constitucional n.10, atribuía ao governo federal a prerrogativa de legislar sobre o direito agrário; foi o marco jurídico na legislação que regulamenta o uso e a posse da terra. - O I Plano Nacional de Reforma Agrária. Apresentada à nação em 1985, a proposta do ministro da Reforma e do Desenvolvimento Agrário era bastante profunda. - A Constituição de 1988. Baseada no Estado democrático e de direito, cujos fundamentos são a cidadania, a soberania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa e o pluralismo político (art. 1º), a nova Carta ressalta que a função social deve nortear o direito à propriedade privada.

Capítulo 14

A Questão agrária no Brasil

- Lei n. 8.629/93. Ficou conhecida como a Lei da Reforma Agrária. Em especial, determina com se afere a produtividade da área agrícola e preleciona que os parâmetros de produtividade devem ser revistos periodicamente a fim de incorporar os avanços tecnológicos. - Medida Provisória n. 2.183. “A Medida Provisória n. 2.027-38/2000, reeditada, pela última vez, como MP n. 2.183-56/2001, encontra-se em vigência por força do art. 2º da Emenda Constitucional n. 32, de 11 de setembro de 2001.

Capítulo 14

A Questão agrária no Brasil

- O II Plano Nacional de Reforma Agrária de 2003. Este plano tinha 11 metas para o período de 2004 a 2006 2. A Estrutura Fundiária Brasileira, a Análise dos Clássico e Contemporâneos Entre 1950 e 1995, as terras ocupadas aumentaram significativamente, de 2007.271 mil hectares para 353.611 mil hectares, isto é, uma expansão de 70,6%. Em relação à concentração da terra, destaca-se que, em 1980, 1,4% dos declarantes detinham 50% dos estabelecimentos acima e mil hectares; em 1995, 1% detinha 45,1%.

Capítulo 14

A Questão agrária no Brasil

Celso Furtado (1972) cita a estrutura baseada no latifúndio-minifúndio como fonte de poder de uma classe dominante sobre uma maioria de trabalhadores. Os minifundiários em geral não possuem terras suficientes para explorar totalmente sua própria mão de obra. Furtado não tinha dúvida de que a produtividade e o progresso técnico eram fundamentais para a solução dos problemas agrários.

Capítulo 14

A Questão agrária no Brasil

3. O Setor Agrícola nos Governos FHC e Lula Apesar de a luta pela terra ter sido um dos elementos presentes durante todo o período militar e bandeira da democratização do País, nem FHC nem Lula promoveram algo que se aproxime de uma reforma agrária. No caso de Lula, isso é mais emblemático, pois em sua trajetória política sempre esteve ligado aos movimentos sociais que lutam pela terra e deles recebeu apoio na sua eleição e reeleição para presidente da República. Destacam-se no governo Lula a ênfase ao crédito à agricultura familiar, o programa Luz para Todos no campo e os expressivos saldos gerados na balança comercial, principalmente derivados do setor de agronegócios.

Capítulo 14

A Questão agrária no Brasil

Em relação ao governo Lula, deve-se ressaltar que este tem se mostrado aquém das esperanças daqueles que acreditavam que, a partir dele, seria possível o início de um processo de reforma agrária. 4. A “Modernização” do Setor 4.1 A reformulação produtiva A modernização do setor agrícola, ocorrida de forma mais intensa a partir das décadas de 1970 e 1980, permitiu a manutenção das desigualdades e da concentração no campo ou até mesmo as agravou.

Capítulo 14

A Questão agrária no Brasil

Na década de 1960, havia um caloroso debate sobre qual a melhor opção social para o campo. A corrente progressista pleiteava uma mudança na estrutura fundiária, sem a qual não poderia haver desenvolvimento. No momento em que parte da agricultura se modernizou, adotando técnicas mais produtivas, algumas atividades que antes lhe eram próprias foram dela se destacando e passaram a ser exploradas pela indústria. Conforme Silva (1994), a modernização do campo agravou as condições de desigualdade porque, quando o processo se iniciou, somente alguns produtos tinham condições de absorvê-la.

Capítulo 14

A Questão agrária no Brasil

4.2 As medidas liberalizantes pós-1990 A partir de 1990, houve uma mudança no papel do Estado na economia. O modelo de desenvolvimento baseado na substituição de importações havia se esgotado, deixando como legado inflação e dívida pública. Pereira (2006) descreveu os efeitos das novas políticas de terra e reforma agrária de mercado e aponta o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento e Reconstrução (Bird) como protagonistas dessa reformulação.

Capítulo 14

A Questão agrária no Brasil

No triênio 1996 a 1998, o Bird sistematizou uma reciclagem do projeto neoliberal para a América Latina e o Caribe. Esse projeto decorreu de uma necessidade de afirmação positiva das medidas que vinham sendo implementadas nos países e que em muitos deles trouxeram como resultado estagnação e crises, sendo a mais expressiva a do México. Outro aspecto fundamental a ser considerado é que o processo de financeirização “encontrou” no mercado agrícola uma forma de proliferar seus ganhos.

Capítulo 14

A Questão agrária no Brasil

Isso fica nítido quando se discutem as transformações que vêm ocorrendo nos últimos anos com os preços das commodities – considerando-se bens agrícolas, metais e petróleo. Considerações Finais Não faltaram instrumentos legais para que o Estado promovesse uma reforma agrária no Brasil. O Estatuto da Terra, de 1964, criou o arcabouço legal necessário para que a terra cumprisse seu papel social. A estrutura agrária no Brasil em 1995/1996 era semelhante à de 1950.

Capítulo 14

A Questão agrária no Brasil

Exceto pelos ganhos de produtividade, obtidos pelo maior uso de máquinas e implementos, de adubos químicos e de novas técnicas produtivas, o campo brasileiro ainda está no século passado. Os governos – ditatoriais ou democráticos – optaram por não enfrentar os ruralistas. Ano após ano, um pequeno número (comparado à demanda) de famílias é assentado e é esse o número que dá o tom do debate: o de famílias assentadas. Para frustração de todos, o governo Lula, que tinha em seu plano de governo de 2002 a desapropriação por interesse social como principal forma de obter terras para a reforma agrária, muito pouco fez durante o seu primeiro mandato.