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AULA 5 panorama a - Brasil África | A África no Brasil e ...brasilafrica.fflch.usp.br/sites/brasilafrica.fflch.usp.br/files... · Nascido no Rio de Janeiro em 1740. Morreu em Lisboa

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Precursores

Talvez a mais antiga referência aautores negros inicie-se no séculoXVIII, com o poeta e cantador delundus Domingos CaldasBarbosa, responsável por inserirna poesia árcade recursos da falabrasileira, com aspectos dovocabulário mestiço da colônia.

Domingos Caldas Barbosa

Nascido no Rio de Janeiro em 1740. Morreu em Lisboa no ano de 1800 para onde foi mandado para estudar (Universidade de Coimbra).

Era filho de um funcionário real português com uma escrava de Angola. Considerado por muitos pesquisadores o precursor da modinha brasileira.

Transitava pela corte e incorporava àestética do Arcadismo as influências

Em 1798 foi publicada sua obra poéticaViola de Lereno. Domingos CaldasBarbosa foi poeta árcade, mas suaprincipal obra está vinculada à cançãopopular.

Em 2004, José Ramos Tinhorão,reconhecido pesquisador da músicapopular brasileira lançou o livroDomingos Caldas Barbosa – O poetada viola, da modinha e do lundu (1740-

Nos anos iniciais do século XIX,com a chamada imprensanegra, começam a surgir vozesnegras no contexto culturalbrasileiro.Mesmo antes do advento daabolição, registramos autorescomo:

SÉC. XIX

Luiz GamaJosé do Patrocínio

André RebouçasTobias Barreto

Maria Firmina dos Reis

Posteriormente, destacam-se:Cruz e SousaLino Guedes Lima Barreto

Com trabalhos na imprensa, napoesia ou na ficção, esses autoresapontam não apenas para umatemática negra, mas tambémcolocam o negro que assume suaidentidade na tessitura dodiscurso jornalístico e literário,guardando, evidentemente, asparticularidades individuais de cadaexpressão artística

Luiz Gama

Nasceu em Salvador no ano de 1830 emorreu em São Paulo no ano de 1882.

Filho de um fidalgo português e daescrava africana liberta Luísa Mahin,figura importante em insurreições deescravos, principalmente a Revoltados Malês (1835). Também foi acusadade participar na Sabinada e, por isso,deportada para o Rio de Janeiro, ondedesapareceu.

Depois disso, o escritor, aos dez anosde idade, foi vendido ilegalmente porseu próprio pai como escravo, mesmoestando em vigor a Lei do ventre livre.

Autodidata, Luís Gama tornou-seadvogado e iniciou suas atividadescontra a escravidão.

Em 1864 fundou o jornal Diabo Coxo.Morreu sem ver concretizada alibertação dos escravos, embora tenhaatuado em frentes abolicionistas

Sua principal obra, Trovas burlescas

(1859), é considerada um verdadeiro

divisor de águas na Literatura Brasileira,

uma vez que “funda uma linha de

indagação sobre a identidade, a qual

será trilhada até hoje pela poesia negra

no Brasil”

Sou negro sou, ou sou bodePouco importa. O que isto

pode?Bodes há de toda a casta,Pois que a espécie é muito

vasta…Há cinzentos, há rajados,Baios, pampas e malhados,Bodes negros, bodes brancos.

Excerto do poema “Quem sou eu?” In: GAMA, Luís. Trovas Burlescas. São

Tobias Barreto

Nasceu em Vila de Camposdo Rio Real (atual TobiasBarreto no estado deSergipe), 7 de junho de1839 e morreu em Sergipe,26 de junho de 1889.

Formado em Direito, atuouintensamente na imprensa.Enquanto viveu em Pernambuco,aproximou-se da chamada escolade Recife. Também foi poeta, nãotendo, no entanto, uma produçãosistemática.

Formulou reflexão sobre aidentidade racial do mestiçobrasileiro.

José do Patrocínio.

Nasceu em Campo dosGoytacazes, 1854 e faleceu emjaneiro de 1905 no Rio de Janeiro

Abolicionista, desfrutou de enormeprestígio nesse período. Escreveuainda obras em prosa de caráterrealista em que abordava questõessociais.

Merecem destaque: Mota Coqueiroou A pena de morte (1877,romance), Os retirantes (1879,romance), Pedro Espanhol (1884,romance)

Em 1877 ingressou para o jornalGazeta de Notícias, em queintensificou seus ataques àescravidão

Maria Firmina dos Reis

.

Nasceu no Maranhão no ano de 1825.Morreu em 1917, sem ver sua principalobra reconhecida pelos intelectuais daépoca.

Escreveu Úrsula, considerado o primeiroromance afro-brasileiro em que atemática negra é abordada a partir deuma perspectiva interna e comprometidaa recuperar a condição do negro nasociedade brasileira.

“Maria Firmina teve participação relevantecomo cidadã e intelectual ao longo dosnoventa e dois anos de uma vida dedicada aler, escrever e ensinar. Atuou comofolclorista, na recolha e preservação detextos da literatura oral e atuou tambémcomo compositora, sendo responsável,inclusive, pela composição de um hino paraa abolição da escravatura. E, o maisimportante, trouxe a público dois romances,Gupeva, em 1861, de temática indianista, eÚrsula, em 1859.”

Cruz e Souza

Nasceu em 1863 em Florianópolis emorreu em 1898 em Estação doSítio. Filhos de negros alforriados,recebeu no entanto educaçãorefinada sob responsabilidade doex-senhor de quem acabou poradotar o sobrenome.Foi diretor do jornal abolicionistaTribuna Popular, 1881. Mais tardefoi nomeado promotor público nacidade de Laguna (Santa Catarina).No entanto, foi recusado por sernegro

Considerado o maior poetasimbolista brasileiro, em 1893publica suas obras Missal (poemasem prosa) e Broquéis (poesias), omarco inicial do referido movimentoliterário que perduraria até 1922com a Semana de Arte Moderna

“a poesia de Cruz e Souza situa-seem um período caracterizado poruma tomada de consciência dasituação de preconceito ediscriminação a qual transparece notecido poético, principalmente nonível do implícito, dos simbolismos edo não-dito. A denuncia e a revoltasão legíveis mais nos vazios e nasevocações do texto do quepropriamente na construção dospoemas.”

Lino Guedes

Há dúvidas sobre a data denascimento de Lino Guedes, unsautores dizem que foi em 1897, outrosafirmam que foi em 1906 em Socorro(SP). Faleceu em 1951.

Trabalhou em vários jornais, comoJornal do Comércio, O Combate, ARazão, Correio de Campinas, CorreioPaulistano e no Diário de São Paulo.

Teve também atuação na ImprensaNegra, sendo redator-chefe deGetulino, na década de 20.

Considerado o iniciador da negritudeno Brasil, publica suas obras durante oModernismo, sem aderir a ele, noentanto.

“Dotado do mesmo objetivo de“elevação da raça” que norteiaações de entidades como a FrenteNegra, por exemplo, Lino Guedesfaz de seus escritos umaconstatação lírica dasdesigualdades e da necessidade deressurreição moral do povo afro.”

Fonte:

http://www.portalafro.com.br/linoguedes.htm

http://www.quilombhoje2.com.br/blog/?p=257

Em sua obra abordou a vida daspopulações negras e o estigma daescravidão na sociedade brasileirano pós-abolição.

Obras que merecem destaque:

Negro preto cor da noiteO Canto do cisne negro

Lima Barreto.

O Escritor nasceu no Rio de Janeiroem 1891 e morreu em 01 de novembrode 1922. Jornalista e ficcionista, emseu romance de estreia – Recordaçõesdo escrivão Isaías Caminha – adota osrecursos da escrita realistaautobiográfica à maneira de Flaubert eDostoievski, como lembra o ensaístaAlfredo Bosi.

“A condição de mestiço humilde,interiorano, depois suburbano, e os seuspercalços para integrar-se na vida dacapital que se modernizava a passoslargos; a rotina do jornal onde achouemprego, com toda a galeria de tiposbeirando a caricatura; enfim o clima defatuidade e subserviência que serespirava na imprensa e nos círculosliterários da belle époque carioca – tudosão índices de valor documental queinteressam de perto ao historiador dasmentalidades de nossa República Velha.”

SÉCULO XX

Solano Trindade

Nasceu no Recife em 1908 efaleceu no Rio de Janeiro em1974. No ano de 1934 idealizou o ICongresso Afro-Brasileiro noRecife, Pernambuco, e participouem 1936 do II Congresso Afro-Brasileiro em Salvador, Bahia.

Segundo Zilá Bernd, a obra de SolanoTrindade é a mais vigorosa do período,enuncia-se como uma literatura deresistência, de fortes contornos políticos eideológicos de esquerda, preocupada,sobretudo, com os trabalhadoresoprimidos.

À radicalidade ética alia-se a radicalidadeestética de sua apurada poética. Étambém o poeta brasileiro mais alinhadocom os pressupostos do já mencionado

Defensor da liberdade e da culturanegra no país, Solano Trindade sofreuperseguições.

Um de seus poemas mais conhecidos,“Tem Gente com Fome”, foi musicadoem 1975 pelo grupo Secos & Molhados.A música foi proibida pela censura,sendo resgatada e gravada em 1980por Ney Matogrosso, no álbum “SeuTipo”.

Mas, por causa desta música, em1944, Solano foi preso e teve o livroPoemas de uma Vida Simplesapreendido.

Além disso, em 1964, um dos seusquatro filhos, Francisco Solano,morreu numa prisão da ditaduramilitar.

Fonte:

Entre suas publicações, destacam-se:

Poemas de uma vida simples (1944)

Cantares do Meu povo (1963)

Há também uma antologia -Poemas Antológicos - lançada em 2008 e ilustrada por sua filha Raquel Trindade.

Oswaldo de Camargo

Nascido em Bragança Paulista,SP, em 1936. É jornalista, músicoe escritor. Um dos responsáveispor colocar a literatura negra nocircuito cultural brasileiro.

Além de sua produção poética eficcional, tem uma reflexão sobre aliteratura negra brasileira. Em1987 publicou o livro O negroescrito.

O escritor é um dos grandes expoentesda poesia negra contemporânea noBrasil. Ao lado de Cuti, Paulo Colina,Abelardo Rodrigues e Mário JorgeLeschano, fundou o grupoQuilombhoje, que desde 1978, publicaanualmente a série Cadernos Negros.

Obras a destacar:Um homem tenta ser anjo15 poemas negrosO estranho

“Sou herdeiro de buscas culturais denegros do País que, no início do séculoXX, começaram a reavaliação dasituação do elemento afro-brasileiro epartiram para uma tentativa de inseri-losocial e culturalmente, tendo comoarmas sobretudo agremiações decultura, jornais alternativos para acoletividade, teatro negro, a literatura,sobretudo a escrita por poetas detemática afro-brasileira, como Lino

Eduardo de Oliveira

.

Nasceu em 06 de agosto de 1926 efaleceu em 12 de julho de 2012.Advogado, jornalista, professor epoeta. Ativista em defesa dos DireitosHumanos. Fundou o CongressoNacional AfroBrasileiro (CNAB).

Foi um dos responsáveis pelaaprovação do Estatuto da Igualdade

Racial.

Contemporâneos

Cuti

Cuti é pseudônimo de Luiz Silva.Nasceu em Ourinhos-SP, a 31.10.51.Formou-se em Letras. Mestre emTeoria da Literatura e Doutor emLiteratura Brasileira.

Um dos fundadores e membro do Quilombhoje.

Um dos criadores e mantenedores da série Cadernos Negros.

Miriam Alves.

Escritora e poeta integrante doQuilombhojeLiteratura de 1980a 1989. Em 2010, ministrou oscursos de Literatura e CulturaAfrobrasileira na Escola dePortuguês de MiddelburyCollege

Por que escrevo?

“É um desafio desfiar as amarras e nosliberar. Às vezes temos para istosomente a folha branca de um papelolhando-nos de esguelha. E, é ai queeu jorro. Jorro as historias que vi noespelho. Jorro um pouco das historiasque não vi. Nem sempre somos felizesnesta pratica. Mas enfim é um atoirrefutável. É a saída. Ou a entradapara sair-se das encruzas do mutismo.”

Conceição Evaristo

Conceição Evaristo é outra escritoraque se destaca pelo compromisso com aquestão identitária negra. Ela imprime àescrita, no entanto, uma dicçãofeminina, encenando formas deresistência que dizem respeito aouniverso da mulher e ao cenário deviolência e opressão a que está sujeita.Em seus textos, sobressai o tom líricoque se ajusta perfeitamente àtragicidade que envolve esse percurso..

A escritora é mineira e tem umatrajetória bastante peculiar no panoramada literatura brasileira. Nascida em umafavela nas proximidades de BeloHorizonte, foi empregada doméstica e,apesar de todos os obstáculos que essacondição gera em uma sociedade depassado escravista como a nossa,concluiu seus estudos aos 25 anos,tornando-se professora. Já no Rio deJaneiro, fez mestrado e doutorado naárea de Literatura

“O que eu tenho pontuado é isso: é odireito da escrita e da leitura que opovo pede, que o povo demanda. Éum direito de qualquer um,escrevendo ou não segundo asnormas cultas da língua. É um direitoque as pessoas também queremexercer. (…) A mulher negra, elapode cantar, ela pode dançar, elapode cozinhar, ela pode se prostituir,mas escrever, não, escrever é umacoisa é um exercício que a elite

(…) Então eu gosto de dizer isso:escrever, o exercício da escrita, éum direito que todo mundo tem.Como o exercício da leitura, comoo exercício do prazer, como teruma casa, como ter a comida (…).A literatura feita pelas pessoas dopovo, ela rompe com o lugar pré-determinado.”

Ele Semog.

.

Éle Semog (pseudônimo de LuizCarlos Amaral Gomes) nasceu noRio de Janeiro, tendo participadoativamente dos movimentos negrosda década de 1970 – grupos“Garra Suburbana” e “Bate-Boca” –que tinham por objetivo, entreoutros, estudar e produzir umapoesia marcada pelaafrodescendência.

Entre 1977 e 1978, participa dasantologias Incidente normal eEbulição da escrivatura – trezepoetas impossíveis. Em parceriacom o poeta José Carlos Limeira,lança O arco-íris negro (1978,poemas) e Atabaques (1979,poemas).

Em 1984, fundou o grupo Negrícia –Poesia e Arte de Crioulo.

Entre 1989 e 1996, foi presidente doCEAP – Centro de Articulação dePopulações Marginalizadas. Foi co-fundador do jornal Maioria Falante,onde atuou até 1991.

Fonte: http://elesemog.com.br/w/

Assim como Cuti e ConceiçãoEvaristo, a poética de Éle Semog éfortemente marcada pelo viés dadesconstrução identitária negra,mas percebe-se em seu trabalholiterário substantiva preocupaçãocom questões sociais e políticasque, em vez de diluir a questãoracial, fortalece-a. Sua obra, demaneira impactante, dá voz àquelesque ocupam as franjas da sociedadebrasileira

Éle Semog acredita que aliteratura exige militância e nessesentido, como escritor, participoude muitas atividades durante aresistência à ditadura militar.

Edimilson de Almeida Pereira

Nasceu em Juiz de Fora, MinasGerais, em 1963.

Licenciado em Letras eespecializado em literaturaportuguesa. Professor de literaturana Universidade Federal de Juiz deFora, é mestre em Literatura e emCiência da Religião e doutor emcomunicação e cultura.

“Estabelece equilíbrios, em suapoesia, entre a negritude afetiva,ancestral, num certo sentidoquase cósmica, e o mundobranco, com toda a ambíguacarga de opressão e atração, decativeiro e libertação quecontém.”

Fonte: http://www.itaucultural.org.br

FERRÉZ

Em seus romances e contos,apresenta em chave realistaproblemas cotidianos vividos pelapopulação das regiões periféricas deSão Paulo.

Suas histórias, consideradas por eleliteratura marginal, expõem por meioda ficção os dilemas relacionados àsituação de pobreza desses

“Busca em sua obra revelar a violência a queestão expostos seus personagens, à medidaque investiga criticamente esses sujeitos,sendo, ao mesmo tempo, vítimas e agentesdo processo social no qual se inserem.”

“Sua prosa busca reconstituir a musicalidadeda variante linguística da periferia da cidadede São Paulo e constituir um ponto de vistaliterário e crítico interno a essa realidade.”

Fonte: http://www.itaucultural.org.br/

Obras a destacar

Ninguém é inocente em São Paulo (contos)Capão Pecado (romance)Manual prático do ódio (romance)

BIBLIOGRAFIA

BERND, Z. Poesia Negra Brasileira –Antologia. Porto Alegre: AGE/IEL/IGEL, 1992.

BERND, Z. Introdução à literatura Negra. São Paulo: Ed. Brasiliense. 1988.

CUTI (Luiz Silva). Literatura Negro-Brasileira. São Paulo: Selo Negro, 2010.

DUARTE, E. A. “Literatura afro-brasileira um conceito em construção”. (texto consultado no site http://www.letras.ufmg.br/literafro/afrodescendenciaseduardo.pdf em 24 de abril de 2011).

DUARTE, E. A. & FONSECA, M. N. (org) Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

FONSECA, M. N. “Literatura Negra, literatura afro-brasileira: como responder à polêmica?” In: SOUZA, F. & LIMA, M. N.(org). Literatura afro-brasileira. Brasília; Fundação Cultural Palmares, 2006.

IANNI, O. “Literatura e consciência” In: Revista do Instituto de Estudos Brasileiros. São Paulo: 1988.

PROENÇA FILHO, D. “A Trajetória do Negro na Literatura Brasileira”. In: Revista do Instituto de Estudos Avançados. São Paulo: IEB/USP, 2004, no. 50

SOUZA, F. S. Afro-descendência em Cadernos Negros e Jornal do MNU. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

CADERNOS NEGROS. São Paulo: Ed. dos autores/Quilombhoje. 1978-2011.

Sites consultadoshttp://www.portalafro.com.br/linoguedes.htm

http://www.quilombhoje2.com.br/blog/?p=257

http://oswaldodecamargo.blogspot.com.br

http://www.palmares.gov.br

http://alvesescritorapoeta.blogspot.com.br

http://elesemog.com.br