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Direito Processual Civil – AJAJ TRT 12ª Região Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges – Aula 00 Prof. Gabriel Borges www.estrategiaconcursos.com.br Página 1 de 47 TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 12ª REGIÃO Analista Judiciário Área Judiciária AULA 00: Jurisdição Apresentação do curso Faremos um curso bastante didático, deixando de lado a linguagem excessivamente técnica e a formalidade. Utilizaremos recursos visuais: marcadores de texto, negrito e muitas questões de concurso, no corpo da aula, bem como ao final. As questões são de provas passadas e eventualmente inéditas (elaboradas pelo próprio professor). O objetivo é preparar o candidato para resolução de questões no grau de complexidade que a banca tem atribuído aos certames mais concorridos. O curso visa a preparar os candidatos para o cargo de Analista Judiciário Área Judiciária do TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 12ª REGIÃO. Será um curso de 11 encontros, em que iremos trabalhar todo o conteúdo exigido pela banca, por meio de teoria e questões de concursos anteriores. Sobre o Prof. Gabriel Borges O Professor Gabriel Borges graduou-se em Jornalismo e Direito, cursou pós- graduação em Direito Público e Mestrado em Relações Internacionais. Em 2008 foi aprovado no concurso de Analista de Comércio Exterior, sendo lotado de imediato no Gabinete do Ministro, onde trabalhou com a redação de pronunciamentos para autoridades do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Realizou estudos na Escola Superior de Guerra ESG, e em julho de 2011 tornou-se o primeiro servidor do ciclo de gestão a integrar a Consultoria Jurídica junto ao MDIC. No ano de 2012, foi aprovado para o cargo de Consultor Legislativo do Senado.

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TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 12ª REGIÃO

Analista Judiciário – Área Judiciária

AULA 00: Jurisdição

Apresentação do curso

Faremos um curso bastante didático, deixando de lado a linguagem

excessivamente técnica e a formalidade. Utilizaremos recursos visuais: marcadores

de texto, negrito e muitas questões de concurso, no corpo da aula, bem como ao

final.

As questões são de provas passadas e eventualmente inéditas (elaboradas

pelo próprio professor). O objetivo é preparar o candidato para resolução de

questões no grau de complexidade que a banca tem atribuído aos certames mais

concorridos.

O curso visa a preparar os candidatos para o cargo de Analista Judiciário –

Área Judiciária do TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 12ª REGIÃO.

Será um curso de 11 encontros, em que iremos trabalhar todo o conteúdo

exigido pela banca, por meio de teoria e questões de concursos anteriores.

Sobre o Prof. Gabriel Borges

O Professor Gabriel Borges graduou-se em Jornalismo e Direito, cursou pós-

graduação em Direito Público e Mestrado em Relações Internacionais. Em 2008 foi

aprovado no concurso de Analista de Comércio Exterior, sendo lotado de imediato no

Gabinete do Ministro, onde trabalhou com a redação de pronunciamentos para

autoridades do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Realizou

estudos na Escola Superior de Guerra – ESG, e em julho de 2011 tornou-se o primeiro

servidor do ciclo de gestão a integrar a Consultoria Jurídica junto ao MDIC. No ano de

2012, foi aprovado para o cargo de Consultor Legislativo do Senado.

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Observação importante: Este curso é protegido por direitos autorais

(copyright), nos termos da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida a

legislação sobre direitos autorais e dá outras providências.

Grupos de rateio e pirataria são clandestinos, violam a lei e prejudicam os

professores que elaboram os cursos. Valorize o trabalho de nossa equipe

adquirindo os cursos honestamente através do site Estratégia Concursos ;-)

Vamos ao nosso cronograma.

CRONOGRAMA

Aula 00 (17/05/2013): Aula Demonstrativa: Da Jurisdição

Aula 01 (21/05/2013): Da ação: conceito, natureza e características; das condições da ação.

Aula 02 (24/05/2013): Das partes e procuradores: da capacidade processual e postulatória; dos deveres e da substituição das partes e procuradores.

Aula 03 (28/05/2013): Do litisconsórcio e da assistência. Da intervenção de terceiros: oposição, nomeação à autoria, denunciação à lide e chamamento ao processo. Do Ministério Público.

Aula 04 (04/06/2013): Do Juiz. Da competência: em razão do valor e da matéria; competência funcional e territorial; modificações de competência e declaração de incompetência.

Aula 05 (07/06/2013): Dos atos processuais: da forma dos atos; dos prazos; da comunicação dos atos; das nulidades.

Aula 06 (11/06/2013): Da formação, suspensão e extinção do processo. Do processo e do procedimento; dos procedimentos ordinário e sumário. Do procedimento ordinário: da petição inicial: requisitos, pedido e indeferimento.

Aula 07 (18/06/2013): Da resposta do réu: contestação, exceções e reconvenção. Da revelia. Do julgamento conforme o estado do processo.

Aula 08 (25/06/2013): Das provas: ônus da prova; depoimento pessoal; confissão; provas documental e testemunhal. Da audiência: da conciliação e da instrução e julgamento.

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Aula 09 (02/07/2013): Da sentença e da coisa julgada. Da liquidação e do cumprimento da sentença. Da ação rescisória. Dos recursos: das disposições gerais.

Aula 10 (09/07/2013): Do processo de execução: da execução em geral; das diversas espécies de execução: execução para entrega de coisa, execução das obrigações de fazer e de não fazer. Dos embargos do devedor. Da execução por quantia certa contra devedor solvente. Da remição. Da suspensão e extinção do processo de execução.

Aula 11 (12/07/2013): Do processo cautelar; das medidas cautelares: das disposições gerais; dos procedimentos cautelares específicos: arresto, sequestro, busca e apreensão, exibição e produção antecipada de provas. Dos procedimentos especiais: ação de consignação em pagamento; embargos de terceiro; ação monitória. 28 LEI 11.419/2006 - Informatização Do Processo Judicial.

SUMÁRIO PÁGINA

1. Apresentação 01

2. Cronograma 02

3. Capítulo I: Jurisdição

Introdução

1. Equivalentes Jurisdicionais

1.1. Classificação

1.1.1 Jurisdição voluntária versus jurisdição contenciosa

1.1.2. Classificação dos procedimentos de jurisdição voluntária

1.2. Escopos da jurisdição

1.3. Princípios inerentes à jurisdição

1.3.1. Investidura

1.3.2. Territorialidade

1.3.3. Indelegabilidade

1.3.4. Inevitabilidade

1.3.5. Inafastabilidade

1.3.6. Juiz Natural

04

4. Resumo 27

5. Questões comentadas 30

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6. Lista das questões apresentadas 42

7. Gabarito 46

8. Bibliografia 47

"Não procure fora, o sucesso está dentro de si" (Mary Lou Cook)

CAPÍTULO I: DA JURISDIÇÂO

São quatro os institutos que estruturam o processo civil, a saber: a

jurisdição, a ação, a defesa e o processo. Eles são elementos nucleares para a

ciência processual, pois possuem uma relação direta ou indiretamente com as

demais normas.

JURISDIÇÃO

AÇÃO

DEFESA

PROCESSO

É uma atividade típica do Estado, em que o juiz busca pacificar os litígios, aplicando, ao caso concreto, normas legais.

Direito de iniciar, participar e obter, do Poder Judiciário, uma resposta ao processo.

Direito de resposta – ampla defesa e contraditório.

Encadeamento de atos que visa um fim – resposta judicial ao pedido formulado.

INTRODUÇÃO

O conflito é uma característica inerente do ser humano. Quando não havia

um Estado organizado, a solução dos conflitos dava-se pela atuação dos próprios

interessados - aquele que dispusesse de maior força ou sagacidade vencia a

disputa. A solução dos conflitos consolidava-se, desse modo, por instrumentos

parciais.

A partir da consolidação do Estado, passou a existir um poder central para a

solução dos conflitos, o poder estatal. Ao poder judiciário, não participante do litígio,

portanto imparcial, atribuiu-se a função de aplicar a lei, em regra abstrata, em busca

da pacificação social. Atribuiu-se a ele o chamado poder jurisdicional.

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Percebam, então, que a consolidação de um poder central veio

acompanhada de um sistema que desse segurança jurídica à sua população, sob

risco de o poder central ser mera peça de manobra de forças preponderantes.

São duas figuras indissociáveis: 1) O Poder Central (Estatal) e 2) a

instituição de um controle imparcial da conduta dos jurisdicionados. Imaginem a

existência de uma sociedade onde não há segurança jurídica, onde não se sabe ao

certo como garantir a propriedade sobre seus bens e a justeza no conflito com seus

pares... Esse cenário impediria os indivíduos de buscarem prosperidade porque

estariam voltados, a todo momento, para questões de segurança. A jurisdição veio

dar ao Estado a legitimidade para agir em nome do interesse público e ao

jurisdicionado a segurança jurídica para prosperar.

Em seu conceito tradicional, jurisdição é o poder de resolver um conflito

entre as partes, substituindo a vontade delas pela da lei. Ela tem como característica

a substitutividade, que consiste em dizer que o Estado, na figura do juiz, ao

solucionar a lide, estaria substituindo a vontade das partes, proibindo a elas de

estarem, em regra, fazendo valer a justiça do mais forte. No entanto, não é somente

quando há conflito entre as partes que o poder estatal atua, nem é sempre que há

substituição da vontade das partes.

Na concepção moderna, jurisdição é a atuação estatal ao caso concreto;

uma atuação com caráter de definitividade – diz respeito à imutabilidade da

sentença, que faz coisa julgada material –, objetivando a pacificação social.

Assim, a jurisdição consiste no poder conferido ao estado, por meio dos

seus representantes, de atuar no caso concreto quando há situação que não pôde

ser dirimida no plano extrajudicial, revelando a necessidade da intervenção do

estado para que a pendenga estabelecida seja solucionada.

De modo sucinto, Marcus Vinícius R. Gonçalves define Jurisdição como a:

“Função do Estado, pela qual ele, no intuito de solucionar os conflitos de interesse

em caráter coativo, aplica a lei geral e abstrata aos casos concretos que lhe são

submetidos”. (Direito Processual Civil Esquematizado)

Há entendimento da doutrina de que o poder jurisdicional não se restringe a

dizer o direito (juris-dicção), alcança também a imposição do direito (juris-satisfação).

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Obviamente, não é suficiente esperar que o Estado apenas diga o caminho a ser

trilhado, espera-se que o poder estatal faça o direito ser efetivamente aplicado. Por

isso, o Estado-juiz, por meio do seu poder jurisdicional, tem a capacidade de impor

suas decisões. É um poder coativo.

Dúvida: Qual dos três poderes, da clássica divisão montesquiana, é

responsável pela jurisdição? Ela é atribuída ao poder judiciário como função típica,

mas também a outros poderes, como função atípica. Exemplo: processo de

impeachment, que pode ser conduzido pelo legislativo, ou das sindicâncias, pelo

poder executivo.

“A jurisdição é função atribuída a terceiro imparcial (a) de

realizar o Direito de modo imperativo (b) e criativo (c),

reconhecendo/efetivando/protegendo situações jurídicas (d)

concretamente deduzidas (e), em decisão insuscetível de

controle externo (f) e com aptidão para tornar-se indiscutível

(g).” (Curso de Direito Processual Civil, vol. I. Didier Jr., Fredie,

pág. 83)

Esse conceito moderno apresentado por Didier deve ser analisado, pois está

de acordo com a realidade das transformações por que passou o Estado. Vejamos

cada elemento elencado no conceito.

a) Terceiro imparcial: na solução da lide utiliza-se a técnica de

heterocomposição – o conflito é solucionado por um agente exterior à

relação conflituosa original. Os sujeitos do processo submetem a terceiro

seu conflito, em busca de solução. Chiovenda chama essa

heterocomposição de substutividade, sendo esta a característica que

diferencia jurisdição das outras funções estatais.

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Ok! E o que é substutividade? Bem pessoal, como falamos há pouco a

substitutividade consiste em dizer que o Estado, na figura do juiz, ao solucionar a

lide, está substituindo a vontade das partes, já que elas estariam proibidas de, em

regra, fazer valer a justiça do mais forte (característica do conceito de jurisdição

tradicional).

É importante não se confundir neutralidade com imparcialidade. Neutralidade

é o mito que se sustenta na possibilidade de o juiz não ter vontade inconsciente;

segundo a qual predominaria a vontade dos sujeitos processuais e não o interesse

geral da justiça.

A imparcialidade, por seu turno, determina que o magistrado não pode ter

interesse na lide, bem como possui o dever de tratar as partes com igualdade,

garantindo o contraditório em paridade de armas.

b) Manifestação de Poder: a jurisdição coloca-se de modo imperativo,

aplicando o direito a situações que são levadas ao Estado, ao órgão

jurisdicional.

c) Atividade criativa: “cria-se a norma jurídica do caso concreto, bem

como se cria, muitas vezes, a própria regra abstrata que deve regular o

caso concreto.” (Curso de Direito Processual Civil, vol. I. Didier Jr.,

Fredie, pág. 86). As normas não são capazes de determinar todas as

decisões dos Tribunais. Há necessidade de interpretação ou confirmação

da consistência dos textos normativos quando aplicados ao caso

concreto. Dessa forma, cabe aos Tribunais interpretar, construir e

distinguir os casos para formulação da decisão. Eles exercem um papel

singular na produção normativa.

(TJ ES – Cespe 2011) Acerca da função jurisdicional, da ação e suas características, julgue o item seguinte.

A função jurisdicional é, em regra, de índole substitutiva, ou seja, substitui-se a vontade privada por uma atividade pública.

a) Certo

b) Errado

Gabarito: Certo

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d) Técnica de tutela: a jurisdição é considerada uma importante técnica de

tutela de direitos. A proteção jurídica deve contemplar todas as situações

jurídicas.

e) Situação jurídica concreta: a jurisdição atua em situações concretas.

Exemplo: ameaça de lesão a direitos (em que se requer uma tutela

inibitória).

f) Impossibilidade de controle externo da função jurisdicional: uma das

características da função jurisdicional é a capacidade de produzir a última

decisão sobre o caso concreto deduzido em juízo: ao caso aplica-se o

Direito sem que aja possibilidade de apreciação, controle de outro poder.

A jurisdição é controlada, somente, pela própria jurisdição.

g) Aptidão para tornar-se indiscutível: sabemos que a coisa julgada é uma

situação jurídica referente às decisões jurisdicionais, exclusivamente. Só

uma decisão judicial pode vir a ser indiscutível e imutável pela coisa

julgada material. No entanto, não podemos deduzir que somente haverá

jurisdição se houver coisa julgada, pois esta é uma opção política do

Estado. Há casos em que o legislador não retira das decisões a aptidão

de submeter-se à coisa julgada, mas isso não aniquila a

jurisdicionalidade das decisões. Ora, a coisa julgada é um elemento a

posteriori da decisão e, portanto, não pode ser elemento ou característica

de existir da decisão. É fato que somente a jurisdição possui a

característica da definitividade – diz respeito ao caráter de imutabilidade

da sentença, que faz coisa julgada material (característica do conceito

moderno de jurisdição).

No intuito de preencher todas as possíveis formas de ser cobrado o conceito

de jurisdição, vamos compreendê-lo de uma outra perspectiva. A doutrina diz que a

jurisdição é o poder que o estado avocou para si de dizer o direito, de fazer justiça,

em substituição aos particulares. Podemos, na realidade, dizer que a jurisdição é

poder, função e atividade. É poder devido à capacidade de imposição das

decisões às partes pelo Estado – o poder decorre da potestade (força para impor

sua decisão) do Estado exercida de maneira definitiva sobre as partes litigantes.

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Função por cumprir a finalidade de fazer valer a ordem jurídica em face de um

conflito. Por último, é atividade por consistir em uma série de manifestações (atos)

externas e ordenadas que resultam na declaração do direito e na concretização do

que foi pleiteado.

1. EQUIVALENTES JURISDICIONAIS

O Estado não detém exclusividade na solução de conflitos. Existem formas

alternativas: autotutela, autocomposição, arbitragem.

A autotutela (autodefesa) é a forma mais antiga de se resolver conflitos.

Ocorre o sacrifício integral do interesse de uma das partes, pelo uso da força da

outra parte. Assim, a autotutela ocorre quando a própria parte busca afirmar seu

interesse impondo-o à parte contrária. Podemos considerar que a autotutela, de

certo modo, permite o exercício de coerção por um particular em defesa de seus

interesses. Modernamente, tem-se buscado restringir as formas de exercício da

autotutela, transferindo para o Estado as diversas formas de coerção. O Direito

prevê casos excepcionais em que pode ser empregada: legítima defesa (art. 188, I,

do CC), desforço imediato no esbulho (art. 1.210, parágrafo 1o do CC). A autotutela

pode ser totalmente revista pelo poder judiciário.

A autocomposição consiste no acordo entre as partes envolvidas no

conflito para chegar a uma solução, ou seja, o conflito é solucionado pelas partes

sem a intervenção de agentes externos no processo de pacificação da lide. A

autocomposição ocorre quando há o despojamento unilateral em favor de outrem

(da vontade por este almejada); quando há aceitação ou resignação de um dos

sujeitos ao interesses do outro ou quando há concessão recíproca efetuada pela

partes. Em tese, não há de se falar em coerção dos indivíduos.

As modalidades de autocomposição são três: renúncia, aceitação

(resignação/submissão) e a transação. A renúncia ocorre quando o titular do direito,

unilateralmente, dele de despoja em favor de outrem. A aceitação, por sua vez,

ocorre quando um dos sujeitos reconhece o direito do outro, passando a guiar-se

pela plena consonância com este reconhecimento. Já a transação ocorre quando os

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sujeitos que se consideram titulares do direito pleiteado solucionam a lide por meio

de concessões recíprocas.

A arbitragem é uma técnica de solução de conflitos em que as partes

buscam em uma terceira pessoa a solução do litígio. Dessa forma, a arbitragem

ocorre quando a fixação da solução da lide entre as parte é entregue a um terceiro,

denominado árbitro, em geral escolhido pelas partes.

No direito brasileiro, a arbitragem somente pode se dirigir a acertamento de

direitos patrimoniais disponíveis. É o que aduz o art. 1º da Lei 9.307/96 que regula a

arbitragem: “as pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para

dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis.”

A arbitragem possui caráter voluntário podendo ser de direito ou de

equidade, a critério das partes, que poderão escolher, livremente, as regras de

direito que serão aplicadas, desde que não haja violação aos bons costumes e à

ordem pública. Igualmente, poderão as partes convencionar que a arbitragem se

realize com base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras

internacionais de comércio.

As partes interessadas podem, por exemplo, submeter a solução de seus

litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim entendida a

cláusula compromissória e o compromisso arbitral.

A cláusula compromissória (prévia e abstrata) é a convenção por meio da

qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios

que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato. Deve ser estipulada por escrito,

podendo estar inserta no próprio contrato ou em documento apartado que a ele se

refira.

Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o

aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente,

com a sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito,

com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula.

A cláusula compromissória é autônoma em relação ao contrato em que estiver

inserta, de tal sorte que a nulidade deste não implica, necessariamente, a nulidade

da cláusula compromissória. Caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação

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das partes, as questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de

arbitragem e do contrato que contenha a cláusula compromissória.

Já o compromisso arbitral (posterior e concreta) é o estabelecimento

posterior ao conflito que esse será solucionado por meio da arbitragem.

Art. 6º da Lei 9.307/96: Não havendo acordo prévio sobre a forma de instituir

a arbitragem, a parte interessada manifestará à outra parte sua intenção de dar

início à arbitragem, por via postal ou por outro meio qualquer de comunicação,

mediante comprovação de recebimento, convocando-a para, em dia, hora e local

certos, firmar o compromisso arbitral.

O compromisso arbitral pode ser judicial ou extrajudicial. O compromisso

arbitral judicial celebra-se por termo nos autos, perante o juízo ou tribunal, onde tem

curso a demanda. O compromisso arbitral extrajudicial é celebrado por escrito

particular, assinado por duas testemunhas, ou por instrumento público.

Obs.: brevemente falemos da mediação: A mediação é uma conduta pela qual um

terceiro coloca-se entre as partes e tenta conduzi-los à solução autocomposta.

Didier aduz “tratar-se de uma técnica para catalisar a autocomposição” (Curso de

Direito Processual Civil, vol. I. Didier Jr., Fredie, pág. 94).

1.1. CLASSIFICAÇÃO

A jurisdição é una e indivisível, mas é comum dividi-la para efeitos didáticos,

quanto ao objeto, à hierarquia, ao órgão. Também é dividida em contenciosa e

voluntária.

Quanto ao objeto, a jurisdição pode ser civil ou penal. São de natureza civil

todas as que não tenham caráter penal. Há doutrinadores que discordam da

limitação a essas duas espécies e incluem as outras esferas jurisdicionais na

classificação: trabalhista, penal militar, eleitoral.

Quanto à hierarquia, classifica-se em inferior ou superior. Inferior é a que

tem a chamada competência originária, ou seja, que recebe o processo primeiro; a

superior tem atuação recursal.

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Relativamente ao órgão que a exerce, poderá ser especial e comum.

Especial é definida pela Constituição Federal com base na matéria a ser tratada:

Justiça Eleitoral, Justiça do Trabalho e Justiça Militar; sendo a comum todo o

restante (daí, falar-se em competência residual). A Justiça Comum é composta pela

Justiça Federal e pela Justiça Estadual.

JURISDIÇÃO: pode ser nacional ou internacional. Vejamos:

Jurisdição Nacional: UNA

Jurisdição Internacional

Jurisdição UNA: Adotada no Brasil: Poder Judiciário exerce a jurisdição

com exclusividade (causas comuns e administrativas). As causas que

envolvem o Estado são julgadas pelo Poder Judiciário.

Jurisdição DUAL: Adotada, por exemplo, na França. Tribunais

Judiciários (causas comuns) e Tribunais Administrativos (causas

administrativas). As causas que envolvem o Estado são julgadas pelo

Poder Administrativo.

A jurisdição também poderá ter natureza contenciosa ou voluntária. Essa é a

única divisão abordada no CPC. Contenciosa é a rotineira; enquanto na voluntária

não há, em tese, conflito de interesses (exemplo: homologação de acordo

previamente firmado entre as partes). Nessa espécie, o interessado ou interessados

Jurisdição Comum

Jurisdição Federal e Estadual. Dividem-se

em jurisdição civil e penal.

Jurisdição Especial

Jurisdição trabalhista, eleitoral e militar.

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buscam a prestação jurisdicional do Estado quando não podem alcançar seus

objetivos sozinhos.

Em prova, vejam como foi cobrado pelo INSTITUTO DE ESTUDOS

SUPERIORESDO EXTREMO SUL – IESES:

(TJ – CE IESES 2011/ Adaptada) Sobre jurisdição e ação é correto dizer que:

a) Pelo princípio da aderência os juízes e tribunais exercem a atividade jurisdicional

apenas no território nacional. Essa atividade é repartida de acordo com as regras de

competência.

COMENTÁRIOS:

A questão está correta. Percebam que o princípio da aderência ligado ao

princípio internacional da não ingerência em assuntos de outros povos impõe os

limites territoriais do País para exercício da jurisdição pelo Estado-juiz nacional.

Gabarito: A

1.1.1. JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA VERSUS JURISDIÇÃO CONTENCIOSA

Art. 1° do CPC: A jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos

juízes, em todo o território nacional, conforme as disposições que este Código

estabelece.

Como falamos, a jurisdição pode ser: contenciosa ou voluntária. Vejamos

cada uma delas.

Em regra, a jurisdição contenciosa decorre de processo judicial. Ela é

marcada pelo litígio entre as partes, que, por sua vez, termina com a sentença de

mérito. Sua decisão pode ser, e comumente o é, traumática porque beneficia uma

das partes somente, causando prejuízo à outra.

A jurisdição voluntária, também conhecida como administrativa ou

integrativa, é uma atividade estatal de integração e fiscalização. Em verdade, não é

voluntária: há obrigatoriedade, em regra, de participação do Poder Judiciário para

integrar as vontades e, dessa maneira, tornar apta a produção de seus efeitos.

As garantias fundamentais do processo são aplicadas à jurisdição voluntária

e também aos magistrados, que estão atrelados a dois elementos:

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a) Inquisitoriedade: o magistrado poderá decidir de modo contrário à

vontade das partes.

b) Possibilidade de decisão fundada em equidade (art. 1.109 do

CPC): não se observa na decisão a legalidade estrita. A sentença é baseada nos

critérios de conveniência e oportunidade. O órgão jurisdicional tem ampla

discricionariedade na condução e na decisão do processo em jurisdição voluntária.

1.1.2. CLASSIFICAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA

1 – Receptícios: a atividade judicial limita-se a registrar, documentar ou

comunicar manifestações de vontade. Exemplo: notificações, protestos.

2 – Probatórios: a atividade jurisdicional limita-se à produção da prova.

Exemplo: justificação.

3 – Declaratórios: o magistrado limita-se a declarar a existência ou

inexistência de uma situação jurídica. Exemplo: da posse em nome do nascituro.

4 – Constitutivos: a criação, modificação ou extinção de uma situação

jurídica dependem da concorrência da vontade do magistrado, por meio de

autorizações, homologações, aprovações. Exemplo: interdição.

5 – Executórios: o magistrado deve exercer uma atividade prática que

modifica o mundo exterior. Exemplo: alienações de coisas.

6 – Tutelares: a proteção de interesses de determinadas pessoas que se

encontram em situação de desamparo é confiada ao Poder Judiciário – poderá

instaurar os procedimentos ex officio. Exemplo: Nomeação de curadores.

Quanto à natureza da jurisdição voluntária, há divergência se

ela é de administração pública de interesses privados ou se de

atividade jurisdicional.

a) Como administração pública – linha que tem crescido na

doutrina brasileira – parte-se do pressuposto de que a jurisdição

voluntária não é jurisdição, mas sim administração pública de interesse

privado.

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Jurisdição voluntária como administração pública de interesses

privados

Na doutrina brasileira, discute-se se a questão de que a jurisdição voluntária

não seria jurisdição, mas administração pública de interesses privados realizada

pelo Poder Judiciário. Essa construção doutrinaria parte da premissa, como exposto

no quadro acima, de que a jurisdição voluntária, por não possuir lide a ser

solucionada, não pode ser considerada jurisdição.

Também não poderíamos falar em substitutividade uma das características

da jurisdição, porque o juiz não substitui os sujeitos processuais, e, sim, insere-se

entre os participantes do negócio jurídico. Desse modo, porque não há conflito, não

existem sujeitos processuais, só meros interessados.

Não havendo jurisdição, não haveria que se falar em ação nem em

processo, mas em requerimento e procedimento. Igualmente, não existindo

jurisdição, não há coisa julgada, mas preclusão.

Essa corrente ainda fundamenta o seu pensamento no art. 1.111 do CPC: a

sentença poderá ser modificada, sem prejuízo dos efeitos já produzidos, se

ocorrerem circunstâncias supervenientes.

Isso porque não existe lide a ser resolvida nem a possibilidade

de substitutividade – o magistrado insere-se entre as partes do negócio

jurídico e não as substitui. Além disso, por não ocorrer a jurisdição, não

se falaria em coisa julgada, mas em preclusão.

b) Como atividade jurisdicional: a jurisdição voluntária tem

natureza de atividade jurisdicional. Pode ocorrer relação conflituosa

nessa modalidade de jurisdição.

Os casos de jurisdição voluntária são conflituosos em potencial

e, por isso, submetem-se ao poder judiciário.

Vamos, logo abaixo, analisar um pouco mais sobre esse

assunto: jurisdição voluntária como administração pública de

interesses privados e jurisdição voluntária como atividade jurisdicional.

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Diferenças doutrinárias acerca da jurisdição voluntária

Ju

ris

diç

ão

vo

lun

tári

a

Doutrina majoritária (clássica)

Doutrina minoritária (moderna)

Não há jurisdição Há jurisdição

Não existem partes no processo,

meros interessados

Há partes

Não há ação nem processo, mas

requerimento e procedimento

Há processo

Não faz coisa julgada, mas preclusão Há coisa julgada

É uma atividade administrativa É uma atividade jurisdicional

Não há substutividade; juiz é

administrador

Há substutividade: juiz é juiz

Vejam como foi cobrado em prova:

(TJ - ES Cespe 2011) A jurisdição civil pode ser contenciosa ou voluntária, esta também

denominada graciosa ou administrativa. Ambas as jurisdições são exercidas por juízes,

cuja atividade é regulada pelo Código de Processo Civil, muito embora a jurisdição

voluntária se caracterize pela administração de interesses privados pelos órgãos

jurisdicionais, ou seja, não existe lide ou litígio a ser dirimido judicialmente.

a) Certo

b) Errado

COMENTÁRIOS:

Correto. Percebam que a banca considerou correta a questão da ausência

de litígio na jurisdição, um elemento que destacamos em nossa aula, mas que tem

sido combatido pela doutrina moderna. No enunciado da questão, a jurisdição

voluntária é também nomeada de administrativa, mais uma característica da doutrina

clássica.

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No mesmo sentido do Cespe, a banca FCC cobrou a questão em prova para

Juiz do Trabalho em 2012:

(TRT 11ª Região FCC 2012/ Adaptada) Sobre jurisdição, é correto afirmar:

c) Nos procedimentos não contenciosos, há função jurisdicional apenas sob um

ponto de vista estritamente formal.

COMENTÁRIOS:

Correto. Entre as opções oferecidas pela banca (“a” a “e”), considerou-se

correta a letra “c”, que citamos. Desse modo, o entendimento da FCC, clássico e

majoritário, é de que a jurisdição voluntária é jurisdição apenas em seu aspecto

formal, já que relativamente ao conteúdo pode ser entendida como administração de

interesses particulares pelo Poder Judiciário.

A Teoria Revisionista, por seu turno, considera a Jurisdição Voluntária uma

jurisdição propriamente dita, já que é possível a ocorrência da lide.

Relativamente à existência da lide, o STJ já se pronunciou de acordo com

esta teoria, afirmando que o litígio pode ou não estar presente na

jurisdição administrativa, mas não é essencial para a propositura da ação. Sentido

em que se manifestaram consagrados autores como Alexandre de Freitas Câmara e

Fredie Didier.

É exemplo de jurisdição voluntária a separação consensual, já que o ato

judicial irá conferir validade ao negócio jurídico que se realizar. Mas acidentalmente

pode haver conflito na separação consensual; diz-se acidentalmente porque não é

parte essencial do negócio jurídico. Percebam a diferença, na qualidade de

voluntária, a jurisdição não tem como aspecto essencial a lide, mas é um possível

elemento acidental, ou seja, que pode vir a ocorrer num dado momento; enquanto

na qualidade de contenciosa, a lide está virtual/real e essencialmente ligada à

jurisdição.

Didier cita os casos de interdição e de retificação de registro como

procedimentos de jurisdição voluntária que normalmente dão ensejo a controvérsias.

De fato não são raros os casos em que surgem questões que devem ser

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solucionadas pelo magistrado, por exemplo, as divergências entre o pai e o menor

que queira se emancipar (jurisdição voluntária com lide acidental).

“É por isso que se impõe a citação dos possíveis interessados, que

podem, de fato, não opor qualquer resistência, mas não estão impedidos de fazê-lo.

São frequentes os casos em que, em pleno domínio da jurisdição voluntária,

surgem verdadeiras questões a demandar juízo do magistrado.” (Didier)

Outra distinção que pode ser considerada entre Jurisdição Voluntária e

Contenciosa refere-se, ainda, à pretensão. Nesse aspecto, vale destacar: pode

haver processo sem lide, mas não há processo sem pretensão. O Juiz exerce a

função jurisdicional quando provocado – esta provocação é que chamamos de

pretensão e, por meio dela, dá-se a integração da jurisdição voluntária ou da

jurisdição contenciosa.

Não se debrucem em demasia sobre estas contradições, pelo menos,

não para o concurso. Como bem disse Leonardo Greco, “todos esses critérios são

imperfeitos, porque a jurisdição voluntária abrange uma variedade tão heterogênea

de procedimentos, nos quais sempre vamos encontrar o desmentido de um ou de

outro desses critérios”.

Leiam este elucidativo acórdão do STJ, em que grifamos os trechos

mais importantes sobre a matéria:

[...] não parece adequado afirmar categoricamente que na jurisdição voluntária

não há bem litigioso e tampouco lide.

A mais recente doutrina processualista tem ressaltado o equívoco em

se qualificar a chamada jurisdição administrativa de atividade não jurisdicional em razão da

suposta ausência de lide.

Afirma-se, modernamente, que a jurisdição voluntária não equivale

a demanda sem lide. O litígio pode ou não verificar-se no seio da jurisdição administrativa:

ele apenas não é essencial para a propositura da ação.

[...]

Para ilustrar a atenuação que se verifica na diferenciação entre a jurisdição voluntária e a jurisdição contenciosa, transcrevo trecho da obra de Leonardo Greco (GRECO, Leonardo. Jurisdição Voluntária Moderna. São Paulo: Editora Dialética, 2003, p. 23):

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Apesar das divergências de opinião, há algumas características que geralmente são apontadas pela doutrina para diferenciar a jurisdição contenciosa e a jurisdição voluntária.

Na primeira haveria lide, na segunda não; na primeira haveria partes em posições subjetivas antagônicas, na segunda apenas um ou mais interessados concordantes em suas postulações; a primeira incidiria sobre situações fáticas preexistentes, enquanto a segunda teria caráter constitutivo; a primeira seria repressiva e a segunda preventiva; na primeira, a atividade judicial seria substitutiva da vontade das partes, na segunda os interessados dependeriam da concorrência da vontade estatal manifestada pelo juiz, sem a qual não poderiam isoladamente alcançar o efeito jurídico almejado; na primeira o juiz tutelaria direitos subjetivos, enquanto na segunda, meros interesses; na primeira, os procedimentos previstos em lei não seriam exaustivos, na segunda o juiz somente poderia atuar com expressa previsão legal; na primeira haveria formação da coisa julgada, na segunda não; na primeira o juiz estaria adstrito ao pedido do autor, enquanto na segunda o juiz poderia agir de ofício ou adotar providência diversa da que lhe fosse requerida.

Todos esses critérios são imperfeitos, porque a jurisdição voluntária abrange uma variedade tão heterogênea de procedimentos, nos quais sempre vamos encontrar o desmentido de um ou de outro desses critérios.

REsp 942.658-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 2.6.2011.

Sugiro que façamos, agora, a leitura dos artigos do CPC que tratam das

disposições gerais da Jurisdição Voluntária e que são aplicados

subsidiariamente às leis específicas.

TÍTULO II

DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA

CAPÍTULO I

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1.103. Quando este Código não estabelecer procedimento especial, regem a

jurisdição voluntária as disposições constantes deste Capítulo.

Art. 1.104. O procedimento terá início por provocação do interessado ou do

Ministério Público, cabendo-lhes formular o pedido em requerimento dirigido ao juiz,

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devidamente instruído com os documentos necessários e com a indicação da

providência judicial.

Art. 1.105. Serão citados, sob pena de nulidade, todos os interessados, bem como

o Ministério Público.

Art. 1.106. O prazo para responder é de 10 (dez) dias.

Art. 1.107. Os interessados podem produzir as provas destinadas a demonstrar as

suas alegações; mas ao juiz é lícito investigar livremente os fatos e ordenar de ofício

a realização de quaisquer provas.

Art. 1.108. A Fazenda Pública será sempre ouvida nos casos em que tiver

interesse.

Art. 1.109. O juiz decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias; não é, porém,

obrigado a observar critério de legalidade estrita, podendo adotar em cada caso

a solução que reputar mais conveniente ou oportuna.

Art. 1.110. Da sentença caberá apelação.

Art. 1.111. A sentença poderá ser modificada, sem prejuízo dos efeitos já

produzidos, se ocorrerem circunstâncias supervenientes.

Art. 1.112. Processar-se-á na forma estabelecida neste Capítulo o pedido de:

I - emancipação;

II - sub-rogação;

III - alienação, arrendamento ou oneração de bens dotais, de menores, de

órfãos e de interditos;

IV - alienação, locação e administração da coisa comum;

V - alienação de quinhão em coisa comum;

VI - extinção de usufruto e de fideicomisso.

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1.2. ESCOPOS DA JURISDIÇÃO

O estudo da jurisdição pode ter em consideração os objetivos que persegue.

Distinguindo-se em: escopo jurídico, social, educacional e político.

O escopo jurídico decorre da efetiva aplicação da vontade da lei, dando fim à

lide. Já está vencido o entendimento de que esse seria o único objetivo da jurisdição

(aplicação da lei; fim do conflito).

No escopo social, pretende-se a pacificação social, de modo que se resolva

a lide de caráter social. Nesse escopo, a jurisdição não tem como intenção

fundamental a solução do conflito jurídico, mas a solução no plano fático, que traga

a maior satisfação possível às partes.

A transação consiste, assim, em excelente modo de alcançar esses

objetivos, porque ocorre a partir da cessão mútua de interesses e tende a extinguir o

conflito sem imposição severa a alguma das partes (solução do conflito (fático);

satisfação das partes).

O escopo educacional deriva da função de divulgar (ensinar) a todos os

jurisdicionados, incluindo-se – obviamente – as partes envolvidas no processo, quais

os seus direitos e deveres. É escopo bem amplo, que ganhou importância nos

julgados contemporâneos, que se revestem de verdadeiro caráter didático. Os mais

importantes julgamentos são acompanhados por meios de comunicação, que os

tornam acessíveis a grande número de indivíduos (divulgação dos direitos e deveres

de todos os jurisdicionados).

O escopo político, por sua vez, prisma pelo bom funcionamento jurisdicional

que eleva a credibilidade do Estado perante os indivíduos e, desse modo, estimula a

participação democrática por meio do processo (estimula a participação

democrática).

1.3. PRINCÍPIOS INERENTES À JURISDIÇÃO

1.3.1. INVESTIDURA

O Poder Judiciário possui um caráter inanimado e, por isso, necessita

escolher pessoas para representar o Estado no exercício concreto da atividade

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jurisdicional. Investido do poder jurisdicional, o juiz (sujeito escolhido para ser o

agente público representante do Estado), também chamado de Estado-Juiz, é o

responsável pela solução da lide.

No Brasil, existem duas maneiras de obter a investidura: o concurso público

(art. 93, I, CF) e indicação do Poder Executivo (quinto constitucional – art. 94 da CF).

Somente a autoridade investida de poder jurisdicional pode exercer a

jurisdição.

1.3.2. TERRITORIALIDADE

A autoridade dos juízes será exercida nos limites territoriais do seu Estado.

Assim, a jurisdição é exercida em um dado território (art. 107 e 230).

Existem, no entanto, exceções ao princípio da territorialidade. Situações em

que o juízo poderá praticar atos fora de sua comarca ou seção judiciária. Um

exemplo é a citação pelo correio (art. 222, caput, CPC).

Esse princípio é uma forma de limitação do exercício da jurisdição.

1.3.3. INDELEGABILIDADE

Deve ser analisado por meio de dois prismas, o externo, tendo a

Constituição Federal atribuído a função jurisdicional ao Poder Judiciário, não pode

delegar tal função a outros poderes ou órgãos. Exceção: “função estatal atípica”; e o

interno, em que a competência atribuída a um órgão jurisdicional para analisar uma

demanda não poderá ser delegada a outro.

O exercício da função jurisdicional não pode ser delegado. Não é

possível delegar o poder decisório a outro órgão, pois violaria a regra da

competência e o princípio do juiz natural. No entanto, existem hipóteses de

delegação a outros poderes judiciais, como o poder de execução das decisões.

1.3.4. INEVITABILIDADE

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O princípio da inevitabilidade ocorre em dois momentos distintos. Primeiro,

quando os sujeitos do processo sofrem a vinculação obrigatória ao processo judicial,

ou seja, uma vez integrantes da relação jurídica processual, os sujeitos não podem,

independendo de concordância ou vontade, deixar de cumprir o chamado

jurisdicional.

Segundo, em consequência da integração obrigatória, os sujeitos ficam em

um estado de sujeição – suportam todos os efeitos da decisão judicial, mais uma

vez, independentemente de gostar ou concordar com ela.

Devem as partes submeter-se à decisão do órgão jurisdicional.

1.3.5. INAFASTABILIDADE

De acordo com o inciso XXXV do art. 5o da CF, a lei não pode excluir da

apreciação do Poder Judiciário nenhuma lesão ou ameaça de direito. O acesso à

ordem jurídica adequada não pode ser negado a quem tem justo direito ameaçado

ou prejudicado.

Esse princípio também pode ser analisado sob o aspecto da relação entre a

jurisdição e a solução administrativa de conflitos. Nessa visão, o sujeito não é

obrigado a utilizar os mecanismos administrativos antes de provocar o poder

judiciário em razão de ameaça de lesão ou lesão ao direito. No entanto, há

exceções, como:

Nas questões desportivas: art. 217, § 1° da CF: O Poder Judiciário só

admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-

se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei.

O juiz não pode invocar a lacuna da lei e deixar de julgar o processo.

Não é necessário esgotar as vias administrativas para provocar o

Poder Judiciário. O interessado pode procurar tanto a via administrativa como a

judiciária.

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1.3.6. JUIZ NATURAL

O princípio do juiz natural apresenta duas facetas: a primeira relacionada ao

órgão jurisdicional e a segunda com a pessoa do juiz – a imparcialidade do

magistrado.

O primeiro aspecto do princípio quer assegurar que os processos sejam

julgados pelo juízo competente, ou seja, que a competência constitucional

preestabelecida seja cumprida. Já o segundo aspecto surge para garantir que o juiz

responsável pelo julgamento da demanda seja imparcial. Trata-se da essencial

exigência de imparcialidade que permite que o julgamento do processo seja justo.

Em razão dessa segunda faceta, as leis processuais estabelecem as causas de

impedimento e suspeição do magistrado.

- Hipóteses de impedimento do Juiz: de que for parte; em que

interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como órgão

do Ministério Público, ou prestou depoimento como testemunha; que conheceu

em primeiro grau de jurisdição, tendo-lhe proferido sentença ou decisão; quando

nele estiver postulando, como advogado da parte, o seu cônjuge ou qualquer

parente seu, consanguíneo ou afim, em linha reta; ou na linha colateral até o

segundo grau; quando cônjuge, parente, consanguíneo ou afim, de alguma das

partes, em linha reta ou, na colateral, até o terceiro grau; quando for órgão de

direção ou de administração de pessoa jurídica, parte na causa.

- Hipóteses de suspeição do Juiz: amigo íntimo ou inimigo capital de

qualquer das partes; alguma das partes for credora ou devedora do juiz, de seu

cônjuge ou de parentes destes, em linha reta ou na colateral até o terceiro grau;

herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de alguma das partes; receber

dádivas antes ou depois de iniciado o processo; aconselhar alguma das partes

acerca do objeto da causa.

É uma cláusula do devido processo legal. Uma garantia fundamental

implícita que se origina da conjugação dos seguintes dispositivos constitucionais: o

dispositivo que proíbe o tribunal ou juízo de exceção é o que determina que ninguém

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poderá ser processado senão pela autoridade competente. Ele se caracteriza pelo

aspecto formal, objetivo, substantivo e material.

A determinação de um juízo não pode ocorrer post facto ou ad personam.

Assim, os critérios para a sua determinação devem ser impessoais, objetivos e pré-

estabelecidos.

A garantia do juiz natural advém dos princípios da imparcialidade e da

independência atribuída aos magistrados. As garantias do juiz natural são

respeitadas por meio das regras de distribuição – critérios prévios, objetivos, gerais

e aleatórios para a identificação do juízo responsável pela causa. O desrespeito ao

princípio da distribuição implicará incompetência absoluta do juízo.

Não viola o princípio do juiz natural a criação de varas especializadas, as

regras por prerrogativa de função, a instituição de Câmaras de Férias em tribunais.

Dúvida: Por que não há violação ao princípio do juiz natural nos casos

citados? Porque nos três casos acima são situações em que as regras são gerais,

abstratas e impessoais.

- Art. 5º, CF: Todos são iguais perante a lei, sem distinção

de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à

vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,

nos termos seguintes:

(...) XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção.

Comentários:

Aos Tribunais de exceção (juízo extraordinário) contrapõe-se

o juiz natural, pré-constituído pela Constituição Federal e por

Lei.

Em uma primeira acepção, o princípio do juiz natural

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apresenta duplo significado:

1) Somente o juiz é o órgão investido de jurisdição;

2) Impede a criação de Tribunais de Exceção e ad hoc,

para o julgamento de causas penais e civis.

Modernamente, porém, este princípio passa a englobar a

proibição de subtrair o juiz competente. Assim, a garantia

desdobra-se em três conceitos:

1) Só são órgãos jurisdicionais os instituídos pela CF;

2) Ninguém pode ser julgado por tribunal constituído

após a ocorrência do fato;

3) Entre os juízes pré-constituídos vigora a ordem

taxativa de competências que exclui qualquer

alternativa deferida à discricionariedade de quem

quer que seja.

Vejamos:

O tribunal (ou juízo) de exceção é aquele formado

temporariamente para julgar:

a) Um caso específico – Tribunal ad hoc;

b) Após o delito ter sido cometido designa o juízo – ex

post facto;

c) Para um indivíduo específico – ad personam.

Exemplo de Tribunal de exceção: Tribunal de Nuremberg

criado pelos aliados para julgar os nazistas pelos crimes

cometidos na 2° Guerra Mundial.

É constituído ao oposto dos princípios constitucionais do

direito processual civil – do contraditório e da ampla defesa,

do juiz natural.

E qual o problema dos tribunais de exceção? O primeiro é

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que eles invariavelmente não são imparciais. O segundo é

que a pessoa, ao ser julgada por um tribunal de exceção,

perde algumas das garantias do processo, como a do duplo

grau de jurisdição e do juiz natural.

Terceiro, o Tribunal de exceção não necessariamente é

formado por juristas, podendo ser composto por qualquer

pessoa, ferindo, dessa forma a garantia constitucional do

juiz competente:

(...) LIII - ninguém será processado nem sentenciado

senão pela autoridade competente (art. 5°).

RESUMO

- Conceito de jurisdição: a jurisdição consiste no poder conferido ao estado, por meio dos seus representantes, de atuar no caso concreto quando há situação que não pôde ser dirimida no plano extrajudicial, revelando a necessidade da intervenção do estado para que a pendenga estabelecida seja solucionada.

Conceitos clássicos

A substitutividade consiste em dizer que o Estado, na figura do juiz, ao solucionar a lide, estaria substituindo a vontade das partes, proibidas que elas estariam de, em regra, fazer valer a justiça do mais forte (característica do conceito de jurisdição tradicional).

A definitividade diz respeito ao caráter de imutabilidade da sentença, que faz coisa julgada material (característica do conceito moderno de jurisdição).

- Equivalentes jurisdicionais: o Estado não detém exclusividade na solução de conflitos. Existem as conhecidas formas alternativas: autotutela, autocomposição e arbitragem.

Autotutela

Forma mais antiga de resolver conflitos. Ocorre o sacrifício integral do interesse de uma das partes, pelo uso da força da outra parte. O Código Civil prevê casos excepcionais em que pode ser empregada.

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(Autodefesa) Exemplos: legítima defesa (art. 188, I, do CC) e desforço imediato no esbulho (art. 1.210, parágrafo 1º do CC).

Essa forma de solução de controvérsia pode ser totalmente revista pelo poder judiciário. Essa característica é um elemento marcante da autotutela.

Autocomposição

Consiste no comum acordo entre as partes envolvidas no conflito para chegar a uma solução. Classifica-se em unilateral, quando há renúncia ou submissão de uma das partes.

E bilateral, o que é mais comum, ambas as partes abrem mão de uma parcela de sua pretensão em favor da outra – é a transação.

Arbitragem

Viabiliza-se quando há concordância entre as partes de submeter o conflito, ou a questão, ao árbitro (terceiro imparcial, que, por acordo das partes litigantes, resolve uma questão). Os motivos que levam os contratantes a optarem pela arbitragem em detrimento da jurisdição são, principalmente, rapidez e economia.

Os árbitros não são condicionados a muitos formalismos, podem ser autorizados pelas partes a, até mesmo, decidirem por equidade ou utilizarem leis específicas.

- Classificação da jurisdição: civil ou penal; inferior ou superior; especial ou comum; contenciosa ou voluntária.

- Contenciosa é a rotineira, a tradicional; enquanto na voluntária não há conflito de interesses.

- Princípios inerentes à jurisdição: investidura, territorialidade, indelegabilidade, inevitabilidade e do juiz natural.

JURISDIÇÃO CONTENCIOSA E VOLUNTÁRIA RESUMIDAMENTE

De acordo com o art. 1° do CPC: A jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo o território nacional, conforme as disposições que este Código estabelece.

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- O princípio do juiz natural apresenta duas facetas: a primeira relacionada ao órgão jurisdicional e a segunda coma pessoa do juiz – a imparcialidade do magistrado.

- Juiz Natural possui competência constitucional e foi investido de maneira regular na jurisdição.

Jurisdição Contenciosa: Pressupõe conflito entre as partes a ser solucionado pelo magistrado. É por meio da jurisdição contenciosa que se alcança uma solução para a lide.

Formação de litígio, sujeitos com interesses opostos e jurisdição compondo e solucionando o conflito.

- Características:

Unidade, imparcialidade, secundariedade, substitutividade, instrumentalidade.

- Princípios:

Improrrogabilidade, indeclinabilidade, juiz natural.

Relação Processual Triangular da Jurisdição Contenciosa:

JUIZ

AUTOR RÉU

Jurisdição Voluntária: Não existe litígio entre as partes. Nesse caso, há homologação de pedidos que não impliquem litígio, ou seja, não se resolve conflitos, mas apenas tutela interesses.

Participação do Estado, requerentes com interesses comuns e jurisdição integrando e validando o negócio jurídico.

Relação Processual Não-Triangular da Jurisdição Voluntária:

INTERESSADOS JUIZ

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Juiz Natural em sentido Formal

1) Garantia da proibição da existência de Tribunais de exceção.

2) Respeito às regras de competência: (...) LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente (art. 5°, CF).

Juiz Natural em sentido Material

1) Imparcialidade do juiz – ver comentários da pág. 25 dessa aula.

QUESTÔES DA AULA

01. (TRT 22ª Região – FCC 2010) A indeclinabilidade é uma característica

a) da ação.

b) da jurisdição.

c) do processo.

d) da lide.

e) do procedimento.

COMENTÁRIO:

A banca cobrou os princípios da jurisdição. Sabemos que a indeclinabilidade

é um dos princípios que norteia a jurisdição e aduz que o juiz não poderá “abrir mão”

do poder jurisdicional. Podemos ainda resguardar esse princípio invocando outro: à

inafastabilidade da apreciação pelo poder judiciário: art. 5º, XXXV, da CF: "a lei não

excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito."

Vejamos também o art. 126 do CPC: O juiz não se exime de sentenciar ou

despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á

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aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos

princípios gerais de direito.

Gabarito: B

02. (TRT 19ª Região – FCC 2008) A respeito da jurisdição e da ação, considere:

I. Nenhum juiz prestará tutela jurisdicional, senão quando a parte ou o

interessado a requerer, nos casos e formas legais.

II. O direito de ação é objetivo, decorre de uma pretensão e depende da

existência do direito que se pretende fazer reconhecido e executado.

III. Na jurisdição voluntária, não há lide, tratando-se de forma de administração

pública de interesses privados.

É correto o que se afirma APENAS em

a) II.

b) II e III.

c) I.

d) I e II.

e) I e III.

COMENTÁRIO:

I: Está correto, pois o juiz deverá ser provocado para que possa prestar a

tutela jurisdicional. Podemos concluir que o magistrado não pode prestar a tutela de

ofício. Observem o que diz o art. 2° do CPC: Nenhum juiz prestará a tutela

jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma

legais.

II: Item errado, uma vez que o direito de ação é SUBJETIVO e não objetivo.

O direito de ação também é abstrato - tem existência independente da existência do

direito material, objeto da controvérsia – e autônomo - tem natureza diferente do

direito material afirmado pela parte.

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III: Correto. A jurisdição voluntária refere-se à homologação de pedidos que

não impliquem litígio, ou seja, não se resolve conflitos, mas apenas tutela interesses.

São sinônimos de jurisdição voluntária: jurisdição graciosa ou inter-volentes.

Gabarito: E

03. (TJ PA – FCC 2009) Jurisdição é

a) a faculdade atribuída ao Poder Executivo de propor e sancionar leis que

regulamentem situações jurídicas ocorridas na vida em sociedade.

b) a faculdade outorgada ao Poder Legislativo de regulamentar a vida social,

estabelecendo, através das leis, as regras jurídicas de observância obrigatória.

c) o poder das autoridades judiciárias regularmente investidas no cargo de

dizer o direito no caso concreto.

d) o direito individual público, subjetivo e autônomo, de pleitear, perante o

Estado a solução de um conflito de interesses.

e) o instrumento pelo qual o Estado procede à composição da lide, aplicando

o Direito ao caso concreto, dirimindo os conflitos de interesses.

COMENTÁRIO:

Conceito de jurisdição: A jurisdição consiste no poder conferido ao Estado,

por meio dos seus representantes, de atuar no caso concreto quando há situação

que não pôde ser dirimida no plano extrajudicial, revelando a necessidade da

intervenção do Estado para que a pendenga estabelecida seja solucionada.

Lembrem-se: Há entendimento da doutrina de que o poder jurisdicional não

se restringe a dizer o direito (juris-dicção), alcança também a imposição do direito

(júris-satisfação).

Gabarito: C

04. (TRT 20ª Região – FCC 2006) No que concerne à Jurisdição e à Ação, de

acordo com o Código de Processo Civil, é correto afirmar que:

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a) a jurisdição civil contenciosa e voluntária é exercida pelos juízes e membros

do Ministério Público em todo o território nacional.

b) o juiz prestará a tutela jurisdicional ainda que não haja requerimento da

parte ou do interessado, nos casos e formas legais.

c) para propor ou contestar ação basta ter legitimidade.

d) ninguém poderá pleitear, em regra, em nome próprio, direito alheio.

e) o interesse do autor não pode limitar-se à declaração de inexistência de

relação jurídica.

COMENTÁRIO:

Os primeiros artigos do CPC nos dão a resposta para a questão.

a) Errada. A jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes

(não MP), em todo o território nacional (art. 1º, CPC).

b) Errada. Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte

ou o interessado a requerer, nos casos e forma legais (art. 2º, CPC).

c) Para propor ou contestar ação é necessário ter interesse e legitimidade

(art. 3º).

d) Certo. Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo

quando autorizado por lei (art. 6º). Os casos previstos em lei são exceções à regra.

e) Errado. O interesse do autor pode limitar-se à declaração: da existência

ou da inexistência de relação jurídica (I, art. 4º)

Gabarito: D

05. (Técnico TJDFT – Cespe 2013) A jurisdição compreende apenas dois

poderes, o poder de coerção, que se manifesta, por exemplo, quando o juiz

ordena intimações de partes ou testemunhas, e o poder de decisão, que se

manifesta, por exemplo, quando o juiz redige a sentença.

COMENTÁRIO:

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O enunciado aponta que “apenas” os poderes de coerção e de decisão

seriam inerentes à jurisdição. Afirmação incorreta, já que a jurisdição compreende

outros poderes: poder de polícia (caput do art. 445 do CPC: O juiz exerce o poder

de polícia, ...), poder de execução, poder discricionário, entre outros.

Gabarito: Errado

06. (Técnico TJDFT – Cespe 2013) Na jurisdição voluntária não há processo,

mas procedimento, ao contrário do que ocorre em relação à jurisdição

contenciosa.

COMENTÁRIO:

Embora haja tendência à revisão doutrinária, ainda predomina o

entendimento de que a jurisdição voluntária não é propriamente jurisdição, mas

administração de interesses privados. O Cespe mais uma vez sinalizou ser este seu

entendimento.

Para a doutrina clássica, a jurisdição voluntária é formada de procedimentos

e não de um processo. Questão correta, portanto.

Gabarito: Certo

07. (TRE-MA – Cespe 2009) A respeito da jurisdição, da ação, da competência,

do processo e dos pressupostos, segundo o direito processual civil, assinale a

opção correta.

a) O meio de se provocar a jurisdição é a exceção processual, direito público

subjetivo a um pronunciamento estatal que solucione o litígio.

b) A teoria eclética da ação - que não é adotada pelo CPC - proclama que a

jurisdição só pode ser acionada se houver o direito material postulado.

c) Pressupostos processuais em sentido lato são requisitos que legitimam o

autor a pleitear a tutela do Estado.

d) O CPC abriga três espécies de processos: ordinário, sumário e

sumaríssimo.

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e) valor da causa é critério que não se presta à fixação da competência do foro,

mas as normas de organização judiciárias da União, dos estados e do DF

podem se valer desse critério para a fixação da competência do juízo.

COMENTÁRIO:

Essa questão é ideal para tratarmos de modo rápido o tópico: jurisdição e

ação, tamanha a sua abrangência.

Entendamos a jurisdição como o ponto de contato entre o direito positivo e o

caso concreto. Ela representa o poder de o Estado atuar no caso concreto dizendo o

que é certo (direito). Gravem isso!

O item “a” está errado porque o meio de se provocar a jurisdição é a ação.

Podemos emendar a explicação desse item com o próximo.

O item “b” também contém erro. Vejamos: o CPC contempla, sim, a teoria

eclética. Essa teoria, formulada por Liebman, sustenta que a existência do direito de

ação não se vincula à existência de direito material, mas à realização de três

requisitos formais – as três condições da ação:

1- Possibilidade jurídica do pedido. O pedido deve ser resguardado por

tutela jurídica possível; de modo que, ele esteja apto a receber a proteção

jurisdicional. Não será possível a tutela quando houver expressa vedação na lei ao

pedido formulado. A hipótese de ausência de dispositivo legal para o que foi pedido

não o torna impossível.

2- Interesse de agir (ou interesse processual). O autor deve demonstrar que

a realização de seu pedido lhe trará uma melhoria real. Nessa condição deve-se

comprovar que o pedido adéqua-se à tutela jurisdicional e que necessita dela.

3- Legitimidade (legitimatio ad causam). Significa que a ação deve ser

proposta por quem é parte legítima, ou seja, por quem é titular de direito próprio

(legitimidade ordinária). Mas, quando a lei autorizar, a parte pode defender direito

alheio, situação de legitimidade extraordinária.

O item “c” está também incorreto. Os pressupostos processuais em sentido

lato são os pressupostos de validade. Podem ser subjetivos, dizendo respeito ao

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juízo e às partes; e objetivos, que verificam se a petição inicial é apta e se a citação

é válida.

O item “d” contém erro. Os procedimentos previstos no artigo 272 do CPC

são o ordinário e o sumário (derivados do procedimento comum). O procedimento

sumaríssimo é regido pela Lei 9.099 de 1995. Mas, o item fala de processos, e não

de procedimentos, o que o deixa ainda mais errado. Os processos podem ser

cautelar, de execução e de conhecimento.

O item “e” está correto. Cuidado para não confundir competência do foro

com competência do juízo. E lembrem-se que o valor da causa não está entre os

critérios para definir a competência do foro (questão territorial); mas está entre os

critérios da competência do juízo.

Gabarito: E

08. (TRT 5ª Região – Cespe 2008) Sobre jurisdição, partes, procuradores,

intervenção de terceiros e Ministério Público, julgue o seguinte item.

O contraditório, a eventualidade e a oralidade são princípios informadores e

fundamentais inerentes à jurisdição.

a) Certo

b) Errado

COMENTÁRIO:

São inerentes à jurisdição os seguintes princípios: Investidura;

Inevitabilidade; Indelegabilidade; Territorialidade; Inafastabilidade; e do Juiz Natural.

Gabarito: Errado

09. (PC PB – CESPE 2009) Assinale a opção correta a respeito de jurisdição,

litisconsorte, oposição, litisconsórcio, nomeação à autoria e competência

jurisdicional.

a) A jurisdição contenciosa se apresenta como atividade estatal primária, em

que o juiz realiza gestão pública em torno de interesses privados.

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b) É dado ao opoente, no prazo legal, oferecer a exceção de incompetência

relativa do juízo.

c) Ocorre a hipótese de litisconsórcio comum ou não-unitário quando a

decisão da causa deva ser uniforme em relação a todos os litisconsortes.

d) A nomeação à autoria é o incidente pelo qual o devedor demandado chama

para integrar o mesmo processo os demais co-obrigados pela dívida.

e) A competência relativa, em casos de direitos e obrigações patrimoniais,

admite a sua modificação por meio da instituição do foro contratual ou do

domicílio de eleição.

COMENTÁRIO:

Item “a” errado. Essa definição se aplica ao conceito de jurisdição voluntária.

Item “b” errado. De acordo com o art. 297 do CPC. “O réu poderá oferecer,

no prazo de 15 (quinze) dias, em petição escrita, dirigida ao juiz da causa,

contestação, exceção e reconvenção”. O prazo para exceção de incompetência será

de 15 dias da consciência do fato pela parte.

Item “c” errado. Esse é o aspecto do unitário, é exatamente o contrário do

que diz o item.

Item “d” errado. Esse conceito é o de chamamento ao processo.

Item “e” correto. Vejamos o art. 111 do CPC: “A competência em razão da

matéria e da hierarquia é inderrogável por convenção das partes; mas estas podem

modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde serão

propostas as ações oriundas de direitos e obrigações”.

Gabarito: E

10. (TJ MA – IESES 2011/Adaptada) Julgue o item abaixo:

O princípio do Juiz Natural pode ser encontrado na Constituição federal no

artigo onde expressa que ninguém será processado nem sentenciado senão

pela autoridade competente ou por juízo ou tribunal de exceção.

a) Certo

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b) Errado

COMENTÁRIO:

O problema da afirmativa está na parte final, porque contradiz o inciso

XXXVII (art. 5° da Carta Magna), que dispõe: não haverá juízo ou tribunal de

exceção. O tribunal de exceção está em posição antagônica ao juiz natural. A

afirmação de um é a negação dou outro.

Gabarito: Errado

11. (SERPRO – ESAF 2001/Adaptada) Relativamente aos princípios

constitucionais do processo civil, é correto afirmar-se que: O princípio do juiz

natural consiste exclusivamente na proibição de tribunais de exceção.

COMENTÁRIO:

- O princípio do juiz natural apresenta duas facetas: a primeira relacionada ao órgão

jurisdicional e a segunda coma pessoa do juiz – a imparcialidade do magistrado. O

juiz natural possui competência constitucional e foi investido de maneira regular na

jurisdição.

Vejamos:

Juiz Natural em sentido Formal:

1) Garantia da proibição da existência de Tribunais de exceção.

2) Respeito às regras de competência: (...) LIII - ninguém será processado nem

sentenciado senão pela autoridade competente (art. 5°, CF).

Juiz Natural em sentido Material

Imparcialidade do juiz – ver comentários da pág. 18 dessa aula.

Pois bem, como exposto o princípio do juiz natural não consiste exclusivamente na

proibição de tribunais de exceção. Engloba nesse princípio a imparcialidade, o

respeito às regras de competência e a garantia da proibição de Tribunais de

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exceção.

Gabarito: Errado

12. (MP-SP Promotor de Justiça 2006) O Estado democrático de direito e o juiz

natural:

a) Não exigem necessariamente a imparcialidade do juiz para proferir decisões

nos procedimentos de jurisdição voluntária.

b) Não exigem necessariamente a imparcialidade do juiz para proferir decisões

nos processos contenciosos.

c) Exigem a imparcialidade do juiz para proferir decisões somente nos

processos contenciosos (objetivos e subjetivos).

d) Exigem a imparcialidade do juiz para proferir decisões tanto nos processos

contenciosos como nos procedimentos de jurisdição voluntária.

e) Permitem a parcialidade do juiz destinada a realizar os objetivos

fundamentais da República Federativa do Brasil.

COMENTÁRIO:

O princípio do juiz natural apresenta duplo significado: 1) consagra regra de

que só é juiz quem investido de jurisdição; 2) impede criação de tribunais de

exceção. Modernamente, tem-se admitido terceiro conceito, referente à competência

constitucional do juiz, a qual não pode ser subtraída.

O domínio do conceito de juiz natural já seria suficiente para resolver a

questão, mas vejamos, de modo breve, distinção entre a jurisdição contenciosa e a

voluntária.

A contenciosa é a comum, em que as partes de uma lide buscam tutela

judicial para resolver a pendenga. A jurisdição voluntária é mera administração

pública de interesses privados, não há, em regra, conflito (ex: alienação judicial de

bens de incapazes).

Gabarito: D

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13. (TCE RO - FCC 2010/Adaptada) A garantia do juiz natural admite a pré-

constituição, por lei, de critérios objetivos de determinação da competência.

a) Certo

b) Errado

COMENTÁRIO:

A legislação processual dispõe sobre a competência de juízos, seja em

razão da matéria, do valor da causa, do território. A previsão em lei de critérios de

definição de competência, por ser anterior à formação e distribuição do processo e

respeitar critérios objetivos, não fere o princípio do juiz natural.

Gabarito: Certo

14. (TJ ES – Cespe 2011) Acerca da função jurisdicional, da ação e suas

características,

julgue o item seguinte.

A função jurisdicional é, em regra, de índole substitutiva, ou seja, substitui-se

a vontade privada por uma atividade pública.

a) Certo

b) Errado

Gabarito: Certo

15. (TJ – CE IESES 2011/ Adaptada) Sobre jurisdição e ação é correto dizer

que:

Pelo princípio da aderência os juízes e tribunais exercem a atividade

jurisdicional apenas no território nacional. Essa atividade é repartida de

acordo com as regras de competência.

COMENTÁRIOS:

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A questão está correta. Percebam que o princípio da aderência ligado ao

princípio internacional da não ingerência em assuntos de outros povos impõe os

limites territoriais do País para exercício da jurisdição pelo Estado-juiz nacional.

Gabarito: A

16. (TJ - ES Cespe 2011) A jurisdição civil pode ser contenciosa ou voluntária,

esta também denominada graciosa ou administrativa. Ambas as jurisdições

são exercidas por juízes, cuja atividade é regulada pelo Código de Processo

Civil, muito embora a jurisdição voluntária se caracterize pela administração

de interesses privados pelos órgãos jurisdicionais, ou seja, não existe lide ou

litígio a ser dirimido judicialmente.

a) Certo

b) Errado

COMENTÁRIOS:

Correto. Percebam que a banca considerou correta a questão da ausência

de litígio na jurisdição, um elemento que destacamos em nossa aula, mas que tem

sido combatido pela doutrina moderna. No enunciado da questão, a jurisdição

voluntária é também nomeada de administrativa, mais uma característica da doutrina

clássica.

Gabarito: Certo

17. (TRT 11ª Região FCC 2012/ Adaptada) Sobre jurisdição, é correto afirmar:

Nos procedimentos não contenciosos, há função jurisdicional apenas sob um

ponto de vista estritamente formal.

Gabarito: Certo

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QUESTÔES DA AULA

01. (TRT 22ª Região – FCC 2010) A indeclinabilidade é uma característica

a) da ação.

b) da jurisdição.

c) do processo.

d) da lide.

e) do procedimento.

02. (TRT 19ª Região – FCC 2008) A respeito da jurisdição e da ação, considere: I. Nenhum juiz prestará tutela jurisdicional, senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e formas legais.

II. O direito de ação é objetivo, decorre de uma pretensão e depende da existência do direito que se pretende fazer reconhecido e executado.

III. Na jurisdição voluntária, não há lide, tratando-se de forma de administração pública de interesses privados.

É correto o que se afirma APENAS em

a) II.

b) II e III.

c) I.

d) I e II.

e) I e III.

03. (TJ PA – FCC 2009) Jurisdição é

a) a faculdade atribuída ao Poder Executivo de propor e sancionar leis que regulamentem situações jurídicas ocorridas na vida em sociedade.

b) a faculdade outorgada ao Poder Legislativo de regulamentar a vida social, estabelecendo, através das leis, as regras jurídicas de observância obrigatória.

c) o poder das autoridades judiciárias regularmente investidas no cargo de dizer o direito no caso concreto.

d) o direito individual público, subjetivo e autônomo, de pleitear, perante o Estado a solução de um conflito de interesses.

e) o instrumento pelo qual o Estado procede à composição da lide, aplicando o Direito ao caso concreto, dirimindo os conflitos de interesses.

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04. (TRT 20ª Região – FCC 2006) No que concerne à Jurisdição e à Ação, de acordo com o Código de Processo Civil, é correto afirmar que:

a) a jurisdição civil contenciosa e voluntária é exercida pelos juízes e membros do Ministério Público em todo o território nacional.

b) o juiz prestará a tutela jurisdicional ainda que não haja requerimento da parte ou do interessado, nos casos e formas legais.

c) para propor ou contestar ação basta ter legitimidade.

d) ninguém poderá pleitear, em regra, em nome próprio, direito alheio.

e) o interesse do autor não pode limitar-se à declaração de inexistência de relação jurídica.

05. (Técnico TJDFT – Cespe 2013) A jurisdição compreende apenas dois poderes, o poder de coerção, que se manifesta, por exemplo, quando o juiz ordena intimações de partes ou testemunhas, e o poder de decisão, que se manifesta, por exemplo, quando o juiz redige a sentença.

06. (Técnico TJDFT – Cespe 2013) Na jurisdição voluntária não há processo, mas procedimento, ao contrário do que ocorre em relação à jurisdição contenciosa.

07. (TRE-MA – Cespe 2009) A respeito da jurisdição, da ação, da competência, do processo e dos pressupostos, segundo o direito processual civil, assinale a opção correta.

a) O meio de se provocar a jurisdição é a exceção processual, direito público subjetivo a um pronunciamento estatal que solucione o litígio.

b) A teoria eclética da ação - que não é adotada pelo CPC - proclama que a jurisdição só pode ser acionada se houver o direito material postulado.

c) Pressupostos processuais em sentido lato são requisitos que legitimam o autor a pleitear a tutela do Estado.

d) O CPC abriga três espécies de processos: ordinário, sumário e sumaríssimo.

e) valor da causa é critério que não se presta à fixação da competência do foro, mas as normas de organização judiciárias da União, dos estados e do DF podem se valer desse critério para a fixação da competência do juízo.

08. (TRT 5ª Região – Cespe 2008) Sobre jurisdição, partes, procuradores, intervenção de terceiros e Ministério Público, julgue o seguinte item.

O contraditório, a eventualidade e a oralidade são princípios informadores e fundamentais inerentes à jurisdição.

a) Certo

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b) Errado

09. (PC PB – CESPE 2009) Assinale a opção correta a respeito de jurisdição, litisconsorte, oposição, litisconsórcio, nomeação à autoria e competência jurisdicional.

a) A jurisdição contenciosa se apresenta como atividade estatal primária, em que o juiz realiza gestão pública em torno de interesses privados.

b) É dado ao opoente, no prazo legal, oferecer a exceção de incompetência relativa do juízo.

c) Ocorre a hipótese de litisconsórcio comum ou não-unitário quando a decisão da causa deva ser uniforme em relação a todos os litisconsortes.

d) A nomeação à autoria é o incidente pelo qual o devedor demandado chama para integrar o mesmo processo os demais co-obrigados pela dívida.

e) A competência relativa, em casos de direitos e obrigações patrimoniais, admite a sua modificação por meio da instituição do foro contratual ou do domicílio de eleição.

10. (TJ MA – IESES 2011/Adaptada) Julgue o item abaixo:

O princípio do Juiz Natural pode ser encontrado na Constituição federal no artigo onde expressa que ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente ou por juízo ou tribunal de exceção.

a) Certo

b) Errado

11. (SERPRO – ESAF 2001/Adaptada) Relativamente aos princípios constitucionais do processo civil, é correto afirmar-se que: O princípio do juiz natural consiste exclusivamente na proibição de tribunais de exceção.

12. (MP-SP Promotor de Justiça 2006) O Estado democrático de direito e o juiz natural:

a) Não exigem necessariamente a imparcialidade do juiz para proferir decisões nos procedimentos de jurisdição voluntária.

b) Não exigem necessariamente a imparcialidade do juiz para proferir decisões nos processos contenciosos.

c) Exigem a imparcialidade do juiz para proferir decisões somente nos processos contenciosos (objetivos e subjetivos).

d) Exigem a imparcialidade do juiz para proferir decisões tanto nos processos contenciosos como nos procedimentos de jurisdição voluntária.

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e) Permitem a parcialidade do juiz destinada a realizar os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil.

13. (TCE RO - FCC 2010/Adaptada) A garantia do juiz natural admite a pré-constituição, por lei, de critérios objetivos de determinação da competência.

a) Certo

b) Errado

14. (TJ ES – Cespe 2011) Acerca da função jurisdicional, da ação e suas características, julgue o item seguinte.

A função jurisdicional é, em regra, de índole substitutiva, ou seja, substitui-se a vontade privada por uma atividade pública.

c) Certo

d) Errado

15. (TJ – CE IESES 2011/ Adaptada) Sobre jurisdição e ação é correto dizer que:

Pelo princípio da aderência os juízes e tribunais exercem a atividade jurisdicional apenas no território nacional. Essa atividade é repartida de acordo com as regras de competência.

16. (TJ - ES Cespe 2011) A jurisdição civil pode ser contenciosa ou voluntária, esta também denominada graciosa ou administrativa. Ambas as jurisdições são exercidas por juízes, cuja atividade é regulada pelo Código de Processo Civil, muito embora a jurisdição voluntária se caracterize pela administração de interesses privados pelos órgãos jurisdicionais, ou seja, não existe lide ou litígio a ser dirimido judicialmente.

a) Certo

b) Errado

17. (TRT 11ª Região FCC 2012/ Adaptada) Sobre jurisdição, é correto afirmar:

Nos procedimentos não contenciosos, há função jurisdicional apenas sob um ponto de vista estritamente formal.

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GABARITO

01 B 11 Errado

02 E 12 D

03 C 13 Certo

04 D 14 Certo

05 Errado 15 A

06 Certo 16 Certo

07 E 17 Certo

08 Errado

09 E

10 Errado

BRASIL. CPC (1973). Código de Processo Civil, Brasília, DF, Senado, 1973.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, Senado, 1988.

DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil – Teoria Geral do Processo e Processo de Conhecimento. 12 ed. Salvador: Edições JUS PODIVM, 2010. v.1.

DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil – Teoria da Prova, Direito Probatório, Teoria do Precedente, Decisão Judicial, Coisa Julgada e Antecipação dos Efeitos da Tutela. 2 ed. Salvador: Edições JUS PODIVM, 2010. v.2.

DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil – Meios de Impugnação às Decisões Judiciais e Processo nos Tribunais. 8 ed. Salvador: Edições JUS PODIVM, 2010. v.3.

DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil – Processo Coletivo. 5 ed. Salvador: Edições JUS PODIVM, 2010. v.4.

DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil – Execução. 2 ed. Salvador: Edições JUS PODIVM, 2010. v.5.

MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito Processual Civil, volume 1: teoria geral do processo e processo de conhecimento. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito Processual Civil, volume 2: teoria geral do processo e processo de conhecimento. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

MONTENEGRO FILHO, Misael. Processo Civil. 7 ed., Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2010.

BIBLIOGRAFIA DO CURSO

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Direito Processual Civil – AJAJ TRT 12ª Região

Teoria e Exercícios comentados Prof. Gabriel Borges – Aula 00

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THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 18. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1999, v1.

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CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. 18.ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, v2.

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