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Aula familia (Professora Maria Cecilia)

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Aula Familia Professora Maria Cecilia

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Page 1: Aula familia (Professora Maria Cecilia)

FAMÍLIAFAMÍLIA

Autora:Ms Maria Cecília Fernandes SilvaAutora:Ms Maria Cecília Fernandes [email protected]@uol.com.br

Psicóloga Supervisora e Coordenadora do Ambulatório de Família (AMFAM)Psicóloga Supervisora e Coordenadora do Ambulatório de Família (AMFAM)Serviço de Psicologia do Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSPServiço de Psicologia do Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP

20102010

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O CONCEITO DE FAMÍLIAO CONCEITO DE FAMÍLIA

Poucos conceitos evoluíram e modificaram-se tanto, Poucos conceitos evoluíram e modificaram-se tanto, através dos tempos, como o de família. A etimologia através dos tempos, como o de família. A etimologia refere-se a dois vocábulos: refere-se a dois vocábulos: família família (conjunto de escravos (conjunto de escravos e servidores de uma pessoa) e e servidores de uma pessoa) e famulus do latim famulus do latim (servidor, escravo doméstico). O termo é encontrado nas (servidor, escravo doméstico). O termo é encontrado nas línguas latinas (família, línguas latinas (família, famillefamille), já no século XIV e na ), já no século XIV e na língua inglesa (língua inglesa (familyfamily) no início do século XV.) no início do século XV.

Nas sociedades ocidentais da atualidade, a noção mais Nas sociedades ocidentais da atualidade, a noção mais generalizada de família está, predominantemente, generalizada de família está, predominantemente, ligada à idéia de um casal e seus filhos, isto é, à família ligada à idéia de um casal e seus filhos, isto é, à família nuclear.nuclear.

Murdock (1976) conceitua a família como um Murdock (1976) conceitua a família como um agrupamento social caracterizado por residência agrupamento social caracterizado por residência comum, cooperação econômica e reprodução. Para o comum, cooperação econômica e reprodução. Para o autor, à família competiriam as funções sexuais, autor, à família competiriam as funções sexuais, econômicas, reprodutivas e educacionais.econômicas, reprodutivas e educacionais.

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O CONCEITO DE FAMÍLIAO CONCEITO DE FAMÍLIA

A estrutura familiar atual, centrada na afeição A estrutura familiar atual, centrada na afeição e na intensificação das relações entre pais e e na intensificação das relações entre pais e filhos na privacidade de suas casas, é uma filhos na privacidade de suas casas, é uma invenção relativamente recente na história do invenção relativamente recente na história do homem ocidental, ganhando contornos mais homem ocidental, ganhando contornos mais nítidos a partir do século XVII na Europa.nítidos a partir do século XVII na Europa.

Estudo clássico de Ariés – História social da Estudo clássico de Ariés – História social da criança e da família – retrata com detalhes o criança e da família – retrata com detalhes o processo histórico que resultou na constituição processo histórico que resultou na constituição dos costumes e valores da família moderna.dos costumes e valores da família moderna.

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O CONCEITO DE FAMÍLIAO CONCEITO DE FAMÍLIA

Na sociedade medieval não havia condições Na sociedade medieval não havia condições objetivas para a constituição de uma noção objetivas para a constituição de uma noção de privacidade e de intimidade entre os de privacidade e de intimidade entre os indivíduos em suas habitações.indivíduos em suas habitações.

As famílias eram grandes agrupamentos As famílias eram grandes agrupamentos compostos não apenas por parentes compostos não apenas por parentes consangüíneos, mas também pelos consangüíneos, mas também pelos servidores e protegidos.servidores e protegidos.

Nos casarões, nos espaços onde as pessoas Nos casarões, nos espaços onde as pessoas se alimentavam, também dormiam, se alimentavam, também dormiam, namoravam, dançavam, trabalhavam e namoravam, dançavam, trabalhavam e recebiam visitas.recebiam visitas.

Nesse período a duração da infância era Nesse período a duração da infância era reduzida a seu período mais frágil.reduzida a seu período mais frágil.

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O CONCEITO DE FAMÍLIAO CONCEITO DE FAMÍLIA

A passagem da família medieval para A passagem da família medieval para a moderna implicou numa lenta e a moderna implicou numa lenta e insidiosa construção de um novo insidiosa construção de um novo “sentimento de família”.“sentimento de família”.

Essa transformação foi possível Essa transformação foi possível porque a família modificou suas porque a família modificou suas relações e atribuições com a criança.relações e atribuições com a criança.

A presença constante da criança na A presença constante da criança na escola sob intervenção do Estado, da escola sob intervenção do Estado, da Igreja e das referências do mundo Igreja e das referências do mundo “psi”.“psi”.

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O CONCEITO DE FAMÍLIAO CONCEITO DE FAMÍLIA

Então simultaneamente ao Então simultaneamente ao fortalecimento da escola, a casa fortalecimento da escola, a casa da família foi perdendo seu da família foi perdendo seu caráter de espaço social aberto, caráter de espaço social aberto, para se fechar em sua para se fechar em sua privacidade.privacidade.

Nos séculos XVIII e XIX vai aos Nos séculos XVIII e XIX vai aos poucos se constituindo a típica poucos se constituindo a típica família moderna, formada pelo família moderna, formada pelo homem provedor financeiro...homem provedor financeiro...

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O CONCEITO DE FAMÍLIAO CONCEITO DE FAMÍLIA

O conceito cível (1916) define: “a família O conceito cível (1916) define: “a família compreende as pessoas unidas pelo compreende as pessoas unidas pelo casamento, as provenientes dessa união, as casamento, as provenientes dessa união, as que descendem de um tronco ancestral que descendem de um tronco ancestral comum e as vinculadas por adoção. Em comum e as vinculadas por adoção. Em sentido restrito corresponde aos cônjuges e sentido restrito corresponde aos cônjuges e aos filhos”.aos filhos”.

Adotaremos o conceito de família em seu Adotaremos o conceito de família em seu aspecto nuclear, e parentes ou agregados aspecto nuclear, e parentes ou agregados que coabitam e, principalmente, interagem, que coabitam e, principalmente, interagem, caracterizando uma dinâmica psicossocial caracterizando uma dinâmica psicossocial estruturada.estruturada.

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O CONCEITO DE FAMÍLIAO CONCEITO DE FAMÍLIA

Muitas questões estão implicadas Muitas questões estão implicadas nessas definições: espaço e tempo nessas definições: espaço e tempo compartilhados, formação e compartilhados, formação e manutenção de laços, manutenção de laços, hereditariedade, adoção, legitimação, hereditariedade, adoção, legitimação, transmissão e legados. Tudo isso transmissão e legados. Tudo isso regido por leis que organizam as regido por leis que organizam as relações e situam os indivíduos em relações e situam os indivíduos em uma linhagem.uma linhagem.

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Durante o decurso de sua vida, é na interação com a família Durante o decurso de sua vida, é na interação com a família e com a sociedade que o ser humano obtém as condições e com a sociedade que o ser humano obtém as condições necessárias para seu o desenvolvimento biopsicossocial. necessárias para seu o desenvolvimento biopsicossocial. Não apenas o recém nascido sucumbe diante do abandono Não apenas o recém nascido sucumbe diante do abandono dos demais, mas o equilíbrio emocional, os processos de dos demais, mas o equilíbrio emocional, os processos de subjetivação, a realização dos ideais de vida, o aprendizado subjetivação, a realização dos ideais de vida, o aprendizado e a adaptabilidade ao meio só são possíveis graças aos e a adaptabilidade ao meio só são possíveis graças aos circunstantes, com os quais o homem convive obrigatória e circunstantes, com os quais o homem convive obrigatória e permanentemente. A subjetividade se dá sempre na permanentemente. A subjetividade se dá sempre na presença de um outro. É a partir de alguém que me presença de um outro. É a partir de alguém que me reconheça que sinto minha própria existência. reconheça que sinto minha própria existência.

Poderíamos brincar com Descartes e dizer “o outro existe, Poderíamos brincar com Descartes e dizer “o outro existe, logo existo”. É o outro que dá referências sobre minha logo existo”. É o outro que dá referências sobre minha existência.existência.

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A importância da famíliaA importância da família A família envolve uma organização de A família envolve uma organização de

espaços e tempos. Seu presente traz espaços e tempos. Seu presente traz sempre registros do passado e sempre registros do passado e continuamente prepara o futuro.continuamente prepara o futuro.

Como tudo o que acontece em família, as Como tudo o que acontece em família, as diversas vivências, compartilhadas ou diversas vivências, compartilhadas ou mantidas em segredo, não permanecem mantidas em segredo, não permanecem como propriedade exclusiva do indivíduo. como propriedade exclusiva do indivíduo. Há constantemente um processo de mútua Há constantemente um processo de mútua influência.influência.

Dessa forma, Dessa forma, tudo o que se passa em tudo o que se passa em família deixa marcasfamília deixa marcas, cujos traços , cujos traços atravessam gerações, determinando, atravessam gerações, determinando, inconscientemente, respostas e condutas.inconscientemente, respostas e condutas.

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A importância da famíliaA importância da família Ao pensarmos na pré-maturidade do bebê Ao pensarmos na pré-maturidade do bebê

humano, a finalidade primeira da família é humano, a finalidade primeira da família é assegurar sua sobrevivência e protegê-lo assegurar sua sobrevivência e protegê-lo tanto de condições naturais quanto daquelas tanto de condições naturais quanto daquelas externas e adversas.externas e adversas.

No entanto, é notadamente no No entanto, é notadamente no CAMPO CAMPO PSÍQUICOPSÍQUICO que a família se revela que a família se revela indispensável, já que o psiquismo humano se indispensável, já que o psiquismo humano se constitui a partir de um constitui a partir de um tecido psíquico tecido psíquico grupal grupal (Käes, 1976) – por consangüinidade ou (Käes, 1976) – por consangüinidade ou adoção – que permite em condições adoção – que permite em condições suficientemente boas, a emergência de suficientemente boas, a emergência de aparelhos psíquicos individuais.aparelhos psíquicos individuais.

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FamilidadeFamilidade Para Meyer (2002), a Para Meyer (2002), a tarefa básica da famíliatarefa básica da família é é

auxiliar os indivíduos que a compõem na travessia de auxiliar os indivíduos que a compõem na travessia de uma situação de absoluta dependência para uma uma situação de absoluta dependência para uma gradativa autonomia.gradativa autonomia.

Ao falar de “familidade”, o autor aborda uma parte Ao falar de “familidade”, o autor aborda uma parte da vida mental que se vê continuamente estimulada e da vida mental que se vê continuamente estimulada e ativada pela ativada pela interação familiarinteração familiar, com a função de lidar , com a função de lidar com tal experiência e organizá-la.com tal experiência e organizá-la.

A família também fornece ao indivíduo um aspecto de A família também fornece ao indivíduo um aspecto de sua identidade que faz com que ele, internamente, se sua identidade que faz com que ele, internamente, se veja como participante dessa organização.veja como participante dessa organização.

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Sentimento de pertençaSentimento de pertença

Todo processo de subjetivação é um Todo processo de subjetivação é um processo de HUMANIZAÇÃO que processo de HUMANIZAÇÃO que

portanto envolve o outro.portanto envolve o outro.

A possibilidade de vir a ser nós é o A possibilidade de vir a ser nós é o anseio de ser de cada ser humano. É anseio de ser de cada ser humano. É uma expansão da integridade de si, uma expansão da integridade de si, de ser UM em COMUNIDADE. “A nossa de ser UM em COMUNIDADE. “A nossa família” (Safra, 2009).família” (Safra, 2009).

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Tudo Começa em CasaTudo Começa em Casa

Winnicott (1983), destaca uma Winnicott (1983), destaca uma dimensão fundamental da dimensão fundamental da condição humana: a importância condição humana: a importância dos fatores ambientais desde o dos fatores ambientais desde o início da vida, desde a concepção início da vida, desde a concepção do feto, ou até mesmo antes do feto, ou até mesmo antes (expectativas dos pais).(expectativas dos pais).

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A importância do ambienteA importância do ambiente Levar em consideração o ambiente, na Levar em consideração o ambiente, na

constituição e estruturação psíquicas constituição e estruturação psíquicas fundamentais do ser humano, é vislumbrar fundamentais do ser humano, é vislumbrar a importância do fator dependência a importância do fator dependência (característica do início de todos os seres (característica do início de todos os seres humanos): dependência da figura materna, humanos): dependência da figura materna, da figura paterna, dependência dos outros da figura paterna, dependência dos outros componentes da família, dos valores componentes da família, dos valores culturais da época e inclusive das normas culturais da época e inclusive das normas correntes por exemplo da medicina, e da correntes por exemplo da medicina, e da psicologia da época (pediatria, puericultura, psicologia da época (pediatria, puericultura, psicologia do desenvolvimento). psicologia do desenvolvimento).

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Mãe ambienteMãe ambiente

Para Winnicott, a vida psíquica Para Winnicott, a vida psíquica começa com uma experiência de começa com uma experiência de fusão fusão → existe apenas um corpo e um → existe apenas um corpo e um psiquismo para duas pessoas (uma psiquismo para duas pessoas (uma unidade indivisível).unidade indivisível).

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““Mãe universo”Mãe universo”

Para o bebê, sua mãe e ele próprio Para o bebê, sua mãe e ele próprio constituem uma única pessoa. Embora constituem uma única pessoa. Embora ele já seja um ser separado, com suas ele já seja um ser separado, com suas capacidades inatas, cujas capacidades inatas, cujas potencialidades ainda não se potencialidades ainda não se realizaram, o bebê não tem consciência realizaram, o bebê não tem consciência disso. A mãe não é ainda um “objeto” disso. A mãe não é ainda um “objeto” distinto, ela é um ambiente total, uma distinto, ela é um ambiente total, uma “mãe-universo” e o bebê não passa de “mãe-universo” e o bebê não passa de uma pequena parcela dessa imensa uma pequena parcela dessa imensa unidade. (Winnicott, 1983)unidade. (Winnicott, 1983)

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Winnicott (1993) afirma que não existe bebê Winnicott (1993) afirma que não existe bebê sem mãe e que não existe mãe sem bebê, sem mãe e que não existe mãe sem bebê, “existe apenas uma unidade”. Dessa forma, “existe apenas uma unidade”. Dessa forma, o autor estabelece a importância do meio o autor estabelece a importância do meio ambiente (mãe) para o desenvolvimento do ambiente (mãe) para o desenvolvimento do indivíduo. Será somente por meio dos indivíduo. Será somente por meio dos cuidados dessa figura (ou alguma cuidados dessa figura (ou alguma substituta, desde que, com um mínimo de substituta, desde que, com um mínimo de constância) que o psiquismo do bebê constância) que o psiquismo do bebê poderá se desenvolver, gradativamente, por poderá se desenvolver, gradativamente, por seus estados e estágios naturais. seus estados e estágios naturais.

A relação constrói a subjetividade, não A relação constrói a subjetividade, não existindo a possibilidade do si mesmo sem existindo a possibilidade do si mesmo sem esse contato.esse contato.

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Tudo Começa em CasaTudo Começa em Casa Nesse momento de vida do bebê, a Nesse momento de vida do bebê, a

devoção materna é fundamental pois é devoção materna é fundamental pois é a possibilidade desse bebê existir num a possibilidade desse bebê existir num lugar seguro e acolhedor. lugar seguro e acolhedor.

Na relação mãe-bebê, os pais podem Na relação mãe-bebê, os pais podem ter sonhos em relação a ele, mas é ter sonhos em relação a ele, mas é importante. que esses sonhos não importante. que esses sonhos não saturem o espaço de modo que a saturem o espaço de modo que a singularidade do bebê fique achatada. singularidade do bebê fique achatada. É impte. que esses É impte. que esses anseiosanseios sejam sejam ensaiosensaios da possibilidade de poder da possibilidade de poder receber a criança que chega.receber a criança que chega.

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Devoção e função especularDevoção e função especular

Não poder viver uma experiência dessa Não poder viver uma experiência dessa (“preocupação materna primária”), significa a (“preocupação materna primária”), significa a impossibilidade de ter entrado no mundo do impossibilidade de ter entrado no mundo do humano. Devoção é abertura para o outro, é um humano. Devoção é abertura para o outro, é um certo esquecimento de si, é dar lugar para que o certo esquecimento de si, é dar lugar para que o inédito do outro possa acontecer e tornar-se uma inédito do outro possa acontecer e tornar-se uma experiência constitutiva do humano.experiência constitutiva do humano.

A A função especularfunção especular, da mãe reflete aquilo que ela vê , da mãe reflete aquilo que ela vê no bebê. A mãe espelha o bebê como ser, não é um no bebê. A mãe espelha o bebê como ser, não é um espelho que joga o bebê num plano bidimensional, espelho que joga o bebê num plano bidimensional, ela reflete o que ele é, reflete alteridade, reconhece ela reflete o que ele é, reflete alteridade, reconhece o que o bebê é, e o bebê é peculiar, é singular o que o bebê é, e o bebê é peculiar, é singular desde o princípio.desde o princípio.

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Tudo começa em casaTudo começa em casa O ser humano tem a necessidade de ser O ser humano tem a necessidade de ser

reconhecido pelo que ele é. Tem a reconhecido pelo que ele é. Tem a necessidade de reencontrar o que lhe é necessidade de reencontrar o que lhe é singular no rosto da mãe, na fala da mãe.singular no rosto da mãe, na fala da mãe.

A realidade de si mesmo é dada pelo olhar A realidade de si mesmo é dada pelo olhar do outro o que portanto emoldura a do outro o que portanto emoldura a própria singularidade.própria singularidade.

A pessoa que não pode ser reconhecida A pessoa que não pode ser reconhecida pelo outro naquilo que lhe é singular, vive pelo outro naquilo que lhe é singular, vive uma experiência de INVISIBILIDADE, o que uma experiência de INVISIBILIDADE, o que faz com que ela não se sinta real. faz com que ela não se sinta real.

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HoldingHolding

Winnicott fala da necessidade do Winnicott fala da necessidade do meio ambiente de sustentação para meio ambiente de sustentação para que o processo de “continuidade de que o processo de “continuidade de ser” possa se desenvolver numa ser” possa se desenvolver numa criança.criança.

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HoldingHolding A função principal da figura materna, o A função principal da figura materna, o

holdingholding é reduzir de modo significativo as é reduzir de modo significativo as invasões (invasões (impingementsimpingements) traumáticas, pois ) traumáticas, pois de outra maneira, a cr. experienciará o de outra maneira, a cr. experienciará o aniquilamento do ser pessoal, um terror aniquilamento do ser pessoal, um terror que W. chama de que W. chama de agonia impensávelagonia impensável. A . A alternativa a ser é reagiralternativa a ser é reagir, e reagir , e reagir interrompe o ser e o aniquila. Há um interrompe o ser e o aniquila. Há um colapso no âmbito da confiabilidade.colapso no âmbito da confiabilidade.

Nesse momento, o fracasso nas tentativas Nesse momento, o fracasso nas tentativas de integração levam o indivíduo a viver a de integração levam o indivíduo a viver a desintegração, um estado muito doloroso, desintegração, um estado muito doloroso, que significa o abandono aos impulsos que significa o abandono aos impulsos incontroláveis e portanto a vivência do incontroláveis e portanto a vivência do caos.caos.

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Inúmeros autores já pesquisaram os Inúmeros autores já pesquisaram os processos pelos quais a personalidade processos pelos quais a personalidade da criança estrutura-se, da criança estrutura-se, gradativamente, de acordo com os gradativamente, de acordo com os padrões de conduta de seus pais, padrões de conduta de seus pais, irmãos e familiares próximos, irmãos e familiares próximos, formando uma base para a formando uma base para a sociabilidade. Segundo as palavras de sociabilidade. Segundo as palavras de Abdo e Meleiro (1992): “é no seio Abdo e Meleiro (1992): “é no seio familiar que se desenvolvem as familiar que se desenvolvem as sensações de segurança, auto-estima, sensações de segurança, auto-estima, confiança e auto-preservação”.confiança e auto-preservação”.

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Navarro (1974), citando Ackerman, Navarro (1974), citando Ackerman, afirma que à família compete: 1. afirma que à família compete: 1. assegurar a sobrevivência física e da assegurar a sobrevivência física e da espécie. 2. Desenvolver o espécie. 2. Desenvolver o basicamente humano no homem: a) basicamente humano no homem: a) provisão de alimento e brigo; b) provisão de alimento e brigo; b) ligação afetiva; c) identidade pessoal; ligação afetiva; c) identidade pessoal; d) desenvolvimento da aprendizagem d) desenvolvimento da aprendizagem e da criatividade.e da criatividade.

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Família e pós modernidadeFamília e pós modernidade

Vivemos numa sociedade que privilegia Vivemos numa sociedade que privilegia cada vez mais o individualismo e o cada vez mais o individualismo e o imediatismo. Cada hoje já se tornando imediatismo. Cada hoje já se tornando ontem.ontem.

potência do tecnológicopotência do tecnológico X X condição condição do pensardo pensar

imagemimagem contemplarcontemplar

prazerprazer simbólicosimbólico Presenciamos a família num contexto sem Presenciamos a família num contexto sem

regras estáveis, tendo que absorver as regras estáveis, tendo que absorver as vicissitudes da vida moderna.vicissitudes da vida moderna.

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Família e pós modernidadeFamília e pós modernidade É UM EXCESSO QUE NA VERDADE DENUNCIA É UM EXCESSO QUE NA VERDADE DENUNCIA A A

FALTA.FALTA.

É a valorização do presente e do futuro em É a valorização do presente e do futuro em detrimento do passado. Há um desprezo pelo antigo, detrimento do passado. Há um desprezo pelo antigo, havendo uma ruptura na cadeia geracional havendo uma ruptura na cadeia geracional impossibilitando uma das tarefas mais importantes impossibilitando uma das tarefas mais importantes da família que é a da família que é a transformação dos conteúdos transformação dos conteúdos psíquicos através das geraçõespsíquicos através das gerações..

Hoje vivemos um borramento de papéis, a função Hoje vivemos um borramento de papéis, a função paterna diluída, famílias chefiadas por mulheres, paterna diluída, famílias chefiadas por mulheres, famílias reconstituídas.famílias reconstituídas.

O modelo da família nuclear mudou muito.O modelo da família nuclear mudou muito.

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Família e adoecimentoFamília e adoecimento Portanto, se consideramos a família como a Portanto, se consideramos a família como a

unidade básica de crescimento e experiência, unidade básica de crescimento e experiência, nesse sentido, ela é também a unidade nesse sentido, ela é também a unidade básica de saúde e básica de saúde e doençadoença (Ackerman, 1978). (Ackerman, 1978).

Já que ela é a principal responsável pela Já que ela é a principal responsável pela formação da identidade do indivíduo, torna-formação da identidade do indivíduo, torna-se então fundamental entender o transtorno se então fundamental entender o transtorno mental como um mental como um processo familiarprocesso familiar, , questionando-se a eficácia de qualquer questionando-se a eficácia de qualquer tratamento que não leve em consideração a tratamento que não leve em consideração a síntese total desse indivíduo (devendo síntese total desse indivíduo (devendo necessariamente incluir sua família).necessariamente incluir sua família).

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A Importância da FamíliaA Importância da Família

Segundo alguns autores Segundo alguns autores (Bowen, Eiguer - 4,5)(Bowen, Eiguer - 4,5) a a família é a principal responsável pela família é a principal responsável pela formação da identidade do indivíduo que formação da identidade do indivíduo que dela faz parte e, torna-se fundamental dela faz parte e, torna-se fundamental entender a doença mental como um entender a doença mental como um processo familiar, questionando-se a processo familiar, questionando-se a eficácia de qualquer tratamento que não eficácia de qualquer tratamento que não leve em consideração a síntese total desse leve em consideração a síntese total desse indivíduo (devendo necessariamente incluir indivíduo (devendo necessariamente incluir sua família ).sua família ).

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O estudo criterioso do desenvolvimento dos vínculos O estudo criterioso do desenvolvimento dos vínculos familiares permite elucidar o modo como o familiares permite elucidar o modo como o aparecimento de uma doença desestrutura a aparecimento de uma doença desestrutura a dinâmica de funcionamento da família e, também, dinâmica de funcionamento da família e, também, como interações familiares desajustadas favorecem como interações familiares desajustadas favorecem ou precipitam o aparecimento de doenças em um ou ou precipitam o aparecimento de doenças em um ou mais de seus membros.mais de seus membros.

Os papéis que o paciente desempenha na família e Os papéis que o paciente desempenha na família e esta, em relação a ele, adquirem formas muito esta, em relação a ele, adquirem formas muito peculiares que dependem de uma rede muito peculiares que dependem de uma rede muito extensa de articulações. A inequívoca importância extensa de articulações. A inequívoca importância dos determinantes sócio-familiares no dos determinantes sócio-familiares no desencadeamento e evolução dos quadros clínicos desencadeamento e evolução dos quadros clínicos indica, claramente, que a abordagem do paciente indica, claramente, que a abordagem do paciente psiquiátrico deve incluir intervenções com a família e psiquiátrico deve incluir intervenções com a família e com o meio social.com o meio social.

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Longe de responsabilizar as interações Longe de responsabilizar as interações sócio-familiares como únicas determinantes sócio-familiares como únicas determinantes pela eclosão dos transtornos mentais pela eclosão dos transtornos mentais estamos simplesmente considerando até estamos simplesmente considerando até que ponto tais interações podem dificultar, que ponto tais interações podem dificultar, ou mesmo impedir, uma adequada ou mesmo impedir, uma adequada evolução do ser humano no evolução do ser humano no desenvolvimento dos seus papéis ao longo desenvolvimento dos seus papéis ao longo da vida. É preciso assinalar, também, que da vida. É preciso assinalar, também, que existem consideráveis indícios que existem consideráveis indícios que demonstram os benefícios da participação demonstram os benefícios da participação da família no tratamento. da família no tratamento.

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A Importância da FamíliaA Importância da Família

Segundo Winnicott (1958), quando somos Segundo Winnicott (1958), quando somos chamados a intervir em situações de chamados a intervir em situações de desorganização da dinâmica familiar, desorganização da dinâmica familiar, devemos procurar compreender os devemos procurar compreender os fatores fatores subjacentes ao problema manifestosubjacentes ao problema manifesto para para que nossa ajuda possa ser a mais adequada que nossa ajuda possa ser a mais adequada possível.possível.

O sofrimento da população que procura atendimento O sofrimento da população que procura atendimento numa instituição deve ser entendido numa estrutura mais numa instituição deve ser entendido numa estrutura mais ampla, como uma experiência contínua de integração ampla, como uma experiência contínua de integração emocional com seu ambiente, seu grupo familiar e sua emocional com seu ambiente, seu grupo familiar e sua interação com eles, focando principalmente no interação com eles, focando principalmente no entendimento do contexto no qual este indivíduo se entendimento do contexto no qual este indivíduo se encontra encontra (8)(8). .

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A Importância da FamíliaA Importância da Família

O equilíbrio dinâmico do O equilíbrio dinâmico do indivíduo e do grupo influencia:indivíduo e do grupo influencia:

1.1. a precipitação da doençaa precipitação da doença2.2. o curso da mesmao curso da mesma3.3. a possibilidade de recuperaçãoa possibilidade de recuperação4.4. o risco de recidiva.o risco de recidiva.

Esta estabilidade depende de um Esta estabilidade depende de um padrão delicado de equilíbrio e padrão delicado de equilíbrio e intercâmbio emocional no qual intercâmbio emocional no qual cada membro é afetado por todos cada membro é afetado por todos os outros. Segundo Ackerman os outros. Segundo Ackerman (1978), “a família é a unidade (1978), “a família é a unidade básica de crescimento e básica de crescimento e experiência” e nesse sentido, ela é experiência” e nesse sentido, ela é também a unidade básica de também a unidade básica de doença e saúde (Tommasi, 1996). doença e saúde (Tommasi, 1996).

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Funcional X DisfuncionalFuncional X Disfuncional

Parece que de fato não existem famílias Parece que de fato não existem famílias idealmente saudáveis mas apenas aquelas que são idealmente saudáveis mas apenas aquelas que são ou ou predominantemente saudáveispredominantemente saudáveis ou ou predominantemente doentespredominantemente doentes. Entende-se aqui por . Entende-se aqui por famílias doentes, aquelas que progressivamente famílias doentes, aquelas que progressivamente não conseguiram levar adiante suas funções não conseguiram levar adiante suas funções familiares e que em estágios mais graves foi-se familiares e que em estágios mais graves foi-se observando sinais de desintegração emocional os observando sinais de desintegração emocional os quais dependendo das circunstâncias acabavam quais dependendo das circunstâncias acabavam culminando na desorganização dos vínculos culminando na desorganização dos vínculos familiares e no surgimento de diferentes familiares e no surgimento de diferentes psicopatologias. psicopatologias.

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Famílias desintegradasFamílias desintegradas

Então, é frequentemente nessas situações, Então, é frequentemente nessas situações, nessas famílias socialmente caóticas que nessas famílias socialmente caóticas que aparecem formas múltiplas de doenças aparecem formas múltiplas de doenças psiquiátricas e desajustamento social. Na psiquiátricas e desajustamento social. Na maioria das vezes, as famílias que chegam maioria das vezes, as famílias que chegam ao hospital já estão nesse processo de ao hospital já estão nesse processo de desintegração, e como veremos adiante o desintegração, e como veremos adiante o paciente na maior parte dos casos mostra-se paciente na maior parte dos casos mostra-se como o sintoma emergente de toda esta como o sintoma emergente de toda esta dinâmica.dinâmica.

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Sendo assim, um dos objetivos do atendimento às famílias é Sendo assim, um dos objetivos do atendimento às famílias é capacitá-las para lidar com essas adversidades. Entende-se a capacitá-las para lidar com essas adversidades. Entende-se a família como CUIDADOR PRIMÁRIO desse paciente.família como CUIDADOR PRIMÁRIO desse paciente.

Aborda-se o clima afetivo do ambiente familiar, a sobrecarga Aborda-se o clima afetivo do ambiente familiar, a sobrecarga e o desconforto emocional destes familiares e as e o desconforto emocional destes familiares e as características destas famílias que propiciam novas recaídas características destas famílias que propiciam novas recaídas no quadro psiquiátrico de seu familiar.no quadro psiquiátrico de seu familiar.

Nas intervenções Institucionais desejamos que os cuidadores Nas intervenções Institucionais desejamos que os cuidadores sejam mais tolerantes às mudanças pelas quais o membro sejam mais tolerantes às mudanças pelas quais o membro doente passa e mais realistas quanto às expectativas em doente passa e mais realistas quanto às expectativas em relação ao tratamento relação ao tratamento (Scazufca, 2000)(Scazufca, 2000)..

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Necessidades básicasNecessidades básicas

No entanto... deve-se levar em No entanto... deve-se levar em conta que muitas vezes, os conta que muitas vezes, os perigos que essas famílias perigos que essas famílias enfrentam são reais. Não é um enfrentam são reais. Não é um perigo neurótico imaginado, perigo neurótico imaginado, são privações muito básicas são privações muito básicas como fome, falta de dinheiro e como fome, falta de dinheiro e de moradia. Em alguns países de moradia. Em alguns países desenvolvidos é muito comum desenvolvidos é muito comum que antes de iniciar qualquer que antes de iniciar qualquer tipo de intervenção tipo de intervenção terapêutica com as famílias, terapêutica com as famílias, elas sejam primeiramente elas sejam primeiramente supridas em suas necessidades supridas em suas necessidades mais básicas mais básicas (Bleandoum, 2)(Bleandoum, 2)..

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Ajuda AdequadaAjuda Adequada

Segundo WinnicottSegundo Winnicott(16)(16), quando somos , quando somos chamados a intervir em situações de chamados a intervir em situações de desorganização da dinâmica familiar, desorganização da dinâmica familiar, devemos procurar compreender os fatores devemos procurar compreender os fatores subjacentes ao problema manifesto para subjacentes ao problema manifesto para que nossa ajuda possa ser a mais adequada que nossa ajuda possa ser a mais adequada possível.possível.

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Intervenção psicanalíticaIntervenção psicanalítica

Em linhas gerais, as intervenções psicanalíticas Em linhas gerais, as intervenções psicanalíticas privilegiam a privilegiam a resolução de conflitos interpessoaisresolução de conflitos interpessoais a partir da a partir da elucidação das motivações elucidação das motivações inconscientesinconscientes dos membros da família. A dos membros da família. A presença do terapeuta é dirigida à elucidação do presença do terapeuta é dirigida à elucidação do significado inconsciente do funcionamento do significado inconsciente do funcionamento do grupo parental, examinando sua natureza, suas grupo parental, examinando sua natureza, suas origens e o papel que desempenha na origens e o papel que desempenha na manutenção de um certo nível de estabilidade da manutenção de um certo nível de estabilidade da estrutura estrutura (Melman, 9)(Melman, 9)..

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Etiologia: mãe EsquizofrenogênicaEtiologia: mãe Esquizofrenogênica

Um dos primeiros trabalhos importantes nessa Um dos primeiros trabalhos importantes nessa área foi elaborado por Reichman, em 1948, que ao área foi elaborado por Reichman, em 1948, que ao estudar a relação do paciente esquizofrênico com estudar a relação do paciente esquizofrênico com sua família, formula o conceito de mãe sua família, formula o conceito de mãe “esquizofrenogênica”, atribuindo, desta maneira, “esquizofrenogênica”, atribuindo, desta maneira, a explicação etiológica da esquizofrenia à relação a explicação etiológica da esquizofrenia à relação mãe e filho. A autora descreve essa mãe como mãe e filho. A autora descreve essa mãe como sendo uma pessoa autoritária, dominadora, sendo uma pessoa autoritária, dominadora, ambivalente, que seria complementada por um pai ambivalente, que seria complementada por um pai passivo, indiferente e ausente.passivo, indiferente e ausente.

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Duplo VínculoDuplo Vínculo Dentre os vários grupos de pesquisa que se Dentre os vários grupos de pesquisa que se

organizaram nessa época, o grupo de Gregory organizaram nessa época, o grupo de Gregory BatesonBateson, cujo trabalho foi desenvolvido em Palo , cujo trabalho foi desenvolvido em Palo Alto, teve como resultado, em 1956, a primeira Alto, teve como resultado, em 1956, a primeira publicação em trabalho clínico com família; o artigo publicação em trabalho clínico com família; o artigo clássico intitulado “Towards a Theory of clássico intitulado “Towards a Theory of Schizophrenia” onde é formulado o conceito de Schizophrenia” onde é formulado o conceito de duplo vínculoduplo vínculo::

– Duas pessoas com alto nível de envolvimentoDuas pessoas com alto nível de envolvimento– Um paradoxo infringido pela mãe ao bebê Um paradoxo infringido pela mãe ao bebê

(vítima)(vítima)– Repetição da experiência que passa a ser Repetição da experiência que passa a ser

habitualhabitual– Impossibilidade da “vítima” escaparImpossibilidade da “vítima” escapar

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Na Argentina, no final da década de Na Argentina, no final da década de 50, Pichon-Rivière inclui a família 50, Pichon-Rivière inclui a família

na sua compreensão de doença na sua compreensão de doença mental.mental.

O autor desenvolveu a noção do paciente como emergente O autor desenvolveu a noção do paciente como emergente de um grupo familiar doente (bode expiatório), assumindo de um grupo familiar doente (bode expiatório), assumindo a função de depositário e porta-voz da patologia de toda a a função de depositário e porta-voz da patologia de toda a família. Sob essa perspectiva, o adoecimento de um família. Sob essa perspectiva, o adoecimento de um membro do grupo passou a ser entendido como um pedido membro do grupo passou a ser entendido como um pedido de ajuda e como uma forma de “preservar” o restante do de ajuda e como uma forma de “preservar” o restante do grupo da situação destrutiva grupo da situação destrutiva (Pichon-Rivière, 11)(Pichon-Rivière, 11)..

Paciente Identificado

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O Paciente IdentificadoO Paciente Identificado É comum observar que na maioria das famílias comprometidas, É comum observar que na maioria das famílias comprometidas,

a doença psiquiátrica de um membro representa o resultado a doença psiquiátrica de um membro representa o resultado sintomático da necessidade dos diversos outros membros se sintomático da necessidade dos diversos outros membros se protegerem.protegerem.

Uma parte da família tenta manter-se intacta às custas de outra Uma parte da família tenta manter-se intacta às custas de outra parte.parte.

Nesse sentido, visto que a história pessoal de cada um é de Nesse sentido, visto que a história pessoal de cada um é de algum modo única, e que a vulnerabilidade correspondente é algum modo única, e que a vulnerabilidade correspondente é diferente, o membro mais frágil teria maior probabilidade de diferente, o membro mais frágil teria maior probabilidade de tornar-se o tornar-se o paciente identificado paciente identificado (Skynner, 13)(Skynner, 13) e, criança ou e, criança ou adulto, ele vai revelar-se freqüentemente um emissário adulto, ele vai revelar-se freqüentemente um emissário disfarçado de um grupo familiar emocionalmente deformado.disfarçado de um grupo familiar emocionalmente deformado.

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Resistência à MudançaResistência à Mudança

Para muitos terapeutas familiares de orientação psicanalítica, Para muitos terapeutas familiares de orientação psicanalítica, todos os membros de uma família estão conscientemente de todos os membros de uma família estão conscientemente de acordo em ajudar a superar os sintomas incômodos da pessoa acordo em ajudar a superar os sintomas incômodos da pessoa doente. Mas esse movimento esconde, muitas vezes, um doente. Mas esse movimento esconde, muitas vezes, um desejo inconsciente de não modificar o equilíbrio familiar, desejo inconsciente de não modificar o equilíbrio familiar, mesmo que insatisfatório. Qualquer mudança pode ser forte mesmo que insatisfatório. Qualquer mudança pode ser forte geradora de resistências, temores de que o sistema grupal geradora de resistências, temores de que o sistema grupal possa se desintegrar.possa se desintegrar.

Segundo esse modelo, a cada pessoa dentro de uma dinâmica Segundo esse modelo, a cada pessoa dentro de uma dinâmica familiar são atribuídos papéis e funções. O paciente, ao familiar são atribuídos papéis e funções. O paciente, ao carregar o papel de doente do grupo, permite que os outros carregar o papel de doente do grupo, permite que os outros caminhem relativamente bem e se encontrem protegidos dos caminhem relativamente bem e se encontrem protegidos dos sintomas mais graves.sintomas mais graves.

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Paciente identificadoPaciente identificado O fato de ter “um paciente” na família dificulta a diluição da O fato de ter “um paciente” na família dificulta a diluição da

problemática entre todos os membros. Observamos uma problemática entre todos os membros. Observamos uma força que vai contra essa possibilidade. A chance deles força que vai contra essa possibilidade. A chance deles perceberem que por traz daquele “quadro clínico”, esconde-perceberem que por traz daquele “quadro clínico”, esconde-se um ser humano com dificuldades que eventualmente eles se um ser humano com dificuldades que eventualmente eles próprios apresentem, é muito desestruturante.próprios apresentem, é muito desestruturante.

Existem famílias cujo paciente já está doente há dez anos e Existem famílias cujo paciente já está doente há dez anos e não se sabe nada a respeito de sua doença, muito menos não se sabe nada a respeito de sua doença, muito menos dessa pessoa que sofre. A negação é muito comum, e apesar dessa pessoa que sofre. A negação é muito comum, e apesar de em alguns momentos funcionar como um recurso de em alguns momentos funcionar como um recurso protetor frente a essa situação muito assustadora e protetor frente a essa situação muito assustadora e desgastante, torna-se um importante obstáculo à qualquer desgastante, torna-se um importante obstáculo à qualquer possibilidade de melhora.possibilidade de melhora.

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Deparamo-nos então com famílias fragilmente estruturadas num equilíbrio muitas Deparamo-nos então com famílias fragilmente estruturadas num equilíbrio muitas vezes precário, na iminência de uma ruptura. Nesses ambientes familiares vezes precário, na iminência de uma ruptura. Nesses ambientes familiares predominam a baixa qualidade das comunicações, a violência objetiva ou predominam a baixa qualidade das comunicações, a violência objetiva ou

encoberta e a pobreza material e/ou afetiva.encoberta e a pobreza material e/ou afetiva.

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Famílias IndiferenciadasFamílias Indiferenciadas

Essas famílias apresentam-se indiferenciadas, funcionando Essas famílias apresentam-se indiferenciadas, funcionando através de vínculos simbióticos e alianças extremamente através de vínculos simbióticos e alianças extremamente rígidas. Essas alianças caracterizam-se pelo rígidas. Essas alianças caracterizam-se pelo superenvolvimento emocional e seguidas invasões. superenvolvimento emocional e seguidas invasões.

Os familiares mostram-se incapazes de perceber a Os familiares mostram-se incapazes de perceber a qualidade e a intensidade das críticas que um exerce sobre qualidade e a intensidade das críticas que um exerce sobre o outro, observando-se também a dissimulação de fortes o outro, observando-se também a dissimulação de fortes sentimentos de rejeição entre eles. Além do que, são sentimentos de rejeição entre eles. Além do que, são famílias cuja comunicação é absolutamente atrapalhada famílias cuja comunicação é absolutamente atrapalhada onde um não escuta o outro, ou quando escuta, deturpa a onde um não escuta o outro, ou quando escuta, deturpa a fala sob seu ponto de vista.fala sob seu ponto de vista.

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ComunicaçãoComunicação

No atendimento a uma família cuja paciente matriculada No atendimento a uma família cuja paciente matriculada no hospital tem diagnóstico de transtorno de personalidade no hospital tem diagnóstico de transtorno de personalidade borderline ocorreu uma situação que ilustra o que foi dito:borderline ocorreu uma situação que ilustra o que foi dito:

Assim que entraram na sessão (como sempre) a mãe pede Assim que entraram na sessão (como sempre) a mãe pede para a filha começar a falar... Ela começa a reclamar da para a filha começar a falar... Ela começa a reclamar da mãe e diz que ela é uma louca pois ficou tocando a mãe e diz que ela é uma louca pois ficou tocando a campainha dos portões e não aparecia no porteiro campainha dos portões e não aparecia no porteiro eletrônico e ficava pra lá e pra cá!!!! A mãe – por outro eletrônico e ficava pra lá e pra cá!!!! A mãe – por outro lado - refere que estava aflita para que não atrasassem no lado - refere que estava aflita para que não atrasassem no atendimento (pois ela foi andar no parque) e como não atendimento (pois ela foi andar no parque) e como não atenderam num portão... Ela foi no outro!atenderam num portão... Ela foi no outro!

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Família - equipeFamília - equipe

Nesse sentido, deve-se observar que estes Nesse sentido, deve-se observar que estes comportamentos repetem-se não só na comportamentos repetem-se não só na família mas na relação com o terapeuta e família mas na relação com o terapeuta e também na relação com a equipe de saúde também na relação com a equipe de saúde mental.mental.

A família reproduz padrões de A família reproduz padrões de funcionamento doentios (extrema rigidez, funcionamento doentios (extrema rigidez, indiferenciação e impermeabilidade) que indiferenciação e impermeabilidade) que interferem diretamente na atuação dos interferem diretamente na atuação dos profissionais. profissionais.

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Portanto o atendimento a famílias gravemente Portanto o atendimento a famílias gravemente disfuncionais torna-se disfuncionais torna-se condiçãocondição para melhor para melhor

evolução daquela situação específica.evolução daquela situação específica.

A terapia de Família é concebida como um processo que visa à mudança A terapia de Família é concebida como um processo que visa à mudança de situações de sofrimento não só através de fazer consciente o de situações de sofrimento não só através de fazer consciente o inconsciente familiar, mas de restabelecer de forma saudável e inconsciente familiar, mas de restabelecer de forma saudável e

diferenciada a ligação entre os elementos familiares.diferenciada a ligação entre os elementos familiares.

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Famílias disfuncionaisFamílias disfuncionais

As famílias patológicas (disfuncionais) As famílias patológicas (disfuncionais) demonstram grande intolerância a conflitos. demonstram grande intolerância a conflitos. Não tendo tido condição de fazer face às Não tendo tido condição de fazer face às angústias inerentes ao desenvolvimento angústias inerentes ao desenvolvimento prevalecem padrões narcísicos de interação.prevalecem padrões narcísicos de interação.

Ocorre um curto-circuito nos processos de Ocorre um curto-circuito nos processos de simbolização e a comunicação familiar costuma simbolização e a comunicação familiar costuma se apresentar bastante deficiente.se apresentar bastante deficiente.

Funcionam de acordo com o princípio do Funcionam de acordo com o princípio do nirvana, buscam nível zero de tensão interna.nirvana, buscam nível zero de tensão interna.

Page 52: Aula familia (Professora Maria Cecilia)

Famílias disfuncionaisFamílias disfuncionais

Nessas famílias os mitos encontram-se Nessas famílias os mitos encontram-se rigidificados e se apresentam como rigidificados e se apresentam como cânones, com as diferenças não sendo cânones, com as diferenças não sendo toleradas.toleradas.

Prevalecem angústias narcísicas (de Prevalecem angústias narcísicas (de abandono, de desassistência), angústias abandono, de desassistência), angústias persecutórias (de prejuízo e injustiça) e persecutórias (de prejuízo e injustiça) e angústias catastróficas (de deixar de ser, angústias catastróficas (de deixar de ser, com medo da morte psíquica através do com medo da morte psíquica através do enlouquecimento).enlouquecimento).

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Famílias disfuncionaisFamílias disfuncionais

Os mecanismos de defesa nessas famílias Os mecanismos de defesa nessas famílias são caracterizados pela massificação e são caracterizados pela massificação e intensidade. Visam certo equilíbrio intensidade. Visam certo equilíbrio psíquico, ainda que patológico.psíquico, ainda que patológico.

Qualquer intervenção é, portanto, Qualquer intervenção é, portanto, ameaçadora, porque esse equilíbrio é ameaçadora, porque esse equilíbrio é muito precário e teme-se um muito precário e teme-se um desmoronamento a partir do contato com desmoronamento a partir do contato com uma realidade psíquica tida como muito uma realidade psíquica tida como muito estragada.estragada.

Page 54: Aula familia (Professora Maria Cecilia)

Tarefa básicaTarefa básica

Segundo Recamier (1988) existem duas tarefas Segundo Recamier (1988) existem duas tarefas básicas que cabem a todo ser humano realizar: básicas que cabem a todo ser humano realizar: fazer face à angústia e ao luto fundamental.fazer face à angústia e ao luto fundamental.

Angústia: própria da natureza humana, presente Angústia: própria da natureza humana, presente desde o início da existência.desde o início da existência.

Luto fundamental: perdas, afastamentos e Luto fundamental: perdas, afastamentos e desilusões inerentes ao processo de separação e desilusões inerentes ao processo de separação e individuação que não cessam nunca por serem individuação que não cessam nunca por serem inerentes ao desenvolvimento e à vida inerentes ao desenvolvimento e à vida (separação psicológica da mãe e perda da ilusão (separação psicológica da mãe e perda da ilusão de onipotência).de onipotência).

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Tarefa básicaTarefa básica

Considerando-se a importância que a Considerando-se a importância que a família possa ter nessas tarefas família possa ter nessas tarefas universais, podemos simplificadamente universais, podemos simplificadamente dizer que quando elas se apresentam dizer que quando elas se apresentam suficientemente saudáveis, ajudam seus suficientemente saudáveis, ajudam seus membros a superá-las, individual e membros a superá-las, individual e conjuntamente. conjuntamente.

Famílias com potencial patológico Famílias com potencial patológico obstinam-se em evitar, a todo custo, o obstinam-se em evitar, a todo custo, o vivido da angústia e a dor do luto.vivido da angústia e a dor do luto.

Page 56: Aula familia (Professora Maria Cecilia)

Família disfuncionalFamília disfuncional

Segundo Meyer (2002), frente às Segundo Meyer (2002), frente às ansiedades suscitadas por essas tarefas ansiedades suscitadas por essas tarefas universais – já que nelas estão universais – já que nelas estão implicadas experiências dolorosas de implicadas experiências dolorosas de separação, exclusão, perda, com todos separação, exclusão, perda, com todos os sentimentos penosos e contraditórios os sentimentos penosos e contraditórios que são o cerne mesmo dessas que são o cerne mesmo dessas experiências – o grupo familiar tende a experiências – o grupo familiar tende a buscar modos de se livrar da dor buscar modos de se livrar da dor psíquica, como principalmente a cisão e psíquica, como principalmente a cisão e a projeção dos aspectos insuportáveis.a projeção dos aspectos insuportáveis.

Page 57: Aula familia (Professora Maria Cecilia)

Mecanismos de defesaMecanismos de defesa

Os sistemas defensivos familiares Os sistemas defensivos familiares aparecem como mecanismos aparecem como mecanismos matriciais para garantir a matriciais para garantir a permanência desse grupo-família. Em permanência desse grupo-família. Em certa medida são necessários para a certa medida são necessários para a sobrevivência do grupo. Contudo sobrevivência do grupo. Contudo quando utilizados em excesso quando utilizados em excesso revelam famílias cristalizadas e revelam famílias cristalizadas e fragilmente estruturadas.fragilmente estruturadas.

Page 58: Aula familia (Professora Maria Cecilia)

Mecanismos de defesaMecanismos de defesa

Ruffiot (1982) nos fala sobre mecanismos de defesa Ruffiot (1982) nos fala sobre mecanismos de defesa familiares:familiares:

Identificação projetiva familiarIdentificação projetiva familiar: consiste no esforço : consiste no esforço para expulsar para o exterior tudo que é vivido como para expulsar para o exterior tudo que é vivido como estranho, não aceitável e não assimilável. Em geral estranho, não aceitável e não assimilável. Em geral são aspectos rejeitados que conforme a gravidade do são aspectos rejeitados que conforme a gravidade do funcionamento familiar sugerem a intensificação de funcionamento familiar sugerem a intensificação de vivências persecutórias e também mecanismos de vivências persecutórias e também mecanismos de cisão, negação e controle onipotente.cisão, negação e controle onipotente.

Recusa da dependênciaRecusa da dependência: assinala um funcionamento : assinala um funcionamento familiar autárquico, com a impossibilidade de trocas e familiar autárquico, com a impossibilidade de trocas e de renovação. Esta recusa quando extrema faz com de renovação. Esta recusa quando extrema faz com que a família evite o reconhecimento da diferença das que a família evite o reconhecimento da diferença das gerações.gerações.

Page 59: Aula familia (Professora Maria Cecilia)

Mecanismos de defesaMecanismos de defesa

Cisões internas familiaresCisões internas familiares: a família se : a família se apresenta com grupos tidos como apresenta com grupos tidos como “bons” e “maus”. Isso se dá em “bons” e “maus”. Isso se dá em qualquer família em menor grau e com qualquer família em menor grau e com menos sofrimento. Quando intenso – menos sofrimento. Quando intenso – paciente identificado.paciente identificado.

Introjeção familiarIntrojeção familiar: tendência arcaica à : tendência arcaica à incorporação que se particulariza pela incorporação que se particulariza pela sua massificação e crueza, tomando um sua massificação e crueza, tomando um caráter de vampirização ou aspiração.caráter de vampirização ou aspiração.

Page 60: Aula familia (Professora Maria Cecilia)

Em resumo...Em resumo...

Há famílias com capacidade Há famílias com capacidade para enfrentar seus conflitos para enfrentar seus conflitos e superá-los. Seus membros e superá-los. Seus membros estão suficientemente estão suficientemente diferenciados, a comunicação diferenciados, a comunicação dá-se com suficiente fluidez, dá-se com suficiente fluidez, há recursos para reparação e há recursos para reparação e elaboração. Diante de alguma elaboração. Diante de alguma dificuldade maior, procuram dificuldade maior, procuram ajuda, estabelecem trocas, ajuda, estabelecem trocas, buscam saídas, transformam.buscam saídas, transformam.

Page 61: Aula familia (Professora Maria Cecilia)

Nas famílias disfuncionais, o conflito Nas famílias disfuncionais, o conflito original não foi superado, prepondera original não foi superado, prepondera a confusão entre os membros com a confusão entre os membros com padrões paradoxais de interação. padrões paradoxais de interação. Nessas famílias “viver junto é Nessas famílias “viver junto é impossível, mas separa-se é mortal”.impossível, mas separa-se é mortal”.

Page 62: Aula familia (Professora Maria Cecilia)

Padrões de interaçãoPadrões de interação

Poderíamos agora tentar assinalar a prevalência de Poderíamos agora tentar assinalar a prevalência de certos padrões de interação, sem propor uma certos padrões de interação, sem propor uma tipologia familiar, com esquematizações redutoras.tipologia familiar, com esquematizações redutoras.

Alguns parâmetros podem nortear: a compreensão Alguns parâmetros podem nortear: a compreensão da sintomatologia familiar, uma possível indicação da sintomatologia familiar, uma possível indicação terapêutica e os aspectos prognósticos a serem terapêutica e os aspectos prognósticos a serem considerados.considerados.

Page 63: Aula familia (Professora Maria Cecilia)

Famílias PsicossomáticasFamílias Psicossomáticas

São famílias que dão uma ênfase São famílias que dão uma ênfase excessiva nos papéis de cuidado excessiva nos papéis de cuidado funcionando melhor quando alguém funcionando melhor quando alguém está doente (fisicamente).está doente (fisicamente).

Minuchin (1982) comenta que famílias Minuchin (1982) comenta que famílias psicossomáticas são caracterizadas psicossomáticas são caracterizadas principalmente pela falta de principalmente pela falta de definições de limites, por fronteiras definições de limites, por fronteiras difusas e tendência a apoiar a difusas e tendência a apoiar a expressão somática dos conflitos.expressão somática dos conflitos.

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Famílias PsicossomáticasFamílias Psicossomáticas

Famílias com sintomatologia psicossomática Famílias com sintomatologia psicossomática apresentam uma vida de fantasia empobrecida, apresentam uma vida de fantasia empobrecida, com maior propensão ao raciocínio concreto, com maior propensão ao raciocínio concreto, preocupação com o sucesso e disposição para preocupação com o sucesso e disposição para falar de sintomas corporais. A fantasia falar de sintomas corporais. A fantasia predominante nessas famílias é a de um corpo predominante nessas famílias é a de um corpo único, portanto inseparável.único, portanto inseparável.

Bruch (1973) ressalta a presença de figuras Bruch (1973) ressalta a presença de figuras parentais muito controladoras e em geral parentais muito controladoras e em geral intrusivas.intrusivas.

Page 65: Aula familia (Professora Maria Cecilia)

Famílias com funcionamento Famílias com funcionamento perversoperverso

Famílias com funcionamento Famílias com funcionamento perverso têm como característica perverso têm como característica predominante a passagem ao ato, predominante a passagem ao ato, também decorrente de uma falta também decorrente de uma falta de simbolização. Caracterizam-se de simbolização. Caracterizam-se pela dinâmica violenta, agressiva pela dinâmica violenta, agressiva e destrutiva, seja ela física, moral e destrutiva, seja ela física, moral e/ou sexual, ainda que não e/ou sexual, ainda que não necessariamente explícita.necessariamente explícita.

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Famílias com funcionamento Famílias com funcionamento perversoperverso

Segundo um estudo comparativo entre famílias de Segundo um estudo comparativo entre famílias de pacientes com transtorno de personalidade borderline, pacientes com transtorno de personalidade borderline, com esquizofrenia paranóide e funcionamento neurótico com esquizofrenia paranóide e funcionamento neurótico constatou-se que:constatou-se que:

- As famílias de pacientes com transtorno - As famílias de pacientes com transtorno de personalidade borderline (TPB) eram mais distintas de personalidade borderline (TPB) eram mais distintas do que as outras duas do grupo controle.do que as outras duas do grupo controle.

- Ambas as figuras parentais eram mais - Ambas as figuras parentais eram mais doentes e menos funcionais em comparação com os doentes e menos funcionais em comparação com os outros gruposoutros grupos

- Os fatores utilizados para essa - Os fatores utilizados para essa diferenciação foram: psicose materna, colocação pobre diferenciação foram: psicose materna, colocação pobre de regras, ausência de envolvimento maternal e de regras, ausência de envolvimento maternal e tendência a ver um dos filhos como o bom e o outro tendência a ver um dos filhos como o bom e o outro como mau.como mau.

- Mãe de pacientes com transtorno - Mãe de pacientes com transtorno borderline tem menos condições de obter gratificação borderline tem menos condições de obter gratificação na relação com os filhos.na relação com os filhos.

Page 67: Aula familia (Professora Maria Cecilia)

Famílias com funcionamento Famílias com funcionamento perversoperverso

Essas famílias são melhor caracterizadas pela Essas famílias são melhor caracterizadas pela intensa rigidez do vínculo conjugal do que pela falta intensa rigidez do vínculo conjugal do que pela falta de atenção, suporte ou proteção em relação aos de atenção, suporte ou proteção em relação aos filhos. Segundo o autor (Gunderson, 1980), esse filhos. Segundo o autor (Gunderson, 1980), esse achado corresponde às observações de Kernberg achado corresponde às observações de Kernberg (1992) sobre a tendência dos pacientes com TPB (1992) sobre a tendência dos pacientes com TPB perceberem seus pais como um “grupo muito unido”. perceberem seus pais como um “grupo muito unido”. Ou seja,Ou seja,– Investimento na relação conjugal em detrimento Investimento na relação conjugal em detrimento

da função parentalda função parental

– Os pais (fathers) dos pacientes com TPB eram Os pais (fathers) dos pacientes com TPB eram menos dominantes e menos efetivos em suas menos dominantes e menos efetivos em suas funções do que os pais dos outros dois grupos.funções do que os pais dos outros dois grupos.

– Punições inadequadas em relação ao Punições inadequadas em relação ao comportamento dos filhos.comportamento dos filhos.

Page 68: Aula familia (Professora Maria Cecilia)

Família e o Funcionamento Obsessivo Família e o Funcionamento Obsessivo CompulsivoCompulsivo

Nas famílias com interações obsessivo-compulsivas Nas famílias com interações obsessivo-compulsivas observa-se um intenso envolvimento dos familiares observa-se um intenso envolvimento dos familiares com o transtorno do membro portador, inclusive com o transtorno do membro portador, inclusive com a participação em seus rituais, que acabam se com a participação em seus rituais, que acabam se transformando em rituais familiares.transformando em rituais familiares.

Há uma concordância familiar como meio de evitar Há uma concordância familiar como meio de evitar conflitos: separação e individuação são assim conflitos: separação e individuação são assim evitadas, porque ninguém pode fazer nada sozinho.evitadas, porque ninguém pode fazer nada sozinho.

Observa-se também excessiva rigidez dos Observa-se também excessiva rigidez dos progenitores, controle muito acentuado e grande progenitores, controle muito acentuado e grande preocupação com a ordem e a meticulosidade, o preocupação com a ordem e a meticulosidade, o que pode contribuir para o aparecimento de que pode contribuir para o aparecimento de disfunções comunicacionais.disfunções comunicacionais.

Page 69: Aula familia (Professora Maria Cecilia)

Família e o Transtorno Obsessivo Família e o Transtorno Obsessivo CompulsivoCompulsivo

A superproteção e a falta de afeto também A superproteção e a falta de afeto também influenciam no desenvolvimento desse tipo de influenciam no desenvolvimento desse tipo de transtorno.transtorno.

O modelo de evitação, cuidados excessivos e O modelo de evitação, cuidados excessivos e medos predispõe uma criança mais vulnerável a medos predispõe uma criança mais vulnerável a desenvolver sintomas obsessivos compulsivos.desenvolver sintomas obsessivos compulsivos.

Pais que reforçam interpretações temerosas do Pais que reforçam interpretações temerosas do mundo contribuem para o transtorno. mundo contribuem para o transtorno.

Em geral são famílias com pouca flexibilidade e Em geral são famílias com pouca flexibilidade e capacidade de adaptabilidade diante das capacidade de adaptabilidade diante das adversidades.adversidades.

Page 70: Aula familia (Professora Maria Cecilia)

Família e Transtornos AfetivosFamília e Transtornos Afetivos Em famílias de pacientes com transtornos afetivos Em famílias de pacientes com transtornos afetivos

é comum observar dois tipos de funcionamento:é comum observar dois tipos de funcionamento:

– a família vive a depressão junto com o paciente, a família vive a depressão junto com o paciente, com prostração e paralisação diante da vida ou;com prostração e paralisação diante da vida ou;

– reage maniacamente quase que negando as reage maniacamente quase que negando as condições de sofrimento do familiar.condições de sofrimento do familiar.

É muito comum a crença de que o paciente pode É muito comum a crença de que o paciente pode controlar seus sintomas e o nível de crítica e controlar seus sintomas e o nível de crítica e exigência em relação a ele é muito alto. Essa exigência em relação a ele é muito alto. Essa postura reflete na verdade um forte sentimento postura reflete na verdade um forte sentimento de impotência diante do paciente deprimido.de impotência diante do paciente deprimido.

Page 71: Aula familia (Professora Maria Cecilia)

Famílias EnlutadasFamílias Enlutadas Nas famílias enlutadas, a depressão é pela Nas famílias enlutadas, a depressão é pela

experiência de uma perda real e significativa.experiência de uma perda real e significativa.

Para que essa situação evolua de forma Para que essa situação evolua de forma satisfatória, a família tem que estar satisfatória, a família tem que estar razoavelmente diferenciada e portanto ser capaz razoavelmente diferenciada e portanto ser capaz de um cuidar da dor do outro e da própria dor de um cuidar da dor do outro e da própria dor sem vínculos de co-dependência.sem vínculos de co-dependência.

Observa-se que muitas vezes uma situação de Observa-se que muitas vezes uma situação de luto mal resolvida vai eclodir em gerações luto mal resolvida vai eclodir em gerações seguintes e, em geral como um elemento seguintes e, em geral como um elemento impeditivo da aquisição da autonomia.impeditivo da aquisição da autonomia.

Page 72: Aula familia (Professora Maria Cecilia)

Famílias de esquizofrênicosFamílias de esquizofrênicos Em famílias de pacientes esquizofrênicos é Em famílias de pacientes esquizofrênicos é

comum observar-se um funcionamento comum observar-se um funcionamento simbiótico entre todos os membros. simbiótico entre todos os membros. Observando-se muitas vezes pais distantes e Observando-se muitas vezes pais distantes e indiferentes.indiferentes.

Bowen em 1954, a partir de estudos sobre a Bowen em 1954, a partir de estudos sobre a esquizofrenia, observou que “a fusão esquizofrenia, observou que “a fusão emocional entre a mãe e o filho(a) pode emocional entre a mãe e o filho(a) pode assumir a forma de um vínculo dependente assumir a forma de um vínculo dependente afetivo ou uma luta conflituosa”. A dinâmica afetivo ou uma luta conflituosa”. A dinâmica básica subjacente a essa fusão seria a básica subjacente a essa fusão seria a alternância entre a ansiedade de separação e alternância entre a ansiedade de separação e de incorporação. de incorporação.

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ComunicaçãoComunicação

Observa-se que a comunicação em geral se estabelece Observa-se que a comunicação em geral se estabelece através da identificação projetiva. Entende-se aqui por através da identificação projetiva. Entende-se aqui por comunicação, a possibilidade da criação de um campo de comunicação, a possibilidade da criação de um campo de linguagem que propicie o conhecimento e a compreensão linguagem que propicie o conhecimento e a compreensão de cada um dos membros da família de cada um dos membros da família (Minuchin, 10)(Minuchin, 10)..

A fala “...não A fala “...não dê ouvidodê ouvido para essas vozes...”, revela a para essas vozes...”, revela a angústia da família e a impossibilidade dela em acolher angústia da família e a impossibilidade dela em acolher a situação de crise (além de certa concretude sobre o a situação de crise (além de certa concretude sobre o assunto). Esse movimento, na verdade revela mais uma assunto). Esse movimento, na verdade revela mais uma forma da família entrar em contato com esta situação forma da família entrar em contato com esta situação pois essa fala aparentemente apaziguadora para o pois essa fala aparentemente apaziguadora para o paciente, na verdade serve muito mais ao familiar, para paciente, na verdade serve muito mais ao familiar, para ele próprio tentar se tranqüilizar. ele próprio tentar se tranqüilizar.

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A família está em crise e a internação surge para A família está em crise e a internação surge para resolver resolver a crisea crise “...o médico, Graças a Deus, “...o médico, Graças a Deus, internou ele internou ele pra mimpra mim...”. Esse desejo de que o ...”. Esse desejo de que o paciente fique internado (que muitas vezes é paciente fique internado (que muitas vezes é ambivalente) acaba impedindo que se criem ambivalente) acaba impedindo que se criem possibilidades para o retorno do mesmo e a possibilidades para o retorno do mesmo e a família acaba “atuando” o tempo todo para uma família acaba “atuando” o tempo todo para uma atmosfera perturbadora com conseqüente piora atmosfera perturbadora com conseqüente piora do paciente e maior permanência deste numa do paciente e maior permanência deste numa enfermaria.enfermaria.

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Nos casos desses pacientes internados, os familiares Nos casos desses pacientes internados, os familiares tendem a esperar que o terapeuta e a Instituição tendem a esperar que o terapeuta e a Instituição desempenhem o papel de Deus. Há a exigência de desempenhem o papel de Deus. Há a exigência de uma proteção mágica. Contam com a possibilidade uma proteção mágica. Contam com a possibilidade de “reaver” um membro que era dado como caso de “reaver” um membro que era dado como caso perdido, como se o hospital fosse “devolvê-lo” perdido, como se o hospital fosse “devolvê-lo” completamente curado. É possível também que esta completamente curado. É possível também que esta fantasia seja fruto de uma postura da Instituição, fantasia seja fruto de uma postura da Instituição, esta atuando como favorecedora deste tipo de esta atuando como favorecedora deste tipo de vínculo. Nesse caso tem que se ter muito cuidado vínculo. Nesse caso tem que se ter muito cuidado com a comunicação estabelecida entre a família, a com a comunicação estabelecida entre a família, a Instituição e o paciente.Instituição e o paciente.

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Em contrapartida o hospital psiquiátrico é Em contrapartida o hospital psiquiátrico é associado a muitos medos e estigmas e a tendência associado a muitos medos e estigmas e a tendência de algumas famílias é sentirem-se melhor quanto de algumas famílias é sentirem-se melhor quanto mais longe possível puderam ficar. mais longe possível puderam ficar.

Nesses casos, os profissionais devem “batalhar” Nesses casos, os profissionais devem “batalhar” pela possibilidade do atendimento (sem pela possibilidade do atendimento (sem desconsiderar a importância de um desconsiderar a importância de um comprometimento da família).comprometimento da família).

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Nos casos de internação fica muito mais fácil manter a dinâmica do Nos casos de internação fica muito mais fácil manter a dinâmica do “bode expiatório”. Não é incomum ver a família responsabilizar o “bode expiatório”. Não é incomum ver a família responsabilizar o paciente pela oscilação de seu próprio estado. Ou seja, quando o paciente pela oscilação de seu próprio estado. Ou seja, quando o paciente não está bem, ninguém está, todos ficam mal. Cria-se um peso paciente não está bem, ninguém está, todos ficam mal. Cria-se um peso muito grande, uma responsabilidade enorme para o paciente pois dele muito grande, uma responsabilidade enorme para o paciente pois dele depende o bem estar da família toda. Esse comportamento pode depende o bem estar da família toda. Esse comportamento pode caracterizar uma família com importante indiscriminação (11).caracterizar uma família com importante indiscriminação (11).

Algumas mais indiferenciadas expressam verbalmente este aspecto Algumas mais indiferenciadas expressam verbalmente este aspecto “...eu só vou ser feliz quando você ficar bom...”, “...quando ele sente-“...eu só vou ser feliz quando você ficar bom...”, “...quando ele sente-se em pânico, se recolhe, fica com raiva e despeja tudo nos outros, eu se em pânico, se recolhe, fica com raiva e despeja tudo nos outros, eu fico igualzinha a ele...”. Podem até sentir-se melhor, mas na verdade fico igualzinha a ele...”. Podem até sentir-se melhor, mas na verdade estão colocando um peso enorme nas mãos do paciente, muitas vezes estão colocando um peso enorme nas mãos do paciente, muitas vezes contribuindo para o aumento de sua ansiedade e possível piora .contribuindo para o aumento de sua ansiedade e possível piora .

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Observa-se muita dificuldade de aceitação da Observa-se muita dificuldade de aceitação da doença, condição essa que implica à família, doença, condição essa que implica à família, principalmente aos pais, entrar em contato com uma principalmente aos pais, entrar em contato com uma ferida narcísica extremamente dolorida “...quebrou ferida narcísica extremamente dolorida “...quebrou nosso orgulho...”. É a constatação de que esses pais nosso orgulho...”. É a constatação de que esses pais falharam, de que erraram. Surge um sentimento de falharam, de que erraram. Surge um sentimento de impotência muito grande principalmente nas mães impotência muito grande principalmente nas mães que que sempresempre cuidaram dos filhos, cuidaram dos filhos, sempresempre foram foram capazes de curar qualquer doença. Então, como se capazes de curar qualquer doença. Então, como se deparar com algo que foge absolutamente ao deparar com algo que foge absolutamente ao controle e é totalmente desconhecido? É muito controle e é totalmente desconhecido? É muito desestruturante. desestruturante.

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Foi relatado um caso de um paciente que ficou um Foi relatado um caso de um paciente que ficou um ano isolado em casa sem tratamento e sua mãe só ano isolado em casa sem tratamento e sua mãe só levou-o ao hospital quando o mesmo passou a levou-o ao hospital quando o mesmo passou a ficar muito agitado. Esta situação ocorre com ficar muito agitado. Esta situação ocorre com freqüência, pois enquanto o paciente está quieto, freqüência, pois enquanto o paciente está quieto, “sem dar trabalho, bonzinho”, mesmo que fique “sem dar trabalho, bonzinho”, mesmo que fique horas na cama, parece que para a família está horas na cama, parece que para a família está tudo bem. A maioria das famílias tem a concepção tudo bem. A maioria das famílias tem a concepção de que o indivíduo só está doente quando está de que o indivíduo só está doente quando está agressivo, gritando e espumando. Nessas situações agressivo, gritando e espumando. Nessas situações os familiares acabam procurando atendimento os familiares acabam procurando atendimento quando a doença já tem anos de evolução.quando a doença já tem anos de evolução.

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A aceitação da doença é A aceitação da doença é fundamental tanto por fundamental tanto por parte da família quanto parte da família quanto por parte do paciente. O por parte do paciente. O fato é que esses fato é que esses transtornos colocam em transtornos colocam em cheque uma série de cheque uma série de teorias que as famílias teorias que as famílias tem a respeito das tem a respeito das relações e da educação. É relações e da educação. É um assunto que não um assunto que não corresponde a nenhuma corresponde a nenhuma lógica, não faz sentido, lógica, não faz sentido, deixando a todos muito deixando a todos muito angustiados.angustiados.

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De fato as famílias chegam ao hospital com as teorias mais De fato as famílias chegam ao hospital com as teorias mais variadas possíveis a respeito do que é um transtorno mental. Cada variadas possíveis a respeito do que é um transtorno mental. Cada família divide uma série de crenças e valores por vezes família divide uma série de crenças e valores por vezes funcionando até como um sistema de defesas.funcionando até como um sistema de defesas.

Através de suas falas observam-se essas fantasias: “...meu filho Através de suas falas observam-se essas fantasias: “...meu filho sempre foi muito bom menino, só as vezes faz malcriação...”, “...é sempre foi muito bom menino, só as vezes faz malcriação...”, “...é uma determinação de Deus e só ele mesmo pra curar...”, “...é uma determinação de Deus e só ele mesmo pra curar...”, “...é deficiência de um líquido que não chega no cérebro...”, “...pegou deficiência de um líquido que não chega no cérebro...”, “...pegou esquizofrenia no baile...”, “...ai se esquizofrenia no baile...”, “...ai se eueu tivesse no lugar dele, tivesse no lugar dele, eueu faria faria esse tratamento...”. Surgem também muitas expectativas de esse tratamento...”. Surgem também muitas expectativas de soluções mágicas “...porque a senhora não desperta a inteligência soluções mágicas “...porque a senhora não desperta a inteligência de seu filho...” , “...eu sei que se ele casasse tudo se resolveria...”, de seu filho...” , “...eu sei que se ele casasse tudo se resolveria...”, algumas mães inconformadas, “..ele foi super desejado, foi super algumas mães inconformadas, “..ele foi super desejado, foi super querido, primeiro neto, sempre teve tudo...”.querido, primeiro neto, sempre teve tudo...”.

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Observa-se também o quanto essas famílias têm medo de Observa-se também o quanto essas famílias têm medo de enlouquecer e o quanto em alguns momentos elas se enlouquecer e o quanto em alguns momentos elas se misturam com a situação do próprio paciente. A irmã de um misturam com a situação do próprio paciente. A irmã de um paciente em certa ocasião falou: “...nosso quadro familiar...”, paciente em certa ocasião falou: “...nosso quadro familiar...”, ou “...nosso grupo é só de esquizofrênicos?”.ou “...nosso grupo é só de esquizofrênicos?”.

Constata-se então, que essas pessoas acabam trazendo de Constata-se então, que essas pessoas acabam trazendo de forma muito rica como lidam com a situação e que poucas forma muito rica como lidam com a situação e que poucas famílias tentam (e podem) compreender o que acontece, famílias tentam (e podem) compreender o que acontece, enquanto a maioria procura se enquanto a maioria procura se afastarafastar ou então encontram-se ou então encontram-se tão desorganizadas que fundem-se à loucura do paciente e tão desorganizadas que fundem-se à loucura do paciente e atuam juntamente com ele.atuam juntamente com ele.

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As expectativas são muito altas, como já foi dito, chegando a As expectativas são muito altas, como já foi dito, chegando a níveis de pensamentos mágicos, super-compensatórios. Em níveis de pensamentos mágicos, super-compensatórios. Em dada ocasião uma senhora já de muita idade falou a respeito dada ocasião uma senhora já de muita idade falou a respeito de seu filho “...é que nem uma gulodice, a gente quer que sare de seu filho “...é que nem uma gulodice, a gente quer que sare logo!”.logo!”.

Contudo quanto mais altas essas expectativas mais Contudo quanto mais altas essas expectativas mais freqüentemente o contato com o paciente torna-se fonte de freqüentemente o contato com o paciente torna-se fonte de inúmeras frustrações, principalmente no caso de pacientes inúmeras frustrações, principalmente no caso de pacientes crônicos crônicos (3)(3). Em um dos atendimentos um pai comentou “... . Em um dos atendimentos um pai comentou “... sinto-me como um rato que entrou numa ratoeira e não tem sinto-me como um rato que entrou numa ratoeira e não tem mais retorno...”.mais retorno...”.

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Outro aspecto importante observado nos atendimentos é a Outro aspecto importante observado nos atendimentos é a dificuldade no estabelecimento dos limites. As famílias em dificuldade no estabelecimento dos limites. As famílias em geral confundem geral confundem cuidarcuidar com com cada uma faz o que quercada uma faz o que quer. Não . Não há parâmetros a serem estabelecidos.há parâmetros a serem estabelecidos.

A questão é quando dar “colo” e quando colocar limites. A questão é quando dar “colo” e quando colocar limites.

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Por exemplo havia uma mãe, cujo filho estava internado, em Por exemplo havia uma mãe, cujo filho estava internado, em surto psicótico, com graves distúrbios alimentares, não tinha surto psicótico, com graves distúrbios alimentares, não tinha limites para comer, alimentava-se de tudo o que havia na sua limites para comer, alimentava-se de tudo o que havia na sua frente e após, vomitava. Essa mãe, em todas as visitas trazia frente e após, vomitava. Essa mãe, em todas as visitas trazia um bolo (tipo Frapé) o qual obviamente o paciente comia um bolo (tipo Frapé) o qual obviamente o paciente comia inteiro. Ao ser abordado esse assunto na sessão (pela irmã) a inteiro. Ao ser abordado esse assunto na sessão (pela irmã) a mãe dizia que sentia muita pena do filho, pois ele estava nessa mãe dizia que sentia muita pena do filho, pois ele estava nessa enfermaria horrível, sozinho e magrinho e que um enfermaria horrível, sozinho e magrinho e que um “pouquinho” de bolo na visita poderia alegrá-lo. Nem sequer “pouquinho” de bolo na visita poderia alegrá-lo. Nem sequer passava pela sua cabeça que ela poderia passava pela sua cabeça que ela poderia dardar outras coisas ao outras coisas ao seu filho, que não comida, ou que ela poderia alegrá-lo e seu filho, que não comida, ou que ela poderia alegrá-lo e preenchê-lo também com palavras, ou até com um simples preenchê-lo também com palavras, ou até com um simples olhar.olhar.

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Em outras ocasiões vemos que o discurso do paciente é Em outras ocasiões vemos que o discurso do paciente é veementementeveementemente rejeitado “... isso é papo de louco...”, ou que rejeitado “... isso é papo de louco...”, ou que muitas vezes ele é excluído de decisões e problemáticas da muitas vezes ele é excluído de decisões e problemáticas da família.família.

Contudo, por mais frágil que esta família se encontre ela Contudo, por mais frágil que esta família se encontre ela ainda é o ainda é o único ponto de referênciaúnico ponto de referência deste indivíduo. É o seu deste indivíduo. É o seu único elo de ligação com o meio externo, com suas raízes, sua único elo de ligação com o meio externo, com suas raízes, sua identidade. Ocultar algumas situações e emoções ao paciente identidade. Ocultar algumas situações e emoções ao paciente é compactuar com sua alienação e conseqüentemente com sua é compactuar com sua alienação e conseqüentemente com sua loucura. É deixar de fazer a ligação (ainda que precária) de loucura. É deixar de fazer a ligação (ainda que precária) de seu mundo de fantasias com o mundo real. Delirante ou não, seu mundo de fantasias com o mundo real. Delirante ou não, naquele momento é só o que o paciente tem a oferecer. naquele momento é só o que o paciente tem a oferecer.

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É nesta relação “tão delicada” que as famílias criam É nesta relação “tão delicada” que as famílias criam preconcepções a respeito dos pacientes, como forma de preconcepções a respeito dos pacientes, como forma de diminuir a angústia frente a este desconhecido. É como se já o diminuir a angústia frente a este desconhecido. É como se já o conhecessem e conseguissem prever todas as suas atitudes conhecessem e conseguissem prever todas as suas atitudes sentindo-se mais seguros para lidar com eles. Contudo, acaba sentindo-se mais seguros para lidar com eles. Contudo, acaba surgindo uma barreira no contato com o mesmo não surgindo uma barreira no contato com o mesmo não permitindo um olhar mais amplo e a percepção de novos permitindo um olhar mais amplo e a percepção de novos movimentos do mesmo. O paciente por outro lado, acaba movimentos do mesmo. O paciente por outro lado, acaba sentindo-se amarrado a esses rótulos e acaba atuando de sentindo-se amarrado a esses rótulos e acaba atuando de acordo com eles. A família traz um discurso taxativo e acordo com eles. A família traz um discurso taxativo e possessivo “...só eu o conheço, só eu que sei...”. É também possessivo “...só eu o conheço, só eu que sei...”. É também uma maneira de impedir qualquer possibilidade de uma maneira de impedir qualquer possibilidade de aproximação e trabalho.aproximação e trabalho.

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O papel que o paciente desempenha perante a O papel que o paciente desempenha perante a família e esta em relação a ele adquire formas família e esta em relação a ele adquire formas muito peculiares que vão depender de uma rede muito peculiares que vão depender de uma rede muito extensa de articulações. Como já muito extensa de articulações. Como já mencionamos, muitas vezes mencionamos, muitas vezes a doença é a doença é necessária em determinada famílianecessária em determinada família que por uma que por uma série de motivos só mantém sua coesão diante da série de motivos só mantém sua coesão diante da necessidade de cuidar de alguém, o que pode necessidade de cuidar de alguém, o que pode significar, cuidar da sua própria loucura da qual significar, cuidar da sua própria loucura da qual esse paciente é o porta voz.esse paciente é o porta voz.

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Estágios de ciclo de Estágios de ciclo de vida familiarvida familiar

Processo Processo emocionemocional de al de transiçãtransiçãoo

Mudanças de 2ª. Ordem no Mudanças de 2ª. Ordem no status familiar necessárias status familiar necessárias para prosseguir o para prosseguir o desenvolvimentodesenvolvimento

1.Saindo de casa: 1.Saindo de casa: jovens solteirosjovens solteiros

2.A união de famílias 2.A união de famílias no casamento: o novo no casamento: o novo casalcasal

3.Famílias com filhos 3.Famílias com filhos pequenospequenos

4.Famílias com 4.Famílias com adolescentesadolescentes

5.Lançando os filhos e 5.Lançando os filhos e seguindo em frenteseguindo em frente

6. Famílias no estágio 6. Famílias no estágio tardio da vidatardio da vida

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FIM

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