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Curso de RedaçãoEscrita acadêmica
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Características do discurso acadêmico
• O conhecimento científico deve ser buscado para a solução de problemas.
• Ao longo do tempo, os cientistas – uns mais, outros menos, procuraram
orientar-se segundo o conceito de que não se deve multiplicar “as coisas”
além do necessário; antes, corte-se tudo o que for demasiado.
• O resultado foi considerar como formulação científica mais apropriada
aquela que, além de correta, seja simples, clara, precisa e concisa.
Se, na parte substantiva do esforço do pesquisador, tais características são
recomendadas, segue-se a necessidade na sua presença na comunicação dos
resultados, pois é aí que se concretiza e se objetiva o achado científico.
• Simplicidade: A simplicidade no estilo acadêmico se manifesta quando
quem escreve o faz de modo natural, sem floreios nem vocábulos
desnecessários.
• Clareza: em qualquer comunicação, o que se pretende é a sua alta fidelidade,
ou seja, a ausência de ruídos que comprometem a qualidade da mensagem
recebida. Os ruídos, nas mais das vezes, ocorrem por inadequação da
estrutura da mensagem por parte da fonte, no caso, o produtor de textos
didático-científicos.
• Precisão: para determinados termos e expressões não existe entendimento
único. Por isso é preciso evitar termos ambíguos e expressões redundantes,
para que a mensagem que se pretende transmitir não tenha múltiplas
interpretações.
• Concisão: “escrever é cortar palavras”. Para a produção didático-científica, a
concisão está diretamente ligada à clareza. Quando as pessoas apresentam
seus relatos em períodos com várias orações subordinadas, tendem a se
tornar prolixas e, deste modo, prejudicam a compreensão. Para evitar esse
erro é preciso expor as ideias em frases simples e de poucas palavras.
• Alguns termos e expressões são constantemente inseridos no discurso
acadêmico e acabam se caracterizando como modismo, tornando-se palavras
ou frases esvaziadas de significação e expressividade.
• Para saber se determinadas palavras ou conjunto se tornaram mania ou chavão,
é preciso observar duas características:
- sua frequência em um discurso (número de vezes que aparece);
- sua universalização (emprego em um universo estatístico).
Manias e chavões
A nível de...
• O substantivo nível significa um instrumento para verificar se o plano está horizontal
(Silveira Bueno). Daí se originam expressões que figurativamente indicam
igualdade de posição.
• São corretas as construções: pessoas do mesmo nível social tendem a morar na
mesma vizinhança, ou o nível das águas atingiu um ponto tal que já preocupa os
moradores das proximidades. Também estão corretas: A chapada do Araripe está
mais ou menos a 800m acima do nível do mar, enquanto Fortaleza fica quase ao níveldo mar.
• O problema é quando a expressão a nível de é usada em frases de maneira
incorreta e desnecessária, visando limitar a extensão de uma afirmação ou
restringir determinada área, como mostram os exemplos:
Objetivos a serem atingidos nos 04 (quatro) próximos anos:
a) a nível dos docentes;
b) a nível do ensino;
c) a nível da pesquisa;
d) a nível da extensão.
A nível de...
• Como se vê, pretendem-se limitar os objetivos a áreas específicas. Bastava,
para tanto, escrever:
Objetivos a atingir no período 94/98, relativos
a) aos docentes;
b) ao ensino;
c) à pesquisa;
d) à extensão.
A nível de...
• Questão: há uma frequência exagerada dessa expressão em redações e textos
acadêmicos, assim como em veículos de comunicação de massa.
• Dois exemplos da inutilidade da palavra:
[...] a natureza e o objeto de estudo da didática geral [...], tem se tornado entre nós [...],
uma questão objeto de acaloradas discussões [...].
• Em nada se altera o significado com a retirada de uma questão.
Questão
objeto de acaloradas discussões [...].
Enquanto
• Disputando o primeiro lugar com questão e a nível de, está o emprego da
conjunção temporal enquanto. Qualquer dicionário registra, como acepções
desta palavra invariável, no tempo em que e ao passo que.
• Esta conjunção costuma ser aplicada impropriamente, substituindo como, na
qualidade de, na posição de.
• Trata-se de uso gramaticalmente incorreto, além de se constituir mania do
discurso acadêmico, o que acarreta também um erro estilístico.
Exemplos:
• A metodologia enquanto ato político da prática educativa (título).
• [...] implica, por um lado, na apreensão da dinâmica social enquanto atravessada por
contradições e conflitos [...].
• [...] a metodologia enquanto instrumental teórico-prático [...].
• [...] uma visão crítica do fenômeno educativo enquanto parte da totalidade do social.
• [...] para tudo aquilo que os alunos já fazem enquanto vivência, enquanto formação cultural.
Enquanto
O futuro do pretérito
• Na linguagem científica, a substituição do presente do indicativo pelofuturo do pretérito é inaceitável. A natureza das proposições científicasexige que estas sejam enunciadas de forma clara, precisa e direta.
• Exemplos:
- [...] destacaria, antes de mais nada, a recuperação [...].
- [...] a integração [...] é condição básica para se ter o que eu chamaria de uso racionalde recursos.
- [...] acrescentaria ao que foi dito o seguinte: [...].
Outras manias e chavões
• Desvelar – hoje, ninguém descobre, mostra, desnuda, revela, nem demonstra.
Apenas desvela.
• Passar por – não se diz nem se escreve que a condição necessária para uma
boa educação é que haja professores qualificados. Diz-se e grafa-se: uma boa
educação passa necessariamente pela qualificação docente.
• Perpassar – que significa passar por, passar junto a, etc., é utilizado no sentido
não dicionarizado de envolver, englobar etc.
• Trabalhar em cima – não se tem mais parâmetro para orientar qualquer ação, pois
apenas se trabalha em cima de algo.
• No bojo de – bojo significa saliência abaulada; proeminência convexa. Em vez de se
dizer no bojo da psicolinguística [...], o ideal é dizer no âmbito da psicolinguística [...].
• Mola propulsora – perfeita para acionar o salto de qualidade.
• Processo – de uso análogo à palavra questão, vem com muita frequência,
acompanhado do adjetivo evolutivo, o que constitui, em alguns casos, redundância.
Outras manias e chavões
Para não cair no erro...
• Não se conclua com base nestas considerações que tais vocábulos devam ser
eliminados. Eles existem, possuem significado próprio e, quando bem
utilizados, têm força expressiva.
• É preciso estar atento à escolha das palavras e à frequência de seus usos.
Quando necessário, faça a substituição por sinônimos ou elabore novas
construções, como paráfrases, para não cair no uso das manias e chavões que
empobrecem os textos acadêmicos.
Pleonasmos
• Pleonasmo é a redundância de termos no âmbito das palavras, mas de
emprego legítimo em certos casos, pois confere maior vigor ao que está
sendo expresso. Ex.: ele via tudo com seus próprios olhos. (Houaiss)
• O pleonasmo na escrita acadêmica compromete o teor científico das peças,
pois impede a simplicidade, a clareza, a precisão e a concisão das
informações.
Base fundamental
• Aqui, o vocábulo fundamental está de sobra, rebarbativo.
• Base, na acepção mais utilizada, é por definição tudo o que serve de
fundamento ou apoio. Dispensa, pois, fundamental, igual a que serve de
fundamento; necessário; essencial; básico.
• Construções semelhantes são: infraestrutura básica, perspectiva futura, história
passada, tradição do passado, pequena síntese, conforme já vimos anteriormente, o que vai
acontecer no futuro.
Impropriedades
• Registram-se no discurso acadêmico impropriedades de natureza conceitual e
informativa, o que denota, em muitos casos, o despreparo das pessoas até no estágio
elementar.
• Quando se expõe conceitos, se reproduz sentenças célebres, informações de datas e
lugares ou de quaisquer comunicações de que não se tem certeza, é sempre bom
conferir, se possível em mais de uma fonte, a veracidade daquilo que se vai publicar.
• Só assim, os produtores de mensagens didático-científicas não serão responsáveis
por induzir o leitor ao engano ou reproduzir falácias, correndo o risco de se
invalidar toda uma pesquisa ou disseminar o erro inadvertidamente.
Deslizes menores
• Os deslizes menores na escrita acadêmica, como erros de grafia, concordância,
regência nominal e verbal, emprego equivocado de termos e outros, são descuidos
que o próprio autor do texto acadêmico pode evitar, tomando duas precauções:
- Prestar atenção no que se escreve: significa, do ponto de vista prático, proceder a
revisões cuidadosas. Uma leitura em voz alta ajuda a perceber esses deslizes.
- Uso do dicionário: é bom ter à disposição, quando se escreve, um bom dicionário
para esclarecer dúvidas acerca da ortografia, da regência verbal e empregar
palavras e expressões nas suas acepções corretas.