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AULA PRÁTICA III– LITERATURA PARA O ENEM 2012 TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO (Enem 2007) O CANTO DO GUERREIRO Aqui na floresta Dos ventos batida, Façanhas de bravos Não geram escravos, Que estimem a vida Sem guerra e lidar. - Ouvi-me, Guerreiros, - Ouvi meu cantar. Valente na guerra, Quem há, como eu sou? Quem vibra o tacape Com mais valentia? Quem golpes daria Fatais, como eu dou? - Guerreiros, ouvi-me; - Quem há, como eu sou? Gonçalves Dias. MACUNAÍMA (Epílogo) Acabou-se a história e morreu a vitória. Não havia mais ninguém lá. Dera tangolomângolo na tribo Tapanhumas e os filhos dela se acabaram de um em um. Não havia mais ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles campos, furos puxadouros arrastadouros meios-barrancos, aqueles matos misteriosos, tudo era solidão do deserto... Um silêncio imenso dormia à beira do rio Uraricoera. Nenhum conhecido sobre a terra não sabia nem falar da tribo nem contar aqueles casos tão pançudos. Quem podia saber do Herói? Mário de Andrade. 1. A leitura comparativa dos dois textos indica que a) ambos têm como tema a figura do indígena brasileiro apresentada de forma realista e heróica, como símbolo máximo do nacionalismo romântico. b) a abordagem da temática adotada no texto escrito em versos é discriminatória em relação aos povos indígenas do Brasil. c) as perguntas "- Quem há, como eu sou?" (1º. texto) e "Quem podia saber do Herói?" (2º. texto) expressam diferentes visões da realidade indígena brasileira. d) o texto romântico, assim como o modernista, aborda o extermínio dos povos indígenas como resultado do processo de colonização no Brasil. e) os versos em primeira pessoa revelam que os indígenas podiam expressar-se poeticamente, mas foram silenciados pela colonização, como demonstra a presença do narrador, no segundo texto. RESPOSTA C TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO (Fatec 2008) NOTÍCIA DA ATUAL LITERATURA BRASILEIRA - INSTINTO DE NACIONALIDADE Quem examina a atual literatura brasileira reconhece-lhe logo, como primeiro traço, certo instinto de nacionalidade. Poesia, romance, todas as formas literárias do pensamento buscam vestir-se com as cores do país, e não há negar que semelhante preocupação é sintoma de vitalidade e abono de futuro. As tradições de Gonçalves Dias, Porto Alegre e Magalhães são assim continuadas pela geração já feita e pela que ainda agora madruga, como aqueles continuaram as de José Basílio da Gama e Santa Rita Durão. Escusado é dizer a vantagem deste universal acordo. Interrogando a vida brasileira e a natureza americana, prosadores e poetas acharão ali farto manancial de inspiração e irão dando fisionomia própria ao pensamento nacional. Esta outra independência não tem Sete de Setembro nem campo de Ipiranga; não se fará num dia, mas

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AULA PRÁTICA III– LITERATURA PARA O ENEM 2012 TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO (Enem 2007) O CANTO DO GUERREIRO Aqui na floresta Dos ventos batida, Façanhas de bravos Não geram escravos, Que estimem a vida Sem guerra e lidar. - Ouvi-me, Guerreiros, - Ouvi meu cantar. Valente na guerra, Quem há, como eu sou? Quem vibra o tacape Com mais valentia? Quem golpes daria Fatais, como eu dou? - Guerreiros, ouvi-me; - Quem há, como eu sou? Gonçalves Dias. MACUNAÍMA (Epílogo) Acabou-se a história e morreu a vitória. Não havia mais ninguém lá. Dera tangolomângolo na tribo Tapanhumas e os filhos dela se acabaram de um em um. Não havia mais ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles campos, furos puxadouros arrastadouros meios-barrancos, aqueles matos misteriosos, tudo era solidão do deserto... Um silêncio imenso dormia à beira do rio Uraricoera. Nenhum conhecido sobre a terra não sabia nem falar da tribo nem contar aqueles casos tão pançudos. Quem podia saber do Herói? Mário de Andrade. 1. A leitura comparativa dos dois textos indica que a) ambos têm como tema a figura do indígena brasileiro apresentada de forma realista e heróica, como símbolo máximo do nacionalismo romântico. b) a abordagem da temática adotada no texto escrito em versos é discriminatória em relação aos povos indígenas do Brasil. c) as perguntas "- Quem há, como eu sou?" (1º. texto) e "Quem podia saber do Herói?" (2º. texto) expressam diferentes visões da realidade indígena brasileira. d) o texto romântico, assim como o modernista, aborda o extermínio dos povos indígenas como resultado do processo de colonização no Brasil. e) os versos em primeira pessoa revelam que os indígenas podiam expressar-se poeticamente, mas foram silenciados pela colonização, como demonstra a presença do narrador, no segundo texto. RESPOSTA C TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO (Fatec 2008) NOTÍCIA DA ATUAL LITERATURA BRASILEIRA - INSTINTO DE NACIONALIDADE Quem examina a atual literatura brasileira reconhece-lhe logo, como primeiro traço, certo instinto de nacionalidade. Poesia, romance, todas as formas literárias do pensamento buscam vestir-se com as cores do país, e não há negar que semelhante preocupação é sintoma de vitalidade e abono de futuro. As tradições de Gonçalves Dias, Porto Alegre e Magalhães são assim continuadas pela geração já feita e pela que ainda agora madruga, como aqueles continuaram as de José Basílio da Gama e Santa Rita Durão. Escusado é dizer a vantagem deste universal acordo. Interrogando a vida brasileira e a natureza americana, prosadores e poetas acharão ali farto manancial de inspiração e irão dando fisionomia própria ao pensamento nacional. Esta outra independência não tem Sete de Setembro nem campo de Ipiranga; não se fará num dia, mas

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pausadamente, para sair mais duradoura; não será obra de uma geração nem duas; muitos trabalharão para ela até perfazê-la de todo. (Machado de Assis, "Crítica". Texto adaptado.) 2. Considere as informações contidas nos itens a seguir. I Basílio da Gama: poesia épica árcade dedicada ao tema indianista. II Gonçalves Dias: poesia lírica romântica de exaltação da natureza nativa. III Santa Rita Durão: poesia épica árcade com resgate de fatos históricos desde o descobrimento do Brasil. IV José de Alencar: romance romântico, com procura da cor local e representação de costumes do interior. As referências de Machado de Assis ao "instinto de nacionalidade" na literatura brasileira aplicam-se a a) todos os itens. b) aos itens I e II apenas. c) aos itens II e III apenas. d) aos itens I, III e IV apenas. e) aos itens II, III e IV apenas. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO (Ufrrj 2005) Descreve o que era realmente naquele tempo a cidade da Bahia A cada canto um grande conselheiro Que nos quer governar a cabana, e vinha, Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro. Em cada porta um freqüentado olheiro, Que a vida do vizinho, e da vizinha Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha, Para a levar à Praça, e ao Terreiro. Muitos Mulatos desavergonhados, Trazidos pelos pés os homens nobres, Posta nas palmas toda a picardia. Estupendas usuras nos mercados, Todos, os que não furtam, muito pobres, E eis aqui a cidade da Bahia. MATOS, Gregório de. In: BARBOSA, F. (org.) "Clássicos da Poesia Brasileira." RJ: Klick Editora, 1998, p.24/25. 3. A crítica à incapacidade dos portugueses de governar o Brasil e a conseqüente pobreza do povo são temas presentes nesse poema barroco de Gregório de Matos e representam uma característica retomada, mais tarde, pelo Romantismo. Essa característica é a) o sentimento nativista. b) a preferência pelo soneto. c) a denúncia da escravidão. d) a tendência regionalista. e) a volta ao passado histórico. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO (Fatec 2007) TEXTO I Em pé, no meio do espaço que formava a grande abóbada de árvores, encostado a um velho tronco decepado pelo raio, via-se um índio na flor da idade. Uma simples túnica de algodão, a que os indígenas chamavam aimará, apertada à cintura por uma faixa de penas escarlates, caía-lhe dos ombros até ao meio da perna, e desenhava o talhe delgado e esbelto como um junco selvagem. Sobre a alvura diáfana do algodão, a sua pele, cor de cobre, brilhava com reflexos dourados; os cabelos pretos cortados rentes, a tez lisa, os olhos grandes com os cantos exteriores erguidos para a fronte; a pupila negra, móbil, cintilante;

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a boca forte mas bem modelada e guarnecida de dentes alvos, davam ao rosto pouco oval a beleza inculta da graça, da força e da inteligência. TEXTO II Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, dandava pra ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaimuns diz-que habitando a água doce por lá. Nem bem teve seis anos deram água num chocalho pra ele e começou falando como todos. E pediu pra mãe que largasse a mandioca ralando na cevadeira e levasse ele passear no mato. A mãe não quis porque não podia largar da mandioca não. Ele choramingou dia inteiro. (Texto com adaptações.) 4. Considere as seguintes afirmações acerca desses textos. I. Os dois textos são descritivos: no Texto I predomina a descrição estática, de traços físicos da personagem; no texto II predomina a descrição dinâmica, de ações que caracterizam a personagem. II. Identifica-se o texto I como produto do Romantismo, especialmente pelo traço de idealização do herói exposto na linguagem. III. As marcas de estilo presentes no texto II são próprias do Modernismo: imitação do linguajar coloquial, palavras e construções da língua popular. IV. O resgate da temática indianista está presente nos dois textos, com o mesmo tratamento, prestigiando o elemento local e adotando igual ponto de vista na composição da singular identidade do homem brasileiro. Deve-se concluir que estão corretas as afirmações: a) I, II e III, apenas. b) I, III e IV, apenas. c) II, e IV, apenas. d) II, III e IV apenas. e) I, II, III e IV.

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5. (Ufrrj 2006) A CRUZ DA ESTRADA Caminheiro que passas pela estrada, Seguindo pelo rumo do sertão, Quando vires a cruz abandonada, Deixa-a em paz dormir na solidão. É de um escravo humilde sepultura, Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz. Deixa-o dormir no leito de verdura, Que o Senhor dentre as selvas lhe compôs. Dentre os braços da cruz, a parasita, Num abraço de flores se prendeu. Chora orvalhos a grama, que palpita; Lhe acende o vaga-lume o facho seu. Caminheiro! Do escravo desgraçado O sono agora mesmo começou! Não lhe toques no leito de noivado, Há pouco a liberdade o desposou.

(ALVES, Castro. (1883) In: LAJOLO, Marisa & CAMPEDELLI, Samira (org.) "Literatura comentada". 2 ed. São

Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 89-90.) Nesse fragmento do poema "A cruz da estrada", observa-se um traço marcante da poesia romântica, que é a) o egocentrismo exacerbado revelador das emoções do eu. b) o nacionalismo expresso na origem histórica do nosso povo. c) o envolvimento subjetivo dos elementos da natureza. d) a evasão do eu para espaços distantes e exóticos. e) a idealização da infância como uma época perfeita. 6. (Fuvest 2009) Em um poema escrito em louvor de "Iracema", Manuel Bandeira afirma que, ao compor esse livro, Alencar "[...] escreveu o que é mais poema Que romance, e poema menos Que um mito, melhor que Vênus." Segundo Bandeira, em "Iracema", a) Alencar parte da ficção literária em direção à narrativa mítica, dispensando referências a coordenadas e personagens históricas. b) o caráter poemático dado ao texto predomina sobre a narrativa em prosa, sendo, por sua vez, superado pela constituição de um mito literário. c) a mitologia tupi está para a mitologia clássica, predominante no texto, assim como a prosa está para a poesia. d) ao fundir romance e poema, Alencar, involuntariamente, produziu uma lenda do Ceará, superior à mitologia clássica. e) estabelece-se uma hierarquia de gêneros literários, na qual o termo superior, ou dominante, é a prosa romanesca, e o termo inferior, o mito.

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7. (Fuvest 2008) Considere as seguintes comparações entre "Vidas secas" e "Iracema": I. Em ambos os livros, a parte final remete o leitor ao início da narrativa: em "Vidas secas", essa recondução marca o retorno de um fenômeno cíclico; em "Iracema", a remissão ao início confirma que a história fora contada em retrospectiva, reportando-se a uma época anterior à da abertura da narrativa. II. A necessidade de migrar é tema de que "Vidas secas" trata abertamente. O mesmo tema, entretanto, já era sugerido no capítulo final de "Iracema", quando, referindo-se à condição de migrante de Moacir, "o primeiro cearense", o narrador pergunta: "Havia aí a predestinação de uma raça?" III. As duas narrativas elaboram suas tramas ficcionais a partir de indivíduos reais, cuja existência histórica, e não meramente ficcional, é documentada: é o caso de Martim e Moacir, em "Iracema", e de Fabiano e sinha Vitória, em "Vidas secas". Está correto o que se afirma em a) I, somente. b) II, somente. c) I e II, somente. d) II e III, somente. e) I, II e III.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES.

(Unifesp 2005) Senhor feudal

Se Pedro Segundo

Vier aqui

Com história

Eu boto ele na cadeia.

(Oswald de Andrade)

8. Considere as seguintes características do Modernismo brasileiro:

I. busca de uma língua brasileira;

II. versos livres;

III. ironia e humor.

Nos versos de Oswald de Andrade,

a) apenas I está presente.

b) apenas III está presente.

c) apenas I e II estão presentes.

d) apenas I e III estão presentes.

e) I, II e III estão presentes.

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33. Considerando os pressupostos do Modernismo e da poética oswaldiana, é correto afirmar que a alusão a D.

Pedro II, figura da corte portuguesa, sugere

a) a reafirmação da base literária brasileira, decalque dos valores europeus.

b) a negação do valor da literatura portuguesa e apresenta a brasileira como insuperável.

c) a sátira ao referencial artístico português e, por extensão, critica a importação de valores literários europeus.

d) o confronto entre a arte literária brasileira e a portuguesa, elucidando a inevitável influência desta para a

formação daquela.

e) a pouca influência recebida da arte literária portuguesa, o que confere autenticidade à literatura brasileira.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO

(Unifesp 2006) VERSOS DE NATAL

Espelho, amigo verdadeiro,

Tu refletes as minhas rugas,

Os meus cabelos brancos,

Os meus olhos míopes e cansados.

Espelho, amigo verdadeiro,

Mestre do realismo exato e minucioso,

Obrigado, obrigado!

Mas se fosses mágico,

Penetrarias até ao fundo desse homem triste,

Descobririas o menino que sustenta esse homem,

O menino que não quer morrer,

Que não morrerá senão comigo,

O menino que todos os anos na véspera do Natal

Pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta.

(Manuel Bandeira)

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9. Sobre Manuel Bandeira, é correto afirmar que

a) a insistência em temas relacionados ao sonho e à fantasia aponta para uma concepção de vida fugidia e

distanciada da realidade. Dessa forma, entende-se o poeta na transição entre o Realismo e Modernismo.

b) sua obra é muito pouco alinhada ao Modernismo, pois sua expressão exclui por completo a linguagem

popular, priorizando a erudição e a contenção criadora.

c) o desapego aos temas do cotidiano o aponta como um poeta que, embora inserido no Modernismo, está

muito distanciado das causas sociais e da busca de uma identidade nacional, como fizeram seus

contemporâneos.

d) o movimento modernista teve com seu trabalho e com o de poetas como Oswald e Mário de Andrade a base

de sua criação. Bandeira recriou literariamente suas experiências pessoais, com temas como o amor, a morte e

a solidão, aos quais conferiu um valor mais universal.

e) o poeta trata de temas bastante recorrentes ao Romantismo, como a saudade, a infância e a solidão. Além

disso, expressa-se como os românticos, já que tem uma visão idealizada do mundo. Daí seu distanciamento

dos demais modernistas da primeira fase.

(Puccamp) No dia seguinte Fabiano voltou à cidade, mas ao fechar o negócio notou que as operações de Sinha

Vitória, como de costume, diferiam das do patrão. Reclamou e obteve a explicação habitual: a diferença era

proveniente de juros.

Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, sim senhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas a

mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu

os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito

aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria!

(Graciliano Ramos, "Vidas secas")

10. Nesse trecho do capítulo "Contas", de "Vidas secas", Fabiano se mostra

a) surpreendentemente revoltado, pois em nenhuma outra passagem da novela há nele desejo de reagir contra

quem o oprime.

b) francamente indignado, mas, na seqüência, mais uma vez não encontrará palavras e forças para enfrentar

quem o oprime.

c) perturbado e indeciso entre os cálculos dos juros feitos pelo patrão e aqueles feitos pela mulher.

d) como alguém que se sente um bicho, para quem toda violência humana é equivalente às violências da

natureza.

e) irritado e desconfiado, mas, na seqüência, terá certeza da trapaça e acabará por se impor diante do patrão.

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11. Um dos mais freqüentes recursos do narrador de "Vidas secas" é a utilização do discurso indireto livre, no

qual a voz do narrador e a da personagem parecem se confundir. É exemplo desse tipo de discurso a frase

a) Estava direito aquilo?

b) Reclamou e obteve a explicação habitual.

c) Não se descobriu o erro.

d) ... a diferença era proveniente de juros.

e) ... ao fechar o negócio notou ...

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12. (Ufrrj) Escrito por Graciliano Ramos em 1938, "Vidas Secas" é uma obra-prima do modernismo e mesmo de

toda a literatura brasileira. Trata-se de narrativa pungente, onde o drama do nordestino, tangido de seu lar pela

inclemência da seca, é contado de forma árida, seca e bastante realista, numa sintonia bastante eficaz entre

forma e conteúdo.

O texto a seguir é um excerto de "Vidas Secas":

"Olhou a catinga amarela, que o poente avermelhava. Se a seca chegasse, não ficaria planta verde. Arrepiou-

se. Chegaria, naturalmente. Sempre tinha sido assim, desde que ele se entendera. E antes de se entender,

antes de nascer, sucedera o mesmo - anos bons misturados com anos ruins. A desgraça estava em caminho,

talvez andasse perto. Nem valia a pena trabalhar. Ele marchando para casa, trepando a ladeira, espalhando

seixos com as alpercatas - ela se avizinhando a galope, com vontade de matá-lo."

RAMOS, Graciliano. "Vidas Secas". São Paulo: Martins. s/d. 28 ed., p. 59.

Assinale a afirmativa que indica uma característica do modernismo e do estilo do autor, tomando por base a

leitura do texto.

a) Há um extremo apuro formal, onde se destacam as metáforas, sobretudo as hipérboles, em absoluta

consonância com a prolixidade do texto.

b) O estilo direto do texto está sintonizado com a narrativa, que descreve uma cena de grande movimentação e

presença de personagens.

c) O texto é seco e direto, confrontando um cenário de exuberância natural com um personagem tímido,

reservado e de poucas ambições.

d) O texto é direto, econômico, interessa mais a angústia interior dos personagens do que seus próprios atos.

e) A fatalidade da situação é explorada ao limite máximo, com a natureza pactuando com as angústias do

personagem, mas, ao final, subjugando-se.

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13. (Ufrs) Leia o fragmento abaixo, extraído de "Vidas Secas", de Graciliano Ramos.

"Olhou a caatinga amarela, que o poente avermelhava. Se a seca chegasse, não ficaria planta verde. Arrepiou-

se. Chegaria, naturalmente. Sempre tinha sido assim, desde que ele se entendera. E antes de se entender,

antes de nascer, sucedera o mesmo - anos bons misturados com anos ruins. A desgraça estava em caminho,

talvez andasse perto. Nem valia a pena trabalhar. Ele marchando para casa, trepando a ladeira, espalhando

seixos com as alpercatas - ela se avizinhando a galope, com vontade de matá-lo.

Virou o rosto para fugir à curiosidade dos filhos, benzeu-se. Não queria morrer. Ainda tencionava correr o

mundo, ver terras, conhecer gente importante como seu Tomás da bolandeira. Era uma sorte ruim, mas

Fabiano desejava brigar com ela, sentir-se com força para brigar com ela e vencê-la. Não queria morrer. Estava

escondido no mato como tatu. Duro, lerdo como tatu. Mas um dia sairia da toca, andaria com a cabeça

levantada, seria homem.

- Um homem, Fabiano.

Coçou o queixo cabeludo, parou, reacendeu o cigarro. Não, provavelmente não seria um homem: seria aquilo

mesmo a vida inteira, cabra, governado pelos brancos, quase uma rês na fazenda alheia."

Considere as seguintes afirmações sobre o fragmento acima.

I - Interessa ao narrador registrar, além da tragédia natural provocada pela seca, a opressão social que recai

sobre Fabiano.

II - Para não demonstrar seus sentimentos diante da proximidade da desgraça, Fabiano evita o olhar dos filhos.

III - Fabiano tenta compreender o mundo, mas, respondendo ao conflito interno, rebela-se contra o seu destino.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas I e II.

c) Apenas I e III.

d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

AS PRÓXIMAS QUESTÕES SÃO DO ENEM 2011 Quem é pobre, pouco se apega, é um giro-o-giro no vago dos gerais, que nem os pássaros de rios e lagoas. O senhor vê: o Zé-Zim, o melhor meeiro meu aqui, risonho e habilidoso. Pergunto: – Zé-Zim, por que é que você não cria galinhas-d’angola, como todo o mundo faz? – Quero criar nada não... – me deu resposta: -Eu gosto muito de mudar. […] Belo um dia, ele tora. Ninguém discrepa. Eu, tantas, mesmo digo. Eu dou proteção. […] Essa não faltou

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também à minha mãe, quando eu era menino, no sertãozinho de minha terra. […] Gente melhor do lugar eram todos dessa família Guedes, Jidião Guedes; quando saíram de lá, nos trouxeram junto, minha mãe e eu. Ficamos existindo em território baixio da Sirga, da outra banda, ali onde o de – Janeiro vai no São Francisco, o senhor sabe.

ROSA, J. G. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: José Olympio (fragmento).

14. Na passagem citada, Riobaldo expõe uma situação decorrente de uma desigualdade social típica das áreas rurais brasileiras marcadas pela concentração de terras e pela relação de dependência entre agregados e fazendeiros. No texto, destaca-se essa relação porque o personagem-narrador a) relata a seu interlocutor a história de Zé-Zim, demonstrando sua pouca disposição em ajudar seus agregados, uma vez que superou essa condição graças à sua força de trabalho. b) descreve o processo de transformação de um meeiro – espécie de agregado – em proprietário de terra. c) denuncia a falta de compromisso e a desocupação dos moradores, que pouco se envolvem no trabalho da terra. d) mostra como a condição material da vida do sertanejo é dificultada pela sua dupla condição de homem livre e, ao mesmo tempo, dependente. e) mantém o distanciamento narrativo condizente com sua posição social, de proprietário de terras. TEXTO I Onde está a honestidade? Você tem palacete reluzente Tem joias e criados à vontade Sem ter nenhuma herança ou parente Só anda de automóvel na cidade... E o povo já pergunta com maldade: Onde está a honestidade? Onde está a honestidade? O seu dinheiro nasce de repente E embora não se saiba se é verdade Você acha nas ruas diariamente Anéis, dinheiro e felicidade... Vassoura dos salões da sociedade Que varre o que encontrar em sua frente Promove festivais de caridade Em nome de qualquer defunto ausente... ROSA, N. Disponível em: http://www.mpbnet.com.br. Acesso em: abr. 2010. TEXTO II Um vulto da história da música popular brasileira, reconhecido nacionalmente, é Noel Rosa. Ele nasceu em 1910, no Rio de Janeiro; portanto, se estivesse vivo, estaria completando 100 anos. Mas faleceu aos 26 anos de idade, vítima de tuberculose, deixando um acervo de grande valor para o patrimonio cultural brasileiro. Muitas de suas letras representam a sociedade contemporânea, como se tivessem sido escritas no século XXI.

Disponivel em: http://www.mpbnet.com.br Acesso em: abr. 2010.

15. Um texto pertencente ao patrimônio literário-cultural brasileiro é atualizável, na medida em que ele se refere a valores e situações de um povo. A atualidade da canção Onde está a honestidade?, de Noel Rosa, evidencia-se por meio a) da ironia, ao se referir ao enriquecimento de origem duvidosa de alguns. b) da crítica aos ricos que possuem joias, mas não têm herança. c) da maldade do povo a perguntar sobre a honestidade. d) do privilégio de alguns em clamar pela honestidade.

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e) da insistência em promover eventos beneficentes. TEXTO I O meu nome é Severino, não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria; como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias, Mas isso ainda diz pouco: há muitos na freguesia, por causa de um coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor desta sesmaria. Como então dizer quem falo ora a Vossas Senhorias? MELO NETO, J. C. Obra Completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1994 (fragmento). TEXTO II João Cabral, que já emprestara sua voz ao rio, transfere-a, aqui ,ao retirante Severino, que, como o Capibaribe, também segue no caminho do Recife. A autoapresentação do personagem, na fala inicial do texto, nos mostra um Severino que, quanto mais se define, menos se individualiza, pois seus traços biográficos são sempre partilhados por outros homens.

SECCHIN, A. C. João Cabral: a poesia do menos. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999 (fragmento).

16. Com base no trecho de Morte e Vida Severina (Texto I) e na análise crítica (Texto II), observa-se que a relação entre o texto poético e o contexto social a que ele faz referência aponta para um problema social expresso literariamente pela pergunta “Como então dizer quem fala / ora a Vossas Senhorias?”. A resposta à pergunta expressa no poema é dada por meio da a) descrição minuciosa dos traços biográficos do personagem-narrador. b) construção da figura do retirante nordestino como um homem resignado com a sua situação. c) representação, na figura do personagem-narrador, de outros Severinos que compartilham sua condição. d) apresentação do personagem-narrador como uma projeção do próprio poeta, em sua crise existencial. e) descrição de Severino, que, apesar de humilde, orgulha-se de ser descendente do coronel Zacarias. Não tem tradução [...] Lá no morro, se eu fizer uma falseta A Risoleta desiste logo do francês e do inglês A gíria que o nosso morro criou Bem cedo a cidade aceitou e usou [...] Essa gente hoje em dia que tem mania de exibição Não entende que o samba não tem tradução no idioma francês Tudo aquilo que o malandro pronuncia Com voz macia é brasileiro, já passou de português Amor lá no morro é amor pra chuchu As rimas do samba não são I love you E esse negócio de alô, alô boy e alô Johnny Só pode ser conversa de telefone

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ROSA, N. in: SOBRAL, João J. V. A tradução dos bambas Revista Língua Portuguesa. Ano 4, n.º 54. São Paulo.

Segmento. abr. 2010 (fragmento). 17. As canções de Noel Rosa, compositor brasileiro de Vila Isabel, apesar de revelarem uma aguçada preocupação do artista com seu tempo e com as mudanças políticoculturais no Brasil, no início dos anos 1920, ainda são modernas. Nesse fragmento do samba Não tem tradução, por meio do recurso da metalinguagem, o poeta propõe a) incorporar novos costumes de origem francesa e americana, juntamente com vocábulos estrangeiros. b) respeitar e preservar o português padrão como forma de fortalecimento do idioma do Brasil. c) valorizar a fala popular brasileira como patrimônio linguístico e forma legítima de identidade nacional. d) mudar os valores sociais vigentes à época, com o advento do novo e quente ritmo da música popular brasileira. e) ironizar a malandragem carioca, aculturada pela invasão de valores étnicos de sociedades mais desenvolvidas.

LEIRNER, N. Tronco com cadeira (detalhe), 1964. Disponível em: http://www.itaucultural.org.br Acesso em: 27 jul. 2010. 18. Nessa estranha dignidade e nesse abandono, o objeto foi exaltado de maneira ilimitada e ganhou um significado que se pode considerar mágico. Daí sua “vida inquietante e absurda”. Tornou-se ídolo e, ao mesmo tempo, objeto de zombaria. Sua realidade intrínseca foi anulada.

JAFFÉ, A. O simbolismo nas artes plásticas. In: JUNG, C. G. (org.). O homem e os seus símbolos.

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. A relação observada entre a imagem e o texto apresentados permite o entendimento da intenção de um artista contemporâneo. Neste caso, a obra apresenta características a) funcionais e de sofisticação decorativa. b) futuristas e do abstrato geométrico,

c) construtivistas e de estruturas modulares. d) abstracionistas e de releitura do objeto. e) figurativas e de representação do cotidiano Estrada Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho, Interessa mais que uma avenida urbana. Nas cidades todas as pessoas se parecem. Todo mundo é igual. Todo o mundo é toda a gente. Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma. Cada criatura é única. Até os cães. Estes cães da roça parecem homens de negócios: Andam sempre preocupados. E quanta gente vem e vai! E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar: Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho manhoso. Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos, Que a vida passa! que a vida passa! E que a mocidade vai acabar.

BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967. 19. A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de significados profundos a partir de elementos do cotidiano. No poema Estrada, o lirismo presente no contraste entre campo e cidade aponta para

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a) desejo do eu lírico de resgatar a movimentação dos centros urbanos, o que revela sua nostalgia com relação à cidade. b) a percepção do caráter efêmero da vida, possibilitada pela observação da aparente inércia da vida rural. c) a opção do eu lírico pelo espaço bucólico como possibilidade de meditação sobre a sua juventude. d) a visão negativa da passagem do tempo, visto que esta gera insegurança. e) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão acerca da morte.

20. O pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973), um dos mais valorizados no mundo artístico, tanto em termos financeiros quanto históricos, criou a obra Guernica em protesto ao ataque aéreo à pequena cidade basca de mesmo nome. A obra, feita para integrar o Salão Internacional de Artes Plásticas de Paris, percorreu toda a Europa, chegando aos EUA e instalando-se no MoMA, de onde sairia apenas em 1981. Essa obra cubista apresenta elementos plásticos identificados pelo a) painel ideográfico, monocromático, que enfoca várias dimensões de um evento, renunciando à realidade, colocando-se em plano frontal ao espectador. b) horror da guerra de forma fotográfica, com o uso da perspectiva clássica, envolvendo o espectador nesse exemplo brutal de crueldade do ser humano. c) uso das formas geométricas no mesmo plano, sem emoção e expressão, despreocupado com o volume, a perspectiva e a sensação escultórica. d) esfacelamento dos objetos abordados na mesma narrativa, minimizando a dor humana a serviço da objetividade, observada pelo uso do claro-escuro. e) uso de vários ícones que representam personagens fragmentados bidimensionalmente, de forma fotográfica livre de sentimentalismo. Pequeno concerto que virou canção Não, não há por que mentir ou esconder A dor que foi maior do que é capaz meu coração Não, nem há por que seguir cantando só para explicar Não vai nunca entender de amor quem nunca soube amar Ah, eu vou voltar pra mim Seguir sozinho assim Até me consumir ou consumir toda essa dor Até sentir de novo o coração capaz de amor

VANDRÉ, G. Disponível em: http://www.letras.terra.com.br Acesso em: 29 jun. 2011.

21. Na canção de Geraldo Vandré, tem-se a manifestação da função poética da linguagem, que é percebida na elaboração artística e criativa da mensagem, por meio de combinações sonoras e rítmicas. Pela análise do texto, entretanto, percebe-se, também, a presença marcante da função emotiva ou expressiva, por meio da qual o emissor

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a) imprime à canção as marcas de sua atitude pessoal, seus sentimentos. b) transmite informações objetivas sobre o tema de que trata a canção. c) busca persuadir o receptor da canção a adotar um certo comportamento. d) procura explicar a própria linguagem que utiliza para construir a canção. e) objetiva verificar ou fortalecer a eficiência da mensagem veiculada. 22. Quando os portugueses se instalaram no Brasil, o país era povoado de índios. Importaram, depois, da África, grande número de escravos. O Português, o Índio e o Negro constituem, durante o período colonial, as três bases da população brasileira. Mas no que se refere à cultura, a contribuição do Português foi de longe a mais notada. Durante muito tempo o português e o tupi viveram lado a lado como línguas de comunicação. Era o tupi que utilizavam os bandeirantes nas suas expedições. Em 1694,dizia o Padre Antônio Vieira que “as famílias dos portugueses e índios em São Paulo estão tão ligadas hoje umas com as outras, que as mulheres e os filhos se criam mística e domesticamente, e a língua que nas ditas famílias se fala é a dos Índios, e a portuguesa a vão os meninos aprender à escola.”

TEYSSIER, P. História da língua portuguesa. Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1984 (adaptado).

A identidade de uma nação está diretamente ligada à cultura de seu povo. O texto mostra que, no período colonial brasileiro, o Português, o Índio e o Negro formaram a base da população e que o patrimônio linguístico brasileiro é resultado da a) contribuição dos índios na escolarização dos brasileiros. b) diferença entre as línguas dos colonizadores e as dos indígenas. c) importância do padre Antônio Vieira para a literatura de língua portuguesa. d) origem das diferenças entre a língua portuguesa e as línguas tupi. e) interação pacífica no uso da língua portuguesa e da língua tupi. 23. Abatidos pelo fadinho harmonioso e nostálgico dos desterrados, iam todos, até mesmo os brasileiros, se concentrando e caindo em tristeza; mas, de repente, o cavaquinho de Porfiro, acompanhado pelo violão do Firmo, romperam vibrantemente com um chorado baiano. Nada mais que os primeiros acordes da música crioula para que o sangue de toda aquela gente despertasse logo, como se alguém lhe fustigasse o corpo com urtigas bravas. E seguiram-se outras notas, e outras, cada vez mais ardentes e mais delirantes. Já não eram dois instrumentos que soavam, eram lúbricos gemidos e suspiros soltos em torrente, a correrem serpenteando, como cobras numa floresta incendiada; eram ais convulsos, chorados em frenesi de amor: música feita de beijos e soluços gostosos; carícia de fera, carícia de doer, fazendo estalar de gozo.

AZEVEDO, A. O Cortiço. São Paulo: Ática, 1983 (fragmento).

No romance O Cortiço (1890), de Aluízio Azevedo, as personagens são observadas como elementos coletivos caracterizados por condicionantes de origem social, sexo e etnia. Na passagem transcrita, o confronto entre brasileiros e portugueses revela prevalência do elemento brasileiro, pois a) destaca o nome de personagens brasileiras e omite o de personagens portuguesas. b) exalta a força do cenário natural brasileiro e considera o do português inexpressivo. c) mostra o poder envolvente da música brasileira, que cala o fado português. d) destaca o sentimentalismo brasileiro, contrário à tristeza dos portugueses. e) atribui aos brasileiros uma habilidade maior com instrumentos musicais. Guardar Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. Em cofre não se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista. Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado. Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela. Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro Do que um pássaro sem voos.

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Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema: Para guardá-lo: Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda: Guarde o que quer que guarda um poema: Por isso o lance do poema: Por guardar-se o que se quer guardar.

MACHADO, G, in: MORICONI, I. (org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século.

Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. 24. A memória é um importante recurso do patrimônio cultural de uma nação. Ela está presenta nas lembranças do passado e no acervo cultural de um povo. Ao tratar o fazer poético como uma das maneiras de se guardar o que se quer, o texto a) ressalta a importância dos estudos históricos para a construção da memória social de um povo. b) valoriza as lembranças individuais em detrimento das narrativas populares ou coletivas. c) reforça a capacidade da literatura em promover a subjetividade e os valores humanos. d) destaca a importância de reservar o texto literário àqueles que possuem maior repertório cultural. e) revela a superioridade da escrita poética como forma ideal de preservação da memória cultural. Lépida e leve Língua do meu Amor velosa e doce, que me convences de que sou frase, que me contornas, que me vestes quase, como se o corpo meu de ti vindo me fosse. Língua que me cativas, que me enleias os surtos de ave estranha, em linhas longas de invisíveis teias, de que és, há tanto, habilidosa aranha... [...] Amo-te as sugestões gloriosas e funestas, amo-te como todas as mulheres te amam, ó língua-lama, ó língua-resplendor, pela carne de som que à ideia emprestas e pelas frases mudas que proferes nos silêncios de Amor!...

MACHADO, G. in: MORICONI, I. (org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva,

2001 (fragmento). 25. A poesia de Gilka Machado identifica-se com as concepções artísticas simbolistas. Entretanto, o texto selecionado incorpora referências temáticas e formais modernistas, já que, nele, a poeta a) procura desconstruir a visão metafórica do amor e abandona o cuidado formal. b) concebe a mulher como um ser sem linguagem e questiona o poder da palavra. c) questiona o trabalho intelectual da mulher e antecipa a construção do verso livre. d) propõe um modelo novo de erotização na lírica amorosa e propõe a simplificação verbal. e) explora a construção da essência feminina, a partir da polissemia de “língua”, e inova o léxico.