19
Macroeconomia Aula 07 - Macroeconomia: Contabilidade Nacional 95 Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb Aula 07 - Macroeconomia: Contabilidade Nacional Desenvolver no aluno o conhecimento da Macroeconomia, iniciando o estudo com a Contabilidade Nacional. Aprendendo os seguintes itens: • Os conceitos de Renda, Produto e Despesa Nacional • As diversas formas de contabilização do Produto • A identidade entre os três conceitos mencionados acima • As diferenças entre Produto Nominal e Real • As principais relações entre os componentes do Produto Introdução A Macroeconomia estuda os grandes processos da Economia nacional como um todo. Ela observa as variáveis econômicas (oferta, demanda, preços, etc.) em termos agregados, ou seja, abrangendo todos os agentes econômicos na escala de todo o território do país que está em foco. Por isso, costuma-se falar nos agregados macroeconômicos, que são as variáveis mais abrangentes da Economia. Produção, emprego e desemprego, nível de preços e inflação, participação do Governo na economia, exportações, importações, entrada e saída de capitais, taxa de câmbio: esses são os principais aspectos abordados por esta subdivisão das Ciências Econômicas. A Macroeconomia surgiu como ramo específico dos estudos econômicos a partir da obra do grande economista John Maynard Keynes: a “Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda”, publicada em 1936. Essa obra revolucionou as concepções tradicionais da Teoria Econômica. A principal corrente de idéias econômicas na época era a chamada escola neoclássica, surgida nos fins do século XIX. Havia economistas críticos dessa escola – a começar pelos marxistas, mas incluindo alguns outros economistas independentes -, porém o predomínio dos neoclássicos nas

Aula07[1] Macro Contabilidade Nacional

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Aula07[1] Macro Contabilidade Nacional

Macr

oeco

nomi

aAu

la 07

- M

acro

econ

omia:

Con

tabil

idade

Nac

ional

95Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

uvb

Aula 07 - Macroeconomia: Contabilidade Nacional

Desenvolver no aluno o conhecimento da Macroeconomia, iniciando o

estudo com a Contabilidade Nacional. Aprendendo os seguintes itens:

• Os conceitos de Renda, Produto e Despesa Nacional

• As diversas formas de contabilização do Produto

• A identidade entre os três conceitos mencionados acima

• As diferenças entre Produto Nominal e Real

• As principais relações entre os componentes do Produto

Introdução

A Macroeconomia estuda os grandes processos da Economia nacional

como um todo. Ela observa as variáveis econômicas (oferta, demanda,

preços, etc.) em termos agregados, ou seja, abrangendo todos os

agentes econômicos na escala de todo o território do país que está em

foco. Por isso, costuma-se falar nos agregados macroeconômicos, que

são as variáveis mais abrangentes da Economia. Produção, emprego

e desemprego, nível de preços e inflação, participação do Governo na

economia, exportações, importações, entrada e saída de capitais, taxa de

câmbio: esses são os principais aspectos abordados por esta subdivisão

das Ciências Econômicas.

A Macroeconomia surgiu como ramo específico dos estudos econômicos

a partir da obra do grande economista John Maynard Keynes: a “Teoria

Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda”, publicada em 1936. Essa obra

revolucionou as concepções tradicionais da Teoria Econômica.

A principal corrente de idéias econômicas na época era a chamada escola

neoclássica, surgida nos fins do século XIX. Havia economistas críticos

dessa escola – a começar pelos marxistas, mas incluindo alguns outros

economistas independentes -, porém o predomínio dos neoclássicos nas

Page 2: Aula07[1] Macro Contabilidade Nacional

Macr

oeco

nomi

aAu

la 07

- M

acro

econ

omia:

Con

tabil

idade

Nac

ional

96Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

uvb

Ciências Econômicas, nas universidades dos países avançados e entre os

políticos e empresários, era incontestável. Keynes apoiou-se na maioria

das concepções básicas dos neoclássicos, mas introduziu modificações

fundamentais e criou uma nova maneira de pensar nos problemas

macroeconômicos.

O objetivo principal da obra keynesiana era explicar como era possível

a existência de desemprego em massa nas economias capitalistas

desenvolvidas. Esse fato manifestou-se com a Grande Depressão de 1929

e durou quase toda a década de 1930. A teoria neoclássica não tinha

explicações para o problema e propunha soluções que, na época, eram

disparatadas. Keynes abordou a questão de um novo ângulo e ofereceu

respostas mais efetivas para enfrentar a situação. Suas sugestões acabaram

incorporadas ao corpo principal da Teoria Econômica e, nas três décadas

seguintes à Segunda Guerra Mundial (1939-45), tornaram-se o receituário

comum nos países avançados.

Desenvolvimento

A Contabilidade Nacional

O estudo da Macroeconomia apóia-se no registro estatístico dos principais

fluxos da produção e da renda. Este registro (denominado Contabilidade

Nacional) segue normas e princípios definidos, cada vez mais uniformizados

em escala internacional. A partir do impulso dado pela teoria keynesiana,

os países desenvolvidos e, a seguir, todos os países que se empenhavam na

busca do desenvolvimento econômico em moldes capitalistas, passaram

a sistematizar esses registros na segunda metade do século XX.

Para compreender a Contabilidade Nacional, um bom início de conversa

pode ser uma revisão da Aula 1- Parte IV (texto de G. Mankiw). Aí você

encontra o fluxo circular da renda. Esse fluxo vai nos mostrar de forma

simplificada os principais agregados macroeconômicos: o Produto, a

Renda e a Despesa.

Page 3: Aula07[1] Macro Contabilidade Nacional

Macr

oeco

nomi

aAu

la 07

- M

acro

econ

omia:

Con

tabil

idade

Nac

ional

97Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

uvb

• Produto: é a denominação genérica para toda a produção de bens e

serviços finais de uma economia. Costuma-se usar dois modos de

contabilizá-lo: o Produto Nacional Bruto (PNB) e o Produto Interno

Bruto (PIB). O PNB é mais usado nos EUA; o Brasil usa mais o PIB.

Veremos como eles são calculados e a relação entre ambos; na

verdade, são maneiras distintas de medir o fluxo anual da produção

nacional de bens e serviços.

• Renda: como você viu na Aula 1, citada, as famílias recebem

remunerações pela venda de seus fatores de produção às empresas.

Essas remunerações são chamadas de Renda. A renda da terra é

o aluguel, a do capital é o lucro (ou os juros, quando o capital é

emprestado por terceiros) e a renda do trabalho é o salário. Assim,

aluguéis, lucros, juros e salários são os principais componentes

da Renda Nacional de um país. O valor da Renda Nacional iguala

o valor do Produto Nacional (veremos adiante como ocorre essa

igualdade).

• Despesa: os agentes econômicos (empresários, consumidores,

governo, outros países) compram a produção de bens e serviços

da economia nacional. Essa distribuição do produto entre os

agentes que o adquirem é um elemento importante do estudo da

Macroeconomia.

A primeira expressão importante da Macroeconomia é a que afirma a

igualdade entre esses três conceitos. De fato, trata-se de uma igualdade por

definição, o que faz com que a consideremos mais do que uma igualdade:

é uma identidade macroeconômica. Assim, dizemos que o Produto sempre

é igual à Renda e à Despesa, em termos agregados.

O Produto - Apuração e Contabilização

Atente para a definição do Produto acima. Referimo-nos a bens e serviços

finais. No processo de produção, alguns bens possuem caráter intermediário:

são resultados de um processamento, mas voltam ao circuito produtivo para

dar origem a outros bens. Aço, petróleo, produtos químicos, fertilizantes,

metais processados são alguns exemplos. Não servem para o consumo das

Page 4: Aula07[1] Macro Contabilidade Nacional

Macr

oeco

nomi

aAu

la 07

- M

acro

econ

omia:

Con

tabil

idade

Nac

ional

98Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

uvb

famílias, nem das empresas; são apenas etapas intermediárias de produção.

Esses bens não se incluem no Produto. Já uma máquina é um bem final

comprado por uma empresa, como um celular é um bem final de consumo

das famílias. Esses bens (de consumo e de capital) formam o Produto

Nacional ou Interno.

Há três maneiras de computar o valor total da produção de bens e serviços

finais:

• somando diretamente o valor dos bens e serviços finais;

• somando o valor total da produção das empresas e descontando o

valor total dos bens intermediários; ou fazendo este procedimento

passo-a- passo, isto é,

• calculando o valor de cada etapa do processo produtivo e descontando

o que as empresas pagaram aos fornecedores da etapa anterior (p.

ex., matérias-primas) – esse procedimento é chamado de cálculo

pelo Valor Adicionado. Veja a tabela abaixo, que mostra um processo

simples de fabricação de pão e calcula o Valor Adicionado:

O moinho e a padaria compraram bens intermediários (trigo e farinha,

respectivamente) que devem ser descontados no cômputo geral. Se não

fizermos isso, chegaremos a um valor errado de toda a produção ($ 230).

Nesse valor, contamos duas vezes a farinha e três vezes o trigo, os quais

estavam embutidos nos preços das etapas posteriores. Descontando-os

dessas etapas, estamos apurando o Valor Adicionado de cada etapa do

processo de produção. Também é fácil observar que o valor do produto

final (pão) é igual à soma dos Valores Adicionados.

Este último procedimento é mais adequado à economias complexas, que

envolvem inúmeras empresas em diversos setores produtivos e múltiplas

Page 5: Aula07[1] Macro Contabilidade Nacional

Macr

oeco

nomi

aAu

la 07

- M

acro

econ

omia:

Con

tabil

idade

Nac

ional

99Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

uvb

transações entre elas.

A contabilização do Produto envolve diversos conceitos, que enumeraremos

a seguir.

Produto Nacional e Produto Interno

O primeiro computa toda a produção cuja renda é apropriada por residentes

no país. Assim, a renda (aluguéis, lucros, juros e salários) dos fatores de

produção (terra, trabalho e capital) pertencentes a pessoas físicas e jurídicas

do país no Exterior é descontada do Produto. Por outro lado, os fatores de

produção de outros países, cuja renda é apropriada pelos residentes do

país em foco, tem essa renda computada no Produto Nacional deste último.

Podemos citar como exemplo do primeiro caso os dividendos remetidos

pela Volkswagen e pela IBM à suas matrizes na Alemanha e nos EUA,

respectivamente. O segundo caso pode ser exemplificado pelos lucros

remetidos ao Brasil pela Construtora Odebrecht com obras de engenharia

realizadas em outros países, ou os resultados das agências do Banco Itaú no

Exterior, remetidos à matriz no Brasil.

Em outras palavras, o PN inclui a Renda Recebida do Exterior (Rre) e desconta

a Renda Enviada ao Exterior (Ree). Mais comumente, dizemos que a Renda

Líquida de Fatores Externos (RLFE) é incluída no Produto Nacional. O termo

líquida significa a diferença entre o que foi recebido e enviado.

Já o Produto Interno informa toda a produção realizada no território do

país em questão, sendo indiferente se a apropriação da renda é feita por

nacionais ou estrangeiros¹ . Da mesma forma, ele desconta a renda de

fatores externos (em outros países) recebida por nacionais (residentes no

país).

Temos, assim, a seguinte relação:

PIB + RLFE = PNB, ou

PNB – RLFE = PIB

Page 6: Aula07[1] Macro Contabilidade Nacional

Macr

oeco

nomi

aAu

la 07

- M

acro

econ

omia:

Con

tabil

idade

Nac

ional

100Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

uvb

Mais analiticamente, podemos dizer que:

PIB + Rre – Ree = PNB, ou

PNB – Rre + Ree = PIB, onde

Rre = renda recebida do Exterior

Ree = renda enviada ao Exterior

RLFE = Rre – Ree = renda líquida de fatores externos

Agora, você pode entender porque os EUA e o Brasil adotam conceitos

distintos de Produto. Os EUA são receptores líquidos de capital (recebem

mais do que enviam ao Exterior) – por isso, seu PNB é maior que seu PIB. O

Brasil é remetente líquido de capitais, pois paga mais renda a proprietários

externos de fatores no País do que recebe por fatores pertencentes a

brasileiros no Exterior. Assim, nosso PIB supera nosso PNB. Em 2003, o PIB

brasileiro foi de R$ 1,5 trilhão.

Produto Bruto e Líquido

Como vimos, os bens de capital fazem parte do Produto (Nacional ou

Interno). São bens finais comprados por empresas, não por famílias. No

entanto, uma parte desses bens irá apenas repor aqueles equipamentos e

máquinas que se desgastaram com o uso. Isso nos traz um novo conceito:

a depreciação. Trata-se do desgaste dos bens de capital pelo uso. Se

descontarmos a depreciação, então o Produto estará computando, além

dos bens de consumo e serviços, apenas o acréscimo líquido de bens de

capital – ou seja, o incremento da capacidade de produção dessa economia.

Trata-se do Produto (Nacional ou Interno) líquido.

Dessa forma, ao lado do PNB e do PIB, temos também o PNL e o PIL, dos

quais foi descontada a depreciação.

Page 7: Aula07[1] Macro Contabilidade Nacional

Macr

oeco

nomi

aAu

la 07

- M

acro

econ

omia:

Con

tabil

idade

Nac

ional

101Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

uvb

Produto a preços de mercado e a custo de fatores

Vamos refletir num ponto já abordado: o Valor Adicionado. No que consiste,

como se distribui, quais são seus componentes? Se considerarmos que o

Valor Adicionado é tudo o que foi acrescentado aos bens intermediários

em cada etapa da cadeia produtiva para transformá-los em bens finais,

perceberemos que ele nada mais é que o equivalente a remuneração dos

fatores de produção utilizados pela empresa nessa transformação: terra,

trabalho e capital. Essas remunerações - salários, lucros, juros e aluguéis - são

a renda dos proprietários dos fatores de produção. Por isso, dissemos mais

acima que a Renda e o Produto são idênticos. Em cada bem ou serviço que

compramos, estamos pagando salários, lucros, juros e aluguéis à empresa

que os produziu ou vendeu; esta, ao pagar pelos bens intermediários,

está fazendo o mesmo para a empresa fornecedora dos mesmos e assim

sucessivamente (na verdade, como os preços intermediários são repassados

adiante, o consumidor final é quem pagará a renda dos fatores de toda

a cadeia produtiva). Assim, a renda dos fatores de produção constitui o

verdadeiro custo de produção.

Mas o preço efetivo de muitos bens no mercado (o preço de mercado) não

reflete diretamente esses custos de produção (a renda dos proprietários dos

fatores usados para produzi-los). Em geral, ele é distorcido por impostos

indiretos – aqueles que incidem sobre o preço do produto, como o ICMS ou

o IPI. Outra distorção é que o governo, em alguns casos, fornece subsídios

aos produtores de certos bens, com o objetivo de mantê-los no mercado a

preços factíveis para muitos consumidores (como ocorre com o trigo, por

exemplo). Impostos indiretos aumentam o preço do bem em relação ao

seu custo de produção, enquanto o subsídio abaixa artificialmente esse

preço. Assim, o Produto, medido a preços de mercado (isto é, computando

os preços efetivos de compra e venda dos bens) difere do Produto a custo

de fatores (sem aquelas distorções). Para chegarmos ao custo dos fatores,

devemos abater dos preços de mercado os impostos indiretos e acrescentar

o valor dos subsídios. Surge, agora, uma nova relação:

Page 8: Aula07[1] Macro Contabilidade Nacional

Macr

oeco

nomi

aAu

la 07

- M

acro

econ

omia:

Con

tabil

idade

Nac

ional

102Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

uvb

PNBpm = PNBcf + Ii – Sub, ou

PNBcf = PNBpm – Ii + Sub, onde

pm = a preços de mercado

cf = a custo de fatores

Ii = impostos indiretos (incidentes sobre os preços)

Sub = subsídios concedidos aos produtores pelo Governo

Obs.: a relação acima vale tanto para o PNB como para o PIB (ou seja,

também usamos PIBcf e PIBpm).

Produto e Renda

Do que foi dito, percebe-se que o Produto Nacional a custo de fatores

está mais próximo da Renda Nacional do que o PN a preços de mercado.

Eliminando as distorções dos preços causadas pelos impostos e subsídios,

chegamos ao Valor Adicionado, que corresponde à renda dos proprietários

dos fatores utilizados na produção. O Produto Interno, por sua vez, está

incorporando renda de proprietários estrangeiros de fatores usados no país

e deixando de computar a renda de nacionais ganha no Exterior. Portanto,

tem maiores diferenças em relação à Renda. Ainda é necessário considerar

a depreciação, porque ela reduz o capital existente e, portanto, a renda

gerada na produção dos bens de capital que substituirão os desgastados

não representa um acréscimo, mas apenas uma reposição. Assim, chegamos

a uma identidade importante, que concretiza a afirmação do início desta

aula sobre igualdade entre Produto e Renda:

PNLcf = RN

Isto é, o Produto Nacional líquido a custo de fatores equivale à Renda Nacional

(o total dos aluguéis, lucros, juros e salários recebidos na economia).

Page 9: Aula07[1] Macro Contabilidade Nacional

Macr

oeco

nomi

aAu

la 07

- M

acro

econ

omia:

Con

tabil

idade

Nac

ional

103Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

uvb

Produto Nominal e Produto Real, Produto Per Capita

No exemplo simples da produção de pão, acima, imagine que os $ 100

tenham resultado da venda de 1.000 unidades a $ 0,10 cada uma. Agora,

suponha que no ano seguinte o preço do pão suba para $ 0,15 e sejam

vendidas, novamente, 1.000 unidades. Teremos um Produto de $ 150 em

lugar de $ 100. O valor do Produto cresceu 50%; mas isso significa o que,

exatamente? Apenas um aumento equivalente no preço, sem alteração

na quantidade. A sociedade não aumentou seu bem-estar, medido pela

disponibilidade de pães.

Essa é a razão pela qual distinguimos o Produto Nominal e o Produto Real.

O primeiro apura o valor da produção a preços correntes, isto é, aos preços

em vigor no momento das transações. Desta forma, estamos usando uma

moeda cujo poder de compra – medido em produtos que ela permite

adquirir – caiu. As comparações entre anos diferentes estão usando moedas

nominalmente iguais, mas distintas em termos reais.

O Produto Real é apurado a preços constantes. Isso significa que

multiplicamos os bens e serviços de um ano pelos preços do ano anterior

(ou posterior), para compará-los com os desse outro ano. Assim, estamos

medindo apenas as variações na quantidade produzida, evitando as

distorções provocadas pela variação dos preços.

Chamamos inflação a variação generalizada dos preços numa economia

(examinaremos melhor o assunto na Aula 12). A inflação é medida por

índices de preços que captam as principais variações destes ao longo

dos meses. Para manter os preços constantes, devemos, ou multiplicar o

Produto Nominal do Ano 1 pela inflação acumulada no Ano 2, ou dividir o

Produto Nominal do Ano 2 pela inflação deste mesmo ano, voltando assim

aos preços do Ano 1. Para isso, tomamos o índice de preços que representa

a inflação do ano desejado em forma decimal, acrescido de 1.

O IBGE adotou em 2007 uma nova fórmula para calcular do Produto Interno

Bruto (PIB), e com isso revisou em alta o crescimento da economia do país

Page 10: Aula07[1] Macro Contabilidade Nacional

Macr

oeco

nomi

aAu

la 07

- M

acro

econ

omia:

Con

tabil

idade

Nac

ional

104Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

uvb

entre 2002 e 2005.

De acordo com os novos cálculos do instituto, a economia brasileira cresceu

2,9% em 2005, e não 2,3%, como divulgado no ano passado.

O PIB brasileiro de 2005 em valores foi de R$ 2,148 trilhões, acima do R$

1,937 trilhão calculado inicialmente.

O crescimento econômico em 2004 foi de 5,7% (frente ao 4,9% calculado

inicialmente); o de 2003, de 1,1% (frente ao 0,5% anterior); e o de 2002, de

2,7% (acima do 1,9% divulgado antes).

Segundo o instituto, o novo sistema de cálculo leva em conta estudos

anuais econômicos e domiciliares, assim como informações tributárias das

empresas, para permitir maior “precisão”.

Entre as informações agora incluídas no cálculo do PIB, estão as oferecidas

pelas declarações fiscais das empresas, o código de Classificação Nacional

de Atividade Econômica, os resultados das Pesquisas de Orçamentos

Familiares de 2003 e o Censo Agropecuário de 2006.

Além disso, (o novo cálculo) atualiza conceitos e definições introduzidos

nas últimas recomendações das Nações Unidas e de outros organismos

internacionais”, afirmou o IBGE em comunicado.

O órgão também informou que o índice já revisado de 2004 ainda não é

definitivo e o de 2005 é preliminar, porque ambos dependem de novos

cálculos.

No final de 2007, serão divulgados os dados definitivos de 2004 e de 2005, e

revisados os índices trimestrais para 2006”, afirmou o IBGE.

O novo sistema de cálculo do PIB leva em conta 56 atividades econômicas

e 110 produtos, enquanto o anterior reunia dados de 43 atividades e 80

produtos.

Page 11: Aula07[1] Macro Contabilidade Nacional

Macr

oeco

nomi

aAu

la 07

- M

acro

econ

omia:

Con

tabil

idade

Nac

ional

105Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

uvb

O setor de telecomunicações, por exemplo, agora incluirá informações

sobre empresas de consultoria em hardware e software, processamento

de dados, atividades de bancos de dados e distribuição on-line, atividades

cinematográficas e até de agências de notícias.

O consumo de ONGs, igrejas e clubes também passará a ter peso no cálculo

do PIB.

As mudanças elevaram significativamente o peso do setor de serviços no

PIB e reduziram o valor das atividades do Governo no cálculo do índice.

O mesmo critério pode ser aplicado ao PIB per capita (por cabeça, em

latim), que é o valor do PIB dividido pela população do país. O enfoque

do PIB per capita real permite observar se a produção física de bens e

serviços está crescendo acima do incremento da população. Este fato,

quando positivo, indica uma possível melhora na qualidade de vida, já que

aumentou a disponibilidade de bens e serviços por habitante, em média.

Evidentemente, isso não é automático: a distribuição de renda pode ser

perversa e concentrar os benefícios em camadas minoritárias da população.

Mas o crescimento real per capita é sempre um objetivo desejável para o

PIB.

As Três òticas do Produto

Os três conceitos com os quais iniciamos esta aula são aspectos diferentes,

mas relacionados entre si, que observamos na análise do Produto. Podemos

agora detalhá-los melhor, como três óticas do mesmo processo: a produção,

a geração de renda e a despesa com o produto.

Ótica da Produção

Esta abordagem nos leva a identificar os bens e serviços produzidos na sua

complexidade e variedade. Na Aula 1, mostramos uma primeira subdivisão:

bens de consumo não-duráveis e duráveis, bens intermediários, bens de

Page 12: Aula07[1] Macro Contabilidade Nacional

Macr

oeco

nomi

aAu

la 07

- M

acro

econ

omia:

Con

tabil

idade

Nac

ional

106Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

uvb

capital, serviços. Também observamos os fatores de produção envolvidos

no processo.

A subdivisão acima representa as categorias de uso dos bens e serviços. Outra

importante subdivisão refere-se aos setores de atividade econômica:

• Agropecuária (setor primário);

• Indústria (setor secundário);

• Comércio e Serviços (setor terciário).

Essa subdivisão prossegue – no caso da Indústria, ela se constitui de três

grandes subsetores:

• Extrativa Mineral;

• de Transformação;

• Construção Civil.

Por sua vez, a Indústria de Transformação é formada por um grande número

de ramos ou segmentos: alimentícia, de bebidas, têxtil e do vestuário,

calçados, química, de plásticos, metalúrgica, de papel e papelão, de produtos

de borracha, de vidro, etc. Da mesma forma, o Comércio subdivide-se

em varejista e atacadista, cada um com diversas ramificações de acordo

com as especialidades abrangidas. Os serviços também são subdivididos:

financeiros, de transporte, de energia, serviços pessoais e assim por diante.

A ótica de produção busca analisar o desempenho da economia observando

a evolução das categorias de uso, dos setores e subsetores de atividade e

comparando-as entre si e com o conjunto. Ela também observa os fatores

de produção, sua escassez ou abundância relativa. A distribuição do Valor

Adicionado pelos diversos setores e subsetores é outra informação relevante,

assim como as interrelações entre eles (quem vende para quem e compra

de quem, em quais proporções ).

Page 13: Aula07[1] Macro Contabilidade Nacional

Macr

oeco

nomi

aAu

la 07

- M

acro

econ

omia:

Con

tabil

idade

Nac

ional

107Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

uvb

Ótica da Renda

Já constatamos que a Renda Nacional é constituída pelas remunerações dos

proprietários dos fatores de produção envolvidos no processo produtivo.

O estudo da evolução desses componentes e da sua distribuição (por

exemplo, a participação relativa dos salários na renda nacional) é o foco

desta abordagem.

Ótica da Despesa

Como o PIB é gasto? Quem compra os bens e serviços produzidos?

Que efeito tem no próprio PIB cada um dos componentes do gasto

realizado pela sociedade? Essas são as preocupações atendidas pela ótica

da Despesa.

Expressamos a Despesa Nacional – os gastos com a compra do PIB – através

de uma expressão muito utilizada em Macroeconomia:

Y = C + I + G + (X – M), onde

Y = Produto ou Renda (no caso, falamos do Produto Nacional)

C = consumo das famílias

I = investimento (compra de bens de capital pelas empresas)

G = gastos do governo (realizados com recursos retirados das famílias e

empresas por meio dos impostos)

X – M = exportações menos importações, ou seja, o saldo do comércio

exterior

Vamos entender o significado desta importante equação macroeconômica.

A despesa com o PIB compõe-se de bens de consumo e serviços consumidos

pelas famílias; de bens de capital, cuja compra pelas empresas representa um

investimento - isto é, ampliação da sua capacidade produtiva; de compras do

governo, que retira recursos das famílias e empresas por meio da tributação

e despende-os na compra de bens e serviços, incluindo bens de capital (o

governo também investe, é o chamado investimento público). Finalmente,

Page 14: Aula07[1] Macro Contabilidade Nacional

Macr

oeco

nomi

aAu

la 07

- M

acro

econ

omia:

Con

tabil

idade

Nac

ional

108Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

uvb

uma parte da produção nacional de bens e serviços é comprada por famílias,

empresas e governos no Exterior (passaremos a utilizar a expressão Resto

do Mundo, consagrada nos livros-textos de Macroeconomia).

Se fecharmos a equação assim, o resultado será maior que o PIB, porque

as famílias, empresas e o governo também consomem bens e serviços

produzidos no Resto do Mundo (importados). Assim, somamos as

exportações e subtraímos as importações para completar a fórmula da

Despesa com o PIB.

Renda Disponível e Investimento: dois conceitos importantes

O Consumo é um componente fundamental do PIB na ótica da despesa. As

famílias consomem de acordo com sua renda, o que significa que variações

na Renda Nacional afetam o Consumo agregado e, portanto, o PIB. O conceito

fundamental, nesse caso, é a Renda Pessoal Disponível (RPD), que mede a

parcela da Renda Nacional que fica efetivamente com as pessoas.

Para chegar à RPD, partimos da Renda Nacional (RN) e deduzimos todas

as parcelas não distribuídas às famílias: os Lucros Retidos pelas empresas

(não distribuídos aos acionistas); os Impostos Diretos e as Contribuições

Previdenciárias, FGTS e assemelhados, pagos pelas empresas. Por outro

lado, acrescentamos os pagamentos de Transferências do governo

(aposentadorias e pensões, seguro-desemprego, bolsas, etc.). Chegamos,

assim, à Renda Pessoal (RP). Deduzindo os Impostos Diretos e contribuições

previdenciárias e outras, pagos pelas pessoas físicas, encontramos a Renda

Pessoal Disponível (RPD).

Outro componente essencial do PIB na ótica da Despesa é o Investimento.

Este possui uma importância fundamental na teoria macroeconômica,

porque representa o fator-chave para o crescimento e o desenvolvimento

econômico.

Page 15: Aula07[1] Macro Contabilidade Nacional

Macr

oeco

nomi

aAu

la 07

- M

acro

econ

omia:

Con

tabil

idade

Nac

ional

109Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

uvb

Chamamos Investimento o gasto das empresas com a aquisição de bens

de capital, isto é, com o aumento da sua capacidade produtiva. Assim, o

Investimento significa ampliação da oferta de bens e serviços no futuro. Ao

mesmo tempo, ele expressa a despesa com uma parte Faculdade On-line

UVB 15 do PIB já produzido. Por essa razão, o Investimento é uma ponte

entre o presente e o futuro.

Por convenção, também denominamos Investimento o aumento dos

estoques das empresas (por analogia, a redução de estoques é um

desinvestimento ou investimento negativo). Assim, quando uma empresa

realiza determinado volume de produção do qual apenas uma parte será

vendida, o restante (novo estoque) passa a ser considerado na Teoria

Econômica como Investimento - neste caso, um aumento na capacidade de

consumo futuro.

Portanto, Investimento representa a aquisição de bens de capital, com a

ampliação da capacidade física de produção das empresas, mais a variação

de estoques.

Se você teve dúvidas sobre o cômputo da variação de estoques como

Investimento, vamos admitir a hipótese simplificadora de que ocorram

apenas variações desejadas dos estoques das empresas. A ocorrência de

estoques indesejados é o cerne das crises econômicas analisadas por Keynes

(excesso de Oferta Agregada, ou insuficiência da Demanda Agregada) e,

por isso, será vista na aula seguinte.

Algumas identidades importantes

Vamos voltar ao fluxo circular da renda apresentado na Aula 1. Na mesma

aula, descrevemos o método dos modelos ou simplificações – o próprio

fluxo circular é uma aplicação desse método. Agora, vamos dar maior

consistência ao modelo, supondo dois novos fluxos: as famílias não gastam

tudo o que recebem em consumo, elas poupam; por seu lado, as empresas

não aplicam todos os seus recursos na produção de bens e serviços, elas

investem uma parte na ampliação da sua capacidade produtiva. Assim,

Page 16: Aula07[1] Macro Contabilidade Nacional

Macr

oeco

nomi

aAu

la 07

- M

acro

econ

omia:

Con

tabil

idade

Nac

ional

110Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

uvb

temos duas equações representativas dos dois lados do modelo, os dois

agentes econômicos que o integram: famílias e empresas. As equações são

as seguintes:

Y = C + S

Y = C + I

A primeira equação mostra que a renda (Y) das famílias é gasta no consumo

(C) ou na poupança (S, do inglês saving). A segunda nos diz que o produto

nacional (gerado pelas empresas) compõe-se de consumo (bens e

serviços para as famílias) e investimento (bens de capital para as próprias

empresas).

Como já vimos que a Renda e o Produto são equivalentes (por isso usamos

o mesmo símbolo), podemos igualar as equações:

C + S = C + I,

de onde vem

S + I

Ou seja, a poupança é igual ao investimento. Esta é uma identidade

contábil, que sempre se verifica a posteriori, isto é, uma vez realizado o

fluxo econômico (em geral, ele é medido no período de um ano). Sempre

devemos nos lembrar, ao usar esta identidade, que estamos considerando

a variação dos estoques como investimento.

A maneira pela qual a poupança das famílias se transforma em investimentos

das empresas será melhor entendida no estudo do sistema financeiro, cuja

principal função é exatamente realizar essa transferência dos poupadores

aos tomadores de empréstimos para empreendimentos produtivos. Isto

será visto na Aula 12.

Continuando a tornar o modelo mais complexo – portanto, mais próximo

da realidade – vamos introduzir o Governo no fluxo da renda e do produto.

O Governo retira recursos das famílias e empresas através dos tributos (T) e

realiza gastos (G) com esses recursos, que aumentam a Demanda Agregada.

Page 17: Aula07[1] Macro Contabilidade Nacional

Macr

oeco

nomi

aAu

la 07

- M

acro

econ

omia:

Con

tabil

idade

Nac

ional

111Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

uvb

Assim, a renda das famílias agora destina-se ao consumo (C), à poupança

(S) ou aos tributos (T). O produto, por sua vez, compõe-se dos bens de

consumo (C), do investimento (I) e do gasto governamental (G), ou seja:

Y = C + S + T

e

Y = C + I + G

Igualando as equações, vem:

S + T = I + G

Esta nova equação também pode ser reescrita assim:

G - T = S – I

Isto indica que o excesso de gastos do governo sobre sua arrecadação

tributária (o chamado déficit público) será financiado pela poupança

líquida das famílias (do setor privado). O termo líquido significa a parte da

poupança não canalizada para os investimentos. O governo será o tomador

desses recursos, através da dívida pública.

Vamos acrescentar agora o Resto do Mundo ao nosso modelo. O país

realiza exportações de bens e serviços (X) e também os importa (M). As

importações figuram no lado da renda, porque são um dispêndio realizado

pelos detentores dos recursos originados do fluxo de renda. As exportações

são uma parte do produto nacional. Assim, temos:

Y = C + S + T + M e

Y = C + I + G + X

Igualando, vem:

S + T + M = I + G + X

Page 18: Aula07[1] Macro Contabilidade Nacional

Macr

oeco

nomi

aAu

la 07

- M

acro

econ

omia:

Con

tabil

idade

Nac

ional

112Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

uvb

Também podemos rearranjar esta equação, de duas formas interessantes

para observarmos alguns processos macroeconômicos:

1) I = S + (T – G) + (M – X)

2) (G – T) = (S – I) + (M – X)

A primeira equação nos diz que o investimento será financiado pela

poupança privada (S); pela poupança pública (T – G) - ou seja, o oposto

do déficit público; e pela poupança externa (M – X), isto é, os recursos

que o país terá que obter do Resto do Mundo para financiar o excesso de

importações sobre as exportações.

Na segunda equação, vemos que o déficit público acaba sendo financiado

pela poupança privada líquida e pela poupança externa. Ou seja, o setor

privado torna-se credor do governo (dívida pública interna) e o setor externo

torna-se credor do país (dívida externa, que pode ser pública e/ou privada).

No caso da dívida externa ser privada, os recursos externos são tomados

por agentes privados, que, por outro lado, financiarão a dívida interna do

governo – dessa forma, a dívida externa é internalizada.

Síntese

Nesta aula, você travou contato com os principais elementos da Contabilidade

Nacional. Verificou o significado e a identidade entre o Produto, a Renda e

a Despesa. Observou os diversos conceitos em que o Produto é calculado:

Interno ou Nacional, bruto ou líquido, a custo de fatores ou a preços de

mercado. Ficou sabendo a diferença entre o Produto Nominal e o Real e a

importância do PIB per capita.

Também vimos os conceitos de Renda Pessoal Disponível e de Investimento,

antecipando a importância deste último para o crescimento econômico.

Partindo do modelo mais simples do fluxo da renda, fomos observando as

identidades entre poupança e investimento e agregando novos agentes

(Governo, Resto do Mundo) para obter versões mais complexas daquele

Page 19: Aula07[1] Macro Contabilidade Nacional

Macr

oeco

nomi

aAu

la 07

- M

acro

econ

omia:

Con

tabil

idade

Nac

ional

113Faculdade On-Line UVB

Anotações do Aluno

uvb

fluxo e das relações entre seus componentes.

A próxima aula desenvolverá o modelo macroeconômico keynesiano,

utilizando os conceitos desenvolvidos até aqui. Poderemos, então, discutir

o equilíbrio macroeconômico e as possibilidades de haver desemprego e

inflação.

Até lá!

Notas1 - Estamos usando o termo estrangeiro apenas no sentido de alguém

residente em outro país, assim como nacional significa, neste texto, um

residente no Brasil. A nacionalidade não está sendo considerada: um

brasileiro residente nos EUA, com capital aplicado no Brasil, é um estrangeiro

nesse sentido (há uma remessa de renda ao Exterior); um alemão residente

no Brasil, que investe na Argentina, é um nacional (há um recebimento de

renda do Exterior).