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Enfermagem do Trabalho Bioética Aula 1 Prof. Me. João Luiz Coelho Ribas

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Enfermagem do Trabalho

Bioética

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Apresentação

Olá! Bem-vindos a esta aula!

Para dar início ao nosso trabalho, vamos conhecer os

principais conceitos relativos à Bioética e às discussões acerca de

seu surgimento e princípios. Assista ao vídeo a seguir:

Introdução

Com o rápido desenvolvimento científico e tecnológico que

estamos vivendo atualmente, muito se evoluiu na qualidade de vida

e inúmeras melhorias na condição humana puderam ser

implementadas. No entanto, o mesmo desenvolvimento que trouxe

avanços também trouxe retrocessos quando foram utilizados de

forma inadequada, ferindo os princípios de uma sociedade que

ainda não tinha estrutura para presenciar tais eventos.

Assim, fez-se necessário uma discussão de diversos tópicos

que, mais cedo ou mais tarde, poderiam de alguma forma afetar a

vida como um todo. Surge, então, em meados da década de 1970,

o termo “bioética”, que passa a ser utilizado por pesquisadores

preocupados com o desenvolvimento das ciências como um todo e

com a dimensão que esse desenvolvimento poderia atingir.

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Conversa Inicial

Pensar em nossa própria maneira de ser é refletir sobre o que

somos, do que fazemos parte e, especialmente, o que influencia

nossa vida cotidiana. Pensar é, portanto, desenvolver a capacidade

de análise, de julgamento sobre o que é bom e útil para nós, de

tomar decisões e especialmente agir. Uma ação verdadeiramente

consciente.

Com o desenvolvimento da nossa capacidade de pensar e

refletir, deixamos de nos considerar agentes passivos e passamos a

sujeitos que não aceitam as relações e posturas por conformismo,

que não acreditam que as coisas acontecem independentes de

nossa intervenção. Dessa forma, somos especialmente conscientes

de que tudo o que fazemos e aceitamos tem consequências para

todos, pois estamos o tempo todo construindo e reproduzindo

valores. Somos parte de um todo e influenciados por ele, e, ao

mesmo tempo, somos apenas um e influenciamos o todo.

Assim, devido à maneira de pensar de uma humanidade

poder influenciar toda uma história de evolução, foram necessários,

com o passar do tempo, estudos que buscassem uma maneira

melhor de agir, especialmente quando tratamos de um grupo. Pois,

uma coisa é o que eu penso a respeito de mim e que pode

influenciar a minha história, outra é o que eu ou um grupo de

pessoas pensamos que pode influenciar a história de outras

pessoas e até mesmo de um grande grupo. Sendo assim, a ética

dedica-se a exatamente isso: buscar a melhor maneira de agir

frente a um comportamento ou situação, propondo que nossas

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ações sejam guiadas por princípios e, principalmente, por uma

reflexão contínua.

Com base nisso, surgem os conceitos de moral, ética e lei:

Moral: “relativo a costumes”. Conceituado como conjunto de regras de conduta ou hábitos julgados válidos, quer universalmente, quer para um grupo ou pessoa determinada (FERREIRA, 2009, p. 563).

Ética: conceituada como sendo o conjunto de normas e princípios que norteiam a boa conduta do ser humano, sob o ponto de vista do bem e do mal a um determinado tempo e sociedade (FERREIRA, 2009, p. 383).

Lei: regra de direito ditada pela autoridade estatal (elaborada e votada pelo poder legislativo) e tornada obrigatória para se manter a ordem e o desenvolvimento em uma comunidade (FERREIRA, 2009, p. 511).

A moral pode ser caracterizada como um conjunto de regras

de uma sociedade ou até mesmo de uma pessoa. Dessa forma, é

extremamente necessário que o indivíduo acredite que aquilo é

correto para que ele molde a sua conduta, caso contrário, para ele

não fará sentido. Já a ética refere-se a uma conduta discutida por

um grupo de pessoas e pela sociedade, sendo, muitas vezes,

influenciada pela moral, porém, tem seus próprios sentimentos e

ações. E a lei é uma regra imposta, uma norma escrita, quando

nem a moral, nem a ética dão conta de um determinado assunto, ou

quando uma parcela da população não concorda ou tem seus atos

guiados diferentes do que seria o ideal para uma determinada

sociedade.

Mas como podemos exemplificar a inserção da moral, da ética

e da lei em nosso dia a dia?

Sidia
Realce
Sidia
Realce
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Veja no vídeo a seguir exemplos práticos do conceito de

moral, ética e lei:

Mais um exemplo: um assassinato. Todas as pessoas deveriam

saber que não devemos tirar a vida de outra pessoa, independente do

motivo. Se o indivíduo tem esse conceito embutido em suas condutas,

ele age com sua moral. No momento que o assunto matar ou não

matar é discutido pela população, dentro de uma determinada

sociedade, temos uma discussão ética, a qual vai prover que o ato de

invadir dessa forma a liberdade de outra pessoa, matando-a, não é

ético. Se algumas pessoas decidem não cumprir as regras morais e

as discussões éticas, o Estado necessita tomar algumas resoluções,

as quais obriguem as pessoas a não se matarem umas as outras, pois

caso pratiquem tal ato, cumprirão pena relativa a eles. Isso é a Lei.

Para que você entenda melhor sobre os conceitos de ética e

moral, assista à entrevista com o filósofo Mario Sergio Cortella no

programa do Jô Soares.

Acesse: http://www.youtube.com/watch?v=RFlVgcl4A1M

Muitas vezes uma situação ou sequência de fatos podem

levar Estado, País, ou Organizações mundiais a discussões éticas,

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com o intuito de organizarem regulamento e normas éticas, assim

como as leis.

Exemplos disso foram desencadeados por médicos nazistas

que fizeram os mais diversos tipos de experimentos com seres

humanos durante a Segunda Guerra Mundial, na qual o mundo

deparou-se com a necessidade de regras claras e objetivas que

normatizassem as condutas em experimentos com seres humanos.

Mais recentemente, a mesma atitude foi tomada com animais,

decorrente de atrocidades que ainda são cometidas, como a

dissecação de animais vivos – a vivissecção.

E, muito além de qualquer discussão, a ética é uma

responsabilidade de todos, ou seja, é uma responsabilidade

individual, pública e planetária, como ilustra Garrafa (2005, p. 12):

A ética pode ser analisada sob três aspectos fundamentais: a responsabilidade individual, pública e coletiva.

A ética da responsabilidade individual refere-se ao papel e compromisso que cada um de nós tem de nós mesmos e de nossos semelhantes, moldadas por ações individuais, coletivas, públicas ou privadas.

A ética da responsabilidade pública diz respeito essencialmente ao papel e aos deveres do Estado não só em relação a temas como a cidadania e direitos humanos, mas em cumprimento a resoluções que versam diretamente e especialmente sobre saúde e vida.

E por fim, mas não menos importante, a ética da responsabilidade planetária diz respeito à preservação dos ecossistemas e da natureza como um todo. Responsabilidade individual, do Estado enquanto política de governo e de todas as nações mundiais.

Enfim, a essência que Garrafa (2005) quer nos passar é a da

liberdade, porém, com compromisso e responsabilidade em todas

as instâncias, sendo individual ou coletiva, sem deixar de lado a

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importância da responsabilidade dos Estados e das Nações que

compõem todo o modelo de liberdade; compromisso e

responsabilidade que conhecemos hoje.

Em meio a toda essa discussão de moral, ética e leis, e com o

rápido desenvolvimento do método científico, e, consequentemente,

das ciências, e as tentativas de provar o que até então era

empiricamente observado, surgiram discussões mais acaloradas a

respeito da vida e das consequências de quando a manipulamos

por meio de experimentação.

Assista ao vídeo “Uma reflexão sobre a complexa relação

entre ética e desenvolvimento científico”.

Acesse: http://www.youtube.com/watch?v=g9Pmavlq1S0

Nesse meio, surge, então, a união dos conceitos éticos e

biológicos, dando origem à Bioética, que em última análise foi a

tentativa de nortear e padronizar diferentes opiniões, tentando nos

auxiliar a pensar mais sobre como agir com tudo o que possui vida.

Mas o que de fato é Bioética?

No vídeo a seguir, propomos uma conceituação de Bioética

com comentários sobre o seu surgimento:

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A Bioética é o estudo da moralidade da conduta humana

relacionada a todo lugar onde exista vida, compreendendo desde o

momento de seu surgimento até a sua finalização. Ela alberga não

só os seres humanos, mas todo ambiente ou natureza que possua

vida, seja ela humana ou não. Também envolve leis, direitos e

deveres nos atendimentos, nas pesquisas e nos serviços em saúde.

É de fundamental importância destacar que a chamada ética

médica é um capítulo da Bioética. No entanto, esta não diz respeito

tão somente às ciências médicas, mas a todas as profissões,

especialmente, é claro, as que compõem o ramo da saúde.

Também cabe lembrar que a Bioética não é restrita a esses

profissionais, mas sim é de interesse de toda a população, pois olha

para a vida e para tudo, para todas as áreas de conhecimento que

de alguma forma tenham implicação sobre a vida de todos nós,

entre elas profissões como juristas, filósofos, sociólogos,

psicólogos, teólogos, economistas, entre outros.

Sendo assim, o verdadeiro enfoque da Bioética é a

interdisciplinaridade, ou seja, o pensar diferente em um trabalho

multidisciplinar, o enfoque de integração entre áreas e disciplinas.

Portanto, o modelo de bioética é baseado em um padrão de

complexidade que leva em consideração vários aspectos para a sua

formação e tomada de decisão. Entre esses aspectos podemos

citar:

os culturais;

os políticos;

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os psicológicos;

os educacionais;

os científicos;

os econômicos;

os espirituais;

os profissionais;

os assistenciais;

os biológicos;

os sociais;

os morais;

os legais.

Devido a essa complexidade de aspectos que a compõe, a

Bioética não é um ramo simples de definição, e, por isso, vários

pesquisadores tentam descrevê-la das mais diversas formas. Entre

elas, a primeira definição aceita foi a de Potter (1971, p. 127), que

diz: “eu proponho o termo bioética como forma de enfatizar os dois

componentes mais importantes para se atingir uma nova sabedoria,

que é tão desesperadamente necessária: conhecimento biológico e

valores humanos”.

Mais recentemente Reich (apud POST, 2004) propôs

acrescentar na definição de bioética o estudo da dimensão moral,

enfatizando que nas ciências da vida podemos empregar várias

metodologias, em que todas sejam éticas, em um contexto

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interdisciplinar, visto os inúmeros profissionais que atuam ou que

permeiam essa área.

Já Ramos (2007) complementou que a Bioética, além de fazer

parte da Ética é um ramo da Filosofia, com o objetivo primordial de

enfocar as questões relativas à vida e à saúde. No entanto, por

fazer parte da Filosofia, ela vai muito além, discutindo o respeito à

pessoa humana e aos valores democráticos essenciais, não

devendo tratar apenas da vida, mas sim, e especialmente, da

morte, o que de fato é inerente à vida se levarmos em consideração

que faz parte de um processo no qual todos os seres vivos, sem

exceção, estão incluídos.

De qualquer forma, a definição do termo e sua utilização abriu

espaço para uma discussão de até que ponto nós, seres humanos,

temos o direito de manipular, em qualquer fase da vida, outros

seres humanos, animas e plantas de forma, muitas vezes,

grosseira, incrédula e desrespeitando seus direitos e suas escolhas.

Em relação às discussões sobre Bioética, sua origem e seus

conceitos, leia os artigos “Bioética: origens e complexidade” e

“Bioética”.

Acesse: http://www.bioetica.ufrgs.br/complex.pdf

Acesse: http://www.scielo.br/pdf/reben/v57n5/a20v57n5.pdf

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Princípios da Bioética

O vídeo a seguir apresenta comentários sobre os princípios

de beneficência, não maleficência, respeito à autonomia e justiça.

Vamos assisti-lo para dar início a nossa conversa:

Com o surgimento da Bioética, fez-se necessário o

estabelecimento de uma forma concreta para poder se analisar os

casos e os problemas éticos relacionados à assistência à saúde

que surgiriam a partir de então. Para tal, em 1979, os

norte-americanos Tom Beauchamp e James Childress publicaram

um livro denominado “Princípios da ética biomédica”, no qual

expõem que a Bioética fundamenta-se em quatro princípios

básicos, que, a partir de então, tornaram-se imprescindíveis para as

discussões de casos envolvendo especialmente profissionais de

saúde e pacientes. Os quatro princípios básicos que norteiam as

discussões bioéticas desde então são:

beneficência;

não maleficência;

respeito à autonomia;

justiça.

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O princípio da beneficência

Esse princípio nos traz a reflexão de que temos a obrigação

moral de agir sempre em benefício do outro, especialmente quando

tratamos da área da saúde. Ou seja, esse princípio nos orienta a

fazer o que é melhor para o paciente, não só do ponto de vista

técnico, mas também, e principalmente, do ponto de vista bioético.

Sendo assim, devemos utilizar todos os nossos conhecimentos e

nossas habilidades profissionais a serviço do paciente,

considerando sempre a minimização de riscos e, é claro, a

maximização dos benefícios, seja qual for o procedimento ou a

forma de tratamento escolhido.

Esse princípio também vai muito além do princípio da não

maleficência. Ele exige que nós, profissionais, contribuamos para o

bem-estar dos nossos pacientes e sujeitos de pesquisa,

promovendo, especialmente, ações como: prevenir e remover o mal

ou o dano causado por uma doença, e equilibrá-lo em termos

físicos, emocionais e mentais.

O princípio da não maleficência

De acordo com este princípio, o profissional tem o dever de

não causar qualquer tipo de dano ao seu paciente. Tal princípio é

comumente utilizado como exigência moral na profissão médica,

porém, deve ser aplicado a todo profissional da saúde aos olhos da

Bioética.

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Trata-se, então, de um dever profissional que, se não

cumprido, pode colocá-lo em uma situação de prática negligente.

Vale a pena pensar que quanto maior for o risco de causar

dano, maior e mais justificado deve ser o objetivo do procedimento

ou do pesquisador para que possa ser considerado, sem relutância

alguma, um ato bioeticamente correto.

O princípio de respeito à autonomia

De acordo com esse princípio, a pessoa deve decidir fazer ou

buscar o que ela julga melhor para si mesma, sem a interferência

de ninguém, seja familiar, amigo ou o próprio pesquisador, pois

somente quem sabe o que é melhor para si é a própria pessoa. E

para tal, o respeito à autonomia e aos direitos fundamentais devem

ser sempre preservados, aceitando-se especialmente o pluralismo

ético-social existente atualmente.

Para que o indivíduo possa exercer essa autodeterminação,

são necessárias sempre duas condições fundamentais: a

capacidade de agir intencionalmente, o que pressupõe o decidir

coerentemente com a sua vontade entre alternativas que lhe são

apresentadas, e a liberdade, no sentido de que sua decisão deve

ser livre de qualquer influência, especialmente por parte do

pesquisador e do profissional de saúde, por mais que estes pensem

ser o melhor caminho a ser escolhido por esse indivíduo.

Respeitar a autonomia significa ainda, em última análise,

auxiliar o paciente a superar seus medos e sentimentos de

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dependência do profissional e do pesquisador, fornecendo

subsídios para que ele possa classificar suas preferências e seus

valores, com o intuito de discutir suas opções, seus riscos e

benefícios.

De maneira sintética, essa é a essência do consentimento

informado: uma decisão voluntária, de um indivíduo capaz de tomar

uma decisão após um processo informativo, para a aceitação de um

tratamento específico ou de uma experimentação, sempre, é claro,

consciente dos riscos, benefícios e, até mesmo, das possíveis

consequências.

No entanto, como previstas pela Bioética, existem algumas

circunstâncias especiais nas quais esse princípio poderá ser “ferido”

sem qualquer ônus para o profissional de saúde ou pesquisador,

são elas:

a incapacidade, especialmente quando falamos em crianças e

adolescentes, devendo os pais ou responsáveis exercer esse

princípio para tais indivíduos;

a incapacidade por perda de consciência nas patologias

neurológicas e psiquiátricas graves;

em situações de urgência, devido ao fato de se necessitar agir

rapidamente;

a obrigação legal de notificação de doenças cuja notificação é

compulsória;

quando existe um grande risco para a saúde de outra pessoa cuja

identidade é conhecida;

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quando o indivíduo recusa-se, sem maiores explicações, a ser

informado e a participar das decisões e da evolução de seu caso.

O princípio da justiça

O princípio da justiça está associado basicamente às relações

entre grupos, preocupando-se especialmente e integralmente com a

igualdade nas oportunidades de acesso, principalmente nesse caso,

à saúde e aos benefícios que ela traz ao indivíduo enquanto

paciente ou sujeito da pesquisa.

Com a crescente socialização dos cuidados com a saúde e,

consequentemente, com as dificuldades de acesso da população a

procedimentos de alto custo, faz-se necessário discutir esse

princípio, especialmente os conflitos bioéticos de tais questões, que

emerge da necessidade de uma ampla e irrestrita distribuição justa

da assistência à saúde individual e coletiva.

Enfim, o que devemos ter em mente é que todos os dilemas

éticos que discutimos atualmente, sob o prisma dos quatro

princípios, devem passar a ser um exercício rotineiro em todas as

nossas tomadas de decisões, especialmente no que tange à área

da saúde ou que esteja relacionado a ela. Aqui devemos realizar,

especialmente antes de qualquer decisão, por mais banal que

pareça, uma ampla reflexão sobre os valores e, é claro, sobre as

condutas a serem adotadas, com o único objetivo de assegurar que

essas condutas sejam sempre as mais prudentes possíveis, dentro

de nossa capacidade (SIQUEIRA, 2008).

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Para obter maiores detalhes sobre os princípios da Bioética,

recomenda-se a leitura dos artigos “Princípios da Bioética”, e

“Bioética: princípios ou referenciais?”. Além disso, assista ao vídeo

“Bioética – Princípios”.

Acesse: http://www.nhu.ufms.br/Bioetica/Textos/Princ%

C3%ADpios/PRINC%C3%8DPIOS%20DA%20BIO%C3%89TICA%

20(3).pdf

Acesse: http://www.saocamilo-sp.br/pdf/mundo_saude/

41/20_bioetica_principio.pdf

Acesse: http://www.youtube.com/watch?v=2WxU80MLc

DY

Os Desafios da Bioética

Assista ao vídeo a seguir e saiba quais são os desafios da

Bioética:

Os princípios da Bioética são, ou pelo menos deveriam ser,

aplicados rotineiramente em contextos específicos, caracterizadores

do emprego de suas discussões; têm sua função exercida, em

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última análise, na avaliação de parâmetros éticos em pesquisas e

tecnologias originadas pelas Ciências da Saúde.

Vale a pena lembrar que outra grande função é auxiliar os

profissionais da saúde na tomada de suas decisões éticas, desde

situações corriqueiras do dia a dia até situações nas quais a análise

criteriosa de seus princípios seja essencial para ser tomada a

melhor decisão.

Entre essas situações de qualquer profissional e da Bioética,

podemos citar:

a relação profissional de saúde-paciente;

as experiências e pesquisas envolvendo seres humanos;

as análises éticas envolvendo fertilização;

a clonagem;

as análises éticas envolvendo a morte tranquila ou a eutanásia;

as análises éticas envolvendo técnicas de prolongamento da vida

(distanásia) por meios artificiais;

os transplantes de órgãos e tecidos;

a doação de órgãos;

o transexualismo;

o aborto;

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a intervenção sobre o patrimônio genético;

a engenharia genética;

a repercussão do emprego de manipulação da personalidade;

as intervenções sobre o cérebro;

o bioterrorismo;

a avaliação ética das técnicas genéticas e sua repercussão no

mundo animal e vegetal;

a análise de normas de biossegurança utilizadas atualmente;

as pesquisas relacionadas à vida;

a integração interdisciplinar nas avaliações éticas que afetam

toda uma sociedade.

Concluindo

As discussões a respeito da Bioética e de sua temática na

sociedade, resumidamente giram sobre duas questões essenciais:

1. o que é necessário evitar?

2. o que é necessário promover e apoiar?

A partir do momento que conseguimos associar as respostas

a essas perguntas e à multidisciplinaridade, teremos uma bioética

real, a qual representará de um lado todos os anseios de uma

sociedade e do outro todas as expectativas dos profissionais

envolvidos com tais questões.

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Síntese

Para o encerramento desta aula, assista ao vídeo a seguir no

qual se reafirmam a necessidade dos conceitos de Bioética e a sua

inserção definitiva no ramo da saúde:

1. Quando falamos em ética, estamos relacionando especialmente

o estudo dos fatos referentes à conduta humana, um pouco

diferente da moral que relaciona os costumes e a lei, a qual

aborda as regras determinadas por uma autoridade estatal.

Sobre esse assunto, assinale a alternativa que se relaciona à

ética, à moral ou à lei.

a. Em um caso de assassinato, o ato das pessoas saberem que

não devemos tirar a vida de um ser humano, pode-se

relacionar ao conceito de ética.

b. Quando o assunto matar ou não matar é discutido por uma

população dentro de uma sociedade, podemos relacionar com

a lei.

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c. Em um caso em que um político foi preso devido a uma

conduta inadequada com o dinheiro público, estamos frente a

uma questão de lei.

d. Um cirurgião encontrou uma gaze no abdômen de seu

paciente, a qual foi esquecida por um colega seu em uma

cirurgia anterior. Para não causar problemas ao seu colega,

jogou a gaze sem que ninguém visse. Nesse caso de

acobertamento estamos falando de uma questão de lei.

2. Um homem com 82 anos de idade, lúcido e ativo, procura

atendimento em uma unidade de saúde queixando-se de

fraqueza e fadiga, vômito sanguinolento e perda de peso

constante. Durante os exames, detectou-se nesse senhor um

câncer em estágio avançado. A filha do idoso pede à equipe de

saúde que não informe o diagnóstico ao paciente, por motivos

pessoais e familiares. Observando-se os princípios da Bioética,

que procedimento a equipe de saúde deveria realizar?

a. Observando o princípio da justiça, eles não deveriam contar

nada ao paciente, visto se tratar de um senhor de 82 anos, o

que poderia piorar o seu quadro clínico. Sendo assim, seria

mais justo dizer que se tratava, por exemplo, de uma úlcera em

formação.

b. Observando o princípio do respeito à autonomia, o paciente

tem o direito de saber de seu diagnóstico e os possíveis

agravos que um câncer pode trazer-lhe à sua saúde. Ele tem a

autonomia de querer ou não querer o tratamento, e o

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prolongamento de sua vida por métodos, muitas vezes,

invasivos, que serão necessários nesse caso.

c. Observando o princípio da beneficência, a equipe não deve

contar o diagnóstico, visto se tratar de um caso que

provavelmente não tenha solução, no qual o melhor tratamento

talvez seria não tratar.

d. Observando o princípio de respeito à autonomia, a equipe não

deveria contar, visto que a filha acha que contar não é o melhor

a se fazer no momento.

Referências

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