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1043 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(5):1043-1051, mai, 2006 ARTIGO ARTICLE A contribuição dos trabalhadores na consolidação dos serviços municipais de vigilância sanitária Workers’ contribution to the consolidation of municipal health surveillance services 1 Programa de Pós- graduação em Ciências da Saúde, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, Brasil. Correspondência V. Garibotti Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Rua Dr. Otávio Santos 330, apto. 208, Porto Alegre, RS 91210-000, Brasil. [email protected] Vanda Garibotti 1 Élida Azevedo Hennington 1 Lucilda Selli 1 Abstract This study aimed to expand knowledge on the role and possible contribution of workers in the consolidation of health surveillance services in three municipalities in Greater Metropolitan Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brazil. The re- search used a qualitative methodology based on focus groups and participatory observation. The resulting data were categorized by content analy- sis. The results pointed to precarious manage- ment of the health surveillance services. The main problems were deficiencies in staff educa- tion and training, precarious work conditions, lack of resource allocation autonomy and self- management, in addition to prioritization of actions with a limited scope, focused on the con- trol and oversight of products and services, to the detriment of broader activity with other de- terminants of the health-disease process. De- spite this situation, most staff members seek fur- ther training on their own and oscillate between the pursuit of alternatives to overcome the diffi- culties and moments of frustration and discour- agement. Sanitary Surveillance; Resources Management; Workers Apontamentos para introdução As conseqüências diretas e indiretas da globa- lização, tais como, uma maior circulação e in- teração de pessoas, animais, produtos e ser- viços e a rápida disseminação de patógenos, além da precarização das condições de vida e de trabalho reafirmam a necessidade de um Estado forte e capaz de interferir nas relações econômicas e sociais com o objetivo de preser- var a vida e o ambiente, os interesses da coleti- vidade e das comunidades. Esses fatores têm levado a uma maior valorização das ações de vigilância sanitária no país, tornando impres- cindível a qualificação dos serviços para o cum- primento integral de suas atribuições. Historicamente, as ações de caráter fiscali- zatório foram priorizadas e alcançaram maior visibilidade no campo da vigilância sanitária. Este tipo de intervenção é legitima enquanto papel regulador do Estado, porém insuficiente para responder às necessidades de saúde e me- lhoria das condições de vida da população. Por outro lado, a maior autonomia financeira e ad- ministrativa alcançada com a criação da Agên- cia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em 1999, não modificou a realidade nos esta- dos e municípios. Ainda hoje observa-se uma atuação marcada pela visão parcial de risco, voltada eminentemente para o controle e fis- calização de produtos e serviços, excluindo de seu campo o ambiente e a saúde do trabalha-

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    ARTIGO ARTICLE

    A contribuio dos trabalhadores na consolidao dos servios municipais de vigilncia sanitria

    Workers contribution to the consolidation of municipal health surveillance services

    1 Programa de Ps-graduao em Cincias da Sade, Universidade do Vale do Rio dos Sinos,So Leopoldo, Brasil.

    CorrespondnciaV. GaribottiPrograma de Ps-graduaoem Cincias da Sade,Universidade do Vale do Rio dos Sinos.Rua Dr. Otvio Santos 330,apto. 208, Porto Alegre, RS91210-000, [email protected]

    Vanda Garibotti 1

    lida Azevedo Hennington 1

    Lucilda Selli 1

    Abstract

    This study aimed to expand knowledge on therole and possible contribution of workers in theconsolidation of health surveillance services inthree municipalities in Greater MetropolitanPorto Alegre, Rio Grande do Sul, Brazil. The re-search used a qualitative methodology based onfocus groups and participatory observation. Theresulting data were categorized by content analy-sis. The results pointed to precarious manage-ment of the health surveillance services. Themain problems were deficiencies in staff educa-tion and training, precarious work conditions,lack of resource allocation autonomy and self-management, in addition to prioritization ofactions with a limited scope, focused on the con-trol and oversight of products and services, tothe detriment of broader activity with other de-terminants of the health-disease process. De-spite this situation, most staff members seek fur-ther training on their own and oscillate betweenthe pursuit of alternatives to overcome the diffi-culties and moments of frustration and discour-agement.

    Sanitary Surveillance; Resources Management;Workers

    Apontamentos para introduo

    As conseqncias diretas e indiretas da globa-lizao, tais como, uma maior circulao e in-terao de pessoas, animais, produtos e ser-vios e a rpida disseminao de patgenos,alm da precarizao das condies de vida ede trabalho reafirmam a necessidade de umEstado forte e capaz de interferir nas relaeseconmicas e sociais com o objetivo de preser-var a vida e o ambiente, os interesses da coleti-vidade e das comunidades. Esses fatores tmlevado a uma maior valorizao das aes devigilncia sanitria no pas, tornando impres-cindvel a qualificao dos servios para o cum-primento integral de suas atribuies.

    Historicamente, as aes de carter fiscali-zatrio foram priorizadas e alcanaram maiorvisibilidade no campo da vigilncia sanitria.Este tipo de interveno legitima enquantopapel regulador do Estado, porm insuficientepara responder s necessidades de sade e me-lhoria das condies de vida da populao. Poroutro lado, a maior autonomia financeira e ad-ministrativa alcanada com a criao da Agn-cia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA)em 1999, no modificou a realidade nos esta-dos e municpios. Ainda hoje observa-se umaatuao marcada pela viso parcial de risco,voltada eminentemente para o controle e fis-calizao de produtos e servios, excluindo deseu campo o ambiente e a sade do trabalha-

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    dor. A maioria das administraes locais aca-bou incorporando a vigilncia sanitria numconceito limitado, organizando os servios deforma fragmentada, no promovendo a inte-grao das reas de atuao e muito menos oplanejamento sobre as prioridades e necessi-dades de sade 1. Desse modo, consolida-se oantigo modelo em detrimento da proposta deimplantao de uma concepo ampliada devigilncia da sade como possibilidade de re-definio das prticas sanitrias, principal-mente no nvel municipal 2.

    Nesse contexto, os trabalhadores da sadeora so apontados como potenciais sujeitos demudana e de reformulao das prticas desade, ora so considerados como um fardo,um problema a ser resolvido com medidasburocrticas 3. Muito pouco se tem estudadoou experienciado em relao a novas formas degesto que considerem os trabalhadores sujei-tos sociais conforme afirma Campos 4, e noapenas como mero recurso.

    Este estudo teve como objetivo principalaprofundar o conhecimento sobre o papel e aspossibilidades de contribuio dos trabalhado-res para a consolidao dos servios de vigiln-cia sanitria, com base na anlise de trs servi-os da regio metropolitana de Porto Alegre,Rio Grande do Sul, Brasil.

    O percurso metodolgico

    A metodologia qualitativa e teve como sujei-tos de pesquisa os trabalhadores de vigilnciasanitria de trs municpios da Regio Metro-politana de Porto Alegre que desenvolviamaes bsicas de vigilncia h no mnimo doisanos. Esses municpios foram classificados deacordo com o ndice de desenvolvimento so-cial e econmico (IDESE) 5. Trata-se de um n-dice sinttico elaborado e utilizado pela Fun-dao de Economia e Estatstica do Estado doRio Grande do Sul e que agrega informaesmunicipais sobre quatro blocos de indicado-res: domiclio e saneamento, educao, sa-de e renda. Foram escolhidos dois represen-tantes com IDESE considerado baixo, dois mu-nicpios com mdio desenvolvimento e doismunicpios com IDESE alto. Para a seleo fi-nal dos trs municpios foram consideradas aproximidade geogrfica e a autorizao dosgestores municipais, no intuito de facilitar oacesso e o desenvolvimento do estudo.

    Participaram da pesquisa 26 trabalhadoresque atuavam de forma direta nos servios, in-clusive os coordenadores (gerentes). Destes, ametade tinha nvel superior e os demais nvel

    mdio. Dos profissionais de nvel superior,apenas seis tinham dedicao exclusiva ao ser-vio. Como tcnicas de investigao foram uti-lizados o grupo focal e a observao partici-pante. Em cada um dos servios foram realiza-das reunies que seguiram roteiros semi-estru-turados, previamente elaborados, para discus-so dos seguintes grandes temas: formaoacadmica e qualificao profissional, confi-gurao da vigilncia sanitria nos trs nveisde governo, impacto das aes de vigilnciasanitria e papel e contribuio dos trabalha-dores na consolidao dos servios de vigiln-cia sanitria.

    Nos trs encontros realizados, um reuniusomente profissionais de nvel mdio, outro,profissionais de nvel superior e um terceiroencontro, toda a equipe (incluindo o gerente).Esta conduta foi tomada no sentido de tentareliminar qualquer tipo de coero ou constran-gimento relacionados presena de colegasexercendo cargos hierarquicamente superio-res. Num dos municpios no foi possvel fazeresta separao devido ao pequeno nmero deprofissionais no servio. Observaes partici-pantes foram realizadas em dois momentospara cada equipe selecionada.

    As discusses nos grupos focais foram gra-vadas em fita cassete e posteriormente trans-critas para a anlise dos dados. Os pronuncia-mentos foram tratados por meio de anlise decontedo proposto por Bardin 6 e Minayo 7. Noprocesso de tratamento inicial dos dados, cadamunicpio foi considerado uma unidade decontexto por suas caractersticas histricas escio-econmicas. Os textos transcritos foramclassificados em unidades de registro, segundopressupostos estabelecidos a priori e outrosnovos que surgiram durante o processo de an-lise. Em torno dessas unidades foram sendoagrupados os temas; em seguida fez-se o enxu-gamento da classificao por temas mais rele-vantes, aglutinando temas comuns em relaoaos diferentes municpios, porm observando-se as diferentes unidades de contexto onde fo-ram produzidos e, posteriormente, realizando-se comparaes entre eles para a anlise final.

    Esta pesquisa foi submetida e devidamenteaprovada pelo Comit de tica em Pesquisa daUniversidade do Vale do Rio dos Sinos, aten-dendo aos critrios previstos na Resoluo n.196/96 do Conselho Nacional de Sade.

    Contextualizando os resultados

    No municpio com o menor IDESE, as condi-es de trabalho eram as mais precrias e per-

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    cebeu-se tambm uma baixa auto-estima dosprofissionais. Neste servio ficou evidente a di-ficuldade dos trabalhadores em lidar com osenormes problemas sociais com os quais se de-paravam no dia-a-dia de sua atuao profissio-nal. Apesar disso, talvez devido s imensas difi-culdades e ao fato de tratar-se de um grupo re-duzido de profissionais, havia um forte espritode equipe e no foram evidenciadas grandesdisputas internas de poder.

    No servio de IDESE intermedirio sobres-saram os conflitos decorrentes das relaes in-terpessoais e das disputas internas de poder en-tre os profissionais. tambm o servio commaior diversidade de vnculos empregatcios, decarga horria e de maiores diferenas salariais.

    O municpio com IDESE mais alto era tam-bm o mais populoso e que tinha o servio quealcanou maior visibilidade perante a popula-o segundo seus prprios profissionais, con-seguindo inclusive, conquistar o status de De-partamento de Vigilncia em Sade, dentro doorganograma da Secretaria de Sade. A auto-estima dos trabalhadores era a mais elevadaem relao aos demais municpios estudados.

    Surpreendentemente, nos trs municpios aquesto salarial no foi abordada com grandenfase pelos profissionais, no sendo sequermencionada no municpio com menor IDESE.

    Na anlise dos depoimentos, houve muitassimilaridades e poucas contradies ou cho-que de opinies entre os trabalhadores dos di-ferentes municpios. Os problemas sociais eeconmicos existentes e suas repercusses nofazer dirio foram enfatizados de forma seme-lhante nos trs servios.

    A seguir, sero apresentados os resultadosreferentes a quatro grandes unidades de anli-se: formao acadmica e qualificao profis-sional, a vigilncia sanitria nas trs esferasde governo, gesto de recursos, processos econdies de trabalho e impacto e consolida-o das aes de vigilncia sanitria.

    Formao acadmica e qualificao profissional

    Constatou-se, logo de incio, que a maioria dostrabalhadores no tiveram formao especficasequer para atuar na rea da sade e, muitomenos, na vigilncia sanitria. Nem mesmo opessoal de nvel superior teve contado comcontedos especficos da rea durante o ensi-no de graduao. A maioria dos cursos da reade sade e afins no abrange a temtica da vi-gilncia sanitria em seus programas 8.

    Segundo os relatos, o ofcio foi aprendidona prtica, na vivncia dentro do servio e por

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    meio de iniciativa pessoal, pelo estudo da le-gislao sanitria, realizao de cursos espec-ficos etc. De modo geral, no existe uma polti-ca de educao continuada por parte das ges-tes municipais observou-se que, ao mesmotempo em que no havia impedimento da bus-ca pessoal por aprendizagem, no existia est-mulo ou uma gesto que valorizasse de fato econtemplasse a qualificao, a capacitao e oaperfeioamento profissional. A preocupaodos trabalhadores evidencia-se no seguinte de-poimento: nos meus 16 anos de servio pbli-co, posso contar nos dedos os cursos que nosconvidaram a participar ....

    A formao dos profissionais de vigilnciase d num processo, muitas vezes, emprico,descontnuo e assistemtico e, no raramente,sem comprometimento com o conhecimentotcnico e eficcia da ao 9. A formao defron-ta-se com um conjunto de limitaes que ad-vm do tradicional isolamento institucional davigilncia sanitria no contexto da sade e atdo desconhecimento da funo da vigilnciasanitria como ao de sade 8.

    Apesar disso, a metade dos profissionais denvel superior que participou da pesquisa temespecializao na rea de sade por iniciativaprpria, devido exigncia e complexidade dasfunes que desempenham.

    Os profissionais de nvel mdio represen-tam mais da metade da fora de trabalho nosmunicpios estudados, e a maioria busca ca-pacitar-se, pois percebem a abrangncia dasaes de vigilncia, bem como sua relevnciapara o Sistema nico de Sade (SUS): a tecno-logia avana muito rapidamente, imagine nosestabelecimentos de sade, pegamos uma gamaenorme de servios, creches, asilos, clnicas, ... asclnicas cada uma com equipamentos diferen-tes, tomografia, fisioterapia ....

    Entretanto, como a busca pelo conheci-mento maior por iniciativa pessoal, usual-mente os profissionais de nvel superior tmmaior acesso em relao aos de nvel mdioque, comumente, esto l na ponta desempe-nhando as aes e possuem menos tempo,condies financeiras e estmulo para o aper-feioamento tcnico-cientfico.

    Cabe ressaltar, porm, as iniciativas de in-centivo educao continuada por parte daANVISA ao inserir em sua estrutura o Comitde Poltica de Recursos Humanos, bem como aconquista de espao da vigilncia sanitria, in-cluda como rea temtica nos congressos daABRASCO (Associao Brasileira de Ps-Gra-duao em Sade Coletiva), e a implantao decursos de especializao em diversas institui-es de ensino, como movimentos que tm ge-

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    rado possibilidades de acesso e incremento doconhecimento terico-conceitual e prtico, po-rm ainda distantes e insuficientes para a maio-ria dos profissionais, principalmente no nvelmunicipal.

    fundamental para o desenvolvimento efortalecimento dos servios o investimento naformao profissional, na capacitao tcnicae na apropriao de novas tecnologias, sob pe-na das aes de vigilncia se transformaremnum verdadeiro faz-de-conta e da perpetuaode servios inoperantes e/ou sem efetividadediante do setor regulado, detentor de poder eco-nmico e tecnolgico, e das prementes neces-sidades de sade da populao.

    A vigilncia sanitria nas trs esferas de governo

    Em relao ao sistema de vigilncia sanitria,os profissionais conheciam melhor a estruturamunicipal e a estadual, com as quais lidam di-retamente; j a estrutura federal conheciampouco e, geralmente, apenas atravs do site,disponvel on-line. Referiram o distanciamen-to da ANVISA e a falta de canais geis de comu-nicao e resoluo de demandas entre os di-ferentes nveis do sistema. A ANVISA avaliaum produto, quando pede para recolher passapara os 27 estados, no caso do Rio Grande do Sulpara a Diviso Central, a central passa para asregionais, que depois passa para os municpios,isso d 40 a 50 dias, perodo em que a popula-o fica sujeita ao risco do consumo! Se tem in-ternet, por que no passa direto? Com cpia pa-ra o estado e municpio?.

    Os servios municipais, por unanimidade,apontaram o deficiente funcionamento da es-trutura no nvel estadual, incapaz de cumprirseu papel de cooperao tcnica e financeiraaos municpios: eu cansei de ir na 1a CRS[Coordenadoria de Sade] pedir alguma infor-mao e constatar que eles tinham menos co-nhecimento sobre o assunto que o nvel munici-pal..., ...quando no perdem os documentos,enviam com atraso, s vezes os produtos j ven-ceram. ...sabemos que eles tambm tm difi-culdades, falta pessoal, veculos, computadores,linhas telefnicas.

    O servio estadual de vigilncia sanitriatem atribuio de inspeo sobre o processoprodutivo, produtos e servios, laboratrios decontrole de qualidade, sistemas de informao,desenvolvimento de recursos humanos, super-viso e cooperao com as secretarias munici-pais e, ainda, a implementao da descentra-lizao das aes para os municpios, sendoportanto a executora principal das aes de

    mdia e alta complexidades. A atual estrutura-o da vigilncia sanitria nas secretarias es-taduais de sade no se coaduna com as com-petncias e as funes que o sistema atribui aesse nvel de governo 10.

    A atuao da recm-criada Secretaria de Vi-gilncia em Sade, Ministrio da Sade, aindano conseguiu repercutir sobre as gestes mu-nicipais e no foi sequer citada pelos trabalha-dores dos municpios pesquisados.

    A efetividade das aes de vigilncia garan-tidas pela Lei Orgnica da Sade depende daimplementao de um Sistema Nacional de Vi-gilncia Sanitria (SNVS) que funcione na pr-tica, com atribuies acordadas e definidas en-tre os trs nveis, e canais permanentes de in-terlocuo e retroalimentao.

    Gesto de recursos, processos e condies de trabalho

    De acordo com os depoimentos, as aes de vi-gilncia sanitria no eram prioridades na ges-to municipal. Os profissionais de dois servi-os municipais denunciaram que, embora nodiscurso os gestores locais defendam as aesde preveno e promoo sade, includas asaes de vigilncia sanitria, na realidade oque se percebe um total abandono do setor,ficando o servio de vigilncia prpria sorte,muitas vezes sem investimentos de qualquertipo. Os depoimentos abaixo revelaram os sen-timentos dos profissionais acerca disto: A vi-gilncia cantada em prosa e verso como muitoimportante, mas fica no discurso.... Os gestoresmunicipais pactuam as atividades de vigiln-cia sanitria para receber recursos financeiros;depois que est instalado o servio e vm os re-cursos: os carros vo para um lado, os computa-dores para outro, eles tm enorme demanda naassistncia e desviam os recursos.

    A vigilncia sanitria apresenta hoje umaconfigurao profundamente desigual no n-vel central, a ANVISA possui autonomia admi-nistrativa e financeira, porm os servios per-tencentes s administraes diretas (estados emunicpios) tm reduzido poder administrati-vo, o que dificulta a utilizao dos recursos re-passados e a participao na definio do fun-cionamento do sistema como um todo 11.

    Falta autonomia no uso dos recursos fi-nanceiros, sejam os provenientes do Piso deAteno Bsica (PAB), sejam os recursos doincentivo descentralizao ou mesmo aque-les arrecadados pelo prprio servio, o que fi-ca evidente nos depoimentos dos trabalhado-res: Apesar de a vigilncia sanitria no terfim arrecadador, ela arrecada e para onde vo

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    estes recursos? Para o caixa nico da prefeitu-ra. O mesmo ocorre com as verbas repassadaspela municipalizao ... . No gerenciamos es-se dinheiro....

    Em relao ao provimento dos trabalhado-res, embora existam pequenas diferenas entreos servios, as coordenaes, no geral, tm delidar com distintas formas de vnculo empre-gatcio, carga horria, diferenas de escolarida-de e salariais dos profissionais de sua equipe.Observe-se o depoimento do coordenador deum servio: Aqui no meu municpio existe apoltica do estagirio, selecionados por eles claro, amigo do vereador, vizinho do prefeito ...sem contar os cargos de confiana e os fiscais ce-didos do estado que possuem diferente cargahorria e salrio....

    consenso o fato de que para se implantarum sistema de vigilncia sanitria funda-mental a definio de uma poltica satisfatriade recursos humanos que atenda a cada nvelde governo. Na prtica, o que se tem verificado o provisionamento de recursos humanos semestabilidade e sem prerrogativas inerentes funo reguladora, dentre as quais, cabe desta-car, a estabilidade e a dedicao exclusiva noemprego. A conseqncia disto a alta rotati-vidade de profissionais gerando instabilidadenos quadros e uma absoro acentuada dostcnicos mais qualificados pelo setor privado,mais competitivo e atraente 9. A reforma no apa-relho do Estado flexibilizou as formas de provi-mento de pessoal, e as diferentes formas decontratao e pagamento de pessoal distan-ciam-se das necessidades de vnculo para o se-tor pblico de sade 12,13.

    Para muitos gestores, a temtica de pessoalem sade ainda se restringe s necessidadesde contratao e alocao de pessoal em fun-o dos limites impostos pela Lei de Responsa-bilidade Fiscal. Este quadro aponta uma con-formao que explicita contradies e confli-tos entre dois projetos polticos: o neoliberal eo da reforma sanitria 14, impondo aos traba-lhadores a luta pela manuteno das conquis-tas trabalhistas, sob pena de paulatinamentehaver maior precarizao das condies de tra-balho e vnculos cada vez mais enfraquecidos,comprometendo a construo e consolidaodo SUS.

    Os profissionais denunciaram a falta de in-fra-estrutura e ausncia de condies mnimaspara um trabalho condigno. Faltam elementosbsicos de um adequado ambiente de trabalhocomo: espao fsico, mobilirio, veculos, almde equipe mnima, pessoal de apoio adminis-trativo, de limpeza, motorista. A falta de estru-tura aparece em menor ou maior grau nos trs

    municpios: complicado viver num amon-toado de gente 8 pessoas em 9m2 no temosmesa prpria ou armrio para guardar os do-cumentos... (municpio com IDESE baixo).

    Ns estamos h trs meses sem pessoal delimpeza, quem faz a faxina uma pessoa des-viada da equipe da Dengue (municpio comIDESE intermedirio).

    Eu chego, separo os processos, denncias deum bairro, quando vou pegar o veculo, cad?(municpio com IDESE alto).

    A ausncia de assessoria jurdica aos servi-os foi destacada de forma unnime como umdos principais fatores limitantes para o desen-volvimento e efetividade das aes regulat-rias, j que estas lidam diretamente com a le-gislao sanitria, exigindo aes fundamenta-das em dispositivos legais e processos adequa-dos forma jurdica.

    Apesar do fortalecimento dos servios devigilncia sanitria nos ltimos anos, a autono-mia na busca da qualidade de produtos e servi-os mediante o cumprimento das normas sa-nitrias ainda restrita. Muitas aes tm re-percusses econmicas e sociais que contra-riam interesses de grupos locais ou intervmem questes do mbito de outras secretariasou rgos pblicos. O servio de vigilncia sa-nitria passa a regular outros servios pblicosmunicipais (creches, asilos, unidades de sa-de) e estaduais (como o sistema pblico deabastecimento de gua) e, muitas vezes, os pro-fissionais sofrem presso poltico-administra-tiva por parte do poder executivo e/ou legisla-tivo municipal. As interferncias econmicas epoltico-partidrias evidenciaram-se nos de-poimentos: Ns no interditamos um estabele-cimento ou apreendemos produtos por livre eespontnea vontade, a gente leva pro diretor, elevai at o local, analisa, autoriza ou no. ... seum estabelecimento for penalizado com multaou interdio, sempre tem um poltico que veminterceder....

    Se por um lado, aproximar essa atividadeda populao possibilitou um melhor controlee maior possibilidade de interveno, o que eraobjetivo da descentralizao da vigilncia sani-tria, por outro, tornou-a mais vulnervel spresses econmicas e polticas 9.

    Em relao gesto dos processos de traba-lho, faltam espaos de escuta, de participaoe de tomada de decises que envolvam os pro-fissionais de sade. Os trabalhadores sentem-se desprestigiados e sem autonomia, seja pelalimitao no uso dos recursos e/ou principal-mente pelo pouco espao de participao nasdecises. Os profissionais clamaram pela cria-o de mecanismos de participao no proces-

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    so decisrio de trabalho. Ao tomarem contatocom novas situaes e desafios, querem ser ou-vidos e iniciar mudanas no sentido de ade-quar o servio s necessidades locais de sade:Estamos na ponta, fazemos a frente, levamos arealidade da rua e no somos ouvidos...; ...muita distncia entre quem planeja e quemexecuta.... Saliente-se que estes depoimentosse deram em dois servios, nos encontros dosgrupos de nvel mdio, onde no estavam pre-sentes os coordenadores.

    As prioridades detectadas e as demandasencontradas pelos profissionais na labuta di-ria tm pouco espao no planejamento e pro-gramao dos servios. Os municpios pactuamcom o estado as aes de vigilncia sanitria aserem desenvolvidas e o pacote das aes vempronto, muitas vezes distante da real necessi-dade de um bairro ou municpio. A vigilnciasanitria estadual que, tradicionalmente, ofe-rece um servio de carter regulatrio, priori-zando aes sobre os setores de produtos e ser-vios, refora este modelo no momento da des-centralizao das aes para os municpios.

    A Lei Orgnica da Sade amplia as respon-sabilidades da vigilncia sanitria, anterior-mente restritas a produtos e servios para oambiente e a sade do trabalhador; contudo amudana da legislao no implicou a mudan-a do processo de trabalho da vigilncia, quecontinuou desarticulada das demais atividadesdesenvolvidas pelo setor pblico de sade edemais secretarias municipais. Preparada paraatuar em programas compartimentados (ali-mentos, servios de ateno sade, portos,aeroportos e fronteiras), seu planejamento direcionado para as regies de melhor nvel s-cio-econmico da cidade, sem propostas paraatuao em vilas, favelas ou zonas rurais 1. Asgestes municipais no conseguiram integraraes ou remodelar as prticas levando emconta as prioridades locais de sade, planejan-do e organizando o servio com base em ope-raes integradas aos demais servios da redemunicipal, construindo um novo modelo quese aproxime da vigilncia em sade 2,15.

    O modo como se estruturam e se geren-ciam os processos de trabalho um dos temasmais problemticos para o setor sade 16. Afragmentao do trabalho, a gesto pouco de-mocrtica, a diviso entre os que pensam e osque executam tm favorecido a desresponsabi-lizao, o descompromisso e os acordos vela-dos entre os envolvidos nos servios 3.

    Vrios autores defendem formatos de ges-to que busquem a democratizao das insti-tuies, possibilitando a participao e o for-talecimento dos profissionais enquanto sujei-

    tos, o que acarretaria ganhos tanto na satisfa-o dos profissionais quanto para as institui-es e, principalmente, para os usurios dosistema 3,16,17,18.

    Impacto e consolidao das aes de vigilncia sanitria

    O modo de produo centrado na forma demercadoria mostra-se incapaz de se auto-regu-lar e tende a subtrair os direitos fundamentais sade e vida. O reconhecimento da vulne-rabilidade do consumidor no mercado de con-sumo de bens materiais e imateriais, gradati-vamente potencializada pela assimetria de in-formao, justifica e sustenta a obrigatorieda-de da regulao das prticas do mercado no in-teresse da sade humana e ambiental 19.

    Os profissionais relataram melhorias obti-das por meio das aes de vigilncia sanitria:Melhoramos a qualidade dos produtos e servi-os; d para fazer a comparao entre o antese o depois ... . Intensificamos a busca de carneclandestina nas Vilas? Para qu? Impedir que otrabalhador compre carne barata? No! Garan-tir ao trabalhador um produto de qualidade.

    Apesar da implantao recente dos serviosnesses municpios, os trabalhadores aponta-ram mudanas significativas, principalmenteno controle do comrcio de alimentos, ativida-de tradicionalmente desenvolvido pela vigiln-cia sanitria. Contudo, referiram igualmenteque o impacto das aes de vigilncia sanitriaprecisa ser ampliado; os profissionais revela-ram a sua preocupao com a parcialidade dasaes centradas no controle de produtos e ser-vios em detrimento dos outros determinantesdo processo sade-doena e a baixa efetivida-de junto populao carente, com pouca ounenhuma escolaridade.

    Depoimentos quanto pouca efetividadedas aes junto populao de baixa rendaocorreram nos trs municpios, porm foi maisenfatizada no municpio com menor IDESE. Osprofissionais expressaram sofrimento ao senti-rem-se impotentes frente impossibilidade documprimento de normas sanitrias, em decor-rncia da diversidade e gravidade dos proble-mas sociais, principais determinantes do pro-cesso sade-doena na periferia das cidades capacitados que foram para atuar como fiscaissanitrios. Notou-se tambm pouca experin-cia e iniciativa na articulao com outros seto-res/segmentos da prefeitura, rgos e entida-des governamentais e no-governamentais pa-ra a soluo de problemas locais. Os trabalha-dores acompanhavam as condies de higienede produtos e servios, disseminavam infor-

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    Cad. Sade Pblica, Rio de Janeiro, 22(5):1043-1051, mai, 2006

    maes, sugeriam formas de parcerias etc., mastinham conscincia e deixavam claro que seriapreciso bem mais. Os relatos ilustram essessentimentos: Muito trabalho informal, emqualquer fundo de quintal tem uma fabriqueta,todo mundo est desesperado sem dinheiro, semtrabalho...; as pessoas moram em reas invadi-das, reas verdes, sem saneamento bsico e labrem um mercadinho... o que fazer? Ir l fe-char? Orientar para que ele alcance um mni-mo de qualidade? Ento os estabelecimentos re-gulares reclamam que as normas existem s pa-ra eles!.

    Os trabalhadores expressam no desenvolvi-mento de seu trabalho no s questes objeti-vas, mas seu modo especfico de compreendere realizar seus projetos, seu jeito de enxergar avida, seus desejos, suas vontades, medos e afli-es, sua subjetividade. Recursos humanos emsade nada mais so do que gente que cuidade gente, isto , so pessoas que muitas vezesmantm relaes de troca de conveninciascom os usurios em situaes que as expres-ses de subjetividade se fazem presentes deambos os lados 14. A captura total do autogo-verno nas prticas de sade impossvel pelaprpria natureza tecnolgica desse trabalho.O trabalho vivo se expressa como autogovernoe tem sido e ser o lugar do novo e das possibi-lidades, estando aberto para o que nele h deindeterminado, do que se define em ato emproduo permanente, nos espaos das inter-seces, produes e consumo 16.

    Apesar da mecnica deformadora das esco-las, o funcionamento burocratizado dos servi-os e a dinmica individualista da sociedadeserem instncias que contribuem para distan-ciar o trabalhador do seu apego obra 20, oexerccio da autonomia revela-se na ao, notrabalho vivo em ato, principalmente no con-tato entre o trabalhador de vigilncia sanitriae o objeto de seu trabalho. Ali, apesar da legis-lao a ser cumprida normas sanitrias, nor-mas tcnicas, normas da instituio no en-contro do profissional com outros profissio-nais, com usurios ou representantes do setorregulado foi possvel constatar a atuao dotrabalhador enquanto sujeito e sua condiode profissional como potncia para a mudana podendo estabelecer relaes de orienta-o/punio ou de orientao/compromis-so/parceria na busca de maior qualidade doproduto, servio ou ambiente, criando novasmaneiras de acolher, orientar e se posicionarfrente aos usurios e aos problemas de sade,resistindo acomodao por meio de atos nodia-a-dia do trabalho, consolidando o serviode vigilncia sanitria.

    Os trabalhadores acreditam na relevnciadas atividades educativas e de comunicaoem sade para efetivar as prticas de vigilnciasanitria, e demonstraram que as aes nestesentido tm origem no esforo pessoal dosprofissionais. A elaborao de folders e carti-lhas, o oferecimento de palestras para escolas ecomunidades foram referidos como prticausual nos trs municpios, sendo que um delesse utilizava muito do jornal local para divulgaro servio e informaes em sade. Reconhe-cem que essas aes so insuficientes e preci-sam de maior investimento tanto na qualidadeda comunicao quanto na intensidade.

    Durante as observaes participantes com-provou-se o carter educativo dos trabalhado-res e a mudana de postura do fiscal/policialpara o orientador/parceiro na busca da quali-dade de vida. Foi possvel observar que no con-tato com o setor regulado, orientavam, faziamsolicitaes e s penalizavam em ltimo caso.

    A discusso, elaborao e proposio denormas sanitrias uma prtica de iniciativatambm dos profissionais que, perante a neces-sidade de regulamentao, estudam e propemnormas adequadas realidade local. Nesse sen-tido, os trabalhadores nos trs municpios apon-taram a necessidade urgente de mobilizaopara a reviso do Cdigo Sanitrio Estadual de1974, que necessita de atualizao, j que nosltimos trinta anos os avanos cientficos e asmudanas sociais so considerveis, necessi-tando de regulao sanitria compatvel.

    Consideraes finais

    H que se encontrar estratgias junto aos seg-mentos menos privilegiados da populao pa-ra fazer cumprir o to discutido princpio daeqidade. Questo que reflexiona a capacidadedo servio de vigilncia sanitria de atuar emdefesa da vida e no em resposta s demandasdos interesses econmicos. Uma possibilidadeque j se vislumbra angariar o envolvimentoda sociedade na defesa de sua prpria sade,desde a elaborao das normas sanitrias at ocontrole social das polticas pblicas de sade,mediante o investimento intensivo nas prti-cas de educao em sade por parte dos servi-os, contribuindo para tornar cada usurio umsujeito, um cidado mais autnomo e crtico,capaz de reivindicar seus direitos individuais ecoletivos e lutar por maior qualidade de vida.Ou seja, no basta certo grau de poder do Esta-do para controlar os setores produtivos; a vigi-lncia sanitria de responsabilidade do Esta-do, mas tambm da sociedade civil 21.

  • Garibotti V et al.1050

    Cad. Sade Pblica, Rio de Janeiro, 22(5):1043-1051, mai, 2006

    Apesar da Lei n. 9.782/99 22 que define oSNVS reservar esfera federal a definio daspolticas e diretrizes do sistema de vigilncia,no nvel municipal o gestor em conjunto comos trabalhadores pode reorganizar e otimizar asaes de vigilncia sanitria, reestruturando asprticas e o modelo de ateno sade de acor-do com o modelo de vigilncia da sade, j pro-posto por vrios estudiosos.

    A falta de condies adequadas de trabalhono pode ser usada como pretexto para o noexerccio da autonomia e do papel de sujeito

    de cada trabalhador, porm ela real e gerado-ra tanto de processos de acomodao e frustra-o, como tambm de processos criativos e es-tratgias de luta nos servios. A consolidaodos servios de vigilncia sanitria um pro-cesso em construo, porm avanos na reada sade requerem inovao e ousadia, seja pe-la atuao dos trabalhadores, seja pelo estmu-lo na renovao dos processos de trabalho tan-to na micro como na macroestrutura de gesto.Dar ouvidos a eles, os trabalhadores, eis umbom comeo para potencializar a mudana.

    Agradecimentos

    Aos trabalhadores da biblioteca da Escola de SadePblica, Rio Grande do Sul, por vossa prestimosa dis-ponibilidade de colaborao.

    Colaboradores

    Os autores contriburam igualmente em todas as eta-pas de elaborao do artigo.

    Resumo

    Este estudo teve como objetivo principal aprofundar oconhecimento sobre o papel e as possibilidades de con-tribuio dos trabalhadores na consolidao dos ser-vios de vigilncia sanitria em trs municpios da Re-gio Metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul,Brasil. Trata-se de uma pesquisa qualitativa que utili-zou como tcnicas o grupo focal e a observao parti-cipante. Os dados coletados foram sistematizados e ca-tegorizados por meio de anlise de contedo. Os resul-tados apontaram a precariedade da gesto dos servi-os de vigilncia sanitria estudados. Os principaisproblemas identificados foram deficincias na forma-o e capacitao dos profissionais, precrias condi-es de trabalho, falta de autonomia na alocao derecursos e de autogesto do trabalho, alm da priori-zao de aes de carter restrito, voltadas para o con-trole e fiscalizao de produtos e servios em detri-mento de uma atuao ampliada, dirigida para ou-tros determinantes do processo sade-doena. Apesardesta realidade, a maioria dos profissionais buscaqualificao por conta prpria e oscila entre a procurade alternativas para a superao das dificuldades emomentos de frustrao e desnimo.

    Vigilncia Sanitria; Gesto de Recursos; Trabalha-dores

  • TRABALHADORES DE VIGILNCIA SANITRIA 1051

    Cad. Sade Pblica, Rio de Janeiro, 22(5):1043-1051, mai, 2006

    Referncias

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    Recebido em 14/Set/2004Verso final reapresentada em 13/Set/2005Aprovado em 21/Out/2005