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Austin Osman Spare - Teoria Dos Sigilos

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AUSTIN OSMAN SPARE E SUA TEORIA DOS SIGILOS

Frater U.’.D.’.

Tradução: Yasmim

Sothis Publicações www.sothis.com.br

2004 e.v.

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AUSTIN OSMAN SPARE E SUA TEORIA DOS SIGILOS

Frater U.’.D.’.

O final do século XI X e início do século XX foi uma época caracter izada por mudanças radicais e grandes heres ias . A tradição s ecreta e o ocultis mo em geral foram tr iunfantes , e ex is tem boas razões para is so: o tr iunfo do mater ialismo pos itivis ta com a indus tr ialização de Manches ter começou a mos trar s ua pr imeira maldade, res ultando em um des locamento s ocial e ps icológico, a des tr ição da natureza j á tinha começado a render seus pr imeiros frutos envenenados . Em resumo, foi uma época propícia ao ques tionamento da crença na tecnologia e na onipres ença das famos as ciências naturais . Par ticularmente os intelectuais , ar tis tas e os tão conhecidos " boêmios " , tornaram-se defens ores dos valores cr íticos da civilização em geral, como pode ser vis to na literatura do Naturalismo, na ar te Expres s ionis ta e na totalidade do Movimento Decadente, que foi notór io nes sa época. Aus tin Os man S pare (1886-1956) foi uma típica cr iança des sa era, e após Aleis ter Crowley, foi definitivamente um dos mais interes santes ocultis tas e praticantes de Magia do mundo que falava o inglês . Hoj e em dia, ele é bas icamente conhecido somente nes se contexto cultural: 1. internacionalmente, ele tem recebido alguma atenção nos círculos literár ios , na melhor das hipóteses , como nota de rodapé. Es s a nota é encontrada no pioneir ismo de Mar io Praz, mas , infelizmente, no super ficial trabalho: " La carne, la morte, e il diavolo nella letteratura romantica" (T he Romantic Agony, Florença, 1930), onde é citado, j unto com Aleis ter Crowley, como " ocultis tas satânicos " . 2. e is so é tudo Entretanto, es se importante trabalho tem pelo menos levado a muitos pesquis a-dores em ocultis mo a s e familiar izar com a literatura de S pare. Comparada com a vida enigmática e infame de Aleis ter Crowley, a ex is tência de Aus tin Osman S pare cer tamente pareceu conveniente somente a uma nota de rodapé. Apesar de suas vár ias publicações após a virada do século, permaneceu praticamente desconhecido até o final dos anos 60. Ele nasceu em 1886, filho de um oficial da polícia de Londres , e sabemos muito pouco s obre sua infância. Alegou ter tido, ainda quando cr iança, uma es pécie de iniciação por uma velha bruxa, Mrs . Paters on, e até onde sabemos , deve ter s ido tipo uma wiccan. S pare encontrou sua vocação intelectual e cr iativa como ar tis ta e ilus trador e frequentou o Royal College of Ar t, onde logo ficou célebre como um promis sor j ovem ar tis ta. Mas ele se rebelou contra a car reira de clas s e média burgues a nas Ar tes . Descontente com o comercialismo, retirou-se do cenár io ar tís tico logo depois , apes ar de que ainda continou editando vár ias revis tas por um tempo. De 1927 até s ua morte, viveu vir tualmente como eremita mis ter ioso em um cor tiço em Londres , onde às vezes faz ia expos ições em um bar local. As pes s oas têm comparado sua vida a de H.P. Lovercraft, e cer tamente ele também foi um explorador dos níveis obscuros da alma. Por volta do início da Pr imeira Guer ra Mundial, dis tr ibuiu algumas edições publicadas pr ivativamente, e hoj e em dia alguém pode adquir ir , pelo menos na Grã-Bretanha, muitas reedições de seus trabalhos , geralmente altamente expres s ivas . De qualquer modo, nós temos interes se nos 2 volumes , is to é, seu famoso Livro do Prazer : A Ps icologia do Êxtase (Londres , 1913) e o excelente livro de pesquisas de Kenneth Grant, no qual ele como líder da OT O e um exper t em Crowley, também concordou com os aspectos

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práticos do s is tema de S pare. A real filosofia de S pare não será analisada em profundidade aqui, j á que não é realmente neces s ár ia para a teor ia da prática do s igilo e poder ia afas tar - se do as s unto des se es tudo. Antes de começarmos com a T eor ia dos S igilos de S pare, talvez sej a útil escrever algumas palavras sobre como os s igilos funcionam no trabalho mágicko. A Magia Ocidental é conhecida por se apoiar em 2 pilares pr incipais , denominados Vontade e I maginação. L igado a is so, ex is tem pensamentos análogos e imagens s imbólicas . Por exemplo, Agr ippa usa um s igilo es pecial para cada uma das inteligências plane-tár ias . Não s ão, como tem s ido s upos to por tanto tempo, cons truído arbitrar ia-mente, nem foram recebidos por " revelação" , mas s ão bas eados em cons iderações cabalís ticas . A Golden Dawn também us ou os s igilos como " imagens da alma" de entidades mágickas , que pos s ibilitavam ao magis ta es tabelecer contato com elas . Entretanto, as técnicas de suas cons truções não foram explicadas . O mesmo pode ser dito da OT O, sob a liderança de Crowley e da Fraternitas S aturni sob a de Gregor ius . O nome Agr ippa prontamente sugere o fato de que os s igilos mágickos têm uma longa tradição his tór ica, que não iremos discutir aqui, j á que poder íamos vir a encobr ir todo o complexo da iconologia oculta. Em geral, as pes soas cons ideram os s igilos como " cor retos " ou " incorretos " . Os gr imór ios da I dade Média foram muitas vezes algo a mais que " livros de receitas " (o sexto e o sétimo livro de Mos es , frequentemente cens urado, us a bas icamente o mes mo procedimento de " s elecionar os ingredientes , despej ar e mis turar " ) e s eus praticantes acreditavam no seguinte pr incípio: conhecer o " verdadeiro" nome e o " verdadeiro" s igilo de um demônio s ignifica ter poder s obre ele. A Magia Pragmática, que se desenvolveu nos reinos Anglo-S axões , reorganizou completamente es se conceito. Mesmo a revolta de Crowley na GD, à pr ior i a favor mas logo em seguida contra Mathers , é vis to como o real pr incípio da Magia Moderna. Cer tamente, não ser ia er rado dizer que Crowley foi um importante defensor do pens amento pragmático na Magia Moderna. Mas no final, o Mes tre T her ion prefer iu permanecer dentro do hierárquico s is tema Dogmático devido ao seu Aiwas s - revelação no Liber Al Vel Legis . S eu j argão: " Faze o que tu queres , há de s er o T odo da Lei. Amor é a Lei, Amor sob Vontade" , as s im como todo o seu conceito de T helema, provou seu Dogmatismo. Aus tin Osman S pare nem tanto. Ele pareceu der ivar da direção anarquis ta individual, tanto que podemos descrever sua filosofia, s em exageros imprópr ios , como um mis to de Lao-T se, Wicca e Max S teiner . A Magia I ngles a da virada do século também foi influenciada por uma importante ciência recente, que encon-trar ia s eus maiores tr iunfos após a S egunda Guer ra Mundial - a Ps icanális e de S igmund Freud. Antes dis s o, Í s is S em Véu e a Doutr ina S ecreta de B lavatsky, as s im como o Ramo Dourado de Frazer , deram impuls os importantes ao ocultismo em geral. A Ps icologia Comparativa da Religião de William James influenciou profundamente a intelectualidade des sa época, mas Freud, Adler e es pecialmente Car l G. Jung eventualmente penetraram nes sa área. A par tir dis so, as pes soas pas s aram a cons iderar o I ncons ciente como realidade. Es sa aparente digres são, que tinha s ido muito curta devido a falta de es paço, é na realidade uma bas e muito importante para a dis cus são que segue. Não analisaremos em profundidade aqueles por quem S pare foi influenciado. Lao-T se e S tirner têm s ido mencionados , mas devemos notar muitos outros , de S winburne a Crowley propr iamente dito, em cuj a Ordem, a A.'. A.'., S pare foi membro por um cur to per íodo. Além dis so, discutiremos seu maior empreendimento - sua inclinação ps icológica direcionada à Magia. I s so nos conduz irá à própr ia prática mágicka. No S is tema de S pare não ex is tem s igilos " cer tos " ou " er rados " , nem mes mo uma lis ta de s ímbolos j á prontos . E não importa s e um s igilo é o cor reto ou não, mas é crucial que tenha s ido cr iado pelo Magis ta, sendo, des sa forma, s ignificativo para

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ele(a). E j á que foi cons truído para uso pes s oal, o s igilo facilmente torna-se um catalisador para o desej o mágicko do Magis ta, e, às vezes , até mesmo des pertará es s e desej o em pr imeiro plano. Es se aces so Pragmático que domina a Magia Aglo-S axônica atual ( I s rael Regardie, Francis K ing, S tephen S kinner , W.B Gray, David Conway, Lemuel Johns tone, muitos nomes porém autores pouco relevantes ), vai mos trar que Aus tin Os man S pare, melhor que Aleis ter Crowley, dever ia ser cons iderado o verdadeiro Pai da Magia Pragmática Moderna. Nos países de idioma alemão, a s ituação é um pouco diferente. Escr itores como Quints cher , Gregor ius , Bardon, K lingsor e até mesmo S pies berger, permitem desvios , mas com pouco espaço para fazer manobras , quando cr iam coordenadas mágickas individualmente. Aqui, o adepto es tá contando cres cer dentro de um s is tema j á pronto ao invés de cons truir um. É um aces so completamente diferente e se tem valor ou não, não iremos discutir aqui. A coisa mais próx ima da Magia Pragmática, j á ex is tente em 1917 i.e 1921 ( a data da segunda edição revisada de s eu maior trabalho em magia como uma ciência exper imental ) foi S taudenmaier . Os trabalhos de Mahamudra, que tem recebido alguma atenção, são pr incipalmente da natureza des cr itiva e de acordo com as tradições e novas interpretações , portanto, permanecendo dentro do contexto da herança mágicka da Alemanha. T odavia, eles pres tam atenção nos res ultados recentes da ps icologia científica e são, por es s a razão, pelo menos parcialmente, relacionados ao Pragmatismo. A Magia Pragmática tornar -se-á mais e mais importante porque os Magis tas atuais têm que enfrentar um ambiente ps icológico cuj o relativis mo filosófico tem s ido moldado por todos nós , e continua s endo. Apesar da s ignificância ou a quantidade da verdade que uma pes s oa dê à Ps icologia/Ps icanálise, todos nós es tamos infiltrados por es s as formas de pens amentos e seus vocabulár ios . Por tanto, mesmo nós magis tas teremos que ter uma visão cr ítica e sens ível des se aspecto. S erá deixado para uma nova geração encontrar modelos diferentes de explicação, descr ição e prática. Como S pare procede na prática ? Os s igilos s ão des envolvidos pela fus ão e es til iza-ção das letras . Pr imeiro pas s o, uma s entença do des ej o tem que ser formulada. Vamos pegar o própr io exemplo que S pare dá em s eu Livro do Prazer , a declaração da intenção: É MEU DES EJO OBT ER A FORÇA DE UM T I GRE. Es sa sentença tem que ser es cr ita em letras maiúsculas . Após is so, todas as letras que aparecem mais de uma vez são cor tadas , para que somente uma de cada letra permaneça ( os as ter iscos s ignificam as letras que foram canceladas . T ambém iniciando a declaração da ins trução com É MI NHA VONT ADE, ao invés de É MEU DES EJO, pode ter maior eficácia ). E M I N H A V O * T * D * * B * * R * F * * Ç * * * U * * * G * * Por tanto, as s eguintes letras permanecem: EMI NHAVOT DBFÇUGR O s igilo é cr iado des sas letras , s endo permitido cons iderar , por exemplo o M como reverso do W, ou vis to de lado como o E. Consequentemente, es s as 3 letras não devem aparecer j untas . Claro, há inúmeras pos s ibilidades de representação e es til ização. De qualquer forma, o importante é que no final o s igilo s ej a o mais s imples pos s ível, com vár ias letras reconhecíveis (mesmo com uma leve dificuldade). A qualidade artís tica do s igilo é ir relevante, mas por razões ps icoló-gicas s imples , ser ia óbvio que você apenas não rabiscas se ou escreves se com pres s a. Você deve empenhar -se em fazer is s o da melhor maneira pos s ível. O s igilo final, será, à pr ior i, tentativas para cons truir , para depois ser fixado. Deve desenhar em um papiro, papel, na areia ou até na parede. De acordo com as breves ins truções

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de S pare, deve s er des truído após sua internalização. Por tanto, você tanto pode queimar o papel, apagá-lo da areia, etc. A idéia bás ica de S pare é que o s igilo, j unto com seu s ignificado, deve s er plantado dentro do I nconsciente. Mais tarde, a cons ciência tem que esquecer para que o inconsciente pos s a obedecer s ua direção codificada s em impecilhos . Quando o s igilo es tiver pronto, é ativado dentro da ps ique. Es sa é a a parte mais difícil do proces s o, e S pare dá apenas poucas suges tões em procedimentos práticos . Contudo, é crucial que o s igilo sej a internalizado em um tipo de transe. Pode s er feito em um es tado de eufor ia, em êxtas e (por exemplo, magickamente por mas turbação, intercurso s exual ou um r itual), ou em um es tado de fatiga fís ica. Pelo último exemplo, os olhos e os braços podem es tar cans ados devido ao fato do Magis ta tê- los dobrado por trás da cabeça, enquanto es tiver em frente a um espelho, olhando fixamente para sua imagem. O aspecto importante s er ia dar um es talo, s ignificando que o s igilo foi internalizado espamodicamente, que, claro, requer algum exercício e controle. Es se procedimento pode ser aux iliado pela repetição da sentença do desej o, r ítmica ou monotonamente, como um mantra, tornando-se mais rápido no decorrer do proces s o acompanhado de um olhar fixo para o s igilo. No nos so exemplo de olhar para um espelho (um espelho mágicko também pode ser usado) é útil desenhar o s igilo no es pelho com guache. Após a internalização espas módica, o s ímbolo deve ser des truído e deletado da mente cons ciente. Como mencionado anter iormente, de agora em diante será o I nconsciente que fará o trabalho. Em meu própr io trabalho prático, tenho descoberto que também pode ser útil ficar com o s igilo em você, como us ar um anel gravado com ele. Mas is so dependerá da preferência individual do Magis ta, e todos devem achar s eu própr io método. Ocas ionalmente, pode ser neces s ár io repetir todo o procedimento, especialmente s e o obj etivo for muito complicado, requerendo uma quantidade de energia fora do normal. Entretanto, a exper iência mos tra que é de suma importância não trazer para a cons ciência o s ignificado e o obj etivo do s igilo, em nenhum momento. Es tamos no final lidando com uma técnica s imilar à auto-suges tão. Entretanto, você não deve us ar fórmulas negativas , tais como " É MEU DES EJO NÃO..." , porque muito frequentemente o I ncons ciente nem reconhece e nem entende es se " não" , e você terminará obtendo o res ultado opos to daquele que or iginalmente desej ou. S e você olhar para um s igilo todos os dias , talvez na parede ou gravado pelo lado de fora de um anel, is so dever ia somente es tar inconsciente, j us tamente como alguém que não dever ia notar um obj eto cons cientemente que es tá em us o todo o tempo. Claro, você deve fazer s ua operação em segredo, discutí- lo com quem não acredita ou mesmo com amigos , dis s olver ia o poder do s igilo. As vantagens des se método, que s omente um resumo foi dado aqui, são óbvias . É sedutoramente fácil, e com apenas um pouco de prática pode s er feito à qualquer hora e em qualquer lugar . Não requer uma parafernália cara, círculos de proteção e Rituais de Pentagrama não são neces s ár ios ( apesar de que, às vezes , eles são úteis , especialmente com operações de proteção mágicka ). As pes soas com tendência a uma ins tabilidade ps íquica devem ter cuidado. Embora o limiar da es quizofrenia não sej a ultrapas sado com es se método, como nas evocações comuns , is so envolve um cor te profundo na ecologia da ps ique, um ato que deve ser cons iderado cuidadosamente em qualquer cas o. As consequências ps ico-mágickas s ão algumas vezes completamente incalculáveis . Como bem se sabe, o real problema com a Magia não é nem tanto a ques tão se funciona ou não, mas , como funciona. Usado com res pons abilidade, es se método oferece ao Magis ta uma fer ramenta que dá uma var iedade infinita de pos s íveis aplicações mágickas .

Ubique Daemon .'. Ubique Deus .'.

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