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Auto-afirmação, auto-expressão e banalização da técnica e da arte tornada possível pelas tecnologias informáticas Filipa Falcão Reis 7 de Abril de 2008 Trabalho realizado para a disciplina de Sociologia e Ética da Informática no contexto do Mestrado Integrado em Engenharia de Redes e Sistemas Informáticos

Auto-afirmação, auto-expressão e banalização da técnica e ...c0216020/Sociologia/sociologia.pdf · Em sentido lato, significa habilidade, destreza, agilidade. Em sentido estrito,

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Auto-afirmação, auto-expressão e banalização da técnica e da arte tornada possível pelas tecnologias informáticas

Filipa Falcão Reis • 7 de Abril de 2008

Trabalho realizado para a disciplina de Sociologia e Ética da Informática no contexto

do Mestrado Integrado em Engenharia de Redes e Sistemas Informáticos

Filipa Falcão Reis

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Auto-afirmação, auto-expressão e banalização da técnica e da arte tornada possível pelas tecnologias informáticas

Nos tempos actuais, a Web assume o papel de percussor das novas formas de arte, manifestações da criação artística contemporânea que utilizam tecnologias eletrónicas, digitais e/ou de telecomunicação. Assiste-se também ao crescimento das redes socias virtuais como um dos principais meios de distribuição, partilha e manifestação da criação artística, muitas vezes designada de media art. Isto implica mudanças radicais nas conceitualizações e reflexões estéticas, a elaborada rede de relações interdisciplinares requer um estudo dos fenómenos e das teorias que conduzem à sintopia da arte, a ciência e a tecnologia. Estas mudanças de paradigma, nomeadamente da obra de arte acabada para a obra de arte processo/aberta é de extrema importância, a crise do objecto artístico, leva os artistas a preocuparem-se menos com o objecto/obra de arte em si e mais com o processo, ou seja a maneira como a obra de arte se manifesta. E é neste contexto que as tecnologias informáticas dão um contributo importante, não só na manifestação artística, na partilha de conteúdos e na criação de comunidades sociais e artísticas, mas também na auto-afirmação e auto-expressão do indivíduo no seio de uma sociedade. As tecnologias informáticas dão poder ao indivíduo de se manifestar livremente e assumir uma posição, não só pessoal e social, mas também artística, de poder contextualizar-se e envolver-se numa sociedade, ainda que virtual. A prova disso é o crescente número de sites dedicados à construção de redes sociais (como o MySpace, o Hi5, ...) ou de comunidades dedicadas às mais variadas formas de arte (como o Deviantart ou o Olhares.com).

In Deviantart

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Introdução

A palavra arte vem do latim ars e corresponde ao termo grego techne, técnica, significando: o que é ordenado ou todo o conjunto de regras para dirigir uma actividade humana qualquer [1]. Em sentido lato, significa habilidade, destreza, agilidade. Em sentido estrito, instrumento, ofício, ciência. Ernst Gombrich, famoso historiador de arte, afirmou que “nada existe realmente a que se possa dar o nome de Arte. Existem somente artistas” [2]. No entanto, a definição de arte é resultado de um processo sócio-cultural e depende do momento histórico em questão, podendo variar bastante ao longo do tempo, sendo que o seu campo semântico se define por oposição ao acaso, ao espontâneo e ao natural. No sentido moderno, também podemos incluir o termo arte como a actividade artística ou o produto da actividade artística. Tradicionalmente, o termo arte foi utilizado para se referir a qualquer perícia ou mestria, um conceito que terminou durante o período romântico, quando a arte passou a ser vista como "uma faculdade especial da mente humana para ser classificada no meio da religião e da ciência" [3].

“A arte é a auto-expressão lutando para ser absoluta”. (Fernando Pessoa)

A auto-expressão está relacionada com a capacidade de um indivíduo dizer o que pensa, expressando o seu pensamento através de palavras, melodias, imagens, desenhos ou qualquer outra forma de expressão interior. Existem várias formas de cada indivíduo se expressar, por exemplo através da arte e das formas de arte, tais como a fotografia, a pintura, a música, a poesia ou ainda o cinema, entre outras. Esta capacidade de um indivíduo se auto-exprimir também está relacionada com o seu desejo de se auto-afirmar. O comportamento afirmativo é a força empreendida na reconquista dos valores humanos que permitem a criação de sociedades e a construção de personalidades. Quando alcançado proporciona um sentimento de dinamismo e satisfação, melhorando os relacionamentos individuais e possibilitando a realização interior. Esta realização interior, assim como na auto-expressão, pode ser alcançada através das mais diversas formas de arte (fotografia, pintura, desenho, música, escrita, ...). A arte, na sua essência, vista como mecanismo de auto-afirmação e propulsora da necessidade individual de auto-expressão.

Arte na era da estética digital

Os avanços tecnológicos contribuem decisivamente para a criação da acessibilidade entre o indivíduo que deseja apreciar arte e a própria arte. O indivíduo e a obra unem-se através de diversos meios, como a rádio (música), os museus (pinturas, esculturas, manuscritos e outros artefactos), a televisão e mais recentemente a Internet. Surgem, então, mudanças radicais no que diz respeito à condição do sujeito, à relação deste com o meio, à visão e compreensão do mundo e à crença tradicional na objectividade do universo e da realidade, levando à interligação das diversas disciplinas [4]. Como Vladimir Tatlin anunciava, em 1914, a nova relação entre técnica, arte e vida por meio do lema “a arte na técnica” [5], apostava-se na progressiva dissolução das barreiras que dividiam tanto as diferentes formas de arte entre si (artes plásticas, arquitetura, literatura, música, cinema, ...), como a arte da esfera da tecnologia. O método artístico vem, desde então, incorporando os chamados novos meios de expressão – inicialmente a fotografia (final do século XIX) e o cinema (início do século XX), mais tarde surge o vídeo e o computador (ambos com origem na segunda metade do século XX) – e os novos sistemas de telecomunicação – o mais antigo, o correio (remonta a 2400 A.C.), muito mais tarde o telefone (segunda metade do século XIX), depois a televisão (primeira metade do século XX) e finalmente a Internet (final do século XX).

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Estes novos meios de expressão e comunicação geram profundas transformações, nem sempre compreendidas ou aceites pela comunidade artística. A expansão do uso das tecnologias como ferramentas de arte colocou em evidência uma profunda e progressiva cisão entre a experiência artística, a crítica de arte e a estética [4]. A ruptura entre corpus teórico e prática artística gerou um paradoxo, que é, sem dúvida, um dos motivos da insistência na proclamação da “morte” da arte [4]. Esta ruptura com os limites do objecto e com a obra de arte acabada, evidencia a preocupação com a participação do público e a integração de suportes artísticos antes separados, estes são alguns dos elementos impulsionadores da produção artística a partir dos anos 50. A arte mistura-se com a vida e o público é convidado a ‘viver’ a obra [6]. Por outro lado, esta participação activa do público aponta para a ideia de processo, onde contrariamente às obras de arte tradicionais, a arte participativa é aberta, chamando o público a ‘participar’ do trabalho [6]. Esta mudança de paradigma dentro da história da arte (da obra de arte acabada para a obra de arte processo/aberta) é de extrema importância, a crise do objecto artístico, leva os artistas a preocuparem-se menos com o objecto/obra de arte em si e mais com o processo, ou seja a maneira como a obra de arte se manifesta. De certa forma, pode-se dizer que há uma espécie de revolução copernicana na história da arte: o enfoque desta arte é muito menos no objecto em si do que no processo, na maneira como a obra de arte se manifesta junto ao público [6].

Portanto, a utilização das tecnologias audiovisuais e da telecomunicação, como impulsionadoras de expressão artística, permite ir mais longe na ruptura com os paradigmas da estética tradicional e com os suportes ditos tradicionais. Por outro lado, explicita a tendência da arte de se conduzir à vida, trazendo objectos do quotidiano ao mundo da arte, partindo de premissas que originam novas concepções: a reação contra a teoria estética centrada na obra/objecto de arte e favorável à reflexão sobre o processo, o sistema e o contexto; a ampla interconexão entre as disciplinas; e, finalmente, uma redefinição dos papéis do autor e do observador [6].

Através do uso destas tecnologias o indivíduo pode agora auto-expressar-se e auto-afirmar-se perante uma comunidade, de uma forma directa, rápida e sobretudo variada. Actualmente, a Internet é o principal meio de distribuição de conteúdos e ferramentas em larga escala, é amplamente a forma mais dinâmica e eficaz do indivíduo se partilhar com o mundo, de se expor, de manifestar a sua individualidade e exibir o seu criacionismo. É neste contexto que surge a arte em meios digitais, muitas vezes denominada de media art, alvo de muitas discussões e ensaios. Exemplo disso é o ensaio “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, escrito pelo filósofo Walter Benjamin em meados do século passado [7]. Apesar de ter sido escrito há quase um século, serve ainda de “combustível” para as mais acesas discussões contemporâneas que dizem respeito às produções artísticas em formatos digitais [8]. Neste famoso ensaio Walter Benjamin tenta detectar as modificações estéticas trazidas às manifestações artísticas pelo advento da reprodutibilidade técnica. A tese da qual parte o filósofo é a de que na sociedade moderna há uma desintegração do valor aurático na manifestação artística [8]. A obra de arte não só se transforma, perdendo o seu status de unicidade e originalidade, envolvido numa dimensão espaço-temporal, como também há uma modificação na forma como o receptor e o artista se relacionam com a produção artística [8]. Toda esta discussão já é lugar comum no debate contemporâneo. Contudo não podemos negar as contribuições e a actualidade deste ensaio para se pensar nas modificações trazidas pelas meios digitais à prática artística contemporânea [8]. O momento da obra de arte na actualidade, no entanto, já não diz mais respeito somente à era da reprodutibilidade técnica, mas à era digital, a este momento histórico permeado pela revolução da informática e da sua confluência com os meios de comunicação [8].

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Dinâmica social na partilha de conteúdos multimédia online

A existência de tecnologias informáticas, que possibilitam ao indivíduo criar, divulgar e principalmente partilhar os seus conteúdos artísticos, constituem a alavanca propulsora para uma nova era de estética digital, onde a livre auto-expressão de indivíduos permite o contínuo crescimento da liberdade de expressão na comunidade global. O indivíduo está agora exposto ao mundo, conseguindo atingir as massas, graças à globalização tornada possível pelas tecnologias informáticas, podendo não só partilhar as suas criações artísticas mas também pertencer a uma comunidade virtual com a qual se identifica. Esta comunidade virtual de partilha de conteúdos multimédia só é possível devido à existência de sites de redes sociais virtuais. Estes sites apelam à auto-afirmação social de um indivíuo, proporcionando-lhe ferramentas para que estes o possam fazer. Podem ser sites temáticos e dedicados a uma disciplina da arte, como a fotografia, o design, ou apenas sites de auto-afirmação do indivíduo, que partilha os seus gostos, aventuras e criações artísticas com a comunidade global. Nos últimos dois anos tem-se vindo a verificar não só um aumento considerável do número destes sites, mas também um crescer de importânica, não só social, mas económica e cultural. Alguns exemplos deste fenómeno de massas são os sites do YouTube, Hi5 ou ainda o Orkut, entre outros, que permitem a partilha de vários tipos de ficheiros, desde video e audio a ficheiros de imagem e texto, com o objectivo de dar apoio à criação de uma rede social virtual dedicada a uma temática ou não.

Redes sociais virtuais e o seu impacto nos jovens adolescentes

Rede Social é uma das formas de representação de relacionamentos entre seres humanos ou entre seus agrupamentos de interesses mútuos. Uma estrutura em rede corresponde também ao que seu próprio nome indica: as partes integrantes ligam-se horizontalmente a todos os demais, directamente ou através dos que os cercam. O conjunto resultante é como uma rede de múltiplos fios, que pode espalhar-se indefinidamente para todos os lados, sem que nenhum dos seus nós possa ser considerado principal ou central, nem representante dos demais. Não há um “chefe”, o que há é uma vontade colectiva de realizar determinado objectivo [9]. Segundo Fritjof Capra, "redes sociais são redes de comunicação que envolvem a linguagem simbólica, os limites culturais e as relações de poder" [10]. As redes sociais são capazes de expressar ideias políticas e económicas inovadoras com o surgimento de novos valores, pensamentos e atitudes, proporcionando informação ampla a ser partilhada por todos, sem canais reservados e permitindo também a formação de uma cultura de participação, apenas possível, devido não só ao desenvolvimento das tecnologias de comunicação e informação, mas também à globalização, à evolução da cidadania, à evolução do conhecimento científico sobre a vida, entre outros [10].

As redes unem os indivíduos organizando-os de forma igual e democrática e em relação aos objectivos que eles possuem em comum, são responsáveis também pelos valores a serem compartilhados. Estas redes sociais estão hoje instaladas principalmente na Web, devido à sua capacidade de aceleração e ampla maneira das ideias serem divulgadas e também da absorção de novos elementos em busca de algo em comum. Actualmente vivemos num paradigma em mudança, não apenas na maneira como percepcionamos a sociedade em geral, mas mais na maneira em como as pessoas e as instituições estão ligadas [11]. Esta nova percepção social traduz-se na mudança das redes sociais físicas para as redes sociais virtuais, construídas online, num mundo virtual, sem tantas limitações, onde a realidade também é “virtual” e muitas vezes bastante diferente da realidade física. Este facto leva a que se definam novos

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contornos sociais e o impacto social destas redes sociais virtuais seja diferente do impacto de redes físicas, nomeadamente nos jovens, que são os principais utilizadores destes Web sites [11].

Frases como “If you’re not on MySpace, you don’t exist” (Skyler, 18 anos, conversando com a mãe) [12], ou ainda testemunhos como o de Vivien de 13 anos, são reveladores do profundo impacto que estas redes sociais virtuais têm nos jovens de hoje em dia:

“I'm in the 7th grade. I'm 13. I'm not a cheerleader. I'm not the president of the student body. Or captain of the debate team. I'm not the prettiest girl in my class. I'm not the most popular girl in my class. I'm just a kid. I'm a little shy. And it's really hard in this school to impress people enough to be your friend if you're not any of those things. But I go on these really great vacations with my parents between Christmas and New Year's every year. And I take pictures of places we go. And I write about those places. And I post this on my Xanga. Because I think if kids in school read what I have to say and how I say it, they'll want to be my friend.” – Vivien, 13 anos, durante um meeting da “Teen Angels” [13]

Durante 2005, websites de redes sociais virtuais como o MySpace e o Facebook tornaram-se muito comuns entre os jovens americanos. Um pouco por toda a América, jovens e adolescentes criaram perfis, adicionaram amigos, escreveram extensos comentários e adicionaram fotografias. No início de 2006, muitos deles consideraram a participação no MySpace como essencial para ser-se visto como fixe na escola. Esta participação por parte dos jovens é uma forma de se auto-afirmarem, usando este tipo de sites para exporem desde as suas ideias às suas criações artísticas, constituindo assim ferramentas online para a auto-expressão de indivíduos. Embora nem todos os jovens tenham aderido a estas redes sociais virtuais, estas desenvolveram-se bastante rápido num curto espaço de tempo e apesar de ter passado a euforia inicial, são ainda muito importantes dentro da comunidade jovem americana, sendo uma importante parte das suas vidas sociais [14].

Breve resumo histórico da criação das redes sociais virtuais

O primeiro site, em 1997, a combinar as seguintes características: criar e gerir perfis, listar e adicionar amigos e visualizar outros perfis, foi o SixDegrees.com [15]. Evidentemente que estas características já existiam antes, mas o SixDegrees.com foi o primeiro a agrupa-las num único site, promovendo-se como uma ferramenta para ajudar os indivíduos a ligarem-se entre eles, fazendo amizades e a enviarem mensagens dentro da sua rede. Apesar do SixDegrees.com atrair milhões de utilizadores, não conseguiu tornar-se um negócio sustentável e em 2000, o serviço fechou. O seu fundador (A. Weinreich) apontou razões para este insucesso, numa comunicação pessoal em Julho de 2007: ele acredita que a principal causa foi que o SixDegrees.com estava muito à frente do seu tempo [15]. Apesar da maioria das pessoas andar nessa época empenhada em conhecer novas pessoas, nomeadamente através dos chatrooms, uma grande parte não possuía uma rede de amigos online. Utilizadores do serviço, na altura, queixaram-se que depois de aceitar amigos, não havia muito que fazer e não estavam interessados em conhecer estranhos [15].

Depois dessa época e apesar de existirem muitos sites que seguiram esta ideia de criação de redes sociais virtuais, podemos apontar o Friendster como sendo o mais popular e talvez aquele que deixou um impacto mais demarcado. Lançado em 2002, como um site de namoro e amizade, o Friendster rapidamente se tornou popular entre os jovens com idades entre os 20 e os 30 anos, residentes nos

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Estados Unidos [14]. Embora uma grande parte dos utilizadores registados no site tenham-no utilizado com o propósito de encontrar potenciais companheiros(as), outros foram os que utilizaram o site para encontrar antigos colegas de escola ou ainda criando perfis fictícios para puro divertimento [16]. No Verão de 2003, algumas bandas de San Francisco (EUA) perceberam que podiam utilizar o site para se promoverem e divulgarem os seus concertos [17]. Os administradores do Friendster proibiram esta prática, começando por apagar os conteúdos dos perfis destas bandas ou de qualquer perfil denominado “falso”. Foi então que lentamente começou o declínio do site e o afirmar de outros. Quando o MySpace foi lançado no Outono de 2003, a atitude foi diferente, estes rapidamente perceberam a potencialidade e oportunidade de negócio e acarinharam as bandas de música online, o que atraiu a atenção de músicos de rock indie de Silverlake em Los Angeles [14]. À medida que as bandas começaram a promover-se no MySpace, estas atraíram a atenção de muitos fans desejosos em ter acesso a conteúdos e regalias através do site. Isto levou a um aumento muito rápido do número de utilizadores do site que desejavam ser “amigos” dos elementos das suas bandas favoritas. Os mais aficcionados da música adoraram o facto de poderem ouvir e fazer download das suas músicas favoritas e também a interacção que as bandas tinham com os fans. Esta interacção proporcionada pelo site, onde os fans escreviam e os músicos respondiam, tornou-se numa relação simbiótica, conectando os fans e as suas bandas favoritas [14]. Enquanto esta primeira vaga de utilizadores aderiu ao site devido ao seu gosto pela música, os que depois vieram aderiram por este ser muito popular e por verem uma oportunidade para pertecerem a uma rede social virtual e serem populares. Contudo, os adultos acharam mais valorizante socializar com estranhos, enquanto que os jovens preferiram socializar com pessoas que conhecem pessoalmente ou celebridades que eles venerem.

Em 2005, o MySpace era um site muito popular entre estudantes do ensino secundário um pouco por todo os EUA, embora outros sites eram mais populares em jovens de outros países e o Friendster devido aos inúmeros sites concorrentes começou a perder a popularidade [14]. Redes sociais virtuais como as dos sites Orkut e Hi5, que inicialmente eram mais populares entre adultos no Brasil e na Índia, começam agora a atrair mais utilizadores de outros países, sobretudo os mais jovens. O Facebook, um site americano dedicado a redes sociais universitárias, em Setembro de 2005 extende os seus conteúdos às escolas secundárias, pretendendo assim atingir um público ainda mais jovem. Foram também lançados noutros países sites com o propósito de atrair a atenção dos jovens, onde podemos destacar os seguintes: Bebo, Piczo, Faceparty e Mixi, todos lançados tendo em conta os mais jovens e em países como Inglaterra, Nova Zelândia, Austrália e Japão [14].

Sites pré-existentes de comunidades pequenas ganharam mais força, como o Black Planet ou o MiGente, que implementaram novas ferramentas por forma a alcançar os mais jovens, permitindo-lhes construir uma rede social dentro da comunidade com que mais se identificam. Na Coreia o popular site Cyworld implementou um serviço de mensagens instantâneas com ferramentas de construção de redes sociais.

A maior parte dos sites é administrado por empresas pequenas e em início de activade. Algumas excepções são os sites da Cyworld, que é propriedade da SK Telecom (o maior operador móvel na Coreia do Sul), o Orkut que começou como sendo um projecto paralelo da Google, mas que ainda antes de ser lançado tornou-se mesmo num projecto Google [14]. Empresas como a Microsoft, Yahoo!, AOL e Wal-Mart também criaram as suas versões de redes sociais virtuais, mas sem sucesso aparente [14]. Em 2005, a Fox Interactive Media (um departamento do Murdoch’s News Corporation) comprou o MySpace por US $580M, e desde então tem apresentado poucas mudanças, mantendo o mesmo design e actualizando apenas as ferramentas [14].

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Embora existam dezenas de sites de redes sociais, a participação tende a estar relacionada com questões culturais e de linguística, existindo portanto várias comunidades dentro da grande “aldeia global”. Essencialmente estas redes sociais virtuais são uma espécie de sites de comunidade com ferramentas que geram perfis, adicionam amigos e comentários, entre outros recursos multimédia. Estas redes podem também ser dedicadas a uma temática particular, como a fotografia, ou então mais generalistas e dedicadas à partilha de opiniões e comentários.

In Social Network Sites: Definition, History, and Scholarship

Barra cronológica da criação de redes sociais virtuais

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Perfis, amigos e comentários

Sites de redes sociais baseiam-se na construção de perfis, estes constituem uma espécie de home page dedicada a um indivíduo ou a um grupo, permitindo a descrição personalizada de cada membro. Estes sites permitem ao utilizador adicionar texto, imagens e videos, possibilitando assim a outros utilizadores comentarem os conteúdos adicionados. Também permitem a elaboração de uma lista de amigos, dando a possibilidade ao utilizador de construir a sua rede social personalizada. Devido ao facto de muitos destes sites terem origem em sites dedicados a relacionamentos e encontros amorosos, ainda contêm material dentro dos perfis dos utilizadores típico de tais origens: detalhes demográficos (idade, sexo, localidade, estado civil, ...), gostos (interesses, música/livros/filmes favoritos, ...), fotografias e uma descrição personalizada do tipo de pessoas que gostariam de conhecer [14]. Estes perfis são construídos através de formulários disponíveis nos sites, desenhados para controlar o layout do conteúdo, mas sites como o MySpace deixaram acidentalmente um erro nos seus formulários ao permitirem que os seus formulários aceitem e traduzam código HTML e CSS. Os utilizadores podem aproveitar-se deste erro acidental para modificarem o look dos seus perfis, bastando copiarem e colarem código de outros sites, os adolescents podem mudar os seus backgrounds, adicionarem videos e imagens, mudarem a cor do texto, entre outras opções permitidas pelo código HTML e CSS, transformando assim os seus perfis numa explosão dinâmica assim como o caos que são os seus estériotipados quartos [14]. Também estão previstas políticas de acesso aos perfis, sendo que por defeito o perfil de um utilizador é publico, permitindo depois ao utilizador definir quem pode ver o quê.

Depois de criarem um perfil, os utilizadores são incentivados a adicionarem amigos. Este processo é realizado um pouco como no protocolo TCP quando ocorre o three-way handshake, é enviado um pedido ao utilizador do qual se pretende ser amigo, este responde afirmativamente ou não. Se a resposta for afirmativa estabelece-se uma ligação de amizade e os utilizadores envolvidos são notificados, caso a resposta seja negativa, não se estabelece nenhuma ligação, sendo que ambos são também notificados. Estas ligações da rede de relacionamentos de cada utilizador são visualizadas no site através das respectivas fotografias e nicknames, bastando apenas clicar na fotografia para rapidamente aceder ao perfil do utilizador da rede de amigos seleccionado. Outra opção disponibilizada é a secção de comentários, onde os utilizadores podem escrever algo dedicado aos seus amigos.

Embora muitos outros sites incluam outras opções, as principais continuam a ser apenas três – perfis, amigos e comentários, estando visíveis ao público em geral, constituindo assim os principais alvos de pesquisa no contexto das redes sociais virtuais.

In Hi5.com

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Lista de redes sociais na Web (fonte Wikipedia)

Designação (por ordem alfabética)

Idioma Descrição/Foco Número de Membros

Registo

Vários Amizades, videos, fotos, música, blogs,

messenger, videochat, phone, forum. 1,000,000 Aberto

Inglês Listar objectivos, partilhar resultados e animar os amigos. Tagging.

627,000 Aberto

Inglês Blog, fotos, videos e forúns destinados a Mediadores Imobiliários.

5,374 Aberto

Vários Classificados pessoais, vários países. 1,000,000 Aberto

Inglês Blog, fotos, música, videos e forúns destinados à comunidade Afro-Americana.

18,000,000 Aberto

Inglês Amizades, videos, fotos, música, blogs. 22,000,000 Aberto

Inglês Entusiastas de automobilismo. 1,600,000 Aberto

Inglês Blog, fotos dedicadas à Vida verde, saúde, direitos humanos e activismo.

8,695,482 Aberto

Inglês Blog, fotos dedicadas a redes sociais de escolas, faculdades e serviço militar.

40,000,000 Aberto

Coreano, chinês, japonês

Amizades, videos, fotos, música, blogs. 15,000,000 Aberto

Inglês

Rede social dedicada à fotografia e arte digital.

1,000,000 Aberto

Inglês Maior rede social de estudantes nos EUA. 58,000,000 Aberto

Vários Antiga rede social Facebox. Amizades, videos, fotos, música, blogs.

28,000,000 Aberto

Inglês Amizades, fotos, blogs. 5,900,000 Aberto

Vários Partilha de fotografias. 4,000,000 Aberto

Inglês Amizades, videos, fotos, música, blogs. 29,100,000 Aberto

Vários Amizades, videos, fotos, música, blogs. 8,000,000 Aberto

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Vários Amizades, videos, fotos, música, blogs. 50,000,000 Aberto

Vários Amizades, videos, fotos, música, blogs. 2,311,790 Aberto

Húngaro Amizades, fotos, blogs. 1,500,000 Por Convite

Inglês Reencontro e procura de colegas e ex-colegas de profissão ou escola.

8,500,000 Aberto

Inglês Amizades, fotos, blogs. 10,921,263 Aberto

Sueco Amizades, videos, fotos, música, blogs. 1,200,000 Aberto

Inglês Amizades, videos, fotos, música, blogs

destinado a Latinos. 3,600,000 Aberto

Japonês Amizades, videos, fotos, música, blogs. 5,000,000 Por Convite

Vários Amizades, videos, fotos, música, blogs,

messenger, videochat, phone, forum. 130,000,000 Aberto

Português

Rede dedicada à fotografia e à partilha de conteúdos fotográficos.

15,000 Aberto

Vários Amizades, videos, fotos, música e blogs, filiado ao Google.

120,000,000 Aberto

Vários Amizades, videos, fotos, música e blogs. 10,000,000 Aberto

Inglês Amizades, fotos e blogs destinado a

pessoas Índianas. 1,400,000 Aberto

Inglês Localização de Amigos e Família. 25,000,000 Aberto

Inglês Viagens & Estilo de Vida. 7,000,000 Aberto maiores de 18

anos

Vários Blogging (antigo MSN Spaces). 30,000,000 Aberto Utiliza ID

Windows Live

Inglês Amizades, videos, fotos, música, blogs,

messenger, videochat, phone, forum. 40,000,000 Aberto

Inglês Amizades, videos, fotos, música, blogs e forum, ligado às IDs do Yahoo!

4,700,000 Aberto maiores de 18

anos

Inglês Amizades, fotos e partilha de videos. 79,000,000 Aberto

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A promoção da auto-expressão livre na Web – YouTube um exemplo

YouTube - Broadcast yourself

O YouTube é um site dedicado à partilha de videos, onde os utilizadores podem fazer upload, visualizar e partilhar clips de video. O YouTube foi criado em Fevereiro de 2005 por três antigos empregados da PayPal [18]. Este serviço utiliza tecnologia Adobe Flash para disponibilizar uma grande variedade de videos (clips de filmes, trailers, video clips, videoblogging e todo o tipo de videos originais) criados pelos utilizadores. Em Outubro de 2006, a Google Inc. anunciou que tinha chegado a acordo para adquirir a empresa por US$1.65 biliões em acções Google, acordo esse que ficou fechado a 13 de Novembro de 2006 [18]. Os utilizadores não registados podem visualizar a maior parte dos videos disponibilizados pelo serviço, enquanto os utilizadores registados podem fazer um número ilimitado de video uploads. Alguns dos videos são catalogados com conteúdo potencialmente ofensivo e por isso apenas disponibilizados a utilizadores com idades superiores a 18 anos. Videos com conteúdos pornográficos, de nudez, difamação, assédio, anúncios publicitários ou que promovam a violência são desde logo proibidos. Foi adicionada a opção de comentar os videos e de subscrever canais de utilizadores.

Existem poucos dados estatísticos sobre o número de videos existentes no YouTube. Contudo em Julho de 2006, a empresa revelou que mais de 100 milhões de videos eram visualizados diáriamente e 2.5 biliões de videos foram visualizados em Junho de 2006 [18]. 50,000 videos foram adicionados por dia durante o mês de Maio de 2006, e em Julho houve um aumento para 65,000 videos [18]. Em Janeiro de 2008, quase 79 milhões de utilizadores visualizaram mais de 3 biliões de videos no YouTube [18].

O nascimento de artistas através da Web

A popularidade do YouTube levou ao nascimento de muitas celebridades Web (indivíduos muito populares que atraíram muita publicidade nos seus países e não só devido aos seus videos). Para alguns utilizadores, a fama na Web levou-os a resultados inesperados, passando as barreiras da media tradicional. Para muitos foi o início de uma carreira que de outro modo não seria possível.

A antiga recepcionista Brooke Brodack (username Brookers) de Connecticut (EUA) foi contratada por uma das estrelas da NBC, Carson Daly, em Junho de 2006 [19]. Brodack foi uma das primeiras individualidades a transitar do YouTube para a TV. Outra descoberta igualmente famosa foi a do blog fictício da lonelygirl15, que agora sabe-se ser criação da actriz da Nova-Zelândia Jessica Rose e de alguns realizadores [19]. Em 2007, uma vocalista e compositora holandesa, Esmée Denters (username esmeedenters) assinou um contrato para gravar um disco com a editora de Billy Mann a Tennman Records, baseado nas suas performances no YouTube [19]. Em Janeiro de 2007, a Fox anunciou que Lisa Donovan (username LisaNova) seria membro do elenco da série de sketchs cómicos MADtv, durante a 12º Temporada [19]. Terra Naomi (username terranaomi) assinou pela editora de discos Island Records, um departamento da Universal Music Group [19]. Ysabella Brave (username ysabellabrave e ysabellabravetalk) assinou em 2007 pela editora de discos Cordless Recordings, um departamento da Warner Music Group [19]. Cory Williams (username Mr. Safety of smpfilms) é agora o anfitrião do primeiro show televisivo passado na TV Americana sobre video bloggers, The FIZZ no canal DirecTV channel 101 [19]. O show está no ar desde Setembro de 2006 e Williams já apareceu no The Tonight Show com o Jay Leno, no MTV Scarred, e também em alguns video clips musicais (Bloodhound Gang e Against

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Me!). Chris Crocker, um super fan da Britney Spears, colocou no YouTube um video onde fala dos problemas da cantora com o seu casamento e com a luta pela custódia dos filhos, chorando durante quase todo o video, com o título "LEAVE BRITNEY ALONE!" [19]. Este video foi alvo de paródias por parte de muitos utilizadores, shows televisivos e em filmes como Meet the Spartans.

Lista de celebridades do YouTube (fonte Wikipedia)

Fotos Utilizadores Notas

Aaron Yonda e Matt Sloan

Chad Vader - Day Shift Manager é uma série produzida pela Blame Society Productions que ganhou popularidade quando 6 milhões de utilizadores viram o primeiro episódio no YouTube. Originalmente foi concebida para o canal de TV Channel 101, mas depois foi cancelada após dois episódios. Os seus criadores continuaram a gravar e a publicar os demais episódios no YouTube e outros sites dedicados aos videos.

Anthony Padilla e Ian Hecox

Smosh é uma dupla de universitários americanos, Anthony e Ian, de Carmichael na California, famosos pela sua escrita, performance, edição e realização de sketchs e videos músicais. O video "Pokémon Theme" é o mais famoso dos Smosh, mas em Junho de 2007, foi removido devido à lei do copyright invocada pela Shogakukan. O video "Smosh Short 2: Stranded" ganhou o prémio YouTube Award para melhor comédia em 2006.

Brooke Brodack Brooke Allison "Brookers" Brodack nascida em Putnam, Connecticut (EUA) é uma

amadora realizadora de videos cómicos colocados no YouTube.

Cory Williams

Mr. Safety é uma personagem que actua nos videos cómicos ou musicais que este realiza. Desde Dezembro de 2007 Williams fundou um canal no YouTube chamado "smpfilms", que conta já com mais de 81,000 subscritores e mais de 34 milhões de visualizações. O video mais popular é o "The Mean Kitty Song", que já foi transmitido no programa da CBS “The Morning Show” e noutros shows televisivos.

Chris Crocker

Chris Crocker é uma personagem famosa na Web que se descreve como uma "edutainer". Produz e encena videos colocados no YouTube e onde finge ser uma rapariga adolescente de uma cidade pequena do sul dos EUA.

Esmée Denters

Esmée Denters é uma cantora que foi descoberta no YouTube através dos videos que colocava, onde cantava versões de músicas conhecidas. A sua voz magnífica valeu-lhe um contrato para gravar um disco na editora Tennman Records liderada pelo cantor Justin Timberlake, com o qual cantou durante a sua digressão no tour europeu de 2007.

Jessica Lee Rose (lonelygirl15)

Jessica Lee Rose é uma actriz da Nova-Zelândia que ganhou popularidade depois de interpretar o papel de Bree com o nick lonelygirl15, uma adolescente fictícia que produz um video log a partir do seu quarto, para o YouTube.

Lisa Donovan

Lisa Donovan é uma escritora e actriz Americana, que através dos seus pequenos filmes cómicos produzidos por ela obteve a atenção de todos os utilizadores do YouTube. Fundou uma produtora em Los Angeles, California chamada Zappin Productions, especializada em viral videos.

Terra Naomi Terra Naomi é uma cantora rock, que ganhou popularidade graças ao seu video onde

actua a canção "Say It's Possible", colocado no YouTube.

Ysabella Brave

MaryAnne Ysabella é uma cantora americana de origem portuguesa, que foi descoberta graças aos seus videos colocados no YouTube, valendo-lhe um contrato com a editora de discos Cordless Recordings, um departamento da Warner Music Group.

Filipa Falcão Reis

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Suportes e tecnologias utilizadas na auto-expressão de indivíduos

Desde sempre as nossas formas e estilos de vida, o nosso modo de trabalhar e de descansar estiveram condicionados às técnicas e tecnologias utilizadas, nunca sendo uma variável determinista mas sim uma variável condicionante [20].

Blogs

Um weblog, blog ou blogue é uma página Web cujas actualizações (chamadas posts) são organizadas cronologicamente de forma inversa (como um diário). Estes posts podem ou não pertencer ao mesmo género de escrita, referir-se ao mesmo assunto ou ter sido escritos pela mesma pessoa [21]. Através do poder da escrita os utilizadores registados em weblogs podem exercer o seu direito de liberdade de expressão ou simplesmente partilhar com os membros da comunidade virtual onde estão inseridos, as suas criações literárias. Para isso , o weblog conta com algumas ferramentas, que permitem classificar informações técnicas a seu respeito, como: o registo de informações relativas a um site ou domínio na Web quanto ao número de acessos, páginas visitadas, tempo gasto, de qual site ou página o visitante veio, página actual e uma série de outras informações, sendo que o mais importante é o registo cronológico das entradas (posts). Estas ferramentas permitem, então aos utilizadores criar e editar o seu weblog, tornando-se estes num sistema muito atractivo pela facilidade que oferecem, pois dispensam o conhecimento de HTML, podendo qualquer pessoa estar apta a criá-los. A Deutsche Welle premia a cada ano os melhores weblogs internacionais em onze categorias no evento The Bobs - Best of Blogs [21].

Jorn Barger, autor de um dos primeiros FAQ - Frequently Asked Questions, foi o editor do blog original [robotwisdom http://www.robotwisdom.com/], concebendo o termo - "weblog" - em 1997, definindo-o como uma página da Web onde um diarista (da Web) relata todas as outras páginas interessantes que encontra [21]. Hoje em dia o objectivo de um weblog é mais generalista, podendo ser simplesmente um site para partilha de pensamentos, comentários ou criações literárias, eventualmente pode ter uma temática a alimentar a concepção do weblog. O termo foi alterado por Peter Merholz, que decidiu pronunciar "wee-blog", e mais tarde o encurtamento para o termo definitivo "blog".

In Blogger

Filipa Falcão Reis

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Fotografia

A Fotografia é uma técnica de gravação por meios mecânicos e químicos ou digitais, de uma imagem numa camada de material sensível à exposição luminosa, designada como o seu suporte [22]. Embora, muitos não a consideram arte, por ser facilmente produzida e reproduzida, a sua verdadeira alma está em interpretar a realidade, não apenas copiá-la [22]. Nela há uma série de símbolos organizados pelo artista e o receptor interpreta-os, completando-os com mais símbolos do seu repertório, imprimindo-lhe os seus sentimentos e absorvendo-a na sua sensibilidade. Através da captação de imagens, o indivíduo pode expressar tudo o que assim desejar, contudo tirar fotografias não é apenas carregar no botão, tem de haver sensibilidade, registando um momento único, singular. O fotógrafo recria o mundo externo através da realidade estética [22]. Muitas vezes diz-se que uma fotografia vale mais que mil palavras, e assim o é, quando a realidade aparente é captada através das lentes de uma máquina, o mundo reflectido num pedaço de papel, ou seguindo a mais recente tecnologia da fotografia digital, a vida reproduzida pixel a pixel. A fotografia digital veio permitir com que o processamento de imagens fosse mais rápido, instantâneo, possibilitando a todas as pessoas que possuíssem uma máquina fotográfica digital experenciar o poder da fotografia, no dia-a-dia ou apenas em momentos para mais tarde recordar. Aplicações de software para gerar albúns fotográficos online ganham agora muita importância. São fáceis de utilizar, usando a tecnologia drag-and-drop, onde basta arrastar os conteúdos e largá-los no sítio onde pretendemos que estes fiquem. Assim, qualquer pessoa é capaz de criar um album digital, rapidamente e com facilidade, podendo depois partilha-lo na sua comunidade na Web, se assim o desejar.

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Música

A música consiste numa combinação de sons e de silêncios, numa sequência simultânea ou em sequências sucessivas e simultâneas que se desenvolvem ao longo do tempo [23]. Neste sentido engloba toda combinação de elementos sonoros destinados a serem percebidos pela audição, incluindo variações nas características do som (altura, duração, intensidade e timbre) que podem ocorrer sequencialmente (ritmo e melodia) ou simultaneamente (harmonia). Ritmo, melodia e harmonia são entendidos aqui apenas no seu sentido de organização temporal, pois a música pode conter harmonias ruidosas (que contém ruídos ou sons externos ao tradicional) e arritmias (ausência de ritmo formal ou desvios ritmicos) [23]. A música é considerada por diversos autores como uma prática cultural e humana e pode ser considerada como uma forma de arte, quando bem elaborada, como uma forma de um indivíduo se auto-exprimir através de sons e silêncios, acompanhada ou não de palavras ou canticos. A existência de formatos de música digitais como o mp3, veio possibilitar a fácil circulação de música na Web. Existem ferramentas disponíveis na Web que permitem aos utilizadores elaborarem playlists online, construindo eles próprios as suas colectâneas, estando estas sempre disponíveis na Web, permitindo-lhes construir a banda sonora da sua vida, auto-expressando o que sentem, os seus estados de espírito através de uma melodia musical, partilhando-a com o mundo.

Filipa Falcão Reis

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Video

O video é uma das mais populares formas de expressão e afirmação utilizada pelo utilizadores da Web, pois este junta a visualização de imagens, animadas ou estáticas ao som ou sonorização. É uma das maneiras mais faceis de comunicar, mas também pode ser vista como uma forma de arte, quando concebido para tal. Nos últimos anos, a Web multiplicou e enriqueceu os seus conteúdos com videos no seu formato digital, contudo, o video não é uma novidade na Web, pois muitos sites já se dedicavam a fazer streaming de video há mais de uma década. No entanto, até recentemente o tipo de videos que passavam na Web eram produzidos e distribuídos profissionalmente. O video digital era visto como o cinema, ou seja, uma forma de arte que podia ser executada apenas por um grupo restrito de pessoas dedicado à produção cinematográfica. Esta abordagem mudou radicalmente nos últimos dois anos, o video no seu formato digital serve agora de ferramenta ideal para os mais variados propósitos artísticos, estando ao alcance de qualquer indivíduo com uma câmara digital. A ideia é mesmo “broadcast yourself”, transmitir-nos a nós próprios através da Web, de nós para o mundo, usando as tecnologias informáticas como uma janela onde todos nos podem ver. A Web passou a ser, não só o principal meio de distribuição de videos no formato digital, mas também um meio para a edição e partilha de conteúdos de video online. Hoje em dia existem centenas de sites que permitem aos utilizadores fazer upload, visualizar, partilhar, expor e re-editar os seus videos, permitindo assim auto-expressarem-se e auto-afirmarem-se perante uma comunidade global onde estão inseridos.

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Filipa Falcão Reis

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Conclusão

Os indivíduos pertencentes a uma determinada comunidade são de alguma forma condicionados na sua vida social e cultural pelas tecnologias informáticas. Estas são amplamente divulgadas e de fácil acesso, tornando-se mesmo essenciais no dia-a-dia de um indivíduo. Esta atmosfera condicionante transformou o conceito de arte, introduzindo mesmo uma nova forma de arte tornada possível por estas tecnologias, a media arte. Futuramente estima-se que este fenómeno da media arte aumente ainda mais, sobretudo ao nível dos mais jovens, que encontram maneiras sempre criativas de se expressarem artísticamente. Esta nova forma criou um paradigma dentro da própria história da arte, mudando a noção da obra de arte acabada para a obra de arte em processo, aberta ao público, de certa forma convidando o público a participar na criação da obra de arte. Mudam-se os conceitos, mudam-se objectos artísticos, mudam-se os autores e os artistas, mudam-se as ferramentas artísticas, passando de telas, pincéis, folhas, canetas, tintas, réguas, lápis, compassos, barro, mármore, cera, calcário, pianos, violinos, luzes, câmaras, lentes, fitas, tesouras, sprays, colas, cadernos, pautas, a isto ...

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Filipa Falcão Reis

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Referências

[1] Wikipedia – Arte. Disponível no URL: http://pt.wikipedia.org/wiki/Arte. Acedido em Março 2008.

[2] Gombrich, Ernst. "Press statement on The Story of Art". The Gombrich Archive, 2005. Disponível no URL: http://www.gombrich.co.uk/showdoc.php?id=68. Acedido em Março 2008.

[3] Wapedia – Arte. Disponível no URL: http://wapedia.mobi/pt/Arte. Acedido em Março 2008.

[4] Giannetti, Claudia. Estética Digital – Sintopia da arte, a ciência e a tecnologia. C/Arte, Belo Horizonte, 2006.

[5] Tatlin, Vladimir. Retrospektive. Koln: DuMont Buchverlag, 1993, p.35.

[6] Arantes, Priscila. Arte em tempo de estética digital. Revista Polêmica da UERJ. Disponível no URL: http://www.priscilaarantes.com.br/PDF/arteem.pdf. Acedido em Março 2008.

[7] Benjamin, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Obras escolhidas. Magia e Técnica, Arte e Política. v. 1. 6ª edição. São Paulo: Brasiliense,1993.

[8] Arantes, Priscila. Arte e mídia no Brasil: perspectivas da estética digital. SENAC São Paulo, 2005.

[9] Withaker, Francisco. Redes: Uma estrutura Alternativa de Organização. Disponível no URL: http://www.rits.org.br/redes_teste/rd_estrutalternativa.cfm. Acedido em Abril de 2008.

[10] Wikipedia – Rede social. Disponível no URL: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rede_social. Acedido em Abril de 2008.

[11] Wellman, Barry. Hampton, Keith. Living Networked On and Off Line. Contemporary Sociology, Vol. 28 No. 6, November 1999, 648-654. Disponível no URL: http://mysocialnetwork.net/downloads/onandoff.pdf. Acedido em Abril 2008.

[12] Disponível no URL: http://headrush.typepad.com/creating_passionate_users/2006/03/ultrafast_relea.html. Acedido em Abril 2008.

[13] Teenangels. Disponível no URL: http://www.teenangels.com. Acedido em Abril de 2008.

[14] Boyd, Danah. Why Youth (Heart) Social Network Sites: The Role of Networked Publics in Teenage Social Life. MacArthur Foundation Series on Digital Learning – Youth, Identity, and Digital Media Volume (ed. David Buckingham). Cambridge, MA: MIT Press. Disponível no URL: http://www.danah.org/papers/WhyYouthHeart.pdf. Acedido em Abril 2008.

[15] Boyd, Danah. Ellison, Nicole B. Social Network Sites: Definition, History, and Scholarship. Disponível no URL: http://www.danah.org/papers/JCMCIntro.pdf. Acedido em Abril 2008.

[16] Boyd, Danah. None of this is real. Structures of Participation, editado por Joe Karaganis. Disponível no URL: http://www.danah.org/papers/NoneOfThisIsReal.pdf. Acedido em Abril 2008.

[17] Boyd, Danah. Friendster and Publicly Articulated Social Networks. Proceedings of Conference on Human Factors and Computing Systems (CHI 2004). Vienna: ACM, Abril 24-29. Disponível no URL: http://www.danah.org/papers/CHI2004Friendster.pdf. Acedido em Abril 2008.

[18] Wikipedia – YouTube. Disponível no URL: http://en.wikipedia.org/wiki/YouTube. Acedido em Abril 2008.

Filipa Falcão Reis

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[19] Wikipedia - Social impact of YouTube. Disponível no URL: http://en.wikipedia.org/wiki/Social_impact_of_YouTube. Acedido em Abril 2008.

[20] Cardoso, Gustavo. Para uma sociologia do ciberespaço – Comunidades virtuais em português. Celta Editora. Oeiras 1998.

[21] Wikipedia – Weblog. Disponível no URL: http://pt.wikipedia.org/wiki/Weblog. Acedido em Abril 2008.

[22] Wikipedia – Fotografia. Disponível no URL: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fotografia. Acedido em Abril 2008.

[23] Wikipedia – Música. Disponível no URL: http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%BAsica. Acedido em Abril 2008.