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Ariano Suassuna

Auto da Compadecida - PMMG · 2017. 11. 20. · picadeiro. Julgamento pelo Diabo e por Manuel Forçar o julgamento, ouvindo os pecadores. Todos (exceto Chicó), A Compadecida Condenação

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  • Ariano Suassuna

  • João Grilo engana Severino com uma gaita mágica que ressuscita mortos e Severino, crente que visitaria seu Padrinho Padre Cícero e depois voltaria, pede ao seu guarda que o mate. O subordinado vendo que seu chefe não voltava, mata João Grilo e foge.

    Todos se encontram no céu para o julgamento final e, após uma discussão acirrada com o Diabo, João Grilo consegue a presença de Nossa Senhora que sugere ao filho, Jesus Cristo, que envie Severino diretamente para o céu, pois ele não era responsável pelos seus atos, que envie o Padeiro, a Mulher do Padeiro, o padre e o bispo para o purgatório, pois na hora da morte todos perdoaram seus agressores, e que João Grilo volte para terra.

    Quando João Grilo volta, encontra Chicó e os dois conseguem fugir com Rosinha e seguem juntos seu caminho pelo sertão.

  • I. O auto – de Gil Vicente a João Cabral

    Auto é uma designação genérica para textos poéticos

    (normalmente em redondilhas) criados para

    representações teatrais em fins da Idade Média.

    A maioria tem caráter religioso, embora a obra de Gil

    Vicente profana nos ofereça vários exemplos de temática e

    satírica- a farsa- sempre com preocupações moralizantes.

    Padre Anchieta: autos na catequização.

    No Brasil, especialmente no Nordeste, ainda

    encontramos textos notáveis que revelam influência

    medieval.

  • Linguagem alcança sua forma final e definitiva.

    O autor não propõe nenhuma atitude de linguagem oral

    que seja regionalista.

    Busca encontrar uma expressão para todos as personagens:

    as diferenças nos registros da fala são estabelecidas pelos

    próprios atores.

    O texto serve de caminho para uma via

    oral de

    expressão.

    APROPRIAÇÃO E RENOVAÇÃO

    Referências: O dinheiro [O enterro do cachorro] História do

    cavalo que defecava dinheiro. O castigo da soberba. As

    proezas de João Grilo.

  • III - A obra e sua estrutura.

    Escrito com base em romances e histórias nordestinas;

    3 atos.

    O autor concebe a peça como uma representação dentro

    de outra representação;

    É bom deixar claro que seu teatro é mais aproximado dos

    espetáculos de circo e da tradição popular do que do teatro

    moderno.

    O cenário fica a critério do diretor: pode ser uma igreja, o

    céu, o inferno, etc...

  • IV- Personagens

    Todas as personagens do Auto da Compadecida

    revelam dimensões alegóricas.

    A alegoria funciona como uma maneira

    de

    “materializar” aspectos morais, ideais ou ficcionais.

    Cabe salientar que parte das

    personagens não apresenta nomes próprios, são

    tipos.

    Mesmo as que são nomeadas, como o padre,

    funcionam como “figuras alegóricas”, por meio das

    quais são satirizadas e criticadas as diversas classes

    que compõem os estratos sociais.

  • Personagem principal: João Grilo Outras personagens: Chicó, Padre João, Sacristão, Padeiro, Mulher do Padeiro, Bispo, Cangaceiro, o Encourado, Manuel, A Compadecida, Antônio Morais, Frade, Severino do Aracaju, Demônio. Personagem de ligação: Palhaço

  • João Grilo: É uma figura típica do nordestino sabido,

    analfabeto e amarelo. Habituado a sobreviver e a viver a partir e expedientes, trabalha na padaria, vive em desconforto e a miséria é sua companheira. Sua fé nas artimanhas que cria, reflete, no fundo, uma forma de crença arraigada na proteção que recebe, embora sem saber, da Compadecida. É essa convicção que o salva. E ele recebe nova oportunidade de Manuel (Cristo), retornando à vida e à companhia de Chicó. É uma oportunidade inusitada de ressurreição e retorno à existência. Caberá a ele provar que essa oportunidade foi ou não bem aproveitada.

  • A Compadecida

    Funciona efetivamente como mediadora, plena de

    misericórdia, intervindo a favor de quem nela crê, como o

    protagonista.

    O Auto da Compadecida prioriza, portanto, “a situação

    daqueles que se encontram em posição inferior na ordem

    social. Por isso o protagonista não se identifica com aqueles

    que detêm posições de mando”.

    Alinhada à ideologia dos folhetos de cordel, a peça focaliza

    “a sociedade do ponto de vista dos desprivilegiados”

  • V – Enredo

    A presença de João Grilo em todas as situações é

    fundamental.

    A peça gira em torno dele, do ponto de vista estrutural.

    Habituado a sobreviver e a viver a partir de expedientes,

    trabalha na padaria, vive em desconforto e a miséria é

    sua companheira.

    Sua fé nas artimanhas que cria, reflete, no fundo, uma

    forma de crença arraigada na proteção que recebe,

    embora sem saber, da Compadecida.

  • PERSONAGENS SITUAÇÃO PARTICIPAÇÃO DE JOÃO

    João Grilo, Chicó,

    Pe. João

    A benção do cachorro da

    mulher do padeiro

    O cachorro pertence ao Major

    Antônio Morais.

    João Grilo, Chicó,

    Pe. João, Major Antônio

    Major O Pe. está maluco, benze

    todo mundo.

    João Grilo, Pe.

    Mulher, Padeiro,

    João,

    Chicó,

    Sacristão, Bispo

    Chegada do

    Antônio

    O testamento do

    cachorro

    O cachorro enterrado em

    latim e tudo mais.

    Fonte: Padeiro e a Mulher

    João Grilo, Chicó, Mulher A Mulher lamenta a perda

    do cachorro

    João arranja-lhe um gato que

    descome dinheiro.

    João Grilo, Chicó, Bispo,

    Padre, Sacristão, Mulher,

    Padeiro, Severino do

    Aracaju, Cangaceiro

    O assalto do Cangaceiro A gaita que fecha o corpo e

    ressuscita (bexiga). Todos

    morrem, exceto Chicó.

    Manuel,

    todas as

    Demônio,

    Palhaço,

    personagens

    Ressurreição no

    picadeiro.

    Julgamento pelo Diabo e

    por Manuel

    Forçar o julgamento, ouvindo

    os pecadores.

    Todos (exceto Chicó), A

    Compadecida

    Condenação

    dos pecadores Apelo à misericórdia da

    Virgem Maria.

  • “Espero que todos os presentes aproveitem os

    ensinamentos desta peça e reformem suas vidas, se bem

    que eu tenha certeza de que todos os que estão aqui são

    uns verdadeiros santos, praticamente da virtude, do amor

    a Deus e ao próximo, sem maldade, sem mesquinhez,

    incapazes de julgar e de falar mal dos outros, generosos,

    sem avareza, ótimos patrões, excelentes empregados,

    sóbrios, castos e pacientes. E basta, se bem que seja

    pouco.”

  • A função cênica do Palhaço – porta voz do autor – é abrir e fechar o espetáculo.

    O Palhaço tem também a função de descrever, de forma antecipada e didática, o clima da peça, apresentar atores, assim como despertar a curiosidade da platéia sobre o desfecho e adverti-la para que mantenha distanciamento crítico e consciência crítica.

    No Auto da Compadecida, portanto, percebe-se uma função metateatral (metalinguística), exercida pelo Palhaço, que conduz o espetáculo à maneira circense:

    “Ele se dirige ao público, anunciando o que está por vir e fazendo comentários. Na sua qualidade, ele não se mistura à ação da peça. Aparece, sim, no prólogo do início de cada ato e no epílogo. Porém, em uma de suas intervenções torna-se também ator, ou melhor, curinga, pois participa da cena do enterro de João Grilo”.

    Os personagens simbolizam pecados (maiores ou menores), que recebem o direito ao julgamento, que gozam do livre-arbítrio e que são ou não condenados.

  • Pela estrutura da peça, podemos notar que sua intenção clara e expressa é de natureza moral, e de moral católica; e que os componentes estruturais do texto revelam personagens que simbolizam pecados (maiores ou menores), que recebem o direito ao julgamento, que gozam do livre-arbítrio e que são ou não condenados.

  • VII- Conclusão

    A criação artística, o teatro em particular, deve levar o povo, a

    cultura desse povo a ele mesmo.

    Daí o circo, seu picadeiro e a representação dentro da

    representação.

    Mais que representar a realidade regional e cultural de um

    povo, o que importa é criar um projeto que defina ideias e

    concepções universais (as da igreja, no caso) com o fim de

    conscientizar o público.

    Criar um texto teatral é, antes de tudo, criá-lo para uma

    encenação, daí a absoluta liberdade que o autor dá para

    qualquer modalidade de encenação.

    Ariano reescreve e recontextualiza gêneros medievais em

    produtos culturais populares nordestinos, questionando

    procedimentos de exclusão social, política e religiosa, por meio

    de personagens de extração popular.

  • Com base na análise do filme O Auto da Compadecida, responda:

    1- Ariano Suassuna espelhou-se nas obras de um importante autor humanista para a construção de suas peças. Quem é esse autor?

    2- Qual tema abordado na peça de Ariano?

    3- O que o autor pretende retratar ao humanizar personagens como Manuel e a Compadecida?