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AutorIsmael da Silva CostaMestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janei-ro. Graduado em enfermagem pela UERJ e em Cinema pela Universidade Estácio de Sá. Funcionário da secretaria municipal de saúde da cidade do Rio de Janeiro desde 1996. Professor da graduação em enfermagem da Universidade Estácio de Sá desde 2004. Também atua como professor dos seguintes cursos de pós-graduação: Enfermagem em saúde da família (Faculdade Souza Marques), Enfermagem do Trabalho (Universidade Estácio de Sá), Saúde Coletiva (Universidade Celso Lisboa). Professor dos cursos preparatórios para concursos públicos Saúde Aprovação e Aprimore. É coautor dos seguintes li-vros: Quimo nos concursos – Enfermeiro, Quimo nos concursos – Técnico e auxiliar de enfermagem, Quimo língua portuguesa – SUS. É colaborador dos seguintes livros: Quimo nos concursos – saúde do trabalha-dor e Quimo nos concursos – Fonoaudiologia (ambos no prelo).

RevisãoPriscilla Maria Silva dos SantosNT Editora

Projeto GráficoNT Editora

Editoração EletrônicaNT Editora e Figuramundo

IlustraçãoGrupo NT

CapaFiguramundo

NT Editora, uma empresa do Grupo NTSCS Q. 2 – Bl. D – Salas 307 e 308 – Ed. Oscar NiemeyerCEP 70316-900 – Brasília – DFFone: (61) [email protected]

Saúde Coletiva I. / NT Editora.

-- Brasília: 2014. 103p. : il. ; 21,0 X 29,7 cm.

ISBN

1. Saúde – 2. Políticas de Saúde – 3. Saúde Pública – 4. Saúde Coletiva – 5. Organização dos Serviços de Saúde.

Copyright © 2014 por NT Editora.Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por

qualquer modo ou meio, seja eletrônico, fotográfico, mecânico ou outros, sem autorização prévia e escrita da NT Editora.

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LEGENDA

ÍCONES

Prezado(a) aluno(a),Ao longo dos seus estudos, você encontrará alguns ícones na coluna lateral do material didático. A presença desses ícones o ajudará a compreender melhor o conteúdo abor-dado e também como fazer os exercícios propostos. Conheça os ícones logo abaixo:

Saiba MaisEste ícone apontará para informações complementares sobre o assunto que você está estudando. Serão curiosidades, temas afins ou exemplos do cotidi-ano que o ajudarão a fixar o conteúdo estudado.

ImportanteO conteúdo indicado com este ícone tem bastante importância para seus es-tudos. Leia com atenção e, tendo dúvida, pergunte ao seu tutor.

DicasEste ícone apresenta dicas de estudo.

Exercícios Toda vez que você vir o ícone de exercícios, responda às questões propostas.

Exercícios Ao final das lições, você deverá responder aos exercícios no seu livro.

Bons estudos!

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4 NT Editora

Sumário

1. O CONCEITO DE SAÚDE .................................................................................. 71.1 Afinal, o que é saúde? .............................................................................................................71.2 Conceitos de saúde ao longo da história ........................................................................91.3 O processo de saúde-doença-cuidado ......................................................................... 111.4 Modos de adoecer e modos de curar ao longo da história ................................... 141.5 As profissões da área da saúde ......................................................................................... 171.6 A inserção do Estado na saúde ......................................................................................... 181.7 O que é saúde pública? ....................................................................................................... 20

2. FUNDAMENTOS DE EPIDEMIOLOGIA ......................................................... 302.1 História da epidemiologia .................................................................................................. 302.2 Os modelos explicativos em epidemiologia ............................................................... 322.3 Conceitos básicos em epidemiologia ............................................................................ 372.4 A vigilância epidemiológica .............................................................................................. 412.5 Indicadores epidemiológicos............................................................................................ 452.6 Transição epidemiológica .................................................................................................. 462.7 Medidas gerais de profilaxia e controle ........................................................................ 48

3. OS MODELOS DE ATENÇÃO À SAÚDE ......................................................... 533.1 Paradigmas da atenção à saúde ...................................................................................... 533.2 Os modelos de proteção social ........................................................................................ 583.3 Os modelos de atenção à saúde ...................................................................................... 603.4 O Sistema Único de Saúde ................................................................................................. 64

4. O MODELO DA VIGILÂNCIA À SAÚDE ......................................................... 754.1 Introdução à vigilância em saúde ................................................................................... 754.2 A atenção primária à saúde ............................................................................................... 784.3 O conceito de campo da saúde de Marc Lalonde ..................................................... 804.4 O conceito de promoção da saúde ................................................................................. 814.5 O conceito de qualidade de vida ..................................................................................... 874.6 Introdução às práticas educativas em saúde .............................................................. 884.7 A estratégia de saúde da família ...................................................................................... 91

GLOSSÁRIO ........................................................................................................ 98

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................. 102

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APRESENTAÇÃO

5Saúde Coletiva I

A saúde é um dos temas mais debatidos na imprensa brasileira. É muito comum lermos e ou-virmos frases como: “isto é uma questão de saúde pública”, “saúde é prioridade”, “precisamos construir mais hospitais”. Mas, afinal, o que é saúde? De que forma o Estado pode se organizar para garantir este direito à população? Como saber se as políticas de saúde pública estão sendo eficientes ou não? Com-preender os conceitos de saúde e políticas de saúde é fundamental para que um profissional de saúde esteja consciente do seu papel na sociedade. Convido-os para que de forma dinâmica e agradável, possamos nos aventurar na descoberta desses conceitos. Vamos lá?

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7Saúde Coletiva I

1. O CONCEITO DE SAÚDE

Olá, caro leitor, nesta lição você irá estudar:

• Osconceitosdesaúdeedoença.

• AinserçãodoEstadonasaúde.

• Oqueésaúdepública.

1.1 Afinal, o que é saúde?

Olá, seja bem-vindo ao curso de saúde coletiva I, neste curso apren-deremos juntos os principais funda-mentos desta área do conhecimento tão falada e tão pouco conhecida: a

saúde pública ou saúde coletiva.

Em primeiro lugar, cabe uma pergunta que pouca gente se faz: afinal, o que é saúde? Nós pode-mos perceber que essa palavra pode ser utilizada com vários sentidos diferentes no dia a dia, observe:

a) Quando alguém espirra:

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b) Num protesto por melhores condições de vida:

c) Ao fazer um brinde:

Feliz sexta-feira!

Um brinde à nossa amizade!'

Saúde e Paz!

Exercitando o conhecimento...

Faça duas experiências:

1. Entre na internet, acesse um buscador e pesquise imagens com a frase: Que saúde!

O que aparece?

...

Comentário: provavelmente você deve ter visto uma série de imagens de homens e mulheres em trajes de banho e em boa forma física. Isso acontece, porque atualmente há grande relação nos meios de comunicação entre saúde e um físico atlético, mas nem sempre foi assim. No pas-sado, o obeso era considerado saudável, uma vez que a pobreza estava associada à falta de acesso a alimentos, e um corpo atlético estava associado ao trabalho braçal (algo indesejável).

2. Pergunte a alguém que você conheça: o que é saúde para você?

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9Saúde Coletiva I

Saúde popularmente pode ser definida como:

• Ausênciadedoença.

• Capacidadedetrabalhar,defazersuasatividadesnocotidiano.

• Estaremboaformafísica.

• Terbonshábitos.

• Terindependênciaeautonomia.

Não é por acaso que o conceito de saúde pode ter vários significados, o

conceito de saúde tem sido modificado ao longo da história de acordo com as

mudanças da cultura e das ciências.

1.2 Conceitos de saúde ao longo da históriaNa Grécia antiga, Hipócrates, considerado o pai da medicina, considerava que a saúde era o

perfeito equilíbrio entre os líquidos (na época, chamados de humores) corporais: bile amarela, bile negra, fleuma e sangue.

Importante!

O mais conhecido conceito de saúde foi formulado pela organização mundial da saúde em 1948: “como um completo estado de bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade” (WHO, 1948).

Observe que a OMS define saúde como um estado de “completo bem-estar”. Você acha isso pos-sível? De acordo com esse conceito, você conhece alguém que tenha “essa” saúde?

Em 1986, integrantes do movimento sanitário, um movimento surgido na década de 1970, composto por intelectuais, sindicalistas, líderes comunitários e políticos que lutava por uma mudança no sistema de saúde do Brasil, criou um conceito próprio de saúde:

Em seu sentido mais abrangente, a saúde é a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liber-dade, acesso e posse de terra e acesso a serviços de saúde. É assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida. (CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE, 1987, p.382).

Bile amarela: Hipócrates formulou a teoria humoral (fluidos) e acreditava que a bile ama-rela estava associada com a raiva (humor colérico).

Bile negra: um dos quatro hu-mores (fluidos) da teoria de Hipócrates, e estaria associa-da à tristeza. A palavra melan-colia é derivada desta teoria. O melancólico (triste) seria uma pessoa com excesso de bile negra.

Fleuma: um dos quatro hu-mores (fluidos) da teoria de Hipócrates. A Fleuma estaria associada à indiferença.

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Observe que o conceito da 8º Conferência Nacional de Saúde não diz o que é saúde, mas diz o que é necessário para ela. Este conceito é chamado de conceito ampliado de saúde. Este termo “am-pliado” tem o objetivo de mostrar que a saúde é mais que a ausência de doenças e sim o resultado das condições de vida.

Esse conceito teve clara influência no texto da Lei nº 8080 de 19 de setembro de 1990. Veja:

Art. 3º – Os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do País, tendo a saúde como determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a mora-dia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a ativida-de física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais. (Redação dada pela Lei nº 12.864, de 2013).

Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e social.

Esses conceitos mais recentes de saúde buscam trazer uma visão “positiva” do que seja saúde, em contraposição à chamada visão “negativa”. A visão negativa seria a conceituação de saúde como ausência de doença, ou seja, a saúde não seria a presença de alguma coisa, e sim a ausência de outra coisa: a doença.

Exercitando o conhecimento...

Qual dos itens abaixo NÃO se refere a um determinante ou condicionante da saúde segundo a lei nº 8080/90?

a) A renda. b) A moradia. c) O prazer. d) O lazer.

...

Comentário: o prazer é algo subjetivo, logo não cabe na legislação. Embora possa ser consi-derado um fator condicionante.

Você já deve ter percebido que a palavra saúde tem o significado

modificado ao longo do tempo. E a doença, segue o mesmo caminho?

Veremos no próximo item.

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11Saúde Coletiva I

1.3 O processo de saúde-doença-cuidado

O que é doença?

Uma das maiores e mais antigas preocupações da humanidade é entender como as doenças surgem e como elas devem ser curadas. Entretanto, até mesmo o conceito do que seja doença tem se modificado ao longo do tempo.

Vocêjápercebeuqueháumagrandediferençaemdizerque:umapessoaÉDOENTE,ouumapessoaESTÁDOENTE?Noprimeirocaso,doençaaparececomoummalpermanentequesetornaumacaraterística daquela pessoa; no segundo caso, o termo se refere a algo transitório que pode passar após algum tempo.

Importante!

Situações como a obesidade e o alcoolismo já foram tratadas como desvio de comportamen-to e hoje são tratadas como doenças. O comportamento homossexual já foi tratado como doença e hoje não é mais.

Em linhas gerais, podemos conceituar doença de cinco formas: o sofrimento, o estar e o poder estardoente,adversidade,perigoousinal(CARVALHO;GOULART,1998).

Sofrimento: está relacionado ao mal-estar, à incapacidade de realizar algo desejado, não ne-cessariamente tem a presença do mal-estar físico.

O estar e o poder estar doente: neste caso, trata-se da capacidade declarar-se ou não como doente, dependendo do interesse da pessoa. Um deficiente físico pode se sentir doente ou não, de-pendendo do seu grau de inclusão ou de satisfação com a própria vida, ou ainda, com a possibilidade de entrar no mercado de trabalho.

A adversidade: a sensação de não se incluir dentro do padrão de normalidade.

O perigo: está associada à ideia de contágio. Uma pessoa portadora de uma doença transmissível grave poderá ser vista como um perigo para a sociedade.

Um sinal: algo que serve para marcar um grupo, uma situação social ou um comportamento. Exemplos: tuberculose – pobreza, cirrose – alcoolis-mo, AIDS – promiscuidade sexual. Observe que essa associação pode ser verdadeira, parcialmente verdadeira ou preconceituosa.

Conforme você viu no tópico anterior (afinal, o que é saúde?), o conceito de saúde não é fácil de definir. Percebemos agora que o conceito de doença também não é. Isso ocorre porque saúde e doença são um binômio insepa-rável, ou seja, saúde e doença andam juntas e é resultado de um equilíbrio instável ora tendendo para a saúde, ora tendendo para a doença.

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Exercitando o conhecimento...

Correlacione as situações na coluna 1 com as visões da doença na coluna 2:

Situação Visões

aLuto pela morte de uma pessoa próxima.

1 Perigo.

bUma pessoa com hanseníase (lepra).

2 Sinal.

c Surdez. 3 Sofrimento.

dUm deficiente físico trabalhando.

4 Adversidade.

e Um viciado em crack. 5 O estar e o poder estar doente.

...

Comentário: uma pessoa em luto está em SOFRIMENTO, tendo mal-estar físico ou não. Uma pessoa com hanseníase possui lesões de pele que são contagiosas, logo podem representar um PERIGO. A surdez é entendida como uma ADVERSIDADE, pois o indivíduo não inclui nos critérios de normalidade. O deficiente físico, dependendo das condições ou intenções, pode SE DECLARAR OU NÃO UM DOENTE. Um viciado em crack está associado à pobreza (embora não sejam necessariamente pobres), logo representa um SINAL.

Atenção!

Assim podemos dizer que saúde-doença é um processo, isto é, algo em constante movimento. Então, devemos estudar o que leva a gangorra a pender para um lado ou para o outro.

Para refletir:

De que forma o taba-gismo tem sido visto ao longo da história?

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13Saúde Coletiva I

• OtabagismochegouàEuropatrazidopelosexploradoresdonovomundo(asaméri-cas). Era um hábito dos indígenas muitas vezes relacionados às práticas de cura. Na Euro-pa, passou a ser um hábito extravagante da nobreza.

• Comaindustrialização,oconsumodotabacosepopularizou.OcinemadeHollywoodpassou associá-lo ao glamour: as grandes estrelas sempre apareciam fumando nos filmes.

• Atualmente,ohábitodefumarémuitomalvistopelasociedade.Éconsideradaumaprática não saudável e os fumantes são vistos como pessoas mal-educadas.

Condições socioeconômicas, políticas, culturais e ambientais

Uma das mais populares religiões do mundo oriental é o Budismo. Essa religião tem como figura principal o Buda (iluminado), nome dado a Sidarta Gautama, o fundador da religião. Conheça um pouco dessa história a seguir para compreender as relações entre as doenças e as condições de vida.

Sidarta nasceu príncipe, na Índia há cerca de 3000 anos, seu nascimento envolveu uma profecia: ele seria um grande líder religioso. Seu pai o envolveu de luxos e escondeu do menino todo tipo de sofrimento para que não se interessasse por religião.

Aos 29 anos, apesar de todo luxo, se sentia triste e resolveu conhecer o mundo fora do palácio, foram os chamados quatro passeios de Buda e determinaram sua busca religiosa:

1º Passeio: encontrou um velho, enrugado, com dificuldades de caminhar: compreendeu en-tão que o homem envelhecia e suas capacidades eram reduzidas.

2º Passeio: encontrou uma pessoa gemendo de dores terríveis: viu então que o corpo não era saudável para sempre, descobriu a doença.

3º Passeio: se deparou com um cortejo fúnebre, percebeu então que a vida tinha um fim, Si-darta descobrira a morte.

4º Passeio: Sidarta viu um mendigo pedindo comida, porém parecia sereno e saudável, desco-bria a pobreza e a vida religiosa de um asceta.

Saiba Mais!

Leia a reportagem da revista Super Interessante sobre a história do príncipe hindu Sidarta Gauta-ma: http://super.abril.com.br/religiao/principe-hindu-sidarta-gautama-iluminado-442777.shtml.

Sidarta percebeu que a vida fora do palácio era bem diferente: as formas de viver, adoecer e morrer. Percebeu também coisas que são comuns a todos os seres humanos: o envelhecimento, a doença e a morte.

Se o envelhecimento, a doença e a morte são fatos comuns a todos os seres humanos, as formas de envelhecer, adoecer e morrer não o são. Provavelmente você já ouviu dizer as expressões: doença de rico e doença de pobre.

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Da mesma forma que existem modos diferentes de adoecer de acordo com a riqueza de uma sociedade, existem também modos diferentes de tratar as doenças de acordo com os momentos da história e a cultura de uma determinada sociedade. Os modos de adoecer e de tratar as doenças são mutáveis no tempo e no espaço.

Para refletir!

Então, o que seria o chamado processo ge-rador saúde-doença?

Esse é o estudo dos fatores sociais, biológicos, culturais e históricos que determinam:

• Oqueumasociedadedefinequesejamsaúdeedoença.

• Adescobertadosfatoresquegeramsaúdeequegeramdoenças.

1.4 Modos de adoecer e modos de curar ao longo da história

As formas de adoecer e de tratar as doenças ao longo da história são influenciadas pelos cha-mados modos de produção. Modos de produção são formas como as sociedades se organizam e se organizaram no decorrer do tempo para produzir riquezas e regular as relações sociais. Vejamos então de que forma essas mudanças influenciaram o processo gerador saúde-doença.

• Pré-história

As principais atividades econômicas da pré-história eram a pesca, a caça e a coleta. Diante disso, as pessoas estavam muito expostas aos riscos da natureza: mudanças de clima, exposição a animais ferozes e acidentes. Assim, podemos inferir que as principais causas de doenças e mortes eram relacio-nadas a acidentes e escassez de alimentos. As pessoas viviam pouco, comparado ao mundo de hoje.

Os métodos de tratamento e cura estavam relacionados a explicações sobrenaturais. Assim, os sa-cerdotes religiosos, bruxos e xamãs eram quem dominavam os procedimentos de cura através de rituais.

• Idadeantiga

A idade antiga é marcada pelo surgimento de grandes civilizações, povoamentos marcados pela economia baseada na agricultura e com forte presença da religião no dia a dia.

Xamãs: sacer-dote tribal de certos povos da Ásia setentrio-nal, América do Norte etc., que utiliza meios mágicos para curar males e doenças, en-contrar objetos perdidos e controlar acon-tecimentos.

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15Saúde Coletiva I

Fatores como: aglomeração populacional, falta de saneamento básico, e estocagem de alimen-tos, favoreceram a disseminação de doenças transmissíveis de pessoa para pessoa, por água e alimen-tos ou por animais e insetos. Doenças como: hanseníase (lepra), tuberculose, malária, peste etc.

Os métodos de tratamento ainda estavam concentrados nos sacerdotes, entretanto surge na sociedade grega a tentativa de se buscar explicações racionais para o funcionamento do corpo e junto dessa tentativa, a profissão médica.

• Sociedadefeudal

O modo de produção agrário continua influenciando o surgimento de doenças transmissíveis, contudo o aumento das cidades propiciou o aparecimento de grandes pestes que dizimaram um nú-mero incomensurável de pessoas na Europa.

As práticas de cura associavam antigos costumes das religiões antigos à expiação dos pecados do Cristianismo.

Saiba mais:

Leia sobre a peste negra em: http://www.historiadomundo.com.br/idade-media/peste-negra.htm.

• Sociedadeindustrial

O crescente desenvolvimento da ciência e da indústria propiciaram um acúmulo de conheci-mentos que causaram grande impacto nas profissões da área da saúde que foram gradativamente se desvinculando das práticas religiosas.

O surgimento de novas terapêuticas como vacinas e antibióticos, novos equipamentos para diagnóstico e tratamento causaram uma grande mudança no perfil das causas de adoecimento e morte, sobretudo nos países mais desenvolvidos. Conforme os países vão se tornando mais ricos, as doenças e os agravos não transmissíveis vão substituindo as doenças transmissíveis como as princi-pais causas de adoecimento e morte.

A saúde também tem se tornado um sinal de status social. Valoriza-se como nunca o culto ao cor-po, estamos na era da geração saúde. Pessoas com musculatura bem definida são chamadas de “saradas”.

Outra novidade da era industrial é o início do estudo da relação entre as doenças e o mundo do trabalho. A industrialização propiciou a exposição das pessoas a matérias e máquinas que eram novidades até então, fazendo surgir também novas doenças relacionadas ao trabalho. É o advento da saúde do trabalhador e da medicina ocupacional. A poluição das grandes cidades trouxe consigo males, como doenças respiratórias e câncer.

Entretanto, o acesso aos serviços de saúde não se tornou igual para populações de faixas de renda diferentes. Dessa forma, ricos e pobres passaram a se diferenciar agora não somente nas suas condições econômicas, mas também nas suas condições de saúde. Entre os mais pobres predominam as doenças transmissíveis, entre os mais ricos as doenças não transmissíveis.

Incomensurá-vel: aquilo que é impossível de medir.

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16 NT Editora

Resumindo:

Período Modo de produçãoProblemas de saúde

mais frequentesPráticas terapêuticas

Pré-HistóriaComunismo primitivo: (caça, pesca e coleta).

Acidentes, escassez de alimentos.

Mágicas: Bruxaria, xamanismo.

Idade antigaAsiáticos: (baseado na agricultura).

Doenças transmissíveis.Mágicas: religiosa, surgimento da medicina racional (Grécia antiga).

Sociedade medieval

Feudalismo: (agricultura, forte presença da igreja católica).

Doenças transmissíveis.Mágica religiosa e racional.

Era industrial moderna

Capitalismo: (desenvolvimento da ciência e da indústria).

Transiçãoepidemiológica: aumento das doenças não transmissíveis.

Medicina científica, práticas interdisciplinares.

Exercitando o conhecimento...

Discuta com seus colegas:

1. As práticas terapêuticas mágicas desapareceram nas sociedades atuais?

2. De que forma os tipos de trabalho interferem na saúde?

...

Comentário:

1. As práticas de saúde evoluíram com o desenvolvimento da ciência, no entanto, as práticas mágicas não desapareceram. Ainda é possível ver curas religiosas em igrejas, a presença de rezadeiras e benzedeiras.

2. A cada tipo de trabalho existe um risco diferente para a saúde. Por exemplo: profissionais de saúde estão mais expostos às doenças transmissíveis, trabalhadores que fazem muito esfor-ço físico estão mais sujeitos a distúrbios osteomusculares.

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17Saúde Coletiva I

1.5 As profissões da área da saúdeVocê já deve ter percebido que o fenômeno saúde-doença tem tudo a ver com as formas como

as pessoas vivem, ou seja, com suas condições sociais e econômicas. Viu também que a definição do que é saúde e do que é doença mudam conforme a história.

As práticas de cura também foram mudando com o tempo. Nesse caso foram surgindo cada vez mais profissões com o intuito de garantir o “mais completo bem-estar físico, mental e social”. O trabalho de tratar e curar começou com os religiosos e durante boa parte da história da humanidade ficourestritoaeleseaosprofissionaisepráticosdemedicinaeenfermagem.Todavia,naatualidade,existem outras profissões que se inserem nesse setor.

Profissões tradicionais do setor saúde:

Medicina,Enfermagem,Odontologia,TerapiaOcupacional,Fonoaudiologia,Psicologia,Farmácia.

As práticas alternativas: além das profissões citadas acima, a saúde conta com o trabalho das chamadas práticas alternativas que somam práticas antigas como: acupuntura, do-in, massoterapia, com terapêuticas novas: auriculoterapia, quiropraxia e a reflexoterapia.

A intersetorialidade: percebemos nos tópicos anteriores que os problemas de saúde são oriun-dos das condições de vida. Dessa forma, a solução para esses problemas na esfera coletiva não podem vir somente dos profissionais de saúde, há a necessidade do trabalho em conjunto com outros setores da sociedade. Damos a esse trabalho conjunto o nome de intersetorialidade. Exemplos: serviço social, pro-fissionais de educação, engenharia sanitária (saneamento básico), profissionais do meio ambiente etc.

Esquema de uma ação intersetorial:

Ações intersetoriais

Setor saúde:enfermagem, medicina,

odontologia, nutrição, etc.

Setores fora da área de saúde:

engenharia, arquitetura, saneamento básico,

serviço social, etc.

Acupuntura: método de tratamento complementar de origem chi-nesa. Consiste na aplicação de agulhas em pontos definidos do corpo.

Do-In: técnica de automassa-gem de origem chinesa que utiliza os pontos dos meridianos energéticos do corpo humano.

Massotera-pia: técnica de massagem terapêutica que previne, trata e auxilia nas diversas disfun-ções orgânicas.

Auriculote-rapia: técnica de tratamento através da orelha.

Quiropraxia: lida com o diagnóstico, tratamento e a prevenção das desordens do sistema neuro-músculo-es-quelético e dos efeitos destas desordens na saúde em geral.

Reflexotera-pia: técnica de tratamento por meio de estí-mulos em uma área reflexa. É o estudo das delimitações destas áreas, assim como as suas funções e ações diante das patologias humanas.

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Exercitando o conhecimento...

Qual das ações abaixo pode ser considerada uma ação intersetorial?

a) Uma palestra sobre doenças sexualmente transmissíveis.

b) A vacinação de escolares contra o tétano.

c) A detecção de um esgoto a céu aberto numa comunidade, pela equipe de saúde.

d) O tratamento de um caso de tuberculose.

...

Comentário: não é de responsabilidade de uma equipe de saúde atuar no saneamento básico, entretanto a falta de condições ideais de saneamento pode interferir na saúde de uma comu-nidade. Assim, uma ação conjunta entre esses dois serviços essenciais é uma ação intersetorial.

1.6 A inserção do Estado na saúdeO artigo nº 196 da constituição brasileira, que trata da saúde tem o seguinte texto: "a saúde é

um direito de todos e um dever do Estado [...]". Em primeiro lugar, precisamos definir o que é um direito. Direito é uma obrigação que uma pessoa ou instituição tem com você definida por uma lei. Vejamos: se uma lei diz: todos têm direito à saúde, significa que alguém terá a obrigação de lhe forne-cer a saúde, em nosso país esse alguém é o Estado. No entanto, o que é o Estado? Vamos lembrar um pouco das aulas de história:

De forma bem resumida, podemos dizer que o Estado trata-se de um conjunto de poderes que servem para regular uma sociedade. Nós podemos definir três poderes:

• Executivo: poder de governar e administrar recursos públicos. Exemplos: Presidência, Gover-nadores, Prefeitos.

• Legislativo: poder de fazer lei. Exemplos: Câmara de Deputados e Senadores.

• Judiciário: poder de fazer cumprir as leis. Exemplos: Juízes, Promotores, Desembargadores.

Podemos dizer então que, no Brasil, o executivo deve ofertar e administrar serviços de saúde; o legis-lativo deve fazer leis que garantam a saúde; e o judiciário deve fazer cumprir as leis que garantam a saúde.

Contudo, se uma pessoa ficar hipertensa por excesso de consumo de sal, isso é um problema do Estado ou da pessoa? Bem, você pode concluir que, atualmente, de acordo com nossa lei, é um problema para ambos. Entretanto, será que o Estado sempre foi responsável pela saúde das pessoas, será assim em todos os lugares do mundo?

O direito à saúde faz partes dos chamados direitos sociais, tais como: educação, habitação e previdência. O acesso a esses direitos não se dá de forma igual em todo o mundo. Eles podem ser universais e igualitários (como o SUS no Brasil), estar dirigidos a populações menos favorecidas (como o Bolsa Família no Brasil), ou, ainda, divididos de forma diferente entre os componentes de uma socie-dade (como a Previdência no Brasil).

Interseto-rial: ação em conjunto de setores diferentes da sociedade.

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Essas diferenças são decorrentes de um processo histórico, logo não existem desde sempre. São frutos dos embates políticos que ocorrem na sociedade.

Os direitos sociais só foram acontecer de forma efetiva no mundo a partir do século XX. Antes disso, havia sido criada na Alemanha, no final do século XIX, uma legislação que foi pioneira nessa área.

O primeiro grande sistema público e universal de saúde surgiu na Inglaterra após a Segunda GuerraMundial,ochamadoPlanoBeveridge(1944-1948),queorganizouoNationalHealthSystem.No Brasil, o Sistema Único de Saúde foi criado em 1988 na Constituição Federal.

Saiba Mais!

Leia o artigo de José Luis Fiori, O estado de bem-estar social: padrões e crises, disponível em: http://www.scielo.br/pdf/physis/v7n2/08.pdf.

Exercitando o conhecimento...

Leia as assertivas abaixo e marque V para verdadeiro e F para Falso:

I. ( ) o Brasil, saúde é um direito desde a Constituição Federal de 1988.

II. ( ) A saúde é um direito assegurado apenas para quem contribui com a previdên-cia social.

III. ( ) Os direitos sociais são distribuídos de forma igualitária em todos os países do mundo.

IV. ( ) Os direitos sociais foram efetivados nos países ricos da Europa desde a Revolu-ção Francesa.

...

Comentário: os direitos sociais não são igualitários sequer num mesmo país. No Brasil, por exemplo, a saúde é igualitária mas a previdência não. Os direitos sociais começaram a ser efe-tivados na Europa após a Segunda Guerra Mundial, já no séc. XX.

Contudo, a intervenção do Estado na saúde das pessoas é bem anterior ao século XX. Você deve lembrar-se de que as doenças podem ser vistas como um perigo para a sociedade. Lembre-se também que desde as sociedades antigas até o séc. XX, as principais doenças que acometeram as sociedades fo-ram as doenças transmissíveis. Dessa forma, os Estados tiveram a preocupação de conter a disseminação dessas doenças, mesmo quando ainda conhecimento adequado para conter sua disseminação.

A área de atuação do Estado que se tornou responsável por essa tarefa recebeu o nome de Saúde Pública ou Saúde Coletiva.

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Exercitando o conhecimento...

Pesquise:

A reforma do sistema de saúde dos EUA foi o principal tema da campanha de Barack Obama para a presidência do país. Como era antes? Como ficou agora?

...

Comentário:

Os americanos não contam com um sistema universal de saúde conforme o SUS. O Estado americano possui 2 programas de saúde: o Medicaid e o Medicare: voltados para famílias mui-to pobres ou idosos acima de 65 anos respectivamente.

A reforma de Obama teve o objetivo de obrigar as empresas a fornecer um seguro-saúde a seus empregados, custear um seguro-saúde para população carente ou subsidiar planos de saúde para os mais pobres.

Saiba Mais!

Leia o artigo sobre a reforma no sistema de saúde dos EUA: http://www.cqh.org.br/?q=entenda-reforma-no-sistema-de-sa%C3%BAde-dos-eua.

1.7 O que é saúde pública?SegundoWinslow(1920):

Saúde pública é a ciência e a arte de evitar doenças, prolongar a vida e desenvolver saúde física, mental e a eficiência, através de esforços organizados da comunidade para o sa-neamento do meio ambiente, o controle das infecções na comunidade, a organização dos serviços médicos e paramédicos para o diagnóstico precoce e o tratamento preventivo de doenças, e o aperfeiçoamento da máquina social que irá assegurar a cada indivíduo, den-tro da comunidade, um padrão de vida adequado à manutenção da saúde. (Grifo nosso).

Vamos olhar com cuidado os pontos grifados no texto:

A saúde pública visa: desenvolver a saúde física, mental e social. Nesse caso, a saúde pública está tratando do ser humano individualmente para que ele possa obter a saúde.

A saúde pública se preocupa com: saneamento do meio ambiente, o controle das infecções na comunidade. Nesses casos, a saúde púbica tem uma ação coletiva e na sociedade.

A saúde pública realiza: a organização dos serviços médicos e paramédicos para o diagnóstico preco-ce e o tratamento preventivo de doenças. Nestes casos, a saúde pública trabalha combatendo as doenças.

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A saúde pública também colabora para: aperfeiçoamento da máquina social. Assim, ela acaba interferindo em toda organização de uma sociedade.

As ações da saúde pública são então bastante abrangentes, veja as seguintes ações do ministé-rio da saúde do Brasil:

• Academiadasaúde:buscaconstruirespaçospúblicosparaapráticadeexercíciosfísicos.

• Combateaotabagismo:buscaestimularacessaçãodohábitodefumar.

• Programavoltapracasa:buscaareintegraçãosocialdepessoasacometidasdedoençasmen-tais após longos períodos de internação.

Observe que essas ações não estão relacionadas diretamente com o combate de doenças, mas agem principalmente no estilo de vida das pessoas.

Se hoje as ações da saúde pública parecem se preocupar principalmente com a saúde das pes-soas, no passado a saúde pública tinha como objetivo principal eliminar o perigo das doenças infec-ciosas. A saúde pública agia principalmente segregando doentes mentais e portadores de doenças transmissíveis, muitas vezes praticando ações contra a vontade das pessoas, como as vacinações obri-gatórias e a internação compulsória de pessoas acometidas com lepra (hanseníase).

Saiba Mais!

Para saber mais sobre os leprosários, leia memórias do preconceito, disponível em: http://www.sinpro-rs.org.br/extra/jul99/memoria.htm.

A abrangência das ações da saúde pública hoje em dia tem relação direta com o desenvolvimento do conhecimento científico, mas também como o humor da opinião pública, leia a seguinte notícia:

90% aprovam internação involuntária. Datafolha mostra que, para maioria, viciados em crack devem ser internados para tratamento mesmo que não queiram. Conselho Federal de Psicologia é contra a medida, mas alguns a defendem para casos agudos de vício.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/22009-90-aprovam-internacao-involuntaria.shtml

Repare que mesmo que o vício do crack não seja uma doença transmissível, a sociedade vê a disseminação de viciados nas grandes cidades como um perigo e, portanto, demanda uma ação da saúde pública para internar à força essas pessoas. Observe também que o Conselho Federal de Psico-logia é contra tal medida.

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A internação compulsória de leprosos, hoje vista como um absurdo, no passado era vista como aceitável. As ações de saúde pública também mudam conforme muda a sociedade.

A trajetória da saúde pública

• Mundogreco-romano(antiguidade) – os estudiosos buscavam compreender as relações entre os homens e a natureza, dessa forma também compreender o surgimento das doenças como um processo racional. É desse período a publicação do livro de Hipócrates: Dos ares, águas e lugares.

• Idademédia– doença vista como castigo divino. As práticas de saúde pública buscavam eli-minar os miasmas (ares corrompidos), segregação e isolamento de doentes para evitar contágios. Na Europa são construídos hospitais religiosos para cuidar de moribundos.

• Idade moderna – o surgimento dos movimentos chamados renascimento e iluminismo reto-mam a racionalidade no estudo das doenças. A centralidade do estudo no ser humano leva o estudo do corpo humano e ao desenvolvimento da medicina.

• Idade contemporânea – a partir do séc. XIX, a saúde pública sofre uma grande revolução. Nessa época são desenvolvidos estudos que desvendam os mistérios da disseminação das doenças infecciosas. Surge a epidemiologia.

A ciência se desenvolve e importantes descobertas aparecem: os micro-organismos, as vacinas, o funcionamento da célula, a descoberta do genoma humano etc.

As novas descobertas dos mecanismos de surgimento das doenças abrem novas frentes de intervenção para a saúde pública.

Issoéumaquestãodesaúdepública!

Veja as manchetes abaixo:

Manchete1:Obesidadeéquestãodesaúdepública,dizespecialista.

Publicado em 25/07/2012, às 16h51.

Doença é cada vez mais crescente na população, e se medidas urgentes não forem ado-tadas, o perfil do brasileiro será o de obeso.

Fonte: http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/mundo/brasil/noticia/2012/07/25/obesidade-e-questao-de-saude-publica-diz-especialista-50346.php

Manchete 2: Ministro defende que aborto seja tratado como questão de saúde pública

Publicado em 20/04/10, às 18h37.

O ministro da Secretaria de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, afirmou nesta terça-feira (20) que vai tentar manter no 3º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3) a abordagem do aborto como uma questão de saúde pública.

Fonte: http://www.otempo.com.br/capa/pol%C3%ADtica/ministro-defende-que-aborto-seja-tratado-como-quest%-C3%A3o-de-sa%C3%BAde-p%C3%BAblica-1.481179

Miasmas: conjunto de odores fétidos provenientes de matéria orgânica em putrefacção nos solos e len-çóis freáticos contaminados.

Moribundos: agonizante, o que está prestes a morrer.

Renascimen-to: importante movimento de ordem artísti-ca, cultural e científica que se deflagrou na passagem da Idade Média para a Moderna.

Iluminismo: movimento que surgiu na França do século XVII e defendia o domínio da razão sobre a visão teo-cêntrica que dominava a Europa desde a Idade Média. Segundo os filósofos ilu-ministas, esta forma de pen-samento tinha o propósito de iluminar as trevas em que se encontrava a sociedade.

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Manchete 3: Dependência

Consumoécasodesaúdepública

Líderes mundiais defendem o fim da criminalização dos entorpecentes e recomendam que dependentes sejam tratados como pacientes.

Publicado em 03/06/2011 | Agência Estado e Folhapress

A Comissão Global de Políticas sobre Drogas, formada por líderes de vários países, entre eles o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, defende que o uso de drogas no mun-do seja tratado como um problema de saúde público e não um caso de polícia.

Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1132960

Como podemos diferenciar um problema de saúde

individual de um problema de saúde pública?

Como você já deve ter percebido, o termo “questão/problema de saúde pública” é aplicado nas mais diversas situações. A definição de um problema como “de saúde pública” tem um claro viés político, pois uma vez que algo é visto dessa forma, passa a demandar uma intervenção do Estado, a criação de uma repartição para tratar desse problema, a definição de recursos financeiros materiais e humanos para isso. Isso sem contar que aqueles que primeiramente tomaram a dianteira nessa cam-panha passam a gozar de popularidade imediata.

Podemos encontrar algumas similaridades entres os “problemas de saúde pública”, segundo Rocha e Cesar (2008, p. 275), um problema será de saúde pública quando: “constitui causa comum de morbidade ou mortalidade; existem métodos eficazes de prevenção e controle; os métodos não estão sendo adequadamente utilizados”.

Todavia,mesmocomessadefinição,osproblemasdesaúdepúblicapodemounãodeterminarações concretas, pois os recursos não são infinitos, ou pelo menos não existem na mesma medida em que as solicitações são feitas. Assim, a saúde pública precisará definir prioridades a partir de critérios como:

• Númerodepessoasatingidas.

• Seriedadedodano.

• Custo.

• Graudeinteressedacomunidade.(CHAVESapud ROCHA; CESAR, 2008).

Morbidade: quantidade de casos de doença numa dada população.

Mortalidade: quantidade de óbitos em relação a uma dada popula-ção.

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Exercitando o conhecimento...

Pesquisa: De que forma o SUS trata a questão da mudança de sexo?

Discuta com seus colegas: A mudança de sexo é uma prioridade para a saúde pública?

...

Comentário:

Desde 2008, a mudança de sexo (cirurgia de redesignação sexual) é um dos procedimentos autorizados pelo SUS. Os interessados passam por avaliação de uma junta de especialistas para avaliar se o desejo da mudança justifica o procedimento. Caso o interessado seja classifi-cado como portador de transtorno de gênero, seu procedimento será autorizado.

A mudança de sexo não é considerada uma prioridade para a saúde pública, no entanto, grupos organizados pelos direitos dos homossexuais têm atuado para aumentar a cobertura desse procedimento para aqueles que desejam fazê-lo.

A ciência base da saúde pública é a epidemiologia, a ciência que estuda o processo saúde-doença. Os estudos epidemiológicos são fundamentais para que a saúde pública possa definir suas prioridades. Aprender os fundamentos da dessa ciência é tarefa do próximo capítulo, está preparado?

Nesta lição você aprendeu:

• Quesaúdeedoençasãoconceitospolissêmicos,ouseja,quepodemterdiferentessignificados.

• Queasaúdepúblicaéumaáreadeatuaçãoabrangente,queinterferenavidadaspessoas,eque suas ações têm prioridades diferentes ao longo do tempo.

• Queosmodosdeadoecer,morreretratarasdoençasmudamdeacordocomaorganizaçãodas sociedades.

• Oqueéumaquestãodesaúdepública.

Agora, verifique se você está apto a:

• Conceituarsaúdeedoença.

• AbordarsobreainserçãodoEstadonasaúde.

• Conceituarsaúdepública.

Redesigna-ção: nova designação, novo design, novo desenho. É sinônimo de mudança, no caso do texto, de sexo.

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Parabéns,

você finalizou esta lição!

Agora responda às questões ao lado.

Exercícios

Questão 01 – Qual definição abaixo se refere ao conceito de saúde da OMS de 1948?

a) A saúde é o estado de ausência de enfermidades.

b) A saúde é o perfeito equilíbrio do corpo humano.

c) Um completo estado de bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade.

d) O resultado da combinação de alimentação saudável, exercícios físicos e qualidade de vida.

Questão 2 – Quais são as principais causas de morte do período pré-histórico?

a) Acidentes, escassez de alimentos.

b) Doenças transmissíveis.

c) Doenças crônicas.

d) Doenças congênitas.

Questão 03 – De acordo com os conceitos de doença vistos na aula, a epidemia de crack pode ser vista como?

a) Sofrimento.

b) Perigo.

c) Adversidade.

d) O estar e o poder estar doente.

Questão 04 – Qual das alternativas abaixo apresenta as causas mais comuns da disse-minação das doenças transmissíveis?

a) Envelhecimento da população.

b) Aglomeração de pessoas, falta de saneamento básico.

c) Exposição às condições adversas da natureza.

d) Exposição à poluição ambiental.

Questão 05 – Qual dos conceitos abaixo é mais representativo do termo intersetorialidade?

a) A visão do homem como ser pleno, físico, mental e social.

b) Ações de prevenção de doenças transmissíveis.

c) Intervenção do Estado na saúde.

d) Ação conjunta do setor saúde com outros setores de fora da saúde.

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Questão 06 – Marque a alternativa que se apresenta incorreta?

a) O direito à saúde não é garantido da mesma forma em vários lugares do mundo.

b) Nem sempre a intervenção do Estado na saúde é benéfica.

c) Doença significa somente o mau funcionamento do corpo humano.

d) Práticas mágicas foram utilizadas no tratamento das doenças ao longo da história.

Questão 07 – Em que época da história é disseminada a ideia de que a doença é um castigo divino?

a) Pré-história.

b) Idade antiga.

c) Idade média.

d) Idade contemporânea.

Questão 08 – Qual dos itens abaixo pode elevar um problema a uma “questão de saúde pública”?

a) Um plebiscito.

b) Não existir métodos eficazes de prevenção e controle.

c) Os métodos existentes estão sendo adequadamente utilizados.

d) Ser causa comum de morbidade ou mortalidade.

Questão 09 – O que significa o “conceito ampliado de saúde”?

a) Uma forma de buscar uma definição positiva para a saúde, ou seja, não defini-la ape-nas como ausência de doenças e sim como resultado das condições de vida.

b) A determinação de ações conjuntas da saúde com o serviço social.

c) A inserção do tema saúde no dia a dia das pessoas.

d) A intervenção do Estado em todos os setores da sociedade.

Questão 10 – Qual dos itens abaixo NÃO apresenta um critério para a saúde pública definir prioridades?

a) Número de pessoas atingidas.

b) Fatores religiosos.

c) Grau de interesse da comunidade.

d) Custos.

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27Saúde Coletiva I

1. Exercício de reflexão:

Leia a crônica abaixo:

Fonte: http://oglobo.globo.com/opiniao/o-correto-uso-do-papel-higienico-13297732

O correto uso do papel higiênico

O título acima é meio enganoso, porque não posso considerar-me uma autoridade no uso de papel higiênico, nem o leitor encontrará aqui alguma dica imperdível sobre o as-sunto. Mas é que estive pensando nos tempos que vivemos e me ocorreu que, dentro em breve, por iniciativa do Executivo ou de algum legislador, podemos esperar que sejam baixadas normas para, em banheiros públicos ou domésticos, ter certeza de que estamos levando em conta não só o que é melhor para nós como para a coletividade e o ambiente. Por exemplo, imagino que a escolha da posição do rolo do papel higiênico pode ser regu-lamentada, depois que um estudo científico comprovar que, se a saída do papel for pelo lado de cima, haverá um desperdício geral de 3.28 por cento, com a consequência de que mais lixo será gerado e mais árvores serão derrubadas para fazer mais papel. E a maneira certa de passar o papel higiênico também precisa ter suas regras, notadamente no caso das damas, segundo aprendi outro dia, num programa de tevê.

Tudosimples,comoemtodasasmedidasqueagoravivemtomando,paranosprote-ger dos muitos perigos que nos rondam, inclusive nossos próprios hábitos e preferências pessoais. Nos banheiros públicos, como os de aeroportos e rodoviárias, instalarão câmeras de monitoramento, com aplicação de multas imediatas aos infratores. Nos banheiros do-mésticos, enquanto não passa no Congresso um projeto obrigando todo mundo a instalar uma câmera por banheiro, as recém-criadas Brigadas Sanitárias (milhares de novos empre-gos em todo o Brasil) farão uma fiscalização por escolha aleatória. Nos casos de reincidên-cia em delitos como esfregada ilegal, colocação imprópria do rolo e usos não autorizados, tais como assoar o nariz ou enrolar um pedacinho para limpar o ouvido, os culpados serão encaminhados para um curso de educação sanitária. Nova reincidência, aí, paciência, só cadeia mesmo.

Agora me contam que, não sei se em algum estado ou no país todo, estão planejando proibir que os fabricantes de gulodices para crianças ofereçam brinquedinhos de brinde, porque isso estimula o consumo de várias substâncias pouco sadias e pode levar a obesi-dade, diabetes e muitos outros males. Justíssimo, mas vejo um defeito. Por que os brasilei-ros adultos ficam excluídos dessa proteção? O certo será, para quem, insensata e desorien-tadamente, quiser comprar e consumir alimentos industrializados, apresentar atestado médico do SUS, comprovando que não se trata de diabético ou hipertenso e não tem taxas de colesterol altas. O mesmo aconteceria com restaurantes, botecos e similares. Depois de algum debate, em que alguns radicais terão proposto o Cardápio Único Nacional, a lei estabelecerá que, em todos os menus, constem, em letras vermelhas e destacadas, as ne-cessárias advertências quanto a possíveis efeitos deletérios dos ingredientes, bem como fotos coloridas de gente passando mal, depois de exagerar em comidas excessivamente calóricas ou bebidas indigestas. O que nós fazemos nesse terreno é um absurdo e, se o estado não nos tomar providências, não sei onde vamos parar.

Ainda é cedo para avaliar a chamada lei da palmada, mas tenho certeza de que, prote-gendo as nossas crianças, ela se tornará um exemplo para o mundo. Pelo que eu sei, se o pai der umas palmadas no filho, pode ser denunciado à polícia e até preso. Mas, antes

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disso, é intimado a fazer uma consulta ou tratamento psicológico. Se, ainda assim, persistir em seu comportamento delituoso, não só vai preso mesmo, como a criança é entregue aos cuidados de uma instituição que cuidará dela exemplarmente, livre de um pai cruel e de uma mãe cúmplice. Pai na cadeia e mãe proibida de vê-la, educada por profissionais especializados e dedicados, a criança crescerá para tornar-se um cidadão modelo. E a lei certamente se aperfeiçoará com a prática, tornando-se mais abrangente. Para citar uma circunstância em que o aperfeiçoamento é indispensável, lembremos que a tortura física, seja lá em que hedionda forma — chinelada, cascudo, beliscão, puxão de orelha, quiçá um piparote —, muitas vezes não é tão séria quanto a tortura psicológica. Que terríveis sensa-ções não terá a criança, ao ver o pai de cara amarrada ou irritado? E os pais discutindo e até brigando? O egoísmo dos pais, prejudicando a criança dessa maneira desumana, tem que ser coibido, nada de aborrecimentos ou brigas em casa, a criança não tem nada a ver com os problemas dos adultos, polícia neles.

Sei que esta descrição do funcionamento da lei da palmada é exagerada, e o que inven-tei aí não deve ocorrer na prática. Mas é seu resultado lógico e faz parte do espírito des-miolado, arrogante, pretensioso, inconsequente, desrespeitoso, irresponsável e ignorante com que esse tipo de coisa vem prosperando entre nós, com gente estabelecendo regras para o que nos permitem ver nos balcões das farmácias, policiando o que dizemos em voz alta ou publicamos e podendo punir até uma risada que alguém considere hostil ou des-respeitosa para com alguma categoria social. Não parece estar longe o dia em que a maio-ria das piadas será clandestina e quem contar piadas vai virar uma espécie de conspirador, reunidocomamigospeloscantosesuspeitandodeestranhos.Temosqueserprotegidosaté da leitura desavisada de livros. Cada livro será acompanhado de um texto especial, uma espécie de bula, que dirá do que devemos gostar e do que devemos discordar e como o livro deverá ser comentado na perspectiva adequada, para não mencionar as ocasiões em que precisará ser reescrito, a fim de garantir o indispensável acesso de pessoas de vo-cabulário neandertaloide. Por enquanto, não baixaram normas para os relacionamentos sexuais, mas é prudente verificar se o que vocês andam aprontando está correto e não resultará na cassação de seus direitos de cama, precatem-se.

João Ubaldo Ribeiro (1941-2014) era escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras

Leia mais sobre esse assunto em: http://oglobo.globo.com/opiniao/o-correto-uso-do-papel-higienico-13297732#ixzz383wFya7K

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Responda as seguintes questões:

1. O que o texto acima tem a ver com a saúde pública?

2. Você acha que a ação do Estado no texto é adequada? Por quê?

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2. Estudo de caso

Leia a notícia abaixo:

Fonte: http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/brasil-teve-aumento-de-11-nos-casos-de-infeccoes-por-hiv-en-tre-2005-2013-13273033

Em queda em quase todo o mundo, a taxa de novas infecções pelo vírus da Aids teve aceleraçãode11%entre2005e2013noBrasil, revelao relatório“TheGapReport”,doPrograma Conjunto das Nações Unidas HIV/Aids (Unaids), divulgado ontem. No planeta — onde o total de pessoas infectadas está estável em cerca de 35 milhões —, houve dimi-nuição de 28% no número de novos casos. O resultado é puxado pelo recuo em regiões críticasparaaepidemia,comoaÁfricaSubsaariana,ondeareduçãonasnovasinfecçõeschegou a 33%. Fora do continente africano, alertam membros da agência da ONU, a ex-pansão do HIV ocorre impulsionada pela contaminação de indivíduos de grupos vulnerá-veis, sobretudo homens que fazem sexo com homens. O fenômeno inclui o Brasil.

O anúncio acontece quatro dias depois da Organização Mundial de Saúde afirmar que há um crescimento alarmante da doença em grupos de risco e recomendar o uso de antir-retrovirais para todos os homens que fazem sexo com outros homens.

[...]

— Nos países onde há avanço da epidemia, o crescimento é sobretudo entre os homens gays.Principalmenteosjovens—afirmaLoures.—Écomoseestivéssemosvoltandonotempo, à epidemia que vimos nos anos 1980. Há uma contradição, já que esses grupos foram justamente os que começaram a mobilização em torno do combate.

CAIUSODEPRESERVATIVOS

Entre os motivos relacionados a esse crescimento, ele lista a discriminação, que dificulta o acesso a serviços médicos, e a redução no uso de preservativos, estimulada pela falsa ilusão de que a epidemia acabou. Loures também cita uma mudança de agenda do movi-mentoLGBT,queteriasevoltadomaisàsquestõesdedireitoscivis,afastandoparcialmen-te a doença de sua pauta.

Leia mais sobre esse assunto em: http://oglobo.globo.com/sociedade/saude/brasil-teve-aumento-de-11-nos-casos-de-infeccoes-por-hiv-entre-2005-2013-13273033#ixzz3843qP3vl

1. Discuta com seu tutor e colegas: Quais são os possíveis motivos que levam ao au-mento do número de casos de AIDS no Brasil e a diminuição na maior parte do mundo? Quais são os erros e os acertos da saúde pública neste campo?

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