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02
Autores
ADOLFO SILVERIO DE OLIVEIRA FILHO
ARTHUR ANDRADE MARCHIONI
CAUÊ BERTOLUCCI DE CAMPOS
DAVI MANZOLI OLIVEIRA SALATA BATISTA
EDUARDO CARNIATO CARBONERI
FELIPE ROCHA GONÇALVES DA SILVA
FELIPPE ANTHONY BRANCO
GUSTAVO AMORIM LAGE GOMES
JOÃO JOSÉ PIMENTA ALVARES DA COSTA
LUÍSA ANDRADE SOARES PESSOA
MARCELA PORTUGAL PENDLOWSKI FERREIRA
MARIA EDUARDA MATTARAIA COELHO
NICOLAS GOULART SOUSA
OSCAR DE ANGELIS RAMIREZ
PEDRO LENHARI DE SOUZA
RAFAEL BONARETT SILVÉRIO
RAVI CORDEIRO ZAMPIERI
RODRIGO RODRIGUES OLIVEIRA DINIZ
SABRINA RAMOS
PROFESSORA MARINA SABAINE CIPPOLA
PROFESSORA VANESSA MATIA
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Índice
Cap. I O início ................................................................................................................... pg. 06
Cap. II O dragão de Komodo .................................................................................. pg. 08
Cap. III A injustiça ........................................................................................................ pg. 12
Cap. IV Uma perda dolorosa .................................................................................. pg. 15
Cap. V Em direção a um sonho ............................................................................ pg. 16
Cap. VI O raio ................................................................................................................... pg. 17
Cap. VII O sonho realizado ..................................................................................... pg. 19
Cap. VIII O final ............................................................................................................. pg. 22
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Cap. I – O início.
Meu nome é Joshua Stein. Sou um senhor, já quase no fim da vida.
Gostaria muito de contar para vocês, um pouco das minhas aventuras, vividas
nestes 96 anos.
Para início de conversa, voltamos um pouco no tempo, especificamente
em 1942, na cidade de São Paulo, período em que acontecia a II Guerra
Mundial, e quando começaram as minhas viagens e histórias.
A minha primeira aventura, foi uma viagem ao exterior, onde conheci
Roma, na Itália. Fui como soldado representar o meu país, não o de origem,
mas onde vivi a maioria dos meus anos, o Brasil. Me enviaram para lutar no
Fronte da Itália. Foi um período bastante tenso, pois a guerra estava muito
acirrada, principalmente para mim, um judeu refugiado e perseguido.
Minha vida não foi nada fácil, passei fome, sede e sem lugar para me
abrigar. Muitas vezes ferido, tive que fugir e me esconder em locais insalubres.
Passei por muitos apuros e perigos de morte, então após me refugiar em vários
“buracos”, em Roma, acabei indo para uma cidade portuária na Itália, e de lá,
peguei uma carona em um navio e fugi para a China, propriamente em Hong
Kong.
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Chegando lá, me senti um pouco mais tranquilo e pude me abrigar em
um templo religioso, onde os monges me acolheram com bastante conforto.
Me recuperei de todos os ferimentos de guerra e meu corpo que estava frágil,
se fortaleceu novamente. Acabei fazendo alguns serviços para os monges
como forma de gratidão. Fiz amizade com um gato dourado, asiático, que vivia
no templo.
O tempo foi passando e a amizade com aquele bichano foi se
intensificando. Após alguns meses, já estava totalmente recuperado, e a minha
afinidade com o gato era tão grande, que quando resolvi partir, os monges
resolveram me presentear com ele. O chefe dos monges me revelou que, Gato
- esse era o seu nome- se tratava de um animal muito especial, que ajudaria
em minha longa jornada.
Saí da China, em um navio cargueiro, com uma mochila nas costas e
um companheiro, Gato. Após um dia de viagem, o navio aportou na Indonésia.
Apesar de não tão longa, a viagem foi exaustiva. Cheguei em terra firme
exausto!
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Cap. II – O dragão de Komodo.
Atracamos em uma Ilha chamada Bornéu, uma das principais da
Indonésia. Fiquei sabendo que ficaríamos naquele local por 15 dias até que
toda mercadoria fosse descarregada do navio. Fui me familiarizando com o
povo, ambiente e costumes. Gato também estava se acostumando com as
novidades, principalmente com as comidas! Vou tentar descrever o que
avistamos, para você se imaginar no local: o mar era agitado, a água escura,
havia muitas casas de palafitas e uma natureza peculiar. A fauna e a flora eram
ricas em diversidade de cores, espécies, tamanhos, sabores e foi nesse
cenário que aconteceu a minha segunda grande aventura.
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As pessoas que moravam ali eram bem diferentes daquelas que eu
estava acostumado, mas fui bem recebido por uma senhora – Asmara - que
nos abrigou em sua casa, bem simples, porém confortável. Algo me chamou
atenção: um grande alargador em sua orelha e logo perguntei o motivo daquilo.
Asmara sorriu e em um gesto carinhoso, passou a mão em meu rosto e
respondeu: “Ah, meu jovem, esse alargador carrega muitas histórias. Na nossa
cultura ele é colocado em pessoas sábias, em quem já passou por muitas
aventuras e carrega muito amor em seu coração.”. Fiquei fascinado com
aquela fala! A princípio não gostei muito de como soava aquele alargador, mas
quando soube do porque, logo me imaginei com a orelha igualzinha da
Asmara:
-- Posso colocar um alargador em mim?! Quero viver muitas aventuras,
quero contar para meus netos e já tenho muito amor no coração!
E Asmara respondeu:
-- Posso colocar um alargador em mim?! Quero viver muitas aventuras,
quero contar para meus netos e já tenho muito amor no coração!
E Asmara respondeu:
-- Meu jovem, quando você viver tudo isso que deseja e se encher de
experiências e sabedoria, pode voltar nesta Ilha que irei te presentear com algo
valioso.
Nos organizamos em nosso quarto e Asmara me pediu para buscar coco
para fazer um prato típico da região (eles usam muito leite de coco em suas
culinárias!). Sai em direção às orientações dada pela sábia senhora enquanto
Gato descansava na calma varanda. A mata era fechada, com caminhos
arriscados; a princípio estava corajoso, mas não consegui encontrar os
coqueiros e fui ficando tenso. Os animais apareciam entre os arbustos e eram
das mais diversas espécies: orangotangos, pássaros assustadores, felinos e a
cada minuto que passava mais apreensivo eu ficava.
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Me escondi atrás de uma pedra e quando dei por mim era a toca de um
dragão de komodo. Logo puxei na memória as aulas de biologia e lembrei que
esses animais são típicos da Indonésia e pior... podem comer seres humanos!
Meu suor escorria pelo corpo inteiro e quando o dragão abocanhou minha
roupa na tentativa de me comer vivinho o meu Gato chegou e me salvou! Ele
apareceu tão repentinamente que nem eu, nem o feroz animal pôde o ver! Ufa!
Consegui me salvar, Gato farejou os cocos como havia farejado o perigo por
mim e levamos o ingrediente para Asmara. Não que o perigo todo tenha valido
a pena, mas a comida estava realmente deliciosa!
Passei 15 dias colecionando boas histórias e criando laços com pessoas
especiais. Uma delas foi um piloto de avião chamado Éric, o qual me convidou
para mudar o meu destino. Me despedi das pessoas queridas e lá fui eu para a
Austrália!
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Cap. III - A injustiça.
Meu destino foi Sydney, capital do estado de Nova Gales do Sul. No
caminho para um hotel encontrei um menino negro, morador de rua chamado
Oliver. A princípio, e isso é comum nas pessoas, pensei que ele me assaltaria
ou que não teria nada para me contar. E foi a minha primeira grande
aprendizagem naquela cidade: ele tinha muita cultura e me indicou uma visita a
um monumento chamado “Ópera House” – um edifício lindíssimo!
Eu, Gato e meu novo companheiro Oliver fomos ao monumento,
assistimos a Orquestra Sinfônica de Sydiney e nos divertimos muito. Na hora
de irmos embora, já era de madrugada e nos assustamos com uma ratazana
que passava na rua. Corremos na direção oposta do bichinho quando ouvi um
barulho estrondoso. Olhei para o lado e vi o Oliver sangrando. Não pude
acreditar no que estava acontecendo. Percebi um buraco de bala em seu peito.
Em uma tentativa frustrada, tentei salvá-lo, tarde demais. Oliver falou suas
ultimas palavras “estaremos sempre juntos”. Nos abraçamos e ele se foi.
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Quem o matou? O que aconteceu? Também me perguntei isso e a
resposta foi a mais deprimente que você possa imaginar... Um policial nos viu
correndo e pensou que eu fugia do Oliver e o matou em um ato covarde, injusto
e preconceituoso.
Fiquei horrorizado com o que havia acontecido e quis fazer algo em
defesa do meu amigo. Organizei, então, uma manifestação contra o racismo e
preconceito. Fui até um órgão público, coletei alguns e-mails e elaborei uma
carta explicando o que aconteceu naquela noite e convidei todos para o
protesto. Muitas pessoas compareceram com cartazes, faixas e gritos de
igualdade e justiça.
Essa história me marcou muito. Aprendi a não julgar as pessoas pela
aparência e para marcar essa minha passagem fiz uma tatuagem –
manifestação comum nesse país – com a frase e o rosto de Oliver “estaremos
sempre juntos”.
Não poderia mais ficar naquela cidade. Tudo me lembrava Oliver. Pedi
novamente para Éric me dar uma carona para um novo destino: Estados
Unidos.
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Cap. IV – Uma perda dolorosa
Cruzamos o Oceano Atlântico e saímos em destino ao estado da Florida,
mais especificamente em Fort Lauderdale. Gato, meu companheiro, pôde viajar
comigo, já que seu porte é pequeno. O que foi um alívio, pois seria muito ruim
deixa-lo junto às malas.
“Bom dia senhores passageiros, meu nome é Tony e eu sou o
responsável pela nave E-jat 345. Hoje a temperatura é de 12 graus com
possibilidade de chuva leve. Tripulação, preparar para a decolagem”. Tudo
como o protocolo até aí.
Gato parecia agitado, como se estivesse prevendo algo. Comemos os
lanches oferecidos pela aeromoça (sempre comemos as guloseimas!) e no
momento da aterrisagem, uma catástrofe aconteceu. Todos nós sentimos um
grande tremor no avião, olhei pela janela e uma das asas estava pegando fogo.
Ficamos desesperados, as vibrações aumentavam e o avião terminou o seu
pouso de maneira brusca, trágica, como se fosse uma pequena queda livre.
Ao bater no chão, a nave acabou de explodir o motor e a parte da frente
ficou despedaçada. Muitos desmaiaram, outros se feriram gravemente e doze
pessoas faleceram, infelizmente. Eu fiquei acordado e comecei a sentir uma
dor insuportável em minha perna esquerda e quando dei por mim, não existia
mais esse membro em meu corpo. “Meu Deus! O que aconteceu!?”
Fomos todos socorridos e fui levado ao hospital mais próximo ao
aeroporto, já anestesiado. Fui operado por médicos muito competentes que me
colocaram uma prótese com a bandeira dos Estados Unidos estampada. Meus
pais foram me visitar e ficaram comigo até me adaptar com aquele novo jeito
de andar.
Foram alguns meses de fisioterapia e o Estado arcou com todos os
custos. Gato também foi companheiro nessa adaptação, me deu força,
incentivo e criamos ainda mais vínculos.
Meus pais insistiram para que eu voltasse ao nosso país e encerrasse ali
as minhas aventuras. Mas, foi em vão. Eu não desistiria do meu grande sonho
de viver aventuras pelo mundo. E depois de quatro meses de esforço, parti
para o próximo destino: Colômbia. 15
Cap. V – Em direção a um novo sonho.
Ao chegar na Colômbia, cidade de Bogotá, fomos ao hotel reservado e
ele era lindo e luxuoso. Na recepção tinha música e uma sala de espera
confortável, na área externa havia uma banheira de massagem e a cama do
nosso quarto era grande e macia. Gato também teve as suas regalias, sua
cama era fofinha e havia uma parte só para animais, com brinquedos e
comidas diferentes.
Ficamos sabendo que o hotel era parceiro do estádio da cidade:
Nomesio Camacho, mais conhecido como El Campin e lá estavam hospedados
todos os jogadores do clássico Millonarios e Independiente Santa Fé.
Estávamos indo tomar café da manhã e encontrei um jogador no
elevador que deixou um convite do clássico cair no chão. Fui devolver o
ingresso e fui surpreendido: o atleta me deu o convite. Osvaldo, goleiro do
Millonarios, me convidou para participar de um pré-treino no campo do hotel.
Eu falei: 16
-- O problema é que eu tenho uma prótese e não consigo jogar futebol.
Osvaldo logo me respondeu:
-- Você irá conseguir, é só tentar e ter coragem e inspiração.
Fiquei com essa ideia e repetindo para mim mesmo “eu consigo, eu
consigo, eu consigo”. No dia seguinte, como combinado, fui ao treino e... Não
foi possível. Esforcei-me muito, os jogadores me ajudaram, mas não é tão fácil
superar a perda de uma perna, quero dizer, o ganho de uma prótese.
Para me animar, o técnico me convidou para conduzir a bandeira da
seleção Colombiana no momento do hino e foi emocionante, mais que isso,
espetacular! Chorei muito e naquele momento criei forças para poder treinar e
me tornar um atleta profissional. Imaginei-me na próxima paraolimpíada. “Sim!
Eu irei me superar!”
Cap. VI – O raio.
Com esse propósito, pensei em um país que pudesse me proporcionar
bons treinos para o atletismo. Conversei com algumas pessoas e decidi ir
treinar na Jamaica.
Dessa vez o voo foi tranquilo, sem turbulências, trepidações ou sustos!
Chegamos ao destino e fomos procurar o centro de treinamento do atletismo.
Gato ficou no hotel descansando seus pelos!
A pista de corrida era a única da cidade, feita de terra com alguns
pedregulhos e com uma infraestrutura precária. Os atletas muitas vezes não
tinham tênis e treinavam descalços ou de chinelo. Apesar das condições não
favoráveis, eles eram perseverantes e dedicados.
Treinei por um ano, foram dias difíceis, de muito calor, pouco apoio do
governo, tênis desconfortáveis, pistas com buracos e pedras. Em uma manhã,
estava correndo quando tropecei no buraco e queimei a minha perna no asfalto
quente. Passei muita dor e fiquei com uma cicatriz em forma de raio.
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Depois desse dia, decidi procurar uma solução para aquela situação.
Procurei algumas empresas que poderiam patrocinar os atletas daquele país. A
adidas se comoveu com o nosso caso e nos ajudou com tênis adequados,
reformou a pista de treinamento, estabeleceu um salário aos atletas e nos deu
roupas adequadas para correr em temperaturas altas. Estávamos prontos para
participar das paraolimpíadas!
Apesar das dificuldades, fiz bons amigos e eles me ajudaram a perceber
o valor da superação. Adaptei-me a corrida, minha prótese não me atrapalhava
mais e já era um atleta pronto para o grande desafio!
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Cap. VII – Sonho realizado.
Chegamos ao país que aconteceriam as Olimpíadas e Paraolimpíadas –
O Brasil, país pelo qual tinha muito carinho. Lá, eu e Gato ficamos na casa de
um velho amigo.
O clima da cidade era de festa! Atletas de todos os lugares chegavam ao
Rio de Janeiro para o evento mais esperado dos últimos dois anos. Apesar de
ansioso, mantinha a calma durante as competições e observava o
comportamento dos meus companheiros.
O grande dia chegou! Era a minha vez de mostrar toda a superação dos
treinos! Entrei na pista e comecei o aquecimento, como de costume. As minhas
mãos suavam frio e estava pálido. Respirei fundo, controlei o meu nervoso e fui
para a largada.
Bííííííííí, tocou a buzina e lá fui eu! Eu e mais sete atletas corríamos atrás
de um grande sonho! Estava perdendo de cinco corredores, o meu nervosismo
ainda me atrapalhava. Nesse momento algumas histórias passavam em minha
mente, o avião, o acidente, as dores, as fisioterapias, o treino falido de futebol,
as pedras na pista de terra e foi então que uma força tomou conta de mim.
Respirei profundamente e comecei a correr o mais rápido que pude. Quando
dei por mim, ali estava em primeiro lugar! O estádio inteiro me aplaudia e senti
a maior emoção de toda a minha vida!
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Cap. VIII – O final.
Foram muitas as aventuras que vivi. Conheci pessoas, culturas, países e
fiz bons e verdadeiros amigos. Gato, meu fiel companheiro, faleceu quando eu
tinha 56 anos. Foi da maneira que ele merecia, sem dores e sofrimento, ele
simplesmente parou de respirar, pois estava bem velhinho.
Nos meus 90 anos voltei à Indonésia na ilha de Bornéu para saber
notícias da Asmara. Sabia que ela não estava mais entre nós, mas queria
notícias de como havia terminado a sua vida. Ao chegar na Ilha, tive uma bela
surpresa! Asmara pediu à sua filha mais nova que me esperasse, disse que
tinha certeza que eu voltaria buscar o presente que me prometeu. Pediu,
também, que eu contasse as minhas aventuras para ter certeza de que havia
acumulado muita experiência e faria jus ao presente. Após uma longa conversa
com sua filha, ela me levou a uma cabana e ali estavam as pessoas que fariam
o ritual. 22
Todos eram idosos e tinham o tão almejado alargador. Eles me
explicaram sobre aquela cultura, fizemos uma dança circular, cantamos
algumas músicas e rezamos. Não eram as orações que eu estava acostumado,
mas eram profundas e faziam menção a vários deuses. Agradecemos por toda
a nossa vida, à nossa saúde, amigos, beleza, alimentos, natureza, bons
sentimentos e no final do ritual fui presenteado com o alargador, simbolizando
a minha evolução na Terra.
Voltei ao país que fui criado, o Brasil, e é daqui que conto toda a minha
história. Hoje, com 96 anos de idade, sinto que estou pronto para partir. Não
tive filhos meus, mas deixei o meu legado para o mundo. Levei um pouquinho
de cada pessoa que conheci e deixei um pouquinho de mim. Espero que você
tenha gostado da minha história. Agradeço por ter me acompanhado até aqui e
espero que viva uma vida de aventuras e histórias suficientes para escrever um
livro!
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