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RUSSELL P. SHEDD AUTORIDADE PODER SHEDD »UllICAÇÔIS

Autoridade e Poder - Russel Shedd

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  • RUSSELL P. SHEDD

    AUTORIDADEPODER

    SHEDD U l l I C A I S

  • Dados Internacionais de Catalogao da Publicao (ClP)

    (Cmara Brasileira do liv ro , SP, Brasil)

    Shcdd, Russell P.Autoridade & poder / Russell P. Shcdd. -- So Paulo : Shcdd Publicaes, 2013,

    ISBN 978-85-8038-023-1

    1. Bblia - Autoridade 2. Biblia Unsino bblico 3. Kspirko Santo 4. Poder (Teologia crista) I. Ttulo.

    13-08914 CDD: 220.1

    ndices para catlogo sistemtico:

    1. Biblia : Autoridade e poder 220.1

  • RUSSELL P. SHEDD

    AUTORIDADE e PODER

    rSHEDDP U B L I C A E S

  • 1* Kdio - Agosto dc 2013

    Publicado no Brasil com a devida autorizao e com todos os direitos reservados por

    S h e d d P u b l i c a e s Rua So Nazrio, 30, S to Amaro

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    fotogrficos, gravao, estocagcm em banco de dados, etc.), a no ser em citaes breves

    com indicao de fonte.

    Printed in Brazil / Impresso no Brasil

    ISBN 978-85-8038-023-1

    Copyright S h h d d P u b l i c a e s

    R k v i s o : Vivian do Amaral Nunes D ia g r a m a o e C a p a : Kdmilson Frazo Bizcrra

  • Sumrio

    P a r t e 1

    A u t o r id a d e

    Introduo............................................................................................... 9

    1 .0 exerccio de autoridade no Antigo Testamento................... 152. A autoridade dejesus Cristo......................................................... 393. A autoridade da Palavra de D eus..................................................574. A autoridade da liderana da igreja local.................................... 795. A autoridade dos pais em casa...................................................... 976. A autoridade do Governo............................................................1037. A autoridade de Satans............................................................... 107

    P a r t e 2

    P o d e r

    8. Poder.................................................................................................1139. Exemplos do exerccio do poder do Esprito em Atos....... 11510. ( ) poder do Esprito nas Epstolas...........................................1211 1 .0 poder do Esprito nos filhos de D eus.................................141

    Concluso 151

  • PRIM EIRA PARTE

    AUTORIDADE

  • INTRODUO

    Logo aps 40 dias da ressurreio de Jesus, o Senhor se reuniu com os onze discpulos num monte no identificado na Galileia. No dia de sua entronizao destra do Pai, foi elevado visivelmente do monte das Oliveiras. Nessa ocasio, Jesus prometeu que eles receberiam poder ao descer sobre eles o Esprito Santo. No monte da Galileia, declarou: Foi me dada toda a autoridade nos cus e na terra (Mt 28.18).

    As duas palavras-chaves, autoridade e poder, facilmente se confundem, porm, no so especificamente sinnimas. Autoridade, s vezes, empregada quando se quer dizer poder, e em outros casos acontece o contrrio. Mas estes termos tm sentidos distintos, particularmente na Bblia. Os dois sentidos so paralelos, mas no sinnimos. Autoridade e poder so comparveis s duas pernas de um corredor. Nenhum corredor pode vencer uma corrida sem a cooperao e coordenao de suas duas pernas. Da mesma forma, uma vida sem submisso autoridade e sem revestimento de poder no agrada a Deus.

    Autoridade d uma nfase sobre o direito de mandar, ou seja, o poder exercido legitimamente. J o poder compreende-se no contexto de fora aplicada diretamente. Por exemplo, ao se

  • dirigir um automvel subentende-se que o dono legtimo do carro tem autoridade pela aquisio legal do veculo e est submisso todas as exigncias do Estado. Neste exemplo, o poder refere-se ao combustvel e ao motor que movimentam o carro.

    Todos ns j passamos por muitas experincias que foram marcadas pela fora da autoridade de uma outra pessoa ou entidade. Pais mandam em filhos, professores em alunos, chefes mandam em seus empregados, policiais do trnsito mandam parar numa b l i t enquanto fiscais aplicam multas pela autoridade da lei. Autoridades controlam e marcam muitas aes de nossas vidas, todos os dias. Obrigaes, muitas vezes, so as consequncias das decises daqueles que exercem autoridade sobre ns. Viver sob autoridade faz parte da vida humana, a nova vida em Cristo, tambm. Ela no deixa de ser uma vida de submisso ao Senhor. O senhorio de Jesus Cristo central para a vida dos salvos pela graa. Reconhecer a sua autoridade final sobre ns, seus seguidores, deve ter prioridade para ns.

    Mas, como se sentiram os discpulos de Jesus no monte sem nome, na Galileia (veja Mt 28.16)? Ele tinha mandado que fossem para l logo aps a sua ressurreio precisamente para esse encontro. Foi ali que Jesus declarou que toda autoridade nos cus e na terra tinha sido dada para ele. Quem deu essa autoridade para ele foi o prprio Deus Pai.

    Nos anos de seu ministrio, era natural para seus discpulos entender que Jesus tinha autoridade. Durante os meses que antecederam sua crucificao, ele abertamente se autodenominou Mestre ou Rabino. Mais difcil, certamente, foi a incluso do adjetivo toda com o termo autoridade, em sua despedida dos discpulos na Galileia. O que, ento, significa e implica esta autoridade? E mais especificamente, como podemos entender a autoridade absoluta que Jesus reivindicou? Como podemos entender o poder (dunamis) do Esprito Santo na vida do cristo?

    Em Atos 1.8, a promessa que Jesus fez apresentou a palavra poder como seu termo central. O revestimento do Esprito

    10

  • II

    Santo forneceria poder para os discpulos, caracterstica essencial para haver eficcia na divulgao do Evangelho. Um automvel sem combustvel tem pouca utilidade. O cristo sem poder vai experimentar a frustrao do fracasso. Jesus mandou que seus discpulos no sassem de Jerusalm antes de serem revestidos do poder do alto (Lc 24.49).

    Como todos sabem, outras fontes de autoridade se destacam na vida crist, tais como a autoridade da Bblia, a autoridade dos apstolos, dos pastores e das igrejas sobre seus membros. Sem falar da autoridade dos governantes do pas em que vivemos. Mas, meu foco neste livro ser tratar da autoridade do ponto de vista bblico e assim entender as suas implicaes para a vida de todos aqueles que se converteram e esperam passar da centralidade do eu para abraar a supremacia de Cristo. Alm disso, examinarei o termo poder no Novo Testamento, especialmente em relao ao Esprito Santo.

    O significado de autoridadeSer que temos dificuldade em entender a palavra autori

    dade (lat. auctoritat) em suas razes? A palavra em portugus tem sua origem latina na raiz (acto) auto. Tambm podemos perceber que autor vem de auto, algo ou algum que age livremente, que decide e faz. Ter autocontrole significa fazer o que se quer. Um autor de fico, seguindo esta linha de pensamento, algum que tem a liberdade de fazer os personagens agirem como ele quer. Isto , ele exerce autoridade sobre eles.

    Em grego, a palavra autoridade exousia. Ela composta de duas palavras, ex, ir para fora, surgir de dentro, como em extrair. A outra palavra ous/a, uma forma do particpio, ser. A palavra ser comunica essncia, portanto, a fonte da autoridade. Neste sentido, a autoridade de uma pessoa se nota ao perceber a sua essncia, sua capacidade de persuadir que possui autoridade. Ela tem direito de impor a sua vontade e de coagir ou persuadir, uma vez que se reconhea sua confiabilidade.

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    Podemos reconhecer a autoridade de um policial do trnsito atravs de um simples gesto ao indicar para um motorista parar. Isso quer dizer que quando uma autoridade levanta o brao apontando para um motorista ele deve parar. Por via de regra, a inclinao maior do motorista ser parar em vez de ignorar a ordem recebida. Alguns anos atrs, pude experimentar essa verdade na prtica. Estava viajando com Peter Cunliffe, fundador da editora Mundo Cristo. Cerca de meia-noite, na Via Dutra, numa viagem para Caxambu, MG, ele se queixou de sentir muito cansao. Pediu que eu tomasse o volante, o que faria de boa vontade, porm, com uma reserva: no trazia a carteira de habilitao no bolso. No planejava dirigir, portanto, deixei o documento em casa. Mas, como achava pouco provvel que um guarda me parasse, aceitei o pedido do amigo e comecei a dirigir. De repente, apareceu um policial com a mo erguida. Interpretei corretamente que queria que parasse. Ainda que tivesse muito mais poder do que ele sobre o carro sob meu controle e, facilmente, pudesse ter ignorado o gesto, parei! No foi um encontro muito agradvel. Acredito que o policial suspeitava que eu no tinha autorizao para dirigir ou que fazia pouco caso da lei.

    Naquela noite, foi reforada uma verdade que j conhecia desde criana. Autoridade nada tem a ver com o tamanho do portador dessa autoridade, nem da sua fora fsica, mas com o respeito que o cidado inspira. Quem tem o direito de mandar comunica sua autoridade com palavras, gestos ou mesmo com um olhar. Deve ele, de fato, ser obedecido ou no? Mais de uma vez um bbado apareceu em minha frente enquanto dirigia. Fazia o mesmo gesto do policial, mas eu no o obedeci. Fiquei convencido de que ele no tinha autoridade nenhuma para mandar no trnsito nem farda tinha!

    Por outro lado, quando meu pai ajuntou os trs filhos pequenos na cozinha de nossa casa na Bolvia, pendurou um chicote de cavalo atrs da porta, dizendo: Nesta casa nunca

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    vai se mentir; nesta casa nunca se responder para mame sem respeito; nesta casa nunca se pronunciar um palavro Sua autoridade foi, de fato, reforada por aquele instrumento capaz de criar dor, pendurado na porta, mas, mesmo assim, ns no imaginamos que desobedecer fosse uma opo. Todos ns j reconhecamos sua autoridade antes mesmo de ele nos ameaar com um castigo severo em caso de desobedincia. Crescemos respirando a atmosfera de uma casa em que os pais tinham plena autoridade sobre os filhos. No lembro de uma nica vez em que qualquer um de ns, abertamente, desafiou essa autoridade que Deus deu aos pais.

    A autoridade existe medida que os sujeitos reconhecem que a pessoa que a exerce tem o direito de governar. Ela teria mesmo esse direito? A anarquia no convm sociedade, nem aos filhos dominar seus pais ou aos estudantes desprezar seus professores. Estes no podem comunicar seus conhecimentos se os alunos no respeitam sua autoridade. Quando alunos assistem aulas apenas para namorar, brincar e conversar, impossvel aproveitar a matria. Quando alunos tratam seus professores com atitudes arrogantes de insubmisso, a autoridade deles desaparece. Os resultados so caticos. E impossvel amadurecer, ser um cidado que contribui para a sociedade, ser um filho que alegra seu pai ou um empregado que cumpre as ordens do seu chefe sem a disciplina de se submeter autoridade.

    Vivemos num mundo cado em que todos querem a liberdade de agir de acordo com sua prpria vontade, por isso, a autoridade quase sempre acompanhada por ameaas veladas, advertncias, castigos e consequncias desagradveis. A vontade prpria e a rebeldia precisam ser coibidas por castigos penosos. As leis do trnsito demonstram como a sociedade inclui motoristas que odeiam perder tempo numa viagem e excedem a velocidade permitida. As autoridades que controlam o trnsito, notando a falta de submisso lei, mandam ao culpado uma notcia da infrao e a penalidade apropriada. O direito

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    e a responsabilidade das autoridades disciplinar os cidados que no respeitam as leis do trnsito. A recente instalao de aparelhos que medem eletronicamente a velocidade dos carros coopera com as autoridades para manter a disciplina dos motoristas. Multas pesadas e pontos perdidos nas carteiras mostram o preo que so obrigados a pagar por sua falta de respeito autoridade. As leis do trnsito tm a louvvel finalidade de evitar graves acidentes devido a imprudncia. A punio aplicada pelas autoridades existe para disciplinar os indivduos que, de outro modo, no respeitariam essas leis.

    A Bblia consistentemente ensina que as autoridades governamentais exercem um direito que recebem de Deus. Todos devem sujeitar-se s autoridades do pas, pois no h autoridade que no venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas (Rm 13.1). Desobedecer autoridades que Deus instituiu pecado, pois o rebelde se ope a Deus. Aqueles que assim procedem trazem condenao sobre si mesmos (v. 2b). Essa condenao no diz respeito exclusivamente s penas impostas pelas leis, mas ao Senhor que tem autoridade acima delas.

    C) apstolo Paulo vai mais longe: Se voc praticar o mal, tenha medo, pois ela (a autoridade) no porta a espada sem motivo. serva de Deus, agente da justia para punir quem pratica o mal (v. 4). Significa que a punio imposta por uma autoridade tem o aval de Deus, conquanto que o julgamento seja justo e a autoridade legtima.

    Assim, a autoridade dos representantes do governo, legitimamente constitudo, deve ser obedecida. Essa submisso no algo ruim, mas bom. Ela tambm no anula a exigncia de obedincia a Cristo, mas, porque queremos obedecer a Cristo, nos sujeitamos autoridade. H excees, claro. Quando houver conflitos entre as leis de Deus e as leis criadas pelos homens, a lei de Deus supera o direito do governante que contrariou ou ultrapassou a lei de Deus.

  • CAPTULO 1

    O exerc id o de a u to r id a d e no A n tigo T estam en to

    O Antigo Testamento consistentemente mostra que a autoridade tem sua fonte e legitimao em Deus. Ele tem pleno direito de fazer como quer, uma vez que Deus o Criador. Os autores humanos do primeiro testamento concordariam com a posio de Paulo que declara: Pois dele, por ele e para ele so todas as coisas (Rm 11.36) e |...| No h autoridade que no venha de Deus (Rm 13.1). Toda autoridade que os homens dispensam, portanto, deve ser uma extenso da autoridade que Deus exerce. O direito de governar, mandar e reinar da parte dos homens encontra-se na Bblia, porm, esse direito tem sua fonte inteiramente em Deus.

    Ado e EvaO relato da criao do primeiro casal informa ao leitor

    que Deus criou o homem sua imagem [...] homem e mulher os criou. Dentre as implicaes para a humanidade que esta frase inclui, est o direito de subjugar a terra, dominar sobre os peixes do mar, as aves do cu e sobre todos os animais que se movem pela terra (Gn 1.27,28). Aqui no h meno de alguns indivduos dominarem outros habitantes da terra. Isso quer

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    dizer que Deus no previu a necessidade de governo e domnio humano? Podemos raciocinar que se o primeiro casal no tivesse pecado, rebelando-se contra o mandamento do Senhor, todos os homens teriam vivido diretamente sujeitos a Deus. ( ) mundo seria uma verdadeira teocracia, sem necessidade de reis, presidentes, juizes e policiais. A perfeita obedincia a Deus teria mantido uma harmonia e uma paz que no exigiriam impostos, leis humanas ou presdios. Todos falariam a mesma lngua. Sem egosmo algum, mostrariam o perfeito amor de uma famlia cujos membros querem o melhor uns para os outros.

    O ltimo livro da Bblia descreve um futuro, aps a volta de Jesus Cristo, em que o governo humano no ser mais necessrio. No vi templo algum na cidade, pois o Senhor Deus todo poderoso e o Cordeiro so o seu templo (Ap 21.22). ( ) governo eclesistico ser desnecessrio. A cidade no precisa de sol nem de lua para brilhar sobre ela, pois a glria de Deus a ilumina, e o Cordeiro a sua candeia. As naes andaro em sua luz, e os reis da terra lhe traro a sua glria. [...] A glria e a honra das naes lhe sero trazidas. Nela jamais entrar algo impuro, nem ningum que pratique o que vergonhoso ou enganoso, mas unicamente aqueles cujos nomes esto escritos no livro da vida do Cordeiro (Ap 21.23-27). Evidentemente, no haver autoridade seno aquela exercida por Deus, o Todo-Poderoso e pelo Cordeiro. Os reis da terra trazem glria ao Cordeiro, mas no impem sua autoridade. A caracterstica extraordinria da Nova Aliana ser uma realidade absoluta e no apenas parcial: Porei a minha lei no ntimo deles e a escreverei nos seus coraes [...]. Ningum mais ensinar ao seu prximo nem ao seu irmo, dizendo Conhea ao Senhor, porque todos eles me conhecero (Jr 31.33,34).

    Mas todos conhecem o desfecho da histria do primeiro casal. Apesar de estar empossado de autoridade e poder diretamente da boca de Deus (Gn 1.28), no resistiu a mais de um teste. Na primeira prova, uma serpente, certamente um dos animais sobre quem deveriam dominar, foi capaz de no apenas

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    questionar a autoridade de Deus, como desafi-la. Com sucesso, ento, a serpente fez com que o casal jogasse por gua abaixo a autoridade do Senhor. Foi isso mesmo que Deus disse: No comam de nenbum fruto das rvores do jardim? (Gn 3.1), em outras palavras, a serpente sugere que Deus estava sendo autoritrio, um verdadeiro dspota, pois como ele proibiria que eles usufrussem do melhor do jardim? A primeira impresso que a isca lanada pela serpente no tivesse surtido efeito algum, pois a mulher prontamente responde: Podemos comer do fruto das rvores do jardim (Gn 3.2). ( ) problema que ela vai um passo alm, e a serpente consegue lanar a dvida no corao da mulher quanto perfeio da autoridade de Deus. Ela diz: No comam do fruto da rvore que est no meio do jardim, nem toquem nele (Gn 3.3). A ordem inicial de Deus no fazia meno alguma sobre no tocar. Deus dissera: Coma livremente de qualquer rvore do jardim, mas no coma da rvore do conhecimento do bem e do mal. Se houve algo foi a total liberalidade e amor providencial da parte de Deus, com uma nica exceo, e no o contrrio, como a serpente props. Mas, por mais barata que fosse a sua proposta, isso foi suficiente para que o casal casse na cilada. Assim, vemos que eles no apenas questionam a bondade da ordem de Deus e a sua autoridade como tambm falham em exercer o poder sobre os animais, neste caso, uma serpente falante.

    Caim e AbelO primeiro homicdio na histria humana apresenta um

    enigma. Por que ser que Caim se enfureceu a ponto de planejar destruir a vida de seu irmo mais novo que nada lhe fizera para provocar tamanha raiva irracional? E possvel que a humilhao frente rejeio do seu sacrifcio tenha sido to profunda que provocou esse dio mortfero. Foi um golpe to forte contra a sua autoestima que se sentiu na obrigao de eliminar o seu irmo por imaginar que ele fosse seu rival.

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    Por ser o irmo mais velho, naturalmente, Deus deveria lhe dar prestgio e honra maiores do que a Abel. Ao eliminar Abel, pelo menos, poderia demonstrar que tinha mais poder do que seu irmo. O Senhor, ento, perguntou se ele tinha razo para ficar com o rosto transtornado. O pecado o ameaava porta; ele (o pecado) deseja conquist-lo, mas voc deve domin-lo (Gn 4.7), foi o alerta de Deus. Quer dizer, Deus deu para Caim autoridade e poder para vencer o pecado, mas ele se recusou a aproveit-los. Usou seu poder para assassinar Abel. Assim, notamos o primeiro abuso de poder de um indivduo contra o seu semelhante, alem de tambm se rebelar contra a autoridade de Deus.

    JosJos, filho de Jac, foi escolhido por Deus para ser seu

    servo como primeiro ministro do Egito. Espanta-nos lembrar do modo que Deus preparou Jos para exercer uma responsabilidade to grande, somente inferior ao prprio fara. Num mundo cado como o nosso, tomar as rdeas e impor a vontade prpria sobre outros seres humanos requer um preparo especial da parte de Deus. Esse preparo pode envolver uma disciplina que ns rejeitaramos se no fosse Deus que a impusesse. O caminho que Jos trilhou para chegar a ser vice-governador do fara, o segundo na hierarquia do poder no Egito, no foi escolhido por ele.

    Primeiro, Jos foi informado, por meio de sonhos, que ele reinaria sobre seus irmos e at o prprio pai (Gn 37.5-11). Os sonhos profticos confirmaram que o plano do curso da vida de Jos emanava da soberana escolha de Deus. Segundo, os seus irmos queriam frustrar a soberana vontade de Deus, da planejaram mat-lo. Depois da objeo de Rben, decidiram vend-lo aos ismaelitas como escravo. Estes passaram o jovem escravo para Potifar, um oficial egpcio, capito da guarda de

  • fara. Assim, Jos aprendeu a administrar os bens dos outros com honestidade e humildade. Ganhou experincia e confiana.

    Terceiro, a esposa de Potifar se apaixonou pelo simptico Jos. Agora, ele precisava passar pelo teste de domnio prprio. Mas, o assdio dessa mulher estimulou nele, no um ardor sexual, mas, uma dependncia do Senhor. Como poderia eu, ento, cometer algo to perverso e pecar contra Deus? (Gn 39.9). Um estilo de vida de governante que confia inteiramente no Senhor vence as muitas tentaes que autoridades tm de enfrentar.

    Quarto, seu compromisso com a Lei de Deus e a pureza de vida o lanou na priso. Mas o Senhor estava com Jos e o tratou com bondade, concedendo-lhe a simpatia do carcereiro (Gn 39.21). Nesta condio opressiva, Jos comeou a exercer autoridade; ficou com a responsabilidade da administrao da priso. O carcereiro no se preocupava com nada que estava a cargo de Jos, porque o Senhor estava com Jos e lhe concedia bom xito em tudo o que realizava (Gn 39.23).

    Quinto, o fara reconheceu o valor do ex-escravo e ex-presidi- rio depois que Deus deu para Jos a interpretao dos sonhos do rei. Jos o aconselhou sobre quem o fara deveria escolher: um homem criterioso e sbio e coloque-o no comando da terra do Egito (Gn 41.33). O fara reconheceu que Jos seria a pessoa mais indicada.

    Era de se esperar que Jos administrasse de modo excelente todo o processo de estocar e distribuir os alimentos no perecveis durante os sete longos anos de fome que dominaram o Egito.

    Em todo esse processo preparativo, notvel como Deus agiu nos mnimos detalhes para tirar Jos da desgraa e exalt-lo, sempre acompanhando-o at galgar a mais alta autoridade debaixo do fara. Ainda mais significativo perceber o modo com que Jos foi transformado num instrumento nas mos de Deus para salvar muitas vidas. Falando para seus irmos, Jos observou:

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    Vocs planejaram o mal contra mim, mas Deus o tornou em bem, para que hoje fosse preservada a vida de muitos! (Gn 50.20). Jos, sendo submisso autoridade de Deus, foi exaltado por Deus para exercer autoridade e poder.

    Moiss investido com autoridadeConsidere uma segunda ilustrao do princpio segundo

    o qual um futuro lder se submete inteiramente autoridade do Senhor para ser honrado com autoridade e poder. Essa notvel pessoa foi Moiss. Como ele foi preservado do afogamento decretado pelo fara uma histria bem conhecida. A interveno divina explica como Moiss ironicamente passou a ser criado no palcio do rei egpcio pela sua prpria filha que o adotou. E possvel que essa jovem, no futuro, pudesse passar grande poder ao filho, possivelmente o direito de governar o pas como o fara. Moiss, convicto de um chamado da parte de Deus, recusou ser chamado filho da filha do fara, preferindo ser maltratado com o povo de Deus a desfrutar os prazeres do pecado durante algum tempo (Hb 11.24).

    Nem tudo, porm, foi perfeito em sua trajetria, e Moiss ultrapassou os limites da autoridade quando tomou o poder de vida e morte em suas prprias mos. Matou um egpcio que espancava um escravo hebreu (Ex 2.11). Deus no demorou a mostrar a Moiss, este brilhante, dedicado, patriota hebreu, que ele tinha ultrapassado os direitos que lhe concedera. Agiu de maneira autoritria, independente.

    Ao saber que havia sido descoberto, sem proteo do estado ou de Deus, Moiss fugiu para a terra de Midi, no Sinai, onde Deus inseriu em seu ntimo a convico de que toda autoridade pertence ao Senhor. Toda a autoridade que Moiss tinha como neto do fara foi reduzida at governar apenas um rebanho de ovelhas do seu sogro Jetro (Ex 3.1). Quarenta anos depois, Deus achou Moiss preparado e digno de receber autoridade e

  • encabear a libertao dos filhos de Israel e conduzi-los durante quarenta anos at a Terra Prometida.

    ( ) esprito meigo e manso de Moiss se evidencia na sua tentativa de recusar a autoridade que Deus lhe oferecia ao envi-lo ao fara para tirar o povo do Senhor do Egito. Quem sou eu para apresentar-me ao fara e tirar os israelitas do Egito? foi a pergunta natural de Moiss. Talvez ele tivesse percebido que autoridade, liderana e o direito de mandar nos outros no produz felicidade ou satisfao se Deus no estiver realmente no comando. Para amenizar esse problema, o Senhor prometeu: Eu estarei com voc (x 3.11,12). A NV1 traduz xodo 7.1, assim: Dou lhe a minha autoridade perante o fara. Comunica bem o que diz o hebraico: Eu o coloco por Deus. Moiss, revestido com a autoridade divina, poderia falar para o soberano poltico humano com autoridade maior, a autoridade de Deus.

    A familiaridade que a histria do xodo tem para a maioria dos leitores no deve anular a verdade diante das mais claras declaraes que Moiss expressa em seu cntico - que o verdadeiro heri do xodo no foi ele, mas o prprio Deus. Cantarei ao Senhor, pois triunfou gloriosamente. I muou ao mar o cavalo e o seu cavaleiro! O Senhor a minha fora e a minha cano; ele a minha salvao!|...] O Senhor guerreiro, o seu nome Senhor (Iav). Ele lanou ao mar os carros de guerra e o exrcito do fara. [...] Senhor (Iav), a tua mo direita foi majestosa em poder. Senhor (lave), a tua mo direita despedaou o inimigo. Em teu triunfo grandioso, derrubaste o s teus adversrios [...] (x 15.1-7). Todo este salmo de vitria no abre espao algum para incluir o importante papel que Moiss desempenhou. No h nenhuma sugesto de que Moiss cooperou com o Senhor nesta vitria sensacional. Tanto a autoridade e poder se ajuntaram para glorificar o Deus nico, todo-poderoso. Moiss no passou de uma vara na mo de Iav, comparvel vara na mo de Moiss em sua liderana como representante do Senhor.

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  • O dilogo de Moiss com Deus mostra claramente por que Moiss foi escolhido por ele para liderar o povo de Israel. Disse Moiss ao Senhor: Tu me ordenaste: Conduza este povo, mas no me permites saber quem enviars comigo. Disseste: PLu o conheo pelo nome e de voc tenho me agradado. Se me vs com agrado, revela-me os teus propsitos, para que eu te conhea e continue sendo aceito por ti. Lembra-te de que esta nao o teu povo. Respondeu o Senhor: Eu mesmo o acompanharei, e lhe darei descanso (Ex 33.12-14). Aqui, toda a nfase est voltada necessidade que Moiss tem de ter a cooperao do Senhor na tarefa de governar. Para Moiss, conduzir as centenas de milhares de israelitas, de maneira segura, at eles conquistarem a terra dos cananeus, requeria que Deus estivesse no comando. Somente com a soberana ao divina gozariam da paz que esses ex-escravos israelitas esperavam na sua prpria terra. Sabiamente, Moiss no confiou em sua habilidade natural ou autoridade humana, mas no Senhor, que necessariamente o acompanharia.

    Deus no permitiu que Moiss entrasse na Terra Prometida. Parece injusto e incoerente que Deus proibisse este lder de participar da triunfante entrada na terra que, durante quarenta anos, foi seu sonho. Seria a culminante marca de sucesso, mas Deus falou claramente: Suba este monte da serra de Abarim e veja a terra que dei aos israelitas. Depois de v-la, voc tambm ser reunido ao seu povo, como seu irmo Aro, pois, quando a comunidade se rebelou nas guas do deserto de Zim, vocs dois desobedeceram minha ordem de honrar minha santidade perante eles (Nm 27.12-14; veja Nm 20.8-12). O pecado de Moiss e Aro, movidos pela raiva e impacincia, foi exercer autoridade independentemente da autoridade de Deus. Desobedeceram s instrues especficas que Deus pronunciara claramente. Isso constituiu-se em rebeldia. Exercer autoridade sem autorizao de Deus somente pode ser considerado subverso

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  • e rebeldia. Do Senhor (Jav) a terra e tudo o que nela existe, o mundo e os que nele vivem (SI 24.1). Mesmo lderes como Moiss e Aro no tiveram o direito de agir por conta prpria.

    No constitui segredo nenhum que o mundo cado em que vivemos busca, de modo consciente ou inconsciente, o domnio, independentemente da autoridade do Senhor. Pouqussimos governantes atuam em dependncia de Deus e da sua revelao na Bblia. Se tivessem o cuidado de no desobedecer nenhum dos seus mandamentos, seria evidente que eles so instrumentos nas mos de Deus. Ao subir a escada do poder, manifesta-se uma forte tendncia a se sentir arrogante, mais importante e melhor do que os outros. Autoridades facilmente engolem a isca satnica que as prendem a pensamentos indevidos. Uma posio de autoridade sobre os outros naturalmente fortalece o sentimento que a posio de chefe de estado acarreta privilgios e benefcios barrados a pessoas comuns.

    Ao passar as rdeas da autoridade para um sucessor, Moiss pede especificamente que Deus designe um homem como lder da comunidade (Nm 27.16). O Senhor escolhe Josu, homem em que est o Esprito (v. 18) para conduzi-los em suas batalhas, para que a comunidade do Senhor no seja como ovelhas sem pastor (v. 17). Deus repudia a anarquia, mas ao mesmo tempo reserva o direito de escolher o governante segundo seu prprio corao. Ele ordena que Moiss d parte da sua autoridade para que toda a comunidade de Israel lhe obedea (v. 20). A imposio das mos de Moiss sobre Josu foi uma maneira de mostrar a transferncia da autoridade do veterano para o novo lder (v. 23).

    Aps a morte de Moiss, Deus exortou Josu, dizendo: Seja forte e corajoso, porque voc conduzir este povo para herdar a terra que prometi sob juramento aos seus antepassados [...]. Tenha cuidado de obedecer a toda a lei que o meu servo Moiss lhe ordenou, no se desvie dela, nem para a direita nem para a

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    esquerda, para que voc seja bem-sucedido por onde quer que andar (]s 1.6,7). Para que Josu cumprisse fielmente tudo o que est escrito nas palavras do Livro da Lei, ele precisaria conhecer e meditar nelas, dia e noite. E a segurana vinda da parte de Deus que, assim, o exerccio da sua autoridade seria bem-sucedido. E mais, a promessa do Senhor que estaria com Josu (w. 8,9). Novamente, como no caso de Moiss, Deus prometeu estar com o novo lder, sempre e por onde quer que ele andasse.

    Podemos confirmar a tese que exercer autoridade um privilgio e uma responsabilidade sagrados. Almejar autoridade sem reconhecer a necessidade de subordinao quele que a fonte dessa autoridade inverte o propsito divino em constranger a independncia dos homens para buscar o bem-estar de todos. A unidade de uma famlia depende dos membros se submeterem autoridade do pai, que tem a responsabilidade de conduzir sua famlia nos caminhos do Senhor. As palavras inspiradas de Paulo no devem ser esquecidas ou desprezadas. Quero [...] que entendam que o cabea de todo homem Cristo, e o cabea da mulher o homem, e o cabea de Cristo Deus (ICo 11.3).

    George Mller temia tomar decises no autorizadas por Deus. Esse foi o principal motivo que, antes de construir mais um edifcio para o enorme orfanato em Bristol, no sul da Inglaterra, mesmo com marcas claras da bno divina sobre essa obra gigantesca, orou durante seis meses. Ele insistia com o Senhor que ele confirmasse a sua vontade. Quando concluiu que Deus tinha mostrado sua aprovao, no se importou se tinha dinheiro ou no para levantar o prdio. Avanou confiantemente.

    Vemos nas Escrituras, com frequncia, homens que arrogaram para si autoridade que no era uma extenso da autoridade divina. C) escritor de Juizes, por exemplo, faz questo de explicar que, aps a morte de Josu, surgiu uma gerao que no conhecia o Senhor (2.10). Os desastres e calamidades que os israelitas sofreram foram a consequncia da perene inclinao de buscar

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    a prosperidade nos dolos e no culto aos baalins. Hm vez de se humilhar diante do Senhor e se arrepender dos seus pecados, cada um fazia o que lhe parecia certo (Jz 21.25). Acharam que as suas prprias ideias serviriam como bssola espiritual e moral, em vez das Sagradas Letras que Moiss tinha recebido por revelao especial e que Josu tinha se comprometido a seguir. Os juizes que Deus levantou para tirar o povo do domnio dos inimigos conquistadores (Jz 2.16) no conseguiram estabelecer uma autoridade suficientemente segura para manter o governo estvel mais do que uma gerao. O governo do povo de Deus passou um longo perodo catico de independncia e domnio dos inimigos pagos. Os lderes fizeram pouco caso da premente necessidade de estabelecer autoridade legtima e permanente somente com a submisso decidida vontade revelada de Deus. Sem essa submisso no havia poder para resistir aos seus inimigos.

    A triste histria de Gideo e sua famlia ilustra bem o princpio bblico. A brilhante vitria de Gideo sobre as numerosas foras midianitas (Jz 6 e7 ) foi seguida pelo desastroso reinado de Abimeleque, seu filho com sua concubina. Ao usar de esperteza, este arrogante indivduo tomou o poder aps a morte do seu pai, matou todos os setenta irmos, filhos legtimos de Gideo (Jz 9.5,6). Sem nenhuma administrao do poder de acordo com as normas da Lei de Deus, Abimeleque ilustra o princpio bblico da vingana de Deus sobre aqueles que desprezam absolutamente a autoridade do Senhor sobre suas vidas. Morreu quando uma mulher jogou uma pedra de moinho na sua cabea, em Tebes (Jz 9.53). Sem a bno da autoridade de Deus, era natural que o poder para manter seu governo casse.

    SamuelA autoridade de Deus vista na vida e servio do sacerdote,

    profeta e juiz Samuel, mostra o modo que Deus queria governar

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    o seu povo. Samuel, desde pequeno, foi consagrado por toda a sua vida ao Senhor (ISm 1.28) por Ana e seu marido. Ele era o fruto da resposta de orao, j que Ana era estril, e assim Deus, graciosamente, lhe deu esse filho. Ainda muito pequeno, Samuel ouviu o Senhor lhe chamando para passar a mensagem de juzo ao sumo sacerdote Eli sobre seus filhos desprezveis. Durante toda a vida, Samuel recebeu ordens do Senhor para repassar aos lderes e liderados. Desse modo, a vontade de Deus foi conhecida e obedecida. Porm, os prprios filhos de Samuel no andaram em seus caminhos. Eles se tornaram gananciosos, aceitavam suborno e pervertiam a justia (ISm 8.3). No h explicao para uma omisso luz do desvio dos filhos de Eli. Foi Samuel que transmitiu a mensagem do Senhor para o pai negligente, porm, ele mesmo no conseguiu, mais tarde, passar para os prprios filhos as duras lies que a famlia de Eli experimentou.

    Ainda que Samuel tivesse nomeado seus filhos como lderes de Israel, eles no tinham condies espirituais nem morais para cumprir o papel de autoridade mxima sobre o povo. Ento, os lderes regionais se reuniram para pedir que Samuel escolhesse um rei para encabear o pas. Samuel entendeu esta ao como rejeio de sua autoridade, uma vez que ele tinha nomeado os filhos para cumprir esse papel. Deus declarou que no era a rejeio de Samuel, mas dele mesmo. Assim como fizeram comigo desde o dia em que os tirei do Egito, at hoje, abandonando-me e prestando culto a outros deuses, tambm esto fazendo com voc (ISm 8.8).

    Deus conhece o futuro to completamente como o passado. Previu que o exerccio da autoridade plena dos reis no criaria a utopia que imaginavam, mas uma vida penosa e sofrida. FLssa predio do Senhor se cumpriu na vida da maioria dos reis que governaram o reino unido de Israel e, depois, os reinos divididos.

    A escolha de Saul foi marcada pela esperana que um homem como ele, profundamente humilde, da menor das tribos,

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    do cl mais insignificante (ISm 9.21) permanecesse consciente de sua falta de merecimento para governar sobre o povo de Deus. Mas essa atitude logo se dissipou como o orvalho nas folhas num dia de calor forte. Saul no se submeteu autoridade absoluta de Deus, nem teve compromisso real com ele. Apodreceu com cimes e inveja como fruta ruim e intragvel. Cumpriu-se o provrbio: poder corrompe e poder absoluto corrompe absolutamente. No aprendeu a se arrepender de verdade, nem a reconhecer a soberana autoridade de Deus. Agiu independentemente, para sua autodestruio.

    DaviA biografia bblica de Davi revela um homem que soube

    agir com integridade, mesmo depois que Deus lhe escolheu para exercer autoridade real em Israel. Deus havia rejeitado Saul como rei, o que abriu a porta para a uno de Davi como futuro detentor da autoridade mxima em Israel.

    A dramtica cena que encontramos em 1 Samuel 16 demonstra a importncia de no se considerar a aparncia, uma vez que o Senhor no v como o homem: o homem v a aparncia, mas a Senhor v o corao (v. 7). Foi Davi que Deus percebeu ter um corao e carter que se alinhavam bem com a sua autoridade suprema. No tentou antecipar sua subida ao trono, mas pacientemente aguardou o momento em que Deus o elevaria soberania sobre Israel. Quando os representantes das tribos de Israel vieram a Hebrom para declarar a lealdade total a Davi, disseram: O Senhor te disse Voc pastorear Israel, o meu povo, e ser o seu governante (2Sm 5.2).

    A palavra pastorear comunica uma gama de conceitos fundamentais para o exerccio de poder. Primeiro, aponta para o cuidado que o pastor tem pelas ovelhas (SI 23): ele as conhece, as ama, busca a perdida, preocupa-se com o alimento e satisfao da sede delas.

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    Segundo, pastorear requer uma preocupao particular com a proteo das ovelhas. A prpria segurana do pastor fica subordinada segurana do rebanho. Quantas guerras e batalhas Davi liderou, dando mxima ateno ao bem-estar do exrcito e pas inteiro. Davi no foi homem perfeito, como podemos perceber em 2Samuel 11, porm, diferentemente de Saul, seu arrependimento foi genuno e transformador (veja SI 51).

    Terceiro, acima de tudo, Davi priorizou a vida espiritual do povo. Isso se demonstrou na instalao da arca do Senhor em Jerusalm, danando com toda a sua fora perante o Senhor (2Sm 6.14). Ele pretendeu levantar um templo que mostrasse ao povo toda a supremacia de Deus tanto no governo como na sua vida pessoal.

    Todos os salmos que Davi comps, direta ou indiretamente, nos impressionam pelo amor que tinha pelo Senhor e sua Palavra. Quando a autoridade mxima no pas mostra uma atitude de humilde submisso ao Senhor, esperamos ver os benefcios das boas escolhas que o dirigente da nao faz. Estes foram bvios no caso de Davi at que sofreu as tristes consequncias de seu adultrio com Bateseba na criana que gerou e, especialmente, nos filhos Amnom e Absalo. Um bom pastor como Davi pode falhar e ir colher o fruto de seu pecado, mesmo aps a certeza do perdo da parte de Deus.

    SalomoAo pedir sabedoria ao Senhor, a impresso que se tem que

    Salomo seria um rei que enfatizaria merecidamente Deus e sua Palavra como o centro do seu governo. Mas, antes do trmino de seu reinado, percebe-se que casamentos com mulheres que no professavam lealdade ao Deus de Israel e a instituio de trabalhos forados rapidamente aniquilaram o amplo favor que gozava junto aos seus sditos. Onde armazenou Salomo o acervo de sabedoria que marcou os primeiros anos de sua vida?

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    A construo do templo e a orao preservada em 1 Reis 8 e 2Crnicas 7 mostram nitidamente o bom comeo de Salomo, porm IReis 11 ressalta a falta de sabedoria na medida em que a supremacia de Deus recuava. Casou com setecentas princesas e trezentas concubinas, e as suas mulheres o levaram a desviar- se. medida que Salomo foi envelhecendo, suas mulheres o induziram a voltar-se para outros deuses e o seu corao j no era totalmente dedicado ao Senhor, o seu Deus, como fora o corao do seu pai Davi (lR s 11.3,4). A lio que Salomo aprendeu em sua juventude foi esquecida em sua velhice. Roberto Clinton, professor do Seminrio Fuller, na Califrnia, reconhece que mais pessoas, na Bblia, comearam bem do que terminaram vitoriosamente. Um nmero surpreendentemente grande de lderes e reis de Israel encerrou suas carreiras mal.

    As sementes da diviso do pas por Jeroboo foram plantadas por Salomo. O abuso de sua autoridade e as medidas para gerar prosperidade econmica provocaram a oposio das dez tribos do norte (lR s 12.10), uma poltica que Roboo seu filho manteve e pretendia intensificar. A falta de humildade e de submisso orientao de Deus rapidamente criou condies que explicam, pelo menos parcialmente, a ausncia de reis piedosos durante toda a existncia do Reino do Norte.

    EzequiasO autor de 2Reis elogia Ezequias como o lder que superou

    a justia dos outros reis de Jud. Ele fez o que o Senhor aprova, tal como tinha feito Davi, seu predecessor. [...] Ezequias confiava no Senhor, o Deus de Israel. Nunca houve ningum como ele entre todos os reis de Jud, nem antes nem depois dele. Ele se apegou ao Senhor e no deixou de segui-lo [...] o Senhor estava com ele; era bem-sucedido em tudo o que fazia (2Rs 18.3,5-7).

    Que fatores ou influncias formaram o carter deste homem de Deus? O texto sagrado no oferece informao suficiente

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    para sustentar uma explicao. Seu pai, Acaz, no estabeleceu nenhum vnculo entre Ezequias e o Deus criador e sustentador do universo. Acaz no deu nenhuma base para fundamentar-lhe a f. Pelo contrrio, imitou os costumes das religies pags das naes que o Senhor tinha expulsado da Terra Santa. Chegou ao extremo de queimar um filho em sacrifcio, prtica condenada veementemente por Deus. Queimou sacrifcios e incenso nos altares idlatras no alto das colinas e debaixo de toda rvore frondosa (2Rs 16.3,4).

    Talvez Ezequias tenha concludo que a vida de seu pai, dominado por superstio e repdio Lei do Senhor, no produziu qualquer benefcio para Israel. Pelo contrrio, claramente se mostrou como a porta para o caminho da destruio. possvel que tenha percebido que o paganismo do Reino do Norte trouxera a maldio sobre as dez tribos no ataque da Assria sob Sargo II que conquistou a nao. Israel no somente foi aniquilada, mas perdeu sua identidade no exlio na Assria (2Rs 17). Talvez tenha sido pela influncia do profeta Isaas, contemporneo de Ezequias, que acompanhou os eventos dramticos do ataque de Senaqueribe, com orao e bons conselhos, que o reino do sul no teve o mesmo destino. O poderoso rei da Assria, Senaqueribe, com um exrcito enorme e disciplinado, chegou com a inteno de esmagar Jerusalm, como tinha feito com as outras cidades que lhe haviam oferecido resistncia. Mas Ezequias mandou um pedido urgente a Isaas para suplicar pela assistncia divina. A profecia que os mensageiros trouxeram de volta para Ezequias mostra como Deus reagiu diante das palavras blasfemas dos assrios. No tenha medo das palavras que voc ouviu, das blasfmias que os servos do rei da Assria lanaram contra mim. Eu farei tomar a deciso de retornar ao seu prprio pas, quando ele ouvir certa notcia. E l farei morrer espada (2Rs 19.6-7). A narrativa da Bblia foi confirmada pela descoberta arqueolgica em que Senaqueribe declara que fechou Ezequias em Jerusalm como numa gaiola. Seu exrcito

  • foi dizimado com 185 mil soldados, mortos pelo anjo da morte, e o prprio rei assassinado por seus filhos alguns anos aps sua volta para Nnive (2Rs 19.35-37).

    A explicao do extraordinrio livramento de Ezequias e da nao sob o seu comando ilustra o princpio fundamental de que a autoridade pertence a Deus. O bem-sucedido governante que obedece fielmente ao Senhor pode contar com o poder dele. Esse foi o segredo da vitria do rei Ezequias, contrastada com Oseias, ltimo rei de Israel (2Rs 17.3-7).

    JosiasUma das decises mais significativas de Josias foi reformar

    o templo. No oitavo ano do seu reinado, Josias renunciou abominvel corrupo e idolatria politesta que dominara o governo de seu pai Amom e de seu av, Manasses. Como no caso de Ezequias, ele mudou por completo o rumo do reino durante sua curta vida. Instigou a reforma do templo e rasgou as vestes, como sinal de arrependimento, ao ouvir as palavras do Livro da Lei (2Rs 22.11). A reforma motivada pelo rei Josias foi mais extensa e mais profunda do que a de Ezequias, segundo o Prof. Waite.30 No se restringiu destruio dos altares em Jud e Benjamim, mas passou por Efraim, chegou terra de Naftali e adentrou a Galileia. Cumpriu a profecia acerca do altar erguido por Jeroboo em Betei (2Rs 23.15-18). A Pscoa que Josias celebrou em Jud foi maior do que aquela patrocinada por Ezequias, no havendo igual desde os dias de Samuel. Submeteu-se autoridade do seu Deus de tal modo que se torna difcil entender sua morte prematura em Megido. Ser que ele teve um surto de autoconfiana que lhe assegurou a vitria sobre o fara Neco II? Mesmo depois de repetidas afirmaes que o fara teria vindo para dar assistncia aos assrios contra a Babilnia, Josias no lhes deu ouvidos. As declaraes que mandou passar para Josias no lhe convenceram (2Cr 35.21,22). Neco, porm, enviou-lhe mensageiros, dizendo:

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    10 Veja o artigo no Novo dicionrio da Biblia.

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    No interfiras nisso, rei de Jud. Desta vez no estou atacando a ti, mas a outro reino com o qual estou em guerra. Deus me disse que me apresasse; por isso para de te opores a Deus, que est comigo; caso contrrio, ele te destruir . Suponho que Josias agiu independentemente e no tinha autorizao da parte do Senhor para batalhar contra o fara. Claramente no tinha foras para combater contra o exrcito do Egito. Acontece que vidas preciosas, como a de Josias, so desperdiadas por carecerem da direo divina para avanar contra o inimigo. Assim, Josias tropeou num ponto central que o deixou sem a autorizao de Deus e, consequentemente, sem o seu poder.

    A reforma de Josias durou pouco tempo. Durante sua vida, o povo cumpriu suas ordens. Ele exerceu autoridade pessoal, mas no criou razes mais profundas. Sua autoridade sobre os filhos que o sucederam no marcou suas vidas. Obviamente, no produziu nenhum amor santidade em seu filho Jeoacaz que reinou apenas trs meses. Jeoaquim, filho de Josias tambm, reinou de 608 a 598 a.C , porm, no mostrou nenhuma piedade como seu pai demonstrara (2Cr 36.5-8). Nabucodonozor o levou para a Babilnia sem autoridade e poder algum. Os catastrficos reinados da maioria dos dirigentes de Israel e Jud confirmam a tese de que sem a autoridade de Deus nenhum governo pode ter consistncia ou permanecer.

    JA mensagem do livro de J ressalta de maneira convincente

    o princpio de submisso autoridade e seu vnculo com o poder. A histria conhecida deste homem rico e piedoso do oriente no precisa ser recontada. Satans desafiou a Deus com a opinio que muitos homens tambm tm: Ser quej no tem razes para temer a Deus? [...] Tu mesmo tens abenoado tudo o que ele faz, de modo que os seus rebanhos esto espalhados por toda a terra. Mas estende a tua mo e fere tudo o que ele tem, e

  • com certeza ele te amaldioar (1.9-11). O Adversrio usava o argumento da teologia da prosperidade: se Deus nos trata muito bem, naturalmente ns o obedeceremos e seguiremos os seus conselhos. O homem precisa de outro incentivo do que o amor e satisfao em Deus para servi-lo e obedec-lo!

    ( ) enredo do livro e dos consoladores Elifaz, Bildade e Zofar, que argumentaram com lgica irrefutvel, Deus justo, portanto, sofrimento e calamidades na vida pressupe a punio divina. Eli, e finalmente J, tambm afirmam que a infinita grandeza de Deus o exalta acima de nossas especulaes crticas. Mas eu lhe digo que voc (isto , J) no est certo, porque Deus maior do que o homem (J 33.12). Considere suas palavras: No se pode nem pensar que Deus faa o mal, que o Todo-Poderoso perverta a justia (34.12). Deus no pode ser ru e ser julgado por algum juiz humano, criatura sua. Sua soberania indiscutvel no cabe dentro dos moldes pequeninos e frgeis de criaturas. Paulo estava certo: O profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quo insondveis so os seus juzos e inescrutveis os seus caminhos! Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Quem primeiro lhe deu, para que ele o recompense? (Rm 11.33-35).

    A concluso nica que o autor de J admite que Deus retm absoluta autoridade e todo o poder para fazer com eles o que bem entender. Ns devemos nos arrepender se, por acaso, achamos que Deus nos tem tratado injustamente. A submisso e dependncia de um beb nos braos da me seria o quadro mais perfeito para descrever a premente necessidade de sujeitar-nos debaixo da poderosa mo de Deus. A sugesto do diabo amaldioar o que parece injustia divina. J, e com ele toda a Bblia, declaram: glorifique a Deus pela sua grandeza e poder. Guarde os seus mandamentos e arrependa-se quando um pensamento de altivez cruzar sua mente.

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  • HDanielO jovem Daniel, tambm cativo, levado para a Babilnia

    por Nabucodonosor, ilustra perfeitamente o princpio que o homem que se humilha e se compromete totalmente com a vontade de Deus recebe sua aprovao e recompensado com poder. Daniel foi levado cativo para a Babilnia no terceiro ano do reinado de Jeoaquim. Foi um servo do Senhor que exaltou seu Mentor, o Deus de Israel. Correu com as duas pernas de sujeio autoridade de Deus e, consequentemente, foi exaltado com poder e grande influncia por ele.

    Daniel manteve a autoridade de Deus acima da de Nabucodonosor, de maneira que resistiu ordem do rei para no ficar contaminado com os alimentos proibidos pela I^i mosaica. possvel que sua averso dieta do palcio fosse devida ao fato de os alimentos serem consagrados aos dolos, por meio de ritos pagos. Juntamente com seus colegas hebreus, voluntariamente se sujeitou a uma dieta de vegetais e gua durante dez dias para provar que eram to saudveis como aqueles jovens que se alimentavam com a dieta que Nabucodonosor estipulara. Daniel e seus colegas hebreus, que honraram a Deus, ficaram mais saudveis do que os jovens que se alimentaram com a dieta do rei. Alm do mais, Deus acrescentou aos jovens sabedoria e inteligncia extraordinrias (Dn 1.17). Assim, destacaram-se, no somente em sua piedade, mas tambm no testemunho que compartilharam. A influncia de Daniel foi tamanha que o mais poderoso homem do mundo veio a se humilhar debaixo do Rei dos reis e Senhor dos senhores.

    O Senhor revelou a Daniel o significado do sonho de Nabucodonosor (Dn 2), faanha que levou o rei a coloc-lo como governador sobre toda a provncia da Babilnia, alm de chefiar todos os sbios da mesma provncia (Dn 2.48). O segundo sonho de Nabucodonosor (Dn 4.1-18) tambm foi interpretado corretamente pelo profeta escolhido por Deus.

  • Uma vez cumprida a profecia transmitida no sonho, Nabuco- donosor reconheceu a grandeza do Deus nico. Suas palavras, inesperadas, de rei pago glorificaram o Deus de Israel: Agora eu, Nabucodonosor, louvo, exalto e glorifico o Rei dos cus, porque tudo o que ele faz certo, e todos os seus caminhos so justos (Dn 4.37).

    Quando Dario, o medo, conquistou a Babilnia, Daniel tinha mais de oitenta anos. Mas Dario nomeou sobre todo o seu imprio medo-persa 120 strapas, governadores, e colocou trs supervisores, um deles era Daniel. Novamente, notamos a maneira que Deus elevou seu servo para exercer autoridade fundamentada no poder. C) imprio medo-persa foi o maior da histria at o sexto sculo antes de Cristo.

    Notavelmente, Daniel se importava pouco com o decreto promulgado pelo rei Dario que condenava a todo aquele que orar a qualquer deus ou a qualquer homem nos prximos trinta dias, exceto a ele, o rei, pois seria atirado na cova dos lees (6.7). Daniel reconheceu a plena soberana autoridade de Deus sobre o homem mais poderoso do mundo. Agiu como se o decreto no existisse. Orou como de costume, trs vezes por dia (6.10), confiante de que no sofreria mal algum. Ou se Deus quisesse que ele morresse, a glria seria dele. Feliz aquele servo que confia no Senhor de todo o seu corao e no se apoia em seu prprio entendimento (Pv 3.5). Daniel poderia ter se escondido, orando no seu corao, sem se ajoelhar ou mover os lbios. Mas, corajosamente, ele desobedeceu ao decreto do rei, confiando que Deus reinava sobre as circunstncias da sua vida. Outra vez, a glria de Deus foi exaltada na preservao da vida do seu sem ). Mais importante ainda foi o decreto de Dario, escrito aos homens de todas as naes, povos e lnguas de toda a terra: Paz e prosperidade! Estou editando um decreto para que em todos os domnios do imprio os homens temam e reverenciem o Deus de Daniel. Pois ele o Deus vivo e permanece para sempre;

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  • o seu reino no ser destrudo, o seu domnio jamais acabar. Ele livra e salva; faz sinais e maravilhas nos cus e na terra. Ele livrou Daniel do poder dos lees (Dn 6.26-27).

    JonasA atuao deste enigmtico profeta, Jonas, mostra como um

    homem escolhido por Deus pode resistir a uma ordem especfica dele e sofrer as consequncias. Deus deu esta ordem: V depressa grande cidade de Nnive e pregue contra ela, porque a sua maldade subiu at a minha presena (Jn 1.2). Jonas, deliberadamente, decidiu desobedecer a ordem especfica de Deus. O texto diz que fugiu da presena do Senhor, isto , viajou de navio na direo oposta a Nnive. A famosa narrativa explica que as consequncias de sua desobedincia foram o envio de uma violenta tempestade que ameaou o navio de arrebentar-se e a todos os tripulantes com afogamento. Jonas conseguiu convencer o capito que a razo do iminente desastre fora seu deliberado desrespeito autoridade legtima de Deus. Quando o culpado foi lanado ao mar, este se aquietou.

    Um peixe preparado por Deus engoliu o profeta rebelde. O captulo dois mostra a profundidade do arrependimento deste homem escolhido por Deus para ser arauto na imensa cidade, capital da Assria. As palavras de Jonas espelham a mudana radical do profeta. Mas eu, com um cntico de gratido, oferecerei sacrifcio a ti. O que eu prometi cumprirei totalmente. A salvao vem do Senhor (Jn 2.9).

    A proclamao do juzo vindouro sobre a cidade e seus milhares de habitantes provocou um arrependimento genuno e profundo. Notvel neste pequeno livro de Jonas a presteza com que o rei da Assria e seu povo se humilharam ao ouvir a mensagem de Jonas. Parece que os assrios estavam mais dispostos a acreditar na autoridade e poder de Deus do que o prprio profeta.

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    O captulo quatro apresenta o desfecho com uma atitude inesperada de Jonas. Fie demonstra que amava mais a sombra da planta que o abrigou do escaldante calor que milhares de almas ameaadas. Cento e vinte mil habitantes inocentes seriam ceifados. Jonas ficaria feliz caso a cidade fosse destruda como ele mesmo havia anunciado.

    Uma das mensagens que o pequeno livro de Jonas nos ensina que muito difcil obedecer s ordens de Deus quando elas contrariam nossas preferncias. Claramente Jonas precisava se submeter vontade amorosa de Deus acima do seu desejo de presenciar a destruio do povo inimigo, a Assria. Deus amou o mundo e enviou seu Filho para tirar o pecado do mundo. Arrependimento e f naquele que sofreu as consequncias de nossa rebeldia cancelam a ameaa do juzo vindouro.

    EsterMesmo que o livro de Ester no faa nenhuma referncia

    direta a Deus, notvel o controle soberano que Deus tem sobre poderosos reis como aqueles que dominaram o governo da Mdia e da Prsia. Como no exemplo de Daniel, a espantosa autoridade desptica dos reis do Imprio persa era absoluta. Ambos, Ester e Mardoqueu, foram instrumentos nas mos de Deus para desviar o desprezo e dio mortfero de Ham. Xerxes, rei da Prsia, passou para Mardoqueu autoridade. Foi o segundo na Hierarquia, depois do rei Xerxes, no imprio (Et 10.2,3).

    Todos estes casos deveriam nos convencer de que a suprema autoridade de Deus necessria para dominar e guiar a todos os que exercem poder. Os lbios do rei falam com grande autoridade; sua boca no deve trair a justia (Pv 16.10). Poder produz apenas a razo humana para se vangloriar, mas a autoridade que Deus d requer humildade e submisso autoridade superior.

    Ao passar para o Novo Testamento, precisaremos focar na humilhao de Jesus Cristo: Que embora sendo Deus, no

  • considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente at a morte, e morte de cruz! (Fp 2.6-8). Sua encarnao foi uma humilhao das mais radicais, quando o Deus Filho se rebaixou e viveu sob as limitaes impostas pela carne, cumprindo perfeitamente a vontade do Pai. Seu exemplo apresenta um quadro-modelo para todos aqueles que tm autoridade e exercem poder. Com ele, podemos aprender o que realmente significa tomar a responsabilidade da autoridade eclesistica ou governamental.

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  • CAPTULO 2

    *A a u to r id a d e de J e s u s C risto

    Os nomes e ttulos de Jesus comunicam sua autoridadePodemos nos surpreender quando tentamos reunir todos os

    nomes e ttulos que identificam o Senhor Jesus Cristo no Novo Testamento, pois so muitos. A palavra do anjo que anunciou o nascimento de Jesus a Jos instruiu o futuro marido de Maria que o filho que nasceria milagrosamente deveria ser chamado Jesus. Jesus significa lav salva. No hebraico, Josu tem o mesmo significado. O anjo explica que este nome ser de Jesus porque ele salvar o seu povo dos seus pecados (Mt 1.21). Que a autoridade de perdoar pecados pertencia a Jesus, aparentemente um mero homem, virou ponto de conflito com os mestres da lei que raciocinavam que Jesus, pretendendo perdoar pecados, estaria blasfemando. Jesus, por outro lado, disse: Mas, para que vocs saibam que o Filho do homem tem na terra a autoridade para perdoar pecados (Mc 2.10) ao mandar que o paraltico se levantasse, pegasse sua maca e fosse para casa. (3 doente se levantou e obedeceu a ordem de Jesus. Por esse ato sobrenatural, Jesus fechou as bocas dos mestres da lei e persuadiu a todos os presentes que aquele que tinha autoridade

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    para restaurar um paraltico completa sade, tambm teria autoridade para perdoar pecados. Ambas as atribuies so prerrogativas exclusivas de Deus.

    Aqui encontramos, pela primeira vez (em Marcos; veja tambm os Evangelhos de Mateus 9.6 e Lucas 5.24), o ttulo favorito de Jesus em sua autodesignao: Filho do homem. Evidentemente, ele usou este ttulo para descrever seu carter e misso com referncia a Daniel 7.13,14. Em minha viso noite, vi algum semelhante a um filho de homem, vindo com as nuvens dos cus. Ele se aproximou do ancio e foi conduzido sua presena. Ele recebeu autoridade, glria e o reino, todos os povos, naes e homens de todas as lnguas o adoraram. Seu domnio um domnio eterno que no acabar, e seu reino jamais ser destrudo.31

    Este ttulo define o Messias da esperana proftica como divino, mas tambm humano. Ainda que sua autoridade seja absoluta, igual de Deus, Jesus usa esta designao em referncia sua morte (Mc 8.31; 9.31; 10.33 e assim por diante). Como o Servo Sofredor de Isaas, o Filho do homem incorpora o povo universal de Deus, ajuntando os eleitos de todos os povos e lnguas. Como o Messias, inseparvel dos seus sditos, o Filho do homem, depois de sofrer, ser exaltado. Compartilhar todos os benefcios do seu sacrifcio com os seus.

    Em sua orao sacerdotal, Jesus declara: [...] Glorifique o teu Filho, para que o teu filho te glorifique. Pois lhe deste autoridade sobre toda a humanidade para que conceda vida eterna a todos os que lhe deste (Jo 17.2). O Pai deu exclusivo direito para o Filho conceder vida eterna aos escolhidos pelo Pai, isto , para perdoar os seus pecados e tornar pecadores culpados em santos imaculados diante de Deus. Este direito pertence a Jesus e a mais ningum. Ele a razo de os redimidos de todas as tribos, lnguas, povos e naes reconhecerem, juntamente com

    31 Veja o artigo de J. N. Geldcnhuys no Novo Dicionrio da fiblia.

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    os vinte quatro ancios, que Jesus digno de receber e abrir o livro selado porque ele foi morto e com o seu sangue comprou os que o Pai lhe deu. Ele tem o direito de exercer autoridade de salvar a todos os que creem, procedendo de toda tribo, povo, lngua e nao (Ap 5.9).

    Mateus lembra os seus leitores que o nascimento virginal de Jesus cumpriu uma profecia extraordinria de Isaas 7.14: A virgem ficar grvida e dar luz um filho, e o chamaro Emanuel que significa Deus conosco (Mt 1.23). Este nome, Emanuel, no foi usado para identificar Jesus nos evangelhos. Haveria dvida de que ele faria parte do acervo de ttulos que foram autorizados pelas profecias para descrever acuradamente a pessoa de Jesus? Ele foi, de fato, a encarnao de Deus. Todas as coisas foram feitas por intermdio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito (Jo 1.3). O nico Deus, Criador dos cus e da terra tornou-se carne e viveu entre ns. Vimos sua glria, glria como do Unignito vindo de Deus (Jo 1.14). E impossvel no perceber que aquele que tabernaculou entre ns foi Emanuel. Basta admitir esta verdade estupenda para entender por que Joo relata que Jesus sabia que o Pai havia colocado todas as coisas debaixo do seu poder (lit. colocado todas as coisas em sua mos) (Jo 13.3). Ele Deus. Sua autoridade, como a do Pai, absoluta.

    O ttulo, Cordeiro de Deus, usado por Joo Batista, aponta para a verdade que Jesus tira o pecado do mundo (Jo 1.29,36). Com este nome devemos entender que a autoridade de Jesus inclua o perdo de pecados. Seu sacrifcio vicrio para anular a culpa do pecado o autorizou com o direito exclusivo de Deus de declarar pecados perdoados. Paulo escreveu: Deus o ofereceu como sacrifcio para propiciao [...] pelo seu sangue (Rm 3.25). A propiciao se refere maneira como a morte sacrificial de Cristo removeu a dvida que o pecado coloca na conta de todo pecador. Ele cancelou a escrita da dvida que consistia em

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    ordenanas no obedecidas. Ele a removeu, pregando-a na cruz (Cl 2.14). Jesus foi e nosso substituto perfeito, uma vez tendo oferecido a si mesmo como o bom Pastor que d sua vida pelas ovelhas (Jo 10.11). Por ter oferecido sua vida em substituio pela nossa, ele tem plena autoridade para mandar e governar as vidas dos remidos.

    Joo Batista entendeu perfeitamente que no era para resistir crescente popularidade de Jesus. Identificou Jesus como aquele que vinha depois dele, um homem que seria superior a ele, porque j existia antes de mim 0o 1.30), disse Joo. Nos evangelhos sinticos, Joo assegura seus discpulos de que batizava com gua para arrependimento. Mas depois de mim vem algum mais poderoso do que eu, tanto que no sou digno nem de levar as suas sandlias (Mt 3.11). Joo no o Messias. Sua autoridade limitada, mas aquele que vem aps ele [...] traz a p em sua mo e limpar sua eira, juntando seu trigo no celeiro, mas queimar a palha com fogo que nunca se apaga (Mt 3.12). Jesus, o Messias, traria salvao e juzo. A voz que saiu da nuvem, na hora da transfigurao, dizia: Este o meu Filho, o Escolhido; ouam a ele! (Lc 9.35). A autoridade de Jesus Cristo foi de Deus, enquanto a autoridade de Joo foi de um profeta humano.

    A figura messinica do Servo de Iav descrito por Isaas tambm cumpre o papel de substituto: traspassado por causa das nossas transgresses, foi esmagado por causa de nossas iniquidades; [...j cada uma de ns voltou para o seu prprio caminho; e o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos ns (Is 53.5,6). O Senhor fez da vida deste Servo uma oferta pela culpa, mas ele ressuscitaria dos mortos para ver sua prole e prolongar seus dias (Is 53.10). Porm, ele ser levantado e erguido e muitssimo exaltado (Is 52.13), o que implica sua autoridade (cf. Fp 2.9-11). O Servo tambm Senhor.

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    Mesmo que o termo Redentor no aparea no Novo Testamento para identificar o Senhor Jesus (o termo goel, redentor, refere-se a Deus, no Antigo Testamento, em: J 19.25; SI 19.14; 78.35 e jr 50.34; e 14 vezes em lsaas), o ato de redimir destacado em relao Jesus Cristo (G1 3.13,14; IPe 1.18; Ap 14.3). O sentido de autoridade tem seu espao em palavras como redeno e redimir. Referem-se, no Novo Testamento, libertao de escravos por meio de um preo pago para quebrar as cadeias que algemavam os escravos ao dono anterior. Nele temos a redeno por meio do seu sangue (Ef 1.7) omite mencionar a obrigao que a autoridade do novo dono tem. Porm, as implicaes da redeno do Cordeiro de Deus so claras em outro texto de Paulo. Vocs foram comprados por alto preo. Portanto, glorifiquem a Deus com o corpo de vocs (ICo 6.20). Neste caso, Jesus Cristo, tendo redimido seu povo, tem plenos direitos sobre os escravos libertos. Eles no so mais donos de si mesmos. Cristos que no reconhecem a autoridade de Jesus, agindo e decidindo como senhores de suas vidas, contradizem a redeno que eles afirmam possuir. Negam a redeno que supostamente Cristo pagou para adquiri-los.

    Andr, aps o convite de Jesus, encontrou seu irmo Simo Pedro. Disse para ele: Achamos o Messias (Jo 1.40,41). Este ttulo na lngua hebraica quer dizer, ungido, correspondendo ao grego Cristo. Jesus cumpriu cinco elementos includos na expectativa judaica no Antigo Testamento. O Ungido escolhido, indicado para cumprir o propsito redentivo de Deus, para exercer juzo sobre os inimigos. Deus lhe d domnio sobre as naes. Em todas as responsabilidades o prprio Iav que age.32 Tanto Andr como a mulher de Sicar, a samaritana, foram desafiados a reconhecer que Jesus era o esperado rei messinico celestial que viria para cumprir a esperana de Israel e muito mais.

    32 Veja o Novo dicionrio da Biblia, artigo de F. F. Brucc, Messias.

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    A prtica no Israel da Antiguidade foi ungir o(s) indivduo(s) que Deus escolhera para ser(em) sacerdote(s) ou rei(s), e com esse ato passavam a autoridade vinculada ao seu ofcio. Unja Aro e seus filhos e consagre-os para que me sirvam como sacerdotes. Este ser o meu leo sagrado para as unes, gerao aps gerao. No o derramem sobre nenhum outro homem [...] (Ex 30.30-32). A consagrao com o leo sagrado separava o sumo sacerdote de todos os outros homens para encabear o servio religioso. Sua autoridade na vida espiritual da nao era total. Durante o perodo entre os Testamentos, antes do nascimento de Jesus, surgiram sumo sacerdotes indignos de exercer autoridade civil ou religiosa. Suas aes e carter eram uma negao da uno que haviam recebido.

    Jesus, por outro lado, o grande Sumo Sacerdote, misericordioso e fiel com relao a Deus por causa de sua encarnao. Foi necessrio, diz o autor de Hebreus: que ele se tornasse semelhante a seus irmos [...] para fazer propiciao pelos pecados do povo (Hb 2.17). Ele capaz de socorrer os que esto sendo tentados (v. 18). Mas, devemos lembrar, disse o autor de Hebreus que: Ningum toma esta honra para si mesmo, mas deve ser chamado por Deus, como de fato foi Aro. Da mesma forma, Cristo no tomou para si a glria de se tornar sumo sacerdote, mas Deus lhe disse: [...] Tu s sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque (Hb 5.4-6). A uno serviu para comunicar que Deus tinha escolhido o sacerdote e o autorizado para servir em relao s coisas de Deus. Essa autoridade sacerdotal no podia ser transferida por vontade humana, nem tomada pela fora. Era direito de Deus partilhar sua autoridade com seus escolhidos.

    O rei Uzias de Jud ultrapassou seu direito de rei e o seu orgulho provocou sua queda. Foi infiel ao Senhor, o seu Deus, e entrou no templo do Senhor para queimar incenso. O sumo sacerdote Azarias e mais oitenta sacerdotes o enfrentaram, declarando que Uzias no tinha autoridade para queimar incenso

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    no altar porque era tarefa exclusiva de sacerdotes. O castigo pelo seu pecado foi a lepra que apareceu em sua testa na hora (2Cr 26.16-19). Naquele momento, Uzias perdeu sua autoridade soberana. Podemos at dizer que sua uno foi cancelada.

    Igualmente, a consagrao do rei para governar a nao lhe concedia autoridade suprema. O Senhor mandou Samuel ungir Saul como lder sobre o meu povo, Israel (ISm 9.16). Quando Samuel cumpriu esse ritual de consagrao, apanhou um jarro de leo, derramou-o sobre a cabea de Saul e o beijou, dizendo: ( ) Senhor o tem ungido como lder da herana dele (1 Sm 10.1). Com essa uno, foi entendido que ele tinha o direito dado por Deus de exercer autoridade sobre Israel. Essa exaltao no lhe deu o direito de agir independentemente da vontade de Deus. A razo de Saul ser destitudo do trono foi precisamente porque desobedeceu a ordem expressa de Deus. As palavras de Samuel dizem tudo: Voc rejeitou a palavra do Senhor, e o Senhor o rejeitou como rei de Israel (ISm 15.26).

    Samuel tambm ungiu Davi, logo depois de rejeitar Saul com rei. O drama todo que Samuel e Jess passaram em torno de quem era o escolhido por Deus enfatiza que Deus no escolhe seu ungido pela aparncia ou altura. Deus no valoriza a aparncia, mas o carter e a qualidade do corao (ISm 16.7). Davi foi o homem que Deus disse ser segundo o seu corao. Davi foi o homem que forneceu o ideal do Messias que a nao esperava, um indivduo que incorporaria perfeitamente a natureza de Deus, por um lado, e sua perfeita vontade, por outro. Esse ideal se manifestou na pessoa de Jesus de Nazar. Muito mais do que mero homem, o Eleito foi Deus encarnado, perfeito homem e perfeito Deus.

    Jesus e o Reino de DeusA mensagem central da pregao de Jesus foi o reino de

    Deus que um dia ele governaria. importante reconhecer que Jesus no pensava em um territrio sobre o qual reinaria. O

  • termo basileia (grego) comunica a ideia de reinado, no de um pas ou uma regio, como Herodes governava. Trata-se de um domnio sobre sditos que reconhecem sua autoridade absoluta sobre eles. Em Mateus 8.11, temos um exemplo dessa ideia. Eu lhes digo que muitos viro do oriente e do ocidente e se sentaro mesa com Abrao, Isaque e Jac no Reino dos cus, mas os sditos sero lanados para fora, nas trevas, onde haver choro e ranger de dentes. Jesus declarou claramente que seu reino no era deste mundo 0o 18.36).

    A igreja que Jesus prometeu estabelecer e edificar no deve ser identificada com o reino. H aspetos do reino que coincidem com a igreja, mas outros no fazem parte do reino de Deus. O fato que o Messias - nosso Rei divino j veio e reina agora. Essa verdade no deve nos cegar ao fato de que ainda no vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas (Hb 2.8). Sua autoridade absoluta. Mas enquanto o evangelho no tiver sido pregado a todos os povos e lnguas, aguardamos pacientemente a vinda do reino. A plenitude dos gentios ainda no foi inserida na oliveira cultivada. Esperamos o reino visvel no futuro. Enquanto aguardamos a converso de Israel (Rm 11.25), o dia abenoado da Segunda Vinda de nosso Rei no chegar. Quando vier, Jesus colocar todos os seus inimigos debaixo de seus ps.

    A primeira pregao dejesus, em Marcos, sobre o reino foi a respeito de sua proximidade. O tempo chegado, dizia ele. O Reino de Deus est prximo. Arrependam-se e creiam nas boas novas! (Mc 1.15). Como George Ladd declara, o reino chegou na pessoa de seu Rei, Jesus Cristo, mas ainda no chegou em sua plenitude. Jesus disse: O Reino de Deus est entre (ou em) vocs (Lc 17.21), por um lado. Mas Jesus ensinou seus discpulos a pedir que o reino venha (Lc 11.2). Sua autoridade no foi questionada pelos discpulos. Quando Jesus os convidou a segui-lo, no hesitaram. No mesmo instante eles deixaram as suas redes e o seguiram (Mc 1.18). Entenderam que, se Jesus era rei, obedincia a ele era imprescindvel.

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  • O choque que seu aparecimento provocou na sinagoga de Cafarnaum compreensvel. Ensinou como algum que tem autoridade; repreendeu um demnio que ficou humilhado diante de sua autoridade (Mc 1.23-27). No teve outra opo seno obedecer. Milagres foram realizados por ele sem impedimento. Os poderes do reino se manifestaram em sua pessoa.

    Marcos relata outro incidente no ministrio de Jesus, novamente em Cafarnaum, numa casa. Ele pregava a palavra, quando chegaram quatro homens, carregando um paraltico. Impedidos de aproximar-se dele por causa da multido, removeram parte da cobertura da casa, e baixaram em seguida a maca em que o paraltico estava deitado.

    T. Keller descreveu o acontecido assim: O que esses homens estavam to determinados a conseguir de Jesus? Bem, a princpio no parece que Jesus tenha entendido. Jesus se voltou para o homem paraltico e, em vez de dizer levanta-te, ests curado, disse Filho, os teus pecados esto perdoados. (...) FIntenda que o principal problema na vida de uma pessoa nunca seu sofrimento, mas sim seu pecado. [...] Naturalmente, todo paraltico deseja, com cada partcula do seu ser, voltar a andar. Com toda certeza, esse homem estava depositando todas as suas esperanas na possibilidade de voltar a andar. Em seu corao, certamente ele dizia: se pudesse voltar a andar, estaria feito na vida. Nunca mais seria infeliz, nunca mais reclamaria de nada. [...] Mas Jesus lhe dizia: voc est enganado, meu filho. Isto pode parecer meio cruel, mas uma profunda verdade. Jesus est dizendo: Quando eu curar seu corpo, se isso for tudo que eu fizer, voc achar que nunca mais ser infeliz novamente. Mas espere alguns meses, pois essa euforia no dura muito, e ela vai passar. As razes do descontentamento que habita o corao humano so profundas.33

    Se continuarmos com Keller a meditar nesta histria de Jesus, descobriremos que o pecado sempre contra Deus. A

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    Vi Timothy Keller, A cru^do R e ip. 46-47.

  • nica pessoa que pode dizer isso para um ser humano o Criador. Jesus Cristo, ao perdoar os pecados do homem, alega ser o Deus Todo-Poderoso. Os escribas sabiam disso; aquele homem no estava apenas alegando fazer milagres, mas sim que era o Senhor do universo.34 A autoridade de Jesus no alcana apenas o sbado, mas ele tem direito de cancelar pecado. Se ele Rei do universo, certamente tem autoridade para perdoar pecadores. Ele que pagaria o preo desse perdo na cruz. Por traz da declarao que pecados so perdoados, existem duas verdades: Jesus o Criador (Jo 1.3) e ele o sacrifcio pelos pecados do mundo.

    Um centurio teve ocasio de expressar sua confiana em Jesus. Era gentio e pensava que no tinha direito de receber qualquer benefcio de Jesus. Enviou alguns lderes dos judeus para pedir que o Mestre viesse curar o seu servo paraltico. Sofria terrivelmente! Os judeus garantiram que o centurio merecia este benefcio porque amava o povo e tinha construdo uma sinagoga para ele. Jesus concordou. Estava perto de sua casa quando o centurio mandou alguns amigos dizerem ajesus: Senhor, no te incomodes, pois no mereo receber-te debaixo do meu teto [...], mas dize uma palavra, e o meu servo ser curado. Pois eu tambm sou homem sujeito a autoridade, e com soldados sob o meu comando. Digo a um: V e ele vai; e a outro: Venha, e ele vem. Digo a meu servo: Faa isto, e ele faz (Lc 7.6-8). Jesus admirou-se dele e, voltando-se para a multido que o seguia, disse: Eu lhes digo que nem em Israel encontrei tamanha f . A f do centurio ultrapassou a dos israelitas na avaliao de Jesus. E.le entendeu que impossvel confiar em Jesus como Messias sem reconhecer sua autoridade absoluta.

    Vale a pena meditar nas palavras do pastor Marcelo Gomes de Maring. Uma f fascinada com o poder, mas ignorante a respeito de autoridade, tende a confundir confiana com interesse, e convico com obstinao. Se s tem poder, Deus est a servio

    4H

    M Ib id ., p. 52 .

  • do ser humano. Se, no entanto, tem autoridade, tudo muito diferente. Nossa aproximao exige respeito, reverncia e temor. Como lembrou Eugene Peterson, a nica forma apropriada de nos aproximarmos de Deus com respeito e reverncia, humildade e submissa adorao .35

    A f do centurio excedeu a f dos judeus porque revelou que ele entendia que Jesus no era simplesmente um mgico, nem um lder interessado em fomentar uma rebelio contra Roma. Com humildade marcante e o auxlio do Esprito Santo, creu que Jesus era representante do Deus de Israel. Era um Deus amoroso, todo-poderoso e gracioso para com toda a humanidade. Genuinamente amava as pessoas, mesmo as de outras raas. ( ) centurio percebeu com sua f extraordinria que a autoridade de Jesus era muito diferente daquela que Roma exercia.

    Joo relata que os judeus, aps a alimentao dos cinco mil, planejaram coro-lo rei. Mas Jesus recusou a honra. Ele admitiria, como Messias, que era rei, porm, o seu reino no era deste mundo. No era e no reino de poder poltico ou de um domnio mantido com poder da policia. Quer dizer, a sua autoridade era exercida, unicamente, para os que, pela transformao realizada pelo Esprito Santo, tornam-se leais. De corao querem obedec-lo e seguir os seus princpios morais e espirituais.

    Jesus rejeitou totalmente o modelo de Messias que os judeus esperavam: um rei que dominaria pelo poder militar, pela fora e pelo medo. Zacarias tinha pronunciado esta verdade mais de quatro sculos antes: No por fora nem por violncia, mas pelo meu Esprito, diz o Senhor dos Exrcitos (4.6). Igualmente instrutivo o texto de Zacarias 9.9, uma profecia citada por Mateus que se refere entrada triunfal de Jesus. Digam cidade de Sio, eis que o seu rei vem a voc, humilde e montado num jumento, num jumentinho, cria de jumenta (Mt 21.4).

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    F para transformar a rida, Kditora Kspao Palavra, p. 102.

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    O modelo de rei divino que Jesus introduziu no mundo foi de servo. Pois nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos (Mc 10.45). Jesus cumpria a predio de Isaas acerca do Servo de Iav, um homem inocente que morreria como uma oferta pela culpa do povo de Deus (53.8,10).

    Pilatos foi obrigado a avaliar a autoridade de Jesus. Certamente, o governador reconhecia que multides o seguiam. O entusiasmo que a multido demonstrou na entrada triunfal de Jesus em Jerusalm, no domingo anterior sua crucificao, foi evidncia indiscutvel de que ele tinha grande autoridade.

    Acredito que Pilatos ficou perplexo na hora de examinar o ru. A aparncia pattica de Jesus, carente de qualquer marca de um lder determinado a derrubar o poder de Roma, no combinou com a acusao. Como teria Jesus suscitado uma animosidade to profunda entre os lderes judeus que colaboraram com Roma sem sinal de poder militar? Ele no encabeava um movimento poltico que unia a populao para combater o domnio estrangeiro. Ironicamente, Pilatos perguntou a Jesus: Ento voc rei? (Jo 18.37). Jesus acabara de admitir que era rei, mas assegurou a Pilatos que seu reino no era deste mundo. Se no fosse assim, Jesus afirmou: meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem [...] ((o 18.36). Sua autoridade no era militar, nem poltica.

    Jesus desejava deixar claro que a sua autoridade era muito distinta da de Pilatos e soldados romanos que patrulhavam as ruas de Jerusalm. Sua autoridade era oculta, interna, de um corao novo e valores implantados pela atuao do Esprito Santo. Era autoridade do ripo, que Deus exerce num mundo que jaz no maligno. Essa autoridade era da natureza de um lder que disse, como Jesus: Venham a mim, todos os que esto cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocs o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de

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    corao, e vocs encontraro descanso para as suas almas. Pois meu jugo suave e o meu fardo leve (Mt 11.28-30).

    Considere as caractersticas desta autoridade sob a qual os seguidores de Jesus estaro sujeitos.

    Primeiro, voluntria, pois ningum forado a seguir a Jesus.

    Segundo, para cansados e sobrecarregados, pessoas que tm pouca ou nenhuma fora para se autodeterminar ou encontrar o caminho da vida sozinhos. So os marginalizados da sociedade.

    Terceiro, para aqueles que se submetem ao seu jugo alegremente, mas no o julgam pesado ou difcil.

    Quarto, para os que esto persuadidos de que se aliar permanentemente comjesus o caminho da salvao. Nenhum outro tem poder para garantir a paz eterna como Jesus.

    Quinto, uma autoridade que visa uma submisso humilde e de aprendizado contnuo.

    O reinado de Cristo, portanto, era uma realidade nos coraes dos que se comprometeram com ele. Um reino espiritual, isto , um reino que depende da f e de um compromisso de amor com o Rei, esclarece a frase de Jesus: Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justia, e todas essas coisas lhes sero acrescentadas (Mt 6.33). O reino que Jesus nos intimou a buscar no um pas ou estado, no um territrio ou poder poltico, mas o reinado de Cristo se encontra no recndito do corao. A promessa da Nova Aliana se realiza neste reinado, uma vez que a Lei do Senhor gravada nos coraes dos seus sditos. Quando muitos dos seus discpulos o abandonaram, achando que esse reino carecia de poder e benefcios palpveis, Jesus perguntou aos Doze: Vocs tambm no querem ir? Simo Pedro respondeu, para onde iremos? Tu tens as palavras de vida eterna (Jo 6.66-68). A decepo dos que se afastaram era a consequncia da incompreenso da natureza do reino que Jesus encabeava. No faziam ideia dos benefcios de seguir a

  • Jesus e se tornar sditos do seu reino. No era o tipo de reino que almejavam.

    Jesus ressuscitou o filho da viva de Naim na Galileia. Os que presenciaram este milagre estupendo ficaram cheios de temor e louvavam a Deus, dizendo: Um grande profeta se levantou entre ns (Lc 7.16). O milagre da alimentao dos 5 mil suscitou o questionamento se Jesus no seria o Profeta de que Moiss falara em Deuteronmio 18.15,18. Essa predio olhava para um futuro em que Deus levantaria um homem que cumpriria o papel de Moiss, isto , um lder que seria o porta-voz de Deus. Ela previa: ele lhes dir tudo o que eu (o Senhor) lhe ordenar. Sua autoridade consistiria no fato de que ele no falaria de si mesmo, mas apenas tudo o que Deus mandasse. Foi esta realidade que Jesus reivindicou. Declarou perante os judeus, seus acusadores, que ele falava exatamente o que o Pai lhe ensinara (Jo 8.28). Para os discpulos, afirmou: Estas palavras que vocs esto ouvindo no so minhas, so de meu Pai que me enviou (Jo 14.24).

    O ofcio de profeta completava o quadro da profecia do Antigo Testamento ao projetar um Rei davdico ungido (Messias), um Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque e um Profeta que cumpriria o papel que Moiss desempenhara. O Profeta messinico anunciaria toda a vontade de Deus e reuniria um povo da Nova Aliana.

    Jesus Senhor (kurios)Um dos ttulos mais comuns referentes a Jesus Cristo

    Senhor. Somente no Evangelho de Lucas e em Atos aparece 210 vezes. A maioria se refere ao Senhor Jesus Cristo. Em algumas das citaes do Antigo Testamento, Senhor representa o nome pessoal de Deus (Iav). Como os judeus tinham muito receio de blasfemar ao repetir esse nome sagrado, substituram-no pelo ttulo Adonai (Senhor) para evitar de pronunciar o nome sagrado, Iav.

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    O termo kurios (grego) o oposto de escravo ou servo (veja Mt 10.24,25; 18.25,27; 25.19; Lc 12.36,37, 46; Ef 6.5,9 e Cl 3.22). Pode significar dono, ou empregador. Pode ser usado como em portugus, senhor, quando se trata de uma pessoa reconhecida como superior, comunicando a ideia de autoridade.

    Quando Jesus chamado de Senhor, pode ser um modo respeitoso de falar. Mas, muito mais frequentes so as ocasies em que Jesus Cristo Senhor, identificado com Deus. Falar para ele como Senhor quer dizer muito mais do que algum com autoridade como qualquer oficial do governo ou chefe de uma companhia. Jesus Senhor do sbado, o dia sagrado dos judeus (Mc 2.28). Mesmo depois de sua morte e ressurreio, os ensinamentos e ordens de Jesus Cristo tm absoluta autoridade sobre a igreja (ICo 7.10; lTs 4.15).

    A porta de entrada na Igreja de Cristo, no incio, era receber o batismo, o sinal externo da f interna, e tinha como chave a confisso: Jesus Senhor (cf. Rm 10.9). Este deve ser o mais antigo credo da igreja. Somente seria considerada crist a pessoa que confessasse com a sua boca o senhorio de Cristo, uma vez que viesse a crer firmemente que ele ressuscitara dos mortos. No mesmo contexto, Paulo afirma que no h diferena entre judeus e gentios, pois o mesmo Senhor Senhor de todos e abenoa ricamente todos os que o invocam. Da, ele cita Joel 2.32: todo aquele que invocar o nome do Senhor ser salvo. No texto original de Joel, o Senhor traduz lav. A nica concluso possvel que Jesus lav encarnado. Portanto, o exerccio da autoridade de Jesus no anula a autoridade do Pai. C) apstolo Pedro, em sua mensagem no dia de Pentecoste, pregou que Este Jesus, a quem vocs crucificaram, Deus o fez Senhor e Cristo (Messias) (At 2.36). Foi exaltado e entronizado destra do Pai, aps sua ressurreio (At 2.33). No h ningum que tenha autoridade como Jesus a no ser Deus. Se Jesus partilha o reinado com seu Pai, sua autoridade no pode ser menor do que a dele. As palavras que Jesus declarou no

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    monte sem nome na Galileia confirmam esta concluso: foi me dada toda autoridade nos cus e na terra (Mt 28.18). Esta declarao radical confirmou o que os discpulos ouviram Jesus dizer nos seus debates com os judeus antes de sua paixo. Ele, abertamente, se fez igual a Deus (cf. Jo 10.33).

    Todos os evangelistas sinticos relatam a discusso sobre a filiao do Messias. Mateus (22.41-45), Marcos (12.35-37) e Lucas (20.41-44) revelam que os judeus criam firmemente que o Messias seria descendente de Davi. Jesus perguntou como seria possvel que Davi, falando pelo E^sprito Santo, chamasse seu filho Senhor. Citou o Salmo 110.1: O S e n h o r disse ao meu Senhor: Senta-te minha direita at que eu faa dos teus inimigos um estrado para os teus ps. Jesus perguntou como seria possvel que Davi tratasse do seu filho como Senhor, isto , soberano divino. A nica resposta razovel seria: porque era o Senhor Deus, digno de toda honra, glria e poder.

    significativo que tanto Mateus como Marcos relatam este debate de Jesus com os fariseus, seguindo a pergunta de um mestre da lei sobre o maior mandamento. Jesus respondeu: De todos os mandamentos, o mais importante este: Oua, Israel, o Senhor, o nosso Deus, o Senhor o nico Senhor. Ame o Senhor, seu Deus [...]. Certamente Jesus quis dar destaque especial ao ttulo Senhor identificando-o com Deus. Davi no Salmo 110 no podia estar falando apenas de um lder ou rei humano que poderia ser senhor de Davi sem ser o Deus nico.

    Os primeiros cristos no acharam que negavam o monotesmo ao dar este ttulo a Jesus. Sem jamais usar o termo trindade, torna-se evidente que as razes desta compreenso de Deus esto firmemente arraigadas na doutrina do senhorio de Jesus Cristo. Desde o incio, Jesus foi adorado. Note a maneira com que Tom se dirige a Jesus imediatamente depois de

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    se certificar de que ele estava vivo, ressurreto dentre os mortos: Senhor meu e Deus meu!. E natural que se afirme que Jesus Senhor e que sua autoridade igual de Deus Pai. Por isso, o hino que reconhece a divindade de Jesus declara que Deus o exaltou mais alta posio e lhe deu o nome que est acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos cus, na terra e debaixo da terra, e toda lngua confesse que Jesus Cristo Senhor, para a glria de Deus Pai (Fp 2.9-11). Este hino, citado por Paulo em grego, pode ter sido composto em aramaico na Palestina, prximo ao dia de Pentecoste. H fortes indicaes de que a divindade de Jesus se firmou no ttulo Senhor, uma vez que Isaas havia escrito, sete sculos antes de Cristo, que todo joelho se dobraria e toda lngua juraria diante de Deus Iav (45.23,24). Este texto foi citado no hino de maneira que os judeus no cristos entenderam que os crentes blasfemavam por aplic-lo a Jesus.

    Na ltima ceia com seus discpulos, antes de sua crucificao, Jesus se levantou da mesa, encheu uma bacia de gua e comeou a lavar os ps dos discpulos. Quando terminou de lavar seus ps, ele perguntou se haviam entendido o que ele fizera. Disse, ento: Vocs me chamam Mestre e Senhor, e com razo, pois eu o sou (Jo 13.13). Ele continuou mandando que, como Senhor e Mestre deles, deveriam tambm lavar os ps uns dos outros (v.14). Um aspecto do ttulo Senhor corresponde ao ttulo Mestre, querendo dizer com isto que o Senhor tem direito de mandar. Um escravo no maior do que o seu senhor, nem um apstolo maior do que aquele que o enviou. Assim, os seguidores de Jesus deveriam manter um esprito de submisso, humildade de servo, mesmo sendo exaltados posio de apstolos.

  • ConclusoQuando pensamos na autoridade de Jesus, devemos pensar

    em sua soberania. Sua vontade, portanto, primordial e absoluta. Em seus ensinamentos no grande Sermo do Monte, ele deu a ordem geral: Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justia, e todas essas coisas lhes sero acrescentadas (Alt 6.33). Buscar o reino no quer dizer menos do que colocar a autoridade regia de Jesus como a lei da vida. Buscar essa autoridade requer dependncia no Esprito Santo que derrama o amor de Cristo no corao (Rm 5.5). Jesus no emprega policiais ou prises para forar seus sditos a se sujeitarem a si mesmos. Ele depende do amor, de um esprito de submisso. O cristo que tem Jesus como autoridade suprema na sua vida procura saber o que mais agrada ao Senhor. Todas as coisas boas que ele acrescenta para a vida daqueles que o obedecem e o amam de verdade reconhecem nos eventos e circunstncias da vida que seu Rei sempre trata bem seus seguidores (veja Rm 8.28).

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  • CAPTULO 3

    !A autoridade da T afavra de Deus

    Mostre-me um cr