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AUTOS N. 3652-03.2012.8.16.0028 Ação ordinária desconstitutiva de rejeição de contas REQUERENTE: Izabete Cristina Pavin, brasileira, solteira, residente e domiciliada na rua Francisco Bonato, n. 630, nesta cidade e foro regional de Colombo/PR. REQUERIDO: Município de Colombo e Câmara Municipal de Colombo. Relatório Tratam os autos de demanda ordinária desconstitutiva de rejeição de contas manejada pela requerente, haja vista que teve esta suas contas rejeitadas referente ao exercício de 2001. Esclarece que a rejeição das contas teve como fundamento o parecer exarado pela Comissão de Economia, Finanças e Orçamentos da Câmara Municipal que ignorou as conclusões do Tribunal de Contas e entendeu que as contas relativas ao exercício de 2001 eram irregulares haja vista a aplicação de recursos em instituição financeira privada; irregularidades nos procedimentos licitatórios e na liquidação de despesas; irregularidades na execução de recursos vinculados a manutenção e desenvolvimento de ensino, e ainda por irregularidades nas despesas de publicidade. Entende que as ressalvas feitas pelo Tribunal de Contas não podem ser passíveis de reprovação meramente política da Câmara de Vereadores, pois não são irregularidades insanáveis, haja vista a ausência de dolo ou má-fé por parte do requerente ou ainda não houve prejuízos aos cofres públicos que justifiquem a reprovação das contas.

AUTOS N. 3652-03.2012.8.16.0028 – Ação ordinária desconstitutiva de ... · oportunizando a requerente a apresentação de defesa oral perante a referida Comissão, entende que

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AUTOS N. 3652-03.2012.8.16.0028 – Ação

ordinária desconstitutiva de rejeição de contas

REQUERENTE: Izabete Cristina Pavin,

brasileira, solteira, residente e domiciliada na rua

Francisco Bonato, n. 630, nesta cidade e foro

regional de Colombo/PR.

REQUERIDO: Município de Colombo e

Câmara Municipal de Colombo.

Relatório

Tratam os autos de demanda ordinária

desconstitutiva de rejeição de contas manejada pela requerente, haja vista que

teve esta suas contas rejeitadas referente ao exercício de 2001.

Esclarece que a rejeição das contas teve como

fundamento o parecer exarado pela Comissão de Economia, Finanças e

Orçamentos da Câmara Municipal que ignorou as conclusões do Tribunal de

Contas e entendeu que as contas relativas ao exercício de 2001 eram

irregulares haja vista a aplicação de recursos em instituição financeira privada;

irregularidades nos procedimentos licitatórios e na liquidação de despesas;

irregularidades na execução de recursos vinculados a manutenção e

desenvolvimento de ensino, e ainda por irregularidades nas despesas de

publicidade.

Entende que as ressalvas feitas pelo Tribunal de

Contas não podem ser passíveis de reprovação meramente política da Câmara

de Vereadores, pois não são irregularidades insanáveis, haja vista a ausência de

dolo ou má-fé por parte do requerente ou ainda não houve prejuízos aos

cofres públicos que justifiquem a reprovação das contas.

Por outro lado, entende pela incompetência

absoluta da Câmara para julgar as contas e ainda que não foi atendido ao

contido na Lei Orgânica do Município e Regimento Interno do Legislativo

Municipal. Afirma ainda que é possível ao Poder Judiciário reconhecer o

excesso e ilegalidade dos atos administrativos, ainda que discricionários.

Fundamenta o seu pedido na ilegitimidade da

Câmara Municipal para julgamento das contas de gestão, as quais são

diferentes das contas de Governo, entendendo que as contas de gestão

deveriam ser analisadas pelo Tribunal de Contas.

Além disso, falta que a rejeição das contas pela

Câmara Municipal é nula, pois não atendido o artigo 13º., inciso X da Lei

Orgânica do Município, pois as contas não foram julgadas no prazo de 90 dias

contados do recebimento do procedimento pelo Tribunal de Contas.

Descreve o trâmite do processo de prestação de

contas, afirmando que em 27.02.2002 apresentou a prestação de contas

relativas ao exercício de 2011 perante o TCE, tramitando sob o número

11263-5, sendo que a Instrução 153/03 da Diretoria das Contas foi embasada

no Parecer Técnico da mesma diretoria que concluiu pela irregularidade das

contas em relação a vários aspectos, devidamente descriminados na inicial.

Exercido o contraditório foram apresentadas

justificativas e vários documentos que culminaram com a Instrução n.

1039/04 embasada no Parecer Técnico da Diretoria de Contas Municipais que

considerou as justificativas de vários pontos inicialmente considerados

irregulares.

O Parecer Prévio n. 74/04 da lavra do Auditor

Jaime Tadeu Lechinski propõe a desaprovação das contas do Município,

sendo que em 29.04.2004 sobreveio o julgamento do caso, recomendando a

desaprovação das contas referentes ao exercício de 2001 e determinando o

recolhimento aos cofres públicos das despesas de publicidade, consideradas de

caráter pessoal. Desta decisão a requerente interpôs Recurso de Revista,

instruído com diversos documentos e a Diretoria de Contas Municipais do TC

opinou pelo provimento parcial do recurso.

Os autos foram remetidos ao Ministério Público

que discordou do parecer prévio, entendendo pela ressalva em relação a

aplicação dos recursos financeiros em instituição financeiras privadas e

despesas de publicidade de caráter de promoção pessoal com os fundamentos

devidamente descritos na inicial.

O recurso foi julgado em 12.04.2007, o qual foi

parcialmente provido, mantendo, no entanto a recomendação para

desaprovação das contas do Poder Executivo referente ao exercício financeiro

de 2001.

Desta decisão foi interposto embargos de

declaração rejeitados e posteriormente Pedido de rescisão c/c liminar ante a

ausência de intimação do procurador quanto a decisão anteriormente

proferida, oportunidade em que os autos foram novamente remetidos a

Diretoria das Contas Municipais que emitiu a instrução 2269/08 acerca das

irregularidades pendentes, concluindo pela aprovação das contas com

ressalvas. Os autos foram, então, remetidos ao Ministério Público que opinou

pela procedência da rescisória, para aprovar as contas com ressalvas.

Em 20.11.2008 foi realizado o julgamento do

processo, concluindo-se o Acórdão pela aprovação das contas com ressalvas

em relação ao exercício de 2001. Afirma ainda, que a aprovação com ressalvas

significa que as irregularidades não são insanáveis, bem como aduz que não

houve prejuízo ao erário público ou má-fé.

Diz que o parecer da Comissão de Finanças da

Câmara Municipal foi ilegal, pois não há motivos para a rejeição das contas,

ante a ausência de irregularidades insanáveis, requerendo que o ato

discricionário da casa legislativa seja analisado pelo Poder Judiciário.

Rebate cada qual das irregularidades descritas,

afirmando a ausência de prejuízo ao erário que fundamente a desaprovação

das contas.

Entende que a desaprovação de contas ocorre em

razão da perseguição política dos adversários do Município, pois defende que

as irregularidades não causaram prejuízos ao erário público; inclusive quando

o atual representante do executivo encaminhou documentos de supostas

irregularidades para o Tribunal de Contas, aquele Órgão entendeu que o

instrumento serviu como pressão política.

Aduz que quando solicitou documentos para a

Câmara Legislativa para fins de apresentação de defesa, somente alguns dos

papéis foram fornecidos para a diarista da requerente, entendendo que tal

situação tinha como objetivo apenas prejudica-la, assim em razão da ausência

de documentos, notificou o representante do Legislativo dando conta da

ausência de entrega das cópias, e reiterando o pedido anteriormente firmado,

aduzindo ainda que a defesa não poderia ser apresentada.

No entanto, para surpresa da requerente foi

publicado no Jornal Metrópole um Edital de Notificação notificando a autora

da decisão da Comissão de Economia, Finanças e Orçamento da Câmara

oportunizando a requerente a apresentação de defesa oral perante a referida

Comissão, entende que a publicação objetiva denegrir a imagem da requerente

perante os eleitores.

Requer que seja revista a decisão que desaprovou as

contas da requerente referente ao exercício de 2001, c/c pedido de

antecipação de tutela para fins de suspender o Decreto Legislativo n.

131/2009 que rejeitou as contas prestadas pela requerente e ao final a

procedência do pedido para a decretação de nulidade do Decreto Legislativo

que rejeitou as contas referente ao exercício financeiro já mencionado. Juntou

documentos.

Da decisão liminar houve recurso de agravo de

instrumento e posterior recurso de mandado de segurança, tendo sido

concedida liminar neste último.

Citado, o primeiro requerido ofereceu defesa,

afirmando que a matéria referente às contas do executivo relativas ao exercício

de 2001 já foi objeto de apreciação pelo Poder Judiciário por mais de uma vez,

além disso os atos irregulares da gestão 2001/2004 já foram objeto de análise

pelo Poder Judiciário, através dos autos de n. 9089-59.2011.8.16.0028 que

tramita neste Juízo, o qual transitou em julgado, encontrando-se em fase de

execução.

Defende a coisa julgada em relação ao tema e

segurança jurídica, além disso, indica pela impossibilidade de nova decisão

judicial haja vista a preclusão verificada.

Diz que a Câmara Municipal tem legitimidade

constitucional para julgar as contas e ainda sua decisão não fica vinculada ao

parecer prévio do Tribunal de Contas. Discorda da posição inicial que indica

que as irregularidades verificadas são sanáveis porque não causaram danos ao

erário, pois a autora foi condenada em demanda judicial com transito em

julgado a ressarcir os danos suportados. Além desta decisão, outro julgado do

TSE – 1117-27.2010.6.16.0000 – Classe 37, na qual foi relatora a Ministra

Carmem Lúcia também houve reconhecimento que as irregularidades

causaram danos ao erário.

Discorre a respeito das irregularidades praticadas

pela autora quando a frente da administração, defendendo a existência de dolo

quando da prática dos atos. Justifica a demora no julgamento das contas,

atribuindo a responsabilidade a própria requerente que buscou medidas

judiciais para procrastinar o julgamento em tela. Rechaça a alegação da autora

quanto a perseguição política e ainda entende que a autora litiga de má-fé.

Pugna pelo julgamento de improcedência do pedido inicial. Juntou

documentos.

A autora ofereceu impugnação a defesa do primeiro

requerido – evento 35 -

A Câmara Municipal de Colombo também ofereceu

defesa, entendendo pela coisa julgada em relação a matéria em discussão .

Discorre a respeito do processo de analise das contas objeto de discussão.

Fala das matérias tratadas no mandado de segurança

– n. 1.332/09, aduzindo que a autora defendia o desrespeito ao contraditório e

ampla defesa, defendia que o procedimento não observou o Regimento

Interno da Casa e ainda que o julgamento deveria ficar adstrito ao parecer

prévio da Corte das Contas.

Como questão preliminar defende a eficácia

preclusiva da coisa julgada, pois as matérias que poderiam ser sido alegados

pelas partes e não foram também tornam preclusa a discussão da matéria,

pugna pela extinção do processo sem resolução de mérito.

No mérito argumenta que as contas apresentadas

pela autora se referiam a contas de governo, as quais devem ser analisadas pela

Câmara Municipal, pois diziam respeito a contratos administrativos

irregulares, processos de licitações irregulares, liquidação irregular de despesas,

publicidade irregular, movimentação financeira em entidade bancária privada e

desvio de recursos do FUNDEF.

Quanto ao prazo excedido de apreciação das contas,

entende que é inconstitucional. Em relação a alegada ausência de

irregularidade insanável, os argumentos também improcedem, pois defende

que as irregularidades são gravíssimas e na maioria dos casos, configuram atos

de improbidade administrativa, descreve cada qual das irregularidades

apontadas. Pugna ao final pela improcedência do pedido inicial.

A autora se manifestou sobre a defesa apresentada

no evento 52.

DECIDO

Primeiramente, embora este Juízo defenda que a

discussão da aprovação das contas do executivo municipal referente ao ano de

2001 já tenha sido objeto de análise pelo Poder Judiciário e, por conseguinte,

não seria possível nova decisão a respeito do assunto, ante a manifesta coisa

julgada, pois não se pode dar uma interpretação restrita ao dispositivo que

dispõe sobre a coisa julgada, como pretende o Ilustre Relator do Mandado de

Segurança impetrado, Juiz Rogério Ribas, haja vista que embora o pedido

formulado nesta demanda seja pela nulidade do Decreto Legislativo 131/2009

e naquele mandado de segurança o pedido seria para anular o processo

legislativo e ainda que há outros fundamentos atacados nesta demanda,

infelizmente a questão não poderá ser mais analisada, porque a Superior

Instância entendeu pela ausência de coisa julgada e portanto, deixo de apreciar

os argumentos das defesas em relação ao tema.

Observe-se a respeito do assunto a decisão do Ministro Luz Fux, então ministro do STJ, quando analisou o REsp 1152174 RS 2009/0192317-0, julgamento em 03.02.2011, da 1ª. Turma: PROCESSUAL

CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO ORDINÁRIA VISANDO O MESMO RESULTADO DENEGADO EM MANDADO DE SEGURANÇA. COISA JULGADA. 1. A ratio essendi da coisa julgada interdita à parte que promova duas ações visando o mesmo resultado o que, em regra, ocorre quando o autor formula, em face da mesma parte, o mesmo pedido fundado na mesma causa petendi. 2. . Consectariamente, por força da mesma é possível afirmar-se que há coisa julgada quando duas ou mais ações conduzem ao "mesmo resultado"; por isso: electa una via altera non datur. 3. In casu, o pedido de inexistência dos débito de Imposto de Renda Pessoa Juridica, Imposto Retido na Fonte e Contribuição Social Sobre o Lucro, em face da correção do balanço do ano de 1990 pelo índice do IPC e não do IRVF, veiculado na Ação Ordinária, consta com a mesma extensão do pedido em Mandado de Segurança, porquanto restou denegada a segurança quanto à utilização do IPC. 4. É que o acórdão recorrido concluiu acertadamente que "tendo o contribuinte postulado anteriormente a alteração do índice de correção monetária das demonstrações financeiras do ano-base de 1990, restando definido que deveria usar o IRVF, por ser o indexador indicado pela Lei nº 7.799/89, descabe propor nova demanda pleiteando o reconhecimento do direito de corrigir o balanço com a utilização do IPC, pois configurada a coisa julgada em relação ao indexador. 5. A coisa julgada atinge o pedido e a sua causa de pedir. Destarte, a eficácia preclusiva da coisa julgada (art. 474, do CPC) impede que se infirme o resultado a que se chegou em processo anterior com decisão trânsita, ainda qua a ação repetida seja outra, mas que por via oblíqua desrespeita o julgado anterior. 6. Deveras, a lei nova é irretroativa, mercê de respeitar a coisa julgada, garantia pétrea prevista no artigo 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal. 7. Nesse sentido, também é a posição do magistério de Teresa Arruda Alvim Wambier: "Não se deve, portanto, superestimar a proteção constitucional à coisa julgada, tendo sempre presente que o texto protege a situação concreta da decisão transitada em julgado contra a possibilidade de incidência de nova lei. Não se trata de proteção ao instituto da coisa julgada, (em tese) de molde a torná-la inatingível, mas de resguardo de situações em que se operou a coisa julgada, da aplicabilidade de lei superveniente". 8. Recurso especial desprovido.

a) Da ilegitimidade da Câmara Municipal para

julgamento das contas de gestão

Os argumentos referentes à ilegitimidade da Câmara

Municipal para apreciar as contas de gestão não merece prosperar, haja vista

que a Câmara Municipal tem competência exclusiva para apreciar as contas do

Poder Executivo Municipal, tanto referentes às contas anuais do exercício

financeiro, como as contas de gestão, estas atinentes a função de ordenador de

despesas do Chefe do Executivo.

As contas que estariam excluídas da competência de

julgamento da Câmara de Vereadores seriam aquelas referentes à transferência

de convênios, as quais são examinadas diretamente pelo Tribunal de Contas,

não sendo o caso de quaisquer as contas encaminhadas para apreciação da

Câmara que se referiam aos contratos administrativos irregulares, processos de

licitações irregulares, liquidação irregular de despesas, publicidade irregular,

movimentação financeira em entidade bancária privada e ainda desvio de

recursos do FUNDEF.

Enfrentou o tema com maestria o STF, na

Reclamação 13921, na qual foi relator o Min. Celso Mello, julgado em

08.06.2012: RECLAMAÇÃO. ADMISSIBILIDADE. LEGITIMAÇÃO

ATIVA DA PARTE RECLAMANTE. PREFEITO MUNICIPAL.

CONTAS PÚBLICAS. JULGAMENTO. COMPETÊNCIA, PARA TAL

FIM, DA CÂMARA DE VEREADORES. ATRIBUIÇÃO EXCLUSIVA

DO PODER LEGISLATIVO LOCAL QUE SE ESTENDE TANTO ÀS

CONTAS ANUAIS RELATIVAS AO EXERCÍCIO FINANCEIRO

QUANTO ÀS CONTAS DE GESTÃO (OU REFERENTES À FUNÇÃO

DE ORDENADOR DE DESPESAS) DO CHEFE DO PODER

EXECUTIVO MUNICIPAL. FUNÇÃO OPINATIVA, EM TAIS

HIPÓTESES, DO TRIBUNAL DE CONTAS. PARECER PRÉVIO

SUSCETÍVEL DE REJEIÇÃO PELO PODER LEGISLATIVO

MUNICIPAL (CF, ART. 31, § 2º). SUPREMACIA HIERÁRQUICO- -

NORMATIVA DA REGRA CONSTITUCIONAL QUE CONFERE

PODER DECISÓRIO, EM SEDE DE FISCALIZAÇÃO EXTERNA, À

INSTITUIÇÃO PARLAMENTAR, SOBRE AS CONTAS DO CHEFE DO

EXECUTIVO.MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA.(grifei) Trata-se de

reclamação, com pedido de medida liminar, na qual se sustenta que os atos ora

questionados teriam desrespeitado a autoridade da decisão que esta Suprema

Corte proferiu, com efeito vinculante, nos julgamentos da ADI 849/MT,

Rel.Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, da ADI 1.779/PE, Rel. Min. ILMAR

GALVÃO, e da ADI 3.715/TO, Rel. Min. GILMAR MENDES. Aduz, a

parte ora reclamante, para justificar, na espécie, o alegado desrespeito à

autoridade decisória dos julgamentos proferidos pelo Supremo Tribunal

Federal, as seguintes considerações: "(...) O Tribunal de Contas dos

Municípios do Estado do Ceará julgou irregulares as contas do Reclamante,

quando este exerceu o cargo de Prefeito do Município de Bela Cruz, no

período de 2003 a 2004, e de 2005 a 2008 (…). O Reclamante, além de ter

suas contas julgadas irregulares pelo Tribunal de Contas dos Municípios do

Ceará (TCM-CE), bem como aplicação de multa (...), recebeu nota de

improbidade administrativa. Ocorre que, o Supremo Tribunal Federal tem

pacificamente reconhecido que o Chefe do Poder Executivo, nas três esferas

de Governo, apenas se sujeita a julgamento de suas contas públicas pelo

Poder Legislativo, não tendo o Tribunal de Contas qualquer competência para

julgar essas contas, a não ser, para emitir parecer sobre as mesmas. Portanto,

mesmo em que se fale em dicotomia quanto às contas do Chefe do Poder

Executivo, em contas de gestão e contas de governo, para esta Corte Suprema

são apenas em contas do Executivo, consoante entendimento sedimentado

neste STF. Assim, repise-se, ao Tribunal de Contas compete emitir parecer

prévio sobre as contas do Chefe do Poder Executivo, as quais, em seguida,

serão submetidas ao crivo do Poder Legislativo, este, sim, órgão a quem

incumbe julgar as contas do Prefeito, sejam elas, de governo ou de gestão.

….................................................................................................. Ora, em face do

princípio da simetria, o modelo federal deve ser observado na regulamentação

da fiscalização das contas dos Prefeitos Municipais pelo Tribunal de Contas.

Nesse sentido nossa Constituição não foi omissa, estabelecendo que a

fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo com auxílio do

Tribunal de Contas, e que compete ao Tribunal emitir parecer prévio sobre as

contas do Chefe do Executivo Municipal, e que o parecer prévio, só deixará

de prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara (art. 31, §§

1º e 2º, CF)." (grifei) Busca-se, desse modo, segundo pretendido pela parte ora

reclamante, a declaração de nulidade das "(....) decisões proferidas pelo

Tribunal de Contas dos Municípios do Ceará (TCM/CE) nas Tomadas de

Contas Especial (TCE) nºs 11.171/09 (Acórdão nº 4976/2010); 15.436/03

(Acórdão nº 6081/09); 14.153/04 (Acórdão nº 4833/10); 14.154/04 (Acórdão

nº 4834/10); 01.264/05 (Acórdão nº 1093/11); 15.554/03 (Acórdão nº

1490/07); 19.330/05 (Acórdão nº 7488/08); 04.182/03 (Acórdão nº

7115/11); 3.950/06 (Acordão nº 2110/07); e 14.151/04 (Acórdão nº

3136/10); Prestação de Contas de Gestão (PCS) nºs 11.169/05 (Acórdão nº

161/12); 11.168/05 (Acordão nº 4308/09); 11.165/05 (Acórdão nº 5877/10);

11.170/05 (Acordão nº 1239/12); 13.979/06 (Acórdão nº

5346/09);13.980/06 (Acórdão nº 5642/07); 07.174/08 (Acórdão nº 1550/12);

10.019/04 (Acórdão nº 5318/09); 10.025/04 (Acórdão nº 3384/10);

10.020/04 (Acórdão nº 6935/11); 12.379/07 (Acórdão nº 5768/11);

10.024/04 (Acórdão nº 2121/09); 10.021/04 (Acórdãos nºs 7520/08 e

450/12); e 13.976/06 (Acórdão nº 1242/12); Tomada de Contas de Gestão

(TCS) nºs 01.303/10 (Acórdão nº 1120/11) e 06.468/08 (Acórdão nº

3133/10) e todos atos deles decorrentes, determinando, outrossim, que o

TCM/CE proceda à nova análise das contas em apreço, desta feita, limitando-

se a emitir parecer prévio, e remeta para a Câmara Municipal de Bela Cruz, a

fim de que ali sejam efetivamente julgadas" (grifei). Cumpre analisar,

preliminarmente, se se mostra cabível, ou não, o emprego da reclamação, em

situações de alegado desrespeito a decisões que a Suprema Corte tenha

proferido em sede de fiscalização normativa abstrata. O Supremo Tribunal

Federal, ao examinar esse aspecto da questão, tem enfatizado, em sucessivas

decisões, que a reclamação reveste-se de idoneidade jurídico-processual, se

utilizada com o objetivo de fazer prevalecer a autoridade decisória dos

julgamentos emanados desta Corte, notadamente quando impregnados de

eficácia vinculante: "O DESRESPEITO À EFICÁCIA VINCULANTE,

DERIVADA DE DECISÃO EMANADA DO PLENÁRIO DA SUPREMA

CORTE, AUTORIZA O USO DA RECLAMAÇÃO. - O descumprimento,

por quaisquer juízes ou Tribunais, de decisões proferidas com efeito

vinculante, pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, em sede de ação

direta de inconstitucionalidade ou de ação declaratória de constitucionalidade,

autoriza a utilização da via reclamatória, também vocacionada, em sua

específica função processual, a resguardar e a fazer prevalecer, no que

concerne à Suprema Corte, a integridade, a autoridade e a eficácia

subordinante dos comandos que emergem de seus atos decisórios.

Precedente: Rcl 1.722/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO (Pleno)." (RTJ

187/151, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno) Cabe verificar, de outro

lado, se terceiros -que não intervieram no processo objetivo de controle

normativo abstrato -dispõem, ou não, de legitimidade ativa para o ajuizamento

de reclamação perante o Supremo Tribunal Federal, quando promovida com

o objetivo de fazer restaurar o "imperium" inerente às decisões emanadas

desta Corte, proferidas em sede de ação direta de inconstitucionalidade ou de

ação declaratória de constitucionalidade. O Plenário do Supremo Tribunal

Federal, a propósito de tal questão, ao analisar o alcance da norma inscrita no

art. 28 da Lei nº 9.868/98 (Rcl 1.880-AgR/SP, Rel. Min. MAURÍCIO

CORRÊA), firmou orientação que reconhece, a terceiros, qualidade para agir,

em sede reclamatória, quando necessário se torne assegurar o efetivo respeito

aos julgamentos desta Suprema Corte, proferidos no âmbito de processos de

controle normativo abstrato: "(...) LEGITIMIDADE ATIVA PARA A

RECLAMAÇÃO NA HIPÓTESE DE INOBSERVÂNCIA DO EFEITO

VINCULANTE. - Assiste plena legitimidade ativa, em sede de reclamação,

àquele -particular ou não -que venha a ser afetado, em sua esfera jurídica, por

decisões de outros magistrados ou Tribunais que se revelem contrárias ao

entendimento fixado, em caráter vinculante, pelo Supremo Tribunal Federal,

no julgamento dos processos objetivos de controle normativo abstrato

instaurados mediante ajuizamento, quer de ação direta de

inconstitucionalidade, quer de ação declaratória de constitucionalidade.

Precedente.(...)." (RTJ 187/151, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno)

"AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE -

OUTORGA DE MEDIDA CAUTELAR COM EFEITO VINCULANTE -

POSSIBILIDADE. - O Supremo Tribunal Federal dispõe de competência

para exercer, em sede de ação declaratória de constitucionalidade, o poder

geral de cautela de que se acham investidos todos os órgãos judiciários,

independentemente de expressa previsão constitucional. A prática da

jurisdição cautelar, nesse contexto, acha-se essencialmente vocacionada a

conferir tutela efetiva e garantia plena ao resultado que deverá emanar da

decisão final a ser proferida no processo objetivo de controle

abstrato.Precedente. - O provimento cautelar deferido, pelo Supremo

Tribunal Federal, em sede de ação declaratória de constitucionalidade, além de

produzir eficácia ‘erga omnes’, reveste-se de efeito vinculante, relativamente

ao Poder Executivo e aos demais órgãos do Poder Judiciário. Precedente. - A

eficácia vinculante, que qualifica tal decisão - precisamente por derivar do

vínculo subordinante que lhe é inerente -, legitima o uso da reclamação, se e

quando a integridade e a autoridade desse julgamento forem desrespeitadas."

(RTJ 185/3-7, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno) Vê-se, portanto, que

assiste, à parte ora reclamante, plena legitimidade ativa "ad causam" para fazer

instaurar este processo reclamatório. Impende verificar, agora, se a situação

exposta na presente reclamação pode traduzir, ou não, hipótese de ofensa à

autoridade das decisões emanadas do Supremo Tribunal Federal, proferidas,

com eficácia vinculante, em sede de fiscalização normativa abstrata, e

indicadas como paradigmas de confronto. E, ao fazê-lo, observo que os

elementos produzidos na presente sede reclamatória parecem evidenciar o

alegado desrespeito à autoridade das decisões que esta Suprema Corte proferiu

nos julgamentos da ADI 849/MT e da ADI 3.715/TO, revelando-se

suficientes para justificar, na espécie, o acolhimento da pretensão cautelar

deduzida pelo reclamante. É que, no caso ora em exame, trata-se de hipótese

que deve ser interpretada, no que concerne aos Chefes do Poder Executivo da

União, dos Estados-membros, do Distrito Federal e dos Municípios, em

consonância com quanto dispõem os arts. 71, inciso I,75, "caput", e 31 e seus

parágrafos 1º e 2º, todos da Carta Política. Esses preceitos constitucionais

permitem definir, como órgão competente para apreciar as contas públicas do

Presidente da República, dos Governadores e dos Prefeitos Municipais, o

Poder Legislativo, a quem foi deferida a atribuição de efetuar, com o auxílio

opinativo do Tribunal de Contas correspondente, o controle externo em

matéria financeira e orçamentária. As contas públicas dos Chefes do

Executivo devem sofrer o julgamento - final e definitivo - da instituição

parlamentar, cuja atuação, no plano do controle externo da legalidade e

regularidade da atividade financeira do Presidente da República, dos

Governadores e dos Prefeitos Municipais, é desempenhada com a intervenção

"ad coadjuvandum" do Tribunal de Contas. A apreciação das contas prestadas

pelo Chefe do Poder Executivo - que é a expressão visível da unidade

institucional desse órgão da soberania do Estado - constitui prerrogativa

intransferível do Legislativo, que não pode ser substituído pelo Tribunal de

Contas, no desempenho dessa magna competência, que possui extração

nitidamente constitucional. A regra de competência inscrita no art. 71, inciso

II, da Carta Política - que submete ao julgamento desse importante órgão

auxiliar do Poder Legislativo as contas dos administradores e demais

responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e

indireta - não legitima a atuação exclusiva do Tribunal de Contas, quando se

tratar de apreciação das contas do Chefe do Executivo, pois, em tal hipótese,

terá plena incidência a norma especial consubstanciada no inciso I desse

mesmo preceito constitucional. Há, pois, uma dualidade de regimes jurídicos a

que os agentes públicos estão sujeitos no procedimento de prestação e

julgamento de suas contas. Essa diversidade de tratamento jurídico, estipulada

"ratione muneris" pelo ordenamento constitucional,põe em relevo a condição

político-administrativa do Chefe do Poder Executivo. O eminente Ministro

MARCO AURÉLIO, em passagem expressiva de seu douto voto proferido

no julgamento do RE 132.747/DF, do qual foi Relator, assinalou, com inteira

propriedade, essa dualidade de situações, dando adequada interpretação às

normas inscritas nos incisos I e II do art. 71 da Constituição Federal: "Nota-

se, mediante leitura dos incisos I e II do artigo 71 em comento, a existência de

tratamento diferenciado, consideradas as contas do Chefe do Poder Executivo

da União e dos administradores em geral. Dá-se, sob tal ângulo, nítida

dualidade de competência, ante a atuação do Tribunal de Contas. Este aprecia

as contas prestadas pelo Presidente da República e, em relação a elas, limita-se

a exarar parecer, não chegando, portanto, a emitir julgamento. Já em relação

às contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e

valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e

sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público Federal, e às contas

daqueles que derem causa à perda, extravio ou outra irregularidade de que

resulte prejuízo para o erário, a atuação do Tribunal de Contas não se faz

apenas no campo opinativo. Extravasa-o, para alcançar o do julgamento. Isto

está evidenciado não só pelo emprego,nos dois incisos, de verbos distintos -

apreciar e julgar - como também pelo desdobramento da matéria,

explicitando-se, quanto às contas do Presidente da República, que o exame se

faz ‘mediante parecer prévio’ a ser emitido, como exsurge com clareza solar,

pelo Tribunal de Contas.

....................................................................................................... (...) O Presidente

da República, os Governadores e os Prefeitos igualam-se no que se mostram

merecedores do ‘status’ de Chefes de Poder. A amplitude maior ou menor das

respectivas áreas de atuação não é de molde ao agasalho de qualquer distinção

quanto ao Órgão competente para julgar as contas que devem prestar, sendo

certa a existência de Poderes Legislativos específicos. A dualidade de

tratamento, considerados os Chefes dos Poderes Executivos e os

administradores em geral, a par de atender a aspecto prático, evitando a

sobrecarga do Legislativo, observa a importância política dos cargos

ocupados, jungindo o exercício do crivo em relação às contas dos Chefes dos

Executivos Federal, Estaduais e Municipais à atuação não de simples órgão

administrativo, mas de outro Poder - o Legislativo." (grifei) Órgão

competente, portanto, para apreciar as contas prestadas pelo Chefe do Poder

Executivo, somente pode ser, em nosso sistema de direito constitucional

positivo, no que se refere ao Presidente da República, aos Governadores e aos

Prefeitos Municipais, o Poder Legislativo, a quem incumbe exercer, com o

auxílio meramente técnico-jurídico do Tribunal de Contas, o controle externo

pertinente à fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e

patrimonial das pessoas estatais e das entidades administrativas. Somente à

Câmara de Vereadores - e não ao Tribunal de Contas - assiste a indelegável

prerrogativa de apreciar, mediante parecer prévio daquele órgão técnico, as

contas prestadas pelo Prefeito Municipal. Não se subsume, em consequência,

à noção constitucional de julgamento das contas públicas, o pronunciamento

técnico-administrativo do Tribunal de Contas, quanto a contratos e a outros

atos de caráter negocial celebrados pelo Chefe do Poder Executivo. Esse

procedimento do Tribunal de Contas, referente à análise individualizada de

determinadas operações negociais efetuadas pelo Chefe do Poder Executivo,

tem o claro sentido de instruir o exame oportuno, pelo próprio Poder

Legislativo - e exclusivamente por este -, das contas anuais submetidas à sua

exclusiva apreciação. Não tem sido diversa a orientação jurisprudencial

adotada pelo E. Tribunal Superior Eleitoral, cujas sucessivas decisões sobre o

tema ora em análise ajustam-se a esse entendimento, afastando, por isso

mesmo, para efeito de incidência da regra de competência inscrita no art. 71,

inciso I, c/c os arts. 31, § 2º, e 75, todos da Constituição da República, a

pretendida distinção entre contas relativas ao exercício financeiro e contas de

gestão ou referentes à atividade de ordenador de despesas, como se vê de

expressivos acórdãos emanados daquela Alta Corte Eleitoral: "Registro de

candidatura. Prefeito. Inelegibilidade. Art. 1º, I, g, da Lei Complementar nº

64/90. Competência. 1. A competência para o julgamento das contas de

prefeito é da Câmara Municipal, cabendo ao Tribunal de Contas a emissão de

parecer prévio, o que se aplica tanto às contas relativas ao exercício financeiro,

prestadas anualmente pelo Chefe do Poder Executivo, quanto às contas de

gestão ou atinentes à função de ordenador de despesas. 2. Não há falar em

rejeição de contas de prefeito por mero decurso de prazo para sua apreciação

pela Câmara Municipal, porquanto constitui esse Poder Legislativo o órgão

competente para esse julgamento, sendo indispensável o seu efetivo

pronunciamento. Agravo regimental a que se nega provimento." (REspe n.

33.747-AgR/BA, Rel. Min. ARNALDO VERSIANI -grifei) "Registro de

candidatura. Inelegibilidade. Art. 1º, I, g, da Lei Complementar nº 64/90.

Competência. - A competência para o julgamento das contas do prefeito é da

Câmara Municipal, cabendo ao Tribunal de Contas a emissão de parecer

prévio, o que se aplica tanto às contas relativas ao exercício financeiro,

prestadas anualmente pelo Chefe do Poder Executivo, quanto às contas de

gestão ou atinentes à função de ordenador de despesas. Recurso especial

provido." (REspe n. 29.117/SC, Rel. Min. ARNALDO VERSIANI -grifei)

"CONTAS - PREFEITO - REJEIÇÃO - DECURSO DE PRAZO.

Consoante dispõe o artigo 31 da Constituição Federal, descabe endossar

rejeição de contas considerado o decurso de prazo para a Câmara Municipal

exercer crivo tendo em conta parecer, até então simples parecer, do Tribunal

de Contas." (RO 1.247/GO, Rel. Min. MARCO AURÉLIO -grifei) Cabe

assinalar, finalmente, que esse entendimento tem sido observado, nesta

Suprema Corte, em casos rigorosamente idênticos ao que ora se examina (Rcl

10.342-AgR-MC/CE, Rel. Min. CELSO DE MELLO -Rcl 10.445-MC/CE,

Rel. Min. CELSO DE MELLO -Rcl 10.456- -MC/CE, Rel. Min. GILMAR

MENDES -Rcl 10.493-MC/CE, Rel. Min. GILMAR MENDES -Rcl

10.505/CE, Rel. Min. CELSO DE MELLO -Rcl 10.616/CE, Rel. Min.

GILMAR MENDES). Sendo assim, em face das razões expostas e em juízo

de estrita delibação, defiro o pedido de medida cautelar, em ordem a

suspender, cautelarmente, até final julgamento da presente reclamação, em

relação à parte ora reclamante, "(...) os efeitos das decisões contidas nas

Tomadas de Contas Especial (TCE) nºs 11.171/09 (Acórdão nº 4976/2010);

15.436/03 (Acórdão nº 6081/09); 14.153/04 (Acórdão nº 4833/10);

14.154/04 (Acórdão nº 4834/10); 01.264/05 (Acórdão nº 1093/11);

15.554/03 (Acórdão nº 1490/07);19.330/05 (Acórdão nº 7488/08);

04.182/03 (Acórdão nº 7115/11); 3.950/06 (Acordão nº 2110/07); e

14.151/04 (Acórdão nº 3136/10); Prestação de Contas de Gestão (PCS) nºs

11.169/05 (Acórdão nº 161/12); 11.168/05 (Acordão nº 4308/09); 11.165/05

(Acórdão nº 5877/10); 11.170/05 (Acordão nº 1239/12); 13.979/06 (Acórdão

nº 5346/09); 13.980/06 (Acórdão nº 5642/07); 07.174/08 (Acórdão nº

1550/12); 10.019/04 (Acórdão nº 5318/09); 10.025/04 (Acórdão nº

3384/10); 10.020/04 (Acórdão nº 6935/11); 12.379/07 (Acórdão nº

5768/11): 10.024/04 (Acórdão nº 2121/09); 10.021/04 (Acórdãos nºs

7520/08 e 450/12); e 13.976/06 (Acórdão nº 1242/12); Tomada de Contas de

Gestão (TCS) nºs 01.303/10 (Acórdão nº 1120/11) e 06.468/08 (Acórdão nº

3133/10)" (grifei). Comunique-se, com urgência, transmitindo-se cópia da

presente decisão ao eminente Procurador-Geral do Estado do Ceará, ao E.

Tribunal de Contas dos Municípios do Estado do Ceará e à E. Câmara

Municipal de Bela Cruz/CE. 2. Requisitem-se informações ao Estado do

Ceará e ao E. Tribunal de Contas dos Municípios daquela unidade da

Federação. Publique-se. Brasília, 08 de junho de 2012. Ministro CELSO DE

MELLO Relator.

(13921 CE, Relator: Min. CELSO DE MELLO,

Data de Julgamento: 08/06/2012, Data de Publicação: DJe-113 DIVULG

11/06/2012 PUBLIC 12/06/2012).

Portanto, rejeito os argumentos a este teor

apresentados.

b) Da nulidade da rejeição das contas pela

Câmara de Vereadores

Defende a autora que o processo de rejeição das

contas foi nulo, porque não observado o prazo de 90 dias, contados do

recebimento das contas com o parecer do Tribunal de Contas.

No entanto, tal entendimento improcede, na

medida em que embora tenha sido esgotado o prazo previsto na Lei Orgânica

para a apreciação das contas do Executivo, pois o parecer foi recebido pela

Casa das Leis em 10.02.2009 somente tendo sido julgado em 10.06.2009,

portanto quando já extrapolado o prazo previsto na legislação respectiva, tal

situação não acarreta a aprovação das contas de maneira tácita, isto porque

todas as esferas de Poder e todos os Órgãos pertencentes a estes devem

observar compulsoriamente as regras básicas no processo legislativo federal e

entre eles se encontra o artigo 64, parágrafo 2º. Da CF que dispõe que

ultrapassado o prazo previsto para deliberação de determinada matéria seja

esta incluída em primeiro lugar na ordem do dia, na primeira Sessão imediata a

este prazo, sobrestando as demais deliberações, até que se ultime a votação da

deliberação.

Portanto, ainda que a votação tenha ocorrido 30

dias após o prazo limite previstos na lei municipal, tal situação não acarreta a

nulidade absoluta do julgamento realizado, caracterizando mera irregularidade,

pois caberia ter sido observado o dispositivo constitucional referente ao

assunto. Qualquer outro entendimento a respeito do tema estaria violando

princípio constitucional, pois não é crível que o silêncio da Casa das Leis

importe da aprovação tácita das contas do executivo.

Destarte, rejeito a pretensão para declaração de

nulidade da rejeição das contas por inobservância do prazo legal.

c) Da possibilidade de apreciação do Poder

Judiciário

Defende a autora que o Poder Judiciário pode

apreciar o mérito do ato administrativo praticado pela Câmara Municipal,

ainda que se trate de ato discricionário.

A pretensão da requerente para que seja apreciado

os motivos da decisão, não merecem prosperar, isto porque as conclusões da

Casa das Leis não necessitam serem atrelados ao parecer prévio do Tribunal

de Contas, não havendo a vinculação pretendida pela autora.

Ademais, analisando as conclusões da Comissão de

Fianças, Economia e Orçamentos da Câmara de Vereadores, é possível

perceber que os argumentos alegados foram devidamente fundamentados,

bem como ao contrário do alegado, as conclusões são no sentido que houve

sim dano ao erário e tanto isso é verdade que o Município manejou demanda

de cobrança em relação a autora, a qual foi julgada procedente, inclusive com

trânsito em julgado, onde se constatou que efetivamente as irregularidades

verificadas causaram prejuízo ao erário, portanto, não é possível entender pela

desproporcionalidade entre o ato praticado e os fatos constatados.

As decisões ainda que administrativas necessitam de

fundamentação e, havendo referida fundamentação, coerente aos fatos

verificados, não há como impor a Câmara de Vereadores que decida de

maneira igual ao parecer prévio emitido pelo Tribunal de Contas, situação

pretendida pela autora.

Quanto a impossibilidade de apreciação dos atos

discricionários do Pode Legislativo pelo Poder Judiciário, faço minhas as

palavras da relatora nos autos de mandado de segurança n. 2068-

03.2009.8.16.0028, no qual se discute a questão referente a aprovação das

contas: “O controle exercido pelo Poder Judiciário quanto aos atos administrativos não é

amplo e irrestrito. Ao contrário, justamente por se limitar a verificação da regularidade do

procedimento e à afetação da legalidade do ato impugnado, é vedado ao magistrado imiscuir-

se no exame da conveniência ou da oportunidade do ato administrativo, ‘sob pena de

usurpar a função administrativa, precipuamente destinada ao Executivo’.

O posicionamento do Superior Tribunal de Justiça é firme no

sentido de que é defeso ao Poder Judiciário qualquer incursão no mérito administrativo, a

exemplo do seguinte precedente: RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE

SEGURANÇA. PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO. VIOLAÇÃO

AO ART. 535 DO CPC. NÃO OCORRENCIA. SERVIDOR PUBLICO.

DEMISSÃO. OFENSA AO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE.

EXAME DA LEGALIDADE. POSSIBILIDADE DE CONTROLE

JUDICIAL, NA VIA DO MANDADO DE SEGURANÇA. (...) 2. Não há

confundir a análise do mérito administrativo, que é de exclusividade da

Administração por exigir juízo de valor acerca da conveniência e

oportunidade do ato, com o exame de eventual ofensa ao princípio da

proporcionalidade, que acarreta a ilegalidade e nulidade do ato e,

portanto, é passível de ser examina pelo Poder Judiciário. (Resp

876.514/MS. Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, SEXTA TURMA, julgado

em 19/10/2010, DJe 08/11/2010 (grifo nosso).

Desta sorte, o exame que cabe a esta Corte de Justiça refere-

se unicamente ao enquadramento do ato administrativo ao ordenamento jurídico como um

todo, vedada qualquer ingerência em seu mérito. – fls. 950/951 dos autos de mandado de

segurança já mencionados)”

E quanto a desnecessidade de vinculação da decisão

da Câmara de Vereadores ao parecer prévio do Tribunal de Contas, a questão

é de clareza solar, haja vista que a própria Constituição, no artigo 31,

parágrafo 2º prevê o seguinte: “O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre

as contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois

terços dos membros da Câmara Municipal.”

Portanto, a decisão da Câmara de Vereadores de

Colombo quando desaprovou as contas da autora foi firmada na mais

absoluta constitucionalidade e legalidade, não havendo qualquer mácula que

possa ser corrigida pelo Poder Judiciário.

D) Da perseguição política – argumenta a autora,

ainda, que a desaprovação das contas ocorreu em razão de perseguição

política.

A fundamentação, contudo, é frágil e incapaz de

macular o processo de desaprovação das contas pela Câmara de Vereadores,

pois embora a requerente insista que as condutas verificadas não causaram

danos ao erário e eram todas sanáveis, tal situação não condiz com a verdade,

haja vista que o prejuízo ao erário restou comprovado nos autos n. 9089-

59.2011.8.16.0028, oportunidade em que a autora foi revel, autos que inclusive

já transitaram em julgado.

Observe-se que entre as afirmações constantes da

inicial, estão irregularidades em procedimentos licitatórios, sendo o principal

deles o pagamento em valor superior a empresa Rodocibra Transportes

Rodoviários Ltda com pagamento a maior do valor histórico de R$ 859.632,44

(oitocentos e cinquenta e nove mil, seiscentos e trinta e dois reais e quarenta e

quatro centavos).

Além disso, as irregularidades nos procedimentos

licitatórios caracterizaram manifesto direcionamento a determinadas empresas,

levando a contratação das mesmas pessoas. Por outro lado, algumas despesas

foram liquidadas irregularmente, sem nota de empenho, sem licitação prévia,

sem comprovante de recebimento de produtos. E mais, foram constatadas

irregularidades nas despesas de publicidade, porque a autora utilizou verba

pública para promoção pessoal e por fim, houve desvio de recursos do

FUNDEF.

Portanto, os fundamentados que levaram a

desaprovação das contas são coerentes e perfeitamente justificáveis, não

sendo possível entender que o motivo de desaprovação seja unicamente

político.

A autora quer parecer que o motivo para

desaprovação das contas foi meramente banal, situação não constatada, pois

conforme já ressaltado em linhas acima, houve prejuízos financeiros ao erário,

além disso, a moralidade administrativa foi manifestamente violada, situações

que caracterizam irregularidades insanáveis. Acrescente-se, em nenhum

momento a autora concorda em ressarcir os prejuízos financeiros suportados

pelo erário, ante a conduta por esta praticada.

Entende-se por irregularidade insanável aquela que

traz prejuízo ao erário e também àquelas condutas que atentem contra a

moralidade, economicidade, razoabilidade, publicidade, além de outros valores

tutelados pelo Estado.

E sendo constatadas as irregularidades insanáveis,

haja vista o prejuízo ao erário, durante a administração da autora é correto que

tenha sua inelegibilidade suspensa conforme prevê a Lei Complementar n.

64/90.

e) Da má-fé

Por fim, fundamenta a autora a respeito da ausência

de má-fé, requisito necessário para fins de verificação da improbidade

administrativa.

Mais uma vez sem razão o entendimento da

requerente, isto porque é certa a má-fé e a ação dolosa da autora quando do

exercício da função pública, ante a violação a moralidade administrativa, ao

direcionar procedimento licitatório para as mesmas pessoas jurídicas e causar

financeiro ao erário pagando indevidamente valores para determinada pessoa

jurídica, situações que demonstra claramente a ação dolosa.

A autora era a Chefe do Executivo Municipal a

época, responsável direta pelos atos praticados durante a sua gestão, não

sendo crível entender que agiu com ausência de dolo quando direcionou o

procedimento licitatório para determinadas empresas, quando usou valores

públicos para exercer atos de publicidade de caráter pessoal, quando efetuou o

pagamento a maior a determinada empresa.

Portanto, ante a fundamentação supra, o pedido

inicial merece improcedência.

Dispositivo

Em face ao exposto JULGO IMPROCEDENTE o

pedido inicial.

Condeno a requerente ao pagamento de custas

processuais e honorários advocatícios, os quais fixo em R$ 2.000,00 (dois mil

reais) para cada qual dos patronos dos requeridos, atendido o grau de zelo dos

profissionais e a natureza da causa.

Oficie-se ao TJ/PR 4ª. E 5ª. Câmara Cível

comunicando a presente decisão.

P. R. I.

Colombo, 08 de agosto de 2012.

LETÍCIA ZÉTOLA PORTES

Juíza de Direito