Upload
paulo-carvalho-filho
View
12
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Avaliação de pedido de alteração de zoneamento municipal em face de diretriz do Plano de Manejo da APA de Tamoios, enquadrar a Ilha da Pimenta em categoria de zoneamento menos restritivo.
Citation preview
1
ESTADO DO RIO DE JANEIRO PREFEITURA MUNICIPAL DE ANGRA DOS REIS
SECRETARIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO URBANO
SUBSECRETARIA DE MEIO AMBIENTE Gerência de Conservação e Projetos Ambientais
Assunto: Avaliação da Qualidade Ambiental da Ilha da Pimenta, Baía da Ilha Grande,
Angra dos Reis, RJ. Referência: Processo PMAR nº 19.930/14.
1. Descrição do Processo:
O Sr. George Ribeiro Correia Lima, proprietário da Ilha da Pimenta, na Baía da
Ribeira, cadastrada na Prefeitura Municipal de Angra dos Reis sob nº 02.20.001.1911.001,
com RGI matrícula 17.995 no Cartório do 1º Ofício de Angra dos Reis e RIP no SPU-RJ sob
nº 58010000025-81, solicita alteração da atual classificação ambiental no zoneamento do
município referente à Ilha da Pimenta, de ZIAP (Zona de Interesse Ambiental de Proteção)
para ZIET (Zona de Interesse para Equipamentos Turísticos), com base nos argumentos
que apresenta em processo.
2. Localização da Ilha da Pimenta:
A Ilha da Pimenta se localiza nas coordenadas geográficas Lat - 22º57'3.93"S e
Long - 44º20'7.99"O, na Baía da Ribeira, em frente ao Resort Sol Meliá, conforme
fotografia apresentada a seguir.
É uma ilha de tamanho médio que fica em frente ao Saquinho do Itaperapuãn,
aonde estão localizados outros empreendimentos tais como o Iate Clube de Angra dos Reis
(ICAR), o Condomínio Morada do Pontal, o Condomínio Skeleto, dentre outros. O
loteamento do Pontal também fica localizado na mesma bacia hidrográfica.
A ilha da Pimenta, fica ao sul do Saco nos Negros, tendo a oeste a Ilha Comprida.
2
3. A Ocupação na Área do Entorno da Ilha da Pimenta:
A área do entorno da Ilha da Pimenta no passado sofreu grandes impactos
ambientais, resultantes da implantação de empreendimentos imobiliários.
O manguezal do Pontal teve 50% da sua área suprimida por aterro hidráulico, que
serviu a construção do Resort Sol Meliá e mais recentemente em função de constantes
dragagens no leito do rio Areias do Pontal, fortes chuvas que ocorreram no início do ano
passado, lançaram grande quantidade de sedimentos quartzosos provenientes do Vale do
Pontal, na enseada em frente a Ilha da Pimenta, resultando em um elevado entupimento
do leito do mar.
4. A Qualidade Ambiental da Ilha da Pimenta:
A ilha possui uma vegetação de mata atlântica insular bastante degradada e costões
rochosos aparentemente conservados. Possui apenas 1 pequena edificação e há uma placa
de vende-se em um trecho da costeira. Paisagisticamente, está em mal estado de
conservação, conforme mostra o recorte fotográfico da aerofotografia do ano de 1995,
apresentada a seguir. Se compararmos esse recorte fotográfico com a fotografia aérea do
ano passado, feita a partir de um sobrevôo em Angra dos Reis, podemos notar algumas
variações na cobertura florestal da ilha. Porém essa variação na cobertura florestal, não é
suficiente para dizermos que houve uma recuperação do manto vegetal da ilha, o que
3
influencia na melhora da sua qualidade. Somente estudos de levantamento florístico e
análises de solo, podem mostrar a composição química atual desse solo e a quantidade e
qualidade das espécies vegetais. E se além desses estudos forem feitos levantamentos de
campo que mostrem a quantidade e qualidade de espécies da fauna, aí sim saberemos se o
intervalo de 19 anos ocorridos entre os anos de 1995 e os dias atuais foi suficiente para
produzir a recuperação ambiental da ilha.
Legenda: Ilha da Pimenta em 2 momentos. A 1ª foto é de 1995 e a 2ª, de 2014. São 19 anos de intervalo de tempo entre as duas.
4
Na fotografia resultante do sobrevôo realizado no início do ano passado, mostrada acima,
observa-se a presença de uma vegetação rala recobrindo o solo e comprometida com a
degradação, reforçando o que é mostrado na fotografia anterior. Esse comprometimento é
resultante de uma ação antrópica predatória de longa data. A ilha sempre foi utilizada pela
população caiçara local, como ponto de apoio para a pesca e apanha de organismos
viventes no manguezal do Pontal, que a ligava ao continente até a década de 1980,
quando teve parte da sua área degradada por soterramento, devido a ação predatória de
dragagens com finalidade imobiliária.
O recorte da aerofotografia datada de 1995 apresentada anteriormente, mostra a
vegetação da Ilha da Pimenta, devastada em 50% da área da ilha. O que podemos notar,
no entanto, comparando as fotografias de 1995 com a atual é que as áreas degradadas, se
alternaram ao longo do tempo. No ano de 1995, a área hoje ocupada por vegetação
arbórea era desprovida de árvores, enquanto que a parte da ilha que hoje está coberta por
arbustos, estava coberta por vegetação arbórea.
Isto mostra que todo o solo da ilha já sofreu degradação e quando dizemos que
uma área é degradada, não é porque a sua vegetação está modificada, mas principalmente
porque o seu solo sofreu algum tipo de impacto que o torna degradado, perdendo as suas
características físicas, bioquímicas e biológicas iniciais de equilíbrio. O que dá equilíbrio ao
solo, são as suas características físicas, bioquímicas e biológicas ou seja, um solo de
floresta não degradado, possui uma textura orgânica equilibrada, gelatinosa e rica em
substâncias coloidais, próprias do solo das florestas ombrófilas em equilíbrio.
Na época da elaboração dos estudos prévios para o Plano Diretor, o diagnóstico
sobre as ilhas de Angra dos Reis acusou que a vegetação da Ilha da Pimenta era formada
de mata atlântica insular em médio estado de conservação, com costões rochosos bem
conservados, com ausência de ocupação e paisagisticamente, encontrava-se em mal estado
de conservação.
Sob o ponto de vista da conservação, a Ilha da Pimenta está na Zona de
Amortecimento Terrestre da ESEC Tamoios.
A Ilha da Pimenta tem uma área de 191.751,27m² e um perímetro de 2.296,20m.
5. Características Físicas mais importantes das ilhas da Baía da Ribeira:
Geologia:
As rochas que afloram regionalmente no Rio de Janeiro foram agrupadas
recentemente em associações litológicas Proterozóicas (> ~600Ma) representadas em
5
escala regional no Mapa Geológico do Estado do Rio de Janeiro (1:400.000) editado pelo
DNPM (FONSECA, 1998). Estas associações são representadas nas ilhas, ilhotas e lajedos
da Baía da Ribeira (Angra dos Reis) pelos Complexos Paraíba do Sul e Rio Negro.
Complexo Paraíba do Sul
Na baía da Ribeira o Complexo Paraíba do Sul estende-se como faixas paralelas de
grande continuidade regional (VON SPERLING & BALTAZAR, 1983). A mais extensa delas
projeta-se continuamente de sudoeste para nordeste, desde noroeste de Parati, passando
por Mambucaba e Cunhambebe, até noroeste de Mangaratiba.
A outra faixa menor, ao sul daquela, tem sua maior área de distribuição na região
de Mangaratiba, prolongando-se no sentido sudoeste para Cunhambebe até a altura da Vila
do Frade, mostrando-se no âmbito desta região muito recortada e interrompida pela Baía
da Ribeira.
Os litotipos aflorantes são biotita-(granada).(cordierita) gnaisses porfiroclásticos,
laminados ou não, contendo esparsas intercalações de rochas quartzíticas e mais
raramente lentes de rocha cacissilicatada. Os biotita-granada gnaisses aqui predominantes
são geralmente de granulação fina a média, mostrando-se bem foliados, freqüentemente
exibindo uma lamina regular, proporcionada por filmes máficos biotíticos dispostos
paralelamente em matriz granular predominantemente quartzo-feldspática.
Os porfiroclastos são de feldspatos geralmente ocelares e por vezes quebrados,
amplamente disseminados na rocha, havendo locais em que se concentram na forma de
faixas. Em geral não excedem a 0,5 cm segundo seu maior eixo, mostrando-se orientados
e amoldados pelos máficos da matriz e não raro por quartzo venular de espessura
milimétrica. Localmente coexistem com estes porfiroclastos alguns fenoblastos também de
feldspatos xenoblásticos a idioblásticos e de dimensões centimétricas, com freqüentes
inclusões de elementos da matriz e não raro, posicionados transversalmente à foliação da
mesma. Essa rocha, em exposição inalterada, tende a mostrar uma tonalidade esverdeada
devido a seu conteúdo feldspático, podendo observar-se à presença de cristais de
cordierita. A biotita tende a assumir uma tonalidade pardo-avermelhada, parecendo ter
cristais de anfibólio associados em alguns locais. A granada de cor vermelha característica
mostra-se amplamente disseminada, podendo, porém estar ausente e ser pouco
significativa em muitas exposições. Ocorre como cristais milimétricos isolados ou em
agregados geralmente arredondados de até 0,5 cm de diâmetro.
Quando a rocha mostra-se mais fortemente deformada exibe formas ocelares ou
mesmo estiradas e quebradiças. Localmente observou-se ocorrência de sillimanita e grafita.
Essa variedade representa típica intercalação de rochas de natureza kinzigítica verificada no
6
âmbito desses gnaisses. Rochas de natureza calcissilicáticas foram observadas em meio a
esses gnaisses porfiroclásticos, geralmente na forma de corpos ovalados centimétricos a
métricos. Apresentam coloração esverdeada com capa de alteração argilosa amarelada.
A estrutura é maciça, a granulação média, com reação moderada sob ataque de
HCl. Praticamente todos os contatos, quando não efetivados por lineamentos tectônicos,
são gradativos.
Em conclusão, o Complexo Paraíba do Sul pode ser caracterizado como uma
seqüência de derivação pelítico-psamítico-carbonática, com contribuição vulcânica. Na área
das baías da Ribeira e Ilha Grande e adjacências o complexo tem por base o pacote
psamítico (isto é, quartzítico), depositado sobre rochas granulíticas, possivelmente
correlacionáveis ao Complexo Juiz de Fora. As rochas do complexo foram intensamente
metamorfisadas e invadidas por pequenos plútons, diques e sills de rochas máficas e outros
corpos de rochas intermediárias. No decorrer dos processos tectono-metamórficos, que o
transformaram posteriormente, ele deve ter englobado segmentos do seu embasamento. O
Complexo pode conter rochas mais antigas ou mais novas, como resultado de uma
tectônica complexa.
Complexo Rio Negro
Litotipos do Complexo Rio Negro foram identificados a sul da represa do Ribeirão
das Lages, na área das baías da Ribeira e Ilha Grande e adjacências, onde predominam
gnaisses porfiroblásticos e migmatitos oftálmicos. É provável que grande parte ou a
totalidade dos migmatitos heterogêneos (excluídos os metassedimentos) que se situam
entre Angra dos Reis e Parati façam parte deste mesmo complexo (FONSECA, 1998).
Migmatitos estromáticos se estendem segundo a direção SW-NE até Parati (VON
SPERLING & BALTAZAR, 1978). Estes migmatitos bordejam o litoral sul evidenciando
interpenetrações na região da Baía da Ribeira. Os migmatitos estromáticos caracterizam-se
por apresentar um bandamento centimétrico bastante regular, embora descontínuo,
determinado pela alternância de níveis máficos predominantemente biotíticos e félsicos
quartzo-feldspáticos de granulação média e tonalidade branca a rosada. Tipos oftálmicos
ocorrem associados aos estromáticos na região da Baía da Ribeira, sob a forma de bandas
alternadas. Localmente, pode predominar tanto a fração neossomática quartzofeldsp ática
quanto à fração paleossomática, sendo esta representada por biotita gnaisse mesocrático
bem foliado, de granulação fina a média, por vezes contendo pequenos porfiroblastos de
feldspatos dispersos na matriz. Mostram-se esparsamente cortados por material quartzo-
feldspático venular, que imprime características agmatíticas em determinados setores.
7
Onde a fração félsica constitui o termo predominante, observa-se a ocorrência tanto
de estruturas tipo schollen, como aquelas de caráter francamente nebulítico.
Os migmatitos do Complexo Rio Negro que afloram nas baías da Ribeira e exibem
uma textura granoblástica, constituindo-se de plagioclásio, quartzo, microclina e biotita,
tendo como acessórios mais freqüentes apatita, zircão, titanita e minerais opacos. O
plagioclásio é oligoclásio/andesina de forma irregular e granulação fina à média, por vezes
alterado em carbonato, podendo apresentar extinção ondulante e lamelas de geminação
onduladas. A microclina pode estar ausente ou ser o principal constituinte. Tem forma
irregular e seus cristais maiores envolvem fragmentos dos demais minerais da rocha. O
quartzo costuma mostrar extinção ondulante e forma irregular, envolvendo e digerindo os
demais constituintes da rocha. Biotita ocorre em lamelas orientadas com pleocroísmo do
amarelo-claro a marrom. Em alguns casos deriva da rara horblenda que ocorre associada.
Quartzo e albita representam a fração neossomática, com este último mineral se
formando nas bordas dos cristais de andesina. Trata-se de um biotita anfibolito com a
seguinte composição mineralógica: hornblenda, plagioclásio (andesina), biotita quartzo,
tendo como acessórios titanita, minerais opacos, apatita e zircão.
Em conclusão, no costão rochoso da residência, podem-se observar os corpos
tabulares melanocráticos, possivelmente anfibolitos, inclinados e segmentados em rocha
félsica de textura aparentemente lisa e porfirítica (granito). A rocha félsica é cortada por
pegmatitos de contornos irregulares.
6. A Baía da Ilha Grande:
A Baía de Ilha Grande é o espaço litorâneo e marinho compreendido entre a Ponta
da Joatinga (Paraty) e a ponta da Figueira (Mangaratiba), incluindo a Baia da Ribeira e o
conjunto de 365 ilhas., sendo a maior ilha a Ilha Grande seguida da Ilha da Gipóia.
O ecossistema marinho na região notabiliza-se por sua elevada diversidade
taxonômica, evidenciada na maior parte dos grupos faunísticos da região. Uma das
características das comunidades é a sua diversidade, que é dada em função do número de
espécies e sua composição numérica. O espaço ocupado pela Baía de Ilha Grande até a
isóbata de 50 metros de profundidade, compreende 1.448 quilômetros quadrados de área
aquática.
A Baía da Ilha Grande com superfície aproximada de 1.400 km2 é composta por
dois corpos de água com características diferentes que integram entre si a Oeste e a Leste
da Ilha Grande. Estas massas de água se encontram no canal situado entre o continente e
a Ilha. O transporte de água para o interior da Baía é feito por ambas às entradas (Leste e
8
Oeste), que praticamente definem o regime de fluxo de água do canal, e o aporte de água
doce é oriundo da Baía de Sepetiba (UERJ/CENPES,1991).
A Baía de Ilha Grande apresenta uma camada de mistura superficial de 0-15 m de
profundidade e uma camada haloclina e picnoclina a 15 metros de fundo. (UERJ/CENPES,
1991).
A salinidade varia de 33.1 a 35.0 % dentro da baía, atingindo valores de superfície
de 35.5% na região oceânica de fora da Baía. De maneira geral, as águas são menos
salinas na região leste da ilha devido ao aporte de água doce da região da Baía de
Sepetiba. (UERJ/CENPES, 1991).
MIRANDA et al., 1977, constatou uma frente salina na entrada Leste da Ilha
Grande, a sudeste da ponta dos Castelhanos. Em 2,5 km de extensão, a salinidade variou
de 35.14% a 33,24% com um gradiente de 0.09 % / Km. Não foi observada mudança
significativa na temperatura (de 20.60 C a 20,90C).
A presença de outra frente salina foi observada a 9.4 km a sudeste da Ponta Grossa
de Marambaia. Neste trecho a média de salinidade situou-se em torno de 33.00 %, na
frente salina atingiu o valor de 35,36% em 1.6 km, com gradiente de 0.16% km.
(UERJ/CENPES, 1991).
A temperatura neste intervalo diminuiu de 20.8 0C para 20.4 0C, saindo da frente
salina contornando a Ilha Grande até a Ilha de Palmas, a salinidade variou de 35,52% para
32,79%, com gradiente de 0,11%/ km. A temperatura aumentou de 0,4 0C.
(UERJ/CENPES, 1991).
Da Ilha das Palmas até a entrada Oeste da Baía de Sepetiba e antes da entrada do
estreito, existiram flutuações da ordem de 0.05, 0,5 0C e de 0,02 a 0,5 %. Por sua vez a
salinidade a partir da ilha das Palmas aumenta para 34,5% na entrada da Baía de Sepetiba,
diminuindo para 33,85% na entrada do estreito. (UERJ/CENPES, 1991).
No interior da Baía da Ilha Grande, a temperatura (21,2 a 22,0 0C) é ligeiramente
superior a entrada sul (20,8 a 21,3 0C). A salinidade local fica em torno de 35,5 % na
porção mais ao Sul. (UERJ/CENPES, 1991).
O padrão de circulação das águas da Baía de Ilha Grande mostra um fluxo quase
estacionário no sentido horário, ao redor da ilha com intensidade ao redor de 10 cm/s.
Nesta direção, a água salgada entra na Baía de Ilha Grande pelo oeste, circula e se mistura
com a água doce proveniente da Baía de Sepetiba a leste, indo depois para o oceano.
Existe uma circulação de fundo predominantemente horária na Baía de Ilha Grande,
onde ocorrem variações sazonais. A circulação costeira em fevereiro é no sentido Leste-
oeste e em julho ao contrário.
9
Estudos constatam que a propagação das marés na Baía de Ilha Grande ocorre nos
setores Leste e Oeste, e ao longo de seu desenvolvimento, existe uma atenuação de
energia à medida que percorre os contornos do litoral, atuando de forma bastante
complexa com o direcionamento principal para o setor aberto do canal. Este é recoberto
por sedimentos de granulometria diversas, possivelmente, resultado da anulação das forças
no ponto de tombo de maré, possibilitando a decantação das partículas mais finas.
Na dependência da propagação das frentes de vento, especialmente daquelas de
origem polar, a componente de oeste pode ocasionar predominância transferindo sobre a
eventual tendência de maré enchente grande energia, que influência na circulação de
maré, atingindo a Restinga de Marambaia. Neste regime as frentes de onda propagam-se e
distribuem-se através dos contornos da costa, demarcando a transferência cinética no
sentido nordeste.
As variações dos parâmetros oceanográficos em função das marés, correntes de
plataforma e dos ventos, podem sofrer alterações devido a geomorfologia da própria bacia,
de acordo coma as barreiras emersas e a profundidade menor que 20 metros. O
comportamento do fluxo das marés demonstra que existem dois sistemas interligados entre
a Ilha Grande e Sepetiba, apresentando períodos variáveis de oscilação, geralmente
detectados em torno de 6 horas, nas proximidades do canal, podendo ser identificado nos
fluxos de marés que ocorrem alternadamente.
Desta forma, conclui-se que de acordo com SIGNORINI (1980), o padrão de
circulação das águas da Baía da Ilha Grande é resultante de efeitos de marés, ventos e
diferenças de densidade, sendo controlada por uma corrente significativa de fundo que flui
do lado oeste para o lado leste da Ilha Grande, portanto as correntes na Baia são
suficientes para realizar os processos de dispersão de sementes e larvas em seu interior.
Caracterização da Fauna Bentônica da Baía da Ribeira:
Observa-se no limite superior do supralitoral a presença de Hypnea sp., Padina sp. e
Lygia sp., uma cobertura de Cianophyceae, diminuindo ou desaparecendo em
determinados pontos, podendo as vezes atingir o mesolitoral superior. Sobre esta cobertura
ocorre a presença de Nodilitorina sp., Echinoidea sp., Thais sp., Crassostrea sp. e
Chathamulus stellatus, recobrindo parcialmente o substrato no limite inferior do litoral.
10
A seguir, exemplos de organismos já identificados para a Baía da Ribeira:
Nodilitorina sp.
11
Echinoidea sp.
Hypnea sp.
12
Padina sp.
Na zona intermediária entre o supralitoral e o mesolitoral é ocupado por
Chathamulus stellatus e Ectocarpales.
A zona infralitoral, estende-se desde o limite inferior do médiolitoral até o fundo
considerando a pequena profundidade do local. Nesta região há intensa competição por
espaço dada característica do fundo dominado por espécies de Sargassum sp.
Estudos de levantamento florístico e faunístico realizados em um trecho do costão
na Ilha das Palmeiras, constatou a presença predominante da macroalga Sargassum sp. e
ocorreu no infralitoral, tanto, para áreas cujo costão apresenta-se acidentado quanto para
áreas que o costão se apresenta na forma lisa. O índice de diversidade não se diferencia
significativamente ao longo do costão em função da influencia das correntes marinhas que
adentram o Saco do Petisco. Ainda no infralitoral, observa-se ao longo do costão, uma
competição acirrada entre o Sargassum sp e cerca de 15 espécies de esponjas marinhas
dentre as quais destacam-se, Mycale angulosa, Desmapsamma anchorata, Dragmacidon
reticulatus, Clathrina conífera, Tedania ignis, Mycale microsigmatosa, Scopalina ruetzleri,
Terpios sp, Cinachyrella alloclada, dentre outras que ainda não foram identificadas. É
importante ressaltar que os poríferos de modo geral com raras exceções são sensíveis a
poluição e não sobreviveriam em ambiente degradado. Identificou-se também espécies de
ascídia (Ascídia nigra), cnidários (ex. Millepora alcicornis), antozoários (gêneros Palythoa e
13
Zoanthus, Carijoa riisei), moluscos (Polyplacophora sp.), peixes (ex. Anisotremus
surimensis, Chaetodon striatus, Lagocephalus laevigatus), equinodermas (ex. Echinometra
lucunter, Linckhia guildingii).
Ascidia nigra.
Linckhia guildingii
14
Mycale microsigmatosa.
Scopalina ruetzleri.
15
Desmapsamma anchorata
Fauna e Flora Bentônica da Baía da Ribeira.
16
Espécie de esponja (Cynachyrella alloclada) encontrada em área sombreada por um deck na ilha das Palmeiras, Baía da Ribeira.
Fitoplâncton Marinho
O primeiro estudo sobre o fitoplâncton da região foi o de OLIVEIRA (1946) que
através de uma excursão ao longo da costa entre o Rio de Janeiro e Parati, observou, em
águas próximas à Ilha Grande, o predomínio de um fitoplâncton nerítico, constituído
principalmente pelos gêneros Ceratium e Chaetoceros.
Outro estudo realizado sobre o fitoplâncton marinho da região abrange a área do
Terminal Marítimo da Baía de Ilha Grande - TEBIG (UERJ, 1991). Os estudos realizados
sobre os efeitos da retenção de hidrocarbonetos em ambientes costeiros na baía da Ilha
Grande abordaram alguns aspectos da estrutura da comunidade fitoplanctônica.
Com base num pequeno esforço amostral foram realizadas coletas no período de 7
a 9 de outubro/91, em sete estações, objetivando-se uma caracterização preliminar da
distribuição das populações na área sob influência do TEBIG. Os resultados apontam para
um fitoplâncton pobre com predomínio da fração nanoplanctônica (<20μm) sobre a
microfitoplanctônica (> 20μm).
Em geral, predominaram, em densidade, algas fitoflageladas seguidas de
diatomáceas, cocolitoforídeos e dinoflagelados. A diversidade específica variou entre 3,16 e
3,85 bits.cel.-1, o que foi considerado como indicativo de comunidades fitoplanctônicas em
etapas mais avançadas de sucessão ecológica (UERJ, op.cit.). Contudo, os resultados não
permitem grandes avaliações da estrutura da comunidade bem como de suas flutuações
17
espaço-temporais, principalmente em função da pouca quantidade de amostras e
representativa somente de um período. A composição florística evidenciou um predomínio
das diatomáceas (70%) seguidas dos dinoflagelados (25%).
Em 1972 a Fundação de Estudos do Mar (FEMAR) realizou um estudo qualitativo
sobre o fitoplâncton das enseadas de Itaorna e Piraquara de Fora. Foram realizadas 12
expedições com coletas sistematizadas. Efetuaram-se amostragens sazonais, com coletas
em duas profundidades (superfície e fundo), dependendo da formação da termoclina. Os
resultados obtidos demonstraram a existência de um fitoplâncton pobre, com predomínio
qualitativo de nanoplâncton, embora muito diversificado, constituído principalmente por
diatomáceas. Na primavera verificou-se uma floração de diatomáceas, representada
principalmente por Coscinodiscus sp., seguida de outra do dinoflagelado Ceratium sp. No
verão foi observado o máximo da produção, estando o fitoplâncton constituído por
diatomáceas, dinoflagelados e cianofíceas, que apareceram em função da maior
intensidade de precipitação.
Foram registrados 251 táxons, tendo predominado as diatomáceas (70%) e os
dinoflagelados (29%). As maiores concentrações foram observadas no Saco Piraquara de
Fora no verão, sendo Nitzschia closterium, Bacteriastrum spp., Thalassionema nitzschioides
(diatomáceas), Gyrodinium fusus (dinoflagelado) e Dictyocha fibula (silicoflagelado) as
algas que apresentaram as maiores contribuições.
O levantamento taxonômico do fitoplâncton da região realizado no ano de 1980
(BRADFORD, 1983) apontou as diatomáceas como o grupo que mais se destacou ao longo
do estudo, dominando em todas as áreas e em todos os meses, seguido dos dinoflagelados
e silicoflagelados. Dentre as diatomáceas dominaram as penatas. Foi observado um
fitoplâncton pobre onde predominaram Cylindrotheca closterium, Nitzschia longissima e
Pseudonitzschia delicatissima. Os valores de biomassa oscilaram muito ao longo do ano,
variação esta que não possibilitou a identificação de sazonalidade nítida.
Contudo, no estudo realizado por VILLAC (1983), foram evidenciadas tendências
espaciais e temporais da comunidade fitoplanctônica, verificadas pela estratificação térmica
e halina estabelecidas no verão e com maior homogeneidade no inverno. Os maiores
valores de clorofila a foram observados no verão e menores no inverno, estando esta
variação influenciada principalmente pela precipitação. A área foi considerada oligotrófica
com base nos níveis de fosfato registrados, utilizando-se os critérios de TEIXEIRA (1973).
Outro estudo também registrou a tendência sazonal do fitoplâncton da região, com
maiores densidades ocorrendo no verão (SOARES, 1983). Neste período a comunidade foi
18
caracterizada pelo nanoplâncton, principalmente diatomáceas (Nitzschia spp.,
Phaedactylum tricornutum e Thalassionema nitzschioides).
Nas demais épocas se destacaram dinoflagelados (Protoperidinium sp. e
Prorocentrum micans).
No monitoramento referente ao período de 1987 a 1989 (TENENBAUN e VILLAC,
1990) foram identificados 143 táxons sendo 71% de diatomáceas. Os dinoflagelados
também apresentaram contribuição florística relevante (26%). A comunidade
fitoplanctônica foi constituída por espécies tipicamente neríticas, bastante análoga ao que
foi verificado por BRADFORD (1983) Os valores de densidade celular e clorofila a obtidos
no período (média de 3,4 x 105 cels.l-1 e 0,81μg.l-1 respectivamente) podem ser
considerados como pertencentes a ecossistemas oligotróficos (SASSI e KUTNER, 1982).
O monitoramento ambiental na Baia da Ribeira, realizado entre 1991 e 1992
(TENENBAUM e NASCIMENTO, 1993) registrou 90 táxons de algas planctônicas, sendo
64% de diatomáceas e 30% de dinoflagelados.
Durante o estudo a relação diatomáceas/dinoflagelados esteve em média acima dos
80%, demonstrando amplo predomínio florístico das diatomáceas. A comunidade
fitoplanctônica esteve constituída por espécies tipicamente neríticas, bentônicas,
ticoplanctônicas, bastante análogas às encontradas em estudos anteriores (BRADFORD,
1983; TENENBAUM e VILLAC, 1990).
Foram registrados baixos valores para densidade celular (média = 5,53 x 104 cels.l-
1), associados a baixas concentrações de clorofila a (média = 1,31 μg.l-1). O valor médio
de diversidade de espécies registrado (2,11 bits.cel-1) é característico de região nerítica
(MARGALEF, 1980). Este estudo também indicou uma sazonalidade para o fitoplâncton,
influenciada principalmente pelo regime de chuvas, onde o máximo de densidade
fitoplanctônica foi observado no verão.
Entre janeiro e dezembro de 1993 foram registrados 86 táxons tendo predominado
as diatomáceas (70%) seguidas dos dinoflagelados (23%). As diatomáceas dominaram
tanto floristicamente quanto em densidade celular (TENENBAUM e NASCIMENTO, 1994). A
principal espécie de diatomácea neste período foi Pseudonitzschia delicatissima.
O ambiente estudado foi considerado oligotrófico. Para tal utilizou-se os valores de
densidade celular (48,3 x 103) e clorofila a (0,75μg.l-1), considerados baixos, e as
concentrações de nutrientes dissolvidos, que neste período situaram-se bastante inferiores
aos estudos de monitoramento anteriores.
A população microfitoplanctônica da região esteve constituída por espécies
tipicamente neríticas, bentônicas, ticoplanctônicas, já observadas em estudos anteriores
19
(TENENBAUN e VILLAC, 1990; TENENBAUM e NASCIMENTO, 1993). As diatomáceas foram,
em geral, as responsáveis pelo aumento na densidade do microfitoplâncton, destacando-se
os gêneros Chaetoceros, Leptocylindrus, Nitzschia, Rhizosolenia e Seção Pseudonitzschia.
O estudo revelou a ocorrência de grupos de espécies que limitaram sua ocorrência a
épocas distintas (verão e inverno) e períodos de transição. No verão predominaram
espécies de médio e grande porte, eurihalinas e euritérmicas, que tiveram seu
aparecimento condicionado ao aumento das temperaturas do ar e da água e à maior
precipitação, representados principalmente, pelos gêneros de diatomáceas Rhizosolenia,
Bacteriastrum, Chaetoceros.
Dentre as diatomáceas destacou-se outro grupo, que apresentou sua ocorrência
associada a épocas de temperaturas mais amenas e menor pluviosidade. Essas
espécies de hábitos bentônicos são representados pelos gêneros Diploneis, Thalassiosira e
Paralia.
No monitoramento de 1994 (TENENBAUM e DIAS, 1995) foram identificados 87
táxons sendo 63% pertencentes às diatomáceas e 32% aos dinoflagelados. A densidade
celular e a clorofila a apresentaram valores baixos (média = 104cel.l-1 e 0,77μg.l-1
respectivamente) semelhantes aos estudos anteriores, típicos de ambientes oligotróficos.
O nanoplâncton contribuiu, em geral, com 90% da densidade total, e esteve
constituído principalmente por fitoflagelados.
O microfitoplâncton, representado principalmente pelas diatomáceas, foi constituído
por espécies tipicamente neríticas, bentônicas e ticoplanctônicas já observadas em estudos
anteriores (TENENBAUN e VILLAC, 1990; TENENBAUM e NASCIMENTO, 1993 e
TENENBAUM e NASCIMENTO, 1994). Outro grupo representativo do microfitoplâncton foi o
dos dinoflagelados, cujos organismos observados são típicos de mares tropicais e
temperados, de hábito marinho, nerítico e oceânico (BALECH, 1977; DODGE, 1980).
O período de precipitação mais elevada (verão) favoreceu o carreamento de
nutrientes da região costeira, possibilitando aumento na densidade celular, ao passo que
durante a estiagem foram observadas as menores densidades. Ou seja, foi observado o
mesmo padrão registrado nos estudos anteriores.
Na avaliação da comunidade fitoplanctônica realizada no período de janeiro a
dezembro de 1995 foram identificados 123 táxons sendo 73% de diatomáceas e 25% de
dinoflagelados (TENENBAUN e VILLAC, 1996). O nanoplâncton contribuiu com percentuais
acima de 95% do fitoplâncton total, sendo que os grupos predominantes alternaram entre
fitoflagelados, cocolitoforídeos e diatomáceas. Já o microfitoplâncton esteve constituído
principalmente por diatomáceas e em menor grau por dinoflaglelados.
20
A composição da comunidade fitoplanctônica manteve o mesmo padrão dos estudos
de monitoramento anteriores, com predomínio de diatomáceas, característica de regiões
costeiras (BARNES e HUGHES,1982). Também foi observado o predomínio da fração do
nanoplâncton sobre o microfitoplâncton. A variação da densidade celular e clorofila a foram
semelhantes aos estudos anteriores, com valores máximos no verão.
O período de chuvas intensas no verão foi o fator condicionante das variações
físicas e químicas na área de estudo, influenciando a dinâmica da comunidade
fitoplanctônica. No verão e na primavera foram observados incrementos na produtividade
do fitoplâncton. O verão destaca-se pelas mais altas densidades e biomassas, enquanto
que a primavera apresenta incremento na densidade pelo aumento do número de espécies.
Os resultados da avaliação qualitativa e quantitativa do fitoplâncton (densidade
celular e clorofila a) e de suas relações com as variáveis abióticas na região (TENENBAUN e
VILLAC, 1990; TENENBAUM e NASCIMENTO, 1993; TENENBAUM e NASCIMENTO, 1994;
TENENBAUM e DIAS, 1995 e TENENBAUM e VILLAC, 1996) podem ser assim sintetizados:
As flutuações da estrutura da comunidade fitoplanctônica da região, avaliadas pela
densidade celular, clorofila a, composição florística e diversidade de espécies, estão
condicionadas a sazonalidade climática, determinada principalmente pela precipitação.
Deste modo, são definidas duas estações: um verão quente e chuvoso (janeiro a
abril) e uma primavera (setembro a dezembro) com temperaturas mais amenas e chuvas
menos freqüentes. No verão são registradas as maiores biomassas fitoplanctônicas e os
menores valores de diversidade específica, estando a comunidade constituída por
populações de menor porte como Phaeodactylum tricornutum e Pseudonitzschia
delicatissima. As densidades na primavera são menores que no verão, sendo menores
ainda no outono e inverno. Entretanto registram-se maiores valores de diversidade de
espécies, estando o fitoplâncton composto por espécies maiores.
Dentre as diatomáceas destacam-se os gêneros Rhizosolenia, Leptocylindrus,
Thalassionema, Chaetoceros e Bacteriastrum; dentre os dinoflagelados Protoperidinium e
Ceratium e ainda o silicoflagelado Dictyocha fibula. Os cocolitoforídeos, as cianofíceas e
outro fitoflagelados foram freqüentes durante o outono e inverno.
Assim, a comunidade fitoplanctônica da região é influenciada principalmente pelas
variações sazonais, observadas através das oscilações dos fatores meteorológicos e
hidrográficos. O nanoplâncton tem papel fundamental na comunidade, pois tratando-se de
um sistema oligotrófico estes organismos estão melhor adaptados a condições de escassez
de nutrientes. Ficou evidente a homogeneidade espacial do fitoplâncton da região nos
diversos estudos realizados (PETRETSKI, 1987; TENENBAUN e VILLAC, 1990; TENENBAUM
21
E NASCIMENTO, 1993; TENENBAUM e NASCIMENTO, 1994; TENENBAUM e DIAS, 1995 e
TENENBAUM e VILLAC, 1996).
O principal grupo de algas do fitoplâncton da região são as diatomáceas,
característico de regiões costeiras tropicais (VALENTIN et ali, 1985; TEIXEIRA, 1993;
STROM e STROM, 1996). Foi constituído por espécies tipicamente marinhas, neríticas, de
hábito planctônico, bentônico e ticoplanctônico, pertencentes às frações do nano e
microfitoplâncton.
Os valores de diversidade de espécies registrados nos diversos estudos, em geral
entre 1,0 e 2,0 bits.cel-1, indicam o predomínio de algas nanoplanctônicas. Estes valores
revelam uma população constituída por espécies de pequeno porte e com taxa de
multiplicação elevada (BRANDINI, 1986). Valores acima de 2,0 bits.cel-1, observados nos
períodos de menor precipitação são característicos de região nerítica, onde uma maior
estabilidade no sistema pode influenciar a diversificação da população, permitindo uma
melhor repartição dos indivíduos entre as espécies (MARGALEF, 1978).
Zooplâncton
Na região da Baía de Ilha Grande, os primeiros estudos sobre o plâncton
começaram em meados da década de 40, com o levantamento realizado por Oliveira
(1946) que estudou o microplâncton das baías de Sepetiba e Ilha Grande.
Ao levantamento realizado por Oliveira (1946), seguiram-se, trinta anos depois,
diversos trabalhos que tiveram como base as Operações Oceanográficas Rio de Janeiro I e
II, realizadas pelo Departamento de Hidrografia e Navegação do Ministério da Marinha.
Estas comissões oceanográficas, apesar de coletarem amostras na região nerítica e
oceânica do Estado do Rio de Janeiro, possuíam algumas estações localizadas na entrada
da baía de Ilha Grande (Operação Rio de Janeiro I) e no canal entre a Ilha Grande e o
continente (Operação Rio de Janeiro II) (Bonecker e Nogueira, 1997).
O material coletado durante a Operação Rio de Janeiro I subsidiou uma avaliação
preliminar da biomassa e da composição dos principais grupos planctônicos presentes nas
amostras (Hubold e Gurgel, 1978), fornecendo ainda, dados sobre a distribuição das salpas
(Bonecker, 1984), dos sifonóforos (Abreu e Nogueira, 1989), dos quetognatos (Fernandes,
1985), dos copépodes (Dias, 1995) e sobre a diversidade do zooplâncton (Bonecker et alli,
1990).
Já o material coletado durante a Operação Rio de Janeiro I forneceu dados para a
confecção de trabalhos sobre a variação nictemeral do zooplâncton.
22
Mais recentemente, foi realizado um estudo sobre a composição e abundância do
zooplâncton e ictioplâncton próximo às instalações do Terminal da Baía de Ilha Grande
(TEBIG) da Petrobrás (BONECKER et al., 1995 e FERNANDES e BONECKER, 1996).
As amostras de zooplâncton foram efetuadas em sete estações amostrais em duas
superfícies (superfície e fundo). A densidade do zooplâncton variou entre 400 e 14.600
org/m3. As densidades mais elevadas foram obtidas nas amostras de fundo, porém as
amostras de superfície apresentaram maiores concentrações de volume, em função da
dominância de salpas (UERJ, 1991).
Os grupos zooplanctônicos mais abundantes foram Copepoda, Cladocera,
Appendicularia e Salpa. Além destes, Hydromedusae e larvas de Polychaeta, Crustacea e
Mollusca também foram coletados, porém ocorrendo em menor abundância.
As amostras de superfície foram dominadas pelas salpas, enquanto as de fundo,
apresentaram uma alternância entre copépodos e cladóceros com as salpas. Foram
identificados 56 taxons . Estes são comuns em sistemas costeiros do litoral do Rio de
Janeiro, sob influência de aportes de água doce e de água da plataforma continental
interna. As espécies que mais se destacaram foram: Thalia democratica, Paracalanus
quasimodo, Paracalanus sp., Corycaeus giesbrechti, Temora stlyfera, Penilia sp., Evadne
tergestina, Liriope tetraphylla e Oikopleura dioica.
De acordo com os relatórios de Furnas, os valores de densidade zooplanctônica
apresentaram uma sazonalidade, com as menores densidades registradas no período de
outono-inverno e as maiores densidade no período de primavera-verão, acompanhando a
variação apresentada pelos parâmetros físico-químicos.
A variação sazonal verificada para os valores de densidade do zooplâncton coincide
com a apresentada pelos valores de temperatura, que é característica de uma região
tipicamente tropical (verões quentes e chuvosos e invernos frios e secos), apresentando
temperaturas superiores a 19°C. As variações temporais apresentadas pela temperatura
são semelhantes as encontradas em outros sistemas costeiros.
Foram encontrados, analisando os dados da campanha pré-operacional (1980/81) e
das campanhas de monitoramento (1986 a 1995), um total de 95 taxa zooplanctônicos.
Dentre estes, foram encontrados um total de 14 grupos, no período pré-operacional e de
19 grupos no período de monitoramento, com predominância de Copepoda e de Cladocera,
seguidos de Appendicularia e de larvas de Mollusca. Entre os copépodes, Acartia lilljeborgi,
Paracalanus parvus, Paracalanus crassirostris, Temora stylifera, Centropages velificatus,
Oithona hebes e Euterpina acutifrons, entre as espécies consideradas estuarinas e
costeiras, e Oithona plumifera, espécie associada a águas mais salinas, foram as mais
23
freqüentes (ocorrência de 100%). O segundo grupo em termos de abundância,foi o dos
cladóceros, com a espécie Penilia avirostris como a mais freqüente.
A distribuição espacial do zooplâncton foi influenciada, principalmente, pelo fluxo da
Água Tropical (AT) e da Água Central do Atlântico Sul (ACAS) na plataforma interna e pela
topografia da baía. Foram detectadas altas densidades da salpa Thalia democratica
influenciando a distribuição do zooplâncton, o que deve ter sido a responsável pela baixa
densidade de larvas de peixe.
Dias et alli (1988) ao estudarem a baía da Ribeira, registraram a ocorrência de 20
grupos zooplanctônicos, dos quais Appendicularia, Cladocera, Copepoda e Chaetognatha
foram os mais abundantes. Neste estudo foram identificadas 34 espécies, onde Paracalanus
quasimodo, P. crassirostris, Corycaeus giesbrechti, Sagitta tenuis, Penilia avirostris e
Oikopleura dioica foram as mais abundantes e frequentes. Os autores concluíram que o
aporte continental e o hidrodinamismo associado aos períodos de chuva e seca foram os
principais fatores que influenciaram na variação do zooplâncton.
BONECkER e NOGUEIRA (1997) destacam que a diversidade específica do
zooplâncton apresentou na baía de Ilha Grande, um incremento da densidade ao logo dos
anos de 1980 a 1995. Em 1980, a diversidade média foi de 2,1 bit/ind (NOGUEIRA et alli,
1991), enquanto em 1995, a diversidade média foi de 2,7 bit/ind (FURNAS, 1996).
Ao analisarem todas as listagens de zooplâncton disponíveis sobre a baía de Ilha
Grande, BONECKER e NOGUEIRA (op. cit.) concluíram que as formas holoplanctônicas
foram dominantes. Os grupos mais frequentes foram os copépodos, com destaque para
Paracalanus quasimodo, P. crassirostris, P. parvus, Oithona hebes, Temora stylifera,
Oncaea curta e os cladóceros, destacando-se Penilia avirostris e Evadne tergestina.
Outras espécies bem representadas foram: Oikopleura dioica (apendiculária);
Sagitta friderici, S. enflata (quetognatos) e Thalia democratica (salpa). O meroplâncton foi
representado pelas larvas de moluscos, poliquetos, equinodermos e crustáceos.
As espécies mais freqüentes e abundantes foram: Acartia lilljeborgi, Paracalanus
parvus, Paracalanus crassirostris, Temora stylifera, Centropages velificatus, Oithona hebes
e Euterpina acutifrons, Oithona plumifera e Penilia avirostri.
7. Legislação Ambiental:
No ano de 1991 quando o Município de Angra dos Reis aprovou o seu Plano Diretor
(Lei nº 162/91), a Ilha da Pimenta bem como diversas outras ilhas que não estavam
incluídas na ESEC Tamoios, ficaram congeladas ao uso, por força do § 1º do art. 91 que
24
incluía algumas ilhas na categoria de Zona de Preservação Permanente (ZP) e do art. 92,
que transformava algumas outras ilhas em ZPC (Zona de Preservação Congelada). Em 09
de março de 1999, a Câmara Municipal de Angra dos Reis aprovou a Lei nº 821, de 9 de
março de 1999, que alterou os art. 91 e 92 da Lei 162/91 e criou e regulamentou a Área
Especial Cultural, Ambiental, Turística e de Utilização Pública (AECATUP).
Dizia o parágrafo único do art. 1º da Lei 821/99, que as ilhas mencionadas no caput
do artigo deixaram de ser classificadas como ZPP e ZPC. O art. 2º, mudava a destinação
das ilhas para a conservação do meio ambiente natural como condição ao desenvolvimento
de atividades de lazer e turismo e o art. 3º, dizia que a ação do Poder Público na AECATUP
das Ilhas visava o estímulo às atividades cujo objetivo era de recuperação e conservação
do patrimônio histórico, cultural, ambiental e paisagístico e à sua articulação ao lazer e ao
turismo.
Durante muitos anos as ilhas municipais foram sujeitas a essa legislação e quando
houve a publicação das leis nº 1.754/06, 2.091/09, 2.092/09, 2.093/09, 1.965/08 e
2.087/09, na revisão do Plano Diretor, ocorreu mudança de características na lei municipal,
o que fez aplicar outros paradigmas à legislação.
A Lei do Zoneamento Municipal (Lei nº 2.091/09) estabelece no seu art. 14, §4º,
itens I e II que as ilhas que compõem o Território Municipal, são consideradas ZIAP: I -
uma faixa de cinco metros em toda a sua extensão ou perímetro, após o término do costão
rochoso ou início da vegetação litorânea; II - toda a área acima da cota quarenta.
O Plano Diretor da APA de Tamoios regido pelo Decreto Estadual nº 44.175, de 25
de abril de 2013, prevê nos art. 22 ao 25, a implantação de projetos de interesse turístico
de baixo impacto ambiental, podendo atender ao estabelecimento de hotéis ou pousadas
com no máximo 30 (trinta) unidades habitacionais e 90 (noventa) leitos, devendo a
permissão e incentivo do uso turístico cuja implantação e operação sejam vinculadas no
licenciamento ambiental à recuperação e conservação dos recursos ambientais e
paisagísticos; e a proibição do parcelamento do solo, exceto os licenciamentos emitidos
com anterioridade a esse decreto e que tenham expirado.
8. Conclusão:
Pelas características do ambiente observadas na Ilha da Pimenta e pelo que é
descrito na legislação estadual que trata sobre o zoneamento e uso na APA de Tamoios
(Decreto Estadual nº 44.175, de 25 de abril de 2013), não vejo óbice na mudança do
zoneamento ambiental municipal de ZIAP para ZIT, desde que a SSDU mantenha as
características descritivas da categoria ZIET, como parâmetro à modificação, exigindo do
25
empreendedor que apresente os estudos sugeridos no Plano Diretor da APA de Tamoios,
por ocasião da submissão do projeto de pousada na aprovação junto a Prefeitura Municipal
de Angra dos Reis.
9. Bibliografia:
ANGRA DOS REIS Plano Diretor Municipal. Lei nº 1754/06.
ANGRA DOS REIS Plano Diretor Municipal. Lei nº 2.091/09.
ANGRA DOS REIS Lei nº 821, de 09/03/1999.
CAPRA, FRITJOF. O ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura
emergente. Cultrix: São Paulo, 2006.
CARVALHAES, Anne de Lima Ação Civil Pública: Processo nº 2002.003.
010.798-6. Contestação ao Laudo Pericial de 14/10/2009. 2ª Vara Cível da
Comarca de Angra dos Reis.
DIEHL, Carlos Alberto. Controle estratégico de custos: um modelo
referencial avançado. 2004. 306f. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis, 2004.
FENKER, E. A.(a) Análise custo-benefício aplicável ao meio-ambiente.
Disponível em:
http://www.ambientebrasil.com.br/noticias/index.php3?action=ler&id=24988
FENKER, E. A.(b) Natureza: Fonte de Matéria-Prima para o Homem?
Disponível em:
http://www.ambientebrasil.com.br/noticias/index.php3?action=ler&id=31911
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Plano Diretor da APA de
Tamoios. Decreto nº 44.175, de 25/04/2013.
MEDEIROS, FERNANDA L. Meio ambiente: direito e dever fundamental.
Plano de Manejo da Estação Ecológica de Tamoios - ESEC Tamoios, 2001.
Apolinário, M., Coutinho, R., & Baeta-neves, M.H. 1999. Periwinkle
(Gastropoda: Littorinidae) hábitat selection and its impact upon microalgal
population. Rev. Brasil. Biol. 59: 211-219.
Doty, M. S. 1946. Critical tide factors that are correlated with the vertical
distribuition of marine algae and other organisms along the Pacific coast.
Ecology 27: 315-328 Coutinho, R. 1995. Avaliação crítica das causas da
zonação dos organismos bentônicos em costões rochosos. Oecol. Brasil.
1:259-271.
26
Paula. E.J. de 1987. Zonação nos costões rochosos: região entremarés.
Simpósio sobre ecossistemas da costa sul e sudeste brasileira: síntese dos
conhecimentos . Cananéia. SP.1:266-288.
Crespo et alli, 2002, Biologia Marinha, Ed. Interciência 381 pág.
Angra dos Reis, 06 de março de 2015.
PAULO CARVALHO FILHO Biólogo - matr. 3054
MSc em Geociências, área de concentração em Gestão Ambiental