Avaliação da Qualidade ambiental urbana da bacia do Ribeirão do Lipa

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ARQUITETURA ENGENHARIA E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE EDIFICAES E AMBIENTAL

CARACTERIZAO E ANLISE DA QUALIDADE AMBIENTAL URBANA DA BACIA HIDROGRFICA DO RIBEIRO DO LIPA, CUIAB/MT

FELIPE DE ALMEIDA DIAS

PROF. DR. LUIZ AIRTON GOMES

Cuiab/MT Fevereiro/2011

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ARQUITETURA ENGENHARIA E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE EDFICAES E AMBIENTAL

CARACTERIZAO E ANLISE DA QUALIDADE AMBIENTAL URBANA DA BACIA HIDROGRFICA DO RIBEIRO DO LIPA, CUIAB/MT

FELIPE DE ALMEIDA DIAS

Trabalho de Dissertao apresentado junto ao Programa de PsGraduao em Eng. de Edificaes e Ambiental da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisitos para obteno do ttulo de Mestre

PROF. DR. LUIZ AIRTON GOMES

Cuiab/MT Fevereiro/2011

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ARQUITETURA ENGENHARIA E TECNOLOGIA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE EDIFICAES E AMBIENTAL

CERTIFICADO DE APROVAO

CARACTERIZAO E ANLISE DA QUALIDADE AMBIENTAL URBANA DA BACIA HIDROGRFICA DO RIBEIRO DO LIPA, CUIAB/MT

Aluno: FELIPE DE ALMEIDA DIAS Orientador: PROF. DR. LUIZ AIRTON GOMES

Trabalho de dissertao avaliado em 24 de fevereiro de 2011

_______________________________ Prof. Dr. Douglas Queiroz Brando Comisso Examinadora: _______________________________ Prof. Dr. Luiz Airton Gomes Orientador - UFMT ______________________________ Prof. Dr. Carlos Nobuyoshi Ide Examinador Externo - UFMS ______________________________ Prof. Dr. Suse Monteiro Leon Bordest Examinadora Interna - UFMT ______________________________ Prof. Dr. Prudncio Rodrigues de Castro Junior Examinador Interno - UFMT

AGRADECIMENTOS

Expresso meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que, de alguma forma, colaboraram para a concluso deste trabalho. Agradeo em especial: A Deus, por ter me dado tudo o que precisei; Aos meus pais Viniel e Anair e minhas irms, por terem tido pacincia comigo durante a elaborao deste trabalho; A minha namorada Jacqueline por ter me apoiado e ajudado no trabalho, com idias e correes; A meus amigos e colegas de mestrado, que ajudaram a tornar esse mestrado um perodo agradvel e produtivo; Ao Prof. Dr. Luiz Airton Gomes, por me passar segurana e orientao nos momentos em que precisei e A CAPES pela bolsa de estudos.

SUMRIO

LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................... I LISTA DE TABELAS .................................................................................................III LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ............................................................... IV RESUMO ........................................................................................................................ V ABSTRACT................................................................................................................... VI 1. INTRODUO ...................................................................................................... 7 1.1. PROBLEMTICA............................................................................................ 7 1.2. JUSTIFICATIVA.............................................................................................. 9 1.3. OBJETIVOS GERAIS .................................................................................... 10 1.4. OBJETIVOS ESPECFICOS ......................................................................... 10 2. REVISO BIBLIOGRFICA........................................................................... 12 2.1. QUALIDADE AMBIENTAL URBANA ..................................................... 12 2.1.1. Dificuldades do estudo da qualidade ambiental ................................ 15 2.1.2. Indicadores e ndices ambientais ........................................................ 17 2.2. QUALIDADE DE VIDA URBANA ............................................................. 20 2.3. PROBLEMAS AMBIENTAIS DA URBANIZAO ................................ 23 2.3.1. Impactos nos recursos hdricos ........................................................... 25 2.3.2. Impactos ao solo .................................................................................. 27 2.3.3. Impactos a qualidade do ar ................................................................. 29 2.4. COBERTURA VEGETAL NAS CIDADES ................................................ 31 2.5. SANEAMENTO AMBIENTAL .................................................................... 33 2.6. SANEAMENTO E SADE ........................................................................... 35 2.7. FERRAMENTAS UTILIZADAS NO PLANEJAMENTO AMBIENTAL 36 2.7.1. Sensoriamento remoto ......................................................................... 36 2.7.2. Sistemas de informaes geogrficas (SIG) ...................................... 38 2.7.3. Modelo numrico de terreno (MNT) .................................................. 40 2.8. BACIA HIDROGRFICA ............................................................................ 40 2.8.1. Delimitao da bacia hidrogrfica ...................................................... 42 2.8.2. Caractersticas fisiogrficas ................................................................ 42 2.8.3. Relevo................................................................................................... 44 2.8.4. Padres de drenagem ........................................................................... 45 2.9. IMPORTNCIA DE CARACTERSTICAS GEOLGICAS E SOLO .... 47 3. METODOLOGIA ................................................................................................ 49 3.1. IDENTIFICAO DAS CARACTERSTICAS FSICAS ......................... 49 3.2. IDENTIFICAO DOS USOS DO SOLO .................................................. 50 3.3. ANLISE DA QUALIDADE AMBIENTAL URBANA ........................... 52 3.3.1. Clculo do ndice de abastecimento de gua ..................................... 54 3.3.2. Clculo do ndice de esgotamento sanitrio ...................................... 55 3.3.3. Clculo do ndice de limpeza pblica ................................................ 56 3.3.4. Clculo do ndice de pavimentao das ruas ..................................... 56 3.3.5. Clculo do ndice de cobertura vegetal .............................................. 57 4. RESULTADOS E DISCUSSO ........................................................................ 58 4.1. LOCALIZAO ............................................................................................ 58 4.2. CARACTERIZAO FSICA DA BACIA DO RIBEIRO DO LIPA.... 59

4.2.1. Aspectos quali-quantitativos do Ribeiro do Lipa ............................ 64 4.2.2. Geomorfologia ..................................................................................... 65 4.2.3. Geologia ............................................................................................... 67 4.2.4. Pedologia .............................................................................................. 68 4.2.5. Vegetao ............................................................................................. 69 4.2.6. Aspectos climticos ............................................................................. 70 4.3. CARACTERSTICAS DEMOGRFICAS .................................................. 73 4.4. USOS DO SOLO NA BACIA ....................................................................... 77 4.4.1. rea Urbana ......................................................................................... 80 4.4.2. Cobertura vegetal................................................................................. 81 4.4.3. Solo descoberto.................................................................................... 85 4.5. ASPECTOS E PROBLEMAS AMBIENTAIS DA BACIA DO RIBEIRO DO LIPA ..................................................................................................................... 87 4.5.1. Invases e assentamentos informais ................................................... 87 4.5.2. Presena de lixo e entulho nos cursos d'gua e margens .................. 91 4.5.3. Poluio do curso d'gua principal e afluentes .................................. 92 4.5.4. Impermeabilizao do Solo................................................................. 96 4.5.5. Expressiva extenso de vias sem pavimentao ................................ 97 4.5.6. Bairros com pouca ou nenhuma rea destinada ao uso pblico ....... 99 4.5.7. Crescimento no nmero de condomnios e loteamentos ................... 99 4.5.8. Aterro Sanitrio de Cuiab................................................................ 100 4.6. AVALIAO DA QUALIDADE AMBIENTAL URBANA .................. 102 4.6.1. Indicadores utilizados ........................................................................ 103 4.6.2. IQAU dos bairros da bacia do Ribeiro do Lipa ............................ 113 5. CONCLUSES .................................................................................................. 117 6. RECOMENDAES ........................................................................................ 119 7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................... 121 8. ANEXOS ............................................................................................................. 129 8.1. ANEXO A ..................................................................................................... 129 8.2. ANEXO B...................................................................................................... 131

I

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Pirmide de informao. ................................................................................ 19 Figura 2: Interface do sistema de informaes geogrficas (SIG) utilizado ............. 39 Figura 3: Processamento de imagem em MNT atravs do programa SPRING. ........ 40 Figura 4: Exemplo de classificao de acordo com a ordem do curso dgua. .......... 46 Figura 5: Localizao da bacia do Ribeiro do Lipa, Cuiab/MT. ............................. 59 Figura 6: Representao da bacia do Ribeiro do Lipa em MNT, atravs do programa Spring 5.1.6. .................................................................................................................... 61 Figura 7: Rede de drenagem da bacia do Ribeiro do Lipa. ........................................ 62 Figura 8: Representao da declividade na bacia do Ribeiro do Lipa. ..................... 63 Figura 9: Representao da variao altimtrica na bacia do Rib. do Lipa. ............... 66 Figura 10: Relevo na bacia do Ribeiro do Lipa. ......................................................... 67 Figura 11: Geologia na bacia do Ribeiro do Lipa. ..................................................... 68 Figura 12: Bairros da bacia do Ribeiro do Lipa ......................................................... 73 Figura 13: Renda mdia nos bairros da bacia do Ribeiro do Lipa. ........................... 76 Figura 14: Uso do solo na bacia do Ribeiro do Lipa em 1986. ................................. 77 Figura 15: Uso do solo na bacia do Ribeiro do Lipa em 2010. ................................. 78 Figura 16: Representao grfica dos equivalentes percentuais das ocupaes do solo na bacia do Ribeiro do Lipa no ano de 1986 (esquerda) e 2010 (direita). ................ 79 Figura 17: Cerrado do centro de Zoonoses em primeiro plano e ao fundo o Parque Me Bonifcia cercado por prdios............................................................................... 82 Figura 18: Zonas de Interesse Ambiental na bacia do Ribeiro do Lipa. ................... 84 Figura 19: rea de solo exposto no Bairro Alvorada, Cuiab-MT. ............................ 86 Figura 20: Localizao dos assentamentos informais ainda no regularizados pela prefeitura de Cuiab/MT. ............................................................................................... 88 Figura 21: Via pblica no bairro Alvorada, caracterizada pela ausncia de padres geomtricos mnimos. .................................................................................................... 90 Figura 22: Via sem pavimentao no bairro Despraiado ............................................. 98 Figura 23: Disposio de resduos slidos no Aterro Sanitrio de Cuiab............... 101

II

Figura 24: Situao das vias na parte urbana da bacia do Ribeiro do Lipa. ........... 111 Figura 25: Distribuio espacial dos nveis de qualidade ambiental urbana (IQAU) nos bairros da bacia do Ribeiro do Lipa.................................................................... 115

III

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Valores de C por tipo de ocupao para reas urbanas. .............................. 47 Tabela 2: Esquema geral do sistema de indicadores propostos e os seus respectivos pesos. ............................................................................................................................... 53 Tabela 3: Descritor do ndice de Qualidade Ambiental Urbana ................................. 54 Tabela 4: Formas de disposio/afastamento dos esgotos e o respectivo peso de cada uma na avaliao da qualidade ambiental..................................................................... 55 Tabela 5: Caractersticas do meio fsico da bacia do Ribeiro do Lipa*.................... 60 Tabela 6: Mdias mensais das variveis climatolgicas observadas em Cuiab nos anos de 1970 a 2002. ...................................................................................................... 71 Tabela 7: Caractersticas dos bairros situados total ou parcialmente na SBRL. ........ 75 Tabela 8: rea e equivalente das ocupaes e usos do solo identificados na bacia do Ribeiro do Lipa ............................................................................................................. 79 Tabela 9: Percentual de domiclios atendidos pelo servio de limpeza pblica. .... 104 Tabela 10: Abastecimento de gua nos bairros da bacia do Ribeiro do Lipa ......... 106 Tabela 11: Icv nos bairros da bacia do Ribeiro do Lipa ........................................... 107 Tabela 12: ndices de vias pavimentadas nos bairros ................................................ 110 Tabela 13: ndice de esgotamento sanitrio e seu valor na composio do ndice de qualidade urbana........................................................................................................... 112 Tabela 14: ndices parciais e o ndice final de QAU e seus pesos, para os bairros da bacia do Lipa. ............................................................................................................... 114

IV

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

APP rea de preservao permanente CGU Controladoria Geral da Unio CPA Centro poltico administrativo CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais DBO Demanda bioqumica de oxignio DQO Demanda qumica de oxignio ETE Estao de tratamento de esgotos GPS - Global Positioning System Iabs ndice de abastecimento de gua Icv ndice de cobertura vegetal Ies ndice de esgotamento sanitrio Ilpu ndice de limpeza pblica urbana INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Ipav ndice de pavimentao das vias IPDU Instituto de pesquisa e desenvolvimento urbano IQAU ndice de qualidade ambiental urbana MNT Modelo numrico de terreno OMS Organizao Mundial da Sade PAC Programa de Acelerao do Crescimento PEAD Polietileno de Alta densidade SANECAP Companhia de Saneamento da Capital BRL Bacia do Ribeiro do Lipa SIG Sistemas de Informao Geogrfica TM Tematic Mapper ZIA Zona de Interesse Ambiental

V

RESUMO DIAS, F. A. Caracterizao e anlise da qualidade ambiental urbana da bacia hidrogrfica do Ribeiro do Lipa, Cuiab/MT. Cuiab, 2011. 138f. Dissertao (Mestrado em Engenharia de Edificaes e Ambiental) Universidade Federal de Mato Grosso. Nos ltimos 50 anos a populao brasileira apresentou crescimento muito acelerado, e nesse perodo o Brasil deixou de ser um pas de populao rural para ser um pas majoritariamente urbano. O crescimento das cidades na maioria das vezes ocorreu sem o planejamento necessrio, o que causou graves problemas ambientais, penalizando no apenas o ambiente urbano, mas principalmente as populaes das cidades. Diante dessa realidade, os estudos de qualidade do ambiente urbano aparecem como uma importante e relativamente nova ferramenta no auxlio dos planejadores e gestores na soluo dos problemas existentes nas cidades. O objetivo deste trabalho foi realizar a caracterizao fsica, ambiental e analisar a qualidade ambiental da rea urbana da bacia do Ribeiro do Lipa localizada na cidade de Cuiab/MT usando como referncia os modelos de avaliao do ambiente urbano com base em indicadores ambientais e de infraestrutura sanitria e viria, aos quais foram atribudos pesos de acordo com a sua relevncia para o estado de qualidade meio urbano. A caracterizao fsica da bacia foi realizada atravs imagens em MNT trabalhadas no programa Spring 5.1.6 disponibilizado pelo INPE. O trabalho foi desenvolvido na bacia do Ribeiro do Lipa, que uma das mais preservadas dentre aquelas inseridas no permetro urbano de Cuiab e passa nos ltimos anos por severo processo de urbanizao. Os resultados mostram que a bacia do Ribeiro do Lipa apresenta conformao fsica que indica baixa tendncia a formao de enchentes. O ndice de Qualidade Ambiental Urbana obtido apontou que a bacia possui nvel de qualidade bom, mesmo num cenrio onde a sua rea urbanizada apresentou um crescimento superior a 100% nos ltimos 24 anos, com srias deficincias em infraestrutura e planejamento.

Palavras-chave: infraestrutura, saneamento, usos do solo.

VI

ABSTRACT DIAS, F. A. Characterization and analysis of urban environmental quality in the basin of the Ribeiro do Lipa, Cuiab/MT. Cuiab, 2011. 138f. Dissertao (Mestrado em Engenharia de Edificaes e Ambiental) Universidade Federal de Mato Grosso. Over the past 50 years the Brazilian population grew very fast, during which time Brazil ceased to be a country of rural population to be a largely urban country. The growth of cities most often occurred without the planning required, which caused serious environmental problems, penalizing not only the urban environment, but as the population of cities. Given this reality, studies of urban environmental quality appear as an important and relatively new tool in helping the planners and managers of cities to solve the existing problems. The purpose of this dissertation was to analyze the environmental quality of urban basin of the Ribeiro do Lipa, Cuiab/MT using as reference models for evaluating the urban environment based on the environmental, social, housing and health infrastructure and roads, which were assigned weights according to their relevance to the state of quality urban environment. Physical characterization of the basin was performed using MNT images in Spring 5.1.6 software, released by INPE. The study was conducted in the basin of the Ribeiro do Lipa, which is one of the best preserved among those entered in the urban area of Cuiab and is severe in recent years by urbanization and the neighborhoods it located the units of study taken. The results show that the basin of the Ribeiro do Lipa has physical features that indicate low tendency to form floods. The Urban Environmental Quality Index obtained showed that the basin has a quality level of "good", even in a scenario where its urbanized area grew over 100% in the last 24 years, with serious deficiencies in infrastructure and planning.

Keywords: infrastructure, sanitation, land use.

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1. INTRODUO 1.1. PROBLEMTICA Em 1940 o Brasil tinha uma populao de 40 milhes de habitantes, sendo que menos de 33% desse total 13 milhes de pessoas - viviam nas cidades. Em 1970 a populao total do pas j passava os 94 milhes de habitantes, com um contingente urbano de 53 milhes de pessoas, perfazendo mais de 55% do total (COSTA, 1973). O ritmo de crescimento da populao nas cidades apresentou uma desacelerao a partir dos anos 80, mas mesmo assim fez com que a sua participao chegasse a 84% do total do pas no ano 2010 (IBGE, 2010). O crescimento populacional fez com que aumentasse a presso da sociedade por novas reas para moradia, em especial aquelas nas proximidades dos centros urbanos. Isso levou a uma super explorao do ambiente urbano, resultando em danos ao ambiente, como a retirada indiscriminada da cobertura vegetal, poluio da gua e do solo por esgotos domsticos e resduos slidos, processos erosivos, etc. Em estudos realizados anteriormente, Mota (2003), Nucci (2008) e Kran e Ferreira (2006) apontam que o crescimento da populao urbana, especialmente quando esse processo se d sem planejamento, est diretamente relacionado com a degradao do ambiente urbano e queda da qualidade de vida da populao. medida que a cidade cresce e a demanda por espaos aumenta, as populaes mais pobres, que esto margem do desenvolvimento econmico, tm que lutar mais para conseguir um lugar nas reas urbanas. Isso faz com que muitas comunidades se formem por meio de invases de lotes em reas perifricas, proibidas ou inadequadas para ocupao, sem o devido planejamento dos espaos e da infraestrutura urbana. Por conta disso, o ambiente urbano e em especial os recursos naturais das cidades foram muito impactados. Diante dessa realidade fica claro que a demanda por espaos tem prioridade, especialmente nas grandes cidades, ficando para segundo plano o planejamento que vise um ambiente sustentvel e de qualidade para as populaes. Esse cenrio resulta no desrespeito a dinmica do subsistema natural, em favor do subsistema socioeconmico (MATTOS, 2005). De acordo com Wiens e Silva (2006) conciliar a

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dinmica desses dois subsistemas de modo a torn-los compatveis um dos caminhos para um ambiente equilibrado e com qualidade. Esse cenrio de crescimento acelerado das cidades tambm se deu, embora com menor intensidade, no estado de Mato Grosso. Devido predominncia de cidades de pequeno e mdio porte, que em sua maioria surgiram aps os anos 70, dotadas de planejamento urbanstico, os problemas com a urbanizao so mais freqentes em cidades maiores, sendo a capital Cuiab e sua vizinha Vrzea Grande, onde eles esto mais presentes. Com a rpida expanso populacional da cidade de Cuiab, a demanda por moradias tambm cresceu de forma acelerada, fugindo ao controle do municpio. Isso se deu a uma taxa maior que a capacidade do municpio de prover essas novas moradias de infra-estrutura, equipamentos urbansticos e servios pblicos. Conseqncia disso foi a queda de qualidade dos espaos urbanos, afetada pelo adensamento populacional inadequado e ausncia de reas verdes e espaos pblicos destinados ao uso comum da populao. Os cursos dgua existentes na cidade de Cuiab tambm sofreram srios impactos. Vrios mananciais localizados na rea urbana da capital hoje se encontram poludos, como resultado da ausncia infraestrutura e planejamento do uso do solo, pelo despejo de esgotos domsticos diretamente em seu leito, sem tratamento. Somam se a esse fato a derrubada das matas ciliares e ocupao de reas de preservao permanente (APP), aterramento de nascentes, impermeabilizao do solo, e retificao e canalizao de cursos dgua so algumas das agresses mais comuns ao ambiente. Essas situaes de agresso ao ambiente urbano penalizam a prpria populao, no diferente do que ocorre na bacia urbana do Ribeiro do Lipa. Os resultados obtidos na comparao do uso e ocupao solo nos anos de 1986 e 2010 apontam um crescimento superior a 100% da rea urbanizada da bacia e dados da prpria prefeitura mostram srias deficincias na infraestrutura de muitas dessas novas reas ocupadas. Essa informao somada tendncia de expanso da urbanizao apresentada na bacia revela que esse um tema que merece ateno.

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1.2. JUSTIFICATIVA A falta de planejamento e controle na ocupao dos espaos urbanos, tem resultado no comprometimento do ambiente e da qualidade de vida da populao. Diante dessas situaes de descontrole do processo de urbanizao faz necessria a regulao do uso do espao nas cidades atravs de leis que sejam desenvolvidas, negociadas e aprovadas pelos poderes constitudos e por tcnicos planejadores, que visam estabelecer diretrizes e parmetros para o uso e ocupao do solo urbano, entre outros aspectos (LIMA FILHO e HELLER, 2004). Tambm deve ser observada para a mudana desse cenrio, a elaborao de uma estratgia para o fortalecimento da gesto ambiental ao nvel municipal, com a criao de programas de proteo ambiental e de polticas ambientais (RUFINO, 2002). De acordo com Souza et al. (2005), as sociedades organizadas atuais tem dado mais ateno a preservao da natureza, pois com o aumento do nvel tecnolgico, cientfico e econmico houve um aumento proporcional da explorao dos recursos naturais. Ferreira (1983) afimra que para que o planejamento e a sua execuo tenham sucesso necessrio estudo e conhecimento do objeto, bem como objetivos e metas bem definidos. No caso do planejamento urbano e/ou ambiental, para que atinja melhores resultados e que a sua execuo tenha sucesso fundamental o conhecimento das caractersticas locais bem como de sua realidade socioambiental do objeto de estudo. Diante da importncia do planejamento e da gesto dos ambientes urbanos, este trabalho se posiciona como um subsdio a tomadas de decies, atravs da caracterizao de uma bacia hidrogrfica muito importante no atual cenrio de crescimento da cidade de Cuiab. No caso especial da rea de estudo, a bacia do Ribeiro do Lipa, trata-se de uma rea de expanso urbana, de localizao privilegiada, sendo por isso alvo de especulao e sujeita a invases. O estudo da evoluo espacial do uso do solo, como o proposto no trabalho pode oferecer informaes vlidas na orientao de ocupaes futuras da bacia.

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A bacia do Ribeiro do Lipa tem passado por uma grande expanso de sua rea urbanizada e para um maior entendimento da situao socioambiental na regio o uso de indicadores se mostra uma alternativa interessante. A avaliao do ambiente urbano da bacia atravs de indicadores se justifica por ser capaz de refletir a situao do espao estudado, e permitir a identificao das causas que levam a queda qualidade ambiental, bem como apontar os aspectos que apresentam boa qualidade, podendo ser um importante instrumento na tomada de decises. sabido que a cidade de Cuiab possui um grande dficit na cobertura de redes de esgoto. Frente a essa realidade, a conservao da qualidade das guas do Ribeiro do Lipa e de suas caractersticas fsicas naturais so assuntos importantes, pois a bacia est situada a montante de muitas das captaes de gua do municpio de Cuiab, logo a manuteno de sua qualidade se mostra importante em relao sade pblica. Diante dos problemas existentes e da carncia de informaes sistematizadas acerca da bacia do Ribeiro do Lipa esse trabalho busca, atravs do levantamento de suas caractersticas, contribuir com os estudos das bacias urbanas de Cuiab. importante ressaltar que estudos de qualidade ambiental atravs de indicadores so ferramentas pouco utilizadas e relativamente nova na gesto dos espaos urbanos. Cuiab, em especial, dispe de poucos estudos nessa linha. 1.3. OBJETIVOS GERAIS O objetivo principal deste trabalho a caracterizao e anlise da qualidade ambiental da bacia do Ribeiro do Lipa, com uso de indicadores, a partir do estudo das suas caractersticas fsicas, da ocupao e do uso do solo. 1.4. OBJETIVOS ESPECFICOS So objetivos especficos deste trabalho: Caracterizar a bacia do Ribeiro do Lipa; Comparar o uso e ocupao do solo na bacia nos anos de 1986 e 2010, com o foco na rea urbanizada e na cobertura vegetal;

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Analisar as caractersticas ambientais, demogrficas, e infraestrutura (viria e sanitria) dos bairros, com o objetivo de tornar possvel a avaliao ambiental da bacia; Levantar os principais aspectos e problemas ambientais da rea de estudo; Desenvolver um sistema de indicadores ambientais que sejam facilmente aplicado e que possam refletir a real situao do ambiente urbano estudado.

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2. REVISO BIBLIOGRFICA 2.1. QUALIDADE AMBIENTAL URBANA Com grande parte da populao mundial habitando as cidades fica evidente a necessidade de se direcionarem esforos no sentido de criar ambientes urbanos de qualidade, capazes de responder as necessidades das pessoas de forma sustentvel. A crescente urbanizao da humanidade, segundo destaca Lombardo (1985), um assunto que provoca preocupao de todos os profissionais e segmentos ligados rea do meio ambiente, pois as cidades, especialmente as dos pases em desenvolvimento, apresentam um crescimento rpido e sem planejamento adequado, o que leva a uma deteriorao do espao urbano. De acordo com Machado1 (1997) apud Minaki e Amorim (2006), qualidade ambiental uma expresso comumente usada, mas de definio complicada. Est intimamente ligada qualidade de vida, pois vida um sistema que depende do meio ambiente, sendo que o meio ambiente influencia as vrias formas e atividades de vida. H uma interao e um equilbrio entre ambos que variam de escala em tempo e lugar. J Morato et al. (2006) relacionam a qualidade ambiental urbana a um ambiente sadio, que conte com instalaes sanitrias adequadas e tambm a existncia de cobertura vegetal. Lima e Amorim (2009) afirmam que a qualidade ambiental urbana pode ser considerada como um equilbrio entre elementos da paisagem atravs de um ordenamento do espao, conciliando principalmente os benefcios da vegetao com os diversos tipos de usos do solo atravs de um planejamento. Elas ainda acrescentam que a questo ambiental ganha cada vez mais importncia medida que as cidades crescem e se apropriam demasiadamente dos recursos naturais, pois se tornaram locais de grande concentrao de pessoas, tendo como conseqncia o aumento da presso sobre os sistemas naturais.

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MACHADO, L. M. C. P. Qualidade ambiental: indicadores quantitativos e perceptivos. In: Indicadores ambientais. Coordenao de N. B. MAIA, H. LESJAK. Sorocaba: s.n., 1997. p. 15-21 apud MINAKI, C.; AMORIM, M. C. C. T. Espaos urbanos e qualidade ambiental um enfoque da paisagem. Revista Formao n14 volume 1, 2007 p. 67-82

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Almeida; Pina e Resende (2009) explicam que a qualidade de vida da populao est diretamente associada s condies ambientais, acrescentando ainda que, quanto mais prximo do estado natural melhor ser a qualidade ambiental e a qualidade de vida. De acordo com Nucci (2008), a qualidade do ambiente parte essencial da qualidade de vida humana que abrange outras reas, tais como fatores sociais, culturais, econmicos, etc. Segundo Pina e Santos (2009), a qualidade ambiental urbana est ligada ao acesso dos moradores quantidade, qualidade e distribuio de espaos livres que possam permitir um saudvel contato com a natureza, propiciando tambm possibilidades de socializao e expresso cultural; portanto, uma combinao entre conservao da natureza, conservao da flora e da fauna, conservao do solo, funes climticas e as necessidades da populao em relao recreao e relaxamento em contato com a natureza. J para Luengo (1998), o conceito de qualidade ambiental urbana est diretamente ligado ao conceito de qualidade de vida urbana. Segundo ele, o conceito de qualidade ambiental est relacionado com as condies ideais do espao habitvel, em termos de conforto relacionados a aspectos ambientais, biolgicos, econmicos, produtivos, scio-cultural, tecnolgica e esttica em sua dimenso espacial. Ele conclui dizendo que a qualidade do ambiente urbano resultante da interao de todas essas variveis para a formao de um habitat saudvel, confortvel e capaz de satisfazer as necessidades bsicas para a sustentabilidade da vida humana individual e a interao social no meio urbano. Coelho (2006) segue linha semelhante, explanando que de maneira geral, o tema qualidade ambiental urbana envolve o estudo da complexidade das relaes fsico-biolgicas, de um lado, e a complexidade do espao urbano e sua estrutura poltico-social, de outro. Borja (1998) diz que para a avaliao da qualidade ambiental urbana so necessrios dois tipos de avaliao: uma objetiva e outra subjetiva. Na avaliao objetiva ela prope o uso de indicadores quantitativos e qualitativos que vo compor o ndice de qualidade. Para a avaliao subjetiva sugere que, haja um envolvimento da populao como sujeito e no como objeto do processo de investigao.

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Com relao aos conceitos de qualidade ambiental ficou clara a relao que a maioria dos autores estabelece entre qualidade ambiental e cobertura vegetal. Isso provavelmente reflexo do momento que a temtica da preservao ambiental vive no Brasil e no mundo. Monteiro2 (1987) apud Nucci (2008) explica que "executar um trabalho de espacializao da qualidade ambiental constitui um verdadeiro desafio, visto que no existe uma receita tcnica calcada numa concepo terico-metodolgica pronta". Com relao aos danos a qualidade ambiental Coelho (2006) explica que o senso comum construiu alguns pressupostos acerca do assunto. Acredita-se, por exemplo, que a degradao da qualidade ambiental esteja ligada a concentrao populacional em determinado espao fsico. Ela acrescenta que, seguindo essa lgica, a degradao populacional cresce medida que a concentrao populacional aumenta. Os danos ao ambiente tm como vtima indireta a populao que, seguindo a lgica do senso comum, responsabilizada e transformada em culpada. Dos vrios conceitos sugeridos acima, um ponto comum foi ateno dada preservao dos aspectos naturais: fauna, flora, recursos hdricos, solos, etc., entretanto, especialmente dentro do cenrio urbano, no se deve ignorar as necessidades da sociedade e as transformaes que elas levam ao ambiente. O desafio de conciliar desenvolvimento com preservao do ambiente apoiado pela Constituio Federal do Brasil, em seu artigo 255, afirmando que todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida. No Brasil, ainda existem poucos estudos que se propem a espacializar de forma integrada os componentes do ambiente com o objetivo de diagnosticar e propor melhorias. No Brasil, praticamente no se encontra noticias a respeito de trabalhos de avaliao da qualidade ambiental de cidades (RUFINO, 2002). Existem algumas informaes de trabalhos realizados, principalmente por rgos

responsveis pela questo ambiental com mbito estadual, como a CETESB, no Estado de So Paulo, que trabalha em alguns municpios, com indicadores/ndices2

MONTEIRO, C.A. de F. - Qualidade ambiental - Recncavo e Regies limtrofes. Salvador, Centro de Estatsticas e Informaes, 1987,48p e 3 cartas apud NUCCI, J. C. Qualidade ambiental e adensamento urbano: um estudo de ecologia e planejamento da paisagem aplicado ao distrito de Santa Ceclia (MSP). 2 ed. - Curitiba: O Autor, 2008. 150 p.

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ambientais de qualidade da gua e do ar. Porm, no se encontrou informaes a respeito da agregao dessas informaes para se construir um ndice mais geral, para se ter um panorama da situao ambiental das reas de estudo. O que pode ser percebido com todas essas observaes que a questo da qualidade ambiental urbana no est associada a indicadores precisos e definitivos, e sim surge como resposta a dinmica das presses e do sistema socioeconmico e cultural sobre o ambiente natural. 2.1.1. Dificuldades do estudo da qualidade ambiental Assim como a definio de qualidade ambiental pode no parecer to exata, os estudos nessa rea, bem como as metodologias empregadas divergem muito. Isso faz com que haja uma grande diversidade e enfoques diferenciados no tratamento desse assunto. Segundo sustentam Braga et al. (2004), estudos sobre qualidade ambiental e desenvolvimento encontram a dificuldade freqente de lidar com a incerteza e a carncia de informaes sistematizadas. O estudo deve se basear em indicadores, e isso traz um desafio que a escolha daqueles capazes de produzir um retrato do ambiente de maneira simples e confivel, apesar da complexidade da anlise. De acordo com Lima e Amorim (2009), para analisar a qualidade ambiental urbana necessrio considerar vrios componentes da paisagem, tanto relacionados aos aspectos fsicos como os sociais. Por isso, a escolha da metodologia e a sistematizao de atributos ambientais so importantes, pois dependendo dos parmetros utilizados, os resultados podem contribuir para o ordenamento e planejamento do espao. Os indicadores ambientais possuem uma grande importncia na avaliao da qualidade ambiental, pois podem ser considerados parmetros, tanto quantitativos, como qualitativos, para evidenciar as modificaes no meio ambiente. Mas importante lembrar que os resultados dependero da escolha adequada desses indicadores dentro de uma metodologia de anlise que considere as variveis que compem o ambiente urbano e a relao entre si (LIMA e AMORIM, 2009) Segundo Rufino (2002), os indicadores ambientais refletem o estado do meio ambiente e relacionam as presses impostas pelas diversas atividades econmicas

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sobre a qualidade dos componentes do meio ambiente e as respostas elaboradas pela sociedade para combater tais presses. Ao analisar diversas propostas de ndices e indicadores de sustentabilidade, Braga et al. (2004) apontam os seguintes problemas comuns aos indicadores estabelecidos: ausncia ou fragilidade da concepo conceitual; fragilidade dos critrios de escolha das variveis representativas; falta de critrios claros de integrao dos dados; e baixa relevncia dos dados utilizados. Devido falta de preciso em relao aos conceitos de sustentabilidade e qualidade ambiental, o processo de escolha dos dados e variveis a serem utilizadas na mensurao dos referidos fenmenos por muitas vezes obscuro, assim como so as relaes de causalidade que do suporte aos sistemas de indicadores construdos (BRAGA et al., 2004). O estudo da qualidade ambiental, segundo explicam Braga et al. (2004), requer a integrao de um grande nmero de informaes de diferentes disciplinas e reas de conhecimento. Comunicar tal riqueza de informaes de forma coerente se torna um grande desafio especialmente pela produo de sistema de indicadores enxutos ou ndices sintticos, capazes de comunicar realidades complexas de forma resumida. A respeito das finalidades da adoo de um sistema de indicadores, Will e Briggs3 (1995) apud Borja (1998) acreditam que sejam um meio de prover as polticas com informaes, de demonstrar seu desempenho ao longo do tempo e de realizar previses, podendo ser utilizados para a promoo de polticas especficas e monitorao de variaes espaciais e temporais das aes pblicas. Para Lima e Amorim (2009), a padronizao dos parmetros aceitos uma dificuldade freqente na avaliao da qualidade ambiental em cidades e reas urbanizadas, mesmo porque a idia do significado de qualidade varia em funo de posies ideolgicas, culturais e polticas, e os padres do que pode ser considerado

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WILL, J.; BRIGGS, D. Developing Indicators for Environment and Health. Word Health Statistics Quarterly. Rapport. Trimentriel de Statistiques Sanitaires Mondiales. Genve, v. 48, n 2, p 155 163, 1995. apud BORJA, Patrcia C. Metodologia para a Avaliao da Qualidade Ambiental Urbana em Nvel local. In: Anais do CONGRESSO INTERAMERICANO DE ENGENHARIA SANITRIA E AMBIENTAL, XXVI, Lima/Peru. p. 1-20, 1998.

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como qualidade ambiental podem mudar de pas para pas, de regio para regio de cidade para cidade e ainda de observador para observador. Diante do grande nmero de abordagens que o tema da avaliao da qualidade ambiental pode comportar, e da inexistncia de um padro metodolgico que se aplique a todas as situaes, natural que se conclua que, para esse tipo estudo, o mais indicado a busca por um mtodo que melhor se encaixe as particularidades do objeto estudado. Isso implica dizer que no s os mtodos utilizados, mas tambm os parmetros, atributos e demais fontes de dados de suporte a deciso no estudo ambiental podem variar de, extremamente importante em um estudo, para irrelevante em outro, ou vice versa. luz das teorias acerca da ecologia poltica Coelho (2006) aponta que estudiosos da questo ambiental urbana, comumente, desconsideram suas vinculaes com a estrutura de classes sociais. De acordo com ela, a incorporao da estrutura de classes a anlise ambiental possibilitar perceber quem se apropria dos benefcios das atividades econmicas cujos custos ambientais so divididos com toda sociedade. O uso de indicadores de classes sociais, entretanto pode esbarrar na carncia de procedimentos metodolgicos e na fragilidade das observaes subjetivas. 2.1.2. Indicadores e ndices ambientais Segundo Merico (1997), a palavra indicador proveniente do Latim indicare, cujo significado destacar, mostrar, anunciar, apontar, tornar pblico, estimar. Assim, os indicadores nos transmitem informaes que nos esclarece uma srie de fenmenos que no so imediatamente observveis. De acordo com OECD (1993), um indicador pode ser definido como um parmetro ou um valor derivado de parmetros que fornece informaes sobre fenmenos. O indicador tem significncia que vai alm das propriedades diretamente associadas com os valores do parmetro. Os indicadores possuem um significado sinttico e so desenvolvidos para um propsito especifico. Os indicadores podem reduzir o nmero de medidas e parmetros que, normalmente, seriam necessrios para a representao exata de uma situao. Como conseqncia, o tamanho do sistema de indicadores e a quantidade de detalhes precisa ser limitada pois um nmero muito grande de indicadores podem desordenar

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o panorama que se deseja observar. Por outro lado, um nmero pequeno ou apenas um indicador pode ser insuficiente para fornecer toda informao necessria (OECD, 1993). A necessidade de se construir um Sistema de Indicadores Ambientais, de acordo com a OECD (1993), tem duas justificativas: necessidade de melhores informaes sobre o estado do meio ambiente; reduo da informao estatstica a uns poucos parmetros de fcil interpretao. Segundo explicam Alfaro e Oyague4 (1997) apud Rufino (2002), os indicadores ambientais refletem o estado do meio ambiente e relacionam as presses impostas pelas diversas atividades econmicas sobre a qualidade dos componentes do meio ambiente e as respostas elaboradas pela sociedade para combater tais presses. Merico (1997) salienta que os indicadores ambientais so usados para se ter um retrato da qualidade do ambiente e recursos naturais, alm de avaliar as condies e as tendncias ambientais rumo ao desenvolvimento sustentvel. Para tanto, os indicadores ambientais devero possuir capacidade de sntese, estando ento, baseados em informaes confiveis possveis de serem comparadas e acessveis a populao. Braga et al. (2004) acrescentam que os indicadores devem apresentar aderncia local, que corresponde capacidade captar o fenmeno produzido. No campo da gesto ambiental inegvel a vantagem apresentada ao se trabalhar com informaes que retratem a situao. Porm, de acordo com Rufino (2002) o grande nmero de informaes ambientais hoje existentes e a necessidade de se dispor de dados confiveis como apoio para tomada de decises, torna imprescindvel a construo de um meio para o manejo e difuso dessas informaes. Um fator que deve ser observado que a anlise da qualidade pode muitas vezes ser dependente do uso de indicadores subjetivos na obteno de ndices que melhor representem o estado do objeto estudado. Contudo, a adoo de indicadores subjetivos esbarra na dificuldade de torn-los comparveis entre diferentes estudos,

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ALFARO, F. M. e OYAGUE, P. R. Sistema Nacional de Informacin Ambiental. Lima, 1997 apud RUFINO, R. C. Avaliao da qualidade ambiental do municpio de Tubaro/SC atravs do uso de indicadores ambientais. 2002. 123f. Dissertao (Mestrado em Engenharia de Produo). Universidade Federal da Santa Catarina (UFSC). 2002.

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posto que est sujeito a observaes do pesquisador. Para tanto, a construo de parmetros e mtodos para a utilizao de indicadores subjetivos, apesar de poderem estar sujeitos a questionamentos de ordem pessoal, so alternativas para o fortalecimento desse tipo de estudo, ao passo que permitiriam enriquecer as anlises com a perspectiva do pesquisador. Os indicadores e os ndices ambientais podem ser vistos como o topo de uma pirmide, como na figura 1, na qual a base representada pela informao original no tratada e o meio como os dados analisados (PORTUGAL, 2000).

Figura 1: Pirmide de informao. Fonte: Portugal (2000) Um ndice ambiental uma classificao numrica ou descritiva de um grande volume de informao ambiental, cujo objetivo realizar a simplificao desses dados facilitando a tomada de decises relativas questo ambiental. Um ndice ambiental resulta de uma manipulao matemtica de um grupo de valores de indicadores que foram definidos em relao a um determinado padro. Os ndices refletem de maneira sinttica a situao ambiental do meio ou seu grau de sustentabilidade (RUFINO, 2002). De acordo com Rufino (2002), para se fazer uma avaliao ambiental, os ndices ambientais podem ser utilizados para: sintetizar os dados ambientais existentes; repassar as informaes sobre a qualidade do meio ambiente afetado; avaliar a vulnerabilidade ou a suscetibilidade de uma categoria ou elemento ambiental; ser um referencial para expressar os impactos das diferenas do ndice avaliado, entre o valor do ndice sem o projeto; auditar os impactos de projeto;

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avaliar os impactos integrados, expressados como variaes de ndices de qualidade ambiental. Ainda segundo Rufino (2002), para os ndices so exigidas as seguintes caractersticas: Facilidade de uso; Deve representar as informaes obtidas pelos indicadores; No devem ser ambguos; Deve revelar mudanas nos indicadores chaves ou de mais valor de ponderao; Deve permitir a determinao de tendncias de mudanas a nvel espacial e temporal. 2.2. QUALIDADE DE VIDA URBANA Segundo Kran e Ferreira (2006), a qualidade de vida, a qualidade ambiental urbana e a moradia so assuntos de grande importncia, que tem ganhado cada vez maior espao nas discusses acadmicas, polticas e sociais, principalmente se relacionadas aos conceitos de desenvolvimento sustentvel e de sustentabilidade urbana. Embora existam vrios pontos de vista e definies sobre qualidade de vida, de maneira geral todas buscam exprimir as condies de satisfao das necessidades bsicas humanas e de bem-estar, seja em nvel individual ou coletivo De acordo com Santos e Martins (2002), pode-se dividir a anlise relativa a qualidade de vida em trs mbitos: Um primeiro relacionado com a distino entre os aspectos materiais e imateriais da qualidade de vida. Os aspectos materiais dizem essencialmente respeito s necessidades humanas bsicas, como, por exemplo, as condies de habitao, de abastecimento de gua, do sistema de sade, ou seja aspectos de natureza essencialmente fsica e de infraestrutura. Historicamente e para sociedades menos

desenvolvidas, estas questes materiais eram decisivas ou pelo menos tinham uma importncia muito grande. Hoje em dia, as questes

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imateriais ligadas ao ambiente e ao bem-estar, tambm, se tornaram centrais. Uma segunda esfera faz a distino entre os aspectos individuais, como a condio econmica, pessoal e familiar do indivduo, e as componentes coletivas mais diretamente relacionadas com os servios bsicos e os servios pblicos. Numa terceira esfera de anlise, a distino entre aspectos objetivo e subjetivo da qualidade de vida. Os subjetivos remetem a percepo que os indivduos tm da qualidade de vida e que muito diferente de pessoa para pessoa, e de estrato social para estrato social. Para Kran e Ferreira (2006), dentro da discusso sobre a cidade e sua relao com a natureza, pode estar a discusso sobre a qualidade de vida das pessoas que nela habitam e tambm sobre o ambiente no qual elas habitam. Assim, a qualidade de vida urbana vem sendo discutida sob vrios enfoques: ambiental, econmico, sciocultural, educacional, dentre outros, tendo todos eles uma considervel participao em seu conceito. Leff5 (2000) apud Pina; Almeida; Pina (2010), em uma abordagem mais voltada ao ambiente, por sua vez, afirma que a qualidade de vida est relacionada com a qualidade do ambiente e que dele depende para se chegar a um desenvolvimento equilibrado e sustentvel, por meio da conservao do potencial produtivo dos ecossistemas, da valorizao e preservao dos recursos naturais e da sustentabilidade ecolgica do habitat. J Comune e Campino6 (1980) apud Pizzol (2006), defendem que a qualidade de vida relaciona-se, alm da quantidade de necessidades atendidas, com a qualidade do atendimento. Consideram que as pessoas devem ser atendidas com infraestrutura, servios de sade, recreao e lazer, estabelecimentos comerciais e bancrios e reas

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LEFF, E. Saber Ambiental. 2. ed. Petrpolis: Editora Vozes, 2000, p.344 apud PINA, S. A.;ALMEIDA, S.F.; PINA, J. H. A. Uma anlise da qualidade de vida na cidade de Joo Pessoa/PB frente questo ambiental mundial. Revista: Caminhos de Geografia Uberlndia v. 11, n. 33 maro/2010 p.168 - 178 6 COMUNE, A.; CAMPINO, A. C. Indicadores de Qualidade de Vida Urbana. So Paulo: USPFipe, 1980, n 8. apud PIZZOL, K. M. S. A. A dinmica urbana: uma leitura da cidade e da qualidade de vida no urbano. Revista: Caminhos de Geografia. 1 (17) - 7, 2006. Disponvel em: . Acesso em: 20 de Outubro de 2008.

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verdes. Os autores complementam dizendo que o bem-estar dos indivduos estaria relacionado qualidade do meio fsico e social. Apesar de parecerem diferentes, as abordagens de qualidade de vida propostas por Leff (2000) e Comune e Campino (1980) se aproximam uma da outra, pois a qualidade ambiental, essencial para a qualidade de vida defendida pelo primeiro influenciada por fatores como infraestrutura, e reas verdes, que so considerados determinantes pelo segundo. De acordo com Vargas7 (2001) apud Pizzol (2006), os conceitos de qualidade de vida urbana e qualidade ambiental urbana se misturam, indo alm dos conceitos de salubridade, sade, segurana, bem como das caractersticas morfolgicas do sitio ou desenho urbano. Incorpora, tambm, os conceitos de funcionamento da cidade fazendo referncia ao desempenho das diversas atividades urbanas e as possibilidades de atendimento aos anseios dos indivduos que a procuram. Kran e Ferreira (2006) corroboram com essa idia, explicando que no campo conceitual, a mescla entre os dois conceitos (qualidade de vida e qualidade ambiental) de tal ordem, que muitas vezes torna-se difcil estabelecer se a qualidade de vida um dos aspectos da qualidade ambiental, ou se a qualidade ambiental um componente do conceito de qualidade de vida. Na prtica, a abrangncia desses conceitos fica mais clara, ao serem estabelecidos e aplicados os mtodos para a sua mensurao, que acabam, assim, contribuindo para a formao do prprio conceito. Mattos (2005) explica que a qualidade de vida, apesar de seu carter subjetivo, pode ser avaliada atravs de indicadores quantitativos e qualitativos, os quais expressam aspectos objetivos das condies de vida dos indivduos e da sociedade (indicadores sociais e econmicos) e aspectos subjetivos de como as pessoas consideram e percebem essas condies (indicadores perceptivos). Com relao ao conceito acima deve se observar que a avaliao da qualidade de vida por meio de aspectos subjetivos pode apontar para resultados diferentes se executada em diferentes grupos sociais, com culturas distintas, pois podem haver vises diferentes sobre o que mais relevante na determinao da qualidade de vida.

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VARGAS, H. C.; RIBEIRO, H. (Org.). Novos Instrumentos de Gesto Ambiental Urbana. So Paulo: EDUSP, 2000 apud PIZZOL (op cit).

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Forster (1983)8 apud Morato (2004) utilizou imagens do satlite americano LANDSAT para avaliar a qualidade residencial da regio metropolitana de Sidney, na Austrlia. Segundo o autor, a porcentagem de rea de grama e rvores nas reas urbanas pode normalmente ser associada com a qualidade ambiental, indicando espaos abertos e qualidade esttica. Veloso et al. (2002) mostraram que no municpio de Natal/RN, em entrevista com a populao, prevaleceu a associao do termo qualidade de vida com aspectos subjetivos, como viver bem, ter bem-estar, paz e tranqilidade, ficando em segundo plano aspectos mais objetivos, como sade e educao. Aspectos ligados ao ambiente foram pouco associados qualidade de vida. Um ponto importante para se notar a respeito das metodologias utilizadas para avaliar a qualidade de vida urbana, que algumas podem dar mais valor aos dados sociais, deixando para segundo plano os fatores ambientais. Outras podem fazer o contrrio, privilegiando os dados ambientais, em detrimento dos dados socioeconmicos. Esse fato tem estreita relao com a formao e pontos de vista pessoais do pesquisador. 2.3. PROBLEMAS AMBIENTAIS DA URBANIZAO A cidade um lugar onde as pessoas podem ter acesso s diversas vantagens que a sociedade moderna oferece, tais como: servios, produtos, segurana, educao, entretenimento, e infraestrutura, alm de oportunidades de trabalho. Isso tudo faz das cidades plos de atrao e concentrao de pessoas, que ao se moverem para elas aumentam a demanda por espaos. Quando o processo de crescimento ocorre de maneira inadequada, sem o acompanhamento e planejamento necessrios, este fica sujeito a problemas que podem vir a comprometer a qualidade de vida e todos os benefcios que a cidade pode oferecer a seus habitantes, alm de causar impactos negativos ao ambiente. A urbanizao traz consigo mudanas nos cenrios que so necessrias e at certo ponto inevitveis para proporcionar qualidade de vida s pessoas. Para que8

FORSTER, B. Some Urban Measurements from Landsat Data. Photogrammetric Engineering and Remote Sensing. v.49, n.12, p.1693-1707. 1983 apud MORATO, Rbia Gomes et al. Mapeamento da qualidade de vida urbana no municpio de Osasco/SP. In: iii encontro nacional da associao nacional de ps graduao e pesquisa em ambiente e sociedade. Brasilia-DF 2006.

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essas interferncias no ambiente ocorram com o mnimo de prejuzo ao ambiente e aos recursos naturais o planejamento do processo de urbanizao torna-se essencial. Entretanto, mesmo as cidades dotadas de planejamento na sua formao e gesto no conseguem eliminar todos os impactos negativos referentes ao processo de urbanizao. Grandes cidades do mundo todo enfrentam problemas em reas crticas, como gerenciamento de recursos e resduos e poluio do ar. Outro problema comum das cidades grandes o seu prprio tamanho, que torna os deslocamentos mais longos e onerosos, demandando um consumo maior de recursos. Grande esforo demandado, atualmente, no sentido minorar os problemas ambientais relacionados urbanizao, sendo que um dos maiores desafios fazer com que essas aglomeraes de pessoas sejam sustentveis ou se aproximem da sustentabilidade, com a conservao do potencial produtivo dos ecossistemas, a preveno de desastres naturais, e a valorizao e preservao da base de recursos naturais (LEFF, 2006). A populao mundial cresceu muito rapidamente nas ltimas dcadas, sendo esse crescimento facilmente percebido nas cidades, que passaram a concentrar grande parte de todo esse crescimento. De acordo com a Diviso de Estatstica das Naes Unidas, o Brasil seguiu essa tendncia mundial e em 2009 apresentava aproximadamente 86% de sua populao total habitando as cidades, contra 31,2% na dcada de 40. Esse aumento est diretamente relacionado ao xodo da populao rural, na maioria pobre, que foi para as cidades em busca de melhores condies de vida. Nesse processo acelerado de urbanizao, as cidades, especialmente aquelas de pases subdesenvolvidos, no se prepararam para receber esse contingente extra advindo principalmente do campo. O resultado disso uma ocupao desordenada do solo, sem a infra-estrutura necessria aos novos habitantes e tampouco proteo devida aos ecossistemas naturais remanescentes nas cidades (MOTA, 2003). Essa ocupao impensada pode gerar problemas sociais graves, como marginalizao, surgimento de favelas e habitaes de baixa qualidade, loteamentos clandestinos, aumento da criminalidade, desemprego, entre outros. Nesse cenrio, o conhecimento das dinmicas dos processos naturais essencial para mitigar os impactos ambientais decorrentes do processo de

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urbanizao. Este tipo de preocupao, especialmente em pases subdesenvolvidos, h muito tempo no era levada em considerao, criando situaes em que so necessrias aes de recuperao e mitigao dos problemas ambientais e de sade pblica j instalados, conseqentes da falta de planejamento urbano feito de modo sustentvel, ou seja, considerando as variveis do ambiente natural (MOTA, 2003). A seguir, so discutidos os impactos negativos da urbanizao sobre os recursos hdricos, solo e o ar, mostrando as suas principais causas e conseqncias. 2.3.1. Impactos nos recursos hdricos A gua um recurso natural essencial a vida e fundamental nas atividades humanas. Entretanto, a utilizao cada vez maior dos recursos hdricos, por conta do aumento da demanda para atividades como agricultura e indstria, tem sido alvo de conflitos e tem levado inquietao aos governos e especialistas. Aspectos relacionados no apenas a quantidade necessria ao suprimento de suas necessidades, mas tambm relacionadas qualidade so pontos crticos no gerenciamento dos recursos hdricos, visto que, de acordo com Mota (2008), muitos dos usos que o homem faz da gua resultam na produo de resduos, os quais so novamente incorporados aos recursos hdricos, causando a sua poluio. O crescimento desordenado das cidades penaliza seriamente o meio ambiente, em especial os recursos hdricos. Isso ocorre devido a uma srie de fatores como o aterramento de nascentes, ocupao de reas de proteo de mananciais, e disposio de esgotos domsticos e industriais sem tratamento algum. Alm disso, de acordo com Tucci (2002), o processo de urbanizao pode provocar alteraes no ciclo hidrolgico de uma bacia, especialmente sobre os seguintes aspectos: Aumento do volume e reduo do tempo de escoamento superficial aps as chuvas (aumento do runoff), antecipando o pico das cheias; Diminuio da infiltrao da gua, devido impermeabilizao, remoo da cobertura vegetal e compactao do solo associado ao consumo de gua superficial e subterrnea, para abastecimento pblico e demais fins pode levar a reduo do lenol fretico, podendo chegar muitas vezes ao seu esgotamento;

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Aumento da eroso do solo e conseqentemente assoreamento dos cursos d gua. Alm de danos ao ciclo hidrolgico e alterao nos padres de disponibilidade hdrica de uma bacia, a urbanizao tambm representa riscos a qualidade das guas, atravs da poluio por esgotos domsticos, industriais e demais atividades desenvolvidas nas cidades. Segundo Braga et al. (2005), os efeitos resultantes da introduo de poluentes no meio aqutico dependem da natureza do poluente e do caminho que este percorre at o corpo receptor, alm do uso que se faz do corpo dgua. Ainda de acordo com ele os poluentes podem atingir os corpos dgua de forma pontual (como o que ocorre no despejo de esgotos domsticos e industriais), e difusa (como a poluio proveniente de campos agrcolas e drenagem urbana). Os esgotos domsticos, que so um dos maiores poluidores dos mananciais superficiais das cidades brasileiras, so provenientes de instalaes sanitrias e demais atividades desenvolvidas nas habitaes, prdios comerciais, prdios pblicos etc., caracterizando se pela grande quantidade de matria orgnica que contm (MOTA, 2003). A ausncia de rede coletora e sistemas de tratamento para o efluente gerado pode resultar no seu lanamento nos cursos dgua causando depleo nos nveis de oxignio dissolvido, eutrofizao, danos a vida aqutica, odor e aparncia desagradvel e ainda impe restries ao uso da gua, trazendo prejuzo a sade pblica. A questo que envolve a poluio dos cursos hdricos por esgotos domsticos um desafio real e urgente no cenrio atual do Brasil, uma vez que o afastamento e tratamento dos efluentes esto diretamente ligados qualidade de vida e sade da populao. A implantao de infraestrutura para a realizao desses servios bsicos so etapas que devem ser superadas por um pas que almeja o desenvolvimento. Com relao aos efluentes industriais, estes podem variar bastante de composio dependendo da atividade industrial desenvolvida, do perodo de operao, da matria-prima utilizada, etc. Com isso, o efluente lquido pode ser solvel ou com slidos em suspenso, com ou sem colorao, orgnico ou inorgnico, com temperatura baixa ou elevada, miscvel ou imiscvel. Suas principais caractersticas so a presena de compostos qumicos txicos, metais pesados,

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temperatura elevada, cor e odor indesejveis, e variaes no seu pH (MOTA, 2003). Esses efluentes podem causar poluio/contaminao da gua e ou do solo e devido a suas caractersticas deve receber ateno especial no tratamento J a gua de drenagem pluvial urbana definida por Mota (2003) como aquela que precipita em uma rea urbana e escoa pela superfcie carreando impurezas e sedimentos. A concentrao e o tipo de impurezas variam de acordo com o tipo do solo, as atividades desenvolvidas na rea, fatores hidrolgicos e caractersticas do ambiente fsico. Essas guas podem apresentar altssimos nveis de DBO e DQO, especialmente em grandes cidades aps longos perodos sem chuva, decorrentes da lavagem das superfcies Mota (2003) elenca os seguintes problemas decorrentes dos impactos negativos qualidade da gua devido a sua poluio: prejuzos a sade pblica; reduo do oxignio dissolvido na gua; danos ecolgicos a vida aqutica; prejuzos aos usos definidos para a gua; assoreamento dos cursos dgua; eutrofizao e aspecto esttico desagradvel. Dos agravos causados aos recursos hdricos, talvez o mais nefasto seja o aterramento de nascentes, fato que muito comum quando se refere urbanizao no Brasil. De acordo com Castro Jr. (2008), as nascentes so reas muito suscetveis ao assoreamento, a eroso e, conseqentemente, ao desequilbrio hidrolgico. Isso acaba refletindo na substituio da tipologia vegetacional nativa por espcies exticas e ruderais, sendo muitas vezes, impossvel a recuperao da funcionalidade ecolgica. O aterramento das nascentes e retirada da vegetao que faz sua guarnio faz com que elas percam o seu potencial hdrico. Diferentes de impactos negativos, como a poluio e contaminao das guas, o aterramento de nascentes pode selar o fim de um curso dgua, pois alm de alterar seu regime hdrico sua recuperao envolve, tambm, a reconstituio de seu permetro e da vegetao do seu entorno, o que pode ser especialmente problemtico dentro de uma cidade. 2.3.2. Impactos ao solo A urbanizao desassistida e a falta de infraestrutura tambm impem agravos ao solo. Braga et al. (2005) dizem que a poluio do solo urbano proveniente dos resduos gerados pelas atividades econmicas naturais de uma

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cidade, como indstrias, comrcio e servios, alm dos resduos provenientes das residncias. De acordo com Mota (2003), as prprias modificaes impostas ao solo pela urbanizao podem resultar numa forma de poluio, com reflexos sobre o homem e o ambiente. A poluio pode ser provocada por resduos na fase slida, lquida e gasosa, mas na fase slida que ela se manifesta mais intensamente, devido ao volume gerado nas cidades e as caractersticas de imobilidade que impem dificuldades ao seu transporte no meio ambiente (BRAGA et al., 2005). Segundo Mota (2003), a poluio por resduos slidos vai alm dos prejuzos causados ao solo, causando tambm aspecto e odor desagradveis ao ambiente, poluio por gua subterrnea, e proliferao de vetores. Provenientes de processos industriais e principalmente de residncias que no dispe de sistemas de tratamento ou no so ligadas a rede pblica de esgotos, os resduos lquidos so tambm uma fonte de contaminao do solo (BRAGA et al., 2005) e podem tambm ser fonte de contaminao das guas subterrneas. O solo tambm comumente utilizado como receptor de resduos provenientes das atividades humanas. Essa utilizao do solo como receptor de resduos pode se dar localmente por um depsito como o aterro sanitrio; por uma rea de estocagem ou processamento de produtos qumicos; por disposio de resduos e efluentes, por algum vazamento ou derramamento; ou ainda regionalmente atravs de deposio pela atmosfera, por inundao ou mesmo por prticas agrcolas indiscriminadas. Outra questo acerca dos problemas da urbanizao a eroso do solo. De acordo com Fendrich et al.(1997) a eroso est entre os problemas mais graves que podem ocorrer ao solo, tendo seus efeitos grande variao no tempo e no espao, dependendo do tipo de solo, como ele utilizado, do clima e de muitos outros fatores. Mota (2003) observa que a eroso causa srios danos a produtividade mdia da terra, pois provoca prejuzos hidrogeolgicos, produzindo variaes drsticas na composio e estrutura do solo, acrescentando ainda que a eroso constitui um mecanismo de poluio da gua, pois o carreamento de pequenas partculas de solo, no processo de eroso, provoca alteraes na qualidade da gua.

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Com relao a eroso nas reas urbanas, Fendrich et al. (1997) dizem que seus danos no se limitam aos imveis urbanos, tais como industrias, residncias, lotes desocupados, escolas e cemitrios, mas toda a infraestrutura representada pelas obras de redes de gua, esgoto, telefone, eletricidade, drenagem pluvial, estradas e caladas que, por vezes, so totalmente destrudas, dissipando assim, recursos que aquelas obras exigiram para a sua construo. Alm disso, Fendrich at al. (1997) acrescentam as seguintes conseqncias da eroso em reas urbanas: Paralisao do trfego de veculos em algumas ruas decorrente da eroso ou assoreamento da via; Reduo patrimonial pela depreciao imobiliria; Desestmulo a novos investimentos na regio; Decrscimo de arrecadao pela desvalorizao imobiliria. Outro ponto que tem causado problema de contaminao, tanto do solo, quanto da gua, em reas urbanas, so os postos de combustveis. Estes fazem uso de reservatrios enterrados para o armazenamento dos combustveis, o que pode representar maiores problemas em eventuais vazamentos, aumentando o risco de contaminao do solo e gua subterrnea. O problema especialmente mais grave em postos antigos. Devido ao grande nmero de estabelecimentos do tipo nas cidades e a natureza do contaminante esse um assunto que merece ateno especial. 2.3.3. Impactos a qualidade do ar Alm de danos ao solo e a gua, o ar tambm pode ter suas caractersticas afetadas negativamente em reas densamente ocupadas, como as cidades. A poluio do ar, de acordo com Assuno (2009), provavelmente, acompanha a humanidade desde tempos remotos. Entretanto, passou a ser sentida de forma acentuada quando as pessoas comearam a viver em assentamentos urbanos em grande densidade demogrfica, em conseqncia da Revoluo Industrial, a partir de quando combustveis fsseis comearam a serem utilizados como fonte de energia. A utilizao do petrleo como matriz energtica acentuou ainda mais a poluio do ar, bem como os processos industriais e a crescente utilizao de automveis e outros meios de transporte movidos a combustveis fsseis, que passaram a predominar no cotidiano como agentes poluidores de destaque. Nas

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cidades, o problema de poluio do ar costuma ser mais grave devido a grande concentrao de automveis e, tambm, de indstrias. Estas trazem problemas para a qualidade do ar por conta da emisso de poluentes, como o monxido de carbono, xidos de enxofre e nitrognio, oxidantes fotoqumicos e material particulado. Devido a prpria natureza do meio atmosfrico e sua movimentao, a disperso de poluentes no respeita fronteiras ou quaisquer limites imposto pelo homem, e uma vez lanado fica fora do controle do emissor, fazendo desse tipo de poluio um problema mundial com reflexos em todo planeta, como o efeito estufa e a reduo da camada de oznio estratosfrico. Segundo Mota (2003), as condies climticas e/ou topogrficas podem auxiliar na disperso dos poluentes, bem como as caractersticas e quantidades destes, minimizando as conseqncias mais graves. Entretanto, quando a disperso dos poluentes no ocorre a sua concentrao pode se elevar a nveis que podem trazer riscos a sade humana e dos animais. Assim sendo, pode-se dizer que a poluio do ar depende, sobretudo de: Fontes de emisso de poluio tipos de poluentes, perodo de emisso, quantidades; Caractersticas climticas do ambiente, contribuindo ou no para dispersar, transformar e remover os poluentes gerados pelas atividades urbanas; Condies topogrficas do meio, influindo na circulao do ar. O trafego de veculos por vias no pavimentadas, alm das emisses comuns aos motores a combusto interna, pode provocar a suspenso de poeira, que tambm influi na qualidade do ar. Essa situao mais comum bairros carentes, onde a infraestrutura urbana deficiente e em reas rurais. A poeira, assim como o material particulado, pode causar problemas respiratrios, pois ao se acumular nos pulmes dificulta a absoro do oxignio. Em algumas regies do Brasil, especialmente no Centro-Oeste e Norte, outro fator que determinante da qualidade do ar so as queimadas de florestas e cerrados. Esses eventos podem se iniciar de forma natural ou no e ocorrem com maior freqncia no perodo seco do ano, liberando na atmosfera milhes de toneladas de

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CO2 e material particulado, e devido a movimentao atmosfrica podem alcanar as cidades, se tornando um problema de sade pblica. 2.4. COBERTURA VEGETAL NAS CIDADES Um fator muito importante, e que por muito tempo foi negligenciado no desenvolvimento das reas urbanas, o da cobertura vegetal. De acordo com Nucci (2008) a vegetao, diferentemente da terra, do ar e da gua, no uma necessidade bvia na cena urbana. Ele complementa dizendo que a cobertura vegetal, ao contrrio de muitos outros recursos fsicos da cidade, relacionada pela maioria dos cidados mais como uma funo de satisfao psicolgica e cultural do que com funes fsicas. Porm, j na dcada de 70, Monteiro 9 (1976) apud Nucci (2008) evidenciou que a necessidade que o homem tem de vegetao extrapola um valor meramente sentimental ou esttico. Para Lombardo (1985), a vegetao desempenha importante papel nas reas urbanizadas no que se refere qualidade ambiental. As variaes climticas em reas urbanas esto intimamente ligadas ao uso do solo na referida regio, podendo haver grandes diferenas de temperatura entre uma regio densamente edificada, e outra predominantemente coberta por vegetao. Mascar (2004) diz que a vegetao tem influncia sobre os elementos climticos em microclimas urbanos, contribuindo para o controle da radiao solar, temperatura e umidade do ar, ao dos ventos e da chuva e para amenizar a poluio do ar. Ainda de acordo com Mascar (2004), a rvore a forma de vegetao mais caracterstica na paisagem de uma cidade, e tambm reconhecida como um elemento que contribui para um ambiente urbano mais agradvel. Dos benefcios proporcionados pela arborizao, a sombra talvez seja o elemento mais procurado, pois protege os ambientes e construes da insolao direta, servindo ainda de abrigo nos dias mais quentes. Essa propriedade da arborizao especialmente importante em locais de clima quente, como Cuiab. A vegetao, caracterizada principalmente pelas rvores, pode proporcionar ao meio urbano muitos benefcios e, ainda, desempenhando um papel central no9

MONTEIRO, C.A. de F. Teoria e clima urbano. So Paulo, IGEOG/USP, 1976, 181p apud NUCCI, J. C. Qualidade ambiental e adensamento urbano: um estudo de ecologia e planejamento da paisagem aplicado ao distrito de Santa Ceclia (MSP). 2 ed. - Curitiba: O Autor, 2008. 150 p

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estreitamento da relao entre o homem e o meio natural, melhorando a qualidade de vida das pessoas nas cidades. Segundo Romero10 (2000) apud Leo (2007), uma superfcie gramada possui maior capacidade de absorver a radiao solar, e ainda irradia uma menor quantidade de calor em relao a qualquer outro tipo de superfcie construda. Isso ocorre porque parte dessa energia absorvida pela planta utilizada em seu metabolismo. Mota (2003) explica que a vegetao desempenha um papel importante no ciclo hidrolgico, por favorecer o amortecimento e infiltrao da gua das chuvas, proporcionando um menor escoamento superficial e protegendo as margens dos cursos de gua. Leo (2007) destaca que a vegetao tambm tem parte na regulao da umidade do ar atravs do processo de transpirao, alm de exercer influncia sobre temperatura. A rvore tem a capacidade de interceptar, refletir, absorver e transmitir a radiao do sol. Uma arborizao adequada e uma boa ventilao so elementos fundamentais para alcanar o conforto trmico em regies de clima tropical mido. O posicionamento do conjunto arbreo, a uma distncia adequada da edificao, fornecer um bom sombreamento nas fachadas, compondo um entorno mais favorvel (FURTADO e MELO FILHO 11, 1999 apud ANDRADE, 2002) . Uma situao comum a confuso entre os conceitos de cobertura vegetal e reas verdes. Com o intuito de esclarecer esse ponto Cavalheiro et al. (1999) 12 apud Nucci (2008) propem que por reas verdes sejam tomadas aquelas onde h predominncia de vegetao e o solo permevel ocupam pelo menos 70% da rea. Ele ainda acrescenta que as reas verdes devem ser reas pblicas sem regras rgidas de utilizao, devendo cumprir funes estticas, ecolgicas e de lazer. J a cobertura10

ROMERO, M. A. B. Princpios bioclimticos para o desenho urbano. So Paulo: Projeto, 2000, 2 edio, 128 p. apud LEO, . F. T. B. Carta Bioclimtica de Cuiab-MT. 2007. 163p. Dissertao (Mestrado em Fsica e Meio Ambiente) UFMT, 2007. 11 FURTADO, A. E.; MELLO FILHO, L. E. A interao microclima, paisagismo e arquitetura. Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Arborizao Urbana. V.7, n.3., p.9, 1999 apud ANDRADE, T. O. Inventrio e anlise a arborizao viria da estncia turstica de Campos do Jordo, SP. 2002. 129f. Dissertao (Mestrado em agronomia) Universidade de So Paulo. Piracicaba, 2002. 12 CAVALHEIRO, F.; NUCCI, J.C; GUZZO, P.; ROCHA, Y.T. Proposio de terminologia para o verdeurbano. Boletim Informativo da SBAU (Sociedade Brasileira de Arborizao Urbana), ano VII, n. 3 -Jul/ago/set de 1999, Rio de Janeiro, p. 7. apud NUCCI, J. C. - Qualidade ambiental e adensamento urbano: um estudo de ecologia e planejamento da paisagem aplicado ao distrito de Santa Ceclia (MSP). 2 ed. - Curitiba: O Autor, 2008. 150 p.

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vegetal definida projeo do verde em cartas planimtricas, podendo ser identificadas por meio de fotografias areas. Corroborando com a definio proposta por Cavalheiro et al. (1999), Lima e Amorim (2006) explicam que as reas verdes podem ser consideradas um tipo especial de espaos livres de edificao, onde o elemento fundamental a vegetao, sendo que essas reas devem atender a trs objetivos principais: ecolgico-ambiental, esttico e lazer. A rea verde tem funo de se constituir em um espao "social e coletivo", sendo importante para a manuteno da qualidade de vida. Uma das grandes cidades brasileiras com melhor ndice de qualidade de vida, Curitiba/PR, tambm apresenta um dos ndices mais altos de rea verde, 51,5 m por habitante, muito superior a rea recomendada pela Organizao Mundial de Sade (OMS) que de 12 m por habitante (ROSSET, 2005). 2.5. SANEAMENTO AMBIENTAL A Organizao Pan-Americana da Sade OPAS (2007) define saneamento ambiental como o resultado da interao de fatores que operam em diversos nveis de agregao e complexidade, que vo alm dos componentes tradicionais biolgicos, fsicos e qumicos do meio ambiente A Organizao Mundial de Sade classifica o saneamento como sendo o controle de todos os fatores do meio fsico que o homem habita, que exercem ou podem exercer efeitos nocivos sobre seu bem estar fsico, mental e social; e acrescenta definindo sade como o estado completo de bem-estar fsico, mental e social, e no apenas a ausncia de doena. De acordo com manual publicado pela FUNASA (2006), a utilizao do saneamento como instrumento de promoo da sade pressupe a superao de desafios tecnolgicos, polticos e gerenciais que tem dificultado a extenso dos benefcios aos residentes em reas rurais, periferias e localidades de pequeno porte. A maioria dos problemas sanitrios que afetam a populao mundial est intrinsecamente relacionada com o meio ambiente. reconhecido o fato de que aumentar o acesso da populao ao saneamento bsico e a gua potvel traz grandes

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beneficios ao desenvolvimento de cada pas, pelas melhorias nos resultados na sade e na economia. De acordo com o IBGE (2008), 83,9% dos domiclios brasileiros localizados em centros urbanos tem acesso a rede de abastecimento de gua. Observa-se ainda que existem srias injustias na oferta dos servios de saneamento no Brasil, pois somente 52,5% dos domiclios so atendidos por rede de coleta de esgoto, 20,7% utilizam fossa sptica seguida de sumidouro ou rede de drenagem e 26,8% no apresentam coleta de esgoto ou fossa sptica. Para Heller, Costa e Barros (1995) o saneamento constitui um conjunto de aes sobre o meio ambiente fsico, visando o controle ambiental cujo objetivo proteger a sade do homem. Eles complementam dizendo que a oferta de saneamento est associada a sistemas constitudos por uma infraestrutura fsica (obras e equipamentos), alm de uma estrutura educacional, legal e institucional, que abrange os seguintes servios: Abastecimento com qualidade compatvel com a proteo de sua sade e em quantidade suficiente para a garantia de condies bsicas de conforto; Coleta, tratamento e disposio ambientalmente adequada dos esgotos sanitrios, incluindo os rejeitos provenientes das atividades domstica, comercial e de servios, industrial e pblica; Coleta, tratamento e disposio ambientalmente adequada e

sanitariamente segura dos resduos slidos; Drenagem de guas pluviais e controle de alagamentos e inundaes; Controle da proliferao de vetores de doenas transmissveis. Segundo a Lei Federal n 6.938 que dispe sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente, entende-se por poluio a degradao da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: prejudiquem a sade, a segurana e o bem estar da populao; criem condies adversas s atividades sociais e econmicas; afetem desfavoravelmente a biota; afetem as condies estticas ou sanitrias do meio ambiente e; lancem matrias ou energia em desacordo com os padres ambientais estabelecidos.

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Diante dos conceitos apresentados, fica claro que a sanidade do ambiente antropizado depende da qualidade e eficincia dessas intervenes sobre o espao fsico, sendo seus efeitos sentidos alm do meio ambiente, afetando tambm a sade e qualidade de vida das pessoas. 2.6. SANEAMENTO E SADE O consumo de gua contaminada, a disposio imprpria dos esgotos e resduos slidos tem sido as principais causas de doenas nos pases em desenvolvimento. Saneamento inadequado causa impactos na economia, afetando na produtividade devido s perdas por doenas e queda na qualidade de vida (VERMA; SINGH; SINGH, 2007). Apesar do crescimento econmico registrado nos ltimos anos, o Brasil possui grandes desafios na rea de saneamento. De acordo com Neri (2007), 53% da populao brasileira ainda sofre com a falta de saneamento bsico e um problema que est longe de ser resolvido. Durante muito tempo, os investimentos na rea de saneamento foram marginalizados agravando esse dficit de infraestrutura. Segundo a Organizao Pan-Americana da Sade OPAS (2007), estima-se que 24% dos casos de morbidade em todo mundo e 23% de todos os falecimentos podem ser atribudos a fatores relacionados ao ambiente. Nos pases em desenvolvimento, a percentagem de mortalidade atribuvel a causas ambientais de 25%, enquanto nos pases desenvolvidos o ndice de 17%. Para Heller (1997), a insuficincia de instrumentos de planejamento relacionados sade pblica constitui importante lacuna em programas de governo na rea do saneamento no Brasil. Essa lacuna deixada pelo Estado deu margem ao desenvolvimento no assistido por obras de saneamento e infraestrutura, capazes de dar a populao melhores condies de vida, especialmente nas cidades. Com o Programa de Acelerao do Crescimento (PAC) recursos e esforo significativo foram direcionados para o saneamento entre outras obras de infraestrutura. Para um pas que tenta diminuir os nveis de pobreza, como o Brasil, isso um passo fundamental, pois segundo Heller et al. (1997) explica, o saneamento bsico cria condies de salubridade no meio fsico no qual o homem habita, protegendo sua sade e sua vida e praticamente inconcebvel uma sociedade desenvolvida sem os servios bsicos de saneamento.

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Todos os investimentos de governos, em abastecimento de gua e saneamento so justificveis devidos aos seus benefcios claros a sade que j so conhecidos, e outros benefcios indiretos como economia com medicamentos, mais dignidade as populaes atendidas, e melhores condies ambientais (CAIRNCROSS e KOLSKY, 1997). Contudo, como explica Soares et al. (2002) problemas de sade pblica relacionados ao saneamento no so resolvidos simplesmente com investimentos em infraestrutura nessa rea. A implementao de sistemas de abastecimento de gua e de esgotamento sanitrio condio necessria, mas no suficiente para se garantir a eliminao das doenas associadas. Tambm, importante ter o conhecimento de parmetros sanitrios, epidemiolgicos, scio-econmicos, e de sade da populao a ser atendida pelo saneamento, pois a partir dessas informaes possvel nortear as aes de saneamento bsico (HELLER, 1997). Cairncross, (1984)13 apud Soares et al. (2002) ainda diz que para a engenharia, o que se avalia em um organismo patognico no a sua natureza biolgica, nem o seu comportamento no corpo do doente, e sim o seu comportamento no meio ambiente, pois nessa dimenso que as intervenes de saneamento podem influenciar na ao desse patognico sobre o homem (CAIRNCROSS, 1984 apud SOARES et al. 2002). Isso revela a importncia do ambiente na relao sade saneamento. 2.7. FERRAMENTAS UTILIZADAS NO PLANEJAMENTO AMBIENTAL 2.7.1. Sensoriamento remoto Sensoriamento remoto a tecnologia que permite obter imagens e outros tipos de dados, da superfcie terrestre, por meio da captao e do registro da energia refletida ou emitida por uma superfcie (FLORENAZANO, 2007). De acordo com Novo (1992), embora essa definio seja muito ampla, ela diz respeito aquisio de medidas nas quais o ser humano no parte essencial do processo de deteco e registro de dados.

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CAIRNCROSS, S. Aspectos de sade nos sistemas de saneamento bsico. Engenharia Sanitria, 23:334-338. 1984. apud SOARES, S. R. A. et al. Relaes entre saneamento, sade pblica e meio ambiente: elementos para formulao de um modelo de planejamento em saneamento. Cad. Sade Pblica, Rio de Janeiro, nov-dez, 2002.

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No sensoriamento remoto a identificao dos objetos feita atravs de suas caractersticas espectrais expressas nas vrias bandas das imagens adquiridas por um sensor. Por sua vez, quanto maior for o nmero de imagens e bandas, maior ser o volume de dados, tornando-se necessrio o uso de tcnicas automticas de anlise, que pela versatilidade prpria dos computadores, introduz mltiplas formas de abordagem de dados (LILLESAND E KIEFER 14, 1987 apud GHEZZI, 2003). Os sensores so equipamentos capazes de coletar energia proveniente do objeto, converte-la em sinal passvel de ser registrado e apresent-lo em forma adequada a extrao de informaes (NOVO, 1992). A energia captada pelos sensores instalados nos satlites artificiais transformada em sinais eltricos, que so registrados e transmitidos para estaes receptoras na superfcie, equipadas com antenas adequadas para tal tarefa (FLORENZANO, 2007). De acordo com Florenzano (2007), a aquisio de dados por sensores remotos requer o uso de energia, como a luz do sol, por exemplo. Para isso os sensores fazem uso da energia eletromagntica, que se propaga em ondas com a velocidade da luz De acordo com Chuvieco15 (1990) apud Ghezzi (2003), as principais vantagens do sensoriamento remoto so: Cobertura global e peridica da superfcie terrestre - as caractersticas orbitais dos satlites permitem que os mesmos obtenham, repetidas vezes, informaes de reas inacessveis por outros meios; Viso panormica - como os sensores utilizados em sensoriamento remoto esto instalados em satlites cujas rbitas esto entre 700 e 900 km de altitude, possvel a coleta de dados de extensas reas Homogeneidade na tomada dos dados - uma imagem de satlite obtida por um nico sensor, num curto espao de tempo e abrangendo uma grande rea da superfcie, minimizando a interferncia temporal;

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LILLESAND, T. M. KIEFFER, R. W. Remote Sensing and Image Interpretation. New York: John Wiley & Sons, 1987 apud GHEZZI, A. O. Avaliao e mapeamento da fragilidade ambiental da bacia do rio xaxim, Baia de Antonina PR, com o auxilio de geoprocessamento. Curitiba/PR, 2003. Dissertao (Mestrado em Cincia do Solo) . Universidade Federal do Paran15

CHUVIECO, E. Fundamentos de Teledeteccin Espacial. Ediciones Rialp. S.A., 1990 apud GHEZZI, A. O. Avaliao e mapeamento da fragilidade ambiental da bacia do rio xaxim, Baia de Antonina PR, com o auxilio de geoprocessamento. Curitiba/PR, 2003. Dissertao (Mestrado em Cincia do Solo) . Universidade Federal do Paran.

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Informao de regies no visveis do espectro eletromagntico como o infravermelho mdio e termal, e microondas. Isso proporciona valiosas informaes para estudos de meio ambiente, atravs do registro de informaes imperceptveis ao olho humano; Formato digital das imagens - agiliza o processamento e tratamento das imagens, reduzindo custos e permite uma integrao dos resultados com a cartografia, por exemplo, na produo de mapas temticos. 2.7.2. Sistemas de informaes geogrficas (SIG) De acordo com Forman (1995), as imagens de satlite revolucionaram nossa percepo e entendimento das regies e paisagens. A partir delas toda uma regio pode ser examinada a partir de uma simples imagem. Imagens mostrando ecossistemas, bem como modelos de paisagens e os usos do solo nessas unidades so amplamente disponveis. Somam-se a isso os programas de computador, capazes de reduzir a distoro das imagens e ainda aumentaram a preciso na localizao. Ainda segundo Forman, a passagem freqente de um satlite sobre um mesmo ponto capaz de fornecer imagens com determinada variao temporal, permitindo anlises de variaes na paisagem. O geoprocessamento uma cincia que utiliza tcnicas matemticas e computacionais para o tratamento da informao geogrfica (PINTO, 2003). Os programas utilizados para o geoprocessamento so normalmente os Sistemas de Informaes Geogrficas (SIG), que so ferramentas amplamente aplicadas no planejamento urbano, transporte, comunicaes, energia e gesto ambiental, por apresentar excelentes recursos para auxlio dos trabalhos (MOURA,2006). Os recursos computacionais para geoprocessamento permitem realizar anlises complexas, ao integrar dados de diversas fontes e ao criar bancos de dados georreferenciados, e ainda tornam possvel automatizar a produo de documentos cartogrficos (INPE, 1998). Segundo Pinto (2003), as ferramentas que formam o SIG so especializadas em adquirir, armazenar, recuperar, manipular, visualizar e operar dados georreferenciados para a obteno de novas informaes. Ainda de acordo com ela, as informaes podem ser obtidas atravs de operaes analticas, sobreposio e cruzamento de dados.

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De acordo com Burrough 16 (1986) apud Pinto (2003), a grande vantagem dessa ferramenta para o uso em estudos ambientais refere-se possibilidade de manipular dados de forma interativa, antecipando os possveis resultados para a tomada de decises e o planejamento, antes de serem cometidos danos irreversveis a paisagem. O surgimento dos Sistemas de Informaes Geogrficas no ocorreu isoladamente dentro das Geocincias. Ao contrrio, desenvolveu-se simultaneamente com vrias outras cincias e aprimoramento das tcnicas de anlise e tratamento de informaes grficas e alfanumricas (MOURA, 2006). Mais especificamente, seu desenvolvimento pode ser ligado aos avanos na Cartografia, Computao Grfica e Geografia, especialmente os decorrentes da informatizao (figura 2) e novos recursos disponibilizados pela introduo dos computadores.

Figura 2: Interface do sistema de informaes geogrficas (SIG) utilizado

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BURROUGH, P. A. Principles of geographic information systems for land resources assessment. Oxford: Claredon Press, 1986. 194p. apud PINTO, L. V. A. Caracterizao Fsica da Sub-Bacia do Ribeiro Santa Cruz, Lavras - MG, e Proposta de Recuperao de Suas Nascentes. 2003, 180f. Dissertao (Mestrado em Engenharia Florestal) - Universidade Federal de Lavras. Lavras - MG.

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2.7.3. Modelo numrico de terreno (MNT) Segundo INPE 17 (2000) apud Souza et al. (2005), o modelo numrico de terreno uma representao matemtica da configurao espacial de uma determinada caracterstica vinculada a superfcie real. Atravs do uso de programas adequados possvel realizar diversas aes com imagens de satlite em MNT. Dentre alguns usos do MNT Souza (2005) elenca: gerao de mapas topogrficos e curvas de nvel (figura 3) atravs da anlise dos dados de altimetria; anlise de corte-aterro para projeto de estradas; elaborao de mapas de declividade para apoio e anlise de geomorfologia e erodibilidade; apresentao tridimensional e identificao de cursos dgua e bacias hidrogrficas.

Figura 3: Processamento de imagem em MNT atravs do programa SPRING. 2.8. BACIA HIDROGRFICA De acordo com Pinto et al. (1976), a bacia hidrogrfica de um curso de gua a rea geogrfica coletora de gua de chuva, limitada por divisores topogrficos que, escoando pela superfcie do solo, atinge a seo considerada.17

INPE. Instituto de Pesquisas Espaciais. Apostila de Curso SPRING 3.4 (Verso Windows). So Jos dos Campos/SP, 2000 apud SOUZA, C.P et al. Estudo do meio fsico na avaliao de bacias hidrogrficas utilizadas como mananciais de abastecimento. In: ANDREOLI, C.V & CARNEIRO, C. Gesto Integrada de Mananciais de abastecimento eutrofizados. Curitiba: Sanepar, Finep. p. 123157, 2005.

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Tucci (2002) define a bacia hidrogrfica como uma rea de captao natu