61
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE – UFCSPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HEPATOLOGIA Jorge Alberto John Avaliação de Pacientes com Cirrose Atendidos em Nível Ambulatorial Porto Alegre 2014

Avaliação de Pacientes com Cirrose Atendidos em Nível Ambulatorial

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE

PORTO ALEGRE – UFCSPA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HEPATOLOGIA

Jorge Alberto John

Avaliação de Pacientes com Cirrose

Atendidos em Nível Ambulatorial

Porto Alegre

2014

 

Jorge Alberto John

Avaliação de pacientes com cirrose

atendidos em nível ambulatorial

Dissertação submetida ao Programa

de Pós-Graduação em Hepatologia da

Fundação Universidade Federal de

Ciências da Saúde de Porto Alegre

como requisito parcial para a

obtenção do grau de Mestre.

Orientador: Dr. Angelo Alves de

Mattos

Porto Alegre

2014

Catalogação na Publicação

Sistema de Geração de Ficha Catalográfica da UFCSPA com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

John, Jorge Alberto

Avaliação de pacientes com cirrose atendidos em nível

ambulatorial / Jorge Alberto John. -- 2014.

49 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) -- Universidade Federal de

Ciências da Saúde de Porto Alegre, Programa de

Pós-Graduação em Medicina: Hepatologia, 2014.

Orientador(a): Dr. Angelo Alves de Mattos.

1. Cirrose. 2. Vírus da hepatite C. 3. Carcinoma

hepatocelular. 4. Análise de sobrevida. I. Título.

Aos meus pais Zélia Durante John e Alberto John Neto, meus mentores.

À minha esposa Josiane e à minha filha Manoela, meus amores.

Ao meu querido irmão, Guilherme.

AGRADECIMENTOS

Agradeço àqueles que me apoiaram e colaboraram para a realização desta dissertação.

Ao meu pai Alberto, professor, exemplo que espelha a minha vida, responsável por tantos

ensinamentos, sempre baseados na ética do cuidado e da tranquilidade. À minha mãe Zélia,

professora, que me guiou a caminhos retos, em momentos em que tive dúvidas. Meus amados

pais, muito obrigado por todo apoio, paciência, dedicação e incentivo.

À minha esposa, Josiane, e à minha filha Manoela minhas companheiras, linda família que

constituímos, obrigado pela paciência e amor.

Ao meu irmão Guilherme, será sempre meu amigo e maior elo com meu passado, presente e

futuro.

Ao Dr. Angelo Alves de Mattos, orientador desta dissertação, obrigado pela contribuição

intelectual, estímulo contínuo, disponibilidade e atenção.

Aos acadêmicos de medicina, Pedro Henrique Comerlato, Mariana Porto, Priscila Contiero,

Renata Rodrigues da Silva e à colega Suelen A. da Silva Miozzo, por contribuírem com a

coleta e organização dos dados.

Ao Dr. Mário Wagner, pelo valioso auxílio estatístico.

Aos mestres e professores do Serviço de Gastroenterologia e Hepatologia da Universidade

Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e Irmandade Santa Casa de Misericórdia de

Porto Alegre, pelos ensinamentos.

  

RESUMO

Introdução: A cirrose representa um problema de saúde pública, geralmente, evoluindo com

complicações graves e que necessitam tratamento especializado. Objetivo: Avaliar os

pacientes com cirrose, atendidos em nível ambulatorial. Métodos: Foi realizado um estudo de

coorte, retrospectivo, em um serviço ambulatorial de referência, que avaliou 527 pacientes

com diagnóstico de cirrose. Os pacientes tiveram seguimento de pelo menos um ano. Foram

avaliadas variáveis demográficas, clínicas e laboratoriais, bem como os fatores de risco

relacionados ao óbito, utilizando-se um modelo de regressão de azares proporcionais de Cox.

O método de Kaplan-Meier foi utilizado para analisar a sobrevida. Resultados: Os pacientes

tinham média de idade de 52,9±9,7 anos, eram mais frequentemente do sexo masculino

(59%), apresentando Child-Turcotte-Pugh (CTP) B ou C em 43 % dos casos no inicio do

acompanhamento e em 55% ao final. A média do Model for End-Stage Liver Disease

(MELD) foi de 12,0±4,1 e 13,3±5,3, respectivamente. A etiologia pelo vírus da hepatite C

(VHC) preponderou em 35% dos pacientes e se associada ao álcool esteve presente em 58%

dos casos. As complicações mais frequentes, ao início do acompanhamento, foram ascite

(32%) hemorragia digestiva alta (16%) e encefalopatia hepática (EH) (11%) e ao final do

seguimento, ascite (34%), EH (17%) e carcinoma hepatocelular (CHC) (17%). Foram

submetidos a transplante hepático um total de 60 pacientes (11%). O tempo mediano de

seguimento foi de 5 anos e o tempo mediano de sobrevida de 12 anos. A taxa de sobrevida em

5 e 10 anos foi de 73% e 57%, respectivamente. Os fatores de risco no inicio do seguimento,

que obtiveram relação com óbito foram, em análise multivariável, a etiologia pelo VHC,

presença de CHC, além dos níveis séricos baixos de albumina. Ao final do seguimento,

observamos, além da etiologia por VHC, o grau de disfunção hepática, aferidos pelo CTP e

MELD, a presença de CHC, bem como os níveis séricos de albumina, creatinina e de sódio.

Conclusão: Os pacientes com cirrose, acompanhados em nível ambulatorial, a despeito de

apresentarem uma sobrevida razoável, tem um prognóstico mais reservado, quando a etiologia

da hepatopatia estiver relacionada ao VHC, desenvolverem CHC ou hipoalbuminemia.

Palavras-chave: Cirrose. Vírus da hepatite C. Carcinoma hepatocelular. Análise de

sobrevida.

  

ABSTRACT

Introduction: Cirrhosis represents a public health problem, usually presenting with severe

evolution and complications that require specialized treatment. Objectives: To evaluate

patients with cirrhosis treated on an outpatient basis. Methods: A cohort study, retrospective,

was conducted in an outpatient referral service, which evaluated 527 patients with cirrhosis.

Patients were followed up for at least one year. Demographic, clinical and laboratory

variables were evaluated, as well as the risk factors related to death, using a regression model

of Cox proportional-hazards. The Kaplan-Meier method was used to analyze survival.

Results: Patients had a mean age of 52.9 ± 9.7 years, were more often male (59%), with

Child-Turcotte-Pugh (CTP) B or C in 43% of cases, at the beginning of the monitoring and

55% at the end . The mean Model for End -Stage Liver Disease (MELD) score was 12.0 ± 4.1

and 13.3 ± 5.3, respectively. The etiology of hepatitis C (HCV) viruses predominated in 35%

of patients and if associated with alcohol, was present in 58% of cases. The most frequent

complications at the beginning of the monitoring were ascites (32%), gastrointestinal bleeding

(16%) and hepatic encephalopathy (HE) (11%) and on the final follow-up, were ascites

(34%), EH (17%) and hepatocellular carcinoma (HCC) (17 %). A total of 60 patients (11%)

underwent liver transplantation. The median follow-up time was 5 years and the median

survival time was 12 years. The survival rate at 5 and 10 years was 73% and 57 %,

respectively. The risk factors, to the initial monitoring, that had relation with death, in

multivariate analysis, were HCV etiology, presence of HCC, in addition to serum low

albumin. At the final follow-up, we observed, in addition to HCV etiology, the degree of liver

dysfunction, as measured by CTP and MELD, the presence of HCC, as well as serum levels

of albumin, creatinine and sodium. Conclusion: The patients with cirrhosis, followed on an

outpatient basis, despite that reasonable survival, have a worse prognosis when the etiology of

liver disease is HCV-related, presenting with HCC or hypoalbuminemia.

Keywords: Cirrhosis. Hepatitis C. Hepatocellular carcinoma. Survival analysis.

  

LISTA DE TABELAS E FIGURAS

 

Tabela 1: Características demográficas e clínicas segundo a classificação da etiologia da

cirrose ...................................................................................................................................... 50

Tabela 2: Complicações dos pacientes segundo a classificação da etiologia da cirrose....51

Tabela 3: Características dos pacientes submetidos a TOF segundo a classificação da

etiologia da cirrose............................................................................................................ ......52

Tabela 4: Fatores de risco avaliados ao início e final do acompanhamento e sua relação

com ocorrência de óbito ....................................................................................................... ..53

Figura 1: Curva de Kaplan-Meier representando a ocorrência global de óbito em

pacientes com cirrose atendidos em ambulatório......................................................... .......54

Figura 2: Curvas de Kaplan-Meier representando a ocorrência de óbito, segundo

etiologia em pacientes com cirrose atendidos em ambulatório .......................................... 55

  

LISTA DE ABREVIATURAS

AASLD – American Association for the Study of Liver Diseases

ALEH – Asociación Latinoamericana para el Estudio del Hígado

ALT – Alanina aminotransferase

Anti-HCV – Anticorpo contra hepatitis C vírus

ANOVA – Análise de variância

AST – Aspartato aminotransferase

BCLC – Barcelona Clinic Liver Cancer

CHC – Carcinoma hepatocellular

CID 10 – Código internacional de doenças

CTP– Child-Turcotte-Pugh

DHA – Doença hepática alcoólica

DHGNA – Doença hepática gordurosa não-alcoólica

EASL – European Association for the Study of the Liver

EH – Encefalopatia hepática

EHNA – Esteato-hepatite não alcoólica

HBsAg – Antígeno de superfície do vírus da hepatite B

HDA – Hemorragia digestiva alta

HIV – Vírus da imunodeficiência humana

INR – Índice internacional normalizado

KM – Kaplan – Meier

MELD – Model for End-Stage Liver Disease

  

OMS – Organização Mundial da Saúde.

OD – Odds ratio

PBE – Peritonite bacteriana espontânea

PCR – Reação em cadeia da polimerase

SHR – Síndrome hepatorrenal

TIPS – Transjugular intrahepatic portosystemic shunts

TOF – Transplante ortotópico de fígado

VHB – Vírus da hepatite B

VHC – Vírus da hepatite C

  

SUMÁRIO

1 ....................................................................................................................................R

EVISÃO DA LITERATURA .......................................................................................... 12

1.1..................................................................................................................................E

pidemiologia................................................................................................................... 12

1.2 Diagnóstico....................................................................................................................... 13

1.3..................................................................................................................................E

tiologia............................................................................................................................ 14

1.4..................................................................................................................................Í

ndices Prognósticos.........................................................................................................16

1.5..................................................................................................................................C

omplicações ................................................................................................................... 19

1.5.1 ...............................................................................................................................A

scite............................................................................................................................... 19

1.5.2 ...............................................................................................................................P

eritonite Bacteriana Espontânea ............................................................................... 20

1.5.3 ...............................................................................................................................S

índrome Hepatorrenal................................................................................................ 20

1.5.4 ...............................................................................................................................H

emorragia Digestiva.................................................................................................... 21

1.5.5 ...............................................................................................................................E

ncefalopatia Hepática ................................................................................................. 23

1.5.6 ...............................................................................................................................C

arcinoma Hepatocelular............................................................................................. 24

2 ....................................................................................................................................J

USTIFICATIVA ............................................................................................................... 26

3 ....................................................................................................................................O

BJETIVOS ....................................................................................................................... 27

3.1..................................................................................................................................O

bjetivo Geral...................................................................................................................... 27

3.2..................................................................................................................................O

bjetivos Específicos ........................................................................................................... 27

  

4 ....................................................................................................................................R

EFERÊNCIAS .................................................................................................................. 28

5 ....................................................................................................................................A

RTIGO............................................................................................................................... 37

6 ....................................................................................................................................C

ONCLUSÃO ..................................................................................................................... 60

 

 

 

 

12  

1. REVISÃO DA LITERATURA

As doenças hepáticas representam importante problema de saúde pública, de alto

impacto socioeconômico, já que favorecem elevados custos com tratamentos, períodos

prolongados de acompanhamento ambulatorial e internações hospitalares. Acarretam perda de

qualidade e expectativa de vida, além de anos de vida produtiva do indivíduo, agregando

importante morbidade e mortalidade, em consequência da progressão para cirrose, estágio

final comum das doenças hepáticas crônicas (1-5). Os pacientes com cirrose apresentam um

número mais elevado de comorbidades, utilizam mais os serviços de saúde, com maior

número de hospitalizações, consultas médicas e cuidados de enfermagem, em relação à

pacientes sem cirrose, acarretando um custo anual aproximado de 4.700 dólares por indivíduo,

quase o dobro em relação aos indivíduos sem cirrose (6). Pacientes com cirrose

descompensada têm sobrevida limitada e o transplante hepático é o único tratamento

definitivo para prolongar a vida destes doentes (7).

O conhecimento das características dos pacientes com cirrose, avaliando a sua

evolução, fornecerá dados que, principalmente em nível ambulatorial, são escassos e poderão

ser utilizados como base para estudos ou políticas de prevenção e tratamento em saúde

pública.

1.1 Epidemiologia

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a cirrose foi em 2002 a décima

sexta causa de mortalidade no mundo (8).

No Brasil, em 2002, a taxa de óbitos por cirrose na população, correspondente aos

códigos K70.3 (cirrose hepática alcoólica), K74.3 (cirrose biliar primária), K74.4 (cirrose

biliar secundária) K74.5 (cirrose biliar sem outra especificação) e K74.6 (outras formas de

cirrose hepática e as não especificadas) do CID-10 (Código Internacional de Doenças), atingiu

7,75/100 mil habitantes, enquanto que, no Rio Grande do Sul, foi de 11,21/100 mil habitantes,

a maior dentre os estados, comprometendo principalmente homens e pessoas com 60 anos ou

mais. Dados de 2007 revelam que os códigos K74.0 (cirrose e fibrose hepáticas) e K70.0

(doença alcoólica do fígado) representaram 0,9% e 0,85% das mortes, totalizando 1,75% dos

13  

registros de óbito. Em nosso estado, tais códigos representaram 1,6% dos registros no ano de

2006 (9).

1.2 Diagnóstico

O diagnóstico de cirrose pode ocorrer precoce ou tardiamente. Muitas vezes são

encontrados estigmas em um exame físico de rotina, em exames laboratoriais ou de imagem,

solicitados como pré-operatórios ou mesmo em estágios mais avançados da doença, tendo

como apresentação complicações relacionadas à hemorragia digestiva por varizes de esôfago

(HDA), ascite, peritonite bacteriana espontânea (PBE) ou encefalopatia hepática (EH)

(10,11). Em alguns casos, os pacientes nem chegam a procurar atendimento médico, sendo a

cirrose diagnosticada em necropsias (10,11).

Uma metanálise avaliou fatores com a melhor habilidade de predizer o diagnóstico de

cirrose ou de hepatopatia crônica em adultos, estes foram: presença de ascite (Odds ratio

(OR) 7,2), plaquetas com valor inferior a 160 mil/mm3 (OR 6,3), aranhas vasculares (OR 4,3),

escore de Bonacini maior que 7 (OR 9,4) (12). Esse escore é calculado atribuindo-se

pontuação específica aos seguintes parâmetros: plaquetas (x1000/mm3) maior 340= zero

pontos, 280 a 339= um ponto, 220 a 279= dois pontos, 160 a 219= três pontos, 100 a 159=

quatro pontos, 40 a 99= cinco pontos e menor que 40= seis pontos; Razão alanina

aminotransferase (ALT) / Aspartato aminotransferase (AST) maior que 1,7= zero pontos, 1,2

a 1,7= um ponto, de 0,6 a 1,19= dois pontos e menor que 0,6= três pontos; Índice

internacional normalizado (INR): <1,1 = zero pontos, 1,1 a 1,4 = um ponto, > 1,4 = dois

pontos. Um escore com pontuação maior que 7 tem um bom valor preditivo positivo para o

diagnóstico de cirrose.

Os fatores que foram associados a uma baixa probabilidade do diagnóstico de cirrose

foram índice de Lok < 20% (OR 0,09), plaquetas com contagem de 160 mil/mm3 ou maior

(OR 0,29) e ausência de esplenomegalia (OR 0,37). O índice de Lok é calculado usando a

contagem de plaquetas, AST, ALT e INR (13).

Na prática clinica, o padrão ouro para o diagnóstico de cirrose é a biópsia hepática,

com uma sensibilidade que varia de 80 a 100 %, dependendo do método utilizado, tamanho e

número de fragmentos obtidos (14). Todavia a biópsia não é necessária se os achados clínicos,

laboratoriais, de imagem e endoscópicos, forem fortemente sugestivos do diagnóstico. Por

14  

outro lado, a análise histológica pode ser elucidativa para que se defina a etiologia da

hepatopatia crônica, como por exemplo, doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA),

hepatite auto-imune ou hemocromatose hereditária.

1.3 Etiologia

A determinação da etiologia da cirrose é importante porque pode definir o tratamento,

as implicações hereditárias e aconselhamento de familiares ou mesmo as complicações que

poderão sobrevir.

As etiologias preponderantes das hepatopatias crônicas são as infecções crônicas pelo

vírus da hepatite C (VHC) e vírus da hepatite B (VHB), doença hepática alcoólica (DHA) e

DHGNA, com as suas prevalências variando amplamente na dependência do país avaliado

(1,15). A cirrose por DHA e pelo VHC são as causas mais comuns no mundo ocidental,

enquanto que o VHB prevalece em muitas partes da Ásia e África. Nos Estados Unidos, a

etiologia mais comum de doença hepática crônica é o VHC, seguido da DHA e da DHGNA

(16).

A infecção crônica pelo VHC tem uma prevalência mundial estimada entre 1 a 5%, ou

seja, existem cerca de 170 a 200 milhões de portadores crônicos (17). Considerada a causa

mais comum de infecção crônica transmitida pela exposição a sangue contaminado (18), pode

levar à cirrose, insuficiência hepática terminal e ao carcinoma hepatocelular (CHC) e se

constitui, atualmente, na principal causa de transplante hepático no mundo (19).

No Brasil, dados do Inquérito Nacional de Hepatites Virais do Ministério da Saúde de

2010, apontam uma prevalência de anti-HCV de 1 a 2%, na faixa etária compreendida entre

10 a 69 anos de idade (20). Nos Estados Unidos, estima-se cerca de 3,2 milhões de infectados

pelo VHC (18).

Observa-se que 75% a 85% dos infectados pelo VHC tendem a cronificar e cerca de

25% a 30% desenvolvem cirrose, apresentando então maior risco de desenvolver CHC (19).

Quanto ao VHB, a prevalência varia amplamente de acordo com a área geográfica,

sendo que no Brasil os dados determinam a presença do antígeno de superfície do vírus da

hepatite B (HBsAg) em 0,19 a 0,6% da população com idade entre 13 e 69 anos (20). Além

disso, a cronificação da infecção também sofre modificações de acordo com a idade de

15  

contágio (21) Estudo realizado em nosso meio, evidenciou um percentual de cronificação de

14% (22). Trata-se de um problema global de saúde pública, estimando-se mais de 350

milhões de portadores no mundo, enquanto cerca de 1 milhão de mortes anuais tem relação

com doença hepática causada pelo VHB (23).

As doenças causadas pelo uso nocivo e abusivo do álcool representam a terceira causa

de morte prevenível nos Estados Unidos, além dos transtornos sociais diretamente

relacionados ao seu uso, estima-se uma média de 30 anos de vida perdidos (24, 25). Somado a

isso, o risco de desenvolvimento de cirrose, que ocorre em cerca de 30% dos casos e está

relacionado com a quantidade, o tempo de ingestão de álcool, além de fatores genéticos,

constitucionais e de gênero (24-27).

Algumas definições foram propostas para constituir o que seria um consumo de álcool

significativo e de risco para evolução da hepatopatia crônica. Os consensos das sociedades

americanas de gastroenterologia e da Sociedade Americana para o Estudo das Doenças do

Fígado definiram como um consumo significativo de álcool, ingestão maior que 210 gramas

por semana para os homens e 140 gramas para as mulheres, por um período de pelo menos 2

anos. Verificou-se que seriam necessários no mínimo 10 a 15 anos de consumo para a cirrose

desenvolver-se (28). Nos pacientes que já desenvolveram cirrose, a persistência da ingestão

etílica está associada a uma maior mortalidade (29), além do risco de surgimento de CHC

(30,31). A hepatite alcoólica também representa importante causa de morbi-mortalidade nos

pacientes com cirrose (25). A associação do álcool com outras hepatopatias está relacionada a

uma evolução mais rápida para cirrose e maior risco de CHC (32).

A literatura tem documentado um maior número de estudos que demonstram a

magnitude da DHGNA, representando uma parcela importante dos casos que evoluem para

cirrose, os quais até então eram tidos como de etiologia criptogênica e em cerca de 70% dos

casos, os pacientes apresentavam fatores de risco para DHGNA (33, 34). A DHGNA tem

distribuição mundial e trata-se da alteração hepática mais comum nos países ocidentais

industrializados, tendo como fatores de risco predisponentes a obesidade central, diabetes

mellitus tipo 2, dislipidemia e a síndrome metabólica (35). Nos Estados Unidos a prevalência

de DHGNA é de 10 a 46% e quando avaliada a presença de esteatohepatite não alcoólica

(EHNA), esta varia de 3 a 5 % (36, 37). A cirrose desenvolve-se quando a esteatose hepática

progride para EHNA, com posterior fibrose. O risco de evolução para cirrose tem apresentado

resultados muito variáveis em diversos estudos (38, 39, 40), todavia observa-se que os

16  

pacientes com biópsia demonstrando apenas esteatose, têm baixo risco do desenvolvimento de

fibrose significativa, ao contrário daqueles com esteatohepatite (41).

Outras doenças menos frequentes também podem ser causadoras de hepatopatia

crônica. Assim as doenças metabólicas de depósito como a doença de Wilson e a

hemocromatose hereditária, além das doenças autoimunes (cirrose biliar primária, hepatite

autoimune e colangite esclerosante primária) são as principais representantes deste grupo (42-

44). Outras etiologias como a deficiência de alfa-1 antitripsina, colangite esclerosante

secundária, medicamentos e contato com determinadas substâncias químicas, doenças

vasculares e trombosantes, também podem ser citadas.

1.4 Índices prognósticos

O prognóstico dos pacientes com cirrose é muito variável e pode ser influenciado por

fatores etiológicos, grau de comprometimento hepático, presença de complicações e de

comorbidades. A necessidade de diferenciar o grupo de pacientes com hepatopatia, bem como

de indicar procedimentos terapêuticos com segurança e estabelecer o prognóstico, tornou

necessária a aplicação de modelos na avaliação dos cirróticos. Um dos primeiros modelos

criados foi o a classificação de Child-Turcotte, tornando-se um dos métodos mais utilizados

para estratificar a gravidade, risco cirúrgico e prognóstico. Inicialmente esta classificação era

composta de cinco variáveis, que tinham por objetivo estratificar o risco na cirurgia de shunt

porto-cava em pacientes com cirrose. As variáveis eram albumina e bilirrubinas séricas,

ascite, encefalopatia hepática, além do estado nutricional (45). Posteriormente foram criadas

versões modificadas, como a classificação de Child-Turcotte-Pugh (CTP), a qual foi utilizada

para avaliação de risco cirúrgico em pacientes com cirrose, sendo substituído o estado

nutricional, pela avaliação do tempo de protrombina, expresso em segundos. Cada um dos

cinco parâmetros estimados recebia de 1 a 3 pontos, cuja soma perfazia o valor total do

escore, que varia entre cinco a quinze pontos. Os pacientes eram subclassificados em três

grupos: A (5 a 6 pontos), B (7 a 9 pontos) e C (acima de 9 pontos) (46). Uma revisão com 92

pacientes portadores de cirrose, submetidos a cirurgia abdominal, demonstrou mortalidade de

10 % para paciente com CTP classe A, 30% para classe B e 82% para pacientes com classe C

(47). Outros estudos também validaram a utilização desta classificação para estimar o risco

cirúrgico (48). Revisões sistemáticas apontaram que o escore de CTP é bom preditor de

desfecho em pacientes com complicações relacionadas à hipertensão portal, como a presença

17  

de ascite, ruptura de varizes esofágicas, descompensações de cirrose pelo VHC, cirrose biliar

primária, DHA, colangite esclerosante e síndrome de Budd-Chiari (49). Ademais, é útil para

avaliar o risco de ressecção cirúrgica de CHC e em cirurgias não hepáticas (49).

Outro modelo, mais recente e também cada vez mais utilizado é o Model for End

Stage Liver Disease (MELD), baseado nos níveis séricos das bilirrubinas, creatinina e INR. O

MELD foi adaptado para o uso na alocação de pacientes em lista de transplante hepático e

também expandido para predizer desfechos e prognóstico nos pacientes com cirrose.

Inicialmente, foi utilizado em estudo com 231 pacientes com cirrose, submetidos a TIPS.

Desses pacientes 110 morreram durante o seguimento, 70 ocorrendo nos primeiros três meses

do procedimento. O MELD identificou quais pacientes teriam uma sobrevida de três meses ou

menos (50). Observou-se também, neste mesmo estudo, uma mortalidade menor em pacientes

que tinham como etiologia da hepatopatia a ingestão de álcool ou doença colestática,

comparados às outras etiologias, como por exemplo, as de causa viral. Posteriormente, foi

publicado um estudo que analisou a acurácia do MELD em predizer a sobrevida de pacientes

com cirrose relacionada a várias etiologias, apresentando resultados melhores em comparação

com o CTP, para sobrevida em 3 meses, não havendo diferença com a utilização ou não de

variáveis clínicas, como ascite e encefalopatia hepática (EH), na acurácia do método (51).

Este modelo passou então a ser um dos melhores preditores de sobrevida nos pacientes

com cirrose, sendo adotado também como parâmetro para definir a alocação de fígados para

transplante (52). O estudo considerado o marco para esta definição incluiu 3.437 pacientes,

listados para transplante ortotópico de fígado (TOF) entre os anos de 1999 e 2001, dos quais

412 morreram durante um seguimento de 3 meses. A mortalidade foi diretamente

proporcional ao escore do MELD no tempo em que os pacientes eram listados, observando-se

que ela começava com 1.9% em pacientes com MELD menor que 9 e de 71% em escores

maiores que 40 (53). No ano de 2002 o MELD passou a ser utilizado como o critério de base

para alocação de fígados em lista de transplante, nos adultos maiores que 18 anos em vários

países, inclusive no Brasil, a partir do ano de 2006 (54).

Uma revisão de 118 estudos que tinha por objetivo avaliar a história natural e os

fatores prognósticos de sobrevivência em pacientes com cirrose, evidenciou que os escores

MELD e CTP são preditores de sobrevida a longo prazo, de pacientes com doença

descompensada (3). Estudo europeu que avaliou uma coorte de 129 cirróticos com

seguimento de um ano, concluiu que o escore MELD é excelente preditor de sobrevida a curto

18  

e médio prazo e seu desempenho é no mínimo equivalente ao do CTP. Além disso, escores

MELD mais elevados relacionam-se diretamente com disfunção hepática (55).

Estudos tem demonstrado a habilidade do escore de predizer mortalidade em pacientes

com hepatite alcoólica, síndrome hepatorrenal (SHR), sepse relacionada à peritonite

bacteriana espontânea, insuficiência hepática aguda, risco cirúrgico e mortalidade no trauma

em pacientes com cirrose, além de risco relacionado à hemorragia digestiva por varizes

esofágicas (56-63).

Revisão sistemática de D’Amico e colaboradores (3), incluindo 1649 pacientes com

cirrose, provenientes de duas coortes e que foi referendada no consenso de Baveno V (64),

propôs classificar a cirrose em quatro estágios. No estágio 1, o paciente cirrótico não possui

varizes esofágicas ou ascite, apresentando uma mortalidade de 1% ao ano. Quando se

desenvolvem varizes esofágicas, sem que as mesmas sangrem e não havendo ascite, o

paciente estaria no estágio 2, com uma mortalidade anual de 3,4%. O cirrótico com ascite,

independente da presença de varizes, foi classificado no estágio 3, com uma mortalidade de

20% ao ano. Por fim, os pacientes com hemorragia variceal classificaram-se no estágio 4,

havendo uma mortalidade anual de 57%. Os 2 primeiros estágios seriam os de cirrose

compensada, enquanto os 2 últimos caracterizariam cirrose descompensada. O carcinoma

hepatocelular poderia ocorrer em quaisquer dos estágios, a uma taxa de 3% ao ano,

comprometendo de maneira mais acentuada o prognóstico do paciente, independente do

estágio em que estivesse.

Alguns autores têm sugerido que a classificação dos estágios da cirrose

descompensada, deva ser modificada em função de uma melhor sobrevida anual de cirróticos

que apresentam sangramento digestivo, sem ascite, quando comparados aos com ascite sem

sangramento ou àqueles com ambas as complicações. Assim, o estágio 3 consistiria dos

pacientes com hemorragia variceal e sem ascite, o estágio 4, daqueles com ascite e sem

sangramento, e o no estágio 5, estariam os casos com as duas complicações. Finalmente,

consideram ainda a possível inclusão de mais um estágio, quando o prognóstico do cirrótico

seria afetado por sepse e/ou insuficiência renal (65).

1.5 Complicações

19  

A taxa anual de mortalidade dos pacientes compensados, geralmente assintomáticos,

varia de 1 a 3,4%. Já nos descompensados (presença de sangramento por varizes esofágicas,

ascite, encefalopatia e síndrome hepatorrenal) é de 20 a 57% ao ano (2, 3).

A cirrose pode ser classificada em compensada e descompensada, observando-se que a

mortalidade aumenta gradativamente, quando ocorre a apresentação de alguma de suas

complicações, as quais podem ocorrer de formas isoladas ou associadas e até mesmo como

apresentação inicial da doença. Algumas delas, como o CHC, geralmente ocorrem, em

períodos mais longos da doença, porém em pacientes com hepatopatia crônica relacionada ao

VHB, pode surgir até mesmo antes da transformação para cirrose. Quando o paciente passa a

ter a doença descompensada, há um aumento exponencial de sua morbidade e mortalidade. A

transição entre os dois estágios da cirrose ocorreria a uma taxa de cerca de 5-7% ao ano e

enquanto a sobrevida de cirróticos compensados costuma ser de mais de 12 anos, aquela dos

que apresentam complicações é de aproximadamente 2 anos (5, 66).

As principais complicações do paciente com cirrose são: ascite, PBE, EH, HDA, CHC

e SHR.

1.5.1 Ascite

A ascite é a complicação mais comum da cirrose, consistindo do acúmulo de líquido

na cavidade peritoneal. Em média 10 anos após o diagnóstico de cirrose, mais da metade dos

pacientes desenvolvem ascite (66, 67). Nos Estados Unidos, aproximadamente 80% dos

casos de ascite, são em pacientes com cirrose. (66).

Uma graduação da ascite foi proposta pelo International Ascite Club: Grau 1: leve,

detectável apenas pela ecografia; Grau 2: moderada, detectável ao exame físico, com

distensão moderada do abdômen; Grau 3: volumosa, com marcada distensão abdominal(67).

Essa graduação apresenta suas limitações e variabilidade de acordo com o examinador,

acarretando diminuição de sua utilidade na pratica clinica.

Está indicado que todo paciente com o diagnóstico de cirrose e que venha a

desenvolver ascite seja submetido à paracentese diagnóstica para confirmação da etiologia e

exclusão de peritonite bacteriana espontânea. Deve-se considerar a avaliação de TOF nestes

casos, pois aproximadamente 15% dos pacientes que desenvolvem ascite irão a óbito em 1

ano e 44% em 5 anos (68).

20  

1.5.2 Peritonite bacteriana espontânea

A PBE é a infecção do líquido de ascite, na qual se exclui um sítio intra-abdominal de

infecção ou a presença de solução de continuidade que possa provocar infecção secundária no

líquido ascítico. Ocorre em cerca de 12% dos pacientes com cirrose e ascite, justificando

desta maneira a efetivação de paracentese diagnóstica nestes casos (69). Geralmente os

pacientes se apresentam de forma assintomática ou oligossintomática, sendo as manifestações

mais comuns a dor abdominal, febre, EH e a ¨ascite refratária¨. O diagnóstico de PBE é feito

quando se identifica o crescimento bacteriano na análise do líquido de ascite ou através de

uma contagem de polimorfonucleares maior que 250 células/mm3 (70). O tratamento com

antibiótico deve ser instituído o mais precocemente possível, após a coleta do líquido ascítico,

sob pena de aumento das complicações, como SHR e risco de morte.

A identificação de fatores de risco para o desenvolvimento de PBE, como proteína no

líquido de ascite menor do que 1 g/dL, hemorragia digestiva e episódio prévio de PBE é

muito importante, visto que diversos estudos demonstraram que a profilaxia, com a utilização

de antibióticos, está relacionada à diminuição da morbi-mortalidade destes pacientes (71-75).

Uma revisão sistemática demonstrou que a mortalidade intra-hospitalar tem como

melhor fator preditor a presença de disfunção renal, (67% versus 11% nos pacientes sem

disfunção renal) (76).

Existe relação direta da gravidade da hepatopatia crônica com o desenvolvimento de

PBE. Esses pacientes apresentam um prognóstico mais reservado, com mortalidade não

relacionada diretamente à infecção de 20% a 40% (76), além de uma mortalidade em 1 e 2

anos de 70% e 80% (77). Por consequência devem ser encaminhados para avaliação de TOF.

1.5.3 Síndrome hepatorrenal

Caracteriza-se pelo desenvolvimento de insuficiência renal em paciente com doença

hepática avançada, como cirrose, hepatite alcoólica grave e insuficiência hepática fulminante.

Representa o estágio final de uma sequencia relacionada a redução de perfusão renal,

associada a progressão da doença hepática (78, 79). A SHR apresenta como critérios

21  

diagnósticos: cirrose associada à presença de ascite; creatinina sérica maior que 1,5 mg/dL;

ausência de melhora dos níveis séricos de creatinina (menor que 1,5 mg/dL) depois de dois

dias sem a utilização de diuréticos e expansão de volume com albumina humana (dose

recomendada de 1 g/kg de peso/dia, no máximo 100 g/dia); ausência de choque; exclusão de

uso de drogas nefrotóxicas; ausência de doenças parenquimatosas renais, evidenciadas por

proteinúria maior que 500 mg/dia, microhematúria com mais de 50 hemáceas por campo e ou

alteração renal à ecografia (78).

Estão descritos dois tipos de apresentação da SHR: tipo I, caracterizado pela

progressão rápida, com redução da função renal e creatinina sérica maior que 2,5 mg/dL ou

redução de 50 % da depuração de creatinina endógena de 24 horas, ao nível de 20 mL/minuto,

em menos do que 2 semanas. O tipo II apresenta curso mais arrastado, com uma sobrevida

média de aproximadamente 6 meses, em regra, sem fator precipitante (78).

Estudo com 229 pacientes com cirrose e ascite demonstrou evolução para SHR em

18% e 39% em 1 e 5 anos, respectivamente (80). Os pacientes com hiponatremia e níveis

elevados de atividade de renina plasmática, são os que apresentam maior risco (81).

A mortalidade dos pacientes com disfunção hepática e que desenvolvem SHR é

substancialmente aumentada e a reversão do quadro está diretamente relacionada ao

tratamento da insuficiência hepática e dos distúrbios hemodinâmicos existentes (57, 80-82).

1.5.4 Hemorragia digestiva alta

A HDA tem como etiologia comum, as alterações circulatórias em consequência da

hipertensão portal e os distúrbios da coagulação, secundários à disfunção hepática produzida

pela cirrose, além da própria hipertensão portal. Tem como foco mais frequente as varizes

esofágicas, presentes em cerca de metade dos pacientes com cirrose, podendo ser

provenientes também de varizes gástricas ou relacionada à gastropatia da hipertensão portal.

Da mesma forma que a população em geral, os indivíduos com cirrose e hipertensão

portal também estão expostos às hemorragias relacionadas à doença ulcerosa péptica,

apresentando até mesmo uma prevalência maior, que varia de 10% a 49% (83).

22  

Os eventos hemorrágicos relacionados às varizes esofágicas ocorrem em 25 a 40% dos

pacientes com cirrose (84). O surgimento das varizes de esôfago está diretamente relacionado

com um gradiente de hipertensão portal entre as veias porta e hepática, maior do que 12

mmHg, observando-se que o gradiente médio nos pacientes com sangramento é de 20 mmHg

(85, 86).

Estudo prospectivo que avaliou o surgimento e a progressão de varizes esofágicas em

pacientes com cirrose, identificou o desenvolvimento de novos vasos em 5% dos pacientes no

primeiro ano e em 28 % no terceiro. As varizes de pequeno calibre têm progressão de 12% no

primeiro e de 31% no terceiro ano. Os fatores preditores de sangramento são o grau de

disfunção hepática, a presença de marcas vermelhas e o calibre das varizes, além da etiologia

alcoólica da hepatopatia (87).

É uma das complicações mais graves e relacionada a grande mortalidade nos

cirróticos. Antes do advento da terapia combinada (ligadura endoscópica e a utilização de

substâncias vasoativas), para a hemorragia aguda por varizes esofágicas, a mortalidade era de

aproximadamente 30% em um episódio único e apenas um terço dos pacientes sobreviviam

no período de um ano (88).

A profilaxia dos eventos hemorrágicos pode ser primária ou secundária. Os pacientes

sem varizes devem submeter-se a exames endoscópicos com periodicidade determinada pela

classificação de CTP. A recomendação de profilaxia primária está indicada em pacientes com

varizes de pequeno calibre e marcas vermelhas, em pacientes com CTP B ou C e nos

pacientes com varizes esofágicas de médio e grande calibres. Pode ser realizada com a

utilização de betabloqueadores não seletivos ou ligadura elástica. A profilaxia secundária é

recomendada, utilizando-se terapia combinada com betabloqueadores não seletivos e ligadura

elástica (89, 90).

Outras formas de abordagem terapêutica também podem ser recomendadas de acordo

com cada caso, como a utilização de transjugular intrahepatic portosystemic shunts (TIPS)

ou mesmo a recomendação de transplante hepático.

1.5.5 Encefalopatia Hepática

A EH se apresenta como alteração neuropsiquiática, relacionada com a disfunção

hepática, pode tanto ser aguda como crônica, tendo como característica ser uma alteração

23  

potencialmente reversível com o tratamento dos fatores precipitantes. Alguns pacientes

podem apresentar sequelas, como atrofia cerebral e disfunção cognitiva com a persistência do

quadro. Nos pacientes com cirrose ocorre, geralmente, em casos de doença mais avançada, ou

seja, com maior grau de disfunção hepática.

Os principais fatores precipitantes ou de agudização são: desidratação, hemorragia

gastrointestinal, hipopotassemia, acidose metabólica, hipoxemia, uso de sedativos como

benzodiazepínicos, hipoglicemia, infecções, podendo ser desencadeada também, por trombose

de veia porta aguda (91).

A EH é classificada em tipos A, B e C, de acordo com as diferentes formas de

acometimento hepático. O tipo A refere-se àquela associada à falência hepática aguda; o tipo

B é devido à shunts porto-sistêmicos não associados à insuficiência hepatocelular e o tipo C é

aquele presente em pacientes com cirrose. A tipo C subdivide-se em episódica (precipitada,

espontânea ou recorrente), persistente (leve, acentuada, dependente de tratamento) e mínima

(92).

O metabolismo alterado da amônia, com o seu aumento sérico, há muito tempo tem

sido relacionado como pedra angular na patogênese da EH, a despeito das inúmeras teorias

existentes (93).

O diagnóstico em geral é feito pela história clínica, com a presença de alteração no

estado mental em pacientes com cirrose, não havendo dificuldade em sua identificação nos

casos de EH evidente. A escala de West-Haven, organiza cronologicamente a evolução do

quadro de EH e leva em conta os aspectos de consciência, intelectuais e comportamentais,

além de alterações neurológicas. Nos pacientes com encefalopatia mínima, muitas vezes esse

diagnóstico pode ser ignorado. O eletroencefalograma, alguns testes cognitivos e exames de

imagem, como de ressonância magnética podem auxiliar no diagnóstico (94, 95).

Estudos tem demonstrado que a recuperação de episódio de encefalopatia muitas vezes

não é total, apresentando sequelas de aprendizagem, memória e intelectualidade, quando

avaliados por testes psicométricos. Ademais os pacientes com episódios recorrentes e

prolongados estão sob maior risco de permanecerem com sequelas (96, 97).

24  

1.5.6 Carcinoma hepatocelular

Tumor primário mais frequente do fígado. Geralmente tem seu desenvolvimento

relacionado com hepatopatia crônica, principalmente nos pacientes que tem como etiologia o

VHC e VHB.

É a quinta neoplasia mais frequentemente diagnosticada e a segunda causa de morte

relacionada a neoplasias em homens. No sexo feminino é a sétima neoplasia e a sexta causa

de óbito relacionada a câncer (98). Aproximadamente 80 % dos casos estão associados com a

infecção crônica por VHB ou VHC (99). No Brasil, este tumor não consta entre os 10 mais

incidentes e há poucos dados acerca de sua real prevalência. Corresponde à oitava causa de

morte por câncer no país. Sua taxa de incidência padronizada por 100 mil habitantes foi de

11,96% em Porto Alegre, 7,42 % em Recife e 2,98% em São Paulo, dados referentes aos anos

de 2000 a 2004 (100). Os pacientes com cirrose têm uma incidência anual de CHC de 1 à 8%,

variando conforme a etiologia (101).

O diagnóstico de CHC pode ser feito através de biópsia das lesões suspeitas, porém na

maioria dos casos é desnecessário, visto que o desenvolvimento de exames de imagem cada

vez mais acurados tem sido utilizados como critérios diagnósticos bem estabelecidos. A

utilização da ecografia abdominal a cada 6 meses, para o rastreamento, está indicada em todo

paciente com cirrose e na suspeita de lesões, os pacientes devem submeter-se à tomografia

computadorizada ou ressonância magnética de abdômen, métodos que na maioria das vezes

tem cumprido o objetivo de diagnosticar a presença da neoplasia. Estudo com 74 pacientes

portadores de nódulos entre 1 e 2 cm, demonstrou uma especificidade de 100% para o

diagnóstico de CHC, se os achados característicos de impregnação arterial e posterior

lavagem na fase venosa tardia estiverem presentes nas lesões suspeitas, em pelo menos um

dos exames de imagem (102).

Atualmente a recomendação no diagnóstico de lesões hepáticas é a seguinte: nódulos

menores que 1 cm devem ser seguidos com ecografia a cada 3 meses. Se não houver

crescimento em um período de 2 anos, o paciente pode seguir o acompanhamento rotineiro de

um exame ecográfico a cada 6 meses. Nódulo maior que 1 cm, deve ser investigado com

exame de tomografia ou ressonância de abdômen e se houverem as características típicas de

CHC, o diagnóstico estará estabelecido. Por outro lado, se as características não forem típicas,

o paciente deve submeter-se a um segundo exame (tomografia ou ressonância), de acordo

com o primeiro que foi feito ou biópsia da lesão (103).

25  

A utilização de marcadores séricos, como a alfafetoproteína, tem perdido espaço no

diagnóstico e buscam-se novos exames que possam ter uma melhor acurácia. A sensibilidade

e especificidade do marcador é variável, de acordo com o ponto de corte definido. Uma

revisão sistemática que incluiu 5 estudos, com um valor de ponto de corte maior do que 20

mcg/L demonstrou uma sensibilidade de 41 a 65%, especificidade de 80 a 94% (104).

Estudos tem demonstrado a utilidade da alfafetoproteina como um marcador

prognóstico em pacientes que serão submetidos à ressecção hepática e nos candidatos à TOF,

relacionando níveis séricos maiores que 1000 mcg/L, a elevado risco de recorrência após o

transplante, independente do tamanho do tumor (105).

2. JUSTIFICATIVA

Tendo em vista o prognóstico reservado dos pacientes com cirrose, torna-se

importante que conheçamos o perfil destes doentes, tanto do ponto de vista hospitalar quanto

26  

ambulatorial. Os estudos em nível hospitalar refletem uma população selecionada que

apresenta sobrevida reduzida, em regra, relacionada à presença das complicações. No entanto

estudos que avaliam pacientes com cirrose em nível ambulatorial são escassos na literatura. O

conhecimento das características desses pacientes permitirá uma melhor abordagem

terapêutica, bem como trará subsídios para que os gestores de saúde planejem estratégias com

maior solidez.

3. OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral

27  

Avaliar as características e a evolução dos pacientes com diagnóstico de cirrose,

atendidos em nível ambulatorial.

3.2 Objetivos específicos

- Avaliar as características demográficas e clínicas dos pacientes com cirrose.

- Identificar a presença de complicações relacionadas a cirrose no início e ao final do

acompanhamento do estudo.

- Avaliar a sobrevida geral e de acordo com a etiologia da hepatopatia crônica.

- Identificar fatores de risco relacionados ao óbito.

REFERÊNCIAS

28  

1- Giannousis IP, Papatheodoridis GV, Deutsch, MJ, Manolakopoulos SG, Manesis EK,

Koskinas JS, et al. The burden and recent epidemiological changes of the main chronic

liver diseases in a Greek referral tertiary centre. Eur J Gastroenterol Hepatol 2010; 22:

172-9.

2- Gines P, Quintero E, Arroyo V, Teres J, Bruguera M, Rimola A. Compensated cirrhosis:

natural history and prognostic factors. Hepatology 1987; 7: 122-8.

3- D’Amico G, Garcia-Tsao G, Pagliaro L. Natural History and prognostic indicators of

survival in cirrhosis. A systematic review of 118 studies. J Hepatol 2006; 44: 217-31.

4- D’Amico G. Natural history of compensated cirrhosis and varices. In: Boyer TD,

Groszmann RJ. Complications of cirrhosis: Pathogenesis, consequences and therapy.

AASLD 2001; 118-23.

5- D’Amico G, Morabito A, Pagliaro L, Marubini E and the group of “V. Cervello” Hospital.

Survival and prognostic indicators in compensated and descompensated cirrhosis. Dig Dis

Sci 1986; 31: 468-75.

6- Rakoski MO, McCammon RJ, Piette JD, Iwashyna TJ, Marrero JA, Lok AS, et al. Burden

of Cirrhosis on Older Americans and Their Families: analysis of the Health and

Retirement Study. Hepatology 2012; 55: 184-91.

7- Huo T, Lin HC, WU JC, Lee FY, Hou MC, Lee PC, et al. Proposal of a modified Child-

Turcotte-Pugh scoring system and comparison with the Model for endstage liver disease

for outcome prediction in patients with cirrhosis. Liver Transpl 2006; 12: 65-71.

8- World Health Organization. Projections of mortality and burden of disease to 2030.

WHO, Geneva 2007.

9- DATASUS. Estatísticas de saúde: Mortalidade no Rio Grande do Sul. Disponível

em:http://www.saude.rs.gov.br/wsa/portal/index.jsp?menu=organograma&cod=746;2006.

Acesso em: 15 jun.. 2013. Informações de Saúde: Mortalidade no Brasil. Doenças do

aparelho digestivo. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br; 2007. Acesso em: 15 jun.

2013.

10- Haellen J, Norden J. Liver Cirrhosis Unsuspected During Life. A Series Of 79 Cases. J

Chronic Dis 1964; 17: 951-8.

11- Udell JA, Wang CS, Tinmouth J, FitzGerald JM, Ayas NT, Simel DL, et al. Does this

patient with liver disease have cirrhosis? JAMA 2012; 307: 832-42.

12- Bonacini M, Hadi G, Govindarajan S, Lindsay KL. Utility of a discriminant score for

diagnosing advanced fibrosis or cirrhosis in patients with chronic hepatitis C virus

infection. Am J Gastroenterol 1997; 92: 1302-4.

29  

13- Lok AS, Ghany MG, Goodman ZD, Wright EC, Everson GT, Sterling RK, et al.

Predicting cirrhosis in patients with hepatitis C based on standard laboratory tests: results

of the HALT-C cohort. Hepatology 2005; 42: 282-92.

14- Bravo AA, Sheth SG, Chopra S. Liver biopsy. N Engl J Med 2001; 344: 495-500.

15- Pereira LM, Martelli CM, Merchán-Hamann E, Montarroyos UR, Braga MC, de Lima

ML, et al. Hepatitis Study Group. Population-based multicentric survey of hepatitis B

infection and risk factor differences among three regions in Brazil. Am J Trop Med Hyg

2009; 81: 240-7.

16- Schuppan D, Afdhal NH. Liver Cirrhosis. Lancet 2009; 371: 838–51.

17- Chindamo MC, Soares JAS, Coelho HSM. Hepatite crônica pelo vírus C. In: Mattos AA,

Dantas- Corrêa EB. Tratado de hepatologia. Rio de Janeiro: Rúbio; 2010: p. 211-7.

18- Hoofnagle JH, Seeff LB. Peginterferon and ribavirin for chronic hepatitis C. N Engl J

Med. 2006; 355: 2444-51.

19- Planas R, Balleste B, Alvarez MA, Rivera M, Montoliu S, Galeras JA. Natural history of

decompensated hepatitis C virus-related cirrhosis. A study of 200 patients. J Hepatol

2004; 40: 823-30.

20- Estudo de Prevalência de Base Populacional das Infecçoes pelos Vírus das Hepatites A, B

e C nas Capitais do Brasil. Disponível em:

http://www.aids.gov.br/sites/default/files/anexos/publicacao/2010/50071/estudo_prevalen

cia_hepatites_pdf_26830.pdf. Acesso em: 15 nov. 2013.

21- Paraná R, Almeida D. HBV epidemiology in Latin America. J Clin Virol 2005; 34:130-3.

22- Souza LA, Mattos AA, Fiorini M, Ribeiro P, Tovo CV. Clinical outcome of a patient

cohort with acute hepatitis B. Clinics 2013; 68: 718-720.

23- Maynard JE. Hepatitis B: global importance and need for control. Vaccine 1990; 8: 18-20.

24- Paula H, Asrani SK, Boetticher NC, Pedersen R, Shah VH, Kim WR. Alcoholic liver

disease-related mortality in the United States: 1980-2003. Am J Gastroenterol 2010; 105:

1782-7.

25- Lucey M R, Mathurin P, Morgan T R. Alcoholic Hepatitis. N Eng J Med 2009; 360: 2758-

69.

26- Neuberger J, Crossley IR, Saunders JB, Davis M, Portmann B, Eddleston AL, et al.

Antibodies to alcohol altered liver cell determinants in patients with alcoholic liver

disease, Gut 1984; 25: 300-4.

30  

27- Suzuki A, Angulo P, St Sauver J, Muto A, Okada T, Lindor K. Light to moderate alcohol

consumption is associated with lower frequency of hipertransaminasemia, Am J

Gastroenterol 2007; 102: 1912-19.

28- Chalasani N, Younossi Z, Lavine JE, Diehl AM, Brunt EM, Cusi K, et al. The diagnosis

and management of non-alcoholic fatty liver disease: practice guideline by the AGA,

AASLD and ACG. Gastroenterology 2012; 142: 2005-26.

29- Addolorato G, Leggio L, Ferrulli A, Cardone S, Vonghia L, Mirijello A, et al.

Effectiveness and safety of baclofen for maintence of alcohol abstinence in alcohol-

dependent patients with liver cirrhosis randomized, double-blind controlled study. Lancet

2007; 370: 1915-22.

30- Morgam TR, Mandayam S, Jamal MM. Alcohol and hepatocellular carcinoma, Am J

Gastroenterol 2004; 127: 87-96.

31- Stickel F, Schuppan D, Hahn EG, Seitz HK. Cocarcinogenic effects of alcohol in

hepatocarcinogenesis. Gut 2002; 51: 132-9.

32- Vidali M, Occhino G, Ivaldi A, Rigamonti C, Sartori M, Albano E. Combination of

Oxidative stress and steatosis is a risk factor for fibrosis in alcohol-drinking patients with

chronic hepatitis C. Am J Gastroenterol 2008; 143: 147-53.

33- Sanyal AJ, Chalasani N, Kowdley KV, McCullough A, Diehl AM, Bass NM, et al.

Pioglitazone, Vitamin E, or Placebo for Nonalcoholic Steatohepatitis. N Engl J Med 2010;

362: 1675-85.

34- Caldwell SH, Oelsner DH, Iezzoni JC, Hespenheide EE, Battle EH, Driscoll CJ.

Cryptogenic cirrhosis: clinical characterization and risk factors for underlying disease.

Hepatology 1999; 29: 664-9.

35- Poonawala A, Nair SP, Thuluvath PJ. Prevalence of obesity and diabetes in patients with

cryptogenic cirrhosis: a case-control study. Hepatology 2000; 32: 689-92.

36- Younossi ZM, Stepanova M, Afendy M, Fang Y, Younossi Y, Mir H, et al. Changes in

the prevalence of the most common causes of chronic liver diseases in the United States

from 1988 to 2008. Clin Gastroenterol Hepatol 2011; 9: 524-30.

37- Williams CD, Stengel J, Asike MI, Torres DM, Shaw J, Contreras M et al. Prevalence of

nonalcoholic fatty liver disease and nonalcoholic steatohepatitis among a largely middle-

aged population utilizing ultrasound and liver biopsy: a prospective study.

Gastroenterology 2011; 140: 124-31.

31  

38- Vernon G, Baranova A, Younossi ZM. Systematic review: the epidemiology and natural

history of non-alcoholic fatty liver disease and non-alcoholic steatohepatitis in adults.

Aliment Pharmacol Ther 2011; 34: 274-85.

39- Wong VW, Wong GL, Choi PC, Chan AW, Li MK, Chan HY, et al. Disease progression

of non-alcoholic fatty liver disease: a prospective study with paired liver biopsies at 3

years. Gut 2010; 59: 969-74.

40- Argo CK, Northup PG, Al-Osaimi AM, Caldwell SH. Systematic review of risk factors

for fibrosis progression in non-alcoholic steatohepatitis. J Hepatol 2009; 51: 371-9.

41- Torres DM, Williams CD, Harrison SA. Features, diagnosis, and treatment of

nonalcoholic fatty liver disease. Clin Gastroenterol Hepatol 2012; 10: 837-58.

42- Manns MP, Czaja AJ, Gorham JD, Krawitt EL, Mieli-Vergani G. Diagnosis and

Management of Autoimmune Hepatitis. Hepatology 2010; 51: 2193-213.

43- Shetty K, Rybicki L, Carey WD. The Child–Pugh classification as a prognostic indicator

for survival in primary sclerosing cholangitis. Hepatology 1997; 25: 1049-53.

44- Van Dam GM, Gips CH, Reisman Y, Maas KW, Purmer IM, Huizenga JR, et al. Major

clinical events, signs and severity assessment scores related to actual survival in patients

who died from primary biliary cirrhosis. A long-term historical cohort study.

Hepatogastroenterology 1999; 46:108-15.

45- Child, CG, Turcotte, JG. Surgery and portal hypertension. Major Probl Clin Surg 1964; 1:

1-85.

46- Pugh RN, Murray-Lyon IM, Dawson JL, Pietroni MC, Williams R. Transection of the

oesophagus for bleeding oesophageal varices. Br J Surg 1973; 60: 646–9.

47- Mansour A, Watson W, Shayani V, Pickleman J. Abdominal operations in patients with

cirrhosis: still a major surgical challenge. Surgery 1997; 122: 730-5.

48- Garrison RN, Cryer HM, Howard DA, Polk HC Jr. Clarification of risk factors for

abdominal operations in patients with hepatic cirrhosis. Ann Surg 1984; 199: 648-55.

49- Durand F, Valla D. Assessment of prognosis of cirrhosis. Semin Liver Dis. 2008; 28: 110-

22.

50- Malinchoc M, Kamath PS, Gordon FD, Peine CJ, Rank J, ter Borg PC. A model to predict

poor survival in patients undergoing transjugular intrahepatic portosystemic shunts.

Hepatology 2000; 31: 864-71.

51- Kamath PS, Wiesner RH, Malinchoc M, Kremers W, Therneau TM, Kosberg CL, et al. A

model to predict survival in patients with end-stage liver disease. Hepatology 2001; 33:

464-70.

32  

52- Wiesner R, Edwards E, Freeman R, Harper A, Kim R, Kamath P, et al. Model for end-

stage liver disease (MELD) and allocation of donor livers. Gastroenterology 2003; 124:

91-6.

53- Ravaioli M, Grazi GL, Ballardini G, Cavrini G, Ercolani G, Cescon M, et al. Liver

transplantation with the Meld system: a prospective study from a single European center.

Am J Transplant 2006; 6: 1572-7.

54- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Portaria GM nº 1160 de

29 de maio de 2006. Diário Oficial da União nº 103, Brasília, 31 de maio de 2006.

55- Botta F, Giannini E, Romagnoli P, Fasoli A, Malfatti F, Chiarbonello B, et al. MELD

scoring system is useful for predicting prognosis in patients with liver cirrhosis and is

correlated with residual liver function: A European study. Gut. 2003; 52: 134-9.

56- Dunn W, Jamil LH, Brown LS, Wiesner RH, Kim WR, Menon KV, et al. MELD

accurately predicts mortality in patients with alcoholic hepatitis. Hepatology 2005; 41:

353-8.

57- Alessandria C, Ozdogan O, Guevara M, Restuccia T, Jiménez W, Arroyo V, et al. MELD

score and clinical type predict prognosis in hepatorenal syndrome: relevance to liver

transplantation. Hepatology 2005; 41: 1282-9.

58- Terra C, Guevara M, Torre A, Gilabert R, Fernández J, Martín-Llahí M, et al. Renal

failure in patients with cirrhosis and sepsis unrelated to spontaneous bacterial peritonitis:

value of MELD score. Gastroenterology 2005; 129: 1944-53.

59- Schmidt LE, Larsen FS. MELD score as a predictor of liver failure and death in patients

with acetaminophen-induced liver injury. Hepatology 2007; 45: 789-96.

60- Taylor RM, Davern T, Munoz S, Han SH, McGuire B, Larson AM, et al. Fulminant

hepatitis A virus infection in the United States: Incidence, prognosis, and outcomes.

Hepatology 2006; 44: 1589-97.

61- Inaba K, Barmparas G, Resnick S, Browder T, Chan LS, Lam L, et al. The Model for

End-Stage Liver Disease score: an independent prognostic factor of mortality in injured

cirrhotic patients. Arch Surg 2011; 146: 1074-8.

62- Chalasani N, Kahi C, Francois F, Pinto A, Marathe A, Bini EJ, et al. Model for end-stage

liver disease (MELD) for predicting mortality in patients with acute variceal bleeding.

Hepatology 2002; 35: 1282-4.

63- Amitrano L, Guardascione MA, Bennato R, Manguso F, Balzano A. MELD score and

hepatocellular carcinoma identify patients at different risk of short-term mortality among

cirrhotics bleeding from esophageal varices. J Hepatol 2005; 42: 820-5.

33  

64- D'amico G. Stages Classification of Cirrhosis: Where Do We Stand? In: De Franchis R.

(Ed.). Portal Hypertension V: Proceedings of the Fifth Baveno International Consensus

Workshop. 5th. Oxford: Wiley-Blackwell, 2011. p.132-139.

65- Arvaniti V, D'Amico G, Fede G, Manousou P, Tsochatzis E, Pleguezuelo M, et al.

Infections in patients with cirrhosis increase mortality four-fold and should be used in

determining prognosis. Gastroenterology 2010; 139: 1246-56.

66- Runyon BA. Care of patients with ascites. N Engl J Med 1994; 330: 337-42.

67- Moore KP, Wong F, Gines P, Bernardi M, Ochs A, Salerno F, et al. The management of

ascites in cirrhosis: report on the consensus conference of the International Ascites Club.

Hepatology 2003; 38: 258-66.

68- Planas R, Montoliu S, Balleste B, Rivera M, Miguel M, Masnou H, et al. Natural history

of patients hospitalized for management of cirrhotic ascites. Clin Gastroenterol Hepatol

2006; 4: 1385-1394.

69- Borzio M, Salerno F, Piantoni L, Cazzaniga M, Angeli P, Bissoli F, et al. Bacterial

infection in patients with advanced cirrhosis: a multicentre prospective study. Dig Liver

Dis 2001; 33: 41-48.

70- Hoefs JC, Canawati HN, Sapico FL, Hopkins RR, Weiner J, MontgomerieJZ.

Spontaneous bacterial peritonitis. Hepatology 1982; 2: 399-407.

71- Runyon BA. Low-protein-concentration ascitic fluid is predisposed to spontaneous

bacterial peritonitis. Gastroenterology 1986; 91: 1343-6.

72- Gines P, Rimola A, Planas R, Vargas V, Marco F, Almela M, et al. Norfloxacin prevents

spontaneous bacterial peritonitis recurrence in cirrhosis: results of a double-blind,

placebo-controlled trial. Hepatology 1990; 12: 716-724.

73- Soriano G, Guarner C, Tomas A, Villanueva C, Torras X, Gonzalez D, et al. Norfloxacin

prevents bacterial infection in cirrhotics with gastrointestinal hemorrhage.

Gastroenterology 1992; 103: 1267-1272.

74- Fernandez J, Ruiz del Arbol L, Gomez C, Durandez R, Serradilla R, Guarner C, et al.

Norfloxacin vs ceftriaxone in the prophylaxis of infections in patients with advanced

cirrhosis and hemorrhage. Gastroenterology 2006; 131: 1049-1056.

75- Bernard B, Grange JD, Khac N, Amiot X, Opolon P, Poynard T. Antibiotic prophylaxis

for the prevention of bacterial infections in cirrhotic patients with gastrointestinal

bleeding: a meta-analysis. Hepatology 1999; 29: 1655-61.

34  

76- Tandon P, Garcia-Tsao G. Renal dysfunction is the most important independent predictor

of mortality in cirrhotic patients with spontaneous bacterial peritonitis. Clin Gastroenterol

Hepatol 2011; 9: 260-5.

77- Titó L, Rimola A, Ginès P, Llach J, Arroyo V, Rodés J. Recurrence of spontaneous

bacterial peritonitis in cirrhosis: frequency and predictive factors. Hepatology 1988; 8: 27-

31.

78- Salerno F, Gerbes A, Gines P, Wong F, Arroyo V. Diagnosis, prevention and treatment of

the hepatorenal syndrome in cirrhosis: a consensus workshop of the international ascites

club. Gut 2007; 56: 1310-18.

79- Ginès P, Schrier RW. Renal failure in cirrhosis. N Engl J Med 2009; 361: 1279-90.

80- Ginès A, Escorsell A, Ginès P, Saló J, Jiménez W, Inglada L, et al. Incidence, predictive

factors, and prognosis of the hepato-renal syndrome in cirrhosis with ascites.

Gastroenterology 1993; 105: 229-36.

81- Cassinello C, Moreno E, Gozalo A, Ortuño B, Cuenca B, Solís-Herruzo JA. Effects of

orthotopic liver transplantation on vasoactive systems and renal function in patients with

advanced liver cirrhosis. Dig Dis Sci 2003; 48: 179-86.

82- Marik PE, Wood K, Starzl TE. The course of type 1 hepato-renal syndrome post liver

transplantation. Nephrol Dial Transplant 2006; 21: 478-82.

83- Siringo S, Burroughs AK, Bolondi L, Muia A, Di Febo G, Miglioli M, et al. Peptic ulcer

and its course in cirrhosis: an endoscopic and clinical prospective study. J Hepatol 1995;

22: 633-41.

84- Smith JL, Graham DY. Variceal hemorrhage: a critical evaluation of survival analysis.

Gastroenterology 1982; 82: 968-73.

85- Graham DY, Smith JL. The course of patients after variceal hemorrhage.

Gastroenterology 1981; 80: 800-9.

86- Grace ND. Prevention of initial variceal hemorrhage. Gastroenterol Clin North Am 1992;

21: 149-61.

87- Garcia-Tsao G, Groszmann RJ, Fisher RL, Conn HO, Atterbury CE, Glickman M. Portal

pressure, presence of gastroesophageal varices and variceal bleeding. Hepatology 1985; 5:

419-24.

88- Merli M, Nicolini G, Angeloni S, Rinaldi V, De Santis A, Merkel C, et al. Incidence and

natural history of small esophageal varices in cirrhotic patients. J Hepatol 2003; 38: 266-

72.

35  

89- Garcia-Tsao G, Sanyal AJ, Grace ND, Carey W. Prevention and management of

gastroesophageal varices and variceal hemorrhage in cirrhosis. Hepatology 2007; 46: 922-

38.

90- de Franchis R, Baveno V Faculty. Revising consensus in portal hypertension: report of the

Baveno V consensus workshop on methodology of diagnosis and therapy in portal

hypertension. J Hepatol 2010; 53: 762-8.

91- Khungar V, Poordad F. Hepatic encephalopathy. Clin Liver Dis. 2012; 16: 301-20.

92- Ferenci P., Lockwood A, Mullen K, Tarter R, Weissenborn K, Blei AT. Hepatic

Encephalopathy- definition, nomenclature, diagnosis and quantification: final report of the

Working Party at the World Congresses of Gastroenterology, Viena, 1998. Hepatology

2002; 35: 716-21.

93- Bersagliere A, Raduazzo ID, Nardi M, Schiff S, Gatta A, Amodio P, et al. Induced

hyperammonemia may compromise the ability to generate restful sleep in patients with

cirrhosis. Hepatology 2012; 55: 869-78.

94- Amodio P, Marchetti P, Del Piccolo F, de Tourtchaninoff M, Varghese P, Zuliani C, et al.

Spectral versus visual EEG analysis in mild hepatic encephalopathy Clin Neurophysiol.

1999; 110: 1334-44.

95- Krieger D, Krieger S, Jansen O, Gass P, Theilmann L, Lichtnecker H. Manganese and

chronic hepatic encephalopathy Lancet. 1995; 346: 270-4.

96- Bajaj JS, Schubert CM, Heuman DM, Wade JB, Gibson DP, Topaz A, et al. Persistence of

cognitive impairment after resolution of overt hepatic encephalopathy. Gastroenterology

2010; 138: 2332-40.

97- Riggio O, Ridola L, Pasquale C, Nardelli S, Pentassuglio I, Moscucci F, et al. Evidence of

persistent cognitive impairment after resolution of overt hepatic encephalopathy. Clin

Gastroenterol Hepatol 2011; 9: 181-3.

98- Jemal A, Bray F, Center MM, Ferlay J, Ward E, Forman D. Global cancer statistics. CA

Cancer J Clin 2011; 61: 69-90.

99- Perz JF, Armstrong GL, Farrington LA, Hutin YJ, Bell BP. The contributions of hepatitis

B virus and hepatitis C virus infections to cirrhosis and primary liver cancer worldwide. J

Hepatol 2006; 45: 529-38.

100- Inca – Câncer no Brasil. Disponível para acesso em:

http://www.inca.gov.br/cancernobrasil/2010/docs/taxa_neoplasias/Parte453 registro de

base populacional completo.pdf. Acesso em: 19 dez. 2013.

36  

101- Bruix J, Sherman M. Management of Hepatocellular Carcinoma: An Update.

Hepatology 2011; 53: 1020-2.

102- Sersté T, Barrau V, Ozenne V, Vullierme MP, Bedossa P, Farges O, et al. Accuracy and

disagreement of computed tomography and magnetic resonance imaging for the

diagnosis of small hepatocellular carcinoma and dysplastic nodules: role of biopsy.

Hepatology 2012; 55: 800-6.

103- Llovet JM, Ducreux M, Lencioni R, Di Bisceglie AM, Galle PR, Dufour JF, et al.

EASL. EORTC. Clinical Practice Guidelines: Management of hepatocellular carcinoma

J Hepatol 2012; 56: 908–943.

104- Gupta S, Bent S, Kohlwes J. Test characteristics of alpha-fetoprotein for detecting

hepatocellular carcinoma in patients with hepatitis C. A systematic review and critical

analysis. Ann Intern Med 2003; 139: 46-50.

105- Ioannou GN, Perkins JD, Carithers RL Jr. Liver transplantation for hepatocellular

carcinoma: impact of the MELD allocation system and predictors of survival.

Gastroenterology 2008; 134: 1342-5.

5. ARTIGO

(Elaborado segundo as normas de publicação da revista Liver International)

37  

Avaliação de Pacientes com Cirrose Atendidos em Nível Ambulatorial

Título resumido: Pacientes com cirrose em ambulatório.

Jorge Alberto John1, Angelo Alves de Mattos2, Suelen Aparecida da Silva Miozzo1, Pedro

Henrique Comerlato3, Mariana Porto3, Priscila Contiero3, Renata Rodrigues da Silva3

1 Médico Gastroenterologista, Mestrando do Curso de Pós-Graduação em Medicina:

Hepatologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).

2 Professor Titular da Disciplina de Gastroenterologia e do Curso de Pós-Graduação em

Medicina: Hepatologia da UFCSPA.

3 Acadêmico de Medicina da UFCSPA.

Dados para correspondência:

Jorge Alberto John

Rua João Caetano, 79/1403. CEP 90460-270. Porto Alegre / RS.

Telefone: (55 51) 97155878

Email: [email protected]

RESUMO

38  

Introdução: A cirrose representa um problema de saúde pública que, geralmente,

evolui com complicações graves. Objetivo: Avaliar os pacientes com cirrose, atendidos em

nível ambulatorial. Métodos: Foi realizado um estudo de coorte, retrospectivo, em nível

ambulatorial, que avaliou 527 pacientes com cirrose. Foram analisadas variáveis

demográficas, clínicas e laboratoriais, bem como os fatores de risco relacionados ao óbito,

utilizado-se um modelo de regressão de azares proporcionais de Cox. O método de Kaplan-

Meier foi utilizado para analisar a sobrevida. Resultados: Os pacientes tinham média de idade

de 52,9±9,7 anos, eram mais frequentemente do sexo masculino (59%), apresentando um

Child B ou C em 43 % dos casos no inicio do acompanhamento e em 55% ao final. A média

do MELD foi de 12,0±4,1 e 13,3±5,3, respectivamente. A etiologia preponderante de

hepatopatia foi o vírus da hepatite C (VHC). As complicações mais frequentes ao início do

acompanhamento foram ascite (32%), hemorragia digestiva (16%) e encefalopatia hepática

(EH) (11%). Ao final do seguimento foram ascite (34%), EH (17%) e carcinoma

hepatocelular (CHC) (17%). O tempo mediano de seguimento foi de 5 anos e o tempo

mediano de sobrevida de 12 anos. A taxa de sobrevida em 2, 5 e 10 anos foi de 89%, 73%, e

57%, respectivamente. Os fatores de risco ao inicio do seguimento, que obtiveram relação

com óbito foram, em análise multivariável, etiologia por VHC, presença de CHC, além de

níveis séricos de albumina. Ao final do seguimento, observamos, além da etiologia por VHC,

a presença de CHC, o grau de disfunção hepática (Child B ou C e MELD maior que 15), além

dos níveis de albumina, de creatinina e de sódio sérico. Conclusão: Os pacientes com cirrose

acompanhados em nível ambulatorial, a despeito de apresentarem uma sobrevida razoável,

tem um prognóstico mais reservado quando a etiologia da hepatopatia estiver relacionada ao

VHC e se apresentarem com CHC ou hipoalbuminemia.

Palavras-chave: Cirrose. Vírus da hepatite C. Carcinoma hepatocelular. Análise de

sobrevida.

ABSTRACT

39  

Introduction: Cirrhosis represents a public health problem that usually develops with severe

complications. Objectives: To evaluate patients with cirrhosis treated on an outpatient basis.

Methods: A cohort study, retrospective on an outpatient basis, which evaluated 527 patients

with cirrhosis was performed. Demographic, clinical and laboratory variables were analyzed,

as well as factors related to death risk, used a model of Cox proportional-hazards regression.

The Kaplan-Meier method was used to analyze survival. Results: Patients had a mean age of

52.9 ± 9.7 years, were more often male (59 %), with a Child B or C in 43% of cases at the

beginning of follow-up and 55 % at the end. The mean MELD score was 12.0 ± 4.1 and 13.3

± 5.3, respectively. The dominant etiology of liver disease was hepatitis C (HCV). The most

frequent complications to the beginning of the monitoring were ascites (32%), gastrointestinal

bleeding (16%) and hepatic encephalopathy (HE) (11%). At the end of follow-up were ascites

(34%), EH (17%) and hepatocellular carcinoma (HCC) (17%). The median follow-up time

was 5 years and the median survival time was 12 years. The survival rate at 2, 5 and 10 years

was 89 %, 73 % and 57 %, respectively. The risk factors, to the initial monitoring, that had

relation with death, in multivariate analysis, were HCV etiology, presence of HCC, and serum

albumin levels. At the end of follow up , we observed , in addition to the etiology of HCV, the

presence of HCC , the degree of hepatic impairment (Child B or C and MELD scores greater

than 15), albumin, serum creatinine and sodium. Conclusion: The patients with cirrhosis

followed up on an outpatient basis, despite that reasonable survival, have a worse prognosis

when the etiology of liver disease is HCV-related and presenting with HCC or

hypoalbuminemia.

Keywords: Cirrhosis. Hepatitis C. Hepatocellular carcinoma. Survival analysis.

Introdução

40  

As doenças hepáticas representam importante problema de saúde pública e de alto

impacto social, com elevados custos em tratamentos, períodos prolongados de

acompanhamento ambulatorial e hospitalar, refletindo um prognóstico muitas vezes sombrio

(1, 2, 3, 4, 5).

As etiologias mais comuns das hepatopatias crônicas são as infecções crônicas pelos

vírus da hepatite B (VHB) e C (VHC), a doença hepática alcoólica (DHA) e a doença hepática

gordurosa não alcoólica (DHGNA), com prevalências variando amplamente de acordo com a

região avaliada e com potencial evolução para cirrose e suas respectivas complicações (1, 5-

8).

A cirrose pode ser classificada de diversas maneiras (9-14), sendo as mais utilizadas a

classificação de Child-Turcotte-Pugh (CTP) (15) e a do Model for End-Stage Liver Disease

(MELD) (12). Uma classificação mais atual divide a cirrose em quatro estágios, relacionados

à presença de varizes esofágicas, com e sem sangramento e apresentação ou não de ascite,

configurando-se uma menor sobrevida, quanto maior for o estágio (3). Recentemente foi

considerado um quinto estágio, na dependência da presença de infecção, o que comprometeria

mais a evolução destes pacientes (16).

As principais complicações da cirrose são a ascite (3, 17), a peritonite bacteriana

espontânea (PBE) (18,19) a encefalopatia hepática (EH) (20, 21), a hemorragia digestiva alta

(HDA) (22,23), o carcinoma hepatocelular (CHC) (24) e a síndrome hepatorrenal (SHR) (25).

Tendo em vista o prognóstico reservado destes pacientes, torna-se importante que

conheçamos o perfil dos mesmos, tanto do ponto de vista hospitalar quanto ambulatorial. Os

estudos em nível hospitalar refletem uma população selecionada que apresenta sobrevida

reduzida, em regra, relacionada à presença das complicações (1, 4, 5, 26). No entanto estudos

que avaliam pacientes com cirrose em nível ambulatorial são escassos na literatura e

geralmente são de base populacional, incluindo pacientes de nível hospitalar e ambulatoriais

(2, 27-29).

Este estudo tem como objetivo avaliar as características e a evolução dos pacientes

com diagnóstico de cirrose, atendidos em nível ambulatorial, com intenção de fornecer dados

aos gestores de saúde, para possíveis ajustes nas estratégias de atendimento, bem como aos

profissionais de saúde que se dedicam a esta população.

41  

Pacientes e Métodos

O estudo é do tipo coorte, observacional e retrospectivo. Foram selecionados todos os

pacientes com diagnóstico de cirrose, em acompanhamento no ambulatório de Hipertensão

Portal do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, um hospital terciário do sul do

Brasil, no período entre março de 2005 a março de 2010.

Foram incluídos doentes com diagnóstico de cirrose confirmado por dados clínicos,

laboratoriais, de imagem, endoscópicos ou por dados histológicos. Todos os pacientes

deveriam ter um seguimento ambulatorial mínimo de um ano.

Pacientes excluídos do estudo, apresentavam algum dos seguintes critérios: co-

infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), transplante prévio de órgãos,

diagnóstico de CHC avançado já no primeiro atendimento, ou seja, que extrapolasse os

critérios de Milão (30), aqueles com ausência de registro adequado das informações e os com

perda de ou seguimento menor que um ano.

Revisaram-se os prontuários, determinando as características das variáveis estudadas

e seus desfechos predeterminados ao longo do período estipulado, tendo como base os dados

da primeira e última consulta.

As variáveis analisadas foram: idade, sexo, cor, etiologia da doença hepática,

classificações de CTP e MELD, complicações (ascite, PBE, HDA, EH, CHC), realização de

transplante ortotópico de fígado (TOF), além dos níveis séricos de albumina, creatinina,

sódio, bilirrubinas, plaquetas e medida do INR.

A confirmação diagnóstica das etiologias teve como critérios os que seguem:

VHC: anti-HCV reagente, com teste confirmatório pela reação em cadeia da

polimerase (PCR) do VHC;

VHB: HBsAg reagente, com teste confirmatório através da PCR do VHB;

Etiologia alcoólica: definida pela ingestão alcoólica acima de 210 g semanais por 10

anos ou mais no sexo masculino ou 140 g no sexo feminino (31);

DHGNA: pelos achados histológicos, na ausência de ingestão de álcool que

ultrapassasse os valores citados anteriormente e de marcadores de outras etiologias (31);

Doenças de depósito ou autoimunes: pelos achados da histologia hepática, presença de

marcadores sorológicos característicos e ou exames de imagem (32-34);

42  

Etiologia medicamentosa: pela informação do uso de drogas com potencial efeito

hepatotóxico;

Criptogênica: quando não foi identificado nenhum fator passível de estar relacionado a

doença hepática.

Para análise dos dados, os pacientes foram alocados em quatro grupos: o do VHC; o

do álcool; o do VHC associado ao álcool e o relacionado a outras causas de doença hepática

crônica.

O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da Santa Casa de

Misericórdia de Porto Alegre.

Dados quantitativos foram descritos por média e desvio-padrão. Dados categóricos

foram expressos por contagens e percentuais.

Para a comparação de médias usamos a análise de variância (ANOVA) seguida do

teste de Tukey. No caso das variáveis categóricas, utilizamos o teste do qui-quadrado, seguido

do procedimento de post-hoc de Finner-Bonferroni para o ajuste dos valores ¨p¨ envolvidos

nas múltiplas comparações.

Para descrever a sobrevida dos pacientes utilizamos curvas de Kaplan-Meier (KM). A

sobrevida mediana ou tempo mediano de sobrevida, foi considerado o tempo estimado na

curva de KM para que 50% dos doentes apresentassem o desfecho (óbito). Já o tempo

mediano de seguimento foi considerado como sendo o tempo transcorrido para que 50% dos

pacientes tivessem seu seguimento interrompido (censura) ou apresentassem o desfecho

(óbito). Esta estimativa foi obtida pelo método de censuras reversas (reverse censoring

method) em uma curva de KM. Na comparação de grupos utilizamos o teste de log-rank com

identificação de diferenças entre grupos ajustada do procedimento de post-hoc de Finner-

Bonferroni.

Para obter medidas de força de associação utilizamos a regressão de azares

proporcionais de Cox, expressando a relação entre as variáveis envolvidas pela razão de

hazards (hazards ratio) e seu intervalo de confiança de 95%. Na identificação de fatores

independentemente associados ao óbito, utilizamos na regressão de Cox um processo de

seleção retrógrada (backward selection) com nível de significância aumentado para α=0,10,

por se tratar de uma análise multivariável.

O nível de significância global do estudo foi de α=0,05. Os dados foram processados e

analisados com o programa SPSS versão 18.0.

43  

Resultados

Foram avaliados 581 pacientes, dos quais houveram 41 excluídos por perda de

seguimento ou dados incompletos no prontuário, 9 portadores de HIV e 4 com história de

transplante renal. Desta forma a análise foi centrada em 527 casos.

Os dados demográficos e clínicos da população avaliada como um todo, bem como

quando estratificada em quatro grupos, de acordo com as classificações etiológicas mais

prevalentes, são apresentados na tabela 1.

A média de idade foi de 52,9 ± 11,7 anos, com predomínio do sexo masculino e da cor

branca.

No inicio do acompanhamento ambulatorial 43% eram CTP B ou C, sendo que no fim

do seguimento, este percentual aumentou para 55% (p < 0,001). O mesmo ocorreu com o

MELD, que no inicio era de 12 ± 4,1 e no final de 13,3 ± 5,3 (p < 0,001).

Quanto à etiologia, observou-se a presença do VHC em 186 pacientes (35%); álcool

em 126 (24%); associação de álcool e VHC em 119 (23%). A hepatopatia foi considerada

criptogênica em 20 casos (3,8%). As demais etiologias são as que seguem: hepatite autoimune

em 16 casos (3%), VHB em 11 (2,1%), VHB e álcool em 9 (1,7%) cirrose biliar primária em

9 (1,7%), álcool e etiologias não virais associados em 7 (1,3%), DHGNA em 6 (1,1%), VHC,

VHB e álcool associados em 4 (0,8%), doença de Wilson em 3 (0,6%), cirrose biliar

secundária em 3 (0,6%), colangite esclerosante primária em 2 (0,4%) e outras associações em

6 pacientes (1%).

Alocando os pacientes em 4 grupos etiológicos: VHC, álcool, VHC + álcool, além de

um grupo de outras causas, observamos que a média de idade foi maior nos pacientes com

VHC (56,2 ± 9,7) e menor no grupo de outras causas (47,6 ± 16,8) (p < 0,001). O sexo

masculino predominou nos grupos álcool e VHC + álcool (87%) e o sexo feminino nos

grupos de pacientes VHC (70%) e outras causas (57%) (p < 0,001). A cor branca foi

preponderante em todos os grupos, sem diferença estatística entre os mesmos (p = 0,450).

Não houve diferença estatística entre os grupos em relação ao grau de

descompensação hepática, aferido pela classificação de CTP, tanto no inicio quanto no final

do acompanhamento. Quando o grau de disfunção foi avaliado pelo MELD, observou-se que

a média encontrada no inicio do acompanhamento, foi menor no grupo VHC (11,1 ± 3,5) e

maior nos grupos álcool (12,6 ± 4), VHC + álcool (12,4 ± 4,7) e outras causas (12,3 ± 4,1) (p=

44  

0,004). Não houve diferença no MELD, ao final do acompanhamento, quando considerados

os diferentes grupos do estudo.

Na avaliação do grau de comprometimento da função hepática, durante o seguimento

destes pacientes, observamos uma evolução significativa com piora da função hepática,

traduzida por um maior percentual de pacientes classificados como CTP B ou C, nos grupos

VHC (p< 0,001) e VHC + álcool (p=0,018), repetindo-se esse resultado com o MELD nos

mesmos grupos (p < 0,001).

As complicações observadas, relacionadas à cirrose, estão descritas na tabela 2.

Analisando os grupos segundo a etiologia da hepatopatia observamos, no inicio do

acompanhamento, que a presença de ascite foi significativamente mais prevalente no grupo do

álcool e apresentou menor ocorrência no do VHC (p= 0,049). A HDA apresentou maior

frequência no grupo álcool (p=0,002). As demais complicações foram semelhantes entre os

grupos.

Quando avaliadas as complicações entre os grupos ao final do acompanhamento,

observamos que a EH ocorreu mais nos pacientes do grupo VHC em relação ao do álcool

(p=0,007); a presença de CHC foi maior no grupo VHC em relação ao grupo outras causas

(p=0,020); a HDA esteve presente em maior número no grupo VHC, comparado com o álcool

(p= 0,005).

Ao avaliarmos a evolução dos pacientes, quanto ao surgimento das complicações,

observamos que ao final do acompanhamento houve um aumento significativo na frequência

de CHC (p = 0,005).

Foram submetidos a TOF um total de 60 pacientes (11%), sendo 19 (31%) do grupo

VHC, 18 (30%) do grupo VHC + álcool, 13 (22%) do grupo outras causas e 10 (17%) do

grupo álcool, não havendo diferença na indicação entre os grupos (p=0,280). Os dados

relativos aos pacientes submetidos à TOF podem ser apreciados na tabela 3. Observou-se uma

média de idade de 51,9±10, foi maior no grupo do VHC e menor no grupo de outras etiologias

(p=0,017). Sessenta e sete por cento dos pacientes eram do sexo masculino, havendo um

predomínio no grupo VHC + álcool e uma menor proporção no grupo VHC (p<0,001). Em

relação ao grau de disfunção hepática, a maioria dos pacientes eram CTP B ou C (87%) e a

média do MELD foi de 15,5±4,3. Não se observou diferença no grau de disfunção hepática

entre os grupos. Trinta e três por cento dos pacientes transplantados apresentavam CHC, com

distribuição semelhante entre os grupos, ressaltando-se não haver nenhum caso no grupo de

outras etiologias (p= 0,005).

45  

Analisando-se a sobrevida e o tempo de acompanhamento (figura 1), identificamos

uma sobrevida mediana de 12 anos e um seguimento mediano de 5 anos. A taxa de sobrevida

observada foi de 73% aos 5 anos e de 57% aos 10 anos.

Ao avaliarmos a sobrevida de acordo com os quatro grupos etiológicos, conforme

observamos na figura 2, identificamos uma sobrevida maior, tanto em 5 quanto em 10 anos,

nos pacientes do grupo álcool e no de outras causas (p= 0,004).

A taxa de sobrevida mediana nos pacientes com ascite foi de 8 anos, apresentando um

risco de 2,26 vezes (Hazard ratio) maior de óbito (p < 0,001), enquanto nos pacientes que não

tinham ascite a taxa de sobrevida mediana foi de 18 anos. Observou-se uma sobrevida aos 5

anos de 48% versus 53% (p=0,004) e em 10 anos de 21% versus 35% (p < 0,001), nos

pacientes com presença e ausência de ascite, respectivamente. Quando esta avaliação foi feita

considerando a etiologia, a sobrevida foi menor nos pacientes com ascite dos grupos VHC e

álcool + VHC, comparativamente com os grupos de etiologia alcoólica e de outras causas (p <

0,001).

Dos 170 (32,3%) óbitos observados durante o seguimento, 77 eventos (41,4%) foram

no grupo VHC, 31 (24,6%) no álcool, 42 (35,3%) no álcool + VHC e 20 (20,8%) no grupo

outras causas, havendo diferença significativa entre o primeiro e o último grupo (p= 0,014).

Avaliando-se os fatores estudados e sua possível relação com a ocorrência de óbito,

realizando análise bivariada, encontramos no inicio do acompanhamento uma associação com

a etiologia pelo VHC, idade, CTP B ou C, MELD > 15, níveis séricos de bilirrubinas,

albumina, sódio, plaquetas, INR, presença de CHC, ascite, PBE e EH. Ao final do

acompanhamento apresentaram relação com maior risco de óbito pacientes classificados

como CTP B ou C e os com MELD > 15, bem como havia relação com os níveis de

bilirrubinas, de creatinina, albumina, sódio e INR, além daqueles com presença de CHC,

ascite, PBE, EH e HDA. Efetuando-se a análise multivariável dos fatores de risco para óbito,

no inicio do acompanhamento, identificaram-se como significativos os que seguem: etiologia

pelo VHC, o nível sérico de albumina e presença de CHC. Ao final do acompanhamento

foram identificados como variáveis independentes de risco, além da etiologia pelo VHC já

referida, o grau de disfunção hepática, refletido nas classificações de CTP B ou C, MELD >

15, os níveis séricos de creatinina, albumina e de sódio, além da presença de CHC. Estes

dados podem ser apreciados na tabela 4.

Discussão

46  

As doenças hepáticas quando evoluem para cirrose, além de aumentarem a

morbimortalidade do paciente, acarretam um prejuízo funcional ao individuo, bem como

trazem um significativo impacto social e econômico. Tratam-se de pacientes com

características específicas, necessitando atendimento em centros de saúde de alta

complexidade, uma vez que requerem infraestrutura e qualificação médica adequadas. A

importância deste estudo tem como base a escassa literatura que avalia as características e a

evolução destes pacientes em nível ambulatorial. Avaliamos uma coorte de pacientes com

cirrose atendida em ambulatório especializado, onde ficam evidenciadas o desenvolvimento

de graves complicações, traduzindo-se em aumento gradual de mortalidade.

A média de idade aqui descrita (53 anos) foi menor que a relatada em um estudo

realizado no Reino Unido (29) sendo, no entanto, semelhante à encontrada em estudo em

ambulatório de São Paulo, que avaliou o aspecto nutricional de pacientes com cirrose (7).

Percebe-se que os pacientes com etiologia pelo VHC, são os com maior média de idade,

ocorrendo desenvolvimento de cirrose mais precocemente em pacientes de etiologia alcoólica

ou de outras etiologias, como as doenças metabólicas e de autoimunidade (27).

A predominância do sexo masculino, principalmente em pacientes com doença

hepática relacionada ao uso de álcool, se explica pelas características sócio-culturais de maior

consumo de álcool na população masculina. Estes dados podem ser evidenciados em

inquéritos populacionais realizados tanto no Brasil, bem como no exterior, onde a despeito do

crescimento do alcoolismo no sexo feminino, ainda há uma predominância no sexo masculino

(35,36).

Em relação à etiologia, o maior número de pacientes com VHC, caracteriza a

magnitude desta infecção, tanto em nosso meio, como em várias áreas geográficas no mundo

(37). Assim observamos que mais de um terço dos doentes apresentavam o VHC como único

agente etiológico e que mais de 50% dos pacientes tinham o VHC associado a outras

etiologias.

O alcoolismo como causa da hepatopatia também foi frequente. Estes dados também

foram descritos em outras séries (35). No estudo de Carvalho e Parisi observou-se um

predomínio da etiologia alcoólica, chegando a 71% dos casos (7). Vale lembrar que a maioria

dos pacientes com etiologia criptogênica, provavelmente tratam-se de casos de DHGNA, nos

quais o diagnóstico acaba sendo sugerido pelos dados epidemiológicos (31).

Na apresentação inicial a maioria dos pacientes, estavam compensados, sendo 57%

classificados como CTP A, no entanto, durante o seguimento, ocorreu um aumento dos

47  

doentes classificados como CTP B e C, observado então em 55% dos casos, o que condiz com

a história natural da doença, refletindo uma deterioração da função hepática (2,3,5). Esta

progressão também se refletiu por um aumento do MELD.

A despeito do CTP destes pacientes, no início da avaliação, ser semelhante entre os

grupos, o MELD foi menor nos pacientes com VHC, porém, no final do acompanhamento,

ambos parâmetros foram equivalentes entre os grupos etiológicos. Cabe ressaltar no entanto, a

deterioração da função hepática nos pacientes com VHC, associados ou não ao álcool, uma

vez que a proporção de pacientes com CTP B ou C aumentou durante o acompanhamento.

Este fato demonstra o impacto que o VHC acarreta à população exposta, tornando-se assim

um importante problema de saúde pública (3,38,39). A menor influência do álcool, na

evolução da doença, pode ser atribuída ao beneficio observado, quando a ingestão do mesmo

é suspensa (40).

A presença e a evolução das complicações da cirrose, foram diferentes, quando as

relacionamos com a etiologia. Os pacientes do grupo álcool apresentaram-se mais graves no

início do acompanhamento, com uma frequência maior de complicações (ascite e HDA),

porém seguiram um curso melhor durante a evolução. Esse achado provavelmente se deve à

interrupção da ingestão de álcool, situação já descrita em estudos prévios (38,40),

demonstrando um aumento de sobrevida e diminuição das complicações, enaltecendo o

acompanhamento destes pacientes em ambulatório especializado, com o intuito de manter a

abstinência alcoólica. Revisão sistemática recente, demonstrou aumento da sobrevida com a

abstinência, porém, apenas após um ano e meio de interrupção da ingesta alcoólica (40).

O contrário ocorreu na evolução dos pacientes com VHC (associado ou não ao álcool),

com uma maior prevalência de complicações (EH, HDA, CHC). Revisão de um grupo italiano

demonstrou que o tratamento do VHC em pacientes com cirrose, reduz o risco de

descompensação e desenvolvimento de CHC, com redução de mortalidade (39).

Ressalta-se a incidência de CHC durante a evolução dos pacientes. Este achado

confirma a importância de se estabelecer um programa de rastreamento com ecografia,

recomendações reafirmadas nos principais consensos (24, 41).

Em relação aos pacientes submetidos à TOF (11%), não foi observada diferença na

indicação quando avaliada a etiologia da hepatopatia. A média do MELD para indicação de

avaliação de TOF, foi compatível com o descrito na literatura (42, 43).

48  

Em um seguimento mediano de 5 anos, observamos uma mediana de sobrevida de 12

anos. As taxas de sobrevida encontradas foram de 73 % aos 5 anos e 57% aos 10 anos, sendo

ela pior nos grupos do VHC e VHC + álcool e melhor nos grupos das outras etiologias e

álcool. Estudo dinamarquês, demonstra uma sobrevida de 65,5% em 1 ano e 37,5% aos 5 anos

(28). Outro estudo recente demonstrou uma sobrevida de 60% aos 5 anos (27). Estas duas

coortes eram de base populacional e incluíam pacientes tanto ambulatoriais, quanto

internados.

Quando avaliamos os pacientes com ascite encontramos uma mortalidade

significativamente maior em relação ao grupo sem derrame peritoneal. Ressalta-se que a

mortalidade foi maior nos doentes com ascite dos grupos com VHC, correspondendo a

importante sinal de pior prognóstico, conforme descrito anteriormente por D’Amico e

colaboradores (3).

A mortalidade observada na presente coorte foi de 32%, com um total de 170 casos de

óbitos, dos quais 45,3% foram no grupo do VHC.

Os fatores de risco independentes que se associaram ao óbito, quando realizada análise

multivariavel, no inicio do acompanhamento, foram a etiologia relacionada ao VHC, os níveis

séricos de albumina e a presença de CHC. Ao final do seguimento observamos que, além da

etiologia pelo VHC, o grau de disfunção hepática (CTP B ou C e MELD maior que 15), os

níveis séricos de creatinina, albumina, sódio e a presença de CHC foram os fatores

relacionados ao risco de óbito.

Podemos claramente observar que a etiologia por VHC é importante fator relacionado

a prognóstico, o que reforça a indicação de tratamento do vírus, quando possível, uma vez que

os pacientes com resposta virológica ao tratamento apresentam uma melhor evolução (44,45).

Os parâmetros bioquímicos associados a um pior prognóstico (albumina, creatinina e

sódio), estão fartamente descritos na literatura, como preditores de evolução mais sombria.

(46)

O CHC cada vez mais tem se destacado como fator de prognóstico, sendo atualmente

considerado a principal causa de mortalidade no paciente com cirrose (24,41). Durante o

acompanhamento diagnosticaram-se 61 casos novos de CHC, o que traduz uma incidência de

12,2 %, no período acompanhado.

Este estudo nos aponta as características e a evolução de uma coorte de pacientes com

cirrose, atendidos em nível ambulatorial, demonstrando que se tratam de doentes graves e

portanto, necessitam de um acompanhamento com profissionais capacitados, em serviços de

49  

alta complexidade. Desta maneira, poderemos diagnosticar de forma precoce as complicações

e proporcionar assim, um prognóstico menos sombrio a esta população de doentes.

Tabela 1 – Características demográficas e clínicas segundo a classificação da etiologia da cirrose 

    E t i o l o g i a   

Característica 

Total n=527 100% 

VHC n=186 35% 

Álcool n=126 24% 

VHC+Álcool n=119 23% 

Outros n=96 18%  P 

50  

Idade, anos  52,9±11,7 56,2±9,7c  52,1±10,3b  52,7±8,8b,c  47,6±16,8a <0,001Sexo masculino, nº (%)  310 (59)  56 (30)a  110 (87)b  103 (87)b  41 (43)a  <0,001

Cor branca, nº (%)  437 (83)  160 (86)  104 (82)  94 (77)  79 (82)  0,450 

Child B/C, nº (%)             

Início  225 (43)  67 (36)  57 (45)  61(51)  40 (42)  0,154Final  288 (55)  106 (57)  61 (48)  75 (63)  46 (48)  0,176

MELD             

Início  12,0±4,1  11,1±3,5a  12,6±4,0b  12,4±4.7b  12,3±4,1b  0,004Final  13,3±5,3  13,0±4,6  13,3±6,2  14,2±5,7  12,9±5,0  0,202

 VHC:  vírus  da  hepatite  C, MELD: Model  for  Endstage  Liver  Disease,  :  ANOVA,  :  teste  do  qui‐quadrado.  Letras‐índice  não  coincidentes  representam  diferenças  estatisticamente  significativas (p<0,05). 

51  

 

Tabela 2 – Complicações dos pacientes segundo a classificação da etiologia da cirrose 

    E t i o l o g i a   

Complicação 

Total n=527 100% 

VHC n=186 35% 

Álcool n=126 24% 

VHC+Álcool n=119 23% 

Outros n=96 18%  P 

Início do  acompanhamento, nº (%)             

Ascite  169 (32)  49 (26)a  52 (41)b  39 (33)a,b  29 (30)a,b  0,049 

HDA  82 (16)  20 (11)a  33 (26)b  15 (13)a  14 (15)a,b  0,002 

EH  59 (11)  17 (9)  20 (16)  16 (13)  6 (6)  0,088 

PBE  29 (6)  8 (4)  10 (8)  8 (7)  3 (3)  0,343 

CHC  26 (5)  8 (4)  6 (5)  7 (6)  5 (5)  0,938 Final do  acompanhamento, nº (%)             

Ascite  180 (34)  70 (38)  41 (33)  46 (39)  23 (24)  0,084 

CHC  87 (17)  39 (21)b  16 (13)a,b  24 (20)a,b  8 (8)a  0,020 

EH  87 (17)  44 (24)b  12 (10)a  18 (15)a,b  13 (14)a,b  0,007 

PBE  67 (13)  26 (14)  15 (12)  20 (17)  6 (6)  0,124 

HDA  37 (7)  22 (12)b  2 (2)a  6 (5)a,b  7 (7)a,b  0,005 

VHC: vírus da hepatite C, HDA: hemorragia digestiva alta, EH: encefalopatia hepática, PBE: peritonite bacteriana  espontânea,  CHC:  carcinoma  hepatocelular..  :  teste  do  qui‐quadrado.  Letras‐índice  não coincidentes representam diferenças estatisticamente significativas (p<0,05).  

 

52  

 

Tabela 3 – Características dos pacientes submetidos a TOF segundo a classificação da etiologia da cirrose 

    E t i o l o g i a   

Característica 

Total n=60 100% 

VHC n=19 31% 

Álcool n=10 17% 

VHC+Álcool n=18 30% 

Outros n=13 22%  P 

Idade, anos  51,9±10,0 55,5±5,6b  52,5±9,2a,b  52,9±7,7a,b  44,5±14,8a 0,017 

Sexo masculino, nº (%)  40 (67)  7 (37)a  8 (80)a,b  17 (94)b  8 (62)a,b  0,001 

Child B/C, nº (%)  52 (87)  16 (84)  8 (80)  17 (94)  11 (85)  0.648 

MELD  15,5±4,3  13,5±2,8  15,0±5,3  16,8±4,0  17,0±5,1  0,062 

CHC, nº (%)  20 (33)  7 (37)b  5 (50)b  8 (44)b  0 (0)a  0,005 

TOF:  transplante  ortotópico  de  fígado,  VHC:  vírus  da  hepatite  C, MELD: Model  for  Endstage  Liver Disease,  CHC:  carcinoma  hepatocelular,  :  ANOVA,  : teste  do  qui‐quadrado.  Letras‐índice  não coiencidentes representam diferenças estatisticamente significativas (p<0,05).  

 

 

53  

 

 

Tabela 4 ‐ Fatores de risco avaliados ao início e final do acompanhamento e sua relação com ocorrência de óbito 

    Óbitos  Análise Bivariada    Análise Multivariável 

Característica  n  nº (%)  HR (IC95%)  P    HR (IC95%)  P Início do acompanhamento               

Etiologia               

VHC  186  77 (41,4)  1      1   

Álcool  126  31 (24,6)  0,61 (0,40 ‐ 0,93)  0,021    0,74 (0,49 ‐ 1,14)  0,170 

Álcool+VHC  119  42 (35,3)  1,00 (0,69 ‐ 1,46)  0,991    0,83 (0,56 ‐ 1,23)  0,356 

Outros  96  20 (20,8)  0,50 (0,31 ‐ 0,82)  0,006    0,53 (0,32 ‐ 0,88)  0,014 

Albumina (g/dL)  527  170 (32,3) 0,44 (0,35 ‐ 0,54)  <0,001   0,68 (0,52 ‐ 0,89)  0,005 

CHC               

Presente  26  19 (73,1)  5,11 (3,12 ‐ 8,39)  <0,001   2,78 (1,51 ‐ 5,11)  0,001 

Ausente  501  151 (30,1) 1      1   Final do acompanhamento               

Child               

B/C  288  140(48,6)  5,10 (3,44 ‐ 7,58)  <0,001   2,17 (1,29 ‐ 3,64)  0,003 

A  239  30 (12,6)  1      1   

MELD  527  170 (32,3) 1,09 (1,07 ‐ 1,11)  <0,001      

≥ 15  176  93 (52,8)  3,03 (2,23 ‐ 4,12)  <0,001   1,37 (0,96 ‐ 1,97)  0,086 

< 15   351  77 (21,9)  1      1   

Creatinina (mg/dL)  527  170 (32,3) 1,16 (1,04 ‐ 1,30)  0,007    1,15 (1,01 ‐ 1,31)  0,037 

Albumina (g/dL)  527  170 (32,3) 0,38 (0,31 ‐ 0,46)  <0,001   0,75 (0,55 ‐ 1,04)  0,087 

Sódio (mEq/L)  527  170 (32,3) 0,90 (0,87 ‐ 0,92)  <0,001   0,95 (0,92 ‐ 0,97)  <0,001 

CHC               

Presente  87  53 (60,9)  2,41 (1,74 ‐ 3,34)  <0,001   1,45 (0,98 ‐ 2,14)  0,066 

Ausente  440  151 (30,1) 1      1   

Os dados são apresentados com contagem (percentual). VHC: vírus da hepatite C, CHC: carcinoma hepatocelular MELD: Model for Endstage Liver Disease. HR: hazard ratio, IC: intervalo de confiança, P: significância estatística.   

54  

 

Figura 1 – Curva de Kaplan‐Meier representando a ocorrência global de óbito em pacientes 

com cirrose atendidos em ambulatório. 

 

55  

 

 

 

Figura 2 – Curvas de Kaplan‐Meier  representando a ocorrência de óbito,  segundo etiologia 

em pacientes com cirrose atendidos em ambulatório.  VHC: vírus da hepatite C. 

P= 0,004 

56  

Referências

1- Giannousis IP, Papatheodoridis GV, Deutsch, MJ, Manolakopoulos SG, Manesis EK,

Koskinas JS, et al. The burden and recent epidemiological changes of the main chronic

liver diseases in a Greek referral tertiary centre. Eur J Gastroenterol Hepatol 2010; 22:

172-9.

2- Gines P, Quintero E, Arroyo V, Teres J, Bruguera M, Rimola A. Compensated cirrhosis:

natural history and prognostic factors. Hepatology 1987; 7: 122-8.

3- D’Amico G, Garcia-Tsao G, Pagliaro L. Natural History and prognostic indicators of

survival in cirrhosis. A systematic review of 118 studies. J Hepatol 2006; 44: 217-31.

4- D’Amico G. Natural history of compensated cirrhosis and varices. In: Boyer TD,

Groszmann RJ. Complications of cirrhosis: Pathogenesis, consequences and therapy.

AASLD 2001; 118-23.

5- D’Amico G, Morabito A, Pagliaro L, Marubini E and the group of “V. Cervello” Hospital.

Survival and prognostic indicators in compensated and descompensated cirrhosis. Dig Dis

Sci 1986; 31: 468-75.

6- Rakoski MO, McCammon RJ, Piette JD, Iwashyna TJ, Marrero JA, Lok AS, et al. Burden

of Cirrhosis on Older Americans and Their Families: analysis of the Health and

Retirement Study. Hepatology 2012; 55: 184-91.

7- Carvalho L, Parise ER. Evaluation of nutritional status of nonhospitalized patients with

liver cirrhosis. Arq gastroenterol 2006; 43: 269-74.

8- Kim WR, Brown Jr. RS, Terrault NA, El-Serag H. Burden of liver disease in the United

States: Summary of a workshop. Hepatology 2002; 36: 227-42.

9- Durand F, Valla D. Assessment of the prognosis of cirrhosis: Child–Pugh versus MELD. J

Hepatol 2005; 42: 100-7.

10- Garrison RN, Cryer HM, Howard DA, Polk HC Jr. Clarification of risk factors for

abdominal operations in patients with hepatic cirrhosis. Ann Surg 1984; 199: 648-55.

11- Durand F, Valla D. Assessment of prognosis of cirrhosis. Semin Liver Dis 2008; 28: 110-

22.

57  

12- Malinchoc M, Kamath PS, Gordon FD, Peine CJ, Rank J, ter Borg PC. A model to predict

poor survival in patients undergoing transjugular intrahepatic portosystemic shunts.

Hepatology 2000; 31: 864-71.

13- Kamath PS, Wiesner RH, Malinchoc M, Kremers W, Therneau TM, Kosberg CL, et al. A

model to predict survival in patients with end-stage liver disease. Hepatology 2001; 33:

464-70.

14- Botta F, Giannini E, Romagnoli P, Fasoli A, Malfatti F, Chiarbonello B, et al. MELD

scoring system is useful for predicting prognosis in patients with liver cirrhosis and is

correlated with residual liver function: A European study. Gut 2003; 52: 134-9.

15- Pugh RN, Murray-Lyon IM, Dawson JL, Pietroni MC, Williams R. Transection of the

oesophagus for bleeding oesophageal varices. Br J Surg 1973; 60: 646–9

16- Vasiliki A, D’amico G, Fede G, Manousou P, Tsochatzis E, Pleguezuelo M, et al.

Infections in Patients With Cirrhosis Increase Mortality Four-Fold and Should Be Used in

Determining Prognosis. Gastroenterology 2010; 139: 1246-1256.

17- Runyon BA. Care of patients with ascites. N Engl J Med 1994; 330: 337-42.

18- Hoefs JC, Canawati HN, Sapico FL, Hopkins RR, Weiner J, Montgomerie JZ.

Spontaneous bacterial peritonitis. Hepatology 1982; 2: 399-407.

19- Tandon P, Garcia-Tsao G. Renal dysfunction is the most important independent predictor

of mortality in cirrhotic patients with spontaneous bacterial peritonitis. Clin Gastroenterol

Hepatol 2011; 9: 260-65.

20- Ferenci P., Lockwood A, Mullen K, Tarter R, Weissenborn K, Blei AT. Hepatic

Encephalopathy- definition, nomenclature, diagnosis and quantification: final report of the

Working Party at the World Congresses of Gastroenterology, Viena, 1998. Hepatology

2002; 35: 716-21.

21- Riggio O, Ridola L, Pasquale C, Nardelli S, Pentassuglio I, Moscucci F, et al. Evidence of

persistent cognitive impairment after resolution of overt hepatic encephalopathy. Clin

Gastroenterol Hepatol 2011; 9: 181-3.

22- Garcia-Tsao G, Sanyal AJ, Grace ND, Carey W. Prevention and management of

gastroesophageal varices and variceal hemorrhage in cirrhosis. Hepatology 2007; 46: 922-

38.

23- de Franchis R, Baveno V Faculty. Revising consensus in portal hypertension: report of

the Baveno V consensus workshop on methodology of diagnosis and therapy in portal

hypertension. J Hepatol 2010; 53: 762-8.

58  

24- Bruix J, Sherman M. Management of Hepatocellular Carcinoma: An Update. Hepatology

2011; 53: 1020-2.

25- Salerno F, Gerbes A, Gines P, Wong F, Arroyo V. Diagnosis, prevention and treatment of

the hepatorenal syndrome in cirrhosis: a consensus workshop of the international ascites

club. Gut 2007; 56: 1310-1318.

26- Lessa I. Cirrhosis of the liver in Brazil: mortality and productive years of life lost

prematurely. Bol Oficina Sanit Panam 1996; 121: 111-22.

27- Fleming KM, Aithal GP, Card TR, West J. All-cause Mortality in People With Cirrhosis

Compared With the General Population. Liver Int 2012; 32: 79-84.

28- Jepsen P, Vilstrup H, Andersen PK, Lash TL, Sorensen HT. Comorbidity and survival of

Danish cirrhosis patients: a nationwide population-based cohort study. Hepatology 2008;

48: 214-20.

29- Fleming KM, Aithal GP, Solaymani-Dodaran M, Card TR, West J. Incidence and

prevalence of cirrhosis in the United Kingdom, 1992–2001: a general population-based

study. J Hepatol 2008; 49: 732–8.

30- Prieto M, Robles R, Navasa M, Xiol X, Sousa JM, González et al. A Consensus document

of the Spanish Society of Liver Transplantation. Gastroenterol Hepatol 2008; 31: 82-91.

31- Chalasani N, Younossi Z, Lavine JE, Diehl AM, Brunt EM, Cusi K, et al. The diagnosis

and management of non-alcoholic fatty liver disease: practice guideline by the AGA,

AASLD and ACG. Gastroenterology 2012; 142: 2005-26.

32- Manns MP, Czaja AJ, Gorham JD, Krawitt EL, Mieli-Vergani G. Diagnosis and

Management of Autoimmune Hepatitis. Hepatology 2010; 51: 2193-213.

33- Shetty K, Rybicki L, Carey WD. The Child–Pugh classification as a prognostic indicator

for survival in primary sclerosing cholangitis. Hepatology 1997; 25: 1049-53.

34- Van Dam GM, Gips CH, Reisman Y, Maas KW, Purmer IM, Huizenga JR, et al. Major

clinical events, signs and severity assessment scores related to actual survival in patients

who died from primary biliary cirrhosis. A long-term historical cohort study.

Hepatogastroenterology 1999; 46:108-15.

35- Rehm J, Samokhvalov AV, Shield KD. Global burden of alcoholic liver diseases. J

Hepatol. 2013; 59: 160-8.

36- Parolin MB, Coelho JC, da Igreja M, Pedroso ML, Groth AK, Gonçalves CG. Outcome

of liver transplantation in patients with alcoholic liver disease. Arq Gastroenterol 2002;

39: 147-52.

59  

37- Hajarizadeh B, Grebely J, Dore GJ. Epidemiology and natural history of HCV infection.

Nat Rev Gastroenterol Hepatol 2013; 10: 553-62.

38- Singal AK, Hmoud BS, Guturu P, Kuo YF. Outcome after liver transplantation

for cirrhosis due to alcohol and hepatitis C: comparison to alcoholic cirrhosis and hepatitis

C cirrhosis. J Clin Gastroenterol 2013; 47: 727-33.

39- Vezali E, Aghemo A, Colombo M. A review of the treatment of chronic hepatitis C virus

infection in cirrhosis. Clin Ther 2010; 32: 2117-38.

40- Xie YD, Feng B, Gao Y, Wei L. Effect of abstinence from alcohol on survival of patients

with alcoholic cirrhosis: a systematic review and meta-analysis. Hepatol Res. Article first

published online: 20 JUN 2013. DOI: 10.1111/hepr.12131.

41- Llovet JM, Ducreux M, Lencioni R, Di Bisceglie AM, Galle PR, Dufour JF, et al. EASL.

EORTC. Clinical Practice Guidelines: Management of hepatocellular carcinoma J

Hepatol 2012; 56: 908–943.

42- Palmiero, HO, Kajikawa P, Boin IF, Coria S, Pereira LA. Liver recipient survival rate

before and after model for end-stage liver disease implementation and use of donor risk

index. Transplant Proc 2010; 42: 4113-5.

43- Brandão A, Fuchs S, Gleisner AL, Marroni C, Zanotelli ML, Cantisani G, et al. MELD

and other predictors of survival after liver transplantation. Clin Transplant 2009; 23: 220-

7.

44- Papatheodoridis GV, Papadimitropoulos VC, Hadziyannis SJ. Effect of interferon therapy

on the development of hepatocellular carcinoma in patients with hepatitis C virus-related

cirrhosis: a meta-analysis. Aliment Pharmacol Ther 2001; 15: 689-98.

45- Ikeda K, Saitoh S, Arase Y, Chayama K, Suzuki Y, Kobayashi M, et al. Effect of

interferon therapy on hepatocellular carcinogenesis in patients with chronic hepatitis type

C: A long-term observation study of 1.643 patients using statistical bias correction with

proportional hazard analysis. Hepatology 1999; 29: 1124-30.

46- Jalan R, Bernardi M. Effective albumin concentration and cirrhosis mortality: From

concept to reality. J Hepatol. 2013; 59: 918-20.

60  

6. CONCLUSÃO

Os pacientes com cirrose, atendidos em nível ambulatorial, apresentam complicações

frequentes e mortalidade não desprezível.

A média de idade observada nos doentes foi de 52,9 ± 11,7, sendo que os mesmos

eram mais frequentemente do sexo masculino e de cor branca.

Apresentavam CTP B ou C em 43% dos casos no início do acompanhamento e em

55% ao final do mesmo. A média do MELD foi de 12,0±4,1 e 13,3±5,3, respectivamente.

A etiologia preponderante da hepatopatia foi relacionada ao VHC.

As complicações mais frequentes observadas no inicio do acompanhamento, foram

ascite, HDA, EH e a presença de CHC. Ao final do seguimento foram ascite, EH e o

surgimento de CHC.

O tempo mediano de sobrevida foi de 12 anos, sendo o mesmo em 5 e 10 anos de 73%

e 57%, respectivamente. A sobrevida foi menor no grupo de pacientes em que a etiologia da

hepatopatia, esteve relaciona ao VHC, sendo de 68% aos cinco anos e de 46% aos dez anos.

Os fatores de risco que se associaram ao óbito no inicio do acompanhamento, foram a

etiologia pelo VHC, a presença de CHC, além do nível sérico de albumina. Ao final do

seguimento, além da etiologia pelo VHC, foram identificados como fatores de risco, o grau de

disfunção hepática (CTP B ou C e MELD maior que 15), a presença de CHC, bem como os

níveis séricos de creatinina, albumina e sódio.