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Avaliação do Quadriênio 2012-2015

Avaliação do Quadriênio 2012-2015 - caritas.org.brcaritas.org.br/wp-content/files_mf/1452710954RevistaRelatório... · Cáritas no Mundo Campanha Mundial Cáritas no Brasil Fortalecimento

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Avaliação do Quadriênio2012-2015

2012-2015Avaliação do Quadriênio

Cáritas Brasileira – Organismo da CNBBEndereço: SGAN – Av. L2 Norte, Quadra 601, Módulo F

CEP 70830-010 / Brasília (DF)Site: www.caritas.org.br

E-mail: [email protected]: +55-61-3521-0350

Fax: +55-61-3521-0377

SECRETARIADO NACIONAL Diretoria

Presidente: Dom Flávio GiovenaleVice-Presidente: Anadete Gonçalves Reis

Diretor-Secretário: Pe. Evaldo Praça FerreiraDiretor-Tesoureiro: Aguinaldo Lima

Coordenação Colegiada NacionalDiretora executiva nacional: Maria Cristina dos Anjos da Conceição

Coordenador: Jaime Conrado de OliveiraCoordenador: Luiz Cláudio Mandela

Revista de Avaliação do Quadriênio 2012-2015Organização de conteúdo l arteemmovimento.orgArtigos l Maria Cristina dos Anjos da Conceição l Luiz Cláudio Mandela l Dom Flávio Giovenale Pe. Evaldo Praça l Anadete Gonçalves Reis l Jaime Conrado de Oliveira l Aguinaldo LimaTextos l Mayrá Lima l arteemmovimento.orgRevisão de textos l Vanice Araújo l arteemmovimento.orgFotos l arquivo Cáritas l arquivo arteemmovimento.orgColaboração para localização de imagens l Elkin Torres GiraldoProjeto gráfico l arteemmovimeto.orgTiragem l 1.000 exemplaresBrasília, 2015

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Nossos CompromissosApresentaçãoCáritas no MundoCampanha MundialCáritas no BrasilFortalecimento do NorteVoluntariadoJuventudeCáritas e a IgrejaHaitiCáritas e as EmergênciasFNSPastorais SociaisCáritas e as ParceriasEconomia Popular SolidáriaConvivência com o SemiáridoDireitos HumanosCáritas e a SustentabilidadeComunicaçãoMobilização de RecursosPrêmio Odair FirminoLista das Cáritas no Brasil

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Testemunhar e anunciar o evangelho de Jesus Cristo, defendendo e promovendo a vida e participando da construção solidária de uma sociedade justa, igualitária e plural, junto com as pessoas em situação de exclusão social.

A Cáritas Brasileira se compromete com a construção do Desenvolvimento Solidário Sustentável e Territorial, na perspectiva de um projeto popular de sociedade democrática.

Defesa e promoção da vida humana.Defesa e promoção da sociobiodiversidade.Mística e espiritualidade libertadora.Ecumenismo, diálogo inter-religioso e intercultural.Cultura da solidariedade.Relações igualitárias de gênero, raça, etnia e geração.Protagonismo dos excluídos e excluídas.Projeto de sociedade solidária e sustentável.Democracia participativa.

Missão

Diretrizes institucionais

Princípios

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Na primavera de 2011, em Passo Fundo, a Cáritas Brasileira vivenciou seu 4º Congresso e XVIII Assembleia Nacional. Ali, com a presença de 131 das suas entidades-membros, afirmamos os campos e sementes que gostaríamos de semear, bem como os frutos que gostaríamos de colher no quadriênio que iniciávamos (2012/2015).

Afirmamos Desenvolvimento Sustentável como diretriz, apontamos três objetivos estratégicos, reafirmamos a Região Norte como prioritária em nossa atuação, a juventude entrou definitivamente para caminhar conosco, elegemos as pessoas que, junto com a Rede, cuidariam daquela semeadura.

Após quatro anos, é de novo tempo de perceber as sementes e seus frutos, de modo especial, em torno dos instrumentos e maneiras utilizadas para garantir a colheita. Nossa gestão.

Esta publicação, a partir dos eixos temáticos da gestão que guiam a XX Assembleia, quer dizer um pouco do que conseguimos semear e cuidar nesse quadriênio: na rede, em nossa presença na Rede Cáritas Internacional, no nosso ser Igreja, nas parcerias e em algumas ações estruturantes, a partir dos grandes objetivos estratégicos.

Possivelmente algumas sementes se perderam ao longo do caminho ou foram plantadas em meio a terreno pedregoso. Mas, felizmente, também surgiram sementes novas trazidas pelo vento ou por pássaros que por ali passaram e que também germinaram.

Assim, louvamos e agradecemos a Deus e a todas as pessoas que animaram e iluminaram esse semear.

Queremos com este registro, como dizia Dom Helder, não deixar que o tempo escorra pelos nossos dedos vazios. Registrando, vamos eternizando esse nosso bonito caminhar.

Que Nossa Mãe Aparecida continue nos acompanhando.

“Não deixe que o tempo escorra por entre os dedos abertos de tuasmãos vazias. Segura-o de qualquer maneira para que ele vire eternidade.”

D. Helder Câmara

Cristina dos AnjosDiretora Executiva Nacional

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Cáritas: uma família humana cuidando da criação.

Por Maria Cristina dos Anjos da ConceiçãoDiretora Executiva Nacional da Cáritas Brasileira

“De fato, assim como o corpo é um só e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, são um só

corpo, assim também é Cristo”. 1 Cor 12

Em 1951, quando 13 organizações-membros assinaram o estatuto da Confederação Cáritas, elaborado com a contribuição do então Monsenhor Giovanni Battista Montini, posteriormente Papa Paulo VI, a Caritas Internationalis provavelmente não se imaginava 65 anos depois como uma grande Confederação mundial, com 165 organizações-membros, presente em 200 países, tornando-se uma das maiores organizações humanitárias no mundo.

Expressão do próprio amor, a Cáritas está no coração da Igreja Católica e representa a expressão organizada da solidariedade na Igreja. É chamada a escutar o grito das pessoas empobrecidas e levar a boa nova do amor de Deus às periferias, onde Deus está sofrendo em cada homem, em cada mulher, em cada criança, jovem e pessoa idosa. Certamente é um grande privilégio e ao mesmo tempo um enorme desafio vivenciar essa identidade.

Nesses 65 anos de existência, sua missão tem se revelado para além da soma das inúmeras ações realizadas. A luta contra a pobreza; a luta por um desenvolvimento sustentável; a promoção da justiça e da dignidade das pessoas têm orientado o caminhar da Confederação. A despeito dos desafios enfrentados cotidianamente, o amor de Deus é fonte que inspira, ilumina, anima e conduz todos e todas na vivência da missão.

Com raízes firmes, construídas ao longo de sua história, a Rede Cáritas vai se organizando cada vez mais para atuação na gestão de risco e emergências. Temas como mudanças climáticas; segurança alimentar; migração e tráfico forçado; juventudes vão se fortalecendo dentro da Confederação.

Na perspectiva da incidência política, a Cáritas tem animado a Rede para atuação local e, ao mesmo tempo, buscado incidir em vários espaços importantes, como a COP do Clima; Comitê Mundial sobre Segurança Alimentar; Fórum Mundial sobre Migração e Desenvolvimento, entre outros.

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Em sua última assembleia geral, a Caritas internationalis definiu como orientações estratégicas: defender a identidade eclesial da Cáritas como serviço essencial da Igreja aos empobrecidos; reduzir o impacto das crises humanitárias reforçando a preparação e respostas às emergências; promover o desenvolvimento integral e sustentável; construir a solidariedade mundial; fazer com que a Confederação Cáritas seja mais eficaz.

A região da América Latina e Caribe tem ocupado um espaço importante e estratégico na Confederação. São 22 organizações-membros, articuladas em quatro sub-regiões, tendo como referência prioridades definidas em conferências regionais, animadas e monitoradas por uma coordenação regional e diferentes grupos de trabalho.

A Cáritas Brasileira veio assumindo nos últimos anos um papel protagonista tanto em nível de Confederação como na região latino-americana e caribenha.

A partir de 2010, com a grande campanha realizada em favor do Haiti, a Cáritas Brasileira inicia uma participação ativa na solidariedade internacional, de maneira especial com o Haiti, mas também com a África, Filipinas, Síria, Nepal, Bangladesh, entre outras.

Em conjunto com outras Cáritas, temos participado de alguns debates organizados pela Confederação em temas de solidariedade internacional. No ano passado, participamos de um seminário com as Cáritas do Médio Oriente para compreender melhor essa realidade e dialogar sobre possíveis estratégias.

No último período, compusemos grupos de trabalhos de emergências, da campanha mundial, animamos a presença da juventude Cáritas na JMJ; animamos a inclusão do tema da juventude na Assembleia Geral; representamos a confederação na ONU na discussão dos ODMs e juventude; e, junto com o Secretario-Geral, participamos da entrega do prêmio Mulheres Semeadoras de Desenvolvimento, concedido pela Caritas Internationalis e Vozes de Fé, no Vaticano. Uma atividade da campanha mundial.

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Ná América Latina, realizamos pela primeira vez uma missão em outro país. Em 2013/2014 dois jovens do regional Ceará, Erivan Silva e Isabel Cristina Forte, vivenciaram por um ano uma missão no Haiti, contribuindo com a Cáritas haitiana na sensibilização e implementação da Economia Solidária. Foi criado também um grupo de trabalho, do qual fazemos parte, que dialoga e acompanha as ações da Cáritas haitiana. As lições aprendidas têm nos orientado na formulação da continuidade dessa experiência.

Nesse novo quadriênio (2015-2019), a Cáritas Brasileira assume de maneira ainda mais incisiva a presença e contribuição em nível internacional. Na América Latina, estamos compondo a coordenação do Selacc (Secretariado Latino-Americano e Caribenho de Cáritas) e coordenando a sub-região Cone Sul; estamos compondo vários grupos de trabalho e vamos continuar a nossa presença solidária no Haiti.

Na confederação, a Cáritas Brasileira está compondo o Conselho Representativo Internacional e foi eleita, pela primeira vez, para fazer parte do Comitê Executivo, que é composto do presidente internacional, dois vices-presidentes, duas pessoas indicadas pelo Papa Francisco e duas pessoas (Brasil e Afeganistão) eleitas pelo Conselho Representativo.

Nessa dinâmica tão intensa, animada pela Caritas Internationalis, a Rede tem recebido um acompanhamento especial do Papa Francisco. Em sua homilia de abertura na assembleia geral da Cáritas, afirmou: “A Cáritas é uma grande Confederação, reconhecida amplamente no mundo pelas suas realizações. Cáritas é Igreja em muitíssimas partes do mundo, e deve encontrar ainda mais difusão também nas diversas paróquias e comunidades, para renovar o que aconteceu nos primeiros tempos da Igreja. Porém, as estratégias e planificações permanecem vazias se não tiver em cada um o amor. A Cáritas revela a força do amor cristão e o desejo da Igreja de ir ao encontro de Jesus em cada pessoa, sobretudo quando é pobre e sofre”.

Que a Nossa Mãe Aparecida e Nossa Senhora de Guadalupe continuem protegendo e iluminando a caminhada da Cáritas no mundo, ajudando-a a permanecer em sua missão maior, de ser amor, ser acolhimento de Deus e do próximo, de ser Igreja.

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Pão e justiça para todos

Em dezembro de 2013, a Cáritas Internacional lançou a sua primeira campanha em nível mundial, marcando a atuação de todas as Cáritas no combate à fome e à pobreza. A Campanha Mundial “Uma família humana, pão e justiça para todas as pessoas” parte de um convite feito diretamente pelo Papa Francisco, que chama todos e todas para o compromisso da Igreja para superação da fome que aflige tantas pessoas no mundo.

Infelizmente, todos os anos cerca de 18 milhões de pessoas (50 mil por dia) morrem por razões relacionadas com a pobreza, sendo a maioria mulheres e crianças. Cerca de 11 milhões de crianças morrem antes de completar 5 anos. Um bilhão e 100 milhões de pessoas, cerca de um sexto da humanidade, vive com menos de US$ 1/dia.

No Brasil, a Cáritas, a partir da articulação de políticas públicas para emancipação de sujeitos sociais, assume a Campanha Mundial com um conjunto de ações que mobilizaram a ação da sociedade civil e da Igreja para as questões relativas à desigualdade e as soluções encontradas em processos coletivos de sensibilização, mobilização, cooperação e participação popular nos espaços de poder.

Neste quadriênio, rodas de conversa, a realização de seminários e fóruns, além da articulação do tema com entidades e organizações parceiras foram realizadas para a construção de uma agenda comum, objetivando a construção de um Projeto Popular para o Brasil. Por isso, a Cáritas Brasileira levou a Campanha para espaços que discutiram a Copa do Mundo, as eleições de 2014, o Plebiscito Popular da Constituinte da Reforma Política, somando a campanha no conjunto das lutas e reflexões de movimentos sociais no Brasil.

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Nesse contexto, a Cáritas Brasileira trabalha na construção do Mapa dos Direitos de Pão e Justiça para todas as pessoas do Brasil. Para concretizar essa tarefa, a nossa missão foi ir aos grupos de comunidades, pessoas encarceradas, moradores de rua, mulheres, jovens, camponeses(as), famílias favorecidas com algum programa de governo. Até 2014, foram realizadas mais de 387 rodas de conversa e cerca de 1.100 instrumentos de escuta.

A Campanha da Fraternidade de 2015 também aprofundou a temática Igreja e Sociedade ao identificar os principais desafios da conjuntura brasileira e estabelecer parâmetros e indicadores para a ação pastoral. No caso da Cáritas Brasileira, o trabalho no combate às desigualdades sociais se soma ao contexto da Campanha Mundial.

Para o próximo período, seguiremos com a realização de rodas de conversa e inserção na plataforma da escuta. Em seguida, a Cáritas Brasileira se voltará para o trabalho do grupo de sistematização e lançamento de produtos e publicações sobre o que foi coletado durante as escutas e rodas de conversas.

A Campanha Mundial foi uma das principais ações deste quadriênio. Ela inspira todas as demais atividades desenvolvidas pela Cáritas Brasileira e nos coloca em conexão com as outras Cáritas de

todo o mundo. É um momento que nos convida à reflexão e à mobilização, tendo como parceiros o conjunto dos movimentos sociais e da sociedade civil organizada.

Por Luiz Cláudio MandelaCoordenador Nacional da Cáritas Brasileira

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Cáritas no Brasil: gestão e missão

“Voa... Voa, borboleta, ganha os céus e vai brilhar”.

Se tivermos que eleger alguns temas que são determinantes de toda a sociedade, com certeza a gestão tem se consolidado no decorrer das últimas décadas como um elemento central para qualquer forma de organização. Pensar, planejar, estruturar e desenvolver a gestão tem sido objeto de pesquisa, produção científica e de saber em todas as partes do mundo, pelas mais variadas instituições e também por diversos pensamentos e ideologias. Ou seja, a Cáritas não é a única instituição que se debruça nesse tema, assim como ela pode influenciar e ser influenciada por esse universo de conhecimentos e práticas de gestão. Em artigo recente, feito ao final da assembleia nacional da Cáritas Brasileira com o titulo “Das jangadas às borboletas”, já buscávamos dialogar sobre o processo de reflexão, decisão e desenvolvimento da nova maneira de gestão da Cáritas no Brasil. Nele, ao afirmar que a Cáritas decidiu mergulhar num processo e estruturar suas ações por meio de prioridades, linhas de ação, planos e projetos, além de também soltar as velas e dar partida no que seria a grande mudança em sua dinâmica e estrutura de gestão, já observávamos que seria fundamental que a entidade fizesse escolhas, que em nossa opinião devem se balizar por dois pilares fundamentais para a sua entrada neste universo tão enigmático.

O primeiro tem a ver com a sua origem, pois a Cáritas vivencia, na Igreja do Brasil, a dimensão do serviço, na perspectiva sociotransformadora da evangelização, ou seja, sua razão de existir está na vivência da radicalidade evangélica expressa na opção radical e solidária pelos pobres.

Já o segundo está relacionado com a forma, que se expressa nitidamente naquilo que a Cáritas quer ser, pois, ao se afirmar enquanto rede e se desafiar eternamente a horizontar-se, a Cáritas se define, fazendo com que qualquer modelo de gestão para ela tenha necessariamente que se constituir num processo participativo, democrático e compartilhado.

Seria algo muito bom se essas concepções, opiniões e afirmações se integrassem e rapidamente se constituíssem num “modelo” de gestão ideal e ad infinitum. No entanto, assim como na beleza das jangadas rasgando o mar com suas belas velas e no balé colorido das borboletas que anima os

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céus a cada primavera, a gestão da Cáritas tem muito trabalho, reflexão, sentimento; idas e vindas; amores e desamores e mesmo algumas decisões dolorosas e doloridas. Queria ter oportunidade de refletir sobre todas elas, porém o tempo vai me permitir apenas convidar vossos corações para se debruçar em algumas delas.

Como uma rede imensa, com presença diversa e plural em todo o território brasileiro, a Cáritas percebeu que apenas as estruturas de gestão existentes, e muitas delas presentes em quase todas as instituições correlatas a ela, jamais conseguiriam suplantar o hercúleo desafio de partilhar as decisões com pleno e consciente conhecimento do maior número possível de sujeitos envolvidos na sua rede. Instrumentos e ferramentas para isso foram definidos e hoje se pode dizer que estão consolidados, a exemplo das coordenações colegiadas. Iniciadas em um regional, hoje estão presentes em todos os secretariados regionais e em dezenas de Cáritas arquidiocesanas. Os inter-regionais, que a princípio surgiram como forma de otimizar recursos, hoje são uma instância de gestão da rede, ampliando a participação, formando lideranças, dinamizando os processos de formação, reflexão e incidência política da rede nos territórios, fazendo dessa forma com que o lema do congresso de Belo Horizonte em 2003 se mantenha vivo e forte, “do local ao global”.

E, como participar para Cáritas significa realmente participar, a necessidade de construir e ampliar o conhecimento é tarefa cotidiana, tanto no macro como no micro. Dessa forma, a construção do marco referencial da Cáritas Brasileira, da política nacional de formação, dos grupos “temáticos” de trabalho e do Fórum Nacional da Cáritas é uma ferramenta macro que cuida de no universo nacional fazer com que a rede construa conhecimento de forma horizontal. Esse esforço ganhou mais um reforço quando a Cáritas decidiu estruturar o seu próprio centro de formação, um espaço na capital federal que, além de dinamizar os processos formativos e reuniões nacionais, tem contribuído com a mobilização de recursos e com o fortalecimento e popularização da identidade e missão da Cáritas para além das entidades e instituições que historicamente já se relacionavam com a Rede.

Da mesma forma que no âmbito global/nacional onde essas e outras ferramentas citadas cuidam também nas esferas micro, muitas iniciativas tópicas se consolidaram como partes fundamentais da gestão da rede, por exemplo: no secretariado nacional foi criada a instância da colegiada ampliada, coletivo composto de representantes dos vários setores que, coordenado pela colegiada nacional, dinamiza a gestão do

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secretariado nacional. Essa mesma estrutura ou outras correlatas também se enraízam no interior da rede, fazendo com que a formação de agentes e gestores se faça não de forma espontânea, mas sim com planejamento, se constituindo não somente como uma ação, e sim como uma estratégia e prática de gestão para a Cáritas.

A Cáritas é um organismo da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e recebe com amor e missão a tarefa de ser o braço social da igreja. O Papa Francisco coloca ainda mais peso nisso, quando diz que A Cáritas é a carícia da mãe igreja, ou seja, organizar, animar e principalmente ser um serviço à solidariedade. Nesse sentido, cremos que dois movimentos se constituíram em grandes forças para que a Cáritas consiga cumprir efetivamente essa missão, sendo o primeiro um movimento para dentro, que se concretiza com ações de aproximação, envolvimento e articulação dos bispos presidentes de entidades-membros (nas dioceses) e referenciais (dos regionais). Para isso, o encontro nacional dos bispos, que acontece anualmente, tem se consolidado como um espaço profícuo para pensar a Cáritas no Brasil. Esse mesmo espaço tem se estruturado em todos os regionais com encontros anuais da Cáritas com os bispos e ainda com a participação efetiva nas assembleias regionais da CNBB.

E o segundo o movimento sendo para fora, apontando para o papel da Cáritas na sociedade. Aí nesse aspecto poderíamos citar várias ações e momentos, no entanto quero me debruçar em dois: sendo o primeiro a Campanha do SOS Haiti que, para além de arrecadar recursos (oito milhões de reais), colocou o Brasil e a Cáritas Brasileira no rool dos países que respondem prontamente quando chamados à solidariedade. E por outro lado vai se firmando no imaginário da sociedade que a Cáritas é quem estrutura, organiza e faz chegar aos vulneráveis e atingidos a solidariedade concretizada em serviços, recursos e principalmente o amor.

Ao se aproximar dos seus 60 anos, a Cáritas Brasileira se impele a mergulhar ainda mais profundo nas estruturas que dão razão para sua existência. Parece-nos que o Papa Francisco, ao afirmar querer uma “igreja em saída”, uma igreja pobre para os pobres, chama-nos a atenção. A Cáritas tem sim responsabilidade de contribuir com a abertura das portas, para que a os pobres entrem e para que a igreja saia. Da mesma forma que num momento tão complexo da humanidade a Cáritas pode ser o porto aos que chegam de bote, como pode também ser o alicate que corta os arames das cercas, a mão que acolhe e que levanta. Como também pode ser as mãos que impedem a violência e a opressão, tudo isso só se pode fazer com muito amor no coração e gestão nas mãos, pois afinal o que seriam das borboletas se as lagartas não se encapsulassem, ou mesmo das estrelas, para nós, se a Terra não cobrisse o brilho do sol.

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O fortalecimento da Cáritas na Região Norte do país

Neste quadriênio, a Cáritas Brasileira voltou sua atenção à Região Norte do país. A partir do IV Congresso da entidade, foram iniciadas ações para o fortalecimento e consolidação da Cáritas, principalmente na Amazônia, Roraima, Acre, Rondônia e no sul do Amazonas, onde as articulações regionais, Norte 1 e Noroeste, passaram a ter um bispo de referência.

Com o apoio das Cáritas da Espanha e França, um projeto de três anos pôde ser firmado para atividades junto ao regional Norte 2 e as articulações regionais Norte 1 e Noroeste. Desse modo, o trabalho inicial foi o de levar a Cáritas às diversas dioceses na região a partir da campanha “Uma família humana, pão e justiça para todas as pessoas” e do projeto “10 milhões de Estrelas”. Foram formas de apresentar a Cáritas Brasileira, firmar os primeiros voluntários da região e, assim, conformar uma rede local para ações da Cáritas.

Esse movimento resultou na ampliação de 50% das entidades-membros na região. O crescimento mais expressivo de toda a Rede Cáritas em forma proporcional. As entidades-membros agora participam da

gestão dos Fundos Diocesanos de Solidariedade (FDS) e trabalham, principalmente, com a formação e construção de projetos e empreendimentos de Economia Solidária na região amazônica.

Vale destacar que a Região Norte apresenta particularidades que torna essa ação especial. Trata-se de singularidades geográficas, que tornam o acesso mais demorado, quando não feito de forma fluvial. Dessa forma, o fortalecimento institucional da Cáritas nesses regionais teve que se adaptar às realidades locais, mas sem perder de vista os pilares que sustentam a nossa organização, tais como a formação de agentes de base, a realização de Diagnósticos

Rápidos Participativos (DRP), a construção da mística e da espiritualidade.

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Os DRPs foram um importante avanço para a organização da Cáritas na região amazônica. Foi através desses diagnósticos que as linhas de ação foram estruturadas. Já nas primeiras reflexões, verifica-se a importância do trabalho em relação aos impactos dos grandes projetos, a exemplo dos complexos hidrelétricos do Rio Madeira, do complexo Jirau e Santo Antônio e a linha de transmissão Rondônia-Araraquara.

Esses projetos se apresentam como o progresso para a região, mas, na realidade, sua execução viola direitos de povos tradicionais e traz diversos problemas sociais para a comunidade, tais como o tráfico de drogas, a exploração sexual infanto-juvenil, violência e pobreza. São fragilidades que encontram nas dioceses e na Cáritas um lugar de ajuda, organização e participação. Nossa aliança é com os movimentos sociais populares.

Assim, buscamos a conscientização dos governantes acerca dos impactos dos grandes projetos de “desenvolvimento” na região. Trabalhamos em ações que tragam saúde, educação e desenvolvimento sustentável nas áreas urbanas e rurais. Outra atividade importante está na organização da juventude, principalmente para a incidência política em políticas públicas, fóruns e conselhos de participação popular.

O passo dado por toda a Rede Cáritas para a sua consolidação na Região Norte nos trouxe uma imensa alegria e diversos desafios. Uma região, de cultura forte e uma vasta riqueza natural, apresenta-se com problemas sociais, cuja solução está na organização popular. É nesse aspecto que a Cáritas Brasileira se insere e continuará seu trabalho nos próximos anos.

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Celebrar a mística do voluntariado

Quando se trabalha com grupos sociais e comunidades, é necessário ter o diálogo e a construção coletiva como princípios. É nesse contexto que os voluntários da Rede Cáritas possuem a mística de quem busca o compromisso com os pobres, na perspectiva de uma sociedade justa e igualitária. Os(as) voluntários(as) são responsáveis pela animação, planejamento participativo das ações e das mediações internas e externas que pessoas têm condição de realizar.

Dos 12 mil agentes Cáritas no Brasil, 89% são voluntários(as), número que vem aumentando desde outubro de 2013, quando a nova página de internet da Rede Permanente de Solidariedade (RPS) abriu a possibilidade de colaboração por meio do voluntariado. Dos contatos recebidos pelo novo site da RPS, 30% são de pessoas que ofereceram seu tempo, seus conhecimentos e habilidades eletivamente em prol de alguma ação da Cáritas. A partir da página da RPS, 55% dos contatos foram realizados por mulheres e 45% por homens, o que mostra uma situação de equilíbrio no que antes era considerado um comportamento tipicamente feminino.

Nesse contexto, o Secretariado Nacional da Cáritas recompôs o Grupo de Trabalho de voluntariado, com a tarefa de não só ampliar o número de voluntários ao secretariado, mas

também de auxiliar as entidades-membros na busca de projetos e atividades que possam animar quem trabalha por amor ao próximo e encontra na Rede Cáritas o espaço para a construção de uma nova sociabilidade.

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Em todos os regionais Cáritas, estimularam-se a formação e a busca do voluntariado nos espaços como encontros, assembleias, reuniões. Atividades específicas também são realizadas pelas entidades-membros para a formação e ampliação do voluntariado. Alguns casos são especiais, como o da Cáritas Diocesana de Dourados (MS), que atua em mais de 150 projetos nas linhas da geração de trabalho e renda, formação humana, religiosa e política, todos com o trabalho de seus 21 voluntários. O passo dado neste quadriênio pela Cáritas Brasileira em relação ao seu voluntariado foi fundamental não só para a constituição de uma rede sólida, mas também para que todos e todas tenham conhecimento do perfil das pessoas que ajudam nas ações da Cáritas. Por isso, uma publicação está sendo preparada para que tenhamos sistematizadas as informações acerca dos voluntários que ajudará nesse processo de consolidação e capilarização dessa política.

Os voluntários doam seu tempo, seus conhecimentos técnicos com satisfação e alegria. É quem dá vida ao trabalho da Cáritas. Eles encontram na Educação Popular a arma necessária para a construção da tão sonhada sociedade justa, fraterna, solidária e defensora do planeta sustentável.

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Cuidar da juventude para termos um futuro promissor

Há mais de 10 anos, a Cáritas Brasileira definiu sua política nacional para o trabalho com a infância, adolescência e juventude. A política, centrada no horizonte político da ação da Rede Cáritas, permitiu que os agentes intensificassem a formação para o protagonismo e o trabalho junto aos conselhos de políticas públicas relativos à criança, ao adolescente e à juventude.

A partir do protagonismo exercido junto aos Conselhos de Políticas Públicas incorporados à juventude, nasceu o PIAJ, o Programa de Infância, Adolescência e Juventude da entidade, que vincula a garantia e a promoção dos direitos desse público à concepção de desenvolvimento solidário e sustentável.

Desse modo, a Cáritas Brasileira realizou encontros nacionais de adolescentes, formação política com grupos e comissões regionais de adolescentes e jovens a partir das campanhas e mobilizações para garantia de direitos. O PIAJ incentiva e apoia atividades educativas com foco no Estatuto dos Direitos da Criança e Adolescentes (ECA) e outros referenciais de apoio na defesa e proteção dessas categorias sociais, estimulando a participação política em suas comunidades e Conselhos de Direito e Fóruns da Criança, Adolescente e Juventude. Neste quadriênio, mais de 730 projetos foram realizados por todos os regionais Cáritas em torno do PIAJ.

No que tange às crianças e adolescentes, a referência ao ECA é fundamental para o combate ao trabalho infantil e ao abuso e exploração sexual, para o trabalho do protagonismo desse público, além do atendimento a crianças em situação de vulnerabilidade pessoal e social. Entre as ações desenvolvidas, pode-se destacar o Voto Adolescente, o Enfrentamento à Violência e Exploração Sexual, a Participação na Gestão de Políticas Públicas, as ações contra a redução da maioridade penal, seminários regionais e nacionais com temáticas sobre a conjuntura atual e a elaboração dos planos de ação regional e nacional.

Através do PIAJ, a Cáritas também atua nos espaços de mobilização para efetivação dos direitos, como na Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, Campanhas contra a Violência e Extermínio de Jovens e pela Aprovação do Estatuto da Juventude e Jornada Mundial da Juventude. Todas essas ações alcançaram direta e indiretamente quase 10 mil crianças, adolescentes e jovens.

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A participação em redes e fóruns também é parte do programa. A Rede Juventude Viva é um exemplo diante da principal causa de morte de jovens de 15 a 29 anos — o homicídio. Esse problema atinge, principalmente, a juventude negra do sexo masculino, moradores das periferias e áreas metropolitanas dos centros urbanos. A partir dessa constatação e com parceria do governo federal, o Plano Juventude Viva é fruto de uma intensa articulação interministerial para enfrentar a violência contra a juventude brasileira, especialmente os jovens negros.

A priorização da juventude nos trabalhos da Cáritas Brasileira também foi refletido no incentivo a trabalhos e projetos que tivessem esse público como principal alvo. Foi o caso da terceira edição do prêmio Odair Firmino de Solidariedade, que escolheu como tema “Juventude, desenvolvimento e solidariedade”. Os finalistas selecionados entre os 97 inscritos apresentam a juventude como protagonista principal de seu desenvolvimento e da superação dos desafios próprios e sociais: a solidariedade, na visão da Cáritas, é componente essencial do desenvolvimento. Mais de 36 mil crianças e adolescentes já participaram de ações em defesa de seus direitos e de atividades socioeducativas promovidas pela Cáritas Brasileira.

Também destacamos o I Encontro Internacional de Jovens da Cáritas, ocorrido em julho de 2013, em Mário Campos (MG). O encontro afirmou o ideal evangélico de “Partilhar o pão para que todas as juventudes tenham vida”. Mais de 100 jovens latino-americanos da Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Haiti, Honduras, México e Uruguai participaram da atividade e compartilharam da indignação pela multidão de jovens com baixa escolaridade, com horizonte privado de grandes sonhos desde cedo.

Já para a Jornada Mundial de Juventude (JMJ), também em 2013, a presença da Cáritas foi articulada para a preparação do evento. Durante a passagem dos símbolos pelo Brasil, os jovens Cáritas se fizeram presentes. Debates sobre as experiências realizadas na área de emergências e direitos humanos, tal como a realidade juvenil e políticas públicas, estiveram entre os temas principais da juventude Cáritas. Como parte das atividades, o cardeal Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, bispo de Honduras e presidente da Caritas Internationalis, fez um intercâmbio com os jovens Cáritas da América Latina durante a JMJ, com a presença do Monseñor Dumas, presidente da Cáritas Haitiana, e Monseñor Rosa Chávez, presidente da Cáritas de El Salvador.

Neste quadriênio, a qualificação das ações que envolvem a temática da criança e da juventude foi realizada de forma contundente e transversal a todas as atividades desenvolvidas pela Cáritas Brasileira. O PIAJ é um programa consolidado e colhe seus frutos em todas os regionais e entidades-membros, de forma a promover os sujeitos, crianças, adolescentes e jovens, juntamente com suas famílias e comunidades. O próximo passo será a nacionalização do PIAJ enquanto política, com metodologias e ações próprias, trabalho que em breve será lançado pela Cáritas Brasileira.

Por Dom Flávio GiovenalePresidente da Cáritas Brasileira

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“A Cáritas é a carícia da Igreja ao seu povo, a carícia da Mãe Igreja aosseus filhos, a ternura, proximidade”.

Essas palavras do Papa Francisco nos indicam perfeitamente a identidade e a missão da Cáritas: “Somos Igreja, somos solidariedade, somos ternura! Somos Cáritas”.

Ao longo do quadriênio, continuamos a caminhada para que essas características se tornassem cada vez mais evidentes.

SOMOS IGREJA

Nascemos na Igreja Católica e partilhamos sua vida, suas escolhas, suas incertezas, sua missão. Como Igreja Católica, temos uma característica ecumênica: nossos destinatários não são perguntados quanto à sua religião e temos agentes que congregam em outras Igrejas cristãs ou em outras religiões, mas nossa espiritualidade é católica.

E católica no Brasil: dialogamos com a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e procuramos estar em sintonia com suas diretrizes. Como em todo relacionamento fraterno, houve encontros, sinceridade, diálogo e também algumas tensões que foram esclarecidas e quase todas superadas. Nem da parte da CNBB, nem da Cáritas faltou vontade de diálogo, de superação, de construção de um relacionamento respeitoso das competências e identidades. Os altos e baixos indicam, nesse “eletrocardiograma de relacionamento eclesial”, que estamos bem vivos e com vontade de viver juntos na Igreja.

Em nome da Igreja do Brasil, criamos e administramos por 15 anos o Fundo Nacional de Solidariedade (FNS), fruto da coleta da Campanha da Fraternidade. O FNS, a partir de 2015, passa a ser gerido diretamente pela CNBB. Mas nossa parceria nesse campo vai continuar.

Papa Francisco no encontro com a Cáritas Internacional em 16/05/2013

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A campanha mundial “Uma família humana, pão e justiça para todas as pessoas”, lançada com o apoio do próprio Papa, não acabou: continua nos inspirando e nos animando até que todas as pessoas, até as que vivem nos lugares mais isolados e esquecidos do Brasil e do mundo, possam se alimentar de pão e de justiça.

SOMOS SOLIDARIEDADE

A solidariedade é marca registrada da Cáritas. As campanhas extraordinárias pelo Nepal, pelas Filipinas, pela Síria e especialmente todo o esforço pelo Haiti mostram o rosto mais bonito do Brasil que abre o seu coração para o mundo.

Internamente respondemos às enchentes na região serrana do Rio de janeiro, no Espírito Santo e Santa Catarina e tantas outras emergências que foram atendidas localmente.

Mas somos solidariedade especialmente no dia a dia, através da Economia Solidária que transforma vidas segundo o projeto de Jesus: vida plena para todos.

SOMOS TERNURA

O Papa nos indica que a Cáritas é ternura: é amor que se sente. Não basta amar! Os pobres, os necessitados precisam saber que são amados. Amados por Deus e amados pela gente.

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O jeito Cáritas de trabalhar é com o sorriso nos lábios, mesmo no meio das dificuldades e dos desafios. É o jeito da mãe que chora em segredo para que seus filhos não percebam sua dor e assim tenham mais forças para enfrentar os problemas e, às vezes, as tragédias. É o jeito do cristão que sente indignação frente às injustiças, mas não odeia, porque o ódio constrói mais violência e injustiça.

Cáritas semeia paz: por isso abraçamos a campanha da CNBB pela paz e lançamos a iniciativa “10 milhões de estrelas” a iluminar os lares e os corações do Brasil.

SOMOS CÁRITAS!

É a certeza que temos há quase 60 anos e o ideal que queremos continuar a construir:

Um mundo solidário como Deus o sonhou. Uma sociedade justa como Jesus indicou. Uma autoridade a serviço como Cristo viveu e pediu.Vida em abundância para todos; igualdade e oportunidade para todas as mulheres e os homens deste País e do mundo. Economia a serviço das pessoas. O ser humano como centro da natureza e do universo... O amor feito pão e justiça para toda a família humana.

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A solidariedade a todos os povos é uma das motivações de ser Cáritas. E uma das situações mais especiais deste quadriênio foi a atuação da Cáritas Brasileira em solidariedade com o povo haitiano, após o terrível terremoto que assolou o país em 2010, deixando mais de 1,5 milhão de habitantes desabrigados e 250 mil pessoas feridas.

A partir da campanha SOS Haiti, uma das mais expressivas já realizadas pela Igreja no Brasil, a Cáritas Brasileira arrecadou R$ 8.219.496,93. Atuando no Haiti, mas também no Brasil, a Cáritas ajudou as centenas de haitianos que chegaram ao Brasil em busca de novos sonhos. Em cidades como Tabatinga e Manaus, ambas no Amazonas, a Cáritas atuou de forma a mobilizar apoios tanto do governo federal como de outras entidades para a garantia dos direitos humanos de quem chega ao Brasil. Buscou-se o atendimento das primeiras necessidades, como alimentação e remédios, para os migrantes que estavam em Tabatinga. As pastorais e pessoas voluntárias organizaram mutirões de almoço e cafés da manhã, além de atividades culturais e aulas de português.

No Haiti, nossa equipe de campo viveu, lado a lado, com as comunidades sob o trauma de ver ruas inteiras destruídas e não saber se os membros daquelas famílias estavam vivos ou mortos. A Cáritas Brasileira

atuou em projetos que incentivaram a agricultura familiar, através de formações, capacitações de técnico agrícola, irrigação e abastecimento de água e criação de animais. Esse

projeto se realizou através de uma parceria entre a Cáritas Brasileira e o Vicariato para a Ação Social e Política da Arquidiocese de Belo

Horizonte, coordenado pela entidade haitiana Tèt Kole e a Cáritas do Haiti.

Não existe fronteira para a solidariedade

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No âmbito da saúde, a Cáritas Brasileira construiu um ambulatório com maternidade, distribuição de medicamentos e capacidade de 200 atendimentos por dia. Na área da educação, foram construídas 10 escolas paroquiais, cada uma com seis salas de aula e cisterna. Outras cinco escolas estão em fase de conclusão. No que tange à habitação, 53 casas com cinco cômodos, varanda e cisterna foram construídas e mais 60 habitações estão em processo de conclusão de sua construção.

Para a busca de novas formas de sociabilidade e geração de renda, as experiências em Economia Solidária foram levadas ao Haiti através de dois agentes da Cáritas Brasileira, Erivan Camelo e Isabel Forte, que permaneceram no país por um ano. Foi a primeira vez que a Cáritas Brasileira enviou membros da entidade para outro país para acompanhar as ações desenvolvidas, no caso, no Haiti. Os dois membros da Cáritas contribuíram com comunidades agrícolas de Jérémie, cidade haitiana, por meio de ações de Economia Solidária.

Segundo o relato dos agentes, o desenvolvimento humanitário, base da Economia Solidária, de comunidades haitianas, foi possível por meio de mutirões de solidariedade mútua, atividades

comunitárias para geração de trabalho e renda e fundos rotativos. Foram 86 grupos de solidariedade mútua, com 2.150 pessoas envolvidas, 80% mulheres.

Essa experiência foi muito importante para o conjunto da Rede Cáritas e foi uma das ações mais importantes deste quadriênio. Mostrou-nos que podemos crescer com outras experiências e

intercambiar o que aprendemos aqui no Brasil. Embora se trate de realidades diferentes, o sentimento de solidariedade em sua plenitude viajou para além das nossas fronteiras.

Por Padre Evaldo Praça FerreiraDiretor-Secretário da Cáritas Brasileira

O tema Gestão de Riscos e Emergências tem se tornado cada vez mais evidente no dia a dia das ações e reflexões da Cáritas Brasileira, seja em âmbito nacional ou internacional, haja vista a decorrência do quanto o aquecimento global tem influenciado as mudanças climáticas e provocado alterações no clima em dimensão mundial.

As tragédias causadas pelos desastres naturais estão sempre sendo reportadas na mídia convencional e quase instantaneamente nas redes sociais. Constantemente, em algum lugar do mundo tem um ser humano afetado por alguma adversidade. Certamente muitas “tragédias naturais” poderiam ser evitadas, pois, como dizem alguns ambientalistas ou estudiosos do problema: “são tragédias anunciadas”.

De modo geral, a sociedade é vítima e protagonista da situação. Vítima do desmatamento que favorece as monoculturas, as queimadas para a produção de pastagens, a implantação dos grandes projetos industriais, a queima de combustíveis fósseis, entre outros, assoreando rios, secando nascentes, dizimando comunidades tradicionais. Por outro lado é também protagonista quando comunga ou apoia essas intervenções desastrosas e principalmente quando não usa o poder que lhe foi impetrado.

Confrontando essas ideologias de desenvolvimento, a CB tem-se ocupado cada vez mais com os debates sobre o aquecimento global e suas alterações climáticas com suas reações na natureza, evidenciando que o modelo de desenvolvimento predatório vem dando constantes sinais de ser insustentável.

No entanto, para a Cáritas Brasileira, independente de ser tragédia anunciada ou não, na hora da calamidade o que conta é a solidariedade com os necessitados, que, na maioria das vezes, já foram vitimados antes mesmo da tragédia, por terem necessidade de morar em áreas de riscos por não terem garantias de acesso ao direito constituído de ter uma casa digna para morar.Diferentemente de outros países, que sofrem desastres de grandes proporções como os tornados, terremotos, tsunamis e furacões, o Brasil, sobretudo nas últimas décadas, vem sofrendo com as situações de emergências provocadas por vendavais, chuva de granizo, inundações, seca e deslizamentos. Praticamente todos os anos, em algum lugar do país tem uma família, uma comunidade ou até um estado inteiro, vivendo uma situação de emergência.

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Essa é a motivação para a Cáritas Brasileira abraçar a causa, quando muitos querem correr para um lugar mais seguro, e lançar campanhas emergenciais, pois acredita que a solidariedade humana ainda é um sentimento que une as pessoas quando elas mais necessitam, independente de estar longe ou perto, pois, como dizia Betinho: “quem tem fome tem pressa”. Com esse propósito, a soma dos esforços individuais e coletivos se transforma em uma grande ação humanitária que resgata a dignidade de muitas pessoas, famílias e comunidades, para além de saciar a fome de pão.

Um grande exemplo disso foi o que mostrou a Campanha Emergencial lançada pela Cáritas Brasileira em 2011 para socorrer as vítimas das chuvas que atingiram fortemente a Região Sudeste, que pode ser facilmente lembrada quando se fala da região serrana do Rio de Janeiro. Foi uma grande tragédia, claro que anunciada no ano anterior, quando uma pousada deslizou por causa das chuvas na região.

A campanha lançada em 13 de janeiro de 2011, mobilizou milhares de pessoas e arrecadou uma enorme quantidade de donativos entre alimentos, roupas, medicamentos, materiais limpeza e higiene pessoal, água e R$ 3.277.403,19 em dinheiro, recebido também do exterior. Os recursos arrecadados serviram de socorro imediato a muitas vítimas, mas serviu também como oportunidade para a Cáritas Brasileira contribuir para

algumas famílias a retomar parte da vida, perdida nos escombros, na lama, nas enxurradas, como é o caso das 25 famílias de Barra de São Francisco (ES), contempladas com recursos dessa campanha, as

quais estão construindo a casa própria e reconstruindo a dignidade.

No entanto, essas mesmas famílias que perderam as casas com as chuvas de 2011 estão vivendo, quatro anos depois, a emergência da seca no ES, denominada crise hídrica. Em

janeiro de 2014, mais de 50% dos municípios capixabas estavam em situação de emergência por causa das chuvas, que alagaram e isolaram comunidades inteiras, causando a morte de

dezenas de pessoas. Essa realidade afirma o quanto o tema Gestão de Riscos e Emergências marca o cotidiano da Cáritas e reforça o entendimento do quanto os

“desastres naturais” são frutos da ação ou da omissão humana.

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Durante 15 anos, o Fundo Nacional de Solidariedade (FNS) construiu uma metodologia de apoio aos pequenos projetos, que estão distribuídos em três eixos: formação e capacitação, mobilização para a conquista e efetivação de direitos e superação de vulnerabilidade econômica e geração de renda. O fundo é destinado à aprovação de iniciativas locais em conformidade com a temática social da Campanha da Fraternidade. Dessa forma, trata-se de um suporte financeiro que favorece o controle social, a geração de trabalho e renda e a defesa de direitos.

Desde seu lançamento, em 1998, foram apoiados mais de três mil projetos em todo o país. A Coleta Nacional da Solidariedade que acontece todos os anos, por ocasião do Domingo de Ramos, é assim partilhada para a composição de fundos organizados pela Igreja: 60% do total arrecadado, na diocese, constituem o Fundo Diocesano de Solidariedade (FDS), gerido pela própria diocese, em vista dos seus projetos sociais; os outros 40% compõem o FNS.

A Cáritas Brasileira teve papel importante na criação do FNS e dos FDS, juntamente com a CNBB. Foi a experiência na gestão de fundos de apoio a pequenos projetos, sob a perspectiva pedagógica não

assistencial, mas sustentada por relações de trocas comunitárias solidárias, financiadas com recursos da Cooperação Internacional, que credenciou a Cáritas Brasileira a assumir os

processos de animação, administração e gerência do FNS.

A contribuição da Cáritas para as iniciativas sociais

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Dessa forma, os eixos trabalhados a partir da coordenação da Cáritas Brasileira trouxeram iniciativas de capacitação para participação cidadã, autogestão e gestão compartilhada. Além disso, projetos para a formação de grupos sociais, campanhas e mobilizações para proteção da dignidade da pessoa; integridade da criação; minorias; juventude; cultura da paz, diálogo inter-religioso e intercultural; fortalecimento da democracia participativa, entre outros. Não menos importante, a Cáritas fortaleceu iniciativas de redes de proteção, comercialização e consumo solidários; reciclagem de materiais; produção agroecológica, entre outras que visem à economia e à geração de trabalho e renda nas comunidades.

Neste quadriênio, destacamos ainda a coparticipação do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDS) para o aporte de recursos a projetos que buscam o apoio do FNS. No ano de 2015, a coordenação e gestão dos recursos do FNS passou a ser realizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A Cáritas Brasileira administra as ações do FNS como membro do Conselho Gestor. Só no ano referido, foram aprovados 148 projetos relacionados à formação, 71 projetos que tratavam da mobilização de grupos e pessoas e, ainda, 107 projetos que impulsionavam arranjos produtivos. Ao todo, foram 328 projetos, e foram aplicados R$ 6.270.098,41.

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Durante 15 anos, o Fundo Nacional de Solidariedade (FNS) construiu uma metodologia de apoio. Ainda que o trabalho da Cáritas Brasileira tenha um planejamento particular, a ação integrada com as pastorais sociais da Igreja se faz importante para o desenvolvimento dos objetivos da Rede Cáritas em todo o país. Parcerias que definem a ajuda em diversos grupos em situação de vulnerabilidade social, mas também em campanhas e atividades que fortalecem a reflexão sobre democracia e participação popular.

Dessa forma, a participação da Cáritas na Semana Social Brasileira (SSB) é vista como prioridade. A SSB, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) através da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade Justiça e Paz, acontece desde 1991 e tem contribuído no debate com a sociedade para proposições de iniciativas para a superação das desigualdades sociais e regionais. É um esforço conjunto das organizações sociais na defesa dos direitos humanos, civis e da natureza, e proposição de políticas públicas includentes, como expressão da solidariedade e da profecia cristãs.

Em 2013, já em sua quinta edição, a SSB tratou do tema “Estado para que e para quem”. As reflexões sobre a realidade sociopolítica do país, além do apontamento para mobilizações e posicionamentos

acerca do papel dos movimentos sociais e do Estado, estiveram presentes durante as atividades da Semana. Debates sobre a Reforma Política, com a atuação em

parceria com a Coalizão Democrática pela Reforma Política e Eleições Limpas, aconteceram nos 250 encontros em todo o Brasil, reunindo

acadêmicos e autoridades estatais, pesquisas, atividades didáticas, celebrativas e recreativas, entrevistas,

videoconferências, além de diversas publicações.

A integração com as pastorais sociais da Igreja

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A 5ª Semana Social Brasileira, ao debater sobre o Estado para que e para quem, deu vez e voz ao conjunto da sociedade, bem como aos povos e comunidades impactadas pelas políticas do Estado, em sintonia com os clamores das ruas e suas reivindicações.

Como compromissos, o conjunto dos participantes da 5º SSB assumiram o apoio à campanha de abaixo-assinado pela reforma política, coordenada pela Coalização, da qual a CNBB é signatária; a realização de um Plebiscito Popular por uma Assembleia Constituinte Exclusiva pela Reforma Política, lançada pela Plenária dos Movimentos Populares. Além disso, apontou-se a participação na campanha pela demarcação das terras indígenas, dos territórios tradicionais, dos quilombolas e territórios pesqueiros, além da solicitação ao Papa Francisco para que a Igreja convoque uma assembleia internacional sobre a vida no planeta.

É importante destacar o fortalecimento das relações com o conjunto das Pastorais Sociais durante este quadriênio. Seja para ações conjuntas, seja para a reflexão de um país mais justo e solidário, o

trabalho em aliança com as Pastorais Sociais só fortalece as organizações populares brasileiras que encontram não somente um espaço de atuação e reflexão nas Semanas Sociais, mas também elaboram princípios e políticas para manter viva a luta pela democracia e a participação popular.

Por Anadete Gonçalves ReisVice-Presidente da Cáritas Brasileira

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Pescando Juntos

Dar o peixe ou ensinar a pescar? Essa questão vem povoando o imaginário da Cáritas e de seus agentes desde que foi criada em 1956 tendo como patrono ninguém menos que D. Helder Câmara. Lembremos que naquele momento, pouco mais de 10 anos após o fim da II Segunda Guerra Mundial e com o país ainda entrando num processo mais aprofundado de industrialização, com uma porção considerável da população em miséria, pensar num organismo que se dedicasse, enquanto missão, a atuar junto e com as populações mais vulneráveis seria redundância.

Sim!, a Cáritas foi, é e será sempre uma Rede que dá o peixe, dá o anzol, ensina a pescar e também promove o direito de pescar. Por que afirmamos isso? Porque a radiografia da sociedade à época da criação da Cáritas ainda persiste até hoje, mesmo a humanidade tendo passado por pelo menos três revoluções (industrial, biotecnológica e da informação) nesse período.

Por outro lado, assim como em outros países, a estrutura do estado brasileiro não foi pensada para promover e proporcionar o cuidado para com as pessoas que sofrem pelas ações que muitas vezes são promovidas por essa mesma estrutura que nasce, cresce e se reproduz para proteger a propriedade privada. Historicamente as ações sociais e de cuidado para com a população vulnerável foram facultadas para organizações beneficentes, muitas delas ligadas às congregações religiosas. A origem do que hoje é uma das políticas públicas mais estruturadas do mundo, o SUAS e o SUS, vem dessas experiências históricas de cuidado.

Dessa forma, ao olhar novamente para a questão “dar o peixe ou ensinar a pescar?”, podemos refletir sobre ela com mais cautela ou mesmo de outro prisma, já que ela deve ser analisada não pontualmente, olhando a família, o grupo ou a comunidade “atendida/beneficiada” por uma determinada ação. Se olharmos com a lupa da sociedade/estado como um todo, o ciclo se completa, a questão acima se minimiza e o poder da interrogação e da dúvida se transforma em afirmação. Como assim? Quer dizer que a dúvida desapareceu, muitos ainda devem se pergutar. Sim, neste curto ensaio, temos o objetivo de dialogar sobre o sentido das políticas sociais tendo como o guarda-chuva agora a afirmação: dar o peixe e ensinar a pescar.

Mesmo estando presente na região semiárida apoiando, dando cestas, água, alimentos por trabalho, etc., foi em 1997, após mais um grande período de estiagem, que a Cáritas decidiu promover uma ação integrada e baseada em fundamentos e ensinamentos que os próprios povos do semiárido apresentavam. Surge o Programa El Ninõ, que depois se amplia, ganha força e se consolida como o PCSA – Programa de Convivência com o Semiárido que, ao se aliar com outras ações correlatas desenvolvidas por milhares de outras entidades, criam uma articulação da sociedade civil, a Asa – articulação do Semiárido que apresenta ao governo uma proposta de como atuar com os vulneráveis dessa região. O P1MC, o P1+2, a Educação Contextualizada são apenas alguns exemplos dessas ações que se constituem em programas e projetos. No entanto, o mais importante é que o ciclo fechou e o modo de ver o território do semiárido e os povos que nele vivem se modificou.

Da mesma forma que o semiárido, outro tema muito debatido quando se tratava da polêmica questão dos peixes é a questão dos desempregados, sem renda, sem terra, das mulheres e mesmo dos jovens sem ocupação, o que alinhava todos esses públicos é a impossibilidade endógena e autônoma de gerar renda. Olhando esse cenário, ainda nas primeiras décadas de sua existência, a Cáritas buscou atuar como era e foi possível, multiplicaram-se os cursos de pintura, artesanato, corte e costura, cabeleireiro, todos buscando inserir os empobrecidos no mundo trabalho

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pela formação e promoção. Já nos anos 1970 e 1980, a Cáritas insere nessa estratégia o fomento ao trabalho autônomo, apoiando grupos rurais e urbanos a iniciar ou aprimorar uma atividade produtiva coletiva, surgindo os primórdios da Economia Solidária no Brasil. Desse momento até a criação da SENAES e das políticas públicas de Economia Solidária, foi um caminhar de três décadas e uma mudança de olhar sobre o papel e a influência da Economia Solidária para superação das vulnerabilidades sociais e econômicas da população.

Estar junto, estar próximo, proteger quando necessário sempre foi um método e uma missão das pastorais e organismos da Igreja. Mesmo em momentos fortes e difíceis, como foi o período da Ditadura Militar, a Cáritas se manteve sempre presente no cotidiano e na vida daqueles e daquelas que viam seus direitos serem subjugados e ultrajados, ou seja, sempre foi papel de entidades sociais e pastorais proteger, promover e em alguns casos garantir os direitos de muitos, mesmo frente ao Estado. Após o fim da Ditadura e com a promulgação da “Constituição Cidadã”, de 1988, o Estado e os governos, responsáveis por assegurar os direitos a todos, tiveram que ser ora pressionados, ora acalentados para que se iniciassem, em passos muito curtos, a cumprir esse papel. A criação da Secretaria de Direitos Humanos, em 2003, desenvolvendo vários programas, leis e políticas, foi um marco importante para introduzir na sociedade como um todo o olhar de que assegurar direitos é papel do estado.

Os três exemplos dados alimentam a reflexão de que quando olhamos o contexto da Cáritas no decorrer dessas quase seis décadas podemos afirmar que ela conseguiu contribuir para que o Estado brasileiro venha se retroalimentando na questão motivadora deste diálogo. Ou seja, no momento em que está dando o peixe,

dando o anzol, ensinando ou mesmo dizendo do direito de pescar, a Cáritas afirma que esse papel é também e prioritariamente do Estado. Da mesma forma que diz ao Estado (governo) que esse papel

deve ser cumprido em parceria com a sociedade. Nesse sentindo, no último período a Cáritas tem colocado como uma estratégia para ampliação e desenvolvimento de suas ações o

estimulo e a busca de aprofundar essas parcerias, fazendo com que os temas citados ou mesmo outros dos vários programas que se consolidaram em toda a rede sejam

fortalecidos.

A Economia Popular Solidária (EPS) é uma estratégia de desenvolvimento sustentável e solidário fundamentada na organização coletiva de trabalhadores e trabalhadoras com interesse de melhorar a qualidade de vida por meio do trabalho associado, cooperativado ou mesmo em grupos informais. É ainda uma maneira de combater as desigualdades do atual sistema e de construção de outro modo de produzir, consumir e de pensar as relações entre as pessoas.

Há mais de 30 anos, a Cáritas Brasileira apoia grupos de EPS voltados à emancipação social, política e econômica de comunidades em situação de pobreza. A EPS ao longo dos anos se constitui em um movimento social formado por diversas instituições, trabalhadores e gestores públicos. O trabalho da Cáritas é articular e mobilizar os diferentes trabalhadores e trabalhadoras na constituição de suas identidades de sujeitos de direitos com respeito à diversidade das mais variadas experiências que formam a EPS.

Dessa forma, a Cáritas conta com aproximadamente 600 agentes de 178 entidades-membros. Estes acompanham grupos de cultura, catadores(as), mulheres, populações rurais e urbanas, migrantes, comunidades em situação de risco, famílias beneficiadas pelo Programa Bolsa-Família, quilombolas, indígenas, acampados e assentados da reforma agrária. Desde 2004, cerca de 100 mil trabalhadores(as) foram apoiados(as) pela entidade.

Uma das principais contribuições da Cáritas Brasileira em torno do tema da Economia Popular Solidária neste quadriênio foi para a consolidação do Centro de Formação em Economia

Solidária (CFES). Ao assumir o CFES, um programa ligado à Secretaria Nacional de Economia Solidária/Ministério do Trabalho e Previdência Social (SENAES/MTPS), a

Cáritas Brasileira realiza ações nas cinco regiões brasileiras, articulando ações em rede com os demais centros de formação regional. O CFES é um dos

principais instrumentos de apoio a formadores e ao assessoramento técnico em Economia Solidária do país.

A Cáritas ainda articula fóruns e espaços de troca de experiências e fortalecimento da Economia Solidária. A Feira

de Economia Solidária em Santa Maria (RS) é um exemplo.

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Promover o desenvolvimento sustentável através da Economia Solidária

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São mais de 200 mil pessoas que participam da maior feira de Economia Solidária do mundo. Outro destaque está nas articulações do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), que envolve empreendimentos solidários, entidades de assessoria e fomento e gestores públicos, além dos 15 fóruns estaduais que a Cáritas participa. A mobilização dos empreendimentos apoiados pela Cáritas consolidou o movimento de Economia Solidária, que, por sua vez, fortalece o desenvolvimento local através de experiências significativas, como Catende (PE), Assema (MA), Cooesperança (RS) e Pintadas (BA). Entre as redes e cadeias produtivas, destacam-se: Rede Abelha (mel), Justa Trama (algodão), Rede Bode (BA), Rede Marcas (MG) e Rede Mandioca (MA).

No âmbito da Economia Solidária, destacam-se ainda métodos que ajudam na capacidade de autogestão de grupos e empreendimentos. Os Fundos Solidários se constituem em uma ferramenta organizativa e de financiamento para os empreendimentos solidários, bem como uma estratégia de autonomia das comunidades. Os Fundos Solidários são processos de gestão coletiva de recursos, voltados para a sustentabilidade local e territorial. Cumprem o papel de libertação e resistência, necessários para a gestação de outro modelo de desenvolvimento. São instrumentos concretos de desenvolvimento social e democratização da gestão dos recursos, além da promoção da participação popular.

Tem-se mapeado 535 fundos solidários espalhados por 888 municípios de todos os estados brasileiros. Há a expressiva presença dos fundos solidários em espaços rurais, no apoio à agricultura familiar e camponesa e nos empreendimentos de Economia Popular Solidária, sejam eles do campo ou da cidade. Nesse contexto, os Fundos Rotativos Solidários são os mais utilizados quando se trata de membros/sócios/participantes/contribuintes de uma

mesma experiência, que também será usuária dos recursos. Outra ação importante é o Projeto de Articulação de Redes de Fundos Solidários, também em parceria com o Ministério do Trabalho e

Previdência Social (MTPS) por meio da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES).

O trabalho com a Economia Solidária é o reflexo concreto da promoção e do fortalecimento de iniciativas locais e territoriais de desenvolvimento solidário e

sustentável. Neste quadriênio, a referência da Cáritas Brasileira com experiências e construções de métodos e sistematizações acerca da Economia Solidária

reafirma a crítica sobre o modelo capitalista de desenvolvimento.

A Cáritas Brasileira aposta na convivência com o semiárido ao focar em estratégias que potencializem a vida dentro do bioma e ecossistema que o compõem. Não são as características climáticas que determinam a pobreza, mas sim a exclusão de parte da população, ou seja, a privação de condições mínimas para a sobrevivência.

Neste quadriênio, a Cáritas Brasileira voltou suas atenções para o semiárido de forma mais especial. A região enfrentou uma situação de emergência socioambiental de grandes proporções, ocasionado pela estiagem prolongada, considerada a maior dos últimos 40 anos. Mais de mil municípios decretaram estado de emergência, com o reconhecimento do governo federal, devido aos grandes prejuízos para as populações e economias locais. Baseados ainda em políticas de combate à seca, os programas emergenciais do Estado foram e são desarticulados e insuficientes para alcançar o atendimento de urgência às populações que sofrem com as calamidades ocasionadas pelo fenômeno nesse período.

A partir da mobilização e organização comunitária, a formação técnica e política para o desenvolvimento local sustentável, os regionais Cáritas, junto com a Articulação do Semiárido (ASA), contribuem na implementação de obras hídricas (cisternas, pequenas barragens, perfuração de poços) e de projetos produtivos (criação de pequenos animais, lavouras coletivas, hortas medicinais, entre outros). Desde 1999, com a criação do programa de Convivência com o Semiárido da Cáritas, mais de 100 mil famílias já foram atendidas com obras hídricas e mais de 70 mil com atividades educacionais e produtivas.

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Semiárido, um lugar bom de viver

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A Ação Cáritas no semiárido compreende atividades para o convívio com o bioma, através da adoção de tecnologias sociais que oferecem condições para a inclusão social e melhoria de vida da população. Estamos falando dos projetos de reciclagem de água, das cisternas construídas para armazenamento de água, barragens subterrâneas, bombas de água, dos círculos produtivos “Mandalas", e do H2SOL, que trabalha na instalação de microssistemas produtivos de irrigação, com uso de energia renovável. Significa um processo de convivência em que são privilegiadas estratégias de longo prazo e de efeitos permanentes, como tecnologias de armazenamento de água da chuva, de criação de animais adaptados à região e de plantios agroecológicos apropriados ao clima.

Sem dúvida, as articulações em torno da construção de cisternas merecem ser destacadas. Um dos projetos mais importantes envolve o Programa Cisternas nas Escolas, uma parceria firmada com o Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS, que tem como objetivo garantir água de qualidade nas escolas da zona rural do semiárido, através da implementação da tecnologia social cisternas escolares de

52 mil litros. Até 2016, cinco mil escolas públicas de todo o semiárido serão contempladas com a cisterna escolar.

Também se reconhece o protagonismo das mulheres em todas as ações de convivência com o semiárido. Por isso, o I Encontro de Mulheres do Semiárido da Cáritas Brasileira,

realizado na cidade de Crateús (CE), foi de extrema importância para a reflexão e organização das mulheres em torno do tema. Participaram

do seminário mais de 60 mulheres dos regionais do nordeste e Minas Gerais, em junho de 2015.

Conviver com o semiárido é uma estratégia que foca nas condições e potencialidades dos biomas e ecossistemas que o compõem. É preciso

aprender a lidar com os ambientes para transformar a vida daqueles que vivem neles. O lugar e suas características climáticas não podem nem devem

determinar a pobreza e a exclusão social de uma população, ou seja, privá-los das condições mínimas para a sobrevivência humana, tais como alimentação, saúde, educação, água potável e saneamento básico.

A atuação da Cáritas Brasileira em torno dos direitos humanos ganhou um novo capítulo com a capilarização dos Centros Nacionais de Referência em Direitos Humanos. A concepção dos Centros surgiu a partir de experiências realizadas por órgãos públicos e organizações não governamentais que possibilitaram o acesso da população de baixa renda a serviços essenciais como, por exemplo, assistência jurídica e documentação civil básica.

Os Centros de Referência em Direitos Humanos atuam como mecanismos de defesa, promoção e acesso à justiça e estimulam o debate sobre cidadania ao influenciar positivamente na conquista dos direitos individuais e coletivos. São um espaço para a mobilização social e articulação em rede de atendimento direto às situações de violação de direitos humanos. Os resultados exitosos alcançados com esses projetos apoiados pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República – SDH/PR fundamentam a criação dessa ação específica.

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A ação em Direitos Humanos a partir de Centros de Referências

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Dessa forma, foram inaugurados os Centros de Referência em Direitos Humanos Dom Helder Câmara – Cáritas regional Piauí e Paraná e o Centros de Referência em Direitos Humanos Estamira Gomes de Sousa, em Santa Catarina. Todos eles atuam para ações articuladas e integradas na promoção, proteção e efetivação dos direitos fundamentais, na perspectiva da autonomia e do empoderamento dos sujeitos de direitos e na construção da cultura de direitos humanos, com base nas diretrizes do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3).

Os principais serviços oferecidos nos Centros possibilitam o atendimento jurídico, social e psicológico; a capacitação em direitos humanos e mediação de conflitos; a produção de conhecimento sobre os direitos humanos e a emissão de certidão de nascimento e documentação básica. Em todo o território nacional, são 28 Centros, sendo três em parceria com a Cáritas Brasileira.

A Cáritas Brasileira sempre esteve à frente das discussões sobre os direitos humanos, mas uma ação específica em torno do tema foi possível neste quadriênio. A essa novidade soma-se a contratação de uma assessora especial para o trabalho com direitos humanos a partir do Secretariado Nacional, em Brasília. Um grande passo para a execução e consolidação de práticas e métodos formativos em direitos humanos, o que fortalecerá as ações da Cáritas na perspectiva de promoção, proteção e implementação desses direitos.

Por Jaime Conrado de OliveiraCoordenador Nacional da Cáritas Brasileira

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Nossa gestão e a sustentabilidade

A Rede Cáritas está constituída atualmente com quase 190 entidades-membros, 12 regionais, dois processos de articulação no Norte e a retomada do processo de organização e mobilização no Rio de Janeiro.

No Congresso de 2011, realizado em Passo Fundo (RS), trabalhamos na construção do nosso planejamento estratégico (quadrienal) e elegemos a seguinte diretriz geral: “A Cáritas Brasileira se compromete com a construção do Desenvolvimento Solidário Sustentável e Territorial, na perspectiva de um projeto popular de sociedade democrática”. Nesse processo, construímos as prioridades estratégicas que vamos trabalhar no quadriênio. São elas: Promoção e fortalecimento de iniciativas locais e territoriais de desenvolvimento solidário e sustentável; Defesa e promoção de direitos, mobilizações e controle social das políticas públicas; Organização e fortalecimento da Rede Cáritas.

A partir do planejamento estratégico, trabalhamos na perspectiva de fortalecer e vivenciar esses espaços de gestão da Rede Cáritas, entre os quais a Assembleia Nacional, Diretoria Nacional, Secretariado Nacional, Conselho Consultivo Nacional, Fórum Nacional, Inter-Regionais, Secretariados Regionais e Articulações Regionais. Buscamos também construir com os Bispos referenciais da Cáritas uma relação mais próxima para que possamos refletir sobre o trabalho desenvolvido e pensar estratégias mais amplas junto com as pastorais sociais e outros organismos da Igreja.

Para apoiar o processo de gestão da Rede Cáritas, trabalhamos com alguns GTs (Mobilização de Recursos, Gestão de Risco, Voluntariado, Juventudes, Relações Internacionais, Questões Urbanas), comissões de formação e redes temáticas (Economia Solidária, Convivência com o Semiárido, Mística e Espiritualidade). Estes últimos são responsáveis por temáticas específicas, dando orientações e sugestões para o desenvolvimento das ações em toda a Rede. Os GTs, comissões e redes temáticas são constituídos a partir de representações dos inter-regionais e de pessoas com acúmulo/domínio nesses temas centrais, os quais dialogam diretamente com o planejamento estratégico da Cáritas Brasileira.

Nas instâncias regionais, os processos de gestão são trabalhados nos espaços já estabelecidos, quais sejam: as assembleias regionais, fóruns regionais, conselhos regionais, secretariados regionais e comissões e grupos de trabalhos, os quais constroem processos metodológicos e pedagógicos à luz da educação popular, fortalecendo cada vez mais os laços e o sentimento de pertença da Rede Cáritas.

Para garantir a realização das atividades planejadas no quadriênio 2012/2015, a Cáritas Brasileira vem construindo alternativas de mobilização e captação de recursos nas esferas pública e privada. Atualmente, o orçamento geral da Cáritas é constituído de 52% de recursos governamentais, 37% de recursos provenientes de campanhas, bazares, prestação de serviços, entre outros, e 11% da cooperação internacional.

É notório que nos últimos 20 anos a cooperação internacional vem gradativamente diminuindo os apoios financeiros aqui no Brasil, direcionando seus recursos principalmente para outros países, em especial para a África e para o Leste Europeu.

Diante desse cenário, a Cáritas Brasileira vem diversificando suas fontes de apoio e tem apostado substancialmente nos recursos governamentais (editais e chamadas públicas), o que é hoje, como já dito, representa mais da metade do nosso orçamento anual. Estamos animando junto com os regionais e as Cáritas diocesanas a Rede Permanente de Solidariedade – RPS, trabalhando na mobilização de doadores e voluntários na perspectiva de envolvê-los nas ações e projetos desenvolvidos, entre eles o “10 milhões de estrelas”, cujo foco é a mobilização da sociedade para a reflexão sobre temas relacionados com a realidade em que vivemos.

Outra ação estratégica no âmbito da sustentabilidade são os bazares solidários, hoje realizados por toda a Rede, com produtos repassados/doados pela Receita Federal (eletrônicos, brinquedos, tecidos, entre outros) e doações de roupas e calçados da Suíça e da Alemanha. Esses bazares vêm se consolidando como espaços de captação e mobilização de recursos financeiros e humanos, fortalecendo cada vez mais as ações desenvolvidas por toda a Rede Cáritas.

Por mais de 15 anos, a Cáritas Brasileira Secretariado Nacional esteve à frente do Fundo Nacional de Solidariedade – FNS animando todo o processo de gestão, construindo e fortalecendo ações junto a grupos e comunidades rurais e urbanas nas mais variadas iniciativas, produtivas ou não. Em 2015, a CNBB passou a assumir a gestão do FNS, organizando uma dinâmica que vai do recebimento das propostas até a etapa final das prestações de contas. A Cáritas Brasileira continuará como membro do Conselho Gestor do FNS, contribuindo nesse novo formato, mas buscando especialmente garantir o caráter emancipatório construído ao longo desse tempo.

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Por Agnaldo Luiz de LimaDiretor-Tesoureiro da Cáritas Brasileira

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Administração e Sustentabilidade

Na Cáritas Brasileira, a concepção de sustentabilidade integra e reconhece a importância da administração. As questões técnico-gerencial e financeira são entendidas como dimensões fundamentais para a sustentabilidade, assim como as questões místico-espiritual e sociopolítica, registrado no nosso Marco Referencial. Na dimensão técnico-gerencial estão presentes aspectos da qualidade da equipe, do trabalho e do sistema de gestão em geral, enquanto a dimensão financeira refere-se à mobilização e gestão de recursos e à capacidade de prestar contas com transparência.

Administração e Sustentabilidade na Cáritas Brasileira seguem o princípio da coerência entre os meios e fins, onde as melhorias organizativas, gerenciais e operativas devem ser aplicáveis a todas as dimensões da sustentabilidade em coerência com a Missão, os Princípios Orientadores e as Diretrizes Institucionais.

Por ser uma instituição que atua nacionalmente e que além da sede nacional faz sua gestão a partir de 12 regionais localizados em diversos Estados, as operações administrativas e financeiras cotidianas da Cáritas Brasileira se tornam complexas e a coleta, sistematização e consolidação das informações gerenciais é um desafio permanente.

Além dos desafios internos, a ampliação das exigências para o acesso, gestão e prestação de contas de recursos, principalmente os de origem pública, as obrigações junto aos órgãos públicos nas áreas trabalhistas, previdenciárias e tributárias, tem levado a Cáritas Brasileira a buscar de forma permanente uma administração eficiente e eficaz, melhorando e otimizando as operações tendo sempre o foco nos resultados.

Por isso, entendemos como necessário este modo de ver a administração de forma integrada à sustentabilidade, pois amplia a capacidade operacional e aprimora a ideia de gestão compartilhada e permite aos profissionais na área administrativa sentirem-se pertencentes à Rede Cáritas.

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A valorização da formação, os intercâmbios, o investimento em tecnologia e novos procedimentos operacionais também foram determinantes para os avanços conquistados na área. Destacamos a realização dos Encontros Nacionais de Administração e Contadoria, realizado agora anualmente e que se consolidou como espaço de formação, capacitação e troca de experiências da Rede Cáritas.

Também os intercâmbios das equipes do Nacional e dos Regionais permitiram a consolidação de entendimentos e o desenvolvimento de procedimentos operacionais adequados às necessidades.

Os avanços e conquistas também foram compartilhados pela Cáritas Brasileira com as entidades-membros da Rede Cáritas, com formações locais, realização de eventos divulgação de

materiais de apoio e alguns casos de visitas técnicas.

Podemos com certeza afirmar que avançamos, mas como ainda não temos uma política pública de valorização e reconhecimento do papel das Organizações da Sociedade Civil – OSCs, onde

os recursos para formação, capacitação administrativa e para fortalecimento institucional são escassos, ou quase inexistentes, torna-se fundamental que a Cáritas

Brasileira, apesar das dificuldades, consolide e amplie sua concepção de administração como dimensão da

sustentabilidade.

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A comunicação em rede para o fortalecimento da organização

A comunicação na Cáritas Brasileira é integrada aos trabalhos de mobilização de recursos, fundamentais para garantir a sustentabilidade da instituição. A comunicação é praticada de forma paralela e trata da consolidação, diante da comunidade e da Rede Cáritas, da sua imagem, suas missões, da transparência das ações.

A Rede de Comunicadores da Cáritas Brasileira é formada por comunicadores dos regionais Cáritas. São profissionais da área de jornalismo, comunicação social, publicidade e propaganda, estagiários de comunicação. A Rede articula e anima a comunicação da Cáritas Brasileira, que se pauta pela Comunicação Livre com ênfase na perspectiva de uma comunicação sob os princípios da Comunicação Popular.

Neste quadriênio, destaca-se a reformulação do site da Cáritas Brasileira na internet, com as ramificações realizadas para cada regional. Isso possibilitou que as ações locais tivessem um lugar de referência mais visível dentro dos meios de comunicação da Cáritas Brasileira, facilitando a busca de informações.

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Nesse período, também trabalhamos o conceito “Solidariedade que transforma”, firmado na identidade visual da Cáritas Brasileira. O novo conceito permeou todos os trabalhos de forma a consolidar os veículos fundamentais de comunicação da instituição, como o site, as redes sociais, além dos materiais de conteúdo interno, tais como novas publicações de cartilhas e a continuidade dos boletins de notícias.

Com foco em fortalecer a Rede Cáritas no âmbito da mobilização de recursos, foram realizadas oficinas regionais para a reflexão e planejamento de acordo com cada realidade local. Assim, deu-se início a um processo de formação da Rede, que busca o conhecimento das ferramentas que envolvem a mobilização de recursos, a compreensão de como e quando utilizá-las, além da orientação de como fundamentá-la a partir de um planejamento focado nos objetivos e prioridades da instituição, dentro da realidade de cada regional e entidades-membros.

A comunicação, seja ela externa ou interna à Rede Cáritas, potencializou a interação entre todos os públicos Cáritas, o que resultou em um crescimento de seguidores nas redes sociais, além de um significativo aumento de acessos ao site da Cáritas Brasileira. Também cita-se a participação em eventos, tais como a Jornada Mundial da Juventude, o Encontro Internacional de jovens da Cáritas, o lançamento da Campanha Mundial “Uma família Humana, pão e justiça para todas as pessoas”, a realização da XIX Assembleia Nacional da Cáritas Brasileira, como espaços de consolidação do trabalho específico da comunicação no contexto da relação com os meios de comunicação, site de informações e notícias da Cáritas no Brasil e redes sociais.

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Mobilização de recursos para o autossustentoPara o efetivo funcionamento das entidades da sociedade civil, faz-se cada vez mais necessária a execução de planos que possam garantir a autossustentabilidade dessas entidades, sem que seja necessária a busca de recursos nas esferas públicas e privadas. Nos últimos 20 anos, os apoios provenientes da cooperação internacional foram reduzidos de forma gradativa, o que nos coloca a tarefa de buscar novas formas de financiamento das ações da Cáritas Brasileira.

O resgate da Rede Permanente de Solidariedade (RPS) é um importante avanço deste quadriênio. O projeto, voltado para potencializar e fidelizar a rede de doadores e voluntários da Cáritas, ganhou nova identidade visual, novo conceito, uma página na internet mais completa e elaborada e um processo de cadastro que possibilita conhecer, por meio de relatórios detalhados, o perfil das pessoas que aproximam da Rede, abrindo espaço para ações direcionadas.

A partir da simbologia das borboletas como símbolo da transformação, a Cáritas Brasileira ajuda comunidades a se desenvolverem com autonomia, por meio do trabalho solidário para a promoção e defesa dos direitos humanos. Como as borboletas, temos uma linha transformadora.

Para a Cáritas, a solidariedade é o pilar que estrutura todo o processo de transformação social. A solidariedade nos mantém mobilizados e sempre prontos para enfrentar os desafios da superação da pobreza, caminhando para um modelo de desenvolvimento sustentável.

A RPS já consegue mobilizar uma rede de mais de 10 mil agentes em todo o país, sendo a maioria voluntária. Nos últimos 10 anos, pudemos apoiar mais de 300 mil famílias, contribuindo para a transformação de suas vidas e devolvendo a elas a esperança de vida nova. Só conseguimos realizar o nosso trabalho porque contamos com a parceria de milhares de pessoas que, assim como nós, acreditam que superar a pobreza e construir um mundo mais justo e igualitário é possível.

Também faz parte desse esforço de ampliar as formas de sustentabilidade da Cáritas Brasileira a realização dos bazares solidários, com os produtos doados pela Receita Federal, além de doações de roupas e calçados da Suíça e da Alemanha. São ações importantes e que estão sendo ampliadas por toda a Rede. Hoje, essas atividades dão conta de 37% do orçamento da Cáritas Brasileira. Ou seja, temos um desafio permanente a ser enfrentado, mas que já conta com forte mobilização de toda a Rede Cáritas.

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Com o objetivo de estimular ações de disseminação e valorização de experiências de caráter coletivo que defendam e promovam os direitos humanos, o Prêmio Odair Firmino de Solidariedade reconhece os esforços de organizações, entidades, associações e grupos populares que lutam em defesa e pela melhoria da vida. A iniciativa é voltada para grupos, organizações sociais, associações e cooperativas, entidades e grupos comunitários, todos eles de abrangência local.

A Cáritas Brasileira realizou quatro edições do prêmio. O Prêmio Odair Firmino faz parte da Semana da Solidariedade, promovida todos os anos pela Cáritas Brasileira de 5 a 12 de novembro em comemoração a sua data de fundação, 12 de novembro de 1956. Em 2010, foram inscritos 27 projetos, das cinco regiões do Brasil. O primeiro lugar ficou com o projeto “Veredas Vivas”, da Agência 10envolvimento, comunidade Ponte de Mateus, localizada no município de São Desidério, interior da Bahia. A comunidade conta com 60 famílias, o que corresponde a cerca de 150 pessoas, que representam o símbolo de resistência ao agronegócio e luta pela preservação do meio ambiente.

Na segunda versão da premiação, em 2011, o tema “Mulher, Meio Ambiente e Desenvolvimento” orientou os projetos inscritos no prêmio. A iniciativa vencedora foi a Luta das Mulheres Indígenas – Comisulba (BA). Criada em 2004, a Comissão de Organização das Mulheres Indígenas do Sul da Bahia (Comisulba) nasceu a partir da luta das mulheres indígenas por igualdade de direito e melhor qualidade de vida para o seu povo. A organização tem se firmado também na luta por melhores condições de saúde, moradia e educação.

Um incentivo a quem incentiva a solidariedade

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A terceira edição do prêmio Odair Firmino de Solidariedade, em 2012, escolheu como tema “Juventude, desenvolvimento e solidariedade”, a partir da conjuntura dos índices de homicídios de adolescentes e jovens no Brasil. Os finalistas selecionados entre os 97 inscritos apresentam a juventude como protagonista principal de seu desenvolvimento e da superação dos desafios próprios e sociais: a solidariedade, na visão da Cáritas, é componente essencial do desenvolvimento. O grupo “Urucongo de Artes”, da cidade de Crato, no Ceará, foi o grande vencedor. Com o tema “Soberania alimentar e solidariedade: alternativas para as desigualdades sociais”, o júri nacional da quarta edição do Prêmio Odair Firmino de Solidariedade, em 2013, analisou 21 propostas utilizando indicadores de relevância social, política, ambiental, de gênero, raça e etnia, de geração, além de aspectos culturais e de superação das desigualdades sociais. A temática escolhida para o prêmio em 2013 foi estratégica para abrir a reflexão sobre a fome e a pobreza que ainda existe no Brasil. A experiência premiada com o primeiro lugar foi a da Rede Mandioca, do Maranhão.

Com o Prêmio Odair Firmino de Solidariedade, a Cáritas Brasileira dá continuidade ao fortalecimento da mobilização da Rede a partir das experiências e ações coletivas que fazem emergir no dia a dia o protagonismo dos excluídos e excluídas, rumo à construção de uma sociedade mais justa, igualitária e plural.

CB-SECRETARIADO NACIONALMARIA CRISTINA DOS ANJOS

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