13
23/10/2014 Psicologia em Estudo - Home Page http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=1413-7372&lng=pt&nrm=iso 1/1 Atualizado em Outubro 17, 2014 english español sobre nós corpo editorial instruções aos autores assinaturas métricas SciELO Scimago Google Scholar índice h5: 15 mediana h5: 21 mais detalhes Pesquisa Entre uma ou mais palavras Todos os índices Neste Periódico Pesquisa Publicação de Departamento de Psicologia - Universidade Estadual de Maringá versão impressa ISSN 1413-7372 Missão Publicar textos originais sobre temáticas na área de Psicologia e nas suas interfaces com as Ciências Humanas e as Ciências da Saúde, problematizando a realidade atual, contribuindo para a prática em Psicologia e promovendo o desenvolvimento teórico. Do ponto de vista metodológico, a revista Psicologia em Estudo publica artigos que se pautem exclusivamente na perspectiva qualitativa, ou que articulem métodos qualitativos com quantitativos. Publica artigos de diferentes abordagens da Psicologia, desde que bem fundamentados teórica e metodologicamente. Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons Departamento de Psicologia - Universidade Estadual de Maringá Av. Colombo, 5790 87020-900 Maringá PR Brasil Tel./Fax: +55 44 3011-4502 [email protected]

Avaliação do Qualis de Psicologia

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Artigo sobre avaliação de periódicos de Psicologia - Qualis/Capes

Citation preview

  • 23/10/2014 Psicologia em Estudo - Home Page

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=1413-7372&lng=pt&nrm=iso 1/1

    Atualizado emOutubro 17, 2014

    englishespaol

    sobre nscorpo editorialinstrues aos autoresassinaturasmtricas

    SciELOScimago

    Google Scholarndice h5: 15mediana h5: 21mais detalhes

    PesquisaEntre uma ou mais palavras Todos os ndices Neste Peridico Pesquisa

    Publicao deDepartamento de Psicologia - Universidade Estadual de Maringverso impressa ISSN 1413-7372

    MissoPublicar textos originais sobre temticas na rea de Psicologia e nas suasinterfaces com as Cincias Humanas e as Cincias da Sade, problematizando arealidade atual, contribuindo para a prtica em Psicologia e promovendo odesenvolvimento terico. Do ponto de vista metodolgico, a revista Psicologia emEstudo publica artigos que se pautem exclusivamente na perspectiva qualitativa,ou que articulem mtodos qualitativos com quantitativos. Publica artigos dediferentes abordagens da Psicologia, desde que bem fundamentados terica emetodologicamente.

    Todo o contedo deste peridico, exceto onde est identificado, est licenciado sob uma Licena Creative Commons Departamento de Psicologia - Universidade Estadual de Maring

    Av. Colombo, 579087020-900 Maring PR BrasilTel./Fax: +55 44 3011-4502

    [email protected]

  • Psicologia em Estudo, Maring, v. 13, n. 1, p. 13-24, jan./mar. 2008

    PUBLICAO E AVALIAO DE PERIDICOS CIENTFICOS: PARADOXOS DA AVALIAO QUALIS DE PSICOLOGIA1

    Ana Ludmila Freire Costa* Oswaldo Hajime Yamamoto#

    RESUMO. A avaliao de peridicos Qualis para monitoramento dos programas de ps-graduao gerou grande repercusso na comunidade cientfica, suscitando questionamentos sobre o modelo. Nosso objetivo fazer uma metaavaliao sobre esse processo de avaliao das revistas de Psicologia. Foram consultados editores de Psicologia (38 respondentes, questionrio enviado por e-mail), bibliotecrios envolvidos com avaliao de peridicos (5 participantes, entrevistas semi-estruturadas) e pesquisadores que participaram/participam da Comisso de Avaliao CAPES/ANPEPP (7 respondentes, questes abertas via e-mail). Os principais aspectos apontam para divergncia entre os atores envolvidos quanto adequao do modelo para retratar a realidade editorial da rea e em relao aos critrios adotados; reconhecimento da melhoria das revistas; indicao de que esse modelo de avaliao no aprecia a qualidade da revista. Uma vez considerado esse processo de avaliao como contribuio para o progresso cientfico, h que construir alternativas para um modelo capaz de fornecer respostas adequadas s demandas da comunidade cientfica. Palavras-chave: peridicos cientficos de Psicologia, avaliao de peridicos, Qualis.

    PUBLISHING AND EVALUATING SCIENTIFIC JOURNALS: QUALIS ASSESSMENT IN PSYCHOLOGY

    ABSTRACT. The assessment of scientific journals for the Qualis database has deep effects on the scientific community and raises questions on the evaluation method. A meta-analysis of this assessment of psychological journals is provided. Scientific editors of psychology journals (38 editors answered questionnaires applied by e-mail), librarians familiar with scientific journals assessment procedures (5 participants, semi-structured interviews) and referees of the CAPES/ANPEPP Commission (7 participants, open questions sent by e-mail) were consulted. The most important points include disagreement among different subjects involved on the suitability of such evaluation model to assess the editorial situation in Psychology and on adopted criteria; acknowledgement of improvements in scientific journals; the model fails to assess the journals quality. Since the assessment process is important to scientific progress, alternatives should be found to satisfy demands posited by the scientific community. Key words: Psychology scientific journals, journals assessment, Qualis database.

    PUBLICACIN Y EVALUACIN DE PERIDICOS CIENTFICOS: PARADOJAS DE LA EVALUACIN QUALIS DE PSICOLOGA

    RESUMEN. La evaluacin de revistas Qualis para el monitoreo de los programas de post-grados gener gran repercusin en la comunidad cientfica, suscitando cuestionamientos sobre el modelo. Nuestro objetivo es hacer una meta-evaluacin sobre ese proceso de evaluacin de las revistas de Psicologa. Han sido consultados editores de Psicologa (38 respondientes, cuestionario enviado por correo electrnico), bibliotecarios involucrados con evaluacin de revistas (5 consultados, entrevistas semiestructuradas) e investigadores que participaron o participan de la Comisin de Evaluacin CAPES/ANPEPP (7 participantes, cuestiones abiertas por correo electrnico). Los principales aspectos apuntan para la divergencia entre los actores involucrados con respecto a la adecuacin del modelo para mostrar la realidad editorial del rea y en relacin a los criterios adoptados; reconocimiento del incremento de las revistas; indicacin de que ese modelo de evaluacin no aprecia la

    1 Apoio CNPq.

    * Mestre em Psicologia, pesquisadora colaboradora do Grupo de Pesquisas Marxismo e Educao, vinculado ao Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN.

    # Doutor em Educao, professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN.

  • 14 Costa & Yamamoto

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 13, n. 1, p. 13-24, jan./mar. 2008

    calidad de la revista. Una vez considerado ese proceso de evaluacin como contribucin para el progreso cientfico, hay que construir alternativas para un modelo capaz de ofrecer respuestas adecuadas a las demandas de la comunidad cientfica. Palabras-clave: Peridicos cientficos de Psicologa, evaluacin de revistas, Qualis.

    O quadro brasileiro de peridicos cientficos de Psicologia tem passado por significativas transformaes nos ltimos anos, resultado do crescimento da comunidade cientfica e da qualificao acentuada dos programas de ps-graduao e dos pesquisadores.

    As primeiras revistas de Psicologia de que se tem notcia datam do sculo XIX, publicadas na Frana e nos Estados Unidos, e continuam sendo produzidas at hoje. Em 1894, LAnne Psychologique, de Beaunis e Binet, visava divulgar os trabalhos desenvolvidos no Laboratoire de Psychologie Psychologique da Universidade de Sorbonne, e em 1887 foi criado, por iniciativa de Stanley Hall, The American Journal of Psychology, um peridico dedicado exclusivamente Psicologia (Sampaio, Sabadini & Linguagotto, 2002).

    No Brasil, os primeiros peridicos da rea so de 1949, perodo localizado entre as dcadas de 1930 e 1960, considerado o momento em que a Psicologia consolida-se como rea de conhecimento e campo de aplicao. Um estudo de Antunes (2004) aponta que houve uma quantidade substancial de publicaes na poca, o que reflete uma preocupao com a sistematizao e a difuso do conhecimento produzido.

    O peridico cientfico brasileiro pioneiro da rea foi Arquivos Brasileiros de Psicotcnica, editado pela primeira vez em 1949 pelo ISOP (Instituto de Seleo e Orientao Profissional), rgo da Fundao Getlio Vargas2. Outro marco histrico a fundao da Sociedade de Psicologia de So Paulo (SPSP), em 1945, por iniciativa de Annita Cabral e Otto Klineberg, com o objetivo de promover o desenvolvimento da Psicologia como cincia e profisso. Quatro anos aps a sua fundao, lanou o peridico Boletim de Psicologia, que tem se mantido ininterruptamente desde ento.

    At a dcada de 1980, os relatos da pesquisa psicolgica estavam distribudos em algumas centenas de publicaes. A partir da, um grande nmero de

    2 Posteriormente, a revista passou a se intitular Arquivos

    Brasileiros de Psicologia Aplicada e, finalmente, Arquivos Brasileiros de Psicologia. Atualmente, veiculada apenas na verso eletrnica, sob a responsabilidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

    ttulos que publicam sobre Psicologia surgiu, resultado do incentivo criao dos programas de ps-graduao nos anos 1980, dos primeiros financiamentos para publicaes e do crescimento da rea (Sampaio & Peixoto, 2000).

    Atualmente, difcil precisar o nmero exato de peridicos de Psicologia. O ndex Psi Peridicos rene mais de 160 revistas brasileiras referentes literatura tcnico-cientfica em Psicologia e reas afins. J o Portal Peridicos CAPES aponta mais de 800 ttulos quando se faz a pesquisa por assunto com o termo Psicologia. Alm desses nmeros, um levantamento efetuado pela ReBAP Rede Brasileira de Bibliotecas da rea de Psicologia, em setembro de 2001, identificou 121 ttulos de revistas cientficas na rea publicadas no Brasil (Sampaio, Sabadini & Linguagotto, 2002).

    Em virtude desses nmeros cada vez mais crescentes, as avaliaes de peridicos cientficos so consideradas essenciais para tentar assegurar qualidade ao processo de desenvolvimento e aperfeioamento da cincia e garantir que o que est sendo produzido e veiculado relevante e confivel.

    Os primeiros estudos sobre avaliao de peridicos cientficos datam do incio da dcada de 1960 e foram realizados com revistas mdicas latino-americanas (Ferreira & Krzyzanowski, 2003). Em 1964 foi proposto um estudo para o Grupo de Trabalho para Seleo de Revistas Cientficas e Tcnicas Latino-americanas, organizado pelo Centro de Cooperao da Unesco (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) para a Amrica Latina em Porto Rico.

    Para a avaliao de publicaes peridicas cientficas e tcnicas brasileiras, Braga e Oberhofer propuseram as primeiras diretrizes em 1982. Com base no documento da Unesco, em algumas pesquisas realizadas e em conjunto com um grupo de pesquisadores do IBICT (Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia), tais pesquisadoras formularam um instrumento para a avaliao das revistas brasileiras, constituindo um trabalho histrico para as diversas reas do conhecimento.

    Na dcada de 1990, Krzyzanowski e Ferreira propuseram um modelo de avaliao de peridicos, baseado em Braga e Oberhofer (1982), para subsidiar os programas de apoio a publicaes cientficas das

  • Avaliao Qualis de Psicologia 15

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 13, n. 1, p. 13-24, jan./mar. 2008

    agncias financiadoras FINEP, CNPq e FAPESP. O mtodo foi desenvolvido para avaliao conjunta de mrito (contedo) e desempenho (forma) dos peridicos brasileiros e os principais resultados apontaram para a necessidade da avaliao conjunta, tanto do contedo quanto da forma, para se obter uma viso global da qualidade das publicaes.

    Do final da dcada de 1990 aos dias de hoje, so vrias as instituies nas diversas reas do conhecimento que desenvolvem avaliaes de peridicos cientficos. Os critrios adotados, os mtodos utilizados e as estratgias de avaliao empregadas variam em funo do objetivo da apreciao e da rea de conhecimento, entre outros aspectos.

    Na literatura cientfica, no h consenso a respeito de qual seja a maneira mais adequada para desenvolver avaliaes de peridicos, apesar de os estudos objetivarem, invariavelmente, a garantia da qualidade das informaes veiculadas. Para a realizao de qualquer julgamento, necessrio definir quais os parmetros a serem levados em considerao e que tipo de dados sero analisados. Tais escolhas podem resultar em discordncias e crticas quanto aos critrios adotados (Buela-Casal, 2003).

    Apesar dessa falta de consenso, constatam-se alguns pontos em comum nos diversos trabalhos sobre avaliao de peridicos. As estratgias mais empregadas so a avaliao da forma do veculo e do contedo. Para a avaliao do contedo, possvel utilizar o sistema de indicao por pares (utilizado por pesquisadores da rea a qual eles so convidados a avaliar, geralmente com prestgio na comunidade cientfica) e/ou indicadores bibliomtricos (Krzyzanowski & Ferreira, 1998; Yamamoto et al., 1999).

    Essas estratgias muitas vezes se confundem, no havendo uma distino ntida entre mtodos quantitativos e qualitativos, avaliao de forma e de contedo. Por exemplo, o Fator de Impacto (ndice bibliomtrico) pode ser considerado um modo objetivo para aferir a qualidade da revista no seu aspecto relevncia cientfica; j a avaliao de contedo, embora esteja centrada na qualidade dos artigos publicados, no exclui a da forma, na maioria das vezes.

    Entre as diversas avaliaes pelas quais passam as revistas brasileiras (CNPq e Fundaes de Amparo a Pesquisa para financiamento, SciELO e outras bibliotecas, indexadores em geral), a avaliao empreendida para a base Qualis que tem gerado grande repercusso na comunidade de

    Psicologia. O objetivo primordial de tal avaliao de revistas fornecer informaes para qualificao da produo cientfica docente e discente dos programas de ps-graduao. Os dados sobre produo cientfica no so os nicos levados em conta no processo de anlise dos programas, embora sejam considerados o item com maior peso nas decises sobre a avaliao (Macedo & Menandro, 1998).

    Em linhas gerais, a Qualis compreende uma qualificao da produo cientfica dos docentes e discentes que subsidia a avaliao, conduzida pela Capes, dos programas de ps-graduao credenciados pela instituio, e alimentada a partir dos relatrios enviados pelos referidos programas. Cada rea da Capes designa uma comisso responsvel pela arbitragem dos peridicos correspondentes, aqueles citados na produo cientfica dos docentes e discentes dos programas de ps-graduao, a qual elabora os critrios de avaliao levando em conta as caractersticas prprias das reas em questo. Os peridicos, ento, so classificados quanto ao mbito de circulao (local, nacional e internacional) e quanto qualidade (podendo ser atribudos os conceitos A, B ou C) (Paula, 2002).

    Na Psicologia, foi constituda uma comisso editorial intitulada Comisso para Avaliao de Revistas Cientficas em Psicologia, formada por representantes da rea na Capes e por pesquisadores com experincia em editorao escolhidos por votao pelos programas afiliados ANPEPP (Associao Nacional de Pesquisa e Ps-graduao em Psicologia). Pela composio, tal comisso comumente intitulada Comisso CAPES/ANPEPP.

    A rea empreendeu a primeira avaliao de peridicos em 1998 (referente ao binio 1996-1997), tornando-se uma das reas mais avanadas. De l at agora, foram realizados mais quatro processos3: em 2000, referente ao perodo 1998-1999; em 2002, para o ano de 2001; uma atualizao no ano de 2004, para o binio 2002-2003; e a ltima avaliao em 2005, para os ttulos publicados em 2004. O resultado final da ltima avaliao permite o delineamento de um quadro geral das publicaes da rea desde o primeiro processo de classificao das revistas.

    3 Em 2007 foi realizada mais uma avaliao dos peridicos

    de Psicologia, referente aos ttulos citados pelos programas de ps-graduao no ano de 2006. Esses dados no compuseram a presente pesquisa, realizada em 2006.

  • 16 Costa & Yamamoto

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 13, n. 1, p. 13-24, jan./mar. 2008

    Tabela 1. Resultados das Avaliaes da Comisso CAPES/ANPEPP para a base Qualis Classificao 1996-1997 1998-2000 2001 2002-2003 2004

    Internacional A - - 3 3 - A 4 15 14 19 25 B 6 8 5 6 7 Nacional C 4 1 15 19 10 A 7 7 5 7 6 B 14 10 2 3 4 Local C 12 9 1 21 3

    Total 47 50 55 78* 55** * Das 94 revistas relatadas pelos programas de ps-graduao, 16 no foram avaliadas porque estavam em atraso. ** Das 70 revistas avaliadas pela Comisso, 10 solicitaram reavaliao, 4 estavam em atraso e 1 foi interrompida.

    Em virtude desses rankings, tais avaliaes provocaram significativas mudanas na Psicologia brasileira, assim como em algumas outras reas. Os resultados das avaliaes de peridicos passaram a ser considerados em diversos contextos, suscitando questionamentos em torno do modelo de avaliao utilizado.

    O propsito inicial da Qualis - de subsidiar a avaliao da ps-graduao brasileira - foi extrapolado, e hoje a classificao obtida pelos veculos surte um efeito significativo na comunidade cientfica. Os resultados da referida avaliao tm servido como ferramenta para auxiliar na concesso de financiamentos, para a incluso dos ttulos em bibliotecas e indexadores, para orientar pesquisadores e leitores no momento de escolha de ttulos para submisso de seus trabalhos ou pesquisar material bibliogrfico de relevncia, para estimular editores a elevar o padro de qualidade considerado pelas avaliaes a fim de manter financiamentos, entre outras circunstncias.

    Em um sentido mais amplo, pode-se afirmar que hoje a avaliao de peridicos se constitui em um processo fundamental para a produo de conhecimento em Psicologia (Sampaio & Sabadini, 2002).

    Se por um lado possvel observar tais impactos positivos e mobilizao da comunidade cientfica decorrentes das avaliaes realizadas pela Comisso CAPES/ANPEPP, por outro, existem crticas quanto aos critrios adotados nas avaliaes. Se antes no havia parmetros de qualidade para que os editores buscassem alcan-los, hoje o nvel das publicaes tornou-se elevado, o que demanda o estabelecimento de novos critrios e padres de exigncias (Menandro, 2002).

    Essa polmica entre a defesa da avaliao tal qual est sendo conduzida e a urgncia na reviso dos critrios reforada, sobretudo, em decorrncia da

    ausncia de consenso sobre a alternativa mais adequada de desenvolver tais avaliaes. No h consonncia estabelecida nessa esfera e muitas tentativas tm sido feitas na direo do estabelecimento de critrios e metodologias de avaliao que satisfaam a todos os envolvidos. No se pode esquecer que se trata de uma avaliao, que, como todo processo de avaliao, implica escolha e estabelecimento de alguns critrios em detrimento de outros, o que pode ocasionar desacordo quanto queles adotados.

    Em virtude deste impacto na comunidade cientfica de Psicologia, o objetivo deste trabalho fazer uma metaavaliao sobre esse processo de avaliao utilizado pela rea de Psicologia. Pretende-se, portanto, analisar esse modelo de classificao a partir do posicionamento dos trs principais atores envolvidos no processo: os editores de revistas de Psicologia, os membros da Comisso de Avaliao e bibliotecrios com experincia na temtica.

    MATERIAIS E MTODO

    Participantes

    Foram consultados trs grupos de atores envolvidos com a avaliao de peridicos cientficos de Psicologia: (a) editores cujos peridicos foram avaliados para a base Qualis em 2004 por terem sido citados pelos programas de ps-graduao no binio 2002-2003 (do total de 94 participantes, houve 38 respondentes, o que representa uma taxa de devoluo de 40%); (b) 5 profissionais da rea de Cincias da Informao e Biblioteconomia, selecionados em funo da experincia em avaliao de peridicos e conhecimento sobre os peridicos de Psicologia (bibliotecrios vinculados BVS-Psi, ao Instituto de Psicologia da USP, ao Comit Consultivo SciELO, avaliao de peridicos cientficos do CNPq,

  • Avaliao Qualis de Psicologia 17

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 13, n. 1, p. 13-24, jan./mar. 2008

    BIREME e FAPESP); e (c) membros da Comisso CAPES/ANPEPP que participaram mais de uma vez das cinco verses da avaliao Qualis (7 respondentes de um conjunto de 8 pesquisadores consultados).

    Instrumento

    Foram utilizados instrumentos diferentes para cada um dos grupos de respondentes.

    Para os editores, aplicou-se um questionrio eletrnico contendo dados gerais de identificao (nome do editor, peridico cientfico que edita e instituio qual o peridico est vinculado) e quatro questes abertas. A primeira delas, subdividida em quatro quesitos, abordava como deveria ser uma avaliao de peridicos da rea e as outras trs questes discutiam o atual processo de avaliao Qualis.

    Para os bibliotecrios, cada entrevista seguiu roteiro preestabelecido. Continham de cinco a dez perguntas, abertas, sobre peridicos cientficos e avaliao de revistas, alm de questes relativas ao trabalho desenvolvido por cada um dos entrevistados.

    Para os membros da Comisso de Avaliao foi utilizado um questionrio eletrnico composto de trs questes abertas. A primeira delas estava subdividida em quatro quesitos (que versavam sobre uma avaliao geral do processo, com destaque para os pontos positivos e negativos e o instrumento utilizado), e as outras duas questes eram mais especficas (o impacto da avaliao para o campo editorial da Psicologia no Brasil e a consistncia dos resultados para sua transposio a outros contextos).

    Procedimento

    O questionrio foi enviado aos editores por correio eletrnico (os endereos eletrnicos foram coletados a partir do site da Biblioteca Virtual de Sade Psicologia). O perodo para retorno do instrumento preenchido compreendeu os meses de maro a agosto de 2005. Cada um dos questionrios emitidos pelos editores foi impresso e recebeu uma numerao especfica para identificao.

    Os bibliotecrios foram primeiramente contatados por e-mail e entrevistados pessoalmente. As entrevistas aconteceram nos dias 31 de maio e 01 e 02 de junho de 2004 em So Paulo. O contedo foi gravado e transcrito na ntegra.

    Os membros da Comisso foram contatados por correio eletrnico (e-mail) no ms de agosto de 2005, quando foram enviados os questionrios. Cada questionrio foi impresso e recebeu uma numerao especfica para identificao.

    Anlise dos dados

    Foram elaboradas categorias de acordo com a recorrncia temtica de cada uma das respostas dos participantes; em seguida, foram estabelecidas categorias temticas comuns aos trs respondentes. A discusso dos resultados foi feita de acordo com trs temas gerais, que abrigam subtemas. So eles: apreciao geral sobre o processo de avaliao Qualis, critrios de avaliao e efeitos das avaliaes e mudanas percebidas no quadro editorial.

    Para ilustrar os resultados encontrados, foram utilizados trechos do material coletado, os quais esto apresentados no texto entre aspas e sem identificao oo respondente a que se refere, apenas com indicao se editor (com a identificao EdXX), se bibliotecrio (com indicao BibXX) ou se participou como membro da Comisso de Avaliao (cuja identificao ComXX).

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Adequao da classificao de revistas

    A avaliao geral que os respondentes fizeram sobre a classificao de peridicos de Psicologia para a base Qualis encontra-se dividida entre algumas categorias de respostas. Os editores foram o grupo que mais discordou, se comparados aos bibliotecrios e aos membros da Comisso. Conforme a Tabela 2, alguns participantes da pesquisa foram absolutamente categricos, outros preferiram no responder ou viram os dois lados da questo.

    Tabela 2. Adequao da Classificao de Revistas de Psicologia pela Base Qualis Editores Bibliotecrios Comisso Total Respostas N % N % N % N %

    Sim 08 21 03 60 04 57 15 30 Parcialmente 12 32 02 40 02 29 16 32 No 10 26 - - 01 14 11 22 Outros* 08 21 - - - - 08 16 Total 38 100 05 100 07 100 50 100 * Outros: no respondeu, resposta prejudicada ou no sabe.

  • 18 Costa & Yamamoto

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 13, n. 1, p. 13-24, jan./mar. 2008

    No caso dos editores, foram dois os tipos de respostas negativas ao questionamento: que no apreendia a necessidade dessa avaliao e que o processo tem caractersticas mais acadmicas do que cientficas. No deixa de ser verdade que esta avaliao est diretamente relacionada aos padres acadmicos de publicao, uma vez que compe as avaliaes dos programas de ps-graduao; mas preciso considerar que os resultados das avaliaes de peridicos acabam tambem por se refletir indiretamente na produo cientfica, ou seja, a partir de um conjunto de critrios que as revistas apresentam ou no, possvel estimar o status cientfico do que publicado.

    J entre os editores que valorizam a avaliao ao menos parcialmente, a principal queixa refere-se ausncia da apreciao qualitativa dos peridicos e do contedo dos artigos, aspecto bastante recorrente em todos os pontos da metaavaliao feita pelos editores. Apesar de criticar essa limitao da avaliao, um dos editores levanta a discusso: Penso que no retrata o contedo dos textos. Nem sei se esta uma atribuio da base Qualis (Ed40).

    Como complemento, outros editores salientaram que qualquer tipo de avaliao sempre arbitrrio, uma vez que est presente o fator subjetividade e partindo do pressuposto de que nenhuma avaliao pode retratar adequadamente o material avaliado, h sempre uma impostura da avaliao (Ed36).

    Existem ainda os editores que apiam firmemente o sistema de avaliao, e o principal argumento por eles utilizado que os conceitos so claros e objetivos. Alm disso, como bem apontou um deles, precisamos comear por algum lugar (Ed55). Subjacente a esse conjunto de respostas, est a idia de que se trata de um processo ainda em aperfeioamento, necessitando de tempo para se consolidar.

    O segundo grupo de respondentes, o dos bibliotecrios, no foi to divergente, e em geral seus componentes corroboram esse ltimo posicionamento dos editores. A avaliao que os entrevistados fazem em referncia ao processo de classificao de revistas cientficas de Psicologia para a base Qualis muito positiva, sendo necessrio que se aponte a necessidade de apenas alguns ajustes a fim de retratar mais adequadamente o quadro cuja anlise proposta. Essa posio pode ser percebida pelos seguintes trechos das entrevistas: foi uma revoluo na rea da Psicologia, essa avaliao vista com muito bons olhos (...) Ns sempre elogiamos a iniciativa, a iniciativa da ANPEPP com a CAPES, a iniciativa da Comisso de fazer o instrumento (Bib2).

    A terceira categoria de respondentes, os membros da Comisso de Avaliao, respondeu em sintonia e apresentou, basicamente, o mesmo posicionamento: a maioria dos pesquisadores foi categrica ao afirmar que a avaliao da Qualis atende, sim, aos objetivos aos quais se prope, que de avaliao qualificada da produo do pesquisador e constitui uma ferramenta eficiente para autores e leitores, alm de ajudar os editores a melhorarem seus trabalhos. Entretanto, assim como alguns editores tambm apontaram, foi unnime tratar-se de um processo que precisa atualizar-se constantemente, que deve estar sempre em aperfeioamento para atender s novas exigncias do quadro editorial, como exemplificado por Com5: visvel o impacto da avaliao no sentido da melhoria da qualidade dos peridicos no que diz respeito aos cuidados formais. No entanto, na ltima avaliao discutimos como os critrios utilizados j no esto servindo para uma discriminao mais refinada entre os peridicos.

    O que se pde perceber a partir das respostas dos participantes da pesquisa que h uma diversidade de posicionamentos em relao a uma apreciao sobre a avaliao de revistas feita pela Psicologia na Capes. Entre a adeso incondicional e a desqualificao da necessidade desse tipo de procedimento, encontram-se aqueles que reconhecem a sua importncia, mas com ressalvas sobre suas limitaes, destacando os aspectos do processo que demandam mudanas.

    Critrios de avaliao

    O instrumento de avaliao e alguns critrios especficos do modelo utilizado pela classificao Qualis de Psicologia foram alvo de questionamentos, crticas e sugestes por parte dos respondentes da pesquisa.

    Em uma apreciao geral, os trs grupos apontaram que o modelo atual da Psicologia tem a potencialidade de ser baseado em ampla reviso da literatura e abranger tpicos que so extremamente relevantes em uma avaliao de peridicos, como citado por um dos membros da Comisso: (o instrumento) j provou por seus efeitos a sua capacidade de medir a normalizao, a regularidade das publicaes (item que era muito problemtico na imensa maioria dos peridicos) e a gesto editorial (Com2).

    Na verdade, os critrios adotados pela Comisso constituem sempre um dos pontos mais polmicos e geradores de muitas discusses nos encontros de editores e interessados em publicao cientfica. No h consenso entre os envolvidos e as crticas e sugestes aparecem, mas no satisfazem a todos. De

  • Avaliao Qualis de Psicologia 19

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 13, n. 1, p. 13-24, jan./mar. 2008

    fato, desde a primeira avaliao, existem alguns itens da ficha de avaliao que foram modificados, tiveram a pontuao alterada ou foram excludos, em virtude da opinio dos editores, dos autores, dos leitores ou da prpria Comisso.

    O posicionamento dos editores em relao aos critrios atuais paradoxal: foram citados tanto como aspecto negativo (com maior freqncia), como positivo; e ainda houve aqueles que indicaram a necessidade de serem feitos apenas alguns ajustes, como bem explicado aqui: Os critrios que a comisso original formulou so relevantes, adequados e suficientes. necessrio recalibrar pesos e ponderaes, tendo em vista mudanas que ocorreram (para melhor) na qualidade editorial das revistas (Ed5).

    Os aspectos positivos citados em relao aos critrios atuais foram o levantamento de parmetros acadmicos como normalizao, exigncia de representatividade e diversidade do conselho cientfico e editorial, a sugesto de adoo de peer review, a impresso das datas de tramitao e periodicidade e regularidade.

    Por outro lado, o uso de variveis pouco claras e mudanas no sistema de pontuao aps a publicao dos nmeros que ainda sero avaliados foram questes emergentes, assim como a idia de que itens como qualidade grfica e normas de publicao so dispensveis. Alm disso, os pesos atribudos periodicidade, diversidade geogrfica da autoria, regularidade e representatividade do conselho editorial foram alvo de crticas por parte dos editores.

    Os pesquisadores que responderam como participantes da Comisso de Avaliao tambm ressaltaram alguns problemas em torno do processo classificatrio que precisam ser revistos para as prximas edies, principalmente no que diz respeito homogeneizao dos ttulos. Segundo Com7, falta uma poltica de reconhecimento heterogneo da lgica de produo de reas distintas, especialmente em um campo como a Psicologia que transita entre tantas distintas reas acadmicas (...). Penso que deveramos ter instrumentos distintos para realidade de peridicos distintos.

    Diante das crticas e problemas apontados pelos consultados, identifica-se uma necessidade de adaptao do instrumento para um modelo mais coerente com o quadro editorial da rea. Foi sugerido pelos trs grupos de participantes da pesquisa editores, bibliotecrios e membros da Comisso de Avaliao - o reestudo do questionrio, dos pesos e pontuaes, com possibilidade de auxlio de

    profissionais de Estatstica, que poderiam apontar os desajustes dos itens.

    Alm da reviso do instrumento, a discusso sobre avaliao quantitativa e qualitativa foi um ponto que permeou toda a metaavaliao. O argumento estabelecido pela comunidade acadmica que um peridico cientfico, para ser considerado de qualidade, deve apresentar algumas caractersticas formais, mas a qualidade do seu contedo o retrato mais fiel do mrito acadmico e cientfico do ttulo. Entretanto, foi unanimidade entre os bibliotecrios entrevistados que os aspectos formais e de contedo se complementam para indicar um bom peridico.

    No caso da avaliao que feita pela Comisso de Psicologia para a base Qualis, existem dois pontos centrais a serem discutidos, resultantes da opinio dos envolvidos no processo: primeiro, o ganho sem precedentes decorrente do maior controle da formalizao das revistas; e, segundo, a concentrao na avaliao dos aspectos formais em detrimento da anlise do contedo publicado.

    Alguns editores (29%) fizeram meno ao critrio padronizao em resposta aos critrios que julgam mais importantes para uma avaliao dos ttulos da rea. Isso representa um avano significativo da comunidade editorial de Psicologia. Se at pouco tempo atrs muitos desconheciam os aspectos tcnicos necessrios - como presena de ISSN, resumo bilnge e legenda bibliogrfica hoje a maioria reconhece a importncia da padronizao dos peridicos para facilitar a comunicao entre os interessados.

    Por outro lado, h crticas exclusiva valorizao desses aspectos, como bem pontua uma das integrantes da Comisso de Avaliao: o tpico Normalizao no se justifica mais, pois o carter pedaggico do instrumento inicial j foi compreendido pelos editores e incorporado. No entanto, uma avaliao mais qualitativa e consulta comunidade sobre o impacto do peridico so urgentes (Com2). Em consonncia com essa idia situam-se os editores, que apontaram a concentrao em aspectos formais como a terceira categoria de respostas mais recorrentes entre os aspectos negativos em torno dessa avaliao, como observado aqui: excessiva concentrao em aspectos formais, avaliados de forma um tanto rgida (Ed45).

    Assim, o mesmo aspecto percebido de duas formas antagnicas: se por um lado se ressalta de forma positiva o ganho sem precedentes decorrente do maior controle da formalizao das revistas (um dos critrios citado por 29% dos editores como mais importante para uma avaliao dos ttulos da rea), por outro, critica-se a excessiva concentrao na avaliao

  • 20 Costa & Yamamoto

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 13, n. 1, p. 13-24, jan./mar. 2008

    dos aspectos formais em detrimento da anlise do contedo publicado, como citado por Com2: o tpico Normalizao no se justifica mais, pois o carter pedaggico do instrumento inicial j foi compreendido pelos editores e incorporado. No entanto, uma avaliao mais qualitativa e consulta comunidade sobre o impacto do peridico so urgentes.

    O ponto em discusso o uso de indicadores meramente quantitativos, limitando-se a pontuar itens formais, tcnicos, que podem ser facilmente adequados pelos editores, quando se poderiam observar outros itens so o aspecto qualitativo. Como exemplo, foi apontado que seria importante considerar a linha editorial das revistas, mas sem pontuao. Entretanto, caso assim se procedesse, surgiriam outros questionamentos: como tornar essa avaliao qualitativa objetiva, traduzida em conceitos que possam ser apreendidos por todos? Como isentar o carter subjetivo desse tipo de avaliao?

    A Comisso de Avaliao tambm compartilha dessa idia e assume a questo da verificao do contedo publicado: Os (aspectos) negativos dizem respeito justamente dificuldade que se teve at agora de controlar diretamente a qualidade das revistas. Ou seja, esse controle se d por meio da anlise de aspectos que podem ser considerados mais formais do que de contedo, ainda que em absoluto se possa aceitar a crtica de que a avaliao meramente formal e perfunctria (Com2).

    Diante do desafio que a apreciao qualitativa dos peridicos, uma alternativa encontrada por alguns sistemas de avaliao acionar o mecanismo do peer review, semelhante para avaliao dos artigos (Ferreira & Krzyzanowski, 2003). Podem-se somar a essa opo outras formas de perceber se os artigos que uma revista est publicando tm peso: o julgamento feito pela prpria comunidade cientfica, o nmero de citaes que a revista alcana no seu meio (pelos cursos de ps-graduao ou em outros documentos que no sejam artigos, por exemplo), o uso em sala de aula e a utilidade atribuda pela comunidade de servios na subrea de atuao.

    Essas so experincias inovadoras, e enquanto no forem formalizadas e no for provado que no so tendenciosas, mas pelo contrrio, podem fornecer indicadores seguros e confiveis, somadas, elas podem dar uma medida melhor do que seja qualidade (Costa, 2006).

    Efeitos das avaliaes e mudanas percebidas no quadro editorial

    Outro conjunto de dados diz respeito aos efeitos das avaliaes de peridicos cientficos de Psicologia na comunidade cientfica e nos prprios ttulos avaliados. Tais mudanas foram um aspecto recorrente entre os trs grupos de participantes da pesquisa e, mais uma vez, no houve homogeneidade entre as respostas dos editores, conforme demonstrado na Tabela 3.

    Tabela 3. Mudanas Percebidas nas Revistas de Psicologia Decorrentes da Base Qualis Editores Bibliotecrios Comisso de Avaliao

    Mudanas percebidas N % N % N %

    Melhoria na qualidade das revistas 12 31 03 60 05 71 Avaliao qualitativa versus normalizao 07 18 03 60 - - Aumento da preocupao dos editores 06 16 02 40 02 28 Grande hiato entre as revistas 05 13 04 80 - - Estabelecimento de parmetros 05 13 02 40 04 57 Unio entre os profissionais envolvidos 02 05 - - 01 14 Revistas com nmeros temticos 01 03 - - - - No h / No respondeu / No sabe 07 18 - - - - Total de respondentes 38 * 05 * 07 * * Mltiplas respostas admitidas.

    A melhoria na qualidade dos peridicos cientficos de Psicologia foi a categoria mais recorrente entre as principais mudanas apontadas pelos editores (representando quase um tero dos respondentes). Estes apontaram que a avaliao promoveu a visibilidade dos peridicos, obrigou os editores a um constante aperfeioamento das revistas que editam e incentivou a insero da produo num frum internacional. Alm disso, a

    boa classificao na avaliao para a base Qualis significa um crescimento considervel do nmero de artigos a ela submetidos, o que leva revista a possibilidade de selecionar apenas os artigos que mais se alinhem a sua proposta editorial. Isso leva a afirmar que, a despeito dos aspectos negativos das avaliaes, elas provocaram um avano nas revistas da rea e essa seleo constitui uma providncia til e necessria.

  • Avaliao Qualis de Psicologia 21

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 13, n. 1, p. 13-24, jan./mar. 2008

    Esses ganhos apontados pelos editores so percebidos tambm por outras instncias e podem ser visualizados por indicadores objetivos, como sua disponibilizao nas bibliotecas, maior participao dos editores em congressos voltados para a temtica da publicao cientfica e indexao das revistas em bases de dados internacionais. A prpria Comisso de Avaliao aponta, em artigos e em eventos da rea, a melhoria das revistas, demonstrando os avanos alcanados entre uma avaliao e a seguinte. De acordo com alguns pesquisadores da referida Comisso, os maiores ganhos da avaliao, no entanto, foram relativos ao aumento da visibilidade, ao cumprimento de normas de padronizao e melhoria da apresentao e esttica, o que possibilitou s revistas ganharem em qualidade e credibilidade. importante ressaltar que tais avanos esto tambm vinculados ao crescimento da rea, principalmente no que se refere expanso da ps-graduao.

    Alis, para os bibliotecrios, um dos itens que obtiveram maior resolutividade foi a indexao. Segundo um dos entrevistados, muitos editores at desconheciam a importncia da incluso dos peridicos em bases de dados, e a partir das avaliaes Qualis passaram a se preocupar com essa questo, gerando crescimento do nmero de ttulos indexados.

    No obstante, posicionamento generalizado entre os participantes da pesquisa que, a despeito dessa melhoria da qualidade das revistas, preciso atualizar o instrumento a fim de contemplar outros aspectos no que diz respeito qualidade dos peridicos cientficos. No resta dvida de que, do cenrio anterior primeira avaliao da base Qualis para o quadro atual, o salto qualitativo experimentado pelos ttulos cientficos de Psicologia foi imenso e indito; contudo, em relao aos dois ltimos processos de classificao no se podem perceber tantos avanos, fruto de um instrumento esgotado e ultrapassado.

    A uniformizao das revistas tambm foi citada pelos editores como uma das conseqncias das avaliaes da base Qualis. Este ponto outro aspecto paradoxal para os respondentes: se por um lado indispensvel a padronizao dos peridicos, para tornar possvel a circulao de informaes entre a comunidade cientfica, por outro essa padronizao pode gerar perfis muito semelhantes entre as revistas e limitar a diversidade.

    No h dvida de que essas avaliaes da Capes, em conjunto com a ANPEPP, tiveram sua contribuio para a comunidade cientfica de Psicologia, facilitando o dilogo e intercmbio de idias. Como aponta um dos editores, tem havido um

    cuidado maior com certos aspectos formais, que so importantes porque facilitam as citaes, como as legendas bibliogrficas, por exemplo (Ed45).

    Desde as primeiras avaliaes de peridicos em todas as reas h uma grande agitao entre a comunidade cientfica em relao aos aspectos de normalizao. Como as revistas, em sua maioria, no conheciam os padres de forma, a falta de uniformizao dos ttulos apareceu nos resultados, comprometendo a situao de muitos peridicos reconhecidos pela qualidade do contedo. Como afirmou um dos bibliotecrios entrevistados: a primeira vez que a gente fez essa anlise eles (os editores) bombardearam, porque a maioria das revistas, daqueles que estavam l, no atendiam s partes de normalizao e eles fizeram desconsiderar, foi uma coisa muito desagradvel (Bib1).

    Outro efeito citado pelos respondentes refere-se ao despertar da concorrncia promovido pela avaliao da base Qualis. Os seguintes depoimentos esclarecem a questo: acredito que a no-incluso de um peridico no Qualis pode diminuir o interesse de pesquisadores em publicar no peridico. Por outro lado, a incluso e a boa classificao significam um aumento importante no nmero de artigos submetidos (Ed55). E a Comisso completa: outro aspecto negativo que no citei antes o ranqueamento e o aumento da competio entre peridicos, pesquisadores e programas de ps, burocratizando a produo a partir de critrios excessivamente produtivistas (Com5).

    A dinmica provocada pelos resultados das avaliaes implica o aumento do hiato entre as revistas consideradas muito boas e aquelas nem tanto. Os peridicos cientficos classificados como Nacional A, por exemplo, tornam-se bem-vistos pela comunidade cientfica e passam a receber artigos de pesquisadores renomados da rea, elevando ainda mais o padro de qualidade dessa revista. Esse efeito pode ser percebido, tambm, a partir do relatrio dos programas de ps-graduao, que, a despeito do aumento crescente da quantidade de revistas cientificas da rea, tm apresentado as produes dos docentes e discentes cada vez mais concentradas em algumas revistas (da o decrscimo na quantidade de ttulos avaliados pela Comisso CAPES/ANPEPP nas ltimas avaliaes).

    J as revistas avaliadas como de mbito local, ou com conceito C, sofrem com o decrscimo de artigos submetidos, com a perda de financiamentos, e vo tendo cada vez mais dificuldades para se manter e superar o conceito recebido na avaliao. Vale salientar que as revistas locais no indicam,

  • 22 Costa & Yamamoto

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 13, n. 1, p. 13-24, jan./mar. 2008

    necessariamente, falta de qualidade, apenas tm seu mbito de circulao restrito, atendendo a um determinado grupo. O que os editores afirmam que foi criada uma lacuna entre as revistas bem-conceituadas e aquelas que se saram mal nas avaliaes, lacuna esta que parece intransponvel, uma vez que a tendncia as melhores ficarem cada vez melhores e as mal-avaliadas lutarem para conseguir se manter.

    Na rea de publicao cientfica essa uma evidncia clara do Princpio de Mateus, postulado em referncia passagem do evangelho de So Mateus que diz: queles que tm, mais ainda lhes ser dado e aos que pouco tm, ainda este pouco lhes ser tirado (Mueller, 1999, p. 5). Com os resultados das avaliaes, percebe-se uma busca dos autores e demais atores da comunidade cientfica pelas revistas bem-conceituadas; ou seja, se um peridico bem-conceituado, ele procurado pela comunidade cientfica; j os novos peridicos e os mal-avaliados batalham por bons autores, sem muito sucesso.

    Por fim, outra mudana substancial percebida pelos respondentes foi a reunio de diversos profissionais da rea em torno desse sistema de avaliao, citada como conseqncia desejvel. Segundo os editores, houve uma valorizao da qualidade editorial dos peridicos e uma mobilizao para a indexao e para a editorao cientfica, culminando com a criao da BVS-Psi e da Associao Brasileira de Editores de Psicologia, em So Paulo (Ed34).

    De fato, as avaliaes de peridicos cientficos provocaram uma mobilizao em torno da questo, promovendo eventos e encontros desses editores e da Comisso de Avaliao, os quais permitiram a troca de experincias e opinies a respeito das publicaes. Os efeitos da avaliao da base Qualis foram alm da classificao dos peridicos de Psicologia: geraram oportunidades para a discusso do assunto e fortalecimento da rea.

    No foi incomum entre os depoimentos dos membros da Comisso que um aspecto positivo importante foi o debate pblico sobre a produo dos peridicos, aspecto que pouco se discutia anteriormente. As revistas se tornaram objeto de reflexo pblica, o que acarretou uma melhor compreenso do uso dos peridicos e das formas de sua produo. A avaliao Qualis acabou sendo uma referncia para a comunidade acadmica; passou a ser uma preocupao de editores, professores e at de alunos, principalmente de ps-graduao.

    CONSIDERAES FINAIS

    necessrio relacionar esta avaliao de peridicos Qualis com o atual cenrio da produo de conhecimento, uma vez que esse vem adquirindo novas e mais marcantes caractersticas com o passar dos anos. Uma delas o aumento exponencial de produtos cientficos, retratado pelos ndices cada vez maiores de publicaes, projetos de pesquisa, eventos cientficos, teses e dissertaes de programas de ps-graduao, entre outros aspectos.

    Em virtude da exigncia crescente de produtividade por parte das agncias financiadoras e reguladoras da cincia, nem sempre essa produo cientfica inovadora, relevante e til aparece nas comunidades acadmico-cientficas. Percebe-se, ao contrrio, a necessidade de cumprir solicitaes, crescentes, em relao quantidade e qualidade, sendo, muitas vezes, mais valorizado o aspecto quantitativo da cincia do que o contedo e objetos-alvo da produo cientfica.

    Em decorrncia desses nmeros crescentes da produo cientfica, faz-se necessrio distinguir entre a informao de qualidade e o conhecimento reproduzido. Isto desqualificou uma parte considervel do material apresentado pelos programas de ps-graduao e centros de pesquisa, material cuja produo foi exigida pelas prprias agncias de fomento. Entre os artigos publicados, produes apresentadas em eventos, orientaes de trabalhos cientficos, livros e outras publicaes, imprescindvel sinalizar para a comunidade acadmica o mrito cientfico de tais produtos.

    As avaliaes de peridicos cientficos, em especial aquelas destinadas alimentao da base de dados Qualis, tornam-se uma possibilidade para prover tal diferenciao, ao classificar os ttulos segundo a sua circulao, padronizao e outros aspectos, permitindo uma avaliao indireta do contedo e autoria neles veiculados. Contudo, a avaliao Qualis no aprecia a qualidade concreta destes produtos, a real contribuio ao avano do conhecimento ou inovao tecnolgica de que capaz (Luz, 2005, p. 54), questo crucial que considerada, mas no parece prioritria. Por exemplo, para a concesso de bolsas de produtividade do CNPq se exige uma produo relevante, embora essa relevncia no seja avaliada diretamente.

    A questo crucial que est por trs desse fenmeno se esta classificao dos veculos cientficos de Psicologia, tal como vem sendo desenvolvida, tem condies de ser utilizada amplamente pela comunidade cientfica da rea; se ela

  • Avaliao Qualis de Psicologia 23

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 13, n. 1, p. 13-24, jan./mar. 2008

    consegue atender a essa demanda surgida entre os diversos pesquisadores, que so produtores e consumidores do conhecimento publicado.

    Os objetivos primordiais da avaliao de peridicos cientficos de Psicologia para a base de dados Qualis situam-se em trs pontos centrais: qualificao dos peridicos cientficos nos quais esto publicadas as produes dos programas de ps-graduao da rea; criao de mecanismos voltados manuteno dos peridicos mais bem-conceituados; e estabelecimento de parmetros para melhoria da qualidade dos ttulos da rea.

    Pode-se afirmar que a Comisso de Avaliao CAPES/ANPEPP atendeu aos objetivos estipulados: os peridicos cientficos esto sendo classificados continuamente, desde a primeira edio; os editores, agora, so capazes de visualizar os parmetros exigidos para os ttulos da rea, e, apesar de no haver um mecanismo formal voltado exclusivamente para a manuteno dos peridicos melhor avaliados, este aspecto pode ser considerado operacionalizado pelo prprio consumo de tais peridicos por parte da comunidade cientfica.

    Pode-se afirmar que a Comisso de Avaliao CAPES/ANPEPP atendeu aos objetivos estipulados. Contudo, na esteira dessas metas, outros efeitos foram obtidos e atualmente se fazem presentes na comunidade cientfica de Psicologia, dos quais o mais intenso Talvez seja a adoo de tais resultados em vrios contextos, absorvendo o ranking que objetiva qualificar a produo dos programas de ps-graduao para outras finalidades, inclusive como retrato da produo cientfica da rea.

    O que preciso pensar, atualmente, que a Comisso de Avaliao de peridicos Qualis poderia oferecer uma grande contribuio ao campo da pesquisa e ensino de Psicologia caso levasse em conta essas outras circunstncias de uso dos resultados ao proceder classificao, em vez de se ater unicamente s solicitaes da Capes. Em outras palavras, o sistema de avaliao iniciado por uma agncia reguladora de pesquisa e do ensino superior poderia se converter, oficial e devidamente, em parmetro de qualidade da produo cientfica da rea, como vem sendo considerado, de fato; e como bem aponta Guedes (2004, p. 251), (...) talvez baste assumirmos a avaliao como um processo, por isso, contnuo. Por isso, tambm, com objetivos constantemente revistos, parte da permanente postura de autocrtica indispensvel ao pesquisador e instituio universitria.

    Uma vez considerado legtimo esse processo de avaliao de peridicos como elemento de

    contribuio para o progresso cientfico de um campo de conhecimento, e no apenas como instrumento de monitoramento de programas de ps-graduao, cumpre construir alternativas para a elaborao de um modelo slido, consistente e completo, capaz de fornecer respostas adequadas s demandas das comunidades cientficas e acadmicas.

    Agradecimentos

    Agradecemos a colaborao da bolsista de Iniciao Cientfica Keyla Mafalda de Oliveira Amorim.

    REFERNCIAS Antunes, M. A. M. (2004). A Psicologia no Brasil no sc. XX:

    desenvolvimento cientfico e profissional. Em M. Massimi & M. C. Guedes (Orgs), Histria da Psicologia no Brasil: novos estudos (pp. 109-152). So Paulo: EDUSP.

    Buela-Casal, G. (2003). Evaluacin de la calidad de los artculos y de las revistas cientficas: propuesta del factor de impacto ponderado y de un ndice de calidad. Psicothema, 15, 23-35.

    Costa, A. L. F. (2006). Publicao e avaliao de peridicos cientficos: paradoxos da classificao Qualis em Psicologia. Dissertao de Mestrado No-Publicada. Programa de Ps-graduao em Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal.

    Ferreira, M. C. G. & Krzyzanowski, R. F. (2003). Peridicos cientficos: critrios de qualidade. Pesquisas de Odontologia Brasileira, 17, 43-48.

    Guedes, M. C. (2004). Escrever e editar: compromisso com a disseminao de conhecimento. Psicologia USP, 15, 249-256.

    Krzyzanowski, R. F. & Ferreira, M. C. G. (1998). Avaliao de peridicos cientficos e tcnicos brasileiros. Cincia da Informao, 27, 165-175.

    Luz, M. T. (2005). Prometeu acorrentado: anlise sociolgica da categoria produtividade e as condies atuais da vida acadmica. Physis, 15, 39-57.

    Macedo, L. & Menandro, P. R. M. (1998). Consideraes sobre os indicadores de produo no processo de avaliao dos programas de ps-graduao em Psicologia. Infocapes, 6, 34-38.

    Menandro, P. R. M. (2002). Uma nova etapa na avaliao de peridicos cientficos utilizados por pesquisadores brasileiros em Psicologia. Mudanas, 10, 202-203.

    Mueller, S. P. M. (1999). O crculo vicioso que prende os peridicos nacionais. Recuperado em 11 de novembro de 2003, de http://www.dgzero.org.

    Paula, M. C. S. (2002). A base Qualis e sua utilizao no projeto Insero. Em J. Velloso (Org.), Formao no Pas ou no exterior? Doutores na ps-graduao de excelncia: um estudo na Bioqumica, Engenharia Eltrica, Fsica e Qumica no Pas (pp. 217-237). Braslia: Fundao Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior.

  • 24 Costa & Yamamoto

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 13, n. 1, p. 13-24, jan./mar. 2008

    Sampaio, M. I. C. & Peixoto, M. L. (2000). Peridicos brasileiros de Psicologia indexados nas bases de dados LILACS e PsycInfo. Boletim de Psicologia, L, 65-73.

    Sampaio, M. I. C. & Sabadini, A. A. Z. P. (2002). Publicaes cientficas em Psicologia: desafios e perspectivas. Mudanas, 10, 179-183.

    Sampaio, M. I. C., Sabadini, A. A. Z. P. & Linguanotto, A. R. J. (2002). Peridicos cientficos: caractersticas e exigncias. Mudanas, 10, 184-200.

    Yamamoto, O. H., Koller, S. H., Guedes, M. C., LoBianco, A. C., S, C. P., Hutz, C. S., Bueno, J. L. O., Macedo, L. & Menandro, P. R. M. (1999). Peridicos cientficos em Psicologia: uma proposta de avaliao. Infocapes, 7, 5-11.

    Recebido em 08/02/07 Aceito em 16/08/07

    Address for correspondence: Ana Ludmila Freire Costa. UFRN CCHLA - Departamento de Psicologia. Campus Universitrio - Lagoa Nova , Caixa Postal 1622, CEP 59078-970, Natal/RN. E-mail: [email protected]

    Psicologia em Estudo - Home Page2008_Dissertacao_A2