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AVALIAÇÃO  MICROBIOLÓGICA  DE  DESINFETANTES  QUÍMICOS  DE USO  DOMÉSTICO Jorge  Timenetsky* TIMENETSKY,  J. Avaliação  microbiológica  de  desinfetantes  quím ico s de uso doméstico. Rev. Saúde  públ., S.  Pau lo, 24:47-50,1 990. RESUMO:  Em 1 98 8 e no primeiro semestre de 19 89 cinco desinfet antes de uso doméstico  foram  divul- gados  através  de  publicação televisiva. Para avaliar  as  propriedades  antimicrobianas  desses  produtos os mesmos  foram  testados por um método qualitativo  (Düuição-Uso  com 10  carreadores,  método conven- cional  e  outro simplificado adaptado)  e  outro quantitativo, também adaptado.  Os  compostos ativos  dos produtos  descritos  nos resp ectiv os rótulos fora m: l —  Paraclorofenol  (O-  Benzil)  0,1%;  2  Éter  2,4,4'  Clo- ro (III)  2'  hidroxifenilico 0,1 ; 3  N-alquildimetil  benzil  amônio-Cloreto de  alquil  dimetil  etil  benzil amonio  50% —  1,6%;  4  formaldeído  37 %  (solução  de  0,3%);  5 — Sem  informação.  Os  microrganismos utilizados  foram:  Staphylococcus  aureus  ATCC 6538,  Pseudomonas  aeruginosa  ATCC 15442  e  Salmonella  ATCC 10708. No método  qualitativo,  a cepa de  pseudomonas  foi recuperada dos  desinfe- tantes  l, 2 e 3.  Todos  os  desinfetantes mostraram  um  efeito  germicida  de 5,0  (99,999%  de  redução)  em 15 segundos  frente  às  três  cepas.  O  desinfetante  3  esta va contaminado  com  Enterobacter  sp na  ordem  de  10 4 célu las po r ml. Este contaminante foi se nsível diante dos desinf etantes l, 4 e 5,  frente  à metodologia qualitativa,  e  relativamente resistente  frente  ao  desinfetante  2, na  metodologia quantitativa. DESCRITORES:  Desinfetantes. Avaliação microbiológica. *  Departamento  de  Microbiologia  d o  Instituto  de  Ciências Biomédicas  da  Universidade  de São  Paulo  — Av.  Prof. Lineu  Prestes,  1374   05508  — São  Paulo,  S P —  Brasil. INTRODUÇÃO E m  1985,  no  Brasil,  adotou-se a diluição-uso, pa- dronizada pela  Association  o f  Official  Analyti- ca l  Chemist (AOAC), como método  oficial  n a avaliação  microbiológica de  desinfetantes,  para qualificar  esses produtos para  efeito  de  registro  e comercialização  4 ,6 . Muitos  desinfetantes de uso hospitalar, na oca- sião,  foram  desqualificados  por não  atingirem  o s padrões  microbiológicos  necessários 7 .  Desde então, os  fabricantes começaram  a  alterar  a  formulação  e a embalagem  de  seus produtos desinfetantes,  bem  a  melhorar  o  esclarecimento para  seu  uso, atendendo  às  novas exigências 8 . Numa etapa inter- mediária  deste programa, alguns  produtos,  com a formulação   alterada,  apesar  de  qualificados  mi- crobiologicamente,  foram  considerados  tóxicos 8, 9 . Desta  maneira,  diante da necessidade de qua- lificar  maior número  de  produtos, procurou-se con- ciliar  a baixa toxicidade  com o  espectro  de  ação  an- timicrobiano  n a  desinfecção hospitalar. Assim, flexibilizaram-se  alguns padrões microbiológi- co s 8 '  9  sem o comp rometimento da qualidade do pro- duto.  Essa avaliação  n ão  fo i  divulgada  e  discutida para  produtos desin fetante s de uso doméstico em su a  grand e variedad e, como ocorreu  com os  desinfe- tantes  hospitalares, por razões diversas. Novos de- sinfetantes  domésticos estão surgindo  e  coexistindo co m  outros mais antigos  ou  tradicionais 15 .  É  sabido que os desin fet ante s domésticos, por questões ine- rentes à sua comercialização, são escolhidos pelo consumidor com base em critérios arbitrários e/ou subjetivos  e, conseqüentemente, empregados erro- neamente. Embora esses produtos não possuam os mesmos objetivos que os de uso hospitalar, devem, do mesmo modo, possuir atividade antimicrobiana por  definição  e atender aos respectivos padrões mi- crobiológicos  que por sua vez são mais flexíveis do que os de uso  hospitalar  1,4,14,15  (domésticos   avali- ados  com 2  espécies bacterianas; hospitalares  avaliados com 5 e sp éci es bacterianas e uma  fúngica, conforme  o ambiente hospitalar). A  metodologia  d a  diluição-uso  pode  qualificar ou desqualificar um mesmo produto desinfetante, dependendo do laboratório que realiza a traba- lhosa metodologia padronizada. Desta maneira, sugere-se  que  poucos laboratórios  sejam  credencia- dos para avaliação e que a metodologia  seja  sim- plificada  10 . Assim,  no  sentido  de  colaborar  com o  estudo  da avaliação  microbioló gica de desinfetantes de uso doméstico,  ár ea carent e  em  nosso  meio 3,15 ,  propu- semo -nos a realizar estudo com 5 produtos desinfe- tantes divulgados pela publicidade televisiva, no ano  de 1988, e no primeiro semestre de 1989, por metodologia  quantitativa adaptada e outra qua- litativa, esta baseada na metodologia da di- luição-uso  utilizando etapas padronizadas e ou- tras simplificadas.

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AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DE DESINFETANTES QUÍMICOS DE USO DOMÉSTICO

Jorge Timenetsky*

TIMENETSKY, J. Avaliação microbiológica de desinfetantes químicos de uso doméstico. Rev. Saúde públ.,S. Paulo, 24:47-50,1990.

RESUMO: Em 1988 e no primeiro semestre de 1989 cinco desinfetantes de uso doméstico foram divul-gados através de publicação televisiva. Para avaliar as propriedades antimicrobianas desses produtosos mesmos foram testados por um método qualitativo (Düuição-Uso com 10carreadores, método conven-cional e outro simplificado adaptado) e outro quantitativo, também adaptado. Os compostos ativos dosprodutos descritos nos respectivos rótulos foram: l — Paraclorofenol (O- Benzil) 0,1%; 2 — Éter 2,4,4' Clo-ro (III)2' hidroxifenilico 0,1%; 3 — N-alquildimetil benzil amônio-Cloreto de alquil dimetil etil benzilamonio 50% — 1,6%; 4 — formaldeído 37% (solução de 0,3%); 5 — Sem informação. Os microrganismosutilizados foram: Staphylococcus aureus ATCC 6538, Pseudomonas aeruginosa ATCC 15442 e Salmonellacholeraesuis ATCC 10708. No método qualitativo, a cepa de pseudomonas foi recuperada dos desinfe-

tantes l, 2 e 3. Todos os desinfetantes mostraram um efeito germicida de 5,0 (99,999% de redução) em 15segundos frente às três cepas. O desinfetante 3 estava contaminado com Enterobacter sp na ordem de 104

células por ml. Este contaminante foi sensível diante dos desinfetantes l, 4 e 5, frente à metodologiaqualitativa, e relativamente resistente frente ao desinfetante 2, na metodologia quantitativa.

D E S C R I T O R E S : Desinfetantes. Avaliação microbiológica.

* Departamentode Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo — Av. Prof.Lineu Prestes, 1374 — 05508 — São Paulo, SP — Brasil.

INTRODUÇÃO

Em 1985, no Brasil, adotou-se a diluição-uso, pa-dronizada pela Association of Official Analyti-cal Chemist (AOAC), como método oficial na

avaliação microbiológica de desinfetantes, paraqualificar esses produtos para efeito de registro ecomercialização 4,6 .

Muitos desinfetantes de uso hospitalar, na oca-sião, foram desqualificados por não atingirem ospadrões microbiológicos necessários7. Desde então,os fabricantes começaram a alterar a formulação e aembalagem de seus produtos desinfetantes, bemcomo a melhorar o esclarecimento para seu uso,atendendo às novas exigências8. Numa etapa inter-mediária deste programa, alguns produtos, com aformulação já alterada, apesar de qualificados mi-

crobiologicamente, foram considerados tóxicos

8, 9

.Desta maneira, diante da necessidade de qua-

lificar maior número de produtos, procurou-se con-ciliar a baixa toxicidade com o espectro de ação an-t imicrobiano na desinfecção hospitalar. Assim,f lexibil izaram-se alguns padrões microbiológi-cos8'9 sem o comprometimento da qualidade do pro-duto. Essa avaliação não fo i divulgada e discutidapara produtos desinfetantes de uso doméstico emsua grande variedade, como ocorreu com os desinfe-tantes hospitalares, por razões diversas. Novos de-sinfetantes domésticos estão surgindo ecoexistindocom outros mais antigos ou tradicionais15. É sabido

que os desinfetantes domésticos, por questões ine-rentes à sua comercialização, são escolhidos peloconsumidor com base em critérios arbitrários e/ousubjetivos e, conseqüentemente, empregados erro-neamente. Embora esses produtos não possuam osmesmos objetivos que os de uso hospitalar, devem,do mesmo modo, possuir atividade antimicrobianapor definição e atender aos respectivos padrões mi-crobiológicos que por sua vez são mais flexíveis doque os de uso hospitalar 1,4,14,15 (domésticos — avali-ados com 2 espécies bacterianas; hospitalares —avaliados com 5 espécies bacterianas e uma fúngica,conforme o ambiente hospitalar).

A metodologia da diluição-uso pode qualificarou desqualificar um mesmo produto desinfetante,dependendo do laboratório que realiza a traba-lhosa metodologia padronizada. Desta maneira,sugere-se que poucos laboratórios sejam credencia-dos para avaliação e que a metodologia seja sim-plificada 10.

Assim, no sentido de colaborar com o estudo daavaliação microbiológica de desinfetantes de usodoméstico, área carenteem nosso meio3,15, propu-semo-nos a realizar estudo com 5 produtos desinfe-tantes divulgados pela publicidade televisiva, noano de 1988, e no primeiro semestre de 1989, pormetodologia quantitativa adaptada e outra qua-litativa, esta baseada na metodologia da di-luição-uso utilizando etapas padronizadas e ou-tras simplificadas.

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MATERIAL E MÉTODOS

Microorganismos8:

Staphylococcus aureus ATCC 6538

Pseudomonas aeruginosa ATCC 15442 eSalmonella choleraesuis ATCC 10708

Desinfetantes:

(composto ativo e concentração descrita no rótulo).

1 - Pinho-sol (Ortobenzil paraclorofenol a 0,1%)

2 - Frish (Éter 2,4,4' tricloro 2' hidroxifenílico a0,1%)

3 - Harpic-WC (Cloreto de alquil dimetil benzilamino-cloreto de alquil dimetil etil benzil amino

50 a 1,6%)

4 - Pato-Purific (Formaldeído 37%, sol a 0,3%)

5 -Thunder — (Não apresenta formulação)

Meios desubcultivo 4

- Caldo e Agar Nutriente

Método qual i tat ivo: Diluição-uso padronizadapela AOAC4 com 10 carreadores, para efeito detriagem, inoculados separadamente nos respecti-vos subcultivos. Diluição-uso método simplificadoadaptado neste trabalho, baseado nos mesmos

princípios da AOAC

4

, com 10 carreadores paraefeito de triagem, inoculados conjuntamente emfrascos Erlernmeyer com l00ml de meio para sub-cul t ivo.

M é t o d o q u a n t i t a t i v o a d a p t a d o15

- Determi-nação do efeito germicida. Suspensão teste (0,5mlde caldo nutriente com bactérias desenvolvidas em24 h + 5,0ml do desinfetante em teste). Verificaçãodo número de unidades formadoras de colônias(u.f.c.) sobreviventes após 15 segundos de contato.

A suspensão teste foi avaliada pela amostrarea l izada com alça bacteriológica padronizada

(4mm de diâmetro)4.Confirmação da identidade das bactérias utili-

zadas no início de cada experimento quando os sub-cultivos foram positivos15.

Controle da interferência de resíduos de desin-fetantes nos subcultivosna:

— Metodologia qualitativa p a d r o n iz a d a : Car-readores estéreis foram mergulhados nas soluçõesdos desinfetantes, retirados, o excesso de desinfe-tante removido, e inoculados simultaneamente comcarreadores contaminados para subcultivo a 37°C

por 24 h15

.

— M e t o d o l o g i a q u a l i ta t i v a s impl if icada: Carrea-dores estéreis foram mergulhados nas soluções de-sinfetantes, removidos em grupo de 10 e submetidos

a lavagens cuidadosas com água destilada estéril,num Erlenmeyer (este procedimento também ocor-reu na avaliação de cada produto); em seguida,foram inoculados e subcultivados conjuntamentecom 10carreadores contaminados em l00ml de Cal-

do Nutriente.

— Metodologia quantitativaadaptada: Inoculou-se simultaneamente em 15 ml de Agar Nutriente,fundido e resfriado, uma alçada da solução do de-sinfetante e outra de uma suspensão conhecida debactérias para a verificação da alteração de u.f.c.,após incubação a 37°C por 24h15.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como já constatamos em outra oportunidade, ametodologia da diluição-uso pode ocultar ativi-dade antimicrobiana importante. Portanto, umacompanhamento pela avaliação quantitativa ésempre interessante 15 .

Para colaborar com a recente proposta de sim-plificar o método de avaliação microbiológica dedesinfetante e tendo por base a metodologia dadiluição-uso, conferimos que o fato de 10 carrea-dores tratados com desinfetante e subcultivadosconjuntamente não alterava os resultados em rela-ção ao método padronizado para fins de triagem.Assim, a economia de tempo, material e, conse-qüentemente, a atividade técnica pôde ser reduzi-da sem interferir nos princípios da metodologia

(Tabe la ) .Diante da metodologia qualitativa, tanto no

protocolo padronizado como no simplificado, osprodutos 2 e 3 permitiram a recuperação das cepasde P seudom onas e de Salmonella. Desta maneira,apenas os produtos l, 4 e 5 estariam de acordo como padrão microbiológicode triagem necessário aosdesinfetantes domésticos. Os produtos 4 e 5 tam-bém atingiram padrões microbiológicos paradesinfetantes institucionais e hospitalares desti-nados a áreas não críticas, pois não permitiram arecuperação da cepa de P s e u d o m o n a s

4 (Tabela).

A metodologia quantitativa por nós anterior-m ente adaptada15 mostrou que todos os produtosprovocaram um efeito germicida de pelo menos 5(99,999% de redução) em 15 segundos sobre as bac-tér ias padrões utilizadas. Esse tipo de redução éreconhecido e sugerido, desde que o inóculo inicialpossua cerca de 10 9 bactérias por ml5. Como em nos-so caso o objetivo era apenas avaliar atividadeantimicrobiana, a suspensão teste possuía cerca de10 7 bactérias por ml; entretanto, essa situação é se-melhante ao número de bactérias contidas em cadacilindro carreador 12, embora num método as bac-térias estejam em suspensão e, em outro, aderidas à

superf ície metálica. A atividade antibacterianaevidenciada no método quantitativonão pode serdesprezada em relação ao método qualitativo,pr inc ipa l me n t e quando este é utilizado para aqualificação de produtos desinfetantes 4,13,l5.

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Também é sabido que os testes "in vitro" confe-rem apenas a a t iv idade an t imicrobiana de umproduto desinfetante mas não a real capacidadede desinfecção de um ambiente que, por sua vez,pode te r diversos fatores interferentes, alguns atéimprevis íveis , prejudicando a atividade antimi-crobiana de um composto ativo 13,15. Por esta razão,os testes padronizados

ou não sãodiscutíveis,

e nãoexiste um único método de avaliação microbi-ológica que considere todas as variáveis no contex-to geral de desinfecção2, 5. O uso de cepas bacteria-nas p a d r õ e s e r ep res en ta t iv a s t a mbé m équestionado pois, do mesmo modo, não representamas condições reais nu m processo de desinfecção 2,5.

N a avaliação quantitativa verificamos que oproduto número 3 estava contaminado com Entero-bacter sp, na ordem de 10 4 células por m l do produto.Esse produto, apesar de ter se revelado eficaz nametodologia qualita tiva , padronizada e simplifi-cada, frente à cepa de Staphy lococcus , não o foipara a cepa de Salmonel la, confer indo em nossocaso a represen ta t iv idade de Salmonel la choleraesuis. A atividade antibactcriana dos produtosl, 2, 4 e 5 foi realizada frente à cepa do microrga-nismo contaminante. Apenas o produto número 2permitiu a recuperação de Enterobacter sp tan to naavaliação qualita tiva quanto na quant i ta t iva . E n-t re tan to , na ava l iação quant i ta t iva , o prod u tonúm ero 2 revelou ainda possuir um efeito germicidade pelo menos 3 (99,9% de redução) após 10 min decontato. Paradoxalmente, neste último experimen-to , a representatividade da cepa de Salmonella nametodologia qualitativa pode ser questionada.

O achado da contaminação em questão, inclu-sive em outras embalagens do prod u to e perte-centes ao mesmo lote, pode sugerir descuidos naelaboração da formulação, es toque e/ou embala-

gem do produto. Entretanto, é sabido que produtosdesinfetantes à base de qua ternár ios de amônio,caso do produto número 3, são mais passíveis decontaminação por questões inerentes a esse compos-to, sendo, portanto, às vezes suplementados compreservantes como o etanol11 . Sugerimos, portanto,que produtos desinfetantes de uso doméstico, à base

de quaternários de amônio, sejam comercializadoscom cautela. O achado de cepas resistentes ou con-taminantes fa z parte do contexto geral do controlemicrobiológico de desinfetantes, com exceção dasbactérias esporuladas2,5,13.

Os resíduos de desinfetantes levados para ossubcultivos não interferiram no desenvolvimentobacteriano, nas metodologias quali e quantitativa.

Os subcultivos positivos confirmaram apenas apresença das cepas utilizadas no início de cada ex -perimento, com exceção do produto número 3 ondetambém se caracterizou, através de isolamento, ummicrorganismo contaminante (Enterobacter sp).

N a metodologia qualita tiva com o produto 3,todos os tubos para subcultivo apresentaram turva-ção; e apenas 4 tubos permitiram também a recupe-ração de Pseudomonas e 3 de Salmonella no s res-pectivos experimentos (Tabela) . N a metodologiasimplificada houve a recuperação da cepa bacte-r iana padrão jun ta men te com Enterobacter sp. Nametodologia quant i ta t iva não houve a recupe-ração das cepas padrões, apena s do microrganismocontaminante.

A alça bacteriológica padroniz ada transporto uem média 5,3 x 105 células de Staphylococcus aure-us, 8,7 x 105 células de Pseudomonas aeruginosa e 4,3x 105 células de Salmonella choleraesuis.

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Concluindo, os produtos desinfetantes divulga-dos através de um expressivo veículo de comuni-cação, a televisão, revelaram em nossas condiçõeslabora tor ia is possuir a t iv idade bacter ic ida ,atingindo um dos principais objetivos de um desin-

fetante. Entretanto, diante dos padrões microbio-lógicos nacionais, dois estariam desqualificados,dois foram compatíveis com a sua categoria e ou-

tros dois atingiram padrões superiores ao s neces-sários. N a metodologia quantitativa, todos apre-sentaram efeito germicida de pelo menos 5 em 15segundos frente às cepas padrões. Surpreendente-mente, um produto estava contaminado com E n t e -

robacter sp na ordem de 104

células por ml e estacepa fo i parcialmente resistente frente ao s quatrooutros produtos.

TI ME NE TS KY, J. [Evaluation of chemical disinfectants for household use]. R e v . Saúde públ.,S. Paulo, 24 : 47-50,1990.

A B S T R A C T : Five disinfectants for household use were advertised on television during 1988 and thefirst half of 1989. The products were tested by a qualitative (Use-Dilution with 10 carriers, a conven-tional and simplified, adapted method) and a qualitative, adapted method with a view to evaluatingtheir antimicrobial activity. The active compounds of the products, according to their respective labelswere: 1 — Parachlorophenol (0-Benzil) 0.1%; 2 — Eter 2.4.4' Chloro (I I I ) 2' hydroxiphenylic 0.1%; 3 —

N - alkyl dimethylbenzyl ammonium chlorides, N - alkyl dimethylethybenzyl ammonium 50% - 1.6%;4 — Formaldehyde 37% (0.3% solution); 5 — No information. The microorganisms used were: S t a p h y l o -coccus aureus ATCC 6538, Pseudomonas aeruginosa ATCC 15442 and Salmonel la choleraesuis ATCC 10708.In the qualitative method the pseudomonas strain was recovered from disinfectants 1, 2, and 3 and thesalmonella strain from disinfectants 2 and 3. All disinfectants showed germicidal effect 5. 0 (99 .999%) ofreduction) in 15 seconds against all strains. Disinfectant 3 was contaminèd with Enterobacter sp to the or-der of 104 cells/ml. This contaminant was sensitive against disinfectants 1, 4 and 5, in the qualitativemethod and had a relative resistance to disinfectant 2 in the quantita tive method.

K E Y W O R D S : Disinfectants. Microbiological evaluation.

R EFER Ê N C IA S B IB L IO GR ÁFICA S

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Recebido para pub l icação em 11/08 /1989

Reapresentado em 11 /12 /1989Aprovado para pub l icação em 15/12/1989