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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA DOUTORADO EM SAÚDE COLETIVA KELLY LEITE MAIA DE MESSIAS AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS INFORMAÇÕES SOBRE ÓBITOS POR CAUSAS EXTERNAS NO MUNICÍPIO DE FORTALEZA-CE. Fortaleza-CE Junho/2014

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS INFORMAÇÕES SOBRE ÓBITOS … · DEDICATÓRIA Aos olhos instigantes de meus discentes aprendizes de medicina Pela esperança da mudança do novo KM

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Page 1: AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS INFORMAÇÕES SOBRE ÓBITOS … · DEDICATÓRIA Aos olhos instigantes de meus discentes aprendizes de medicina Pela esperança da mudança do novo KM

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA

DOUTORADO EM SAÚDE COLETIVA

KELLY LEITE MAIA DE MESSIAS

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS

INFORMAÇÕES SOBRE ÓBITOS POR CAUSAS

EXTERNAS NO MUNICÍPIO DE FORTALEZA-CE.

Fortaleza-CE

Junho/2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA

DOUTORADO EM SAÚDE COLETIVA

KELLY LEITE MAIA DE MESSIAS

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS INFORMAÇÕES SOBRE ÓBITOS POR

CAUSAS EXTERNAS NO MUNICÍPIO DE FORTALEZA-CE

Tese apresentada ao programa de Pós-

Graduação em Saúde Coletiva da

Universidade Federal do Ceará – UFC, da

Universidade Estadual do Ceará – UECE

e Universidade de Fortaleza- UNIFOR

como requisito para obtenção do grau de

Doutora em Saúde Coletiva. Linha de

Pesquisa- Epidemiologia.

Orientador- Prof. Dr. José Gomes Bezerra Filho.

FORTALEZA, CE

2014

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca de Ciências da Saúde

M548a Messias, Kelly Leite Maia de. Avaliação da qualidade das informações sobre óbitos por causas externas no

município de Fortaleza-CE./ Kelly Leite Maia de Messias. – 2014. 155 f.: il. color., enc. ; 30 cm. Tese (doutorado) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Medicina,

Departamento de Saúde Comunitária, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Doutorado em Saúde Pública, Fortaleza, 2014.

Área de Concentração: Epidemiologia. Orientação: Prof. Dr. José Gomes Bezerra Filho. 1. Avaliação em Saúde. 2. Mortalidade. 3. Violência. I. Título.

CDD 614.42813

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Universidade Federal do Ceará

Universidade Estadual do Ceará

Universidade de Fortaleza

Doutorado em Saúde Coletiva

Avaliação da qualidade das informações sobre óbitos

por causas externas no município de Fortaleza-CE.

Kelly Leite Maia de Messias

Defesa de Tese em: 06/06/2014

Conceito Obtido: APROVADA

Banca Examinadora

Prof. Dr. José Gomes Bezerra Filho Orientador

Profa.Dra. Ana Paula Soares Gondim Profa. Dra Augediva Maria Jucá Pordeus UFC UNIFOR

Prof.Dr. Marcelo Gurgel Carlos da Silva Profa. Dra. Miren Maite Uribe Arregi UECE ICC-CE

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DEDICATÓRIA

Aos olhos instigantes de meus discentes aprendizes de medicina

Pela esperança da mudança do novo KM

Aos meus pais, Pedro e Ivonele, pelos trilhos firmes de minha escolaridade, desde os primeiros

traços.

Aos meus filhos, Pedro José e Júlia, pela grandeza do amor sem fim.

Aos meus irmãos Professores Doutores, Erick e Gretha, por serem tão companheiros.

Ao pai do meu filho, ex-colega de mestrado, companheiro de Doutorado, junto comigo no incentivo

acadêmico, José Patrício.

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AGRADECIMENTOS

Ao Professor Dr. José Gomes Bezerra Filho, pelo incentivo à pesquisa na temática da violência.

Ao meu colega, Professor Doutor, Erick Leite Maia de Messias, pela valiosa ajuda na compreensão

das análises estatísticas e no manuseio de programas estatísticos na área da saúde coletiva.

Aos meus discentes David Guerreiro, Lara Carvalho, Madeline Sales, Maiara Queiroz, Marcelo

Praxedes, Markus Lage, Thales Peixoto e Thiago Freitas pelo companheirismo e responsabilidades

compartilhadas.

Aos meus sobrinhos: Janilson, Sofia, Igor, Ivan e Anna.

Aos meus amigos da vida: Anna Myrna de Lima, Flávia Dórea, Gerytza Alcântara, Juliana Lyra e

Marcos Henrique Rocha.

À minha amiga Vicência Jaguaribe, pelas preciosas coisas: a amizade e a revisão ortográfica.

Aos meus colegas da Universidade de Fortaleza pelo incentivo e colaboração nesse quadriênio.

Aos meus colegas de doutorado Isabelle, Marinila, Malvina e Valéria.

Àqueles que nos deram apoio técnico no projeto de pesquisa, à Célula de Vigilância Epidemiológica

de Fortaleza e à Perícia Forense do Ceará Fortaleza.

Ao corpo docente do curso de Doutorado em Saúde Coletiva das Universidades: UFC; UECE e

UNIFOR.

E a todos que ajudaram a conduzir esse projeto de tese à efetivação.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABML - Associação Brasileira de Medicina Legal.

ACV - Áreas de Concentração de Violência.

APVP - Anos Potenciais de Vida Perdidos.

ASS- Análise de Situação de Saúde.

ATT- Acidentes de Transporte Terrestre.

BO- Boletim de Ocorrência.

CBCD - Centro Brasileiro de Classificação de Doenças.

CE - Causas Externas.

CEVEPI - Célula de Vigilância Epidemiológica.

CFM - Conselho Federal de Medicina.

CID- Classificação Internacional das Doenças.

CONASEMS – Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde.

CONASS – Conselho Nacional de Secretários de Saúde.

CMD - Causas Mal Definidas.

CNS - Conselho Nacional da Saúde.

CTB - Código de Trânsito Brasileiro.

CTIIS – Comitê Tripartite de Informação e Informática em Saúde.

DAC - Doenças do Aparelho Circulatório.

DATASUS - Departamento de Informática do SUS.

DIP - Doenças Infecciosas e Parasitárias.

DO - Declaração de Óbito.

GI- Gestão da Informação.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

IC - Intervalo de Confiança.

IDB - Indicadores de Dados Básicos.

IML - Instituto de Medicina Legal.

IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará.

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LOAS – Lei Orgânica da Saúde.

MS - Ministério da Saúde.

NEO - Doenças Neoplásicas.

NOB – Normas Operacionais Básicas.

OMS - Organização Mundial da Saúde.

OPAS - Organização Pan-Americana de Saúde.

PEFOCE - Perícia Forense do Ceará.

PIB - Produto Interno Bruto.

PMMG- Polícia Militar de Minas Gerais.

PNIICS- Política Nacional de Informação, Informática e Comunicação em Saúde.

PPI- Programação Pactuada Integrada.

RAP- Risco Atribuível Proporcional.

RC- Razão de chances.

RG- Registro Geral.

RIPSA - Rede Interagencial de Informação para a Saúde.

RP- Razão de Prevalência.

SAI - Sistema de Informação Ambulatorial.

SAME- Serviço de Atendimento Médico e Estatístico.

SIAB - Sistema de Informação da Atenção Básica.

SIAT-FOR - Sistema de Informação de Acidentes de Trânsito.

SIH - Sistema de Informação Hospitalar.

SIM - Sistema de Informação sobre Mortalidade.

SINAN - Sistema de Informação de Agravo de Notificação.

SINASC - Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos.

SIOPS - Sistema de Informação sobre orçamentos públicos em Saúde.

SIS - Sistemas de Informação em Saúde.

SMS - Secretaria Municipal de Saúde.

SSPDS - Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social.

SUS - Sistema Único de Saúde.

SVO - Serviço de Verificação de Óbitos.

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TFECD- Teto Financeiro de Epidemiologia e Controle de Doenças.

UBS - Unidade Básica de Saúde.

USP - Universidade de São Paulo.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01- Responsabilidade no preenchimento da DO segundo existência de violência.

Figura 02- Distribuição das taxas de homicídios por bairros de ocorrência. Fortaleza, 2010.

Figura 03- Distribuição da densidade de ocorrência de homicídios por Kernel. Fortaleza, 2010.

Gráfico 01- Proporção de óbitos por causa definida no Brasil, 2010.

Quadro 01- Sistemas de Informação em Saúde. Brasil, 2014.

Quadro 02- Óbitos por Causas Externas segundo Grupo CID10. Brasil, 1999-2011.

Quadro 03 - Óbitos por Agressão segundo Categoria CID10. Brasil, 1999-2011.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01- Proporção de óbitos por Causa Mal Definida e desconhecida segundo unidade da

federação e região, 1999-2011.

Tabela 02 - Testes de coeficientes de modelo Omnibus.

Tabela 03 - Indicadores de desempenho do modelo.

Tabela 04 - Teste de Hosmer e Lemeshow.

Tabela 05 - Classificação dos indivíduos segundo o modelo. Fortaleza, 2010.

Tabela 06 - Distribuição dos bairros de ocorrência dos homicídios. Fortaleza, 2010.

Tabela 07 – Preenchimento final dos bairros de ocorrência dos homicídios. Fortaleza, 2010.

Tabela 08- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Identificação. Fortaleza, 2010.

Tabela 09- Completitude dos óbitos por causas externas segundo variáveis nominais de Identificação.

Fortaleza, 2010.

Tabela 10- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Residência. Fortaleza, 2010.

Tabela 11- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Ocorrência. Fortaleza, 2010.

Tabela 12- Completitude dos óbitos por causas externas segundo variáveis nominais de Ocorrência.

Fortaleza, 2010.

Tabela 13- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Assistência Médica. Fortaleza,

2010.

Tabela 14- Completitude dos óbitos por causas externas segundo informações do Médico. Fortaleza,

2010.

Tabela 15- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Tipo de Morte. Fortaleza, 2010.

Tabela 16- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Descrição do evento. Fortaleza,

2010.

Tabela 17- Associação não ajustada entre Homicídio e variáveis independentes. Fortaleza, 2010.

Tabela 18 – Parâmetros estimados da Regressão. Fortaleza, 2010.

Tabela 19 - Probabilidades previstas pelo modelo para cada perfil. Fortaleza, 2010.

Tabela 20 - Análise dos resíduos padronizados fora do intervalo ±2,5. Fortaleza, 2010.

Tabela 21- Associação não ajustada e ajustada entre Homicídio, faixa etária, sexo, estado civil e

ocorrência. Fortaleza, 2010.

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Tabela 22 – Análise de Concordância entre as codificações de causas básicas dos óbitos por causas

externas. Fortaleza, 2010.

Tabela 23- Distribuição dos bairros segundo ocorrência de homicídios com taxas entre 101-150 por

100.000 hab. Fortaleza, 2010.

Tabela 24 – Índice de Moran Global. Fortaleza, 2010.

Tabela 25 –Kernel por bairros de “áreas quentes”. Fortaleza, 2010.

Tabela 26 –Kernel por densidade de homicídios. Fortaleza, 2010.

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RESUMO

O Sistema de Informação sobre Mortalidade se apropria de informações para avaliar

o estado de saúde das coletividades humanas e orientar medidas de saúde

equânimes. Para tanto, este Sistema, não distante dos demais, deve dispor de

informações de qualidade, que podem ser avaliadas a partir de dois parâmetros: a

validade e a confiabilidade de seu indicador de saúde. Vários estudos foram

realizados no Brasil nos últimos 20 anos demonstrando fragilidades nos processos

avaliativos deste Sistema. O presente estudo tem como objetivo principal avaliar a

qualidade do registro de informação sobre mortalidade para as vítimas de causas

externas do ano de 2010 no município de Fortaleza-Ceará. Trata-se de um estudo

transversal, no qual foram selecionadas todas as Declarações de Óbito advindas da

Perícia Forense do Ceará cujas causas básicas foram identificadas no capítulo XX,

da Classificação Internacional de Doenças (CID-10), 2010, de residentes de

Fortaleza. Foram comparados o quantitativo de óbitos registrado no Sistema de

Mortalidade oficial e o quantitativo de óbitos identificados na Perícia Forense do

Ceará. Também foram comparadas as codificações de causas básicas do óbito; os

fatores de risco ligados à principal causa de morte (Agressões) e foi analisada a

qualidade dos registros de todos os campos juntamente à Análise Espacial de local

de ocorrência dos óbitos por Agressões. Os dados foram tabulados no programa

EpiInfo for Windows, versão 3.5.4 e analisados no STATA 12. Foi utilizado o Kappa

como medida de concordância. Os Resultados indicaram subnotificação de 67

óbitos, gerando amostra final 2.109 óbitos; a concordância entre as codificações

pesquisa-oficial apresentou Kappa de 0.069; foi considerado, no modelo final de

regressão logística, como risco às Agressões pertencer às categorias: adolescente

(OR ajustada: 18,44; I.C.95% entre 9,57- 35,54); masculino (OR ajustada: 2,83;

I.C.95% entre 1,92- 4,19); não ter vínculo conjugal (OR ajustada: 1,58; I.C.95% entre

1,14- 2,18) e bairro de ocorrência de renda menor (OR ajustada: 5,13; I.C.95% entre

2,13- 12,36); a maioria das variáveis apresentou completitude baixa e o indicador

Kernel indicou “áreas quentes” na distribuição dos bairros de ocorrências de

Agressões em Fortaleza-CE.

Palavras-chave: Avaliação. Mortalidade. Violência.

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ABSTRACT

The Health Information System on Mortality appropriates information to assess the

health status of human populations and direct measures for equitable health care.

Therefore, this system, not far from the others, must have quality information, which

can be evaluated by two parameters: the validity and reliability of its health indicators.

Several studies were conducted in Brazil over the last 20 years demonstrating

weaknesses in the evaluation processes of this system. The present study aims to

evaluate the quality of the record of mortality information for victims of external

causes in 2010 in Fortaleza, Ceará. This is a cross-sectional study, which included all

death certificates, from residents of Fortaleza, reported by the state’s Medical

Examiner office where the underlying causes were identified in Chapter XX, the

International Classification of Diseases (ICD- 10). The number of deaths recorded in

the state Mortality Database and the amount of deaths identified in medical

examiner’s office records were compared. We also compared encodings for basic

causes of death; the risk factors linked to the leading cause of death (aggression),

and we analyzed the quality of the records and performed a Spatial Analysis of

deaths from aggression/assault. Data were tabulated in EpiInfo for Windows, version

3.5.4 and analyzed in STATA 12. Kappa was used as a measure of agreement.

Results indicated underreporting of 67 deaths, with 2,109 deaths resulting final

sample. The correlation between the medical examiner and the population registry

had a kappa of 0.069. The following risk factor were identified in a logistic regression

for death by aggression/assault: being a teenager (adjusted OR: 18.44, 95% CI from

9.57 to 35.54 ), being male ( adjusted OR : 2.83 , CI 95 % from 1.92 to 4.19 ), not

having marital bond ( adjusted OR : 1.58 , 95% CI from 1.14 to 2.18 ) and occurrence

of low- income neighborhood ( adjusted OR : 5.13 95% CI from 2.13 to 12.36 ); most

variables showed low completeness and the indicator Kernel identified "hot areas" in

the distribution of the occurrences of assaults among neighborhoods in Fortaleza .

Keywords: Evaluation. Mortality. Violence.

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SUMÁRIO

Parte I- Definição do Objeto em Estudo 1. Introdução.............................................................................................................18

2. Aporte Teórico......................................................................................................24 2.1 Sistemas de Informação em Saúde e o Sistema de Informação sobre

Mortalidade ................................................................................................................24 2.2 Sistemas de Informação sobre Mortalidade: considerações quanto à

legislação e gestão do sistema..................................................................................31 2.3 Mudanças no perfil epidemiológico e o aumento da carga de mortalidade por

Causas Externas........................................................................................................38 2.4 Causas mal definidas e a importância do correto preenchimento da DO........47 3. Objetivos......... ....................................................................................................55 3.1 Objetivo geral .................................................................................................55

3.2 Objetivos específicos......................................................................................55 Parte II- Caminhos Metodológicos

4. Material e Método ................................................................................................57 4.1 Tipo de estudo................................................................................................57

4.2 Período do estudo...........................................................................................57 4.3 Local do estudo...............................................................................................57 4.4 População do estudo.......................................................................................58 4.5 Coleta do banco de dados...............................................................................60 4.6 Codificação da pesquisa.................................................................................64 4.7 Verificação da concordância entre a codificação da causa básica dos óbitos.................................................................................................................65 4.8 Análise e tabulação dos dados........................................................................66 4.9 Definição da categorização das variáveis.......................................................73 4.10 Georreferenciamento.....................................................................................74 4.11 Aspectos Éticos.............................................................................................76 Parte III- Resultados e Discussão 5. Resultados ..........................................................................................................79 5.1 Avaliação da qualidade de preenchimento e ocorrência de rasuras nos campos do instrumento de coleta de dados da declaração de óbito & descritiva......79 5.2 Análise Bivariada.............................................................................................87 5.3 Regressão Logística .......................................................................................94 5.4 Análise de Concordância ..............................................................................100 5.5 Análise Espacial............................................................................................101

6. Discussão ..........................................................................................................106 7. Conclusão .........................................................................................................134

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REFERÊNCIAS……….............................................................................................136 ANEXOS E APÊNDICES.........................................................................................149

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Parte I

Definição do Objeto de

Estudo

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1. INTRODUÇÃO

O Sistema Único de Saúde (SUS) criado pela Constituição Federal de 1988

(BRASIL, 1988) e regulamentado pela Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080/90 e Lei

8.142/90) apresenta-se alicerçado nos princípios doutrinários da universalidade,

integralidade e equidade e nos princípios estratégicos da descentralização,

regionalização e participação social.

Para o cumprimento destes princípios, grandes dificuldades e desafios são

postos ao campo da Saúde Coletiva. Esse campo de atuação objetiva superar as

limitações e fragmentações da „saúde pública‟ e, a partir da articulação entre

Epidemiologia, Planejamento e Gestão em Saúde e Ciências Sociais, apontar novos

caminhos, saberes e práticas à área da saúde (ALMEIDA FILHO e PAIM, 2000).

Nesse contexto, a informação em saúde apresenta-se como uma ferramenta

imprescindível para o conhecimento da realidade epidemiológica e para subsidiar os

mecanismos de planejamento e gestão no SUS. Os dados, no campo da saúde

coletiva, remetem ao conceito embrionário, bruto, da ausência do tratamento

estatístico. Adiante, obtém-se a informação sob a égide de preceitos teóricos. Nessa

perspectiva, a Informação em saúde representa ferramenta imprescindível à

Vigilância Epidemiológica (VE) por ser fator desencadeador do processo intitulado

“informação-decisão-ação”, tríade que sintetiza o escopo de suas atividades

(BRASIL, 2010).

Moraes (1994) discute a capacidade da informação imbricada em um Sistema

detentor da capacidade de articular unidades que o compõem. Estas partes, ditas

estruturas administrativas e unidades de produção, se articulam entre si com a

finalidade de selecionar dados e transformá-los em informação.

Segundo Machado (2007), a informação em saúde necessita do apoio da

Tecnologia da Informação (TI), sendo importante o gerenciamento em conjunto. A

autora discute as limitações da TI e amplia debate sobre a diferenciação entre

informação e conhecimento. Ambos têm se utilizado da TI, porém na gestão do

conhecimento é o indivíduo que é mais valorizado. Na estratégia orientada para

informação, o investimento é em TI, sendo esta entendida como todas as formas de

conhecimento relacionadas à produção, gestão e disseminação das informações

capazes de solucionar ou minimizar os problemas de saúde no âmbito dos sistemas

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de saúde que presam pelo bem das coletividades humanas.

No Brasil, a utilização de Sistemas de Informação em Saúde (SIS) tem início

com a implantação pelo Ministério da Saúde (MS) do Sistema de Informação sobre

Mortalidade (SIM), datada em 1975. A princípio, esse sistema tinha como objetivo

coletar, processar e disseminar dados e informações sobre óbitos em todo o país.

Como instrumento de coleta dados, o MS adotou um modelo padronizado de

Declaração de Óbito (DO) que possibilitou a obtenção e a organização de

informações mais fidedignas e completas (BRASIL, 2009).

Também outros Sistemas de Informações foram implantados em anos

subsequentes, como o Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC), em

1976 e o Sistema de Informação de Agravo de Notificação (SINAN), 1977.

Atualmente, além desses sistemas, o SUS também conta com o Sistema de

Informação Hospitalar (SIH-SUS), o Sistema de Informação Ambulatorial (SIA-SUS),

Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), Sistema de Informação sobre

Orçamentos Públicos em Saúde (SIOPS), dentre outros.

Os SIS permitem, dentre outros fins, conhecer o estado de saúde, monitorizar

e avaliar intervenções, resultados e impactos nas coletividades humanas,

constituindo-se em importantes ferramentas para o monitoramento das estatísticas

vitais e demográficas, desenvolvimento de estudos epidemiológicos,

acompanhamento da situação de saúde da população com fins na avaliação e na

gestão do sistema.

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Quadro 01- Sistemas de Informação em Saúde. Brasil, 2014.

Sistema Objetivo Instrumento Indicadores/Informação

Sistema de Informações de Mortalidade

(SIM)

Coletar dados da população permitindo gerar informações sobre o perfil de mortalidade.

Declaração de Òbito (DO)

Mortalidade proporcional por causa, faixa etária, sexo, local de ocorrência e residência, letalidade de agravos, componentes da taxa de mortalidade geral, infantil e materna.

Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC)

Coletar dados sobre os nascimentos da população permitindo gerar informações epidemiológica do segmento Materno-Infantil.

Declaração de Nascido Vivo (DN)

Taxa de fecundidade, taxa de natalidade, proporções de mães adolescentes, proporção de partos cesáreos, assistência ao pré-natal, componente das taxas de mortalidade infantil e materna.

Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN)

Coletar dados de agravos infectocontagiosos de notificação obrigatória permitindo avaliações de situações de risco e tomadas de decisões para medidas de controle

Ficha Individual de Notificação (FIN) Ficha Individual de Investigação (FII)

Cálculos de incidência, prevalência, letalidade e mortalidade, situação epidemiológica dos agravos como fontes de infecção mecanismos de transmissão, áreas de risco, populações susceptíveis

Sistema de Informação Hospitalar (SIH-SUS)

Coletar dados de internações hospitalares do SUS para fins administrativos financeiros e epidemiológicos.

Autorização de Internação Hospitalar (AIH)

Dados das internações hospitalares, fonte de informação para o conhecimento da situação de saúde da população e avaliação das ações e dos serviços de saúde.

Sistema de Informação Ambulatorial (SIA-SUS)

Coletar dados de atendimento ambulatorial e alta complexidade para fins de ordenação do pagamento dos serviços prestados nos municípios

Boletim de Produção Ambulatorial (BPA) e Autorização de Procedimentos de Alta Complexidade (APAC)

Indicadores como: número de consultas médicas por habitante ano, número de consultas médicas por unidade conveniada e números de exames e de terapias realizadas e procedimentos de alta complexidade.

Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB)

Coletar dados para o acompanhamento das ações e dos resultados das atividades realizadas pelas equipes do PSF.

Cadastro das Famílias e Boletim de Produtividade da Equipe e do ACS.

Caracterização da Situação sócio-sanitária e epidemiológica de áreas bem delimitadas, dados de acompanhamento pelos ACS de crianças < 2 anos, gestantes, hipertensos, diabéticos, tuberculosos e hansenianos, notificações, hospitalizações, agravos e óbitos na área de cobertura da equipe.

Sistema de Informação sobre Orçamentos Públicos em Saúde (SIOPS)

Coletar dados para o acompanhamento de receitas, repasses e aplicações dos recursos da saúde.

Dados de transferências de recursos, arrecadação de impostos, investimentos e despesas efetuadas.

Recursos em saúde per-capta. Destinação dos recursos públicos. Ampliação da transparência e eficiência dos investimentos em saúde.

Fonte- MEDRONHO, 2009.

No que se refere às informações sobre mortalidade, estas são particularmente

utilizadas para avaliação do estado de saúde das populações e para dimensionar o

impacto de intervenções. A comparação entre diferentes padrões de mortalidade

sugere hipóteses etiológicas a serem testadas (MATOS, PROIETTI, BARATA, 2007).

Segundo Silva (2003), as estatísticas referentes aos óbitos representam,

muitas vezes, o único instrumento de medida dos níveis de saúde das coletividades

humanas e de avaliação de programas de saúde.

Mediante o acontecimento de um óbito, dois caminhos distintos e singulares

serão traçados para constatação e investigação de suas causas. Para óbitos não

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violentos, os corpos são encaminhados para o Serviço de Verificação de Óbitos

(SVO), que procederá à verificação do óbito e a avaliação da causa primária que

levou ao evento. Em se tratando de morte violenta, os corpos devem ser

encaminhados ao Instituto de Medicina Legal (IML) mais próximo para verificação e

análise pericial, devendo também ser averiguada a causa primária que conduziu ao

sinistro.

Entretanto, a qualidade dessa informação é preocupação permanente para os

serviços de saúde. Avaliações da qualidade dos dados para doenças e grupos

etários específicos frequentemente apontam deficiências no preenchimento da DO,

incluindo sua legibilidade. São também citados como inadequações os processos de

codificação e seleção da causa básica, bem como a emissão da DO sem os

resultados de exames de necropsia (MATOS, PROIETTI, BARATA, 2007).

Segundo Laurenti, Mello Jorge e Gotlieb (2008) é chamada de Causa Básica

da morte, definida na Décima Revisão da Classificação Internacional das Doenças e

Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), como a “doença ou lesão que iniciou a

cadeia de acontecimentos patológicos que conduziram diretamente à morte ou as

circunstâncias do acidente ou violência que produziram a lesão fatal”.

Estudo realizado no estado de São Paulo para avaliar a confiabilidade do SIM

entre 1979 e 2001 aponta para falhas importantes no preenchimento das DO e,

mediante consulta a prontuários hospitalares e entrevistas no domicílio, comprova a

possibilidade de reestruturação das informações na elaboração das causas básicas

em mais da metade dos óbitos definidos (HARAKI, LAURENTI e GOTLIEB, 2005).

Na avaliação de estudos referentes aos óbitos por violência, estudos

epidemiológicos (MATOS, PROIETTI, BARATA, 2007; SIMÕES e REICHENHEIM,

2001; BARROS, XIMENES e LIMA, 2001) constataram fragilidade tanto na

identificação da causa básica do óbito, quanto na identificação de variáveis sociais e

fatores relacionados ao óbito.

Essa situação ganha relevância ao se analisar o perfil de mortalidade da

população brasileira no decorrer do século XX. Com o desenvolvimento da transição

epidemiológica, observa-se a diminuição da mortalidade por Doenças Infecciosas e

Parasitárias (DIP) e aumento considerável dos óbitos por Doenças do Aparelho

Circulatório (DAC), por Doenças Neoplásicas (NEO) e por Causas Externas (CE)

(BARRETO e CARMO, 2007).

Em estudo epidemiológico de avaliação de tendências de curvas de

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mortalidade, a tendência da mortalidade por homicídios no Brasil foi analisada, entre

1980 e 2003, demonstrando crescimento vertiginoso na taxa de mortalidade por esta

causa. Em homens, esta causa quintuplicou durante o período referido do estudo.

Para a faixa etária dos 15 aos 29 anos, em 1980 a taxa expressava 17 homicídios

para cada 100.000 homens, evoluindo para 83 óbitos para cada 100.000 homens em

2003. A taxa padronizada no sexo feminino também sofreu acréscimo significativo

durante o período, todavia manteve-se em considerável distância das taxas

masculinas (SOARES FILHO et al, 2007).

Em 2001, o MS lançou a Política Nacional de Redução da Morbimortalidade

por Acidentes e Violências, promovendo ações articuladas em diversas áreas e

setores. Entendendo a importância da Epidemiologia e Saúde Pública na condução

de estudos que avaliem a vigilância desta temática, oportunizando pesquisas com

foco na magnitude, escopo e característica das várias tipologias de violência e

acidentes (SOUZA et al, 2007).

Diante desse contexto, a qualidade da informação sobre óbitos no Brasil é um

quesito essencial para a consolidação do SIM e para a definição de políticas de

saúde mais equânimes e efetivas. Com a crescente escalada da violência no Brasil,

no nosso estado e, sobretudo, no município de Fortaleza e no entorno metropolitano

e a necessidade de responsividade dos diversos segmentos do Estado e da

Sociedade Civil mediante políticas sociais, de saúde e de segurança pública, a

qualidade da informação sobre mortalidade apresenta-se como necessidade

preeminente para orientar a definição dessas políticas.

O conhecimento dos óbitos por causas externas é essencial para a avaliação

de tendências, tomadas de decisão na gestão pública em saúde, acompanhamento

do impacto de intervenções voltadas para a redução da violência e planejamento de

ações de saúde e da estruturação da Rede SUS voltada ao campo da assistência à

saúde.

O estudo proposto levanta as seguintes hipóteses epidemiológicas: é possível

mensurar a qualidade deste Sistema de Informação sobre Mortalidade por causas

externas em Fortaleza; qual a confiabilidade destas informações; há incompletudes

no sistema, e em que nível de classificação (da coleta à digitação dos dados

oficiais); como se dá o processo de codificação de causas básicas; como se

comportam fatores associados à principal causa de óbito no município de Fortaleza,

e, ainda, há diferenças na distribuição espacial de causas?

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Este estudo se justifica pela necessidade de se avaliar Sistemas de

Informação, apesar da tendência crescente de melhoria tanto da qualidade das

informações quanto da cobertura nacional dos citados SIS-SUS. A pesquisadora tem

experiência docente de seis anos de acompanhamento de acadêmicos de Medicina

em módulos curriculares que focam o campo da Saúde Coletiva e os Sistemas de

Serviços de Saúde na Rede SUS. Esta experiência gerou inúmeros

questionamentos sobre a compreensão por parte do grupo discente dos níveis de

atenção à saúde e suas atribuições bem como dos SIS-SUS e suas implicações na

efetivação de um sistema de saúde amplo e complexo em nível nacional, seus

impactos e sua capacidade de avaliação, monitoramento e transformação de

realidades sanitárias. Percebendo um cenário que aponta fragilidades de interesse e

uma falta de sensibilização dos estudantes de Medicina em gerar informações,

sobretudo da sensibilização da necessidade de um alto padrão de qualidade destas

informações, e por acreditarem que unicamente as demandas próprias de

atendimento clínico individualizado sejam superiores em importância quando

comparadas a uma participação irrestrita de responsabilidade, coparticipação e pró-

atividade no fluxo de dados e informações do escopo da responsabilidade médica

como demanda sanitária fundamental para os sistemas de serviços de saúde no

qual estarão inseridos, nasceu o desejo de fundamentar a pesquisa.

Além disso, o SIM tem peculiar importância pela sua capacidade muitas vezes

exclusiva de medir os níveis de saúde das coletividades humanas, sendo, desta

forma, fundamental que esteja alicerçado de dados de alta qualidade e com garantia

de confiabilidade na reprodução de suas informações em níveis nacionais e

internacionais.

Desta forma, a presente tese de doutorado propõe uma avaliação da

qualidade dos dados que alimentam SIM, no que se refere às informações sobre

óbito por violência em Fortaleza no ano de 2010. Estes dados e informações são de

responsabilidade dos peritos médicos da instituição denominada Perícia Forense do

estado do Ceará (PEFOCE) e do Sistema responsável pela Vigilância

Epidemiológica da Secretaria de Saúde do município de Fortaleza: Célula de

Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do município de Fortaleza-Ceará

(CEVEPI).

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2. APORTE TEÓRICO

2.1. Sistemas de Informação em Saúde e o Sistema de Informação sobre

Mortalidade

Historicamente tem-se que as primeiras contagens de mortes, selecionando-

se uma causa para cada feito obituário, são datadas de 1662, quando o inglês John

Graunt descreveu a situação dos óbitos ocorridos em Londres e registrados nos

livros que compunham as atas paroquiais.

Graunt listou 83 causas de morte, sendo uma única descrição para cada

ocorrência de óbito. Anos após, o autor em uma publicação já discutia a

necessidade de múltiplos campos nos instrumentos de coleta de dados referentes

aos óbitos dada a importância da descrição objetiva no preenchimento da diferença

entre a morte ocorrer “devido” a uma doença e morrer “com” uma doença. Após

Graunt, os países começaram a registrar suas causas de morte e estatísticas de

mortalidade segundo causas, sendo esse preenchimento obrigatório pelo

profissional médico em formulário apropriado denominado Atestado ou Declaração

de Óbito. Passou a existir a necessidade de se selecionar uma única causa de

morte, havendo a recomendação de normas e regras de seleção de causa básica, o

que passou a ser tema de grandes reuniões presididas por William Farr, Inglaterra,

em 1837. Em 1900, houve a 1ª Conferência para a primeira Revisão da

Classificação das Doenças, sendo aprovadas seis regras de seleção de causas de

óbito, mas deixando ainda grandes lacunas permitindo arbitrariedade nas escolhas

(LAURENTI, MELLO JORGE e GOTLIEB, 2009).

Em 1946, com a criação da Organização Mundial da Saúde (OMS), esta ficou

responsável pelas revisões decenais da Classificação, incluindo normas e propostas

referentes à compilação, tabulação e publicação das estatísticas de mortalidade e de

morbidade. Foi ainda responsável pela aprovação de um documento que garantia a

uniformização dos critérios de classificação da causa básica da morte e do conjunto

de regras de seleção desta causa. Este documento foi intitulado de Modelo

Internacional de Atestado Médico de Causa de Morte. Estas regras, em última

instância, garantiriam a possibilidade da comparabilidade nacional e internacional

nas análises das estatísticas vitais e demográficas (LAURENTI, MELLO JORGE e

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GOTLIEB, 2009).

Inúmeras revisões da Classificação Internacional das Doenças (CID) se

sucederam ao longo deste século, sendo que diferenças mínimas caracterizam as

revisões entre a 6ª e 10ª Revisões, datadas respectivamente entre os anos de 1948

e 1989 (BRASIL, 2009).

No Brasil, pode-se atribuir ao Serviço Federal de Bioestatística do

Departamento Nacional de Saúde, do Ministério da Educação e Saúde, a publicação

dos primeiros dados nacionais sobre mortalidade, organizados segundo a Causa do

Óbito referente aos anos de 1929 e 1932. Posteriormente, em 1973, a Lei Federal

6.015/1973 regulamentou o registro civil no país e atribuiu ao Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE) a responsabilidade pelas estatísticas dos registros

civis. Em um segundo momento, em 1975, ocorre a primeira Reunião Nacional sobre

os Sistemas de Informação na Conferência Nacional de Saúde realizada naquele

ano (BRASIL, 2009).

Sanches et al (2002) definiram os sistemas como um conjunto integrado de

partes unitárias que se articulam entre si para uma finalidade sanitária comum. Na

esfera dos sistemas de informação, uma das funções destes é a de disponibilizar

prontamente a informação, existindo, assim, elementos embutidos para esse fim: a

captação, o processamento e a difusão da informação. A informação disponível

gerada do processamento, dito output, e o feedback, como retroalimentação dos

sistemas, são considerados itens fundamentais para a garantia da plena atividade

dos sistemas nas finalidades para as quase coexistem (GAZE; PEREZ, 2011).

Pesquisadores diferenciam os conceitos entre os dados e a informação. A

informação sendo concebida como um referencial teórico a ser produzido a partir de

dados, sendo estes números brutos sem tratamentos estatísticos. Ainda, define um

Sistema como um conjunto integrado de partes que se articulam entre si para um fim

epidemiológico. Sendo este sistema um Sistema de Informação, deverá cumprir as

suas funções de captação, processamento e difusão das informações (SANCHES et

al, 2011).

Nos últimos 30 anos, foram priorizados três importantes elementos do

processo de constituição brasileira dos SIS, dentre estes: sistemas de informação

que registram a experiência demográfica e de saúde no país, configurando o que se

convencionou denominar “linha da vida”, circunscrevendo nascimento, doença e

morte; o registro, a compilação e a difusão dos dados em saúde do SUS,

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constituindo o DATASUS; e a elaboração de um processo de articulação

interinstitucional para identificar fontes de informação, padronizar e construir

indicadores e difundir, de forma organizada, dados, indicadores e Análises da

Situação de Saúde conceituada como a Rede Interagencial de Informação para a

Saúde – RIPSA (BRASIL, 2009).

A RIPSA corresponde a uma iniciativa conjunta do MS e OPAS instituída em

1996 para contribuir como o aprimoramento de informações para adequar-se à

gestão de boa qualidade no SUS. Essa iniciativa deveria suprir a carência de

informatização nas informações em saúde. Constitui-se seu principal produto o

conjunto de Indicadores de Dados Básicos (IDB), capaz de individualizar e

especificar responsabilidades institucionais na produção de indicadores (OPAS,

2010).

Almeida et al (2012) debatem, a partir da metodologia de “relacionamento de

banco de dados”, o aprimoramento das Informações em Saúde. Essa técnica tem

sido utilizada para ampliar a qualidade das informações, recuperando informações

através da padronização e verificação desta qualidade, otimizando além da melhoria

qualitativa do dado, sua completitude. O relacionamento das bases de dados se

conceitua como área do conhecimento que estuda o método da busca de pares ou

registros duplicados dentro de um mesmo arquivo ou entre bancos de dados.

Machado (2007), ao avaliar a qualidade das informações sobre óbitos no

estado do Ceará, descreve a completitude dos dados referentes ao triênio 2000-

2002. Ao analisar a proporção de variáveis com preenchimento incompleto para as

variáveis essenciais e secundárias, respectivamente, a proporção de dados ditos

“ignorados” representou para as variáveis as seguintes proporções: variável sexo

0,4%; variável idade 0,5%; para tipo de violência 3,6%; para a variável raça cor

30,5%; para a variável estado civil 14,7%; escolaridade 51,5% e ocupação 31%.

Quanto ao local de ocorrência do óbito, apresentou não preenchimento em 2,0% do

total da amostra para o triênio. O preenchimento da variável assistência médica não

foi informado em 65,7% do total dos óbitos no geral e 75% para óbitos com causas

mal definidas. Na avaliação dos óbitos em menores de um ano, tiveram deficiência

na completitude as informações referentes às mães, sendo para a variável raça cor

49,7%; escolaridade da mãe, 60,4% e para a variável ocupação da mãe, 47,9%.

Houve uma relação diretamente proporcional entre a lacuna na completitude dos

dados e idade da ocorrência do óbito em crianças.

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Ao confrontar bancos de dados do SIM causas externas e o Sistema de

Informação de Acidentes de Trânsito (SIAT-FOR), observaram diferenças marcantes

entre os dois sistemas, sobretudo nas descrições dos acidentes entre ciclistas, que

praticamente não houve registros para o anos do estudo no SIM (ALMEIDA et al,

2012).

Segundo Moraes (2002), um processo de profunda mudança e ampliação da

difusão e utilização da informação ocorreria na presença da inversão dos papéis do

Estado e dos cidadãos na lógica dos Sistemas de Informação do SUS (SIS-SUS).

No cenário atual, tem-se o Estado como gestor centralizador de um arsenal

de bancos de dados em informações sobre saúde, no qual estados e municípios são

obrigados a alimentar periodicamente estes bancos, sob pena da suspensão de

repasses de recursos. Neste contexto, os cidadãos são meras quantificações de

doenças, procedimentos e intervenções em saúde. A proposta de Moraes preconiza

que, mediante uma ampla reforma social, esses “exércitos de informantes” (estados

e municípios) seriam destituídos de sua condição passiva e se constituiriam atores

sociais ativos, questionadores, propositores e responsáveis pelas avaliações e

formulações das políticas públicas.

Nesse contexto, os SIS, além de suas características fundamentais - traçar

perfis de morbimortalidade; subsidiar a avaliação dos sistemas de serviços de

Saúde; e fundamentar o planejamento em saúde - também seriam indutor e

promotor de participação social, cidadania plena e qualidade de vida.

Bispo Júnior e Gesteira (2004) discutem que para que o caráter participativo e

democrático do SUS seja cumprido garantindo o controle social (Lei 8.142/90), a

informação é ferramenta essencial no combate das desigualdades sanitárias e na

promoção da saúde nos coletivos populacionais.

Aliados à valorização da gestão participativa, municípios e estados

alcançariam o estatuto de novos e importantes atores responsáveis pela geração e

uso de informações necessárias à intervenção social (BRASIL, 2009).

Os objetivos e funções dos SIS estão relacionados à coleta, avaliação,

controle de qualidade dos dados, processamento, análise e difusão destes dados,

com destaque para o caráter virtual de transferência ocorrida a partir do avanço da

informática em saúde (MOTA e CARVALHO, 2003).

A qualidade e a confiabilidade dos dados dos sistemas de informação poderão

conduzir a duas situações opostas: gerar uma rede de informações confiáveis e

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indicativa da real situação sanitária; ou produzir um conjunto de dados e

informações não indicativas da real situação de saúde da população. Esta diferença

de escalas de qualidade fundamentará a tomada de decisões mais ou menos

adequada à realidade epidemiológica, de acordo com a qualidade das informações

dos sistemas.

Os parâmetros de avaliação da qualidade de um indicador em saúde

caracterizam-se pelos componentes utilizados em sua formulação (frequência de

casos, tamanho da população de risco), e da precisão dos SIS empregados

(registro, coleta e transmissão de dados). O padrão-ouro de um indicador pode ser

lido por sua validade (capacidade de medir o que se pretende) e confiabilidade

(capacidade de reprodução de resultados gerados). A validade é determinada pela

sensibilidade e especificidade de um indicador. Estas podem ser compreendidas

como a capacidade deste de detectar fenômenos a que se presta avaliar (OPAS,

2008).

O MS gerencia sistemas de informação sobre nascimento, óbitos, doenças de

notificação, acidente de trabalho, atenção básica, ambulatorial e hospitalar,

orçamentos públicos em saúde dentre outros. Somam-se ainda censos e pesquisas

de base populacional coordenados pelo IBGE, pesquisas econômicas e sociais

desenvolvidas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Os SIS-SUS

podem ser consultados em bases de dados virtuais a partir do sítio eletrônico do

DATASUS, em que as informações são disponibilizadas por estado ou município,

sendo possível fazer o cruzamento de várias variáveis disponíveis.

O SIM, embora nascido em 1975, ganhou amplitude nacional a partir de 1979,

mediante convênio entre MS, OPAS, OMS e Universidade de São Paulo (USP).

Desta parceria, foi criada o Centro Brasileiro de Classificação de Doenças (CBCD)

com proposta de promover a melhoria da qualidade das informações dos atestados

de óbito e assessorar o MS nas revisões do Código Internacional das Doenças

(BRASIL, 2009).

A DO foi implantada em 1976 como instrumento base de coleta de dados para

as informações sobre mortalidade em nosso país. Nesta data, padronizou-se modelo

único de coleta de informações com dois objetivos principais: o de ser documento

padrão nacional de coleta das informações para o SIM; e, o segundo, de ter caráter

jurídico, de ser documento hábil, conforme Lei dos Registros Públicos (6.015/1973),

para lavratura, pelos Cartórios de Registros Civis, da Certidão de Óbito, documento

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indispensável às formalidades legais de sepultamento de vítimas. O preenchimento

da DO é ato exclusivo do profissional médico, tendo a responsabilidade ética e

jurídica pelo seu preenchimento, e é composta de três vias auto-copiativas: pré-

numeradas sequencialmente, fornecida pelo MS e distribuída pelas Secretarias

Estadual e Municipal de Saúde conforme fluxo padronizado nacionalmente (BRASIL,

2006).

São pré-requisitos fundamentais para o preenchimento da DO: preencher os

dados de identificação com base em um documento da pessoa falecida, na ausência

deste, cabe às autoridades policiais o reconhecimento da vítima; registrar os dados

com letra legível e sem abreviações ou rasuras; registrar as causas da morte,

obedecendo às regras internacionais; revisar todos os campos antes de assinar o

documento (BRASIL, 2006).

No caso das mortes violentas, a DO deverá ser preenchida pelo profissional

médico vinculado ao IML local, ou quando na ausência deste, qualquer médico

nomeado por autoridade judicial ou policial (BRASIL, 2006).

Segundo a OPAS (2010), os SIS vêm criando a necessidade de profissionais

de saúde híbridos, com formação em tecnologia da informação. Os profissionais e

os cidadãos precisam perceber os benefícios das informações para serem

motivados a utilizá-las.

O médico legista é especialista em Medicina Legal. A Medicina Legal é uma

especialidade médica reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM),

Associação Médica Brasileira (AMB), e Comissão Nacional de Residência Médica.

As normas para realização de concurso para Título de Especialista em Medicina

Legal são estabelecidas pelo convênio entre Associação Brasileira de Medicina

Legal (ABML), AMB e CFM. Para obter o título de especialista é imprescindível

submeter-se à prova de títulos, realizada pela ABML. A condição primária é ser

médico registrado no Conselho Regional de Medicina e as secundárias são

especificadas e estabelecidas através de diretrizes da AMB. Os cursos de

Especialização e Residência em Medicina Legal, devidamente reconhecidos pela

ABML, servem como pontuação para prova de títulos. A Câmara Técnica de

Medicina Legal do CFM e a ABML classificam a perícia médica em qualquer dos

seus ramos, Criminal, Previdenciária, Civil, Securitário e Trabalhista como a

representação do pleno exercício da Medicina Legal (ABML, 2012).

Atualmente, no quadro funcional que compõe a sede da Perícia Forense do

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Ceará, localizado em Fortaleza, há 20 médicos legistas nas escalas de serviço do

necrotério com carga horária semanal de 40 horas.

Figura 1- Responsabilidade no preenchimento da DO segundo existência de violência.

Fonte: BRASIL, Ministério da Saúde. Declaração de Óbito. 2006.

A composição da DO compreende 09 blocos de preenchimento obrigatório,

sendo estes (Anexo A):

I. Parte da DO preenchida exclusivamente pelo Cartório de Registro Civil;

II. Identificação do falecido;

III. Residência;

IV. Local de ocorrência;

V. Específico para óbitos fetais e menores de um ano;

VI. Condições e causas do óbito;

VII. Dados do médico;

VIII. Causas externas: os campos deverão ser preenchidos sempre

que se tratar de morte decorrente de homicídio, suicídio, acidentes ou

morte suspeita;

IX. A ser utilizado em localidades sem profissional médico, quando o

registro oficial será feito por duas testemunhas.

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Na seção VI, a causa básica do óbito (doença ou lesão que iniciou a cadeia

de eventos mórbidos que conduziram diretamente à morte, ou às circunstâncias do

acidente, ou violência que produziram a lesão fatal) deve ser descrita em último

lugar (parte I, linha d), estabelecendo uma sequência de cima para baixo até a causa

terminal ou imediata (parte I, linha a). Nos óbitos por causas externas, o médico

atestante deve declarar na parte I, linha a, como causa terminal, a natureza da

lesão; e, como causa básica, a circunstância do acidente ou da violência

responsável pela lesão que causou a morte. Há, ladeando os dados descritos acima,

os campos referentes aos Códigos da Classificação Internacional das Doenças

(CID) relativo a cada diagnóstico e que será preenchido pelos codificadores das

Secretarias Municipais de Saúde do Estado brasileiro (BRASIL, 2006).

Na DO, a causa básica do óbito, ou causa mortis, deverá ser preenchida e

fornecida pelo serviço médico legal, em conformidade com a determinação do

Código Penal Brasileiro e garantido através da Resolução no. 1.601/2000 do CFM.

E, no intuito de melhorar a notificação dos óbitos, o CFM estabeleceu

responsabilidades e rotinas médicas para a emissão da DO, por meio da Resolução

no. 1.779/2005 do CFM.

2.2. Sistema de Informação sobre Mortalidade: considerações quanto à

Legislação e Gestão do Sistema

Lei 6.015/73 - Lei dos Registros Públicos.

Os Registros Civis no Brasil são contemplados, no início da década de 70,

com a promulgação da Lei 6.015 datada em 31/12/1973, intitulada como Lei dos

Registros Públicos. Esta Lei, em seu Artigo 77, versa sobre a obrigatoriedade da

necessidade do registro oficial, denominado de Certidão de Óbito, para quaisquer

sepultamentos no país, devendo a Certidão deve ser lavrada em um Cartório de

Registro Civil. Esta deverá contemplar campos de obrigatoriedade de preenchimento

pelo profissional de saúde Médico e nos casos específicos de ausência destes

profissionais, será completa através do preenchimento de campos do formulário por

parte de duas testemunhas que tenham presenciado ou verificado o acontecimento

do óbito. No Artigo 78, fica estabelecido o prazo de registro do óbito, respeitando o

intervalo de 24 horas entre o ocorrido e o registro. Não havendo possibilidade deste

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cumprimento, usualmente por motivos de distância entre os órgãos de Verificação de

óbitos, ou outro motivo relevante, o registro deverá ser efetuado nos prazos entre 15

dias e três meses. Neste último caso para locais que distem mais de trinta

quilômetros dos referidos Cartórios de registros civis (BRASIL, 2013).

Leis 8.080/90 & 8.142/90 - Lei Orgânica da Saúde.

Outro marco na legislação brasileira para o campo da Saúde Coletiva se

constitui nas Leis 8.080/90 e 8.142/90. Em 1990, são publicadas compondo a Lei

Orgânica da Saúde (LOAS), que caracterizam a descentralização político-

administrativa como princípio estratégico do SUS, dispondo sobre as condições para

a promoção, proteção e recuperação da saúde da população, à organização e ao

funcionamento dos Sistemas de Serviços de Saúde e institucionalizam e

regulamentam a participação popular e o controle social na gestão do SUS, além de

pautar sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área

da saúde (BRASIL, 1990a, 1990b).

Os Sistemas de Serviços de Saúde, segundo BISPO JÚNIOR e MESSIAS

(2005) podem ser compreendidos como uma combinação de recursos, organização,

financiamento e gerência que visam oferecer serviços de saúde a uma coletividade

humana. Desta forma, os sistemas de serviços de saúde são sistemas sociais que

se propõem e se organizam com o intuito de prestar assistência à saúde de uma

população definida. São compostos por arquitetura, fisiologia e instrumentos. A

arquitetura é o componente que envolve toda a estrutura do sistema e os

mecanismos de relação entre o próprio sistema e entre esses e os demais sistemas

sociais. A Fisiologia relaciona-se com a capacidade de funcionamento do sistema

com o intuito de responder socialmente às condições de vida da população. Já os

instrumentos, referem-se aos recursos disponíveis pelo sistema, sejam eles

tecnológicos, legais, ou organizacionais, donde se incluem os SIS-SUS.

Machado (2007) discorre o papel destas Leis no tocante à informação em

saúde e à constituição dos Sistemas de Informação. Em seus Capítulos II e IV, há a

descrição da utilização da Epidemiologia no estabelecimento de prioridades,

alocação de recursos e orientação programática nos sistemas de serviços de saúde.

São pontuadas as responsabilidades e competências das esferas da União, dos

Estados e do Distrito Federal, bem como das atribuições dos municípios quanto às

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responsabilidades nas amplas funções dos SIS-SUS.

Normas Operacionais Básicas (NOB)

Abreu (2008) discute a legislação que ampara o SUS quando da

regulamentação das NOB. Relata que o processo de descentralização do SUS foi

regulamentado através das quatro Normas Operacionais Básicas, ao longo da

década de 90, sendo estas: NOB 01/91; NOB 01/92; NOB 01/93; NOB 01/96. A

primeira deu início do processo de transferência de recursos federais para estados e

municípios, enquanto a última operacionalizou as propostas de descentralização das

LOAS. Nesta NOB, há a proposta de pactuação entre gestores, dita Programação

Pactuada Integrada (PPI) e o estabelecimento do Teto Financeiro de Epidemiologia e

Controle de Doenças (TFECD).

As Normas Operacionais Básicas definem estratégias e movimentos táticos

que orientam a operacionalidade do SUS, mediante a redefinição das

responsabilidades dos Estados, do Distrito Federal e da União, no caminho da

consolidação dos princípios do SUS.

Andrade (2001) caracteriza as NOB como um importante mecanismo

regulador do processo de estadualização e municipalização das ações e dos

serviços de saúde adotado pelo MS, com origem de um processo politico de pacto

entre as gestões em saúde.

A NOB, ao transmitir aos municípios a condição, outrora de prestadores, de

gestores do sistema, imputa aos mesmos as responsabilidades pelo registro dos

dados, bem como a remessa dos mesmos referentes aos instrumentos de coleta de

dados da linha da vida (nascimento e morte) e algumas situações de agravos à

saúde (Doenças de Notificação Compulsória). Aos municípios, cabem as seguintes

funções: a coleta e o processamento dos dados; a avaliação do processo e o envio

das informações às instâncias federais com o apoio das instâncias estadual e

federal.

Estas Normas Operacionais têm como função reordenar o modelo de Atenção

à Saúde, ao definir:

i. Os papéis de cada esfera do governo e, em especial, no tocante à direção

única;

ii. Os instrumentos gerenciais para que os municípios e estados superem o

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papel exclusivo de prestadores de serviços e assumam seus respectivos

papéis de gestores SUS;

iii. Os mecanismos e fluxos de financiamento, reduzindo progressiva e

continuamente a remuneração por produção de serviços e ampliando as

transferências de caráter global, fundo a fundo, com base em programações

ascendentes, pactuadas e integradas;

iv. A prática do acompanhamento, controle e avaliação no SUS, superando os

mecanismos tradicionais, valorizando resultados advindos de programações

com critérios epidemiológicos e desempenho de qualidade;

v. Os vínculos dos serviços com seus usuários criando condições para uma

participação e controle social (BRASIL, 1996b).

Portaria Ministerial 1.311

Os dados referentes às condições de saúde das populações e ao processo de

Informatização tiveram destaque na pauta do Ministério da Saúde do Brasil a partir

de 1995. A partir daí, foi elaborada a Portaria de número 1.311, datada de 17 de

julho de 1995. Esta Portaria, editada pelo MS, descrevia os objetivos de estudar,

avaliar e propor soluções para os pontos sensíveis dos SIS-SUS, como a

informatização das instituições integrantes da Rede de ações dos Sistemas de

Serviços de Saúde. Atendendo às recomendações, o MS cria a Comissão de

Informação e Informatização do Ministério da Saúde do Brasil (FRANÇA, 2001).

Esta Comissão foi responsável pela criação de um grupo de trabalho para

avaliar e propor soluções na organização dos SIS-SUS, nas quais estavam pautados

os seguintes fins: avaliação permanente dos Sistemas de Serviços de Saúde através

de ASS; averiguação do impacto de ações em saúde na retroalimentação dos

sistemas otimizando as múltiplas funções dos SIS-SUS, dentre outros. Nesta lógica,

as informações deveriam ter a capacidade de descrever as complexidades

demográficas, econômicas, sociais, de recursos setoriais, de vigilância sanitária,

produção de serviços, de morbidade, dentre outras. Os SIS-SUS dentro de suas

funções integrativas deveriam garantir a justificativa da coleta de um determinado

dado em saúde previamente à sua coleta, seja pela relevância na tomada de

decisões, seja para o planejamento ou gerência em quaisquer níveis.

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35

Lei 9.534/97 - Lei da Gratuidade dos Registros Públicos.

Estudos discutem, ainda, que no Brasil há uma discrepância nos registros de

óbitos e que os dados são diferentes entre as cidades de acordo com o porte

populacional. Há a indicação de que a cobertura pode ser considerada

qualitativamente como “boa” nas capitais e nas cidades de médio e grande porte

populacional, fugindo, entretanto, deste padrão áreas menos populosas. Como

exemplos de áreas com lacunas importantes de registros, temos as Regiões Norte e

Nordeste, apesar da tomada de medidas importantes para a ampla garantia da

informação sobre a mortalidade como o avanço da Lei da Gratuidade. Autores

comentam que a efetividade desta Lei, a partir de janeiro de 1998, agregaria uma

sensível diminuição no subregistro dos dados (LAURENTI et al, 2000).

Autores reafirmam como fator de extrema relevância para ampliar a

capacidade de cobertura destes registros como sendo a promulgação e efetivação

da Lei 9.534, a partir da garantia da gratuidade para a concessão de Certidões de

óbitos (LAURENTI et al, 2000; OLIVEIRA, SIMÕES, 2005).

Portaria Ministerial 1.399

O MS, em dezembro de 1999, publicou a Portaria de número 1.399, com a

meta de regulamentar a NOB-96no tocante às competências da União, Estados,

Distrito Federal e municípios na área de abrangência da Epidemiologia (BRASIL,

1999).

A Portaria 1.399 define as responsabilidades da esfera municipal citadas:

notificação de agravos à saúde classificados como de notificação compulsória,

surtos e agravos inusitados; investigação dos casos notificados (incluindo a busca

ativa de casos novos nas Unidades de Saúde); busca ativa de Declarações de Óbito

e de Declarações de Nascidos Vivos nas Unidades de Saúde, cartórios e cemitérios;

Vigilância Epidemiológica dos casos de mortalidade materna e infantil; gestão dos

Sistemas de Informação epidemiológica, perfazendo a coleta, consolidação dos

dados do SIM, dentre outros SIS, envio dos dados ao nível estadual, respeitando os

prazos estabelecidos para cada SIS, análise dos dados, retroalimentação,

divulgação de informes e análises epidemiológicas.

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Define, ainda, as responsabilidades da esfera estadual no tocante à gestão

dos sistemas de informação epidemiológica, donde advêm: consolidação dos dados

provenientes das unidades notificantes e das esferas municipais mediante

processamento eletrônico do SIM; envio dos dados ao nível federal, cumprindo os

prazos estabelecidos pelas normas do SIS-SUS; análise e retroalimentação dos

dados.

Portaria Ministerial 1.172- 15.07.2004

Em junho de 2004, o MS revoga a Portaria 1.311 e publica a Portaria 1.172,

que objetiva uniformizar as práticas referentes ao modelo assistencial vigente, ao

substituir o termo outrora utilizado “Epidemiologia e controle de doenças” por

“Vigilância da Saúde”.

Paim e Almeida Filho (1998) discutem as modificações no panorama politico e

social no mundo e da situação de saúde. Em fins da década de 90, PAIM (2003)

aponta o modelo de Vigilância à Saúde como modelo contrário de concepções

restritivas no Campo da saúde coletiva, apoiando-se na ação intersetorial e à

procura de reorganizar as práticas de saúde no nível local com as seguintes

características: intervenção sobre problemas de saúde; ênfase em problemas que

requerem longitudinalidade no acompanhamento; utilização do conceito de risco;

articulação entre promoção, prevenção e cura; atuação intersetorial e ações sobre

territórios.

Gestão da Informação

Moraes e Vasconcellos (2005) discutem o desafio da formulação pactuada de

uma Política Nacional de Informação, Informática e Comunicação em Saúde

(PNIICS) capaz de oportunizar qualidade de vida e de saúde à população. Esta

política pode contribuir na melhoria tanto da Rede Assistencial SUS quanto ser

capaz de diminuir as desigualdades sociais em saúde tão presentes no contexto

atual de nossos indicadores brasileiros.

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A Declaração Universal dos direitos Humanos (1948) define:

Todo homem tem o direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a

liberdade de, sem interferências, ter opiniões, e de procurar, receber e transmitir

informações e ideias por quaisquer meios independentemente de fronteiras.

Alguns estudos (MORAES, 1994; 2002) indicam que o acesso à informação é

fundamental e necessário, mas não suficiente ao exercício pleno deste direito. A

discussão dos papeis do Estado e do cidadão, enquanto ser passivo, é questionada

e surgem hipóteses de inversão de papeis para modificar o panorama democrático.

O acesso à informação ao cidadão comum deve ser claro e transparente para

garantir inclusive a possibilidade da legitimação da participação popular,

transformando-o no sujeito informacional.

Em 2002, forma-se o Comitê Tripartite de Informação e Informática em Saúde

(CTIIS) composto por representantes do MS e suas instituições vinculadas, do

Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e do Conselho Nacional de

Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS). Um dos principais objetivos era

tratar das questões de gestão, capacitação, desenvolvimento tecnológico e

qualidade da informação em todos os níveis do SUS. Outro marco importante foi a

constituição pelo CNS (Resolução 349) da Comissão Intersetorial de Comunicação e

Informação em Saúde, que amplia as possibilidades da participação popular na

PNIICS com a capacidade de incorporar o conhecimento acumulado pelas entidades

populares, representando o patrimônio intelectual. A PNIICS é então alicerce para

novas dimensões da cidadania: a cidadania informacional com o apropriar das

informações em saúde para além do acesso per si (MORAES e VASCONCELLOS,

2005).

Interessante a ampliação do conceito “Informação em saúde” como sendo a

gestão da informação que se origina no uso sistemático e intensivo de dados

quantitativos e qualitativos e das tecnologias da informação, comunicação,

computação e telecomunicação na formulação, implementação e avaliação das

políticas de saúde; na promoção da saúde; no planejamento, regulação dos

sistemas de serviços de saúde; no monitoramento, vigilância e análise da situação

de saúde das populações. Como desafio para o SUS, coloca-se a Informação como

macrofunção de gestão da Rede: amplia a capacidade de governança dos gestores;

instrumentaliza a adoção do modelo de Promoção da saúde; amplia a possibilidade

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da equidade; compromete-se com o processo de tecnodemocracia (democratização

dos saberes tecnológicos), contribui para um sistema integrado de serviços

(ressalte-se a iniciativa do MS de unificar as coordenações das ações de informação

com as de informática no DATASUS, criando o Departamento de Informação e

Informática em saúde).

O grande desafio da Saúde Coletiva no campo da Informação em Saúde se

traduz na capacidade da transformação do sujeito social partícipe da PNCIIS, co-

participante e não apenas doador passivo da informação, tornando assim possível a

cidadania informacional (uso social da informação), com garantia da consciência

sanitária com democratização dos saberes (MORAES e VASCONCELLOS, 2005).

Ainda, no arsenal de multiplicidade de informações, descompor o cenário de

fragmentação, e aliar o tripé Informação, Informática e Comunicação com a garantia

da qualidade, amplo acesso e custos apropriados (MORAES e VASCONCELLOS,

2005; BRANCO, 2006).

2.3. Mudanças do Perfil Epidemiológico e o aumento da carga de mortalidade

por Causas Externas

O padrão de morbimortalidade da população brasileira passou por

consideráveis mudanças no decorrer do Século XX. Deve ser levado em

consideração que a transição epidemiológica não ocorreu de maneira isolada.

Associada a mudança do perfil de morbimortalidade também ocorreram as

transições demográfica e nutricional (MESSIAS; BISPO JÚNIOR e GAMA, 2013).

Do ponto de vista demográfico, merece destaque o crescimento vertiginoso da

população brasileira. Em um período de 100 anos, entre 1900 e 2000, estima-se que

a população brasileira multiplicou-se em mais de 10 vezes, saltando de 17 milhões

para 180 milhões de habitantes. Outra característica da transição demográfica no

Brasil é o aumento vertiginoso da expectativa de vida, em 1900 a expectativa de vida

ao nascer estava em torno dos 33 anos, nos anos 2000 essa expectativa de vida

superou a casa dos 70 anos. Também pode ser observado o aumento da proporção

de idosos e o aumento da proporção de mulheres na população (CARVALHO;

RODRIGUEZ-WONG, 2008).

O perfil nutricional do brasileiro também passou por transformações

significativas, tendo como principal característica a diminuição da fome/desnutrição e

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aumento do sobrepeso/obesidade. Chama atenção no novo perfil nutricional, que o

sobrepeso/obesidade atinge majoritariamente a população de menor poder aquisitivo

e que consome alimentos de menor diversidade nutritiva e maior aporte calórico

(CORREIA; SILVEIRA; SILVA, 2011; BATISTA FILHO; RISSIN, 2003).

Essas transições demográfica, nutricional e epidemiológica ocorrem de

maneira paralela, influenciando-se e afetando-se mutuamente. Também outros

fatores de ordem econômica, social, política e cultural influenciaram essas

mudanças no perfil de saúde dos brasileiros.

Com as mudanças de padrão de morbimortalidade ocorridas nas últimas

décadas no Brasil, ocorreu uma importante redução das mortes desencadeadas

pelas DIP e um acréscimo considerável das mortes por doenças crônicas e por

violência (BARRETO e CARMO, 2007). No Ceará, nas décadas de 1980 e 1990,

observa-se o acompanhamento da tendência nacional com mudanças no perfil de

mortalidade no estado. Essa tendência aponta a crescente elevação da mortalidade

por doenças do aparelho circulatório, neoplasias e causas externas e redução das

taxas anuais de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias (BRASIL, 2009).

A redução das DIP está vinculada à melhoria das condições de vida, à

redução das doenças imunopreveníveis pelas altas coberturas vacinais e à

ampliação de acesso aos serviços básicos de saúde. Associado a isso, as

mudanças nos estilos de vida, o aumento do sobrepeso e o crescimento da violência

urbana contribuíram para o aumento da carga de doenças e agravos não

transmissíveis (BARRETO; CARMO, 2007). Vale ressaltar que com a diminuição da

mortalidade precoce, os indicadores demográficos apontam a tendência de aumento

da esperança de vida ao nascer, que ultrapassou o patamar dos 70 anos em 2000

(BRASIL, 2009).

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40

Gráfico 01- Proporção de óbitos por causa definida no Brasil, 2010.

Fonte- Dados do SIM-DATASUS

Conforme observado no Gráfico 01, as doenças cardiovasculares constituem-

se na principal causa de morte no Brasil, correspondendo a 29% dos óbitos com

causa definidas. As neoplasias aparecem em segundo lugar, com 16% do total de

óbitos. E as causas externas apresentam-se como terceiro motivo das mortes no

Brasil, perfazendo 13%. Esses três fatores, denominados causas da modernidade,

juntos correspondem a 58% de todos os óbitos com causa definida no país. As

doenças infecciosas e parasitárias são responsáveis por uma proporção bem menor

dos óbitos, 4,8%. Esses números demonstram a profunda alteração do perfil de

mortalidade, visto que em um passado não muito distante as DIP correspondiam à

principal causa de morte no país (MESSIAS; BISPO JÚNIOR e GAMA, 2013).

Ao focalizar as mortes determinadas pela violência, SOARES FILHO et al

(2007) estimaram para o Brasil que, aproximadamente, 1,6 milhões de pessoas

morrem a cada ano em decorrência da violência e para a faixa etária dos 15 aos 44

anos esta é a principal causa de morte na maioria dos países. No Brasil, os óbitos

por causas externas, acidentes e violência perfazem a terceira principal causa de

morte, ficando atrás apenas das doenças cardiovasculares e das neoplasias.

No que se refere aos acidentes de trajeto, OLIVEIRA, MOTA e COSTA (2008)

avaliaram a evolução dos acidentes de trânsito entre 1991 e 2000. A partir desse

estudo, os autores estimam que a cada ano entre 20 a 50 milhões de pessoas são

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feridas e 1,2 milhão morrem por acidentes de trânsito no mundo. Aliado a

importância social destes números, estima-se que o impacto econômico para o

Brasil seja de aproximadamente 5,3 bilhões de reais, correspondendo a 1% do

Produto Interno Bruto (PIB).

Souza et al, 2007, em estudo de tendências de acidentes de transporte no

Brasil, obtiveram taxa de mortalidade por acidente de transporte terrestre de 19 por

100 mil habitantes, sendo a proporção desta causa dentre a totalidade de causas de

óbitos as seguintes nas grandes regiões: Região Sudeste (41%); Região Nordeste

(22%); Região Sul (20%), Região Centro-oeste (10%) e Região Norte (7%). Na

análise dos fatores associados ao risco, tem-se um importante aumento do risco

para os homens: 4,5 vezes maior do que entre mulheres.

Cardona et al (2008) em estudo que permitiu a comparabilidade da

mortalidade por causas externas em três cidades da América Latina, Córdoba,

Campinas e Medellin, entre 1980-2005, aponta Medellin como acidade com maior

taxa de mortalidade por essa causa, sendo homens jovens o grupo mais atingido.

Comparando os índices de homicídios e acidentes de trânsito entre Campinas e

Córdoba, Campinas tem o dobro dos achados para ambas as causas (interessante

perceber entre as duas cidades a tendência da mortalidade por causas externas

crescente entre 1980-2000 e decrescente entre 2001-2005).

Como fatores desencadeantes dessa epidemia de morbimortalidade por

violência, destacam-se a acelerada taxa de urbanização da população brasileira, o

rápido crescimento populacional no período e a reorganização do espaço urbano

com considerável aumento do fluxo de veículos e mudanças consideráveis no estilo

de vida. A elevada frequência e a magnitude dos eventos relacionados à violência

têm demonstrado efeito deletério grave nas condições de saúde das populações.

Não obstante, pelo comprometimento de faixa etária jovem, tem elevado

significativamente os Anos Potenciais de Vida Perdidos (APVP), com sérias

repercussões sociais e econômicas (BARRETO e CARMO, 2007).

O indicador APVP qualifica os óbitos e apresenta critérios para seleção de

prioridades. Este indicador possui singular abrangência de expressar a magnitude,

expressa pela quantidade de óbitos; a transcendência, dada pela idade que o evento

ocorreu, e a vulnerabilidade ao óbito (ALMEIDA et al, 2013).

Conforme os dados do próprio SIM, demonstrado no Quadro 02, o número de

óbitos por causas externas no Brasil elevou-se de maneira significativa no período

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de 1999 a 2011. Os números demonstram um incremento de mais de 19.000 óbitos

por causas externas para o período. Ao analisar os óbitos violentos segundo os

grupos de causa, verifica-se a supremacia dos assassinatos como principal causa

das mortes violenta no país. Para o ano de 2008, é estarrecedor comprovar que

mais 50.000 brasileiros foram assassinados. Esse quantitativo de óbitos é superior

aos registrados em muitos contextos de guerra civil. Também os óbitos por acidentes

de transporte, segundo fator de morte pelas causas externas, apresenta forte

tendência ascendente. Para o período estudado, observa-se um crescimento

superior a 30% nos óbitos causados por acidente de transporte. Por sua vez, o

número de suicídios não passa despercebido, perfazendo, em 10 anos, mais de

80.000 pessoas que atentaram contra a própria vida.

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Quadro 02- Óbitos por Causas Externas segundo Grupo CID10. Brasil, 1999-2011.

Grupo de Causas Externas segundo

CID 10

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Homicídios 42.914 45.360 47.943 49.695 51.043 48.374 47.578 49.145 47.707 50.113 51.434 52.260 52.198

Acidentes de transporte

30.118 29.645 31.031 33.288 33.620 35.674 36.611 37.249 38.419 39.211 37.831 43.908 44.553

Lesões autoprovocadas intencionalmente

6.530 6.780 7.738 7.726 7.861 8.017 8.550 8.639 8.868 9.328 7.991

9.448 9.852

Eventos Cuja Intenção é

Indeterminada

3.889 5.484 6.319 7.131 6.832 6.941 6.610 4.719 6.358 6.604 7.524

9.703 10.353

Intervenções Legais e Op. de Guerra

33 73 89 121 491 535 558 559 512 546 609 756 609

Sequelas de causas externas

219 243 283 288 279 264 270 268 343 354 299 359 370

Outras Causas externas de lesões

e Acidentes

37.913 37.285 35.060 36.784 35.146 36.328 35.958 34.487 37.138 38.462 40.454

26.822 27.907

Total 121.616 124.870 128.463 135.033 135.272 136.133 136.135 135.066 139.345 144.618 146.142 143.256 145.842

Fonte- SIM-DATASUS, 2014.

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Quadro 03 - Óbitos por Homicídio segundo Categoria CID10. Brasil, 1999-2011.

Categoria CID10

Homicídios

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Arma de fogo 26.902 30.865 33.401 34.160 36.115 34.187 33.419 34.921 34.147 35.676 36.624 36.792 36.737

Arma branca 8.345 7.637 8.231 8.473 8.663 8.840 9.600 9.998 9.730 10.571 10.844 8.390 8.603

Força corporal 200 253 337 338 401 441 484 578 497 615 582 630 555

Outros meios 7.461 6.600 5.965 6.713 5.853 4.899 4.070 3.640 3.325 3.244 3.372 6.448 6.303

Total 42.908 45.355 47.934 49.684 51.032 48.367 47.573 49.137 47.699 50.106 51.422 52.260 52.198

Fonte- SIM-DATASUS, 2014.

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45

Como exemplo de reação estatal a essa situação, em dezembro de 2008, o

MS tornou público através dos diversos meios de comunicação e imprensa o estudo

intitulado “Tendência de Acidentes de Transporte Terrestre segundo porte

populacional dos municípios Brasil, 1990 a 2006”, conduzido pela pesquisadora

Marli Silva Montenegro, colaboradora da Secretaria de Vigilância em Saúde do

Ministério da Saúde. O estudo demonstrou que os óbitos por acidentes envolvendo

motociclistas cresceram vertiginosamente no Brasil de 1990 a 2006. Se em 1990

ocorreram 299 mortes com acidentes envolvendo motos, em 2006 esse número

subiu para 6.734, representando um crescimento de 2.252%. A taxa de óbitos por

acidentes com moto subiu de 0,01/100.000 habitantes em 1990 para 4,6/100.000

habitantes em 2006 nas cidades com menor porte populacional (até 20 mil

habitantes). Nas cidades com maior porte populacional (acima de 500 mil

habitantes), esse índice foi de 0,2/100.000 habitantes em 1990 para 2,6/100.000

habitantes em 2006. Dados do SIM-SUS mostram que, em relação aos óbitos em

decorrência de acidentes de transporte terrestre, esse tipo de veículo está em quarto

lugar (BRASIL, 2009).

No quesito óbitos por acidente versus número de habitantes, em 1990, as

mortes por acidentes de trânsito eram mais frequentes nas cidades com maior porte

populacional (mais de 500.000 habitantes). Nestes municípios, a taxa era de 26

mortes/100.000 habitantes, mas, depois de 1998, com a implantação do Código de

Trânsito Brasileiro (CTB), os óbitos diminuíram: em 2006 temos que a taxa nessas

cidades caiu para 15,8 mortes/100.000 habitantes (BRASIL, 2009).

Sobre a realidade específica do estado do Ceará, observa-se, nas décadas

de 1980 e 1990, o acompanhamento da tendência nacional com mudanças no perfil

de mortalidade no estado. Essa tendência aponta a crescente elevação da

mortalidade por doenças do aparelho circulatório, neoplasias e causas externas e

redução das taxas anuais de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias

(RIPSA, 2008).

Segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (SESA), as

causas externas estão entre as principais causas de mortes na população cearense,

representadas principalmente por homicídios, acidentes de trânsito e suicídios.

Também as causas externas são responsáveis pelas maiores taxas de APVP, pois

acometem principalmente as populações mais jovens (CEARÁ, 2013).

Os homicídios constituíram a principal causa externa de morte em 2006 e

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2007 no estado e possuem curva de mortalidade ascendente, da mesma forma que

o suicídio. No que tange ao sexo e à faixa etária, o sexo masculino e a faixa de 20 a

39 constituem-se nos grupos de maior frequência. A partir de 2006, os homicídios

passaram a predominar em relação aos acidentes de trânsito, o que pode

caracterizar uma tendência de aumento de respostas violentas às desigualdades

sociais (CEARÁ, 2013).

No Quadro 03, é possível observarmos a distribuição por óbitos por causas

externas, tipo Homicídios, no período compreendido entre 1999-2011, Brasil. No

último triênio, há um acréscimo de mortes por instrumentos de arma de fogo e para o

total destas causas, há para a soma do Brasil, uma observação ascendente

denotando a magnitude deste tipo de causa no período apontado.

Vieira et al (2009), em estudo sobre o impacto da violência na saúde de

famílias em Fortaleza-Ceará, discutem o impacto da violência alterando níveis de

saúde psíquica gerando distúrbios de comportamento intrafamiliares, aumentando o

uso e abuso de substâncias psicoativas como álcool e tabaco, além de altos índices

de fármaco-dependência.

Silva (2003), em estudo sobre APVP por causas evitáveis em Fortaleza entre

1996-1998, ao estipular como limite útil de vida a idade 65 anos, obteve uma taxa de

APVP de 89,13 por mil homens e 38,26 por mil mulheres na faixa etária

compreendida entre 1-64 anos; e, ainda, entre homens, o maior número de APVP

ficou evidente entre a faixa de 15-39 anos, com a maior importância no grupo de

causas evitáveis do tipo externas.

Segundo dados do SIM-SESA, os homicídios constituíram a principal causa

externa de morte nos últimos anos e possuem curva de mortalidade ascendente, da

mesma forma que o suicídio. Relativamente ao sexo e faixa etária, o sexo masculino

e a faixa de 20 a 39 constituem-se no grupo de maior frequência. A partir de 2006, os

homicídios passaram a predominar em relação aos acidentes de trânsito, o que pode

caracterizar uma tendência de aumento de respostas violentas às desigualdades

sociais (CEARÁ, 2013).

Ao analisar as estatísticas do DATASUS, referentes ao período 2010, de

acordo com os óbitos por residência segundo capítulo CID-10, morreram 7.047

pessoas no Ceará por causas externas, constituindo a segunda maior causa geral

de óbitos, representando 16,1% do total de óbitos. No mesmo ano, segundo dados

de morbidade hospitalar por causas externas por local de residência, foram

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47

internadas por causas externas no Ceará 42.888 pessoas, sendo a terceira causa de

internação (BRASIL, 2014).

Segundo estatísticas para o município de Fortaleza, para o ano de 2010, de

acordo com os óbitos por residência segundo capítulo da Classificação Internacional

das Doenças em sua 10ª. Revisão (CID-10), 2.314 pessoas foram a óbito por causas

externas, constituindo a segunda maior causa geral de óbitos, representando 18,2%

do total de óbitos. Dentre estes, 1.169 foram devido aos Homicídios. No mesmo ano,

segundo dados de morbidade hospitalar por causas externas por local de residência,

foram internadas por causas externas em Fortaleza 12.327 pessoas, sendo a

segunda causa de internação (BRASIL, 2014).

Santos e Ramires (2007) estudaram essa distribuição para homicídios no

município de Uberlândia-MG, a partir de dados de registros oficiais do SIS-SUS e

registros policiais.

Rivero (2010), em estudo intitulado “Segregação urbana e a distribuição da

violência no município do Rio de Janeiro”, apontou a um padrão desta distribuição

com especificidades que conduziam às diferenças oriundas das esferas sociais,

demográficas e econômicas, denotando as chamadas Áreas de Concentração de

Vítimas com intensa concentração em determinados bairros e favelas e com

grandes proximidades entre a residência e a ocorrência dos fatos.

2.4. - Causas mal definidas e a importância do correto preenchimento da DO

Na análise da mortalidade por causas, tem-se uma importante lacuna na

compreensão do perfil da mortalidade brasileira: as Causas Mal Definidas-CMD.

Estas correspondem a um importante obstáculo para a avaliação do perfil

epidemiológico da população e causam sérias dificuldades para a organização dos

sistemas de assistência à saúde e alocação racional de recursos, visto que podem

mascarar as taxas de mortalidade por causas especifica (MELLO JORGE,

LAURENTI, GOTLIEB, 2000).

O elevado índice de óbitos por causas mal definidas constitui-se como

empecilho para avaliação do perfil epidemiológico da população e causam sérias

dificuldades para a organização dos sistemas de assistência à saúde e alocação

racional de recursos, visto que podem mascarar as taxas de mortalidade por causa

especifica (SENA, 2009).

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48

No Brasil, até meados da década de 1980, 20% do total de óbitos eram

classificadas como CMD. Cerca de 10 anos após, este percentual caiu para 18%,

atingindo a marca de 13%, em 2003, e menos de 10%, em 2006. Embora esse

declínio possa ser considerado um importante avanço, as diferenças regionais

apontam uma enorme desigualdade no acesso a atenção à saúde no país. As

regiões Norte e Nordeste demonstram percentuais consideravelmente maiores

quando comparados às regiões Sul e Sudeste. Para essas regiões, ainda há uma

estimativa de subnotificação de óbitos em mais de 20%. Em 2006, foram notificados

40.758 óbitos no estado do Ceará, quando eram esperados 53.889, segundo o MS

(BRASIL, 2009).

No decorrer das décadas de 1990 e anos 2000 são observados consideráveis

declínios na proporção das causas mal definidas de óbito. A Tabela 01 apresenta a

proporção dos óbitos sem causa definida entre os anos de 1998 e 2011. No Brasil,

para esse período de 10 anos, o percentual praticamente reduziu-se à metade,

enquanto em 1998 a proporção era de 15,1% dos óbitos em 2007 este número foi

reduzido para 7,1%. A tendência de queda é observada em todas as regiões e

estados da federação, o que sinaliza uma ação conjunta e articulada para

enfrentamento do problema (MESSIAS; BISPO JÚNIOR e GAMA, 2013).

Embora esse declínio possa ser considerado um importante avanço, segundo

Messias, Bispo Júnior e Gama (2013), as diferenças regionais apontam para uma

ainda enorme desigualdade no acesso à atenção a saúde no país. As regiões Norte

e Nordeste demonstram percentuais consideravelmente maiores quando

comparados às regiões Sul e Centro-Oeste. Enquanto a proporção no Sul é de

4,8% e no Centro-Oeste 4,5%, no Nordeste esse percentual ultrapassa a marca dos

8% e no Norte chega a 11,8%. Ao se analisar os estados de maiores e menores

índices observam-se discrepâncias ainda maiores, enquanto no Espírito Santo o

percentual é de 1,3%, no estado do Amazonas o índice chega a 14,1%, uma

diferença dez vezes superior (Tabela 01).

Importantes iniciativas foram tomadas pelo MS no ano de 2008. Dentre estas,

citam-se: as buscas ativas de óbitos em serviços de saúde e cemitérios, os

inquéritos epidemiológicos; a investigação de óbitos materno-infantis, como foco nos

acidentes de trânsito e o mapeamento de cemitérios clandestinos.

Importa discutir os motivos e as ações que promoveram, de maneira geral,

uma considerável redução dos percentuais das causas mal definidas de óbito. As

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49

razões que levam a classificação de um óbito como causa mal definida são a

ausência de diagnóstico, geralmente motivado por óbito sem assistência, e a

deficiência no preenchimento da DO, situação caracterizada pela existência de

assistência à saúde, mas as causas básicas e secundárias do óbito são

inadequadamente relatadas.

A experiência brasileira de redução da proporção dos óbitos por causas mal

definidas se estruturou, majoritariamente, a partir do processo de investigação post

mortem em domicílio, buscando descobrir a causa do óbito a partir de entrevistas

com familiares (JORGE, LAURENTI, GOTLIEB, 2009). Embora sejam observados

avanços com a diminuição do percentual da indefinição da causa do óbito, essa

estratégia é questionada pela elevada chance de definição imprecisa da verdadeira

causa do óbito. Conforme discutem Jorge, Laurenti e Nubila (2010), investigar óbito

no domicílio, com o intuito de definir causas para óbitos que ocorreram sem

assistência médica é correr o risco de incorporar informação leiga a um sistema

baseado em informação médica.

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Tabela 01- Proporção de óbitos por Causa Mal Definida e desconhecida segundo unidade da federação e região, 1999-2011.

Unidade da Federação 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Região Norte 24,3 24 22,7 21,6 21,2 20,8 17,7 15 12,8 12,7 12,6 12,5 11,8

Rondônia 15,4 12,9 12,5 11,1 12,4 11,2 9,4 7,8 7,6 8,2 8,5 11,2 9,8

Acre 31,7 31,2 28,8 23,5 24,9 29,3 7,7 8,3 7,4 12,3 10,9 14,0 9,7

Amazonas 23,8 25,2 24,8 25,2 25,4 22,6 21,3 20,6 17,6 16,2 16,3 15,5 14,1

Roraima 9 9,1 6,2 4,4 6,7 8 6,2 5,6 5,1 3,2 5,1 5,3 4,0

Pará 28,1 27,6 25,9 26,3 25,4 25,7 22,4 17,7 14,4 14,2 13,8 13,7 13,5

Amapá 10,5 14,9 12,8 12,4 15,4 14,6 14,3 15,4 16,4 13,9 15,9 14,6 10,3

Tocantins 24,6 21,2 19,8 11,8 6,6 5 5,5 3 3,6 4,5 4,4 2,9 3,6

Região Nordeste 30,3 28,4 27,5 26,8 25,9 23,7 17,2 9,5 8,1 7,9 7,7 8,3 8,3

Maranhão 40,7 36,1 39,5 40,3 37,4 36,6 16,6 10,3 8,1 7,5 6,5 7,6 7,3

Piauí 31,4 30,7 29,6 25,9 26,2 24,3 22,1 6,5 4,3 3,0 3,3 4,7 5,8

Ceará 21,9 20,2 21,5 25,5 26,1 24,8 19,1 6,2 5,1 5,0 5,2 6,0 5,6

Rio Grande do Norte 29,5 27,6 28 27 24,9 20 8,5 5 3,6 3,4 3,7 3,2 3,7

Paraíba 53,5 46,5 45,1 40,5 34,9 29,7 15,6 11,2 8,2 7,6 7,8 9,0 8,7

Pernambuco 24,6 22,8 21 19 17,7 16,2 10 5,9 5,3 5,2 5,2 5,6 5,4

Alagoas 34,4 29,1 28 28,2 27,2 25,2 13,5 10,4 7 6,7 7,7 9,5 8,2

Sergipe 31,7 29,7 26,4 23,5 23,8 10,6 9,5 8,2 7,2 6,6 6,5 5,6 6,8

Bahia 29,9 29,7 26,7 25,4 25,7 24,8 25,3 14,9 14,1 14,5 13,6 13,6 14,1

Região Sudeste 10,1 9,8 9,6 9,1 8,9 8,5 8,1 8,2 8 7,6 7,3 7,4 7,0

Minas Gerais 16,1 14,2 13,7 13,1 13 12,4 11,5 11,7 11,2 11,3 11,0 10,2 9,4

Espírito Santo 19,3 17,6 16,4 11,8 6,4 4,6 4,4 3,5 3 2,4 1,6 1,5 1,3

Rio de Janeiro 10,9 11,5 11,2 10,8 10,8 9,7 9,3 9 9,1 7,6 7,0 7,8 7,2

São Paulo 6,6 6,6 6,7 6,5 6,4 6,4 6,3 6,5 6,4 6,3 6,3 6,4 6,2

Região Sul 7,1 6,3 6,3 6,3 6,7 6,2 5,8 5,8 5,5 5,1 5,2 5,1 4,8

Paraná 6,6 5,4 5,1 4,6 5 5,1 4,8 4,9 4,7 4,9 5,3 5,3 5,1

Santa Catarina 13 12,6 12 11,3 10,4 9,3 8,7 9,1 8,6 7,7 6,1 5,5 4,3

Rio Grande do Sul 5 4,4 4,9 5,7 6,5 5,7 5,4 5,1 4,9 4,2 4,6 4,8 7,9

Região Centro-Oeste 10,1 8,5 7,9 6,6 5,7 5,8 5,2 4,9 4,3 4,1 3,8 4,1 4,5

Mato Grosso do Sul 9,2 8,5 5,5 3,2 2,4 1,6 1,8 1,6 1,7 1,7 1,3 1,4 1,7

Mato Grosso 7,5 7,9 8,9 8,2 5,9 8,3 6,4 5,9 3,5 3,4 3,7 4,4 6,8

Goiás 13,6 10,2 9,5 8 7,6 7,3 7,2 7 6,6 6,1 5,8 6,3 5,8

Distrito Federal 4,9 4,7 5,1 4,6 4,3 3,5 2,3 2,2 2,4 2,0 1,6 1,0 1,2

Total 15,1 14,3 14,1 13,7 13,3 12,4 10,4 8,3 7,7 7,4 7,2 7,4 7,1

Fonte- SIM-DATASUS, 2014.

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51

Sobre os óbitos por causas violentas, esses merecem especial atenção no

que se refere ao correto preenchimento da DO. Isso porque, o percentual de óbitos

violentos com classificação inadequada é bastante elevado no Brasil (LOZADA;

MATHIAS; ANDRADE, 2009). Era de se esperar elevada precisão dos dados sobre

mortes por causas externas, em virtude da obrigatoriedade de avaliação médico-

legal de todo o óbito violento. No entanto, o inadequado preenchimento da DO, com

a definição imprópria para a causa básica do óbito faz com que classificação

inadequada do óbito mantenha-se elevada.

Regras internacionais recomendam que em caso de morte por uma lesão ou

outro efeito de uma causa externa classificada no capítulo XIX da CID-10, as

circunstâncias que deram origem a essa situação deverão ser selecionadas como

causa básica para tabulação e codificação do óbito. Esse princípio deixa claro que

as causas básicas devem corresponder aos tipos de causas externas,

circunstâncias, que originaram as lesões (RIPSA, 2008). Ademais outros fatores, a

lógica capaz de inferir esta compreensão trata-se da lógica da prevenção primária.

Não se previne um traumatismo, uma laceração venosa, mas sim uma queda, um

homicídio, um atropelamento.

Jorge, Cascão e Carvalho-Silva (2005) apontam que os peritos legistas, ao

preencherem a DO pós-necropsia, muitas vezes fazem a menção, somente, as

lesões vistas, e não as circunstancias do acidente/violência responsáveis por essas

lesões. Segundo os autores um dos problemas encontrados nas avaliações de DO

nos IML refere ao fato de que um importante número destas declarações conte como

causa básica a natureza das lesões e não as circunstâncias do acidente ou

violência, que são as reais causas básicas.

Lozada, Mathias e Andrade (2009) reforçam que essa debilidade na qualidade

da causa básica das DO dos IML é devida a classificação destas mediante a

natureza da lesão – se fratura, hemorragia, perfuração – e não idealmente como

acidente, suicídio ou homicídio, obliterando entendimentos fundamentais deste

instrumento para reflexões e execuções de políticas públicas efetivas.

Estudos consideram que o aperfeiçoamento, quantitativo e qualitativo, dos

dados e informações do SIM somente atingirá patamares desejáveis com a

ampliação da atenção à saúde para a população e o desenvolvimento de um

processo de sensibilização e educação permanente dos profissionais de saúde

(JORGE; LAURENTI; GOTLIEB, 2009; JORGE; LAURENTI; NUBILA, 2010).

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52

Atualmente, no Brasil, quantidade considerável das mortes por causas

externas encontram-se nessa situação de classificação inadequada. No País, em

todas as suas regiões, esse dado está em declínio. No período entre 1980 e 2003, a

queda nacional foi de 20,7 para 8,8%. As regiões Nordeste e Sudeste apresentam a

situação mais preocupante, 10%, e as regiões Norte e Centro-Oeste apresentam

2,3% e 3,1% respectivamente (OPAS, 2008).

No que se refere ao correto preenchimento da DO, as regras internacionais

recomendam que quando a morte ocorrer por uma lesão ou outro efeito de uma

causa externa classificada no capítulo XIX da CID-10, as circunstâncias que deram

origem a essa situação deverão ser selecionadas como causa básica para tabulação

e codificação desta Causa no capítulo XX (OMS, 1995). Esse princípio deixa claro

que as causas básicas devem corresponder aos tipos de causas externas,

especificamente as circunstâncias que originaram as lesões (OPAS, 2009).

Ademais outros fatores, a lógica capaz de inferir esta compreensão trata-se

da lógica da prevenção primária. Não se previne um traumatismo, uma laceração

venosa, mas sim uma queda, um homicídio, um atropelamento.

Mello Jorge, Cascão e Carvalho Silva (2005) apontam que os peritos legistas,

ao preencherem a DO pós-necropsia, muitas vezes fazem a menção, somente, às

lesões vistas, e não às circunstâncias do acidente/violência responsáveis por essas

lesões. Segundo o CBCD (2003), um dos problemas encontrados nas avaliações de

DO nos IML refere-se ao fato de que um importante número destas declarações

aponta como causa básica a natureza das lesões e não as circunstâncias do

acidente ou violência, que são idealmente as reais causas básicas.

Segundo Laurenti, Mello Jorge e Gotlieb (2008), há cinco categorias capazes

de avaliar dados sobre mortalidade: estudos que comparam as informações de

atestados de óbitos com achados de necropsia; estudos que comparam as

informações com do atestado de óbito com dados clínicos; estudos que comparam

as informações com do atestado de óbito com dados clínicos e entrevista com

familiares do falecido; estudos que avaliam as diferenças entre codificadores na

classificação da causa básica e outros tipos. Um dos graves problemas de estudos

utilizando a codificação como estudo, remete às competências destes, dentre estas

a “preferências” por algumas doenças ou diagnósticos, podendo a má codificação

afetar a fidedignidade das estatísticas.

Mello Jorge, Laurenti e Gotlieb (2009), em estudo no qual avaliam a aplicação

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das Regras Internacionais de Classificação de causa básica, partindo da seleção de

todas as declarações de mulheres entre 10-49 anos de 26 capitais dos Estados

brasileiros e do Distrito Federal de óbitos ocorridos no primeiro semestre de 2002,

investigaram 1.315 casos. Utilizando as Regras de Seleção e Modificação de

causas, respectivamente três e seis regras, os autores obtiveram que em 90% dos

casos foi possível a seleção da verdadeira causa básica a partir da aplicação das

Regras Internacionais.

Segundo Laurenti, Mello Jorge e Gotlieb (2009); Matos, Proietti e Barata

(2007), sabe-se que na busca da verdadeira causa de morte faz-se necessária para

cada óbito declarado a veemência de investigações abrangentes, desde a história

natural dos eventos relacionados ao processo saúde doença, à investigação

epidemiológica e aos princípios da fisiopatologia.

Em estudo no Distrito Federal para investigar a causa básica de óbitos por

causas externas, Oliveira e Souza (2007), a partir de consultas em livros de

ocorrência de informações policiais, concluíram que, em 95,7% dos casos, a causa

básica foi alterada, o que incita que dados oriundos dos Registros Policiais podem

complementar as informações sobre a causa de óbitos por violência.

Souza et al (2007) estudaram a análise descritiva e de tendência de acidentes

de transporte entre 1980-2003 no Brasil, partindo do SIM causas externas. Os

pesquisadores obtiveram uma falha no preenchimento das variáveis independentes

estudadas: escolaridade, raça/cor e idade, sendo a escolaridade não preenchida em

44,9% das DO referentes ao período 2000-2003.

Matos, Proietti e Barata (2007) mediram a confiabilidade de informações

sobre mortalidade por violência em Belo Horizonte, MG. Concluíram que o

percentual de concordância global entre os grupos de causa de óbito, quando

comparados os dados do SIM com os obtidos a partir da investigação do óbito no

IML, foi baixo (65,4%). E, ainda, declararam que em mais de 30% dos casos, a

seleção da causa básica na DO estava incorreta.

Em pesquisa realizada no estado de São Paulo, Melione e Mello Jorge (2008)

estudaram os dados sobre morbidade por causas externas no ano de 2003,

mediante a comparação entre informações oficiais do SIH e de prontuários médicos.

As taxas de concordâncias para variáveis relacionadas às vítimas e à internação

oscilaram entre 89 e 99%, enquanto as mais baixas taxas na avaliação dos níveis de

confiabilidade foram registradas nas classificações dos tipos de lesões: causas

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indeterminadas e Homicídios (Kappa=0,37 e Kappa=0,50, respectivamente).

Mathias e Mello Jorge (2001) em estudo sobre os óbitos de residentes em

Maringá, PR, entre 1979-1995, observaram deficiências importantes no

preenchimento de dados referentes à ocupação e instrução do falecido. No início do

período estudado, verificaram a ausência desta informação, respectivamente, em

32,9% e 35% para 7,7% e 9,1%. Em casos de mortes violentas, ressaltam quão

frequente é a falta de preenchimento do tipo de violência, tipo de acidente, fonte de

informação, acidente de trabalho e local do acidente. E, ainda, o quanto reluta o

médico legista em preencher itens relacionados à tipologia da violência,

descrevendo unicamente as lesões que ocasionaram a morte.

O preenchimento da DO é ato exclusivo da profissão médica, salvo em

situações restritas quando o preenchimento é feito com a presença de duas

testemunhas, em Cartório de Registro Civil, apenas atestando a ocorrência do óbito,

sem esclarecer a Causa Básica do mesmo. O fluxo destes documentos migra para

as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, onde serão codificados e

transcritos para o SIM (OPAS, 2008).

No estado do Ceará, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Fortaleza

inaugura, em 1990, um Departamento de Epidemiologia do município, oriundo das

necessidades de uma melhor compreensão dos fenômenos ligados aos eventos

relacionados à saúde na lógica da descentralização das ações ligadas ao modelo de

Vigilância à Saúde. Atualmente, a SMS apresenta na composição de seu Sistema

Municipal de Vigilância Epidemiológica os seguintes componentes: uma Célula de

Vigilância Epidemiológica (CEVEPI); nove núcleos de epidemiologia hospitalar; 92

unidades de vigilância pertencentes aos 92 centros de assistência às Unidades

Básicas de Saúde da Família (UBS) e seis chefias das seis regionais de saúde. A

CEVEPI é composta por 15 funcionários de níveis técnico e superior e é o órgão

responsável pelo gerenciamento do SIM de todas as causas de óbitos de residentes

em Fortaleza (FORTALEZA, 2012).

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3. OBJETIVOS

3.1. Objetivo Geral

Avaliar a qualidade dos registros de informação sobre mortalidade para as vítimas

de causas externas no município de Fortaleza-CE e analisar fatores de risco para a

principal causa de morte.

3.2. Objetivos específicos

Identificar as lacunas no preenchimento dos campos dos registros dos óbitos

das Declarações de Óbito registradas na PEFOCE.

Determinar a confiabilidade da codificação e seleção da causa básica dos

óbitos por causas externas nos registros do SIM.

Verificar o nível de concordância entre a causa básica registrada no SIM e na

Declaração de Óbito.

Construir um mapa de Áreas de Concentração por homicídios.

Identificar a associação entre fatores de risco com o homicídio.

Propor um modelo de sistematização da rotina a ser adotada nos serviços

pesquisados para melhorar a qualidade das informações sobre causas

externas em Fortaleza.

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56

Parte II

Caminhos

Metodológicos

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57

4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1. Tipo de estudo

Estudo do tipo quantitativo, individuado, observacional, seccional, exploratório

e analítico.

A definição das variáveis seguiu a seguinte classificação: as variáveis

independentes foram: sexo; idade; escolaridade; ocupação; raça/cor; estado civil;

local de residência e local de ocorrência, e a variável dependente foi o tipo de causa

básica relacionado ao óbito por violência.

Considerou-se óbito por violência aquele causado por todos os tipos de

Homicídios, Acidentes de transporte, Suicídios, Eventos de Intenção Indeterminada

e Intervenções legais e Outras Causas de traumas acidentais, que correspondem

aos códigos V01 a Y36 da CID-10 (OMS, 1993).

A definição da variável dependente foi feita baseada nos tipos de desfecho

Homicídio (X85-Y09 da CID-10) e demais causas violentas de óbito (V01-V99, W00-

X84 e Y10-Y34 da CID-10). Essa escolha deu-se pelo fato de que a proporção de

óbitos no período estudado apontou ao Homicídio como principal causa básica. De

acordo com os dados oficiais SIM DATASUS, do total de óbitos registrados no

período estudado, ano de 2010, 1.169 correspondem aos Homicídios, sendo a

principal causa, representando 50,51% do total das mortes por causas externas

(BRASIL, 2012).

4.2. Período de estudo

O estudo foi realizado no período compreendido entre o quadriênio de 2010 a

2014.

4.3. Local do estudo

O local do estudo foi definido como sendo o município de Fortaleza-CE.

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O município de Fortaleza, capital do Ceará, possui, segundo IBGE,

população segundo porte de município ano 2010 de 2.452.185 habitantes.

Fortaleza apresenta os seguintes indicadores socioeconômicos registrados no

Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 2010 (IBGE): população

segundo sexo - população feminina acima da masculina em 156.349 habitantes;

pessoas entre 10 anos (ou mais) de idade economicamente ativas - 92,3% status

ocupadas; pessoas de 10 anos ou mais com rendimentos (distribuição de renda por

sexo) - 51,4% são mulheres; na distribuição do indicador educação, para cada

1.000.000 (avaliação da escolaridade de pessoas com 10 anos ou mais de idade,

por nível de instrução) - 855.536 apresentaram-se sem instrução ou com ensino

fundamental incompleto, 635.690 com médio completo e superior incompleto,

394.590 com fundamental completo e médio incompleto e 206.796 com superior

completo. Apresenta taxa de analfabetismo, ano 2010, de 6,8% e na avaliação da

distribuição de renda a proporção de pessoas com baixa renda (renda menos que 1

a 2 salários mínimos) representa 35,26% do total.

4.4. População do estudo

Foram selecionados todos os óbitos que deram entrada na PEFOCE no ano

de 2010 (período compreendido entre 01/01/2010 a 31/12/2010), cujas causas

básicas foram identificadas no capítulo XX da CID-10.

O ano de 2010 foi escolhido por ser o último ano com os todos os registros

oficiais concluídos no banco de dados do Departamento de Informática do SUS

(DATASUS) no período da qualificação da pesquisa.

4.4.1. Critério de inclusão

Utilizou-se como critério de inclusão a seleção, dentre o total de óbitos,

apenas os classificados como sendo residentes no município de Fortaleza - CE.

Segundo registros oficiais disponíveis no DATASUS, no registro da

Mortalidade por causas externas para o município de Fortaleza, ano de 2010, de

acordo com os óbitos por residência segundo capítulo do CID-10, houve 2.314

óbitos, constituindo a segunda maior causa geral de óbitos, representando 18,2% do

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59

total de óbitos.

4.4.2. Critérios de exclusão

Utilizaram-se como critério de exclusão: óbitos de vítimas sem identificação;

óbitos de vítimas sem identificação do município de residência; os óbitos de não

residentes em Fortaleza.

No segundo tempo do estudo, quando da depuração no processo de

fechamento do banco de dados da pesquisa, também foram excluídos: os óbitos de

vítimas que foram classificados como óbitos subnotificados por não constarem nos

registros oficiais do SIM para o referido ano da pesquisa (não constavam no sistema

oficial de informação sobre mortalidade da CEVEPI) e os óbitos cuja classificação

oficial da causa básica não correspondia àquela citada como componente do

capítulo XX da CID-10.

Estas exclusões foram definidas seguindo os critérios metodológicos, sendo o

primeiro motivo para os óbitos subnotificados pela impossibilidade de utilizar a

variável da causa básica do óbito oficial, pois este era inexistente, e pelo motivo do

estudo contemplar estritamente os óbitos violentos classificadas no capítulo XX da

CID-10.

As mortes por causas externas de residentes em Fortaleza que tenham

ocorrido fora do município não foram contempladas no presente estudo em virtude

da coleta de dados ser realizada exclusivamente na PEFOCE Fortaleza.

4.4.3. Procedimentos adotados na coleta dos dados

O material utilizado na pesquisa foi composto por informações provenientes

das Declarações de Óbito colhidas na PEFOCE e em informações oficiais

registradas no SIM (Causas Externas) referente ao ano de 2010.

Foram selecionadas todas as Declarações de Óbito emitidas na PEFOCE no

período estudado. Foi realizada a seleção das mesmas seguindo o critério de

inclusão supracitado quanto à variável município de residência no município de

Fortaleza. Todas as declarações que atendiam a esse critério foram digitalizadas no

banco de dados do estudo. Os critérios de exclusão foram igualmente respeitados e

seguidos.

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60

4.5. Coleta do banco de dados

A coleta foi realizada na PEFOCE Fortaleza e mediante a liberação ao acesso

online ao banco de dados oficial da Secretaria Municipal de Saúde, Gestão de

Sistemas-SIM.

4.5.1. Pesquisa de campo na Perícia Forense do Ceará

O estudo se iniciou pela consulta ao Livro de Registros de óbitos donde a

data dos óbitos esteve compreendida entre o período com intervalo entre 01/01/2010

e 31/12/2010. Foram selecionadas todas as fichas de entrada de corpo de quaisquer

faixas etárias, bem como as referentes aos corpos não identificados. No ano de

2010, os registros da PEFOCE apontam o total de 4051 corpos de vítimas que

deram entrada nesta instituição (ver Anexo B).

Os casos em que, após a necropsia e o laudo de polícia forense, não houve a

identificação da vítima foram excluídos da pesquisa. Esta exclusão se justifica pela

impossibilidade de classificar o óbito pelos critérios de identidade da vítima e do

local de residência da mesma, sendo mencionados anteriormente no item critérios

de exclusão.

Etapa I

A partir da identificação da DO, a qual se constituiu em instrumento primário

de levantamento dos dados, essa sofreu um processo de análise e codificação.

As informações constantes nas DO foram transcritas para uma ficha de coleta

de dados (planilha eletrônica) elaborada para o presente estudo. Esta planilha foi

elaborada mediante a utilização do pacote de programas Epiinfo for Windows

(Center for Disease Control – CDC-, Atlanta, EUA), versão 3.5.4, de julho de 2012.

Essa ficha contemplou todas as variáveis do instrumento da DO: as variáveis da

seção de cartório; identificação (tipo de óbito, data, hora, naturalidade, nome do

falecido, nome do pai, nome da mãe, data de nascimento, idade, sexo, raça/cor,

estado civil, escolaridade, ocupação); residência, ocorrência; fetal ou menor de 1

ano; condições e causas do óbito, médico; causas externas e localidade sem

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61

médico. A variável selecionada para ser a identificadora de cada registro foi o

número de DO, onde constam entre oito e nove caracteres numerais.

Etapa II

Em uma segunda etapa, foi avaliada a totalidade das variáveis uma a uma

individual e cuidadosamente, a fim de responder à classificação ou não de

completitude dos campos que compõem a DO, sendo avaliados a partir de uma

rigorosa classificação referente à adequação ou não no preenchimento dos campos

(presença de campos não preenchidos e rasurados). Na planilha eletrônica,

imediatamente seguidas a cada variável, foram elaboradas duas variáveis

dicotômicas (com os itens de resposta YES ou NO) com a extensão _p e _r.

Havendo, assim, duas variáveis para responder a questão da completitude: se a

variável foi preenchida, classificada como variável_p e se a variável foi rasurada,

classificada como variável_r, seguindo os seguintes critérios metodológicos de

classificação:

No caso da pergunta _p, se está preenchida, marcar YES;

No caso da pergunta _p, se está em branco (ou não preenchida), marcar

NO;

No caso da pergunta _r, se há rasuras, marcar YES;

No caso da pergunta _r, se não há rasuras, marcar NO;

No caso de preenchimento incompleto: marcamos na pergunta _p, YES (pois

consideramos que foi preenchida, mesmo que de forma incompleta, e ainda: a

variável não está em branco!). Assim, não será avaliado o dado como

incompleto, pois há várias situações que não poderíamos classificá-lo com

exatidão (como, por exemplo, a variável de identificação nome do falecido,

esta pode estar incompleta e não tivemos outros documentos probatórios

como o Registro Geral –RG– disponível para checar). Perderíamos desta

forma a homogeneização de critérios metodológicos.

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62

Exceção para o critério acima descrito: apenas nas situações das variáveis de

data (data do óbito, data de nascimento e data do atestado), donde houve

ausência do dado dia, ou mês, ou ano, consideramos - apenas neste caso de

preenchimento incompleto-, sem preenchimento, sendo inclusive impossível

de ser digitada no banco de dados. Neste pacote de programas estatístico

mediante a utilização do programa Enter Data só é possível a entrada de

datas completas e no formado: dd-mm-yyyy. Neste caso, marcamos na

pergunta _p, NO.

Avaliamos desta forma: a presença de preenchimento total ou incompleto

(=YES); a ausência de preenchimento (em branco) e preenchimento

incompleto das variáveis de datas (=NO); a presença de rasuras (=YES) e a

ausência de rasuras (=NO).

No caso de preenchimento ausente, a variável_r não era preenchida, pela

impossibilidade de avaliar ocorrência de rasuras.

A pesquisa de campo na PEFOCE foi coletada por um grupo de oito

acadêmicos de Medicina sob a responsabilidade da pesquisadora principal. Para

tanto, foi realizado o seguinte treinamento: i. apresentação do projeto de tese,

objetivos geral e específicos e metodologia; ii. apresentação da ficha de entrada de

dados no Epiinfo e dos critérios eleitos na metodologia para a avaliação da

completitude dos campos, garantindo que todos estivesses calibrados; iii.

treinamento utilizando a ferramenta Enter Data do programa de entrada de dados do

Epiinfo. Em seguida, houve o treinamento no campo de coleta (PEFOCE), havendo

a seguinte distribuição dos formulários de DO:

Colaborador A- período de data do óbito entre 01-01-2010 até 15-02-2010;

Colaborador B- período de data do óbito entre 16-02-2010 até 31-03-2010;

Colaborador C- período de data do óbito entre 01-04-2010 até 15-05-2010;

Colaborador D- período de data do óbito entre 16-05-2010 até 30-06-2010;

Colaborador E- período de data do óbito entre 01-07-2010 até 15-08-

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2010;

Colaborador F- período de data do óbito entre 16-08-2010 até 30-09-2010;

Colaborador G- período de data do óbito entre 01-10-2010 até 15-11-2010;

Colaborador H- período de data do óbito entre 16-11-2010 até 31-12-2010.

Foi instituído a rotina de, semanalmente, cada colaborador enviar o banco de

dados à pesquisadora responsável. Esta procedeu às verificações de

inconsistências, feedbacks e correções necessárias. O banco foi renomeado com a

extensão semana 2, 3, 4 e assim sucessivamente após cada revisão e reiniciada a

entrada dos dados a partir do banco recebido, avaliado e certificado como correto

pela pesquisadora.

Essa etapa foi realizada nos meses de setembro, outubro e novembro de

2013.

Etapa III

Ao fechamento do banco de dados com os dados componentes estritamente

da DO, foi iniciado o processo de codificação da pesquisa e, a seguir, a depuração

do banco de dados para a constituição do banco final, mediante a seguinte

descrição:

Foram coletados no primeiro momento da pesquisa 2239 registros. Destes,

iniciou-se um segundo processo de depuração de acordo com os dois

seguintes critérios de exclusão.

1- Óbitos subnotificados: procedeu-se a procura do registro oficial do óbito

utilizando quatro variáveis-chave, na ordem sucessiva de busca:

primeiramente, pelo número da DO; seguida de nome do falecido, nome da

mãe do falecido e pela data do óbito. Dentre 2239 registros coletados na

PEFOCE, foram excluídos 63 óbitos neste primeiro processo de depuração,

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pela sua inexistência no banco de dados oficial, identificados como óbitos

subnotificados.

2- Óbitos cuja causa básica não foi classificada no Capítulo XX da CID-10: no

segundo momento, foram excluídos todos os óbitos cujos códigos de causa

básica registrados no sistema oficial de informação sobre mortalidade da

CEVEPI Fortaleza não correspondiam aos códigos de causas de óbito por

violência (sem correspondência com intervalos entre V01 e Y36). Neste

segundo processo de depuração, foram excluídos 67 óbitos.

Desta forma, foram excluídos 130 óbitos (63 somados aos 67), sendo

estudados e analisados ao fim na pesquisa de tese 2109 óbitos por violência de

residentes em Fortaleza no ano de 2010.

4.6. Codificação da pesquisa

Nessa etapa, de inteira responsabilidade da pesquisadora responsável pela

tese, foram criadas no banco de dados duas variáveis, além das do formulário da

DO, intituladas: Causa BásicaPEFOCE e Causa BásicaSMS.

A causa básica do óbito oriunda das DO foi codificada pela pesquisadora,

estando cuidadosa e rigorosamente mascarada em relação à codificação oficial,

seguindo as Regras para Seleção e Codificação das Causas de morte. Foi

elaborado o código de causa básica dos óbitos, segundo a Classificação

Internacional das Doenças, em sua 10ª Revisão (CID-10).

As Regras de Seleção incluem o Princípio Geral, aplicado quando o médico

atestante preenche corretamente, com a sequência lógica gerando uma única causa

na última linha. A Regra de Seleção número 1 foi aplicada nas sequências que não

estavam completas, sendo a causa básica eleita dentre esta sequência. A Regra de

Seleção número 2 foi aplicada quando não existiu a sequência lógica de causas e a

causa básica foi a primeira listada.

Segundo orientações do CBCD, os dados referentes às causas do óbito

devem ser preenchidos a partir da “linha d”, que representa o início da sequência de

eventos que causaram o óbito, e as “linhas c e b”, afecções sequenciais. A afecção

terminal, ou imediata, corresponde à “linha a”.

Variável Causa BásicaPEFOCE: classificada a partir exclusivamente do

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preenchimento realizado pelo profissional médico atestante, elaborou-se o código

intitulado como CIDPEFOCE.

Variável Causa BásicaSMS. Foi solicitada a permissão juntamente à CEVEPI

com a apresentação do projeto de pesquisa e sequencialmente a Aprovação do

Comitê de Ética em Pesquisa, na qual nos foi concedida a liberação de consulta ao

banco de dados oficial. Foi efetuada a vinculação da pesquisadora responsável

enquanto usuária do sistema e elaborada uma senha de acesso virtual. Captou-se, a

partir da pesquisa online, o código intitulado como CIDSMS.

Salienta-se que a concordância foi medida através da concordância do quarto

dígito, após o ponto.

Para garantir a qualidade da codificação, esta foi realizada exclusivamente

pela pesquisadora responsável pelo estudo.

Essa etapa foi realizada durante o mês de dezembro de 2013.

Para avaliação da qualidade no preenchimento da causa básica pelo médico

atestante, foram comparadas as causas básicas do óbito CIDPEFOCE e CIDSMS

(selecionadas baseando-se exclusivamente no que o médico havia registrado na DO

original e pela causa básica digitada pela CEVEPI- Fortaleza no banco de dados

oficial do SIM).

Para a coleta via online no site oficial da SMS, seguimos os seguintes passos

utilizados à captação do CIDSMS: i. Partiu-se do número da DO (para identificação

correta); ii. Conferência com o nome do falecido (para checagem de identificação

correta) e iii. Coleta do código de causa básica gerado pela SMS.

4.7. Verificação da Concordância entre codificação da Causa Básica dos

óbitos

No ano de 2010, foram codificadas no DATASUS 2.314 DO por causas

externas de residentes em Fortaleza. A elaboração dos códigos pela CEVEPI-

Fortaleza (CIDSMS) é feita a partir da leitura da DO emitida pela PEFOCE, via da

Secretaria Municipal de Saúde, complementada pelos profissionais técnicos

responsáveis nesta Célula da Vigilância municipal com informações de fontes

múltiplas. Estes profissionais recebem treinamento técnico de cursos de 40 horas

semanais.

Entre as atividades desenvolvidas pela equipe do SIM, CEVEPI-SMS,

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66

encontra-se a seleção da causa básica e sua codificação. Há, como método

norteador para melhorar a qualidade da informação, a pesquisa de dados

complementares, capazes de subsidiar e elucidar as circunstâncias reais do óbito

(ver Apêndice A).

Os códigos digitados no registro oficial do SIM (CIDSMS) e os códigos oriundos

da causa básica descrita diretamente nas DO (CIDPEFOCE) se constituíram como os

códigos que foram verificados e medidos estatisticamente na avaliação do nível de

concordância entre a classificação das causas dos óbitos.

4.8. Análise e tabulação dos dados

Os dados foram tabulados no pacote de programas estatístico EpiInfo for

Windows, versão 3.5.4, software de distribuição gratuita, sendo de responsabilidade

e manutenção oriundas do Centro de Controle de Doenças (CDC), Atlanta, EUA.

Realizou-se controle rigoroso e sistemático na qualidade da digitação

mediante já descrito acima, item 3.5.1.

Após a finalização do banco de dados no EpiInfo foi realizada uma

transferência de programas, mediante o programa que compatibiliza os arquivos

denominado Stata transfer.

A pesquisadora fez a junção dos oito bancos de dados utilizando o software

STATA 11.1, ano 2009, sob o número de licença 40110591653.

A análise do banco final do estudo foi realizada no software estatístico STATA

11.1 e no SPSS, versão 20.

Procedeu-se à análise descritiva de todas as variáveis, seguida da análise da

completitude das mesmas, avaliando a ausência do preenchimento e a presença de

rasuras e às análises bivariadas, estratificadas e ao modelo final mediante a

regressão logística.

A completitude incluiu os seguintes critérios: avaliação do preenchimento ou

não da variável & presença do item “ignorado” como eleito para a resposta do dado

da DO. Foi feita a adaptação de parâmetros, no qual avaliou-se a completitude como

o percentual de registro sem preenchimento, categorizada da seguinte forma:

excelente (menor de 10% de registros sem preenchimento); regular (entre 10 e 30 %

de registros sem preenchimento) e baixa (maior de 30% sem preenchimento).

Elaboraram-se inicialmente as análises univariadas descritivas, onde foram

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67

calculadas as medidas estatísticas com medidas de proporção, tendência central e

Intervalos de Confiança de 95% e as análises bivariadas.

Na análise bivariada, utilizaram-se as seguintes medidas estatísticas: Razão

de Prevalência; o Risco Atribuível Proporcional (RAP) ou fração etiológica; Razão de

Chances- Odds Ratio (OR), o Intervalo de Confiança no valor 95% e como nível de

significância o valor de 5%.

Teste de hipóteses:

O teste utilizado foi o de Qui-quadrado e eventualmente o Exato de Fisher.

Ambos testam a ocorrência de uma relação entre duas variáveis.

Os testes de hipóteses foram utilizados para verificar a relação entre a

variável “homicídio” com os outros fatores em questão.

Como se adota costumeiramente o nível de confiança de 95%, se o valor de p

do teste foi menor que 0,05, rejeitamos a hipótese , ou seja, pode-se dizer que há

indícios de que as variáveis em questão estão relacionadas.

Razão de prevalências (RP):

É uma relação da probabilidade do evento ocorrer no grupo exposto contra o

grupo de controle (não exposto).

Expressa matematicamente o quanto maior, ou diferente, é o risco de um fator

gerar um dado desfecho em relação à ausência deste.

Razão de chances (RC):

É a tradução do termo Odds Ratio do inglês que é o cálculo da razão de

chance entre um evento ocorrer em um grupo e a chance deste mesmo evento

ocorrer em outro grupo, considerando que chance é a razão de ocorrência deste

evento dividida pela razão da não ocorrência do mesmo evento.

Intervalo de confiança (IC):

Na prática, o intervalo de confiança de 95% nos fornece um intervalo no qual

estaríamos 95% confiantes da cobertura do verdadeiro valor estatístico da medida

estudada. A interpretação serve para as duas medidas acima descritas.

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68

No caso da RC e da RP, para que as medidas sejam significativas é preciso

que o IC não contenha o número um (1), pois isso não nos garantiria sua relevância.

Assim sendo, o verdadeiro valor do parâmetro ao assumir o valor um, significa

dizer que ambas as características estudadas exprimem a mesma chance ou

probabilidade de risco.

RAP (Risco Atribuível Proporcional ou Fração Etiológica):

A Fração Etiológica ou Risco Atribuível Proporcional expressa qual o

percentual de doença entre os expostos pode ser atribuível à exposição.

4.8.1. Regressão logística

A regressão logística é uma técnica utilizada com a finalidade de predizer ou

explicar ocorrência ou não de um evento em função de variáveis que estão

associadas a este evento. Para o presente estudo, utilizar-se-á a regressão logística

com a finalidade de predizer se a causa do óbito foi por homicídio ou outra causa de

morte, em função de variáveis presentes no estudo, que possivelmente estejam

associadas a este evento.

A partir dos resultados válidos estatisticamente, será proposto um modelo de

regressão logística para analisar a associação entre o tipo de óbito por causa

externa (homicídios ou outro tipo) e as variáveis independentes mencionadas no

item 3.1. Neste momento, utiliza-se o modelo para medir a associação independente

ou ajustada de cada fator de risco e a ocorrência de óbito por homicídio.

Para esta seleção, toma-se como critério de eleição as variáveis cujas

associações com o desfecho foram estatisticamente significantes que foram

verificadas na análise bivariada, e também aquelas que obtiveram uma significância

de até 10%.

As variáveis selecionadas de acordo com os critérios adotados foram faixa

etária, sexo, raça, estado civil, escolaridade, ocupação, local de ocorrência,

assistência médica, bairro de residência e bairro de ocorrência.

Para a construção do modelo, como definido acima, todas as variáveis que

obtiveram associação com o desfecho tendo significância de até 10% foram

adicionadas ao modelo inicial e foi utilizado um método de seleção de variáveis

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passo a passo (stepwise).

O método de seleção em etapas escolhido foi o retroceder (backward) que

tem vantagens em relação ao método avançar (forward) devido ao fato do efeito

supressor, que ocorre quando um previsor tem seu efeito significativo somente

quando outra variável é mantida constante. Na seleção para frente é mais provável

excluir previsores com efeito supressores que no método retroceder. No método

retroceder, o modelo começa com todas as variáveis e depois retira o previsor que

apresenta o menor impacto no ajuste do modelo e continua eliminando um a um

todos os previsores que, com base em critérios específicos, não acrescentam

informações ao modelo.

O critério utilizado foi a significância da estatística de razão de

verossimilhança, em que o modelo atual é comparado com o modelo com o modelo

quando o previsor é removido. Se o modelo com a remoção do previsor não

proporcionar uma piora substancial no grau de aderência do modelo aos dados

observados, o previsor será removido. Este procedimento ocorre até restarem

apenas os previsores que contribuam significativamente para o poder preditivo do

modelo.

Modelo logístico

No estudo o tamanho da amostra foi de 2109 casos, mas um dos problemas

encontrado foi a debilidade de completitude, onde muitas variáveis não tiveram os

seus registros preenchidos na sua totalidade, acarretando perda de informação.

Portanto, somente os indivíduos que tiveram todas as suas variáveis preenchidas

foram incluídos no modelo, proporcionando tamanho amostral menor do que foi

mencionado acima.

As variáveis selecionadas para o modelo foram: faixa etária; sexo; raça;

estado civil; escolaridade; ocupação; local de ocorrência; assistência médica; bairro

de residência e bairro de ocorrência. Utilizados o método backward e a razão

verossimilhança, permaneceram no modelo faixa etária, sexo, estado civil e bairro de

ocorrência. O tamanho da amostra para este modelo foi de 1355 representando

64,2% do tamanho total amostrado, perdendo a informação de um pouco mais de

um terço de indivíduos para a construção desse modelo.

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70

Testando a Capacidade Preditiva do modelo.

Na tabela abaixo, temos um conjunto de testes que verificam a validação do

modelo como um todo, cujo objetivo é testar se todos os coeficientes do modelo são

iguais a zero. Estes testes são equivalentes à estatística F na regressão linear. De

acordo com os valores obtidos na Tabela 02, mediante aplicação dos três testes

Step, Block e Model, rejeitamos a hipótese nula de que todos os coeficientes do

modelo são nulos, portanto o presente modelo é significante, pois existe pelo menos

um coeficiente diferente de zero.

Tabela 02 - Testes de coeficientes de modelo Omnibus.

Teste Qui-

quadrado

Grau de

liberdade Sig.

Step 260,080 9 0,0001

Block 260,080 9 0,0001

Model 260,080 9 0,0001

Para avaliar o desempenho geral do modelo temos os indicadores Cox e Snell

e Nagelkerke que são conhecidos como Pseudo R2 e tem função de explicar o

quanto de variação na variável dependente é explicado pelo modelo e, quanto mais

próximo de um, maior o poder explicativo do modelo.

O R2 de Cox e Snell é baseado no valor da razão de verossimilhança e se

situa numa escala que começa em zero, mas não chega a um, e o R2 de Nagelkerke

é baseado no R2 de Cox e Snell com ajustes para que seu intervalo de variação seja

de zero a um, facilitando a sua interpretação.

Tabela 03 - Indicadores de desempenho do modelo.

R2 Valor

Cox & Snell 17,4%

Nagelkerke 23,6%

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O valor que será usado para a interpretação do modelo proposto será o R2

Nagelkerke. Indicamos que o modelo do estudo é capaz de explicar de 23,6% das

variações ocorridas na variável dependente do nosso estudo.

A Tabela 04 tem um indicador chamado Teste de Hosmer e Lemeshow, que

tem por objetivo testar a hipótese de que não há diferenças significativas entre os

resultados preditos pelo modelo e os observados.

Tabela 04 - Teste de Hosmer e Lemeshow

Qui-

quadrado

Graus de

liberdade Sig.

5,611 8 0,691

A hipótese nula deste teste é que os valores preditos pelo modelo não são

estatisticamente diferentes dos valores observados. O valor da significância do teste

foi de 0,691, e como é maior que 0,05, não rejeitamos a hipótese nula, portanto tem-

se mais um indício de que o modelo pode ser utilizado para estimar a probabilidade

de um determinado indivíduo morrer por homicídio ou não. Na Tabela 05, observa-se

a classificação final dos indivíduos que contribuíram para regressão, segundo sua

causa da morte, de acordo com a previsão do modelo.

Tabela 05 - Classificação dos indivíduos segundo o

modelo. Fortaleza, 2010.

Homicídio

Homicídio (previsto pelo

modelo) Porcentagem

correta %

Sim Não

Sim 696 115 85,8

Não 283 261 48,8

Porcentagem global correta 70,6

O ponto de corte do modelo para esta classificação foi à probabilidade de

50%, ou seja, se o indivíduo que veio a falecer obteve uma probabilidade estimada

pelo modelo acima de 50%, o modelo preverá que a causa da morte foi por

homicídio se não o contrário. Percebe-se também que o modelo teve uma

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sensibilidade estimada de 85,8%, ou seja, dos casos que o modelo previu que a

morte foi por homicídio, ele obteve uma precisão de 85,8%. Já para a especificidade,

que é o percentual de acerto quando o modelo prevê que a morte não foi por

homicídio, foi de 48,8%. Portanto o modelo tem uma boa sensibilidade, ou seja, se o

modelo previu que a morte do indivíduo foi por homicídio, dificilmente ele errará.

Enquanto que a especificidade pode ser considerada razoável, pois se o modelo

previu que a morte não foi por homicídio, ele será capaz de acertar

aproximadamente a metade dos casos.

4.8.2. Concordância entre Codificação da Causa básica do óbito

Para contemplar a verificação do nível de concordância entre as codificações

de causa básica do óbito, foram realizadas análises de frequências para avaliar a

concordância de identificação entre as duas fontes. Realizou-se também o cálculo

do Kappa para análise da confiabilidade entre os códigos CID SMS e CID PEFOCE.

O Kappa é uma medida de concordância inter e intra-observador e mede o

grau de concordância além do que seria esperado tão somente pelo acaso.

Nas análises formais de concordância mediante a análise bivariada e o índice

de Kappa, este é considerado adequado quando se tratam de variáveis categóricas

avaliadas por julgadores independentes. Os cálculos dos intervalos de confiança do

Kappa foram propostos por Fleiss et al, 1969.

Esta medida de concordância tem como valor máximo o valor correspondente

a um (1), o qual representa total concordância. Os valores próximos de zero e abaixo

deste, indicam nenhuma concordância, ou, ainda, a concordância foi exatamente a

esperada pelo acaso. Um eventual valor de Kappa menor que zero, negativo, sugere

que a concordância encontrada foi menor do que aquela esperada por acaso.

Sugere, portanto, discordância, mas seu valor não tem interpretação como

intensidade de discordância. Para avaliar se a concordância é razoável, fazemos um

teste estatístico para medir a significância do Kappa. Neste caso, estabelecemos

que a hipótese testada é se o Kappa é igual a zero, o que indicaria concordância

nula, ou se ele é maior do que zero, concordância maior do que o acaso (teste

monocaudal: H0: K = 0; H1: K > 0).

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73

No caso de rejeição da hipótese (Kappa=0), temos a indicação de que a

medida de concordância é significativamente maior do que zero. Valor este que

indicaria que existe alguma concordância. Isto não significa necessariamente que a

concordância seja alta, cabendo ao pesquisador avaliar se a medida obtida é

satisfatória ou não. Pode-se tomar como base, por exemplo, em dados de literatura

ou pesquisas anteriores.

4.9. Definição da categorização das variáveis

Para a análise bivariada, procedeu-se ao processo de codificação de

variáveis. A definição destas categorias será apresentada mediante a seguinte

classificação: as variáveis independentes, sendo: sexo; idade; escolaridade;

ocupação; raça/cor; estado civil; local de moradia (bairro); bairro de ocorrência; local

de ocorrência (domicílio, hospital, via pública e outros) e assistência médica; e a

variável dependente como sendo a causa básica do óbito (CID SMS).

São descritas as categorias criadas para o conjunto das variáveis que foram

submetidas a estas análises: sexo (categorias: feminino e masculino); faixa etária

(categorias: 0-9 anos: criança; 10-14 anos: pré-adolescente; 15-19 anos:

adolescente; 20-24 anos: jovem; 25-59 anos: adulto; 60 anos ou mais: idoso);

escolaridade (categorias 1 a 3 anos; 4 a 7 anos; 8 a 11 anos; 12 ou mais, nenhuma

escolaridade); ocupação (categorias: possui trabalho; não trabalha; estudante;

aposentado); raça/cor (categorias: parda; preta; amarela; branca); estado civil

(categorias: sem vínculo conjugal; com vínculo conjugal); local de moradia, bairro

(categorias: renda menor; renda média; renda menor); local de ocorrência, bairro

(categorias: renda menor; renda média; renda menor); local de ocorrência do óbito

(categorias: via pública; hospital; domicílio; outros) e assistência médica (sim, não).

Os parâmetros para a categorização das variáveis descritas acima forma os

seguintes: i. faixa etária: critério da OMS e ii. bairros de residência e ocorrência:

Classificação dos bairros do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará

(IPECE). Mediante estudo realizado em 2013, dos 119 bairros de Fortaleza, o

Meireles tem renda 15,3 vezes superior ao bairro mais pobre: o conjunto Palmeiras.

O estudo indica que apenas 7% da população de Fortaleza mora nos 10 bairros

mais ricos e que os 44 bairros de menor renda concentram metade da população da

capital cearense. O estudo utilizou dados do Censo demográfico 2010 do IBGE. Os

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74

119 bairros foram mapeados em cinco grupos, com intervalos de renda pessoal de

499,00 reais. Entre os 10 bairros mais ricos, com renda média entre 2.000,00 e

3.659,00 reais, nove estão localizados em uma única Secretaria Executiva Regional.

Classificam-se em renda maior, os dez bairros listados: Meireles; Guararapes; Cocó,

De Lourdes; Aldeota; Mucuripe; Dionísio Torres; Varjota; Praia de Iracema e Fátima.

Classificam-se em renda menor, os dez bairros listados: Conjunto Palmeiras;

Presidente Vargas, Canindezinho; Siqueira; Genibaú; Granja Portugal; Pirambu;

Granja Lisboa; Autran Nunes e Bom Jardim. Os demais foram classificados como

renda média.

4.10. Georreferenciamento

A partir do tipo de causa mais importante no município de Fortaleza (ano

2010) os Homicídios, codificados como causas X85 a Y09 da CID-10, realizou-se um

trabalho de georreferenciamento dos óbitos por esta causa mediante os locais de

ocorrência. Os endereços georreferenciados foram localizados como pontos nos

mapas dos setores censitários do município, elaborados pelo IBGE.

Os estudos sobre distribuição espacial têm sido utilizados por serem capazes

de buscar associações entre indicadores de saúde, incluindo indicadores de

mortalidade, e as circunvizinhanças (NELSON et al, 2011).

A Análise Espacial que será apresentada foi proposta para o grupo dos óbitos

referentes à causa de morte de maior proporção para óbitos de residentes no

município de Fortaleza, no ano de 2010: os homicídios. Para a realização da análise

espacial foi utilizado o software TerraView, versão 4.2.2, de domínio público e

distribuição pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

Tal análise procurou identificar e apresentar os bairros segundo a distribuição

da ocorrência de homicídios. Foram calculadas as taxas de homicídios por bairro,

onde a avaliação do fenômeno é feita a partir da visualização das áreas se mostram

de tonalidades díspares para áreas com comportamentos díspares.

O cálculo das taxas foi obtido pelo quociente entre o número de ocorrências

de óbitos por homicídios e a população referência do bairro.

Em relação à totalidade dos bairros que foram incluídos na análise dos

determinantes geográficos, como bairro de ocorrência, temos o total de 99 bairros.

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75

Tabela 06 - Distribuição dos bairros de ocorrência dos homicídios. Fortaleza, 2010.

N %

Total de Bairros 119 100%

Bairros de Ocorrência 99 83,19%

Houve a necessidade de complementar a informação acerca dos bairros de

ocorrência pelas ausências de preenchimento no banco da pesquisa. No que diz

respeito ao preenchimento final do banco para a análise espacial relacionada aos

bairros de ocorrência tem-se o êxito no preenchimento de 95,42% do total dos dados

de ocorrência de homicídio. A complementação das informações foi realizada

mediante busca online na Coordenadoria de Medicina Legal.

Tabela 07 – Preenchimento final dos bairros de ocorrência dos homicídios. Fortaleza,

2010.

N %

Bairros de Ocorrências/Homicídios 1202 100%

Preenchimento Final 1147 95,42%

Para o georreferenciamento, utilizou-se como parâmetro o estimador de

intensidade (Kernel estimation) para avaliar a existência de um padrão de

distribuição espacial por intermédio da intensidade do processo, ou seja, número de

eventos observados por unidade de área. Essa estimação é realizada por meio de

função bidimensional aos eventos considerados, realizando a contagem de todos os

pontos em uma determinada região de influência, ponderando-os pela distância de

cada um até o ponto que está sendo estimado (RODRIGUES e RIVERO, 2012).

O estimador de Kernel tem como parâmetros básicos: i) o raio de influência,

que define a vizinhança do ponto a ser interpolado e controla o grau de “alisamento”

da superfície gerada; e ii) uma função de estimação com propriedades de

suavização do fenômeno (RODRIGUES e RIVERO, 2012).

Utilizou-se o estimador de Kernel para identificar as Áreas de Concentração

de Violência (ACV), tendo como parâmetros: o raio de um quilômetro para a

vizinhança do evento e a função quadrática, que retorna o valor esperado de

ocorrência do evento (óbitos por homicídio) por unidade de área (RODRIGUES e

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76

RIVERO, 2012).

Citam-se algumas vantagens dos mapas de Kernel. Há pelo menos duas

vantagens na utilização do método de Kernel para geração de mapas temáticos:

Quando existe uma concentração excessiva de pontos, a análise visual pode

acabar sendo prejudicada. Por exemplo: em uma área, um ponto pode estar

na realidade representando várias ocorrências;

A representação não fica limitada a áreas pré-definidas, como é o caso de

polígonos de bairros ou municípios.

Desta forma, pontua-se a Análise Espacial como ferramenta capaz de elucidar

distribuição espacial de fenômenos, a partir a possibilidade do pesquisador, ao

dispor de um banco de dados somado a uma base geográfica, avaliar e

compreender esta distribuição de dados oriundos de fenômenos ocorridos no

espaço, ampliando a compreensão dos fenômenos sociais.

Para a avaliação da análise realizada foi calculada a auto correlação espacial

através do Índice de Moran. Tal índice é um coeficiente muito útil para medir a

correlação espacial. Ele mede a relação do desvio padronizado de uma variável Z

numa área i com o desvio padronizado das áreas vizinhas para a mesma variável Z.

Numa matriz de vizinhança normalizada o índice de Moran é dado por:

O Índice de Moran varia, da mesma forma que o coeficiente de correlação

linear, de -1 a 1. Para o estudo, temos o Índice de Moran Global.

4.11. Aspectos Éticos

O presente projeto foi encaminhado para a apreciação e avaliação do Comitê

de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará. Após análise, o referido

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77

Comitê emitiu parecer favorável à realização da pesquisa, sob o protocolo CEP/UFC

de número 369.335 e CAAE: 11587613.7.0000.5054.

Foram seguidas as diretrizes éticas descritas na Resolução 196/96 do

Conselho Nacional de Saúde-CNS (BRASIL, 1996a) sobre pesquisas com seres

humanos, levando em consideração: o anonimato; a privacidade; o sigilo e os riscos.

Serão obedecidos os princípios da autonomia, da não maleficência, da justiça e da

equidade. Também observados os critérios de respeito total à dignidade do ser

humano. Mesmo em situação de óbito, nenhum dado ou informação do indivíduo

será utilizado ou divulgado individualmente.

À direção da PEFOCE Fortaleza e à CEVEPI da Secretaria Municipal de

Saúde de Fortaleza foram apresentados os Termos de Fiel Depositário, devidamente

assinados em duas vias ficando uma na instituição e outra junto à pesquisadora

responsável pelo estudo. A pesquisadora se comprometeu a utilizar os dados

apenas para fins acadêmicos e científicos, não permitindo que nenhum dado ou

informação possibilite a identificação de qualquer indivíduo.

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78

Parte III

Resultados &

Discussão

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79

5. RESULTADOS

Para a apresentação da Avaliação da Qualidade do Sistema de Informação

sobre Mortalidade por Causas Externas no município de Fortaleza-Ceará, período

2010, apresentam-se os Resultados em cinco sub-tópicos.

Seguindo critérios metodológicos, foram excluídos ao todo 130 óbitos (67

óbitos classificados a parte do Capítulo XX da CID-10 somados aos 63

subnotificados), sendo estudados e analisados ao fim na pesquisa de tese 2109

óbitos por violência de residentes em Fortaleza no ano de 2010.

5.1. AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE PREENCHIMENTO E OCORRÊNCIA DE

RASURAS NOS CAMPOS DO INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS DA

DECLARAÇÃO DE ÓBITO & DESCRITIVA.

Analisar-se-ão as variáveis de acordo com a divisão do instrumento em nove sub-

tópicos, respeitando a classificação das 62 variáveis que o compõem.

5.1.1. I – Cartório:

Nesta seção, há 21 variáveis não havendo preenchimento de nenhuma destas,

devido o preenchimento no cartório ocorrer seguido do preenchimento das demais

seções pelo profissional médico.

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80

5.1.2. II – Identificação:

Tabela 08- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Identificação.

Fortaleza, 2010.

Variável N (%) Ausência de

preenchimento

N (%)

Rasuras

N (%)

Tipo de óbito

Fetal

Não fetal

14 (0,69)

2.008 (99,31)

87 (4,13) 10 (0,49)

Data do óbito - 15 (0,71) 2 (0,10)

RG - 2109 (100) -

Sexo

Masculino

Feminino

Ignorado

1.818 (87,28)

262 (12,58)

3 (0,14)

26 (1,23) 13 (0,63)

Raça-cor

Parda

Branca

Preta

Amarela

Indígena

1.026 (78,98)

202 (15,55)

57 (4,39)

13 (1)

1 (0,08)

810 (38,41) 5 (0,38)

Estado civil

Solteiro

Casado

Viúvo

Separado

Ignorado

União consensual

1.601 (77,01)

380 (18,28)

50 (2,41)

45 (2,16)

2 (0,10)

1 (0,05)

30 (1,42) 12 (0,58)

Escolaridade

4-7 anos

1-3 anos

8-11 anos

12 ou mais

Ignorado

Nenhuma

521 (37,40)

268 (19,24)

230 (16,51)

154 (11,06)

149 (10,70)

71 (5,10)

714 (33,89) 4 (0,29)

Observa-se na Tabela 08, a distribuição das variáveis quanto ao descritivo de

suas categorias na amostra, a proporção de incompletude (ausência de

preenchimento e presença da escolha do item “ignorado”) e presença de rasuras. As

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81

variáveis Raça-cor e Escolaridade demonstraram os maiores percentuais de

ausência de preenchimento (38,41 e 33,89%, respectivamente, completitude baixa),

e, ainda, a Escolaridade demonstra o maior percentual de “ignorado” como resposta

(10,70%).

Tabela 09- Completitude dos óbitos por causas externas segundo variáveis nominais de

Identificação e Data. Fortaleza, 2010.

Variável Ausência de

preenchimento

N (%)

Rasuras

N (%)

Naturalidade 19 (0,9) 4 (0,19)

Nome do falecido - 18 (0,85)

Nome do pai 241 (11,43) 31 (1,66)

Nome da mãe 8 (0,38) 24 (1,14)

Data de nascimento 9 (0,43) 11 (0,52)

Ocupação 201 (9,53) 10 (0,52)

A Tabela 09 mostra a completitude das variáveis textuais da Identificação.

Obteve-se como maior ausência de preenchimento o Nome do pai (11,43%) e

também o maior percentual de rasuras (1,66%).

Somam-se às variáveis dessa seção, as variáveis intituladas Código de

ocupação e Idade. O Código de ocupação apresentou 100% de ausência de

preenchimento em todos os registros do estudo.

A variável Idade apresentou média de 32,94 anos (erro padrão de 0,52; IC

95% entre 31,93 - 33,94). Quanto à completitude da variável Idade, tem-se o

percentual de ausência de preenchimento representando 46,06% (equivalente a 969

registros, indicando completitude baixa).

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5.1.3. III – Residência:

Tabela 10- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Residência. Fortaleza, 2010.

Variável Valores

únicos

Ausência de

preenchimento

N (%)

Rasuras

N (%)

Logradouro 1662 9 (0,43) 23 (1,10)

Número 1096 126 (5,97) 8 (0,40)

Complemento 119 1957 (92,84) 2 (1,32)

CEP - 2096 (99,57) -

Bairro 317 64 (3,03) 14 (0,68)

Município de residência 1 - -

A Tabela 10 mostra a completitude das variáveis textuais da Residência.

Obteve-se como maior ausência de preenchimento o CEP (99,57%, completitude

baixa).

5.1.4. IV – Ocorrência:

Tabela 11- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Ocorrência. Fortaleza, 2010.

Variável N (%) Ausência de

preenchimento

N (%)

Rasuras

N (%)

Local de Ocorrência

Via Pública

Hospital

Domicílio

Outros

Ignorado

535 (45,38)

456 (38,68)

142 (12,04)

43 (3,60)

3 (0,25)

930 (44,09) -

A Tabela 11 mostra a completitude das variáveis textuais do Local de

Ocorrência. Observa-se nessa seção uma importante lacuna no preenchimento dos

dados, totalizando 930 ausências de preenchimento, representando 44,09% do total

das DO estudadas, indicando, para variável de extrema importância na codificação

final da causa básica, completitude baixa.

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83

Tabela 12- Completitude dos óbitos por causas externas segundo variáveis nominais de

Ocorrência. Fortaleza, 2010.

Variável Ausência de

preenchimento

N (%)

Rasuras

N (%)

Estabelecimento 1345 (63,80) 9 (1,18)

Endereço 803 (38,07) 12 (0,92)

Número 1616 (76,62) 2 (0,41)

Complemento - -

CEP 2105 (99,86) -

Bairro 710 (33,67) 9 (0,64)

Município de ocorrência 69 (3,27) 3 (0,15)

UF 68 (3,22) 1 (0,05)

Na avaliação da completitude da Tabela 12, tem-se que, para o grupo das

variáveis de texto relacionadas às especificações da Ocorrência do óbito, existe uma

importante proporção de ausência de preenchimento para as variáveis: CEP,

número e estabelecimento (99,86; 76,62 e 63,80%, respectivamente).

Nesta seção, todas as variáveis são consideradas na avaliação da qualidade

como de completitude baixa, exceto Município de ocorrência e UF.

5.1.5. V – Fetal ou menor de 1 ano:

Houve sete óbitos em menores de um (1) ano. Este dado foi captado

mediante o preenchimento da idade do falecido em meses, dias e minutos. Nesta

seção, há 11 variáveis. Em nenhum registro houve preenchimento das variáveis da

seção.

5.1.6. VI – Condições e causas do óbito:

5.1.6.1. Exclusivo para óbitos mulheres.

Do total de 262 registros do sexo feminino, apresentaram-se as seguintes

respostas para as duas variáveis da seção “Exclusivo para óbitos em mulheres”:

Morte durante gravidez, parto, aborto: percentual de ausência de preenchimento

representando 78,62% (206 registros); ocorrência de rasuras em um registro,

representando 1,79%. Para avaliar a incompletude, do total que foi preenchido,

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84

30,36% foi marcado o item “ignorado”. Para a variável Morte durante puerpério,

aponta-se, para avaliação da qualidade, o percentual de ausência de preenchimento

representando 81,67% (214 registros, representando completitude baixa) e ausência

de rasuras. Dos preenchidos, 47,92% foi marcado o item “ignorado”.

Observa-se que, na presença de uma especificação de condicionamento no

preenchimento (no caso: ser do sexo feminino), a completitude apresenta importante

fragilidade. O total de registros do sexo feminino representa na amostra apenas

12,58%. A ausência de identificação desta condição e do preenchimento da

subseção “Exclusivo para as mulheres” aponta para uma ausência de sensibilização

quanto à importância no preenchimento dos itens acima descritos. Estudos que

avaliam as condições de óbitos violentos com abordagens para as situações

circunscritas à gravidez, parto, abortamento e puerpério estariam imensamente

debilitados quanto à análise no caso de utilização da captação destes dados

secundários.

Tabela 13- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Assistência Médica.

Fortaleza, 2010.

Variável N (%) Ausência

preenchimento

N (%)

Rasuras

N (%)

Assistência médica Sim Não Ignorado

Total: 2080

216 (29,23) 258 (34,91) 265 (35,86)

1.341 (64,47) 3 (0,41)

Exame complementar Sim Não Ignorado

Total: 2080

29 (8,24) 201 (57,1) 122 (34,66)

1.728 (83,08) -

Cirurgia Sim Não Ignorado

Total: 2080

44 (10,53) 303 (72,49) 71 (16,99)

1.668 (79,96) -

Necropsia Sim Não Ignorado

Total: 2109

1600 (98,70)

14 (0,86) 7 (0,43)

488 (23,14) 2 (0,12)

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85

Nota-se na Tabela 13, a importante incompletude dos campos ligados à

Assistência médica, donde a ausência de preenchimento e a marcação do item

“ignorado” apresentam percentuais acima de 50% e em torno de 30%

respectivamente.

Apresentar-se-ão agora as descrições das Causas A, B, C e D, com os

percentuais de preenchimento e as cinco primeiras causas descritas que mais se

repetiram nos registros das 2109 DO.

Causa A: 2109 registros (100% preenchimento): principais descritores:

choque hipovolêmico: 116; indeterminada: 91; asfixia mecânica: 76;

hemorragia: 45; ferida penetrante de tórax: 35.

Causa B: 1156 registros (45,19% de ausência de preenchimento,

completitude baixa): projétil único de arma de fogo: 108; instrumento

contundente: 50; ação perfurocontundente: 44; politraumatismo: 22 e

traumatismo crânioencefálico: 16.

Causa C: 321 registros (84,78% de ausência de preenchimento, completitude

baixa): projéteis de arma de fogo: 91; instrumento perfurocontundente: 37;

ferida penetrante de tórax: 17; enforcamento: 13; acidente de trânsito: 11.

Causa D: 83 registros (96,11% de ausência de preenchimento, completitude

baixa): instrumento perfurocontundente: 27; projétil de arma de fogo: 17;

acidente de trânsito: quatro.

Observa-se importante decréscimo de preenchimento dos itens da sequência

Causas do óbito. Evidencia-se a sequência completa das “linhas a, b, c e d” apenas

em 3,99% dos registros, indicando uma falha grave nas orientações de Classificação

de causas com as sequências fisiopatológicas indicadas e dispostas na sequência

das “linhas a, b, c e d”.

5.1.7. VII – Médico:

Na distribuição da variável Atendimento médico, tem-se que 98,44%

apontou o IML; 1,3% não; 0,1% sim e 0,1% para o item outros. As demais variáveis

desta seção estão apresentadas na Tabela 14.

Referente à completitude, observa-se: ausência de preenchimento

representando 8,97% (189 registros, indicando completitude excelente) e ocorrência

de rasuras em cinco registros, representando 0,26%.

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86

Tabela 14- Completitude dos óbitos por causas externas segundo informações do Médico.

Fortaleza, 2010.

Variável Ausência de

preenchimento

N (%)

Rasuras

N (%)

Nome do médico 9 (0,43) 6 (0,29)

Meio de contato do

médico

333 (15,79) 9 (0,51)

Data do atestado 41 (1,94) 8 (0,39)

Assinatura 10 (0,47) 3 (0,14)

Segundo visto na Tabela 14, foi classificada como completitude baixa apenas

a variável Meio de Contato do Médico. Salienta-se que a maioria destes contatos

era o número de telefone fixo da PEFOCE.

5.1.8. VIII – Causas externas:

Tabela 15- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Tipo de Morte. Fortaleza,

2010.

Variável N (%) Ausência de

preenchimento

N (%)

Rasuras

N (%)

Tipo de Morte

Homicídio

Acidente

Suicídio

Ignorado

Outros

410 (60,29)

181 (26,62)

39 (5,74)

43 (6,32)

07 (1,03)

1.429 (67,76) 2 (0,29)

Interessante observar que, nesta seção específica para óbitos por causas

externas, o percentual de ausência de preenchimento mostra-se acima de 50% dos

registros estudados. Ainda, observa-se a escolha do item “ignorado” para 6,32% dos

dados (Tabela 15).

Para a distribuição da amostra segundo Circunstâncias de morte não natural

pela ocorrência de Acidente de Trabalho, tem-se que 71% indicaram não; 28%

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87

ignorado e apenas 1% sim. Na avaliação da qualidade, tem-se: ausência de

preenchimento representando 70,26% (1481 registros) e 28% de informação

“ignorada”; ocorrência de rasuras em seis registros, representando 0,96%.

Já para a distribuição da amostra segundo a classificação da seção de

Circunstâncias de morte não natural pela Fonte da Informação, 90% apontaram

para o Boletim de Ocorrência; 2% família; 7% outros e 1% ignorado. E, na avaliação

da qualidade, mostrou ausência de preenchimento representando 69,61% (1468

registros); ocorrência de rasuras em quatro registros, representando 0,63%.

A Tabela 16 mostra a distribuição da variável Descrição do evento.

Demonstra completitude baixa, donde 81,31% houve ausência de preenchimento.

Tabela 16- Completitude dos óbitos por causas externas segundo Descrição do evento.

Fortaleza, 2010.

Variável Ausência de

preenchimento

N (%)

Rasuras

N (%)

Descrição do

evento

1714 (81,31) 394 (18,69)

Ocorrência via

pública

2,044 (96,92) -

5.1.9. IX – Localidade sem médico:

1. Declarante: somente um registro válido “naturalidade da vítima Recife PE”

2. Testemunha: vazio.

5.2. ANÁLISE BIVARIADA.

Na análise bivariada para o conjunto das variáveis independentes do estudo,

Tabela 17, observa-se na variável Faixa etária indivíduos incluídos na categoria

adolescente têm, com base na Razão de Chances, 23,82 vezes mais chance de

sofrerem homicídio em relação àqueles de outras categorias de faixa etária. A Razão

de Prevalência aponta à categoria dos jovens uma probabilidade quase 20 vezes

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maior de sofrerem homicídio. Para ambas as medidas obteve-se um Intervalo de

Confiança de 95% significativo (o intervalo não contém o valor 1). De forma análoga

à categoria dos jovens, pela medida do RAP (Fração Etiológica), tem-se que 94,9%

dos casos de homicídio tiveram como relação essa faixa etária. O valor de p

calculado com base no teste de qui-quadrado teve valor infinitesimal confirmando a

associação da variável em questão com o fenômeno estudado.

Para a variável Sexo, tem-se que indivíduos do sexo masculino têm, com

base na Razão de Chances, 3,89 vezes mais chance de sofrerem homicídio em

relação àqueles do sexo feminino. De forma análoga, a Razão de Prevalência

aponta uma probabilidade 2,13 maior de sofrerem homicídio. Para ambas as

medidas obteve-se um Intervalo de Confiança de 95% significativo (o intervalo não

contém o valor 1). Pela medida do RAP (Fração Etiológica), tem-se que 53,1% dos

casos de homicídio tiveram como causa ser do sexo masculino. O valor de p

calculado com base no teste de qui-quadrado teve valor infinitesimal confirmando a

associação da variável em questão com o fenômeno estudado.

Na variável Raça, observa-se que indivíduos pardos têm, com base na Razão

de Chances, 2,61 vezes mais chance de sofrerem homicídio em relação àqueles

com vínculo. Para essa medida obteve-se um Intervalo de Confiança de 95%

significativo (sem incluir o valor 1). A Razão de Prevalência aponta uma

probabilidade 1,68 maior da raça amarela sofrerem homicídio (I.C. 95% entre 1,05-

2,68). Pela medida do RAP (Fração Etiológica), tem-se que 40,5% dos casos de

homicídio tiveram como causa a raça amarela, e 23,7% para raça parda. Para estas

últimas medidas, o valor de p calculado com base no teste de qui-quadrado teve

valor infinitesimal confirmando a associação da variável em questão com o

fenômeno estudado.

Observando o comportamento da variável Estado Civil, pontua-se que

indivíduos sem vínculo conjugal têm, com base na Razão de Chances, 2,85 vezes

mais chance de sofrerem homicídio em relação àqueles com vínculo. De forma

análoga, a Razão de Prevalência aponta uma probabilidade 70% maior de sofrerem

homicídio. Para ambas as medidas obteve-se um Intervalo de Confiança de 95%

significativo (o intervalo não contém o valor 1). Pela medida do RAP (Fração

Etiológica), tem-se que 41,5% dos casos de homicídio tiveram como causa a falta de

vínculo conjugal. O valor de p calculado com base no teste de qui-quadrado teve

valor infinitesimal confirmando a associação da variável em questão com o

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fenômeno estudado.

Para a variável Escolaridade, tem-se que indivíduos com escolaridade entre

4 a 7 anos têm, com base na Razão de Chances, 3,68 vezes mais chance de

sofrerem homicídio em relação àqueles das demais categorias de escolaridade. Na

análise da Razão de Prevalência, tem-se a mais importante probabilidade para a

categoria de escolaridade entre 1 e 3 anos. Para ambas as medidas obteve-se um

Intervalo de Confiança de 95% significativo (o intervalo não contém o valor 1). Pela

medida do RAP (Fração Etiológica), tem-se que 89,3% dos casos de homicídio

tiveram como causa a escolaridade compreendida entre 1 a 3 anos. O valor de p

calculado com base no teste de qui-quadrado teve valor infinitesimal confirmando a

associação da variável em questão com o fenômeno estudado.

A variável Ocupação aponta que indivíduos com ocupação estudante têm,

com base na Razão de Chances, 15,44 vezes mais chance de sofrerem homicídio

em relação àqueles com demais ocupações. A Razão de Prevalência mostra uma

probabilidade 13,73 maior de sofrerem homicídio aqueles que não trabalham. Para

ambas as medidas obteve-se um Intervalo de Confiança de 95% significativo (o

intervalo não contém o valor 1). Pela medida do RAP (Fração Etiológica), tem-se que

81,1% dos casos de homicídio tiveram como causa a ocupação estudante. O valor

de p calculado com base no teste de qui-quadrado teve valor infinitesimal

confirmando a associação da variável em questão com o fenômeno estudado.

Na análise da variável Assistência médica, indivíduos em via pública têm,

com base na Razão de Chances, 2,27 vezes mais chance de sofrerem homicídio em

relação àqueles noutros locais. De forma análoga, a Razão de Prevalência aponta

uma probabilidade 1,47 maior de sofrerem homicídio. Para ambas as medidas

obteve-se um Intervalo de Confiança de 95% significativo (o intervalo não contém o

valor 1). Pela medida do RAP (Fração Etiológica), tem-se que 32% dos casos de

homicídio tiveram como causa a ocorrência em via pública. O valor de p calculado

com base no teste de qui-quadrado teve valor infinitesimal confirmando a associação

da variável em questão com o fenômeno estudado.

Na análise da variável Local de ocorrência, tem-se que indivíduos em via

pública têm, com base na Razão de Chances, 4,58 vezes mais chance de sofrerem

homicídio em relação àqueles noutros locais. De forma análoga, a Razão de

Prevalência aponta uma probabilidade 4,42 maior de sofrerem homicídio. Para

ambas as medidas obteve-se um Intervalo de Confiança de 95% significativo (o

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intervalo não contém o valor 1). Pela medida do RAP (Fração Etiológica), 77,4% dos

casos de homicídio tiveram como causa a ocorrência em via pública. O valor de p

calculado com base no teste de qui-quadrado teve valor infinitesimal confirmando a

associação da variável em questão com o fenômeno estudado.

Referente ao Bairro de residência, observa-se que indivíduos no grupo de

bairros de renda menor têm, com base na Razão de Chances, 7,24 vezes mais

chance de sofrerem homicídio em relação àqueles de outros bairros. De forma

análoga, a Razão de Prevalência aponta uma probabilidade 45,24 maior de sofrerem

homicídio. Para ambas as medidas obteve-se um Intervalo de Confiança de 95%

significativo (o intervalo não contém o valor 1). Pela medida do RAP (Fração

Etiológica), 97,8% dos casos de homicídio tiveram como causa ter residência em

bairro de renda menor. O valor de p calculado com base no teste de qui-quadrado

teve valor infinitesimal confirmando a associação da variável em questão com o

fenômeno estudado.

Paralelamente, a variável Bairro de ocorrência, indivíduos no grupo de

bairros de renda menor têm, com base na Razão de Chances, 8,82 vezes mais

chance de sofrerem homicídio em relação àqueles de outros bairros. De forma

análoga, a Razão de Prevalência aponta uma probabilidade 56,21 maior de sofrerem

homicídio. Para ambas as medidas obteve-se um Intervalo de Confiança de 95%

significativo (o intervalo não contém o valor 1). Pela medida do RAP (Fração

Etiológica), tem-se que 98,2% dos casos de homicídio tiveram como causa

ocorrência em bairro de renda menor. O valor de p calculado com base no teste de

qui-quadrado teve valor infinitesimal confirmando a associação da variável em

questão com o fenômeno estudado.

Mediante esta análise de associação preliminar, tem-se que o adolescente, do

sexo masculino, sem vínculo conjugal, escolaridade entre 4 a 7 anos, ser estudante,

não ter recebido assistência médica, estar em via pública e ter como bairros de

ocorrência e residência bairros classificados como de renda menor, as medidas

estudadas indicando importante associação nos cruzamentos bivariados, sem

ajuste. Havendo, ainda, significância estatística (valor de p=0,000) para todas as

relações.

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Tabela 17- Associação não ajustada entre Homicídio e variáveis independentes. Fortaleza, 2010.

Variáveis

Homicídio Razão de

Chances IC 95%

Razão de Prevalência

IC 95% Fração

Etiológica Valor P Sim Não

N % N %

Faixa Etária

Criança 10 27,0 27 73,0 2,26 0,98 - 5,19 1,86 0,99 - 3,51 46,2 0,000

Pré-adolescente 21 67,7 10 32,3 12,83 5,45 - 30,2 10,89 7,11 - 16,67 90,8

Adolescente 269 79,6 69 20,4 23,82 14,66 - 38,7 13,77 9,67 - 19,62 92,7

Jovem 302 72,4 115 27,6 16,05 10,13-25,43 19,61 13,75-27,96 94,9

Adulto 566 52,7 507 47,3 6,82 4,46 - 10,42 3,75 2,63 - 5,34 73,3

Idoso 27 14,1 165 85,9 1 - - - -

Sexo

Masculino 1108 60,9 710 39,1 3,89 2,93 - 5,17 2,13 1,75 - 2,59 53,1 0,000

Feminino 75 28,6 187 71,4 1 - - - -

Raça

Parda 618 60,2 409 39,8 2,61 1,91 - 3,57 1,31 1,09 - 1,58 23,7 0,000

Preta 33 57,9 24 42,1 2,38 1,31 - 4,33 1,06 0,8 - 1,41 5,7

Amarela 8 61,5 5 38,5 2,77 0,87 - 8,78 1,68 1,05 - 2,68 40,5

Branca 74 36,6 128 63,4 1 - - - -

Estado Civil

Sem vinculo conjugal 1044 61,6 652 38,4 2,85 2,26 - 3,59 1,71 1,49 - 1,97 41,5 0,000

Com vinculo conjugal 137 36,0 244 64,0 1 - - - -

Escolaridade

1 a 3 anos 155 57,8 113 42,2 2,69 1,55 - 4,65 9,33 6,63 - 13,12 89,3 0,000

4 a 7 anos 340 65,3 181 34,7 3,68 2,18 - 6,21 4,65 3,34 - 6,48 78,5

8 a 11 anos 124 53,9 106 46,1 2,29 1,31 - 3,99 2,58 1,82 - 3,65 61,2

12 anos ou mais 68 44,2 86 55,8 1,55 0,86 - 2,78 1,31 0,9 - 1,9 23,7

Nenhuma 24 33,8 47 66,2 1 - - - -

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Ocupação

Possui trabalho 812 55,4 654 44,6 8,07 4,36 - 14,95 4,25 2,5 - 7,21 76,5 0,000

Não trabalha 14 53,8 12 46,2 7,58 2,84 - 20,23 13,73 7,27 - 25,93 92,7

Estudante 228 70,4 96 29,6 15,44 8,04 - 29,66 5,28 3,1 - 8,98 81,1

Aposentado(a) 12 13,3 78 86,7 1 - - - -

Assistência Médica

Não 162 62,8 96 37,2 2,27 1,57 - 3,28 1,47 1,23 - 1,76 32,0 0,000

Sim 92 42,6 124 57,4 1 - - - -

Local de Ocorrência

Via pública 360 67,3 175 32,7 4,58 3,07 - 6,83 4,42 3,43 - 5,69 77,4 0,000

Hospital 191 41,9 265 58,1 1,61 1,08 - 2,41 1,09 0,83 - 1,43 8,3

Outros 17 37,0 29 63,0 1,31 0,65 - 2,63 1,19 0,76 - 1,87 16,0

Domicílio 44 31,0 98 69,0 1 - - - -

Bairro de Residência

Renda Menor 229 70,2 97 29,8 7,24 3,86 - 13,58 45,24 28,99 - 70,6 97,8 0,000

Renda Média 920 55,5 738 44,5 3,82 2,12 - 6,9 2,26 1,45 - 3,51 55,8

Renda Maior 15 24,6 46 75,4 1 - - - -

Bairro de Ocorrência

Renda Menor 136 78,6 37 21,4 8,82 3,88 - 20,07 56,21 33,2 - 95,16 98,2 0,000

Renda Média 691 58,0 501 42,0 3,31 1,57 - 6,98 1,97 1,17 - 3,32 49,2

Renda Maior 10 29,4 24 70,6 1 - - - -

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5.3. REGRESSÃO LOGÍSTICA

Coeficientes estimados da Regressão

Na tabela abaixo (Tabela 18) apresentam-se as estimativas dos parâmetros

do nosso modelo de regressão logístico, em que β representa a estimativa do

coeficiente de regressão para determinada categoria de uma variável. O erro padrão

é uma medida de variabilidade em torno do coeficiente populacional (β). A estatística

de Wald que tem por finalidade aferir o grau de significância de cada coeficiente da

equação logística, verificando se cada parâmetro estimado é significativamente

diferente de zero. O valor de p é a significância da estatística de Wald, que para

valores abaixo de 5% rejeitamos a hipótese de que o valor do coeficiente seja igual a

zero. O exponencial de (β) representa a chance de um dado evento ocorrer para

uma categoria em relação à outra de referência que também pode ser denominada

OR ajustada.

Tabela 18 – Parâmetros estimados da Regressão. Fortaleza, 2010.

Variável N Β

Erro

padrão

(β)

Wald Valor p Exp.(β) IC Exp.(β) 95%

Faixa Etária

Adolescente 223 2,91 0,33 75,81 0,00 18,44 9,57 - 35,54

Jovem 277 2,48 0,32 62,00 0,00 11,99 6,46 - 22,25

Pré-adolescente 20 2,18 0,57 14,61 0,00 8,85 2,89 - 27,09

Adulto 699 1,72 0,29 35,82 0,00 5,56 3,17 - 9,75

Criança 21 0,95 0,55 2,94 0,09 2,58 0,87 - 7,63

Idoso 115 1 - - - - -

Sexo

Masculino 1198 1,04 0,20 27,18 0,00 2,83 1,92 - 4,19

Feminino 157 1,00 - - - - -

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95

Estado Civil

Sem vínculo conjugal 1109 0,46 0,16 7,76 0,01 1,58 1,14 - 2,18

Com vínculo conjugal 246 1 - - - - -

Bairro de Ocorrência

Renda Menor 169 1,63 0,45 13,26 0,00 5,13 2,13 - 12,36

Renda Média 1154 0,85 0,41 4,33 0,04 2,34 1,05 - 5,22

Renda Maior 32 1 - - - - -

De acordo com a Tabela 18, tem-se que quase todos os coeficientes são

estatisticamente diferentes de zero. Apenas o estrato criança da variável faixa etária

não foi significativo, mas, como a frequência desta categoria é pequena,

possivelmente estaríamos cometendo o erro do tipo II, que é não rejeitar a hipótese

de que o parâmetro é zero quando esta é falsa. Portanto, consideramos este

parâmetro no modelo para estimação das probabilidades.

A Tabela 19 mostra todas as probabilidades de ocorrência de homicídio

estimadas pelo modelo para todos os perfis de acordo com as variáveis

selecionadas. Por exemplo, se o indivíduo veio a falecer com perfil conjunto sexo

masculino, adolescente, sem vinculo conjugal, reside em um bairro cuja sua

classificação de renda seja média, a probabilidade estimada de que causa da morte,

dentre as causas externas, seja por homicídio é de 91,2%.

Mediante comparações dentre as categorias, foi observado que para um

indivíduo adolescente, do sexo masculino, sem vínculo conjugal, ao variarmos o

bairro entre renda alta e renda baixa, a probabilidade estimada de que a causa de

morte, dentre as causas externas, seja por homicídio apresenta variabilidade que

imputa probabilidade 36% maior do risco de morte por esta causa. E, dentre o

indivíduo ser jovem, sexo masculino, sem vínculo conjugal, de renda baixa quando

comparado ao jovem, sexo masculino, sem vínculo conjugal, de renda alta, a

probabilidade apresenta probabilidade 91% maior de risco de morte, falecendo por

causas externas, por homicídio.

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Tabela 19 - Probabilidades previstas pelo modelo para cada perfil. Fortaleza, 2010.

Variáveis Criança

Pré-

adolescente

Adolescente Jovem Adulto Idoso

Estado Civil Bairro

ocorrência Sexo Probabilidade prevista pelo modelo

Sem vínculo

conjugal

Renda Menor Masculino 0,592 0,833 0,912 0,871 0,758 0,360

Feminino 0,339 0,637 0,785 0,704 0,525 0,166

Renda Média Masculino 0,399 0,695 0,826 0,755 0,588 0,204

Feminino 0,190 0,445 0,626 0,521 0,335 0,083

Renda Maior Masculino 0,221 0,493 0,669 0,568 0,379 0,099

Feminino 0,091 0,255 0,417 0,317 0,177 0,037

Com vínculo

conjugal

Renda Menor Masculino 0,479 0,759 0,868 0,810 0,665 0,263

Feminino 0,245 0,527 0,699 0,601 0,411 0,112

Renda Média Masculino 0,296 0,590 0,750 0,661 0,475 0,140

Feminino 0,129 0,337 0,514 0,408 0,242 0,054

Renda Maior Masculino 0,152 0,381 0,562 0,454 0,279 0,065

Feminino 0,060 0,178 0,311 0,227 0,120 0,024

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Análise de resíduos

Os principais objetivos de investigar os resíduos na regressão logística são

isolar pontos em que o modelo tem pouca aderência e os que exercem influência

indevida no modelo.

Para o estudo dos resíduos do presente modelo usam-se os padronizados

que, em geral, com o modelo bem ajustado, 99% dos resíduos estão compreendidos

no intervalo de ±2,5. Dessa forma, qualquer valor fora deste intervalo deve ser

examinado com cuidado e pontos que fiquem fora do intervalo ±3 devem ser vistos

com cautela, pois estes podem causar influencia nas estimativas dos parâmetros e

devem ser analisados por alguma estatística de influência. Aproximadamente 99%

dos resíduos padronizados do nosso modelo estão no intervalo ±2,5. Os resíduos

que ficaram fora deste intervalo podem ser visualizados na tabela abaixo (Tabela

20).

Tabela 20 - Análise dos resíduos padronizados fora do intervalo ±2,5. Fortaleza,

2010.

Homicídio Probabilidade

estimada

Homicídio

previsto

modelo

Resíduos Resíduos

padronizados

Distancia

de Cook

Sim 0,08 Não 0,92 3,32 0,09

Sim 0,08 Não 0,92 3,32 0,09

Sim 0,06 Não 0,94 3,79 0,22

Sim 0,12 Não 0,88 2,71 0,17

Não 0,87 Sim -0,87 -2,60 0,04

Não 0,87 Sim -0,87 -2,60 0,04

Não 0,87 Sim -0,87 -2,60 0,04

Não 0,87 Sim -0,87 -2,60 0,04

Não 0,87 Sim -0,87 -2,60 0,04

Não 0,87 Sim -0,87 -2,60 0,04

Não 0,87 Sim -0,87 -2,60 0,04

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Não 0,87 Sim -0,87 -2,60 0,04

Não 0,91 Sim -0,91 -3,22 0,06

Não 0,91 Sim -0,91 -3,22 0,06

Não 0,91 Sim -0,91 -3,22 0,06

A estatística de influência escolhida para analisar nossos resíduos foi a

distância de Cook que é uma medida da mudança no coeficiente de regressão se

um caso é retirado do modelo, sendo que se o caso apresentar um valor maior do

que um para a distância de Cook será considerado problemático para o modelo, pois

este caso está influenciando a estimação dos parâmetros.

Os resíduos do nosso modelo, embora apresentem alguns valores que

mereçam atenção, não exercem influência indevida na estimação, pois em nenhum

deles a distância de Cook ultrapassou um. E 99% dos resíduos estão de acordo com

a variação normal esperada para um modelo bem ajustado.

Por fim, analisa-se a relação não ajustada e ajustada entre variáveis

independentes, que foram selecionadas para o modelo multivariado final, e

Homicídios, em residentes de Fortaleza, CE, ano 2010 (Tabela 21).

Depois de ajustado, obteve-se associação com significância estatística (p ≤

0,05) entre Homicídio e as seguintes variáveis: faixa etária, sexo, estado civil e bairro

de ocorrência. Dentre essas variáveis, apresentaram-se como fatores de risco ao

homicídio pertencer às categorias: adolescente (OR ajustada: 18,44; I.C.95% entre

9,57- 35,54); masculino (OR ajustada: 2,83; I.C.95% entre 1,92- 4,19); sem vínculo

conjugal (OR ajustada: 1,58; I.C.95% entre 1,14- 2,18) e bairro de ocorrência de

renda menor (OR ajustada: 5,13; I.C.95% entre 2,13- 12,36).

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Tabela 21- Associação não ajustada e ajustada entre Homicídio, Faixa etária, Sexo, Estado civil e Ocorrência. Fortaleza,

2010.

Variável N Razão de

Chances Bruta IC (RC) 95%

N

modelo

Razão de

chances ajustada

Exp. (β)

IC (Exp. Β)

95%

Valor P

Teste de

Wald

Faixa Etária

Adolescente 338 23,82 14,66 - 38,70 223 18,44 9,57 - 35,54 0,00

Jovem 417 16,05 10,13 - 25,43 277 11,99 6,46 - 22,25 0,00

Pré-adolescente 31 12,83 5,45 - 30,20 20 8,85 2,89 - 27,09 0,00

Adulto 1073 6,82 4,46 - 10,42 699 5,56 3,17 - 9,75 0,00

Criança 37 2,26 0,98 - 5,19 21 2,58 0,87 - 7,63 0,09

Idoso 192 1 - 115 1 - -

Sexo

Masculino 1818 3,89 2,93 - 5,17 1198 2,83 1,92 - 4,19 0,00

Feminino 262 1 - 157 1 - -

Estado Civil

Sem vinculo conjugal 1696 2,85 2,26 - 3,59 1109 1,58 1,14 - 2,18 0,01

Com vinculo conjugal 381 1 - 246 1 - -

Bairro de Ocorrência

Renda Menor 173 8,82 3,88 - 20,07 169 5,13 2,13 - 12,36 0,00

Renda Média 1192 3,31 1,57 - 6,98 1154 2,34 1,05 - 5,22 0,04

Renda Maior 34 1 - 32 1 - -

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100

5.4. ANÁLISE DE CONCORDÂNCIA

Mediante a comparação entre os códigos CIDPEFOCE e CIDSMS, tem-se a

frequência de códigos coincidentes de 7,47%.

Ressalta-se que, para a comparabilidade de pareamento, foi utilizada a

verificação do quarto dígito após o ponto. Esta decisão metodológica gerou um

sensível distanciamento das codificações, visto que as especificidades inerentes do

quarto dígito no banco da pesquisa foram muitas vezes inócuas por impossibilidades

de serem contempladas exclusivamente com informações contidas nas “linhas a,b,c

e d” da seção das Condições e Causas dos óbitos da DO.

Observa-se baixa completitude da variável Local da ocorrência do óbito na

pesquisa, o que dificulta em segunda instância a eleição de um código oficial com a

referida especificidade dos quatro dígitos.

Verifica-se uma inadequação da CID com o arsenal das informações da seção

Condições e Causas do óbito, donde há a necessidade da verificação de demais

campos (Local de ocorrência) e implementação de informações de fontes “externas”

para a tomada de decisão dos profissionais da CEVEPI na eleição de códigos.

Utilizando o Kappa para medir o grau de concordância entre as codificações

das causas básicas intituladas no banco de CIDPEFOCE e CIDSMS, com um nível de

significância de 5%, rejeita-se a hipótese de o Kappa seja igual a zero, ou seja, há

alguma concordância entre CIDPEFOCE e CIDSMS.

Observa-se na Tabela 22, o Kappa encontrado foi 0,069, sendo considerada

fraca a concordância entre os códigos.

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101

Tabela 22 – Análise de Concordância entre as codificações de causas básicas dos óbitos por

causas externas. Fortaleza, 2010.

5.5. ANÁLISE ESPACIAL

Serão apresentados nessa seção os resultados referentes à Análise Espacial

proposta para o grupo dos óbitos com a causa básica de morte de maior proporção

para os residentes no município de Fortaleza, no ano de 2010: os Homicídios.

Tal análise procurou identificar e apresentar os bairros segundo a distribuição

da ocorrência de homicídios. Em um primeiro momento, tem-se uma simples

representação das taxas de homicídios por bairro, onde as áreas com vermelho mais

intenso denotam bairros mais propícios à ocorrência de homicídios.

O cálculo das taxas foi obtido pelo quociente entre o número de ocorrências

de óbitos por homicídios e a população referência do bairro.

Medida de Simetria

Valor

Erro padrão

assintóticoa

T aprox.b

Sig.

Aprox.

Medida do

acordo

Kappa .069 .005 41.934 0.000

a. Não considerando a hipótese nula.

b. Uso de erro padrão assintótico considerando a hipótese nula.

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102

Figura 02- Distribuição das taxas de homicídios por bairros de ocorrência.

Fortaleza, 2010.

O plano acima foi dividido em cinco faixas segundo a de taxa de homicídios por

bairro de ocorrência (taxa de 1 a 50 por 100.000 habitantes; taxa de 51 a 100 por

100.000 habitantes; taxa de 101 a 150 por 100.000 habitantes; taxa de 151 a 200

por 100.000 habitantes; taxa de 201 a 550 por 100.000 habitantes).

Tem-se os seguintes resultados apresentados em quantitativo de bairros e as

taxas correspondentes: 72 bairros compreendidos entre taxas de 1 a 50 por 100.000

habitantes; 19 bairros com taxas de 51 a 100 por 100.000 habitantes; cinco bairros

com taxas de 101 a 150 por 100.000 habitantes e dois bairros com taxas entre 201 e

550 por 100.000 habitantes.

Dentre os bairros com as maiores taxas de ocorrência de homicídios,

apresenta-se o Centro com uma taxa de 511,59 por 100.000 habitantes e Pedras

com uma taxa de 298,06 por 100.000 habitantes.

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103

Abaixo, apresenta-se a tabela demonstrando os cinco bairros com taxas de

ocorrência de homicídios entre 101 e 150 para 100.000 habitantes.

Tabela 23- Distribuição dos bairros segundo ocorrência de homicídios com taxas entre 101-150

por 100.000 hab. Fortaleza, 2010.

Bairros Nº de Homicídios

Bom Jardim 51

Pirambu 21

Praia do Futuro 9

Castelão 7

Moura Brasil 4

Ressalta-se que os demais bairros se encontram com taxas menores que 50

para 100.000 habitantes.

Para a avaliação da análise realizada foi calculada a auto correlação espacial

através do Índice de Moran. Tal índice é um coeficiente muito útil para medir a

correlação espacial.

O Índice de Moran varia, da mesma forma que o coeficiente de correlação

linear, de -1 a 1. Para o caso em questão, tem-se o Índice de Moran Global, na qual

não foi significante. Nesta análise, não se observa correlação de uma área

específica para áreas vizinhas.

Tabela 24 – Índice de Moran Global. Fortaleza, 2010.

Índice de Moran Global

Valor p-valor

-0,0365 0,217

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104

Mapa de Kernel

Neste método estatístico de análise espacial cada uma das observações é

ponderada pela distância em relação a um valor central, o núcleo. Dito de forma

simples, o Mapa de Kernel é uma alternativa para análise geográfica do

comportamento de padrões, onde permite facilmente identificar “pontos quentes” e

agrupar pontos. No mapa, é plotada, por meio de métodos de interpolação, a

intensidade pontual de determinado fenômeno em toda a região de estudo. Assim,

tem-se uma visão geral da intensidade do processo em todas as regiões do mapa.

No mapa abaixo, tem-se a densidade de Kernel calculada sobre a taxa de

homicídio, no qual tal informação é apresentada por cores que “escurecem

gradativamente”. Assim, observa-se visualmente a intensidade de homicídios sobre

a capital do Ceará (Fortaleza).

Figura 03- Distribuição da densidade de ocorrência de homicídios por Kernel.

Fortaleza, 2010.

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105

Logo abaixo têm-se dois bairros que se destacaram, ou seja, representaram no

mapa acima “áreas quentes”, segundo a estatística de Kernel.

Tabela 25 –Kernel por bairros de “áreas quentes”. Fortaleza, 2010.

Bairros Densidade de

Kernel

Moura Brasil Muito Alta

Pedras Alta

Para uma “média” densidade de homicídios, apresentam-se apenas dois

bairros: Ancuri e José Bonifácio.

Demais bairros foram agrupados segundo a estatística de Kernel da seguinte

maneira:

Tabela 26 –Kernel por densidade de homicídios. Fortaleza, 2010.

Densidade de

Homicídios Quantidade de

Bairros

Baixa 53

Muito Baixa 43

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106

6. DISCUSSÃO

O Sistema de Informação sobre Mortalidade foi criado em 1975 pelo Ministério

da Saúde do Brasil, tendo iniciado sua descentralização em 1992 (BRASIL, 2001).

A descentralização permitiu a obtenção de dados no território brasileiro, do

menor município ao mais populoso, favorecendo aos setores gerenciais o

planejamento de ações para o campo da saúde ao permitir a elaboração de

indicadores sensíveis que identificam grupos de risco, promovendo melhoria na

qualidade de vida e desenvolvimento social (HARAKI, GOTLIEB e LAURENTI, 2005;

FAJARDO, AERTS e BASSANESI, 2009).

A participação do município, sendo esse espaço de aproximação entre

cidadãos e instituições governamentais e não governamentais, permeia a

possibilidade de mobilização dos setores sociais para a negociação de metas,

compromissos e responsabilidades operativas, técnicas e financeiras para a redução

da violência (SIMÕES e REICHENHEIM, 2001).

As fontes oficiais dos dados sobre mortalidade por causas externas englobam

as Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde e as Secretarias de Segurança

Pública. Faz-se necessária uma sensibilização quanto à importância de dados

transparentes e confiáveis para atestar a real situação sanitária das unidades da

federação brasileira, e, ainda, uma interlocução entre estas instituições para o

aprimoramento do processo gerador das informações em saúde. Muitas vezes, os

objetivos a priori distintos destas instituições e o não entendimento de suas funções

sociais conduzem a perdas de dados e a uma descaracterização da população

estudada (BARROS, XIMENES e LIMA, 2002).

A prevenção da violência apresenta-se como grande desafio para a sociedade

civil e o setor saúde. No ano de 2002, a OMS ampliou a discussão da prevenção da

violência como meta, apontando para a necessidade de prioridade de ações no

campo da Saúde Coletiva (CONCHA-EASTMAN e MALO, 2006).

Concha-Eastman e Malo (2006) classificam a violência em três níveis: i.

Interpessoal, incluindo a violência na família, quando as vítimas em destaque podem

ser mulheres e crianças, na comunidade, nas ruas e espaços públicos; ii. Coletiva,

incluindo grupos organizados; iii. Auto infligida, como suicídios e abusos. Os autores

destacam a abordagem da violência como componente da saúde pública devido aos

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107

seguintes aspectos: magnitude da morbimortalidade, principalmente entre adultos

jovens; o impacto dos altos custos sociais para o setor saúde; por afetar não

somente um indivíduo, mas uma coletividade de pessoas de forma direta e indireta;

por gerar efeitos negativos sociais e econômicos no desenvolvimento dos países e,

ainda, pelo efeito de reduzir a liberdade das pessoas e a qualidade de vida.

Soares Filho et al (2007) discutem a capacidade dos SIS-SUS em gerar

análises produtoras de hipóteses epidemiológicas e sua habilidade de

acompanhamento de atividades e respostas a intervenções realizadas, permitindo

monitoramento de eventos. Exclamam para a possibilidade de, mediante seu

aprimoramento, utilização dos SIS-SUS em análises capazes de gerar evidências,

instrumentos capazes de modificar a situação de saúde das coletividades humanas.

Nos últimos anos, através da análise epidemiológica do panorama da

violência no Brasil (em especial no estado do Ceará, podendo ser percebido com a

leitura da série histórica disposta no Anexo B), destaca-se o impacto da violência

dentre os indicadores de morbimortalidade disponíveis nos bancos de dados

referentes à informação em saúde do país. A magnitude da violência social se

manifesta através desses indicadores, apontando para a gravidade do tema no

âmbito da Saúde Coletiva (CEARÁ, 2014).

No caso do estado do Ceará, ao analisar a série histórica de Exames

Cadavéricos e suas causas entre 1990 e 2013 realizados pela PEFOCE (sede

Fortaleza), observa-se a tendência crescente, exceto para o período entre 2002 e

2008. O fato pode ser explicado pela inauguração de Núcleos de Perícia Forense

nas Regiões Sul e Central do estado. Importante observar que, a partir de 2008,

houve um acréscimo importante no número total de exames cadavéricos realizados

(em 2008, houve 3.391 e em 2013, 5879, representando acréscimo de 74%).

O presente estudo de tese amplia seus objetivos para além da apresentação

do perfil epidemiológico dos óbitos por causas externas de residentes em Fortaleza,

avaliando a completitude da DO, subnotificação de óbitos e codificação de causa

básica; discutindo a causa principal (homicídio), analisando fatores de risco

associados aos homicídios e, ainda, apontando a Análise Espacial de homicídios

segundo bairros de ocorrência. Em concordância com inúmeros autores, aponta

fragilidades no Sistema e gera uma proposição de melhoria da qualidade.

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108

Debatendo sobre o perfil epidemiológico dos óbitos de residentes de Fortaleza, ano

2010.

As taxas de morte por violência nos principais centros urbanos brasileiros têm

destaque como as mais altas no continente americano. Entretanto, essas taxas

mostram distribuição desigual entre gênero, raça/cor, idade e espaço social. Na

avaliação da magnitude da violência, analisando para além da mortalidade por essa

causa, estudos indicam que o número de internações por acidentes e violência

representa o sêxtuplo do número de morte por essas causas (SOUZA e LIMA, 2007).

A análise descritiva da tese apresenta distribuição também desigual entre as

categorias que compõem as variáveis sócio demográficas. Na avaliação da

distribuição de gênero, observamos como sendo a mais discrepante, donde 87,3%

dos óbitos por causas externas foram do sexo masculino. Apresentam-se as

principais proporções das demais variáveis: 78,9% pardos; 77,0% solteiros; 37,4%

com escolaridade entre 4 a 7 anos e a média de idade dos óbitos como sendo de

32,9 anos.

Debatendo sobre a qualidade do preenchimento da DO, completitude e

subnotificação dos óbitos de residentes de Fortaleza, ano 2010.

SILVA et al (2013) discutem a existência de aspectos multifatoriais para

avaliação de um Sistema de Informação: completitude das variáveis; fidedignidade e

consistência. Considerando-se unicamente o primeiro aspecto, já é possível verificar

a qualidade de um dado sistema.

Mello Jorge, Gotlieb e Laurenti (2002) demonstram fragilidades na avaliação

da qualidade do Sistema de Informação sobre Mortalidade e apontam possibilidades

de propostas ao enfrentamento. A compreensão da informação sobre os eventos

relacionados às causas externas permite, além do monitoramento de sua tendência,

avaliar o impacto de intervenções e políticas públicas voltadas à sua redução.

Barros, Ximenes e Lima (2002) chamam atenção para o fato das implicações

dos altos percentuais de ignorados e ausência de preenchimento para as variáveis

indispensáveis e essenciais, minimizando o entendimento da complexa rede de

fatores associados aos eventos violentos.

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109

No desenvolvimento da presente tese, salienta-se a possibilidade da

produção de Sistemas de Informação de melhor qualidade, mediante a utilização da

pesquisa científica, resultantes de alianças estabelecidas entre a qualidade e a

redução dos números ligados à violência no nosso país. A capacidade da indução

das hipóteses epidemiológicas sobre relações causais dos óbitos por causas

externas será tão transparente e verdadeira para a Saúde Coletiva quanto a

qualidade de sua rede de informação em saúde.

Autores discutem possíveis caminhos para se propor soluções, sendo os mais

significativos, a geração de dados de qualidade para o reconhecimento do impacto

epidemiológico do problema, pesquisas que apontem para relações causais da

violência, conhecimento de intervenções bem sucedidas na redução do problema e

a articulação entre setores governamentais e da sociedade civil (CONCHA-

EASTMAN e MALO, 2006).

Discutindo a importância do tema, fundamentam-se o que preconiza o MS

quando salienta que as estatísticas sobre mortalidade são indispensáveis para

elaboração e análise dos principais indicadores de saúde. Acrescenta também que

os dados relativos às variáveis idade, sexo, estado civil, ocupação, naturalidade e

local de residência se, por um lado, servem para identificar o falecido, por outro,

constituem-se em valiosos elementos nas pesquisas epidemiológicas (BRASIL,

1997).

Estudos analisam a grande evolução técnica dos SIS-SUS como capaz de

tencionar o maior acesso aos bancos de dados, e, consequentemente, podem advir

melhor análise e maior exigência de compatibilidade por parte dos usuários. Desta

forma, as inconsistências têm levado as instituições geradoras dos dados referentes

às causas externas a ter uma maior preocupação com a qualidade do SIS-SUS

(BARROS, XIMENES e LIMA, 2002).

O MS, mediante a informatização do SIM, classificou para efeito de crítica e

correção dos dados as variáveis da DO da seguinte forma: indispensáveis (aquelas

cuja falta implica não computação no sistema, havendo a investigação para o

cumprimento do preenchimento), sendo o ano e o tipo do óbito; essenciais (as mais

utilizadas em estudos, sendo prioridade para crítica e correção dos dados), sendo

sexo, idade, município de ocorrência, município de residência, causa básica e tipo e

violência; secundárias (aquelas que não têm prioridade para crítica e correção,

apesar da grande importância se classificam desta forma por não atingirem níveis

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110

satisfatórios de qualidade), sendo todas as demais (BRASIL, 1997).

São apresentados no estudo de tese, para as variáveis essenciais, a seguinte

avaliação de qualidade ao analisar a classificação de completitude: sexo

(completitude excelente); idade (completitude baixa); município de ocorrência

(completitude excelente); município de residência (ausência de incompletude); causa

básica (completitude baixa) e tipo de violência (completitude baixa). Ressaltamos

que houve ausência de incompletude na variável município de residência devido aos

critérios de inclusão descritos no Capítulo 4 referente ao Material e Métodos,

inexistindo validade na classificação de sua completitude.

Dentre estudos que observaram o comportamento quanto ao preenchimento

de variáveis relativas à pessoa e a lugar, temos o estudo realizado por Barros,

Ximenes e Lima (2001). Os autores estudaram DO por causa externas na cidade do

Recife apontando, na série entre 1979-1995, as variáveis de pior evolução no

preenchimento. Apontaram estas como sendo: instrução; assistência médica e local

da ocorrência do óbito. A variável assistência médica apresentou mais de 60% de

ausência de preenchimento.

O estudo acima descrito corrobora a presente tese, com ressalvas para

completitude de melhor avaliação observada na tese. Na avaliação da completitude

das variáveis relativas à pessoa (raça/cor e escolaridade), encontram-se os maiores

percentuais de ausência de preenchimento (respectivamente 38,41 e 33,89% de

ausência de preenchimento, classificando a completitude como baixa). A

escolaridade demonstra o maior percentual de “ignorado” como resposta (10,70%).

Quanto às variáveis relativas ao lugar, no nosso estudo, a variável local de

ocorrência do óbito, apesar de sua importância para possibilitar boa qualidade de

codificação de causa básica, apresenta completitude baixa.

Segundo o MS (2009), a frequência da informação “não preenchida” para as

variáveis relativas ao sexo e à idade vem se mantendo, ao longo do tempo, em

níveis bastante baixos, permitindo leitura epidemiológica satisfatória. O MS afirma

melhora incontestável do SIM, tanto no que diz respeito à cobertura, quanto à

qualidade das informações no território brasileiro. A variável mais sensível a

corresponder este espectro de melhora gradativa corresponde à causa básica dos

óbitos. Corroborando os dados do MS, para a variável sexo, encontramos apenas

1,23% de ausência de preenchimento. Em contrapartida, a variável idade apresentou

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111

completitude baixa (46,0 % de ausência de preenchimento).

Na contramão do que foi identificado como tendência pelo MS, as variáveis

relacionadas às Condições e causas do óbito, apresentaram completitude baixa, em

apenas 3,89% das DO, houve preenchimento da “linha d”. Esse percentual aponta

para uma falha na classificação dos eventos fisiopatológicos que levaram ao óbito.

Em concordância com o estudo de Barros, Ximenes e Lima (2001), na tese

apresentada, a variável assistência médica apresentou mais de 60% de ausência de

preenchimento (64,47%), classificando-a como completitude baixa.

Santos, Coelho e Araújo (2013) analisaram a informação sobre raça/cor da

pele dos indivíduos submetidos à necropsia na Bahia, ano 2007. Discutem a

importância do reconhecimento das definições desta variável devido às condições

especiais de vulnerabilidade da população negra quando comparada a não negra.

Os sujeitos do estudo foram profissionais em atividades no Instituto Médico Legal.

Apontam uma multiplicidade de documentos que captam essa informação, e, ainda,

na DO ressaltam que o preenchimento deste campo, ao invés de ser preenchido

pelo médico atestante do óbito, é feito pelo profissional do setor de liberação de

cadáveres, ficando a definição da raça/cor da pele a cargo do familiar ou reclamante

do corpo.

Inúmeros estudos brasileiros apontam a fragilidade no preenchimento da

variável raça/cor, bem como a existência de problemas metodológicos na definição e

classificação desta variável, repercutindo no seu preenchimento, mensuração e

avaliação epidemiológica. A informação sobre raça tem sido utilizada em estudos

epidemiológicos como proxy do nível socioeconômico, reforçando a importância do

preenchimento correto dessa informação (BRASIL, 2012).

No presente estudo, a avaliação da qualidade quanto ao preenchimento da

variável raça/cor apresentou completitude baixa, fragilizando quaisquer análises que

pudessem advir desta variável de identificação em estudos que utilizem como fonte

de dados secundários óbitos violentos de residentes de Fortaleza, ano 2010.

Reduzindo, portanto, a possibilidade de estudos utilizando a variável como proxy do

nível socioeconômico. Pontua-se a rarefação de variáveis para definição de níveis

socioeconômicos na DO.

Discutindo a completitude de variáveis com potencial para avaliação de níveis

socioeconômicos, no caso específico da DO, estando neste formulário ausentes as

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112

variáveis como renda individual e familiar, a ocupação apresenta-se como variável

importante para classificação econômica. Entretanto, observa-se a ocupação como

variável de difícil aproveitamento por ser do tipo textual, havendo problemas de

legibilidade, e, em última instância, de classificação em categorias. Houve

evidências de rasuras, dentre fragilidades de codificação. No presente estudo, não

houve nenhuma DO com o código de ocupação preenchido, dentre um total de mais

de 2.000 óbitos.

Soares, Horta e Caldeira (2007) em avaliação da qualidade das informações

em declarações de óbito infantis, Minas Gerais, nos anos de 2002-2005, ao

comparar DO originais e DO reestruturadas a partir de informações de prontuários

médicos, encontraram a menor concordância entre causas básicas no grupo de

causas relacionadas à prematuridade (78%). Na avaliação da completude dos

campos, evidenciaram a maior proporção de informação ausente para: idade

materna (31,3%); escolaridade materna (47%); tipo de parto (22,9%); idade

gestacional (19,3%) e peso ao nascimento (28,9%).

Alarmante observar que no referido estudo, a única variável que não

apresentou ausência de preenchimento foi local de ocorrência do óbito. Os autores

identificaram, ao longo do período estudado, uma melhoria na completude das

declarações, associada possivelmente pela ampliação do sistema de saúde local,

através da implantação de duas Unidades de Terapia Infantil no município.

Almeida et al (2011) em estudo sobre avaliação da qualidade do

preenchimento das DO de óbitos fetais, excluídos os emitidos pelo Instituto de

Medicina Legal, identificaram variações na completitude dos registros mediante a

classificação da unidade hospitalar de acordo com o tipo de prestação do

atendimento. A completitude obteve pior resultado nos hospitais SUS, apresentando

a mais baixa completitude às variáveis relativas às características maternas (idade,

escolaridade e filhos anteriores). Os autores sugerem para melhoria da qualidade da

informação sobre mortalidade o desenvolvimento de rotinas que facilitem o fluxo

adequado das informações entre serviços de assistência à saúde com Serviços de

Verificação de Óbitos.

Dialogando com estudos que tiveram como foco avaliação de outro SIS-SUS

(Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos), realizado na região Nordeste, biênio

2000 e 2009, percebe-se que a completitude apresentou significativa melhora para o

período em todos os estados da região. A completitude foi considerada de boa a

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113

excelente para a maioria das variáveis, exceto raça/cor e escolaridade materna, com

destaque para os estados da Paraíba e Bahia, apresentando, respectivamente, 7,8 e

10,2% de incompletude. O mesmo padrão de deficiências na avaliação para estes

estados no preenchimento da variável escolaridade materna (SILVA et al, 2013).

Macente e Zandonade (2010) analisaram a completude das variáveis

demográficas (sexo, faixa etária, raça/cor, escolaridade, estado civil, local de

ocorrência) no SIM causas externas por suicídio no estado do Espírito Santo, na

região Sudeste e no Brasil, período entre 1996-2007. Dentre estas, a variável que

apresentou mais baixa completitude foi escolaridade, com variações entre 83,8% e

85,5% de ausência de preenchimento. Discutem o equívoco dos médicos atestantes

em imputar o sepultamento como principal, e, às vezes, única finalidade da DO, e a

necessidade da sensibilização dos profissionais para a importância dos SIS para

estudos epidemiológicos e a Saúde Coletiva.

O estudo corrobora os dados apresentados, os quais, para as variáveis de

identificação, a escolaridade apresentou completitude baixa (33,89% de ausência de

preenchimento), sendo a segunda de pior preenchimento, ficando atrás apenas da

raça/cor. Entretanto, a completitude do estudo do Espírito Santo apresenta-se

substancialmente mais baixa do que do presente estudo.

Rios et al (2013) estudaram a completude do SIM por suicídio em idosos no

estado da Bahia, no período entre 1996 e 2010. O estudo encontrou para o sexo

preenchimento excelente. No período, destacaram-se como o mais baixo nível de

completude o grau de instrução e raça/cor da pele (atingindo 100% de não

preenchimento). Referente aos resultados mais preocupantes, os autores descrevem

como preocupantes a assistência médica e a fonte da informação do óbito (atingiram

em todo o período classificação muito ruim na completude), enquanto que local da

ocorrência do óbito apresentou classificação excelente.

Os autores refletem que, apesar da melhoria da qualidade do SIM, há a

persistência de inúmeras falhas no preenchimento da DO, havendo elevado número

de informações ignoradas ou não preenchidas. Para tanto, sugerem medidas que

poderiam ser implementadas à melhoria da completude: valorização dos currículos

médicos e qualificação de profissionais; implantação, fortalecimento e atuação de

núcleos hospitalares de epidemiologia; investimento na instrução de funcionários

administrativos das células de vigilância epidemiológica e a implantação de comitês

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de mortalidade para investigação, discussão e avaliação de melhorias para o

desempenho dos SIS-SUS (RIOS et al, 2013).

Barros, Ximenes e Lima (2002) estudaram a validação, em DO por causas

externas de menores de 20 anos, de demais variáveis que não a causa básica. Os

dados da pesquisa foram considerados o padrão ouro e foram comparados ao SIM.

Utilizaram como medida para avaliar concordância o Kappa. Validaram as variáveis

da pessoa (data de nascimento, data do óbito, sexo, idade, ocupação, instrução, tipo

de violência, tipo de acidente e assistência médica) e de lugar (local e município de

ocorrência do óbito e local do acidente). O Kappa foi considerado ótimo para sexo,

idade e tipo de violência; bom para tipo de acidente; e fraco para assistência médica.

Com relação às variáveis relativas a lugar, as medidas de Kappa foram consideradas

“sofríveis”.

Cordeiro et al (1999) analisaram, em estudo no estado de São Paulo, a

validade das informações sobre ocupação habitual do falecido e causa básica do

óbito. Foram estabelecidas como padrão-ouro entrevistas domiciliares e análise

documental médica. Encontraram, mediante análise do indicador Kappa, muito baixa

correlação para a variável ocupação (concordância de 37,7% e Kappa de 0,31). Já

para a causa básica, a concordância simples foi de 83,1%. No estudo, os autores

identificaram, dentre 549 DO, ausência do preenchimento do campo ocupação

habitual em 58,7% dos óbitos avaliados.

A tese aponta a ocupação como variável com ausência de preenchimento de

9,53%, e com ausência do código de ocupação em 100% das DO. A codificação da

ocupação seriam uma importante tomada de iniciativa e conscientização por parte

dos médicos atestantes, possibilitaria a utilização desta importante variável como

proxy do nível socioeconômico.

Os autores alertam para a escassez de publicações sobre a validade destas

variáveis no Brasil, diferentemente do escopo internacional. Inúmeros estudos

internacionais corroboram a baixa correlação para a ocupação habitual do falecido

(CORDEIRO et al, 1999).

Mello Jorge et al (2012) discutem a evolução do SIM desde sua criação aos

dias atuais e observam que a melhoria tanto na cobertura quanto na qualidade das

informações pode estar associado a sua gestão nos níveis estadual e municipal. A

investigação de óbitos conduz a uma melhor qualidade das informações, mas requer

custos altos e recursos humanos especializados.

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Estudos em busca da melhoria da qualidade das informações sobre óbitos por

causas externas têm apontado para os avanços da Informática de forma vetorial.

Este campo tem evoluído e gerado importante interface entre as vastas áreas das

ciências, incluindo os campos das ciências sociais e da saúde. O relacionamento

entre bancos de dados melhora a qualidade de um dado sistema de informação

mediante a intersecção gerada com as informações de um mesmo indivíduo

registrada noutro sistema, técnica denominada de linkage (ALMEIDA e MELLO

JORGE, 1996; MELLO JORGE et al, 2012).

Em estudo sobre averiguação de óbitos em idosos e utilização do linkage,

MELLO JORGE et al (2012) comprovam a viabilidade do uso da técnica e melhoria

na qualidade da classificação das causas básicas, gerando indicadores de saúde

com maior fidedignidade. Neste estudo, após o linkage, as causas de morte por

acidentes de transporte e quedas triplicaram após relacionamento dos bancos de

dados incluídos na pesquisa.

O estudo presente, nas suas considerações finais junto à equipe da CEVEPI,

propôs uma discussão sobre a possibilidade da utilização no município de Fortaleza

de linkage de bancos de dados, dentre eles do Departamento de Trânsito do estado.

Percebeu-se um importante interesse da gestão municipal de introduzir a

ferramenta, uma real sensibilidade da capacidade de melhorar a informação sobre

mortalidade mediante a intercomunicação entre bancos de dados.

Castro, Assunção e Durante (2003) compararam dados sobre homicídios a

partir de duas fontes de dados em minas Gerais no período entre 1986 e 1998. As

fontes estudadas incluíram a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) e o SIM e a

comparação entre os dois sistemas foi feita através da razão entre os números

absolutos de óbitos por homicídios e da regressão linear.

Os autores encontraram diferenças inversamente proporcionais na razão

entre óbitos registrados pela PMMG e pelo SIM quando comparadas aos portes do

município. Para municípios até 50.000 habitantes, a razão foi de 1,5 e de 0,8 para

cidades com mais de 200.000 habitantes. Com relação ao comportamento das taxas

de homicídios e o porte dos mesmos, para o período, observaram que as taxas

declinaram no tempo no caso dos municípios menores e aumentaram para os

municípios com mais de 100.000 habitantes (CASTRO, ASSUNÇÃO e DURANTE,

2003).

Debatendo a vertente da qualidade no que tange à subnotificação de óbitos

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no SIM, Kanso et al (2011) destacam que a utilização de dados está sujeita à

qualidade dos mesmos. Salientam a melhora expressiva da coleta e qualidade dos

dados no Brasil, mas reconhecem haver ainda lacunas importantes relacionadas a

fragilidades no preenchimento e às subnotificações.

Estudos que medem a qualidade da informação em saúde (CARVALHO et al,

1990; SOARES, HORTA e CALDEIRA, 2007; CUNHA, CAMPOS e FRANÇA, 2011)

permitem, mediante a análise da validade das informações e da ocorrência de

subnotificação de eventos, a necessidade ou não de uma cobertura mais satisfatória

do sistema, garantindo melhor precisão na determinação da causa básica, o menor

(ou a inexistência de) registro de óbitos subnotificados nos bancos de dados oficiais,

permitindo a garantia da coleta de informações confiáveis.

Cunha, Campos e França (2011) realizaram estudo em Minas Gerais para

compreender a subnotificação dos óbitos e fatores associados. Foram estudados

dez municípios de uma determinada região no ano de 2007. Apontam para uma

subnotificação de 26.5% do total de óbitos no ano do estudo. O porte populacional

do município se associou significativamente (20.000 habitantes ou mais,

pvalue=0,000). Apontaram que o maior percentual de subnotificação ocorreu nos

óbitos ocorridos nos meses de novembro e dezembro, sugerindo atrasos na coleta e

processamento de dados. Limitações no processamento de dados podem ser

explicadas por fragilidades na transferência de dados do município ao estado ou

sobrecarga de trabalho dos profissionais da saúde.

O referido estudo acima descrito entra em discordância com o percentual de

óbitos subnotificados no presente estudo. Encontra-se, dentre o total de óbitos que

deram entrada no estudo, mediante a coleta direta das DO na PEFOCE- Fortaleza,

63 foram subnotificados no banco de dados oficial do MS. Este valor representa

3,07% do total de óbitos por causas externas para residentes em Fortaleza, no ano

do estudo. Importante salientar que o valor é sensivelmente menor do que de vários

estudos brasileiros.

Questiona-se o valor da subnotificação junto à CEVEPI. Os profissionais

declararam haver um conjunto de óbitos de 2010 que não foram digitados no

sistema por questões das datas de recebimento das emissões das DO entre

novembro e dezembro de 2010. Possivelmente, houve alguma falha no

encaminhamento das DO da PEFOCE à SMS no período.

Salienta-se para a especificidade de subnotificação de óbitos tendo como

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causa o suicídio. Estudos indicam que se pode associar às situações de problemas

na eleição da causa básica, imprecisão dos instrumentos de captação de dados,

pela existência de cemitérios clandestinos e por destruição de cadáveres

(MACENTE e ZANDONADE, 2010).

Autores registram a existência da associação entre qualidade deficiente dos

registros dos dados e condições socioeconômicas e de saúde das coletividades

humanas, bem como grau de desenvolvimento regional. E, ainda, a subnotificação

dos óbitos em geral, reflete o grau de desigualdade no acesso aos sistemas de

serviços de saúde (CUNHA, CAMPOS e FRANÇA, 2011).

Debatendo sobre a eleição da causa básica no preenchimento da DO dos óbitos de

residentes de Fortaleza, ano 2010.

Silva et al (2013) analisaram as DO (óbitos não violentos) registradas no SIM

da cidade de Belém, PA, ano de 2010. Foram avaliados o preenchimento dos

campos e sua legibilidade. Dentre as DO estudadas, encontram 98,7% destas com

pelo menos um equívoco no preenchimento (preenchimento incompleto). Com

relação à eleição da causa básica, observaram que apenas 28,5% das causas

básicas estavam consideradas corretas, enquanto 71,5% apresentavam erros,

sendo o mais comum a utilização de termos classificados como “vagos”. O campo

referente ao tempo de evolução entre a doença e o óbito foi o que apresentou a

maior quantidade de campos com preenchimento incompleto, apresentando índice

de 98,7% das declarações estudadas.

O estudo de tese presente identificou uma importante falha no preenchimento

da seção das condições e causas dos óbitos. Há uma amostragem decrescente de

preenchimento das “linhas a, b, c e d”. Obteve as seguintes ausências de

preenchimento: “linhas b” de 45,19%; “linha c” de 84,78% e “linha d” de 96,11% dos

registros das DO. O fato denota e põe em questão a normatização vigente no país

de preenchimento das sequências fisiopatológicas que levaram ao óbito.

Adicionalmente, KANSO et al, 2011, afirmam em estudo sobre qualidade da

informação de morte em idosos que a fragilidade na qualidade da informação sobre

a causa básica de morte não se mostrou independente da qualidade do

preenchimento das variáveis restantes da DO.

Pesquisas realizadas com os profissionais médicos revelaram que 80%

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destes apontam a falta de clareza nas instruções contidas no próprio instrumento

como a maior dificuldade para o correto preenchimento (MENDONÇA, DRUMOND e

CARDOSO, 2010).

Estudos apontam que os problemas no preenchimento do SIM tendem a ser

minimizados quando o óbito é classificado como causa externa, sendo seu

preenchimento de responsabilização de um médico atestante legista. Estudos

indicam que um dos fatores sensíveis para o aprimoramento das informações

referentes à classificação da causa básica do óbito é a realização da autópsia.

Países como os do Reino Unido propõem que 100% dos óbitos do tipo fetais sejam

autopsiados (SOARES FILHO, 2007; ALMEIDA et al, 2011).

Essa constatação, de origem na literatura científica, gerou uma imensa

motivação intrínseca da pesquisadora em avaliar a qualidade do SIM-Causas

externas. Foram observadas, no entanto, importantes fragilidades nesta qualidade,

descritas no tópico acima.

Em estudo no estado de São Paulo, os autores encontraram informações

mais detalhadas e de melhor qualidade nas DO emitidas por Serviços de Verificação

de Óbitos (SVO), entretanto, a maior parte das DO apresentou como causa básica

do óbito a morte fetal de causa não especificada (ALMEIDA et al, 2011).

Villela et al (2012) discutem a fragilidade na classificação das causas básicas,

quando as circunstâncias dos óbitos são substituídas pela natureza da lesão.

Iniciativas para este enfrentamento foram propostas em grandes capitais, a exemplo

de Belo Horizonte desde 2000. Além dos relatórios médicos, são também avaliados,

com os mesmos critérios, relatórios de outros profissionais de saúde, perícias e

laudos necroscópicos e, ainda, notícias veiculadas em jornais. Dentro das causas de

intenção indeterminada, houve uma migração de dados gerando aumento de 220%

nos óbitos envolvendo automóveis e de 100% nos acidentes com bicicleta e

motocicleta.

Lima e Mota (2011), em estudo ecológico sobre Causas Mal Definidas (CMD)

no estado do Piauí, na avaliação das tendências no período entre 2000 e 2006,

observaram no SIM uma falência na completitude do campo Médico atestante em

73,2% dos óbitos com CMD. Nosso estudo apontou essa falência representando

0,43%.

A fragilidade nas especificações das causas básicas pode ser vista quando há

a indicação unicamente da natureza da lesão, indicando que a morte foi por acidente

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ou violência, não reconhecendo, portanto, as circunstâncias do óbito. No Capítulo

dos Resultados, apresentamos para a descrição dos componentes da “linha d” a

comprovação desta constatação que corrobora inúmeros estudos brasileiros. A

causa que mais se repetiu nas DO estudadas, dentre apenas 83 descrições na “linha

d”, foi “instrumento perfurocontundente”, que não traduz as circunstâncias do óbito.

Haraki, Gotlieb e Laurenti (2005) buscaram identificar a confiabilidade do SIM

no estado de São Paulo. No estudo, compararam a causa básica elaborada a partir

de entrevistas domiciliárias, prontuários médicos e laudos de necropsia com a causa

básica apontada pelo médico atestante. Na investigação da assertividade do registro

do total de óbitos registrado, compararam as informações do SIM com o IBGE.

Observaram, para a década de 80, o IBGE com 60% a mais de captação de dados,

com aumento progressivo de captação pelo SIM (em fins da década, o SIM captava

3,7% a mais que o instituto). Nas declarações de óbito com diagnóstico incompleto,

59% passaram a ter causa básica definida, 16% mudaram e, apenas, 24%

permaneceram com a mesma causa básica.

Autores discutem a fragilidade na responsabilização do médico atestante por

visualizar no instrumento apenas o caráter de sua exigência legal. Diversos autores

estão em concordância quando versam acerca de que a fidedignidade das

informações será melhor garantida quando houve maior interferência das instituições

formadoras de profissionais quanto à importância epidemiológica das informações

em saúde (HARAKI, GOTLIEB E LAURENTI, 2005).

Kanso et al (2011) citam a pouca importância dada ao ensino sobre o

preenchimento de formulários referentes aos registros vitais e a baixa valorização da

DO como documento de relevância epidemiológica. Este foi um importante fator

motivador da pesquisadora na investigação epidemiológica do estudo, pela

experiência docente em Graduação de Medicina há quase uma década.

Em estudo para medir a confiabilidade das informações de causas básica no

Rio de Janeiro, Simões e Reichenheim (2001) compararam a codificação das causas

básicas geradas pelo médico atestante e pelos codificadores da SMS, encontrando

fraca concordância entre estas, corroborando a hipótese de que as informações

geradas na DO de responsabilidade do médico atestante são inadequadas à

formulação da codificação final pela SMS. Valendo salientar que, apesar dos

esforços das Secretarias Municipais de Saúde no processo aprimorado de

codificação das causas básicas, a responsabilidade social e legal de informar a

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causa básica do óbito é do médico legista.

Kanso et al (2011) estudaram a associação entre a qualidade da informação

sobre mortalidade e o nível de desenvolvimento socioeconômico das regiões entre

idosos no Brasil. Apontam a relação diretamente proporcional entre a idade do

falecido e a proporção de CMD. Observaram menor proporção de CMD nas capitais

brasileiras, com exceção de Fortaleza, com o dobro de CMD quando comparada aos

demais municípios do estado. Encontraram no conjunto das variáveis

socioeconômicas: não ser branco aumentando a chance de ter CMD; escolaridade

do idoso inversamente proporcional às ocorrências de CMD. O tipo de atenção à

morte (sem assistência médica) apresentou o maior aumento de chance de ter CMD

(14 vezes). E, ainda, associaram a completitude da DO com a ocorrência de CMD:

quando a variável “lugar da ocorrência do óbito” não foi preenchida, houve 11 vezes

mais chances de ter CMD; e, quando a variável escolaridade estava sem

preenchimento, a chance de apresentar CMD com causa básica do óbito foi 91%

maior do que para o grupo com oito ou mais anos de escolaridade.

Na avaliação das causas básicas dos óbitos, o suicídio no país apresenta

coeficientes com grandes variabilidades. Enquanto a Região Sul apresenta os

maiores coeficientes, a Norte abriga os menores índices. As premissas que

estabelecem as relações causais para as distribuições dos eventos serão mais

frágeis na medida da imprecisão da disponibilidade e da qualidade dos dados. A

debilidade na classificação da causa básica dos óbitos torna-se ainda mais grave

quando esta aponta para o suicídio. Há fatores variados, sendo eles religiosos,

sociais, culturais, políticos, econômicos, dentre outros. Estimativas mostram que a

subnotificação por esta causa pode variar entre 20 e 100% na determinação da

causa básica do óbito. (MACENTE e ZANDONADE, 2010, RIOS et al, 2013).

Segundo Schoeps et al (2009), para assegurar a qualidade das informações é

necessário garantir processos adequados na etapa anterior à coleta dos dados,

como protocolos de registros e coleta de dados com definições claras, o treinamento

e a sensibilização dos profissionais responsáveis pelo preenchimento. Conclui que

a atividade interdisciplinar está incorporada na rotina hospitalar, havendo

comprometimento na busca de soluções diante das dificuldades, e ampliação na

compreensão das finalidades e usos das informações produzidas.

Pedrosa, Sarinho e Ordonha (2007) avaliaram a adequação das informações

sobre mortalidade (óbitos infantis) no município de Maceió, Alagoas. Buscaram

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definir sua validade e confiabilidade mediante a análise da concordância entre causa

básica do SIM e as definidas por análises de prontuários médicos (padrão ouro do

estudo). Encontraram, em causas do óbito como sendo maternas e do parto, 53,1%

de concordância, com sensibilidade de 8,8%, e, em causas do óbito como definidas

no grupo de prematuridade, 95,2% de concordância, com sensibilidade de 44,4%.

Mendonça, Cardoso e Drumond (2010) apresentam estudo realizado no

município de Belo Horizonte, MG, que utiliza a ontologia (apresentando como

parâmetros de fundamentação: colaboração e informação; compartilhamento;

padronização e confiabilidade) no âmbito de domínio da mortalidade, com a

finalidade de melhorar a informação em saúde gerada sobre os indicadores de

mortalidade. Entende-se por ontologia uma definição de um vocabulário, conceitos,

subclasses como o fim de facilitar a geração e utilização de dados. Utilizaram o

método 101 (Noy e McGuiness, 2000). As ontologias devem ter na sua composição

clareza, objetividade, coerência e extensibilidade. Ainda, a completitude se mostra

como um dos princípios a serem atingidos com sua utilização. Os passos para sua

construção incluem: a definição de classes dentro das variáveis embutidas nos

instrumento e hierarquização destas. Para o caso de informação sobre mortalidade,

concluíram ser a ontologia um artefato computacional adequado na representação

de um conhecimento específico na área da saúde. O estudo indica as ontologias

como ferramentas computacionais que podem trazer contribuições para a melhoria

na qualidade das informações em saúde.

Debatendo sobre a codificação da causa básica dos óbitos de residentes de

Fortaleza, ano 2010.

Outra questão norteadora para o presente estudo foi avaliar o processo de

eleição de códigos de causa básica no SIM. A importância da exatidão na

classificação da causa básica do óbito se justifica pela importância que este

indicador apresenta: dos 18 indicadores de mortalidade selecionados pela RIPSA,

todos têm como fonte de dados a causa básica do óbito (KANSO et al, 2011).

A legislação brasileira, ao determinar que para as mortes suspeitas ou

decorrentes de causas externas a DO deve ser preenchida por um perito legista

mediante a realização de uma necropsia (Código de Processo Penal, art. 262), tem

sido negligenciada pelo fato comum em vários estudos epidemiológicos sobre a

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qualidade da informação da aposição deste campo com a natureza da lesão. Essa

negligência técnica levou o MS, em fins da década de 90, a criar uma seção na DO

para campos obrigatórios em casos de morte por causas externas (MELLO JORGE,

GOTLIEB e LAURENTI, 2002).

A OMS orienta que a classificação da causa básica do óbito deve se

fundamentar na circunstância que deram origem a determinada afecção, sendo

tabuladas e codificadas de acordo com o Capítulo XX da CID 10ª. Edição,

englobando as codificações entre V01 e Y89 (OMS, 1995). As regras de seleção

destas causas seguem a estes protocolos técnicos para garantir a comparabilidade

internacional.

A observação do estudo, além de identificar percentual baixo para

preenchimento da “linha d” (3,89% dos registros totais), aponta uma inadequação da

eleição da circunstância do óbito como causa básica.

Segundo Mello Jorge, Gotlieb e Laurenti (2002), diante da fragilidade de

classificação da causa básica dos óbitos, é possível estabelecer uma “rede de

migração” de causas desconhecidas ou mal definidas, culminando com o

refinamento das informações. A apropriação de métodos utilizados em estudo no

estado de São Paulo permitiu, através do resgate de informações em laudos

necroscópicos, registros de ordem policial e visitas domiciliares, aumentar

sensivelmente a definição das causas básicas em mais da metade dos óbitos.

Em estudo para avaliar a aplicação das Regras Internacionais de

Classificação de Causa Básica, Laurenti, Mello Jorge e Gotlieb (2009) observaram

que, mediante a reclassificação das causas por médicos treinados para o estudo,

houve alto percentual de concordância com a “verdadeira” causa. Primeiramente,

estudaram a DO, em seguida: investigação domiciliar; entrevista com o médico

assistente do falecido; prontuários médicos e laudos necropsias. Foram investigados

3.245 óbitos em 26 capitais brasileiras. Os médicos treinados para o estudo foram

considerados como padrão-ouro do estudo. A população da análise foi de 1.315

casos (foram excluídos os óbitos com a causa básica como sendo a natureza da

lesão, quando houve uma única causa básica declarada e quando não houve

possibilidade de selecionar a causa básica). Os autores encontraram 1.164 óbitos

com duas ou mais causas na DO, representando 88,5% do total, e apenas 11,5%

com apenas uma causa descrita na DO. A seleção da verdadeira causa mediante os

passos metodológicos da pesquisa mostraram ser possível a seleção correta

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fundamentada nas Regras Internacionais. Em 90,6% dos casos, foi possível a

classificação adequada, mesmo estando a DO incorreta.

A gestão em saúde, dentro de suas atribuições, deve avaliar as possibilidades

de treinamentos aos profissionais de saúde e da aquisição de ferramentas e demais

recursos capazes de melhorar a qualidade das informações dos Sistemas de

Informação. Foram observadas, juntamente à CEVEPI, tomadas de ações referentes

ao enfrentamento das fragilidades da DO.

Em 2009, Schoeps et al elaboraram estudo no município de São Paulo para

avaliar a representação social dos profissionais de saúde sobre instrumento de

coleta de dados do SIM, dentre eles a Declaração de Nascido Vivo e a Declaração

de Óbito. Indicam que, apesar do profissional médico ser o único legalmente

habilitado ao preenchimento da DO, é comum o preenchimento ser compartilhado

com outros profissionais da saúde. E, ainda, apontam a percepção sensível e

positiva da presença dos demais profissionais de saúde no processo na elaboração

e gerenciamento do SIM. Nos resultados, encontraram, referentes às variáveis de

informações da mãe (no caso de óbitos fetais), relatos de preenchimentos realizados

por profissionais da admissão, internação ou Serviço de Atendimento Médico e

Estatístico (SAME).

Nos estudos que avaliam a concordância de causas básicas no SIM e demais

fontes de registros, há a forte sugestão de se utilizar os quatro dígitos do CID-10, por

propiciar uma codificação com maior precisão dos eventos relacionados à saúde

(PEDROSA, SARINHO e ORDONHA, 2007).

Seguindo esta premissa, evidenciou-se concordância frágil entre as

codificações de causa básica do óbito entre DO e CEVEPI. No presente estudo, ao

analisar a parceria entre os Serviços de Saúde, aponta-se a participação da Gestão

Municipal no setor de Epidemiologia, Informação em Saúde, como determinante na

codificação da Causa Básica do óbito por Causas Externas. Obteve-se na pesquisa

a quase totalidade das informações originárias da DO ampliada e reestruturada

pelos profissionais da CEVEPI, gerando a codificação oficial do SIM-Causas

Externas. Evidenciam-se diferenças de codificação mediante a comparação entre

CIDPEFOCE e CIDSMS atingindo proporções bastante altas (apenas 7,49% de

coincidências entre códigos).

Dentre os códigos gerados pela SMS, o de maior proporção dentre o total foi

X95.4- Agressão por meio de disparo de arma de fogo não especificada- rua, estrada

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(665 casos, representando 31,5% do total), em discordância com o gerado pela

PEFOCE, sendo Y24.9 –Disparo de arma de fogo não especificada, intenção não

determinada e local não especificado (689 casos, representando 32,6% do total).

Houve fraca concordância entre códigos (Kappa de 0.069) no estudo.

Ressalta-se que a decisão tomada no método da pesquisa de comparar o quarto

dígito reduziu significativamente a concordância entre códigos. A especificidade do

quarto dígito é garantida na implementação das informações pelos profissionais da

SMS através de duas fontes: primeira, mediante a própria DO, através da leitura e

análise da variável Local de ocorrência do óbito e, na ausência de preenchimento

desta variável na DO, mediante as buscas externas, incluindo fontes virtuais de

notícias.

Somando-se a estas preocupações, resultados de fraca completitude da

variável Local de ocorrência do óbito, propusemos uma discussão com os técnicos

da CEVEPI, acerca de necessidade de sensibilização da Gestão do SIM para

melhoria da completitude da variável em questão.

Salienta-se que a variável Descrição do evento tem potencial de esclarecer

informações sobre a causa básica do óbito. A presente tese identificou 81,3% de

ausência de preenchimento nesta variável.

Profissionais da CEVEPI tomaram a decisão de solicitar interlocução com as

autoridades competentes para a melhoria do preenchimento da DO, possibilitando

maior especificidade para a eleição de código, como indica a CID-10. Em visita,

observamos a emissão de documento desta Célula às autoridades da gestão do

SIM, estado do Ceará, solicitando informações mais fidedignas, considerando a

relevância do local de ocorrência do óbito para elaboração de políticas públicas no

combate à violência, sabendo que a simples denominação do endereço de

ocorrência não é capaz de qualificar o local de ocorrência.

Técnicos da CEVEPI solicitaram o encaminhamento da anuência em

determinar à autoridade policial que especifique o local de ocorrência do acidente ou

violência, possibilitando assim um preenchimento adequado e em conformidade com

a orientação contida na CID-10. Esta orientação utiliza as seguintes subdivisões

para indicar o local da ocorrência da causa externa: 0. Residência (casa,

apartamento, casa de fazenda, pensão familiar e outros); 1. Habitação coletiva

(acampamento militar, asilo, cadeia, lar da crianças e outros); 2. Escolas, outras

instituições e áreas de administração pública (hospital, campus universitário, cinema,

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clube, colégio e outros); 3. Área para a prática de esportes e atletismo (estádio,

ginásio, quadra de esportes, piscina pública e outros); 4. Rua e estrada (rua,

rodovia, calçada e outros); 5. Áreas de comércio e de serviços (aeroporto, banco,

hotel, loja e outros); 6. Áreas industriais e em construção (central elétrica, plataforma

petrolífera, usina de gás e outros); 7. Fazenda (edificações, terra cultivada e

outros);.8. Outros locais especificados (açude ou lagoa, estacionamento, beira-mar,

floresta, praia, rio e outros) e 9. Local não especificado.

Esta tomada de decisão entra em consonância com o nosso estudo de tese,

onde 89,7% da Fonte da informação captada na DO constituiu-se no BO, sendo,

portanto, pertinente a orientação de profissionais envolvidos na rede de informação

sobre mortalidade acima descrita pela solicitação de técnicos da CEVEPI.

Chamam a atenção dois pontos frágeis que foram identificados na DO como

subsídio para eleição de códigos de causa básica: primeiro, pela exigência da CID-

10, deve-se especificar o local da ocorrência do óbito em caso de causas externas.

Em consequência, a variável Local de ocorrência necessitaria de uma excelente

completitude, o que nosso estudo não identificou (houve ausência de preenchimento

em 44,09% dos registros & o item “ignorado” em 0,25% dos registros). Segundo, não

sendo disponibilizada para o técnico da CEVEPI essa informação na DO, restam-

lhes as fontes externas para possibilitar codificação precisa e eleição de código na

tentativa de elegê-lo com exatidão e qualidade.

Villela et al (2012) sugerem a vinculação de notícias como rotina na vigilância

dos óbitos por causas externas por incorporar informações capazes de elucidar fatos

ocorridos. A articulação dos serviços de saúde com a mídia poderia agregar valores

na ampliação da qualidade da informação sobre mortalidade por causas externas.

Carvalho et al (1990) buscaram a concordância na determinação da causa

básica de óbitos menores de um ano no estado do Rio de Janeiro. Obtiveram,

mediante a geração de uma nova DO (prontuários hospitalares), 90% de

concordância entre as causas básicas dos óbitos. Nosso estudo não identificou

preenchimento das variáveis relacionadas aos óbitos de menores de 1 ano.

Drumond et al (1999) analisaram 550 DO provenientes do IML do estado de

SP, no ano de 1996. Destes, 54% tinham sido codificados como acidentes sem

especificação e os outros 46% como eventos de intenção não determinada. 20,9%

dos óbitos codificados com acidentes sem especificação não tinham quaisquer

dados que permitissem essa classificação. E, do total de óbitos codificados como

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126

intenção indeterminada, 66,4% não traziam qualquer informação esclarecedora do

tipo de causa.

Autores questionam a importância da discussão das orientações para

codificação de mortes por causas externas como acidentais. Determinadas

especificações precisariam de uma perícia técnica. Dialogam, ainda, sobre as falhas

no preenchimento das DO. Afirma a importância da implementação da busca de

outras fontes de informação adicionais, como registros hospitalares e a imprensa.

Estabelecem a relação entre a melhoria da qualidade de vida mediante a melhoria

da qualidade das informações dos Sistemas de Informação, apontando para

realidades sanitárias transparentes transformadoras do panorama atual da violência

e dos acidentes (DRUMOND et al, 1999).

Fajardo, Aerts e Bassanesi (2009) apresentaram estudo investigando acurácia

da equipe responsável pelo SIM, no Sul do Brasil, em 2009. Justificam a pesquisa

pela escassez de estudos similares no Brasil. Indicam apenas um estudo realizado

em Taiwan no ano de 1994. Neste estudo, os autores encontraram concordância

entre a codificação original e a da pesquisa (elaborada a partir de informação de

prontuários médicos), para óbitos hospitalares, de acordo com CID-9, de 80,9% para

o quarto dígito e 83,9% para o segundo. A medida da acurácia pode ser calculada a

partir do quociente entre o total de casos adequadamente selecionados

(sensibilidade) ou não (especificidade) pelo total de casos estudados.

A ideia que gerou o norte para a realização da presente tese adveio da

constatação de uma importante fragilidade e debilidade de preenchimento dos

formulários do SIS-SUS, em especial a DO. A codificação originária exclusivamente

das informações da DO seria “hipoteticamente” frágil, mediante a revisão de

literatura realizada no desenvolvimento do projeto de tese. E, ao término do estudo,

a ideia embrionária do norteamento da pesquisa foi plenamente corroborada. Tanto a

completitude, quanto a análise descritiva dos tipos de causas descritas apontam

para necessidades urgentes de treinamentos técnicos e sensibilização quanto à

importância de se garantir maior confiabilidade ao sistema de informação.

Debatendo sobre os tipos de causas dos óbitos de residentes de Fortaleza e os

homicídios, ano 2010.

Page 128: AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS INFORMAÇÕES SOBRE ÓBITOS … · DEDICATÓRIA Aos olhos instigantes de meus discentes aprendizes de medicina Pela esperança da mudança do novo KM

127

As causas externas de morbidade e mortalidade englobam lesões decorrentes

de acidentes de trânsito, afogamentos, envenenamentos, quedas, assim como a

violência abrange homicídios, suicídios e abusos sexuais. Segundo informações do

Ministério da Saúde, fonte do Departamento de Informática, DATASUS, para o ano

de 2010, a mortalidade por causas externas constituiu-se terceira causa mais

frequente de óbito no Brasil. Importante ressaltar que, na avaliação dos estratos,

representa a primeira causa para o grupo de pessoas na faixa etária entre 10 e 39

anos (BRASIL, 2014).

Waiselfisz (2013) chama atenção para a evolução histórica da mortalidade

violenta no Brasil (1980-2011), enquanto as taxas de mortalidade para o conjunto da

população caíram 3,5%, as mortes por causas externas aumentaram 28,5%. E,

ainda, dentre estas causas, os homicídios cresceram 132,1%; em segundo lugar os

suicídios, 56,4%; e os acidentes por transporte, 28,5%. Pode-se fazer um paralelo

com a realidade do município de Fortaleza na série histórica apontada no Anexo B.

O panorama local apresenta-se deveras mais grave, visto que, no período entre

1990 e 2013, os homicídios cresceram de 519 para 3213, representando o

alarmante incremento de 619%.

Nosso estudo identificou, dentre a codificação oficial do SIM, o homicídio

como sendo a principal causa de óbitos por causas externas em residentes de

Fortaleza, totalizando 1202 óbitos, representando 56,99% do total, a partir da

codificação do SIM.

Waiselfisz (2013) faz uma avaliação do número de homicídios na população

total brasileira por UF e região no decênio 2001-2011. Em todo período estudado as

duas regiões com maior número absoluto de óbitos por estas causas são a Sudeste

e a região Nordeste. Destaca-se que em detrimento a um decréscimo de 40,1% dos

casos na região sudeste, a Nordeste apresentou acréscimo de 83,7% nos números

absolutos entre o período.

Mansano et al (2013) realizaram estudo ecológico e estudaram a magnitude

e a distribuição do risco de morte precoce por homicídios em adolescentes e jovens

do sexo masculino no Paraná e em Santa Catarina, 2001-2010. Utilizaram

indicadores geográficos, demográficos, de desigualdade social (Gini) e

socioeconômicos. Dentre 692 municípios estudados, quase 70% eram de pequeno

porte populacional. Em relação à localização geográfica, o Paraná apresentou os

maiores valores medianos das taxas de mortalidade. Quanto ao porte, as taxas

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medianas apresentaram tendências ao aumento segundo o porte populacional. Com

relação ao índice de Gini, os grupos de municípios onde a desigualdade foi maior

apresentaram maiores medianas das médias trienais das taxas de homicídios.

Interessante a observação da maior magnitude e crescimento das medianas das

taxas de morte por homicídios entre os municípios com maior densidade

intradomiciliar.

Na avaliação descritiva da variável tipo de morte, nosso estudo aponta a

seguinte descrição com proporções dentre o total de óbitos estudados: homicídios

(60,29%); acidentes (26,62%); suicídio (5,64%); ignorado (6,32%). Salientamos para

a fragilidade de completitude desta variável, que se apresentou com 67,76% (1429)

dos registros sem preenchimento.

Costa et al (2013) estudaram a evolução da mortalidade por causas externas

no RS, entre 1996-2009. No período estudado, observam decréscimo de todas as

causas de óbitos, exceto dos homicídios que apresentaram elevação de 11% no

período estudado (verificou-se aumento das mortes com significância estatística em

Pelotas e no RS para homicídios entre homens de 15 a 39 anos de idade). Na

avaliação do estado do RS foi encontrado maior número de mortes por causas

externas em homens, quando comparados às mulheres, em todo o período

estudado. As taxas de óbitos mais elevadas se concentraram para o estrato de idade

maior e 39 anos, para ambos os sexos.

Segundo Waiselfisz (2013), embora a interiorização da violência seja

observada em todo país, as taxas de mortalidade proporcional por causas externas,

em especial homicídios, tem níveis mais elevados nas capitais quando comparadas

às cidades do interior. As taxas de homicídios, no Brasil, apontam esse panorama de

distribuição, apresentando, todavia, importante redução de diferenças entre capital e

interior para o período entre 1980-2011 (em 1980 essa diferença representava

57,5% e 2011, 34,2%).

Apresentamos a análise descritiva dos homicídios, de acordo com a

codificação do SIM, que corrobora com inúmeros estudos brasileiros (MACEDO,

2001; WAISELFISZ, 2013; MANSANO et al, 2013), onde a ocorrência dos

homicídios demonstra o seguinte perfil epidemiológico: 47,3% dos homicídios

ocorreram com adultos; 93,6% com homens; 88,3% sem vínculo conjugal; 47,8%

com escolaridade entre 4 e 7 anos; 76,1% possui trabalho; 61,3% sem assistência

médica; 58,8% ocorreram em via pública; 79,0% tendo como bairro de residência

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bairros de renda média e 82,5% o bairro de ocorrência sendo os bairros com

classificação de renda média.

Mokdad et al (2004) em estudo sobre causas de mortes definidas nos estados

unidos da América identificaram uma proporção descendente entre mortes violentas

por uso de arma de fogo no período compreendido entre 1990 e 2000, sendo estes

percentuais reduzidos pela metade dos casos no período. O declínio ocorreu

principalmente pela redução dos homicídios e eventos de intenção indeterminada.

Buscando associação entre homicídio e variáveis sociais, autores

encontraram a maior taxa de homicídio para homens entre 15 e 39 anos de idade.

Diversos estudos apontam a violência como reflexo de baixas condições

socioeconômicas, desigualdades na distribuição de riquezas, iniquidades na saúde,

da vulnerabilidade social e da desorganização urbana (MACEDO et al, 2001;

BARRETO e CARMO, 2007; COSTA et al, 2013).

Almeida et al (2013) & Barreto e Carmo (2007) elegem o indicador APVP

como indicador de ampla abrangência, capaz de desvelar no âmbito da

Epidemiologia três grandes medidas, dentre eles a magnitude, a transcendência e a

vulnerabilidade. O indicador torna transparente na avaliação sanitária o impacto da

morte precoce gerando a possibilidade de viver e contribuir para a sociedade de

forma intelectual e econômica, traduzidos pela diferença entre o limite superior

estabelecido e a idade no momento do óbito. Mediante avaliação deste indicador,

pode-se ter uma leitura da necessidade de implantação de estratégias

interinstitucionais, multidisciplinares e integrativas, envolvendo a sociedade civil, os

setores saúde, trânsito, educação e trabalho no estímulo da cultura de paz.

A tese, mediante regressão logística, indicou fatores de risco para homicídio.

Dentre as variáveis testadas no modelo final, apresentaram-se como fatores de risco

ao homicídio pertencer às categorias: adolescente (OR ajustada: 18,44; I.C.95%

entre 9,57- 35,54); masculino (OR ajustada: 2,83; I.C.95% entre 1,92- 4,19); sem

vínculo conjugal (OR ajustada: 1,58; I.C.95% entre 1,14- 2,18) e bairro de ocorrência

de renda menor (OR ajustada: 5,13; I.C.95% entre 2,13- 12,36).

Soares Filho et al (2007) realizaram uma análise da mortalidade por

homicídios no Brasil entre os anos 1980 a 2003. O estudo utilizou como fonte de

dados o SIM e IBGE e aponta a magnitude dos óbitos por homicídio, fatores

associados e a tendência temporal. Em 2003, ocorreram 49.808 homicídios no

Brasil. Com relação à completitude, houve perda de 39% para escolaridade. Do total

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de homicídios, 92% ocorreram no sexo masculino, 50% população parda, 40% entre

20 e 29 anos. O risco de óbito por homicídio foi de 28 por 100.000 habitantes, sendo

12 vezes maior entre os homens.

Ao analisar estudos pautados na avaliação da morbidade por causas

externas, evidencia-se o estudo de Lignani e Villela (2013) sobre o impacto da

morbidade por causas externas em Belo Horizonte, 2008-2010, apontam que, dentre

os principais agravos (quedas, acidentes de transporte e homicídios), as internações

hospitalares no Brasil por acidentes e violência apresentaram aumento progressivo

no período compreendido entre 2000 e 2010, com destaque aos acidentes de

trânsito e as quedas, merecendo o desenvolvimento de ações de promoção da

saúde e prevenção desses agravos.

No Brasil, apesar do incremento dos veículos automotores quase duplicar no

primeiro decênio do último século, as taxas de óbitos demonstraram curvas

descendentes, o que pode indicar mudanças no comportamento no trânsito. A

introdução do Novo Código de Trânsito Brasileiro e mudanças no padrão de

morbidade e letalidade das lesões em consequência da melhoria da assistência à

saúde podem justificar esse padrão epidemiológico (COSTA et al, 2013).

Lima et al (2013) analisaram a tendência de mortalidade por acidentes

envolvendo motocicletas no Pernambuco, 1998-2009. Do total de óbitos por

Acidentes de Transporte Terrestres (ATT) no período estudado, 17,6% forma por

acidente de motocicleta. Importante refletir sobre a diferença na razão de sexo para

os limites do período. Estas variaram entre 5,7 e 15,1. A tendência da mortalidade

por acidentes de motocicleta revelou um crescimento médio anual de 0,3 óbitos por

100 mil habitantes em Pernambuco (p value<0,001).

Almeida et al (2013) citam como uma das principais características dos ATT

no Brasil como o padrão epidemiológico da sobremortalidade masculina e sua maior

incidência na faixa etária dos adultos jovens, entre 20 e 39 anos de idade. Em

estudo sobre mortalidade por ATT ocorridos em residentes em Pernambuco, 2007,

chamam atenção para a alarmante média de APVP de 35,10 anos, sendo a maior

proporção dos ATT envolvendo motociclistas. Em média, os motociclistas perderam

39,34 anos de vida, sendo os homens motociclistas os que mais perderam.

No estudo de tese, aponta-se o descritivo dos óbitos por acidentes de

transporte (representando a segunda principal causa de óbito), de acordo com a

codificação do SIM, temos o seguinte perfil epidemiológico: 81,8% foram homens;

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64,4% sem vínculo conjugal; 36,3% com escolaridade entre oito e 11 anos; 82,8%

possui trabalho; 49,21% ocorreram no hospital; 85% tendo como bairro de residência

bairros de renda média e 94,3% o bairro de ocorrência sendo os bairros com

classificação de renda média. Os dados corroboram inúmeros estudos brasileiros

(PORDEUS et al, 2010; LIMA et al, 2013; ALMEIDA et al, 2013).

A magnitude do problema dos ATT no Brasil pode ser reconhecida pelas altas

taxas de mortalidade por esta causa. Em 2010, o Brasil apresentou a taxa de

mortalidade de 21,5 por 100 mil habitantes, acima da média mundial (19 por 100 mil

habitantes). Comparados os dados com as médias de países de alta e baixa renda,

sendo, respectivamente, 12,6 por 100 mil habitantes e 20,2 por 100 mil habitantes

(BRASIL, 2014).

Pordeus et al (2010), em estudo sobre ATT e fatores associados no estado do

Ceará, apontam a ocorrência no interior para a maioria dos acidentes (66,1%) no

estado do Ceará, ano de 2007. O estudo corrobora a tendência da interiorização da

mortalidade por ATT envolvendo motocicleta, correspondendo ao fato de que a

proporção de óbitos por acidente de motocicleta diminui à medida que o porte

populacional aumenta.

Segundo Pavarino Filho (2013), para se atingir impactos eficientes na redução

da morbimortalidade por ATT deve-se intervir em processos determinantes, tais

como: planejamento urbano; plano diretor de transportes; prioridade para o

transporte público; garantia dos direitos do cidadão; dentre outros. Em

conformidade, salienta como essencial a incorporação da promoção da saúde na

política de redução dos ATT.

Lima et al (2013) e Pavarino Filho (2013) discutem o reflexo dos ATT como

resultado da exacerbação da violência social que ganha expressão singular na

população brasileira na última transição secular. Como efeito sinérgico, apontam a

globalização, com suas características transformadoras da Economia, e um

processo de urbanização desordenado e gerador de grandes iniquidades sociais.

Diversos autores apontam como aspectos positivos para a redução das

mortes por acidentes de transporte terrestre a implantação de Leis de caráter mais

punitivo, como a “Lei Seca”. A manutenção do padrão epidemiológico ainda

preocupante pode ser explicada pelo fraco investimento em infraestrutura e

educação, e pelo incentivo e facilitação ao consumo destes bens. Mudanças no

paradigma da segurança no trânsito e ampliação da utilização de medidas de

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Promoção à Saúde poderão reduzir significativamente as mortes por estas causas

(ALMEIDA et al, 2013; LIMA et al, 2013).

Para o enfrentamento deste desafio, faz-se necessária a implementação de

políticas de prevenção de acidentes e violência. A DO se constitui como o

instrumento padrão de coleta primária de dados responsável pela alimentação no

Sistema de Informação sobre mortalidade, gerando indicadores da linha da vida.

Vários estudos foram propostos no Brasil para avaliação da qualidade e

confiabilidade deste instrumento.

A DO, como instrumento documental de estatística demográfica, constitui-se

como um dos principais documentos para análises da epidemiologia moderna. É

reconhecida como ferramenta essencial para programação, monitoramento e

avaliação das ações e investigações epidemiológicas. Justificando-se desta forma a

veemente necessidade da garantida de sua fidedignidade. A cobertura e a

confiabilidade devem ser características essenciais para garantir credibilidade ao

SIM.

Sobre a qualidade dos dados do SIM, inúmeros estudos têm mostrado ser

insatisfatório o preenchimento da DO. Este formulário deve ter todos os seus itens

respondidos, e o fato do não seguimento a esta regra fundamental imputa em baixos

níveis de qualidade da informação (RIOS et al, 2013).

Debatendo sobre Análise Espacial dos homicídios e bairros de ocorrência dos óbitos

de residentes de Fortaleza, ano 2010.

Para melhorar a compreensão da distribuição dos óbitos por violência no

Brasil e regiões, tem-se identificado a descrição espacial dos indicadores de

mortalidade. Análises são feitas a partir da malha cartográfica municipal e estadual,

obtidas no sítio eletrônico do IBGE. Autores demonstraram distribuição espacial do

risco de morte por homicídios para maior vulnerabilidade nos municípios próximos às

rodovias entre fronteiras. Consideram que possivelmente o problema se explique

pelo fato das atividades ilícitas, como o tráfico de drogas e de armas. Também

verificaram maior concentração entre municípios de maior porte populacional e de

maior proporção de população negra (MANSANO et al, 2013).

MACEDO et al (2001) buscaram compreender a relação entre indicadores

sociais e violência em Salvador, BA. Para isto, os autores realizaram um estudo de

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agregados, no período entre 1991 e 1994, identificando uma distribuição desigual

dos homicídios no espaço urbano de Salvador. As áreas com piores indicadores

concentraram as mortes por homicídios. O estudo reflete o risco de morte por

homicídios nas populações residentes em áreas com baixas condições de vida e

não no grau de periculosidade dessas áreas, visto que a referência do estudo foi o

local de residência e não de ocorrência do óbito.

Na avaliação da distribuição espacial, o presente estudo não evidenciou

correlação de áreas circunvizinhas, mediante o índice de Moran Global. Na

distribuição das taxas de homicídios por bairros de ocorrência, tem-se cinco bairros

com taxas de 101 a 150 por 100.000 habitantes e dois bairros com taxas entre 201 e

550 por 100.000 habitantes. Esta análise possibilita a identificação de áreas

geográficas dos eventos relacionados aos óbitos por causas externas, sendo

possível apontar grupos populacionais com maior vulnerabilidade, demandando uma

atenção prioritária no escopo das políticas públicas.

Estratégias para melhoria da informação sobre mortalidade nos serviços de saúde

incluídos no SIM.

Como proposta de modelo para melhoria das informações sobre os óbitos por

causas externas no município de Fortaleza-CE, pontua-se a seguinte

sistematização:

i. identificação dos profissionais envolvidos direta e indiretamente com o

processo de geração e coleta dos dados sobre mortalidade,

ii. treinamento técnico destes profissionais envolvendo: sensibilização da

importância do tema; identificação de fragilidades no Sistema local e

nacional com Estado da Arte; compreensão das variáveis que

compõem o instrumento e da totalidade que compõem os SIS-SUS;

iii. treinamento técnico dos profissionais médicos atestantes no que tange

ao descrito acima somado treinamento específico sobre CID-10,

codificação de causa básica fundamentado na classificação dos

óbitos mediante as circunstâncias dos eventos e não a natureza das

lesões;

iv. disponibilização da TI para possibilitar aos técnicos da CEVEPI

linkages de banco de dados capazes de garantir a qualidade das

informações sobre os óbitos por causas externas.

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7. CONCLUSÃO

Por fim, percebe-se na avaliação das informações sobre óbitos por causas

externas: uma fragilidade da qualidade que pode ser expressa por um conjunto de

variáveis com classificação de completitude baixa; no qual questiona-se o papel do

médico atestante dentro de suas atribuições profissionais e legais na verificação do

óbito por causa externa; disparidades e inconformidades de codificação de causa

básica da pesquisa com a codificação oficial, donde o indicador de medição de

concordância Kappa aponta o valor de 0,069, donde a partir da verificação do quarto

dígito, partindo-se de um ponto de maior especificidade de eleição de códigos,

verifica-se uma discrepante e fraca concordância, dentre percentual em proporção e

medidor Kappa. Neste processo, verifica-se uma lacuna importante de

especificidades inerentes a CID-10 preenchidas na DO. Além da completitude baixa,

variáveis do instrumento fundamentais e específicas de óbitos por causas externas

passando como inexistentes no caminho do preenchimento. Além de um processo

de eleição da causa básica junto à CEVEPI apresentando dificuldades incontáveis

para eleição do código de causa básica dos óbitos utilizando o quarto dígito da CID-

10, posterior ao ponto. Dentre estas dificuldades, avalia-se todo o processo de

preenchimento das variáveis da DO, e do próprio processo metodológico do sistema

municipal ligado ao SIM.

Evidencia-se, numa avaliação de componentes, haver uma enorme falta de

exatidão e de cumprimento às recomendações oficiais de Classificação da Causa

Básica mediante as circunstâncias do óbito, além da incompletude da variável Local

de ocorrência do óbito, impossibilitando o processo de eleição exato da codificação,

de acordo com o requisitado pela CID-10.

Na apreciação dos fatores de risco para os homicídios, pode-se extrapolar os

achados para discussão na orientação de políticas públicas capazes de reverter o

lastimável quadro epidemiológico do nosso município. Trabalhar os mais vulneráveis

está justificado nos níveis de evidência de ações exitosas.

A distribuição espacial de bairros de ocorrência identificou bairros mais

violentos e ausência de relações circunvizinhas.

Como “retroalimentação” ética dos resultados da pesquisa, orientar-se-ão a

sensibilização e o treinamento técnico dos profissionais envolvidos direta e

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indiretamente na composição do SIM, pactuações de responsabilidades, incluindo

linkages de bancos de dados para favorecer o melhor trabalho dos técnicos da

CEVEPI. O retorno às instituições PEFOCE e SMS será feito com a apresentação

dos Resultados da pesquisa, bem como o depósito da Tese nos Centros de Estudos.

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APÊNDICES

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150

APÊNDICE A

COMPREENSÃO DO PROCESSO DE ELABORAÇÃO DAS

INFORMAÇÕES OFICIAIS

Célula da Vigilância Epidemiológica de Fortaleza da Secretaria Municipal de

Saúde do município de Fortaleza, Ceará (CEVEPI-SMS).

Em intervalos mensais, a PEFOCE Fortaleza encaminha à CEVEPI-SMS as

Declarações de Óbitos emitidas por esta instituição referentes a um determinado

mês.

Uma a uma, cada DO é lida, são verificadas as variáveis de sua composição

e se inicia uma série de procedimentos de complementação (Processo I),

codificação (Processo II) e digitação dos dados no Sistema de Informação sobre

Mortalidade Causas Externa- SIM-SUS (Processo III). Para os processos iniciais

desta função, há uma funcionária de nível médio que é responsável pelos processos

I e II, donde os realiza ao longo de uma jornada de um dia típico de trabalho de oito

horas diárias, dividindo o ambiente de trabalho com mais quatro funcionários

responsáveis por outros Sistemas de Informação do SUS.

Para a realização do processo III, há uma funcionária exclusiva para esta

função, de nível médio, com jornada de oito horas de trabalho diárias.

Descrição do Processo I- complementação das informações

A PEFOCE Fortaleza encaminha juntamente às vias das DO que ficam retidas

nesta Secretaria, por meio online, uma planilha com os registros de todos os óbitos

ocorridos no mês de referência. Nesta planilha, constam as seguintes informações:

nome; tipo de morte; descrição do objeto; estado civil; grau de instrução; data do

exame; data da ocorrência; nome da mãe; local de ocorrência e procedência da

vítima. Estas informações são elaboradas pela PEFOCE a partir dos laudos de

necropsia.

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do estado do Ceará

(SSPDS-CE) disponibiliza à CEVEPI de Fortaleza um site de buscas de informações

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das ocorrências de todos os óbitos registrados. A partir do ano e mês da ocorrência,

a Célula inicia sua busca de complementação das informações referentes ao tipo de

morte. Esta busca, por intermédio do site da SSPDS-CE, inicia-se a partir da variável

identificadora “nome” e segue partindo de cada subtipo de ocorrência de Causas

externas, sendo estas: homicídio; acidente de trânsito; morte indeterminada; causas

acidentais, suicídio e outras causas.

Avalia-se a seção VI (Condições e Causas do óbito) da DO, no subitem

causas da morte parte I (itens a, b, c e d) o qual contempla a determinação da

Causa do óbito. Procede-se, assim, à seção VIII (Causas Externas). Nesta última

seção, a variável de número 48 apresenta os itens a serem marcados, sendo: 1-

acidente; 2- suicídio; 3- homicídio; 4- outros e 9- ignorado. Nas situações em que

não há nenhum item marcado na seção VIII; nos casos em que há marcação, mas

com ausência de especificação por escrito do tipo da circunstância da morte não

natural (exemplos: marca-se o item 1-acidente, mas não se especifica o tipo de

acidente, ainda, se 2-suicídio, mas não se especifica como foi elaborado o evento); e

na ausência na identificação da causa básica do óbito na seção V, inicia-se o

processo de complementação das informações da DO.

Segue-se então aos seguintes passos: 1º passo- busca na planilha da

PEFOCE; 2º passo- busca no site da SSPDS-CE.

Na busca utilizando a planilha da PEFOCE, se não houver elucidação do tipo

de morte, ou, ainda, havendo achados de incoerência, recorre-se ao site da SSPDS-

CE. São classificadas como incoerência de informações as causas descritas como

Indeterminada ou Causas Acidentais. As variáveis mais utilizadas para essa busca

na planilha são o tipo de morte e a descrição do objeto.

Se houver ampliação da busca ao site da SSPDS-CE, a causa deve ser

determinada a partir deste último passo na complementação de informações. Esta

deverá ser feita no espaço da variável de número 51 da seção VIII e sempre a lápis

pela impossibilidade legal de se alterar um documento médico.

Se, após esses dois passos da complementação de informações, a causa

básica estiver inconsistente aos dados da DO, e estando o item 48 vazio,

descrevendo após a causa encontrada e formulada pós-complementação a seguinte

expressão: “Segundo a Secretaria de Segurança Pública do estado do Ceará”.

Na situação em que a variável de número 48 estiver descrita e, mediante as

buscas, houver achado de inconsistências, apurando a uma causa básica diferente

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da descrita, mantém-se a descrição da DO e se omite a resultante da busca.

Descrição do Processo II- codificação

Ao avaliar a seção VI da DO, as descrições dos itens a, b, c e d contemplam a

determinação da Causa do óbito. Cada um dos itens (a, b, c e d) gera um código,

que é referenciado mediante a classificação da CID-10.

Exemplificaremos algumas situações pela adequação na compreensão do

processo.

Situação 1- Seção VI (Condições e Causas do óbito) da DO (Causas da morte parte I)

a- Traumatismo crânio encefálico- CID S06.9

b- Ação contundente- o processo II classificaria como “evento não especificado”

CID Y34.9.

*Este código Y34.9 só será registrado no caso em que a busca da

complementação tiver chegado a Causa Indeterminada. Caso contrário,

entrará o código da causa que foi complementada no processo I.

Situação 2- Seção VI (Condições e Causas do óbito) da DO (Causas da morte parte I)

a- Ferida penetrante no tórax- CID S 21.9

b- Ação pérfurocontundente- o processo II classificaria em “evento não

especificado” CID Y 34.9.

*Este código Y 34.9 só será registrado no caso em que a busca da

complementação tiver chegado a Causa Indeterminada. Caso contrário,

entrará o código da causa que foi complementada no processo I. Se o

resultado da complementação chega a Homicídio por bala, entrará o CID

deste com a obrigatoriedade de circular o entorno deste código sempre a

lápis.

Situação 3- Seção VI (Condições e Causas do óbito) da DO (Causas da morte parte I)

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a- Politraumatismo- CID T07

b- Ação contundente- o processo II classificaria em “evento não especificado”

CID Y 34.9.

*Este código Y 34.9 só será registrado no caso em que a busca da

complementação tiver chegado a Causa Indeterminada. Caso contrário,

entrará o código da causa que foi complementada no processo I. Se a

complementação encontra como causa Acidente por atropelamento, entrará o

CID deste com a obrigatoriedade de circular o entorno deste código sempre a

lápis.

Descrição do Processo III- digitação

São digitados os códigos da seção VI e VIII. Se, ao passo da digitação, o

código não corresponder no programa oficial de busca com o descrito na DO

havendo assim inconsistência, retorna-se ao profissional responsável pela

complementação e codificação dos registros e é feita a confirmação das

informações.

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ANEXO A

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ANEXO B

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