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ISABEL SCHAUSLTZ PEREIRA FAUSTINO AVALIAÇÃO MORFOLÓGICA E ANÁLISE QUANTITATIVA DE MINERAL EM CONDUTOS RADICULARES DE DENTES EXTRAÍDOS DE PACIENTES SUBMETIDOS À RADIOTERAPIA DE CABEÇA E PESCOÇO Piracicaba 2018 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA

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ISABEL SCHAUSLTZ PEREIRA FAUSTINO

AVALIAÇÃO MORFOLÓGICA E ANÁLISE QUANTITATIVA

DE MINERAL EM CONDUTOS RADICULARES DE DENTES

EXTRAÍDOS DE PACIENTES SUBMETIDOS À

RADIOTERAPIA DE CABEÇA E PESCOÇO

Piracicaba

2018

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA

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ISABEL SCHAUSLTZ PEREIRA FAUSTINO

AVALIAÇÃO MORFOLÓGICA E ANÁLISE QUANTITATIVA

DE MINERAL EM CONDUTOS RADICULARES DE DENTES

EXTRAÍDOS DE PACIENTES SUBMETIDOS À

RADIOTERAPIA DE CABEÇA E PESCOÇO

Orientador: Prof. Dr. Márcio Ajudarte Lopes

Piracicaba

2018

Tese apresentada à Faculdade de

Odontologia de Piracicaba, da

Universidade Estadual de Campinas,

como parte dos requisitos para

obtenção do título de Doutora em

Estomatopatologia, com Área de

concentração em Estomatologia.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO

FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA

ISABEL SCHAUSLTZ PEREIRA FAUSTINO, E

ORIENTADA PELO PROF. DR. MÁRCIO

AJUDARTE LOPES.

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Luiz Carlos Faustino e Valéria Schausltz Pereira

Faustino, pela eterna dedicação, exemplos, apoio e incentivo. Que eu sempre

alcance às expectativas que depositam em mim.

Aos meus sobrinhos, Heitor e Luísa. Vocês são o combustível da nossa

família. Espero que eu possa ser um exemplo futuro na vida de vocês.

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AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

À minha família, em especial aos meus pais, Valéria Schausltz Pereira

Faustino e Luiz Carlos Faustino, por toda abdicação de suas próprias vontades,

para formação de seus filhos, pautado na honestidade e integridade. Pelo

incansável estímulo à minha formação, ainda que isto custasse minha

presença diária. Muito obrigada, por tudo.

Aos meus irmãos, Rafael Schausltz Pereira Faustino e Artur Schausltz

Pereira Faustino, que sempre foram exemplos para mim, desde a infância até

hoje. Por sempre me conduzirem com cuidado e amor. Cada um em sua área

representa exemplos profissionais para mim.

À minha cunhada, Germana Mellis Viegas, pelo incentivo, amizade e

carinho ao longo desses anos em que foi recebida no seio de nossa família e

pelo cuidado com o qual educa as duas maiores preciosidades da nossa

família: Heitor e Luísa.

Ao Pedro Borges Duarte, pela parceria ao longo dos últimos 10 anos,

com muito incentivo, renúncia, compreensão com minha ausência ao longo dos

últimos anos e às cansativas vindas à Piracicaba somente para me fazer

companhia em datas importantes.

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AGRADECIMENTOS

À Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de

Campinas, na pessoa de seu Diretor, Professor Doutor Guilherme Elias

Pessanha Henriques.

Ao meu orientador, Professor Doutor Marcio Ajudarte Lopes, pela

disponibilidade, orientação, ensinamentos diários tanto no âmbito profissional

quanto pessoal. Pela integridade, competência e profissionalismo, possui

minha total admiração. Agradeço por toda oportunidade e todo conhecimento a

mim transmitido.

Ao Professor Doutor Alan Roger dos Santos Silva, pelos ensinamentos

no pouco tempo que estive sob sua supervisão no Orocentro, pela

disponibilidade, transmissão de conhecimento, auxílio na pesquisa e exemplo

de profissional.

Aos Professores Doutores Rebeca de Souza Azevedo e Ademar

Takahama Junior por serem meus primeiros exemplos profissionais, pelo

inestimável incentivo nas fases iniciais da minha vida acadêmica, me

proporcionando os primeiros contatos com a Patologia Oral e Estomatologia.

Ao Coordenador do Programa de Pós-Graduação em

Estomatopatologia, Professor Doutor Márcio Ajudarte Lopes.

Aos Professores Doutores das Áreas de Semiologia e Patologia da

Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Alan Roger dos Santos Silva, Marcio

Ajudarte Lopes, Edgard Graner, Jacks Jorge Júnior, Oslei Paes de Almeida,

Pablo Agustin Vargas e Ricardo Della Coletta, pela dedicação na formação dos

alunos do programa e para o fortalecimento do ensino e da pesquisa nas áreas

de Estomatologia e Patologia oral em âmbito nacional e internacional.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES) pela concessão da bolsa de doutorado.

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À Thais Bianca Brandão, coordenadora do Serviço de Odontologia do

Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, pela doação das amostras

utilizadas.

Aos técnicos de microscopia, Adriano Luis Martins e Flávia Sammartino

Mariano Rodrigues pelo treinamento e troca de experiências e conhecimentos

na utilização do microscópio eletrônico de varredura e microscópio de luz

polarizada. Ao técnico do laboratório de pediatria, Marcelo, pelo auxílio na

confecção dos stubs utilizados na microscopia eletrônica de varredura.

Aos amigos Natalia Rangel Palmier pela ajuda durante a etapa inicial

com o seccionamento dos dentes e informação clínica dos pacientes, Gabriel

Abuna, no auxílio com a confecção dos stubs e troca de conhecimentos sobre

microscopia, e Carolina Carneiro Soares Macedo, Bruno Augusto Mariz e

Juliana de Souza do Nascimento no auxílio com os testes estatísticos.

À todos os colegas de pós-graduação, que conviveram comigo nos

últimos anos, cada um ao seu estilo de agregar experiências durante os anos

de doutorado. Aos amigos que conviveram de forma direta comigo, Bruno,

Carolina, Débora, Diego, Gleyson, Jéssica, Maurício, Natalia, Renata, Pedro,

Raísa, Raquel, Rodrigo, e em especial àqueles que estreitamos os laços de

amizade Juliana, Patrícia, Marisol, Leonardo e João.

Aos profissionais do Orocentro, Rogério de Andrade Elias, Aparecida

Campion, Danielle Castelli Morelli, que tornaram os dias de clínicas muito mais

prazerosos.

Às demais pessoas que de alguma forma contribuíram para o meu

crescimento e realização desta tese.

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“As nuvens mudam sempre de posição, mas são

sempre nuvens no céu. Assim devemos ser todo dia,

mutantes, porém leais com o que pensamos e

sonhamos; lembre-se, tudo se desmancha no ar,

menos os pensamentos”. (Paulo Beleki)

“As nuvens mudam sempre de posição, mas são

sempre nuvens no céu. Assim devemos ser todo dia,

mutantes, porém leais com o que pensamos e

sonhamos; lembre-se, tudo se desmancha no ar,

menos os pensamentos”. (Paulo Beleki)

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RESUMO

A cárie relacionada à radiação (CRR) é uma das mais desafiadoras sequelas

decorrentes da radioterapia para a atividade odontológica. Embora seja

considerada uma consequência tardia da radioterapia, pode desenvolver-se

poucos meses após o término do tratamento. Caracteriza-se clinicamente por

acometer inicialmente a região cervical de praticamente todos os dentes, incisal

dos dentes anteriores e cúspides de dentes posteriores. Outro aspecto peculiar

é que a CRR tem progressão rápida podendo promover fraturas e até mesmo a

destruição completa da coroa dos dentes. Apesar de várias pesquisas

abordando CRR, existem poucos estudos analisando a morfologia de cáries

que alcancem a dentina circumpulpar desses dentes. Portanto, o objetivo deste

trabalho foi avaliar as características macroscópicas e microscópicas de cáries

que atingiram a dentina circumpulpar de dentes irradiados e não irradiados

através de microscopia de luz polarizada, microscopia eletrônica de varredura e

análise do conteúdo mineral da dentina circumpulpar de dentes irradiados e

não irradiados. Para isso, 40 dentes recebidos por doação do Instituto do

Câncer do Estado de São Paulo foram analisados macroscopicamente, e

classificados radiograficamente entre dois subgrupos: cárie superficial e

profunda. Destes dentes, 10 eram não irradiados e foram utilizados como

controle. Dois cortes de 100μm para avaliação no microscópio eletrônico de

varredura e no microscópio de luz polarizada foram realizados em cada dente

através de cortadeira de precisão e lixamento. Informações demográficas dos

pacientes e dados clínicos referentes principalmente à localização,

estadiamento do tumor e dose de radioterapia foram coletados. Os resultados

obtidos não demonstraram morfologia distinta dos dentes irradiados para os

não irradiados, assim como os valores do conteúdo mineral por porcentagem

de peso de Ca e P (66,65% e 33,21% para Ca e P, respectivamente no grupo

irradiado e 66,60% e 33,29% no grupo não irradiado) e a razão Ca/P (2,74 e

2,72, respectivamente no grupo irradiado e não irradiado), sem valores

estatisticamente significante (p>0,05). As cáries profundas de dentes irradiados

demonstram mesmo padrão morfológico dos dentes não irradiados. Além

disso, os dentes irradiados preservaram a capacidade de reagir ao estímulo

infeccioso como produzir dentina de reparação.

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Palavras-chave: Conduto radicular. Cárie de radiação. Microscopia de

polarização. Microscopia eletrônica de varredura. Radioterapia. Neoplasias

bucais.

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ABSTRACT

Radiation-related caries (RRC) are one of the most challenging sequelae of

radiation therapy for dental activity. Although it is considered a late

consequence of radiotherapy, it can develop a few months after the end of the

treatment. It is characterized clinically by affecting initially the cervical region of

almost all teeth, incisal of the anterior teeth and cusps of posterior teeth.

Another peculiar aspect is that the radiation caries has a rapid progression and

can promote fractures and complete destruction of the crown of the teeth.

Although several studies address RRC, there are few studies analyzing the

morphology of caries that reach the dentin circumpulpar teeth. Therefore, the

objective of this work was to evaluate the macroscopic and microscopic

characteristics of caries that reached the circumumpulpar dentine of irradiated

and non-irradiated teeth through polarized light microscopy, scanning electron

microscopy and analysis of the mineral content of circumpulpal dentin of

irradiated and non-irradiated teeth. For this, 40 teeth received by donation of the

Institute of Cancer of the State of São Paulo were analyzed macroscopically,

and classified radiographically between two subgroups: superficial and deep

caries. Of these teeth, 10 non-irradiated teeth were used as controls. Two

100μm cuts for evaluation in a scanning electron microscope and polarized light

microscopy were performed on each tooth using precision cutter and sanding.

Patient demographics and clinical data referring mainly to tumor location,

staging and radiotherapy dose were collected. The obtained results did not

demonstrate distinct morphology of the irradiated teeth from the non-irradiated

teeth as well as the mineral content values by weight percentage of Ca and P

(66.65% and 33.21% for Ca and P, respectively in the irradiated group and

66.60% and 33.29% in the non-irradiated group) and the Ca / P ratio (2.74 and

2.72, respectively in the irradiated and non-irradiated group), with no statistically

significant values (p> 0.05). The deep cavities of irradiated teeth even show a

morphological pattern of the non-irradiated teeth. In addition, the irradiated teeth

preserve the ability to react to the infectious stimulus such as to produce

reparative dentin.

Key words: Root canal. Radiation caries. Polarization microscopy. Scanning

electron microscopy. Radiotherapy. Oral neoplasms.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................14

2 REVISÃO DA LITERATURA...........................................................................15

3 PROPOSIÇÃO................................................................................................31

4 MATERIAL E MÉTODOS...............................................................................32

5 RESULTADOS................................................................................................36

6 DISCUSSÃO...................................................................................................60

7 CONCLUSÃO.................................................................................................68

REFERÊNCIAS.................................................................................................69

APÊNDICE 1 - Ficha de estudo.........................................................................86

ANEXO 1 - Certificado do Comitê de Ética em Pesquisa..................................87

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1. INTRODUÇÃO

Tumores malignos localizados na região de cabeça e pescoço

compreendem a sétima posição no ranking de incidência de localização de

cânceres. Geralmente são diagnosticados em estágio avançado o que acaba

por requerer um tratamento agressivo, com utilização da radiação como

método adjuvante ou exclusivo (Warnakulasuriya et al., 2007; Rodrigues et al.,

2014; Curado et al., 2016). No entanto, a radioterapia causa uma série de

sequelas agudas e crônicas nos tecidos adjacentes ao tumor, que impactam na

qualidade de vida do paciente. Hipossalivação, cáries relacionadas à radiação

e osteorradionecrose são exemplos importantes de toxicidades da radioterapia

no âmbito odontológico (Sroussi et al., 2017).

As cáries relacionadas à radiação são um problema desafiador, uma vez

que podem levar à rápida destruição coronária e perda do dente em curto

período de tempo. Possuem predileção por áreas do dente diferentes das

cáries convencionas (Vissink et al., 2003; Kielbassa et al., 2006; Silva et al.,

2009). Muito se discute sobre a cárie relacionada à radiação ser originada por

um efeito direto ou indireto da radioterapia na estrutura dental, com evidências

atuais direcionando à um provável efeito indireto. (Silva et al., 2009; Faria et

al., 2014)

O manejo das cáries de radiação é complicado, visto que mesmo

quando os dentes são passíveis de restauração, há possibilidade de

desenvolvimento de cáries secundárias e/ou desprendimento do material

restaurador dificultando a manutenção do dente (McComb et al., 2002). Por

outro lado, exodontias devem ser evitadas devido ao risco de desenvolvimento

de osteorradionecrose (Strojan et al., 2017). Desta forma, o tratamento

endodôntico é uma opção viável. Entretanto, tem se observado clinicamente,

de forma empírica, dificuldades na remoção de tecido dentinário amolecido na

parede do canal de dentes irradiados, assim como redução no pico de fosfato

conforme há aprofundamento em dentina (Reed et al., 2015).

Sendo assim, é importante saber se a morfologia das cáries que

acometem a região de canal radicular de dentes irradiados se comporta de

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modo diferente dos dentes não irradiados, visando possíveis elucidações

quanto ao manejo endodôntico dos pacientes irradiados.

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Câncer de cabeça e pescoço

A doença câncer é considerada um problema de saúde pública no Brasil

e no mundo (Brasil, 2014). Os cânceres de cabeça e pescoço (CCP)

representam em sua maioria neoplasias malignas que acometem as regiões de

lábio, cavidade oral, faringe, laringe e glândulas salivares e representam cerca

de 5% de todos os novos cânceres diagnosticados em adultos (Iglesias do

Campo et al., 2017). O último estudo do projeto Globocan (2012) realizado pela

Agência Internacional de pesquisa do câncer (IARC) da organização mundial

de saúde (OMS) indicou uma estimativa de 1.055.421 de novos casos para os

cânceres de cabeça e pescoço que incluem lábio, cavidade oral, laringe e

faringe. De todos os locais indicados de neoplasias malignas de cabeça e

pescoço do projeto, a cavidade oral é o sítio com maiores números, com

estimativa de 300 mil novos casos de câncer oral para o ano de 2012 em todo

o mundo e de 15.490 novos casos no Brasil para o ano de 2016 (Brasil/Inca,

2016).

A etiologia dos CCP está, principalmente, relacionada ao uso de tabaco

e álcool (para tumores de boca e orofaringe), infecção pelo papiloma vírus

humano (HPV) (orofaringe) e pelo Epstein barr vírus (nasofaringe), exposição à

radiação solar (lábio), dieta e predisposição genética (D’Souza et al., 2007;

Sturgis et al., 2007; Pelucchi et al., 2008; Tarvainen et al., 2008; Hashibe et al.,

2009; Lin et al.,2017).

O sistema de estadiamento tumor linfonodo metástase (TNM) é a forma

de estadiamento tumoral amplamente utilizada e aceita em todo mundo, que

tem por objetivo classificar globalmente a doença a partir da avaliação do

tamanho clínico e profundidade de invasão histopatológica; presença,

localização e extensão extranodal dos linfonodos regionais e a presença de

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metástase à distância para tumores de cabeça e pescoço separadamente por

grupo anatômico e por etiologia (Lydiatt et al., 2017). A partir da análise dos

graus de combinação entre tamanho, características linfonodais e metástase à

distância, o TNM é capaz de auxiliar a determinação do prognóstico e guia de

tratamento a partir do estadiamento geral do tumor (Mesía Nin et al., 2010).

A despeito dos avanços tecnológicos, muitos diagnósticos de câncer de

cabeça e pescoço são realizados em fase tardia da doença, com estadiamento

clínico avançado, o que está relacionado com pior prognóstico e tratamento

mais agressivo (Rodrigues et al., 2014). As possibilidades de tratamento

consistem em abordagens cirúrgicas, radioterapia e quimioterapia, isoladas ou

associadas e a escolha da terapêutica é guiada, principalmente, pelo TNM

(Wittekind et al., 2001).

Mais da metade dos pacientes com CCP apresentam doença local ou

regionalmente avançada e são tratados tanto com a cirurgia e radioterapia ou

com tratamento multimodal, incorporando radioterapia e quimioterapia (Sciubba

e Goldenberg, 2006).

2.2. Radioterapia

Ainda que o tratamento cirúrgico seja considerado o tratamento de

escolha para a maioria dos cânceres de cabeça e pescoço, a radioterapia vem

sendo utilizada como opção curativa ou paliativa, de modo adjuvante ou

neoadjuvante (Seiwert et al., 2007). A radioterapia como abordagem única e

definitiva de tratamento é geralmente utilizada para os casos onde a cirurgia é

contraindicada (tumor irressecável cirurgicamente e/ou comorbidades

sistêmicas). Além disso, quando utilizada após cirurgia, como terapia

adjuvante, é indicada principalmente para doença localmente avançada e em

fatores histopatológicos como margens comprometidas, invasão neural ou

linfovascular e estadiamento geral da doença (Lin et al., 2017).

Um acelerador linear foi usado pela primeira vez para tratar um paciente

em 1952 e a partir de então, a compreensão dos aspectos físicos e biológicos

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da radioterapia progrediu de modo significativo. Os raios-x e os elétrons

produzidos por aceleradores lineares são amplamente utilizados clinicamente

e, portanto, desempenham um papel primordial na terapia de radiação (Ogawa,

2016). Radioterapia conformacional tridimensional (3D) e mais atualmente e

ainda não implementadas em todos os centros a radioterapia com modulação

da intensidade do feixe (IMRT – Intensity Modulated Radiation Therapy)

radioterapia guiada por imagem (IGRT – Image-guided Radiation Therapy) e

próton radioterapia, permitem o planejamento tridimensional do campo de

radiação e controle da quantidade de radiação em cada região respectivamente

(Lee e Terezakis, 2008, Stoiber et al., 2013; Holliday e Frank 2014). Estima-se

que cerca de 80% de todos os pacientes com CCP serão irradiados pelo

menos uma vez durante o percurso da doença (Strojan et al., 2017).

O efeito da radioterapia nas células tumorais ocorre através da ação

direta ou indireta da radiação sobre o DNA das células cancerígenas gerando

morte celular e diminuição de atividade maligna do tumor (Huber e Terezhalmy,

2003). A radiação tem efeitos diretos sobre o ácido desoxirribonucléico (DNA)

quando, por exemplo, um elétron secundário resultante da absorção de um

fóton de raio-x interage com o DNA resultando em efeito maléfico na fase de

duplicação do ciclo celular, gerando fragmentação do DNA. Os efeitos indiretos

estão relacionados com elétrons secundários que podem interagir com

moléculas de água, por exemplo, para produzir um radical hidroxila, que por

sua vez tem a capacidade de danificar de forma significativa a molécula de

DNA (Ogawa, 2016). Apesar de todo esse efeito indireto, ainda assim, as

células tumorais podem ativar respostas adaptativas para tentar restaurar os

danos ao DNA e assim retornar ao seu padrão natural de homeostase.

Contudo, quando o dano é intenso, os mecanismos adaptativos falham e as

células tumorais entram em processo de senescência ou sofrem apoptose,

através da ativação de uma ou mais cascatas de transdução de sinais com

consequências letais pela morte celular programada. A determinação da

quantidade de dano e consequente destino celular é diretamente proporcional à

dose de radiação aplicada (Wennerberg et al., 2017). A dose de radiação

terapêutica é expressa pela quantidade de energia absorvida pelo tecido

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irradiado, e a unidade de medida que padroniza a dose absorvida pelo tecido é

Gray (Gy = 1 J/Kg) (Huber eTerezhalmy, 2003).

Devido aos potenciais danos causados pela radiação aos tecidos

(tumoral e normal), a dose é fracionada, de modo que a área a ser irradiada

receba pouco a pouco, doses pequenas até que complete a dose máxima

terapêutica. A dose máxima de radiação irá depender se a radioterapia será a

única abordagem terapêutica ou se será realizada de forma combinada com

outras terapias. A maioria dos pacientes com CCP tem a radioterapia como

abordagem curativa e, portanto recebe dose total de radiação que varia de 50 a

70 Gy. Esta dose é fracionada em dois Gy durante um período de cinco a sete

semanas. É realizada uma vez por dia, cinco dias por semana, tendo

interrupção por 2 dias aos finais de semana (Dobbs et al., 1999; Huber e

Terezhalmy, 2003; Vissink et al., 2003b; Kielbassa et al., 2006).

2.3. Repercussões da radioterapia nos tecidos biológicos na região de

cabeça e pescoço

Tendo em mente que a principal atuação da radioterapia é limitar o

potencial proliferativo das células tumorais através da indução de morte celular

mediada por diferentes fatores intrínsecos celulares (Deloch et al., 2016) e que

a mesma, apesar dos avanços tecnológicos, não fica restrita somente às

células alteradas, é de se esperar que o tecido normal adjacente ao tumor

receba alguma dose de radiação, resultando em dano celular. A manifestação

clínica resultante ao dano depende da sensibilidade à radiação e da

organização celular dos tecidos irradiados, bem como da localização e da dose

de radiação acumulada nestes tecidos (Bentzen et al., 2010).

De uma forma geral, as toxicidades da radioterapia são divididas em

agudas e crônicas. Toxicidades agudas são referentes aos efeitos observados

logo nas primeiras semanas de tratamento, a partir de dose acumulada de 10 à

20Gy e tendem a cessar após o tratamento. Toxicidades crônicas são

classificadas como os efeitos que surgem após três meses ou mais após o

término da terapia e estão relacionadas às doses acumuladas acima de 50Gy,

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com perpetuação das complicações ou da disponibilidade delas ocorrerem por

toda a vida do paciente implicando em um importante impacto na qualidade de

vida (Huber e Terezhalmy, 2003; Kielbassa et al., 2006; Jellema et al., 2007,

Langendijk et al., 2008, Barnett et al., 2009).

Dentre as toxicidades agudas, os principais efeitos que ocorrem nessa

fase são a alteração gustatória, mucosite, xerostomia e infecções. As

alterações sensoriais de sabor são percebidas logo nas primeiras semanas de

tratamento e podem ser desde alteração do paladar até a perda completa da

percepção gustativa. Inicia-se por volta da absorção acima de 10 Gy e

conforme ocorre acúmulo de radiação no tecido o paladar vai se alterando de

forma negativa e progressiva a partir do acúmulo de 30 Gy. Além disso, a

disgeusia aumenta a susceptibilidade dos pacientes à cárie devido ao aumento

no consumo de carboidratos motivados pela satisfação provocada pelo

reconhecimento facilitado do sabor de açúcares da dieta (Kielbassa et al.,

1997). Apesar da disgeusia se resolver espontaneamente após o término do

tratamento, está relacionada com apetite e escolha dos alimentos, o que

implica diretamente no status nutricional geral do paciente (Beumer et al, 1979;

Kielbassa et al., 2006, Sroussi et al., 2017).

De modo semelhante, o estado nutricional do paciente pode ser afetado

a partir do surgimento de mucosite, que é o efeito agudo mais impactante que

afeta a maioria dos pacientes com CCP submetidos à radioterapia. Por volta da

segunda à terceira semanas de tratamento, eritemas, erosões e úlceras

cobertas por pseudomembrana surgem principalmente em mucosa oral não

queratinizada (mucosa jugal, borda lateral de língua, palato mole e assoalho de

boca), devido à diminuição da renovação das células do epitélio. A precisa

localização dos sítios acometidos por mucosite é dependente da área

acometida pelo tumor (Dörr et al., 2002, Sroussi et al., 2017). A inflamação e

consequente dor associadas à mucosite levam a dificuldade de alimentação

líquida e/ou pastosa, deglutição e fala e até mesmo na tomada de decisão da

implantação de alimentação via sonda nasogástrica ou interrupção do

tratamento radioterápico (Kielbassa et al., 2006). A principal ferramenta de

avaliação do grau de gravidade da mucosite são escalas da OMS, do National

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Cancer Common Toxicity Criteria (NCI-CTC), Radiation Therapy Oncology

Group (RTOG) e a Eastern Cooperative Oncology Group (ECOG) (Sonis et al.,

2004). A escala da OMS e é baseada na presença e aspecto clínico da lesão e

capacidade de alimentação do paciente e é amplamente utilizada (Tabela 1).

Cessado o estímulo da radiação, a mucosite pode permanecer de duas à

quatro semanas até sua remissão completa (Sroussi et al., 2017).

Tabela 1: Classificação do grau de mucosite segundo a OMS

Grau Descrição

0 (Sem mucosite) Sem alterações

I (leve) Dor/incômodo e eritema

II (moderada) Eritema e úlceras com dieta sólida

III (intensa) Úlceras e dieta líquida

IV (risco de vida) Impossibilidade de alimentação oral

Finalizando os principais efeitos agudos da radioterapia, infecções

oportunistas podem surgir. A candidose pseudomembranosa de orofaringe é a

infecção oportunista mais frequente em pacientes com CCP, apresentando-se

como placas brancas sobre um fundo eritematoso localizadas em orofaringe.

Seus sintomas são variáveis desde nenhum sintoma até ardência e dor, que

pode alterar o padrão de deglutição e desencorajar a alimentação e

administração de medicamentos via oral (Sroussi et al., 2017).

Como consequência dos sintomas das principais alterações agudas da

radioterapia, observam-se problemas de ordem nutricional, perda de peso e

necessidade de dieta à base de alimentos pastosos e alto teor de carboidratos

(Kielbassa et al.,1997) o que pode acarretar em um impacto negativo na

higiene e saúde oral já durante o período de “trans-tratamento”.

No grupo das toxicidades crônicas da radioterapia, às cáries

relacionadas à radiação, hipossalivação e/ou xerostomia e a

osteorradionecrose são de grande importância para o universo odontológico.

A xerostomia é uma sensação subjetiva de boca seca caracterizada pela

diminuição ou espessamento da saliva. É considerada como resultado da

função diminuída das glândulas salivares ou alteração da composição salivar,

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acarretando em problemas de deglutição e fala (Strojan et al. 2017). A

produção de saliva estimulada é dependente da função das glândulas salivares

maiores, que geralmente estão dentro do campo de radiação para tratamento

dos CCP. A radioterapia altera o parênquima das glândulas salivares, gerando

uma diminuição no fluxo salivar e modificação de sua composição normal. O

grau de hipossalivação varia de acordo com cada paciente, e a recuperação

parcial das glândulas salivares pode acontecer. A recuperação da função está

relacionada à dose de radiação recebida pela glândula. Com baixas doses de

radiação o dano pode ser reversível, no entanto, com doses superiores a 60

Gy, acontece uma extensa degeneração irreversível dos ácinos e consequente

hipossalivação intensa e permanente (Dreyer et al., 1989; Kielbassa et al.,

2006; Jensen et al., 2010). A hipossalivação resulta em disfagia e disfonia,

sensação de queimação, fissuras labiais e aumento na susceptibilidade a

infecções orais oportunistas como a candidose pseudomembranosa (Hancock

et al., 2003; Vissink et al., 2003). Apesar da hipossalivação e/ou xerostomia

estar presente desde as primeiras semanas de início da radioterapia, suas

consequências são mantidas mesmo depois do término do tratamento,

geralmente em um padrão permanente das alterações (Möller et al., 2004;

Konings et al., 2005).

Uma importante função da saliva é a lubrificação e proteção da mucosa

e também dos dentes, entretanto, a radioterapia é capaz de acarretar

alterações na composição salivar e com consequente prejuízo em suas

funções. Alteração na capacidade tampão, mudança no padrão de defesa

imune e diminuição drástica no pH salivar de 7,0 para 5,0, acaba por alterar de

forma significativa a saliva, tornando-a ácida suficiente para gerar

desmineralização da matriz inorgânica dentária com a dissolução dos minerais

do esmalte e da dentina (Kielbassa et al., 1997) ocasionando cáries

relacionadas à radiação, que serão melhor descritas em um tópico à frente.

Trismo é a limitação da abertura de boca e pode ser observada em

pacientes submetidos à radioterapia na região de cabeça e pescoço com

incidência em torno de 5 a 45%. A radioterapia é capaz de causar fibrose em

músculos mastigatórios que estão envolvidos no campo de radiação através de

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eventos inflamatórios, com consequente trismo (Sroussi et al., 2017). É um

importante fator na saúde geral do paciente, visto que dificulta a alimentação e

a higiene bucal pelos pacientes apresentando este quadro clínico (Kielbassa et

al., 1997).

Outro efeito crônico é a osteorradionecrose que é definida como um

processo necrótico do osso resultante de elevadas doses de radiação, com

maior possibilidade de ocorrer com absorção a partir de 60Gy (Strojan et al.,

2017). Alguns fatores de risco aumentam a probabilidade de surgimento da

oesteorradionecrose, de forma direta ou indireta. Além da dose, fatores como

extrações dentárias pós-radioterapia, trauma por prótese e biópsia óssea

podem levar de forma direta o surgimento de osteorradionecrose. No entanto, a

xerostomia e o trismo são fatores que podem diminuir a qualidade da higiene

bucal, ocasionando cáries relacionadas à radiação, aumentando assim, de

forma indireta, as chances de desenvolvimento de osteorradionecrose (Strojan

et al., 2017). Sua incidência tem variação de 2 a 15% e ocorre com maior

frequência nas regiões de pré-molar, molar e região retromolar de mandíbula

(Buglione et al., 2016). A mandíbula é mais suscetível do que a maxila devido à

vascularização colateral presente em maxila, o que a torna mais vascularizada

e menos compacta que a mandíbula (Wesson et al., 2016). O mecanismo

relacionado ao surgimento de osteorradionecrose refere-se ao chamado

“princípio dos três-H” do local irradiado, que apresentam hipocelularidade,

hipovascularidade e hipóxia, onde no tecido que foi irradiado a capacidade de

substituir a perda normal celular e de colágeno é comprometida de forma

importante, acarretando em necrose devido à relação de taxa de morte celular

normal ou induzida e quebra de colágeno (Marx et al., 1983). A

osteorradionecrose apresenta-se clinicamente de maneiras variadas e seus

estágios são referentes às características clínico-radiográficas (Tabela 2).

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Tabela 2: Classificação clínico-radiográfico da osteorradionecrose

Estágio Características

0 Defeito da mucosa; sem sinais radiográficos

1 Mucosa intacta; sinais radiográficos de necrose óssea presentes

2 Osso exposto; sinais radiográficos de necrose óssea presentes

3 Osso exposto; sinais radiográficos presentes; fístula orocutânea;

infecção localizada Adaptado de Wesson et al., 2016.

A maior susceptibilidade às cáries e risco de desenvolver

osteorradionecrose permanecem por toda a vida do paciente (Huber e

Terezhalmy, 2003; Kielbassa et al., 2006).

Mucosite, disgeusia, hipossalivação, infecções oportunistas, trismo,

osteorradionecrose e cáries, são os efeitos mais relevantes da radioterapia na

região de cabeça e pescoço que afetam negativamente a qualidade de vida

dos pacientes com CCP (Vissink et al., 2003).

2.4. Cárie relacionada à radiação e efeitos da radiação sobre a

estrutura dental

Aceita-se que a cárie relacionada à radiação (CRR) seja um dos mais

desafiadores problemas decorrentes da radioterapia para a atividade

odontológica, visto que pode ocorrer poucos meses após o término do

tratamento radioterápico e levar à rápida destruição e perda do dente em curto

período de tempo (Vissink et al., 2003; Kielbassa et al., 2006).

O surgimento da CRR se dá inicialmente na cervical e incisal de dentes

anteriores e cúspides de dentes posteriores, aspecto distinto das cáries

convencionais não relacionadas com pacientes não irradiados. Outro aspecto

interessante recentemente descrito é que as lesões iniciais de CRR podem

manifestar-se como pigmentação marrom ou castanha nas superfícies lisas de

esmalte e dentina (Silva et al., 2009).

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Alguns trabalhos vêm estudando a etiologia da CRR através da dinâmica

da ação da radiação sobre a estrutura dentária. Inicialmente a etiologia da CRR

foi atribuída a uma junção de fatores causados pela radiação diretamente sobre

a mucosa oral e glândulas salivares, ou seja, de forma indireta ao dente. Um

quadro clínico de mucosite seria capaz de dificultar a alimentação do paciente

e a higienização mecânica tradicional devido à dor associada e somado a este

quadro, a hipossalivação traria uma maior dificuldade imunológica pela

diminuição de saliva e toda sua capacidade protetora (Dreizen et al., 1977 a,b;

Singh, Scully e Joyston-Bechal, 1996). Alguns autores indicaram até que a

presença de CRR não é definida pela presença do dente no campo de

irradiação, mas sim a presença das principais glândulas salivares dentro do

campo de irradiação como fator principal da possibilidade de surgimento da

CRR (Del Regato, 1939; Frank et al., 1965; Karmiol e Walsh, 1975; Brown et

al., 1976; Dreizen et al., 1976).

Apesar destas conclusões há cerca de 30 anos, alguns estudos

propuseram que a radiação ionizante seria capaz de interferir na microestrutura

dental através da destruição dos componentes micromorfológicos dos dentes,

como a estrutura prismática do esmalte, junção amelodentinária e

componentes orgânicos e constitutivos da dentina e da polpa dentária, como o

colágeno, o que tornaria os dentes irradiados com maior propensão às CRR

(Joyston-Bechal, 1985; Al-Nawas et al., 2000; Açil et al., 2005; Springer et al.,

2005; McGuire et al., 2014). Além disso, há relatos de que a polpa dentária é

afetada de modo negativo pelos efeitos diretos da radiação que seriam

capazes de diminuir a vascularização pulpar, com desencadeamento de

fibrose, que alteraria a resposta do dente frente à agressão da cárie, o que

explicaria a alta destruição observada nas CRR (Kalnis et al.,1954; Meyer et

al., 1962; Vier-Pelisser et al., 2007). Entretanto, estudo de Silva e

colaboradores (2009) demonstrou que a CRR evolui histologicamente da

mesma maneira que a cárie convencional e acrescenta que a dentina irradiada

preserva a sua capacidade de reparação frente à CRR, com as conhecidas

dentina reacional e intra-tubular. De forma a complementar essas informações,

Faria e colaboradores em 2014, avaliando os efeitos da radiação sobre a

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microvascularização e inervação da polpa dentária de pacientes expostos à

radioterapia para tratamento de câncer de cabeça e pescoço, encontraram que

a estrutura da polpa dentária é altamente preservada, sugerindo que há

manutenção da atividade da microvascularização, inervação e da matriz

extracelular de fibroblastos da polpa, colaborando diretamente para um novo

panorama de entendimento da etiologia da CRR.

Deste modo, apesar de o termo cárie de radiação ser amplamente

utilizado para descrição de cáries rampantes que ocorrem após radioterapia na

região de cabeça e pescoço (Sroussi et al., 2017), este termo transmite a

sensação de que as cáries ocorrem por um efeito direto da radiação e como

isso ainda não está estabelecido, o termo cáries relacionadas à radiação nos

parece ser mais adequado.

Uma vez estabelecida, a CRR se torna um desafio para a abordagem

terapêutica, visto que a literatura vem descrevendo baixa longevidade das

restaurações, principalmente através de recorrentes cáries secundárias e

desprendimento do material restaurador na interface dente-restauração

(Wostmann e Rasche, 1995; Hu et al., 2002; McComb et al., 2002). Devido à

presença de cáries secundárias, a utilização do ionômero de vidro como

alternativa devido ao seu potencial de liberação de flúor se mostrou eficiente

quando comparado às resinas compostas convencionalmente utilizadas para

restaurações (McComb et al., 2002). Contudo, este material não é a melhor

opção em pacientes irradiados devido à queda significante na quantidade de

saliva, o que interfere diretamente na incorporação de flúor pelo ionômero de

vidro e sua posterior liberação. O material ideal para restauração em dentes de

pacientes irradiados ainda é inexistente, este deveria ser de fácil manipulação

e inserção, liberador de flúor e com sobrevida suficiente para remineralizar o

tecido cariado, evitando cáries secundárias (Silva et al., 2010).

Para minimizar as complicações orais da radioterapia, os pacientes

deveriam receber um acompanhamento tanto pré quanto pós-terapia.

Entretanto, muitos pacientes não passam por uma análise odontológica pré-

radioterapia e com isso desenvolvem CRR. Outros pacientes, apesar de terem

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sido avaliados previamente, também desenvolvem CRR com possibilidades de

desenvolverem osteorradionecrose devido ao foco de infecção. Desta forma,

dentes com CRR que amputam a coroa dental, sem compatibilidade de ser

restaurado ou com presença de lesão periapical, devem ser avaliados para

tratamento endodôntico para debelar a infecção e minimizar as chances de

osteorradionecrose.

2.5. Tratamento endodôntico em dentes irradiados

Experiências clínicas vêm demonstrando presença de dentina amolecida

no conduto radicular de dentes de pacientes irradiados, o que prejudica o

processo de selamento do canal, influenciando diretamente na sobrevida do

tratamento endodôntico. Alguns estudos foram publicados em língua inglesa

acerca de tratamento endodôntico em dentes irradiados através de relatos de

série de casos, avaliação da microdureza e resistência flexural da dentina e

vedamento apical (Cox, 1976; Montgomery, 1977; Matson et al., 1978;

Markitziu e Heling 1981; Seto et al., 1985; Kielbassa et al. 1995; Bodrumlu et

al., 2009; Novais et al., 2016).

Em relação às dificuldades observadas durante o tratamento

endodôntico, as toxicidades da radioterapia são descritas como fatores

importantes. O trismo vem sendo descrito como uma característica que limita a

terapia endodôntica por dificultar o processo de anestesia e controle de dor,

isolamento absoluto, assim como o adequado manejo dos materiais da prática

endodôntica. Fatores como xerostomia e mucosite, quando presentes, podem

agravar ainda mais as limitações do tratamento e sua consequente longevidade

(Montgomery et al., 1977).

Entretanto, no estudo de Seto e colaboradores, em 1985, com 16

pacientes irradiados e 54 canais tratados, com período de acompanhamento

variando de 6 a 54 meses, obteve-se sucesso de 85% na longevidade do

tratamento endodôntico e 100% de sucesso em ausência de

osteorradionecrose relacionada aos dentes tratados. Porém, este índice de

sucesso não é unanimidade. Marktziu et al. (1981) relataram 18% de sucesso,

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e atribuíram esta baixa taxa a possíveis efeitos deletérios da radiação sobre a

estrutura dentária.

O sucesso do tratamento endodôntico é dependente da limpeza e

desinfecção do sistema de canais radiculares, assim como pelo fechamento

das possíveis portas de entrada para o processo de reinfecção, o que requer

um material de preenchimento que consiga criar um selamento hermético entre

sistema de canais radiculares e tecidos adjacentes (Ruddle, 2004; Veríssimo e

do Vale, 2006). Apesar de ser um aspecto importante no sucesso do

tratamento endodôntico, no melhor do nosso conhecimento apenas um estudo

avaliando o selamento apical em dentes irradiados está disponível na língua

inglesa. Este trabalho conclui que a capacidade do vedamento apical por

material resinoso em dentes não irradiados não possui diferença estatística

significante quando comparado com dentes irradiados (Bodrumlu et al., 2009).

Outro estudo in vitro que avaliou a microdureza e resistência flexural da dentina

a partir da presença ou não de tratamento endodôntico e exposição à radiação

encontrou que a radioterapia e o tratamento endodôntico não influenciaram na

resistência à flexão da dentina. Entretanto, observou-se que a radioterapia

causou efeitos deletérios à microdureza da dentina com exacerbação quando

associado ao tratamento endodôntico pós-radiação (Novais et al., 2016).

Exodontias em pacientes irradiados devem ser evitadas quando possível

devido ao fato de risco de osteorradionecrose (Strojan et al., 2017) o que torna

o tratamento endodôntico uma saída segura e viável para controle de infecção

e prevenção de osteorradionecrose. Entretanto, de modo geral, a terapia

endodôntica em dentes irradiados ainda permanece com poucos estudos e

necessita de maiores investigações e elucidações.

2.6. Recursos utilizados para estudo morfológico e estrutural dos

dentes acometidos por cárie

Alguns recursos de microscopia vêm sendo utilizados para estudo

morfológico e do conteúdo mineral das estruturas dentárias, como a

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microscopia de luz polarizada, microscopia eletrônica de varredura e

microanálise por espectroscopia por dispersão de energia (Silva, 2008).

2.6.1. Microscopia de luz polarizada

A técnica de microscopia de luz polarizada é um recurso importante para

estudo da cárie, devido ao fato de que pode exibir a diferenciação e a

identificação de áreas com estruturas diferentes em um mesmo tecido. A

microscopia de luz polarizada é uma técnica sensível que pode mostrar

alterações nos tecidos duros, perda ou ganho mineral através da visualização

direta da amostra. Na avaliação da estrutura dentária, o dente saudável possui

uma capacidade de birrefringência se tornando brilhoso na polarização,

enquanto áreas com perda de mineral aparecem opacas e escuras quando

comparadas entre si. Apesar de ser uma técnica simples, tem a limitação de

que a qualidade das imagens obtidas é dependente do método de preparação

dos espécimes (Arends e Bosch, 1992; Oldenbourg, 2013).

Diante da capacidade de observação de diferenças minerais em um

mesmo tecido através da observação óptica, cáries dentais podem ser

estudadas por microscopia de luz polarizada que costuma identificar dentina

desmineralizada, esclerose dentinária, zona translúcida abaixo da dentina

desmineralizada, tratos mortos dentinários e dentina sadia. Geralmente o

formato da lesão de cárie observada por microscopia se dá através da direção

dos canalículos dentinários, com um padrão de ‘’meia-lua’’ em lesões

incipientes ou em formato triangular, observada principalmente na região de

coroa dental (Consolaro, 1996; Arnold et al., 2007).

.

2.6.2. Microscopia eletrônica de varredura

Existem diversos sistemas de análise baseados na microscopia

eletrônica de varredura e um método bem utilizado para a avaliação de lesões

de cárie é a utilização da detecção dos elétrons retro-espalhados. Elétrons

retro-espalhados (ERE) são aqueles que possuem energia que varia entre

50eV até o valor da energia do elétron primário. Eles são gerados a partir da

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interação do feixe de elétrons com a superfície do material analisado, gerando

imagens que fornecem informações sobre a topografia do material a partir do

contraste que apresentam e também informações sobre a composição do

material analisado a partir dos números atômicos presentes na amostra (Boyde

e Jones, 1983; Goldstein et al., 1991; Angker et al., 2004; Arnold et al., 2007;

Dedavid, 2007).

Imagens por ERE são muito utilizadas para avaliação de tecidos

calcificados, devido ao contraste gerado pelas imagens, onde é possível avaliar

as diferenças de mineralização em uma mesma amostra. O contraste das

imagens é baseado em níveis de cinza e suas variações de tonalidade, onde

tecidos mineralizados tendem a apresentar níveis de cinza mais claro quando

comparados com tecidos menos mineralizados, essa contraste de imagem é

obtido justamente pelas diferenças entre os números atômicos de uma mesma

amostra (Hietala et al., 1993; Tjaderhane et al., 1995).

Os níveis de cinza em ERE são determinados pelo nível de

mineralização do tecido, sendo assim, descrevendo os extremos, o branco

representa as áreas mais mineralizadas enquanto o preto representa as áreas

de baixa concentração mineral. Quando há diminuição da concentração

mineral, as cores mudam do branco para o preto. Deste modo, o uso de ERE

no estudo da cárie possibilita comparar diferentes amostras e diferentes áreas

de uma mesma amostra através da visualização das alterações de cor (do

branco para o preto), que representam alterações na composição mineral, isto

é, áreas com processos de desmineralização (Hietala et al., 1993; Tjaderhane

et al., 1995, Angker et al., 2004; Mahoney et al., 2004; Arnold et al., 2007).

Lesões de cárie em ERE são escuras quando comparadas à dentina

sadia e ao esmalte, podendo-se geralmente observar, três diferentes camadas:

uma camada externa ou superficial (com tons mais claros de cinza, portanto

representando aumento da densidade mineral), uma camada intermediária ou

profunda (de cor escura, portanto representando diminuição do conteúdo

mineral) e uma camada transparente ou esclerótica (de tonalidade clara

caracterizada pelo aumento da densidade mineral) (Fusayama et al., 1966;

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Johnson et al., 1969; Fusayama e Kurosaki, 1972; Silverstone e Hicks, 1985;

Fusayama, 1991).

De modo geral, as lesões de cárie são bem definidas, podendo exibir

formato de “meia-lua” ou formato triangular (Consolaro, 1996; Arnold et al.,

2007).

2.6.3. Microanálise por dispersão de energia

A microanálise eletrônica consiste na medida de raios-X emitidos de

uma região da amostra bombardeada por um feixe de elétrons. As linhas de

raios-X são específicas do número atômico da amostra e o seu comprimento

de onda ou sua energia podem ser utilizados para identificar o elemento que

está emitindo a radiação. Espectros de raios-X podem ser obtidos para quase

todos os elementos da tabela periódica. A detecção dos raios-X é realizada

através de detectores presentes no MEV. Existem dois tipos de detectores que

captam raios-X por dispersão de energia ou por dispersão em comprimento de

onda, sendo o de dispersão de energia o mais utilizado para estudos de cárie

(Dedavid, 2007).

Os raios-x são captados por uma sonda posicionada perto da amostra,

sendo analisados e transformados em informações relacionadas à composição

química da amostra. Como cada elemento emite raios-x característicos, um

equipamento de espectroscopia de dispersão de energia pode identificar a

composição atômica da amostra (Goldstein et al., 1991, Kitajima e Leite, 1999;

Arnold et al., 2003).

Desta forma, pode se realizar a quantificação do conteúdo mineral de

interesse, no caso da estrutura dental, obtendo-se valores em porcentagem por

peso de Cálcio (Ca) e Fósforo (P) de cada área, que, além disso, pode resultar

na razão Ca/P, calculada a partir da utilização da microanálise (Arnold et al.,

2003).

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3. PROPOSIÇÃO

Geral:

Avaliar as características macroscópicas e microscópicas de cáries que

atingiram a dentina circumpulpar de dentes irradiados e não irradiados através

de microscopia de luz polarizada, microscopia eletrônica de varredura e testar

a hipótese de que a análise do conteúdo mineral da dentina circumpulpar de

dentes irradiados e não irradiados será semelhante.

Específicos:

Avaliar visualmente os aspectos morfológicos, através de microscopia de

luz polarizada e microscopia eletrônica de varredura, das cáries que alcançam

os condutos radiculares de dentes irradiados e não irradiados acometidos por

cárie;

Avaliar o conteúdo mineral da dentina circumpulpar de dentes irradiados

e comparar com dentes não irradiados.

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4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1. Seleção da amostra

Foram selecionados 30 dentes de pacientes que receberam radioterapia

para tratamento de CCP provenientes do Instituto do Câncer do Estado de São

Paulo (ICESP, São Paulo, SP, Brasil), Além disso, 10 dentes não irradiados de

pacientes com CCP que foram extraídos durante a adequação bucal pré-

radioterapia. Todos os dentes foram obtidos através de doação pelo

responsável chefe do setor de Odontologia do ICESP e todos os dentes foram

extraídos de acordo com as necessidades odontológicas individuais de cada

paciente, de modo independente da realização ou não da pesquisa. A amostra

doada foi armazenada em formol tamponado a 10% e transportada pelo

pesquisador responsável do local de doação até a Faculdade de Odontologia

de Piracicaba – Universidade Estadual de Campinas, instituição sede da

pesquisa, onde foi armazenada em um biorrepositório específico pelo período

de execução da pesquisa, nas dependências do laboratório de Patologia Oral e

Semiologia.

Foram coletadas informações de dados demográficos do paciente, assim

como informações clínicas principalmente referentes à localização e tipo do

tumor e da radioterapia (APÊNDICE 1). Essas informações foram coletadas

dos prontuários e banco de dados de pacientes do Departamento de

Odontologia do ICESP.

4.2. Análise macroscópica e radiográfica

Todos os espécimes foram descritos e fotografados. Cada dente foi

identificado e classificado, quando possível, de acordo com o grupo anatômico

a que pertenciam. Uma descrição morfológica macroscópica foi realizada com

o intuito de descrever o grau de destruição e preservação da estrutura dentária,

a presença de cárie e sua extensão clínica.

Todos os espécimes foram radiografados de maneira padronizada através

de um aparelho de raios-x digital (Sirona Dental Systems® GmbH, 20

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Bensheim, Germany), com tempo de exposição de 0,1s, e distância foco-filme

de 15 cm. A partir da análise das radiografias periapicais os dentes foram

classificados em cárie superficial e cárie profunda a partir do comprometimento

pulpar ou não.

4.3. Preparo das amostras

Os dentes foram limpos com curetas periodontais para remoção de restos

de tecido mole e posteriormente, cada dente foi seccionado longitudinalmente

no plano vertical com auxílio de um disco diamantado de alta concentração

(Extec, Enfield, CT, USA) em cortadeira de precisão (Isomet 1000- Buehler

Ltda., Lake Bluff, IL, USA). Foram realizados 2 cortes para análise em

microscopia de luz polarizada e microscopia eletrônica de varredura. A

superfície dos cortes foi polida com lixas de carbeto de silício nas granulações

600, 1.200, 2.000 e 4.000 para planificação e obtenção de espessura

aproximada de 100μm. Além disso, a padronização da espessura foi controlada

com auxílio de um paquímetro digital.

4.4. Microscopia de luz polarizada

Para visualização dos espécimes em microscópio de luz polarizada (DM

5.000, Leica, Wetzlar, Germany), um corte de aproximadamente 100μm de

cada dente foi preparado, como descrito no preparo da amostra, imerso em

água deionizada e colocado em lâmina de vidro e sob esta, uma lamínula.

Em um aumento de 50x, foi analisada a dentina que circunda o canal

radicular a partir da birrefringência esperada para dentina mineralizada e

desmineralizada e a presença ou não de dentina reacional. Todas as imagens

geradas foram capturadas por meio de uma câmera digital acoplada ao

microscópio de luz polarizada e analisadas com auxílio do programa de captura

de imagens Leica Qwin.

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34

4.5. Microscopia eletrônica de varredura

Um corte de aproximadamente 100μm de cada amostra, preparado como

descrito em preparo da amostra, foi utilizado para avaliação da superfície da

dentina. As amostras preparadas foram armazenadas em estufa a 40°C

(Modelo 315 SE – Fanem, SP, Brasil) para secagem durante 12 horas, fixadas

com auxílio de fita adesiva dupla face de carbono (Electron Microscopy

Sciences, Washington 19034 - USA) em porta espécimes (stubs) de acrílico e

cobertas por carbono usando-se o equipamento evaporador (Balzers SCD 050

sputter coater, Balzers Union Aktiengesellschaft, Furstentum Liechtenstein, FL-

9496 - Germany), com corrente de 45mA, por 160 segundos.

Em seguida os espécimes foram analisados em microscópio eletrônico de

varredura (JSM – 5600LV – JEOL LTD., Tokyo, Japan), com uso de elétrons

retroespalhados a uma aceleração de voltagem de 15KV, distância de trabalho

(work distance – WD) de 20mm e abertura das lentes objetivas (spotsize) de

43nm com aumento mínimo de 35 vezes. A observação pela microscopia

eletrônica de varredura constou de análise da dentina que circunda o canal

radicular a partir da diferença de variações de tons de cinza esperada para

dentina mineralizada e desmineralizada e a presença ou não de dentina

reacional.

4.6. Microanálise baseada na espectroscopia de dispersão de energia

A análise foi realizada com o auxílio do sistema de microanálise Vantage

(NORAN Instruments, Middleton, WI., USA) em associação com o microscópio

eletrônico de varredura, onde se especificou a geração da quantificação dos

elementos Cálcio (Ca) e Fósforo (P), obtida em porcentagem por peso de cada

elemento em duas áreas diferentes aleatórias e contralaterais de cada área de

dentina circumpulpar avaliada nos espécimes irradiados e não irradiados, ou

seja, foram feitas duas quantificações em região de dentina circumpulpar

coronal, duas em região média e duas em região apical nos dois grupos de

espécimes. O tempo de contagem em cada área foi de 100 segundos, com

PHA deadtime variando entre 20 e 25%.

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A partir dos dois valores de Ca e P obtidos de cada uma das áreas

avaliadas por espécime, foram calculados os valores médios de cada elemento

químico em cada região por amostra. Além disso, foram calculados também a

razão Ca/P para cada área estudada em cada espécime e as médias gerais de

Ca, de P e da razão Ca/P por área estudada.

As amostras utilizadas para a avaliação de microanálise baseada na

espectroscopia de dispersão de energia foram somente as com cárie profunda

classificadas pela avaliação radiográfica.

4.7. Análise estatística

Teste de qui-quadrado foi utilizado para tentativa de correlacionar a

razão de Ca/P para tentativa de correlação entre cada terço do canal radicular

separadamente dentro do grupo irradiado e não irradiado.

O teste T de Student foi utilizado para tentar correlacionar os valores da

razão de Ca/P entre os grupos irradiados e não irradiados.

A análise estatística foi realizada com o auxílio do programa MedCalc

Statistical Software versão 14.8.1 (MedCalc Software bvba, Ostend, Belgium;

http://www.medcalc.org; 2014) e para ambos os teste foi considerado valor

significativo de p≤0,05.

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5. RESULTADOS

A classificação radiográfica permitiu organizar os dentes da seguinte

forma: dos 30 dentes irradiados, 25 possuíam cárie profunda e cinco cárie

superficial enquanto no grupo dos 10 dentes não irradiados, cinco possuíam

cárie profunda e cinco com cárie superficial.

5.1. Perfil clínico-demográfico dos pacientes

5.1.1. Perfil clínico-demográfico dos pacientes irradiados

Os dentes irradiados com cárie profunda foram provenientes de 13

pacientes que receberam dose mínima de 50 Gy, com média de 66,30 Gy,

todos tratados pela modalidade 3D de radioterapia. A amostra foi composta

majoritariamente pelo gênero masculino (84,61%) com idade variando de 49 a

77 anos, com média de 57,53 anos. A localização do tumor primário mais

prevalente foi orofaringe (7 casos, 53,84%) seguido por laringe (3 casos,

23,07%) e cavidade oral (3 casos 23,07%), sendo todos em estadiamento

clínico avançado, ou seja, acima do estádio III, organizados na seguinte

prevalência: estádio IVA (8 casos - 61,53%), estádio IVB (3 casos - 23,07%) e

estádio III (2 casos – 15,38%).

Os dentes com cárie superficial foram provenientes de cinco pacientes,

que receberam dose mínima de 36 Gy e máxima de 70 Gy, com média de 61,2

Gy, todos tratados pela modalidade 3D de radioterapia. Os pacientes eram na

maioria mulheres (3 casos – 60%), com idade variando de 53 a 60 anos, com

média de 56 anos. A localização do tumor primário mais prevalente foi

orofaringe (3 casos – 60%), seguido por cavidade bucal e laringe (1 caso cada

localização – 20%). O estadiamento clínico de todos foi avançado, com a

maioria dos casos em estádio IVA (2 casos – 40%), III (1 caso – 20%), um

caso de Linfoma Não-Hodgkin em orofaringe com estadiamento AnnArbor IIEA

(1 caso – 20%), e por fim, um caso sem informação do estadiamento TNM.

As informações completas do perfil clínico-demográfico dos pacientes

irradiados estão listadas na tabela 3.

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37

Tabela 3: Perfil clínico-demográfico de pacientes irradiados a partir da

profundidade da lesão de cárie

Amostra irradiada

Características Profundidade da cárie

Cárie profunda

Cárie superficial

Total = 13

Total = 5

N %

N %

Gênero Masculino 11 84,61%

2 40%

Feminino 2 15,38%

3 60%

Localização tumor Orofaringe 7 53,84%

3 60%

Laringe 3 23,07%

1 20%

Cavidade oral 3 23,07%

1 20%

Estadiamento clínico* Estádio I 0 0%

0 0%

Estádio II 0 0%

1** 20%

Estádio III 2 15,38%

1 20%

Estádio IVA 8 61,53%

2 40%

Estádio IVB 3 23,07%

0 0%

Estádio IVC 0 0%

0 0%

Dose de radiação (Gy) 36 0 0%

1 20%

50 1 7,69%

0 0%

60 2 15,38%

1 20%

66 2 15,38%

0 0%

70 8 61,53% 3 60% *Em um caso, no grupo de cárie superficial, não foi possível obter o estadiamento TNM no prontuário. **Classificação Ann Arbor para Linfoma Não-Hodgkin de cabeça e pescoço.

5.1.2. Perfil clínico-demográfico dos pacientes não irradiados

Os dentes não irradiados com cárie profunda foram provenientes de 5

pacientes diagnosticados com CCP, cuja amostra foi composta somente por

pacientes do gênero masculino (100%) com idade variando de 41 a 81 anos,

com média de 54 anos. A localização do tumor primário mais prevalente foi

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orofaringe (3 casos, 60%) seguido por laringe (2 casos, 40%), sendo dois

casos (40%) diagnosticados em estádio IVA, seguido pelos estádios, II, III e

IVB (1 caso em cada - 20% cada).

Os dentes não irradiados com cárie superficial foram provenientes de 3

pacientes diagnosticados com CCP, cuja amostra foi composta somente por

pacientes do gênero masculino (100%) com idade variando de 48 a 74 anos,

com média de 60 anos. A localização dos tumores primários foram orofaringe,

cavidade bucal e laringe (1 caso cada– 33,3% cada), sendo dois casos

(66,6%) diagnosticados em estádio IVA e um caso sem informação disponível

no prontuário.

As informações completas do perfil clínico-demográfico dos pacientes

irradiados estão listadas na tabela 4.

Tabela 4: Perfil clínico-demográfico de pacientes não irradiados a partir da

profundidade da lesão de cárie

Amostra não irradiada

Características Profundidade da cárie

Cárie profunda

Cárie superficial

Total = 5

Total = 3

N %

N %

Gênero Masculino 5 100%

3 100%

Feminino 0 0%

0 0%

Localização tumor Orofaringe 3 60%

1 33,3%

Laringe 2 40%

1 33,3%

Cavidade oral 0 0%

1 33,3%

Estadiamento clínico* Estádio I 0 0%

0 0%

Estádio II 1 20%

0 0%

Estádio III 1 20%

0 0%

Estádio IVA 2 40%

2 66,6%

Estádio IVB 1 20%

0 0%

Estádio IVC 0 0% 0 0% *Em um caso não foi possível obter o estadiamento no prontuário.

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5.2. Análise macroscópica e radiográfica dos dentes

5.2.1. Dentes irradiados

As 25 amostras de dentes irradiados com cárie profunda foram

compostas de 20 pré-molares (80%) e cinco caninos (20%). Todos os dentes

apresentavam clinicamente cáries relacionadas à radiação em região cervical

(25 casos – 100%) e oclusal (5 casos – 20%), com presença de cavitação

profunda atingindo a polpa dental em todos os dentes, confirmada pela análise

radiográfica. Manchas e pigmentações marrons foram observadas ao redor de

todas as cavitações cervicais, nas incisais dos caninos (4 casos – 80%),

oclusal dos pré-molares (12 – 60%), proximal (14 casos – 56%) e faces livres

de esmalte (5 casos – 20%). Algumas dessas características clínicas e

radiográficas estão exemplificadas na figura 1.

Figura 1: Aspectos clínico-radiográficos da lesão de cárie no grupo de dentes irradiados com cárie profunda. Notem delaminação do esmalte e manchas castanhas em dentina na região vestibular, extensa cavidade nas proximais atingindo o canal radicular como exibido na radiografia periapical. Todas as imagens são referentes a mesma amostra.

As cinco amostras de dentes irradiados com cárie superficial foram

compostas somente por pré-molares. Todos os dentes apresentavam

clinicamente cáries relacionadas à radiação em região cervical (4 casos – 80%)

e proximal acima do ponto de contato (1 caso – 20%), com presença de

cavitação superficial sem atingir a polpa dental em todos os dentes, confirmada

pela análise radiográfica. Manchas e pigmentações marrons foram observadas

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ao redor de todas as cavitações cervicais, na região oclusal (3 casos – 60%)

faces livres de esmalte (2 casos – 40%) e face proximal (2 casos – 40%).

Essas características clínicas e radiográficas estão exemplificadas na figura 2 e

listadas na tabela 5.

Figura 2: Aspectos clínico-radiográficos da lesão de cárie no grupo de dentes irradiados com cárie superficial. Notem mancha castanha em oclusal, dentina aparente em região cervical em todas as faces do dente, não atingindo o canal radicular como exibido na radiografia periapical. Todas as imagens são referentes a mesma amostra.

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Tabela 5: Características macroscópicas e radiográficas dos dentes irradiados a partir da profundidade da cárie

Amostra irradiada

Características Profundidade da cárie

Cárie profunda

Cárie superficial

Total = 25

Total = 5

N %

N %

Dente Canino 5 20%

0 0%

Pré-molar 20 80%

5 100%

Local cavitação Cervical 25 100%

4 80%

Oclusal 5 20%

0 0%

Proximal 17 68%

1 20%

Pigmentação Sim 25 100%

5 100,0%

Não 0 0%

0 0,0%

Local pigmentação Cervical 25 100%

5 100%

Incisal 4 80%

0 0%

Oclusal 12 60%

3 60%

Face livre de esmalte 5 20%

2 40%

Proximal 14 56%

2 40%

Radiografia Polpa atingida 25 100%

0 0%

Polpa não atingida 0 0% 5 100% Notar que o dente pode possuir mais do que uma localização da cavitação e pigmentação e que o valor das pigmentações localizadas em incisal tem como total apenas os dentes caninos e as localizadas em oclusal somente os pré-molares.

5.2.2. Dentes não irradiados

As cinco amostras de dentes não irradiados com cárie profunda foram

compostas por pré-molares (4 casos – 80%) e canino (1 caso – 20%). Todos os

dentes apresentavam clinicamente cáries profundas na região cervical (3 casos

– 60%), proximal (2 casos – 40%) e oclusal (1 caso – 20%), com cavitações

profundas atingindo a polpa confirmadas pela análise radiográfica. Manchas e

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pigmentações marrons foram observadas ao redor de todas as áreas

cavitadas, além de faces proximais (3 casos – 60%), faces livres de esmalte (2

casos – 40%) e em toda superfície amputada do canino (Figura 3).

As cinco amostras de dentes não irradiados com cárie superficial foram

compostas por pré-molares (2 casos- 40%), caninos (2 casos – 40%) e incisivo

central (1 caso – 20%). Todos os dentes apresentavam clinicamente cáries, em

região cervical (4 casos – 80%) e proximal acima do ponto de contato (1 caso -

20%), com presença de cavitação superficial sem atingir a polpa dental em

todos os dentes, confirmada pela análise radiográfica. Manchas e

pigmentações marrons foram observadas ao redor de todas as cavitações, na

região proximal (3 casos – 60%), faces livres de esmalte e oclusal (1 caso cada

– 20%). Essas características clínicas e radiográficas estão exemplificadas na

figura 4 e listadas na tabela 6.

Figura 3: Aspectos clínico-radiográficos da lesão de cárie no grupo de dentes não irradiados com cárie profunda. Notem manchas castanhas em esmalte em uma proximal e extensa cavidade em outra face proximal atingindo o canal radicular como exibido na radiografia periapical. Todas as imagens são referentes a mesma amostra.

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Figura 4: Aspectos clínico-radiográficos da lesão de cárie no grupo de dentes não irradiados com cárie superficial. Notem manchas castanhas difusas em face vestibular e proximais, cavidade nas proximais não atingindo o canal radicular como exibido na radiografia periapical. Todas as imagens são referentes a mesma amostra.

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Tabela 6: Características macroscópicas e radiográficas dos dentes não

irradiados a partir da profundidade da cárie.

Amostra não irradiada

Características Profundidade da cárie

Cárie profunda

Cárie superficial

Total = 5

Total = 5

N %

N %

Dente Canino 1 20%

2 40%

Pré-molar 4 80%

2 40%

Incisivo 0 0

1 20

Local cavitação Cervical 3 60%

4 80%

Oclusal 1 20%

0 0%

Proximal 2 40%

1 20%

Pigmentação Sim 5 100%

5 100%

Não 0 0%

0 0%

Local pigmentação Cervical 3 60%

4 80%

Incisal 0 0%

0 0%

Oclusal 1 20%

1 20%

Face livre de esmalte 2 40%

1 20%

Proximal 3 60%

3 60%

Radiografia Polpa atingida 5 100%

0 0%

Polpa não atingida 0 0% 5 100% Notar que o dente pode possuir mais do que uma localização da cavitação e pigmentação e que o valor

das pigmentações localizadas em incisal têm como total apenas os dentes caninos e as localizadas em

oclusal somente os pré-molares.

5.3. Perfil microscópico e estrutural

5.3.1. Microscópio de luz polarizada

Na análise morfológica realizada através da microscopia de luz

polarizada observou-se diferentes padrões de birrefringência entre dentina

sadia e dentina cariada no grupo de dentes irradiados e não irradiados, com as

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áreas em cor preta e opaca sendo relacionadas às áreas de dentina

desmineralizada, contudo sem diferenças visuais entre os grupos irradiados e

não irradiados.

Os padrões de imagem de desmineralização foram iguais no grupo

irradiado quanto no grupo não irradiado tanto em dentina primária e

secundária, quanto nas áreas de pré-dentina que envolvem o conduto

radicular. A área de pré-dentina, que circunda o canal radicular, demonstrou

áreas escuras compatíveis com desmineralização no terço cervical do conduto

em ambos os grupos: irradiados (Figuras 5 e 6) e não irradiados (Figura 7).

Figura 5: Perda substancial de estrutura e área escura, fosca e sem definição, compatível com desmineralização em dentina que circunda a área de destruição tecidual da dentina do conduto radicular (seta branca) de dente irradiado com cárie profunda (Objetiva 5x).

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Figura 6: Área escura, fosca e sem definição (seta branca), compatível com área desmineralizada de cárie em dentina que alcança a polpa dental em região coronal de um dente irradiado com cárie profunda proveniente das regiões oclusal e cervical (Objetiva 5x).

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Figura 7: Área escura, fosca e sem definição, compatível com desmineralização em dentina que circunda a região cervical (estrela branca) de um conduto radicular de dente não irradiado com cavitação profunda com dentina amolecida (seta azul) e área de tratos mortos dentinários na dentina primária (seta branca) (Objetiva 5x).

As lesões de cárie superficiais em dentina mostraram aspectos visuais

semelhantes aos descritos na literatura nos grupos irradiados e não irradiados,

com zonas de cárie bem definidas e padrão morfológico de “meia-lua”

localizada principalmente nas regiões cervicais dos dentes (Figuras 8A e B).

A morfologia das reações dentinárias frente às agressões, como dentina

reacional, dentina esclerótica e tratos mortos dentinários também se mostraram

iguais nos dois grupos estudados: irradiados e não irradiados (Figuras 9A, B,

C, D, E e F).

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Figura 8: Cárie cervical em um dente irradiado (A) e em um dente não irradiado (B). As lesões de cáries são visualmente semelhantes nos dois grupos, exibindo áreas de dentina desmineralizada (seta vermelha), zona translúcida (seta verde), dentina esclerosada (seta branca) e dentina amolecida (seta preta). As zonas dentinárias em ambos os grupos se apresentaram visualmente de modo semelhante (Objetiva 5x).

A

B A

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Figura 9: Padrões de reações dentinárias em dentes irradiados (A, B e C) e dentes não irradiados (D, E e F), exibindo dentina reacional (setas vermelhas), esclerose dentinária (setas pretas) e tratos mortos dentinários (setas brancas). As reações dentinárias em ambos os grupos se apresentaram de modo visualmente semelhantes (Objetiva 5x).

A B C

D E F

A

D

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5.3.2. Microscópio eletrônico de varredura

Na análise morfológica realizada através do microscópio eletrônico de

varredura observou-se diferentes padrões de cor entre dentina sadia e dentina

cariada no grupo de dentes irradiados e não irradiados, com as áreas em

padrão escuro sendo relacionadas às áreas de dentina desmineralizada e

áreas brancas relacionadas à áreas mineralizadas, contudo sem diferenças

visuais entre os grupos irradiados e não irradiados.

Cáries profundas foram observadas com perda substancial de material

mineralizado tanto na região cervical quanto na região oclusal. As lesões de

cáries demonstraram um degrade de cor preta em sua porção mais

desmineralizada a tons de cinza a branco em áreas mineralizadas. As lesões

em formato de “meia-lua” também puderam ser observadas pelo microscópio

eletrônico de varredura, sendo observadas na região cervical, contudo lesão

nesse mesmo formato também pode ser observada em região oclusal, assim

como lesões triangulares que foram vistas em áreas oclusais e cervicais

(Figuras 11A, B, C e D).

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Figura 11: (A): Dente irradiado com imagem revelando área escura compatível com área de desmineralização de dentina em formato de “meia-lua” em região próxima ao canal radicular na região coronal. (B): Dente irradiado com cárie cervical em formato de ”meia-lua”, com as camadas de cárie bem demarcadas. (C): Dente irradiado com cárie proveniente de região oclusal em formato triangular exibindo zona intermediária (seta branca) e zona esclerótica (seta verde). (D): Dente irradiado com cárie proveniente da região cervical em formato triangular. As camadas da lesão de cárie estão indicadas da seguinte forma: camada superficial (seta vermelha), camada intermediária (seta branca) e camada esclerótica (seta verde).

As diferentes camadas de cárie puderam ser observadas nos dois

grupos irradiados e não irradiados. Camada superficial ou externa (área com

aumento de densidade mineral), camada intermediária ou profunda (área com

diminuição da densidade mineral) e camada esclerótica ou transparente (área

com aumento da densidade mineral) foram melhores observadas em regiões

de cárie superficial. As lesões profundas se mostraram com áreas de perda de

densidade mineral difusa, com as zonas de cárie não bem demarcadas no

grupo irradiado e não irradiado (Figuras 12A, B, C e D). As camadas

A B

C D

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intermediárias, caracterizadas por tecido desmineralizado se mostraram com

túbulos dentinários com diâmetro aumentado (Figura 13).

Figura 12: Padrões de cárie superficial e profunda em dentes irradiados (A e C) e em dentes não irradiados (B e D). As cáries superficiais demonstram as camadas de lesão de cárie mais bem demarcadas, enquanto as cáries profundas demonstram aspecto difuso de destruição tecidual.

A B

C D

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Figura 13: Imagem em alta amplificação de zona desmineralizada demonstrando túbulos dentinários com diâmetro aumentado.

Assim como a esclerose dentinária (Figura 14), a dentina reacional foi

observada nos dentes irradiados e não irradiados com o mesmo padrão

microscópico, demonstradas como proliferações de tecido dentinário para

dentro do canal radicular com ou sem canalículos dentinários (Figura 15).

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Figura 14: Padrões de esclerose dentinária em dentes irradiados (A) e não irradiados (B). Grande amplificação de área de interface entre camada intermediária (seta branca) e camada profunda de esclerose dentinária (seta verde) (C) e grande aumento em área de esclerose dentinária demonstrando deposição de dentina peritubular (D).

A B

C D

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Figura 15: Imagens encontradas de dentina reacional (seta amarela) no grupo irradiado (A) e não irradiado (B). Imagens em alta amplificação de dentina reacional atubular (C e D).

As cáries envolvendo o conduto radicular dos dentes irradiados não

demonstraram nenhum padrão alterado do que o já descrito para dentes não

irradiados. Não houve diferença nas lesões que apresentaram as camadas de

cárie bem demarcadas quanto àquelas que demonstram desmineralização e

perda tecidual difusa, ilustradas na série de imagens da figura 16.

A B

C D

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Figura 16: Painel de imagens de lesões de cárie profunda que atingiram o canal radicular. CR: Canal radicular.

5.3.3. Microanálise baseada na espectroscopia de dispersão de

energia

5.3.3.1. Análise do valor em porcentagem por peso de Ca e P

No grupo de dentes irradiados com cárie profunda, o valor da

porcentagem por peso de cálcio (%Ca) na região de dentina que circunda o

A B

C D

E F

CR

CR CR

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canal radicular coronal variou de 65,05% a 67,28%, com média de 66,48%. Na

região média variou de 65,68% a 67,39%, com média de 66,68%. A região

apical variou de 65,71% a 67,69%, com média de 66,93%. A média geral de

porcentagem por peso de Ca, obtida a partir das médias de cada área, foi de

66,65%. Não houve diferença estatística dos valores médios gerais entre as

áreas (p>0,05).

Ainda no grupo de dentes irradiados com cárie profunda, em relação à

porcentagem por peso de fósforo (%P) na região de dentina que circunda o

canal radicular coronal variou de 32,33% a 33,99%, com média de 33,40%. Na

região média variou de 32,13% a 33,64%, com média de 33,17%. A região

apical variou de 32,32% a 34,02%, com média de 33,03%. A média geral de

porcentagem por peso de P, obtida a partir das médias de cada área, foi de

33,21%. Não houve diferença estatística dos valores médios gerais entre as

áreas (p>0,05).

No grupo de dentes não irradiados com cárie profunda, o valor da

porcentagem por peso de cálcio (%Ca) na região de dentina que circunda o

canal radicular coronal variou de 65,18% a 66,73%, com média de 66,25%. Na

região média variou de 65,54% a 67,16%, com média de 66,73%. A região

apical variou de 66,26% a 67,60%, com média de 67,01%. A média geral de

porcentagem por peso de Ca, obtida a partir das médias de cada área, foi de

66,60%. Não houve diferença estatística dos valores médios gerais entre as

áreas (p>0,05).

Ainda no grupo de dentes não irradiados com cárie profunda, em relação

à porcentagem por peso de fósforo (%P) na região de dentina que circunda o

canal radicular coronal variou de 33,28% a 34,83%, com média de 33,75%. Na

região média variou de 32,85% a 34,47%, com média de 33,27%. A região

apical variou de 32,40% a 33,74%, com média de 32,99%. A média geral de

porcentagem por peso de P, obtida a partir das médias de cada área, foi de

33,39%. Não houve diferença estatística dos valores médios gerais entre as

áreas (p>0,05).

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Ainda que os valores das médias gerais de Ca e P tenham sido menores

no grupo irradiado do que no grupo não irradiado, não houve diferença

estatística significante (p>0,05).

5.3.3.2. Análise da razão Ca/P

No grupo de dentes irradiados com cárie profunda, o valor da razão de

Ca/P na região de dentina que circunda o canal radicular coronal variou de 2,64

a 2,82, com média de 2,72. Na região média variou de 2,67 a 2,86%, com

média de 2,74. A região apical variou de 2,66 a 2,86, com média de 2,77. A

média geral da razão de Ca/P, obtida a partir das médias de cada área, foi de

2,74. Não houve diferença estatística dos valores médios gerais entre as áreas

(p>0,05).

No grupo de dentes não irradiados com cárie profunda, o valor da razão

de Ca/P na região de dentina que circunda o canal radicular coronal variou de

2,54 a 2,73, com média de 2,67. Na região média variou de 2,59 a 2,79, com

média de 2,73. A região apical variou de 2,67 a 2,85, com média de 2,78. A

média geral da razão de Ca/P, obtida a partir das médias de cada área, foi de

2,72. Não houve diferença estatística dos valores médios gerais entre as áreas

(p>0,05).

Não houve diferença estatística dos valores médios gerais entre o grupo

irradiado e não irradiado (p>0,05).

O resumo das informações obtidas pela microanálise baseada na

espectroscopia de dispersão de energia está resumido na tabela 7.

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Tabela 7: Resumo das informações dos valores médios da porcentagem por

peso de Ca e P e da razão de Ca/P por área e por grupos estudados.

Irradiado Não irradiado

Área %Ca %P Ca/P

%Ca %P Ca/P

Valor de p

Coronal 66,48% 33,40% 2,72

66,25% 33,75% 2,67

>0,05

Médio 66,68% 33,17% 2,74

66,73% 33,27% 2,73

>0,05

Apical 66,93% 33,03% 2,77

67,01% 32,99% 2,78

>0,05

Geral 66,65% 33,21% 2,74 66,60% 33,39% 2,72 >0,05

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60

6. DISCUSSÃO

O termo câncer de cabeça e pescoço geralmente é atribuído às

neoplasias malignas dos tecidos moles que se desenvolvem na cavidade oral,

incluindo os lábios, a cavidade nasal, seios paranasais, faringe, laringe e

glândulas salivares. Cerca de 90% de todos os CCP são carcinomas

espinocelulares (CEC) que são originados do epitélio de revestimento do trato

aerodigestivo superior. De modo geral, é considerado o sétimo tipo de câncer

mais comum, representando cerca de 4% de todos os cânceres. Dos locais que

incluem os CCPs, os mais comuns são os CEC de cavidade oral e lábio,

orofaringe e laringe. Estes três locais têm uma marcante predileção pelo

gênero masculino, tendo os tumores de cavidade oral incidência global de 5,5 a

cada 100.000 em homens e 2,5 a cada 100.000 em mulheres e os tumores de

faringe de 3,2 a cada 100.000 em homens e 0,7 a cada 100.000 em mulheres.

A maioria desses pacientes, no momento do diagnóstico, está acima da quinta

década de vida. Entretanto, um crescente aumento no número de casos de

tumores de cavidade oral em jovens tem sido relatado em várias partes do

mundo (Macfarlane et al., 1987; Annertz et al., 2002; Schantz e Yu, 2002;

Onizaka et al., 2003; Carvalho et al., 2004; Llewellyn et al., 2004; Bsoul et al.,

2005; Scully e Felix, 2006; Warnakulasuriya et al., 2007; Curado et al., 2016;

Johnson e Amarasinghe, 2016). Nossa amostra compreende parcialmente a

descrição de incidência de localização de CCP estabelecida na literatura, onde

a maioria dos nossos casos foi de tumores de orofaringe e cavidade oral e

laringe no grupo irradiado. No grupo não irradiado o padrão de maior

acometimento em orofaringe se manteve, entretanto, com os tumores de

cavidade oral sendo menos frequentes que os de laringe, o que pode ser

explicado pelos tumores de orofaringe e laringe serem na maioria das vezes

muito avançados necessitando obrigatoriamente de radioterapia curativa. Já os

resultados referentes à idade e gênero, concordam totalmente com a literatura,

com uma maioria expressiva de homens acima da quinta década de vida.

Muitos diagnósticos de câncer de cabeça e pescoço são realizados em

fase tardia da doença, com estadiamento clínico avançado, o que está

relacionado em pior prognóstico e tratamento mais agressivo, tanto com a

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cirurgia e radioterapia ou com tratamento multimodal, incorporando radioterapia

e quimioterapia e tendo como doses de radiação variando entre 60 à 70 Gy

(Kielbassa et al., 2006; Sciubba e Goldenberg, 2006 ; Rodrigues et al., 2014).

Todos os nossos casos tiveram estadiamento a partir do nível III, categorizando

toda a amostra com estadiamento clínico avançado. Entretanto, vale ressaltar

que um caso de linfoma com estadiamento Ann Arbor II foi encontrado na

amostra. A média de dose de radiação no tumor foi acima de 60 Gy, entretanto

dois casos da amostra receberam dose de radiação abaixo de 60 Gy (36 Gy e

50 Gy), que talvez possa ser justificada pela presença de um caso de linfoma

Não-Hodgkin, contudo, essa informação não pôde ser verificada.

É sabido que o grupo anatômico a que o dente pertence e a localização

do tumor influenciam na quantidade de dose de radiação recebida. Molares e

pré-molares ipsilaterais de tumores em cavidade oral e orofaringe recebem

altas doses de radiação. Baixas doses de radiação são relacionadas aos

tumores de laringe, independente do grupo anatômico do dente quando

utilizada a radioterapia conformacional 3D (Morais-Faria et al., 2015) e

menores doses são relacionadas quando realizada a modalidade de

radioterapia IMRT quando comparada à radioterapia 3D conformacional

(Fregnani et al., 2016). Nossa amostra irradiada compreendeu em sua maioria

dentes pré-molares, estando em acordo com o esperado para avaliação de

dentes irradiados. Caninos estiveram presentes devido à seleção de dentes

com canal radicular amplo, que facilitariam o preparo da amostra e análise

microscópica. Apesar de termos cerca de 20% de dentes provenientes de

pacientes com tumor em região de laringe, os dentes utilizados foram extraídos

devido à presença de cárie após radioterapia de cabeça e pescoço, estando

dentro do estereótipo de cáries relacionadas à radiação.

Os termos cárie relacionada à radiação ou cárie de radiação são

utilizados para nomear as cáries dentais que ocorrem em pacientes que foram

submetidos à radioterapia de cabeça e pescoço, compreendendo uma

incidência de cerca de 25%. De modo geral, as cáries aparecem inicialmente

como manchas brancas opacas, significando o início do processo de

desmineralização dental, principalmente em região cervical e pontas de

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cúspides, que evoluem de forma progressiva e rampante levando a total

amputação da coroa dental em um período curto de tempo. Um aspecto

importante é que os dentes geralmente apresentam clinicamente manchas

acastanhadas que na verdade escondem processos cariosos iniciais ou até

mesmo avançados quando avaliadas em microtomografia (Kielbassa et al.,

2006; Morais-Faria et al., 2016; Sroussi et al., 2017). Nossa amostra

demonstrou presença de manchas e pigmentações castanhas em todos os

dentes irradiados e ao redor de todas as cavidades clinicamente visíveis,

presentes principalmente em regiões cervical vestibular, oclusal, proximal e

faces livres de esmalte. A amostra não irradiada também demonstrou presença

de manchas e pigmentações castanhas em todos os casos e ao redor de todas

as cavidades, com principais locais de incidência em região cervical vestibular

e proximal. Manchas extrínsecas, provenientes do abuso de tabaco, como é

esperado para a nossa amostra, podem ser confundidas com as manchas que

representam lesões de cárie incipientes em dentes irradiados, o que pode gerar

confusão e dificuldade em diagnóstico precoce das lesões de cárie

dependendo do nível de experiência do profissional. Embora as lesões de cárie

em dentes irradiados demonstrem diferentes localizações das cáries

convencionais, elas parecem semelhantes às cáries que são referidas em

pacientes com xerostomia (Santos-Silva et al., 2015; Sroussi et al., 2017).

A microscopia de luz polarizada é uma técnica sensível que pode

mostrar alterações da estrutura dentária, através da visualização direta da

birrefringência, onde o dente saudável apresenta-se brilhoso na polarização,

enquanto áreas com perda de mineral aparecerão opacas e escuras quando

comparadas entre si. Em análise de lesões de cárie por MLP, com amostras

preparadas através de desgaste, notam-se, geralmente, algumas zonas

referentes à progressão da lesão de cárie em dentina, caracterizadas pela

quantidade de mineralização. Podem ser observadas áreas de dentina

amolecida na superfície da cavidade de cárie, dentina desmineralizada,

esclerose dentinária, zona translúcida, tratos mortos dentinários e dentina

secundária, exibindo na maioria das vezes formato triangular e em “meia-lua”

(Arendse Bosch, 1992; Arnold et al., 2003; Berger, 2007; Oldenbourg, 2013).

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Como ilustrado nas imagens, todas essas zonas de cárie foram encontradas na

nossa amostra com aparência visual semelhante entre os grupos irradiados e

não irradiados, demonstrando que o padrão de evolução de cárie dos dentes

irradiados não é diferenciado dos dentes não irradiados. Em lesões profundas,

as zonas de cárie não são bem demarcadas, contudo sem diferença entre

lesões profundas de dentes irradiados e não irradiados.

A análise de cárie por meio de MEV demonstra, geralmente, três

camadas de progressão da cárie, com áreas de dentina desmineralizada no

meio de áreas hipermineralizadas. As áreas que representam dentina

desmineralizada se apresentam com coloração escura quando comparadas à

dentina sadia e as áreas hipermineralizadas demonstram cor branca,

geralmente obedecendo o mesmo formato observado na MLP (Darling, 1956;

Darling, 1958; Consolaro, 1996; Tjaderhane et al., 1995; Arnold et al., 2007).

De forma semelhante ao que já havia sido descrito, a nossa amostra exibiu os

mesmos padrões de forma e de camadas de lesão observadas através de MEV

no grupo irradiado e não irradiado. As lesões profundas, dos dentes irradiados,

que alcançaram o conduto radicular demonstraram padrão de

desmineralização semelhante ao encontrado nas coroas dentais e no conduto

radicular dos dentes não irradiados, sinalizando que as lesões profundas de

cárie em dentes irradiados não possuem padrão morfológico diferente.

Aspectos microscópicos da cárie convencional já foram descritos e estão

estabelecidos na literatura. As lesões de cárie costumam demonstrar padrões

específicos, com áreas de maior mineralização circundando áreas de

desmineralização. A área mineralizada abaixo da zona profunda é uma

atividade intrínseca do tecido dentinário que responde às agressões

infecciosas que o dente é submetido. Os principais recursos que a dentina

utiliza como função reacional aos estímulos externos são a sensibilidade,

crescimento contínuo, capacidade reparadora e hipermineralização em

resposta a estímulos externos. Especificamente, em relação a cárie, as

principais reações do complexo dentino-pulpar são esclerose dentinária,

formação de dentina reacional e inflamação da polpa. A esclerose dentinária

ocorre pela deposição de dentina intra-tubular que tende a obliterar o túbulo

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dentinário a partir da deposição contínua de dentina peri-tubular, podendo ser

classificada como fisiológica quando ocorre sem justificativa externa, ou

reacional, quando em presença de cárie, diminuindo a permeabilidade

dentinária na tentativa de prolongar a vitalidade pulpar. A dentina reacional é

formada a partir de diferentes estímulos externos, tais como cárie, atrito ou

desgaste e procedimentos restauradores, estando localizada próximo ao

estímulo de agressão. Morfologicamente, a dentina reacional pode apresentar

túbulos dentinários mal organizados ou nenhum túbulo. Esses padrões

dentinários reacionais à cárie ocorrem devido à dissolução da matriz orgânica

dentinária, que libera fatores de crescimento para estimulação de

odontoblastos (Darling, 1956; Darling, 1958; Consolaro, 1996; Arnold et al.,

2003; Ten Cate, 2013). A ação deletéria da radiação sob a capacidade da

dentina de reagir à estímulos externos tem sido contraditória, com estudos

indicando possível diminuição da capacidade reacional e outros indicando

capacidade semelhante à dentes não irradiados (Silva et al., 2009). Nossos

resultados demonstram a presença das reações dentinárias nos grupos

irradiados e não irradiados tanto na análise por MLP quanto por MEV,

mostrando concordância em absoluto com a descrição da literatura de que a

dentina mantém sua atividade reacional, reforçando a ideia de que a função

dos odontoblastos não esteja comprometida após a exposição do dente à

radiação.

Durante o processo carioso na dentina, os prolongamentos dos

odontoblastos, que estão presentes no interior dos túbulos dentinários, podem

retrair ou desintegrar, tornando o túbulo vazio, denominado de tratos mortos

dentinários. A partir da ausência dos prolongamentos dentro dos túbulos, há

entrada de ar para o interior dos canalículos e este é observado com coloração

escura sob microscopia. O tecido dentinário tenta proteger a polpa através da

deposição de dentina reacional na extremidade do canalículo mais próxima à

polpa. A presença de tratos mortos foi observada nos dentes irradiados e não

irradiados com o mesmo padrão morfológico, corroborando adicionalmente à

manutenção da atividade de proteção dental normal (Ten Cate, 2013).

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65

É importante ressaltar que em estudos que utilizam fatias de dente, nem

sempre serão observadas todas as manifestações dentinárias e todos os

aspectos morfológicos da lesão de cárie dental em um único corte. Portanto,

mais que a quantidade numérica de alterações dentinárias e padrões de lesões

de cárie observadas no grupo de dentes irradiados, avaliamos o aspecto

morfológico entre elas nos dentes irradiados e não irradiados, que se

mantiveram visualmente iguais durante a avaliação microscópica.

Pacientes que irão receber radioterapia em cabeça e pescoço como

planejamento de terapia para CCPs devem passar por uma avaliação

odontológica especializada a fim de identificar dentes com potenciais de

desenvolvimento de cárie relacionada à radiação, minimizando assim a

probabilidade de exodontias pós-radioterapia e consequente aumento na

susceptibilidade ao desenvolvimento de osteorradionecrose. Uma vez que a

cárie relacionada à radiação surge, as terapias restauradoras são descritas

com baixa taxa de sucesso devido ao desprendimento da restauração ou cárie

secundária, perpetuando a probabilidade de infecção no periápice (Wostmann

e Rasche, 1995; Hu et al., 2002; McComb et al., 2002). Entretanto, muitos

pacientes não são avaliados pré-radioterapia e os que são avaliados, ainda

assim, podem desenvolver cáries relacionadas à radiação e consequentes

sequelas da infecção. Então, muitos dentes são encaminhados para terapia

endodôntica para evitar a exodontia do dente cariado com possíveis

repercussões negativas do procedimento cirúrgico.

Embora nossos resultados demonstrem que as lesões de cárie

profundas que acometem o canal radicular se apresentam da mesma forma em

dentes irradiados e não irradiados através de análise morfológica visual por

MLP e MEV, experiências clínicas, empíricas, vêm demonstrando presença de

dentina amolecida no conduto radicular de dentes de pacientes irradiados, o

que prejudica o processo de selamento do canal, influenciando diretamente na

sobrevida do tratamento endodôntico. Dentina amolecida é caracterizada por

desmineralização, que é influenciada pela perda mineral de Ca e P assim como

redução da razão Ca/P em relação à dentina sadia (Arnold et al., 2001). Desta

forma, analisamos o conteúdo mineral de Ca e P da dentina que recobre todo o

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conduto radicular de dentes com cárie profunda de dentes irradiados e não

irradiados. Os resultados demonstraram que ainda que os valores das médias

gerais da porcentagem por peso de Ca e P tenham sido menores no grupo

irradiado do que no grupo não irradiado, não houve diferença estatística

significante entre os grupos. A razão Ca/P se mostrou menor na média geral

em dentes não irradiados do que nos irradiados, mas da mesma maneira que o

valor da porcentagem por peso de Ca e P, não houve diferença estatística

significante entre os grupos. Ainda que os dados da literatura sejam com

valores muito próximos entre dentina desmineralizada, pré-dentina e dentina

sadia (Arnold et al., 2003; Arnold et al., 2006), nossos resultados corroboram

com a variação dos valores da razão de Ca/P (1,7 a 2,4) para lesões de cárie

em dentina humana descritos na literatura (Arnold et al., 2003). Além disso, já

foi descrito que o esmalte humano submetido a diferentes doses de radiação

não demonstra alteração nos valores de cálcio e fósforo (Barros da Cunha et

al., 2017).

De modo geral, a cárie dental é considerada uma doença multifatorial,

caracterizada pela destruição tecidual procedente da ação de subprodutos

ácidos bacterianos provenientes da fermentação dos carboidratos da dieta

(Kidd et al., 2000; Fejerskov e Kidd, 2003). Os fatores que estão associados ao

surgimento da cárie são maturação do biofilme dental com bactérias

cariogênicas, composição e fluxo salivar, exposição ao flúor, consumo de

açúcares na alimentação e higiene local. Para que a cárie progrida ou sofra

reversão precisa ocorrer um desequilíbrio entre os processos de

remineralização e desmineralização. Para não ocorrer o estabelecimento da

cárie, a remineralização deve ocorrer e para que ela ocorra é necessária a

atuação da saliva, que restaura o pH do biofilme, funcionando como um efeito

tampão. Além disso, a saliva devolve cálcio e fosfato para o dente que sofreu o

processo de desmineralização (Featherstone 2004; Selwitz et al., 2007). Dessa

forma, alguns fatores de risco para o surgimento da cárie podem ser

reconhecidos, tais como inadequada composição e fluxo salivar, aumento do

número de bactérias cariogênicas, insuficiente exposição ao flúor, recessão

gengival, competência imunológica, falta de higiene e componente genético

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(Hassel e Harris,1985; Anderson, 2002; Fejerskov e Kidd, 2003; Featherstone

et al., 2003; Krol, 2003; Thomson, 2004). Diante das evidências de que o

processo de cárie ocorra de forma semelhante em grupo irradiado e não

irradiado, seja em lesões superficiais ou profundas, provavelmente a radiação

não causa efeito direto sobre a estrutura dentária, alterando os padrões

morfológicos de desmineralização. Entretanto, o conhecido papel deletério da

radiação sobre as glândulas salivares, o status imunológico do paciente com

CCP, a alteração na dieta e morbidades referentes ao tratamento oncológico,

seja cirúrgico, radioterápico ou quimioterápico, parece estar mais relacionado

ao surgimento das cáries em dentes irradiados do que o dano direto à estrutura

dental, configurando uma ação indireta da radiação, corroborando com a

indicação de que a presença da cárie de radiação não é definida pela presença

do dente no campo de irradiação, mas sim a presença das principais glândulas

salivares dentro do campo de irradiação como fator principal da possibilidade

de surgimento da cárie de radiação (Del Regato, 1939; Frank et al., 1965;

Karmiol e Walsh, 1975; Brown et al., 1976; Dreizen et al., 1976).

Deste modo, as já referidas dificuldades para realização do tratamento

endodôntico em pacientes irradiados devido às toxicidades orais da

radioterapia como trismo, fibrose, desconforto e mucosite (quando realizado

durante o tratamento de radioterapia) podem afetar a qualidade final do

tratamento (Montgomery et al., 1977), que por sua vez pode acarretar em

insucesso da terapia endodôntica. Entretanto, parece que esse insucesso do

tratamento endodôntico não pode ser atribuído a um efeito direto da radiação

sobre a dentina circumpulpar.

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7. CONCLUSÃO

Cavidades e manchas castanhas foram observadas

macroscopicamente de modo visual semelhante entre os dentes

irradiados e não irradiados.

As alterações na dentina circumpulpar em dentes irradiados com

cáries superficiais e profundas foram semelhantes aos dentes não

irradiados.

As reações dentinárias como dentina reacional, esclerose

dentinária e tratos mortos dentinários se apresentaram

visualmente iguais nos dentes irradiados e não irradiados.

Não há diferença estatística significante entre o valor da

porcentagem de peso de Ca e P e na razão de Ca/P na dentina

que circunda o canal radicular de dentes irradiados e não

irradiados.

Não foi possível atribuir que a radiação cause efeito direto sobre a

dentina circumpulpar que justifique a dentina amolecida

observada clinicamente nos pacientes irradiados.

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APÊNDICE 1 – Ficha de estudo

Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Odontologia de Piracicaba

FICHA DE ESTUDO

IDENTIFICAÇÃO

Gênero e idade: ( ) M ( ) F _______________ anos

INFORMAÇÕES SOBRE SAÚDE E HÁBITOS

Local do tumor: ___________________________________________________

Linfonodo positivo: ( ) S ( )N Metástase: ( ) S ( ) N

Modalidade e dose de RXT: ___________________________________________________

TNM:

T:

N:

M:

Estadiamento geral:

Outra: ___________________________________________________

INFORMAÇÕES CLÍNICAS

Dente: ______________________ / Raiz residual: ____________________________

Sintoma: ( ) S ( ) N

OBSERVAÇÕES: __________________________________________________________

__________________________________________________________

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ANEXO 1 – Certificado do Comitê de Ética em Pesquisa