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Politécnica Ano 11 Edição Quadrimestral Abril de 2019 ISSN 1809 8169 Instituto Politécnico da Bahia 29E Recursos Hídricos: Fórum presta homenagem ao Prof. Newton Hart Avaliação da degradação estrutural do prédio anexo da Escola Politécnica da UFBA usando o Método GDE/UnB

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PolitécnicaAno 11 Edição Quadrimestral Abril de 2019 ISSN 1809 8169InstitutoPolitécnicodaBahia 29E

Recursos Hídricos:Fórum presta homenagem

ao Prof. Newton Hart

Avaliação da degradação estrutural do prédio anexo da

Escola Politécnica da UFBA usando o Método GDE/UnB

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EDITORIAL

Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

2 EDITORIAL

Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

2

Revista do Instituto Politécnico da BahiaFundado em 1896

29EAno 11 Edição Quadrimestral Abril de 2019 ISSN 1809 8169

Essa edição da Revista Politécnica – 29-E –

apresenta um artigo focado nas Tecnologias

de Esgotamento Sanitário aplicadas a muni-

cípios da Bahia e outro focado na Degradação

Estrutural do Anexo da Escola Politécnica da

UFBA. Como nota técnica, são avaliados

riscos de incêndio por falhas elétricas, cada

vez mais frequentes nos grandes centros

O homenageado, Engenheiro Newton Hart

Cerqueira Lima, trabalhou no Departamento

de Saneamento do Estado da Bahia e após a

conclusão de seu Mestrado em Engenharia

Sanitária na USP, integrou o grupo referencia

na área de Engenharia Sanitária na Bahia,

responsável pela estruturação da SAER –

Superintendência de Águas e Esgotos do

Recôncavo e da SESEB – Superintendência de

Engenharia Sanitária da Bahia – empresas

que, juntas, posteriormente deram origem a

EMBASA - Empresa Baiana de Águas e

Saneamento.

O Fórum abordou temas como o saneamento

de pequenos municípios, o tratamento de

água e de esgotos, técnicas aplicadas, mode-

los de gestão e o relato de casos de sucesso,

como a experiência da CAGECE – CE, da

UFES – ES e na UNICAMP – SP. Ficou eviden-

te, em todos esses casos, a importância do

estabelecimento de parcerias, inclusive com

as comunidades envolvidas, assim como o

papel do Estado e da Academia nesses proces-

sos.

mês de março chega para o IPB -

OInstituto Politécnico da Bahia, com o

reinício de suas atividades nesse ano

de 2019 repleto de novas propostas, entusias-

mo e conança, sempre em prol da engenha-

ria como propulsora do avanço econômico e

social.

Como atividade inicial, foi realizado do 1º

fórum da AGENDA DE DESENVOLVIMENTO

BAHIA, que já está em seu ANO 4, cujo tema

foi RECURSOS HÍDRICOS, SANEAMENTO E

DESENVOLVIMENTO e homenageou o

Engenheiro NEWTON HART CERQUEIRA

LIMA.

urbanos e a importância de ações preventivas

para evita-los. Em seu compromisso com a

Memória da Engenharia, essa edição traz

ainda um artigo sobre um grande engenheiro

brasileiro, Malba Tahan e uma entrevista

histórica realizada com o engenheiro eletricis-

ta Álvaro Moreno. O Instituto Politécnico da Bahia agradece a

todos os seus parceiros institucionais e

colaboradores diretos e indiretos, pelo apoio

recebido na realização do Fórum Newton

Rocha Cerqueira Lima. Reitera seus agradeci-

mentos a todos os Palestrantes e Debatedores

convidados, bem como a todos aqueles

interessados que se zeram presentes e

enriqueceram essa oportunidade através de

seus questionamentos e contribuições. Que

esse Fórum possa enriquecer a todos nós e

contribuir para o fomento da Engenharia e da

Bahia e que todos continuemos na caminhada

em prol do desenvolvimento da Bahia e do

Brasil, com o Fórum JOSÉ LOURENÇO DE

A L M E I D A C O S T A : A G E R A Ç Ã O D E

ELETRICIDADE PARA ESTABELECIMENTOS

INDUSTRIAIS E AGRÍCOLAS DE PEQUENO E

MÉDIO PORTE.

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

EXPEDIENTE Politécnica3

CRISTINA DE ABREU SILVEIRA

PAULO EDUARDO SCOPPETA SAMAPAIO

Colaboradores

DIRETORIA DO IPB

DEOLINDO ZOCATELI

REVISTA POLITÉCNICA

Fundador

CRISTINA DE ABREU SILVEIRA

Presidente

JURANDYR SANTOS NOGUEIRA

ADEMIR FERREIRA DOS SANTOS

RAMILE DANIELE PINTO RAIMUNDO

Diretor Financeiro

JOSÉ GÓES DE ARAÚJO

Diretor Administrativo

Coordenadora

Vice-Presidente

LENALDO CÂNDIDO ALMEIDA

ANAILDE PEREIRA ALMEIDA

Diretor de Negócios Empresariais

Diretor de Programa e Projetos Governamentais

Assessorias da PresidênciaANAILDE PEREIRA ALMEIRAADEMARIO SPINOLAHEYDE VIVEIROS MAIAJOSÉ EDUARDO LIMA BARRETO

ANTONIO CLODOALDO DE ALMEIDA NETOERONILDES DOS SANTOS

EDUARDO RAPPEL

LUIZ ANÍBAL OLIVEIRA

ISAAC QUINTINO FERREIRA

RAYMUNDO JOSÉ GARRIDO

CONSELHO FISCAL

CONSELHO DELIBERATIVO

Diretor de Tecnologia, Pesquisa e Capacitação

SuplentesHEBERT OLIVEIRA

Vice-Presidente

ASTHON JOSÉ REIS D'ALCANTARA

ALBERTO ELOY GOES DE ARAÚJO

Conselheiros

EDGAR NUNES DE ALMEIDA

Secretário

ADINOEL MOTTA MAIA

EMMANUELLE MARIMPIETRI

CRISTINA DE ABREU SILVEIRAANA HELENA HILTNER DE ALMEIDA

Presidente CAIUBY ALVES DA COSTA

ADAILTON DE OLIVEIRA GOMES

PROGRAMAÇÃO VISUAL

Os textos assinados e aqui publicados são de exclusiva responsabilidade de seus autores, podendo não representar a opinião do Conselho Editorial ou mesmo da Diretoria do IPB. A publicação das fotos e ilustrações desta edição são de responsabilidade da Casa do Verso com a devida publicação dos créditos dos seus autores.

ANTONIO PASTORI

EDIÇÃO

CRISTINA MASCARENHAS - MTB 1957

CRISTINA MASCARENHAS

JORNALISTA RESPONSÁVEL

SILVIO CARLOS GALLO SAMPAIO

SILVINO JOSÉ SILVA BASTOS

GETÚLIO LINS MARQUES

SILVINO SILVA BASTOS

GUILHERME REQUIÃO RADEL

LUIS EDMUNDO PRADO DE CAMPOSMAERBAL BITTENCOURT MARINHO

JOSE BAPTISTA DE OLIVEIRA JR.

CAIUBY ALVES DA COSTA

JOSÉ ROGÉRIO DA COSTA VARGENS

Câmara de Tecnologia e Desenvolvimento

MAURICIO FRANCO MONTEIRO

ALBERTO ELOY GÓES DE ARAUJO ANA HELENA HILTNER DE ALMEIDACRISTINA DE ABREU SILVEIRA

GEORGE GURGEL DE OLIVEIRA

Membros Natos do Conselho Deliberativo

CÂMARAS ESPECIALIZADAS

JOSE BAPTISTA DE OLIVEIRA JR.GETÚLIO LINS MARQUES

ITAMAR BARRETO PAES

CARLOS EMILIO DE MENEZES STRAUCH

ERUNDINO POUSADA PRESA

EDGAR NUNES DE ALMEIDAGEORGE GURGEL

Câmara de Planejamento Estratégico

Câmara de Economia e Finanças ASTHON JOSÉ REIS ALCANTARAITAMAR BARRETO PAES

CONSELHO EDITORIALADEMAR NOGUEIRA NASCIMENTO

EMMANUELE MARINPIETRI

ANAILDE PEREIRA ALMEIDA

JOÃO AUGUSTO LIMA ROCHA

ADINOEL MOTTA MAIA

JURANDYR SANTOS NOGUEIRA KLEBER FREIRE DA SILVA

REALIZAÇÃO

CRISTINA DE ABREU SILVEIRA

CASA DO VERSO

SILVIO CARLOS GALLO SAMPAIO

DIRETOR RESPONSÁVEL ANTONIO PASTORI

www.ipolitecnicobahia.org

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41

29

11

ÍNDICE4 Politécnica

18

0205

Editorial

Avaliação da degradação estrutural doprédio anexo da Escola Politécnica

da UFBA usando o Método GDE/UnB Heitor Oliveira Santos Cruz

Milena Borges dos S. CerqueiraFrancisco Gabriel Santos Silva

Márcio Luís Ferreira Nascimento

Itaiara Sá MarquesLuciano Matos Queiroz

Asher Kiperstok

Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

34

Entrevista Recuperada:Professor Álvaro Leal Moreno fala

sobre a carreira e criação da COELBA

Nota Técnica: Incêndios em edicações causados

por eletricidade x manutenção preventiva

O homem que amava calcular

Considerações sobre as tecnologiasaplicadas aos sistemas de esgotamento

sanitário dos municípios baianos de pequeno porte

Caiuby Alves da Costa

Cristina Abreu Silveira

Notícia:Fórum presta homenagem ao professor Newton Hart

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Avaliação da degradação estrutural doprédio anexo da Escola Politécnica

da UFBA usando o Método GDE/UnB

ARTIGO5

Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

Politécnica

Heitor Oliveira Santos Cruz

Milena Borges dos S. Cerqueira

Francisco Gabriel Santos Silva

Resumo: O objetivo desse estudo é analisar a degradação da estrutura de concreto armado do Prédio Anexo

da Escola Politécnica da UFBA, ainda não concluído, com apresentação de elementos estruturais totalmente

expostos às ações ambientais da cidade de Salvador/BA.

Abstract: The aim of this study is to analyze the degradation of the reinforced concrete structure of the Annex

Building of the Polytechnic School of UFBA, not yet completed, with presentation of structural elements totally

exposed to the environmental actions of the city of Salvador/BA.

Keywords: Deterioration, Durability, Maintenance.

Palavras-chave: Deterioração, Durabilidade, Manutenção.

Introdução

a indústria da construção civil, as

Nestruturas são projetadas, executadas

e utilizadas para suportar ações

mecânicas e as diversas condições de exposi-

ção durante sua vida útil de projeto. Porém, ao

longo do tempo, ocorre o surgimento de mani-

festações patológicas na sua estrutura, que

muitas vezes é causada pela ação agressiva do

meio ambiente.

As patologias das estruturas podem surgir

devido aos erros construtivos, uso de materiais

de má qualidade, ações de cargas, agressividade

do ambiente, dentre outros fatores. Isso gera, na

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ARTIGO Politécnica6

Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

Avaliação da degradação estrutural do prédio anexo da Escola Politécnica da UFBA

usando método GDE/UnB

Na busca por conhecer as patologias ligadas à

degradação estrutural, surgiram muitos

estudos. Com isso, processos de carbonatação,

penetração de íons cloreto através da difusão

de dióxido de carbono, associados à umidade,

ssurações, etc., processos que iniciam e

aceleram o processo de corrosão das armadu-

ras, se tornaram conhecidos (MEDEIROS,

2015).

Paralelo a isso, também surgiram pesquisas

que buscam avaliar, de forma quantitativa ou

qualitativa, o grau de degradação das estrutu-

ras. Professores do Programa de Pós-

graduação em Estruturas e Construção Civil

do Departamento de Engenharia Civil e

Ambiental da Universidade de Brasília desen-

volveram trabalhos com o intuito de contribuir

para a melhoria de desempenho das edica-

ções. Um dos métodos desenvolvidos foi o

GDE/UnB, iniciado nos trabalhos de Castro

indústria da construção, uma busca por méto-

dos que diminuam ou inibam essas patologias,

no intuito de reduzir gastos nanceiros com

manutenções.

O pavilhão de aulas da Escola Politécnica da

Universidade Federal da Bahia, objeto de

estudo do presente trabalho, é uma edicação

ainda inacabada, com toda a sua estrutura

totalmente exposta nos últimos6 anos, ao

ambiente agressivo de Salvador, classicada

com classe de agressividade ambiental III,

segundo a norma NBR 6118 (2014), com isso,

apresenta grande risco de degradação estrutu-

ral. Tornando necessário, antes de haver uma

retomada construtiva, um estudo sobre a

degradação estrutural deste edifício, e realizar

as devidas intervenções em tempo hábil para a

recuperação de seus elementos, em prol de

uma construção durável e com desempenho

satisfatório durante toda a sua vida útil.

(1994) e modicado para haver melhoria na

precisão de cálculo, divisão de categorias e

tempo de intervenção, por Lopes (1998), Boldo

(2002) e Fonseca (2007).Desde então este

método foi aplicado em diversas edicações

diferentes e até em pontes (Obras de Artes

Especiais – OAE) através das adaptações feitas

por Euqueres (2011), e em vários trabalhos

acadêmicos.

Metodologia

metodologia usada neste trabalho

Aconsiste na realização de observações dos

elementos da estrutura, em campo, e na

utilização de métodos de inspeção, para o estudo

da durabilidade de uma estrutura de concreto

armado, neste caso, do Prédio Anexo da Escola

Politécnica da UFBA, localizada ao lado do

pavilhão principal de aulas e laboratórios, em

uma região de elevada agressividade ambiental,

por se tratar de uma cidade com ambiente

marinho.

A avaliação quantitativa do grau de deterioração

da estrutura de concreto armado do Prédio

Anexo da Escola Politécnica da Bahia/UFBA foi

feita utilizando a metodologia GDE/UnB (versão

modicada por Fonseca em 2007), levando em

consideração os conceitos de durabilidade e vida

útil das normas NBR 6118 (2014) e NBR 15575

(2013). Com isso, torna-se possível conhecer as

condições atuais da estrutura através deste

estudo de caso, que abrange inspeções visuais,

mapeamento fotográco, realização de croquis,

identicação e classicação dos danos, com o

auxílio do projeto estrutural.

Na Figura 1 é apresentado o uxograma de

aplicação do método GDE/UnB, como as etapas

que devem ser realizadas para a obtenção dos

resultados.

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

ARTIGO Politécnica7Avaliação da degradação estrutural do

prédio anexo da Escola Politécnica da UFBAusando método GDE/UnB

Inicialmente foram realizadas inspeções

visuais da estrutura, no intuito de efetuar uma

divisão em famílias de elementos típicos, de

acordo com suas funções estruturais.

Para efeito de minimização da imprecisão da

avaliação, consultou-se o caderno de inspe-

ção, ao qual apresenta tabelas e fotograas

Apresentação dos Resultados e discussão

Neste tópico é apresentado o estudo de caso

realizado na estrutura em questão, com os

resultados e discussões obtidas com a aplica-

ção do método do Grau de Deterioração da

Estrutura, GDE/UnB, levando em considera-

ções todas as condições particulares da estru-

Figura 2 - Ciclo de carregamento utilizado no ensaio de compressão paralela às bras.

Para cada valor de Gd, o Manual de aplicação

da Metodologia GDE/UnB apresenta reco-

mendações de ações a serem tomadas para

cinco níveis: Baixo, Médio, Alto, Sofrível e

Crítico.

com valores de Fi e Fp sugeridos, em relação

ao elemento identicado com danos.

tura e do ambiente em que a mesma está

submetida.

A Figura 2 apresenta a localização do Prédio

anexo da Escola Politécnica da UFBA, objeto de

estudo do presente trabalho e a Figura 3

Figura 3 - Vista da fachada frontal do Prédio anexo da Escola Politécnica/UFBA.

Inicialmente, o prédio foi projetado com 12

pavimentos, com o objetivo de ser pavilhão de

aulas e laboratórios. Porém, houve uma

modicação e foram executados 8 pavimentos.

A construção foi dividida em 2 etapas. A

primeira, foi a construção de toda a estrutura

do prédio, desde a fundação até a última laje, e

esta etapa foi concluída no nal do ano de

2012. A segunda etapa da construção constitui

a execução de parte do nal das atividades da

primeira etapa, até a conclusão da obra.

Contudo, a segunda etapa da construção,

ainda não foi iniciada.

Durante a realização das inspeções, foram

detectados diversos tipos de anomalias nos

elementos da estrutura. A gura 4 apresenta a

presença da ação de degradação biológica com

o crescimento de vegetação em uma das juntas

existente entre as vigas V29 e V30 do pavimen-

to seis.

Figura 4 - Identicação de vegetação na junta de dilatação entre vigas do pavimento seis.

Fonte: Autores, 2018 Fonte: Autores, 2018

Fonte: Autores, 2018

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

ARTIGO Politécnica8Avaliação da degradação estrutural do

prédio anexo da Escola Politécnica da UFBAusando método GDE/UnB

Na Figura 5 é apresentado um caso de mani-

festação de manchas e umidade nos elemen-

tos da estrutura. As manchas tiveram o maior

índice de ocorrência nos elementos estrutu-

Esse fator de degradação intensica o entendi-

mento sobre a necessidade emergencial de

manutenção e de retomada da execução da

obra, Além disso, com estre crescimento, as

raízes vão se xando nas ssuras existentes

nos elementos e levar ao surgimento e/ou

agravamento de outros danos, podendo haver

um aumento signicativo no grau de deteriora-

ção do elemento/estrutura.

rais. Segundo Fonseca (2007), elas ocorrem

devido a contaminação do concreto por

fungos, mofo, etc., agentes agressivos que

tem seu desenvolvimento favorecido pela

exposição da estrutura à umidade e precipita-

ção da cidade de Salvador. O mesmo ocorre

para o dano Umidade, que também está

associada a porosidade do concreto e a falta

de impermeabilização dos elementos estrutu-

rais, principalmente as lajes, pois quando há

precipitação ocorre um acumulo de água em

sua superfície, como pode ser observado na

Figura 6.

Fonte: Autores, 2018 Fonte: Autores, 2018

Figura 5 - Manchas em viga e Laje Figura 6 - Acúmulo de água na superfície da laje.

A Figura 7 apresenta o formato de cha para a

análise de cada elemento contendo as descri-

ções dos danos detectados, assim como seu

respectivo fator de intensidade (Fi), fator de

ponderação (Fp), grau de deterioração do

elemento (Gde), Grau do Dano (D), nível de

deterioração do elemento, localização, foto ou

croqui da mesma.

Figura 7 - Modelo de Ficha utilizado para catologação e quanticação da deterioração.

Fonte: Autores, 2018

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

ARTIGO Politécnica9Avaliação da degradação estrutural do

prédio anexo da Escola Politécnica da UFBAusando método GDE/UnB

É importante ressaltar que através de um

acompanhamento ideal dos responsáveis

técnicos da obra, nos processos de execu-

ção, poderia ser evitado ou minimizado

alguns danos, como: falha de concretagem,

cobrimento deciente e desvio de geome-

tria.

Observando a Figura 8, podem-se perceber os cinco

danos que apresentam maior ocorrência na estrutu-

ra, sendo que, o dano Manchas atinge 71,15% dos

elementos estruturais vistoriados que contém

danos, seguido de Umidade com 64,83%, Corrosão

de Armaduras com 59,81%, Falha de Concretagem

com 46,52% e Cobrimento Deciente com 41,82%.

Fonte: Autores, 2018

Figura 8 - Percentual de ocorrência de danos nos elementos estruturais.

O fato da estrutura do prédio ser totalmente aparente (não haver revestimento) facilita a identicação

destes danos e facilita também o agravamento de alguns deles, como as manchas, umidade e corro-

são de armaduras, sendo eles os três danos que apresentaram maior ocorrência nos elementos.

O dano Corrosão de Armaduras aparece como o terceiro de maior ocorrência nos elementos estrutu-

rais, e está presente em todas as famílias de elementos. É notável que este dano não se manifesta

isoladamente, na maioria dos casos, apresenta-se associado a outro dano, por exemplo, a umidade,

cobrimento deciente ou falha de concretagem. E essa exposição da armadura ao ambiente, tratan-

do-se de uma região marinha com classe de agressividade III, segundo a NBR 6118 (2014), proporcio-

na a aceleração da corrosão desta armadura, além de requerer maiores cuidados.

A Tabela 1 apresenta o resultado do Gd obtido com a aplicação do método Gde/UnB.

Tabela 1 - Grau de Deterioração global da estrutura

O grau de deterioração global da estrutura (Gd) igual a 175,17 corresponde ao nível de deterioração

Crítico, assim, o método indica a necessidade de uma intervenção imediata na estrutura.

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

ARTIGO Politécnica10Avaliação da degradação estrutural do

prédio anexo da Escola Politécnica da UFBAusando método GDE/UnB

ara a criação de um programa de manuten-Pção a ser aplicada na estrutura do Prédio anexo da Escola Politécnica, é proposta uma

avaliação detalhada, para complementar a análise realizada no presente trabalho, baseada nas seguintes etapas:

1. Investigação - Estudo de projeto: levantamento dos projetos, detalhamentos e memoriais descritivos da estrutura; 2. Ensaios e procedimentos - Realização de ensaios, testes e avaliações mais detalhadas da estrutura. Neste quesito temos como exemplo o ensaio da velocidade de propagação de ondas ultrassônicas, extração de testemunhos, teor de íons cloretos, índice de vazios e absorção de água por imersão;

3. Avaliação a. Comparação: avaliar o que foi projetado e o que foi executado, levantando quais as diferenças e suas consequências;

5. Recuperação - Aplicação de técnicas e critérios para recuperar a estrutura, por exemplo, polimento, lavagens, saturação, corte (remoção profunda do concreto degradado), tratamento de ssuras, reparos com argamassa, reparos com concreto, reposição ou substituição de armadura corroída, adição de chapas e pers metálicos, proteção externa, etc.

4. Diagnóstico - Avaliação da segurança e durabili-dade da estrutura;

b. Desempenho: fazer um estudo de ações (cargas permanentes, variáveis e acidentais) que ocorrem hoje e que ocorrerão quando a construção estiver nalizada;

Diretrizes de intervenção

Conclusões

A aplicação do método na edicação apresenta-se como um auxílio para os prossionais responsá-veis pela manutenção e continuação da execução

om a aplicação da metodologia

CGDE/UnB, obteve-se resultados coeren-tes com o que foi observado visualmente

na estrutura. Devido ao nível crítico de deteriora-ção apresentado, todas as análises apontam para a realização de inspeção especial emergencial e planejamento de uma intervenção imediata.

Além disso, a classe de agressividade ambiental elevada em que se encontra a estrutura é um forte fator para o elevado grau de deterioração apontado pelo método, principalmente no que se refere aos danos referentes às armaduras dos elementos.

da estrutura do Prédio anexo da Escola Politécnica da UFBA, sendo o preenchimento das chas, e os fatores que indicam a importância do dano em relação à degradação, de grande apoio.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575 – Edicações Habitacionais – Desempenho, 2013.

E-mails de contato dos autores:

[email protected]

[email protected]

[email protected]

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118 – Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. Rio

de Janeiro, 2014.

BOLDO, P. Análise Quantitativa de Estruturas de Concreto Armado de Edicações no Âmbito do Exército Brasileiro.

Dissertação de Mestrado, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2002.

CASTRO, E. K. Desenvolvimento de metodologia para manutenção de estruturas de concreto armado. Dissertação

(Mestrado), Universidade de Brasília, Brasília, DF, 1994.

EUQUERES, P. Metodologia de inspeção em estruturas de pontes de concreto armado. Dissertação (Mestrado),

Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, 2011.

FONSECA, R. P. A estrutura do Instituto Central de Ciências: Aspectos históricos, cientícos e tecnológicos de projeto,

execução, intervenções e propostas de manutenção. Dissertação de Mestrado em Estruturas e Construção Civil,

Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2007.

LOPES, B. A. R. Sistema de manutenção estrutural para grandes estoques de edicações: Estudo para a inclusão do

componente Estrutura de Concreto. Dissertação (Mestrado), Universidade de Brasília, Brasília, DF, 1998.

MEDEIROS, A. G. Análise de durabilidade da ponte do Rio do Carmo utilizando ensaios não destrutivos, norma DNIT e a

metodologia GDE/UnB. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, 2015.

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

O homem que amava calcular

ARTIGO11 Politécnica

Márcio Luís Ferreira Nascimento

Keywords: Engineering, Malba Tahan, Mathematics, Julio Cesar de Mello e Souza

Abstract: : In 2018 is celebrated 80 years of an incredible book, written by the Brazilian engineer,

mathematics professor, storyteller and writer Julio Cesar de Mello e Souza. Under the pen name Malba Tahan,

he published such widely translated book on recreational mathematics. We reveal that his best-known story,

the riddle of the 35 camels to be divided among three sons, in proportions of one half, one third and one ninth,

has 22 relevant solutions when considering the general puzzle in which the number of camels and the

proportions are permitted to vary. Finally, we conclude that Tahan, the man who loved to count, really existed.

Palavras Chave: Engenharia, Malba Tahan, Matemática, Julio Cesar de Mello e Souza

Resumo: Em 2018 celebram-se 80 anos do lançamento de um livro incrível, escrito pelo engenheiro,

professor de matemática, contador de histórias e escritor brasileiro Julio César de Mello e Souza. Sob o

pseudônimo Malba Tahan, publicou tal livro amplamente traduzido sobre matemática recreativa. Revelamos

que sua história mais conhecida, o problema dos 35 camelos a serem divididos entre três lhos, em

proporções de um meio, um terço e um nono, tem 22 soluções relevantes quando se considera o problema

mais geral em que o número de camelos e as proporções podem variar. Finalmente, concluímos que Tahan,

o homem que amava calcular, realmente existiu.

Page 12: Avaliação da degradação Escola Politécnica da UFBA ...ipolitecnicobahia.org/wp-content/uploads/2019/05/...Politécnica Instituto Politécnico da Bahia Ano 11 Edição Quadrimestral

Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

ARTIGO Politécnica12 O homem que amava calcular

Introdução

Nem todo mundo acredita, mas o Brasil

já teve um ilustre professor de mate-

mática, engenheiro civil e escritor

amado e admirado em praticamente todo

mundo. Escreveu simplesmente um dos mais

originais, curiosos e consagrados livros de

recreação matemática já publicados, traduzido

em dezenas de línguas de diversos países.

Costumava utilizar um pseudônimo que cou

famoso ao redor do globo: Ali Iezid Izz-Edim Ibn

Salim Hank Malba Tahan (1885 - 1921), de rica

e fantasiosa biograa.

Considerado o maior divulgador da matemáti-

ca no Brasil, buscava ensinar através de

desaos bastante criativos e originais.

O mais renomado livro deste autor encontra-se

na 90ª edição em 2017 [1], e não há outra

palavra para descrevê-lo, pois é simplesmente

maravilhoso: intitula-se “O Homem que

Calculava”. Foi publicado em pela primeira vez

1938, inspirado nos célebres contos e lendas

das Mil e Uma Noites, traduzido por Breno

Alencar Bianco, outra invenção do mesmo

autor. O homem por detrás destes dois nomes

imaginados, Julio Cesar de Mello e Souza

(1895 - 1974), que nunca viajou ao Oriente

Médio e tão pouco tinha parentes árabes

(Figura 1), contava uma interessante história a

respeito destas invenções: quando jovem,

recém-formado em engenharia civil (iniciou o

curso na Escola Polytechnica do Rio de Janeiro

em 1913 [2]), começou a ganhar a vida minis-

trando aulas e também escrevendo num jornal,

mas o editor não concordava em publicar suas

notas e contos. Imaginou então um autor

americano, R. S. Slady, e utilizando este

pseudônimo, mudando pouca coisa dos textos

originais, começou a escrever contos no antigo

jornal carioca “O Imparcial” por volta de 1918 –

e em primeira página [3]! De acordo com o

próprio Mello e Souza, foram cinco gloriosos

artigos. Formou-se em 1923 (Figura 2).

Figura 1 - Julio Cesar de Mello e Souza (1895 - 1974), engenheiro civil, professor de

matemática e escritor, mais conhecido pelo seu pseudônimo, Malba Tahan. Imagem em

domínio publico, por volta de 1920.

Breve Histórico

Magníco contador de estórias, tramas

e enredos, único em traduzir ideias

matemáticas para o grande público –

este era Mello e Souza. De acordo com Oliveira

[2], Mello e Souza tinha uma postura critica em

relação aos currículos e aos programas imple-

mentados nas escolas brasileiras, que até a sua

época era cuidado majoritariamente por

prossionais de engenharia, armando que

“era necessário fazer uma revisão cuidadosa

dos programas de matemática com o objetivo

de simplicá-los, torna-los ais vivos e mais

interessantes”. Por meio de um discurso

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ARTIGO Politécnica13 O homem que amava calcular

pedagógico próprio e inovador, sutilmente

escondido na proposta de encantamento por

meio de recreações matemáticas, conseguiu

tratar de cultura, matemática e educação por

meio de uma narrativa singular com elementos

de losoa oriental [4].

As primeiras estórias de Tahan foram publica-

das em outro jornal, “A Noite”, em idos de 1925,

na seção: “Contos de Mil e Uma Noites” [2].

Reconhecido pela Academia Brasileira de

Letras, recebeu prêmio no ano seguinte ao

lançamento da primeira edição do livro (confor-

me Figura 3). Curiosamente, Malba é o nome de

um oásis, e Tahan signica “moleiro”, aquele

que prepara o trigo, de acordo com o próprio

O personagem principal de sua mais famosa

obra, Beremiz Samir, era um matemático persa

que encontrou o narrador da estória, Hank

Tade-Maiá, no caminho para Bagdá nos

imaginados idos dos anos 1200 d.C. Assim,

ambos iniciaram uma fantástica viagem

ilustrada numa dúzia de capítulos cheios de

aventuras, enigmas, problemas, curiosidades e

charadas resolvidas de forma cativante, com

grande talento, simplicidade e precisão,

utilizando tanto de aritmética quanto de

geometria e lógica.

Curiosamente, o jovem Júlio César de Mello e

Souza decidiu por ingressar na Escola

Dramática Municipal em 1915, dois anos

depois de iniciar os estudos de Engenharia Civil

[3]. Foi colega de turma de João Álvaro de Jesus

Quental Ferreira (1898 - 1979), ator, diretor de

teatro e dramaturgo brasileiro, mais conhecido

como Procópio Ferreira. Além do “O Imparcial”,

foi colaborador de diversos jornais e revistas,

tais como: “A Noite”, “O Diário da Noite”, “O

Jornal”, “Noite Ilustrada”, “O Cruzeiro”, “O

Correio da Manhã”, “Última Hora”, “Folha da

Noite de São Paulo”, “Jornal do Brasil”, “Diário

de Notícias” e “Tico-Tico”. Foi ainda editor-

chefe de três revistas de sua própria lavra: “Al-

Karismi”, “Lilaváti” e “Damião” [3].

Seu mais lembrado problema deste peculiar

livro envolveu a curiosa estória da divisão de 35

camelos dada por herança a três irmãos, onde o

mais velho deveria receber a metade, o lho do

meio um terço e o caçula a nona parte, que

Beremiz resolveu de uma forma muito, muito

particular e de certa forma surpreendente

(para quem quiser saber como foi, basta ler o

Capítulo 3 do livro [1]).

autor. Também era o sobrenome de uma aluna

sua, Maria Zechsuk Tahan [2,3,5].

Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

Figura 2: Diploma de engenheiro civil de Julio Cesar de Mello e Souza outorgado em 1923

pela Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil.

Figura 3: Prêmio da prestigiosa Academia Brasileira de Letras do ano de 1939 recebido

em 1940 pelo seu trabalho mais popular, publicado em 1938 “O Homem que Calculava”: www.academia.org.br.

Fonte: www.malbatahan.com.br, em domínio público.

Fonte: www.malbatahan.com.br, em domínio público.

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

ARTIGO Politécnica14 O homem que amava calcular

Tal problema envolveu tempos depois uma

controvérsia acadêmica sobre sua originalida-

de, pois alguns citavam como fontes livros de

recreação matemática, e outros armavam

ainda como origem um antigo livro do grande

matemático italiano Niccolo Fontana Tartaglia

(1500 - 1557) que deveria contar a estória da

divisão de 17 cavalos devido a uma herança

que envolvia a metade, a terça e a nona parte

entre irmãos [4]. No entanto, não existe este

problema na grande obra General Trattato

(“Tratado Geral”, 1556), tão pouco em outro

livro da lavra do matemático italiano Leonardo

Pisano (ou Fibonacci, c. 1170 - c. 1250),

chamado Liber Abaci (“Livro do Ábaco”),

publicado em 1202. Nada similar foi encontra-

do nem mesmo nas versões existentes do

primeiro livro de álgebra, escrito por volta de

820 pelo matemático e astrônomo persa Abu

Ja'far Muhammad ibn Musa Al-Khwarizmi (c.

780 - c. 850), chamado “Al-kitāb al-mukhta�ar

fī �isāb al-ğabr wa'l-muqābala” (algo como

“Compêndio sobre Cálculo por Restauração e

Balanceamento”). A origem da palavra álgebra

surgiu diretamente do título deste livro, e

algarismo provém da derivação do nome deste

sábio persa, homenagens estas mais que

signicativas [4].

A divisão de N camelos entre três irmãos

Para treinar

e fato, problemas de divisão similares

D(mas não exatamente iguais) existem

há muito tempo – registros do Papiro

Rhind (em exibição no Museu Britânico), de

1550 a. C. apontam divisões de quantias por

três frações [4]. Livros de recreações matemáti-

cas mais recentes (por volta de cem, duzentos

anos) envolviam divisões entre cavalos, elefan-

tes, bois e outros animais.

Nascimento e Barco [4] defendem que Mello e

Souza foi o primeiro a propor a divisão de 35

animais em três partes distintas (também

conhecido como problema da metade + terça +

nona parte).

Analisando um caso mais geral, como seria a

divisão de n camelos entre três irmãos seguin-

do uma partilha de 1/a, 1/b e 1/c, para a, b e c

números inteiros positivos e com a ≤ b ≤ c,

deixando dois jamales de sobra após se acres-

centar um ao rebanho antes da partilha?

O matemático inglês Ian Nicholas Stewart (n.

1945) resolveu esta particular questão para o

clássico problema de 17 camelos (ou cavalos)

cuja partilha entre três irmãos resultava na

sobra de um único camelo [6] após inclusão de

um animal. Neste caso, havendo d camelos (por

exemplo, d=17 +1), é possível chegar à Equação

(1):

denominada de Equação de Mustafá por

Stewart [ ]. 6

Dito de outra forma, se a=2, b=3 e c=9, d=18 =

17+1. Stewart provou que existem apenas 14

diferentes soluções inteiras para a, b, c e d

números inteiros positivos e com a ≤ b ≤ c ≤ d

[6]. No entanto, nem todas estas quatorze

soluções são relevantes. Uma condição aritmé-

tica precisa ser levada em conta: d necessaria-

mente precisa ser um número divisível por a, b e

c, e existem portanto apenas 12 soluções

relevantes.

No caso dos 35 camelos, um é emprestado e

dois devem ser devolvidos ao m da divisão. Em

outras palavras, a equação resultante envolve t

camelos, levando à Equação (2):

denominada Equação de Tahan [ ].4

É fácil perceber que se a=2, b=3 e c=9, t=36 = 35

+1. Existem 28 soluções envolvendo três

números de partilha inteiros positivos a, b, c

para t camelos, com a ≤ b ≤ c ≤ t, deixando dois

camelos à disposição após a partilha. No

entanto, t deve ser também um múltiplo inteiro

de a, b e c. Tal restrição aritmética reduz o

número de soluções para apenas 22 possibili-

dades relevantes, que também deixam dois

camelos após a partilha, conforme indicado na

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

ARTIGO Politécnica15 O homem que amava calcular

Para treinar Tabela 1. O número de camelos n para cada

partilha entre três irmãos deve ser igual a t -1.

Mello e Souza vivenciou uma época onde se

discutiu e foi elaborado o “Manifesto dos

Pioneiros da Educação Nova”, movimento

liderado, entre outros, pelo educador, jurista e

escritor brasileiro Anísio Spínola Teixeira

(1900 - 1971). Tal proposta, estabelecida em

Para treinar

Tabela 1 - A Equação de Tahan: 1/a + 1/b + 1/c = (t-2)/t, apresenta exatamente 28 soluções

para a, b, c e t números inteiros positivos com a ≤ b ≤ c ≤ t. O asterisco indica seis resultados que não obedecem à condição aritmética que t deve ser um múltiplo de a, b e c. Isto implica

em 22 soluções relevantes do problema dos 35 camelos para quaisquer três irmãos com

partilhas 1/a, 1/b e 1/c.

Figura 5 - Manchas em viga e Laje

Discussão

Figura 4 - As várias facetas do homem que amava calcular: i) Julio Cesar, o nome de

batismo militar dado pelos pais, João de Deus de Mello e Souza (1862 - 1910) e Carolina

Carlos de Toledo (depois Carolina de Mello e Souza, 1886 - 1925); ii) Mello e Souza, o professor e educador; iii) Malba Tahan, o escritor, contador de historias e alter ego

mais famoso. Chegou a usar outros nomes em diversas situações na vida: Salomão IV, 846

(identicação quando aluno do Colégio Militar) e Capote, enquanto criança /

adolescente; assinou também como R. S. Slady e Breno Alencar Bianco na fase adulta.

1932, estava de acordo com ações políticas de

implementação de um processo de industriali-

zação e urbanização do Brasil [ ].7

Inovador inquieto, multifacetado ( ), Figura 4

Mello e Souza foi o primeiro colaborador de

matemática do programa radiofônico “Univer-

sidade do Ar”, pioneira iniciativa brasileira de

educação à distância, com foco na formação de

professores secundaristas no Estado Novo

( ). O programa era veiculado às 18h Figura 5

45min entre 1941 e 1944 pela Rádio Nacional

do Rio de Janeiro, ZYJ 460 na frequência 1130

kHz, criada em 1936 e ainda em atividade [ ]. 8

Mello e Souza foi também o primeiro a elaborar

a revista Al-Karismi entre 1946 e 1951, a

primeira no mundo a homenagear ao célebre

matemático persa e destinada a professores e

alunos de matemática, que explorava recrea-

ções matemáticas, bem como jogos, proble-

mas, histórias, aplicações e curiosidades [ ].2

Fonte: www.malbatahan.com.br, em domínio público.

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ARTIGO Politécnica16 O homem que amava calcular

Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

Fonte: www.malbatahan.com.br, em domínio público.

Figura 5 - Cartaz de 1941 da

“Universidade do Ar”, pioneira iniciativa

radiofônica brasileira de educação à

distância, com foco na formação de

professores, veiculada pela Radio Nacional.

No entanto, esta data merece uma reexão,

pois não seria Malba Tahan um nome ctício?

Decerto o personagem foi inventado, mas o

nome deixou de ser ctício, e a razão é simples

de entender: até a década de 1950 os brasilei-

ros podiam indicar um pseudônimo em sua

carteira de identidade ( ). Mello e Souza Figura 6

assim o fez [ ], passando também a assinar 4

ocialmente o nome do sábio persa, e de fato

pode-se então admitir que Malba Tahan, o

homem que amava calcular, realmente existiu

– como queríamos demonstrar (C.Q.D.).

matemática recreativa [ , , ], muitos deles 2 3 4

vendendo milhões de publicações em diversos

países como: Alemanha, Argentina, Colômbia,

Coréia, Croácia, Escócia, Espanha, Estados

Unidos, França, Grécia, Holanda, Itália, Japão,

México, Portugal, Servia e Venezuela, entre

outros. Muitas das suas obras, hoje considera-

das interdisciplinares [ ], são ainda impressas, 3

mostrando a força e vigor de suas ideias,

histórias e estórias. Sua família mantém um

site em sua memória: . No www.malbatahan.com.br

Brasil, o Dia Nacional da Matemática é come-

morado na data de seu aniversário, todo dia 6

de maio, que também é o dia de nascimento de

Malba Tahan.

A proposta literária do homem que amava

calcular foi de certa forma inspirada pela

criação, poucos anos antes, de duas experiên-

cias pioneiras no campo da educação matemá-

tica no país: a publicação da Revista Brasileira

de Mathematica Elementar (1929 - 1930), que

pouco tempo depois passou a se chamar

Revista Brasileira de Mathematica (1930 - c.

1933). Estas foram escritas primeiramente por

docentes e discentes da Escola Politécnica da

Universidade Federal da Bahia (fundada em 14

de março de 1897). Por volta de 1931, a revista

foi transferida para o Rio de Janeiro. Vale

lembrar que Mello e Souza foi colaborador

eventual em alguns artigos, principalmente na

seção inicial da revista, intitulada Galeria

Mathematica, que tratava da biograa de

ilustres matemáticos [ , ]. O conteúdo das 2 9

mesmas, namente ilustrado, buscava

apresentar assuntos de interesse cientíco e

pedagógico na área de matemática.

Mello e Souza escreveu 33 livros, outros 29 em

parcerias. Já com seu pseudônimo mais

famoso escreveu 63 livros sobre lendas e

Material Métodos

Conclusões

ello e Souza, um autor de múltiplas

Midentidades, foi mestre em escrever e

contar estórias, em especial as de

conteúdo matemático. Procurou ensinar

matemática com arte, conhecimento e

sabedoria. Hábil explorador das palavras,

percebeu como poucos que um modo sutil de

ensinar conceitos matemáticos abstratos

requer utilizar da abstração, do lúdico e do

imaginário por meio de belas estórias. Defendia

que o ensino da técnica matemática deveria ao

menos ser amenizado e motivado com algumas

curiosidades, recreações e fantasias, além de

pequenas introduções históricas. Aos poucos,

sutilmente, seu personagem Tahan conseguiu

(como ainda consegue) adentrar na mente de

m u i t o s j o v e n s , p r o v o c a n d o - o s c o m

curiosidades e enigmas matemáticos por meio

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Gustavo Páez Ortega

escritos o que ensinar, como ensinar e para

que(m) ensinar. Mello e Souza mostrou

caminhos humildes e criativos para se atingir

este muito particular conhecimento humano

por meio de estórias encantadoras e

divertidas. Sob seu alter ego, procurou dar

outra opção ao desao da esnge matemática

e desfazer o mito de que o conhecimento

matemático é acessível apenas à alguns

poucos. Esta tarefa somente poderia ser

concluída por alguém que amava calcular...

Maktub (“Estava Escrito”)!

Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

de analogias embebidas em interessantes

contos de faz de conta. Em resumo, conseguiu

harmonizar razão e imaginação de forma

única, entrelaçando em belas estórias o

racional e o emocional.

A o t r a b a l h a r c o m o i m a g i n á r i o n a

matemática, rompeu com as barreiras que

este saber de certezas, muitas vezes mais

confundido com arrogância (ou aptidão) do

que com beleza, parece impor: decifra-me ou

te devoro! Provocador, questionava em seus

O ARTIGO Politécnica17 O homem que amava calcular

Fonte: Autores, 2018

Fonte: www.malbatahan.com.br, em domínio público.

(a) Frente (b) Verso

Figura 6 - Carteira de identidade de Julio Cesar de Mello e Souza em 1954. Na frente (a), encontra-se a foto e o registro numérico 175.353, além da impressão

digital e assinatura. No verso (b), encontra-se seu nome completo,

data de expedição, liação, cidade, estado, data de

nascimento e informações adicionais. Abaixo de seu nome é possível ler o pseudônimo “Malba

Tahan”. Mais recentemente a carteira de identidade brasileira

foi modicada e simplicada, não mais sendo admitido acrescentar um apelido.

[ ] C. C. Oliveira. A Sombra do Arco-Íris: um Estudo Histórico / Mitocrítico do Discurso Pedagógico de Malta Tahan. Tese. 2

Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (2007) 171 pgs.

[ ] M. L. F. Nascimento; L. Barco. The Man Who Loved to Count and the Incredible Story of the 35 Camels. J. Math. Arts 4

10 (2016) 35-43.

[ ] I. Stewart. The Riddle of the Vanishing Camel. Mathematical Recreations, Sci. Am. 266 (1992) 122–124.6

[ ] M. H. C. Romero. Universidade do Ar: em Foco a Primeira Iniciativa de Formação de Professores Secundaristas via 8

Rádio no Estado Novo (1941 - 1944). Dissertação. Universidade Federal de Uberlândia (2014), 167 pgs.

[ ] M. Tahan. O Homem que Calculava. Record, Ed., Rio de Janeiro (2017), 286 pgs.1

Referências

[ ] J. C. Faria. A Prática Educativa de Júlio César de Mello e Souza Malba Tahan: um Olhar a partir da Concepção de 3

Interdisciplinaridade de Ivani Fazenda. Dissertação. Universidade Metodista de São Paulo (2004) 278 pgs.

E-mails de contato do autor:

[email protected]

[ ] A. L. M. Dias. Uma História da Educação Matemática na Bahia. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História - 9

ANPUH, São Paulo (2001) 1-21.

[ ] M. G. Siqueira Filho. Ali Iezid Izz-Edim Ibn Salim Hank Malba Tahan: Episódios do Nascimento e Manutenção de um 5

Autor-Personagem. Tese. Universidade Estadual de Campinas (2008) 258 pgs.

[ ] R. G. Oliveira. O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nacional em seu Contexto Histórico. Dissertação. Universidade 7

Estadual Paulista, Campus de Rio Claro (2002) 56 pgs.

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

ARTIGO Politécnica18

Considerações sobre as tecnologiasaplicadas aos sistemas de

esgotamento sanitário dos municípios baianos de pequeno porte

Itaiara Sá Marques

Luciano Matos Queiroz

Asher Kiperstok

Resumo: Dentre os 417 municípios baianos, 387 possuem população urbana menor que 50 mil habitantes,

onde a dispersão e a renda da população não justicam, na maioria dos casos, a implantação de sistemas de

esgotamento sanitário convencionais. Constatou-se que apesar da presença de Tecnologias de Baixa

Complexidade Operacional (TBCO) nas tecnologias de tratamento, há uma tendência de padronização das

soluções..

Keywords: sewage treatment; technologies of low operational complexity; small municipalities

Abstract: Considering the 417 municipalities in Bahia State, Brazil, 387 presented an urban population of less

than 50 thousand inhabitants. The low population density and low income do not justify, in most localities, the

construction of conventional domestic wastewater collection and treatment systems. However, it was observed

that there is a tendency to implement standardized projects that do not take into account the local reality

despite the availability of lower operational complexity options..

Palavras Chave: esgotamento sanitário; tecnologias de baixa complexidade operacional; municípios de

pequeno porte

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

ARTIGO Politécnica19Considerações sobre as tecnologias aplicadas aossistemas de esgotamento sanitário dos municípiosbaianos de pequeno porte

Nelson (2005) relata dois extremos de

tecnologias para esgotamento sanitário:

aquelas que utilizam uxo por gravidade

para transporte dos esgotos, que possuem

a l g u m a o u n e n h u m a p a r t e m ó v e l ,

dependem de processos naturais na maior

parte do tratamento, tendem a ter menores

custos, requerem pouca ou nenhuma

energia (poucos ou nenhum equipamento

eletromecânico), e não necessitam de

operação e manutenção intensa; e àquelas

tecnologias altamente mecanizadas, que

utilizam estações elevatórias de esgoto

(EEE ) , e qu ipamen to mecân i c o pa ra

proporcionar mistura, aeração forçada,

ltração pressurizada, ou qualquer outro

aumento de eciência no tratamento. Pode-

se entender que as tecnologias que foram

d e s c r i t a s n o p r i m e i r o e x t r e m o s ã o

t e c n o l o g i a s d e b a i x a c o m p l e x i d a d e

operacional.

Nesse contexto, considerou-se que a

t e r m i n o l o g i a “ t e c n o l o g i a d e b a i x a

complexidade operacional” (TBCO) para

soluções de esgotamento sanitário devem

c o n t e m p l a r a s p e c t o s c o m o p o u c a

m e c a n i z a ç ã o , o u s e j a , p o u c a s , o u

nenhuma EEE, sistemas de tratamento que

não necessitem de aeração forçada ou

recirculação de euente, e que a solução

respeite as particularidades locais, como

t o p o g r a a , t i p o d e s o l o , í n d i c e

pluviométrico, capacidade técnica e a

capacidade de pagamento do usuário,

podendo essa solução ser individual ou

coletiva.

S .A. (EMBASA) são rentáve is , sendo

responsáveis por 70% do faturamento total

da empresa. Seis dos 15 municípios com

resultados econômicos satisfatórios estão

localizados na Região Metropolitana da

cidade do Salvador (EMBASA, 2014), ou

seja, onde a densidade demográca e a

situação econômica justicam as soluções

implantadas, que são, na maioria dos

casos, convencionais.

onforme dados publicados pelo

CInstituto Brasileiro de Geograa e

Estatística (IBGE, 2016), dentre os

417 municípios baianos, 387 são conside-

rados de pequeno porte, ou seja, possuem

população urbana menor que 50 mil habi-

tantes e, nessas localidades, a dispersão e a

renda da população não justicam, na

maioria dos casos, a implantação das

soluções convencionais de esgotamento

sanitário.

A c o m p l e x i d a d e d a s a t i v i d a d e s d e

manutenção e operação desses sistemas

convencionais pode constituir um grande

problema para operadora dos serviços de

esgotamento sanitário dos municípios de

men o r p o r t e , qu e , g e r a lmen t e , n ão

possuem infraestrutura, nem recursos

sucientes para geri-los. Várias são as

c a r a c t e r í s t i c a s q u e g e r a m e s s a s

d i c u l d a d e s : a c e n t r a l i z a ç ã o d o

t ra tamento em grandes es tações de

tratamento de esgotos (ETE), execução de

obras complexas com elevados custos de

d e sap rop r i a ção , e x c e s so do uso d e

recalque para vencer grandes distâncias e

desníveis topográcos, consumo elevado

de energia elétrica, elevada produção de

subprodutos do tratamento (lodo e gases),

c u s t o s e l e v a d o s d e m a n u t e n ç ã o e

o p e r a ç ã o , d i c u l d a d e p r á t i c a d e

universalizar o atendimento dos serviços

em deco r r ênc ia da ma io r d i spe rsão

populacional, além da minimização das

oportunidades de reciclo de nutrientes e

reúso da água, o que nas regiões semiáridas

é imprescindível.

Conforme análise elaborada a partir de um

m o d e l o e c o n ô m i c o - n a n c e i r o

desenvolvido pela Fundação Instituto de

Administração da Universidade de São

Paulo (FIA/USP), apenas 15 municípios

baianos dos 364 (1.027 localidades com

água t ratada e 112 loca l idades com

esgotamento sanitário) atendidos pela

Empresa Baiana de Águas e Saneamento

Introdução

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

ARTIGO Politécnica20Considerações sobre as tecnologias aplicadas aossistemas de esgotamento sanitário dos municípiosbaianos de pequeno porte

metodologia utilizada consistiu em

Apesquisa documental por meio do

levantamento, sistematização, análise

estatística e interpretação de dados e informa-

ções apresentadas nos relatórios internos da

Empresa Baiana de Águas e Saneamento

(Embasa) tais como: Resumo Geral de SES

Operados, pela Superintendência de Operação

Norte, pela Superintendência de Operação Sul

e pela Superintendência de Esgotamento

Sanitário da Região Metropolitana de Salvador;

na Tabela 1394 do IBGE (2010) referente aos

domicílios particulares permanentes segundo

o tipo de esgotamento sanitário; Tabela

Resumo de Informações e Indicadores Por

Estado, Tabelas Completas de Informações e

Indicadores dos Prestadores de Serviços

Regionais, Tabela Completa Pesquisa

S impl icada , Tabe las Comple tas de

Informações e Indicadores dos Prestadores de

Serviços Locais – Direito Privado com

Administração Pública (LPr) e Tabelas

Completas de Informações e Indicadores dos

O objetivo deste artigo é elencar as características dos sistemas de esgotamento sanitário (SES) dos

municípios baianos de pequeno porte, ou seja, com população até 50.000 habitantes, com operador

declarado, visando identicar tecnologias com pouca mecanização e que respeitem as particularida-

des locais, como topograa, tipo de solo, índice pluviométrico, capacidade técnica e a capacidade de

pagamento do usuário. Adicionalmente, buscou-se analisar desaos oriundos do atual modelo de

prestação dos serviços públicos de saneamento diante da possibilidade de implantação de soluções

individuais de esgotamento sanitário.

Objetivo

Metodologia

Prestadores de Serviços Locais – Direito

Público (LPu) do SNIS (2014); e Plano Estadual

de Manejo de Águas Pluviais e Esgotamento

Sanitário (Pemapes) (Bahia, 2011).

Analisou-se, também, as respostas de

questionário estruturado aplicado aos

prossionais envolvidos na elaboração,

contratação e operação de sistemas de

esgotamento sanitário (SES). O questionário foi

enviado por correio eletrônico para diferentes

grupos de prossionais da área das diversas

regiões do país: professores e pesquisadores de

universidades que trabalham na área de

esgotamento sanitário; projetistas de SES

autônomos ou de empresas de consultoria;

engenheiros, técnicos e gestores dos

ó rgãos/empresas r esponsáve i s pe l o

planejamento dos serviços de esgotamento

sanitário; pela contratação e nanciamento

dos projetos de SES; pela execução das obras

de SES; pela operação de SES; e pela regulação

e/ou scalização dos serviços de esgotamento

sanitário.

Foto Ilustrativa - esgoto sem tratamento lançado a

céu aberto.

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

ARTIGO Politécnica21Considerações sobre as tecnologias aplicadas aossistemas de esgotamento sanitário dos municípiosbaianos de pequeno porte

O principal operador dos SES da Bahia é

a Empresa Baiana de Águas e

Saneamento (Embasa). A partir do

levantando realizado nos relatórios de sistemas

operados por essa empresa, constatou-se que,

até o ano de 2016, a empresa prestava serviços

de esgotamento sanitário em 105 (cento e

cinco) municípios. A empresa está em processo

de recebimento de mais 2 (dois) SES, dos

municípios de Botuporã e Mirangaba, porém,

esses não foram considerados no estudo.

Segundo estimativa do IBGE (2016), desses

105 municípios, 70 (setenta) possuem

população total abaixo de 50 mil habitantes.

Porém, considerando a mesma relação entre

população total e população urbana do Censo

2010 para o ano de 2016, constata-se a

existência de 80 municípios com população

urbana abaixo de 50 mil habitantes.

Nos sete últimos relatórios publicados no

Sistema Nacional de Informação sobre

Saneamento (SNIS) entre os anos de 2008 e

2014, 21 (vinte e um) municípios declararam

que possuem um SAAE ou empresas

municipais como operadores do serviço de

esgotamento sanitário. Desses, segundo

estimativa do IBGE (2016), 14 (catorze)

possuem população total inferior a 50 mil

habitantes. Entretanto, considerando a

população urbana, mesma relação do Censo

2010, 16 (dezesseis) municípios possuem

população inferior a 50 mil habitantes.

Considerando os dados disponíveis nos seis

últimos relatórios publicados no SNIS entre os

anos de 2009 e 2014, 71 (setenta e um)

municípios declararam como operadora do

serviço de esgotamento sanitário, a Prefeitura

Municipal. Porém, 10 (dez) desses municípios

foram desconsiderados no estudo, pois se

constatou que a Embasa opera algum SES no

município, a saber: Araci, Glória, Santa

Brígida, Senhor do Bonm, Glória, Mairi,

Botuporã e Caturama, além de Lapão e Tanque

Novo que foram retirados desse estudo, pois,

segundo o Pemapes (Bahia, 2011), são 100%

atendidos por meio de tanques sépticos (TS).

Segundo estimativa do IBGE (2016), apenas o

município de Monte Santo possui população

total maior que 50 mil habitantes. Porém,

considerando a população urbana, mesma

relação do Censo 2010, todos os 61 (sessenta e

um) municípios possuem menos que 50 mil

habitantes.

Os dados mostram que dos 80 (oitenta)

municípios com população urbana inferior a

50 mil habitantes que possuem algum SES

operado pela Embasa, 54 (cinqüenta e quatro)

possuem SES centralizados na sede municipal

ou distritais, sendo que apenas 03 (três) desses

não apresentam estação elevatória de esgotos

(EEE). Por outro lado, dos 26 (vinte e seis)

municípios que possuem SES descentralizado,

e m b a i r r o s o u e m p r e e n d i m e n t o s

habitacionais, 11 (onze) não possuem

nenhuma EEE. Considerando o universo

amostral, 111 (cento e onze) SES, o número

total de SES descentralizados em bairros ou

empreendimentos habitacionais é igual a 51

(cinquenta e um), sendo que 43 (quarenta e

três) desses sistemas estão localizados em

municípios que não possuem SES com ETE

centralizada.

Resultados e Discussões

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

ARTIGO Politécnica22Considerações sobre as tecnologias aplicadas aossistemas de esgotamento sanitário dos municípiosbaianos de pequeno porte

Considerando municípios do grupo atendidos

pela Prefeitura Municipal, 60 (sessenta)

possuem SES centralizado na sede, porém,

apenas 19 (dezenove) declaram a existência de

estação de tratamento de esgotos (ETE), sendo

que 08 (oito) dessas estão fora de operação

segundo o Pemapes (Bahia, 2011). Apenas 03

(três) municípios possuem EEE, fato que está

relacionado à inexistência das ETE. Barra do

Rocha é o único município que possui rede e

ETE apenas em um bairro, sendo que o SES

não possui EEE e a ETE está fora de operação

(Bahia, 2011). Os municípios de Mundo Novo,

Piritiba e Teolândia possuem, também,

sistemas descentralizados em bairros e

empreendimentos habitacionais, entretanto, a

ETE do Bairro ACM no município de Mundo

Novo apresenta eciências de remoção de

poluentes muito aquém do desejado; a da

Praça São Judas Tadeu no município de

Piritiba está fora de operação e a do Bairro

Urbana em Teolândia é operada pela

iniciativa privada.

Dentre os 16 (dezesseis) municípios do grupo

que declaram a operação dos SES por meio de

SAEE e Empresas Municipais, todos possuem

SES centralizado na sede municipal, sendo que

06 (seis) não possuem ETE, apenas rede

coletora e 02 (dois) estão com suas ETE fora de

operação, conforme apontado no Pemapes

(Bahia, 2011). Os municípios que não possuem

EEE são 08 (oito), sendo que desses, apenas o

município de Jaborandi possui ETE em

operação. O município de Taperoá possui um

SES Bairro Patichulin, porém, também não

possui ETE, assim como o SES da sede.

Constatou-se que os SES operados pela

Embasa, Prefeituras Municipais e SAAE

possuem tecnologias de tratamento variadas,

conforme apresentado na Figura 1. A maioria

das tecnologias de tratamento é considerada de

baixa complexidade operacional, porém,

dependendo da concepção do SES, detecta-se a

implantação de muitas EEE, por exemplo, e,

então, a operação e manutenção do sistema de

esgotamento tornam-se altamente complexas,

mesmo com uma tecnologia de tratamento de

baixa complexidade, como as lagoas de

estabilização. Dentre as tecnologias de menor

complexidade operacional, encontram-se os

banheiros secos e os tanques sépticos (TS),

porém, nenhuma das prestadoras de serviços

opera ou mantém esses banheiros secos e/ou

TS como so lução indiv idual izada de

tratamento de excretas. Apenas um SES,

i n s t a l a d o e m u m e m p r e e n d i m e n t o

condominial na cidade de Una, na região sul do

estado da Bahia, possui TS operado pela

Embasa, porém, fazendo parte de um

tratamento centralizado e não como solução

individual. O sistema foi contabilizado na

solução UASB+Filtro.

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

ARTIGO Politécnica23Considerações sobre as tecnologias aplicadas aossistemas de esgotamento sanitário dos municípiosbaianos de pequeno porte

população urbana com 01 (uma) EEE e

tecnologia de tratamento também composta

por reator UASB seguido de lagoas de

polimento. Já o SES do município de

Cravolândia atende 84% da população urbana

com 01 (uma) EEE e com sistema de

tratamento composto apenas por lagoas de

estabilização.

Por outro lado, dos 60 SES com ETE

centralizada, 28 (vinte e oito) apresentam

relação entre número de EEE para cada 1.000

economias, maior que 2,0, sendo que 08 (oito)

possuem esse indicador acima de 10,0,

demonstrando uma complexidade operacional

e de manutenção do sistema de coleta e

transporte, apesar da maioria das tecnologias

de tratamento não ser considerada complexa.

Os SES do município de Maragogipe podem ser

considerados os mais complexos do grupo, pois

só o SES da sede possui 12 (doze) EEE, além da

tecnologia de tratamento ser o processo de lodo

ativado. Destaca-se, também, o SES de

Nagé/Coqueiros, que possui 06 (seis) EEE,

sendo que 05 (cinco) estão localizadas no

Distrito de Coqueiros para atender apenas 132

economias. Apesar da complexidade do

sistema de coleta e transporte, o SES possui

TBCO para o tratamento. O mesmo ocorre com

o SES de São Roque do Paraguaçu, que possui

02 (duas) EEE para atender apenas 126

economias. Somando todos SES do município

Considerando os SES operados pela Embasa, o

SES com ETE centralizada que atende a maior

parcela da população urbana do município e

que possui menor complexidade operacional é

o de Barra do Tarrichil, no município de

Chorrochó. O SES de Barra do Tarrichil atende

toda população urbana com ETE centralizada

composta por lagoas de estabilização, além de

não ser necessária nenhuma EEE para

transportar os esgotos. Outros SES que

também possuem TBCO para atender 100% da

população urbana são os de Encruzilhada e

Várzea Nova, com apenas 01 (uma) EEE e o de

Canápolis, com apenas 02 (duas) EEE, todos

com sistema de tratamento composto por

UASB seguido de lagoa de polimento. O SES do

município de Santa Brígida atende 95% da

Considerando os sistemas operados pela

E m b a s a , c o n s t a t o u - s e a

preponderância do reator anaeróbio

(UASB) como principal tecnologia de

tratamento. São 15 (quinze) SES cuja

tecnologia de tratamento é apenas o reator

UASB; 38 (trinta e oito) com UASB seguidos de

lagoas de polimento; 03 (três) UASB seguidos

de ltro anaeróbio; e 08 (oito), UASB seguidos

de lodo ativado. Existem, também, reatores

UASB implantados na maioria das Estações de

Tratamento de Esgoto Compactas (ETEC), que

totalizam 17 (dezessete) SES. Depois da opção

pelo reator UASB, a opção por lagoas, sejam

facultativas, aeradas, anaeróbias, de

maturação ou de polimento é a mais frequente,

sendo 16 (dezesseis) SES atendidos por lagoas.

O arranjo tecnológico UASB seguidos de lagoas

de polimento também é o mais utilizado nos

SES dos municípios operados pelas PM e

SAAE. Apenas a Embasa opera tecnologias de

tratamento mais complexas para esses

municípios, são 08 (oito) SES com tecnologia de

tratamento composta por lodo ativado ou valo

de oxidação. Ainda há as lagoas aeradas

presentes em 05 (cinco) SES, Cachoeira/São

Félix, Itaparica sede, Santa Cruz Cabrália,

Santo Amaro e Euclides da Cunha e as ETEC,

que, geralmente, apresentam processos com

aeração forçada, que podem ser considerados

sistemas de tratamento mais complexos.

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

ARTIGO Politécnica24Considerações sobre as tecnologias aplicadas aossistemas de esgotamento sanitário dos municípiosbaianos de pequeno porte

de Maragogipe, o percentual de atendimento da

população urbana não ultrapassa 60%.

No mesmo grupo de sistemas complexos,

encontram-se os SES dos municípios de

Cachoeira/São Félix no recôncavo baiano, que

possui 07 (sete) EEE no município de

Cachoeira e 05 (cinco) EEE em São Félix, além

de possuir lagoas aeradas na concepção do

tratamento dos esgotos, apesar de alcançar um

percentual elevado de atendimento da

população. O SES de Santa Cruz Cabrália

possui 12 (doze) EEE e também apresenta

lagoas aeradas na concepção de tratamento,

mas diferente do SES de Cachoeira/São Félix,

o percentual de atendimento da população

urbana é baixo. O SES de Vera Cruz, ampliado

no ano de 2016, conta com 18 (dezoito) EEE e

processo de lodo ativado no tratamento. Apesar

de estar com percentual baixo de atendimento,

20%, esse número deve aumentar, visto que

novas ligações ainda podem ser executadas.

Tem-se ainda o SES de São Francisco do Conde

que, também, possui lodo ativado como

concepção de tratamento, e um número

elevado de EEE, 10 (dez), não atendendo

grande parcela da população urbana.

A maioria dos sistemas locais não possui

percentual elevado atendimento da população

urbana com sistema de esgotamento operado

pela Embasa. O SES de Várzea do Meio no

município de Várzea da Roça é o sistema local

que atende maior parcela da população urbana

e não possui nenhuma EEE. Dos 51 (cinquenta

e um) sistemas locais que atendem bairros,

conjuntos habitacionais e condomínios, 20

(vinte) possuem nº EEE/1.000 economias

maior que 2,0, sendo que 04 (quatro) possuem

esse indicador acima de 10,0.

Quando comparados com os SES com ETE

centralizada, os sistemas locais são igualmente

complexos, pois apenas 23 (vinte e três) não

possuem EEE e apesar desses sistemas

possuírem apenas 01 (uma) ou 02 (duas) EEE,

eles atendem uma parcela da população muito

pequena que não pagaria os custos de

operação e manutenção dos mesmos. Além

disso, 15 (quinze) desses sistemas, que

Assim, apesar de apenas 7,2% do número total

de SES operados pela Embasa possuírem

tecnologias mais complexas de tratamento,

como l odo a t i vado , 93 ,3% dos SES

centralizados (que correspondem à 54,0% do

total) possuem EEE e metade desses em

quantidade elevada, ou seja, em uma relação

entre número de EEE para cada 1.000

economias maior que 2,0. Já para os SES

descentralizados, apesar de 45,0% não

possuírem EEE, 71,4% dos que possuem tem

essa relação maior que 2,0, além do que, o

atendimento desses sistemas é menor. Logo,

percebe-se a complexidade operacional

excessiva da maioria desses sistemas,

demonstrando que talvez tenham sido

implantados sem um estudo mais aprofundado

que vericasse se essas tecnologias seriam as

mais adequadas, principalmente por se tratar

d e m u n i c í p i o s d e p e q u e n o p o r t e e

provavelmente com baixa renda, como na

m a i o r i a d o s c a s o s , o q u e l e v a r á a

insustentabilidade econômica do sistema.

possuem EEE, são compostos por ETEC, que

geralmente possuem sistema de aeração

forçada e bombas de recirculação no

tratamento, o que os torna ainda mais

complexos.

Para os SES operados pelas prefeituras,

percebe-se que 31,7% dos SES centralizados

não possuem tratamento, apenas sistemas de

coleta e transporte, já para os SAAE/Empresa

Municipal, esse percentual é de 50,0%, sem

contar as ETE fora de operação, demonstrando

a grande fragilidade dos sistemas operados por

esses órgãos.

O Art. 5º da Lei Nacional de Saneamento

preconiza:

“não constitui serviço público a ação de saneamento executada por meio de soluções individuais, desde que o usuário não dependa de terceiros para operar os serviços, bem como, as ações e serviços de saneamento básico de responsabilidade privada, incluindo o manejo de resíduos de responsabilidade do gerador” (Brasil, 2007, p. 3).

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

ARTIGO Politécnica25Considerações sobre as tecnologias aplicadas aossistemas de esgotamento sanitário dos municípiosbaianos de pequeno porte

Independentemente da denição da natureza

da prestação do serviço, ou seja, público ou

privado, o GT recomenda que os municípios

realizem atividades de educação ambiental

junto à população, alertando para a

necessidade da correta implantação dos

sistemas individuais e limpeza periódica, como

a ç ã o d e s a n e a m e n t o , a g a r a n t i r a

universalização do acesso, além de proteção ao

Esse GT discutiu a responsabilidade do poder

público com relação à operacionalização das

soluções individuais de esgotamento sanitário,

vericando o papel do município, da

prestadora do serviço e da regulação.

Concluiu-se que nos municípios que não há

rede de coleta de esgoto sanitário, será

implantada solução individual de esgotamento

sanitário. O município deve estabelecer

condições de instalação e limpeza, além de

cadastro das residências com soluções

individuais e rotina de scalização, devendo

avaliar a forma da prestação do serviço de

extração do lodo, estabelecendo se de natureza

pública ou privada. Já o local para a destinação

nal do lodo foi considerado pelo GT como

componente do serviço público, sendo

necessário ser devidamente licenciado. Logo,

quando o tratamento e disposição nal se

derem em estação de tratamento de euente

operada pela iniciativa privada, esse serviço

deverá ser objeto de delegação, mediante

licitação e regulação (MP/RS, 2015).

Nos casos que se faça opção por serviço de

limpeza das fossas e transporte do lodo por

meio privado, realizado por empresas do ramo

limpa-fossas, foi sugerido que os municípios

mantenham atualizado o cadastro das

empresas, que devem possuir licenciamento

ambiental, que operem em seu território e

realizem, em conjunto com a Fepam, a

scalização da destinação dada às cargas de

lodo coletado. Se o município optar por realizar

diretamente ou por delegação, é cabível a

cobrança de remuneração pelo serviço

realizado, por meio de tarifa ou preço público, a

m de garantir a sustentabilidade da ação de

saneamento nos termos da política nacional

(MP/RS, 2015).

Porém, mesmo os tanques sépticos (TS),

considerados umas das tecnologias de menor

complexidade operacional para tratamento de

esgotos domésticos, e sendo, na maioria dos

casos, utilizados como solução individual de

esgotamento sanitário, precisam de mais

atenção do que diz o senso comum.

No Rio Grande do Sul, o Ministério Público

(MP/RS), a Companhia Riograndense de

Saneamento (Corsan), a Agência Estadual de

Regulação dos Serviços Públicos Delegados do

Rio Grande do Sul (AGERGS), a Funasa, a

Federação das Associações de Municípios do

Rio Grande do Sul (FAMURS), a Secretaria do

Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do

Rio Grande do Sul (FEPAM/SEMA) e a

Secretaria Estadual de Obras, Saneamento e

Habitação (SOP) formaram um Grupo de

Trabalho (GT) no ano de 2015 sobre Soluções

Individuais de Esgotamento Sanitário. O GT

buscando avançar, no âmbito do Programa

Ressanear e na promoção da proteção do meio

ambiente e da saúde pública naquele estado,

atendendo à Política Nacional de Saneamento,

propôs diretrizes para orientar os municípios,

órgãos de saneamento e de regulação, para

sistematizar o funcionamento efetivo das

soluções individuais enquanto alternativa de

tratamento de esgoto sanitário (SOP, 2016).

Essa norma técnica também discorre sobre a

disposição de lodo e escuma, informando que

sob nenhuma hipótese podem ser lançados em

corpos de água ou galerias de águas pluviais e

para atendimento a comunidades isoladas,

informa que deve ser prevista a implantação de

leitos de secagem, projetados de acordo com

norma especíca.

A NBR 7229/1993 descreve os procedimentos

para limpeza dos TS, dentre os quais, destaca-

se que o intervalo de remoção do lodo e da

escuma devem ser equivalentes ao período de

limpeza do projeto, que varia entre 1 e 5 anos e

que a remoção periódica desses resíduos deve

ser feita por prossionais especializados, que

disponham de equipamentos adequados, para

garantir que não haja contato direto entre as

pessoas e o lodo.

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ARTIGO Politécnica26Considerações sobre as tecnologias aplicadas aossistemas de esgotamento sanitário dos municípiosbaianos de pequeno porte

Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

Identicaram-se três principais discursos nas

respostas abertas: público vinculado à ideia de

maior eciência no tratamento ou melhoria da

qualidade do meio ambiente, sendo que alguns

A maioria dos docentes e dos prossionais que

trabalham em órgão planejador, regulador e

scalizador dos serviços de esgotamento

acredita que os TS podem ser consideradas

como serviços público. Já a maioria dos

prossionais que trabalham nas empresas que

elaboram os projetos, nanciamos sistemas,

executam as obras e prestam o serviço de

esgotamento sanitário, não consideram essa

solução como serviço público. Apesar desse

cenário, a diferença entre os que consideram

público e os que não consideram não foi muito

discrepante em nenhuma das atividades

prossionais, demonstrando que essa é uma

questão que gera bastante dúvida.

meio ambiente e à saúde pública (MP/RS,

2015).

A discussão sobre o que pode ou não ser

considerado serviço de saneamento público,

segundo a Lei 11.445/2007, se dá em torno da

dependência de terceiros para operar os

serviços, sendo as soluções individuais, que se

enquadram nessa situação, consideradas

como serviço privado. Como há dúvidas se as

soluções individuais de esgotamento sanitário

mais utilizadas, que são os TS seguidos de

disposição no solo, podem ser consideradas

como serviço público, vericou-se a percepção

e o entendimento dos prossionais sobre o

assunto, sendo que dos 92 respondentes, 49

não consideraram como serviço público e 43

consideraram. Em relação ao perl dos

respondentes, a Figura 2 apresenta as

respostas sobre a questão.

Quase metade dos respondentes que não

consideram as soluções individuais como

serviço público mostra um discurso que só é

público ser for coletivo, outros 06 (seis)

acreditam que não pode ser considerado

público, pois a solução não é eciente, podendo

contaminar o meio ambiente. Essas respostam

demonstram a falta de conhecimento do que é

acreditam que o TS é uma solução que pode

melhorar e garantir a qualidade do meio

ambiente e outros acreditam que é ineciente;

públ ico como colet ivo; públ ico como

responsabilidade pela operação do prestador

do serviço, sendo que alguns consideram que a

solução individual pode ser operada pelo

prestador e outras acreditam que é de

responsabilidade do cidadão, pois seria

inviável para o prestador operar os TS por

diversas razões.

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

ARTIGO Politécnica27Considerações sobre as tecnologias aplicadas aossistemas de esgotamento sanitário dos municípiosbaianos de pequeno porte

Observa-se que não há consenso em nenhuma

dos grupos de prossionais sobre essa questão,

mesmo entre os prossionais das prestadoras

do serviço, demonstrando que é possível que as

so luções ind i v idua i s e o s s i s t emas

descentralizados sejam operados pelas

companhias que detém da experiência para tal,

contribuindo para melhor controle dessas

soluções, visto que, os usuários necessitam de

considerado serviço público pela Lei

11.445/2007 e sobre a legalidade dessas

s o l u ç õ e s . J á o u t r o s 1 9 ( d e z e n o v e )

respondentes que não consideram essas

soluções como serviço público, possuem o

discurso relacionado à prestação dos serviços,

sendo que muitos deles concordam que as

soluções individuais não dependem de

terceiros para operar, cabendo aos usuários a

responsabilidade pela operação, e alguns

consideram que é inviável a prestação por parte

da prestadora, independente da solução

necessitar de terceiros para sua operação.

Por outro lado, entre os que acreditam que as

soluções individuais podem ser consideradas

serviço público, 18 (dezoito) pensam que os TS

podem melhorar a qualidade do meio ambiente

quando bem operadas, entendendo que o poder

público pode garantir melhor essa situação.

Entretanto, isso pode signicar também que os

respondentes acreditam que o público tem o

dever de garantir a qualidade e eciência das

soluções, enquanto para o privado essa

exigência seria menor. Outros 17 respondentes

acreditam que o poder público é responsável

pela solução de esgotamento sanitário, mesmo

quando são individuais, e que o usuário

depende do prestador para sua operação.

Para questão sobre a possibilidade das

prestadoras dos serviços de esgotamento

sanitário operarem soluções individuais de

esgotamento sanitário, 47 respondentes

acreditam que não e 45 acreditam que sim,

demonstrando mais uma vez a necessidade de

se regulamentar essa questão envolvendo

todos os segmentos envolvidos, visto que não

existe um consenso sobre o assunto. A Figura 3

apresenta as respostas por perl dos

respondentes.

Entre todos os respondentes, 13 consideram a solução individual como serviço público, porém não consideram que as prestadoras possam/devam operar e 15 apesar de não considerarem como serviço público, acreditam quer as prestadoras devem operar. Essa situação deixa claro a necessidade urgente de discutir essa questão.

orientação e assistência para manter os TS.

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

E-mails de contato dos autores:

BRASIL. Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico. Diário Ocial

da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 8 jan. 2007.IBGE – Instituto Brasieliro de Geograa e Estatística. Censo Demográco, 2010. Disponível em:

http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?z=t&o=25&i=P&c=1394. Acesso em: 03 jul. 2015.

SOP, Secretaria de Obras, Saneamento e Habitação. Soluções Individuais de Esgotamento Sanitário. Grupo de Trabalho:

Soluções Individuais de Esgotamento Sanitário. Disponível em: <http://www.sop.rs.gov.br/conteudo/1472/solucoes-

individuais-de-esgotamento-sanitario>. Acesso em: 28 out. 2016. n. 73, p. 55–62, 2007.

[email protected]

Referências

BAHIA. Plano Estadual de Manejo de Águas Pluviais e Esgotamento Sanitário. TOMO VIII – Sinopse do Diagnóstico. Bloco

I. Governo do Estado da Bahia. Secretaria de Desenvolvimento Urbano. Março de 2011.

SNIS – Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos - 2014.

Disponível http://www.snis.gov.br/diagnostico-agua-e-esgotos/diagnostico-ae-2014. Acesso em: 21 ago. 2016.

[email protected]

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 7229: Projeto, construção e operação de sistemas de

tanques sépticos. Rio de Janeiro, 1993.

MP/RS, Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul. Urbanismo: Soluções individuais de esgotamento sanitário:

grupo apresenta conclusões. 2015. Disponível em: <https://www.mprs.mp.br/urbanistico/noticias/id38681.html>.

Acesso em: 28 out. 2016.

ARTIGO Politécnica24 Caracterização Simplicada da Resistência e Rigidez de Clone deEucalyptus Urophylla para uso em Projeto de Estruturas: Novo Modelo.

Conclusão

É necessária uma pesquisa mais aprofundada,

visando comparar os custos de implantação e

operação desses sistemas, vericando o seu

payback e sua rentabilidade. O importante é

vericar qual alternativa de esgotamento

sanitário será a mais ecaz, eciente e efetiva

em função das particularidades locais.

Observou-se que não há consenso entre os

respondentes do questionário sobre o que é

considerado serviço público, nem tão pouco se

os TS como soluções individuais se enquadram

como tal. Poucos relacionaram o serviço

público à necessidade de terceiros para

operação. Alguns relacionaram o serviço

público à coletividade e outros vincularam à

Apesar das TBCO estarem presentes nos

municípios com população urbana menor que

50 mil habitantes, principalmente, quando se

considera as tecnologias de tratamento,

quando se observa o panorama do SES como

um todo, as TBCO ainda estão muito aquém,

considerando o potencial e a necessidade de se

incorporá-las nesses municípios, ou seja,

apesar de existir, as TBCO são pouco adotadas.

Apesar da Lei Nacional de Saneamento não

especicar quais são as soluções individuais

que não constituem serviço público, e

observando as exigências da NBR 7229/1993,

entende-se que os TS não se enquadram em

solução que independem de terceiros em sua

manutenção e operação. Logo, mesmo que o

poder público não opere os TS, é necessário que

o Estado estabeleça uma política pública que

proporcione condições ao usuário de implantar

e operar esse tipo de solução individual. As

soluções individuais também devem ser

consideradas como alternativa de esgotamento

sanitários nos planos e projetos das cidades.

eciência da solução.

Acredita-se que ações como a do Estado do Rio

Grande do Sul, que teve a iniciativa de reunir

diversos segmentos da sociedade para discutir

a questão das responsabilidades pelos TS, são

necessárias para esclarecer e regulamentar

essa questão. Só assim as soluções individuais

serão implantadas da forma correta, realizando

o seu verdadeiro papel que é melhorar a

qualidade do meio ambiente.

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Politécnica29

Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

ENTREVISTA

Entrevista Recuperada:Professor Álvaro Leal Moreno fala

sobre a carreira e criação da COELBA

Entre alguns documentos encontrados nos arquivos do IPB está uma entrevista nunca publicada, realizada com o professor Álvaro Leal Moreno, professor do Departamento de

Engenharia Elétrica da Escola Politécnica da UFBA e professor emérito da UFBA, reproduzida a seguir..

Entrevistador: Caiuby Alves da Costa (C) Entrevistado: Álvaro Leal Moreno( M)

M – Nasci em Ilhéus, em junho de 1931, z

meus estudos iniciais em Ilhéus: o curso

primário com professora particular e ginásio no

Ginásio Municipal de Ilhéus. O curso colegial o

z no Colégio Central da Bahia

C – Quando você fez vestibular já pensava (*1)em cursar engenharia elétrica?

C – Moreno, gostaria de saber alguns dados

pessoais seus.

M – Ingressei na Escola Politécnica em 1954, já

com a intenção de cursar engenharia elétrica.

Para treinar

(*2)M – Ainda estudante estagiei na CEEB e já

prossional ingresse i na COMISSÃO

INCORPORADORA DA COELBA em 1958, a

COELBA estava sendo criada.

M – A Comissão Incorporadora teve como (*3)secretario executivo Nildo Peixoto . Existia

um só engenheiro eletricista, o Engº Thomaz

Luiz Gomes quando ingressei.

C – E o início de suas atividades prossionais?

C – Moreno, e a sua experiência na criação da

COELBA?

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Politécnica30 ENTREVISTA

Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

presidente, um diretor-administrativo e um

diretor-técnico.

M – Aí tem uma história meio complicada.

Esses primeiros diretores foram indicados

pe los func ionár ios da COELBA. Um

funcionário do BNDE para diretor-presidente,

Nildo Peixoto para diretor-técnico e um diretor-

administrativo. O diretor-presidente não

chegou a tomar posse, embora eleito, por

questões familiares alegadas, mas na realidade

os motivos foram salariais.

C – E como cou?

C – Quais foram os primeiros diretores?

M – Foi então eleito José de Freitas Jatobá, por

indicação do governador Juracy Magalhães e

continuou Nildo Peixoto.

C – Além da direção quem compunha a

equipe da Coelba?

M – Continuamos os mesmos: Thomaz, eu,

Ney, Luiz Caetano, Geraldo Tavares na área

jurídica, e dois funcionários: uma secretária e

um contínuo. Nós ocupávamos somente duas

salas no segundo andar do edifício Nelson

Farias, no Comercio. Esta equipe, assim,

permaneceu por algum tempo.

C – Quando houve alteração, sensível, no

quadro?

M – Em 1961. Sensível porque nós éramos dois

engenheiros e houve a admissão de mais um

engenheiro. Isso signicou um aumento de

50% no quadro de engenheiros.A admissão, de pessoal, subsequente foi de

eletrotécnicos, pois nossos problemas eram

mais operacionais de manutenção do que de

produção e projetos, donde a necessidade

maior era as do que pegassem nas ferramentas

do que homens de prancheta.A meta principal, nessa época, era a ampliação

da área de operação da empresa, a primeira

delas foi Jaguaquara, depois Jequié, Nazaré e

C – Como vocês conseguiam dar conta do

serviço?

M – Operávamos nas regiões de Mata de S.

João, Cruz das Almas e Santa Inês. Os recursos

materiais eram escassos, nada possuíamos a

não ser um jipe, nenhum outro equipamento.

Havia um pouco de materiais e as ferramentas

eram emprestadas, tomadas a empreiteiros

amigos, principalmente Deraldo Gomes da

Silva.

M - A fundação da COELBA em 29 de março de

1959.

C – Com a fundação da COELBA como cou a

situação?

M - Nós tínhamos um lema que era: no caso de

um defeito o designado para resolve-lo tinha

que resolve-lo, buscasse apoio na comunidade

e “ se virasse”. Essa fase durou de 1958 a 1960.

C – Qual a primeira estrutura da COELBA

após sua fundação?

C – E qual era a equipe existente à época?

M – A COELBA passou a ter um diretor-

C – Que regiões eram operadas e que

recursos eram disponíveis?

C – Após essa fase, qual o grande salto?

M - Além de Nildo, Thomaz e eu, compunham a

equipe técnica: Geraldo Tavares, serviços

jurídicos, Ney Fiúza e Luiz Caetano.

M – A situação nanceira melhorou bastante,

porque com a fundação da COELBA foi

aprovada uma Lei estadual que vinculava 5%

da arrecadação tributaria do Estado para a

COELBA, independente da Secretaria da (*4) Fazenda. Um coletor ao arrecadar Cr$ 100,00

de impostos era obrigado a depositar Cr$ 5,00

diretamente na conta da COELBA, senão era

autuado.

Professor Álvaro Leal Moreno fala sobre a carreira e criação da COELBA

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Politécnica31 ENTREVISTA Professor Álvaro Leal Moreno fala sobre a carreira e criação da COELBA

Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

Diretor-presidente – Frederico Zucher

M – Sim. Em 1962 passamos a ocupar um

prédio na Rua do Pilar. Aí, já tínhamos três

andares. Em 1963 houve modicação na

diretoria da COELBA, esta passou a ter a

seguinte constituição:

Diretor Financeiro - Vespasiano

Participávamos das reuniões da Associação

Baiana dos Municípios e em todos os encontros

regionais tínhamos, sempre, um plano de

eletricação rural para a área.

O quadro funcional foi aumentando com

engenheiros formados na Escola Politécnica.

Esses encontros eram eminentemente

políticos, e eu não tinha esse tipo de

experiência, as vezes “tremia”, mas ia assim

mesmo. Essa atuação nos proporcionou apoio

da Câmara Estadual e dos prefeitos do interior.

A COELBA era bem considerada na Câmara

Estadual, tanto pela oposição quanto pela

bancada do governo. Normalmente, os

assuntos relacionados com a COELBA eram

aprovados por unanimidade.

Serrinha.

C – Nessa época a sede continuava a mesma?

Vice- presidente - Nildo PeixotoDiretor-técnico - Álvaro Moreno

Diretor-Comercial - Odulfo

Em 1964, novo aumento do quadro funcional

com engenheiros demitidos da Petrobrás:

Jorge Gonçalves, Afrânio de Carvalho Freire e

Joselí Viana.

M – Em 1965. Nessa época, já tínhamos um (*5) serviço de Volksvagens “pé de boi” , para

transportes leves.A partir do Roosevelt a

COELBA amplia sua área de atuação. A

partir do Roosevelt a COELBA amplia sua

área de atuação.

C - Quando a COELBA mudou-se para o

edifício Roosevelt?

C – Quando a COELBA assumiu os serviços

de Jequié?

M – Em 1962. O prefeito da cidade era Lomanto

Junior e esta nova área de atuação da COELBA

foi resultado de um dos encontros da

Associação Baiana dos Municípios. Nesse

encontro, após a nossa explanação o prefeito se

queixou que não havia recebido os benefícios

da COELBA. Conversamos e lhe pedi para

visitar o Sistema elétrico de Jequié, o que ele

aceitou. O Sistema era composto de 8(oito)

motor-gerador diesel, alguns em 50Hz e outros

em 60Hz. Perguntei-lhe se queria entregar o

serviço a COELBA. Sua resposta: “está

entregue”!. Ao que repliquei: está recebido!

Na volta à Salvador comuniquei o fato a Nildo.

Após expandimos nossas atividades para

Itapetinga, Encruzilhada e outros municípios,

entre os quais Senhor do Bonm e Juazeiro.

C – Como essa expansão se processou?

M – Trabalhávamos, não ocialmente, mas (*6) prossionalmente com os colegas do DERBA

Vieira, professor da Escola, conheceu nessa

época. Onde havia planejamento rodoviário

estabelecíamos plano de eletricação. Era

nossa tese que energia e transporte eram

fundamentais para a população, pois

proporcionavam condições de desenvolvimento

das atividades locais, pelas facilidades que a

energia aportava e pelo escoamento da

produção, proporcionado pelas estradas: dê

isso ao povo, o resto ele faz. Era o nosso

pensamento à época. Para ilustrar esse tipo de

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Politécnica32 ENTREVISTA Professor Álvaro Leal Moreno fala sobre a carreira e criação da COELBA

C – Desculpe interrompê-lo, mas eu discordo.

Nessa época, “seguindo a tradição”, você

empregou mais um demitido da Petrobrás,

que fui eu (1968). Lembre-se que você me

instalou numa sala ao lado da sua (sala da

vice-presidência) e me deu o Código de Águas

para ler. Você, posteriormente, foi diretor de

operações.

C – Que outros fatos foram determinantes na

evolução da COELBA?

C – E quem fornecia Energia à COELBA?

(*7)M – A criação da Eletrobrás em 1961 , quando (*8)o ministro da área era Oliveira Brito , passamos

a contar com mais recursos, quer sob a forma de

nanciamentos, quer como participação

societária. Outro fato foi a absorção pela

COELBA da CERC (Centrais Elétricas do Rio de

Contas). Numa fase intermediária o engenheiro

Eunapio Peltier de Queiroz assumiu a

presidência das duas empresas e Nildo Peixoto

assumiu a Secretaria de Minas e Energia do

Estado. Ele foi o primeiro Secretario de Minas e

Energia. Isso ocorreu em 1964. Logo em seguida

houve a fusão das duas empresas. Com a

ascensão de Nildo a Secretário, Eunápio passou

a presidência e eu a vice-presidência.

Posteriormente, no governo Luis Viana (1967-

1971), assumiu a presidência o Dr. Adhemar

Torres Brandão, que foi professor da Escola.

Nessa época eu passei a diretor de operações.

ação, lembro que no dia em que foi inaugurada

a estrada asfaltada de Senhor do Bonm, foi

também inaugurada a eletricação da cidade.

M - O nosso supridor era basicamente a CHESF. O diálogo, inicialmente, era difícil, embora as pessoas fossem níssimas. A posição da CHESF, tecnicamente, era muito radical mas, no fundo, foi estabelecida uma boa convivência.

M – Outro fato importante foi a ascensão de (*9)Alberto Guimarães à presidência da COELBA,

ele preparou a fase de transição que, em seguida (*10)resultou na fusão da COELBA com a CEEB , sob

a presidência de Wilson Rocha.

C – Como era estruturado o curso de

engenharia elétrica à época?

M - Eu me formei em 11 de dezembro de 1958.

Em 1959, extra ocialmente cava, pela

manhã, duas vezes na semana na Escola.

Reunia os alunos e mostrava o que era

engenharia elétrica, a necessidade da Bahia e

do Brasil terem engenheiros eletricistas e,

parale lamente, o ferec ia-me para dar

explicações sobre o assunto de quaisquer

disciplinas do curso de engenharia.

C – Moreno, e quanto a Escola Politécnica?

M – Engenharia elétrica tinha três (3)

disciplinas e a opção era feita no quarto ano. A

disciplina do 4º ano era ELETROTÉCNICA

GERAL, ensinada pelo professor José Lourenço

de Almeida Costa. No quinto ano havia

MEDIDAS ELÉTRICAS E MAGNETICAS,

ensinada por João Duarte e APLICAÇÕES

INDUSTRIAIS DA ELETRICIDADE, ministrada

por Adhemar Torres Brandão. Até essa data

eram os engenheiros civis que se matriculavam

no quinto ano e cursavam Eletrotécnica Geral,

fazendo posteriormente as outras duas.

C – Quando ocialmente você começou a

ensinar na ESCOLA?

M – Iniciei minhas atividades docentes em 1960

como assistente de ensino de Medidas Elétricas e

Magnéticas. Nossa primeira luta foi a de conseguir

alunos para o curso de engenharia elétrica. Após

cada vestibular eu fazia palestra para os

calouros, mostrando o futuro da eletricidade no

Brasil.Não existia o departamento de Engenharia

Elétrica , éramos então subordinados ao

Departamento de Física, cujo chefe era o professor

Walter Porto, de quem sempre tivemos apoio.

Nossa primeira reinvidicação foi a do

desdobramento da disciplina Medidas Elétricas,

criando a disciplina TRANSMISSSÃO E

DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. Essa

decisão veio de uma frustração muito grande com

a disciplina Aplicações Industriais da Eletricidade.

Um dia o professor Adhemar avisou que iria

Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

Politécnica33 ENTREVISTA Professor Álvaro Leal Moreno fala sobre a carreira e criação da COELBA

M – Começamos pelo desejável. O Departamento deve se preocupar dar ao engenheiro uma formação básica, sobretudo na área de circuitos elétricos (uma concepção bem geral e não o programa atual) e Matemática aplicada à engenharia. A necessidade que vejo desta formação é que, no Brasil, começa-se a dar preferência aos engenheiros que possuam mestrado ou doutorado. Para se fazer um mestrado ou doutorado, aquele que não conhece bem circuitos e matemática não conseguirá obter bom desempenho. No meu entendimento, no curso de graduação, devemos dar ênfase a parte teórica, limitando as práticas a xação dos conceitos teóricos. Hoje, por exemplo, acho que nosso curso tem muito de formação prossional especica. A disciplina Radio-Difusão é especica demais, ela tem assuntos importantes, mas não para o curso de Graduação. Ela poderia ser um item de outra disciplina, como Eletromagnetismo.

formavam vinham a ensinar inicialmente de graça. Alguns desses professores contratados, posteriormente, pelo departamento tornaram-se, ocialmente professores. Cursos de Mestrado e Doutorado, nem pensar! No Brasil não existiam cursos e era necessária a obtenção de bolsas no exterior, cujas ofertas se concentravam no eixo Rio – S. Paulo. Foram os alunos que construíram o departamento.

M – Prever o futuro é difícil, se eu soubesse jogaria na loteria. Mas, o que posso dizer é que durante muitos anos, eu não sei quantos, iremos necessitar de fontes geradoras, linhas de transmissão, subestações e redes de distribuição. Esses serviços não podem ser desenvolvidos sem o prossional de engenharia elétrica. Na área industrial, parece-me que a ênfase vai ser dada a área de controle e automação. Em menor grau, a área de pesquisa tecnológica. Nossas industrias ainda não fazem pesquisas, no entanto com privatizações, a aquisição de empresas nacionais por empresas estrangeiras, é bem possível que esta venha ser uma área de importância.

C – Como você vê a atual formação do

engenheiro e que formação seria desejável para

os anos futuros?

C – Em sua opinião, qual o futuro da prossão

engenheiro eletricista?

iniciar o estudo de Transmissão e Distribuição.

Nessa época eu era estagiário da CEEB e algum

fato me reteve na CEEB e eu não pude assistir o

inicio de Transmissão e Distribuição. Na aula

seguinte, o professor Adhemar começou a aula

falando sobre Iluminação e eu, então, perguntei ao

professor: o senhor nos disse que iria falar sobre

T & D e ele me respondeu... já dei na semana

passada. Isso me motivou a propor uma disciplina

de T & D. Contamos com o apoio de Walter Porto e

a disciplina foi criada em 1960 e eu fui seu

primeiro professor. Em 1961 z um curso de

especialização no ITA, na área de Circuitos de

Eletrônica Aplicada, concluindo o mesmo em

junho de 1962. Durante esse período Alberto

Guimarães assumiu a disciplina Transmissão e

Distribuição de Energia Elétrica. No meu retorno

ensinei ELETRÔNICA, disciplina que vinha a ser

c r i a d a e E L E T R O T É C N I C A G E R A L .

Posteriormente, viu-se a necessidade d disciplinas

CIRCUITOS ELETRICOS E MAGNETICOS e

conseguimos a criação desta disciplina. Fui,

então , pro fessor da mesma. Com o

desenvolvimento industrial da Bahia, sentimos a

necessidade da cadeira Maquinas Elétricas, que

foi, posteriormente, implantada.

C - Dentre os seus primeiros alunos, dos quais

você se recorda?

M – Após 37, anos não é fácil lembrar-me de todos

os alunos, lembro-me de Jayme Sarmento, Edson

Peixoto, Nelito, Armando, Gustavo Rocha, Lourival

Santana, Haroldo Lima, Paulo Mendes e outros.

M – Foi a mudança da estrutura universitária que criou os Institutos Básicos. Precisávamos de novas disciplinas, precisávamos criar laboratórios, precisávamos de professores. Tínhamos 4 a 5 alunos por ano, enquanto Física tinha cerca de 300 por ano, os quais precisavam, também, de recursos humanos e materiais. Como justicar com 4 ou 5 alunos recursos humanos e materiais? Posteriormente, zemos convenio com a COELBA em 1970, na época Cr$ 100.000,00. Com esses recursos compramos alguns equipamentos. Professores nós conseguíamos com alunos que se destacavam e quando se

C - Que fato marcou a estrutura universitária

após os primeiros anos de docência?

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Politécnica34 NOTA TÉCNICA

Incêndios em edicações causadospor eletricidade x manutenção preventiva

Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

Cristina de Abreu Silveira

Uma causa frequente de riscos associados a instalações elétricas está no envelhecimento

destas, associado principalmente ao ressecamento da isolação e à oxidação das partes

metálicas, além do desgaste e da deterioração de outros componentes.

Incêndios decorrentes de problemas elétricos em edicações tem se tornado uma preocupação

crescente nas grandes cidades, principalmente em função dos inúmeros fatores de risco que

eles agregam. Esses riscos poderiam ser potencialmente reduzidos através de ações pontuais

de manutenção que requerem a mobilização de todos os segmentos da sociedade, do poder público

e dos moradores e usuários dessas instalações.

Alertar a sociedade para a importância da manutenção preventiva e enumerar algumas

intervenções simples que podem minimizar esses riscos e evitar perdas patrimoniais e humanas

signicativas é a proposta dessa matéria: é absolutamente necessário que os usuários realizem

inspeções periódicas que assegurem a vida útil e o melhor desempenho dessas instalações.

Curtas do IPB

Introdução

Fatores de Risco

Figura 1: Quadros de distribuição antigos e componentes oxidados

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

Politécnica35 NOTA TÉCNICA Incêndios em edicações causadospor eletricidade x manutenção preventiva

Alie-se a esses a idade do imóvel e a natureza de

sua atividade m; não raro as edicações,

independentemente de serem residenciais ou

n ã o , s o f r e m m o d i c a ç õ e s e m s u a s

características iniciais, sem que se considere

relevante avaliar a adequação da instalação

elétrica existente a essas mudanças.

Não raro residências unifamiliares se

transformam em estabelecimentos comerciais

- clínicas, escritórios, lojas, escolas, etc. que

necessitam de mudanças signicativas na

instalação elétrica e por esse motivo irão

requerer o cumprimento de normas técnicas, a

Incêndios causados por eletricidade têm geralmente sua origem no sobreaquecimento da ação

existente, seja por irregularidades no projeto da instalação (ou mesmo na inexistência dele), seja por

uso inadequado destas.

Esses problemas tornam-se ainda mais signicativos nas grandes cidades onde proliferam

construções informais com instalações elétricas clandestinas – os chamados “gatos” – e construções

verticalizadas densamente povoadas, nas quais se costuma negligenciar recomendações básicas de

segurança.

Avaliando a Instalação Elétrica

observância de procedimentos legais, como a

contratação de um prossional habilitado, a

emissão de uma ART e a emissão de um alvará

junto aos órgãos municipais, geralmente

negligenciados. Isso também se aplica à

transformação de garagens em pequenas lojas

de serviços e ocinas, feitas sem observância

dos normativos técnicos e dos requisitos legais.

Cada um desses elementos, aliado à falta da

manutenção preventiva - principalmente nas

instalações elétricas e hidráulicas das

edicações - podem resultar em curtos-circuitos

e evoluir para incêndios e desabamentos.

Figura 2: Edicações nas grandes cidades

A queima “rápida” de uma lâmpada pode ser

causada por defeito dela, mas se após a troca

Geralmente as instalações elétricas estão

embutidas nas paredes, pisos e forros das

edicações, o que impede o usuário vistoriá-la

diretamente. Entretanto, existem alguns fatos que

podem ser considerados indicadores de

problemas, a saber:

a. Queima frequente de lâmpadas

b. Água pingando dos pontos de luzEssa tem ocorrência eventual em forros após

lavagens de tanques de edifícios e mais

frequente diante da incidência de fortes

chuvas em telhados, podendo ocorrer em

desta por outra(s), o problema persistir, é provável

que haja alguma falha na isolação do circuito: na

ação ou no soquete. Se a conexão no soquete

estiver em ordem, o problema está na ação;

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

Politécnica36 NOTA TÉCNICA Incêndios em edicações causadospor eletricidade x manutenção preventiva

toda e qualquer situação na qual haja a

penetração de água em eletrodutos ou em

seus pontos de ligação de cargas. Nesse caso

a intervenção não irá se restringir ao circuito

elétrico da edicação, mas também aos

elementos responsáveis pelo problema e

envolve obras de infraestrutura e/ou de

vedação na mesma.

Muito comum, principalmente no uso de

extensões domésticas. Se o condutor aquece

excessivamente, sua isolação é precária e

isso pode levar ao choque elétrico, com risco

de danos patrimoniais e risco de morte. O

ideal é evitar, ou minimizar o emprego

dessas extensões.

d. Aquecimento excessivo nos cabos de

conexão de aparelhos

A queima da isolação de circuitos por

sobreaquecimento, quando muito elevada,

exala um odor de borracha queimada, que

prenuncia uma falha mais severa, como um

curto-circuito. Em situações dessa natureza

e. Cheiro de borracha queimada (vulgo

“cheirinho de ampère”)

Figura 4: Tomadas com benjamins e inltrações de

parede

c. Bornes de tomadas ligeiramente

deformadas ou derretidos Ocorre basicamente por dois motivos: má qualidade

da tomada e/ou a ligação de aparelhos com

potência excessiva para o ponto. Um exemplo

clássico é o uso de ferro elétrico (1000W) em uma

tomada baixa (TUG) (100VA) instalada em um

circuito que já esteja bastante carregado.

Figura 3: Lâmpadas pingando água e borne de tomada queimado

Pratica usual sempre condenada é a utilização das tomadas tipo “benjamin” com uma grande quantidade de equipamentos ligados, que podem danicá-los e comprometer toda a instalação. Rever o projeto e adequar às necessidades do consumidor é a solução ideal.

g. Umidade ou cheiro de mofo em paredes

o ideal é retirar da tomada o provável agente

do problema e chamar um eletricista.

f. Excesso de aparelhos por tomada, usando conectores “T”

O cheiro de mofo e as manchas de umidade excessiva - principalmente nas paredes - traduz a presença de água represada nestas e pode, em médio prazo, vir a causar a pane de circuitos elétricos.

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

Politécnica37 NOTA TÉCNICA Incêndios em edicações causadospor eletricidade x manutenção preventiva

Atualmente os eletrodutos e caixas terminais

embutidas nas edicações não são feitas de

material condutor. São feitos de material

isolante, como o plástico (também conhecidos

como conduítes ou eletrodutos exíveis) e o

PVC. Nesse caso, não há como efetuar um

aterramento direto, como no caso do exemplo

anterior.

O dispositivo DR (Diferencial Residual) protege

as pessoas e os animais contra os efeitos do

choque elétrico por contato direto ou indireto

(causado por fuga de corrente): ao detectar

Para assegurar o aterramento efetivo das

instalações é necessário utilizar condutores de

terra por toda a instalação e interligá-los a

dispositivos DR no quadro de saída dos

circuitos, interligados aos medidores, de

acordo com o padrão de estrada instalado pela

concessionária no ponto de entrega.

h. Desligamento repentino de disjuntores

no quadroQuando isso ocorre, supondo que o dispositivo

não está com defeito, signica que está

havendo uma sobrecarga no circuito que foi

desligado: existem cargas ligadas a este ramal

que ultrapassam a capacidade de proteção do

disjuntor. Nesse caso o ideal é rever a

distribuição dessas cargas por circuito e

efetuar os ajustes necessários, de acordo com

as normas. É comum o usuário constatar o

desligamento e simplesmente religar o

disjuntor, restabelecendo o sistema: nesse

caso é comum que ele ignore que existe um

problema na instalação até o evento se repetir

ou o disjuntor deixar de operar. A mera

substituição do disjuntor pode não ser a

solução do problema.

Maus hábitos de consumo são grandes vilões e

agentes de acidentes e danos às instalações

elétricas, difíceis de serem modicados.

Entretanto, algumas dicas podem ser úteis

para que estes sejam minimizados e as

instalações se tornem mais seguras. Por

exemplo:

i. Hábitos de Consumo

Prevenção como agente redutor de riscos

Figura 1: Quadros de distribuição antigos e componentes oxidados

Ÿ Ainda em relação a cozinhas, não usar

tomadas que estejam molhadas: é comum

existirem tomadas instaladas próximas a

pia.

Ÿ Não utilizar extensões, adaptadores e

tomadas superpostas na alimentação de

circuitos que permaneçam ligados por

muito tempo ou que supram muitas cargas

simultaneamente. Vale ressaltar que o uso

da extensão como prolongamento de um

circuito não é um problema, desde que seja

considerada a adequação da seção do

condutor à sua aplicação e os critérios de

carregamento do circuito.

Ÿ Não ligar vários equipamentos em uma

mesma tomada, seja através de um

benjamin, seja através de uma extensão ou

de uma régua.

Ÿ Nunca utilizar aparelhos elétricos com as

mãos molhadas: esse é um hábito comum

nas cozinhas e que pode resultar em choque

elétrico e levar a vítima a óbito.

Ÿ Sempre que houver inltração ou água

minando de circuitos elétricos, evite usá-

los e procure logo um eletricista para

avaliar o problema.

Um aspecto fundamental a ser

cons ide rado para uma ma io r

segurança nas instalações elétricas

das edicações é avaliar o estado geral da

ação e a adequação desta ao perl das cargas

e aos hábitos de consumo de seus usuários. A

instalação pode parecer perfeita vista de fora,

mas pode haver problemas nas ações

embutidas, principalmente decorrentes de

rupturas na isolação dos condutores ou da

instalação de um número excessivo deles nos

eletrodutos, em desacordo com a norma.

É preciso também car atento à idade da

edicação, pois se ela for muito antiga, seus

eletrodutos, caixas terminais e pontos de luz

são feitos de ferro e, nesse caso, o antigo

“hábito” de aterrar o chuveiro e as cargas de

cozinha nos parafusos ou diretamente nas

caixas até funciona.

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Revista do Instituto Politécnico da Bahia - Fundado em 1896

Politécnica38 NOTA TÉCNICA Incêndios em edicações causadospor eletricidade x manutenção preventiva

b. Circuitos de alimentação de tomadas que

a. Circuitos de alimentação de cargas de

chuveiro ou banheira;

uma fuga de corrente na instalação, o DR

desliga imediatamente o circuito no qual está

inserido. De acordo com a NBR 5410, a

instalação do DR é obrigatória desde 1997

nos seguintes casos:

Figura 6: Exemplos de circuitos com Dispositivos DR (detectores de corrente de fuga) instalados

d. Circuitos de alimentação de cargas de

cozinhas, copas, lavanderias, áreas de serviço,

garagens e demais dependências normalmente

molhadas ou laváveis.

são externas à edicação;

c. Circuitos de alimentação de tomadas inter-

nas que venham a ser utilizadas para suprir

cargas na área externa à edicação;

Figura 5: Norma técnica NBR-5410 e Dispositivos DR (Diferencial Residual)

Na gura 6 são mostrados dois exemplos de circuitos com utilização do dispositivo diferencial

residual DR.

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Politécnica39 NOTA TÉCNICA Incêndios em edicações causadospor eletricidade x manutenção preventiva

Para treinar A prevenção e a eciência energética

Muitos acidentes poderiam ser evitados,

principalmente no âmbito da energia elétrica se

a sociedade tivesse a cultura da prevenção

arraigada em seus hábitos. Como não há, seria

interessante que o poder público estabelecesse

a obr igator iedade de a lgumas ações

preventivas mediante contrapartidas e

assumisse, dessa forma, sua parcela de

responsabilidade em ocorrências, buscando

minimizá-las.

Com relação à participação do CREA-BA nesse

processo, uma excelente proposta seria

através de ações da Engenharia Pública

solidicada, apta a atuar nas comunidades

carentes e de baixa renda, favelas e invasões,

independentemente do porte do município e de

seus recursos. As parcerias com empresas,

entidades e instituições também é muito bem

vinda e poderia ser estimulada através de um

programa de incentivos ou de uma política de

contrapartidas e benefícios.

O risco de incêndios decorrentes da precarie-

dade das instalações elétricas ou de seu mau

uso tem um custo extremamente elevado,

principalmente se comparado ao custo de

implantação de um Programa de Manutenção

Preventiva.

Em muitos casos essas intervenções são

caracterizadas como Retrot e promovem a

melhoria do desempenho energético da instala-

ção, reduzem as perdas e os desperdícios de

energia, além de serem rapidamente perceptí-

veis em edicações coletivas condominiais. Os

retrots adequam as instalações ao perl das

novas cargas, promovem a eciência energética

e podem resultar em uma redução no consumo

de energia de até 30% em relação ao consumo

anterior.

Sob a perspectiva da Eciência Energética,

ações de retrot em edicações multifamiliares

e condominiais consideram geralmente:

Ÿ Avaliação da envoltória da edicação,

inclusive visando a utilização de iluminação

e ventilação natural;Ÿ Substituição de sistemas de iluminação,

cargas elétricas e aparelhos de condiciona-

mento de ar antigos por equipamentos

ecientes, mais econômicos, etiquetados de

acordo com o Programa Brasileiro de

Etiquetagem (PBE), regulamentado pelo

INMETRO;Ÿ Implantação de sistemas de aproveitamento

da água de chuva e de reaproveitamento da

água utilizadas nas unidades autônomas

para outros ns (jardins, por exemplo);Ÿ Instalação de sistemas energéticos solar

térmico ou fotovoltaico para redução do

consumo de energia elétrica, entre outras.

Ÿ Redistribuição dos circuitos e das cargas

existentes, buscando obter um consumo

mais balanceado para a instalação;

Ÿ Substituição da ação antiga por novos

condutores;

Figura 7: Eciência Energética - Instalações aparentes e Novas Tecnologias: eletrotas

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Politécnica40 NOTA TÉCNICA Incêndios em edicações causadospor eletricidade x manutenção preventiva

Ÿ Ações mais proativas das engenharias, princi-

palmente no âmbito da Engenharia Pública;

Ÿ Ações das Entidades e Instituições: divulgação,

parcerias, capacitação e principalmente,

participação ativa nos programas em prol do

Todo;

A Engenharia precisa se tornar mais atuante na

vida e no dia a dia da sociedade, recuperar seu

espaço e obter seu reconhecimento por questões

mais assertivas, e não apenas – negativamente -

quando da ocorrência de alguma catástrofe: a

queda de um edifício, de uma barragem, de um

viaduto, de um avião ou de uma encosta; uma

inundação, um incêndio, um apagão.

Ÿ Ações das Concessionárias e empresas

prestadoras de serviços: na orientação de seus

usuários, no estímulo à prevenção;

O que esperar, portanto, para um futuro próximo?

Ÿ Ações do Usuário: uso correto e mais eciente

dos recursos energéticos à sua disposição.

Responsabilidade e participação no bem-estar

público.

Ÿ Ações de Estado visando fomentar o desenvol-

vimento sustentável: saneamento básico, água

potável, energia elétrica, compromisso; ou

ainda, estabelecendo bases legais para a

Manutenção Preventiva, ou penal, no caso de

acidentes com vítimas;

Introdução

A eciência energética – multidisciplinar e fortemente comprometida com a sustentabilidade – não se

restringe a intervenções no âmbito da eletricidade, mas recomenda ainda ações visando o uso

racional da água, a criação de espaços verdes, o uso de automação nas edicações, como estabelecido

nos Regulamentos do PBE e nos diversos segmentos do PROCEL: saneamento, indústria, educação,

setores públicos, edicações, indústria, disponibilizados a todos os interessados e ao público em

geral em sua página na web .http://www.procelinfo.com.br

Também é preciso car atento aos sinais:

mudanças climáticas que elevam temperaturas

e reduzem níveis de umidade. Áreas verdes

substituídas por concreto e asfalto nas grandes

cidades. Poluição, mobilidade urbana compro-

metida e falta de compromisso do poder público

com a qualidade de vida dos cidadãos.

A Etiquetagem das Edicações no Brasil já está

regulamentada para prédios públicos – novos

ou retrots – e daqui a alguns anos deverá ser

obrigatório para os segmentos comercial,

serviços e residencial, a exemplo do que já

ocorre em outros países.

Do ponto de vista humano, os custos e benefíci-

os da boa prática da Manutenção Preventiva

não se comparam às perdas patrimoniais e de

vidas que costumam vir atreladas a estes casos,

nem aos custos ambientais e sociais que

impactam toda a sociedade. Anal, prevenir é

sempre a melhor alternativa para gerenciar os

riscos e o custo de evitar acidentes e prevenir

defeitos é muito menor que o custo da ocorrên-

cia deles e seus impactos.

Nenhuma das iniciativas propostas trará o

resultado esperado se não houver a conscienti-

zação de seus usuários, seja pela mudança nos

hábitos, seja pela criação de um programa de

orientação com relação aos cuidados e ao uso

correto de equipamentos e suas instalações.

Figura 8: Selos de Eciência Energética - Etiquetagem em

Edicações

Cristina de Abreu Silveira, Engenheira Eletricista com Mestrado em Automação e Doutorado em Processamento de Energia. Professora do Curso de Engenharia Industrial Elétrica no IFBA – Campus Salvador – Conselheira do IPB e Coordenadora Adjunta da Câmara Especializada em Engenharia Elétrica do CREA-BA – E-mail: [email protected]

Sobre a autora

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Politécnica41 NOTÍCIA

Recursos Hídricos: Fórum presta homenagem ao Prof. Newton Hart

Agenda de Desenvolvimento Bahia 2019 prestou homenagem ao prof. Newton Hart C. Lima

Aque deu nome ao fórum de discussões sobre Recursos Hídricos, Saneamento e

Desenvolvimento. O evento foi realizado no Espaço Arlindo Fragoso, na Escola Politécnica da

Universidade Federal da Bahia, no dia 21 de março e fez parte dos eventos comemorativos dos 122

anos da Escola Politécnica. Conra a galeria de fotos!

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Politécnica42 NOTÍCIA Recursos Hídricos:

Fórum presta homenagem ao Prof. Newton Hart

Galeria Fórum Prof. Newton Hart

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