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XVIII Jornada de Iniciação Científica PIBIC CNPq/FAPEAM/INPA Manaus - 2009 AVALIAÇÃO FENOLOGIA VARIAÇÃO CLIMÁTICA NA ENTEROLOBIUM SCOMBURGKII BENT (LEGUMINOSAE) NA RESERVA FLORESTAL DUCKE E ESTAÇÃO DE SILVICULTURA TROPICAL NOS ÚLTIMOS 10 DOS DE EFEITOS DE EXPERIMENTAL ANOS Suellen Maia CERDEIRAl; Antonio Moçambite PINT02; Tárcia dos Santos NEVES3 'Bolsista PIBIC/ INPA; 20rientador CPST/ INPA ; 3Co-orientadora CPST/ INPA 1. Introdução Fenologia é o estudo da época de ocorrência de fenômenos naturais repetitivos, especialmente em relação ao clima (Lieth, 1974). Muitos processos fenológicos, como a queda de folhas e a floração, estão claramente relacionados ao clima (Rathcke & Lacey, 1985; Van Schaik et aI., 1993; Wright & Van Schaik, 1994). Desde o final do século passado, mudanças climáticas têm sido observadas, as quais podem afetar o comportamento das plantas, como demonstrado pela análise de dados provenientes de observações fenológicas em longo prazo (eg. Sparks & Carey, 1995; Schwartz, 1998; Pinto et aI., 2005; Pinto et aI., 2008). Espera-se que a época de ocorrência de processos fenológicos continue a mudar na dependência das mudanças no clima. Neste contexto, o registro do comportamento fenológico proporciona uma valiosa fonte documentada auxiliando na compreensão dos processos biológicos nos seres vivos. As manifestações visíveis da atividade funcional como a ocorrência, a transformação e a queda dos diversos órgãos vegetais, expressam as reações orgânicas antes do estímulo das variações do ambiente. Por outro lado, os parâmetros meteorológicos são de grande valia nas observações fenológicas para investigar as relações entre os processos do tempo e as reações orgânicas. O presente trabalho teve como objetivos: investigar a influência de variações climáticas naturais nos padrões fenológicos de leguminosae nas duas áreas de estudo Reserva Florestal Ducke (RFD) e Estação Experimental de Silvicultura Tropical (EEST), durante um período de 10 anos de observações, comparações e averiguações em duas áreas de floresta amazônica (RFD e EEST). Verificar se a mesma espécie apresenta comportamento fenológico similar e se os efeitos de temperaturas (máxima, média e mínima) e de precipitação pluviométrica estão influenciando no comportamento da espécie Enterolobium schomburgkii. 2. Material e métodos O estudo foi desenvolvido em duas áreas de floresta tropical úmida de terra firme: Reserva Florestal Ducke e a Estação Experimental de Silvicultura Tropical ambos na região de Manaus, Amazonas (Araújo, 1970; Alencar et aI., 1979). O clima da região de Manaus é do tipo Afi, segundo a classificação de Koppen, quente e úmido com precipitação alta (acima de 2000mm), apresentando pluviosidade anual média de 2.485mm e temperatura média anual de 25,6°C. Os dados climatológicos utilizados para os locais de estudo (RFD e EEST) foram fornecidos pela Coordenação de climatologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) do período 1998 á 2007. Neste período, determinou-se uma estação seca (junho a outubro), uma estação chuvosa (dezembro a maio), uma estação de transição da seca para chuvosa (novembro) e uma estação de transição de chuvosa para seca (junho). Os dados fenológicos de quinhentos indivíduos, da Reserva Florestal Ducke e quinhentos da Estação Experimental de Silvicu Itura Tropical foram armazenados em um banco de dados, por meio do programa FENOLOG,em Dbase para DOS. O programa, desenvolvido na Coordenação de Pesquisas em Silvicultura Tropical do INPA, fornece as percentagens médias das ocorrências de cada fenofase, para cada mês, por espécies e por período de observação. 3. Resultados e discussão A floração de Enterolobium Schomburgii na RFD e EESTtendeu á ocorrer na estação seca (junho a outubro) e finalizou na estação chuvosa (dezembro a maio). A frutificação da espécie estudada no ano de 1999, 2001, 2003, 2004, 2005 e 2007 tende a ocorrer no período seco e na EEST no período chuvoso com exceção do ano 2004. A fenofase copa completa com folha velha ocorre anualmente e a fenofase a maioria das folhas novas ou totalmente novas tende a ocorrer com mais freqüência no período seco tanto na RFDe EEST. Este estudo mostrou que a floração e mudança foliar de Enterolobium Schomburgii é anual e apresenta maior ocorrência no período seco nas duas áreas de estudo. Com relação a frutificação a espécie apresentou uma variação anual, respectivamente nos períodos que os indivíduos não apresentaram a fenofase estudada. A floração (Fig.1) ocorreu de junho a outubro na estação seca, resultados que não 234

AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DE VARIAÇÃO CLIMÁTICA NA …

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XVIII Jornada de Iniciação Científica PIBIC CNPq/FAPEAM/INPA Manaus - 2009

AVALIAÇÃOFENOLOGIA

VARIAÇÃO CLIMÁTICA NAENTEROLOBIUM SCOMBURGKII BENT

(LEGUMINOSAE) NA RESERVA FLORESTAL DUCKE E ESTAÇÃODE SILVICULTURA TROPICAL NOS ÚLTIMOS 10

DOSDE

EFEITOS DE

EXPERIMENTALANOS

Suellen Maia CERDEIRAl; Antonio Moçambite PINT02; Tárcia dos Santos NEVES3'Bolsista PIBIC/ INPA; 20rientador CPST/ INPA ; 3Co-orientadora CPST/ INPA

1. IntroduçãoFenologia é o estudo da época de ocorrência de fenômenos naturais repetitivos, especialmente emrelação ao clima (Lieth, 1974). Muitos processos fenológicos, como a queda de folhas e a floração,estão claramente relacionados ao clima (Rathcke & Lacey, 1985; Van Schaik et aI., 1993; Wright &Van Schaik, 1994). Desde o final do século passado, mudanças climáticas têm sido observadas, asquais podem afetar o comportamento das plantas, como demonstrado pela análise de dadosprovenientes de observações fenológicas em longo prazo (eg. Sparks & Carey, 1995; Schwartz,1998; Pinto et aI., 2005; Pinto et aI., 2008). Espera-se que a época de ocorrência de processosfenológicos continue a mudar na dependência das mudanças no clima. Neste contexto, o registrodo comportamento fenológico proporciona uma valiosa fonte documentada auxiliando nacompreensão dos processos biológicos nos seres vivos. As manifestações visíveis da atividadefuncional como a ocorrência, a transformação e a queda dos diversos órgãos vegetais, expressamas reações orgânicas antes do estímulo das variações do ambiente. Por outro lado, os parâmetrosmeteorológicos são de grande valia nas observações fenológicas para investigar as relações entreos processos do tempo e as reações orgânicas. O presente trabalho teve como objetivos: investigara influência de variações climáticas naturais nos padrões fenológicos de leguminosae nas duasáreas de estudo Reserva Florestal Ducke (RFD) e Estação Experimental de Silvicultura Tropical(EEST), durante um período de 10 anos de observações, comparações e averiguações em duasáreas de floresta amazônica (RFD e EEST).Verificar se a mesma espécie apresenta comportamento fenológico similar e se os efeitos detemperaturas (máxima, média e mínima) e de precipitação pluviométrica estão influenciando nocomportamento da espécie Enterolobium schomburgkii.

2. Material e métodosO estudo foi desenvolvido em duas áreas de floresta tropical úmida de terra firme: ReservaFlorestal Ducke e a Estação Experimental de Silvicultura Tropical ambos na região de Manaus,Amazonas (Araújo, 1970; Alencar et aI., 1979). O clima da região de Manaus é do tipo Afi, segundoa classificação de Koppen, quente e úmido com precipitação alta (acima de 2000mm),apresentando pluviosidade anual média de 2.485mm e temperatura média anual de 25,6°C. Osdados climatológicos utilizados para os locais de estudo (RFD e EEST) foram fornecidos pelaCoordenação de climatologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) do período1998 á 2007. Neste período, determinou-se uma estação seca (junho a outubro), uma estaçãochuvosa (dezembro a maio), uma estação de transição da seca para chuvosa (novembro) e umaestação de transição de chuvosa para seca (junho). Os dados fenológicos de quinhentos indivíduos,da Reserva Florestal Ducke e quinhentos da Estação Experimental de Silvicu Itura Tropical foramarmazenados em um banco de dados, por meio do programa FENOLOG,em Dbase para DOS. Oprograma, desenvolvido na Coordenação de Pesquisas em Silvicultura Tropical do INPA, fornece aspercentagens médias das ocorrências de cada fenofase, para cada mês, por espécies e por períodode observação.

3. Resultados e discussãoA floração de Enterolobium Schomburgii na RFDe EESTtendeu á ocorrer na estação seca (junho aoutubro) e finalizou na estação chuvosa (dezembro a maio). A frutificação da espécie estudada noano de 1999, 2001, 2003, 2004, 2005 e 2007 tende a ocorrer no período seco e na EEST noperíodo chuvoso com exceção do ano 2004. A fenofase copa completa com folha velha ocorreanualmente e a fenofase a maioria das folhas novas ou totalmente novas tende a ocorrer com maisfreqüência no período seco tanto na RFDe EEST. Este estudo mostrou que a floração e mudançafoliar de Enterolobium Schomburgii é anual e apresenta maior ocorrência no período seco nas duasáreas de estudo. Com relação a frutificação a espécie apresentou uma variação anual,respectivamente nos períodos que os indivíduos não apresentaram a fenofase estudada. A floração(Fig.1) ocorreu de junho a outubro na estação seca, resultados que não

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Figura 1. Padrão de floração de Enterolobiumschomburgkii em número de árvores florescendopor mês, em cada ano de observação, em (A)Estação Experimental de Silvicultura Tropical(n=5) e em (B) Reserva Florestal Ducke (n=5),do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia,INPA, Manaus, AM.

Manaus - 2009

Figura 2. Padrão de frutificação de Enterolobium

schomburgkii em número de árvores frutificandopor mês, em cada ano de observação, em (A)Estação Experimental de Silvicultura Tropical(n=5) e em (B) Reserva Florestal Ducke (rr=S},do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia,INPA, Manaus, AM.

foram diferentes nos trabalhos Araújo (1970), Alencar et ai (1979), Mori et alo (1982), Cavalcante(1988), Alencar (1990), Franciscon (1993), relatam que a floração ocorre principalmente durantea estação seca. A Frutificação (Fig.2) da espécie estudada ocorreu no período chuvoso na Estaçãode Silvicultura Tropical, como ocorre na maioria das espécie estudadas na Reserva Ducke, Manaus-Am ( Araújo,1970; Alencar et al.,1979 e Pinto et aI. 2008). A Mudança Foliar de EnterolobiumSchomburgii (Fig.3) é anual tanto na RFDe EESTe tende á ocorrer na estação seca. Resultadossimilares foram relatados por Araújo (1970), Longman e Jenik (1974), Carvalho (1980), Lieberman(1982), Miranda (1993), lima Junior (1992) e Pinto et ai (2005).

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Figura 3, Padrão de Mudança foliar de Enterolobiumschomburgkii em número de árvores mudando por mês, emcada ano de observação, em (A) Estação Experimental de

Silvicultura Tropical (n=5) e em (B) Reserva Florestal Ducke(n=5), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, INPA,Manaus, AM,

Figura 4, Médias Mensais das variáveis climáticas

obtidas de 1998 a 2007 (10 anos) na EstaçãoClimatológica da Reserva Florestal Ducke, doInstituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, INPA,Manaus, AM,

4. ConclusãoA Faveira Orelha de Macaco é uma especie perenifólia. Apresentando padrão de floração emudança foliar anual, com ocorrência no período seco. O clima mostrou uma tendência ainfluenciar no comportamento fenológico dessa espécie nas duas áreas (RFD e EEST) devido avariação em relação as fenofases, apresentou padrão de frutificação irregular e período deocorrência diferente, sendo período seco na RFD e período chuvoso na EEST.

5. ReferênciasAlencar, J. C.;Almeida, R. A.;Fernandes, N. P. 1979. Fenologia de espécies arbóreas em florestatropical úmida de terra-firme na Amazônia Central. Acta Amazônica 9( 1): 163-198.

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Araújo, V. C. 1970. Fenologia de essências florestais amazônicas L Boletim do INPA, (4):1-25.

CarvalhoJ.O.P.1980.Fenologia de espécies florestais de potencial econômico que ocorrem nafloresta do Tapajós. EMBRAPA, CPATU. Boletim de Pesquisa, 20;2-15.

Cavalcante, P. B. 1988. Frutas comestíveis da Amazônia. 4 ed. Museu Paraense Eilio Goeldi;Companhia Souza Cruz Indústria e Comércio. Belém.279 p.

Franciscon, C,H, 1993. Distribuição geografica e estado atual do conhecimento de 10 espécies deextrativismo, ocorrentes na reserve Florestal Ducke , Manaus-AM, (Amazonia Central ).Dissertação de Mestrado, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/ Fundação Universidade doAmazonas, Manaus, Amazonas. 94p.

Lieth, H. 1974 (ed.). Phenology and seasonality modeling. Springer-Verlag, Berlin.

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Lima Junior, M.J.V.1992. Fenologia de cinco de Lecythidaceae da Reserva Florestal Ducke, Manaus-AM. Dissertação de Mestrado, Intituto Nacional de Pesquisas da Amazonla/ Fundação Universidadedo Amazonas, Manaus, Amazonas.72p.

Lieberman, D. 1982. 5easonality and Phenology in a Dry Forest in Ghana. Journal of Ecology,70:791-806.

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Miranda, L 5. 1993. Fenologia do estrato arbóreo de uma comunidade de cerrado em Alter dochão, PA. Revista Brasileira de Botânica, 18(2):235-240.

Mori, A. 5.; Lisboa, G. K allunki, J.A. 1982. Fenologia de uma mata higrófila Sul-baiana. Centro dePesquisas do Cacau, Ilhéus, Bahia, Brasil. Revista Theobroma, 12(4):217-230.

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