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Avaliação Sísmica de um Edifício Tipo de Alvenaria de Angra do Heroísmo Camila Angélica da Silva Fagundes Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Orientador Professora Doutora Rita Maria do Pranto Nogueira Leite Pereira Bento Júri Presidente: Professor Doutor José Joaquim Costa Branco de Oliveira Pedro Orientador: Professora Doutora Rita Maria do Pranto Nogueira Leite Pereira Bento Vogal: Professor Doutor Carlos Alberto Ferreira de Sousa Oliveira Outubro de 2015

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Avaliação Sísmica de um Edifício Tipo de Alvenaria de

Angra do Heroísmo

Camila Angélica da Silva Fagundes

Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Orientador

Professora Doutora Rita Maria do Pranto Nogueira Leite Pereira Bento

Júri

Presidente: Professor Doutor José Joaquim Costa Branco de Oliveira Pedro

Orientador: Professora Doutora Rita Maria do Pranto Nogueira Leite Pereira Bento

Vogal: Professor Doutor Carlos Alberto Ferreira de Sousa Oliveira

Outubro de 2015

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Agradecimentos

Este trabalho não é o produto do esforço de uma só pessoa, mas é o resultado do apoio de várias

pessoas. Desta forma, expresso o meu agradecimento a todos os que contribuíram para o

desenvolvimento deste trabalho, em todas as suas fases.

Primeiramente, ao Sr. António Pedro Simões e à Srª. Maria Simões por me permitirem uma visita

detalhada ao edifício em estudo, bem como a medição da arquitectura existente.

Ao Sr. Luís Carreiro e Sr. Arcindo Lucas da Secretaria Regional do Turismo e Transportes

(SRTT) da ilha Terceira, por me indicarem várias fontes bibliográficas e cederem alguns documentos

do Arquivo SRTT.

Ao Eng. José Carlos Oliveira, Diretor de Serviços de Estruturas e Materiais de Construção do

LREC, por fornecer alguns documentos fulcrais para a modelação estrutural.

Agradeço de uma forma muito especial à Jelena Milošević e Ana Simões, que me ajudaram na

aprendizagem de um novo programa e em todas as lutas da modelação estrutural.

Da mesma forma, quero agradecer à Professora Serena Cattari pela sua disponibilidade e ajuda

fundamental no avanço da modelação e na utilização do programa.

À Professora Rita Bento, por toda a sua dedicação, interesse e empenho neste trabalho, e acima

de tudo, por todo o apoio, ajuda e disponibilidade prestada.

Ao Pedro Lopes que nunca me deixou de apoiar e dar ânimo.

À TFIST que sempre esteve presente ao longo destes cinco anos de estudos, tornando os

mesmos muito mais alegres.

Por fim, aos meus queridos pais e família, que nunca desistiram de apoiar os meus estudos e a

minha formação como Engenheira, mesmo estando separados por um oceano.

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Resumo

O edificado tradicional açoriano é maioritariamente constituído por construções em paredes de

alvenaria de pedra. Uma vez que as paredes de alvenaria são suscetíveis à ação sísmica, é de grande

relevância: (i) a caraterização das suas propriedades mecânicas e (ii) o estudo do comportamento

destas construções à ação sísmica. Por outro lado, é importante não esquecer que o edificado urbano

é significativamente afetado pelo comportamento em quarteirão, e que o efeito dos edifícios adjacentes

deve ser considerado nos modelos numéricos para se avaliar adequadamente o desempenho sísmico

do edifício em estudo.

Neste trabalho pretende-se contribuir para o referido em (ii), estudando o comportamento sísmico

de um edifício tipo da cidade de Angra do Heroísmo. Assim, começa-se por caraterizar o edificado

existente nesta cidade. Posteriormente, avalia-se o desempenho sísmico do edifício selecionado, a

partir de um modelo tridimensional, recorrendo a análises estáticas não lineares e utilizando o programa

3MURI/TREMURI.

Foi comparado um modelo isolado e outro com a envolvente de edifícios, tendo-se constatado

que a envolvente de edifícios afeta o comportamento à ação sísmica, tornando a estrutura mais dúctil

numa das direções principais e agravando os danos provocados no edifício em estudo.

A verificação de segurança ao estado limite último foi feita pela definição de multicritérios e

segundo a metodologia proposta no EC8. A estrutura não satisfez a segurança para ambos os modelos.

Finalmente é proposta uma solução de reforço para reduzir a vulnerabilidade sísmica do edifício

em estudo, com base nos resultados de danos obtidos.

Palavras-Chave

Alvenaria tradicional; Edifícios dos Açores; Vulnerabilidade Sísmica; Análise Pushover

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Abstract

Traditional Azorean buildings are mostly made of rubble stone masonry walls. As the masonry

walls are vulnerable to seismic action, it is of utmost importance: (i) the characterization of their

mechanical properties and (ii) the study of the behaviour of these constructions to this type of action.

On the other hand, it is important to remember that urban buildings are significantly affected by the

behaviour of the city block, thus, the adjacent buildings should be considered in numerical models to

properly evaluate the seismic performance of the building under consideration.

This paper aims to contribute to the abovementioned (ii), studying the seismic behaviour of a

building in the city of Angra do Heroísmo and taking into account the effect of the adjacent buildings.

This study begins by characterizing the existing buildings in this city, thus, for the building selected, its

seismic performance is evaluated through a tridimensional model, using the non-linear static analysis

and resorting to the 3MURI/TREMURI program.

Two models were compared, concluding that the surrounding buildings affect the seismic

behaviour, leading to a more ductile structure in one of the main directions and increasing the damage

of the main building.

The safety verification to the limit state following the procedure proposed in EC8 and considering

a multiscale approach with different verification criteria and was made. The safety was not verified for

both models.

Finally, a strengthening solution to reduce seismic vulnerability of the building under consideration

is proposed, based on the damage patterns obtained.

Key-words

Traditional Masonry; Buildings from Azores; Seismic vulnerability; Pushover analysis

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Índice

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1

1.1 ENQUADRAMENTO.............................................................................................................. 1

1.2 OBJETIVOS E METODOLOGIA .............................................................................................. 5

1.3 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ............................................................................................. 6

2 EDIFICADO DE ANGRA DO HEROÍSMO ......................................................................... 7

2.1 ENQUADRAMENTO HISTÓRICO ............................................................................................ 7

2.2 CONSTRUÇÃO TRADICIONAL ............................................................................................... 9

2.2.1 Tipologia e geometria global ................................................................................... 9

2.2.2 Elementos estruturais ............................................................................................ 10

2.2.3 Outros elementos .................................................................................................. 16

2.2.4 Materiais construtivos ............................................................................................ 17

2.2.5 Tipologia do quarteirão .......................................................................................... 17

2.2.6 Comportamento ao Sismo de 1980 ....................................................................... 18

2.2.7 Alteração da construção tradicional ...................................................................... 20

2.3 CONSTRUÇÃO CORRENTE ................................................................................................. 21

3 EDIFÍCIO EM ESTUDO ..................................................................................................... 23

3.1 ENQUADRAMENTO HISTÓRICO ........................................................................................... 24

3.2 CARACTERIZAÇÃO ............................................................................................................ 24

3.2.1 Estrutura ................................................................................................................ 26

3.3 ALTERAÇÕES APÓS O SISMO DE 1980 ............................................................................... 29

3.4 ANOMALIAS...................................................................................................................... 30

3.5 CARACTERIZAÇÃO DA ENVOLVENTE................................................................................... 31

4 MODELAÇÃO ESTRUTURAL .......................................................................................... 33

4.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 33

4.2 PROGRAMA 3MURI/TREMURI ........................................................................................ 34

4.3 MODELAÇÃO .................................................................................................................... 35

4.3.1 Caracterização dos materiais ................................................................................ 35

4.3.2 Definição das Cargas ............................................................................................ 38

4.3.3 Elementos estruturais ............................................................................................ 42

4.3.4 Alteração da malha ................................................................................................ 47

4.4 CALIBRAÇÃO DO MODELO ................................................................................................. 49

5 AVALIAÇÃO SÍSMICA DO EDIFÍCIO .............................................................................. 55

5.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 55

5.2 DEFINIÇÃO DA AÇÃO SÍSMICA ........................................................................................... 55

5.3 ANÁLISE ESTÁTICA NÃO LINEAR – PUSHOVER ..................................................................... 59

5.3.1 Edifício isolado ....................................................................................................... 60

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5.3.2 Edifício envolvente................................................................................................. 68

5.4 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO – MÉTODO N2 ..................................................................... 75

5.5 PROPOSTAS DE REFORÇO ................................................................................................ 82

6 CONCLUSÕES E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS.................................................... 85

6.1 CONCLUSÕES .................................................................................................................. 85

6.2 TRABALHOS FUTUROS ...................................................................................................... 87

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................... 89

ANEXO A ..................................................................................................................................... AI

ANEXO B ..................................................................................................................................... BI

ANEXO C ..................................................................................................................................... CI

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Lista de Tabelas

Tabela 1 Sismos de intensidade ≥ VII (Escala IMM) no Arquipélago dos Açores (Nunes et al., 2001) . 3

Tabela 2 Propriedades da parede de alvenaria .................................................................................... 36

Tabela 3 Propriedades dos materiais .................................................................................................... 38

Tabela 4 Coeficientes 𝜓2 e sobrecargas de utilização ......................................................................... 40

Tabela 5 Cargas aplicadas .................................................................................................................... 42

Tabela 6 Ensaios de caracterização dinâmica consultados ................................................................. 50

Tabela 7 Valores dinâmicos obtidos da análise modal para o modelo isolado .................................... 51

Tabela 8 Valores dinâmicos obtidos da análise modal para o modelo com a envolvente ................... 51

Tabela 9 Perfil 1 dos perfis de terreno dos Açores (Anexo Nacional da Norma NP EN 1998-1-1 (CEN,

2010)) .................................................................................................................................................... 57

Tabela 10 Perfil 2 dos perfis de terreno dos Açores (Anexo Nacional da Norma NP EN 1998-1 (CEN,

2010)) .................................................................................................................................................... 57

Tabela 11 Parâmetros de definição dos espectros de resposta ........................................................... 59

Tabela 12 Deslocamento correspondente ao drift máximo admitido, edifício isolado - direção X ....... 64

Tabela 13 Deslocamento correspondente ao drift máximo admitido, edifício isolado - direção Y ....... 64

Tabela 14 Deslocamento correspondente ao drift máximo admitido, edifício com envolvente - direção X

............................................................................................................................................................... 71

Tabela 15 Deslocamento correspondente ao drift máximo admitido, edifício com envolvente - direção Y

............................................................................................................................................................... 71

Tabela 16 Fatores de transformação do sistema de n GL em 1 GL ..................................................... 76

Tabela 17 Propriedades das curvas de capacidade bilineares............................................................. 77

Tabela 18 Deslocamentos objetivo e último para o sistema de 1 GL, edifício isolado ......................... 78

Tabela 19 Valores do deslocamento último e objetivo para o sistema com 1 GL ................................ 80

Tabela 20 Valores do deslocamento último e objetivo para o sistema com n GL ................................ 80

Lista de Figuras

Figura 1 Batimetria da Plataforma dos Açores (Gente, Dyment, Maia, & Goslin, 2003) ........................ 1

Figura 2 Enquadramento geotectónico da região dos Açores (Nunes, 1999) ........................................ 1

Figura 3 Localização do epicentro do sismo de 1980 (Borges et al., 1980) ........................................... 4

Figura 4 Angra do Heroísmo, carta de Jan Huygen van Linschoten, 1595 ............................................ 7

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Figura 5 Cidade de Angra. Construções anteriores a 1950 – Azul; entre 1950 e 1980 – Amarelo; entre

1980 e 1990, período posterior ao sismo – Vermelho. (Oliveira, 1992) ................................................. 8

Figura 6 a) Prédio de frente estreita, b) Prédio de frente larga, c) Casa Nobre ................................... 10

Figura 7 Esquema de fundação de alvenaria de pedra (Correia Guedes & Oliveira, 1992) ................ 11

Figura 8 a) Alvenaria de pedra aparelhada, b) Alvenaria de pedra irregular com “camas”, c) Alvenaria

de dois panos (Correia Guedes & Oliveira, 1992) ................................................................................ 12

Figura 9 Cunhal simples (Correia Guedes & Oliveira, 1992) ................................................................ 12

Figura 10 Esquema de cunhal com identificação dos elementos constituintes (Correia Guedes &

Oliveira, 1992) ....................................................................................................................................... 13

Figura 11 Parede de tabique com fasquiado (Correia Guedes & Oliveira, 1992)................................. 14

Figura 12 Parede de frontal de madeira (Correia Guedes & Oliveira, 1992) ........................................ 14

Figura 13 Ligação das vias à alvenaria de pedra (Costa, Oliveira, et al., 2008) .................................. 15

Figura 14 a) Telha regional b) Esquema de montagem. (Correia Guedes & Oliveira, 1992) ............... 15

Figura 15 a) Telhado à “francesa” b) Telhado a “cavalo” c) Telhado em “tesoura”. (Correia Guedes &

Oliveira, 1992) ....................................................................................................................................... 16

Figura 16 Cobertura em “caixotão” (Correia Guedes & Oliveira, 1992) ................................................ 16

Figura 17 Mapa de danos da cidade de Angra do Heroísmo após o sismo de 1980 (Soeiro & DSHUAAH,

1980) ...................................................................................................................................................... 18

Figura 18 Mecanismos de desagregação da estrutura da cobertura (Correia Guedes & Oliveira, 1992)

............................................................................................................................................................... 19

Figura 19 Principais mecanismos de rotura em quarteirão (Correia Guedes & Oliveira, 1992) ........... 20

Figura 20 Edifício de estudo: Rua Direita, nº 54 a 60 ........................................................................... 23

Figura 21 Quarteirão B 12 da cidade de Angra do Heroísmo (adaptado do Arquivo SRTT) ............... 23

Figura 22 Planta atual da baixa de Angra do Heroísmo, com a localização do edifício em estudo

(Imagem de satélite retirada do Google Maps) ..................................................................................... 24

Figura 23 Plantas obtidas do levantamento arquitetónico. *Os círculos representam os pilares

existentes............................................................................................................................................... 25

Figura 24 Estrutura do pavimento à vista na zona comercial ............................................................... 26

Figura 25 Parede de tabique existente no edifício de estudo ............................................................... 27

Figura 26 Representação do vigamento de madeira a castanho ......................................................... 27

Figura 27 a) 1º Piso, b) 2º Piso ............................................................................................................. 28

Figura 28 Estrutura do pavimento existente no corpo 2 ....................................................................... 28

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Figura 29 Estrutura de suporte da cobertura ........................................................................................ 29

Figura 30 Edifício em estudo a 17/03/1980 (retirado da Ficha de Levantamento Arquitetónico nº 549)

............................................................................................................................................................... 29

Figura 31 a) Junção do esticador metálico, b) Encastramento do esticador metálico na parede de

empena .................................................................................................................................................. 30

Figura 32 Fendas nas paredes de empena – Zona de escadas........................................................... 30

Figura 33 Alçado da fachada do edifício em estudo e da sua envolvente (Arquivo SRTT) ................. 31

Figura 34 Planta do 1º Piso do edifício em estudo e a sua envolvente ................................................ 31

Figura 35 Tipos de utilização por piso do edifício em estudo ............................................................... 39

Figura 36 Separação das zonas de utilização – Piso 2 ........................................................................ 40

Figura 37 Carga da Cobertura............................................................................................................... 41

Figura 38 Discretização computacional segundo o método FME, adaptado de (Galasco, Lagomarsino,

& Penna, 2006) ...................................................................................................................................... 43

Figura 39 Representação de um macro-elemento, com as variáveis cinemáticas (u, w, φ) e forças

interiores (N, V, M) (adaptado de Lagomarsino et al., (2013))............................................................. 43

Figura 40 Mecanismos de rotura no plano dos elementos de parede nembos (Lagomarsino et al., 2008)

............................................................................................................................................................... 44

Figura 41 Definição das fundações ....................................................................................................... 45

Figura 42 Definição das vigas de madeira ............................................................................................ 45

Figura 43 Definição dos pilares ............................................................................................................. 45

Figura 44 Definição do pavimento de madeira ..................................................................................... 46

Figura 45 Definição de uma laje de betão ............................................................................................. 46

Figura 46 Definição de uma laje com vigotas ....................................................................................... 46

Figura 47 Níveis modelados no programa 3MURI ................................................................................ 47

Figura 48 Modelo executado com o programa 3MURI – Envolvente de edifícios ................................ 48

Figura 49 a) Malha gerada automaticamente pelo programa, b) Malha editada .................................. 48

Figura 50 Malha de uma das paredes de empena ............................................................................... 49

Figura 51 Modelo da casa nº 16, cidade da Horta (Neves et al., 2004) ............................................... 50

Figura 52Modos de vibração para o edifício isolado: a) Translação longitudinal, X; b) Translação

transversal, Y; c) Torção ....................................................................................................................... 52

Figura 53 Modos de vibração para o edifício com a envolvente: a) Translação longitudinal, X; b)

Translação transversal, Y; c) Torção .................................................................................................... 53

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Figura 54 Zonamento sísmico no arquipélago dos Açores (CEN, 2010) .............................................. 56

Figura 55 Localização relativa do Monte Brasil à cidade de Angra do Heroísmo (Imagem retirada do

Google Maps) ........................................................................................................................................ 58

Figura 56 Identificação das paredes estruturais e dos nós de extremidade das paredes de alvenaria no

3º Piso – Edifício Isolado ....................................................................................................................... 61

Figura 57 Gráfico das curvas de capacidade resistente para o edifício isolado ................................... 61

Figura 58 Gráfico das curvas de capacidade resistente do edifício isolado para diversos nós ........... 63

Figura 59 Deslocamentos últimos segundo o critério 2 e 3, edifício isolado ........................................ 65

Figura 60 Padrão de danos para a ação na direção X, critério 2. a) Fachada principal P11, b) Fachada

tardoz P4, c) Empena P1, d) Empena P5 ............................................................................................. 65

Figura 61 Padrão de danos para a ação na direção Y, critério 2. a) Fachada principal P11, b) Fachada

tardoz P4, c) Empena P1, d) Empena P5 ............................................................................................. 66

Figura 62 Padrão de danos para a ação na direção X, critério 3. a) Fachada principal P11, b) Fachada

tardoz P4, c) Empena P1, d) Empena P5 ............................................................................................. 67

Figura 63 Padrão de danos para a ação na direção Y, critério 3. a) Fachada principal P11, b) Fachada

tardoz P4, c) Empena P1, d) Empena P5 ............................................................................................. 67

Figura 64 Identificação das paredes estruturais e dos nós de extremidade das paredes de alvenaria no

3º Piso – Edifício com a envolvente ...................................................................................................... 68

Figura 65 Curvas de capacidade resistente para o modelo com a envolvente de edifícios ................. 69

Figura 66 Curvas de capacidade resistente segundo Y ....................................................................... 70

Figura 67 Deslocamentos últimos segundo o critério 2 e 3, edifício com a envolvente ....................... 72

Figura 68 Padrão de danos do modelo da envolvente - direção X. a) Fachada principal P18, b) Fachada

tardoz P4, c) Empena P1, d) Empena P5 ............................................................................................. 72

Figura 69 Padrão de danos do modelo da envolvente - direção Y. a) Fachada principal P18, b) Fachada

tardoz P4, c) Empena P1, d) Empena P5 ............................................................................................. 73

Figura 70 Padrão de danos do modelo da envolvente, deslocamento do mecanismo de colapso -

direção Y. a) Fachada principal P18, b) Fachada tardoz P4, c) Empena P1, d) Empena P5 .............. 73

Figura 71 Evolução de danos da fachada principal (P18 e P17) .......................................................... 74

Figura 72 Espectro de resposta da ação sísmica no formato aceleração-deslocamento .................... 76

Figura 73 Rácio entre o deslocamento último e objetivo, para o edifício isolado ................................. 78

Figura 74 Curvas de capacidade bilineares (1 GL) ............................................................................... 79

Figura 75 Determinação do ponto de desempenho sísmico ................................................................. 80

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Figura 76 Rácio entre o deslocamento último e objetivo, critério condicionante, modelo isolado e com a

envolvente ............................................................................................................................................. 81

Figura 77 Padrão de danos para o deslocamento objetivo na direção X. a) Fachada principal P18 com

edifícios adjacentes, b) Fachada tardoz P4, c) Parede P2, d) Empena P1 .......................................... 82

Figura 78 Padrão de danos para o deslocamento objetivo na direção Y. a) Empena P1, b) Empena P5,

c) Parede P3, d) Fachada tardoz P4 ..................................................................................................... 83

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Lista de abreviaturas e símbolos

IMM Intensidade Mercalli Modificada

SRTT Secretaria Regional do Turismo e Transportes

DSHUAAH Direção dos Serviços da Habitação, Urbanismo e Ambiente de Angra do Heroísmo

LNEC Laboratório Nacional de Engenharia Civil

LREC Laboratório Regional de Engenharia Civil

E Módulo de Elasticidade ou Módulo de Young

G Módulo de Distorção

ν Coeficiente de Poisson

w Peso volúmico

fm Resistência média à compressão

τ Resistência ao corte

𝜹 Drift, deslocamento relativo normalizado à altura do piso

𝛄𝐈 Coeficiente de importância

n GL Múltiplos graus de liberdade

1 GL Um grau de liberdade

𝚪 Fator de transformação

m* Massa – sistema 1 GL

T* Período – sistema 1 GL

Fy* Força de cedência – sistema 1 GL

du* Deslocamento último – sistema 1 GL

dt* Deslocamento objetivo – sistema 1 GL

µ* Ductilidade – sistema 1 GL

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1 Introdução

1.1 Enquadramento

As ilhas do arquipélago dos Açores são conhecidas pelas tempestades, sismos e vulcões. Todos

estes fenómenos naturais derivam da localização das próprias ilhas: no centro do oceano Atlântico e

no ponto de junção de três placas tectónicas.

O arquipélago dos Açores situa-se na zona norte do oceano Atlântico a cerca de 1600 km de

Portugal continental. Todas as ilhas são de origem vulcânica e emergem de uma zona submarina pouco

profunda e com uma topografia muito irregular designada como Plataforma dos Açores (Figura 1)

(Carvalho et al., 2001).

Figura 1 Batimetria da Plataforma dos Açores (Gente, Dyment, Maia, & Goslin, 2003)

As placas tectónicas que se unem na região dos Açores são a placa Euroasiática, Africana e

Norte Americana. Por esta razão o arquipélago constitui uma região tectónica com maior complexidade.

Na Figura 2 apresenta-se o enquadramento tectónico do arquipélago.

Figura 2 Enquadramento geotectónico da região dos Açores (Nunes, 1999)

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A sismicidade no arquipélago é de origem tectónica ou vulcânica. O movimento dos produtos

magmáticos e a resultante fracturação da rocha encaixante provocam a sismicidade de origem

vulcânica, enquanto a sismicidade de origem tectónica provém da libertação de tensões acumuladas

na litosfera (Madeira & Silveira, 2007).

Podem-se distinguir três tipos de sequências sísmicas. As crises que resultam da atividade

vulcânica são mais prolongadas, e é comum a ocorrência de sismos de longa duração e baixa

frequência. Quanto às sequências de natureza tectónica existem dois tipos: a ocorrência de um sismo

principal seguido por uma sequência de sismos com frequências e magnitudes mais baixas e

decrescentes; a existência de um enxame sísmico e apenas depois a ocorrência de um sismo ou

sismos principais (Madeira & Silveira, 2007).

Comparando a taxa de ocorrência de sismos da região dos Açores com Portugal continental, o

arquipélago apresenta uma taxa muito mais elevada. Desde o seu povoamento, séc. XV, que o

arquipélago é alvo de várias crises sísmicas com intensidades iguais ou superiores a grau VII, das

quais, no séc. XX, resultaram aproximadamente 70% das vítimas mortais de sismos em Portugal

(Carvalho et al., 2001).

Ao longo dos anos a sismicidade da região dos Açores foi documentada em diversas obras e

trabalhos. A Secção de Tectonofísica do Departamento de Geociências da Universidade dos Açores

criou a “BDSA-Base de Dados Sísmicos dos Açores”, uma ferramenta fundamental de pesquisa

sismológica que está em permanente atualização. Esta base de dados cobre um período de 550 anos,

desde o povoamento do arquipélago, e é de extrema importância para o estudo de avaliação da

perigosidade e do risco sísmico dos Açores (Forjaz et al., 2004).

A Tabela 1 resume os elementos mais significativos dos principais sismos destrutivos que

atingiram as Ilhas dos Açores desde o seu povoamento.

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Tabela 1 Sismos de intensidade ≥ VII (Escala IMM) no Arquipélago dos Açores (Nunes et al., 2001)

Data Localidade/

Ilha mais afetada Epicentro

Prof. Máx. Int.

Obs. Vítimas Mortais

Observações

22/10/1522 V. Franca / S. Miguel 37,7ºN/25,4ºW

12 km X

4000 a 5000

~02h T.L.; ~20 000 hab.

17/05/1547 zona N / Terceira VII/VIII > 3 11-12h T.L.

??/08/1571 ? / Terceira VII ?

26/07/1591 V. Franca / S. Miguel VIII/IX “muitas”

24/05/1614 P. Vitória / Terceira a E de P. Vitória IX > 200 15:15h T.L.

08/12/1713 Ginetes / S. Miguel VIII

13/06/1730 Luz / Graciosa Caldeira VIII/IX ?

09/07/1757 Calheta / S. Jorge 38,6ºN/28,0ºW

10,7 km XI 1046

23:45h T.L.; tsunami; M=7,4; E~5x1024 ergs

24/06/1800 P. Vitória Terceira a E da Terceira VII/VIII 0 13:45h T.L.

26/01/1801 S. Sebastião / Terceira a E da Terceira VIII 2 15:30h T.L.

21/01/1837 Guadalupe e

S. Cruz Graciosa IX ? 3

15/06/1841 P. Vitória / Terceira a E de P. Vitória IX 0

16/04/1852 Rib. Grande / S. Miguel VIII 9 a 12 22:05 T.L.

09/02/1881 Povoação / Miguel VII ? 1

26/01/1912 A. Heroísmo/ Terceira VII

06/11/1912 P. Vitória / Terceira VII/VIII 21:00h

31/08/1926 Horta / Faial 38,5ºN/28,6ºW

1,6-4,8 km X 9

10:42h TMG Mb=5,3-5,9

05/08/1932 Povoação / S. Miguel 37,8ºN/25,1ºW VII 21:24h TMG;

I0=IX

27/04/1935 Povoação / S. Miguel 37,7ºN/25,4ºW VII 1

21/11/1937 S. Espírito / S. Maria 36,8ºN/26,1ºW VII

08/05/1939 S. Espírito / S. Maria

Rib. Quente / S. Miguel 37,0ºN/24,5ºW VII

I0=X; Mb=7,0-7,1

15/06/1945 Capelo / Faial VII 01:40h

27/12/1946 Serreta / Terceira VII/VIII 18:30h

29/12/1950 Agualva/Terceira 38,7ºN/27,2ºW VII 16:03h TMG

26/06/1952 Povoação e R. Quente/

S. Miguel 37,7ºN/25,3ºW VII 13:06h TMG

26/06/1952 Rib. Quente / S. Miguel 37,7ºN/25,3ºW VIII 15:32h TMG

13/05/1958 Praia Norte e

R. Funda/ Faial 38,6ºN/28,8ºW

1 km VIII/IX

21/02/1964 Rosais / S. Jorge 38,7ºN/28,2ºW

9 km VIII

17:14h TMG; Mb=5,5; I0=VIII/IX

10/08/1967 M. Escuro / S. Miguel 37,8ºN/25,4ºW VII 05:26h TMG;

M=4,6

17/06/1968 Várzea / S. Miguel 37,7ºN/25,9ºW VII 17:22h TMG;

M=4,6

23/11/1973 Bandeiras / Pico 38,5ºN/28,4ºW

16 km VII/VIII

13:36h TMG; Mb=5,0

01/01/1980 Doze Rib. / Terceira 38,8ºN/27,8ºW

10 km VIII/IX 61

16:42h TMG; I0=XI; M=7,2

09/07/1998 Ribeirinha / Faial 38,7ºN/28,5ºW

1,2 km VIII/IX 8

05:19h TMG; Mb=5,8

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Durante o séc. XX, os sismos que causaram mais danos materiais nas ilhas do grupo central

foram os sismos de 31 de Agosto de 1926 (Faial), 21 de Fevereiro de 1964 (São Jorge), 23 de

Novembro de 1973 (Pico), 1 de Janeiro de 1980 (Terceira) e 9 de Julho de 1998 (Faial e Pico) (Carvalho

et al., 2001).

O sismo de 1980, com uma magnitude de 7,2 ML e uma profundidade focal de 10 km, afetou

gravemente o parque habitacional de três ilhas do grupo central, Terceira, São Jorge e Graciosa.

Havendo um total de cerca 30 000 construções, 15 000 foram danificadas, das quais 5 000 foram

destruídas (Correia Guedes & Oliveira, 1992). Este foi o último sismo de intensidade mais elevada a

atingir a ilha Terceira.

A cidade de Angra do Heroísmo, situada na ilha Terceira, apresentou um elevado nível de

destruição, por se localizar próxima do epicentro do sismo, a cerca de 50 km para ocidente (Teves-

Costa et al., 2004) (Figura 3).

Figura 3 Localização do epicentro do sismo de 1980 (Borges et al., 1980)

O edificado típico dos Açores é constituído por estruturas de alvenaria de pedra, com elementos

de madeira. As construções tradicionais existentes, quer em meio urbano, quer em meio rural, tiveram

um comportamento insatisfatório face à ação provocada pelo sismo. Estas construções possuem uma

resistência aos sismos limitada pelas propriedades intrínsecas dos elementos estruturais e pelas

ligações entre eles (Correia Guedes & Oliveira, 1992).

O sismo de 1998, o mais recente sismo de maior intensidade e magnitude no arquipélago dos

Açores, voltou a provocar grandes estragos nas ilhas do grupo central, Faial e Pico. Este sismo com

uma magnitude de 5,9 ML, situado a 15 km NE da cidade da Horta, Faial, atingiu uma intensidade de

VII (Senos et al., 2008). As construções típicas da ilha do Faial, também constituídas principalmente

por estruturas de alvenaria de pedra, sofreram bastantes danos.

Avaliando os níveis de atividade sísmica/sismicidade existente nos Açores, as diferentes ilhas

podem ser agrupadas em 4 grupos principais (Nunes et al., 2001): (i) São Miguel, Terceira e Faial, de

maior sismicidade, onde os sismos sentidos são mais frequentes e muitas vezes atingem intensidades

superiores ao grau V; (ii) Pico e São Jorge, onde, comparativamente, existe um menor número de

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sismos sentidos, com menor intensidade, os quais são muito condicionados pelas zonas sismogénicas

vizinhas ou pela ocorrência de enxames sísmicos; (iii) Graciosa e Santa Maria, com uma baixa

sismicidade no contexto regional, poucos sismos sentidos e com intensidade inferior a grau V; (iv)

Flores e Corvo, mínima sismicidade devido ao seu enquadramento geotectónico.

A avaliação do risco sísmico de uma área urbana está associada com a perigosidade local,

vulnerabilidade do edificado e o nível de exposição. Todavia, a vulnerabilidade dos edifícios é a

condição que representa uma maior importância, dado que pode trazer consequências físicas muito

gravosas, mas principalmente porque é a condição que pode ser melhorada e mitigada (Neves et al.,

2012).

Assim, conclui-se que a atividade sísmica no arquipélago dos Açores constitui um fator de grande

relevância para estudos futuros sobre a resistência do edificado existente, de forma a reduzir a sua

vulnerabilidade sísmica, limitar o nível de danos físicos e prevenir tragédias futuras.

1.2 Objetivos e Metodologia

A presente dissertação tem como principal objetivo a avaliação do comportamento e

vulnerabilidade sísmica de um edifício de alvenaria de pedra característico do parque edificado da

cidade de Angra do Heroísmo.

Dada a complexidade sísmica do sistema geológico existente nos Açores, pretende-se

caracterizar a ação sísmica nessa zona, bem como o comportamento de um edifício localizado na Ilha

Terceira, na cidade de Angra do Heroísmo.

A cidade de Angra do Heroísmo, sendo a mais antiga do arquipélago, possui um edificado muito

próprio. Assim, será feita uma caracterização mais detalhada do edificado existente na cidade, bem

como do edifício escolhido para o estudo.

Partindo da definição detalhada das propriedades e características do edifício em estudo, será

realizado um modelo computacional, com o intuito de reproduzir o comportamento global do edifício,

aglomerado num quarteirão e tendo em conta o comportamento das paredes de alvenaria no plano.

Far-se-á a avaliação sísmica do edifício existente, recorrendo a análises estáticas não lineares

e, com base nos resultados obtidos, serão propostas soluções/medidas de reforço com o propósito de

aumentar a capacidade de resposta sísmica do edifício em estudo. Desta forma pretende-se preservar

o património imobiliário, permitindo uma contínua utilização destas estruturas.

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1.3 Organização do trabalho

A estrutura deste trabalho encontra-se dividida em 6 capítulos e III anexos.

No presente capítulo (1 Introdução), apresenta-se a introdução sobre o tema a desenvolver, bem

como os principais objetivos pretendidos, metodologia adotada e a organização do documento em si.

No segundo capítulo (2 Edificado de Angra do Heroísmo), é feita a caracterização em pormenor

do edificado existente na cidade de Angra do Heroísmo, referindo também o comportamento da cidade

ao sismo de 1 de Janeiro de 1980.

No terceiro capítulo (3 Edifício em estudo), caracteriza-se, em pormenor, o edifício que se

pretende estudar em detalhe, referindo todos os dados levantados em campo.

No quarto capítulo (4 Modelação Estrutural), é apresentada a modelação efetuada,

representando o programa de cálculo utilizado, fundamentos teóricos utilizados pelo programa,

suposições admitidas aquando da modelação e problemas/dificuldades enfrentadas.

No quinto capítulo (5 Avaliação Sísmica do Edifício), é definida a ação sísmica regulamentar e

expõem-se todas as análises realizadas, os principais resultados obtidos e comentários aos mesmos.

No final são propostas algumas soluções de reforço estrutural.

No sexto capítulo (6 Comentários finais), são apresentadas as conclusões principais sobre toda

a análise efetuada, procurando refletir sobre todo o trabalho realizado. Fazendo uma análise crítica,

são apresentados os trabalhos futuros a desenvolver no âmbito deste tema.

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2 Edificado de Angra do Heroísmo

2.1 Enquadramento Histórico

Em 1450 iniciou-se a ocupação da ilha Terceira, a mandado do Infante D. Henrique. No entanto,

só mais tarde, em 1474, é feita a divisão em duas capitanias: Angra e Praia, pela Infanta D. Beatriz.

A cidade de Angra começou a ser construída pela edificação do Forte de São Luís (1474) bem

como a envolvente urbana à sua volta, num monte denominado atualmente de Monte Brasil.

Posteriormente, a urbanização continuou a estender-se pela baía da cidade, com a construção da

muralha e do cais da Alfândega. Só numa terceira fase de construção, a cidade obtém uma forma

regular, com ruas direcionadas ao porto e ligadas entre si por um grande eixo perpendicular às mesmas

(Rua da Sé). São identificadas facilmente duas vias principais: a Rua da Sé e a Rua Direita. Ambas

ligam pontos importantes da cidade, tais como o porto e a Sé Catedral (Centro Nacional de Cultura,

2012).

A cidade apresenta uma topografia acentuada, com a existência de uma zona baixa no centro

da cidade, junto ao mar, onde se encontra uma das linhas principais a Rua Direita. Ao redor a cidade é

ladeada por colinas, onde os quarteirões construídos são delimitados por ruas que seguem as curvas

de nível e se intersectam com a Rua da Sé.

Na Figura 4 encontra-se a representação da cidade de Angra do Heroísmo retirada do livro

Itinerário de Jan Huygen van Linschoten (1579-1592).

Figura 4 Angra do Heroísmo, carta de Jan Huygen van Linschoten, 1595

O maior desenvolvimento da cidade deu-se durante a transição do séc. XV para o séc. XVI devido

às atividades portuárias, tendo a cidade um papel importante na rota das navegações entre a Europa,

América e Índia como um porto seguro de escala (Centro Nacional de Cultura, 2012). Isto fez com que

a cidade tivesse um grande desenvolvimento no comércio local, que consequentemente provocou o

crescimento e desenvolvimento da própria cidade.

O centro histórico de Angra do Heroísmo foi classificado em 1983, como Património Mundial da

UNESCO, segundo os critérios IV e VI: “Excelente exemplo de um tipo de construção ou um conjunto

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arquitetónico ou tecnológico ou paisagístico ilustrando um ou mais períodos significativos da história

da humanidade”; “Direta ou materialmente associado a acontecimentos ou tradições, ideias, crenças

ou obras artísticas e literárias com um significado universal” (Gabinete de Apoio ao Empreendedorismo

Promoção Turística e do Património, 2015).

Os edifícios mais antigos datam do século XVI e XVII, contudo, têm sofrido diversas alterações

(Dias, 1985).

A evolução do edificado ao longo do tempo levou a que fossem aparecendo vários tipos

construtivos que serão descritos neste capítulo. Os principais tipos construtivos podem dividir-se em

construção tradicional e construção corrente. Também é possível dividir o edificado em duas épocas

distintas de construção. Segundo Oliveira (1992), o ano de 1950 é o ano de viragem da construção

tradicional para a construção corrente, ou seja, o início da construção com betão armado.

Na Figura 5 pode-se observar que o centro histórico da cidade de Angra do Heroísmo é composto

maioritariamente por edifícios construídos antes de 1950. Por esta razão, a tipologia construtiva

tradicional é a que mais caracteriza o edificado da cidade de Angra.

Figura 5 Cidade de Angra. Construções anteriores a 1950 – Azul; entre 1950 e 1980 – Amarelo; entre 1980 e

1990, período posterior ao sismo – Vermelho. (Oliveira, 1992)

O parque edificado vai-se alterando ao longo da história, com os marcos definidos pelas

calamidades sísmicas que afetam as Ilhas dos Açores (Costa et al., 2008).

Após o sismo de 1980, grande parte deste edificado foi submetido a reforços, alterações e

reconstruções, contribuindo assim para um aumento da variabilidade do tipo construtivo. Muitos

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edifícios foram reconstruídos do zero com estruturas de betão armado, sendo um dos casos mais

emblemáticos da grande utilização de betão armado, a Sé Catedral. Alguns edifícios típicos de

habitação também foram reconstruídos em betão armado, outros apenas sofreram substituições de

parcelas por betão armado, e outros apenas pequenos reforços na sua estrutura (Correia Guedes &

Oliveira, 1992).

A caracterização detalhada das tipologias existentes no edificado será feita tendo em conta os

critérios seguidamente enumerados:

Tipologia e geometria global;

Elementos estruturais;

Materiais construtivos;

Tipologia do quarteirão.

2.2 Construção Tradicional

Neste tipo de construção é necessário distinguir as edificações no meio rural das edificações

urbanas, uma vez que estas apresentam algumas diferenças. Contudo, os elementos estruturais

principais e os materiais utilizados são os mesmos; a principal diferença encontra-se na geometria em

planta, tipologia e número de pisos (Correia Guedes & Oliveira, 1992).

Uma vez que se pretende descrever a cidade de Angra do Heroísmo, apenas se caracterizaram

as edificações urbanas.

A construção tradicional caracteriza-se como um tipo de construção onde as paredes exteriores

(fachada, tardoz e empenas) são constituídas por panos de alvenaria de pedra. As fachadas principais

e de tardoz possuem aberturas largas para janelas e portas, com vergas e ombreira. As paredes das

empenas são paredes meeiras, quando os edifícios são contíguos. A espessura das paredes é

constante em altura e ronda os 65 cm. O pavimento é suportado por vigas de madeira e composto por

tábuas de soalho. As paredes interiores são geralmente paredes de tabique de madeira (Correia

Guedes & Oliveira, 1992).

2.2.1 Tipologia e geometria global

Em meio urbano, as edificações estão dispostas em linha ou em quarteirão e apresentam entre

2 a 3 pisos, sendo raros os casos de edifícios com 4 pisos.

Existem três tipos distintos de geometrias: prédio de frente estreita, prédio de frente larga e casas

“nobres”. Nos prédios de frente estreita a largura da fachada ronda os 6 metros e a sua profundidade

os 12 metros. Os prédios, de frente larga, possuem uma fachada com 12 metros e uma parede de

empena com 12 metros também. As casas “nobres” são principalmente moradias e apresentam

dimensões consideráveis, sendo os edifícios de maior porte na cidade. Na Figura 6 representam-se os

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diversos tipos de geometrias recorrendo a um esboço dos prédios da Rua Direita, obtido do arquivo da

Secretaria Regional do Turismo e Transportes (SRTT).

Figura 6 a) Prédio de frente estreita, b) Prédio de frente larga, c) Casa Nobre

O pé direito tem uma variação conforme o tipo de utilização do prédio. Os pisos superiores foram

desenhados para serem utilizados como habitação (apesar de atualmente a utilização poder ser

diferente) e por essa razão possuem um pé direito de 3 a 3,5 metros. O rés-do-chão sempre foi utilizado

como zona comercial, apresentando assim um pé direito mais baixo, à volta de 2,4 metros (Correia

Guedes & Oliveira, 1992).

2.2.2 Elementos estruturais

Fundações

As fundações que suportam as paredes de alvenaria constituem um prolongamento da própria

parede em profundidade no terreno, a cerca de 30-40 cm, mantendo assim a largura da parede. Nas

moradias com meia cave (situação onde o terreno é muito inclinado) existem muros de suporte na

parede interior da cave. Estes muros são também um prolongamento da parede no terreno, contudo,

apresentam uns travessões (ligadores) perpendiculares à parede que encastram no terreno.

Nas zonas dos cunhais (correspondente à ligação de canto entre duas paredes perpendiculares)

as fundações são diferentes. Estas possuem umas sapatas que chegam até à zona mais resistente do

terreno, podendo ter uma altura de 2 metros e secções que atingem 1 m2. A sapata é composta por

alvenaria de pedra de melhor qualidade, com forma e dimensões que não podem ser utilizadas nas

paredes superiores, disposta perifericamente nas duas direções e preenchida na sua zona central com

cascalho e barro, como se pode observar na Figura 7. (Correia Guedes & Oliveira, 1992)

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Figura 7 Esquema de fundação de alvenaria de pedra (Correia Guedes & Oliveira, 1992)

Paredes exteriores

As paredes exteriores de alvenaria de pedra constituem o elemento portante total ou parcial dos

pisos, sendo também o suporte das vigas de construção da estrutura (Costa et al., 2008). Desta forma

são o elemento estrutural mais resistente.

A sua espessura pode variar entre os 60 e 70 cm.

Por razões principalmente económicas, dos proprietários das edificações, distinguem-se vários

tipos de construção de paredes. Apresentam-se de seguida os tipos mais encontrados na cidade de

Angra do Heroísmo:

Alvenaria de um pano, com pedra aparelhada regular e corredores alternados paralelos

à parede. São colocados ainda travessões perpendiculares à parede;

Alvenaria de pedra irregular onde é essencial garantir um bom imbricamento entre as

pedras. Os vazios são colmatados com materiais de granulometria mais fina e barro.

Pode apresentar “camas” (camadas finas de pedra). A qualidade da parede decresce

com a irregularidade da pedra e com o aumento de materiais de enchimento;

Alvenaria de dois panos, construída com pedras de comprimento ligeiramente superior

a meia espessura da parede, colocadas de forma a ficarem bem imbricadas.

Os tipos de parede apresentam-se representados na Figura 8. Estes exemplos foram

fotografados a partir dos edifícios danificados após o sismo de 1980.

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Figura 8 a) Alvenaria de pedra aparelhada, b) Alvenaria de pedra irregular com “camas”, c) Alvenaria de dois

panos (Correia Guedes & Oliveira, 1992)

O revestimento exterior das paredes apresenta uma espessura de 2 cm, e é feito com vários

tipos de reboco, sendo o mais utilizado composto por uma mistura de cal e barro, sobre o qual é

aplicada uma argamassa de cal e areia.

As paredes das fachadas e tardoz possuem grandes aberturas para janelas e portas, sendo

estas executadas com vergas e ombreiras. (Correia Guedes & Oliveira, 1992)

Os cunhais apresentam um papel fundamental na resistência à ação sísmica, uma vez que

garantem uma boa ligação entre as paredes. Estas zonas são constituídas por pedra aparelhada

disposta alternadamente nas duas direções da parede. Na Figura 9 pode-se observar um cunhal

simples, enquanto que na Figura 10 o cunhal é composto por mais elementos que permitem uma melhor

ligação entre as paredes. A pedra mais utilizada é designada por cantaria e consiste num grande

paralelepípedo de pedra maciça.

Figura 9 Cunhal simples (Correia Guedes & Oliveira, 1992)

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Figura 10 Esquema de cunhal com identificação dos elementos constituintes (Correia Guedes & Oliveira, 1992)

Quando os prédios são contíguos, a ligação entre as três paredes (fachadas e parede meeira) é

realizada com travamentos nas duas direções, mas com os três sentidos. (Correia Guedes & Oliveira,

1992)

Paredes interiores

Nos prédios de grande dimensão utilizam-se paredes-mestras interiores, que são paredes de

alvenaria de pedra com uma espessura de 60 a 70 cm, e que têm uma função de suporte. Normalmente

estas paredes dividem longitudinalmente o edifício e apresentam continuidade ao longo do quarteirão.

Muitas destas paredes, no rés-do-chão, apresentam aberturas em forma de arco.

No rés-do-chão podem existir paredes interiores divisórias de alvenaria de pedra, mas estas

normalmente só existem nos edifícios de maior porte, para conferir alguma resistência extra.

As restantes paredes interiores com a principal função de paredes divisórias são de tabique de

madeira ou de frontais1.

O tabique de madeira, Figura 11, é uma parede de duas faces de fasquiado de madeira ligado a

prumos afastados de 30 a 60 cm. O fasquiado é posteriormente rebocado com uma argamassa de cal,

areia e barro, que pode conter pelo de vaca ou mesmo cabelo humano. (Correia Guedes & Oliveira,

1992)

1Também se designa como parede de frontal às paredes utilizadas nos edifícios Pombalinos, com as cruzes

de Sto. André.

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Figura 11 Parede de tabique com fasquiado (Correia Guedes & Oliveira, 1992)

Os frontais, Figura 12, são paredes divisórias presentes nos prédios mais modestos, apenas com

uma face, e são constituídos por tábuas largas de soalho pregadas a prumos com afastamento superior

a 70 cm (Correia Guedes & Oliveira, 1992) (Costa et al., 2008).

Figura 12 Parede de frontal de madeira (Correia Guedes & Oliveira, 1992)

Vigas de Madeira – Tirantes

As vigas de madeira maciça são dispostas horizontalmente apoiando as extremidades no bordo

superior das paredes periféricas opostas. No último piso ligam as paredes pelos frechais e ajudam no

apoio da cobertura (Correia Guedes & Oliveira, 1992).

Pavimentos

O pavimento existente é constituído por soalho e vigas de madeira. As vigas estão afastadas de

0,50 a 2 m, dispõem-se, regra geral, perpendicularmente à fachada, e são inseridas na parede de

alvenaria no máximo 25 cm (Figura 13), vencendo vãos de 3,5 a 5,5 m na direção de menor vão. O

soalho é composto por tábuas, que podem ter larguras de 40 cm e espessura de 2,2 a 2,5 cm. Estas

tábuas são encaixadas a meio fio e pregadas às vigas de madeira (Correia Guedes & Oliveira, 1992).

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Figura 13 Ligação das vias à alvenaria de pedra (Costa, Oliveira, et al., 2008)

Coberturas

As coberturas são constituídas por estruturas de madeira e revestidas por telha regional (Figura

14).

Figura 14 a) Telha regional b) Esquema de montagem. (Correia Guedes & Oliveira, 1992)

Os edifícios alinhados contêm apenas duas águas e os edifícios de canto possuem quatro águas.

A estrutura de madeira apresenta diversos tipos, sendo os mais frequentes à “francesa”, a

“cavalo” e em “tesoura” (Figura 15). As asnas que compõem estas estruturas são simples, tendo

sempre como elementos principais duas vigas diagonais (pernas) e uma viga horizontal que faz a

ligação à parede (linha). A diferenciação entre os tipos referidos acima é feita pelos restantes elementos

adicionados à estrutura simples da asna, como é possível observar na Figura 15.

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Figura 15 a) Telhado à “francesa” b) Telhado a “cavalo” c) Telhado em “tesoura”. (Correia Guedes & Oliveira,

1992)

As edificações ricas mais antigas apresentam uma cobertura em “caixotão” (Figura 16) (Correia

Guedes & Oliveira, 1992).

Figura 16 Cobertura em “caixotão” (Correia Guedes & Oliveira, 1992)

2.2.3 Outros elementos

Chaminés – chaminés de “mãos postas”, descarregam pelo lado exterior na boca do forno e pelo

lado interior numa verga que faz a ligação do forno à cozinha.

Forno – Assente sobre um maciço; a abertura é feita com uma abóbada em barro cru. A chaminé

desenvolve-se por cima da câmara do forno.

Varandas – A varanda é corrida ou isolada, e possui um balanço inferior a 45 cm, coincidindo

com a largura do beiral. Executada com pedras inteiras, encastradas em toda a espessura da parede.

Escadas – As escadas de pedra são executadas apenas no rés-do-chão, dando acesso ao 1º

piso. Nos pisos superiores as escadas são feitas de madeira, contendo duas vigas inclinadas que ligam

aos prumos dos tabiques interiores.

Cimalhas – Peça executada também em pedra, disposta no topo da fachada principal e de tardoz.

Beirais – Desenvolvem-se a partir da cimalha e estendem-se num comprimento de

aproximadamente 60 cm para cobrir a varanda.

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2.2.4 Materiais construtivos

Nesta secção descrevem-se os materiais mais utilizados na construção tradicional na cidade de

Angra do Heroísmo.

As pedras mais utilizadas são de basalto, andesito e traquito. As suas dimensões são variadas

e são utilizadas em diversos elementos arquitetónicos, como varandas, cimalhas, etc., para além da

sua utilização nas alvenarias.

As argamassas utilizadas na construção tradicional, antes da utilização do cimento, são feitas à

base de cal com a adição de barro e areia.

A madeira utilizada nas diversas estruturas (cobertura, pavimento) é de origem local ou exótica

(madeira importada). As espécies locais mais utilizadas são a acácia, o eucalipto, a faia-da-terra, a faia-

do-norte, o pinho-da-terra, a roseira e o cedro. As madeiras importadas são o pinho resinoso, o pinho-

de-flandres e o pau-brasil.

A telha regional utilizada nas coberturas é composta por barro e materiais pomíticos, muito

porosos. (Correia Guedes & Oliveira, 1992)

2.2.5 Tipologia do quarteirão

Os quarteirões da cidade apresentam regularidade em planta, sendo retangulares e alongados,

e contendo geralmente entre 20 a 30 edifícios. (Correia Guedes & Oliveira, 1992)

No mesmo quarteirão, os edifícios apresentam uma altura muito variável, para além da que se

verifica entre edifícios com o mesmo número de pisos. Este aspeto tem uma grande influência no

comportamento dos edifícios à ação sísmica, uma vez que a envolvente de um edifício condiciona o

seu movimento horizontal lateral.

Com base na classificação realizada no 2º Relatório dos Estudos sobre a ação do sismo dos

Açores de 1/1/1980 (Borges & Ravara, 1980), foi caracterizada a envolvente dos edifícios em banda.

Assim, considera-se como confinado, um edifício que tem como edifício contíguo um prédio com altura

igual ou superior, sendo que, numa banda podem distinguir-se as seguintes situações:

Edifícios intermédios confinados em ambas as empenas;

Edifícios intermédios confinados só de um lado;

Edifícios intermédios não confinados (apresentam altura maior que a dos edifícios

adjacentes);

Edifícios de extremidade confinados de um lado;

Edifícios de extremidade não confinados.

Apesar desta caracterização simplificar a identificação das condições fronteira de cada edifício,

o termo utilizado “confinado” não é o mais apropriado, uma vez que ao nomear “edifício não confinado”

estamos a classificar um edifício que realmente se encontra confinado pelos prédios adjacentes, mas

apenas até à altura dos mesmos.

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2.2.6 Comportamento ao Sismo de 1980

O parque habitacional da cidade de Angra do Heroísmo sofreu grandes danos aquando do sismo

de 1980, principalmente nas construções de alvenaria.

Logo após o sismo, foram feitos levantamentos dos danos causados por Soeiro (Direção dos

Serviços da Habitação, Urbanismo e Ambiente de Angra do Heroísmo DSHUAAH) (1980) e pelo

Gabinete de Apoio à Reconstrução. Destes levantamentos resultou uma caracterização da cidade por

níveis de dano. Na Figura 17 é possível ver o mapa da cidade com a distribuição de danos

Figura 17 Mapa de danos da cidade de Angra do Heroísmo após o sismo de 1980 (Soeiro & DSHUAAH, 1980)

Como é possível observar na Figura 17, a distribuição de danos não foi homogénea. Na zona

baixa do centro histórico da cidade os quarteirões apresentaram danos mais leves (mancha mais

alaranjada), contudo na zona mais elevada houve uma maior destruição de prédios (mancha escura).

Esta diferença no comportamento ao sismo deu-se como consequência da diferenciação da

geologia superficial, da topografia do terreno e do edificado existente. Geologicamente, a cidade

apresenta dois tipos de formações distintas, que podem apresentar propriedades geotécnicas

diferentes e ter um comportamento sísmico diverso (Teves-Costa et al., 2004).

Comparando a Figura 5 com a Figura 17, conclui-se que a maior parte dos edifícios atingidos

pelo sismo foram os edifícios tradicionais de alvenaria de pedra.

Neste tipo de edifícios, uma vez que as paredes de alvenaria possuem uma massa mais elevada,

sendo também os elementos estruturais mais rígidos, são os mais solicitados pela ação sísmica. Estes

elementos só possuem um bom comportamento quando a alvenaria é de boa qualidade e a ligação

entre os restantes elementos é bem executada.

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Desta forma, foi possível observar todo o tipo de danos para paredes de alvenaria, variando

estes danos apenas com a qualidade da alvenaria existente e com o meio envolvente do edifício em

questão. De uma forma geral, os danos observados foram (Correia Guedes & Oliveira, 1992):

1. Fissuração dos rebocos, em ambos os lados da parede, e queda dos mesmos em alguns

casos;

2. Abertura de fendas nas paredes de alvenaria, principalmente na zona dos cunhais e de

aberturas;

3. Deslocamentos nas zonas dos cunhais, com consequente desprendimento de pedras;

4. Colapso de parte da parede;

5. Colapso geral da parede.

Para além dos danos nas paredes de alvenaria, as coberturas destes edifícios também sofreram

bastantes danos, principalmente devido às zonas de ligação/apoio da própria estrutura à parede de

alvenaria. Na Figura 18 pode-se observar o mecanismo de colapso das estruturas da cobertura. Em

casos mais graves, as coberturas colapsaram devido à queda parcial das paredes de empena não

confinadas (Borges & Ravara, 1980).

Figura 18 Mecanismos de desagregação da estrutura da cobertura (Correia Guedes & Oliveira, 1992)

Os pavimentos dos edifícios apresentaram um bom comportamento. Apenas os pavimentos com

uma deficiente ligação à parede de alvenaria tiveram danos significativos.

As fundações situadas em solos com pior qualidade (solos mais brandos) não apresentaram um

comportamento adequado.

O comportamento em quarteirão influenciou muito os danos e mecanismos de rotura obtidos. A

existência de desníveis entre prédios, devido à inclinação do terreno, variação do pé-direito ou do

número de pisos, provocou colisões em zonas localizadas que causaram danos (Correia Guedes &

Oliveira, 1992). Na Figura 19 é possível observar o tipo de mecanismos identificados num dos

quarteirões da cidade.

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Figura 19 Principais mecanismos de rotura em quarteirão (Correia Guedes & Oliveira, 1992)

De notar, que os edifícios intermédios não confinados, apresentaram mais danos. Contudo, os

edifícios de gaveto sofreram danos de maior gravidade. Isto deve-se ao posicionamento dos mesmos,

uma vez que o movimento dos restantes edifícios se propaga até ao canto do quarteirão. Assim, os

edifícios de gaveto estão sujeitos a um impulso maior, proveniente das duas direções ortogonais

(Correia Guedes & Oliveira, 1992).

2.2.7 Alteração da construção tradicional

O edificado da cidade foi sofrendo diversas alterações devido às ações sísmicas a que foi sujeito.

Contudo, o sismo de 1980 foi o que causou mais danos, sendo a maior parte das grandes alterações

feitas a partir dessa data.

Antes do sismo de 1980, as principais alterações incidem sobre a reparação das paredes de

alvenaria e de cunhais. De notar que as paredes reparadas antes do sismo de 1980 apresentaram um

melhor comportamento (Correia Guedes & Oliveira, 1992).

Após o sismo de 1980 foram implementadas várias medidas de reforço de estruturas,

apresentadas no documento “Estudos sobre a Ação do Sismo dos Açores de 1/1/1980” (Borges &

Ravara, 1980), que foram aplicadas conforme os casos e danos obtidos. Nem todos os edifícios

receberam o mesmo tratamento, uma vez que ficou ao critério de cada pessoa executar ou não os

reforços recomendados.

As alterações mais diferenciadas da construção tradicional consistiram na utilização de

elementos de betão armado.

Para a reconstrução das paredes de alvenaria foram executados montantes, nas zonas dos

cunhais, e cintas, ao nível das lajes, de betão armado. Todas as especificações sobre estes elementos

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encontram-se descritas no relatório “Estudos sobre a Ação do Sismo dos Açores de 1/1/1980” (Borges

& Ravara, 1980). Em alguns casos foram utilizados blocos de cimento em vez de blocos de pedra.

Os pavimentos e as estruturas de cobertura em pior estado foram substituídos por lajes de betão

armado. Todas as vigas de madeira que se encontravam em bom estado foram alvo de técnicas de

manutenção. De notar que posteriormente foram adicionados anexos aos edifícios de forma a introduzir

casas de banho, e os pavimentos construídos eram em laje de betão armado.

Em alguns casos foi necessária uma intervenção mais intrusiva, reconstruindo assim edifícios

com estruturas de betão armado, mantendo apenas as paredes de alvenaria das fachadas e em alguns

casos as paredes de empena.

2.3 Construção corrente

Como já foi referido anteriormente, 1950 é o ano de transição para a construção com elementos

em betão armado. Na Figura 5, pode-se observar que os edifícios posteriores a 1950 se situam na

periferia da cidade.

Este tipo construtivo é caracterizado por uma construção com estrutura resistente em betão

armado, paredes de blocos de cimento, pavimentos e coberturas em lajes de betão armado. Como se

pode concluir, é também a tipologia utilizada na reconstrução após o sismo de 1980.

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3 Edifício em estudo

Como referido, o objetivo deste trabalho consiste na caracterização e estudo do comportamento

de um edifício de construção tradicional da cidade de Angra do Heroísmo à ação sísmica. Por esta

razão procurou-se um edifício representativo deste tipo, que não tenha sofrido muitas alterações desde

a sua construção. A envolvente de um edifício tem uma grande relevância no seu comportamento a

ações horizontais. Desta forma, foi escolhido um edifício situado no interior de uma banda de edifícios.

O edifício situado na Rua Direita, nº 54-60 (Figura 20) pertencente ao quarteirão B12 segundo o

arquivo da SRTT (Figura 21), foi o edifício escolhido para o estudo a realizar. Na Figura 22 apresenta-

se a vista em planta, atual, da baixa da cidade, com a localização do edifício em estudo a azul. Este

edifício é o mais alto do quarteirão, por isso trata-se de um edifício intermédio não confinado, segundo

a denominação feita na secção 2.2.5.

Figura 20 Edifício de estudo: Rua Direita, nº 54 a 60

Figura 21 Quarteirão B 12 da cidade de Angra do Heroísmo (adaptado do Arquivo SRTT)

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Figura 22 Planta atual da baixa de Angra do Heroísmo, com a localização do edifício em estudo (Imagem de

satélite retirada do Google Maps)

3.1 Enquadramento histórico

No século XIX, António Pedro Simões era marinheiro e capitão do navio “Flor de Angra”. Este

navio fazia a rota entre a Ericeira e o Brasil, parando na baía de Angra do Heroísmo para

abastecimento, carga e descarga. Em 1872, o navegador António Simões casa-se em Angra do

Heroísmo e constrói um prédio com a finalidade de armazém e comércio local.

3.2 Caracterização

Para caracterizar detalhadamente o edifício em estudo seria necessário ter plantas, memória

descritiva do edifício, etc., contudo, como o edifício foi construído por volta de 1872, não existem

documentos da sua construção. Esta procura foi feita recorrendo ao arquivo da Câmara Municipal de

Angra do Heroísmo e ao arquivo da SRTT.

As plantas necessárias à modelação do edifício foram obtidas através de um levantamento

arquitetónico feito em várias visitas ao edifício. Este levantamento foi executado com uma fita métrica.

As plantas resultantes apresentam-se detalhadamente no Anexo I.

De forma a poder confirmar o correto levantamento arquitetónico, foram recolhidos os projetos

dos edifícios adjacentes. Estes foram fornecidos pelo arquivo da Câmara Municipal de Angra do

Heroísmo e pelo proprietário de um dos edifícios. Encontram-se no Anexo II as plantas e cortes

utilizados neste trabalho.

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Foram comparadas as características das paredes meeiras entre os edifícios, e uma vez que

estas apresentam uma inclinação em planta coincidente com a inclinação obtida no levantamento,

admitiu-se que as plantas executadas estavam corretas.

Através da observação direta dos elementos estruturais foi possível deduzir, com base na

bibliografia consultada (Correia Guedes & Oliveira, 1992), as características destes elementos, bem

como os seus materiais constituintes. Também foi essencial a visita com o Sr. António Pedro de

Meneses Simões que permitiu a recolha de informações fundamentais sobre os materiais constituintes.

O edifício pode ser descrito em planta, como sendo constituído por uma zona principal de forma

quadrangular e outra pequena zona retangular prolongada na parte tardoz do edifício. Neste trabalho,

de forma a simplificar a identificação destes elementos, a zona principal quadrangular será designada

por corpo 1 e a zona retangular será designada por corpo 2.

O edifício apresenta três pisos, com diferentes tipos de utilização. O rés-do-chão é utilizado como

um espaço comercial, que existe desde a construção do edifício, ou seja, ainda se trata da mesma loja

que vende produtos regionais e especiarias avulso. O primeiro piso é dividido em duas zonas, uma com

escritório e outra para armazenamento dos produtos vendidos na loja. O terceiro piso é utilizado como

habitação. Apesar de não estar a ser utilizado atualmente para este fim, ainda contém todo o mobiliário

original.

Os detalhes principais das plantas executadas apresentam-se na Figura 23.

Figura 23 Plantas obtidas do levantamento arquitetónico. *Os círculos representam os pilares existentes

Devido ao tipo de utilização dos dois primeiros pisos não houve a preocupação ou necessidade

de cobrir a estrutura do pavimento (Figura 24), por esta razão os pés direitos nestes dois pisos são

muito elevados para o habitual nestas situações. O primeiro piso tem um pé direito de 3,85 metros e o

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segundo piso um pé direito de 3,95 metros (incluindo já a altura das vigas de madeira e das vigas do

pavimento).

Figura 24 Estrutura do pavimento à vista na zona comercial

No terceiro piso o teto já não mostra o pavimento. Contudo, como se trata de um piso de

habitação, o pé direito é mais elevado, com cerca de 3,95 metros.

Com as visitas feitas ao edifício, verificou-se que o mesmo sofreu alterações mínimas ao longo

dos anos. Não foram feitas quaisquer alterações ou reforços à sua estrutura, mantendo assim o edifício

as perfeitas características da tipologia tradicional.

3.2.1 Estrutura

Fundações

Uma vez que não foi possível saber o tipo de fundações utilizadas na construção do edifício,

admitiu-se que este possui as fundações diretas descritas na secção 2.2.2.

Paredes exteriores

As paredes de fachada e empena são de alvenaria de pedra. As paredes de fachada (frente e

tardoz) têm uma espessura de 60 cm, medida no local. Como não foi possível medir a espessura das

paredes de empena, admitiu-se que as mesmas possuem a espessura das paredes de fachada.

Paredes interiores

O edifício de estudo nos primeiros dois pisos possui poucas paredes interiores, uma vez que se

trata de um espaço aberto dimensionado para um uso comercial.

No rés-do-chão existem mais três paredes de alvenaria de pedra, também com 60 cm de

espessura, que delimitam uma divisão utilizada como escritório.

Todas as outras paredes interiores são de tabique de madeira tradicional, com fasquiado de

dupla face e uma espessura de 10 cm. Na Figura 25 pode-se observar uma parede de tabique que foi

destruída.

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Figura 25 Parede de tabique existente no edifício de estudo

Vigamento de Madeira e Pilares Metálicos

O edifício possui duas vigas principais, de madeira de pinho resinoso, paralelas à fachada. Estas

dividem o pavimento em três zonas, com vãos de, aproximadamente, 5, 4 e 4,5 metros. Existe ainda

outra viga no alinhamento da fachada de tardoz, com menor comprimento, que divide o corpo 1 do

corpo 2.

As vigas de madeira têm uma secção transversal retangular com 30x20 cm.

Na Figura 26 apresenta-se uma planta dos três pisos com a representação da posição das vigas

de madeira existentes.

Figura 26 Representação do vigamento de madeira a castanho

Existem também pilares metálicos que suportam as vigas, dois por cada viga. Estes pilares

apenas estão presentes nos dois primeiros pisos e têm uma secção circular, que se reduz em altura.

O diâmetro máximo (na base) dos pilares é de 22 cm.

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Na Figura 27 pode-se observar a estrutura conjunta das vigas principais de madeira e dos pilares

metálicos.

Figura 27 a) 1º Piso, b) 2º Piso

Pavimento

O pavimento de todos os pisos é composto por uma estrutura de vigas de madeira e tábuas de

soalho.

As vigas que suportam o soalho estão dispostas com um espaçamento de 130 cm e a sua secção

transversal é retangular com 30x15 cm. No corpo 1, as vigas do pavimento estão colocadas

perpendicularmente às vigas principais de madeira. No corpo 2 as vigas dispõem-se

perpendicularmente à parede da empena. Na Figura 24, apresentada anteriormente, pode-se observar

o pavimento existente no corpo 1. Na Figura 28 apresenta-se a fotografia representativa da estrutura

do pavimento no corpo 2.

Figura 28 Estrutura do pavimento existente no corpo 2

Cobertura

A cobertura é suportada por uma estrutura simples de madeira. Esta estrutura é composta por

agregados, de duas vigas diagonais e uma travessa que as liga, que estão espaçados de 185 cm

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(Figura 29). Este tipo de cobertura é designado como cobertura à “francesa”, como foi indicado no

capítulo anterior, secção 2.2.2.

Figura 29 Estrutura de suporte da cobertura

Varanda

Existem duas varandas na fachada principal, uma no segundo piso e outra no terceiro piso. Estas

varandas têm uma largura de 40 cm e um comprimento de 12,8 metros, uma vez que atravessam a

fachada de um lado ao outro. São compostas por cantaria de pedra e encontram-se encastradas na

parede de fachada.

3.3 Alterações após o sismo de 1980

Após o sismo de 1980, não houve danos significativos na estrutura, como é possível verificar

através da ficha do inventário arquitetónico realizada após o sismo (Direcção-Geral do Planeamento

Urbanístico, 1980), que se encontra no Anexo III. Na Figura 30 é possível observar o estado do edifício

em estudo logo após o sismo.

Figura 30 Edifício em estudo a 17/03/1980 (retirado da Ficha de Levantamento Arquitetónico nº 549)

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Os danos provocados nas paredes de alvenaria foram reparados sem adição de elementos ou

malhas metálicas, ou seja, apenas com a reparação do reboco original.

Como o edifício é o mais alto do quarteirão, a empena no piso superior encontra-se mais

desprotegida. Uma vez que houve uma maior oscilação nesta zona, foi adicionado um esticador

metálico que liga uma empena à outra, como se pode observar na Figura 31.

Figura 31 a) Junção do esticador metálico, b) Encastramento do esticador metálico na parede de empena

3.4 Anomalias

Durante a visita ao edifício foi observado a existência de fendas nas paredes de alvenaria de

empena, principalmente nas zonas das escadas, Figura 32. Assim será relevante considerar a

fendilhação das paredes no modelo computacional a executar.

Figura 32 Fendas nas paredes de empena – Zona de escadas

Apesar do edifício ter as estruturas de madeira originais, estas encontram-se em muito bom

estado, pois são de boa qualidade e há uma boa manutenção das mesmas.

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3.5 Caracterização da envolvente

Os dois edifícios adjacentes também possuem três pisos, contudo, os seus pés direitos são mais

baixos, fazendo com que o edifício em estudo seja o mais alto. Pode observar-se esta diferenciação

através do alçado representado na Figura 33.

Figura 33 Alçado da fachada do edifício em estudo e da sua envolvente (Arquivo SRTT)

Ambos os edifícios adjacentes sofreram várias alterações ao longo dos anos, pelo que foi

possível aceder às suas plantas através do arquivo da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo. Estes

documentos existem devido ao facto de ambos os edifícios terem sido submetidos a um projeto de

reabilitação após o sismo de 1980.

O edifício contíguo do lado direito foi completamente remodelado, tendo sido construído de novo

com uma estrutura de betão armado, mantendo apenas as paredes exteriores de alvenaria de pedra.

No edifício contíguo do lado esquerdo, o pavimento de madeira foi substituído por uma laje

aligeirada de vigotas, suportada por um pórtico em betão armado. Também se mantiveram as paredes

exteriores em alvenaria.

Na Figura 34 está representada a planta do primeiro piso do conjunto de edifícios.

Assim sendo, é de grande relevância a modelação das lajes de betão dos pisos adjacentes, uma

vez que são pavimentos rígidos que terão grande influência no comportamento sísmico.

Figura 34 Planta do 1º Piso do edifício em estudo e a sua envolvente

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4 Modelação Estrutural

4.1 Introdução

Pretende-se avaliar a capacidade sísmica da estrutura descrita no capítulo anterior. Para tal,

existem diversos métodos de análise, que podem ser lineares ou não lineares e, estáticos ou dinâmicos.

Segundo a secção 4.3.3 da norma EN 1998-1 (CEN, 2004a) as análises sísmicas podem ser

realizadas através de:

a) Método de análise por forças laterais (análise linear estática);

b) Análise dinâmica linear por espectro de resposta;

c) Análise estática não linear (pushover);

d) Análise dinâmica não linear.

As análises lineares apresentam mais limitações quanto aos resultados obtidos (Lourenço,

2002), no entanto, devido à sua simplicidade, são as mais utlizadas para estudos preliminares em

edifícios de alvenaria e para o dimensionamento sísmico de estruturas correntes. Uma vez que se

pretende calibrar o modelo desenvolvido tendo por base resultados experimentais do comportamento

dinâmico da estrutura, irá ser feita uma análise dinâmica linear (modal) que permite obter os modos de

vibração fundamentais e as frequências próprias de vibração do modelo executado.

As análises lineares (a e b) assumem uma distinção entre mecanismos dúcteis e frágeis. No

caso de estruturas de alvenaria, esta situação raramente acontece, uma vez que, na maioria dos casos,

os mecanismos de rotura no plano, das paredes de alvenaria, são dados por um comportamento misto

de corte-flexão. Ao classificar estes mecanismos como frágeis, sem admitir a capacidade de

deformação não linear da estrutura, estar-se-ia a subestimar a capacidade sísmica do edifício, pelo que

os resultados com as análises lineares não seriam corretos. (Magenes & Penna, 2009)

Uma análise dinâmica não linear é mais precisa e reproduz melhor a resposta dos edifícios,

porém, envolve uma grande complexidade e esforço computacional, pois requer a integração no tempo

da aceleração e velocidade da ação e dos deslocamentos obtidos (Lapa, 1987), pelo que, para

aplicações comuns, não é a mais indicada (Magenes & Penna, 2009).

As análises não lineares são geralmente consideradas como as mais adequadas para avaliar o

comportamento, à ação sísmica, de edifícios antigos de alvenaria (Lourenço, 2002).

Seguindo o procedimento indicado para a análise de edifícios no EC8 - Parte 3, Capítulo 4 (CEN,

2004b), e seguindo o Anexo C sobre edifícios de alvenaria (do mesmo Eurocódigo), conclui-se que a

análise correta a efetuar será uma análise não-linear. Isto, porque o edifício em estudo, não apresenta

um pavimento rígido, suficientemente ligado à parede de alvenaria de forma a distribuir as forças de

inércia pelos elementos verticais (tópico C.3.1 e C.3.2 do Anexo C do EC8 – Parte 3 (CEN, 2004b)).

Assim sendo, e atendendo ao referido anteriormente, para estudar adequadamente o

comportamento sísmico do edifício, a análise a utilizar será a análise estática não linear - pushover.

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O principal objetivo desta análise passa pela obtenção das curvas de capacidade resistente da

estrutura e a determinação do deslocamento de desempenho (deslocamento objetivo) para a ação

sísmica regulamentar. Para o deslocamento determinado, analisar-se-á a distribuição de danos

correspondentes, identificando-se as zonas com maior dano e que necessitam de reabilitação.

Os modelos numéricos foram elaborados com o programa 3MURI versão 5.5.110 (S.T.A. Data,

2005).

4.2 Programa 3MURI/TREMURI

O programa de cálculo 3MURI (S.T.A. Data, 2005) foi desenvolvido em conjunto pela S.T.A. Data

e pela Universidade de Génova, tratando-se de uma versão comercial do programa TREMURI

(Lagomarsino et al., 2002). Por sua vez este programa (TREMURI) é uma versão científica

desenvolvida inicialmente pela Universidade de Génova. Ambos os programas foram criados

especificamente para a análise sísmica e estrutural de edifícios de alvenaria, com a possibilidade de

introduzir elementos lineares, como por exemplo pavimentos em betão armado, vigas de madeira, etc.

De notar que a maioria dos programas de cálculo comerciais, não consideram o comportamento

não linear e de rotura de elementos estruturais por corte. Uma vez que uma estrutura de alvenaria

apresenta uma resposta muito condicionada pelo corte e flexão, é importante utilizar um programa que

considere este tipo de efeito.

Para modelar corretamente, o comportamento estrutural da alvenaria é necessário considerar:

uma ligação capaz de descrever corretamente o comportamento dos materiais sujeitos à ação sísmica

e que tem em conta o respetivo modo de deformação e colapso; um modelo capaz de esquematizar a

estrutura tendo em conta as características globais e a interação dos vários elementos (paredes,

pavimentos); as normas de verificação de segurança impostas pelo código (S.T.A. Data, 2000).

O programa 3MURI apresenta estas características, pelo que foi o programa escolhido para a

modelação.

Existem vários métodos de cálculo propostos para a análise sísmica de paredes de alvenaria,

por exemplo: método POR, método dos elementos finitos, equivalent frame method with

macroelements. No entanto, o 3MURI usa um método por macro-elementos designado FME (Frame by

Macro Elements) baseado no equivalent frame method with macroelements (S.T.A. Data, 2000).

Mais à frente será descrito o método por macro-elementos utilizado pelo 3MURI.

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35

4.3 Modelação

Uma vez que se pretende apenas caracterizar o comportamento no plano das paredes de

alvenaria, utilizando o programa 3MURI é considerado que as ligações existentes entre os elementos

estruturais (paredes ortogonais entre si, pavimentos e paredes) são adequadas, evitando a ocorrência

de mecanismos locais fora do plano.

Foram elaborados dois modelos distintos com o programa 3MURI. Um modelo representa o

edifício em estudo isolado, com todas as características descritas anteriormente no capítulo 3.2. O

outro modelo representa o edifício em estudo com os dois edifícios que lhe são adjacentes.

Esta diferenciação nos modelos permitirá analisar, comparativamente, a interação da envolvente

quando um edifício é sujeito a ações horizontais.

Dado que o edifício em estudo é o mais alto do quarteirão, e que os edifícios adjacentes têm pés

direitos distintos do caso de estudo (o que implica que as lajes de piso se encontram a diferentes níveis)

é de grande relevância uma correta modelação das lajes de piso, bem como as alturas das paredes

adjacentes, uma vez que terão influência no comportamento sísmico.

Como se pretende realizar análises não lineares, é de extrema importância modelar o edifício o

mais realista possível, isto é, que tenha todas as características bem definidas e fundamentadas de

acordo com o que foi observado em campo.

Para tal, foi então necessário definir as propriedades mecânicas dos materiais existentes, as

secções dos elementos estruturais, bem como a sua disposição e geometria, e as cargas a que a

estrutura está sujeita.

De notar que todos os parâmetros regulamentados pela Norma Europeia – EC 8 (CEN, 2010)

estão integrados no programa, facilitando assim a sua consulta e adoção.

4.3.1 Caracterização dos materiais

Para a caracterização dos materiais existentes foi necessário introduzir o módulo de elasticidade

(E), o módulo de distorção (G), o coeficiente de Poisson (ν), o peso volúmico (w), a resistência média

à compressão (fm) e a resistência ao corte (τ).

Os materiais estruturais principais utilizados no edifício em estudo são: alvenaria de pedra,

madeira de pinho e ferro fundido. Nos edifícios adjacentes, para além da alvenaria de pedra, existem

elementos de betão armado.

Como se trata de uma estrutura existente, o EC 8 – Parte 3 (CEN, 2004b) exige uma minoração

das propriedades dos materiais por um fator de confiança. Este fator de confiança é definido de acordo

com o nível de conhecimento da estrutura.

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36

Dado que não foi possível efetuar quaisquer ensaios in situ aos elementos estruturais e uma vez

que apenas houve observação visual dos materiais, o nível de conhecimento admitido foi o KL1 –

Limited knowledge.

Assim, todas as propriedades mecânicas de seguida mencionadas foram minoradas pelo fator

de confiança de 1,35 (KL1 – Limited knowledge).

4.3.1.1 Alvenaria

A natureza de uma alvenaria implica que a sua caracterização seja dificultada pela sua

heterogeneidade, ou seja, pelo simples facto de possuir um bloco de material sólido e um ligante com

características completamente distintas. No caso de uma alvenaria antiga há a dificuldade acrescida

de caracterizar os materiais intrínsecos da mesma, uma vez que o leque de materiais utilizados, é

grande.

As alvenarias de pedra utilizadas nos Açores possuem uma grande variedade de materiais, uma

vez que se recorre aos materiais rochosos vulcânicos presentes em cada ilha, e cada ilha tem um

historial vulcânico distinto. Mesmo numa só ilha existem diferentes formações rochosas de onde são

aproveitados materiais de construção, pelo que uma alvenaria pode ser composta por pedras com

diferentes características entre si (Correia Guedes & Oliveira, 1992).

O Laboratório Regional de Engenharia Civil (LREC) está de momento a conduzir testes

experimentais de caracterização das alvenarias utilizadas nos açores. Segundo o Relatório do LREC

Nº 15/2011 (Medeiros, 2011a) o tipo de alvenaria de pedra mais representativo da construção

tradicional açoriana é o que possui dois panos de blocos assente com argamassa de fraca resistência.

Dado que o LREC finalizou a etapa que trata da caracterização mecânica de vários provetes de

alvenaria tipo, os valores utilizados na caracterização da alvenaria do edifício em estudo foram retirados

do Relatório Nº 98/2011 (Medeiros, 2011b), fornecido pelo LREC. Os valores utilizados apresentam-se

na Tabela 2 e são relativos aos provetes ME.1 – provetes de alvenaria de pedra com revestimento de

argamassa bastarda de cal com cimento e areia, ao traço 1:1:6, em massa.

Tabela 2 Propriedades da parede de alvenaria

w

[kN/m3]

fm

[MPa]

E

[GPa]

Alvenaria de pedra 19,3 1,6 2,0

De forma a considerar a fendilhação das paredes de alvenaria, o módulo de elasticidade

considerado na modelação foi reduzido para metade do seu valor (CEN, 2004b).

Os valores de resistência característica à tração não foram testados experimentalmente, pelo

que é admitido que este valor é 5% do valor da resistência característica à compressão (Lourenço,

2009). Segundo a Norma Italiana (NTC, 2008) o valor da resistência característica de corte é dado por

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37

𝑓𝑡 = 1,5 𝜏. O valor do módulo de distorção foi admitido como sendo 𝐺 = 0,3 𝐸, também segundo a

Norma Italiana para paredes de alvenaria (NTC, 2008).

4.3.1.2 Madeira

A madeira estrutural utilizada no edifício foi descrita, aquando das visitas ao edifício, como pinho

resinoso proveniente do Brasil, também utilizado na altura para a produção de navios. Não foi possível

identificar concretamente a espécie de madeira utilizada no edifício, uma vez que o nome pinho

resinoso não está atribuído a nenhuma espécie de pinhos, ou seja, este nome foi adotado na região

para descrever aquele tipo de madeira.

A caracterização das propriedades resistentes da madeira em edifícios existentes é dificultada

por vários aspetos. Geralmente a espécie é classificada por observação visual. Existe uma variabilidade

nas características devido à variabilidade natural dentro de cada espécie. Para além disso, o estado de

conservação da madeira também influencia a sua capacidade resistente (Cardoso et al., 2001).

Dado que são necessárias várias condições de caracterização às quais não existe acesso, foi

considerada na modelação a madeira pinho bravo.

Esta madeira poderá servir como referência uma vez que a envolvente dos seus valores

resistentes traduz uma grande variabilidade e os valores médios característicos são relativamente

baixos, pelo que é uma opção conservativa (Cardoso et al., 2001).

Este tipo de madeira possui as características definidas na Norma Portuguesa NP 4305 (LNEC,

1995) e NP ENV 1995-1-1 (CEN, 1995) e a sua classe de resistência é indicada como C18 na Norma

Europeia EN 338 (CEN, 2002). Para madeira maciça o fator parcial de segurança do material é de 1,3

(CEN, 2002).

4.3.1.3 Ferro fundido

Por impossibilidade em saber as características do material existente admitiu-se as propriedades

do aço S235, por ter características semelhantes. Estas características mecânicas estão definidas na

Norma Europeia EN 1993-1-1 (CEN, 2005b).

4.3.1.4 Betão

Os elementos de betão armado estão apenas presentes nos pavimentos dos edifícios

adjacentes. Desta forma, para a caracterização dos elementos de betão é apenas necessário definir o

módulo de elasticidade (E), o módulo de distorção (G) e o coeficiente de Poisson (ν), uma vez que estes

elementos são modelados com um comportamento linear.

Admitiu-se um betão da classe C16/20, por falta de informação e por ser uma classe de betão

comum neste tipo de edifícios. As propriedades mecânicas desta classe de resistência e o coeficiente

de Poisson estão definidas na Norma Europeia EN 1992-1-1 (CEN, 2005a).

Na Tabela 3 apresenta-se o quadro resumo com todas as propriedades utilizadas na modelação,

já minoradas pelo fator de confiança.

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38

Tabela 3 Propriedades dos materiais

w

[kN/m3]

E

[GPa]

G

[GPa]

ν fm

[MPa]

τ

[MPa]

Alvenaria de pedra 19 0,741 0,222 - 118,52 3,21

Madeira C18 4 9 0,560 - 19,30 -

Aço S235 79 210 80,769 - 171,10 -

Betão C16/20 25 29 12,083 0,2 32,40 -

4.3.2 Definição das Cargas

Dada a relevância da definição da massa de uma estrutura, para o seu comportamento dinâmico

(Monteiro & Bento, 2012), e das cargas verticais aplicadas é importante fazer uma caracterização real

do edifício que se pretende estudar.

À exceção das paredes, a massa de todos os elementos adicionados é definida pelo peso próprio

que é introduzido na interface do 3MURI.

A estrutura do pavimento é composta por soalho e vigas de madeira. O peso próprio da mesma

foi calculado de acordo com as dimensões obtidas em campo, apresentadas anteriormente na secção

3.2.1.

Foram consideradas algumas suposições no cálculo da carga permanente da estrutura dos

pavimentos. Admitiu-se que as paredes de tabique possuem um peso por área de 0,5 kN/m2, valor

atribuído a “Divisórias Leves” nas Tabelas Técnicas (Ferreira & Farinha, 1974), e que a espessura da

tábua do pavimento é de 2,5 cm, tendo por base a espessura habitual neste tipo de edifícios antigos

(Neves et al., 2008).

O edifício em estudo possui diferentes tipos de utilização. Este contém no primeiro piso um

espaço comercial de venda de variadas iguarias e produtos regionais, o segundo piso serve de

escritório e armazém e o terceiro piso é utilizado como habitação, como se pode observar na Figura

35.

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39

Figura 35 Tipos de utilização por piso do edifício em estudo

Uma vez que o segundo piso tem dois tipos de utilização distintos, mas que estão espacialmente

bem definidos, a estrutura de pavimento de madeira foi dividida em várias áreas de forma a conter as

diferentes sobrecargas de utilização para uma melhor caracterização da situação real. De notar que

também se dividiu o pavimento no corpo 2, devido à mudança da orientação das tábuas de suporte do

soalho, pelo que o pavimento passa a ter um comportamento à flexão na direção oposta. Na Figura 36

pode-se observar as divisões feitas.

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40

Figura 36 Separação das zonas de utilização – Piso 2

A combinação de ações a utilizar na verificação de segurança à ação sísmica encontra-se

representada na Equação (1).

𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑃𝑒𝑟𝑚𝑎𝑛𝑒𝑛𝑡𝑒 + 𝜓2 × 𝑆𝑜𝑏𝑟𝑒𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 + 𝑆𝑖𝑠𝑚𝑜 (1)

Na Tabela 4 apresentam-se as sobrecargas de utilização aplicadas sobre as diferentes áreas,

segundo a Norma NP EN 1991-1-1 (CEN, 2009b), bem como os coeficientes 𝜓, segundo a Norma NP

EN 1990 (CEN, 2009a).

Tabela 4 Coeficientes 𝜓2 e sobrecargas de utilização

Coeficiente 𝝍𝟐 Sobrecarga

[kN/m2]

Escritório – Piso 2: A 0,3 3,0

Armazém – Piso 2: B 0,8 7,5

Armazém – Piso 2: C 0,8 5,0*

Habitação – Piso 3 0,3 2,0

*A sobrecarga de armazém na zona C é inferior porque não se justificava uma sobrecarga tão elevada nesta zona

do piso 2, uma vez que o conteúdo desta parte do armazém não é muito pesado.

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41

A varanda é constituída por cantaria de andesito ou traquito (Correia Guedes & Oliveira, 1992).

Foi admitido um peso específico da rocha andesito ou traquito de 2000 Kg/m3 (Mendonça, 2005).

Dado que a cobertura não tem grande influência no comportamento dinâmico da estrutura, esta

não foi modelada. Contudo, foi adicionada a carga/massa que esta aplica no contorno das paredes de

alvenaria (Figura 37), sendo no caso em estudo apenas nas fachadas, uma vez que a cobertura tem

duas águas.

O peso próprio foi calculado com base na análise feita presencialmente da cobertura, ou seja,

usando as dimensões existentes. O peso de telha utilizado é de 1,2 kN/m2 (Correia Guedes & Oliveira,

1992).

Ao contorno das fachadas foi ainda adicionado o peso da cimalha. Este foi calculado com base

no peso específico da cantaria, sendo utilizado o valor aproximado de 1 kN/m.

Figura 37 Carga da Cobertura

Na Tabela 5 apresentam-se todas as cargas calculadas e aplicadas na modelação dos diversos

elementos.

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42

Tabela 5 Cargas aplicadas

Peso Próprio

[kN/m2]

Restante Carga Permanente

[kN/m2]

Sobrecarga

[kN/m2]

Pavimento de madeira

0,22 0,5 Figura 36 e Tabela 4

Varanda 1,96 - 2,5

Cobertura 1,7 - -

4.3.3 Elementos estruturais

No presente capítulo será descrito o processo de modelação dos diversos elementos estruturais

existentes.

Os dados referentes ao edifício em estudo (dimensões, características, etc.) foram obtidos pela

análise presencial durante as visitas ao mesmo.

Todas as características dos edifícios adjacentes foram obtidas pela consulta do projeto existente

no Arquivo da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo e pelo projecto fornecido pelo proprietário de

um dos edifícios.

4.3.3.1 Paredes de Alvenaria

O processo de modelação no programa 3MURI é feito piso a piso, pelo que o primeiro passo é

definir a altura de cada piso.

Após a definição da altura do edifício define-se a sua geometria adicionando ao modelo as

paredes estruturais. A geometria é definida pela planta apresentada anteriormente na secção 3.2.

Posteriormente, definem-se todas as aberturas existentes nas paredes de alvenaria. Uma vez

que as aberturas do prédio possuem uma largura de 130 cm no exterior e 150 cm no interior, na

modelação foi usado o valor médio de 140 cm.

O processo de modelação das aberturas é de extrema importância uma vez que são as aberturas

nas paredes que vão definir os macro-elementos da discretização computacional.

O método FME admite que o comportamento no plano dos painéis de alvenaria pode ser descrito

por um conjunto de três elementos distintos que se designam de macro-elementos (Figura 38): (i)

Nembo (pier), elementos verticais que suportam a carga gravítica e sísmica; (ii) Lintel (spandrel),

elementos horizontais situados entre duas aberturas alinhadas verticalmente; (iii) Nó rígido (rigid node),

elemento de alvenaria não danificada, confinado entre os nembos e lintéis. Esta modelação baseia-se

nos danos observados em paredes de alvenaria sujeitas à ação sísmica, onde as fendas e modos de

rotura concentram-se neste tipo de elementos (Lagomarsino et al., 2013).

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43

Figura 38 Discretização computacional segundo o método FME, adaptado de (Galasco, Lagomarsino, & Penna,

2006)

Estes elementos (nembo e lintel) apresentam um comportamento não-linear e são modelados

como elementos 2D definidos por dois nós nas extremidades. As variáveis estáticas e cinemáticas de

cada elemento são transferidas entre nós e elementos através dos nós rígidos (Lagomarsino et al.,

2013).

Os macro-elementos não-lineares, nembos, definidos no programa 3MURI/TREMURI

apresentam as seguintes características (S.T.A. Data, 2000) (Galasco et al., 2006) (Cattari &

Lagomarsino, 2013):

Rigidez inicial definida pelas propriedades elásticas;

Comportamento bilinear, com valores máximos de corte e momento fletor calculados

pelas combinações em estado limite último;

Redistribuição de esforços de acordo com o equilíbrio do elemento;

Degradação da rigidez no intervalo plástico;

Rigidez secante ao descarregar;

Controlo da ductilidade pela definição do drift (deslocamento relativo normalizado entre

extremidades do elemento) máximo/último de acordo com a Norma Sísmica Italiana

(NTC, 2008): 𝛿𝑢 = 0,4% para corte; 𝛿𝑢 = 0,6%, para flexão;

Rotura do elemento ao atingir o drift máximo/último, sem interromper a análise global.

Na Figura 39 apresenta-se um esquema representativo de um painel.

Figura 39 Representação de um macro-elemento, com as variáveis cinemáticas (u, w, φ) e forças interiores (N,

V, M) (adaptado de Lagomarsino et al., (2013))

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44

Os vários elementos de parede estão sujeitos aos esforços provocados pelas ações

consideradas, que para uma análise sísmica pretendem simular a ação do sismo e das cargas verticais.

Estes esforços vão provocar mecanismos de rotura, que considerando o comportamento não linear das

paredes envolvem flexão e corte.

Desta forma, na modelação e análise com o 3MURI/TREMURI, o comportamento não linear é

ativado quando um dos esforços na extremidade do elemento atinge o valor máximo limite do respetivo

critério de resistência do mecanismo de colapso no plano (Lagomarsino et al.,2008).

Os mecanismos no plano, relacionados com a flexão, consistem na rotação do corpo rígido da

parede e no esmagamento da zona mais comprimida (Figura 40 a)). Os mecanismos de rotura

provocados por corte distinguem-se em dois tipos: deslizamento segundo um plano horizontal, havendo

movimento relativo entre duas partes da parede (Figura 40 b)) e fendilhação diagonal, que consiste na

formação de fendas diagonais que se propagam do centro pada os cantos (Figura 40 c)) (Magenes et

al., 2000).

Figura 40 Mecanismos de rotura no plano dos elementos de parede nembos (Lagomarsino et al., 2008)

4.3.3.2 Paredes Interiores

As paredes interiores por serem de tabique de madeira apresentam uma resistência muito baixa,

pelo que não influenciam significativamente o comportamento estrutural (estático e dinâmico) da

estrutura. De notar que só existem paredes de tabique em maior quantidade no terceiro piso.

O programa 3MURI não apresenta nenhuma interface de definição para as mesmas. Para além

disso o programa não permite a modelação de paredes que não tenham continuidade em altura, ou

seja, paredes que só existam num piso superior.

Por estas razões não foram modeladas as paredes interiores de tabique.

Contudo, foi modelada a parede interior de alvenaria de pedra do primeiro piso.

4.3.3.3 Fundações

As fundações neste tipo de edifícios são um prolongamento da parede de alvenaria. Estas têm

uma altura que é igual à espessura da respetiva parede (Correia Guedes & Oliveira, 1992).

O programa de cálculo restringe todos os movimentos e rotações nas sapatas.

Na Figura 41 apresenta-se a interface de definição das sapatas.

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45

Figura 41 Definição das fundações

4.3.3.4 Vigas de madeira

Para modelar este elemento foi necessário definir as propriedades da secção na interface do

3MURI (Figura 42) e definir a posição do elemento, através da altura.

Figura 42 Definição das vigas de madeira

4.3.3.5 Pilares metálicos

Para modelar este elemento foi necessário definir as propriedades da secção na interface do

3MURI (Figura 43) e definir a sua altura.

Figura 43 Definição dos pilares

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46

4.3.3.6 Pavimentos

Utilizando também a interface do 3MURI para a definição de pavimentos (Figura 44), optou-se

pela opção de um pavimento de madeira com duas tábuas de soalho.

Figura 44 Definição do pavimento de madeira

De forma a considerar as distintas áreas de pavimento, onde as sobrecargas aplicadas são

diferentes ou onde a orientação das vigas de suporte é diferente, foi necessário recorrer à

implementação de diversos painéis de pavimento onde as características eram alteradas entre si.

Uma vez que os edifícios adjacentes possuem diferentes soluções de pavimento, estas foram

diferenciadas de acordo com as opções de modelação oferecidas pelo programa.

Um dos edifícios possui apenas uma laje de betão armado, pelo que a sua definição é simples

(Figura 45).

Figura 45 Definição de uma laje de betão

O outro edifício contém uma laje aligeirada de vigotas, a definição da mesma é feita com a

interface apresentada na Figura 46.

Figura 46 Definição de uma laje com vigotas

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47

Os pavimentos são modelados no programa 3MURI como uma membrana finita ortotrópica

(estado plano de tensão), com uma espessura característica, definida com 3 ou 4 nós e tendo apenas

dois graus de liberdade de deslocamentos em cada nó (ux, uy). Os Módulos de Elasticidade definidos

representam a rigidez normal da membrana nas duas direções e contabilizam o grau de conexão deste

elemento com as paredes. O parâmetro mais condicionante na sua modelação é o Módulo de Distorção,

que influencia a rigidez tangencial do diafragma e a força horizontal transmitida para as paredes

(Lagomarsino et al., 2013).

4.3.4 Alteração da malha

O programa 3MURI não permite efetuar a diferenciação da altura das paredes num determinado

nível/piso. Assim que é adicionado um novo nível, todas as paredes nele definidas apresentam a

mesma altura. Com estas dados são criados os nós rígidos, definidos automaticamente pelo próprio

programa.

Contudo, como o edifício em estudo possui um pé direito diferente do dos edifícios adjacentes

e a inclinação do terreno não é nula, os pisos do conjunto de edifícios vão estar desalinhados.

Uma vez que se pretende analisar os danos da fachada é importante definir os macro-

elementos corretamente, ou seja, com as devidas dimensões e diferentes nivelações.

Desta forma foi necessário recorrer a um método alternativo de forma a poder nivelar as paredes

corretamente de acordo com a realidade. O método adotado foi modelar mais níveis no programa de

forma a definir todos os patamares necessários à correta modelação da altura das paredes. Os níveis

considerados encontram-se representados na Figura 47, as alturas modeladas tiveram em conta a

inclinação do terreno e os diferentes pés-direitos.

Figura 47 Níveis modelados no programa 3MURI

Após a modelação do conjunto de edifícios completo com a correspondente nivelação dos pisos

(Figura 48), foi necessário editar a malha de macro-elementos gerada automaticamente de forma a

esta corresponder à situação real. Na Figura 49 é possível observar a malha gerada automaticamente

e a malha correta para o processo de análise da parede da fachada principal.

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48

Figura 48 Modelo executado com o programa 3MURI – Envolvente de edifícios

Figura 49 a) Malha gerada automaticamente pelo programa, b) Malha editada

Pela Figura 49 é possível examinar os elementos alterados partindo da malha automática. As

principais modificações consistiram na criação de novos lintéis, na alteração dos nembos existentes,

uma vez que estes se encontravam divididos por todos os pisos suplementares adicionados, e na

correta criação/edição e ligação dos nós, sendo que estes têm um papel fundamental na ligação de

toda a malha de elementos.

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49

As paredes de empena, uma vez que são intercetadas pelas paredes perpendiculares dos

edifícios adjacentes, foram modeladas com elementos separados nessas zonas de forma a caracterizar

o comportamento restringido pelas paredes ortogonais de alvenaria. Na Figura 50 apresenta-se um

exemplo da malha de uma parede de empena do edifício modelado.

Figura 50 Malha de uma das paredes de empena

4.4 Calibração do Modelo

A calibração de um modelo computacional consiste na comparação de uma característica

fundamental, comum entre o modelo e a realidade, e a posterior alteração do modelo até este

apresentar um comportamento mais próximo da realidade.

Um modelo utilizado para uma análise sísmica é calibrado a partir da comparação das

frequências fundamentais de vibração do próprio edifício com a frequência obtida através de uma

análise linear dinâmica (análise modal) ao modelo (Neves et al., 2008).

Partindo do modelo executado no programa 3MURI, foi corrida uma análise modal. Contudo,

com o intuito de calibrar o modelo elaborado, apenas se procedeu ao levantamento das frequências e

modos de vibração obtidos, pelo que não se efetuou uma análise modal completa, nem se retirou

conclusões da mesma.

Os valores das frequências próprias de vibração de um edifício são obtidos através de um ensaio

de caracterização dinâmica in situ. Este ensaio é processado com um equipamento que utiliza as

vibrações ambientes, retiradas em vários locais distintos do edifício. Após o processamento dos dados,

são identificados os valores das frequências fundamentais dos modos de vibração mais relevantes

(Monteiro & Bento, 2013).

Por razões de impossibilidade da deslocação do equipamento ao edifício em estudo, não foram

realizados estes ensaios de caracterização dinâmica in situ.

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50

Contudo para efetuar a calibração do modelo numérico, foram utilizados, como referência, outros

dados de ensaios de caracterização dinâmica realizados nos Açores a edifícios tipo de alvenaria

semelhantes ao edifício em estudo.

Do artigo Identificação dinâmica e análise do comportamento sísmico de um quarteirão

localizado na cidade da Horta – Ilha do Faial (Neves et al., 2004) foi retirada a caracterização dinâmica

de um edifício de alvenaria da cidade da Horta (casa nº16, Figura 51), que apresenta características

idênticas ao edifício em estudo, uma vez que este possui três pisos e é mais alto que os edifícios

adjacentes.

Figura 51 Modelo da casa nº 16, cidade da Horta (Neves et al., 2004)

Para além destes valores, também se recorreu à base de dados de levantamentos dinâmicos in

situ do artigo Fundamental periods of vibration of RC buildings in Portugal from in-situ experimental and

numerical techniques (Oliveira & Navarro, 2010), onde apesar da maior parte dos edifícios sob análise

serem de betão armado, também foram incluídos edifícios de alvenaria.

Nesta base de dados, onze ensaios foram realizados na cidade de Angra do Heroísmo. Destes

ensaios apenas três poderão ser comparados com o caso em estudo, devido à semelhança da

estrutura. De notar que um desses ensaios foi feito a um dos edifícios adjacentes ao edifício em estudo

(Rua Direita, nº 64-68).

Assim, todos os valores de ensaios dinâmicos recolhidos apresentam-se na Tabela 6.

Tabela 6 Ensaios de caracterização dinâmica consultados

Pisos

Altura

[m]

f [Hz]

Translação

longitudinal

f [Hz]

Translação

transversal

Casa nº 16, Horta 3 - 4,39 5,66

Casa Peixoto, Rua do Galo, Angra do Heroísmo 3 11 4,0 4,0

Rua Direita, nº 84-86, Angra do Heroísmo 3 10 4,2 6,4

Rua Direita, nº 64-68, Angra do Heroísmo 3 10 3,7 4,1

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51

Dado que os edifícios adjacentes têm uma grande influência sobre o comportamento à ação

sísmica, os modos de vibração e as frequências de um edifício vão ser afetadas. Pelo que, o modelo

utilizado na calibração, engloba os edifícios adjacentes.

No processo de calibração foram analisados os módulos de elasticidade das paredes de

alvenaria, visto ser este o parâmetro que influencia diretamente a frequência fundamental da estrutura

e para o qual à mais incerteza na sua definição.

Porém, ao correr várias análises dinâmicas modais, com diferentes módulos de elasticidade nas

paredes de alvenaria, concluiu-se que as frequências fundamentais não oscilam muito com a variação

deste parâmetro, como se pode observar na Tabela 7, para o modelo com o edifício isolado e na Tabela

8, para o modelo da envolvente.

Tabela 7 Valores dinâmicos obtidos da análise modal para o modelo isolado

Translação longitudinal Translação transversal Torção

Módulo de Elasticidade

Paredes [GPa]

Modo Vibração

f [Hz]

%Mx Modo

Vibração f

[Hz] %My

Modo Vibração

f [Hz]

%Mx %My

0,7 3 1,57 63,87 10 4,15 66,31 8 3,69 4,83 3,27

1,0 3 1,65 63,84 10 4,28 68,11 9 3,84 5,65 2,72

1,2 3 1,70 63,79 10 4,34 68,83 9 3,92 6,43 2,76

2,0 3 1,82 63,55 10 4,50 69,66 9 4,12 7,66 3,05

Tabela 8 Valores dinâmicos obtidos da análise modal para o modelo com a envolvente

Translação longitudinal Translação transversal Torção

Módulo de Elasticidade

Paredes [GPa]

Modo Vibração

f [Hz]

%Mx Modo

Vibração f

[Hz] %My

Modo Vibração

f [Hz]

%Mx %My

0,7 3 1,43 50,08 12 4,12 25,14 7 3,10 4,96 4,51

1,0 3 1,50 47,88 12 4,27 27,54 7 3,24 4,36 3,76

1,2 3 1,55 46,70 12 4,35 28,19 7 3,32 3,80 3,13

2,0 3 1,67 44,04 12 4,54 29,49 7 3,54 2,61 1,55

Verifica-se que a frequência aumenta com o aumento do Módulo de Elasticidade, mas não o

suficiente para ser equiparável aos valores dos ensaios experimentais coligidos (Tabela 6), o que

mostra que o edifício em estudo apresenta sempre um comportamento semelhante,

independentemente dos parâmetros adotados.

O comportamento na direção transversal apresenta um valor de frequência dentro do expectável

e de acordo com as frequências recolhidas na Tabela 6. De notar a maior semelhança de frequências

entre o caso do modelo isolado e do modelo com a envolvente para esta direção de translação, uma

vez que as paredes possuem as mesmas características.

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52

A direção longitudinal já não apresenta um valor de frequência própria comparável com os

ensaios in situ. Porém, este comportamento é justificável pelo facto do edifício conter um pé direito

muito elevado e apenas ter as paredes de alvenaria como estrutura principal resistente à ação sísmica.

As vigas da madeira existentes e as paredes de tabique não oferecem rigidez significativa adicional à

estrutura.

Como as paredes de fachada (direção longitudinal), principal e de tardoz, têm muitas aberturas

e essas aberturas são de grande dimensão, a rigidez/resistência destas paredes ao sismo é muito

menor, o que implica que a frequência na direção longitudinal (x) seja mais reduzida.

Para além da análise do Módulo de Elasticidade das paredes, foi feito um pequeno estudo de

sensibilidade à alteração do Módulo de Distorção dos pavimentos. Quanto à rigidez global do edifício,

os pavimentos e a sua rigidez no plano, afetam os modos de vibração da estrutura (Candeias, 2008).

Desta forma, ao aumentar o Módulo de Distorção dos pavimentos o edifício apresenta um

comportamento dinâmico diferente, contudo, como seria de esperar as frequências dos modos de

vibração não alteram significativamente.

Dado que os modos de vibração também são relevantes para caracterizar a forma de

comportamento do edifício, na Figura 52 e na Figura 53 representam-se os deslocamentos dos

principais modos para o caso isolado e para a envolvente, respetivamente.

Figura 52Modos de vibração para o edifício isolado: a) Translação longitudinal, X; b) Translação transversal, Y; c)

Torção

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53

Figura 53 Modos de vibração para o edifício com a envolvente: a) Translação longitudinal, X; b) Translação

transversal, Y; c) Torção

De notar que o modelo com a envolvente possui um comportamento distinto, restringido pelas

paredes perpendiculares dos outros edifícios e com uma maior irregularidade em planta. Como o

edifício em estudo é assimétrico este apresenta alguns ligeiros efeitos de torção nos modos de vibração

puros, mais denotados no modelo envolvente, devido à configuração do mesmo.

Por fim, considerou-se o modelo corretamente executado, calibrado e justificado, e avançou-se

com a análise estática não linear (pushover), mantendo os parâmetros definidos inicialmente, que

correspondem aos valores característicos mais realistas.

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54

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55

5 Avaliação Sísmica do Edifício

5.1 Introdução

Partindo dos modelos executados e calibrados é realizada, neste capítulo, uma avaliação do

desempenho sísmico do edifício em estudo. Para tal foram efetuadas análises estáticas não lineares,

recorrendo ao programa TREMURI.

Pretende-se caracterizar e comparar diversas situações, pelo que será feito um estudo ao edifício

isolado e outro ao edifício tendo em conta a envolvente no quarteirão.

Uma análise estática não linear ou pushover inicia-se com a definição da capacidade resistente

da estrutura, impondo uma carga lateral horizontal e obtendo-se os deslocamentos obtidos ao longo do

carregamento, função da força de corte basal.

Neste caso de estudo foram aplicadas duas distribuições de carregamento, normalmente

adotadas neste tipo de análise: (i) distribuição pseudo-triangular e (ii) distribuição uniforme. A

distribuição pseudo-triangular é proporcional ao produto entre a massa e a altura do edifício. A

distribuição uniforme é proporcional à massa do edifício, permitindo descrever o comportamento do

mesmo quando submetido a danos mais extensivos, impedindo assim a redistribuição de esforços entre

níveis (Galasco et al., 2006).

A análise será feita para as duas direções principais do edifício, sendo a partir de agora a direção

representativa das fachadas do edifício, direção longitudinal, designada como X e a direção das

paredes de empena, direção transversal, designada como Y.

Para além disto, serão comparados os resultados retirando o deslocamento médio dos nós no

topo do edifício e retirando apenas o deslocamento de um nó crítico de controlo. O nó crítico de controlo

foi escolhido analisando o padrão de danos das paredes, sendo este o primeiro nó, no topo do edifício,

a entrar em regime não linear.

A avaliação do desempenho do edifício é feita recorrendo ao método N2. Para a ação sísmica

regulamentar, definida a partir do espectro de resposta, é determinado o deslocamento objetivo no

sistema em estudo, ou seja, o deslocamento provocado pela ação sísmica no edifício. O deslocamento

objetivo determinado é posteriormente comparado com o deslocamento último da estrutura, definido

segundo vários critérios de segurança.

5.2 Definição da Ação Sísmica

A ação sísmica pode ser definida indiretamente por um espectro de resposta de acelerações ou

deslocamentos. Estes espectros dependem de diversos parâmetros que são variantes consoante o

local onde está a ser avaliada a estrutura (CEN, 2010).

Diversos estudos de perigosidade que se têm registado ao longo dos anos permitiram criar o

zonamento sísmico do território Português (Ferreira, 2012). Com este zonamento é escolhido o tipo de

sismo para o qual a estrutura deve resistir.

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56

Devido à localização geotectónica do arquipélago dos Açores a ação sísmica a utilizar será do

tipo 2 (CEN, 2010). Este tipo de sismo, que afeta os Açores, é caracterizado como um sismo próximo,

de pequena distância focal, no qual a sua duração, magnitude e frequência interferem com o tipo de

construção existente e afetam estruturas mais rígidas como moradias, edifícios de 2 a 3 pisos e

principalmente construções em alvenaria (Costa et. al., 2008).

Recorrendo à Norma Portuguesa NP EN 1998-1 e ao respetivo Anexo Nacional (CEN, 2010) é

definido o tipo de ação a usar na Ilha Terceira, Açores: Ação sísmica do tipo 2.1 (Figura 54), à qual

corresponde uma aceleração superficial (agR) de 2,5 m/s2.

Figura 54 Zonamento sísmico no arquipélago dos Açores (CEN, 2010)

A aceleração à superfície foi reduzida por 89%, como é indicado no Anexo Nacional da NP EN

1998-3 (CEN, n.d.) devido ao facto do edifício em estudo ser um edifício antigo, já existente, que não

poderá apresentar o mesmo comportamento que um edifício dimensionado segundo as normas mais

recentes.

De acordo com o Anexo Nacional (CEN, 2010) as características geológicas existentes no

Arquipélago dos Açores diferem consideravelmente das características consideradas para a

classificação do tipo de terreno no resto do país. Desta forma, a classificação do tipo de terreno nos

Açores é feita pela comparação com cinco perfis geológicos característicos da região definidos no

próprio Anexo Nacional (CEN, 2010).

No âmbito da caracterização sísmica dos solos das ilhas do Grupo Central dos Açores, foram

realizadas modelações numéricas unidimensionais de perfis de solo (Teves-costa et al., 2014). Em

Angra do Heroísmo foram ensaiadas sete colunas de solo e efetuada a respetiva caracterização, onde

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57

cinco correspondem ao Perfil 2 e duas correspondem ao Perfil 1 do Anexo Nacional, Norma Portuguesa

NP EN 1998-1.

Na Tabela 9 e Tabela 10 apresenta-se a definição destes dois perfis.

Tabela 9 Perfil 1 dos perfis de terreno dos Açores (Anexo Nacional da Norma NP EN 1998-1-1 (CEN, 2010))

Espessura das camadas [m] Materiais das camadas

0,2 – 0,4 Solo Vegetal

10,0 – 12,0 Traquito ou ignimbrito soldado

3,0 – 5,0 Basalto pahoehoe composto (pequenas escoadas geralmente

muito fraturadas sobrepostas)

0,5 – 1,0 Clinker

2,0 – 3,0 Basaltos mais compactos

Tabela 10 Perfil 2 dos perfis de terreno dos Açores (Anexo Nacional da Norma NP EN 1998-1 (CEN, 2010))

Espessura das camadas [m] Materiais das camadas

0,4 – 0,6 Solo Vegetal

1,0 – 5,0 Tufos surtesianos do Monte Brasil com elevada compacidade

10,0 – 15,0 Sequência pliniana (depósitos pomíticos de queda e ignimbritos

soldados e não soldados)

5,0 – 10,0 Basalto

De forma a caracterizar corretamente o solo existente na zona da cidade de Angra do Heroísmo

foi admitido um solo com o Perfil 1, uma vez que o Perfil 2 possui uma camada de material característico

do Monte Brasil. Na Figura 55 encontra-se uma representação da localização do Monte Brasil

relativamente à cidade de Angra do Heroísmo, com a identificação do edifício em estudo.

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58

Figura 55 Localização relativa do Monte Brasil à cidade de Angra do Heroísmo (Imagem retirada do Google

Maps)

Desta forma, o tipo de solo que vai definir a ação sísmica neste caso de estudo é o tipo A (CEN,

2010).

Recorrendo ao Quadro NA – 3.3, presente no Anexo Nacional (CEN, 2010) obtêm-se os

parâmetros necessários para a definição do espectro de resposta elástico à componente horizontal da

ação sísmica do tipo 2.

Existe ainda um coeficiente de importância a definir que varia conforme o tipo de ação sísmica e

a classe de importância do edifício.

O edifício em estudo insere-se na classe de importância II, “Edifícios correntes, não pertencentes

às outras categorias”. Para a ação do tipo 2 e uma classe de importância II o coeficiente de importância

(𝛾𝐼) é de 1.

Na Tabela 11 apresentam-se todos os parâmetros necessários à definição dos espectros de

resposta de aceleração ou deslocamento.

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59

Tabela 11 Parâmetros de definição dos espectros de resposta

Ação Sísmica – Zona 2.1

Classe de Importância II

𝜸𝑰 1

agR [m/s2] 2,5

ag [m/s2] 2,23

Tipo de Solo A

Smáx [m/s2] 1

S [m/s2] 1,0

TB (s) 0,1

TC (s) 0,25

TD (s) 2

Uma vez que a estrutura não apresenta características dinâmicas que justifiquem a consideração

da componente vertical da ação sísmica, esta não foi considerada.

5.3 Análise estática não linear – pushover

Na ocorrência de um sismo, o comportamento de uma estrutura é maioritariamente afetado pela

capacidade de deformação inelástica dos elementos estruturais dúcteis. Assim sendo, para a avaliação

do desempenho sísmico de uma estrutura é de grande relevância a verificação dos deslocamentos e

deformações (Bento, 2011).

Em estruturas com pavimentos flexíveis, como é o caso do edifício em estudo (pavimento de

madeira), a transferência limitada das cargas dos pavimentos para as paredes, faz com que o

comportamento das paredes, avaliado apenas pela curva de capacidade resistente e pelo seu

deslocamento último, seja não conservativo (Simões et al., 2014). Recentemente, no âmbito do projeto

Perpetuate (Lagomarsino & Cattari, 2014), foi proposta uma análise de segurança de estruturas de

alvenaria por multicritérios, que permite avaliar de uma forma mais adequada o desempenho sísmico

deste tipo de estruturas.

Assim, foi proposta a utilização de três critérios para definir o deslocamento último da estrutura

(i.e., o seu colapso). O primeiro (critério 1) define o deslocamento último da estrutura quando o valor

máximo da força de corte basal sofre uma redução de 20%, como é proposto na Norma EN 1998-1

(CEN, 2004a), EN 1998-3 (CEN, 2004b) e na Norma Italiana (NTC, 2008). Contudo, podem existir

mecanismos de colapso parciais que fazem com que a análise seja interrompida antes de atingir a

redução de 20% da força de corte basal. Nestes casos utiliza-se o segundo critério (critério 2), definindo

o deslocamento último como o valor de deslocamento quando se forma o mecanismo de colapso parcial

(estando normalmente associada à interrupção da análise). Finalmente, o terceiro critério (critério 3)

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60

define o deslocamento último ao limitar o drift (deslocamento relativo normalizado à altura do piso), das

paredes da estrutura, sendo esta uma análise mais local que estuda cada parede individualmente.

O segundo critério está relacionado com os mecanismos de rotura dos elementos individuais de

parede, referidos na secção 4.3.3.1, que podem provocar um mecanismo global ao ocorrerem em

simultâneo ou combinados. Estes mecanismos são: (i) mecanismo por piso (soft storey), rotura de todos

os nembos num piso, e (ii) mecanismo global, rotura de todos os lintéis de uma forma uniforme numa

fachada, com posterior dano nos nembos do primeiro piso (Cattari et al., 2012).

A Norma Europeia EN 1998-3 (CEN, 2004b) propõe três estados limites que avaliam os

deslocamentos últimos, em função do nível de dano da estrutura. Segundo a Norma Portuguesa NP

EN 1998-3 (CEN, n.d.), para os edifícios de alvenaria existentes (edifícios correntes) deve-se apenas

considerar o estado limite último de danos severos (Limit State of Significant Damage) para a avaliação

do desempenho sísmico. Para este estado limite, o deslocamento último, definido pelos dois primeiros

critérios (critérios 1 e 2), é reduzido para ¾ do próprio valor (CEN, 2004b). No caso do terceiro critério,

o drift para o estado limite de danos severos é limitado por 0,5% (Simões et al., 2014).

De notar que os valores regulamentares indicados nas Normas EN 1998-3 (CEN, 2004b) e

Norma Italiana (NTC, 2008), onde o valor do drift é aproximadamente 0,4 % para rotura ao corte e 0,6

% para rotura à flexão, são indicados para os elementos individuais (macro elementos), nembos das

paredes. Como já foi referido anteriormente na secção 4.3.3.1, estes valores indicam o drift a partir do

qual um elemento entra em rotura, estando assim estes mesmos, representados nos mapas de dano

que serão apresentados de seguida, nas secções 5.3.1 e 5.3.2.

O critério da limitação do drift não é regulamentado nas normas europeias, pelo que é habitual

realizar a análise do desempenho sísmico com deslocamentos últimos condicionados apenas pelos

primeiros dois critérios.

Nesta secção 5.3: (i) são apresentadas as curvas que descrevem a capacidade resistente da

estrutura (definidas pela variação do esforço transverso na base com o deslocamento obtido no topo

do edifício), (ii) é definido o valor do deslocamento último segundo os critérios propostos recentemente

para a verificação de segurança de estruturas de alvenaria e (iii) é apresentada a distribuição de danos

nas paredes do edifício para o deslocamento último determinado. Os resultados são apresentados para

o edifício isolado e para o edifício com os edifícios adjacentes.

5.3.1 Edifício isolado

Para o modelo desenvolvido apenas com o edifício em estudo isolado, o nó de controlo escolhido

foi o nó 20, situado na interceção da parede da fachada principal e da parede da empena. Na Figura

56 apresenta-se a planta do modelo executado, com a identificação dos nós extremos das paredes de

alvenaria no último piso.

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61

Figura 56 Identificação das paredes estruturais e dos nós de extremidade das paredes de alvenaria no 3º Piso –

Edifício Isolado

Na Figura 57 apresenta-se o gráfico com as várias curvas de capacidade resistente obtidas para

o modelo do edifício isolado.

Figura 57 Gráfico das curvas de capacidade resistente para o edifício isolado

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62

Os valores das curvas obtidas representam os deslocamentos no topo do edifício como resposta

ao carregamento aplicado, simulando a envolvente da distribuição de forças que se geram no edifício

quando este está sujeito à ação sísmica (Galasco et al., 2006).

Na Figura 57 as curvas a cheio correspondem ao comportamento em X e as curvas a traço

interrompido ao comportamento segundo Y.

As curvas com um tom azul correspondem ao valor do deslocamento médio, calculado a partir

dos valores de deslocamentos de todos os nós presentes no 3º Piso, para cada situação (carregamento

pseudo-triangular e uniforme, direção X e Y). As curvas com um tom encarnado representam o

deslocamento do nó de controlo 20.

Ao observar o gráfico conclui-se que o carregamento uniforme apresenta sempre uma força de

corte basal máxima superior à do carregamento pseudo-triangular, independente da direção de

aplicação. Assim, o carregamento pseudo-triangular é o mais condicionante para a avaliação do

desempenho sísmico da estrutura.

Comparando as curvas na direção X e Y, o comportamento em Y apresenta uma maior rigidez e

resistência, representada principalmente pela fase elástica da curva, onde a força de corte basal é

muito superior à que ocorre na direção X. Este comportamento é justificado pelas características das

paredes que resistem à ação na direção Y e X, respetivamente. Dado que, as paredes de empena

(resistentes à direção Y) não apresentam aberturas, e a parede P1 possui o maior comprimento

longitudinal de todas as paredes, era esperado desde o início que o edifício tivesse uma maior

capacidade resistente à ação sísmica na direção Y.

Avaliando a ductilidade da estrutura, pela comparação das curvas representadas no gráfico na

Figura 57, observa-se que o comportamento em Y é claramente menos dúctil que o comportamento na

direção X. Pode-se portanto concluir que, como esperado, as paredes em Y são menos dúcteis e têm

uma menor capacidade de redistribuição de esforços, não conseguindo explorar adequadamente o

comportamento não linear.

Para além destas comparações, pode-se ainda confrontar a curva obtida com os deslocamentos

médios no topo do edifício e os deslocamentos no nó de controlo escolhido. Observa-se que os

deslocamentos da curva do nó 20 são superiores aos deslocamentos médios, para ambas as direções.

As várias análises, representadas pelas curvas, são interrompidas quando ocorre o colapso

global da estrutura. Por esta razão, os deslocamentos provocados pelo colapso variam conforme o nó

analisado, dado que o colapso é provocado por um mesmo mecanismo. Assim, os deslocamentos de

cada elemento não são influenciados, ou seja, quando se dá o colapso da estrutura é retirado o

deslocamento nesse instante dos diversos elementos.

Isto quer dizer que existem outros nós na estrutura que, quando se dá o colapso, têm um

deslocamento muito menor, fazendo assim a média descer. Para tal é apresentado na Figura 58, um

gráfico com as diversas curvas correspondentes a nós diferentes. Os nós estudados foram os nós de

extremidade das paredes de alvenaria, anteriormente representados em planta na Figura 56.

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63

Figura 58 Gráfico das curvas de capacidade resistente do edifício isolado para diversos nós

Pela observação do gráfico pode-se constatar que o deslocamento na direção X dos nós 4 e 8,

12 e 28, 24 e 20, são idênticos, como seria de esperar por pertencerem à mesma parede segundo X

(P2, P4 e P11 respetivamente). O mesmo é verificado na direção Y para os nós 20 e 12, por

pertencerem à parede de empena P5.

A parede de tardoz do corpo 2 (P2) não apresenta aberturas, sendo por esta razão a que possui

maior rigidez na direção X. Assim, esta parede terá um comportamento mais rígido, pelo que o

deslocamento dos seus nós é menor e, desta forma, são os deslocamentos desta parede que diminuem

o valor médio dos deslocamentos no topo do edifício. De facto, analisando a Figura 58, verifica-se que

os deslocamentos das curvas dos nós 4 e 8 são muito inferiores aos valores máximos. De notar que

esta curva é apenas representativa do deslocamento existente, uma vez que houve problemas

numéricos na sua obtenção (representados pelo valor superior da força de corte basal na direção X).

O gráfico representado na Figura 58 foi obtido com o valor global da força de corte basal. Como

foi referido anteriormente, para a mesma força de corte, os deslocamentos variam em cada elemento,

provocando assim a média de valores que neste caso é mais baixa que o valor de deslocamento do nó

de controlo escolhido.

Mesmo escolhendo outro nó de controlo e analisando as curvas de cada nó os resultados são

idênticos. Conclui-se então que para a avaliação do desempenho sísmico deve-se recorrer à curva de

capacidade com os valores médios de deslocamento, por caracterizar globalmente a estrutura e não

apresentar apenas o deslocamento de um nó que não gera por si só o mecanismo de colapso da

estrutura.

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64

Todas as curvas de capacidade representadas anteriormente apresentam uma queda abrupta,

quer na direção X ou Y, uma vez que o colapso do edifício se dá pela formação de um mecanismo

parcial. Assim, o deslocamento último do edifício não pode ser definido pela redução de 20% da força

de corte basal (critério 1), como é proposto na norma EN 1998-1 (CEN, 2004a).

Achou-se relevante analisar o desempenho da estrutura também para o deslocamento

provocado pelo mecanismo, escolhendo o critério 2 para a definição do deslocamento último. Contudo,

o critério 3 (drift) poderia ser condicionante, pelo que também foi analisada esta situação.

Utilizando o critério 3, define-se o ponto na curva de capacidade para o qual a estrutura passa a

ter um drift, num qualquer piso de uma qualquer parede, igual ou superior a 0,5 % (Simões et al., 2014).

Assim, avaliou-se o drift segundo cada direção, apenas para as paredes relevantes que resistem à

respetiva direção.

Na avaliação segundo o critério 3, foram considerados os deslocamentos horizontais e os

deslocamentos provocados pela rotação dos nós de extremidade dos nembos/paredes verticais. Como

os pisos não restringem a rotação dos elementos verticais, é importante adicionar esta componente

quando se determina o drift, de forma a ter em conta o deslocamento total que a parede de alvenaria

sofre (Simões et al., 2014). O drift foi calculado tendo em conta a adição das variáveis cinemáticas u

(deslocamento horizontal) e φ (rotação) representadas na Figura 39.

Na Tabela 14 e Tabela 15 apresenta-se o resultado da análise do drift para a direção X e Y,

respetivamente, apenas para o carregamento pseudo-triangular, uma vez que é o carregamento

condicionante. A parede 4 (fachada tardoz) foi a primeira a não verificar o critério na direção X, e a

parede 1 (empena) na direção Y.

Tabela 12 Deslocamento correspondente ao drift máximo admitido, edifício isolado - direção X

Carregamento Parede 4 δ Passo da análise

incremental Deslocamento topo

[m]

Pseudo Triangular

Piso 1 0,06%

116 0,039 Piso 2 0,18%

Piso 3 0,50%

Tabela 13 Deslocamento correspondente ao drift máximo admitido, edifício isolado - direção Y

Carregamento Parede 1 δ Passo da análise

incremental Deslocamento topo

[m]

Pseudo Triangular

Piso 1 0,04%

14 0,004 Piso 2 0,04%

Piso 3 0,56%

Na Figura 59 apresentam-se as curvas de capacidade para o carregamento condicionante

(pseudo-triangular), com os deslocamentos médios últimos segundo o critério 2 (círculo vermelho) e

segundo o critério 3 (cruz vermelha).

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65

Figura 59 Deslocamentos últimos segundo o critério 2 e 3, edifício isolado

Assim, é possível concluir que o deslocamento último determinado pelo critério 3 é o mais

condicionante. Porém, achou-se relevante proceder à análise do desempenho sísmico para estes dois

deslocamentos de forma a confirmar qual deles é o mais condicionante no desempenho da estrutura.

Na Figura 60 e Figura 61 (com uma legenda comum indicada apenas na Figura 60) apresentam-

se os mapas de danos das paredes de alvenaria mais relevantes do modelo em estudo (fachada

principal, fachada tardoz e as duas paredes de empena), para o deslocamento médio provocado pelo

mecanismo de colapso, determinado aplicando o critério 2 definido anteriormente, na direção X e Y e

para a distribuição de carregamento uniforme e pseudo-triangular.

Figura 60 Padrão de danos para a ação na direção X, critério 2. a) Fachada principal P11, b) Fachada tardoz P4,

c) Empena P1, d) Empena P5

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66

Figura 61 Padrão de danos para a ação na direção Y, critério 2. a) Fachada principal P11, b) Fachada tardoz P4,

c) Empena P1, d) Empena P5

Como se pode observar na Figura 60, o carregamento na direção X provoca um mecanismo de

colapso soft storey no 3º piso em ambas as paredes de fachada (P11 e P4). De notar que os elementos

que colapsaram são todos condicionados por mecanismos de flexão.

Pela análise da Figura 61 pode-se concluir que o carregamento em Y, como se deveria esperar,

afetou mais as paredes de empena (P1 e P5), provocando sempre uma rotura por corte na parede de

empena P5, que corresponde à parede na direção Y com menor comprimento. Uma vez que os

pavimentos descarregam nas paredes de fachada existe uma menor compressão nas paredes de

empena que contribui para tornar a rotura por corte a condicionante (Ferrito, 2014).

Para além disto, a parede de empena P5 provocou a rotura de alguns elementos na parede

perpendicular P4 (fachada tardoz) na zona de intersecção das duas paredes. Isto deve-se à assimetria

em planta do edifício que, devido a efeitos de torção, acabam por afetar as paredes perpendiculares à

direção de atuação do carregamento considerado (segundo Y, a direção das paredes).

Dado que as paredes de empena são compostas por um elemento único por piso, ou seja, uma

parede contínua de alvenaria, quando se dá a rotura do elemento a parede é afetada em todo o seu

comprimento. Isto justifica o comportamento das curvas de capacidade segundo a direção Y que

colapsam mais prematuramente. A existência de um menor número de elementos resistentes na

direção Y justifica o edifício ter menor capacidade de redistribuição de esforços na direção Y do que na

direção X.

De notar que na situação do edifício com a envolvente, estas paredes de empena vão estar

restringidas em pontos intermédios pelas paredes perpendiculares dos outros edifícios. Desta forma

terão um comportamento diferente, com a divisão dos painéis de alvenaria em mais elementos

estruturais. Este comportamento será avaliado mais à frente na secção 5.3.2.

Comparando os mapas de danos devido às diferentes distribuições de carga, é notória a

influência do carregamento pseudo-triangular, comparativamente ao carregamento uniforme, na

direção Y. O carregamento pseudo-triangular gera um mecanismo de colapso no 2º piso, enquanto o

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67

carregamento uniforme gera um mecanismo no 1º piso. Este comportamento era espectável uma vez

que a distribuição pseudo-triangular, que varia proporcionalmente ao produto da massa com a altura

dos pisos, afeta mais os pisos superiores. Na direção X esta diferença não se destaca nos danos das

paredes estudadas.

Na Figura 62 e Figura 63 (com uma legenda comum indicada apenas na Figura 60) apresentam-

se os mapas de danos das paredes de alvenaria mais relevantes do modelo, para o deslocamento

médio provocado pelo drift máximo (critério 3), na direção X e Y e para a distribuição de carregamento

pseudo-triangular.

Figura 62 Padrão de danos para a ação na direção X, critério 3. a) Fachada principal P11, b) Fachada tardoz P4,

c) Empena P1, d) Empena P5

Figura 63 Padrão de danos para a ação na direção Y, critério 3. a) Fachada principal P11, b) Fachada tardoz P4,

c) Empena P1, d) Empena P5

Na direção X (Figura 62) a parede mais condicionada pelo critério (fachada tardoz, P4) encontra-

se bastante afetada. Contudo, na direção Y (Figura 63) a parede de empena P1, que foi a condicionante

na análise do critério 3, não apresenta danos apesar do seu drift ter atingido o máximo valor estipulado.

Esta questão pode ser justificada pela resistência oferecida pela empena, constituída apenas por um

elemento de parede que, para este valor de drift, não sofre danos, ao contrário da parede P4, que com

os seus elementos menos resistentes (de menor dimensão) para o drift máximo já apresenta danos

significativos.

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68

5.3.2 Edifício envolvente

No modelo desenvolvido com os edifícios adjacentes o nó de controlo escolhido foi o nó 82.

À semelhança do edifício isolado, na Figura 64 apresenta-se a planta do modelo executado, com

a identificação do nó de controlo e de todas as paredes de alvenaria.

Figura 64 Identificação das paredes estruturais e dos nós de extremidade das paredes de alvenaria no 3º Piso –

Edifício com a envolvente

Como se concluiu na secção 5.3.1, não será relevante analisar as curvas de capacidade para

nós específicos, desta forma para a análise do modelo com a envolvente de edifícios procedeu-se

apenas à representação das curvas de capacidade resistente correspondentes aos valores médios de

deslocamentos.

Para o modelo com a envolvente são retirados dois tipos de curvas:

Curvas do edifício principal: obtidas com os valores da força de corte basal e dos

deslocamentos no topo, apenas do edifício em estudo;

Curvas do conjunto: representam o comportamento global do conjunto de edifícios,

sendo o valor da força de corte basal a dos três edifícios, e os valores dos

deslocamentos, apenas os do topo do edifício em estudo.

As curvas do conjunto são as que serão utilizadas para representar o comportamento sísmico

do edifício em estudo, tendo em conta os edifícios adjacentes. As curvas do edifício principal viabilizam

a adequada comparação dos dois modelos executados, modelo isolado e modelo da envolvente, por

representarem o mesmo tipo de valores.

De notar que a curva do conjunto, que representa o comportamento dos três edifícios agregados,

poderia ser em função do deslocamento médio de topo dos três edifícios. Todavia, na modelação que

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69

se realizou não é possível retirar estes valores, uma vez que o topo dos três edifícios está situado a

cotas distintas.

Quando se analisa um conjunto de edifícios o deslocamento último condicionante pode não ser

provocado no edifício que se está a estudar e o colapso de um dos edifícios adjacentes, que partilham

empenas, tem certamente grande influência no comportamento dos restantes edifícios.

Na Figura 65 apresenta-se o gráfico com as várias curvas de capacidade resistente obtidas para

o modelo em estudo, do edifício com a sua envolvente, apresentando também as curvas

correspondentes ao modelo do edifício isolado, para comparação.

Figura 65 Curvas de capacidade resistente para o modelo com a envolvente de edifícios

Na Figura 65 as curvas com tonalidade azul representam o modelo do edifício isolado estudado

na secção 5.3.1, as curvas com tonalidade encarnada representam o edifício em estudo no modelo

com os edifícios adjacentes – curvas do edifício principal, e as curvas com tonalidade verde

representam o conjunto total de edifícios modelados – curvas do conjunto.

Assim, como seria de esperar, as curvas a verde apresentam maior resistência, maior força de

corte basal, que as restantes.

A resistência do edifício principal na envolvente (curvas encarnadas) é inferior à sua resistência

quando isolado (curvas azuis). Contudo, como referido, o sistema conjunto apresenta maior resistência

que o isolado. Assim, e como era esperado, no caso do conjunto de edifícios a força de corte basal é

redistribuída pelos três edifícios.

A direção X continua a apresentar maior ductilidade que a direção Y. Contudo, o edifício com a

envolvente apresenta ainda uma ductilidade superior ao edifício isolado, na direção X. Como já foi

justificado anteriormente, este comportamento deve-se às características das paredes resistentes

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70

segundo X, que ao possuírem muitas aberturas permitem uma maior redistribuição de esforços pela

parede. Assim, o modelo global, com os edifícios adjacentes, apresenta mais fachadas alinhadas

segundo X, e consegue acomodar um deslocamento superior antes do colapso, possuindo portanto

maior ductilidade.

Na modelação das paredes de empena, no caso da envolvente de edifícios, foi considerada a

delimitação imposta pelas paredes perpendiculares. Assim a modelação das paredes de empena

(segundo Y) e o seu comportamento difere do caso isolado para a envolvente de edifícios. Pela análise

das curvas em Y (Figura 66) nota-se que existe um prolongamento dos deslocamentos admitidos,

mostrando assim a maior redistribuição dos esforços pelos elementos separados nas paredes de

empena do modelo da envolvente.

Figura 66 Curvas de capacidade resistente segundo Y

Para determinar o ponto de deslocamento último deve-se identificar o ponto onde a força de corte

máxima é reduzida para 80% (critério 1), observar se há a ocorrência de um mecanismo de colapso

parcial (critério 2) e definir o ponto limite da verificação do drift (critério 3). O menor valor de

deslocamento obtido será o considerado como deslocamento último.

As curvas do modelo envolvente segundo Y, apresentadas anteriormente na Figura 66, têm um

mecanismo de colapso parcial. Porém, segundo a direção X, as curvas de capacidade resistente não

apresentam uma degradação de resistência, não sendo possível impor o critério de redução de 80%

da força (critério 1). Analisando a distribuição de danos das paredes verificou-se que o mecanismo de

colapso da estrutura só ocorre para valores de deslocamentos de topo muito elevados, não fazendo

sentido considerar este deslocamento como sendo o último, dado que não representa uma situação

realista ou conservativa. Para esses valores de deslocamentos, a estrutura já teria atingido valores de

drift muito elevados e outros fenómenos não considerados adequadamente no programa de cálculo

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71

(por exemplo, os efeitos geometricamente não lineares, efeito P-Δ que não é considerado pelo

programa) iriam certamente conduzir a estrutura ao colapso.

Foi utilizado de novo o critério 3, definindo na curva de capacidade o ponto para o qual a estrutura

passa a ter um drift igual ou superior a 0,5 % (Simões et al., 2014).

Na Tabela 14 e Tabela 15 apresenta-se o resultado da análise do drift para a direção X e Y,

respetivamente e para o carregamento pseudo-triangular. A parede 4 (fachada tardoz) foi a primeira a

não verificar o critério na direção X, e a parede 1 (empena) na direção Y.

Tabela 14 Deslocamento correspondente ao drift máximo admitido, edifício com envolvente - direção X

Carregamento Parede 4 δ Passo da análise

incremental Deslocamento topo

[m]

Pseudo Triangular

Piso 1 0,69%

16 0,0069 Piso 2 0,68%

Piso 3 0,11%

Tabela 15 Deslocamento correspondente ao drift máximo admitido, edifício com envolvente - direção Y

Carregamento Parede 1 δ Passo da análise

incremental Deslocamento topo

[m]

Pseudo Triangular

Piso 1 0,03%

9 0,0053 Piso 2 0,03%

Piso 3 0,64%

De notar que a parede que não verifica este critério segundo a direção X é a mesma (parede 4),

tanto para o caso do edifício isolado, como para o caso do edifício com a envolvente, e para a direção

Y a parede 1, sendo também a condicionante para os dois modelos.

Na Figura 67 estão representados os pontos de deslocamento médio último, na curva da

capacidade resistente do carregamento pseudo-triangular, para os critérios 2 (círculo vermelho) e 3

(cruz vermelha). Dado que na direção X o deslocamento último definido pelo critério 2 apresenta valores

muito elevados (nomeadamente dX = 0,158 m), este não foi representado graficamente de forma a se

poderem observar adequadamente os outros valores indicados na Figura 67.

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72

Figura 67 Deslocamentos últimos segundo o critério 2 e 3, edifício com a envolvente

Para este caso, todos os deslocamentos são condicionados pelo critério 3, limitação do drift.

Na Figura 68 e Figura 69 (com uma legenda comum indicada apenas na Figura 68) apresentam-

se os mapas de danos das paredes de alvenaria, na direção X e Y para o deslocamento último

condicionante, determinado segundo o critério 3, definido na Figura 67.

Figura 68 Padrão de danos do modelo da envolvente - direção X. a) Fachada principal P18, b) Fachada tardoz

P4, c) Empena P1, d) Empena P5

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73

Figura 69 Padrão de danos do modelo da envolvente - direção Y. a) Fachada principal P18, b) Fachada tardoz

P4, c) Empena P1, d) Empena P5

Como se pode observar pela Figura 68, a parede P4 (fachada tardoz), para o deslocamento

definido, apresenta quase todos os lintéis plastificados, o que justifica o facto do drift limite ter surgido

primeiro nesta parede, para os dois casos de carregamento. A outra parede alinhada na direção X, P18

(fachada principal) também já apresenta a maioria dos seus lintéis em regime plástico.

Na direção Y (Figura 69) pode-se observar que as paredes de empena têm mais alguns

elementos em regime não linear, apesar da diferença entre o deslocamento último, para a ação na

direção X e Y, não ser muito acentuada. Continua a observar-se um regime plástico nas fachadas da

direção X, o que indicia o efeito de torção já mencionado.

Pelo facto do deslocamento na direção Y devido ao mecanismo de colapso não ser muito distante

do deslocamento condicionante, achou-se interessante mostrar também o mapa de danos para este

deslocamento (Figura 70).

Figura 70 Padrão de danos do modelo da envolvente, deslocamento do mecanismo de colapso - direção Y. a)

Fachada principal P18, b) Fachada tardoz P4, c) Empena P1, d) Empena P5

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74

Assim, na Figura 70 é possível observar claramente o mecanismo de colapso por soft storey,

apresentado na fachada tardoz (P4) no 3º piso, para a direção Y. A justificação para este fenómeno é

a mesma que no caso do edifício isolado, ou seja, os efeitos de torção provocados pela assimetria da

estrutura em planta, que fazem com que os esforços nas paredes segundo a direção Y sejam de certa

forma, transmitidos para as paredes da direção X.

Ao observar os danos das paredes de empena, pode-se concluir que é o mecanismo por soft

storey que justifica o seu comportamento frágil. Os danos na parede de empena P5 encontram-se

concentrados na intersecção com a fachada tardoz (P4), estando os elementos apenas plastificados,

mas justificando o mecanismo de colapso provocado.

Se o mecanismo de colapso na parede P4, não tivesse condicionado a estrutura, seria espectável

observar um comportamento diferente nos danos das empenas, bem como nas curvas de capacidade

na direção Y, que teriam ainda uma maior ductilidade. Isto porque, com a divisão dos elementos da

parede da empena, resultantes das limitações das paredes perpendiculares existentes nos edifícios

adjacentes, haveria ainda uma maior capacidade de redistribuição de esforços pelos diferentes

elementos estruturais.

Uma vez que neste modelo global se está a modelar adequadamente os pisos a diferentes níveis

é interessante observar a influência da existência de pisos desnivelados nos danos das paredes em X.

Para tal analisou-se, apenas para o carregamento pseudo-triangular na direção X, a evolução

dos danos da fachada com o aumento do carregamento. Na Figura 71 apresentam-se várias fases dos

mapas de danos, identificados cronologicamente pelo passo da análise incremental correspondente.

Figura 71 Evolução de danos da fachada principal (P18 e P17)

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75

Com a Figura 71 é possível observar a influência que as fachadas adjacentes e os pavimentos

existentes a diferentes níveis têm na fachada do edifício em estudo.

Na fase 2, delimitado a negro no 3º piso, encontra-se o primeiro elemento alvo deste mesmo

fenómeno, que atingiu o regime não linear muito antes de todos os outros nembos. De notar que este

elemento é intersetado pelo pavimento do edifício adjacente no seu centro. De seguida, na fase 3,

observa-se que o elemento do 2º piso, também identificado na figura, atinge o regime não linear antes

dos restantes nembos nesse piso.

Na fase 4 os nembos do 1º piso já se encontram todos plastificados, à exceção do nembo que

interseta o pavimento do edifício adjacente esquerdo. Este comportamento pode ser justificado pelo

facto de este elemento ser intersetado numa zona próxima do seu nó rígido superior.

Conclui-se então que os danos são mais visíveis nos nembos que nos lintéis, devido à presença

dos pavimentos e aberturas desalinhadas em altura com o edifício em estudo. Esta distribuição de

danos está de acordo com observação de danos de edifícios de sismos no passado, como claramente

é referido em Cattari et al. (2012).

As últimas fases representam o colapso dos lintéis nos edifícios adjacentes (fase 5) e

posteriormente no edifício em estudo, apenas no 2º piso (fase 6).

5.4 Avaliação de desempenho – Método N2

A avaliação do desempenho da estrutura foi desenvolvida para o modelo do edifício isolado e do

edifício com a influência dos edifícios adjacentes. Pretende-se assim comparar o desempenho sísmico

do edifício nas duas situações e concluir se, realmente, a envolvente de edifícios melhora ou não o

comportamento do edifício em estudo à ação sísmica.

Para comparar de forma adequada os dois modelos (isolado e envolvente), é necessário

considerar o mesmo critério na definição dos deslocamentos últimos. Assim, para o edifício isolado

será comparada a utilização do critério 2 (mecanismo de colapso) com o critério 3 (drift), de forma a

mostrar como os resultados são condicionados. De seguida será feita a comparação dos dois modelos

recorrendo à definição do deslocamento último pelo critério mais condicionante, critério 3 (drift).

Uma vez que já se confirmou, que a distribuição de carga pseudo-triangular apresenta resultados

mais conservativos, será este o carregamento para o qual a estrutura será analisada. Para além disto,

como já foi referido, será avaliada a curva com os deslocamentos médios no topo do edifício.

A avaliação do desempenho sísmico é desenvolvida pela análise do ponto de desempenho

sísmico, ou deslocamento objetivo (“performance point” ou “target displacement”), e posterior

verificação de segurança relativa ao ponto de desempenho obtido. Este ponto é determinado pela

interseção da curva de capacidade resistente da estrutura e do espectro de resposta da ação sísmica,

representando assim o deslocamento que o edifício em estudo alcança quando sujeito à ação sísmica

definida (Bento & Rodrigues, 2004).

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Existem vários métodos de cálculo, contudo, neste trabalho recorreu-se à abordagem descrita

na Norma EN 1998-1 (CEN, 2004a). Esta metodologia designa-se de Método N2 e foi proposta por

Fajfar (1988).

Para uma representação e comparação correta da curva de capacidade e do espectro da ação

sísmica definida é necessário transformar as duas representações obtidas anteriormente.

O espectro de resposta da ação sísmica é representado no formato aceleração-deslocamento

(ADRS – Acceleration Displacement Response Spectrum), Figura 72.

Figura 72 Espectro de resposta da ação sísmica no formato aceleração-deslocamento

A curva de capacidade a utilizar no método N2 é determinada pela transformação da curva

retirada da análise pushover, com múltiplos graus de liberdade (n GL), numa curva equivalente de um

grau de liberdade (1 GL). Deste modo, utilizaram-se os fatores de transformação (𝚪), determinados pelo

programa TREMURI, para as direções X e Y (Tabela 16).

Tabela 16 Fatores de transformação do sistema de n GL em 1 GL

𝜞 X 𝜞 Y

Isolado 1,212 1,332

Envolvente 1,182 1,351

Para determinar o período elástico do sistema equivalente (T*) é necessária a representação da

curva de capacidade resistente de 1 GL com uma relação elasto-perfeitamente plástica, ou seja, uma

curva bilinear (Bento & Rodrigues, 2004).

A rigidez inicial da curva bilinear é obtida pela interseção com o ponto (Fy*, dy*), onde Fy*

representa a força de corte na base para a formação do mecanismo plástico e dy* o deslocamento no

limite do comportamento elástico linear do diagrama de capacidade resistente, ou seja, o deslocamento

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77

que marca a transição para o comportamento não linear (CEN, 2010). A rigidez ou declive do primeiro

troço da curva bilinear foi determinada pelo ponto correspondente a 70% da força de corte basal

máxima. A força Fy* foi obtida de forma a que a área abaixo da curva de capacidade de 1 GL e da curva

bilinear seja igual, ou seja, a energia de deformação seja a mesma (CEN, 2010).

A Tabela 17 resume as propriedades das curvas de capacidade bilineares definidas para ambas

as direções, X e Y, para o modelo isolado e para o modelo com a envolvente, condicionadas pelo

critério 2 e 3. A ductilidade (µ*) é definida pela relação entre o deslocamento último (du*) e o

deslocamento no limite da plasticidade (dy*).

Tabela 17 Propriedades das curvas de capacidade bilineares

Isolado

Critério 2 Isolado

Critério 3 Envolvente Critério 2

Envolvente Critério 3

X Y X Y X Y X Y

T* [s] 1,47 0,25 1,48 0,25 1,29 0,27 0,76 0,27

Fy*/m* [m/s2] 0,45 3,22 0,38 2,14 0,54 1,61 0,33 1,47

dy* [m] 0,025 0,005 0,021 0,003 0,023 0,003 0,005 0,003

du* [m] 0,061 0,017 0,032 0,003 0,133 0,008 0,006 0,003

µ* 2,42 3,24 1,51 1,00 5,87 2,59 1,21 1,00

O parâmetro ductilidade deve ser também comparado entre os mesmos critérios de definição de

deslocamento último.

Na secção 5.3.2 foi referido que o deslocamento último relativo ao mecanismo de colapso na

direção X, para o modelo envolvente, atinge valores muito elevados, não sendo correta a sua

consideração para a avaliação da segurança. Contudo, para averiguar a ductilidade deste sistema faz

sentido considerar o deslocamento último relativo ao mecanismo de colapso, dado que este representa

o comportamento da estrutura. Assim, para a comparação da ductilidade serão utilizados os valores

definidos pelo critério 2.

Verifica-se assim que, para o modelo envolvente, a ductilidade na direção X (5,87) é superior à

da direção Y (2,59). O que já seria de esperar, uma vez que as paredes de empena são mais rígidas e

desta forma apresentam um comportamento menos dúctil, mais frágil.

Para o modelo isolado nota-se que a ductilidade em X é inferior à ductilidade em Y, que é

justificado pelo facto de dy* ser muito reduzido para Y, comparativamente a X.

Na direção X, do modelo isolado para o modelo com a envolvente, houve um acréscimo

significativo de ductilidade. Desta forma conclui-se o que já foi referido anteriormente, a continuidade

das fachadas faz com que haja uma maior redistribuição de esforços nas paredes.

Após a definição das curvas de capacidade bilineares para o edifício isolado, foi feita a interseção

das mesmas com o espectro de resposta aceleração-deslocamento de forma a obter a intersecção que

define os pontos de desempenho sísmico.

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78

A metodologia utilizada refere duas fórmulas distintas para o cálculo do deslocamento objetivo

(dt*) do sistema 1 GL equivalente, tendo por base o valor do período (T*).

A estrutura pode ter um período curto, onde se admite que o deslocamento linear e não linear

são diferentes, ou um período médio-longo, onde se considera que o deslocamento linear e não linear

são iguais. A separação destes domínios é feita pelo valor do período TC.

Na Tabela 18 apresentam-se os valores dos deslocamentos objetivo (dt*), bem como os

deslocamentos últimos (du*) no sistema equivalente com 1 GL, para o edifício isolado, com os dois

critérios considerados. Os deslocamentos últimos, escolhidos com base nos mecanismos de colapso

(critério 2), foram reduzidos por ¾ (CEN, 2004b), para representar o estado limite de danos severos.

Tabela 18 Deslocamentos objetivo e último para o sistema de 1 GL, edifício isolado

Critério 2 Critério 3

X Y X Y

du* [m] 0,061 0,017 0,032 0,003

3/4 × du* [m] 0,046 0,013 - -

dt* [m] 0,052 0,009 0,052 0,009

De forma a avaliar o desempenho obtido pela estrutura é necessário verificar então a segurança

da mesma. Para tal, utilizar-se-á o rácio entre o deslocamento último e o deslocamento objetivo, que

garante a segurança se du*/dt* > 1 (Simões et al., 2015). De notar que esta verificação pelo rácio pode

ser feita para o sistema de n GL ou 1 GL, dado que os deslocamentos são proporcionais por serem

afetados pelo mesmo fator de transformação em cada análise.

Na Figura 73 estão representados os valores dos rácios entre os dois critérios, para o edifício

isolado.

Figura 73 Rácio entre o deslocamento último e objetivo, para o edifício isolado

Pela análise da Figura 73 conclui-se que o edifício isolado não verifica a segurança nas duas

direções, X e Y, e o critério mais condicionante no desempenho sísmico é o critério delimitado pelo

máximo drift (critério 3, a laranja). Porém, com o critério 2 a segurança é verificada na direção Y.

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79

Note-se que o rácio representado para o critério 3 é muito inferior ao critério 2, o que torna o

critério mais conservativo. Desta forma é possível observar como é condicionante a opção de avaliar a

estrutura tendo em conta os vários critérios, e que o critério da limitação do drift é realmente muito mais

condicionante para este caso de estudo.

Procede-se então à comparação dos dois modelos elaborados (edifício isolado e edifício com a

envolvente) tendo em conta o critério de definição dos deslocamentos últimos pelo drift, que é o mais

condicionante para todas as situações.

Na Figura 74 apresentam-se as curvas de capacidade bilineares de 1 GL, definidas

anteriormente na Tabela 17, segundo as direções X e Y, para o modelo isolado e o modelo com a

envolvente. Os deslocamentos últimos das curvas bilineares estão representados por uma cruz.

Figura 74 Curvas de capacidade bilineares (1 GL)

De seguida, procedeu-se à junção dos gráficos das curvas bilineares e do espectro de resposta

aceleração-deslocamento, representados na Figura 75, de forma a obter a intersecção que define os

pontos de desempenho sísmico.

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80

Figura 75 Determinação do ponto de desempenho sísmico

Na Tabela 19 apresentam-se os valores dos deslocamentos objetivo (dt*), bem como os

deslocamentos últimos (du*) no sistema equivalente com 1 GL, para o critério condicionante.

Tabela 19 Valores do deslocamento último e objetivo para o sistema com 1 GL

Isolado Envolvente

X Y X Y

du* [m] 0,032 0,003 0,006 0,003

dt* [m] 0,052 0,009 0,027 0,009

Na Tabela 20 encontram-se os valores dos deslocamentos objetivo e último no sistema de vários

graus de liberdade.

Tabela 20 Valores do deslocamento último e objetivo para o sistema com n GL

Isolado Envolvente

X Y X Y

du [m] 0,039 0,004 0,007 0,003

dt [m] 0,063 0,012 0,031 0,013

Analisando o desempenho da estrutura, na Figura 76 estão representados os valores dos rácios

entre o deslocamento último e o deslocamento objetivo, para os dois modelos estudados.

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81

Figura 76 Rácio entre o deslocamento último e objetivo, critério condicionante, modelo isolado e com a

envolvente

Partindo da Figura 76, conclui-se que tanto o edifício isolado como o edifício com os edifícios

adjacentes modelados, não verificam a segurança para a direção X, nem Y, para o critério mais

condicionante, encontrando-se os valores do rácio muito abaixo do limite para a verificação de

segurança, 1, principalmente na direção X.

Assim, a aceleração de solo admissível para o edifício em estudo é inferior aos valores de

referência definidos nas normas consultadas, para a situação isolada e para a situação com a

envolvente.

Comparando então os dois casos, é possível concluir que o modelo com os edifícios adjacentes

apresenta um pior comportamento, é mais condicionante, por apresentar um rácio inferior. Seria de

esperar que a modelação dos edifícios adjacentes fosse melhorar o desempenho do edifício em estudo,

devido à introdução de mais elementos de parede que confinavam o edifício principal e davam-lhe

maior ductilidade. Porém, não é o que se verifica pelos resultados da avaliação sísmica. Assim,

observa-se que a existência dos pisos com alturas diferentes em edifícios adjacentes, isto é com

pavimentos a diferentes cotas, provoca danos significativos ao ponto de implicar o pior comportamento

sísmico do edifício.

Desta forma, conclui-se que o estudo da envolvente de um edifício apresenta grandes

implicações na análise do desempenho sísmico do mesmo, e que é necessário realizar sempre um

estudo da mesma de forma a obter resultados mais coerentes e realistas e estar sempre do lado da

segurança.

É também importante mencionar que há sempre a probabilidade de ocorrer um sismo mais

intenso do que o definido regulamentarmente (como a ação sísmica definida em 5.2). Desta forma é de

grande importância avaliar também o deslocamento último das estruturas, uma vez que este representa

a capacidade máxima das mesmas.

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O critério 3 (drift), revelou-se mais conservativo e condicionante para o edifício em estudo. Com

o trabalho desenvolvido tornou-se evidente que é relevante utilizar todos os critérios de verificação da

estrutura e utilizar o mais condicionante para se estar do lado da segurança; no entanto é importante

ter sempre presente a capacidade total da estrutura e de como esta responde incrementalmente a uma

ação sísmica, que poderá eventualmente ser mais intensa (apesar de com uma baixa probabilidade de

ocorrer) do que a considerada na avaliação do desempenho.

5.5 Propostas de reforço

O reforço de estruturas de alvenaria existentes deve ter especial atenção e deve ser adequado

a cada caso de estudo. Neste trabalho, a análise de eventuais soluções de reforço foi efetuada apenas

para os mapas de danos do modelo envolvente, uma vez que é o modelo que representa mais

corretamente a situação real.

De forma a poder analisar os danos existentes na estrutura resultantes da ação sísmica

regulamentar, foram analisados os mapas de danos das paredes estruturais quando a estrutura está

sujeita aos valores de deslocamentos objectivos determinados anteriormente (apesar de estes valores

de deslocamento serem superiores aos valores de deslocamentos últimos condicionados pelo critério

3). Os mapas de danos para o deslocamento objetivo encontram-se na Figura 77 e Figura 78.

Figura 77 Padrão de danos para o deslocamento objetivo na direção X. a) Fachada principal P18 com edifícios

adjacentes, b) Fachada tardoz P4, c) Parede P2, d) Empena P1

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Figura 78 Padrão de danos para o deslocamento objetivo na direção Y. a) Empena P1, b) Empena P5, c) Parede

P3, d) Fachada tardoz P4

Ao analisar a Figura 77, pode-se concluir que na direção X, tanto a fachada principal como a

fachada tardoz apresentam quase todos os lintéis plastificados. No 3º piso da fachada principal os

nembos encontram-se também todos plastificados.

Desta forma para a fachada principal será importante aplicar uma medida de reforço que

aumente a resistência dos nembos do terceiro piso, visto que os mesmos estão mais vulneráveis por

não serem confinados pelos edifícios adjacentes nesse piso, devido às irregularidades em altura

(Cattari et al., 2012).

Deverá ser dada especial atenção aos nembos que fazem fronteira com os edifícios adjacentes,

uma vez que são mais solicitados, pelo efeito do desnível existente entre os pavimentos dos edifícios

adjacentes.

Nesta direção os efeitos de torção do edifício para as paredes perpendiculares (direção Y) não

são observados.

Na direção Y (Figura 78) é evidente a ocorrência de um mecanismo parcial, já esperado, no

terceiro piso (neste caso o deslocamento objectivo determinado é superior ao deslocamento último,

condicionado pelo mecanismo parcial). Os danos mais significativos apresentam-se assim no 3º piso

na fachada tardoz P4 e na parede P3, pequena fachada segundo a direção Y. A empena P5 apresenta

mais elementos plastificados junto da ligação com a parede P4; este comportamento indicia de novo a

interação com a parede perpendicular devido aos efeitos de torção gerados pela assimetria em planta.

Para a fachada tardoz P4 e parede P3 será de extrema importância aumentar a resistência dos

elementos do terceiro piso dado que os mesmos sofrem rotura por flexão

Com base na distribuição de danos observada a solução de reforço proposta passaria por,

inicialmente, tornar os pisos rígidos no plano e por adicionar elementos resistentes verticais de forma

a reduzir a torção do edifício. O edifício, com estas alterações estruturais introduzidas, deveria ser

avaliado novamente e verificado se satisfazia os critérios de verificação de segurança. Provavelmente

ainda ocorreriam danos nalgumas paredes resistentes; neste caso, essas paredes deveriam ser

reforçadas com, por exemplo a aplicação de uma rede metálica em ambas as faces da parede. Na

realidade o dimensionamento de soluções de reforço para edifícios existentes é normalmente um

processo iterativo, onde são testadas as soluções de reforço através de numa nova análise sísmica e,

de acordo com o comportamento obtido, será necessário definir outra solução ou então prosseguir com

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a solução implementada, se a mesma tiver melhorado o comportamento do edifício e as condições de

segurança passarem a ser verificadas.

Chama-se a atenção que uma das soluções de reforço mais comuns em edifícios tradicionais

passa pela substituição dos pavimentos flexíveis de estruturas de madeira, para pavimentos rígidos de

betão armado. Esta alteração normalmente é conjugada com a introdução de vigas ou cintas nas

paredes de alvenaria de forma a fazer uma melhor ligação entre o pavimento e a parede. Contudo, esta

solução pode ser não adequada, uma vez que o resultado poderá ser negativo porque: (i) há um

acréscimo significativo de massa na estrutura; (ii) se a viga ou cinta no interior da parede assentar

apenas no pano interior de alvenaria ou sobre alvenaria de pedra de baixa resistência (Magenes, 2006).

Em relação ao facto de a estrutura em estudo apresentar uma alvenaria antiga de baixa

resistência, são indicadas de seguida diferentes soluções para o seu reforço: a consolidação das

paredes, melhorando a própria resistência pela picagem e substituição do reboco, introdução de

ligadores transversais metálicos e aplicação de uma rede metálica em ambas as faces da parede. Esta

solução permite diminuir globalmente os deslocamentos laterais e os deslocamentos no topo da

estrutura, como se pode verificar através do estudo numérico feito por Vicente, et al. (2008). A

implementação destas medidas de reforço nas paredes poderá permitir que o critério de verificação de

segurança do drift das paredes seja verificado e, desta forma, o comportamento global avaliado pelo

deslocamento último definido pela curva de capacidade resistente (mecanismo parcial ou redução de

20% da força de corte basal máxima) poderá passar a ser o mais condicionante.

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6 Conclusões e desenvolvimentos futuros

6.1 Conclusões

Os edifícios de construção tradicional dos Açores, representativos de um período temporal

anterior a 1950, são constituídos estruturalmente apenas por paredes de alvenaria de pedra e por

pavimentos flexíveis de madeira. As paredes de alvenaria são os elementos estruturais que conferem

rigidez e resistência à estrutura e onde a massa da estrutura se encontra concentrada. Os pavimentos

são leves e flexíveis no plano, não permitindo uma distribuição de forças horizontais proporcional à

rigidez dos elementos verticais.

Neste trabalho avaliou-se o comportamento à ação sísmica, de um edifício típico de construção

tradicional dos Açores. Este edifício foi escolhido de acordo com as condições atuais que apresenta,

mantendo este as características originais, e outros aspetos importantes para a análise, como o facto

de estar inserido num quarteirão e de ser o edifício mais alto do mesmo.

A análise desenvolvida - análise estática não linear, executada no programa 3MURI/TREMURI -

permitiu determinar os resultados necessários para a avaliação adequada do desempenho sísmico do

edifício.

O programa de cálculo utilizado permite o cálculo não linear de estruturas de alvenaria, sendo

adequado para avaliar o desempenho sísmico de estruturas de alvenaria existentes; tem em conta a

não linearidade dos materiais e permite ter em conta o comportamento não linear ao corte dos

elementos estruturais. De notar que esta análise foi feita tendo em conta o comportamento

tridimensional do edifício, mas considerando apenas o comportamento no plano das paredes de

alvenaria.

Foram realizados dois modelos distintos de forma a comparar a influência, que a envolvente de

edifícios no quarteirão apresenta para o desempenho do edifício à ação sísmica. Assim, foi estudado o

edifício isolado e o edifício englobado no conjunto dos dois edifícios que lhe são contíguos.

Durante a modelação, pelo facto do programa não estar preparado para modelar facilmente

edifícios adjacentes com pisos com diferentes alturas, o processo foi mais moroso do que esperado,

havendo vários obstáculos e dificuldades que foram sendo superadas. Teve-se em atenção a

modelação o mais correcta possível, representativa da situação real existente; desta forma foi

necessário recorrer a um procedimento alternativo para a modelação das paredes de alvenaria com as

diferenças de alturas e pés-direitos. Este procedimento, por apresentar uma grande relevância no

estudo dos mapas de danos de todas as paredes de alvenaria, foi executado minuciosamente. Todavia,

por haver algumas incertezas na forma como o programa gera a malha de elementos e a utiliza para a

execução da análise não linear, foi necessário realizar várias alterações até que o modelo estivesse a

funcionar correctamente e a dar resultados consistentes.

Foram analisados os resultados retirados do programa, sendo que há a opção de obter as curvas

de capacidade resistentes com os valores de deslocamentos médios no último piso e com o valor do

deslocamento num determinado nó de controlo. Concluiu-se que a análise mais correcta e

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representativa do edifício é obtida com os valores médios dos deslocamentos, uma vez que acaba por

caracterizar o comportamento global da estrutura, sendo também mais condicionante.

Para determinar o deslocamento último que condiciona a estrutura foram utilizados três critérios

diferentes, tendo em conta a degradação da força de corte basal (critério 1), a formação de mecanismos

de colapso parciais (critério 2), e os drifts das paredes do edifício (critério 3).

No estudo do edifício isolado, nas duas direções, e para as duas distribuições de forças, dá-se a

formação de um mecanismo de colapso, que induz à interrupção brusca da curva de capacidade

resistente. Uma vez que seria interessante comparar a utilização dos diferentes critérios, para o modelo

isolado, definiu-se dois deslocamentos últimos, um provocado pelo mecanismo de colapso e outro

provocado pelo drift das paredes, prosseguindo com a análise do desempenho para os dois critérios.

Para o modelo com a envolvente, foi feita a análise do desempenho sísmico apenas para o critério mais

condicionante.

Os mapas de danos obtidos permitiram perceber como se desenvolveram os danos ao longo da

aplicação do carregamento lateral e desta forma perceber como ocorreu o colapso do edifício.

Na direção X, para o caso isolado, o colapso é condicionado por um mecanismo de soft storey.

Com a envolvente de edifícios o deslocamento correspondente à ocorrência do mecanismo de colapso

é muito elevado, pelo que o deslocamento último da estrutura foi condicionado pela verificação dos

deslocamentos relativos máximos admitidos.

Os dois tipos de distribuições utilizadas influenciam a distribuição de danos e a formação de

mecanismos de colapso. Na direção Y para o edifício isolado, o carregamento influenciou a formação

do mecanismo no primeiro ou segundo piso.

A avaliação do desempenho sísmico da estrutura foi feita segundo o método N2, recorrendo à

metodologia proposta na Norma NP EN 1998-1 (CEN, 2010). Contudo, esta avaliação não foi realizada

para todas as distribuições de carga laterais consideradas. Como a distribuição pseudo-triangular é

sempre mais condicionante, foi apenas realizada a análise para este carregamento.

Comparando o modelo envolvente com o modelo isolado, na direção X é verificado um aumento

de ductilidade significativo, correspondente à existência de uma parede de fachada contínua e de maior

comprimento nesta direção.

Primeiramente, foi realizada a comparação entre os critérios de definição do deslocamento último

para o modelo do edifício isolado, onde se verificou que o critério 3 é o mais condicionante para a

análise do desempenho sísmico.

Com os resultados obtidos concluiu-se que tanto o edifício em estudo isolado, como o modelado

com os edifícios adjacentes, não verificam a segurança na direção X e Y, sendo que o deslocamento

objetivo por estes alcançados, nas respetivas direções, supera o respetivo deslocamento último

condicionante.

Analisando comparativamente os dois modelos, foi possível concluir que a envolvente de

edifícios prejudica o comportamento sísmico do edifício em estudo. Este resultado é justificado pela

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grande influência dos desníveis entre pisos e pavimentos dos edifícios adjacentes, que provocam mais

danos nos elementos do edifício principal (principalmente nos elementos contíguos), do que ajudam na

ductilidade, confinamento e aumento da resistência.

É importante concluir que o critério do drift acaba por ser o mais condicionante na verificação da

segurança, mas que não representa o comportamento global da estrutura, ou seja, admite colapso

quando uma das paredes atinge o drift máximo admitido.

As soluções de reforço propostas foram baseadas nos mapas de danos das paredes de

alvenaria, para o deslocamento objectivo provocado pela ação sísmica definida. Desta forma foi

possível observar o comportamento das paredes e localizar as zonas condicionantes.

Assim, foi proposto tornar rígidos os pavimentos no plano e introduzir elementos resistentes

verticais para reduzir os efeitos de torção do edifício. Com estas alterações estruturais modeladas,

deveria ser feita uma nova análise, verificando de novo os critérios de segurança da estrutura e

concluindo se estas alterações teriam alguma influência benéfica no comportamento da estrutura.

Propôs-se também a consolidação das paredes de alvenaria, por apresentaram uma alvenaria

antiga de baixa resistência, de forma a aumentar a sua resistência global e diminuir os deslocamentos

sofridos, que são o fator condicionante da análise.

Como comentário final, é possível afirmar que a realização deste trabalho foi muito enriquecedora

a nível pessoal, uma vez que se tratou de um trabalho autónomo de aprendizagem, onde foi lidado com

um programa de cálculo desconhecido, onde foram enfrentadas muitas dificuldades a nível da

modelação, e onde foi desenvolvido o conhecimento na área da engenharia sísmica.

6.2 Trabalhos futuros

Como futuros desenvolvimentos são apresentadas propostas, que não foram analisadas neste

estudo, e que têm um interesse relevante para próximos trabalhos:

1. Análise e caracterização experimental in situ das propriedades mecânicas dos materiais

constituintes deste tipo de edifícios;

2. Caracterização dinâmica in situ do edifício estudado, de forma a confirmar os valores

modelados;

3. Modelação da envolvente de edifícios com a mesma nivelação que o edifício em estudo,

verificando se realmente esta situação irá melhorar o desempenho da estrutura;

4. Adoção, na análise, da possibilidade do comportamento para fora do plano das paredes

de alvenaria;

5. Fazer uma análise mais detalhada das possíveis soluções de reforço;

6. Testar as soluções de reforço propostas e verificar se realmente melhoraram o

desempenho sísmico da estrutura, em particular para os elementos de parede em

contacto com os pisos dos edifícios adjacentes.

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de 1998 nos Açores e a crise sísmica associada - dez anos depois. In C. S. Oliveira, A. Costa, & J. C. Nunes (Eds.), Sismo 1998 - Açores. Uma década depois.

Simões, A., Bento, R., Cattari, S., & Lagomarsino, S. (2014). Seismic performance-based assessment of “Gaioleiro” buildings. Engineering Structures, 80, 486–500.

Simões, A., Milošević, J., Meireles, H., Bento, R., Cattari, S., & Lagomarsino, S. (2015). Fragility curves for old masonry building types in Lisbon. Bulletin of Earthquake Engineering, 13(10), 3083–3105.

Soeiro, A., & DSHUAAH. (1980). Distribuição dos Danos na Ilha Terceira, (Primeiros Levantamentos (% de prédios atingidos por freguesia)). Angra do Heroísmo, Açores, Portugal.

Teves-costa, P., Carvalho, J. F., & Madeira, J. (2014). Modelação numérica 1D de solos de ilhas do Grupo Central do Arquipélago dos Açores. 5as Jornadas Portuguesas de Engenharia de Estruturas, 1–16. Lisboa, Portugal.

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AI

Anexo A

A. a) Edifício lateral esquerdo (visto da Rua Direita)

A. a) 1 Planta do 1º piso, assumida para a modelação do edifício A – Dimensões em metros.

Fonte: Arquivo da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo.

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AII

A. a) 2 Corte transversal, representativo da altura das paredes – Dimensões em metros. Fonte:

Arquivo da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo.

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AIII

A. b) Edifício lateral direito (visto da Rua Direita)

A. b) 1 Planta do 1º piso, assumida para a modelação do edifício B – Dimensões em metros.

Fonte: Projecto de estruturas e arquitectura, fornecido pela Proprietária do Edifício

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AIV

A. b) 2 Corte transversal, representativo da altura das paredes – Dimensões em metros.

Fonte: Projecto de estruturas e arquitectura, fornecido pela Proprietária do Edifício.

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BI

Anexo B

Fichas do Inventário Arquitectónico (Direcção-Geral do Planeamento Urbanístico, 1980).

Ficha nº 549, edifício nº 62,64 e 66 (edifício lateral esquerdo);

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BII

Ficha nº 550, edifício nº 54 – 60 (edifício em estudo);

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BIII

Ficha nº 551, edifício nº 52 (edifício lateral direito).

Page 118: Avaliação Sísmica de um Edifício Tipo de Alvenaria de ... · do edifício em estudo. Neste trabalho pretende-se contribuir para o referido em (ii), estudando o comportamento sísmico

BIV

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CI

Anexo C

Plantas do edifício em estudo

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14.30

14.34

5.62

7.07

21.53

2.45

4.50

4.224.104.90

1.00

1.30

1.40

1.30

1.30

1.50

1.30

1.30

1.40

1.30

1.20

0.60

0.60

4.47

0.60

3.90

0.60

7.63

0.60

0.60

0.30

1.50

0.60

0.60

2.60

1.82

0.60

0.60

0.60

0.20

1.30 2.70

0.60

8.10

A

Avaliação Sísmica de um Edifício Tipo de

Alvenaria de Angra do Heroísmo

Anexo C I

Camila Fagundes

Escala 1:100

Planta do Piso 1

Outubro 2015

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14.34

5.62

21.53

4.80

5.48

4.65

2.75

12.80

0.65

0.85

0.10

4.10 4.22

0.28

1.30

0.60

1.30

0.60

1.30

0.60

1.30

0.91

0.10

0.10

2.60

1.82

2.11

0.60

1.301.551.30

0.80

7.07

8.10

A

Avaliação Sísmica de um Edifício Tipo de

Alvenaria de Angra do Heroísmo

Anexo C II

Camila Fagundes

Escala 1:100

Planta do Piso 2

Outubro 2015

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7.50

0.10

5.49

1.30

0.10

1.50

3.10

0.10

0.10

3.11

0.10

3.56

1.27

0.10

1.99

0.10

5.46

0.10

3.69

3.50

0.92

4.80

0.10

1.20 2.70 4.25

0.10 0.10

14.30

14.34

5.62

7.07

21.53

8.10

AA

A

Avaliação Sísmica de um Edifício Tipo de

Alvenaria de Angra do Heroísmo

Anexo C III

Camila Fagundes

Escala 1:100

Planta do Piso 3

Outubro 2015

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11.75

1.25

2.70

1.15

2.70

2.70

1.25

Avaliação Sísmica de um Edifício Tipo de

Alvenaria de Angra do Heroísmo

Anexo C IV

Camila Fagundes

Escala 1:100

Corte transversal representativo

A

Outubro 2015