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3 fevereiro 2013 literária Ayvu Minuto de Letras

Ayvu Literária

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Minuto de Letras Número 3.

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3 fevereiro 2013

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Minuto de Letras

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Ayvuliterária

Ayvuliterária

Expediente

Editora. Alessandra L.

Conteúdo. Graci Rocha Isaac Nilton Nogueira Neto Maseo Usume

Artístico.Revisão.Diagramação. Alessandra L.

Capa. Paula Kerner

Contato. www.facebook.com/Ayvu.Literaria

Presentes Paula Kerner Wellington Calcagno

Número 03 - Fevereiro de 2013.

‘ayvu’ pode ser t raduzido tanto como ‘palavra’ como por ‘a lma’.

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Paula Kerner

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Um minuto lendo, escrevendo, ouvindo e um minuto de conexão mais ín-tima ao âmago do próprio eu. Um momento de segre-do, um minuto de alma. O tempo é a cruz de todos, Bukowski. Um minu-to descendo da cruz para as profundezas da cons-ciência, mergulhando nos resíduos do pensar ou afogando no mosaico de nossas sementes. Um minuto nos pren-dendo à sabedoria de co-res que alma vê e refabri-ca. Um minuto, parte de um século, por sua vez, testemunha de uma vida de minutos.

Alessandra L.a n t i c r ô n i c a

Um minuto lendo, escrevendo, ouvindo e um minuto de conexão mais ín-tima ao âmago do próprio eu. Um momento de segre-do, um minuto de alma. O tempo é a cruz de todos, Bukowski. Um minu-to descendo da cruz para as profundezas da cons-ciência, mergulhando nos resíduos do pensar ou afogando no mosaico de nossas sementes. Um minuto nos pren-dendo à sabedoria de co-res que alma vê e refabri-ca. Um minuto, parte de um século, por sua vez, testemunha de uma vida de minutos.

XII

III

VI

IX Um minuto lendo, escrevendo, ouvindo e um minuto de conexão mais ín-tima ao âmago do próprio eu. Um momento de segre-do, um minuto de alma. O tempo é a cruz de todos, Bukowski. Um minu-to descendo da cruz para as profundezas da cons-ciência, mergulhando nos resíduos do pensar ou afogando no mosaico de nossas sementes. Um minuto nos pren-dendo à sabedoria de co-res que alma vê e refabri-ca. Um minuto, parte de um século, por sua vez, testemunha de uma vida de minutos.

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Maçãs Envenenadas

Em algum lugar, uma água corrente lavou tudoe expôs as rochasem algum lugar uma desesperança descortinou

uma confusãopequena, rítmicamirrada enroladaem torno de sifechada num cicloobscuro e curto.

Seixos desprezíveis que se acumulam em torções do tempopensamentos primevos,como se não posso viver sem você,se volto, se vou, se falo e por quê,se me entrego ao sonho fixo dos meus sonhos

coisas que se tornam as coisas que sempre foramcada vez que as são para alguémque acrescenta, meu, teu, nosso, quero.

Uma feira de objetos sonhados, de todas as formasde pensamentos e textosde poemas e diálogospara preencher qualquer vazio humano

(uma longa fila de pessoas, pessoas-sacos,preenchidas com pedregulhos,pesadas, lentas e fatais,nas filas para o mercado dos pensamentos,onde podem substituir suas pedras pelos sonhospelos pensamentos, diálogos de paixões e textos da vida.Agora elas flutuam, livres do peso das pedras,agora cheias de palavras que escolheram na feira dos pensamentos).

Não somos na verdade,mas nos construímos e seremos.

Maseo Usumep o e s i a

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Consumamos o existir ao fazer os pedacinhos de existênciapor isto sempre incompleta, nunca existimos completamente

posso imaginar uma saída melhor para qualquer decisãouma ilusão melhor para qualquer verdadeposso pensar em mim melhor do que soudepois disto posso escolher palavras melhoresmas vou sentir as coisas fundamentaisda maneira que reaprendo a senti-las,

algumas, depois que a vemos do avessose tornam diferentespois o conhecimento do verso, é maior que a própria imagem,o saber excede a forma

(uma longa fila de pessoas, pessoas-sacos,que precisavam retornar a feira dos pensamentospois a memória impiedosa volátilcom todo o terror do dia e o tratar das horasendureciam os sonhos,empedravam os textos,perdiam os poemas).

Comprei maçãs na feira, a moça que atendia estava gripadacom um lenço já úmido secava o narizimaginei que os vírus haviam passado às maçãsnão pude comê-las, apesar de vermelhas e lindas,o saber excede a forma.

Acho que ninguém se lembrou do óbviode tocar uma música linda nas maternidades,quem não escolheria nascer com uma música

quem em sã consciência escolheria tudo o que já escolhicurada de mim, sã,livre da fila na feira dos sonhose comendo maçãs envenenadas?

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Isaac Nilton Nogueira Neto

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sem um poeta alexandrino teu corpo todo

deu prum poeta carente a poesia como festa

o espírito às vezes cede lugar à besta

volta tudo e sempre tem um jeito, é o modo

desistir de quase tudo, cinzas e chamas

até nas praças tentei alento, mel e sono

mas lá é fugaz e completamente pequeno

pra quem foge com sua sede, sua dor e mancha

o sonho da existência, também com ou sem

ser ou ter o que quer que seja com quem quer

todo dia a noite toda pensando se vem

inventou sem querer o ser que agora sou

e por querer, satã me afastou de você

mil desertos e vi só, o mar onde vou

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A r a r u n a

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Wellington CalcagnoA r a r u n a

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Todas as manhãs, quando passava diante daquela velha casa ficava imagi-nando milhares de coisas. Pensava sobre a vida glamorosa, que um dia havia ha-bitado aquele amontoado de paredes, que agora caiam aos pedaços. Sonhava com as aventuras, os mistérios e os segredos que se escondiam por trás daquela ter-rível aparência de abandono. Mas nunca, nunca havia ousado investir uma pesqui-sa mais aprofundada, uma invasão inves-tigativa. Já se tinha enraizado no mais profundo da minha juvenil curiosidade a necessidade de descobrir uma fagulha da história perdida, dos romances, das dores e das alegrias. Respirava, dia e noite, a imaginação que tratava dos mundos mágicos que aquele lugar poderia levar-me, sendo então um portal secre-to. Das criaturas ferozes que eu deve-ria enfrentar, diante de um reino cur-vado perante a magnitude dos movimentos de minha espada fumegante e de meu es-tilo quase samurai. Ou talvez, pudes-se me aventurar a encontrar o tesouro que bem no subterrâneo, muito abaixo do empoeirado porão, além da escada aper-tada e com cheiro de mofo e ao final do corredor estreito com paredes de barro cru, lá eu encontraria, o mais bonito baú, de estilo antigo, envelhecido pe-los anos de solidão, eu o esfregaria um pouco com a manga de minha camisa para entender a inscrição delineada com o dourado do ouro, e cuja o nome seria de alguém muito malvado que há muito dei-xara este mundo, e o cadeado, seria meu desafio, mas eu teria ido preparada com um belo pé de cabra, ainda que sabendo das poucas forças femininas, ainda mais na idade em que o corpo pouco se aflorou aos olhos dos outros, mas eu force-jaria muito, sentiria o suor correndo

O casarão

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pela testa e a respiração ofegante, até que finalmente, impondo o peso do corpo sobre a ferramenta, de encontro com o belo baú, ele se abriria num estrondo que somente eu conseguiria ouvir, nas profundezas daquele esconderijo secu-lar. E abriria aquela tampa pesada com a sede de alguém que se perde no deser-to e enfim, sorriria largamente diante do brilho empoeirado das relíquias que lá estariam há tanto tempo.

E durante a noite, quando dei-tava a cabeça sobre o travesseiro, fe-chava os olhos e mergulhava no vasto mundo das fantasias impossíveis, so-nhava com as janelas cor de mogno e a fachada branca degradada do casarão da esquina e via também os vultos de um passado longínquo, diversas gerações transitando desproporcionalmente pelos cômodos daquele lar, se amontoado na iluminada sala de jantar, esbarrando-se pelas escadas num sobe e desce frenéti-co, na varanda apreciando o pôr do sol. E eu os via nitidamente, seus vestidos dos anos 20, 30, e até 60, seus ternos de casamento, enterro, e suas roupas de domingo.Mas eu nunca, nunca realmente desco-briria.

Graci Rochac o n t o

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Maseo Usumec o n c r e t i s m o

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INÍCIO

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FUGA.

Que a fuga não tenha um início, que a despedida não tenha um começo, é o que espera o dis-plicente pensar. Que o final seja apenas final e não tenha seu pró-prio início, e que o único início seja o que já foi no co-meço e o estar do antes agora men-ciona o destino (um terceiro, infalível decerto) a se des-pedir. Na poesia não! Cada final com seu início, cada fuga com seu come-ço, ou mais.

Maseo Usume

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Graci Rochat e a t r o

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Pessoa 1 - Só tem doidos nesse lugar.

Pessoa 3 - Falou o sabichão.

Pessoa 1 - Que, que é heim? Implicando comigo desde o início! Está com inve-ja do meu talento. É isso?

Pessoa 3 - Você se acha demais, pra quem fala só duas coisinhas... (encaram-se como se fossem brigar).

Pessoa 2 -(fica entre os dois com as mãos na cabeça, em gesto de loucura).

Narrador (off) – (fala em tom bem sinistro) Todo mundo queria dar seu palpi-te, parecia a própria mega-sena em dia de prêmio acumulado.

Morto – E esse narrador, mais perdido que cego em tiroteio, como um astro como eu pode atuar assim.

Diretor – Acalme-se, por favor, mantenha calma, você só precisa se deitar no chão e permanecer ali até o final.

Morto – Manter a calma, oh! Senhor, perdoai-os, pois eles não sabem o que fazem.

Entra o câmera-mam tirando fotos de tudo, empolgado com a personagem, mas quando se dá conta de que não há morto no chão fica um pouco confuso, olha para todos sem entender nada e para ao lado do diretor.

Diretor (irritado) – De uma vez por todas, essa peça é pra narrar como a morte se tornou corriqueira, como as pessoas agem diante de um morto. Vocês estão me enlouquecendo.

Narrador – (off) E o sangue continuava ali, correndo fraquinho pelo chão quente.

(Todos começam a discutir – fundo musical abafando as vozes).

Narrador – (off) O murmúrio ia aumentando, as vozes rompendo o som estriden-te do trânsito que ao longe apontava o acontecimento. E lá pelas tantas uma voz se sobressai (pigarreia, tosse para dar a deixa).

Câmera-mam (percebe que é sua deixa e se posta mais a frente) – Alguém olhe no bolso do morto, deve ter carteira, nome ou algum telefone.

Pessoa 2 – Ainda não é a sua deixa, fica quieto ai.

Câmera-mam – Mas...

Diretor – Mas nada, fica quieto.

Câmera-mam – (sai frustrado, com a maquina fotográfica nas mãos)

Narrador – (off) Chega então à reportagem estridente alardeando o fato mór-bido. Mas a policia e ambulância não.

O Mortocont inuação

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Diretor – Será que você pode ficar quieto?

Narrador – (off) Eu?

Morto – Não minha avó, ora que dúvida.

Narrador – (off) Nunca vi um morto tão metido a besta.

Câmera-mam – (voltando para o palco, traz uma filmadora em mãos, cai na gar-galhada) Morto metido a besta. (todos olham para ele, enquanto isso o morto passa mal e cai no local em que antes deveria estar).

Diretor – Pessoal organizem-se, vamos tentar acalmar os ânimos e tentar en-saiar, essa peça é muito importante.

Assistente – Firetor...

Diretor – Agora não.

Assistente – Mas diretor...

Diretor – Ms que coisa chata, o que você quer?

Assistente – Acho que o morto morreu.

Diretor – Graças a Deus, preparem-se, organizem-se, narrador, preparado, va-mos lá. (vai para um canto, assistente sai com ele confusa e os outros espa-lham-se no palco, cada um na sua função).

Narrador – (off) O repórter estupefato olha várias vezes para o corpo; res-pira fundo, faz vários gestos de desaprovação e anuncia que vão gravar. Ar-ruma o cabelo, a gravata, pergunta a uma pedestre se a roupa está lhe caindo bem, ouve sem graça o elogio, confirma a entrada ao vivo no jornal da tar-de, atende ao celular, confere a câmera com o câmera-mam, olha no relógio, olha para o céu, olha para o defunto, confere a câmera novamente, afinal este é seu primeiro furo de reportagem, nada pode sair errado. Respira fundo de novo e se posta em frente à câmera.

Repórter (após seguir as instruções do narrador) - Quem é ou o que estava fazendo aqui ninguém sabe, apenas que foi encontrado um homem de cerca de 50 anos, caucasiano, com mais ou menos 1,60 de altura, calvo, baleado com 3 ti-ros e muito sangue em volta.

Todos ficam amontoados perto do repórter tentando aparecer na televisão.

Narrador – (off) Aos poucos a população vai dissipando, esquecendo o ocorri-do por algo mais interessante, a policia arquiva o caso e o morto...

Assistente (entra contrafeita, as luzes acendem) - Ah! O Morto, já era...Fundo musical, Black out.

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