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Bianca D’Arc Parte I - Cavaleiros do Dragão 2.5 Mestre de Armas

B D - Parte I - Filhas Do Dragão - Cavaleiros Do Dragão 2.5 - Mestre de Armas

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Bianca D’Arc

Parte I - Cavaleiros do Dragão 2.5

Mestre de Armas

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SINOPSE

Quando o meio-irmão de Cara foi gravemente ferido, ela o defendeu da melhor maneira de que pode. Ela sabia lutar, porem era inteligente o bastante para perceber que não poderia igualar-se a um homem no campo de batalha. Não, isto era trabalho do Mestre de Armas, um lutador es-trangeiro misterioso e atraente chamado Tristan.

Mas quando os skiths, criaturas venenosas e mortais atacam, só os dragões podem salvá-los. O dragão Rath chega a tempo e com ele vem sua companheira que já encontrou seu cavaleiro, Sir Thorn. Porém, até que Rath encontre um cavaleiro e ambos os cavaleiros encontrem sua Senhora, os dragões não podem se unir. Mas o destino poderá ajudar ambos os dragões e homens.

Quando aterrissou no chão, o dragão compreendeu que Tristan es-tava em sério perigo sendo atacado por um skith velhaco. A coragem de Tristan impressionou muito ao dragão, que decidiu salvá-lo, pois percebeu nele um forte candidato ao posto de Cavaleiro... Se sua lealdade pudesse ser ganha pelos Dragonianos.

Não muito longe dali, tudo não era o que parecia na família de Cara e de seu meio irmão, pois a família queria contratar um casamento sem amor para ela, vendendo-a para o licitante que oferecesse a maior oferta. Tristan e Thorn deverão lançar mão de toda sua diplomacia e habilidade para fazê-los mudar de ideia e ganhar o coração de Cara por eles mesmos.

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Personagens principais

Lady Cara: a irmã do novo Senhor de Fadoral que a mantém em casa em vestidos de passeios ou armadura para batalhar a fim de manter suas terras que estão sendo atacadas.

Sir Thorn: um cavaleiro jovem formando par com um dragão antigo, Lady Sharlis, eles voam além da fronteira da Guarida.

Tristan: um guerreiro estrangeiro que havia se tornado, recentemente, Mestre de Armas em Fadoral.

Lady Sharlis: dragão fêmea parceira de Sir Thorn e companheira de Sir Golgorath.

Sir Golgorath ou Rath: um dragão mais velho que havia se acasalado com Lady Sharlis, entretanto, vinham se mantendo separados, por décadas, devido a falta de uma família humana para compartilhar suas longas vidas.

Prólogo

— Faedric! Saia dai! — Rath gritou na mente de seu novo compan-heiro. Faedric estava lutando com muito pouca habilidade contra um in-

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imigo em número muito maior e estava em desvantagem apesar de contar com o apoio do dragão.

— O rei! — Faedric gritou. Apesar do calor da batalha interferir na projeção de seus pensamentos para o companheiro dragão, de qualquer forma foi ouvido. O coração de Rath afundou, o rei descia por uma rua estreita onde, de repente, estourou a confusão.

Rath dobrou suas asas e desceu como uma seta. Uma seta com grandes dentes afiados e a habilidade de respirar fogo. Ele direcionou sua trajetória para o cavaleiro que, para seu crédito, estava indo em direção ao Rei, para lutar com ele.

O velho Rei Jon era bom e justo e havia feito muito em sua terra, mas tinha inimigos. Pelo fato de Draconia ser rica em recursos naturais, seus vizinhos não eram tão pacíficos quanto os habitantes desta terra fértil. O rei e sua grande família caíram sob o fogo muitas vezes, mas desta vez…desta vez era diferente.

Ele foi emboscado no coração de Castleton, a cidade abaixo de seu castelo. Pego desprevenido por uma força superior e contando com apenas três cavaleiros e nenhum dragão a seu lado.

Pior, o rei não iria comprometer o dragão que compartilhava sua alma porque sua companheira estava lá, na rua com ele. Rath sabia que o Rei Jon nunca deixaria sua esposa desprotegida e os atacantes eram muito numerosos.

Mas Rath podia ajudar. Se ele pudesse só descer lá, se houvesse es-paço.

De todos os dragões começando a fervilhar acima dele, só Rath ousou pousar na estreita rua da cidade e os perigos entre os edifícios firmemente construídos. Ele era excelente no vôo e mais ágil que os outros que estavam correndo para responder ao chamado do rei. Bateu no chão com suas garras afiadas, deslizando um pouco nos paralelepípedos, mas não deixaria que as condições duras o intimidassem.

Ele teve que aterrissar na rua, abaixo do laço de lutadores. O inimigo escolheu bem seu lugar. Só havia alguns poucos lugares, na velha cidade de Castleton, onde um dragão não podia facilmente aterrissar ou manobrar.

O rei e rainha foram à loja de um comerciante em uma das ruas mais velhas. Ele queria fazer uma surpresa para sua esposa por ocasião de seu aniversário de casamento e decidiu levá-la na cidade como parte da cele-bração especial. Tinha sido uma resolução de momento e ele tomou pro-teção mínima para acompanhá-los: somente os cavaleiros que ficavam fora das câmaras reais, como guarda de honra.

Os dragões parceiros daqueles três cavaleiros foram instruídos a voar acima dos telhados como uma pequena festa real. Como resultado,

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Rath estava muito longe para ajudar quando a armadilha foi ativada em torno do rei e da rainha.

Espadas se chocaram e tiniram quando Rath usou suas garras tra-seiras para derrubar atacantes fora de seu caminho. Ele não podia incen-diar entre os edifícios a menos que quisesse começar um inferno que mataria centenas de cidadãos inocentes. Por isso usou seus dentes e gar-ras e as espadas dos cavaleiros que tinham ido com o par real.

Faedric era jovem. Mal treinado. Ele não era um espadachim, ainda não. Rath se preocupou como ele se lançou sobre os atacantes. Muitos de-les ficaram fora de seu caminho.

Outros dragões estavam chegando, seguindo o mesmo caminho perigoso em direção à rua, com diferentes resultados: alguns dos menores fizeram isto seguramente seguindo seu exemplo, logo atrás de Rath ou abordando do outro lado do gargalo. Vários outros dragões caíram duro gritando de dor ao falharem em achar um caminho seguro até a rua, que-brando ossos e esmagando partes de edifícios e iluminações de rua. Rath se preocupou novamente enquanto trabalhava de modo mais íntimo para o rei.

Havia dois cavaleiros mais velhos que estavam lutando em torno do rei e o pobre Faedric, mantendo a rainha no centro de seu pequeno grupo. O rei lutou valentemente ao lado de seus cavaleiros e todos tiveram que re-conhecer — como Rath fez — Faedric era o ponto mais fraco em sua de-fesa.

De muito longe, Rath assistiu horrorizado quando Faedric caiu.

Tudo aconteceu em câmara lenta e Rath assistia, sentindo a dor de Faedric como se fosse nele próprio. Então a rainha gritou, sangue ver-melho pulsava em torno da faca cravada em seu tórax. Ela tinha sido atingida no coração.

O rei, vendo sua esposa amada cair, girou o pescoço e examinou um dos assassinos. Os dois cavaleiros tentavam ajudar, matando aqueles que tentavam atingir o rei e a rainha, mas não davam conta da quantidade de agressores. Eles eram muitos para derrubar.

Enquanto Rath abria caminho em direção a rainha caída, derrubava o inimigo, eliminando todos em seu caminho. Suas garras estavam man-chadas com o sangue do inimigo, mas não era suficiente. Nunca seria sufi-ciente trazer de volta Faedric. Ou rei e a rainha.

Mãe Querida de Todos. O rei e a rainha!

Rath uivou sua dor para os céus quando percebeu que ambos es-tavam mortos.

Todos mortos. O par real. Os dois cavaleiros mais velhos e Faedric.

A dor de Rath deu um salto. Projetando-se acima da pilha de corpos, como os outros dragões, deu vazão a toda a sua raiva e duelou levando dor

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aos assassinos restantes. A rua ficou vermelha com tanto sangue correndo. Sangue do inimigo. Sangue de amigos.

Nenhum dos atacantes viveria para contar. O ar estava cheio dos rugidos e gritos de dragões. O som de desespero. O sentimento de raiva e luto.

Rath sentiu a dor da perda e a culpabilidade, ele aguentaria para o resto de sua longa vida por ter escolhido um homem que não estava pronto para defender o rei e rainha…ou até ele mesmo.

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CAPÍTULO UM

Rath era um dragão velho, velho o suficiente para ter tomado mais de um cavaleiro como seu companheiro. O ultimo cavaleiro que havia tomado, morreu antes de seu tempo em uma batalha para a qual não estava preparado para lutar. Rath se culpava por ter escolhido Faedric somente pela bondade de seu coração. Pensou que o jovem teria tempo para apren-der as habilidades que eram necessárias à um guerreiro. A culpabilidade que Rath sentia, acima de seu julgamento, o enviou a exclusão por dé-cadas.

Quando ele terminou seu exílio auto imposto, decidiu esperar pelo homem certo para ser seu próximo cavaleiro. Aquele homem, ele decidiu, deveria ter ambos os requisitos: o coração puro e verdadeiro, merecedor de ser um cavaleiro e as habilidades de um perito guerreiro. Rath não que-ria passar novamente pelo tipo de perda que ele experimentou com Faedric.

Nem mesmo por sua companheira, Sharlis. Ela era uma excelente fêmea e juntos eles tiveram cinco crianças dragão maravilhosas, tinham sido pais por mais de vinte descendências humanas. Foi uma união longa e frutífera, ele esperava ansiosamente o dia em que encontraria o homem certo para ser seu parceiro, então ele poderia retomar a união com sua companheira.

Sharlis já havia escolhido um cavaleiro, Thorn. Ele havia se formado recentemente em guerreiro mestre, estava designado para a Guarida da Fronteira. Era bom o suficiente para ensinar aos outros cavaleiros sobre arco e flecha e lança. Ninguém na nova Guarida da Fronteira podia combi-nar sua habilidade com armas de longo alcance, as quais formavam a primeira linha de defesa do cavaleiro, seguidas do seu dragão. De fato, poucos no reino possuíam maior habilidade que ele com uma lança ou com o arco e flecha.

Sharlis e Thorn agora eram parceiros, estiveram lutando por quase dez anos. Rath estava impaciente para achar seu próprio cavaleiro. So-mente depois, aqueles dois homens poderiam começar a procurar por sua companheira. Só depois que os homens achassem uma mulher para com-partilhar suas vidas e paixões é que os dragões estariam livres para con-sumar seu laço vitalício uma vez mais. Os laços entre um dragão e um cav-aleiro eram tão fortes que a paixão derramada acima pelo casal de dragão era sentida pelo seu cavaleiro.

Só o amor e aceitação profundos de um companheiro permanente, podiam suportar a paixão que os dragões inspiravam em seus cavaleiros. Nenhuma outra mulher faria. Uma companheira de sexo casual não satis-

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faria a necessidade e podia deixar os cavaleiros loucos com a sobrecarga emocional.

Há muito tempo, tinha sido decretado que os dragões vinculados a seus cavaleiros deveriam se privar para proteger os humanos, lutariam com seus companheiros até os que os cavaleiros tivessem a sua própria companheira. Só então podia o dragão e um humano formar uma família completa onde todos poderiam obter muito prazer em segurança.

Para ficar próximo de sua companheira e um pouco de sua de-scendência, Rath foi para a Guarida da Fronteira e concordou em ensinar os dragões mais jovens as técnicas voadoras que ele aperfeiçoou em muitos séculos. Rath tinha a forma aerodinâmica certa para posicionar suas asas e rabo superior, controlando melhor seu Vôo pelo reino. Ele com-partilhava livremente aquelas habilidades, que podiam ser aprendidas pe-los outros dragões. Ele não era um daqueles que dominava ninguém porque havia nascido com melhor envergadura.

Mas ele admitia, com uma certa quantia de orgulho paternal, o fato de que toda a sua descendência assemelhava-se a ele. Eles eram ferozes voadores que dominavam a arte de manter seus cavaleiros seguros em suas costas por quase toda manobra. Ensinou a eles todo seu conheci-mento sobre o assunto, bem como para muitos outros pares ao longo dos anos.

Sharlis era da mesma maneira talentosa e entre eles, os chamavam de Mestres dos Vôos da Guarida da Fronteira. Era uma honra que vestiam com humildade apropriada. Qualquer hora ele começaria a ficar cheio disso tudo, lembrava daquele engano horrível que havia escolhido Faedric como seu cavaleiro. Faedric tinha sido bom com armas no chão, porém não estava treinado para levantar uma espada para salvar sua vida, e foi isso que o matou.

Rath compreendeu finalmente que não podia tê-lo protegido comple-tamente. Se eles estivessem no ar, Faedric teria vivido para lutar — ou pelo menos viveria para aprender a lutar em outro dia. Mas compreendia seu erro, Faedric tinha sido sua escolha. E por isso, Rath sempre aguen-taria a culpabilidade.

Ele devia ter escolhido melhor. Faedric tinha coração de cavaleiro, mas não a habilidade. Jurou durante todo este tempo que escolheria um cavaleiro completamente treinado e merecedor do nome desde o início.

-o-

Rath foi um dos primeiro no ar quando o chamado para as armas saiu. Por acaso, ele tinha levado uma asa de batalha para um exercício que havia planejado ensinar aos pares jovens de dragões e cavaleiros a fim de lutarem juntos e mais próximos como um grupo compacto. Eles estavam

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posicionados de forma mais íntima na área de ataque, entretanto todos eram jovens parceiros, mas eram bons lutadores já haviam visto um pouco de ação nas escaramuças recentes.

O exército de Skithdronian havia montado ataques de surpresa ao longo da borda vários meses no passado. A escalada de violência na Fronteira, era a razão principal que levou a decisão do rei de criar uma nova Guarida naquela região. Não se preocupava de que lá houvesse maior número que o habitual de dragões jovens que tinham escolhido seus cav-aleiros recentemente. O excesso de jovens lutando juntos em pares, com o aumento em hostilidade na área, não pressagiava um bom futuro. O rei e seu conselho decidiram tomar uma ação bastante drástica de criar uma nova Guarida do nada, estava empreendendo uma ação bastante ino-vadora. De fato, era algo que não tinha sido feito em gerações.

Diferentemente dos dragões que formavam par, Rath não tinha que esperar por um cavaleiro para prosseguir, então ele era um dos primeiros a cruzar a cena da borda. Um par jovem lutava com suas asas logo atrás dele, e em seguida se juntaram para ajuda-lo a derrotar esta incursão mais recente. No momento, entretanto, ele e dois outros dragões avulsos foram os primeiros a chegar.

Era uma batalha familiar. Mantinham afetuosamente seguros uma família nobre que já havia perdido seu patriarca para as incursões con-stantes sobre sua terra. A família de Fadoral era azarada suficiente para viver da borda com Skithdron. Entretanto haviam muitas famílias nobres seguras nas terras ao longo da fronteira, as terras Fadoral ofereciam uma das passagens mais fáceis para o cruzamento da fronteira, e por essa razão, era constantemente testada.

Em outro lugar ao longo da fronteira, havia precipícios íngremes e um rio largo causando muito mais dificuldade aos invasores. A casa Fado-ral possuíra no passado, muitas fazendas com acres intocados, com um ter-reno relativamente plano que oferecia pouca resistência natural para os in-vasores e porque a Deusa havia amaldiçoado os skiths a se rastejarem.

Skiths era criaturas do mal de origem mágica. Tanto quanto os dragões que tinham sido nutridos por magos antigos para proteger e guardar, os skiths tinham sido criados por um mago trapaceiro — o Mago Skir era extremamente amaldiçoado. Ele e seus aliados tinham sido derro-tados na última grande guerra pela casta de Magos Draconianos, mas muitos deles viveram e prosperaram na terra que haviam reservado para eles.

Eles eram criaturas volumosas, como serpentes com dentes afiados e apetites vorazes. Eles comiam qualquer coisa que se movesse e podiam partir um humano em dois com uma rápida dentada. Eles tinham outra arma que era lançada por uma boa distância, era um spray venenoso que cuspiam de suas presas por vários metros. O líquido era tão ácido, que po-dia até queimar as asas de um dragão.

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Para os dragões, os skith eram um real oponente. Mas o fogo de dragão podia queimar um skith deixando-o como uma escória de carvão, mas com o tempo ficaram espertos.

Rath tinha polido suas habilidades caçando os skith ao longo dos meses desde que ele tinha sido encarregado da criação da nova Guarida da Fronteira. Ele fritou dúzias de skiths desde sua mudança para a fronteira e não teve nenhuma dúvida de que ele mataria muitos mais antes deste con-flito ser concluído de uma vez por todas.

O único skith bom, era um skith morto. Eles não tinham nenhuma consciência, nenhuma inteligência real. Não gostavam de dragões, tiveram uma sociedade tão complicada quanto seus companheiros humanos e sentiam as mesmas emoções. Amor, orgulho, ciúmes e sim, ódio, desgosto e raiva eram todos parte do terreno comum entre os dragões e a humanos.

Skiths, por contraste, tinham pouca emoção diferente da fome des-cuidada. Consumiam tudo com apetite, dirigiam-se aos humanos para caçar e matavam a toda hora. Não existia nenhuma compaixão em um skith. Nenhum coração. Nenhum amor. E não havia também, muita in-teligência.

Rath fez o inventário do campo de batalha. Uma vez tinha estado naquele feudo que era prospero com vários pomares e um sombrio bosque de árvores onde as cabras e ovelhas pastavam. Aquela área arborizada agora fornecia cobertura para o inimigo, uma desvantagem para a defesa. Alguns estavam a cavalo, mas muitos dos guerreiros estavam a pé, vestindo danificadas armaduras empoeiradas, que haviam sido remen-dadas mais de uma vez.

Este grupo pequeno de defensores haviam sido atacados repetida-mente e só recentemente, tiveram ajuda dos dragões e cavaleiros em nu-mero suficiente para vir ajuda-los. A batalha já estava comprometida, mais que uma dúzia de skiths enviou para fora numa primeira onda de ataque dirigido à frente dos homens atacando todos em seu caminho, antes de chegar a ajuda contra o inimigo.

Eles estavam fazendo incursões com a defesa esfarrapada, mas Rath e seus dragões da mesma categoria poriam fim a isto brevemente. Infla-mando cuidadosamente à medida que foi chegando, Rath primeiro sobreVôou para distrair os skiths de sua presa humana. Ele queria que as criaturas focassem na nova ameaça que vinha acima deles, permitindo que os homens feridos tivessem tempo para retroceder em segurança antes dos dragões poderem se empenhar em derrotar os skiths diretamente.

Em uma manobra, que ele pessoalmente ensinou para muitos dos dragões mais jovens, lançaram chamas descendentes em um ângulo en-quanto voavam passando com precisão perigosa, brindando os skiths, e não os lutadores humanos que estavam fugindo para segurança. Rath fez o primeiros passarem com dois outros dragões sem cavaleiro, mas logo se

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juntavam no céu com aqueles com muitos cavaleiros de porte. O resto dos dragões chegaram a tempo.

— Naru e Venri,— ele chamou mentalmente aos dois dragões sem cavaleiro. — Vocês virão para a terra lutar comigo e se empenham direta-mente enquanto os dragões com cavaleiros lançam chamas acima deles?

— Siga Mestre do Vôo, eu estou com você. — Naru respondeu pronta-mente enquanto Venri posicionou-se para outro passo.

Venri era um dos filhos mais velhos de Rath. Venri recentemente ter-minou o luto pela perda de seu primeiro cavaleiro. Um par que durou mais que um século. A primeira perda era muito, muito dura, Rath lembrou de sua própria experiência. O primeiro era uma experiência que machucava profundamente, mais pelo fato de você estar desprevenido para a dor in-tensa da perda. Pelo menos foi o que Rath sentiu.

Ele conversou longamente com seu filho sobre o assunto nas últimas semanas desde que Venri pôs um fim a sua solidão nas montanhas e se re-uniu aos graus de dragões de trabalho. Tinha sido Venri a voluntariar-se para juntar-se a seu pai na Guarida da Fronteira e isso o tinha deixado muito orgulhoso. Ter o filho trabalhando ao seu lado significou muito para Rath.

— Eu estou com você também, Pai. — Venri respondeu enquanto ele ignorava o topo em que os skiths cuspiam. Incendiava ao redor principal-mente para se proteger do ácido, que vaporizava quando entrava em con-tato com fogo.

— Bom, Venri, tome o flanco norte. Naru, tome o Sul. Eu descerei para o meio e nós três seguraremos a linha enquanto nossos irmãos no ar lançam chamas por cima deles. — Comunicando depressa seu plano para os líderes da luta, agora formando grupos no céu acima deles, Rath levou o ataque, e aterrissou no centro do espaço passando sem tocar entre os de-fensores humanos e os malignos skiths que cuspiam.

Lutar no chão não era sua forma favorita de agir, mas neste caso, era o uso mais efetivo dos recursos. Rath soube que os pares jovens, recente-mente formados, lutavam juntos como uma unidade. Normalmente um dragão sem cavaleiro como Rath não ousaria levar um grupo misto de cav-aleiros e dragões, mas naquele momento, como um mestre de vôo, Rath era o mais classificado e mais experiente.

Competia a ele permitir que os cavaleiros permanecessem no alto, onde estariam mais seguros. Tendo só dragões no chão repleto de skiths, aqueles que estavam acima de podiam livremente lançar chamas, seu fogo não prejudicaria outros dragões, mas fritaria os skiths. Incendiariam em cima e abaixo, e derrotariam as criaturas de forma mais rápida, com menos perigo de atingir os humanos e dragões semelhantes.

Enquanto Rath colocava seu plano em movimento, alguns skiths lu-tavam para quebrar seu plano. Eles tentaram voltar em direção a copa das

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árvores, mas qualquer que fosse o inimigo acostumado a pastorear eles eram suficientes para detê-los. A linha das criaturas ficou rota enquanto al-guns tentaram arremessar adiante.

Eles só precisavam de três dragões sem par. A estratégia montada por Rath com os dragões no chão os deixavam livres para tomar banho de chamas dos seus irmãos sem arriscar um cavaleiro. Três dragões contra mais de uma dúzia de skiths não eram chances muito boas, mas era tudo o que eles tinham para trabalhar.

Venri e Naru estavam indo mais distante empurrados para o lado ex-terno da linha curvada. Rath teve um momento difícil quando um skith fi-cou a um passo dele, mas ele estava muito preocupado com as criaturas restantes para notar aquele único velhaco no momento. Ele constante-mente incendiava, empurrando as criaturas de volta com seu fogo, mas ele sentiu a queimadura do ácido no lugar sensível onde a asa encontra o corpo e percebeu que um skith trapaceiro havia chegado por trás dele.

Rath espiou atrás, guindando seu longo pescoço para o lado, assim poderia fazer o inventário do que estava acontecendo lá. A visão que en-controu o deixou profundamente chocado, congelando-o no lugar por vários segundos, surpreendido.

Um único homem em uma danificada armadura estava subindo sobre um skith fazendo uma manobra que era completamente desconhecida para ele. O tempo todo, o skith sacudia e tentava rolar, numa manobra proje-tada para esmagar o homem embaixo do corpo gigante do skith. O homem era louco, ou tinha desejo de morrer.

Mas enquanto Rath o assistia naqueles poucos segundos que pare-ciam como toda sua vida, o guerreiro enrolou suas pernas em torno do skith prendendo-o pelo pescoço e, usando ambas as mão ele mergulhou sua espada de forma descendente no cérebro do skith. Sangue preto e ácido escoava para fora e em torno do cabo da espada.

A criatura oscilou por um momento, e logo então desmoronou no chão. Morto.

O homem deslizou fora do pescoço da criatura buscando um novo in-imigo. Rath estava pasmo com sua audácia e completamente impression-ado com sua habilidade e coragem. Este homem era um guerreiro merece-dor do nome cavaleiro. Rath nunca ouviu falar de um único homem que houvesse lutado contra um maduro skith sem ajuda de mágica ou de qual-quer outro tipo de ajuda e que saísse da luta intacto.

— Mestre de vôo! Nós os incendiamos! — Veio o grito de advertência de um dos dragões acima dele.

— Para mim, soldado! — Rath trombeteou ambos mentalmente e com um rugido enquanto ele girava sua cabeça para incendiar mais uma vez os skiths na frente dele.

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Rath espalhou sua asa para cobrir o guerreiro no chão um segundo antes de assoprar fogo a sua frente. Ou o homem ouviu a advertência muda de Rath ou percebeu que deveria se proteger buscando o único escudo disponível. Qualquer que fosse o caso, Rath ficou contente por ter prote-gido o homem valente do fogo lançado por seus irmãos, pois a área ao re-dor deles estava continuamente recebendo o lançamento das chamas expelidas pelos dragões.

Um depois do outro, os cavaleiros e dragões que voavam acima lançaram longas chamas tirando os skiths remanescentes da área. Rath e seus dois companheiros que estavam no chão incendiando constantemente, criaram uma parede impenetrável na frente, enquanto a força de ataque principal no ar, reduzia o resto do skiths queimados transformando-os numa escória de carvão.

Depois de vários minutos de ataque concentrado, o skiths não exis-tiam mais ali.

E o corajoso homem que tinha toda probabilidade de morrer com a pele queimada, permaneceu embaixo da asa de Rath, protegido da chuva de fogo ao redor da melhor forma que Rath podia administrar. Ele estava provavelmente quente, mas Rath esperava que não estivesse queimado.

CAPÍTULO DOIS

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— É seguro, tudo terminou agora, guerreiro. — Rath falou mental-mente, o homem que se abrigava embaixo de sua asa entendeu o que ele falou e pulou da sua proteção. — O skiths não existem mais aqui.

O homem permaneceu em sua posição e procurou. Rath notou as en-volturas de espada em suas costas e percebeu que este lutador ainda es-tava armado. Ele perdeu uma de suas lâminas quando apunhalou o crânio do skith, mas ainda tinha outra, agarrada a sua mão.

O guerreiro estava parado fazendo o inventário da situação antes de girar e olhar para Rath. Todos estavam quietos no momento, mas eles dois pareciam perceber que não duraria. Os soldados inimigos estavam agora se reagrupando. Eles poderiam atacar, até com os dragões presentes ou retrocederiam. Os defensores deveriam permanecer vigilantes.

— Obrigado por proteger minhas costas, guerreiro. Nunca antes em todos os meus anos, testemunhei um homem sozinho matando um skith maduro. Eu nunca havia visto isso. — Rath perguntou-se se o notável homem podia ouvi-lo. Era um presente raro poder falar com dragões.

— Eu jamais gostei tanto de uma tempestade de fogo como essa que seus companheiros soltaram, Sir Dragão. — O guerreiro deu um amplo sor-riso, a alegria da batalha era clara em todo seu movimento. — Obrigado por me proteger. — O guerreiro falou baixo e houve um clarão de aventura em seus olhos cinza, quando se moveu depressa. — Mas no momento, eu tenho que reunir as tropas, no caso do inimigo ser bobo o suficiente para nos atacar novamente. Eu lhe desejo um bom dia.

O homem se moveu rapidamente para longe, já chamando os solda-dos que aguardavam suas ordens. Este, então, seria o novo Mestre de Ar-mas que tantos cavaleiros tinham comentado. Eles disseram que era um guerreiro como nunca visto. Rath havia acabado de testemunhar e julgar o porque desses comentários. Sua coragem era grande… era assim que as lendas nasciam.

Ele não era um homem jovem, não teria vivido tanto se fosse ver-dadeiramente um bobo com mais coragem que cérebro.

Mas ele ouviu Rath quando ele falou em sua mente? Rath não podia estar certo mas estava intrigado o suficiente para querer conhecer muito mais sobre este estranho guerreiro. Rath tentou seguir o homem, mas o ácido lançado nele queimava em seus ombros, fazendo-o silvar de dor.

Maldição. Ele havia esquecido o veneno.

Rath girou seu pescoço ao redor para inspecionar a articulação do ombro. Estava feio e vermelho. O ácido já havia comido a camada superior do ombro, na parte mais magra da articulação. Ele precisava fazer algo antes piorar.

Água. Ele precisava de água — e muita — para diluir o ácido. Ele começou a caminhar devagar e dolorosamente bem acima procurando por

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um poço, encontrou o lugar abandonado, tudo que era remanescente de uma fazenda que outrora havia sido muito bonita.

Mais dragões começaram a chegar. Mais lutadores experientes de outra asa da batalha que tinham sido despachados da Guarida da fronteira. Rath mancava e dois cavaleiros circularam e aterrissaram bem próximos a ele.

— Gareth e Lars ajudarão você enquanto nós aguardamos, Mestre de Vôo, — um dragão jovem chamado Kelvan comunicou mentalmente à Rath. Ele conheceu ambos os cavaleiros do jovem, ficou contente quando eles en-contraram sua companheira, uma mulher adorável chamada Belora, que era uma filha perdida da Casa Real de Kent. Tal acasalamento era feliz en-tre a geração mais jovem de dragões e cavaleiros, pressagiado o bem para sua nova Guarida.

— Eu fico contente por qualquer ajuda que possa dar. Fui pulver-izado por trás. — Rath deliberadamente incluiu ambos, Gareth e Lars, em sua comunicação junto com o dragão jovem e a adorável Rohtina, que era companheira de Kelvan.

— Nós vimos,— Rohtina respondeu. Ela era suave na sua fala para uma dragão fêmea, mas isso era provavelmente porque era suave com Rath. Ele parecia temer por sua própria descendência. Rath podia só imaginar a lista de candidatos que sua filha Rohna citou para ele, quando esteve na zona de exclusão, por luto à Faedric. — Aquele homem matou o skith — ela hesitou um pouco. — E ele fez tudo sozinho.

Seu tom capturou perfeitamente o assombro que todos sentiram por tal feito. Os dragões aterrissaram e Gareth e Lars saltaram de suas costas, mas existia alguém no poço já. Uma figura pequena numa armadura danifi-cada já estava puxando baldes da água pra cima do fundo e bem posi-cionada para eles e pronta para ajudar Rath. Ela viu quando ele tropeçou nos últimos passos dali. Um dos lutadores locais deve ter percebido que ele precisava de ajuda, agradeça a Mãe de Todos. Quanto mais cedo eles diluíssem o ácido, melhor ele ficaria.

Os dois cavaleiros agradeceram o pronto atendimento do lutador lo-cal e agarraram os baldes correndo para o lado de Rath para banha-lo com água fresca . Ambos os cavaleiros viram tais queimaduras antes. Eles aprenderam sobre a anatomia do dragão por seu companheiro e sabiam o quão era melhor aplicar os baldes em pequenas quantidade de água para maior efeito. Eles correram de um lado para outro muitas vezes, enquanto a figura pequena no poço se manteve fornecendo os baldes de água tão preciosos naquele momento.

Quando ficou claro que haviam retirado por completo o ácido inimigo outros vieram para ajudar. O Mestre de Armas mandou que eles ficassem ao lado de Rath e os cavaleiros e a figura no poço se organizaram em uma linha para passar os baldes de forma mais rápido, entre o dragão e o poço.

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Não levou muito tempo depois disso para a dor começar a aliviar. O veneno foi diluído o suficiente para se tornar inofensivo para um dragão.

— Eu penso que você não pode voar por alguns dias, Mestre de Vôo, — Lars disse em voz alta, inspecionando o ferimento. Rath suspeitava disso também, julgando pela dor que ainda sentia ao tentar mover a articulação. O ácido queimou fundo.

— Nós cuidaremos dele,— uma voz feminina verbalizou chamando de frente a eles.

Rath moveu sua cabeça para olhar a figura leve que havia trabalhado incansavelmente para ajuda-lo. Não era um homem ou menino pequeno, como ele pensou. Enquanto caminhava em sua direção, ela foi tirando seu capacete derramando cachos vermelhos dourados ao redor de seus om-bros. Era uma mulher. Uma espadachim que havia lutado ao lado dos homens, e que depois veio em sua ajuda quando viu que Rath caminhava dolorosamente em direção ao poço.

Ele olhou para ela novamente. Isto era uma mulher, não só de cor-agem e força, mas de inteligência também.

— Senhorita Cara — Gareth falou com um pouco de surpresa, movendo-se adiante para encontra-la, aproximando e estendendo a mão para dar boas vindas. — Pela força que notei que estava sendo utilizada nessa tarefa, não imaginei que fosse você.

— Não notou? — Ela riu enquanto dava um abraço amigável normal-mente reservado para guerreiros. — Eu não costumo fazer isso. Eu cos-tumo deixar isso para nosso novo Mestre de Armas. Mas nós temos poucos lutadores remanescentes, é importante que todos que consigam empunhar uma espada com qualquer habilidade possam responder o chamado, quando os Skithdron renovam seus ataques. Eu agradeço em nome de meu irmão por virem em nossa ajuda neste dia. Especialmente você, Sir, — ela disse diretamente à Rath. Isso era algo que a maioria dos humanos não fazia frequentemente, era raro um entrosamento com os dragões, especial-mente quando essa atitude partia de uma fêmea.

Gareth aproximou-se de Rath.

— Mestre de Vôo Rath, esta é a Senhorita Cara Fadoral, irmã do novo Senhor da Casa Fadoral, filha do velho Senhor Harald que caiu nas primeiras ondas lutando junto a esta fronteira. — O tom de Gareth era ade-quadamente solene enquanto fazia as apresentações.

— De fato, ele caiu defendendo este feudo — Cara adicionou com um vislumbre sincero de lágrimas em seus bonitos olhos azuis. — Meu irmão Envard e eu costumávamos trabalhar neste pomar quando éramos pe-quenos. Costumava ser um lugar de grandes brincadeiras, mas se transformou uma arena de duelos.

Rath curvou sua cabeça para a jovem Senhora.

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— Eu sinto muito por sua perda, Senhorita Cara.— Ele falou essas palavras, entretanto era duvidoso que qualquer pessoa, exceto os cav-aleiros e dragões mais próximos ouvissem.

Ela se voltou para eles, saudando-os como se não estivessem em um campo de batalha, mas em uma sala de visitas. Ela tinha graça e coragem que raramente viu nas poucas fêmeas humanas que havia conhecido.

— Obrigado por nos ajudar, Mestre de Vôo. Meu irmão esta deitado, sendo tratado pelo curandeiro por sérios ferimentos que sofreu na batalha, mas eu estendo a hospitalidade de nossa gente para você. Pois sem você, certamente não existiria segurança agora. Nunca antes houve tantos números de skiths avançando para nossa terra. Eu não posso imaginar o que passaríamos sem sua oportuna intervenção.

— Ele não poderá voar em segurança devido ao ferimento, ficará muito pior até que as queimaduras tenham uma chance de curar um pouco, — Lars disse, caminhando adiante e saudando a Senhora. — Nós podemos organizar os cuidados e trazer um curandeiro para vir até aqui, mas ele precisará de um lugar para descansar por alguns dias enquanto se recupera. Se você não se importar de tê-lo no pátio, nós poderíamos mon-tar um abrigo para ele.

— Eu o convidaria para ficar no corredor principal! — A Senhorita Cara disse com um sorriso. — Mas eu temo que ele não passaria pela porta. O lugar não foi construído com dragões em mente, sinto muito. Qualquer coisa que eu possa fazer para tornar sua permanência conosco mais confortável, eu farei com alegria. Você pode leva-lo lá por conta própria ou eu devo providenciar um carro ou algo mais? — Ela olhou para Rath com um olhar de humor apelando para ele. — Entretanto eu não penso que nós temos qualquer coisa grande suficiente para leva-lo, muito menos cavalos suficiente para puxa-lo.

Rath apreciou seu humor face aos horrores do dia. Ela havia chegado perigosamente perto da barreira de skiths um a um. Ele gostou do modo que ela saltava à volta com ameaças tão sombrias. Ele riu junto com ela, enviando argolinhas esfumaçadas no céu com seu riso. Ela piscou o olho para ele, ficando claro que eles compartilhavam sua diversão. Era um mo-mento raro de entrosamento com um humano que ele havia acabado de conhecer. Então poucas pessoas que não eram da Guarida ficavam con-fortáveis ao redor de dragões. Certamente poucos novos chegados ousavam arreliar eles. Apreciou o momento até mais pela sua novidade.

— Eu posso caminhar. — Ele murmurou já começando a se mover. — Eu não sou um dos mais elegante em aterrissagem, mas eu ainda posso ir onde eu devo descansar.

Com isto, ele girou e começou a ir em direção ao alojamento, man-tendo-se como podia. Poderia levar um tempo, mas ele chegaria lá even-tualmente, com a esperança de ter sua dignidade intacta.

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— Mestre de Vôo, eu irei na frente para aprontar o lugar para sua chegada, — disse Cara, correndo ao lado dele, quando um empregado foi abordado em uma adorável pequena égua que estava bem treinada e não se afastou deles.

Ele assistiu com um pouco de surpresa como ela saltava na sela e montava em grande velocidade, parando só em alguns instantes para con-sultar os lutadores que permaneceram guardando a clareira na área dos escombros ou qualquer coisa que pudesse ser usada contra eles na próx-ima vez que ocorressem as escaramuças. Rath notou o Mestre de Armas que estava organizando suas tropas e de como seus olhos seguiam a adorável Senhora enquanto ela atravessava à cavalo os campos em direção a sua casa.

Se Rath não estivesse muito confuso, o Mestre de Armas demon-strava sentir mais que uma admiração normal pela irmã do seu empre-gador. Rath até gostou mais do homem. Ele sabia avaliar uma boa mulher que não se guiava pela norma. Isso mostrou ser um bom julgamento, na opinião do Rath.

Ele estava esperando ansiosamente ficar por alguns dias, pois pre-cisava conhecer mais sobre essas pessoas. Eles eram sem dúvida alguma os humanos mais interessantes que ele havia topado em todos aqueles anos.

-o-

Rohtina caminhava ao lado de Rath, seu cavaleiro fora conversar com alguns soldados. Ela estava hesitante em conversar com seu avô, mas ela queria conhece-lo melhor e esta parecia ser uma boa oportunidade.

— Mestre de Vôo, você está sentindo muita dor? — Ela fez a primeira correria para a conversação.

— Amada, eu sou seu avô. Você não pode me chamar como tal? — Sua cabeça rodou para olhar até ele enquanto continuava a se mover adi-ante devagar.

Ela abaixou sua cabeça.

— Eu não quis ser presumida.

— Nós somos uma família, Rohtina. — O grande Mestre de Vôo, en-viando uma série de pequenas fumaças em direção aos céus. — Eu lamento que meu período de luto tenha coincidido com o seu nascimento. Eu teria gostado de ter conhecido você enquanto era uma criança. Mas eu não pude ajudar, não tinha ideia de que Rohna havia se acasalado, muito menos de que teve uma filha, até que retornei para a fronteira.

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— Está tudo bem, avô. A mamãe me contou tudo sobre você. Tanto que eu me sentia como se sempre houvesse conhecido você.

— Então por que você é tão tímida comigo, criança? Eu não morderei você. Prometo! — ele a arreliou. Ela gostava do tom morno de sua voz, algo que ela não imaginava sobre ele.

— Você é o Mestre de Vôo, — ela respondeu, imaginando que ele en-tenderia.

— E minha Rohna provavelmente encheu você com todos os tipos de histórias sobre minha habilidade voadora legendária. — Ele pareceu enten-der o que ela queria dizer. — Eu suponho que sendo seu professor não ajuda muito, por ser uma figura de autoridade antes de ser seu avô, deve causar um constrangimento entre nós. Eu começo a ver seu dilema. — Ele moveu depressa para enroscar seu pescoço parcialmente com o dela. — Mas você é da família, pequena menina. Minha neta. Não deixe o título de Mestre de Vôo, assustar você. Um dia, se você continuar tão bem assim, você poderá muito bem ser uma Mestre de Vôo por direito próprio, Ro-htina. Você tem asas para isto. Agora tudo que você precisa é ter tempo e prática para aperfeiçoar suas habilidades aéreas.

— Realmente? Você acha isso verdadeiramente? — Ela não ousou ter esperança que ele pensasse tão bem dela, ainda que ele fosse seu avô.

— Eu sei isso. Sua mãe e seu pai são excelentes voadores e você já tem todo o fundamento sobre voar batendo as asas levemente. Com o pas-sar dos anos, você e Kelvan, que tem asas muito boas também, se transfor-marão em um grande time. Você já é boa agora, mas com o tempo, você será grande. Marque minhas palavras.

Suas palavras deram tanta esperança, ela sentiu um salto em seu passo enquanto caminhava com ele.

— Você se importa se eu caminhar com você, avô? — Ela perguntou timidamente. — E enquanto você está aqui, eu posso vir visita-lo?

— Eu ficaria muito desapontado se você não viesse, jovem Senhora.

Ela gostou do tom de provocação e da centelha em seus olhos cinti-lantes. Ele era muito menos assustador agora após sua iniciativa para con-versar com ele, como Kelvan sugeriu. Estava contente agora por aquela chance.

CAPÍTULO TRÊS

Cara corria adiante para os preparativos para manter a área con-fortável, foi um dia cheio de acontecimentos que a deixaram surpreendida. Não só tinham chegado os dragões mais magníficos, a tempo para salvar o

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dia, mas estaria na companhia deles por alguns dias, para conhecê-los. Cara sempre quis passar um tempo no meio de dragões mas nunca teve a oportunidade. Seu pai a manteve perto de casa e nunca a incluiu em suas poucas viagens para a capital ou para o tribunal. Até hoje, ela somente tinha visto dragões em tempos raros, como quando Sir Gareth ou Sir Lars e seus companheiros dragões haviam pousado brevemente, somente para passar mensagens ou trocar saudações.

O Sir Thorn jantou com eles em várias ocasiões memoráveis, mas sua companheira, Sharlis, normalmente passava a noite caçando entre o re-banho mantido para consumo dos dragões e Cara não chegou a vê-la muitas vezes. Thorn nem sequer se preocupou em apresentá-la formal-mente para eles, e sobre o que contavam deles em seus livros, entretanto ela estava inegavelmente atraída pelo cavaleiro bonito.

Seu irmão, Envard, não gostou da atenção que Thorn dava a ela. Não, o Senhor Envard a queria seguramente casada com um nobre dis-tante e de fora de sua região. Mais jovem cinco anos e nascido da segunda esposa do seu pai, Envard sempre teve uma preocupação quanto a Cara. Ele tentou livrar-se dela assim que o pai morreu, entretanto sua própria lesão o impediram de pôr seus planos em movimento. Ao invés, dela querer correr e partir quis se manter lá sem sua interferência, ela o servia. O que aconteceria quando ele recuperasse suas terras, sua posição, mas no mo-mento, ela podia fazer o que lhe agradasse.

E agora mesmo, ela estava preparando tudo para receber um convi-dado dragão que não estava em seus planos. Ela era fascinada além da me-dida pelos dragões que mantiveram seu país seguro. Isto seria sua primeira interação real com eles e esperava poder dar uma boa impressão para ambos. Ela mesma queria fazer o possível para que se sentisse con-fortável, pois dependiam muito da proteção da nova Guarida.

Sir Rath seria seu convidado por alguns dias e ela poderia olhar por ele e o ajudar, se ele fosse receptivo a sua oferta de ajuda. Ela não queria ultrapassar as etiquetas de boa hospitalidade. Os dragões o estavam prote-gendo, mas ela tinha a intenção de dar o seu melhor enquanto o feroz dragão estivesse em sua residência.

Ela procurava evitar seu irmão enquanto caminhava até a despensa. Desde que seu pai morreu, seu irmão se tornou um estranho. Antes disso, ele era uma pessoa divertida, mas ultimamente…

Não valia a pena se preocupar com ele, Cara decidiu enquanto pe-gava sua égua favorita e levava pelo portão em um galope rápido. Ela só diminuiu a velocidade quando se aproximaram dos estábulos, que eram fechados o suficiente para o que ela queria, saltou da sela, pedindo ajuda às pessoas mais próximas e começaram suas muitas tarefas com o obje-tivo de deixar o dragão bem confortável, enquanto se curava.

Quando o Sir Rath chegou mancando alguns minutos mais tarde, com sua neta Rohtina ao seu lado, tudo já estava organizado da melhor forma

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possível devido ao curto tempo que ela teve para isso. Ela atropelou os pas-sos correndo para os dragões, parando várias jardas antes deles fazendo uma reverencia.

— Senhor e Senhora, sigam-me, eu acho que vocês gostarão da área que nós temos para instalá-los.

Sem dizer nada, o dragão cansado a seguiu. A Senhora Rohtina o acompanhou, abaixando seu longo pescoço para olhar ao redor do local. Cara não teve nenhuma dúvida quanto ao olhar da dragoness, olhos como joias observavam os danos que eles sofreram nas recentes batalhas. Cara não esperava que ela pudesse sair sem nenhum dano da batalha contra eles. Ela se manteve segura, teria sido adorável conhecê-la em outra ocasião, mas eventos recentes foram severos com ambos, bem como com o lugar e seus habitantes.

Ela empurrou de lado esses pensamentos escuros, enquanto seguia à frente para o local anexo que ela havia equipado para receber o dragão. Estava bem longe do estábulo e do celeiro que era muito inflamável. Era um recanto formado por duas paredes de pedra formando um ângulo reto. Atrás daquela parede interna havia somente os fornos da padaria. Aquela parede irradiava o calor dos fornos. No verão, a pedra ajudava a dissipar o calor, mas no inverno, a área formava um lugar morno para abrigar os sol-dados aliviando-os do frio enquanto dormiam ao pé das paredes.

Cara organizou os rapazes para remoção da mobília que os soldados usavam e varreram o chão eliminando toda sujeira que era própria de quaisquer escombros. Enviou, também, alguns dos jovens para cortar ramos e cobrir o chão. Ele apreciaria o odor de limpeza e possivelmente poderia construir um ninho por ele mesmo com os ramos verdes suaves que não queimariam facilmente. Ela deixou o telhado de tela no lugar, pois era alto suficiente para um dragão não ter que se abaixar ao entrar ali, e também ajudavam a manter o calor.

A porta da frente do cômodo anexo ficava normalmente aberta, ex-ceto no pior do inverno, mas Cara pediu aos rapazes para montar a lona que poderia dar ao dragão um pouco de privacidade. Ela fez uma corda no-dosa e a laçou por uma talha que o dragão poderia operar ele mesmo para abrir e fechar a cortina pesada.

Ela também colocou uma banheira que trouxe para dentro cheia com água limpa do poço. Assim, o dragão não teria que se deslocar se tivesse sede. Um engradado de maçãs foi posto próximo à água, no caso dele querer um lanche doce.

Cara foi até o cômodo anexo primeiro e puxou de volta a cortina pe-sada.

— Eu não estava certa se você gostaria, mas eu espero que aqui haja o essencial para atender suas necessidades, Mestre de Vôo Rath, — ela

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disse enquanto o pescoço do dragão guindava passando por ela para in-specionar a área.

Só então, o dragão verde e azul que ela havia visto anteriormente causou um vento pela aterrissagem dentro das paredes do cômodo. Rath e Rohtina pausaram para olhar, ao redor das paredes protetoras do local. O dragão recentemente chegado aterrissou ligeiramente, pousou primeiro com um pé atrás, enquanto ele jogava para trás as asas para garantir uma aterrissagem limpa, suave. Um momento mais tarde, dois homens saltaram abaixo de suas costas.

Era o Sir Gareth e Sir Lars. Eles subiram a cortina do cômodo anexo, examinando o local.

— Isto ficou muito bom. Realmente muito bom, Senhorita Cara — Sir Gareth disse, vendo o que foi preparado com olhar aprovador. — Você parece ter pensado em tudo e a temperatura é boa — Ele levantou uma so-brancelha interrogativa em sua direção.

— Os fornos de assar pão estão no outro lado desta parede. — Ela bateu levemente na pedra mais próxima dela. — Eu pensei que o Mestre de Vôo Rath apreciaria o calor.

— Dragões produzem bastante calor próprio, mas eles apreciam, também, o calor do ambiente. — Lars confirmou em voz baixa. Ele não era tão gregário1 quanto seu companheiro, mas ele era eficiente e amigável.

— Lars ficará para ajudar no povoado enquanto eu volto para a Guarida e busco nossa companheira. Ela é uma curandeira e é capaz de ajudar mais rapidamente na recuperação do Mestre de Vôo Rath.

— E quem é seu cavaleiro? — Cara perguntou em voz baixa, após Gareth sair para o lado enquanto Lars ajudava o dragão ferido a se instalar no cômodo anexo.

— Sir Rath não tem parceiro no momento, — Gareth explicou en-quanto eles caminharam em direção ao dragão verde e azul que estava es-perando ali perto.

— Oh. — Cara ficava surpreendida. Ela não havia percebido que os dragões sem parceiros também viviam em Guaridas, mas ela deveria ter percebido isto. Onde viviam outros como eles? — Se ele precisar de qual-quer coisa, eu estarei por perto. Todos os recursos para mantê-lo, estarei a sua disposição.

— Eu direi a ele. Obrigado, Senhorita Cara. Suas preparações são muito melhores do que nós esperávamos. Você parece ter pensado sobre tudo que ele precisaria para o momento. Agora ele só precisa do tempo — e talvez as atenções de minha esposa, Belora, que poderá ajudar como poucos outros podem.

1 social, sociável, societário

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— Então eu convido você e sua Senhora para ficar e jantar conosco no salão depois dela examinar o Mestre de Vôo Rath? Não será principal-mente por você, mas nós faremos o melhor que pudermos para honrar aqueles que muito nos ajudaram neste dia.

— Eu fico muito honrado, Senhorita Cara, mas minha esposa poderá ficar muito cansada depois da sessão curativa. Nós teremos que esperar e ver.

Isso era interessante. A Senhora deve ser uma curandeira verdadeira se ela dava a sua própria energia para a cura. Cara ouviu falar sobre isso, e chegou a ver uma só vez em sua vida. Era uma coisa rara. Uma coisa mágica.

— Eu entendo — Cara respondeu enquanto Sir Gareth subia de volta a bordo do dragão. — Bons ventos para vocês dois. Nós aguardaremos seu retorno e manteremos a iluminação nas paredes, provavelmente você voltará aqui depois de escurecer.

— Muito obrigado, muitas vezes não enxergamos lá de cima, Sen-horita Cara. Nós retornaremos logo.

Ele se voltou para o dragão movendo algumas jardas para longe procurando uma clareira. Saltaram para o ar e voaram longe, uma visão majestosa contra o céu da tarde. Cara luziu em direção ao cômodo anexo, mas a cortina descia, Senhora Rohtina estava sentada na frente dele como se estivesse de guarda. Cara decidiu deixar os dragões terem o seu mo-mento. Ela tinha outras coisas para fazer dentro da casa principal, por via das dúvidas, os cavaleiros e sua Senhora poderiam juntar-se a eles para jantar.

Ela também retirou sua armadura e escondeu-a antes de Envard con-seguir por os olhos nela. Com um pouco de sorte, ninguém diria a ele o que ela tinha feito nas ultimas horas.

Tristan assistiu a Senhorita Cara desaparecer nos degraus acima da parte de trás da casa. O novo Mestre de Armas não podia ajuda-la nas seguintes tarefas, embora ele soubesse que não devia pensar nela. Ela era uma Senhora boa, havia começado a treinar o uso de armas para defesa da sua gente. Enquanto alguns tolamente poderiam pensar que tal comporta-mento era inadequado, Tristan aplaudia a vontade de defender sua casa com toda habilidade que ela podia aplicar.

Ela era um ótimo espadachim. Tristan não a teria deixado lutar em qualquer lugar próximo às linhas de frente se ela não fosse. Ele provavel-mente deveria tê-la mantido mais distante da ação, mas Tristan parecia não poder negar qualquer coisa a ela. Tudo o que a Senhorita Cara pre-cisava fazer, era olhar para ele com aqueles olhos azuis claros, e ele daria até a lua se ela pedisse.

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Ele havia sido atingido duramente pelo seu feitiço. Eles compartil-haram um surpreendente momento, que nunca mais se repetiria. Es-tiveram juntos numa noite tempestuosa quando ele chegou no feudo… isso foi antes dele saber quem ela era.

Quando ele descobriu que ela era a filha do Senhor que ele se com-prometeu a servir, ele quase teve um colapso. O remorso e culpa o devoraram. Ele havia sido contratado para proteção do Senhor, de sua família e de seu feudo. E em sua primeira noite atrás da segurança de paredes de pedra da habitação, ele seduziu a filha da casa —e quando percebeu já era tarde.

Era sua desonra. Uma vergonha com a qual ele teria que conviver, mesmo quando ele lembrava da noite mais surpreendente de sua vida. Tris-tan esteve de cama em cama de muitas mulheres em seu passado, mas nenhuma podia se comparar com a adorável Cara. Ela era uma luz em sua escuridão, o sol em seu céu. Temeu permanecer apaixonado por ela para o resto de sua vida.

Ele a machucou naquela noite, quando ela finalmente revelou sua verdadeira identidade. Isso era outro remorso que guardava daquela noite. Ele não quis parecer tão brutal com suas palavras, mas ele havia estado tão chocado por sua decepção.

Tristan pensou incorretamente que a filha da casa devia ser uma cri-ança. Quando ele se encontrou com o velho Lord Harald, ele a descreveu como uma jovem donzela, mas a mulher que veio de muito de boa vontade para sua cama naquela noite era madura e totalmente adorável. Tão segura de si. Obstinada e ardente.

Ele a encontrou no campo de prática dos soldados, procurando por brocas de espada, com alguns dos homens mais jovens convocados. Tristan admirou sua habilidade e vontade para ensinar o que sabia para aqueles que precisaram aprender. Tristan juntou-se a pequena classe, aju-dando a espadachim a aprender algumas coisas também, e quando ela sug-eriu compartilhar o jantar à noite, ele prontamente concordou.

Jantar com ela em particular, o surpreendeu, mas ele era novo não só na fazenda, mas na região também, e apreciou o momento com a adorável espadachim. Ela pareceu surpreendida quando ele fez avanços, mas depois de uma só vacilação leve, ela juntou-se a ele com sinceridade.

Ele sempre lembraria do modo como ela o tocou. Parecia hesitante sobre algumas coisas, mas disposta a aprender, enquanto ele aprendia os segredos de seu corpo. Ela foi aventureira e brincalhona, tentando coisas que ele não esperava.

Quando ela tomou seu pau duro em sua boca, ele quase saltou fora de sua pele. Sua boca assombrou-o naquele dia. A memória do prazer que ela lhe trouxe, ficaria em sua mente para toda vida. Nunca qualquer coisa o havia atingido tão profundamente.

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E quando ele deslizou dentro dela e sua envoltura lhe de as boas-vin-das, ela o cercou com seu calor apertando-o com seus músculos internos deixando-o selvagem. Ele havia estado fora de controle, mas agradecida-mente ela o encontrou em cada movimento. Seu corpo macio e lustroso, tinha sido uma tentação e o encantou além da medida com seus membros fortes embrenhando-o em seu bonito corpo.

Ele montou duro, levando ambos ao prazer antes de desmoronar ao seu lado. Momentos mais tarde, ela o provocou para a dureza novamente e trocou os lugares. Ela subiu sobre ele e tomou seu membro em seu corpo, permitindo a ele uma vista que ele nunca esqueceria. Ele a assistiu levando os dois para o êxtase, gemendo enquanto ele entrava em sua doce intimi-dade, dando-lhe boas-vindas com seu calor.

Eles dormiram, pernas e braços entrelaçados, até que ela despertou antes de amanhecer e ele a pegou tentando escapar de sua cama. Ele rodeou sua cintura com os braços e tentou convence-la a ficar. Foi nesse momento que ela revelou que não podia ser encontrada ali, deitada com o Mestre de Armas, porque era a filha da casa e esperavam encontrá-la no castelo dormindo, em sua própria cama.

Tristan ficou atordoado. Então se sentiu ultrajado, e sorriu sarcás-tico. Ele viu que havia magoa e dor em seu rosto adorável, mas era impo-tente para ele mesmo ser tão odioso. Ele soube naquele momento que sua noite de paixão não poderia se repetir nunca mais. Nunca.

Ele se afastou-se dela, e houve um distanciamento frio entre eles desde então. Ele lamentou muitas coisas sobre aquela noite e seus resulta-dos, mas nunca lamentaria o prazer mais doce que ele jamais conheceria com outra mulher.

Cara ficou distante dele desde então e, depois daquele encontro ini-cial, pareceu não se importar com o que aconteceu. Ela provavelmente riria se percebesse como ele apaixonou-se por ela.

Ela era uma Senhora. Uma mulher nobre. Tristan não era talhado para lustrar suas botas e eles dois sabiam disto. Suas condições de vida eram muito diferentes. Nunca seria permitido a ela que se envolvesse com alguém como ele.

Mas ele podia vê-la de longe e sonhar com o que poderia ter sido.

Durante os meses seguintes, Tristan ficou tentado a confortar a mul-her que invadiu seus sonhos, tanto acordado e dormindo, várias vezes. Ele cedeu a seus instintos quando o velho Senhor Harald caiu em uma das primeiras batalhas. Ele a encontrou distraída, chorando suavemente contra juba do seu cavalo na noite escura, ele pôs de lado seu orgulho e a levou em seus braços. Ela lamentou por um tempo, mas gradualmente, reencontrou sua coragem e força interna.

Ele ficou tocado por ela lamentar por seu amado pai reservadamente, mas era forte, no dia a dia, em público na frente das pessoas. Tristan não

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gostou do modo como o Senhor Envard a tratou depois que seu pai morreu. Ele foi mesquinho mais de uma vez. Tristan a encontrou passando pelo es-tábulo, com uma mistura de medo e preocupação em seu rosto adorável.

Ele soube que o novo Senhor tinha planos para sua irmã, os quais não eram de sua preferência. Exatamente o que era, ele não soube. Não ainda. Estava claro como o dia, que a ação se desenhou bem próxima, mas o Senhor Envard teria que se consultar com o Mestre de Armas se ele es-tivesse mandando embora a Cara. Precisaria de um grupo de Guardas para viajar com ela. Se assim fosse, o novo Senhor teria que organizar com o Mestre de Armas para fornecer segurança. De qualquer modo, Tristan es-perou para saber o que deixou a Senhora tão chateada. Ele quis confortá-la, mas a ameaça ficou real, e ele se refreou — embora fosse umas das coisa mais difíceis que ele teve que fazer.

Entretanto, as coisas mudaram drasticamente. Envard tinha estado dolorosamente ferido depois de uma batalha, e Cara de repente estava livre para ser o que ela realmente era. Ela organizou os curandeiros e em-pregados para dispensar todo cuidado na recuperação do Envard, então as-sumiu o comando das terras, se responsabilizando por todas as pequenas decisões, aquelas que precisavam ser tomadas para manter o lugar funcio-nando.

Logo o sino de alarme soou novamente, Cara saltou em seu cavalo e galopou direto ao lado de Tristan durante todo o tempo no campo de batalha, mas ele ainda tentou dissuadi-la.

Na primeira vez, ele ficou colado ao seu lado, vendo como ela derro-tava vários oponentes, tal como ele. Uma vez que ele percebeu que ela po-dia lidar na batalha real, ele se sentiu melhor sobre tê-la ali. Entre eles, não houve muitos soldados inimigos que sobreviveram para contar a história. Nenhum deles desmontou e voltaram para o castelo juntos no crepúsculo, antes da noite cair.

Demontaram juntos no escuro, e quando ela tropeçou, ele a pegou contra seu tórax. Sua forma flexível pareceu tão certa contra ele que o fez ansiar por mais. Ela olhou para cima, parecia estar tão atordoada quanto ele, e na escuridão do estábulo, com a euforia horrenda da vitória em seus olhos ofuscados, ela rastejou para juntar seus lábios suaves ao seus.

O Céu abriu e deixou-o roubar outro pequeno vislumbre do paraíso naquele momento. Tristan segurou Cara e se arruinou para todo sempre. Ela o arruinou para todas as outras mulheres. Roubou seu coração naquela noite fatal que passaram juntos. Ele não soube dizer mais tarde se ele teria permitido estirar o momento para a próxima manhã, mas quando seu cav-alo trocou de lugar, empurrou-os separando-os do beijo, ele viu a confusão no olhar dela quando a puxou de volta.

Ele não podia toma-la de volta. Lembrou-se das diferenças entre eles e de como sua relação era impossível. Tristan deixou-a ir, deixando-a firme

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em seus pés antes saltar e ir embora. Ele pensaria sobre isso mais tarde, no momento, tinha que sair rapidamente dali.

Tristan tinha sido cuidadoso de maneira a não estar novamente a sós com ela depois daquela noite. Ele deixou-a achar que a havia esquecido, enquanto eles lutavam, entretanto ele sempre a manteve os olhos nela. Ele não permitiria que se prejudicasse se ele dissesse qualquer coisa a re-speito disso.

Mas nas noites longas, enquanto tentava dormir sozinho em sua cama, seus pensamentos frequentemente giravam em torno do que sentiu quando esteve com Cara em seus braços. Ele lembrava da magia de seu beijo, e tanto esperava e temia que ele iria se lembrar sempre…

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CAPÍTULO QUATRO

Lars e Rohtina estiveram ajudando Rath a ficar confortável. Isso era o melhor que eles conseguiram, ele pensou, mas realmente, a Senhorita Cara fez muito para o seu conforto. O cômodo anexo que ela arrumou era aconchegante, morno e cheirava a ervas frescas rescem cortadas, que ela havia fornecido de bom grado. Não era a cova arenosa habitual que ofere-ciam aos dragões da Guarida, mas eram ambos limpos e confortáveis.

— Isto me fará bem. — Rath falou com ambos, Lars e Rohtina, que permaneciam de guarda fora da cortina. Lars estava inspecionando o mecanismo e sorriu quando ele voltou para Rath.

— A Senhora o equipou com isto. Assim, você poderá abrir e fechar a cortina. — Lars prosseguiu demonstrando, puxando a corda algumas vezes, para prazer de Rohtina. Ela riu, enviando espirais de fumaça para cima no céu escuro.

— Senhorita Cara é muito criativa. Você notou o engradado de maçãs? Dê algumas para minha neta. Elas são gostosas. — Rath mastigou outra maçã enquanto dizia as palavras.

Lars abriu a cortina e deixou daquele modo, curvando-se para levan-tar uma maçã. Ele lançou-a em direção a boca da Rohtina e ela pegou com um único golpe.

— Oh, são boas mesmo.— ela concordou. — Obrigado, avô.

— Você é muito bem-vinda, meu doce. Agora me digam, vocês dois estiveram aqui antes? — Rath perguntou, mudando a conversação. — O que vocês pensam sobre o Mestre de Armas?

— Ele é um lutador talentoso.— Lars disse, respondendo em sua maneira séria. — Ele luta combinando lâminas e flechas. Você provavel-mente viu as envolturas em suas costas. Um estilo estrangeiro. Dizem que ele vem de uma terra longe daqui.

— Verdadeiramente? De qual região ele procede? Sabe? — Rath per-guntou, intrigado.

— Eu sinto muito, Mestre de Vôo. Eu não sei. — Lars admitiu.

— Sua habilidade já era motivo de discussão e fofoca antes dele matar aquele skith sozinho hoje, avô. — Rohtina adicionou. — Se eu não visse a carcaça com meus próprios olhos, eu duvidaria da verdade. Eu nunca vi alguém fazer algo assim.

— Nem eu, minha querida. Me deixou maravilhado… — Rath parou, pensando.

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— O que você está se perguntando, Mestre de Vôo? — Lars não deixaria o assunto passar.

— Há uma coisa… — Rath girou sua cabeça para olhar para Lars. — Eu pergunto-me se ele poderia me ouvir. Eu falei com ele hoje, não estou muito certo disso, mas eu penso que talvez ele tenha me ouvido e com-preendido.

— Realmente? — Lars se sentou na extremidade da banheira de água potável e dobrou seus braços. — E se ele o fez, você consideraria es-colhe-lo como seu cavaleiro?

— Agora eis a questão.— Rath movimentou sua cabeça, inseguro de seus próprios pensamentos. — Eu terei que observar e o examinar mais de perto enquanto estou aqui. Se ele tiver honra e um coração puro, então eu terei que pensar cuidadosamente sobre fazer isso. Nós podíamos usar suas habilidades na Guarida. Ele seria um grande recurso para ensinar os es-padachins menos qualificados. Na Guarida da Fronteira não há um perito espadachim de seu calibre e eu sinto a falta de um.

— Isto é porque você está obcecado em preparar todos para a luta. — Lars disse.

— Minha obsessão — como você chama — nasceu da experiência amarga, como você bem deveria saber, meu jovem. — Rath reconheceu que sua voz mental sugeria um tom repreensivo. Ele era o avô aqui, dando sua sabedoria para a geração mais jovem, ainda que eles não quisessem ouvir isto, ou, pensassem que ele era obcecado.

— O que aconteceu com Faedric não foi sua culpa, sabe. Foi má sorte e contagem de tempo ruim. Todo mundo concordou. — Lars adicionou cal-mamente.

— Eu vejo que a fofoca ainda corre forte, até em um lugar recentemente habitado como a Guarida. — era tudo que Rath responderia. — Deixem-me sozinho um pouco, crianças. Eu quero fechar meus olhos por alguns minutos antes da princesa chegar.

Lars se despediu e lentamente fechou a cortina indo para o lado de fora, juntar-se a sua companheira. O rapaz ficou nervoso ao conversar so-bre o pobre Faedric muito abertamente, pensou Rath. O ferimento por tê-lo perdido, não estava completamente curado, até agora. Rath soube que nunca iria. Ele fechou seus olhos e deixou o cansaço do dia o levar.

Algumas horas mais tarde, que lhe pareceram um pequeno espaço de tempo, Rath despertou sentindo um calor mágico sendo aplicado em suas articulações da asa. Um toque de luz disse a ele que a Princesa Belora, havia chegado e já estava tratando-o.

— Não me deixe perturbar você, Sir Golgorath, — ela disse suave-mente enquanto se movia ao redor de suas costas. — Você sabe tão bem quanto eu, que tudo que você mais precisa agora é de descanso. Farei o que eu puder, mas queimaduras levam tempo para se curar.

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— Eu sei, Princesa. Obrigado por sua ajuda. Já me sinto muito mel-hor.

— Bom. Eu deixarei uma provisão de pomada para queimadura, mas alguém terá que aplicar durante a noite, ficarei aqui se você me quiser para isso, — ela foi rápida em adicionar.

— Não, Princesa. Você não precisa se incomodar, deixe por minha conta. Eu já fui atacado por veneno de skith antes. Eu sei o que me espera, preciso apenas que uma das pessoas daqui me ajude com a pomada, eu fi-carei bem.

— E quanto ao que Lars e Rohtina me disseram, você tem seu próprio conhecimento para executar — ela astutamente adicionou. — Eu devo pedir ao Mestre de Armas para ficar com você?

Rath teve que rir, enviando fumaça em direção ao teto.

— Eu vejo que não devia ter confiado em minha neta ou em seu cav-aleiro para se manterem em silencio.

— Seria tão errado assim sua família querer ajudar você? Todos nós estamos preocupados com você, avô. Nós queremos ajuda-lo a ter muito prazer em viver.

Rath ficou tocado pelas sinceras palavras da princesa. Ele esticou seu pescoço ao redor para examinar seus olhos.

— Isso significaria uma grande surpresa para mim, Princesa. Mais do que eu adequadamente poderia expressar. Mas você de todos devia saber que a Mãe de Todos deixará que as coisas se desdobrem em seu tempo.

— Eu rezarei para que Ela traga à você um novo cavaleiro merecedor de sua sociedade. — Ela solenemente respondeu.

A Princesa Belora o deixou depois de aplicar por mais alguns minutos a sua magia curativa. Ela e seus companheiros entraram no castelo para compartilhar uma refeição com a Senhora e seus retentores, enquanto carne crua era fornecida para os dragões que esperavam no pátio. Ambos, Rohtina e Kelvan, se acomodaram eles mesmos na frente da cortina aberta do cômodo anexo de Rath e os três dragões compartilharam o banquete adorável de carne fresca fornecida pelo açougueiro do feudo.

Bem mais tarde naquela noite, depois de jantarem e os jovens par-tirem voando de volta para a Guarida da Fronteira, foi que Rath teve sua primeira visita. Para sua surpresa, foi realmente o Mestre de Armas, que foi até lá para verificar se Rath estava confortável. Rath ficou muito con-tente quando ele levantou a cortina, indicando que estava receptivo para visitas e cobiçoso pelo ar da noite.

O Mestre de Armas caminhou muito silenciosamente para um hu-mano, abordando-o sem fazer muito ruído. Rath o viu antes de ouvi-lo, gi-rando a cabeça para considerar o humano naturalmente, dissimulando à medida que ele o abordou.

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— Saudações, Mestre de Vôo — dissera o Mestre de Armas. — Eu sinto muito. Eu não sei seu nome, Sir. Eu me chamo Tristan Dalen e sirvo como Mestre de Armas neste feudo há apenas alguns meses .

— Estou ciente, tanto de sua recém chegada, quanto de sua posição aqui. — Rath lançou suas palavras para a mente do homem, esperando que ele pudesse ouvi-lo. — Meu nome é Golgorath, mas meus amigos me chamam de Rath.

— Estou contente por conhecê-lo, Sir Golgorath.

Estava aí a confirmação. O homem podia ouvi-lo. Rath sentiu uma ex-citação correndo por sua espinha abaixo. Talvez a Mãe de Todos estivesse respondendo as orações de Belora muito mais cedo do que ela esperava.

— Perdoe meu choque, mas é raro que humanos possam ouvir quando minha espécie fala. Isso demonstra que você é um ser muito espe-cial.

— Realmente? — Tristan perguntou de forma natural, parecendo im-pressionado. — É uma habilidade um pouco comum em minha família. Em minha pátria, existem criaturas pequenas que nós chamamos virkin que podem comunicar seus pensamentos simples desta maneira. Eles não são inteligentes ou se articulam como sua espécie, mas seu método de falar é semelhante.

— Eu nunca ouvi falar dessas criaturas, mas estou interessado em saber mais sobre eles e sua terra. De onde você vem, Senhor Tristan?

— Por favor, só me chame de Tristan, se você não se importar com a informalidade. Eu me tornei só recentemente um Mestre de Armas, e não sou de insistir em títulos. Mas respondendo sua pergunta, eu nasci em El-derland, que fica bem longe daqui em direção ao leste. As lâminas curvas que eu levo na batalha são mais comuns lá, entretanto eu admito que poucos tem a paciência para aprender o estilo que escolhi para lutar.

— Eu chamarei você de Tristan, e você deve me chamar de Rath. As vezes as formalidades me deixam muito cansado. Eu já ouvi falar sobre os guerreiros de sua terra, mas nunca havia encontrado ninguém de lá em to-dos esses anos de minha existência. — Rath admitiu. — Você poderia me dizer o que o trouxe até Draconia?

Tristan se debruçou contra a extremidade da banheira cheia, tal como havia feito Lars, seus ombros se inclinavam com fadiga. Parecia muito cansado, o fato de que tivesse vindo verificar Rath antes de buscar sua própria cama, significava que ele colocava o bem-estar dos outros seres antes de seu próprio e isso era um bom sinal.

— Foi uma mulher que me mandou sair para que eu encontrasse minha fortuna em outras terras. Minha irmã, para ser preciso. Ela é um tipo de oráculo. A situação de minha família sendo como é, era claramente boa e seria por muito tempo se eu ficasse em minha pátria, apesar de eu causar…— ele pareceu procurar no escuro para as palavras certas, — …in-

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comodo para o resto de minha família. Você vê, eu sou um gêmeo. Meu ir-mão ocupa a posição hereditária do poder. Eu ficava com o exército. Causava alguma confusão porque visualmente nós somos idênticos, mas não em temperamento. Com o exército reunido por mim, como eles es-tavam começando a fazer, eu podia facilmente causar um golpe súbito, mesmo que eu não quisesse. Eu amo meu irmão. Ele é o mais sábio de nós dois, embora pareça duro, até que o conheça melhor. Sendo ele o herdeiro, eu era sempre um fardo pesado em seus ombros, à medida que crescíamos. Eu tinha permissão para segui-lo, perseguindo-o nas mais perigosas e divertidas brincadeiras e enquanto ele era protegido e es-coltado, eu corria por todo o império.

O império? Rath pensou cuidadosamente consigo mesmo. Este era o irmão do homem que era o Imperador de Elderland? Era possível que aquela fadiga tivesse feito com que ele soltasse sua língua até mais que a sutil mágica que Rath estivesse usando nele. Rath já havia feito isso em al-guns tempos em sua vida — quando esteve escolhendo um novo cavaleiro, tinha que ser cuidadoso para selecionar sabiamente. Só nessas ocasiões era permitido a um dragão usar seu poder mágico de tal modo.

Como se estivesse acabado de perceber o que tinha dito, Tristan endireitou suas costas. Seus olhos cresceram largos , e então estreitaram-se em suspeita quando olhou Rath.

— Eu já tinha ouvido sobre os dragões, são extremamente astuciosos e intensamente mágicos. Você está me sujeitando com sua magica, Sir Rath?

Rath abaixou sua cabeça.

— Eu admito que esteja curioso para saber o que guia você, jovem Tristan. Você é um mistério para mim e um estranho para minha terra. Ainda que tenha provado ser bom na batalha, te conhecer melhor econo-mizaria para mim um dano muito mais sombrio, talvez a morte. Tenho com você uma dívida de gratidão e eu gostaria de considera-lo um amigo, se possível.

— É claro, Sir.— Tristan continuou olhando-o com ambas as sen-sações, suspeita e humor. — Mas eu imploro que mantenha o que eu disse em privado entre nós dois. Meu nascimento não significa nada aqui ou em qualquer outra terra. Meu irmão reina. Eu sou mais um inconveniente so-bressalente. Eu sou somente um guerreiro. Um recentemente constituído em Mestre de Armas. Em resumo, eu não sou nada.

— Eu imploro diferir nesse último ponto. Só pelo que eu observei neste único dia, você é um guerreiro de grande habilidade, como gente que eu nunca vi. E deixe-me dizer a você, eu vi muitos guerreiros em meus séculos de vida. — Uma risada pequena enviou fumaça flutuando em di-reção ao teto. — Apesar das circunstâncias de seu nascimento, você tem já provado que tem a coragem de um leão. Você lutou com um maduro skith por conta própria e ganhou. Isto é uma coisa rara em qualquer lugar.

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Tristan curvou a cabeça para olhar Rath, e este podia ver a cor das suas maçãs no rosto. Ele estava envergonhado por ser louvado? Isso era muito curioso.

— O quão velho é você, exatamente? — Tristan mudou o assunto. Sim, ele estava definitivamente envergonhado e evitando o tópico.

— Exatamente? Eu teria que voltar com você nisto. Basta dizer, eu enterrei três companheiros cavaleiros acima de meus anos. Os primeiros dois viveram longamente , vidas repletas, mas o mais recente, o pobre Faedric, morreu muito, muito jovem.

— Eu sinto muito por sua perda.— Tristan disse solenemente. — Eu perdi alguns camaradas em meu tempo no exercito. Não é uma coisa fácil.

— Obrigado, mas você deve saber que um cavaleiro do dragão é mais que só um camarada de farda. Meus cavaleiros e eu hipotecamos a alma em um nível muito profundo. Eles eram parte de minha família, como eu era parte da sua.

— Eu não vou fingir que entendo. Nós não temos nada parecido em minha pátria. Minha experiência com dragões é limitada, estou aqui ape-nas há alguns meses.

— Quanto tempo você tem estado em Draconia?

— Por quase a metade do ano. Eu vim por via marítima, atraquei em Tipolir. Passei algumas semanas lá, conseguindo meu visto para seguir em frente, para o norte, em direção à fronteira. Eu havia ouvido que era aqui que a ação estava, então eu decidi tentar ajudar.

— Soa como uma perseguição precipitada. Você veio em busca do perigo? Ou foi a aventura que chamou você?

Tristan ficou mudo por pouco tempo antes de responder.

— Eu vim, primeiro porque minha irmã disse que eu buscasse fora a batalha no meio de gigantes. Se isso não descreve o conflito entre draconi-anos e os skiths, eu não sei o que descreveria. Segundo, eu vim aqui para servir. Eu ouvi em Tipolir sobre os pontos vulneráveis ao longo da fronteira — especialmente este — precisa de proteção. Até em Elderland, nós ouvi-mos sobre skiths e sua propensão horrível para cabeças humanas. E quando eu cheguei aqui e encontrei as pessoas deste feudo, eu tive meu terceiro motivo — e talvez a maior de todas as razões para estar aqui.

— A Senhorita Cara,— Rath disse, delicadamente.

Tristan soltou um suspiro enorme. Nele estava toda sua fadiga e frus-tração. Todo seu desejo retido por algo que ele provavelmente acreditava que nunca poderia ter.

— A Senhorita Cara.— Ele finalmente concordou. — Ela é tudo para mim. Tudo e nada, porque ela nunca poderá ser minha.

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— Eu não estou tão certo sobre isto, — Rath respondeu, levantando sua cabeça quando passos suaves veio para mais perto do caminho de pe-dras do pátio. A Senhorita estava para fazer uma aparição se ele não es-tivesse confuso.

— Eu devia ir.— Tristan permaneceu, fingindo que partia, mas Rath levantou a mão, impedindo sua saída.

— Fique. — ele ordenou em uma voz gentil. — Eu gostaria de testar uma teoria.

Tristan não pareceu feliz mas movimentou a cabeça e baixou de volta descansando em sua posição na beirada da banheira.

— Sir Golgorath? — Ouviu a voz da Senhorita Cara fora da entrada.

— Entre, Senhorita Cara. Você é muito bem-vinda aqui. — Rath disse para ela, testando sua denominada teoria. As coisas iriam alinhar-se e ele seria um bobo se não reconhecesse que a Mãe de Todos estava com as mãos neste assunto.

Ela entrou com o coração acelerado no pequeno cômodo anexo de Rath. Ela o ouviu! Não é?

— Obrigado, Sir Golgorath.

— Rath apenas, por favor. Meu nome é complicado, eu penso milady.

— Sir Rath, então.— Ela confirmou bem suas suspeitas. — E você deve me chamar de Cara. — Ela hesitou quando viu Tristan, mas para seu crédito, ela se recuperou depressa. — Eu sinto muito. Eu não sabia que você já tinha companhia.

— Os melhores e mais alegres, como vocês dizem. — Rath tentou soar casual, entretanto seu coração estava batendo rápido. As coisas es-tavam sendo rápidas, era uma reunião com sua futura parceria, a mais bril-hante que teve em muitos anos.

— Eu não queria me intrometer. Eu vim verificar você e perguntar se existia qualquer coisa de que precisasse. A princesa Belora deixou a po-mada para suas queimaduras comigo e deu instruções de como e quando deveria ser aplicada. Ela disse que deveria aplicá-la antes de você aco-modar-se para dormir.

Quando ela se aproximou, ele viu que Cara estava segurando uma grande panela de barro em seu braço. Tristan correu para pegar o artigo pesado dela e Rath notou o modo que ela corou quando seus dedos se to-caram. A atração não era unilateral, Rath estava contente por notar. Isto estava ficando cada vez melhor. Agora tudo que eles precisavam eram de mais um elemento…

E ele podia ouvir as batidas de asas no vento da noite. A qualquer momento, a última parte deste pequeno quadro vivo chegaria.

CAPÍTULO CINCO

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— Sim, a pomada seria bem-vinda, — Rath respondeu. — Talvez Tris-tan possa te ajudar? Não é fácil para uma tão delicada mulher como você alcançar a área que precisa ser tratada, milady. Ele podia ajudar você em cima segurando a pesada panela. — Rath pareceu estar colocando isto em um pouco mais espesso, mas ele não iria permitir que Cara questionasse um dragão, ainda que a pusesse em proximidade desconfortável com o Mestre de Armas.

Cara amou o modo como Tristan a fez se sentir. Mas sua rejeição quando soube com quem estava, ainda não estava esquecida. Ela não dava seus favores facilmente. Normalmente, não por isso. Mas existia algo sobre o guerreiro estrangeiro que a chamava para ele. Algo que a fez agir fora de seu caráter quando subiu em sua cama quando haviam acabado de se con-hecer.

As coisas entre eles tinham sido difíceis desde então ela quase lamentou a noite que passaram juntos. Quase. Mas ela não podia se lamentar por tal prazer magnífico. Ou o amor profundo e permanente que ela ainda trazia em seu coração, para aborrecimento do homem.

Seguindo as instruções do dragão sem mostrar qualquer relutância, Tristan a ajudou. O dragão não fez com que fosse fácil subir a bordo, e ela pensou que talvez o machucasse se ele se movesse. Mas Tristan derrubou a panela ao deslizar suas mãos ao redor de sua cintura ao impulsiona-la para cima. Ela se equilibrou desajeitadamente acima do dragão enquanto Tristan voltava se curvando para recuperar panela de pomada.

Tristan ficou muito próximo dela. Mais íntimo que ele havia estado em muito tempo. Enquanto ela trabalhava nos danos de Rath, podia sentir Tristan que apertava seu tórax contra suas pernas e traseiro enquanto ele a segurava no lugar. Ele a sustentou com uma mão, içando a panela para cima com a outra para que ela alcançasse o conteúdo. Era muito íntimo e lembrava a ela outros momentos, de toques mais sensuais. Ele respirava com dificuldade e ela percebeu que precisava controlar-se melhor. Ela teve que se concentrar no dragão. Sir Rath precisava da sua ajuda agora.

— Desculpe interromper.— Um macho familiar verbalizou soando da entrada, fazendo Cara saltar.

Ela perdeu o equilíbrio e caiu para trás nos braços de Tristan. Ele grunhiu mas conseguiu pegá-la. Ela ouviu o baque da pesada panela de po-mada à medida que caia por terra. Afortunadamente, bateu num lugar coberto por suaves ramos e não se quebrou.

Então mais braços surgiram na escuridão para a sustenta-la ela sen-tiu o calor do homem recentemente chegado no abrigo, com Tristan ainda segurando-a por detrás.

Oh, menino.

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Todo mundo congelou por um momento quando o contra peso foi restabelecido. O equilíbrio era outra coisa. Cercados por dois bem muscu-losos guerreiros — ambos de quem ela admirou mais que quaisquer outros homens que ela já havia encontrado — Cara ficou mais que um pouco ofe-gante.

— Minhas desculpas, Senhorita Cara, eu não queria surpreende-la.— A voz funda veio do novo convidado que estava muito próximo, ela sentiu suas grandes mãos tonificadas em seus braços.

Suas palavras pareciam incrivelmente íntimas, faladas num tom baixo, quase ofegante. Seu aperto foi tonificante, encorajador e até gentil à medida que ela afiançou, e seu olhar segurou o seu em um modo novo e ex-citante.

— Sir Thorn, — ela sussurrou. Se Tristan sentia a competição em seu coração, esse era o homem. O único homem além do Mestre de Armas que ela reagia muito fortemente.

Tristan relaxou os braços, desapontado e deslizou a uma distância pequena de forma que seu traseiro esfregava junto ele, até que seus pés al-cançaram o chão. Só então ela percebeu o quão altos ambos os homens eram, comparados a ela. Ela olhou para cima para encontra-los olhando um ao outro cautelosamente acima de sua cabeça.

Mas nenhum deles se moveu. Os dois pareciam tomar parte em al-gum tipo de jogo de domínio com ela como o prêmio. Uma parte sua se emocionou com a ideia, enquanto outra parte ria procurado fazer pose. Embora…talvez ela não estivesse dando a qualquer um dos dois suficiente crédito. Talvez os dois estivessem tentando proteger um do outro? Isso era bem possível, dado que ambos os homens eram guerreiros ocupados em proteger aqueles mais vulneráveis que eles mesmos.

E ela era definitivamente vulnerável. Se qualquer um dos dois homens já haviam entortado um dedo em sua direção, ela seguiria onde quer que eles a levassem e condenaria as consequências. Ela se preocu-paria sobre sua moralidade, mas em sua vida inteira, só estes dois homens já haviam lhe inspirado uma resposta tão brutal. Ela só teve um amante, além daquele ha muito tempo atrás, quando ela era só uma criança que ex-perimentava enquanto seu corpo florescia. Ela diminuiria qualquer outro homem que tentasse qualquer coisa que não lhe agradasse — e isso ocorreu no passado.

Mas ela soube a verdade de suas próprias respostas, e se Sir Thorn ou Mestre Tristan a convidasse para sua cama, ela certamente saltaria em seus braços e nunca se arrependeria. Isso era um passo enorme para uma mulher que se se orgulhava de sua independência.

— Sir Thorn.— Tristan saudou o cavaleiro.

Thorn movimentou a cabeça.

— Mestre Tristan.

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Ambos os homens abaixaram seus braços ao redor dela, deixando-a balançar ligeiramente sozinha em seus pés. Ela recuperou o equilíbrio e então os homens moveram se exatamente ainda mais longe dela ao mesmo tempo como por algum acordo não dito. Ela notou que eles não olhavam para ela, mas mantiveram seu olhar bloqueado entre eles, medindo-se mutuamente.

Thorn tinha olhos marrom claro deliciosos — quase dourados, nor-malmente olhavam para ela com morna diversão. Eles estavam especula-tivos agora, como refletindo raiva. Ela podia ver o desafio nos olhos de céu azul de Tristan. Ela o viu intimidar homens ao manter os braços cruzados e olhar fixo e não teve nenhuma dúvida que ele estava causando uma reação estranha em Thorn agora. Isso devia ser por que eles estavam olhando um ao outro acima de seu ombro. Era simplesmente, macho fazendo pose. Certo?

Então por que sentiu como se fosse algo completamente mais emo-cionante? Cara nunca tinha ficado tão excitada pela ideia de dois homens lutando por ela, e não começaria agora, mas existia algo sobre esta situ-ação que fez seu pequeno, coração saltar uma batida.

— Eu sinto muito se minha chegada tomou você por surpresa. Eu es-pero não estar interrompendo nada. — Thorn olhou para ela, com a espec-ulação iluminando seu morno e dourado olhar.

— Mestre Tristan estava ajudando-me a pôr pomada para queimadura nos ferimentos do Sir Rath. — Ela abaixou-se para recuperar a pesada panela que havia caído nos ramos, e agradeceu por não haver se quebrado ou derramado o seu conteúdo escorregadio.

Thorn olhou da panela até o dragão, então atirou outro indecifrável olhar para Tristan antes de voltar para ela. Ela não tinha nenhuma ideia como interpretar seu olhar. Ele estava chateado? Ele era divertido? Bravo? Ela realmente não conseguia entender.

— Nós viemos para verificar Rath e o manter com companhia. Minha companheira dragão, Senhora Sharlis, quis comprovar por si mesma como ele estava passando. — Thorn andou de volta e só então Cara notou a dragão fêmea que estava fora da entrada.

Enquanto Rath era um pálido reflexo em cor prata, a dragão fêmea cintilava em vermelho, como as brasas de uma chama. Eles faziam um par notável juntos, entretanto Rath era ligeiramente maior. De fato, pensou so-bre isto por um momento, ele parecia ligeiramente maior que a maior parte dos dragões que Cara havia visto.

A dragão fêmea abaixou seu pescoço longo pela abertura da cortina para enroscar ligeiramente com o de Rath. Era claro para Cara que os dragões estavam compartilhando um momento de saudação muito além de uma mera amizade. Eles eram apaixonados. Ela podia sentir isto no ar ao

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redor deles e ver isto nos movimentos atenciosos dos pescoços do dragão, balançando lisos e corrediços um contra o outro, em uma carícia gentil.

— Vamos dar-lhes um minuto,— Cara sugeriu, movendo-se direção à entrada. Ela girou e fugiu, pulando e os homens a seguiriam.

Eles seguiam alguns passos atrás dela e nenhum deles fazia qualquer barulho. Eles eram quase como gatos cautelosos o que a impressionou fortemente. Ela tentou aprender a arte de se movimentar silenciosamente enquanto aprendia a trabalhar com a espada para autodefesa, mas não era um mestre de cautela.

Ela caminhou até perto do poço e apoiou a pesada panela em cima de um barril que servia de mesa e estava posicionado em circulo com outros barris. Escolheu um que apresentava altura apropriada para sentar-se e aguardou os homens.

Tristan foi diretamente para o poço e começou a tirar um balde da água. Ele ofereceu água fresca para Cara e Thorn, usando a xícara de metal que havia entre os utensílios sobressalentes próximos a outro barril. Nenhum dos dois falava e isso enervava um pouco Cara. O que eles es-tavam pensando? Eles estavam ainda medindo um ao outro, pensando que um ou o outro poderia ser uma ameaça para ela de alguma forma?

— Eu pensei que para o acasalamento de dragões acontecer tivesse que ter cavaleiros antes deles poderem ficar juntos, — Cara dirigiu-se a Sir Thorn, dizendo a primeira coisa que pensou para quebrar o silêncio.

Ele se sentou sobre um barril próximo dela e pareceu ponderar sua pergunta antes de responder.

— Ambos os cavaleiros de dragões precisam de uma esposa antes dos dragões poderem consumar seu laço. Mas ambos Sharlis e Rath são dragões mais velhos. Eles têm sido companheiros por séculos e têm várias descendências que já até lhe deram netos — ele explicou. — Eles real-mente não puderam se acasalar em várias décadas, mas isso não significa que eles não se amam e anseiam o dia em que possam estar juntos nova-mente.

— Mas, por que? Se eles amam um ao outro…— Cara diminuiu. Ela estava provavelmente sendo muito franca, algo que seu irmão constante-mente a repreendia.

— Porque o laço do cavaleiro com seu dragão é como um compan-heiro de alma profunda. A experiência de um, é sentida pelo outro. Quando os companheiros de dragão se acasalam, seus cavaleiros sentem isto tam-bém.— Ele se agitou em sua cadeira como se estivesse desconfortável. — Se os cavaleiros não têm com eles uma companheira verdadeira para ex-pressar o mesmo tipo de amor de alma profunda, isso pode levá-los à lou-cura. É por isso que é proibido para os dragões acasalar até que a unidade de família seja completa.

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— Dois cavaleiros e uma mulher? Isto é a unidade de família normal em suas Guaridas? — Tristan perguntou, parecendo um pouco intrigado pela ideia.

Thorn movimentou a cabeça lentamente.

— Dois cavaleiros normalmente casam com uma mulher, sim, mas a unidade de família inclui os dragões. Dois conjuntos de companheiros — um dragoniano e um humano. Cinco pessoas vivendo e trabalhando juntos, levantando sua descendência junta. Os dragões são segundos pais para as crianças humanas como os cavaleiros e sua Senhora são para o dragãozinho. É um bom acordo que vem funcionando bem para dragões e cavaleiros — e suas Senhoras — por milênios, aqui em Draconia, desde o tempo de Draneth.

— Mas por que só uma mulher para dois homens? Não existem out-ras mulheres, de forma que cada cavaleiro queira uma esposa para si? — Tristan quis saber.

— É raro para uma mulher poder viver no meio de dragões, — Thorn explicou. — Mais raro ainda, uma mulher que tenha o presente de poder falar com nossos companheiros-dragão. Alguns cavaleiros nunca acham sua companheira e seus dragões não podem consumar seus títulos por séculos. É triste, mas uma realidade desgraçada para alguns dos nossos.

Silêncio reinou por um momento enquanto eles pareciam pon-derar as calmas palavras de Sir Thorn. Cara entendeu o quanto era ruim para aqueles homens que nunca conheceriam a brincadeira de compartil-har amor com uma companheira. E os dragões que teriam que esperar tão longamente, frente às circunstâncias, para se permitirem juntar-se em um vôo de acasalamento.

— Senhorita Cara, pode ouvir Sir Rath quando ele fala? — Tristan perguntou calmamente.

Cara recordou o que Sir Thorn disse sobre ser raro poder falar com dragões. Ela nunca esteve antes tão perto de um dragão. Ela realmente não pensou sobre o fato de que ela podia ouvi-lo. O que isso poderia desig-nar para seu futuro?

Possibilidades se abriam na mente dela, sem se importar o que es-perar para o futuro pela primeira vez desde que seu pai morreu. Talvez ex-istisse uma forma em que ela poderia servir em um das Guaridas. Ainda que ela não achasse um marido — ou dois! — Entre os cavaleiros, ela ainda tinha as habilidades que poderiam ser úteis para uma Guarida. Se Envard continuasse a aborrecê-la, ela poderia sempre ir embora para a Guarida da Fronteira e oferecer seus serviços.

A reação de Sir Thorn para as palavras silenciosas de Tristan era notável. Ele parecia perfeitamente calmo, com exceção de seus olhos. Seu olhar foi dela para Tristan e atrás novamente com suspeita renovada, mas com menor hostilidade. Ao invés disso, existia um tipo de ânsia esper-

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ançosa que a confundia. Talvez ela não o estivesse lendo direito, afinal não o conhecia bem .

— Como você soube que a Senhorita Cara podia ouvir Rath? — Thorn perguntou a Tristan em um tom cuidadosamente modulado.

— Ele me disse isso. — Tristan respondeu como se fosse óbvio.

— E você também o ouviu falar?— Thorn olhava estreitamente para Tristan e um sorriso estranhamente ávido começou a se formar na curva de sua boca.

Tristan pareceu compreender a mudança de humor do cavaleiro.

— Realmente é uma coincidência, então? Sir Rath disse tantas coisas, e contei a ele também sobre a minha família e de como eu falava com out-ros seres na minha terra.

— Conversou sobre os dragões?— O Thorn pareceu surpreendido.

— Não dragões, mas criaturas pequenas em Elderland que parecem falar da mesma maneira.

— Pare um momento, Thorn, — veio para voz funda do Rath em to-das as suas mentes. — Eu já verifiquei o assunto. Ambos, a Senhorita Cara e seu Mestre de Armas podem comunicar-se com dragões. — Ele pausou quando todos os três humanos giraram para olhar para os dragões através do espaço aberto do quintal. Os dois dragões sentados lado a lado agora, ambos apertados no pequeno cômodo anexo que era suficiente para apenas um deles. — Levanta algumas possibilidades interessantes, não acha?

— Realmente. — Thorn de sua posição acomodada ofereceu uma rosa para Cara. Ela tomou isto e permitiu que ele a escoltasse com as mãos em suas costas até onde estavam os dragões. — Senhorita Cara, esta é minha companheira dragão, Senhora Sharlis.

Ele fez a introdução enquanto Cara se curvava para saudar a dragão fêmea, baixando o olhar em respeito, de forma cortês.

— É uma honra conhece-la, Senhora Sharlis.

— A honra é minha, Senhorita Cara, — a dragão fêmea respondeu em sua mente. Sua voz era ligeiramente diferente que a de Rath. Mais fem-inina, ou talvez Cara estivesse deixando sua imaginação ter liberdade para fazer o que quisesse. — Obrigado por ajudar Golgorath e por construir este abrigo bom para ele. — A dragão fêmea levantou sua cabeça grande assim ela podia olhar das cortinas da porta de entrada até o teto de tela pesada. — Este arranjo mostra que você se preocupou com seu conforto, eu agradeço muito por isso.

— O prazer foi todo meu,— Cara suavemente respondeu, sentindo a verdadeira alegria pela aprovação da dragão fêmea. — Se existe qualquer outra coisa que eu possa fazer para que sua permanência seja mais con-

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fortável, por favor, não hesite em me pedir. Os recursos do feudo estão a sua disposição.

— Você poderia usar mais pomada na articulação de minha asa? — A voz de Rath lembrou a ela. Uma risada esfumaçada acompanhou suas palavras. — Estava só começando a penetrar quando você parou.

— Oh! Eu sinto muito! — Cara procurou pela panela que ela colocou no barril, mas Tristan já a tinha em uma de suas grandes mãos. Ele aparentemente estaria presente e não se importava de trazer isto com ele enquanto eles caminharam de volta para o cômodo anexo do dragão.

Cara tentou tomar a panela dele, mas ele gesticulou ao invés de lhe entregar e ela o precedeu de volta no cômodo. Era muito mais apertado agora com dois dragões. Começando a estudar o espaço que ela pretendia para um, mas ela conseguiu voltar em posição atrás de asa do Rath.

Ela ouviu alguns empurrões atrás dela e percebeu que ambos os homens estavam tentando se ajustar no espaço limitado para ajuda-la. Os dois eram grandes — muito grandes para encaixar aqui com ela e dois dragões maduros. Cara rolou seus olhos, perguntando-se por que eles não se acalmavam, quando os dragões entraram e puseram fim a isto.

— Thorn, seja cortês. Deixe o estrangeiro ajudar. Caso contrário meu pobre Rath sofrerá a noite toda sem a pomada em seus ferimentos.— A voz do Senhora Sharlis na mente da Cara soou estranhamente divertida.

Sir Thorn cedeu, mas não foi completamente cortes. Ele se debruçou de volta contra o poste alto que levantava o telhado de tela na esquina do cômodo anexo e assistiu como Tristan colocou suas mãos ao redor da cin-tura de Cara a içando para cima do dragão mais uma vez. Ela pensou que talvez estivesse imaginando, que as mãos de Tristan ficou em seu traseiro um pouco mais desta vez.

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CAPÍTULO SEIS

Thorn foi diretamente para fora e perguntou a sua companheira dragão o que estava queimando um buraco em sua mente.

— Shar, Rath está pensando sobre fazer deste estrangeiro um cav-aleiro, por acaso?

Ele foi cuidadoso ao fazer a pergunta, isolou sua mente de forma que somente Sharliss pudesse ouvi-lo. Nenhum outro podia espiar no incrivel-mente laço apertado entre suas duas almas.

— Até você tem que admitir, seria a solução perfeita. — ela respon-deu, com um olhar como joia luzindo, enquanto ela assistia os dois hu-manos cuidarem dos ferimentos do seu companheiro. — Você gosta da menina? Ela parece boa. E tem fibra apesar do fato de ser a senhora do feudo. Rath diz que ela vai a batalha com seus soldados e luta ao lado deles num cavalo com lança e espada. Ela tem alguma habilidade, ele me disse. E você é esperto o suficiente para perceber que ela não é e não deveria ser um líder de homens. Ela combina bem com o Mestre de Armas, per-mitindo a ele levar a carga da batalha e a estratégia defensiva. Ele co-manda no campo da batalha, não ela, apesar de seu grau social mais alto. Ela não parece fazer cerimônia, e diferentemente de muitas meninas tolas levantada nesta abóbada que a mantémm em claustro, ela não parece ter uma inflada opinião própria quanto ao seu próprio valor.

— Isto é uma boa observação, Shar, mas respondendo sua pergunta, eu gosto dela. Um grande acordo, de fato. — O Thorn não podia manter seus olhos longe da pequena mulher humana atendendo ao dragão enorme. — Você provavelmente notou que eu me voluntariei para vir a este feudo mais que qualquer outro. Não é só porque eu tenho algumas suspeitas sobre o jovem Sir. Eu admito, era para ver a Senhorita Cara, ainda que nada pudesse resultar disto.

— Mas parece agora que algo podia definitivamente resultar de sua atração pela menina. Ela pode nos ouvir quando nós falarmos com ela, Thorn. Você sabe o quão raro isto é.— Sharlis piscou, lançando o olhar em Thorn e então atrás, para a Senhorita Cara. — Se você não vê a mão da Mãe de Todos neste momento, então você está sendo deliberadamente sonso. Você ficou atraído por ela. E ela esta atraída por você também. O modo como ela estava gaguejando e corando é alguma indicação. Mais, ex-iste esta voz do surpreendente estrangeiro… — Shar sumiu enquanto movia seu olhar para o homem que estava tão perto — muito perto — atrás de Senhorita Cara.

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— Ele é verdadeiramente merecedor de ser cavaleiro de Rath? — Isso era o ponto crucial do assunto. Se Tristan não fosse puro de coração e forte de caráter, este acordo nunca ocorreria.

— Rath está começando a acreditar nisso, entretanto ele provavel-mente observará melhor o homem antes de tomar a decisão. Você deve lembrar o que aconteceu na última vez. Meu companheiro talvez esteja por demais cauteloso, mas eu não o culpo. A dor de perder seu cavaleiro não é algo que eu possa explicar em palavras. Eu senti isto eu mesma, e eu não desejo esta agonia a meu amado novamente, não tão cedo.

Raramente a dragão fêmea falava com ele sobre os cavaleiros que vieram antes dele. Sharlis já vivia por muitos séculos. Ela era uma experiente veterana e uma das mais sábias que Thorn conheceu. Ela era a irmã para sua alma — uma irmã mais velha, mais sábia que compartilhava, ambos, seu riso e sua experiência, com ele no aqui e agora. Ela não insistia no passado, entretanto estava claro que todo mundo na Guarida sabia a história de pesar do Faedric e do pobre Rath.

— Como o Rath pode pensar em pôr tal fé em um guerreiro que não nasceu nesta terra? De tudo que eu ouvi, este Tristan é novo aqui. Ele não tem nenhuma lealdade para nós — dragão ou humano. Como poderia ser possível? Como ele pode ser um cavaleiro para dedicar sua vida a defender Draconia?

— Às vezes é suficiente saber que ele dedica sua vida a defender os inocentes e o que é verdadeiro — enfim, se é um daqueles que estão firme-mente no lado da luz, vida, e bondade. Estas são as qualidades que meu companheiro está começando a ver neste guerreiro. Embora ele possa ter nascido em uma terra estranha, ele é um bom homem. — Shar piscou e pousou o olhar em Tristan novamente. — Rath estava me contando um pouco sobre por que Tristan deixou sua pátria. Eu não trairei sua confi-ança, mas direi que ele é muito mais do que parece ser. Mais até do que ele mesmo acredita.

Thorn ficou impressionado.

— Rath havia conseguido muita informação, através de uma única batalha e algumas palavras trocadas entre eles neste dia?

— Quando algo tem que ser, criança, você encontrará as respostas muito depressa e com pouco rebuliço. Nem tudo em vida tem que ser uma luta. Às vezes as melhores coisas da vida vêm para nós facilmente. Devemos aceitar a bondade que vem quando nós menos esperamos, temos que reconhecer quando as oportunidades se apresentam por elas mesmas — raramente acontecem novamente. Muito da qualidade de nossas vidas gira em torno da contagem de tempo.

Thorn pensou sobre as palavras da dragão fêmea por um longo mo-mento, enquanto assistia a Senhorita Cara terminar com o pior ferimento em uma articulação da asa. As mãos e corpo de Tristan a seguraram no lu-

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gar e ele não imaginou a atração no ar entre eles. Ela era desenhada para o estrangeiro e ele para ela. Thorn não soube se deveria sentir-se ciu-mento ou simplesmente, admirar aquela cena.

— Eles dizem que ele é um forte guerreiro. — Thorn reacendeu a conversação, disposto a escutar o conselho da sua sábia companheira. — Eu ouvi mais de um homem dizer que Tristan é o melhor Mestre de Armas que este feudo já viu em muitos anos. Eles universalmente parecem re-speita-lo, o que é raro quando um estranho entra assumindo o comando de um grupo já estabelecido.

— Verdade,— a dragão fêmea concordou. — Mas até os dragões es-tão conversando sobre suas ações no campo da batalha hoje. Rath só pode estar em divida com o Mestre de Armas por sua vida. A criatura que provocou aquelas queimaduras terríveis, poderia ter feito muito mais dano se o Mestre Tristan não tivesse intervido.

— Ele realmente matou um skith sozinho? Você conseguiu a história de Rath?

— Oh, ele fez isso mesmo e de uma maneira não convencional. Rath me disse que Tristan subiu em cima do skith e afundou uma de suas es-padas no cérebro fraco da criatura.

— Isso deve ter sido uma visão e tanto.— Thorn manteve o assobio de admiração para ele mesmo.

— Eu não tenho nenhuma dúvida. O fato é, todos nós temos uma dívida de gratidão com ele hoje.

— Fazê-lo cavaleiro vai muito além de gratidão, Shar. — O ceticismo em seu tom não podia ser ocultado de sua companheira dragão.

Círculos esfumaçados de sua diversão moviam-se em direção ao teto de tela pesada acima deles. Tristan e a Senhorita Cara não pareciam no-tar. Eles estavam muito encostados um ao outro, ou talvez fosse apenas a sua opinião. Talvez a Senhorita estivesse concentrada em ajudar o grande paciente, porém não havia nenhuma dúvida na mente de Thorn quanto aos pensamentos de Tristan, que estava firmemente encostado no traseiro suave e arredondado que se apresentava tão próximo.

— O tempo dirá, se qualquer coisa ocorrer, se o Mestre Tristan estiver destinado a se tornar cavaleiro. Se eu tivesse que apostar, meu dinheiro estaria nele, entretanto... Esta situação envolve a Deusa. Eu vi isto muitas vezes na minha frente durante todos os meus séculos. A Mãe de Todos tem um grande acordo para fazer com as coisas do coração e títulos de família nas Guaritas de Draconia.

Thorn manteve cuidadosamente para si mesmo, sobre a família nobre de Cara. Ele ouviu um boato de que nem tudo era como devia ser entre ela e seu irmão, e não gostou do modo como Envard a tratou na presença de visitas. Algo estava seriamente errado lá e Thorn, discretamente tentou de-scobrir exatamente o que era, sem no entanto obter sucesso.

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Agora que Envard estava ferido, entretanto, ele poderia ter mais sorte. Envard não poderia negar o acesso de Thorn aos arquivos do feudo, agora que ele estava preso na cama. Thorn decidiu dar uma olhada para ver o que ele poderia achar nos registros em sua conveniência mais antiga.

Ele era bom em pesquisar segredos e ele resolveu mais de um mis-tério por meio de um estudo cuidadoso dos velhos registros esquecidos. Por muito tempo ele tentou encontrar respostar e finalmente teria uma oportunidade para procurar sem impedimento, então, ele tiraria o maior proveito de seu tempo aqui enquanto o jovem Senhor estivesse incapaci-tado.

A senhorita Cara terminou sua tarefa e Mestre Tristan a ajudou a de-scer, suas mãos se demoram na cintura dela talvez uma fração a mais de tempo, mas Thorn não podia repreendê-lo. Se estivesse em seu lugar, com suas mãos em torno da adorável senhorita, ele provavelmente teria aproveitado também. Ao final, Thorn teve que admitir, Tristan tratava a Senhorita Cara tão bem quanto quaisquer nobre do reino ou qualquer cav-aleiro, no que dizia respeito a esse assunto.

Cara estava bem a caminho de ser subjugada pelos dois homens. Eles eram ambos enormes e musculosos, começando a estudar espaço no cô-modo anexo que parecia cada vez menor. Tristan estava logo atrás, camin-hando bem próximo dela, enquanto ela deixava um pequeno espaço entre os dois dragões.

Ela podia sentir não só o calor gerado pelos dragões, mas também o calor de Tristan que parecia cerca-la. Ele cheirava tão bem também, como o couro e óleo que usava em suas lâminas. Era algo que ele havia trazido de sua pátria e o odor a atraía à medida que ele andava.

Sir Thorn esperava na frente dela. Não existia nenhum modo de sair exceto passando muito perto dele. Ele não pareceu propenso a se mover para qualquer lado, isso a fez ficar excitadamente cautelosa. Por que ele não se afastava para deixa-la passar? O que acontecia?

O momento de verdade estava à mão. Ela caminhou até onde ela po-dia sem esbarrar em Sir Thorn, passou perto e ele não se moveu. Ela parou, olhando para cima em seus olhos dourados, surpreendidos por ver um tipo excitação em seu olhar. Ela estaria entendendo direito? Ele estava verdadeiramente interessado nela? E por que agora, com Tristan só algu-mas polegadas atrás dela?

Thorn permaneceu em sua posição inclinado e a enfrentou. Eles es-tavam muito próximos agora e quando Thorn se moveu, Tristan o seguiu. Ela agora fazia um sanduíche entre os dois grandes homens, confusa por suas ações. Eles estavam competindo por ela, com poucos modos? Ela não achou que isso fosse provável. Embora ela e Tristan houvessem passado

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uma noite surpreendente juntos, ele tinha evitado sua presença, exceto em circunstâncias extraordinárias. De fato, ele a fazia sentir como se ele lamentasse o incidente, isso quebrou seu coração.

Sir Thorn, por outro lado, tinha sido amigável com ela. Embora ela frequentemente tivesse a impressão de que ele gostava dela, mas jamais havia se aproximado. Ele nunca a beijara. Nem mesmo na bochecha. Ele nunca havia levado para caminhar do lado de fora para ficarem a sós nas muitas visitas que ele fez em Fedoral. Ele foi apenas agradável, não lhe dando qualquer indicação que poderia estar interessado em algo mais que amizade.

Até aquela noite.

— Obrigado por dispensar tantos cuidados com Rath, — Thorn disse em um tom baixo, íntimo, que ela nunca ouvira antes.

— O prazer é todo meu ser de algum modo útil para ele,— ela re-spondeu, um pouco formalmente. Thorn permaneceu muito próximo e Tris-tan ainda estava atrás dela.

Thorn chegou mais perto e ela voltou a olhar para cima — dire-tamente para Tristan. Suas mãos foram para seus quadris para segurá-la e… ficaram lá. Ela gostou de sentir o calor morno de suas grandes mãos em seus quadris, mas não podia se concentrar na mudança de Thorn, que agia de forma muito mais íntima.

— O que você está fazendo?— Ela perguntou, ofegante.

— Sim— Tristan adicionou acima de seu ombro. — O que você está fazendo, Sir Thorn? Cara é uma Senhorita e eu defenderei sua honra até contra um cavaleiro do reino.

Ela sentia a raiva e a confusão na voz de Tristan, próxima a sua orelha. Ele soava num firme desafio, entretanto claramente perplexo pelas série de acontecimentos estranhos. A deusa que a ajudasse, a proximidade dos dois homens estava alterando os seus sentidos. Se qualquer um dos dois quisesse tê-la neste momento, ela seria impotente para resistir. De fato, ela não queria resistir.

— Você esta bêbado? — Tristan adicionou, com uma reflexão tardia.

— Não bebo, Mestre Tristan. Mas estou meramente…curioso, — Thorn disse, aumentando a sua confusão. O calor de seu corpo na frente e o de Tristan por detrás estava deixando-a com vertigens.

— Estou curioso sobre as razões que o levam a abordar a Senhorita Cara deste modo. — Tristan exigiu, exibindo um pouco mais de raiva.

— Eu estou curioso sobre algo que Sharlis disse a mim mais cedo. Você concorda que ambos ouvimos os dragões quando eles falam? E é claro para mim que nós estamos atraídos pela adorável Cara. Não é, Mestre Tristan? — Ele pausou, levantando uma sobrancelha enquanto fazia a pergunta retórica. Tristan não respondeu, mas ela ouviu um som

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leve enquanto ele tragou atrás dela. — Eu penso talvez que Cara foi de-senhada para nós dois também. — Uma de suas sobrancelhas se levantou em especulação, mas ele não a empurrou para uma resposta, ainda bem. — Seria possível que todos nós pudéssemos ter o que queremos.

— Eu não entendo. — Tristan disse depois de um momento.

Naquele momento de silêncio, Cara pensou que havia entendido o que Sir Thorn estava insinuando e a ideia fez sua boca ficar seca. Os pen-samentos levantaram por suas palavras, atormentados e confusos. Ela não poderia falar ainda que quisesse. Ela estava confusa ao pensar que o dragão fêmea houvesse discutido assuntos tão íntimos com seu cavaleiro.

Cara precisou de um par de respirações fundas para ajudá-la juntar sua dignidade, porém toda vez que ela respirava, era engolfada nas essên-cias deliciosas dos dois homens, que misturadas se transformavam um aroma tão intrigante e sublime que ela sentia-se incapaz de pensar clara-mente.

Ela teve que reunir toda sua coragem, a mesma que necessitava ao sair para batalhar com os soldados de seu irmão. Se ela iria lidar com estes dois homens no futuro, ela tinha que se afirmar agora ou eles corre-riam sempre acima dela. Da mesma maneira que Envard fez e isso ela não permitiria.

— Sir Thorn, — ela começou com uma voz tão forte quanto pode re-unir e ficou orgulhosa de si mesma quando não gaguejou. Seus olhos se es-treitaram quando ele a olhou, parecendo intrigado pelo que ela poderia dizer. Isso era um bom começo. — Eu não penso que meu irmão consen-tiria em tal união.

— Esta é sua única objeção?— Sua voz soou muito grossa enquanto ele sorria para ela.

— Que união? Sobre o que vocês dois estão conversando? — Tristan perguntou por detrás.

Mas Thorn não estava escutando. Ele também nem esperava por qualquer resposta de Cara. Sua cabeça imergiu mais abaixo e então seus lábios se encontraram em seu primeiro beijo. Era delicioso e misterioso, in-sinuando mais do que ela já havia sonhado. Seu sangue aqueceu-se com seu beijo e sentindo a aspereza de sua barba contra sua pele.

A sensação deixou-a fora de tempo e lugar. Ele a fez sentir como se tudo de repente estivesse certo em seu mundo.

Mas ele não era o único.

As mãos apertadas de Tristan em sua cintura a puxaram nitidamente para trás, longe de Thorn.

Era um movimento injusto. Seu treinamento defensivo contribuiu e ela jogou um cotovelo afiado fisgando o homem que estava por detrás. Pelo menos isto foi como sua mente nublada via a ação.

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Tristan soltou um enorme “ufff” de surpresa e dor misturadas. Ele se dobrou acima quando Cara percebeu o que ela havia feito.

Thorn estava rindo da surpresa de Tristan, o que a fez sentir-se ridícula. A raiva substituiu o embaraço quando ela passou por Thorn, para fora, saído na noite escura.

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CAPÍTULO SETE

— Muito suave, cavalheiros,— Rath comentou secamente, enviando anéis de diversão esfumaçada flutuando em direção ao teto.

— Por que você a molestou daquele modo? Eu não consigo entender o que se passa. — Tristan agitou sua cabeça, sua respiração retornando depois que a pancada de Cara o abateu.

Ele permaneceu ligeiramente curvado, massageando seu abusado ab-dômen, quando ele olhou para o cavaleiro e o dragão. Ele estava alarmado pelas ações de Thorn — e até se alarmou mais pois quando assistiu o outro homem beijar sua adorada, veio uma onda de excitação sexual como ele nunca conheceu antes. Algo estava acontecendo aqui. Algo que ele não en-tendia. Era como se ele estivesse operando com apenas metade das infor-mações de necessitava, algo que qualquer bom chefe de batalha não iria — e não devia — tolerar.

Thorn deu um suspiro longo antes de responder.

— Isso podia ter ido melhor. — ele parecia falar com ele mesmo. Tris-tan não gostou do longo e demorado olhar que o outro homem deu a Cara enquanto ela estava voltando. — Eu sinto muito, meu amigo. Você tomou o ímpeto de minha tentativa malfeita para descobrir se ela era receptiva. — Thorn bateu com as mãos no ombro de Tristan, surpreendendo-o.

— Receptiva para o que? Uma tentativa ruim em romance? Você de-via ter esperado até que estivessem a sós. Você não pode ver como a cha-teou? — Tristan estava ficando mais bravo agora. — Por que você fez isto na minha frente?

Thorn girou e deu a ele um olhar especulativo que Tristan não enten-deu.

— Para ver se você estava aberto a isto também.

— Eu repito — aberto a que? — A raiva estava vindo muito mais ín-tima para a superfície. O cavaleiro achou melhor começar a explicar suas palavras secretas logo ou Tristan iria bater nele , sendo um homem do reino ou não.

— A compartilhar. — Rath abruptamente disse, trazendo o enfoque do Tristan para o dragão.

— Compartilhar? Compartilhar o que? — Levou só um momento para chegar a conclusão surpreendente. — Você não quer dizer… — Tristan es-tava escandalizado, mas se ele fosse honesto, ele também estava excitado pelo que tinha acontecido e o que estes dois Draconianos estavam insin-uando.

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— Compartilhando sua vida com você e Thorn. E conosco. Então nós formaríamos uma família — Rath disse, enroscando seu pescoço com sua esposa, em uma exibição clara de afeto.

— Você tomou sua decisão, então? — Thorn tratou o dragão direta-mente, ultrapassando Tristan, que ainda não entendia exatamente o que estava acontecendo.

Ele pensou que compreendia o modo estranho que Draconianos us-avam o idioma, mas aparentemente ele ainda tinha muito para aprender. Estas pessoas estavam conversando em círculos!

— Na verdade, a decisão foi tomada quando ele subiu naquele skith e mostrou mais coragem e habilidade que qualquer guerreiro que eu já tivesse visto. — A voz do dragão era suave ao referir-se as ações de Tris-tan, e foi ai que ele entendeu. Mas diferente disto, ele ainda tinha dificul-dades em seguir a conversação. O dragão girou sua cabeça grande, separando seu pescoço de sua companheira e descendo para encontrar Tristan, olhando diretamente para ele e dizendo — Eu tenho procurado por um guerreiro de grande habilidade, com um coração puro e disposição, para sacrificar a vida dele mesmo para o bem de outros. Suas ações hoje e a magia que sobe quando um dragão busca um cavaleiro, me mostraram que você é esse homem. Se você puder renunciar a sua pátria para sempre e fazer sua vida aqui em Draconia, jurando submissão para nosso rei e as pessoas, eu escolherei você como meu cavaleiro, e compartilharei minha vida e a minha família para o resto de seus dias.

Tristan não podia acreditar no que estava ouvindo ou sentindo. O calor morno e mágico do dragão o cercou por um momento, dando a ele um vislumbre do que seria sua vida aqui, com estas pessoas. Tão diferente do caminho solitário que ele tinha imaginado para si mesmo e muito parecido com as predições que sua irmã profetisa havia feito da vida que ele poderia achar quando deixou Elderland. Poderia ser verdade? Ele poderia ter tão rica e longa vida? Tristan não ousou acreditar que isto po-dia ser assim.

— Eu já desisti de todas as reivindicações do trono de minha terra natal e cortei todos os laços com minha família em uma cerimônia formal antes de partir. É como se eu nunca tivesse nascido naquela família ou clã. Eu estou só … eu pensei que eu permaneceria só pelo restante dos meus dias, vagando sem um lar. — As lágrimas formaram-se em seus olhos, en-quanto falava aquelas palavras diretamente de seu coração. Tristan soube, foi só encontrar o olhar precioso do dragão para formar a conexão que ele podia já sentir se formando entre suas almas. — O que você oferece parece como um sonho, Sir Rath. — Sua voz soou em um sussurro.

O dragão movimentou a cabeça.

— Um sonho do melhor tipo. Um que pode realizar-se, se você con-cordar.

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— Eu admito, me confundo no uso de seu idioma, o meu é mais pobre do que eu pensava. Se eu concordar em ser seu cavaleiro, o que eu devo oferecer em retorno? Parece como se eu ganhasse muito mais nesse acordo. — Tristan foi treinando muito cedo na diplomacia, isso incitou-o para pedir os pormenores antes de consentir para qualquer coisa.

— Você concorda em servir Draconia para o resto de seus dias como meu cavaleiro? No tempo devido, Sharlis e eu gostaríamos de retomar nossa relação. Isso significa que você e Thorn terão que convencer uma mulher, tal como a Senhorita Cara, se meus sentidos não enganam-me, a se casar com você dois e ser parte de suas vidas.— Rath movimentou sua grande cabeça em direção a onde a Cara havia desaparecido na porta da frente do castelo. — Sua vida será cheia de alegria e sofrimento. Felicidade e duelo. Da mesma maneira que todas as outras vidas das pessoas. A única diferença é que você será parte de uma família da Guarida, vivendo no meio de guerreiros, lutando ao lado de outros cavaleiros e dragões, e com-partilhando sua companheira com Thorn. Nós cuidaremos de qualquer cri-ança humana ou dragão — juntos. Você viverá sua vida conosco como parte de uma família muito maior e Draconia será sua casa para o resto de seus dias.

Tristan estava quase derrubado pela ideia. Chocado e esperançoso. Ele realmente podia ter o que o dragão havia descrito? Ele ousaria aceitar?

— Eu posso ter tempo para pensar sobre tudo que você disse? — Tristan perguntou, protelando. Ele não podia tomar essa decisão sem pen-sar melhor e pelo menos conversar com a Senhorita Cara.

Ele não queria deixar aquelas terras se ela não viesse com ele. De momento ele iria primeiro vê-la, afinal ele jurou protegê-la. O novo Senhor não era gentil com sua irmã e Tristan não a deixaria sem um protetor se ela decidisse ficar.

— Como você desejar. Eu estarei aqui, me curando por alguns dias. O Thorn e Sharlis ficarão, se puderem. Talvez Thorn possa dar a você uma ideia melhor do que é ser um cavaleiro, e tudo mais sob a perspectiva hu-mana. — Rath curvou sua cabeça e quebrou a conexão que segurava Tris-tan no lugar. Ele pareceu desapontado, o que fez Tristan se sentir mal, mas havia pouco que ele podia fazer no momento.

— Venha, Mestre Tristan, — Thorn disse, pegando no ombro de Tris-tan e o guiando em direção ao castelo. — Vamos achar um barril de vinho e um canto sossegado para discutir isto. Se nós tivermos que lutar como companheiros, nós devemos nos conhecer melhor.

Sentindo-se um pouco confuso por tudo que havia acabado de acon-tecer, Tristan permitiu ao cavaleiro lhe reconduzir para fora do cômodo anexo dos dragões. Ele tinha muito que pensar sobre o grande acordo e so-bre a sugestão de Thorn quanto ao vinho. A conversação seria bem-vinda para ajudar Tristan a separar seus pensamentos e perguntas sobre a oferta do dragão.

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-o-

Cara correu de volta para o castelo até seu quarto sem olhar para trás. Os homens a confundiram e sim, ela admitiria, estava com um pouco de medo. Não temia a eles, mas tinha medo quanto ao seu futuro. Ela ousaria sonhar com um futuro diferente do qual Envard planejou para ela? Ela podia realmente escapar dos laços ser uma castelã, uma mulher nobre e agarrar a vida que ela queria com ambas as mãos? Ou isso lhe seria ne-gado novamente ?

Seu pai a favoreceu — apesar das objeções do seu irmão. Permitiram a ela aprender a lutar e montar ao lado dos homens. Envard não gostava disto e tomou toda oportunidade para tentar cortar suas atitudes. Ele não percebeu que seu constante desafio e prova só a fazia querer ser melhor e tentar ser mais dura.

De qualquer modo, ela era um guerreiro melhor que Envard. Ele caiu em sua primeira batalha depois que seu pai morreu. Era para o Senhor do castelo levar a carga e ele o fez de modo desastroso. Sua primeira batalha como Senhor o fez parar de trabalhar com seu cavalo, ficou incapaz de subir. Teve muita sorte por não ter morrido. Ele teve um ferimento na perna muito sério, o que o manteve deitado, mas isso não duraria para sempre.

Seus dias estavam acabando, Cara sabia que em breve acabaria o re-pouso quando sua flor de irmão saísse do leito de doente. Ela não teria mais permissão para montar com os soldados e Envard provavelmente en-viaria sua bagagem assim que ele pudesse assinar um contrato de casa-mento para ela. Ele não permitiria que ela escolhesse o homem para o qual ele a venderia. Ele a venderia para algum homem velho em troca de terras ou bens ou qualquer coisa que ele pudesse ganhar em contra partida.

Ele teria que enviar um dote, mas Fadoral não tinha riqueza sobres-salente. O que eles precisavam era de terra e pessoas para trabalhar nelas. Terra longe da fronteira seria preferível e haviam poucos Senhores nas ad-jacências procurando por noivas apropriadas. Envard não se importaria se ela gostasse de seu marido ou não. Ele a venderia para quem oferecesse a ele o melhor negócio.

Cara não podia permanecer pensando nisso.

Mas ela podia se tornar Senhora de um cavaleiro? Ela poderia lidar com tudo que implicava? Francamente, ela não estava certa.

Ela amou os dragões, mas a ideia de ter não um, mas dois maridos, a deixava cheia de ansiedade. Ela não era virgem, sabia o que ocorria entre um homem e mulher. Ela apreciou sua noite com Tristan e ansiou por mais. Mas estando com dois homens de uma vez estava além dela.

Entretanto, a ideia agradava sua imaginação. Ela estava atraída por ambos, Thorn e Tristan. Ela fantasiou sobre os dois — aquele com quem

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ela tinha estado e aquele que estava sempre fora de seu alcance. Mas nessas fantasias nunca tinha estrelado com dois homens ao mesmo tempo.

Sonhos conturbados dos dois homens seguiram-na no sono e não ces-sou até de manhã. Ela despertou cansada, com uma enxaqueca que não pressagiava nada de bom para o resto de seu dia. As coisas só ficaram pi-ores quando ela foi verificar Envard, achou-o sentando no quarto, tomando um café da manhã enorme. Estava claro que havia passado a febre que o havia pregado na cama, e aparentemente estava ávido para começar a to-car sua vida novamente.

— Onde você estava?— Seu tom era acusatório e ele não esperou que ela respondesse — Eu quero a contabilidade das batalhas desde que eu fui ferido. Por que o Mestre de Armas não veio entregar relatórios para mim?

— Você estava gravemente ferido, Irmão, — ela lembrou a ele. Ele era sempre mais razoável quando estava doente.

— Isso não significa nada. Ele devia ter me passado relatórios diários, nada menos que isso. Eu mandei buscá-lo e o despedirei se tudo não estiver de acordo com a minha preferência. — Agora ele soava petu-lante. Oh querido Deus. Iria ser uma daquelas manhãs.

— Se você o despedir, as terras serão infestadas em menos que uma quinzena, — ela murmurou, tomando os pratos que ele já havia terminado e empilhando-os em uma mesa perto da porta.

— Não pense que eu não ouvi isto!— Ele gritou atrás dela. — E você não ouse questionar minhas decisões. Eu sou o Senhor aqui.

Seu discurso foi suplantado pela entrada de um Tristan de expressão sombria no quarto. Ela estava contente pela interrupção, não queria uma confrontação como resultado de sua conversa pelas costas de seu irmão que a menosprezava. Ela não queria que Tristan sofresse por sua causa.

— Minhas desculpas, Irmão. Você esta certo, é claro.

Ele afastou sua bandeja com tanta violência que os pratos retiniram e poderiam ter quebrado. Ela se apressou em tomar a bandeja antes dele fazer um dano real com os talheres estimados da sua mãe.

— Pense bem, eu estou sempre certo. E você, é melhor lembrar sem-pre disto…pelo curto tempo que resta a você aqui. — Ele zombou dela, e ela sentiu dor em seu coração com o óbvio ódio em seu olhar.

Será que algum dia ele a teria amado como uma irmã? Ela não pen-sou em lamentar-se. Ela teria gostado de apoiar-se em seu irmão. Ao invés disso, ela foi evitada por ele desde a morte do seu pai.

— Meu Senhor. — Tristan interrompeu, andando entre ela e Envard.

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— Onde nos infernos você tem estado? Você devia ter se reportado para mim desde o princípio. — Parecia que a ira de Envard tinha um novo alvo.

— Eu tentei falar com você todo dia desde seu acidente, meu Senhor. Você esteve incoerente com a febre, falando a maior parte do tempo. Os curandeiros me aconselharam a deixar você se recuperar até que sua febre extinguisse. Eu estou contente por ver que melhorou. — Tristan foi rápido para acabar com o assunto. Ele não deu a Envard um momento para falar, e Cara teve que admirar o modo que ele o administrou. Como se ele tivesse lidado com as pessoas difíceis em posições do poder por muito tempo. — Agora, — Tristan passou, desenrolando um grande mapa de pele de veado da fronteira. — Nós precisamos discutir os ataques desde que você foi ferido. Lá parece haver um padrão. Eu conferi com Sir Thorn quanto a esse assunto em sua ausência e ele concorda. As notícias estão realmente abor-recidas.

Isso era a primeira vez que ela ouvira falar de um padrão e ela deses-peradamente quis ficar para escutar, mas outro olhar de Envard, deixou claro que ela devia partir. Cara juntou os pratos descartados e fez seu cam-inho para a porta, não olhando para Tristan. Se Envard percebesse que ela estava olhando para o Mestre de Armas, ele poderia ver algo que ela prefe-ria que ele não estivesse ciente.

Ela saiu rapidamente, só para achar Sir Thorn que a esperava no corredor. Ele pegou a bandeja de pratos antes que eles se desequilibrassem e caíssem no chão de pedra. Ele a surpreendeu e salvou o seu dia uma vez mais.

— Obrigado, Sir Thorn.— Ela tentou não soar ofegante e falhou. Ele a deixava nervosa…de uma maneira excitante.

— Eu posso ajuda-la com estes pratos? — Ele perguntou, levantando a bandeja carregada.

— Eu não sonharia ocupa-lo com isso. Você não tem que entrar e con-versar estratégias com meu irmão e Mestre Tristan? — Ela esperava que ele concordasse, mas ele não a deixava ir.

— Eu estou à sua disposição, senhorita. O Senhor Envard pode esperar. Tristan o manterá ocupado enquanto eu discuto assuntos com você. Nós fizemos uma aposta e eu vou ganhar. — Seu sorriso era astuto e muito lisonjeiro. — Agora, você estava indo em direção às cozinhas, talvez? — Ele se moveu em direção ao corredor.

— Bem…sim.— Ela realmente não entendeu o que estava aconte-cendo entre os dois homens.

— Então eu acompanharei você lá, assim então talvez nós possamos conversar, se for agradável para você. — Ele era agradável e quase galante com seu pedido. Ela não podia dizer não.

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Então eles caminharam juntos em direção às cozinhas, falando nada em particular, Thorn até comentou sobre os pratos.

— Esta cerâmica é bastante delicada. Eu não vi igual do lado de fora do palácio.

— Eles eram da minha mãe — ela admitiu calmamente. — Uma das poucas coisas que herdei dela.

O rosto de Thorn cresceu preocupado.

— Ela foi tirada de você e Envard muito jovem? — ele perguntou.

— Oh, a mãe do Envard era a segunda esposa do nosso pai. Nós so-mos meio-irmão. Minha mãe morreu quando eu nasci. Meu pai casou nova-mente quatro anos mais tarde, e Envard nasceu mais ou menos oito meses depois disto. Talvez seja por isso que…— Ela diminuiu, percebendo que estava para dizer algo indelicado. Ela não devia falar abertamente sobre a distância entre ela e Envard. Não seria decente.

— Eu sinto muito. Eu não sabia que o Senhor Harald tinha se casado duas vezes. Minhas condolências pela perda de sua mãe. — Sua voz estava calma, parecendo verdadeiramente lamentar, o que a tocou profunda-mente.

— Eu nunca a conheci, e meu Pai não falava dela com frequência. Ela deixou algumas coisas para mim. A porcelana é uma delas. Meu pai nunca usou isto, mas Envard ordenou que todas as suas comidas fossem servidas nela, a partir do momento que meu Pai morreu. — Ela mordeu de volta a raiva pela insistência egoísta do seu irmão. Ela pedia toda vez que ele tratasse os pratos preciosos com cuidado e ele parecia fazer isto de propósito, só para aborrecê-la.

Thorn pareceu aflito por suas palavras, mas deixou passar quando entraram na cozinha. Ele colocou a bandeja suavemente na mesa mais próxima à pia e a empregada da copa corou quando ele deu um sorriso. Ela gostou do modo que ele tratava os empregados — gostava das pessoas, mesmo aquelas hierarquicamente mais baixas. Seu irmão tinha abusado do pessoal doméstico desde que ele começou a falar, entretanto seu pai aparentemente nunca havia visto isso.

— Minha mãe era Princesa Jala da Casa de Jirand, — Cara revelou. Pareceu bom falar de sua mãe. Envard praticamente proibiu toda conversa sobre a mulher que veio antes de sua própria mãe. Estava livre agora para falar abertamente e guerreou com seu coração só para dizer seu nome.

Até uma coisa tão simples como falar o nome da sua mãe era ainda outra coisa que Envard negou a ela.

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CAPÍTULO OITO

— Você é de sangue real? — Thorn pareceu chocado…e feliz.

— Só do lado da minha mãe. Não é algo que falamos. Eu acho que as coisas teriam sido diferentes se ela fosse viva.

O braço de Thorn envolveu seus ombros num reconfortante abraço.

— Sabendo isto, eu agora entendo um pouco mais a sua situação. Não é nenhuma surpresa que você possa ouvir os dragões falarem. Você tem um dragão em alguma parte de você mesma.

— Parte dragão? — Ela realmente não entendeu. Ele caminhou para um canto quieto da grande cozinha enquanto eles conversavam e puxou uma cadeira para ela, assentou-a antes de continuar.

— Todos aqueles de sangue real, compartilham a linhagem de Draneth o Sábio. Vocês são todos metade dragão e metade humanos, cria-dos dessa maneira para se pronunciar sobre ambos, os dragões e os seres humanos em nossa terra. Eu posso imaginar o quanto sua mãe teria ensi-nado a você sobre sua herança, se tivesse tido a chance de conhecê-la.

— Existe muita coisa que eu não sei sobre ela, — Cara admitiu.

— Nós faremos nosso melhor para reconectar você com seus primos se você desejar, Senhorita Cara. Por direito, você é Princesa. — ele disse com um sorriso, surpreendendo-a. — Você é de sangue real. As regras nor-mais de herança não contam em tais casos. Todos aqueles que descendem de Draneth são considerados reais.

— Eu não sabia disto. — Ele deu-lhe algo para pensar. Envard sabia? Talvez ele soubesse e por isso que ele a perseguia tanto.

— Princesa, há muito o que conversarmos, mas primeiro, eu quero que saiba o quanto eu sempre a admirei. Eu não estava livre para falar antes, mas com as muitas mudanças que aconteceram desde ontem, começo a pensar que a Mãe de Tudo seguramente está guiando nossos caminhos neste caso. Shar e Rath acham também. — Ele falou em uma voz tranquila que a acalmou, com sua proximidade excitando-a. — Eu também devo me desculpar por meu comportamento ontem à noite. Eu fui muito desajeitado e sinto muito se a assustei.

Cara sentiu que sua pele ruborizava. Ela realmente não havia se as-sustado por seus avanços ontem à noite. Ela soube que ele nunca a machu-caria. Estava sim, confusa e necessitada. E um pouco chocada pelas impli-cações.

— Tristan e eu tivemos uma conversa longa ontem à noite depois que você se retirou. — Thorn continuou quando ela não disse nada, não sabia o que responder. — Ele sugeriu uma abordagem mais tranquila, por isso eu

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quis conversar com você. — Ele alcançou a mão dela por sobre a mesa na qual estavam sentados, surpreendendo-a agradavelmente. — Princesa Cara, eu admiro você há muito tempo. Eu manipulei para conseguir as pa-trulhas que me levariam as suas terras, assim eu poderia vê-la, ainda que eu sentisse no momento que jamais poderia agir em meu próprio interesse. Eu esperava que você me notasse também. Eu posso pensar que talvez você o tenha feito ?

Seu sorriso suave e o modo que sua mão morna apertava seus dedos fizeram-na sorrir também, aumentando o rubor em suas faces. Ela não po-dia mentir para ele. Não naquele momento em que ele segurava sua mão e parecia tão encantador.

— Eu confesso que sim, Sir Thorn,— ela sussurrou. — Mas você nunca me abordou, — ela ousou dizer.

— Eu sentia que não podia. Desde o momento que concordei em ser companheiro de Sharlis, eu soube que qualquer relação que viesse a ter, não seria tradicional. Entenda-me, nunca lamentei por ter me tornado um cavaleiro. É minha honra e minha alegria compartilhar a vida de Sharlis e viver na Guarida. Mas eu sempre tive reservas sobre perguntar a uma mul-her, particularmente uma de sua educação gentil, se aceitaria o estilo de vida que nós temos a oferecer. Não que exista qualquer coisa errada quando três pessoas compartilham suas vidas com amor e laços de união. É só que pode ser um choque para uma mulher criada suavemente para o casamento.

Cara decidiu que estava na hora de achar sua fibra.

— Eu confesso que foi um choque. E se você estiver me pedindo para considerar isto, você devia me dizer muito diretamente, Sir Thorn. — Isso soou melhor. Ela podia ver um clarão em seus olhos em aprovação e deram até mais força para falar em sua mente. — Eu quero ser uma esposa, mas você viu por si mesmo que eu não sou bastante tradicional para uma sim-ples esposa. Eu luto ao lado dos homens. E sou assim tanto com uma espada quanto com uma concha em minha mão. E eu não sou completa-mente ignorante do que se passa entre homens e mulheres. Eu admito que o pensamento de dois maridos em minha vida em vez de um único, como me foi levada a acreditar que eu teria, é tanto assustador…e tentador. Eu não estou certa como isso funcionaria, mas se os dois homens, que você está me pedindo para considerar, sejam você e Mestre Tristan… — Ela parou de falar, o rubor retornando a aquecer suas bochechas.

Ela abaixou seus olhos, mas Thorn a alcançou para colocar um dedo debaixo de seu queixo, levantando sua cabeça docemente enquanto sorria para ela. Ela encontrou seu olhar e tudo pareceu direito no mundo. Ele não condenou suas palavras ou sua coragem. Ao invés, seu olhar ardia com aprovação e orgulho. A fez parecer mais forte.

— Eu estou sugerindo que você considere compartilhar sua vida comigo e com Tristan. Se ele concordar ser cavaleiro de Rath, ele e eu

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estaremos lutando juntos como companheiros. Nós compartilharemos nos-sas vidas e nossa esposa. É meu maior desejo que você seja essa esposa, pois eu a amei de longe por muito tempo. A ideia que você poderá final-mente ser minha, me deixa impaciente para Tristan ceder e concordar pela reivindicação do Rath.

— Sir Rath disse as palavras de Reivindicação para Tristan? — Isto era novidade para ela.

Ela não poderia saber muito sobre dragões, mas todo mundo em Dra-conia sabia como os cavaleiros eram feitos. Os dragões falariam palavras de Reivindicação — entretanto ela não sabia quais eram as palavras reais — e o cavaleiro concordaria, e uma sociedade vitalícia se formava.

— Não as palavras exatas. — Thorn agitou sua cabeça. — Mas ele pediu a Tristan para considerar isto, dizendo tudo o que significaria. Eu es-pero que Tristan aproveite essa chance, mas ele é um homem cauteloso. Ele pediu tempo e Rath concordou. Eu penso que uma parte grande da in-decisão é em relação a você, Cara. Ele confidenciou para mim ontem à noite que ele recusaria, se isso significasse dizer que você seria deixada aqui sem proteção. Eu tenho a impressão de que seu irmão não a trata bem. — Thorn enrugou as sobrancelhas em preocupação. — Eu não tenho nenhuma certeza disso, Cara. Eu não vi qualquer evidência disso em todas as minhas visitas, mas eu ouvi como Envard falou com você esta manhã. Ele sempre tratou você com tal desprezo?

— Nós realmente não nos demos bem desde que éramos crianças, mas ele só ficou muito pior depois que meu pai morreu. — ela admitiu. Parecia bom falar sobre isto com Thorn. Ela estivera tão isolada no castelo desde que seu pai se foi.

Com ambas as mãos apertando as suas, cercando-as em seu calor, Thorn falou.

— Cara, minha querida, eu verdadeiramente sinto muito pelo que você sofreu. Eu quero que você pense a respeito de ir embora comigo para a Guarida da Fronteira, ainda que isto não resulte em nossa união. Eu quero que você fique segura e feliz. Como uma princesa de sangue real, você sempre terá uma casa no meio das terras dos dragões. Você tem uma escolha, deve querer deixar este lugar e ainda que você não queira casar-se conosco, ajudarei você em tudo que eu possa. Isto eu juro.

— Oh, Thorn. — Sua voz quebrou de emoção e quase a superou. Ele era tão sério. Ele lhe ofereceu uma saída do pesadelo que seu irmão pre-tendia para seu futuro.

Thorn levantou-se e envolveu-a em seus braços, assentando-a em seu colo quando puxou sua cadeira. Ele a segurou bem perto, sua cabeça do-brada debaixo de seu queixo quando embalou. A emoção ameaçava sub-jugá-la por um longo momento, mas ela segurou isso. Quando olhou para

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ele, recuando ligeiramente, o tempo parou, enquanto seus olhos encon-travam segurança.

Ela não soube quem se moveu primeiro, mas o beijo que eles compartilharam eram de uma bem-vinda esperança e de profunda paixão. Ela amou o modo que seus lábios reivindicaram os seus, suavemente mas com uma autoridade que ela não podia negar. Ele a possuiu naquele mo-mento de beleza infinita, reivindicando e encantando ela. Tudo com um único beijo.

— Maldição. — A divertida voz de Tristan se desenhou fora da névoa de prazer que Thorn havia criado ao redor deles. — Eu nunca estive mais arrependido por perder um lance de moeda.

Cara estava chocada pelo calor no olhar de Tristan e de como ele a pegou no colo do cavaleiro. Ele pareceu mais divertido e invejoso que qual-quer outra coisa, isso a surpreendeu. Ele virou para o guerreiro que ousou olhar para ela com mais suave interesse. E depois de ontem à noite, da confrontação estranha, ela não esperava que Tristan aceitasse vê-la bei-jando Thorn.

Thorn pareceu lembrar do local onde estavam e encostou-se na cadeira dizendo

— Minhas desculpas, Princesa. Eu não tinha a intenção de beijar você em um lugar tão público. Perdoe-me.

Cara percebeu que estavam despertando a atenção dos poucos em-pregados na cozinha. Afortunadamente, todas eram mulheres de longo serviço que ela podia contar como amigas. Elas não falariam sobre isso onde seu irmão pudesse ouvir.

— Está tudo bem. Estas mulheres são de confiança, guardarão meus segredos. Eu soube disso desde que comecei a bambolear na cozinha para implorar por atenção. — Ela sorriu com aquela memória e notou que a coz-inheira estava sorrindo de volta, seu rosto velho estava forrado de encanta-mento.

— Independente… — Thorn ofereceu a ela sua mão, ajudando-a a sair de seu colo. — Eu não gostaria que você fosse assunto de fofoca. Vamos adiar esta conversação para algum lugar mais privado.

— Conversação? — Tristan meditou quando eles saíram para a porta da cozinha, Thorn e Cara foram na frente, Tristan seguiu na retaguarda. — É disso que eles chamam isto nesta terra? Eu seguramente preciso estudar seu idioma mais um pouco.

Todos três riram quando entraram no corredor principal. Thorn só diminuiu a velocidade quando eles alcançaram a porta gigante que levava a entrada.

— Onde Cara?— Thorn perguntou.

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Ela tentou pensar sobre um lugar em que os três poderiam entrar sem causar comentários maldosos. Afinal, ela não podia levá-los para seu quarto. Alguém seguramente veria e poderia informar seu irmão.

— Sigam-me, — Tristan disse, tomando a iniciativa saindo pela porta e pelo pátio, surpreendendo ela.

Ele levou-os ao arsenal, um quarto fechado que assegurava todas as armas. Ninguém que a visse entrar lá ficaria surpreso. Ela frequentemente trabalhava fazendo consertos secundários nas armas. Todo mundo no castelo sabia de seu interesse nas artes da luta.

Tristan fechou e trancou a porta atrás deles depois que entraram, en-tão girou para observá-la com um olhar fixo e penetrante. Thorn deixou ela aguardando de pé ao lado do longo banco que corria pelo comprimento do quarto, então acendeu a luminária para iluminar o quarto. Não existia nen-huma janela no arsenal e nenhuma outra entrada. Era uma sala segura com paredes forradas com armaduras e armas de todo tipo.

— Agora, Senhorita Cara, — Tristan começou, seguindo em di-reção a ela silenciosamente, segurando-a com o olhar. — Nós temos muito para discutir. Seu irmão, como você conhece sem nenhuma dúvida, planeja casar você com alguém de fora, assim que possível, com o Senhor Vron, o muito desagradável de Hester, provavelmente.

— O Senhor Vron? — Ela perguntou com desânimo. O homem era velho suficiente para ser seu pai.

— Ele confirmou isto para mim agora mesmo. As discussões já estão abertas e seu irmão é propenso a concordar com esse casamento. Mas eu tenho outros planos — ele disse, surpreendendo-a novamente. — O cav-aleiro disse a você de suas opções?

— Thorn disse que eu seria bem-vinda na Guarida, sozinha por mérito ou como…sua esposa,— ela disse, com a incerteza se rastejando nela enquanto verbalizava. Ela não teve tempo para pensar sobre qualquer dessas opções. Sua cabeça estava dizendo para ser cautelosa enquanto seu corpo estava aconselhando-a para que jogasse a precaução ao vento e saltasse para eles antes que mudassem de ideia.

Tristan deteve-se frente a ela, seus olhos dourados ardendo em es-timulação.

— Se você decidir que pode viver seus dias como parte de uma tríade, eu concordarei em ser um cavaleiro. Se você desejar permanecer sozinha, eu seguirei onde quer que você vá como seu protetor. — Ele desli-zou sua arma da cintura e olhou-a atentamente. — Eu nunca deixarei você desprotegida, Cara. Ainda que nós não fiquemos juntos como amantes. Mas eu digo a você agora…se você concordar em ficar conosco, eu nunca a deixarei. Eu fiz isto uma vez. E não tenho forças para fazê-lo novamente.

Sua fronte descansava contra a dele, e estavam muito próximos. En-tão ela sentiu Thorn surgir atrás dela, envolvendo-a com seu calor . Era o

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contrário da noite anterior e sentiu algo divertido e perigoso como na noite anterior. Ela estava começando realmente gostar deste tipo de perigo.

— Ele fez amor com você antes, Princesa? — Thorn sussurrou, cau-sando um calafrio com sua língua que a lambia em torno da concha exte-rior de sua orelha.

— Sim — ela gemeu quando as mãos de Thorn contornaram seus peitos, tocando seus mamilos por cima da roupa. Ela não soube se respon-dia sua pergunta ou mendigava a ele por mais. Provavelmente ambos.

— Eu confesso, eu sou muito ciumento. E estou intrigado. — Ele mordeu abaixo suavemente no lóbulo da sua orelha, fazendo-a saltar um pouco quando as sensações quentes começaram a rolar acima de seu corpo.

— Foi uma noite mágica. — Tristan disse, sua voz ligeiramente enrouquecida, fazendo-a tremer, quando ele começou retirar seu cinto e levantar suas saias. — Mas eu não sabia que ela era a Senhora do castelo. Eu pensei que ela era uma mulher guerreira. Eu não a teria tocado se tivesse percebido quem ela verdadeiramente era, mas jamais poderei lamentar o maior prazer que eu já conheci. — Tristan caiu de joelhos como as suas saias que caíram ao redor de seus tornozelos.

Ele acariciou a pele de suas pernas e seus joelhos quase cederam quando suas mãos ásperas deslizaram entre elas. Ela ainda vestia suas roupas intimas, mas o tecido suave era fino e estava ficando úmido com a estimulação que recebia. Quando seus dedos trabalharam nos fechos que seguravam suas calças de baixo, Thorn estava removendo seu colete e sua blusa. Ela permitiu que ele levantasse seus braços para despi-la, gostou de parecer uma boneca entre eles. Ela não queria mais nada além de ser desnudada por estes dois surpreendentes homens. Se isso fazia dela uma vadia ela não se importava. Ela os queria, a ambos

Tristan tirou suas roupas íntimas e seus dedos separaram suas do-bras. A próxima coisa ela teve conhecimento, foi de sua boca que estava em seu clitóris, chupando e lambendo de um modo que fazia seus joelhos curvarem. Mas Thorn a segurou em cima, seus braços a cercando por de-trás, seus peitos nus derramando-se acima de suas grandes mãos. Ele parecia apreciar seus mamilos, rolando-os de um jeito certo, como se eles fossem feitos para o prazer dela e já sabia como gostava de ser tocada.

Uma escandalosa ideia cruzou sua mente. Os dois homens já teriam discutido esta sedução com antecedência? Tristan disse coisas de Thorn so-bre seu corpo? Eles conspiraram e planejaram como eles a trabalhariam?

Nesse caso, ela era toda a favor da batalha planejada até agora.

Quando seu corpo estremeceu em um minúsculo orgasmo contra os lábios morno de Tristan, os homens a deitaram no banco largo que havia no quarto. Tristan espalhou os tecidos de suas roupas sobre o banco de maneira que a superfície não estava dura atrás dela. Muito considerado da

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parte dele, ela pensou, mas ela não teve tempo para dizer qualquer coisa quando Thorn espalhou suas pernas e ajoelhou entre elas. Ele se despiu ol-hando para Cara, seu tórax era ligeiramente peludo e a fez querer acaricia-lo como um gato.

Ele tinha cicatrizes. Velhas e novas. Seu corpo era fundamental-mente volumoso, cheio de músculos, mais volumoso do que ela esperou, tinha um abdômen nitidamente definido e uma luz brilhava em seu cabelo que corria descendente para um pênis muito impressionante. Um pênis que estava duro e esperando para dar-lhe prazer. Ela queria aquele pênis e o queria agora.

Cara abriu mais as pernas, convidando-o. Ela não viu nenhuma razão para ser modesta quando o instrumento de seu desejo estava pronto e es-perando. Ela soube o que ela queria e ela não queria mais esperar.

Tristan moveu fora ao lado e ela encontrou seu olhar por um mo-mento, olhando de volta para Thorn no momento em que sua vara deslizou para dentro dela, levando-a em uma longa e espantosa agonia, de tanto prazer. Oh, sim. Ele ajustava perfeitamente. Mais longo que Tristan e mais largo na base, sua vara era ligeiramente curva. Ela apreciou aquela pe-quena curva quando ele começou a mover-se e a cabeça esfregava acima de um lugar dentro de sua boceta que a fez ficar elétrica.

Repetidas vezes, ela sentiu a sensação que tornava-se selvagem e a segurou-se em seus ombros enquanto ele empurrava dentro dela, fazendo balançar seus peitos com seu passo aumentado. Ele grunhiu seu nome en-quanto bombeava dentro dela, fazendo-a sentir como se fosse a única mul-her em seu universo. Mas ele era um de dois homens que a inspiravam. Cara examinou Tristan quando Thorn afundou mais baixo acima de seu corpo, seus dentes suavemente na pele de seu pescoço. Nenhum homem a havia mordido e ela gostou disto. Gostou muito.

Tristan estava desnudo, sua vara espessa estava em sua mão en-quanto ele assistia Thorn fodendo-a. Seus olhos dourados ardiam com a es-timulação e ela entendeu naquele momento que esta tríade podia fun-cionar. Realmente funcionava. Eles teriam que trabalhar na mecânica dos três para encontrar prazer juntos — mas ela ainda não estava certa da logística naquele momento — mas não existia nenhum ciúme, nenhuma culpabilidade. Nenhuma raiva ou vergonha. Prazer e paixão justo e um amor expandido dentro de seu coração. O coração que segurava ambos os homens nisto, nunca poderia ser removido.

Ela abafou seu grito de prazer, segurando o olhar de Tristan com Thorn mordendo seu ombro. Eles estavam unidos e era um passeio sel-vagem enquanto ele resistia dentro dela. Ela enlaçou suas pernas ao redor ele, puxando o corpo dele, sentindo como se tivesse fogos de artifício den-tro de sua buceta, um fogo que trabalhava por seu corpo inteiro.

Quando eles estavam com a respiração mais calma, Thorn sentou no banco, cuidadosamente, mantendo sua vara firmemente embutida den-

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tro do corpo dela. O brilho de sua semente estava transbordando de dentro dela, e ele ainda a desejava novamente quando ela sentiu-o endurecer e prolongar-se, a cabeça de sua vara roçando em acima daquele lugar espe-cial em sua boceta, mas Tristan veio se juntar, permanecia quieto acari-ciando a si mesmo, assistindo tudo.

— Venha aqui,— Thorn chamou o outro homem, como se fosse um sinal pré-arranjado que eles descobriram. Tristan se aproximou, perto de onde Cara se sentou empalada pelo pau de Thorn. — Você o chupará en-quanto eu fodo você, Princesa? — Thorn quase rosnou em sua orelha. — Eu quero assistir você levar seu pau em sua boca enquanto eu possuo sua buceta. Você concorda com isto?

Thorn recuou para examinar seus olhos. Ela olhou de Thorn até Tris-tan. A altura do banco a posicionava no nível perfeito. Ela estava exata-mente no lugar certo para girar sua cabeça e tomar o pau de Tristan em sua boca do modo como Thorn sugeriu.

Ela ousaria?

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CAPÍTULO NOVE

Sim, ela decidiu. Naquele momento, não existia nada que ela quisesse mais que dar o prazer a ambos.

Ela alcançou Tristan, empurrando sua mão ao longo de seu pau duro e ávido. Ela deu alguns golpes quando ele andou mais próximo e então ela se debruçou para lamber as bolas antes de abocanhar todo seu pau, tomando seu tempo enquanto Thorn começava a mover debaixo dela. Ele teria que cuidar da parte inferior metade desta tríade para cada um dos dois. Ela faria Tristan vir enquanto Thorn balançava entre eles para leva-los a conclusão.

Oh, sim. Isto poderia funcionar.

Eles saltaram fodendo, ela chupava por longos momentos, e quando eles vieram, foi em uníssono, como devia ser. Tristan gozou em sua boca e ela tragou cada gota enquanto Thorn, na parte de baixo, enchia sua boceta com suas sementes. Ela estremeceu e se agitou contra eles, contentes por finalmente ouvir seus gritos de prazer que haviam sido abafados pela vara de Tristan em sua boca. Foi maravilhoso ouvir seu grito no arsenal neste momento em particular.

Não, isto era um momento para o três compartilharem sozinhos. Só eles. Aprendendo um com o outro e descobrindo as complexidades de um e do outro, bem como as necessidades de seus corpos.

Eles ficaram por horas no arsenal. Depois que eles se recuperaram um pouco, inverteram os lugares. Tristan tomou Cara por trás enquanto ela recebia as punhaladas de Thorn em sua boca. Thorn alcançou-a por trás, chocando-a quando ele deslizou um dedo dentro de seu ânus. As sen-sações que aquele dedo lançou a deixaram curiosa sobre como se sentiria e ela começou a entender como ambos os homens poderiam tê-la ao mesmo tempo.

Suas suspeitas foram confirmadas mais tarde, quando ela achou fôlego para perguntar a ele sobre isto. Thorn disse a ela sobre muitos mo-dos diferentes que eles podiam reunir-se, e quando a conversa os deixou quentes novamente, eles experimentaram algumas posições que Thorn havia sugerido.

Thorn mostrou uma bolsa pequena com uma pomada e outros materi-ais e panos suaves que eles haviam escondido no arsenal antecipadamente. O arsenal era fechado hermeticamente e eles planejaram uma conspiração antecipadamente.

— Você dois planejaram tudo isso, não é? Não tentem negar isto, — ela provocou quando Tristan recuperou uma bolsa de um canto escuro.

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Thorn riu enquanto Tristan sorriu um pouco desconfortável.

— Eu o deixei bêbado ontem à noite, — Thorn confessou enquanto ela deslizada as mãos em seus peitos. — Nós conversamos sobre todos os modos que nós podíamos tomar você e ele disse a mim como você gostava de ser apertada aqui. — Ele comprimiu seu mamilo. — E aqui. — Seus de-dos provocaram seu clitóris, ela derramava novamente a sua umidade, em-purrando em um ritmo que a fez prender a respiração. — Eu me acariciei para conseguir dormir em minha cama, só sonhando em fazer amor com você, Princesa. E ontem à noite não foi a primeira vez. Eu fantasiei com você desde a primeira vez que nós nos encontramos.

— Você fantasiava comigo? — Ela pensou sobre ele frequentemente desde a primeira reunião.

Ele movimentou a cabeça em resposta, tomando um pote de pomada de Tristan e girando-a para cima em seu colo. Quando ele espalhou suas bochechas, ela olhou de volta acima de seu ombro, intrigada e um pouco envergonhada por sua posição.

— O que você está fazendo? — Ela ofegou quando ele colocou uma bocado grande de pomada fria na fenda de seu ânus. Seus dedos logo es-palharam a nata em seu corpo também, trabalhando a substância escorre-gadia na abertura pequena que cresceu mais larga e muito mais morna de-baixo dela.

Ele deslizou um dedo dentro dela e ela gemeu.

Pareceu surpreendentemente bom.

Thorn movimentado a cabeça para Tristan e o Mestre de Armas sen-tou no banco, seu pau duro perto de sua cabeça. Ela soube, depois da úl-tima hora, o que ele procurava. O que eles dois queriam.

Ela abriu sua boca e o levou dentro enquanto Thorn adicionou outro dedo em seu ânus, estirando de um modo que começou a ficar ligeiramente desconfortável, mas logo se tornou uma necessidade desesperada por mais. E ele deu a ela mais, estirando além do que ela pensou que fosse pos-sível, a nata parecendo escorrer após algumas das punções assim que ele penetrou seus dedos dentro dela. Talvez a pomada tivesse qualidades medicinais? Ela teria que verificar aquilo mais tarde. Muito, muito mais tarde.

Thorn a teve em seu colo e deslizou seu pau dentro de seu ânus e ela não se importou com isso. Longe disso. Pareceu realmente bom e quando os homens a posicionaram de forma que Tristan podia juntar-se eles, se deslizando para dentro de sua boceta, as sensações eram como nada que ela poderia esperar.

Não levou muito tempo para a primeira explosão de prazer superar todos os seus sentidos. Mas eles não pararam. Não, os homens mantinham-se dentro dela enquanto ela vinha e vinha, repetidas vezes. Ela perdeu a

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conta dos orgasmos enquanto eles a estocavam e estiravam em um clímax longo que parecia não ter mais fim.

Finalmente, terminaram, quando ambos os homens entraram em seu corpo, gemendo foi quando eles juntaram-se a ela naquele estado de felici-dade.

-o-

Eles saíram do arsenal no final da tarde. A dragão fêmea, Sharlis, tinha ficado como uma vigia, comunicando para eles quando a área estava livre. Os homens eram inflexíveis quanto a reputação de Cara permanecer intacta. Ninguém exceto os dragões saberiam sobre sua tarde sexy.

Depois de saírem, Cara soube que Tristan iria aceitar Rath. As coisas estavam se resolvendo. Tristan se tornaria cavaleiro de Rath e Cara com-partilharia suas vidas como sua esposa. Eles passaram a tarde fazendo amor e planejando novas estratégias, também.

Ela não estava certa do que Thorn estava fazendo no momento, mas ele havia perguntado a ela onde achar arquivos do feudo antes de deixá-la no corredor com um beijo puro. Ela era curiosa, mas realmente não teve a energia para questioná-lo. Ela teve que se limpar, mudar seu vestido e se preparar para o jantar no grande salão com os retentores. As famílias per-iféricas vieram para viver no castelo, onde estavam mais protegidas, quando os ataques começaram a aumentar. Ninguém quis ser pego sozinho em uma fazenda com pouca proteção, quando o inimigo começou a enviar skiths contra eles.

Como resultado, o jantar se tornou um dos seus maiores afazeres. Havia sido bom no princípio, tendo o povo ao redor para conversar e aju-dar a quebrar os longos silêncios desconfortáveis que surgiam entre ela e seu irmão.

Ela não estava certa, mas Envard poderia exigir descer para jan-tar agora que estava lúcido e ela teve que se preparar para a confrontação inevitável. Podia acontecer muita coisa na véspera.

Quando ela entrou no grande salão depois de banhar-se e colocar um vestido fresco, Envard já estava lá, presidindo o tribunal como se fosse um rei. Ele gostava de ser o Senhor, pois se sentia acima de todos fazendo os moradores se curvarem. Isso era algo que seu pai nunca havia feito, não imaginava os olhares duros que alguns dos vassalos mais velhos davam a Envard por trás de suas costas. Eles não gostavam dele, mas eram impo-tentes face a sua herança. Só o rei podia removê-lo da cadeira do poder agora, e o Rei Roland tinha coisas muito mais importantes para se preocu-par com a guerra iminente.

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Respirando fundo, Cara tomou sua cadeira ao lado de seu irmão. Thorn e Tristan entraram no salão só um momento mais tarde. Thorn se sentou próximo a Cara enquanto Tristan tomou a cadeira ao lado de En-vard. Era um movimento corajoso, mas Envard não se aborreceu que os homens tivessem tomado assentos diferentes aos usuais, uma vez que estava envolvido numa conversação com Tristan sobre os soldados.

Thorn tomou mão da Cara debaixo da mesa.

— Você está pronta? Haverá fogos de artifício neste salão hoje à noite. — Seu sorriso tranquilizou-a, quando ele apertou sua mão, prome-tendo que a protegeria da ira de seu irmão.

— Pronta como sempre estive, eu suponho. — Ela sorriu suavemente. Ela não estava ansiosa pelos acontecimentos que viriam.

— Este é o espírito. — Thorn piscou para ela antes de ir para a janela de vidro colorido atrás dos dois homens sentados — É um pouco sufocante aqui. Esta janela pode ser aberta? — Ele pareceu perguntar retoricamente, enquanto prosseguia abrindo a janela larga.

No momento em que ele se afastou da janela larga, a cabeça do dragão fêmea deslizou por ela e abaixou em direção aos dois que estavam sentados. Thorn bateu levemente em seu pescoço e fingiu surpresa, o que não enganou Cara. Eles tramavam algo algo.

— Parece que a Senhora Sharlis quer juntar-se a nós. — ele declarou com um sorriso, provocando Cara.

O dragão começou a farejá-los, começando com Thorn. Ela cheirou e lambeu cada pessoa na mesa. Cara sentiu a ponta da língua do dragão em sua pele e saltou com o barulho de um risinho.

— Boa noite, Senhora Sharlis, — Cara disse educadamente quando o dragão a olhou para contatar com ela.

— Boa noite, Princesa. Se eu tivesse saboreado sua pele antes, eu teria sabido que você era de sangue real. Perdoe-me. É maravilhoso ter a sua linhagem com a de meu cavaleiro. O sangue real deve ser preservado.

As palavras de Sharlis surpreenderam Cara, mas ela tentou não mostrar isto. Só aqueles como os dragões, com a intenção de ouvir suas palavras saberiam dos seus planos. Os olhos de Tristan se alargaram quando ele olhou de Cara até o dragão e atrás, mas o momento passou quando Sharlis partiu com a chegada de Everard.

Ele tentou passar longe dela, mas devido a seu ferimento, não foi capaz de afastar-se sem ajuda. O dragão tomou o mesmo procedimento anterior, cheirando e lambendo sua pele antes de passar para Tristan. O Mestre de Armas deu boas-vindas quando a fêmea o tocou, saudando-a como um amigo e então a dragão fêmea levantou sua cabeça, emoldurada pela abertura de janela e olhou todo o salão, detendo-se em seu cavaleiro, Sir Thorn.

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— Bem, qual é seu veredicto, milady? — Thorn perguntou de modo teatral. Cara não tinha nenhuma ideia sobre o que estava acontecendo.

— Como você suspeitou, ele não é da Casa Fadoral, nem é próximo a Princesa Cara, em qualquer grau.

As palavras do dragão, soaram na mente de Thorn, de forma que ninguém sem a habilidade de ouvir dragões soube o que ela descobriu. Cara percebeu que algumas pessoas presentes, que formavam a grande audiência, composta por vassalos e homens da guarda, também ouviram as palavras do dragão. Portanto, existiam testemunhas além de Thorn, Tristan e Cara, que podiam reforçar seu caso.

— Eu gastei algumas horas, esta tarde, procurando por arquivos do feudo — Thorn esclareceu. — Eu descobri uma série de diários pessoais de Sir Harald e suas finadas esposas escondidos entre um grupo de livros sumamente empoeirados. Dois volumes em particular eram de grande in-teresse. — Thorn mencionou para Tristan e o Mestre de Armas ergueu os dois diários pequenos de dentro de um de seus muitos bolsos.

— Eu li estes a pedido do Sir Thorn e achei evidências escritas por ambas as mãos do Senhor e Senhora, que Envard não é o herdeiro legítimo para administrar Fadoral. A segunda esposa de Sir Harald, Senhora Mariar já estava grávida quando eles se casaram. Ele a tomou para esposa como o resultado de uma série de acordos realizados com seu pai, seu velho amigo, Senhor Tharliss de Jenra. As próprias palavras da Senhora confirmam isto. Envard é o filho de um trovador de visita ao feudo do Senhor Tharliss, não o Senhor Harald.

Todo o resto do salão ficou perplexo e chocado com esta revelação.

— Mentiras! — Envard clamou.

— Por que eles fariam um registro de um segredo tão maldito? — Cara quis saber. — E por que meu Pai concordaria em tal casamento, em primeiro lugar?

— Pelos registros no diário da segunda esposa, ela havia sido tola o bastante para devotar o seu amor para um trovador cabeçudo. Ela concor-dou com casamento organizado por seu pai, Senhor Tharliss, porque era claro para ela que não teria nenhum outro recurso. Os homens de Tharliss perseguiram o trovador diretamente para fora do país — Thorn respondeu, levantando um dos diários. — Ela parecia pensar que o trovador retornaria para ela e quis que seu filho conhecesse quem era seu pai. Essas foram suas razões para escrever o conto em seu diário.

Thorn então levantou o outro diário.

— E o Senhor Harald concordou no casamento, apesar da gravidez da Senhora, porque cobiçava a jovem. Ele falou francamente em sua es-crita privada sobre estar disposto a ficar com a criança, já que em troca, muitas riquezas viriam com a Senhora por via de Senhor Tharliss. O dote era muito maior que devia ter sido. Mais que suficiente para sustentar uma

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criança inconveniente. E quem pode culpá-lo? Talvez um homem mais velho quisesse se passar por viril, o bastante para ter um bebê logo após o casamento com uma jovem. Tais coisas não são desconhecidas.

Murmúrios soaram que aumentaram o burburinho já existente.

— Minha companheira, Senhora Sharlis, também confirmou isto. Aqueles de vocês que não a ouviram, ela dirá novamente o que descobriu, eu estou certo. E se você a ouviu, eu gostaria de conversar com você mais tarde. É um presente raro poder falar com dragões. Um que devia ser culti-vado se possível — Thorn continuou em uma voz amigável. — Os dragões podem saborear e cheirar diferenças sutis em todos os seres e podem dizer a eles quem é relacionado a quem. É uma de suas habilidades menores e parte de suas habilidades naturais. — Ele bateu levemente no pescoço de Sharlis com afeto óbvio.

— Você sabia disso, Envard?— Cara perguntou com alguma mágoa na voz.

Seu irmão virou sem responder.

— Ele sabia — Thorn disse com desgosto. — Ambos os diários estavam ocultos nos arquivos. Os espaços estavam vazios onde eles de-veriam ter sido arquivados. Eu tive que procurá-los muitíssimo. Eles es-tavam no quarto do Envard, escondidos entre seus pertences pessoais. — Os murmúrios cresceram mais alto em sua revelação. — Esta evidência, Sharlis levará para o rei assim que possível, — Thorn adicionou. — No mo-mento, por minha autoridade como um cavaleiro do reino, eu ordeno que Envard seja levado em custódia até que o rei possa decidir o assunto.

Envard começou a gritar naquele ponto, e Tristan se moveu com vários homens em armas para o subjugá-lo. Ele não ficaria quieto, então eles o amordaçaram e vários dos vassalos mais corajosos demonstraram sua alegria, pois estava claro que eles não gostavam do reinado de Envard.

Após Envard ter sido levado pelos guardas para a prisão da casa que ficava no subsolo, onde ele seria mantido, Tristan deslocou-se para per-manecer ao lado da cadeira de Cara e Thorn permaneceu em seu outro lado.

Tristan pediu silêncio e recebeu olhares curiosos.

— Há mais, boas pessoas de Fadoral. O dragão, Sir Golgorath, pediu-me que me tornasse seu cavaleiro e eu aceitei — Tristan anunciou. Sor-risos e parabéns saudavam suas palavras.

Quando o som aquietou-se, Thorn avançou.

— O Sir Golgorath e a Senhora Sharlis são companheiros, o que torna Sir Tristan meu companheiro de luta. — Thorn explicou. — Junto, nós pedimos a Senhorita Cara para ser nossa esposa e ela concordou. Isso deu iniciou a minha procura nos arquivos porque algo aqui nunca pareceu direito para mim em minhas muitas visitas a suas terras. Envard sempre

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interveio quando eu quis falar com Senhorita Cara. Eu descobri esta ev-idência, mas o Rei deverá decidir. Qualquer coisa que aconteça agora, a Senhorita Cara estará segura, como nossa noiva.

Saudações seguiram, juntamente com alguns risos de humor agradável para com a trindade. Esses vassalos conheciam Cara por toda sua vida e ela gostou do modo que eles se comportaram durante o domínio de seu pai. Sua amizade era fácil, seu respeito óbvio, motivo pelo qual não se curvaram desprezando o seu favorecido irmão.

O jantar que se seguiu foi uma celebração. O primeiro de muitos.

Thorn e Tristan, junto com Rath e Sharlis, voariam em suas costas para a Guarida da Fronteira no dia seguinte, onde eles começariam as preparações para um casamento tradicional da Guarida. Eles também asse-guraram a formalidade no feudo, todos os seus amigos e vassalos poderiam comparecer. O rei, pessoalmente decidiu o assunto de ocultação da origem nobre de Cara. As boas vindas que ela recebeu do rei e seu irmão, o Príncipe Espião, fizeram com que ela se sentisse em uma família — apesar de terem uma relação de sangue muito distante.

O rei logo fez a pergunta sobre a herança. Envard havia sido desti-tuído do título. O rei deu a Cara o título, que passaria até para suas cri-anças, não importando seu gênero. O rei permitiu ao trio escolher onde eles viveriam — ou na Guarida ou no feudo — e eles concordaram com um plano de dividir seu tempo entre o dois. Fadoral precisava de direção e lid-erança enquanto as invasões continuassem. Tendo os dragões vivendo lá, mesmo que em meio período, seria um bom plano de defesa contra ataques futuros.

Thorn, Tristan e Cara ficaram mais e mais íntimos, e quando chegou a data de seu casamento na Guarida e o primeiro de muitos acasalamento de dragões em vôo, eles estavam mais que prontos. O prazer, ampliado pe-los dragões, era diferentemente de qualquer coisa que eles experimenta-ram antes. Era…mais. Mais arrojado. Mais triunfante. E havia mais amor do que ela já experimentara antes.

Cara teve tudo que já havia sonhado, entretanto nunca poderia ante-cipar que compartilharia o amor com dois homens valentes e nobres. Eles se tornaram príncipes consortes ao casarem-se com ela e as pessoas do feudo começaram a chamá-la de Princesa em vez e apenas Senhora. Levaria algum tempo para que se acostumasse, mas ela estava contente por tentar.

Ela não tinha só um irmão, tinha também uma família inteira de pri-mos reais como também dragões descendentes de Rath e Sharlis. Ela até tinha sogros. Os pais do Thorn eram o par mais velho de cavaleiros e sua Senhora, que adotou Cara e Tristan com corações abertos e bom humor. Eles frequentemente os visitavam, como faziam as crianças de dragão e ne-tos de Rath e Sharlis, trazendo muitos cavaleiros para seu salão.

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A construção foi alargada na entrada, de forma que dragões podiam entrar e juntar-se nas festividades no grande salão. Uma cova grande de areia foi escavada dentro do pátio onde os dragões podiam se deitar no chão. Os planos de expansão estavam em andamento e remodelariam o feudo para torná-lo mais acessível para os dragões viverem lá. Os trabal-hadores se dedicaram a suas tarefas com entusiasmo e alegria. A presença dos dragões era boa e oferecia proteção diante da ameaça constante do ataque de inimigos. Não só isto, mas o inverno estava vindo e dragões ger-avam seu próprio calor.

Homens e dragões festejaram, abençoando o dia em que a Mãe de Todos os reuniu, e mesmo enquanto o conflito continuava na fronteira, a fe-licidade e o amor reinavam mais uma vez em Fadoral.

Fim