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110 Ciência Geográfica - Bauru - XVII - Vol. XVII - (1): Janeiro/Dezembro - 2013 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA FASE B DO QUARTO KONDRATIEV 1 CONSIDERATIONS ABOUT THE FOURTH PHASE B KONDRATIEV Washington Soares Silva 2 1 Uma versão resumida deste artigo foi publicada nos Anais da VIII Semana de Geografia da Unesp Campus Experimental de Ourinhos(SP) “Qual é o modelo de desenvolvimento que queremos? Um olhar geográfico sobre o território e suas dinâmicas socioeconômicas e ambientais”, Outubro de 2012. 2 Aluno do Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana da Universidade de São Paulo, sob a orientação do Prof. Dr. Armen Mamigonian. E-mail: [email protected] Artigo recebido em junho de 2013 e aceito para publicação de agosto de 2013. RESUMO: O presente artigo busca analisar os principais acontecimentos que moldaram a fase B do quarto ciclo de Kondratiev. Palavras-chave: ciclos econômicos, industrialização, economia política. ABSTRACT: This article seeks to analyze the key events that shaped the phase B of the fourth Kondratiev cycle. Key words: business cycles, industrialization, political economy. Introdução O modo de produção capitalista sempre foi regido por períodos de expansão e re- tração, as crises periódicas, sejam estas de superprodução, setoriais etc. tiveram continu- amente essa característica. Alias Engels já havia identificado essa tendência ao assinalar a crise europeia de 1848. Em meados da década de 1920 Nikolai Kondratiev propôs a teoria das ondas longas. Tanto Engels quanto Kondratiev sabiam que a sociedade, assim como a natureza, são regidas por leis, o próprio Marx, analisando o funcionamento da economia capitalista analisou e sistematizou várias delas (mais valia etc.). O estudo das leis que regem o sistema capitalista possibilitou verificar suas flutuações cíclicas dando origem a teoria dos ciclos econômicos. No Brasil, Ignácio Rangel (1914-1994), foi praticamente o único a trabalhar com a ideia de ciclos econômicos (mas precisamente as ondas largas da conjuntura ou ciclos de Kondratiev), que posteriormente foram bastante uteis para que o referido autor desenvolvesse a tese da dualidade da economia brasileira 3 , segundo essa vi- são o Brasil sendo uma formação social periférica, reage de forma dinâmica aos impulsos vindos do centro do sistema (ciclos Kondratiev) sempre combinando modos de produção distintos ao longo de suas etapas de desenvolvimento histórico. A tese da dualidade básica da economia brasileira possibilitou compreender o país a partir da sua formação econômi- ca e social, assim como Lênin fez em O desenvolvimento do capitalismo na Rússia, apre- ender a gênese, desenvolvimento e tendências futuras de uma determinada sociedade 4 .

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110 Cincia Geogrca - Bauru - XVII - Vol. XVII - (1): Janeiro/Dezembro - 2013Washington Soares SilvaCONSIDERAES ACERCA DA FASE B DO QUARTO KONDRATIEV1CONSIDERATIONS ABOUT THE FOURTH PHASE B KONDRATIEVWashington Soares Silva21 Uma verso resumida deste artigo foi publicada nos Anais da VIII Semana de Geografia da Unesp Campus Experimental de Ourinhos(SP) Qual o modelo de desenvolvimento que queremos? Um olhar geogrfico sobre o territrio e suas dinmicas socioeconmicas e ambientais, Outubro de 2012.2 Aluno do Programa de Ps-Graduao em Geografia Humana da Universidade de So Paulo, sob a orientao do Prof. Dr. Armen Mamigonian. E-mail: [email protected] recebido em junho de 2013 e aceito para publicao de agosto de 2013.RESUMO: O presente artigo busca analisar os principais acontecimentos que moldaram a fase B do quarto ciclo de Kondratiev.Palavras-chave: ciclos econmicos, industrializao, economia poltica.ABSTRACT: This article seeks to analyze the key events that shaped the phase B of the fourth Kondratiev cycle.Key words: business cycles, industrialization, political economy.IntroduoO modo de produo capitalista sempre foi regido por perodos de expanso e re-trao, as crises peridicas, sejam estas de superproduo, setoriais etc. tiveram continu-amente essa caracterstica. Alias Engels j havia identicado essa tendncia ao assinalar a crise europeia de 1848. Em meados da dcada de 1920 Nikolai Kondratiev props a teoria das ondas longas. Tanto Engels quanto Kondratiev sabiam que a sociedade, assim como a natureza, so regidas por leis, o prprio Marx, analisando o funcionamento da economia capitalista analisou e sistematizou vrias delas (mais valia etc.). O estudo das leis que regem o sistema capitalista possibilitou vericar suas utuaes cclicas dando origem a teoria dos ciclos econmicos. No Brasil, Igncio Rangel (1914-1994), foi praticamente o nico a trabalhar com a ideia de ciclos econmicos (mas precisamente as ondas largas da conjuntura ou ciclos de Kondratiev), que posteriormente foram bastante uteis para que o referido autor desenvolvesse a tese da dualidade da economia brasileira3, segundo essa vi-so o Brasil sendo uma formao social perifrica, reage de forma dinmica aos impulsos vindos do centro do sistema (ciclos Kondratiev) sempre combinando modos de produo distintos ao longo de suas etapas de desenvolvimento histrico. A tese da dualidade bsica da economia brasileira possibilitou compreender o pas a partir da sua formao econmi-ca e social, assim como Lnin fez em O desenvolvimento do capitalismo na Rssia, apre-ender a gnese, desenvolvimento e tendncias futuras de uma determinada sociedade4. 111 Cincia Geogrca - Bauru - XVII - Vol. XVII - (1): Janeiro/Dezembro - 2013Consideraes acerca da fase B do quarto KondratievEntretanto, apesar de utilizada por inmeros pensadores W. C. Mitchell, J . Schumpeter, E. Mandel, G. Haberler, M. Kalecki, A. Mamigonian dentre outros, a teoria dos ciclos econmicos sempre gerou certa desconana, economistas, socilogos, gegrafos, etc. principalmente a partir da dcada de 1980 se referiam a ela como modismo era moda na poca... Hoje j no serve, as misticaes ocasionadas pela globalizao e as polticas neoliberais que assolaram os pases de Terceiro Mundo, obviamente, tambm so explicadas como modismo, assim, como as crises no capitalismo so chamadas de recesses, pausa para respirar, ou, crescimento insuciente. preciso ressaltar que es-sas crises cclicas no brotam do cho. A ideia de ciclos na economia bastante til para entender o movimento de fuses e aquisies de empresas, as tendncias a queda da taxa de lucro, a forma como se gesta e se propaga a tecnologia e, a diviso internacional e territorial do trabalho, desde se saiba usa-la de forma criativa e original.Os ciclos econmicosOs ciclos econmicos j faziam parte do iderio marxista, principalmente os de curta durao estudados por Marx e Engels, como os ciclos juglarianos5. J as ondas lar-gas da economia, como os ciclos de Kondratiev, que duram aproximadamente meio scu-lo, tendo, um quarto de sculo de perodo expansivo, ou, fase A e, um quarto de sculo de perodo depressivo, ou, fase B, eram uma novidade um tanto estranha. At hoje existem marxistas que preferem negar, ou, simplesmente ignorar sua existncia6.Nos anos de 1950, logo aps o segundo ps-guerra, velhas teorias sobre o compor-tamento da economia a longo prazo voltaram a ser debatidas, entre elas, as ondas largas da conjuntura, ou, ciclos de Kondratiev batizadas por J oseph A. Schumpeter com o nome do economista russo que os estudou mais aprofundadamente, Nikolai Kondratiev, que realizou suas descobertas fundamentais na dcada de 1920, mas que foi renegado pelos seus compatrcios. Na Unio Sovitica foi cassado e enviado para a Sibria, no se sabe exatamente o motivo, no Ocidente suas ideias foram rejeitadas.Em sua ptria possvel que a ideia de que o capitalismo pudesse renascer das cinzas depois de um perodo de intensa crise, corolrio inescapvel de sua teoria, coet-nea dos planos quinquenais que se estavam arquitetando, tivesse que disputar no com um capitalismo enfraquecido, mas em franca expanso no foi bem visto pela batalha poltico-ideolgico travada na poca. No Ocidente a ideia de fortalecimento do sistema capitalista, desmentindo a concepo leninista da crise geral, tambm no foi bem aceita (a no ser por alguns homens de gnio, com Schumpeter7 frente), pois deixava implcito que depois de um perodo de intenso crescimento econmico, viria uma crise to violenta como tinha sido idlica a fase ascendente.No a toa Kondratiev se tornou um profeta maldito nos dois lados da cortina de ferro; quanto a ns no h como no admirar o gnio que dispondo de to poucos recur-sos conseguiu estabelecer um quadro que se agura incrivelmente revelador.A dinmica dos ciclos de KondratievO ciclo longo um ciclo ligado a uma base, ou seja, possui uma raiz, uma matriz tecnolgica, sendo um processo que ocorre porque a tecnologia criada por uma revoluo industrial tem vida prpria, ligada a poltica econmica que os pases adotam e, chegava um ponto que este dinamismo tecnolgico perdia velocidade deixando de ser tecnologia 112 Cincia Geogrca - Bauru - XVII - Vol. XVII - (1): Janeiro/Dezembro - 2013Washington Soares Silvarealmente lucrativa. Esta tecnologia envelhecia. Em suma, o ciclo nasce com a revoluo industrial, se esgota, havendo necessidade de uma nova revoluo tecnolgica que por sua vez levava dois ciclos Kondratiev, j que a economia capitalista carecendo de novos avan-os tecnolgicos impulsionava nova revoluo industrial8. Exemplo: no perodo depressivo anterior (1920-48), o ciclo Kondratiev serviu de estmulo a busca de novas invenes tec-nolgicas que pudessem resgatar a lucratividade perdida, busca desenfreada, mas localiza-da, sobretudo na Alemanha e nos Estados Unidos; busca atrs da eletricidade, do motor a combusto, novos mtodos de produo que acabaram desembocando na linha de produo fordista. Concomitantemente, na Inglaterra e na Frana houve um processo diferenciado, a busca da lucratividade se deu atravs da explorao dos seus imprios colnias adquiridos, ou, pela aquisio de novas colnias (explorao ao mximo e monoplio do comrcio).No que concerne a America Latina, esta reagiu atravs da famosa substituio de importaes, conforme a frmula esboada pela Cepal (Comisso econmica para a America Latina) que teve em Ral Prebisch um dos seus principais teorizadores, de acor-do com essa teoria a America Latina pode crescer para fora (crescimiento hacia afuera) os pases que conseguirem se enquadrar na diviso internacional do trabalho, podem se desenvolver estimulados pelo crescimento do comercio exterior, ao exportarem, mas a America Latina tambm pode crescer para dentro (crescimientohaciaadentro) substi-tuindo importaes, formando uma reserva de mercado e, se industrializando.O Brasil nas fases B do kondratievApesar dos ciclos econmicos, originarem-se no centro dinmico do sistema ca-pitalista e, serem, portanto, um fenmeno exgeno a economia brasileira, o fato que o Brasil, como um pas de economia perifrica e de capitalismo tardio, costuma seguir os impulsos que vem do centro dinmico, no pacicamente, mas de forma bastante dinmi-ca, conforme ressalta I. Rangel9,Da resulta que o nosso desenvolvimento econmico dista muito de ser limitado as fases A ou ascendentes dos ciclos longos. Nossa economia, confrontada com os movi-mentos duradouros de uxo e reuxo, em suas relaes com o centro dinmico univer-sal, encontra meios de crescer para fora, expandindo a produo exportvel, ou para dentro, promovendo uma forma qualquer de substituio de importaes. Assim: (a) a fase B do primeiro kondratiev suscitou um movimento de substituio de importaes, cuja manifestao dominante foi a diversicao da produo, nas unidades produti-vas bsicas da poca, isto , as fazendas de escravos... e, possivelmente, os grandes latifndios feudais do Sul e do Serto nordestino; (b) a fase B do segundo kondratiev, de par com a abolio da escravatura, trouxe-nos, no quadro urbano, a proliferao de unidades artesanais, simetricamente com o que, no ciclo anterior, acontecera no inte-rior das fazendas, mas em condies muito diversas, visto como, em vez de produzi-rem para auto consumo, faziam-se para o mercado, cedendo a produo natural o pas-so produo pr-capitalista pequena produo de mercadorias, e suscitando assim o pleno desenvolvimento do capitalismo mercantil, antes limitado, em grande parte, ao campo do comrcio exterior; (c) a fase B do terceiro kondratiev poria em marcha o desenvolvimento do capitalismo industrial, com o seu caracterstico dinamismo, ao suscitar uma substituio capitalista ou industrial de importaes.113 Cincia Geogrca - Bauru - XVII - Vol. XVII - (1): Janeiro/Dezembro - 2013Consideraes acerca da fase B do quarto KondratievEm outras palavras o Brasil na fase expansiva, aumenta a demanda agroexporta-dora e amplia as importaes; na fase de retrao, ocorrem os mecanismos naturais de substituio de importaes devido a reduo nas divisas e aumento do dcit na balana comercial. Isso acontece porque ao contrario do centro do sistema, no Brasil a industria-lizao se deu primeiramente pelo Departamento II (bens de consumo) e posteriormente pelo Departamento I (bens de produo).O quarto KondratievA fase B do quarto ciclo de kondratiev iniciou-se segundo todas as indicaes, em 1973, m dos trinta anos gloriosos, termino da fase A do quarto kondratiev (1948-73). Essa fase depressiva diferente da fase depressiva do terceiro kondratiev (1920-48). De acordo com Mamigonian10 o perodo depressivo torna-se diferente pelos seguintes aspectos:A impressionante recuperao pela qual passou a economia americana na dcada de 80 tem relao direta com a poltica keynesiana (e no liberal) adotada pelo go-verno Reagan de alavancar a corrida armamentista... usando dcits oramentrios e gigantescas emisses de bnus do tesouro americano (endividamento junto aos ban-cos japoneses, alemes etc.) com fontes de nanciamento, favorecendo a retomada da atividade produtiva, a criao de milhes de empregos, bom como um forte estmulo s indstrias de alta tecnologia e outras (IBM, Microsoft, Boeing, etc.). Paralelamente as grandes empresas privadas da segunda revoluo industrial (GE, Ford, etc.) foram estimulas e nanciadas a abandonar suas estruturas fordistas inchadas e passaram por reestruturaes que as aproximaram de estruturas toyotistas, que seus cientistas sociais passaram a chamar de envergonhadamente de exveis ou ps-fordistas (Scott e Storper entre os gegrafos)... Em resumo, os EUA puseram em prtica, na dcada de 80 e na atual (Clinton), uma poltica econmica combinando medidas keynesianas e neoliberais em doses planejadas pelo Estado, incluindo alm do que j foi exposto 1) uma abertura controlada, visando importar bens de consumo simples e durveis que ajudem a rebaixar os custos de reproduo da fora de trabalho, alm de petrleo e matrias-primas necessrias, 2) medidas neoliberais para uso no exterior; cobrana de juros dos devedores, aberturas dos mercados nanceiros e de mercadorias na Amrica Latina e em inmeros tigres asiticos, incluindo dolarizao cambial, como na Argen-tina, e absoro do movimento das bolsas, como no caso das aes brasileiras hoje mais transnacionalizadas em Nova York do que em So Paulo, 3) medidas neoliberais intensas em matria scal, com diminuio de impostos s empresas e aumento junto classe mdia, nas desregulaes nas relaes de trabalho e em certos setores, como nas nanas e na aviao, 4) uma poltica agressiva de ampliao do territrio econmico americano (Nafta, que faz com que 85% das exportaes do Mxico se dirijam aos EUA) e a crescente incluso de novas reas (Caribe, em estado avanado e Amrica Latina, frica negra e Europa Oriental, em disputa com a Europa).Se a fase depressiva do quarto kondratiev comeou pontualmente em 1973 porque no terminou em 1996, vinte e cinco anos depois de iniciada a fase depressiva? Ora, como j foi indicado, os EUA passou a planejar suas relaes econmicas, geopolticas, mone-trias etc., passaram a fazer uma abertura econmica controlada, em outras palavras, no aconteceu nenhuma crise parecida com a de 1929-30, antes os ciclos juglarianos eram 114 Cincia Geogrca - Bauru - XVII - Vol. XVII - (1): Janeiro/Dezembro - 2013Washington Soares Silvacontrolados por uma economia de tipo keynesiana, agora a economia norte-americana passou a ter o papel de planejamento dos uxos nanceiros e da capacidade de contro-lar as crises transformando-as em dividas dos pases de terceiro mundo (Consenso de Washington); como no aconteceu nenhuma crise radical como a de 1929-30, no ouve um sucateamento brutal da economia mundial11, os processos de fuso e aquisio, re-novaes tecnolgicas e cartelizao da economia esto acontecendo de forma controla-da (atualmente)12; desacelerao das mudanas tecnolgicas (em termos de escala). Isso explica porque esse perodo depressivo demorou tanto, concretizando-se em 2008 com a crise imobiliria americana, crise nanceira j que os papis negociados possuam va-lores acima dos concretamente existentes.Consideraes nais importante resaltar que diferentemente da crise econmica de 1929-30, perodo depressivo do terceiro Kondratiev, na fase B do quarto Kondratiev no aconteceu nenhu-ma crise radical, no houve o sucateamento brutal da economia mundial; em suma os pro-cessos de fuses, aquisies e cartelizao da economia ocorreram de forma controlada, atravs de uma poltica anticclica feita pelos Estados Unidos.Entretanto, no caso brasileiro, como resolver os desaos impostos pela dinmica dos ciclos de Kondratiev e do nosso prprio ciclo interno, juglariano? Acreditamos que Igncio Rangel13 tenha decifrado o enigma ao apontar, principalmente, a partir da dcada de 1960, discutindo a dialtica da capacidade ociosa, que determinados setores da econo-mia se desenvolvem mais do que outros nas fases ascendentes dos nossos ciclos breves e, para que a economia brasileira no entre em recesso imprescindvel o estabelecimento de uma intermediao nanceira que coloque os recursos ociosos do setor dinmico para o setor decitrio do organismo econmico nacional.Ora, como j referido anteriormente, o Brasil comeou seu processo de industrializa-o pelo Departamento II (bens de consumo), depois pelo Departamento I (bens de produo). Acontece que por seguir uma ordem inversa dos pases que compe o centro do sistema capi-talista que se industrializaram pelo setor de bens de produo (mquinas e equipamentos), no Brasil um determinado setor da economia se desenvolve subutilizando seu potencial produ-tivo (ociosidade), enquanto outros apresentam diculdades em acompanhar o setor dinmico da economia (antiociosidade), assim uma intermediao nanceira que pudessem realocar os recursos dos setores dinmicos (que compe a poupana da economia nacional) representada atualmente pelo setor privado, para os setores decitrios (antiociosidade) representados pelos servios de utilidade publica (que corresponde ao setor de investimentos), faria com que a economia nacional conseguisse superar a crise provocada pelo seu ciclo interno (juglariano)14. Isto , o Estado investe em novos setores e em ciclo posterior em novssimos e assim em dian-te, at a aproximao tecnolgica com o centro do sistema.Notas3 -Cabe assinalar que para Igncio Rangel ... a economia brasileira est sujeita a dois ciclos: um endgeno e outro que o reexo do que se passa na economia mundial. Quando falamos em crise, devemos precisar se da crise do ciclo longo, correspondente economia mundial, ou se da crise do ciclo breve, que corresponde economia interna que se faz. Na realidade, temos que pensar nos 115 Cincia Geogrca - Bauru - XVII - Vol. XVII - (1): Janeiro/Dezembro - 2013Consideraes acerca da fase B do quarto Kondratievdois ciclos. H momentos em que o ciclo longo, de 50 anos; e outro breve, 10 anos, aproximada-mente. H momentos em que os dois coincidem e se somam. Ento, a economia est em expanso ou recesso e/ou, por efeito do ciclo longo e tambm por efeito do ciclo breve. O breve algo que corresponde a uma etapa do nosso desenvolvimento; a etapa da nossa industrializao. Como o ci-clo longo reexo da economia mundial, convencionou-se chamar que estamos vivendo o quarto ciclo longo, o de Kondratiev. Portanto, nesse ciclo de Kondratiev tem uma fase ascendente e uma fase descendente, ou seja, uma fase de prosperidade e uma fase difcil. Esses ciclos longos tm um reexo muito marcado sobre a economia brasileira, que uma economia perifrica, reete esses ciclos longos com muito maior delidade do que os pases industrializados. Nossa independncia foi o fenmeno que aconteceu como reexo da entrada da economia mundial na fase recessiva. O ano de 1815 foi o ano da batalha de Waterloo e tambm o ano em que a economia mundial entrou em recesso. Foi um ano em que o Brasil surgiu como uma economia relativamente independente, com vida autnoma, como uma economia separada de Portugal. Essa mudana na economia bra-sileira, sete anos depois, teria se reexo poltico na independncia nacional. A independncia foi reexo da fase recessiva, ou seja, da crise do primeiro ciclo longo. Vivemos um perodo recessivo que se prolongou at, aproximadamente, 1848. Nesse ano de 1848 foi tumultuado, mas foi tam-bm um ano em que a economia saiu da recesso e passou a ter uma fase ascendente. O Brasil de Igncio Rangel In: Jornal dos economistas, n 190, maio de 2005.4 -A aplicao da ideia marxista de formao social levou Lnin a escrever em 1899 o Desenvolvimento do capitalismo na Rssia, estudo ao mesmo tempo de economia poltica e de geograa econmica. Cf. MAMIGONIAN, A. Introduo. In: ______. Estudos degeograaeconmicaedepensamentogeogrco. 264 pags. Tese (Livre docncia). So Paulo: FFLCH/USP, 2004.5 -A revoluo industrial dos ns do sc. XVIII inaugurou os ritmos indstrias de v-rias duraes, principalmente os ciclos decenais (juglarianos) e os longos, de cinquenta anos (Kondratieff), cada ciclo com fase expansiva (a) a fase depressiva (b). Marx e Engels constataram os ciclos decenais entre 1848 e 1857, que foram sistematizados esta-tisticamente por J uglar em 1860. Engels assinalou tambm a chamada longa depresso do nal do sc. XIX e a sistematizao estatstica dos ciclos longos foi feita entre 1918-21 por N. Kondratieff (1926). MAMIGONIAN, A. Ciclos econmicos e organizao do espao. In: Geosul, Florianpolis, v. 14, n. 28, p. 152-157, jul./dez. 1999.6 -Para o leitor pouco familiarizado com o assunto vale a pena apresentar a numerologia bsica de kondratiev, a qual para muitos, ainda h de ser cabalstica, a saber:Primeiro ciclo longo: fase A: 1790-1815/fase B: 1815-1847Segundo ciclo longo: fase A: 1847-1873/fase B: 1873-1896Terceiro ciclo longo: fase A: 1896-1920/fase B: 1920-1948Quarto ciclo longo: fase A: 1948-1973/fase B: 1973-? Claro est que Kondratiev no poderia ir alm de 1920, pois dele no se tem noticias des-de daquela dcada, mas a extrapolao perfeitamente admissvel.7 -J oseph Schumpeter lecionou por diversos anos nos Estados Unidos, pregando as ideias de Nikolai Kondratiev, por toda a Amrica vrios neoschumpeterianos, tiveram como base de seus estudos a teoria das ondas largas.8 -Armen Mamigonian. Palestra A crise mundial e a Amrica Latina Hoje, UNESP, 2008.9 -RANGEL, I. Ciclo, tecnologia e crescimento. In: ______. Obras reunidas, Vol. II. Rio de J aneiro: Contraponto, 2005. [1969-1981].116 Cincia Geogrca - Bauru - XVII - Vol. XVII - (1): Janeiro/Dezembro - 2013Washington Soares Silva10 -MAMIGONIAN, A. Capitalismo e socialismo em ns do sculo XX: viso marxista. In: Revista Cincia Geogrca. AGB-Bauru, Bauru-SP, Ano VII, Vol. I n 18, J aneiro/Abril, 2001, p. 4-9.11 - O funcionamento do ciclo kondratiev, foi alterado, atravs de uma poltica anticclica do governo norte-americano, que contou com a coordenao dos bancos centrais da Eu-ropa, EUA, J apo na conteno das crises.12 - Ver para o caso brasileiro CORRA, Domingos Svio. Fuses e aquisies de em-presas no Brasil: concentrao de capital e desnacionalizao da economia. In: Revista Cincia Geogrca. AGB-Bauru-SP, Ano X, Vol. X n 2, Maio/Agosto, 2004.13 - RANGEL, I. Economia brasileira contempornea. Idem. p. 409-547 [1983-1987].14 - Isso posto, no ser difcil de perceber o destacado papel que o ciclo econmico brasilei-ro reserva para o servio de intermediao nanceira vale dizer, o estratgico papel atribu-do, no seio da problemtica econmica geral, para a questo nanceira. Por outras palavras, a retomada do ritmo de crescimento no resulta, essencialmente, do reinvestimento dos lucros de cada empresa em sua prpria expanso, mas do investimento, em um setor, de lucros origi-nrios da atividade de outros setores, trazendo implcita a questo dos meios e modos usados para captar, diretamente, ou via setor famlia, ou Estado, no polo de ociosidade, o excedente econmico que surgir como investimento no polo oposto, isto , no polo de antiociosidade ou rea dos pontos de estrangulamento. RANGEL, I. Ciclo, tecnologia e crescimento. In: ______. Obras reunidas, Vol. II. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. [1969-1981].RefernciasMAMIGONIAN, A. Estudos de geograa econmica e de pensamento geogrco. 264 pags. Tese (Livre docncia). So Paulo: FFLCH/USP, 2004.______. Palestra A crise mundial e a Amrica Latina Hoje, UNESP, 2008.______. Capitalismo e socialismo em ns do sculo XX: viso marxista. In: Revista Ci-ncia Geogrca. AGB-Bauru, Bauru-SP, Ano VII, Vol. I n 18, J aneiro/Abril, 2001, p. 4-9.Ciclos econmicos e organizao do espao. In:Geosul, Florianpolis, v. 14, n. 28, p. 152-157, jul./dez. 1999.RANGEL, I. Ciclo, tecnologia e crescimento. In: ______. Obras reunidas, Vol. II. Rio de J aneiro: Contraponto, 2005. p. 255-408 [1969-1981].______. Economia brasileira contempornea. Idem. p. 409-549 [1983-1987].______. A dinmica da dualidade brasileira. Idem. p. 552-566 [1962].______. Dualidade e escravismo colonial. Idem. p. 623-635 [1978].______. A problemtica poltica do Brasil contemporneo. Idem. p. 636- 644 [1979].