B053 Lou Carrigan Morte Fotografica

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    PRLOGOAlgumas peripcias no aeroporto internacional do Cairo

    O avio da Alitalia aterrissou sem novidade na pistadesignada pela torre de controle do aeroporto internacionaldo Cairo. Tambm sem novidade, os passageiros do vo deRoma desceram do aparelho, passaram pela Alfndega e,com exceo de dois que se quiseram fazer de espertostrazendo insignificantes contrabandos, foram admitidos em

    territrio egpcio.No total, vinte e quatro passageiros, todos elesprocedentes da capital Italiana. Passageiros de todas asclasses e idades: crianas europias, dois velhotes egpcios,trs jovens casais romanos, trs ingleses srios e secoscomo pedras, alguns norte-americanos.

    No podiam faltar os americanos. Diz-se que em todoobjeto em movimento no mundo pode- se encontrar, pelomenos, um cidado dos Estados Unidos e, pelo menosnaquele caso, era certo.

    O homem de olhar penetrante, ombros largos, mosgrandes e gravata demasiado colorida, inclusive para um

    clima pouco menos que tropical, tinha que ser americano.Usava culos de sol, no parecia ter-se dado o trabalho decarregar bagagem e devia ser um bocado alegre, pois traziana mo um exemplar da revista Playboy, ou seja, essa emque saem garotas sem roupa, historietas picantes, pequenosartigos de humor sexual e, nas duas pginas do centro, a

    miss do ms, que geralmente a menos vestida da revista.Uma grande revista.

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    muito tisnada pelo sol, no menos largo de ombros que oleitor de Playboy e fumando com uma longa piteira demarfim. Este ltimo personagem trocou um olhar com oamericano leitor de Playboy, o qual assentiu com a

    cabea e indicou com o queixo o homem das sardas.E com toda esta complicao de personagens em marcha

    comeava uma das mais srdidas histrias de espionagem.Mais uma dessas histrias que nunca aparecem nos jornais,mas que, meticulosamente explicadas, constam dosarquivos top secret dos grandes servios secretos

    mundiais.As coisas sucederam assim, sombra do edifcio do

    aeroporto internacional do Cairo: O perseguido que descerado avio da Alitalia, ou seja, o sardento, dirigiu-se paraum grande carro preto, de placa egpcia, que esperava numcanto do parking. Chegou a este, entrou e instalou-se

    confortvelmente. O que o perseguia, isto , o da revistaPlayboy, caminhou ainda uns quantos passos em direoquele carro preto, desviando um pouco a marcha de modoque pudesse ver perfeitamente a placa da licena. Vista aplaca, ele sacou uma caneta esferogrfica e anotou seunmero na capa da revista Playboy...

    Quer dizer: comeou a anotar.Aconteceu que, enquanto o fazia, os dois homens quetinham esperado o sardento no aeroporto se aproximaramdele por trs, com o ar mais despreocupado do mundo,caminhando a passo normal.

    E quando chegaram junto a ele, sacaram cada um uma

    navalha de mola, apertaram os respectivos botes e numinstante apareceram as agudas lminas respectivas, que

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    cravaram uma em cada rim do americano leitor dePlayboy.

    Com toda a tranqilidade, como se estivessem pedindofogo para seus cigarros.

    Foi uma dupla navalhada arrepiante, que rasgou a carnecom um estranho rangido. O americano soltou a revista e aesferogrfica, crispou-se, empalideceu, abriu a boca naInteno de um grito de espanto...

    Ento zs! as duas navalhas tornaram a cravar-se em seus rins, agora mais fortemente ainda. Um dos

    assassinos sacou-a com rapidez, colocou-se diante doInfortunado americano e enterrou-a em seu ventre duasvezes, com raiva, com fria. Evidentemente, no era umabrincadeira: tratava-se de matar.

    E como seis navalhadas de alta categoria, quatro nos rinse duas no ventre, so coisa muito sria, o americano morreu.

    Isso sim: fez com grande decoro. Sem gritos, semespavento, sem protestos Inteis... uma das regras do bomespio.

    Enquanto algumas das pessoas que passavam por alicomeavam a pensar que algo estava acontecendo, osassassinos apanhavam a revista e a esferogrfica e

    dirigiram-se em passo contido, mas apressado, para o carro.Entrementes, o louro que fumava com piteira, tinhaempalidecido tanto, que parecia mais morto que ocavalheiro portador da revista chamada Playboy; estavato plido, que se tinha tornado verdadeiramente branco, eparecia Incapaz de mover-se, de raciocinar.

    Nem sequer foi capaz de reagir quando o americanorecm-chegado ao Cairo caiu de bruos e voltou a cabeapara ele, j sem os culos de sol, olhando-o

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    angustiosamente, com um olhar silencioso que era umpedido de auxlio.

    Tampouco reagiu quando a gente comeou a correr parao americano leitor de Playboy, nem quando o carro preto

    em que iam os assassinos e o sardento afastava-se dali,impunemente. Mais ainda: quando todo o mundo comeoua gritar, quando chegou a polcia, quando pouco depoischegou a ambulncia, o louro da piteira de marfimcontinuava como cravado no cho, palidssimo.

    Certamente, era o nico que tinha presenciado com toda

    a nitidez aquele final de viagem ao Cairo.

    CAPTULO PRIMEIROUm chefe enfurecido

    Dupla misso no CairoA espi nmero um do mundo

    O Cairo? Que tenho eu a ver com lugar semelhante? um lugar como outro qualquer grunhiu Miky

    Grogan.A famosssima espi Internacional, categoria de luxo da

    Central Inteligence Agency, contraiu graciosamente assobrancelhas, enquanto sua mo direita deslizava, emcarcia pessoal, pelo joelho que ficara sobre a outra aocruzar as pernas, aps sentar-se de lado na mesa de seuchefe. Atitude esta que s Brigitte Montfort, apelidadaBaby, poder-se-ia permitir no escritrio de mister Grogan.

    Mas que diabo terei eu que fazer l? perguntou. Trabalhar. Ou seja: ganhar o fabuloso salrio que lhe

    pago. No seja vulgar, chefe.

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    Posso ser vulgar resmungou Grogan mas gostoque meus empregados trabalhem. Deste modo, podem pagarsuas capas de pele, seus apartamentos luxuosos na QuintaAvenida, sua casa de campo margem do lago, seus dois

    carros de modelo especial, seu... Com o que voc me paga, no tenho nem para

    comprar um vidro de esmalte de unhas, querido sorriudesdenhosamente Brigitte.

    Miky Grogan empalideceu. Mordeu os lbios. Depoiscomeou a ficar verde. Finalmente enrubesceu, com tal

    violncia que as veias de seu pescoo e testa incharam. Vai pedir outra vez que lhe aumente o ordenado?

    gritou. Por que grita? Porque... porque... porque tenho vontade! Grosso.

    Olhe, Brigitte, voc... voc me exaspera! Sei que tudo brincadeira, mas...

    Brincadeira? Chama voc de brincadeira ainteligentssima deciso de um ser humano rebelar-se contrao trabalho?

    Brigitte...!

    Gosta de meu novo vestido? No! No? Pois nesse caso devia mandar examinar a vista.

    Importado de Paris. Por ele paguei... No quero saber quanto! Por qu?

    Porque no gosto de me irritar. Voc gasta maisnuma semana do que eu em um ano!

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    Questo de gosto pessoal. Voc se conforma comqualquer roupa barata e eu acho que uma bela mulher deveandar sempre vestida de acordo com sua beleza... Que mediz de meu penteado?

    Miky Grogan repassou a magnfica anatomia da maisbonita espi do mundo. Depois, olhou seu penteado, todoem pontas desiguais, deliciosamente frisadas. Olhou osenormes olhos azuis, os lbios rseos, o decote agudo deseu vestido minissaia, as sensacionais pernas douradas pelosol, exibidas em sua quase totalidade... e comeou a sentir

    incomodamente na garganta o n de sua gravata,sbitamente apertado demais.

    Mmm... Um penteado muito bonito, sim... E o resto? Que... que resto? Amado chefe, voc est quase cego. O resto tudo

    o que acompanha o penteado. Ou seja, minhas pernas, meus

    braos, meu pescoo, minhas bonitas cadeiras, meusmagnficos...

    Miky Grogan desfechou um terrvel soco na mesa. Voc quer jantar comigo? gritou. No. E suplico-lhe novamente que no grite. Pois se no quer jantar comigo, ir hoje mesmo para

    o Cairo! Est bem claro? Ir ao Cairo! E se no...A porta do escritrio de Grogan se abriu e Frank Minelloentrou apressadamente, olhando para todos os lados eperguntando:

    Quem que vai ao Cai...?Quando viu Baby, deixou de olhar para todos os lados.

    Parecia ter muito melhor vista do que o diretor do MorningNews. E ps-se a us-la para seu prprio deleite e

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    satisfao de Brigitte, que levantou um pouco mais suaexgua saia.

    No so maravilhosas, Frankie? sorriu.Mmmm... O qu...?

    Minhas pernas. Ah, sim! Oh, sim! Suas... Puxa vida! Quer-me fazer

    presente delas? Ora, Frankie, mais formalidade, querido... No quer emprest-las, ao menos...? No riu Brigitte. Voc podia apresent-las num

    concurso de beleza e ganhar o primeiro prmio. E isso s com as pernas! Que tal se voc me

    emprestar o resto? Juro que devolverei tudo amanh! Tudo est muito bem onde est, no empresto nada... Mas um desperdcio! Se voc quisesse. Minello! gritou Grogan. O que que deseja?

    As pernas.As qu...? E o resto. Digo... Ah... Oh! Ol, mister Grogan: o

    senhor estava a?Brigitte ps-se a rir e Miky Grogan tornou a enrubescer

    daquele seu modo violento, caracterstico nele.

    Ponho voc na rua! Ponho os dois na rua, os... os...! Por que no nos casa? props Minello. Afinalde contas, o senhor o comandante deste barco chamadoMorning News, e dizem que os comandantes podem...

    Miky Grogan desfechou outro soco na mesa. Depoisficou imvel, fechou os olhos, contou at dez e,

    aparentemente sereno, olhou de novo para Frank Minello,chefe do departamento esportivo do jornal. Que deseja? perguntou.

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    Que ponha seu OK nisto aqui. Atirou uns papissobre a mesa e aproximou-se de Baby, suspirando. No h pressa.

    Mi-ne-llo!

    Que ? Est posto o OK! Muito bem: ponha mais alguns. Um milho ou dois... Fora! Fora daqui!Frank Minello sobressaltou-se. Tanto que, para no

    perder o equilbrio, teve que abraar-se a Brigitte. Agarrou-

    a pela cintura, apertou-a fortemente contra o peito beijouseus rseos lbios... Certamente teria ficado ali, comomosca no melado, se um suave golpe de jud, aplicadopelos dedos de Brigitte em sua espdua, no o fizesse recuarcomo se recebesse uma descarga eltrica.

    No seja guloso, Frankie.

    Foraaaa...! bradou Grogan.Minello olhou-o de cima a baixo. Invejoso... murmurou. Invejoso, invejoso... Mas no to caradura como voc sorriu Brigitte.

    Como vo as coisas em sua seozinha esportiva? Preciso de uma datilgrafa informou Minelio.

    No importa que no saiba escrever mquina, nem grafarcorretamente Washington, nem... Eu no sirvo?Frank Minello ia dizer alguma coisa, mas olhou para

    Miky Grogan, que se tinha posto de p, os olhos quase foradas rbitas.

    Mmm... Passe depois pela minha sala, querida piscou um olho. Ver como o papai Frankie lhe arranja

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    um bom lugar. Embora tenha que ser num sof... J vou, jvou...!

    Saiu correndo do escritrio. Brigitte virou-se para ofurioso Grogan:

    Voc sempre estragando tudo, bicho-papo murmurou. Que tenho eu a fazer no Cairo? Umareportagem! Que idia original... Sobre as pirmides?

    Sobre Gamal Abdel Nasser. Mmm... Esse senhor que manda no Egito? Sim.

    Tenho que pedir-lhe uma entrevista? No. Ele far uma conferncia de Imprensa, dentro de

    alguns dias, no Cairo. Sobre qu? Sobre a situao no Oriente Mdio. Nasser expor

    seus pontos de vista a respeito de uma guerra que parece

    iminente. Guerra? Com quem? Com... V para o inferno! Voc tem que estar

    informada de tudo isso muito melhor do que eu! Paraalguma coisa uma espi que.

    Psit...

    Nasser dar uma entrevista, uma conferncia deimprensa concedida a jornalistas de todo o mundoexplicando os motivos pelos quais no vacilar em levar aRepblica rabe Unida a uma guerra para aniquilar Israel.

    Coisa que parece problemtica, j que os EstadosUnidos esto do lado de Israel...

    E a URSS do lado da RAU. Israel tem a bomba H, segundo dizem. Quem diz? A CIA? espantou-se Grogan.

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    No, no! A CIA, querido, nunca diz nada. omelhor modo de no se equivocar. Seja como for, tambm aRssia a tem, e tm-na os Estados Unidos... E na piorhiptese, tm-na tambm os chineses, que so uns homens

    amarelos muito maus, segundo se diz. Acha realmente queessa conferncia de imprensa do senhor Nasser serimportante?

    Isso no sei. Mas estaro l enviados de todos osjornais importantes do mundo. Acha que o MorningNews merece essa honra?

    O Morning News no sei. Mas eu sim. Gostarei deescutar as belicosas palavras de Gamal Abdel Nasser. Deacordo: irei ao Cairo. Evidentemente, este um trabalhoextra, que, como de costume, merecer honorriosespeciais. No?

    Como de costume grunhiu Grogan.

    timo. Saio-lhe muito cara, querido. Por que nomanda outro reprter. Ficaria mais barato.

    Mas no se venderiam duas ou trs edies sorriuGrogan.

    Ah! assim que eu gosto, amor... O que maisaborrece os profissionais de qualquer coisa que no lhes

    reconheam os mritos. E eles ficam ainda mais aborrecidosquando esse reconhecimento no se traduz em dlares. Voc sordidamente interesseira. possvel. Mas sempre me pergunto a mesma coisa:

    por que h de voc ter o dinheiro que corresponde a mim?Ciao, chefe... Se tiver tempo, mando-lhe um postal.

    Dirigiu-se para a porta. assim que se despede? protestou Grogan.

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    Ela sorriu, voltou, passou-lhe os braos pelo pescoo eaproximou a boca da dele. E, sbito, ergueu a voz:

    Pretende acaso que eu o beije? ergueu ainda maisa voz: Nunca, antiptico. E tire as mos de cima de mim,

    bandalho!Afastou-se do petrificado Grogan, foi at a porta, abriu-a

    de modo que a secretria do diretor do Morning Newspudesse ver a este, e exclamou ainda:

    O senhor um sem-vergonha!E desapareceu, deixando Miky Grogan sob os olhares

    estupefatos de sua secretria.* * *

    Ele est sua espera, miss Montfort. Quem? O espio... esse que sempre a envia a lugares

    perigosos: o seu tio Charlie.

    Oh... Voc acha que veio em visita de cortesia,Peggy?

    A bonita empregada moveu negativamente a cabea. Esse senhor nunca vem em visita de cortesia. Sempre

    mandando-a a qualquer lugar... at que um dia no voltemais.

    V agourar a vovozinha, Peggy riu Brigitte. Quer trazer-nos uns martinis? Pois no, miss Montfort.Baby entrou em seu magnfico living. Efetivamente,

    Charles Pitzer, seu chefe direto na CIA, l. estava, de costaspara a porta, olhando para o Central Park pela vasta janela.

    Bons olhos o vejam, tio Charlie. Velo minha procura? Claro. No aqui que voc mora?

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    Bem.... Como algumas vezes j o surpreendi olhandoas pernas de Peggy... Venha, sente- se a meu lado. Almdisso, permito-lhe olhar para as pernas de Peggy: hoje sinto-me generosa.

    Sentou-se no sof, mostrando as esplndidas pernas; masPitzer no sabia se olhava para elas ou para o decoteaudacioso. Por fim, e como Brigitte o observasseironicamente, optou por olhar para um quadro.

    Bom. Tenho trabalho para voc. Algum vai sofrer um desgosto.

    Como ? Algum ter um desgosto quando souber que

    anteponho os trabalhos da CIA aos do Morning News...Que acontece no mundo esta vez?

    No sabemos ao certo. Mas pode ser muitoimportante. Por enquanto, mataram-nos um agente.

    Baby deixou de olhar seus ps descalos e seus olhospareceram congelar-se.

    verdade? Nunca brinco com estas coisas grunhiu Pitzer. Nem eu. Sabemos quem foi? No o nome, mas temos uma foto. E ele est sendo

    procurado com bastante probabilidade de xito. Narealidade, o homem do qual temos a foto e a pista paralocaliz-lo no foi o assassino direto, mas doiscompanheiros seus que o esperavam no aeroporto.

    Pelo fio, chega-se meada. Como aconteceramexatamente as coisas?

    Nosso homem seguiu a presa, tomando o mesmoavio. Ao chegar ao aeroporto, dois outros o esperavam. Eesses dois mataram nosso agente. Com seis navalhadas.

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    Peggy apareceu com os martinis. Brigitte apanhou ume olhou o lquido transparente. Seu rosto estava impassvel.

    Teve morte instantnea? Claro.

    Ento, quem nos avisou? Outro de nossos agentes, que esperava o que vinha de

    Roma seguindo a presa. E esse agente no ajudou o que chegava de Roma? No. Por qu?

    Voc ir l. Faa essa pergunta a ele. Depois... Perguntarei prometeu Brigitte. E se sua

    explicao no me convencer? Mate-o. No precisamos de traidores na CIA. Acha que pode ser uma armadilha contra outro agente

    mais importante, que se desloque para resolver o caso

    comeado pelo agente que mataram? Tudo possvel em nossa profisso, Brigitte. Certo. Que farei depois? Localizar o homem que nosso agente estava

    seguindo desde Roma, e descobrir o que esto tramando.To logo o saiba, j no precisar de instrues: faa o que

    sempre faz... Isto , resolver a questo sua maneira. De acordo. Aonde devo ir? Ao Cairo.Baby ergueu as sobrancelhas, abriu a bolsa e sacou um

    papel, com o qual comeou a abanar-se graciosamente, emsilncio. Pitzer olhou-a durante uns segundos, antes de

    perguntar: Que papel esse?

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    Uma passagem de avio para o Cairo. Parto dentro deduas horas.

    Ma-mas... mas... tartamudeou Charles Pitzer. Por que se assombra, querido? Acaso no sou a espi

    nmero um do mundo?

    CAPTULO SEGUNDOO labirinto rabe

    Okay para JohnnyA nica coisa relativamente fcil na vida: morrer

    s primeiras horas da madrugada seguinte, BrigitteMontfort chegava ao Cairo. Era o dia primeiro de junho ehavia no ambiente uma grande tenso, inclusive aquelahora. Estava claro que, segundo a opinio geral, a guerracom Israel logo deflagraria.

    A chegada de uma cidad norte-americana no causouexatamente prazer. Na Alfndega, todas as suas coisasforam meticulosamente examinadas, embora osfuncionrios aduaneiros no parecessem ter recebido aulasde espionagem. Deste modo, todo o contedo de sua famosamaleta passou ante trs pares de olhos sem que um s dospequenos truques nela contidos fosse descoberto. A pistolamereceu uma ateno especial. Os egpcios detiveram-seolhando aquela diminuta obra de arte. Pareciam Indecisos,mas Brigitte convenceu-os de que era pouco mais que umbrinquedo que nunca tinha sido usado, e que realmente oestimava mais por ser presente de um bom amigo que pelautilidade que pudesse ter. Seu passaporte em regra, suas

    credenciais de jornalista enviada pelo Morning News paraa conferncia de imprensa de Abdel Nasser e seu

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    encantador sorriso, to doce e luminoso, no poderiamencontrar obstculos.

    Um egpcio de suja camisola encarregou-se de suasmaletas e conseguiu-lhe um txi. Uma boa gorjeta pareceu

    deix-lo muito satisfeito. E Baby no se surpreendeu emabsoluto quando o homem, enquanto recolhia o dinheiro,murmurou:

    Hotel Continental.Como se nada tivesse ouvido, ela se esqueceu dele,

    entrou no txi e disse:

    Leve-me ao Hotel Continental.O chofer no falava Ingls, nem francs, nem nada que

    no fosse rabe. Felizmente, o egpcio da camisola aindaestava ali e, parecendo compreender a situao, bateu novidro do carro.

    Em seu defeituoso, mas compreensvel ingls, perguntou

    se havia alguma dificuldade. Posto ao corrente, dirigiu-se aochofer, disse algumas palavras em rabe e tudo ficouresolvido.

    Quase s trs da madrugada, ela chegava ao hotel.Grande, bem conservado a ponto de no parecer antigo,adornado com grandes vasos de plantas, parecia um lugar

    agradvel e cosmopolita. Ficava em Sharia Kamel, bemdiferente da praa El Ezbekiyeh, no centro da cidade.Havia alguma dificuldade para a admisso de mais

    hspedes, considerando-se que algumas das sutes aindavagas tinham sido reservadas de diversos pontos do globo.No obstante, os dotes de persuaso de Baby valeram, e

    minutos depois um boy vestido europia, de branco e comum fz vermelho sobre a crespa cabeleira, conduziu- a

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    sute nmero 39, uma de cujas janelas dava justamente paraa praa El Ezbekiyeh.

    Gratificado o boy, Brigitte ficou sozinha. Deixou-se cairnuma poltrona, abriu a maleta sobre os joelhos e sacou o

    pequeno rdio camuflado como carteira de cigarros, cujafreqncia tinha j sido ajustada para comunicao com aCIA no Cairo.

    Johnny? murmurou. Bem-vinda. Espero que me desculpe por no a ter

    esperado pessoalmente, mas achei melhor vigiar-lho as

    costas. Obrigada. Algum me seguiu? No. Tudo est bem. Suponho que o egpcio do aeroporto seja seu amigo.

    Refiro-me ao que se ocupou de minha bagagem, conseguiuo txi e sussurrou-me que me hospedasse no Hotel

    Continental. Chama-se Karfa. Com efeito, meu amigo. De toda

    confiana. timo. Quando nos veremos? Eu a chamarei. Quando?

    Quando convier. Nosso homem est hospedado nessehotel, mas teve uns contatos interessantes que eu gostaria deestudar antes de avistar-me com voc. Depois falamos. Nomomento, descanse. Que tal a viagem?

    Boa, mas entediante. Multas horas de vo. Durma um pouco. Pressinto que se esteja tramando

    algo multo srio e gostarei de v-la em condies de fazerhonra sua fama. Recebi notcias advertindo-me de que aajuda que esperava me seria dada nada menos que por

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    Baby. Mas suponho que at mesmo Baby necessitedescansar.

    Espero seu chamado, Johnny. Boa-noite, Baby.

    Brigitte fechou o rdio, guardou-o e ficou pensativa.Esteve assim o tempo que levou para fumar um cigarro.Depois, com uma rapidez fruto da experincia, colocou suascoisas no armrio, vestiu um baby-doll cor-de-rosa, totransparente que era mesmo que nada, e deitou-se.

    Como de hbito, um minuto depois dormia

    profundamente.* * *O suave zumbido do rdio despertou-a de pronto.

    Apanhou-o da mesinha de cabeceira, ao mesmo tempo emque via as horas em seu relgio de pulso. Nove e meia.

    Baby?

    Diga, Johnny. Bom-dia. Estava dormindo? Estava. Espero que... Dormi mais que o suficiente. Quero fazer este

    trabalho com toda a rapidez. Seria desagradvel que se

    iniciasse um conflito entre Israel e a RAU estando eu aindano Cairo. Notcias? Seria conveniente que nos vssemos. Claro. Posso estar pronta dentro de dez minutos. No, no... Faa as coisas com calma. Nosso homem

    est em seu hotel, de modo que no seria conveniente ele

    vir a saber que uma viajante chegada s trs da madrugadaj est de p s nove... Devemos evitar qualquer pequenafalha. Conhece o Cairo?

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    Bem pouco. Mas saber ir Praa Rumeleh? Irei. Agora? D primeiro um passeio por El Ezbekiyeh. o

    normal em qualquer viajante que chega ao Cairo e hospeda-se no Continental. Depois, saia de El Ezbekiyehdiretamente por Sharia Mohammed Ali, que leva em linhareta Praa Rumeleh. L nos encontraremos s onze. Vocme conhece?

    Mostraram-me uma fotografia sua antes de minha

    partida dos Estados Unidos. Bem. E como conhecerei voc? Eu o abordarei, Johnny. De acordo. At as onze.Brigitte saiu da cama. Banhou-se, perfumou-se

    discretamente, colocou a pequena pistola na coxa esquerda,

    prendendo-a com esparadrapo cor de carne, e enfiou umvestido azul-claro multo leve. culos de sol, uma bolsa naqual introduziu o rdio, cigarros, a piteira-zarabatana, oisqueiro-cmara... e estava pronta para qualquer trabalho.

    As dez, depois de tomar o caf da manh na sala derefeies do hotel, saiu para um passeio pela praa El

    Ezbekiyeh, admirando-se na verdade com o maravilhosoespetculo das flores, palmeiras, tamareiras, laranjeiras. sonze menos quinze saa da praa e tomava por ShariaMohammed AU. Chamou um txi e fez-se levar at a PraaRumeleh.

    As onze menos dois minutos estava passeando por esta.

    s onze e um minuto j tinha localizado Johnny. Mas nose aproximou dele. Durante trs ou quatro minutos esteveestudando-o, a uma prudente distncia, enquanto parecia

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    maravilhada com a contemplao da Mesquita do SultoHasan.

    Johnny era louro, fumava com uma piteira que pareciade marfim, estava vestido de branco e tinha um rosto

    enrgico, de queixo agressivo. Um conjunto bastanteagradvel... Mas os traidores no tm por que ser feios,afinal.

    At as onze e dez, quando Johnny j tinha olhadovrias vezes para o relgio e ela outras tantas, no seaproximou. Deteve-se diante dele, olhando-o atravs dos

    culos de sol.Foi Johnny quem perguntou: Baby? Sim. Que h com voc? H dez minutos que a vejo por

    aqui... J comeava a duvidar que fosse voc meu contato.

    O encontro era s onze, no? Sabe como so as mulheres? sorriu ela: gostam

    de se fazer esperar. Acha que o momento para brincadeiras?

    resmungou Johnny. No, no acho. Sentamo-nos num banco?

    Johnny assentiu com a cabea. Ocuparam um sob umaalta e frondosa palmeira, e Brigitte, aps acender um cigarrocontemplando o pitoresco gentio que cruzava a PraaRumeleh, perguntou:

    Ento? Por onde comeamos? Resolveremos mais adiante. No momento, posso

    dizer-lhe que j sei o nome do indivduo que nossocompanheiro esteve seguindo desde Roma. Chama-se

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    Stanley Perkins, norte-americano. Quer ver uma microfotodele, ampliada?

    Entregou-a. Baby esteve uns segundos contemplandoo rosto do homem sardento. Tinha uma expresso simptica

    e seu aspecto no podia inspirar mais confiana. O clssicoamericano saudvel, de mente alerta, bem-humorado,alegre.

    jornalista explicou Johnny. NoContinental, registrou-se com esse nome: Stanley Perkins.E apresentou-se a si mesmo como reprter do Chicago

    Daily, designado como correspondente em Roma. E no exato? Saberemos talvez esta tarde. Bem. Por que nosso companheiro de Roma o seguia? Recebi um chamado de Roma avisando-me da

    chegada de Romano...

    De quem? Chamo de Romano o nosso companheiro que seguiu

    Perkins desde Roma. Ah... Muito acertado. Prossiga. Avisaram-me de Roma que Romano ia chegar.

    Deram-me sua descrio, advertindo-me de que ele j

    possua a minha, e que sabia que eu o estaria esperando. Eudevia apoi-lo em seus movimentos pelo Cairo investigandoStanley Perkins. De modo que o esperei no aeroporto, comum carro preparado no parking para nossos deslocamentos. hora prevista, chegou o avio. Vi Romano e o homemque ele seguia, Stanley Perkins. Este foi diretamente a um

    carro do parking, e tanto Romano como eu estvamos toabsortos nisso, que no prestamos a devida ateno a dois

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    homens que se aproximaram de Romano por trs. Quandoeu percebi...

    Johnny explicou o ocorrido no aeroporto, sem serinterrompido uma s vez por Brigitte.

    ... Depois, chamei Casablanca, e de l passaram oaviso a Washington. Pelo mesmo conduto, em sentidoinverso, recebi depois notcia de que a agente Baby viriaao Cairo para trabalhar comigo. E aqui estamos.

    Por que Romano seguia Stanley Perkins? Em Roma, nosso servio tinha sob vigilncia um

    homem chamado Rossano Merletti. Parece que um espioprofissional independente, embora haja suspeitas de queest trabalhando especificamente para um pas...

    Qual pas? No se sabe. Viram Stanley Perkins entrar em contato com esse

    Rossano Merletti? Exatamente. Poucos dias depois, Perkins viajava para

    o Cairo. Romano foi encarregado de segui-lo. Qualqueratividade que tenha por cenrio o Cairo, nestes dias, muitointeressante para a CIA.

    E para a MVD. E o MI5... Para todos. No?

    Suponho que sim. E que vinha Stanley Perkins fazer no Cairo? Ainda no sei. Espero que voc me ajude a descobrir. Sem dvida. Afinal de contas, est localizado... Temos algo mais. noite passada, Perkins esteve

    numa viela do Bairro Bulk, do outro lado do Nilo, perto do

    Canal Ismailiyeh. Nessa viela, precisamente, o carro que oesteve esperando no aeroporto se... perdeu. Voc seguiu o carro depois que mataram Romano?

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    Karfa seguiu-o. Temos o nmero de sua licena e onome de seu proprietrio. um egpcio chamado BoabdilHabuz, que tem uma loja de artigos para fumantes noBoulevard Halim, Bairro de Tewfikyeh, justamente perto do

    Canal Ismailiyeh. E que fazia o carro perdendo-se no outro lado do

    canal? Supe-se que Boabdil Habuz tem l uma casa, ou

    armazm... Mas ainda no o localizamos exatamente. Como isso possvel?

    Bem... No sei se voc conhece as peculiaridades deuma cidade rabe. Nessas vielas tudo engana. De repente,no se pode seguir adiante; ou, ao contrrio, quando sepensa que no h sada, surge uma passagem que leva auma rua relativamente ampla; h escadas que sobem eescadas que descem, escadas que no levam a lugar

    nenhum... H portas mnimas, atrs das quais voc podeencontrar uma casa de enormes dimenses, grandescorredores, derivaes para todo o quarteiro... por assimdizer; h portas grandes que nos sugerem uma grande casa,e uma vez transpostas s se v um aposento, ou um ptio...No fcil encontrar algum nesses lugares.

    Eu sei. Estive em Alexandria no faz muito tempo1

    .Mas parece-me que um carro deve ser mais fcil deencontrar, no acha? Olhe... Tivesse sido eu oencarregado de procur-lo, admitiria que por pura inpciame extraviasse nessas intrincadas vielas. Mas o encarregadodisso, at que teve de ir esperar voc no aeroporto, foi

    Karfa. Ele tem quarenta anos e nasceu no Cairo, de onde

    1(ver PLANO DE INVASO)

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    nunca saiu. Se Karfa no encontrou esse carro, imaginecomo a coisa estar difcil.

    Bem. Vejamos: Romano sal de Roma seguindoStanley Perkins, o qual esteve em contato com Rossano

    Merletti, o qual parece que atualmente trabalha para umpas que desconhecemos. Stanley Perkins chega ao Cairoenviado por Merletti e sua espera est um carro depropriedade do egpcio Boabdil Habuz, que em uma loja deartigos para fumantes no Boulevard Halim; o carro depropriedade de Boabdil desaparece numa viela do Bairro

    Bulk, do outro lado do Canal Ismailiyeh, e supomos queesteja agora escondido em algum armazm que Boabdiltenha nessa parte da cidade. Ignoramos a localizao dessearmazm onde provvelmente est o carro, mas temoslocalizados Stanley Perkins e Boabdil Habuz. Okay?

    Perfeito.

    Agora, temos que saber para que Stanley Perkins veioao Cairo, enviado por Rossano Merletti e recebido porBoabdil Habuz.

    Exato. Comearemos Imediatamente. Onde bateu esta foto

    de Perkins?

    No aeroporto. Se vai perguntar se bati tambm dosdois homens que mataram Romano, direi que sim. Veja-as.No so muito boas, pois as bati quando j estavamentrando no carro.

    Brigitte tomou as fotos. Eram trs, e em todas elas viam-se os dois homens, vestidos europia, de branco. Um deles

    usava um fz. Parecem egpcios... murmurou Baby. No os tornou a ver?

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    No. Certamente, ignora seus nomes. Certamente. Mas... batizei-os. Chamo de X o que usa

    o fz, e de Z o outro. Karfa o sabe, e se vir algum deles me

    avisar quando for oportuno. Embora, devido mqualidade das fotografias, talvez lhe seja difcil reconhec-los...

    Eu os reconhecerei to logo os veja disse Brigitte. Pode estar certo disso, Johnny. E quero fazer-lhe umapergunta, que espero ter uma resposta convincente.

    J sei. Vai perguntar-me por que no ajudei Romano. Com efeito admitiu Baby. uma pergunta que j estava esperando,

    naturalmente. Mas pareceu-me que a formulariam deWashington. Ao invs disso, mandam voc...

    H um motivo multo poderoso para que me tenham

    enviado ao invs de perder tempo com perguntas, Johnny.Em primeiro lugar, teme-se que se esteja tentando algumassunto de importncia no Cairo e, portanto, a agenteBaby parece indicada para nele meter seu delicado nariz.Em segundo lugar, parte-se do princpio de que sou capazde descobrir a verdade ou a mentira numa explicao. Em

    terceiro lugar, e isto fundamental, em Washington sabemque se h alguma coisa que realmente me instigue a umtrabalho feroz, com todas as minhas foras, o assassinatode um de meus companheiros. Segundo parece, emWashington esto convencidos de que, em se tratando devingar um agente da CIA, Baby no falhar jamais.

    Foi-lhe sugerido que eu posso ser um traidor? Eu no necessito de sugestes de ningum, Johnny.Por que no ajudou Romano?

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    Eu lhe explicarei: quando aqueles dois homens, X eZ, comearam a cravar-lhe suas navalhas, eu estava a maisde trinta passos. No podia, portanto, chegar a tempo deimpedir nada. Se utilizasse o revlver, talvez pudesse salvar

    a vida de Romano, mas, indubitvelmente, tanto este quantoeu seramos capturados pela Polcia egpcia. Provavelmente,Romano, j com duas ou quatro navalhadas nos rins,morreria do mesmo modo, enquanto que eu teria que darmuitas explicaes aos egpcios. Enquanto isto, aindasupondo que eu tivesse matado X e Z, Stanley Perkins

    escaparia... a menos que eu o matasse tambm, coisa queno interessava. Vejamos agora de outro ponto de vista:Romano estava condenado morte... Talvez vivesse umashoras ou uns dias mais. Gostaria que voc tivesse vistoaquelas navalhadas... Ento, se Romano ia morrer domesmo modo, pareceu-me melhor deixar Stanley partir

    convencido de que tudo estava solucionado, e que jningum o vigiava. Espero que esteja entendendo, Baby:Romano ia forosamente morrer. Se eu interviesse,estragaria tudo, j que Stanley Perkins se poria em guarda, eX e Z tambm. E se matasse os trs, pior para o trabalhoque Romano tinha comeado. Portanto, dominei a vontade

    de sacar o revlver e permaneci como mais um espectador,assombrado... enquanto sabia que Katfa seguiria o carro.Parece-lhe uma explicao convincente?

    Brigitte havia tirado os culos de sol e, durante todo otempo, mantivera os olhos fixos nos de Johnny. Quandoeste terminou a explicao e fez a pergunta, ela se limitou a

    replicar: Parece-me uma explicao bastante lgica. Mas no convincente?

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    Bastante convincente, na verdade. Ento...? Iremos adiante, voc e eu. Houve alguma dificuldade

    a respeito do cadver de Romano?

    No. A Polcia egpcia ps-se em contato com aEmbaixada Americana em Roma e o corpo ser enviadopara l, de onde seguir para os Estados Unidos. Para todosos efeitos, Romano era um pintor americano adepto dadolce vita em Roma, o que talvez lhe tenha granjeado nopoucas inimizades. As aparncias foram bem resguardadas.

    Estimo saber. Agora vamos dedicar-nos a StanleyPerkins.

    De dia ser um pouco perigoso mover-se pelo BairroBulk... No sentido de que podero ver-nos com maisfacilidade, entende-se. Quanto a ir l noite, algoconsiderado como cinqenta por cento de um suicdio. Isso,

    alm do fato de que uma mulher tem para perder algo maisque a vida.

    Compreendo sorriu friamente Brigitte. Mas nose preocupe por mim, Johnny: h anos que aprendi acuidar muito bem de minha pessoa... em todos os sentidos.Gosto de viver e fao todo o possvel para preservar minha

    vida, sem nada que a perturbe. No h em todo o BairroBulk um s homem capaz de conseguir de mim o que euno esteja disposta a entregar-lhe.

    Johnny ergueu as sobrancelhas, quase divertido. Bem... Espero que no acontea nada, de qualquer

    modo.

    Voc e Karfa continuem procurando o carro deBoabdil Habuz. Quando for descoberto o esconderijo, avise-me pelo rdio.

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    Enquanto isso, voc se ocupar de Habuz e Perkins? Para qu? Durante o dia, deixaremos voar livremente

    esses pombos. E noite, buscaremos um modo de apanh-los numa armadilha.

    No ser to fcil como voc supe alegouJohnny.

    Nesta vida, amigo, s h uma coisa relativamentefcil: morrer, O resto sempre d um pouco de trabalho. Ecomo estamos aqui para trabalhar, o problema no existe:Okay?

    CAPTULO TERCEIROGim com tnica e hips em profuso

    Afinal, os que falam podem ser ouvidosRebeldia de um Johnny

    Stanley Perkins ergueu a cabea, vivamentesurpreendido, olhando para a formosa jovem que lhe fizeraa pergunta:

    Sim, com efeito... Sou norte-americano... Dos Estados Unidos? Mas sim quase sorriu. Dos Estados Unidos,

    claro. E verdade que tambm jornalista? Tambm... Hurra! Posso sentar-me com voc? Mmm... que eu...A jovem apoiou, uma das mos na mesa, enquanto com

    a outra continuava segurando com no muita firmeza o copo

    de gim-tnica excessivamente carregado de gelo... e de gim.Seus magnficos olhos azuis revelaram angstia.

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    No me diga que no... gemeu. MisterStracy,no me diga que no, suplico-lhe...

    Stanley Perkins... esclareceu este. No Stracy...Stanley Perkins. No se sente bem, miss?

    Muito bem replicou ela, com um hip, quasechorando infantilmente. Sobretudo agora, que ouoalgum falando de um modo que posso compreender,porque... hip! Perdo...

    Perkins olhou o copo que ela mantinha na mo oscilante,depois ao redor de si, um tanto inibido e no pouco

    preocupado com a impresso que aquela garota estavacausando no bar do hotel.

    Acho melhor que se sente... tentou sorrir. Parece estar precisando disso.

    Ela se deixou cair numa cadeira, diante dele. Ergueu ocopo e olhou para Perkins atravs do seu transparente

    contedo, sorrindo como se estivesse multo feliz. Sempre disse: onde h um rapaz dos Estados Unidos

    tudo tem que ir bem... Acredita- que h menos de vinte equatro horas cheguei ao Cairo e... hip!... j estou cheia detudo isto?

    Sem inteno de ofend-la, creio que est cheia de

    gim... Sente-se bem, realmente? Me sinto como uma rainha... hip!... que acaba deencontrar seu trono. Voc sabe por que existe o Egito?

    Stanley Perkins ficou um tanto estupefato. Coou a nucae acabou por tornar a sorrir.

    Suponha que por um desgnio dos faras.

    Os faras... !Bah!Hip!Perkins desta vez riu mesmo. Qual o seu problema? perguntou.

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    Pois um problema bastante bobo... Meu problema falar unicamente ingls... hip... Ah, quando meu chefequiser enviar-me a outro lugar fora dos Estados Unidos, lhedirei... Voc conhece meu chefe?

    Receio que no... um tipo alto de cabea grande, olhar inteligente,

    uns quarenta e cinco anos... hip!... e manda nesse malditojornal chamado Morning News...

    Voc de Nova Iorque? Acertou! Sabe o que direi ao meu chefe?

    Que lhe dir? Que v ele ao Egito, ou aonde quiser... Sabe aonde

    me mandou uma vez? Aonde? sorriu Perkins. A Hong-Kong!Morou? Hong-Kong! Um lugar onde

    s tem chineses, gente de cor amarela, com chapus em

    forma de abajur e rabicho, e que vo de um lado para outropuxando umas geringonas de nome muito engraado...

    Jerinxs? Isso mesmo... Jerinquixs. Quando me mandou l,

    disse que me fazia um favor, que eu ia conhecer o mundo...O sujo!

    Perkins tornou a rir. Parece que bebeu um bocado, miss... Montfort. Brigitte Montfort, enviada ao Cairo para

    ouvir uma falao desse Nasser... Cheguei esta noite, jestou farta deste lugar, fui portaria e perguntei se haviaaqui pelo menos um americano com quem pudesse falar de

    coisas bonitas. E me disseram: L est o mister... hip!...Stanley Perkins que tambm americano e jornalista... E

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    ento, meu quinto gim e eu viemos a esta mesa...Incomodamos?

    No...Hip!

    Como disse? Disse obrigada. Voc tambm velo ouvir o Nasser? Com efeito. Que viagem comprida, hem? Morre-se de chatice

    num avio que s sabe voar, voar... Seria fatal que fizesse outra coisa, miss Montfort. Se

    aceitasse uma sugesto... Qual? No beba mais gim. timo. E que outra bebida me aconselha? Bem... Creio que um pouco de caf seria interessante.Hip! Caf antes do almoo? Voc sdico, Perkins!

    Talvez aceitasse outra sugesto menos sdica riu osardento americano. Um bom almoo, depois duasxcaras de caf, e depois uma boa sesta.

    Nem me fale nisso, querido! Quando eu despertasse,voc teria virado fumaa. E ento, com quem poderia falareu? Voc entende o rabe?

    Nem uma palavra. Tal como... hip!... eu. portanto, no conseguirescapar de mim!

    Nem mesmo hora da sesta? Ah! Vejo que malandrinho, hem? Mas no importa.

    Almoamos juntos, ento?

    E a sesta? Detesto sestas... Sempre se sua muito. De noite, sim,tudo vai muito bem. No est de acordo comigo?

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    Pensarei sorriu Stanley perkins. Por enquanto,almoamos juntos. Depois... veremos.

    Posso tocar em voc? Como...?

    Quero ver mesmo se americano... Diga comigo:Viva o Tio Sam!

    Viva o Tio Sam! riu perkins.* * * Viva o Tio Sam! Viva ecoou Perkins. Acho que o caf no fez

    muito efeito... Pois se engana: estou com um sono danado. Viva...

    hip! ... o Tio Sam!Stanley Perkins abriu a porta da sute de Baby e

    ajudou-a a entrar. Fechou, passou um brao dela por seuombro e amparou-a at o quarto. Deixou-a cair na cama e

    contemplou-a simpticamente. Pra onde... hip!... me trouxe? Para o quarto. O seu. Estamos na cama? Voc est. Sou um cavalheiro. Comeu pouco e bebeu

    muito... mas eu sou um cavalheiro...

    Uma atitude... hip!... muito digna. Sabe algum verso? Verso? Isso que se chama poesia. Bem... No sei... No momento... Qualquer verso, querido... hip!... Stanley. Qualquer... Vejamos. Talvez eu consiga lembrar-me de algum...

    Este, por exemplo... Mmm... Geme o vento de maro,trazendo a morte em suas asas... Brigitte! Hei, Brigitte!

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    Um ressonar cadenciado foi toda a resposta obtida porStanley, que sorriu e coou a nuca. Depois foi janela ecorreu a cortina, deixando o quarto mergulhado empenumbra. Regressou para junto da cama. Durante uns

    segundos, contemplou o lindo rosto da jovem adormecida.Sbito, inclinou-se sobre os ternos lbios entreabertos ebeijou-os. Instantaneamente, os braos de Babyenlaaram-lhe o pescoo e seus lbios retriburamcalidamente o beijo. A presso foi to forte, que Perkinsesteve a ponto de cair sobre ela. Conseguiu tirar aqueles

    braos do pescoo, e uma vez mais contemplou a deliciosacriatura. Uma das alas de seu vestido estival tinhadeslizado e parte do peito ficara a descoberto. A carneparecia ncar, iluminada por uma luz interna, demaravilhosa tonalidade rseo-dourada.

    O americano assobiou baixinho e meteu um dedo no

    colarinho de sua camisa, para afroux-lo.Decididamente, a menos que quisesse complicar as

    coisas, o melhor que podia fazer era retirar-se a toda apressa. Pareceu que ia beijar mais uma vez aqueles doceslbios, mas optou por sair dali.

    Deteve-se porta do quarto.

    Bem... Talvez dentro de poucos dias, quando tudoestivesse resolvido, ele tivesse outra oportunidade com abela adormecida.

    Segundos depois, abandonava a sute. E, apenas fechavaa porta desta, a adormecida despertava, apanhava sua bolsa,que ficara sobre a mesinha de cabeceira, tirava os cigarros,

    acendia um e permanecia pensativa alguns segundos.Depois, o rdio. Johnny?

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    Diga, Baby. Como vo as coisas? Parece que bem. Karfa encontrou uma pista. Espero

    que chegaremos ao carro de Boabdil Habuz e, portanto, ao

    esconderijo que Stanley Perkins visitou. Mantenha-me ao corrente. Claro. Que est fazendo agora? Dormirei a sesta. At logo.Fechou o rdio, sentou-se na cama e acabou de fumar o

    cigarro. Depois foi ao armrio, sacou a maleta vermelha e

    tirou desta o receptor do microfone que tinha colocado antesdo almoo na sute de Stanley Perkins. Apertou o boto derecepo, de modo que tudo quanto tivesse som naquelasute chegaria at ela. Mas nada chegou. Absolutamentenada.

    Fechou o receptor, fechou os olhos e adormeceu

    imediatamente, como uma menina.* * *As sete da tarde, a bela norte-americana tinha j tomado

    trs martinis no bar do hotel. E a todo momento seusbrilhantes olhos azuis olhavam para a porta do bar. Pareciaprofundamente decepcionada.

    As sete e meia, levantou-se bruscamente e foi ao toaletede senhoras. Entrou, certificou-se de que l no havianingum e ento tirou da bolsa o rdio, admitindo ochamado.

    Que h, Johnny? Algo interessante. Recebi notcias de Roma: Rossano

    Merletti desapareceu. Como desapareceu?

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    Desapareceu. Naturalmente estava bem vigiado pelosnossos companheiros de l. E de repente, no foi mais visto.

    Mas... no se pode desaparecer assim. Ter deixadoalgum rastro...

    Nenhum. Bem. Foram investigados os aeroportos? Est sendo feito Isso. Claro que no saiu pelo

    aeroporto Fiumicino. Pelo menos, no com o nome deRossano Merletti. Pode utilizar vrios nomes, lgico...No esqueamos que est fichado como investigador

    particular. No to particular, se est trabalhando para algum

    pas. Devem pagar-lhe bem por determinado trabalho.

    Evidentemente, tal trabalho tem relao com a vinda deRomano ao Cairo, e a de Stanley Perkins. Tudo tem que

    estar ligado, forosamente. Em cujo caso, mais que possvel que Merletti esteja

    a caminho do Cairo. Assim penso eu. Talvez fosse conveniente vigiarmos

    o aeroporto. Se saiu de Roma, deve ter recorrido a um meiorpido, para chegar o quanto antes ao seu destino.

    O Cairo, claro. Certamente dispunha de um avioparticular... Voc ainda mantm contato com Roma,Johnny?

    Posso consegui-lo quando quiser. Chame Roma. D ordem para que todos permaneam

    em seus postos. Que penetrem na residncia at agora

    ocupada por Merletti e que... Isto j foi feito. E encontraram algo... surpreendente. Surpreendente?

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    Uma fotografia de Gamal Abdel Nasser. Uma fotografia de... No compreendo. Suponho que saiba o que uma fotografia, Baby. Ora, vamos, Johnny...

    Na residncia ocupada por Merletti, encontrou-seuma fotografia de Nasser. Uma fotografia de tamanhonatural. Isto , nas exatas propores do governante egpcio.Estava rasgada em mil pedaos e haviam tentado queim-lacompletamente.

    Mas no estava Completamente queimada.

    No. Talvez no seja de Gamal Abdel Nasser... dele. Sem a menor dvida, Baby. No sei se entendo isto... Um italiano tem a fotografia

    cio general Nasser em tamanho natural, queima-a edesaparece... E esse mesmo italiano est em contato com

    um egpcio chamado Boabdil Habuz, com um jornalistaamericano chamado Stanley Perkins... Voc entende algumacoisa, Johnny?

    Confesso que no. Claro que tudo Isso cheira aespionagem, mas no consigo perceber a jogada. Umitaliano, um americano, um egpcio, a foto em tamanho

    natural de Nasser... Sinto multo, mas no me ocorre nada. Ano ser que Merletti, fervoroso partidrio do general, aoabandonar sua residncia tenha tentado ocultar isto,queimando sua fotografia. O inegvel que tentou desfazer-se dela.

    ainda mais surpreendente o fato de que a Possusse.

    Que pode importar Nasser a um espio profissional comoMerletti?

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    Talvez ele no seja italiano, mas egpcio, e estivessedesempenhando alguma misso em Roma.

    possvel. Mas duvido muito que um egpcio emmisso secreta na Itlia cometesse a tolice de ter em sua

    residncia uma fotografia em tamanho natural de Nasser. Certo. Bem... Na verdade, no compreendo. Continue em contato com seu amigo Karfa. Eu

    continuarei ocupando-me de Perkins. Mais tarde ou maiscedo, ter que voltar a essa viela do Bairro Bulk e ento, oseguirei. Estou convencida de que l estaro tambm o

    egpcio Boabdil Habuz e o italiano Rossano Merletti. Se voc, seguindo Perkins, encontrar essa viela antes

    que ns, avise-me. Assim farei. At logo, Johnny.Fechou o rdio, guardou-o na bolsa, saiu do toalete e

    voltou mesinha no bar do hotel, com o ar de uma

    estupenda moa americana que se aborrecessetremendamente. hora do jantar, seu aborrecimento era defato lamentvel. Jantou sozinha, recusou o caf e, emcompensao, pediu que mandassem sua sute uma garrafade champanha bem gelado, em seu correspondente balde.

    Mas antes de retirar-se sua sute, perguntou por

    Stanley Perkins na portaria. Mister Perkins est descansando. Deu ordem que noo incomodassem. Parece que est um pouco indisposto.

    Oh... Bem, voc sabe falar Ingls... Que tal seconversarmos um pouco, amigo?

    O egpcio procurou sorrir cortesmente.

    Lamento, mas estou muito ocupado, miss Montfort.Talvez em outra ocasio...

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    Claro. Em outra ocasio... Que no esqueam minhagarrafa de champanha.

    No ser, esquecida. Mas, se me permite umasugesto amistosa...

    Permito-a, meu amigo, permito-a de todo o corao. Creio que devia retirar-se para descansar.

    Guardaremos sua garrafa de champanha, para... Que espcie de servio h neste hotel? Pedi uma

    garrafa de champanha, e quero uma garrafa de champanha.Est claro?

    Ser servida imediatamente. Assim est melhor... Sim, meu amigo, muito

    melhor... Pobrezinho do Stanley, est dodi...O encarregado da portaria olhou com sarcasmo

    contundente aquela deplorvel amostra das cidads norte-americanas. Possivelmente, teria ficado perplexo se visse a

    tal cidad americana, logo aps entrar em sua sute, muitofirme sobre os lindos ps, recorrer ao receptor. No se ouviaabsolutamente nada. Isto fez com que suas sobrancelhas secontrassem, j que, estava claro, na histria da indisposiode Perkins no seria ela quem acreditaria.

    Olhou as horas. Nove e vinte da noite. Uma fotografia

    em tamanho natural de Abdel Nasser. No era intriganteaquilo? No Cairo eram vistas por toda parte. Possivelmente,em todas as cidades do Egito. Mas... por que uma fotografiado dirigente egpcio numa residncia em Roma? E por quefora queimada?

    A batida na porta quase a sobressaltou. Era o camareiro

    de servio trazendo-lhe o champanha. Deu-lhe uma gorjeta,despediu-o e voltou para junto do receptor, com a bandejana mo. Deixou-a sobre a cama, destampou a garrafa e

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    serviu-se de uma taa. Esperaria mais uma hora. Somenteuma hora mais. Se at ento o silncio persistisse na sutede Stanley Perkins, teria que entrar l por seus prpriosmeios.

    * * *Por volta das dez horas, j na metade da segunda taa,

    ouviu o som de uma batida pelo receptor. Aproximou-seimediatamente do aparelho.

    Ouviu as tnues pisadas. Depois, a voz de Perkins, algodistante. No pode entender o que dizia. Mas, felizmente,

    ele voltou ao quarto e, ento, pode ouvir sua voz com toda aclareza:

    ... algum contratempo? Nenhum, Perkins. Est claro que a CIA me vigiava

    atentamente, mas tudo estava calculado e planejado;consegui engan-los com bastante facilidade. Embora para

    ser sincero eu declare que prefiro cruzar o Mediterrneonuma linha regular de passageiros que um avio particular.J viu Boabdil Habuz?

    Claro. Houve uma contrariedade minha chegada... Era de esperar, j que um agente da CIA acompanhou

    voc. Mas entendo que o incidente foi solucionado, no

    assim? Exato... de um modo algo brutal. Tem razo. Mas voc vai ganhar com isto um milho

    de dlares. No sei se voc pensou no que representaexatamente esta cifra, Perkins; um milho de dlares. Comesse dinheiro posto num banco da Sua, voc pode passar o

    resto de sua vida como um nababo nos melhores lugares daEuropa: Nice, Capri, Palma de Malorca, Roma, Cannes,Saint Moritz ou Cortina dAmpezzo, Paris, Viena, Madrid...

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    A Europa sua disposio! Suponho que no est pensandoem desistir, Perkins.

    Claro que no! Bem. J recebeu o convite oficial para a Conferncia

    de imprensa? Ainda no. Mmm... Espero que a guerra no se adiante a nossos

    planos. Se rebentar de imediato, possvel que Nassersuspenda essa conferncia. E isto no nos convm. Jpraticou com a cmara fotogrfica?

    Ontem noite. Parece que no multo difcil. No se fie muito. Tenha em conta que o treinamento

    no a mesma coisa que a situao real. Eu sei, eu sei. Olhe, Merletti, no que me importe,

    mas... quem me paga para fazer isto? No disse que no lhe importa? Pois no pergunte.

    Voc tampouco pergunta? Tampouco. Pagam-me bastante bem para que a

    questo me seja indiferente. Encarregaram-me de umtrabalho, recrutei os homens mais apropriados, pago-osesplendidamente, tudo. Eu sou um espio profissional,Perkins: trabalho para quem melhor me paga. Esta vez o

    preo merece que eu arrisque o pescoo. E o mesmo pensouvoc, quando o contratei em Roma,, J lhe disse que no mudei de opinio. timo! Est bem instalado? Alguma coisa no vai

    como deveria? Quero que tenha sempre presente que asmelhores organizaes de espionagem, como por exemplo,

    a CIA, podem estar atrs de ns. Acho... acho que tudo vai bem.

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    Ningum o incomodou? Ningum o vigia, ou seaproxima demasiado de voc? No suspeita nada deningum, Perkins?

    No... Bem, uma moa americana falou comigo hoje.

    Disse... Uma americana? Quem ? Onde est? Chama-se Brigitte Montfort e hspede deste hotel;

    ocupa a sute 39. S sabe falar ingls e est detestando oCairo. Quando soube que eu era americano, agarrou-se amim como carrapato. Queria inclusive que eu dormisse a

    sesta com ela. Que veio fazer no Cairo? Oh, trabalha para o Morning News de Nova

    Iorque... Tem certeza de que existe este jornal? Claro que tenho! E depois, lembrando nosso

    encontro, seu nome veio minha memria... Com efeito, oMorning News publica artigos assinados por BrigitteMontfort; uma jornalista de grande capacidade e vastoprestgio nos Estados Unidos.

    Sobre que costuma ela escrever? Bem... Sobre tudo. Reportagens especiais, quase

    sempre... Matria poltica? s vezes, sim... Costuma comentar fatos de

    ressonncia internacional, e geralmente est muito beminformada. Conhece o assunto sobre o qual escreve... Vezpor outra, surpreende o pblico e toda a imprensa americana

    com um artigo sensacional... Sobre espionagem, talvez?

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    Bem... A verdade que esses artigos so muito ricosde detalhes, mas j lhe disse que ela est sempre beminformada. Entendo que viaja com freqncia, mas no sesente muito satisfeita com isso... E ento afoga seus

    aborrecimentos com gim-tnica. Estudaremos mais detidamente essa Brigitte

    Montfort.,. Nada mais? Nenhum outro detalhe digno de sertomado em conta? Lembre-se que nosso xito dependeexclusivamente do elemento surpresa. Se esta faltar, sepusermos algum em guarda, tudo ir mal... E voc no

    chegar, a cobrar o seu milho de dlares, Perkins. Por minha parte, tenho feito tudo quanto...Brigitte apenas conseguiu reter um grito de sobressalto,

    quase de raiva, quando o rdio emitiu um zumbido dechamado. Respondeu de um modo brusco:

    Estou ocupada, Johnny!

    Espere! Karfa encontrou o carro de Boabdil Habuz.Est num...

    Est bem, est bem... Eu chamarei voc dentro dealguns minutos, Johnny.

    Mas temos esse esconderijo a nosso alcance! Almdisso, parece que fcil penetrar nele... E se voc achar

    pouco, lhe direi que Boabdil Habuz entrou l, Baby, nofaz nem um minuto. No acha que seria interessante tentarouvir o que ele vai dizer?

    Pois tente. Mas deixe-me em paz at que eu torne acham-lo. E no faa nada sem minha autorizao.

    Voc est falando srio? perguntou Johnny.

    Completamente. Saiba voc... Saiba voc, Baby, que tambm vi X e Z, os doisque mataram Romano diante de meus olhos. Quanto s suas

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    ordens, ser bom para voc que, pelo menos uma vez, umde seus companheiros de misso lhe diga que pouco estligando para elas. Ciao!

    Johnny... Johnny! No seja estpido. Tenho sob

    meu controle... Johnny!Compreendeu que no receberia resposta, pelo que

    passou a escutar novamente a conversa entre StanleyPerkins e Rossano Merletti na sute 17, coisa naturalmentemuito mais interessante

    CAPITULO QUARTOEvoluo da tcnica de espionagem

    Johnny em apurosDeciso total, audcia

    Era Rossano Merletti quem estava falando ento:... qualquer modo, ser, melhor que pratique em

    descanso, Perkins. Mas o processo verdadeiramente simples. O truque

    da fotografia no pode falhar. ... quase diablico. No ser to fcil como ns pensamos. Quanto mais

    forem feitos esses ensaios, mais probabilidades teremos desucesso.

    Ora, trata-se apenas de bater uma foto do generalNasser... Ningum poder suspeitar nada. Seremos talvezduzentos ou trezentos fotgrafos de jornais do mundointeiro. J pratiquei com as fotografias e, na verdade, oplano me parece infalvel. Por que voc tanto se preocupa?

    Perkins: alguma vez j se dedicou espionagem,

    antes? No...

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    Pois a esta. Neste mundo estranho dos espiesacontecem coisas inexplicveis. Por exemplo, um fato queocorra a menos de cem metros de distncia pode passardespercebido de um espio... No entanto, esse mesmo fato,

    em menos de cinco minutos, j consta dos Servios Centraisda CIA, ou da MVD. Coisas assim acontecem diariamente.E no esqueamos que a CIA esteve a muito menos de cemmetros de ns. Voc, como americano, no reconhece acapacidade da CIA?

    Acho que h muito de exagero no que se refere

    espionagem. Afinal de contas, os espies so homenscomuns, no super-homens. Tm suas inevitveis limitaesfsicas e mentais.

    Naturalmente! Mas acontece que tais limitaesforam muito reduzidas devido a um intenso treinamento. Hvinte anos, qualquer um podia ser espio... Qualquer suj

    eitinho insignificante era capaz de exercer a espionagem deum modo aceitvel. Hoje, no. Hoje em dia, os espiesrecebem treinamento intensivo em diversas matrias: luta,armas, eletrnica, lnguas, costumes locais, tcnicas desimulao... O que antes s era conseguido por um espionato, valendo-se de seus mritos ou instintos naturais, hoje

    ensinado em academias especializadas. Tudo estorganizado, metodizado, sistematizado. Em cinco minutos,a CIA, o Deuxime Bureau, a MVD ou o MI5 podem porem movimento dez mil agentes em todo o mundo. Isso nose conseguia antes.

    E voc se atreve a lutar contra tudo isso?

    uma questo de experincia. Pois eu no sou nenhum agente experimentado... evoc recorreu a mim, no verdade?

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    Justamente isso prova minha experincia. Se tivesserecorrido a agentes de categoria, com muita probabilidadeestariam sob vigilncia, como eu mesmo estava. Voc foilocalizado precisamente por entrar em contato comigo. Mas

    como tudo estava previsto, pudemos desfazer-nos de seusvigias. Se eu tivesse menosprezado a CIA, a estas horasteria voc em seus calcanhares o homem que tomou omesmo avio em Roma... Compreende?

    Sim... Creio que sim. Entretanto, insisto em que otruque da fotografia to fcil, realmente, que no sei de

    onde poder surgir uma dificuldade... No se trata de que eu esteja espera de qualquer

    dificuldade: apenas desejo impedir que surja. Portanto...O rdio de Baby tornou a soar. O que lhe causou no

    pouca irritao. Ao que parecia, Johnny se propuseraatorment-la, atrapalhando uma das melhores audies

    explicativas que j havia obtido. Johnny, j lhe disse que.. Baby, no... no corte, no... corte... Johnny! Que est acontecendo? Entrei no... no esconderijo de Boabdil Habuz e...

    fomos surpreendidos...

    Karfa e voc? J o mataram... Agora vm para c... Estou perto daporta, junto do carro de Habuz, mas no... no posso abri-la,pois funciona... mecanicamente...

    Diga-me onde est, Johnny! Agora mesmo vou...! No sei explicar... impossvel, com estas malditas

    vielas... Tem que haver algum sinal, para que eu possaorientar-me!

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    Aqui todas as casas so iguais... Pea... auxlio aRoma... Que venham vrios agentes e... procurem perto doCanal Ismailiyeh... Baby, isto ... fantstico! Tudo estcheio de... de fotografias de Nasser em tamanho... natural e

    h um corredor muito longo... Ao fundo, vrias fotos deNasser, colocadas nuns cavaletes... e muito iluminadas...Dois homens tiram fotografias dessas fotografias, sob avigilncia de... de Boabdil Habuz... J esto chegando aqui!

    Johnny, voc tem que fazer um esforo, tem quedar-me uma pista, para que eu v ajud-lo. Tem que...!

    Vou cortar e... esconder o rdio, para que no... queno saibam que fiz... contato com ningum... Adeus,Baby Desejo-lhe... muita sorte...

    Johnny! JOHNNY...Mas, realmente ele tinha cortado a comunicao. Baby

    ficou petrificada, aniquilada. O receptor continuava

    captando as vozes de Stanley Perkins e Rossano Merletti,que ela agora s ouvia como um som vago, sem qualquersignificao.

    Ps-se de p. Plida, inquieta. Mas... aonde ir? Quepodia fazer? Como ia encontrar nos cafunds do BairroBulk um esconderijo que Karfa, um cairota levara mais de

    quarenta e oito horas a localizar, embora tivesseacompanhado carro que por l se perdera?Era absolutamente impossvel Deixou..se cair sentada na

    beira da cama, ainda aturdida pelo impacto que para elarepresentava a morte de um Johnny, de um companheiroque com ela estava colaborando numa misso.

    ... A respeito dessa moa chamada Brigitte Montfortteremos que ocupar-nos dela, discretamente. No gostarianada que ela o estivesse vigiando, Perkins.

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    Vigiar, ela...? Por favor, Merletti. Acho que voc estexagerando as coisas.

    Talvez. Mas at que tudo tenha terminado, nopodemos confiar na mais inocente pessoa que de ns se

    aproxime embora seus motivos, aparentemente, estejambem justificados. E se... o que isso?

    Um chamado pelo rdio que Boabdil Habuz me deuontem explicou Perkins, atnito.

    Bem... Que espera para responder? Oh... Ele disse que o telefone no interessava

    porque... Responda! Sim, imediatamente...Brigitte deixou de ouvir as vozes e, ento, pode escutar o

    suavssimo zumbido do rdio, que logo cessou. Chegou-lhea voz de Stanley Perkins, tensa, nervosa:

    Sou... sou Perkins... Quem est ai? Oh, sim, senhorHabuz... Sim, ele chegou... vamos falando sobre... Sim,escuto... Sim, sim... No! No, no... Quero dizer que no possvel... Cla-claro... Sim, compreendo... Compreendo...Vou dizer-lhe agora mesmo... Houve uma breve pausa;depois, novamente a voz de Perkins: Era Boabdil Habuz,

    Merletti. Disse... que dois homens entraram no corredorpelo pequeno respiradouro que d para o ptio e que... e quemataram um, que parece egpcio. E que capturaram o outro,que est ferido e... e parece que ... norte-americano...

    Brigitte ouviu perfeitamente a exclamao de RossanoMerletti, depois sua voz tensa, vibrante:

    Est vendo, Perkins? Esse homem pode muito bemser da CIA, se americano! Isto nos coloca numa situao

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    verdadeiramente difcil! Malditos sejam todos vocs,inteis...!

    Mmm... Boabdil Habuz disse que seria convenientevoc ir l, se deseja interrogar o prisioneiro ferido. Disse

    que talvez ele esteja sozinho e que ter descoberto oesconderijo por casualidade, inesperadamente...

    Imbecis!... Por casualidade? Com quem pensamvocs que estamos tratando? Vista-se imediatamente:iremos os dois ver esse prisioneiro! E observe-o com amxima ateno, tentando lembrar-se se j o viu perto de

    voc, s ou acompanhado por algum... Vamos, tire esseestpido pijama e ponha qualquer coisa!

    Sim, imediatamente..Baby desligou o receptor, guardou tudo rpidamente,

    correu ao banheiro e esvaziou quase toda a garrafa dechampanha no lavatrio. Depois, apanhou a taa e dirigiu-se

    a toda pressa para a porta de sua sute.As ms notcias, deve-se fazer frente com deciso total,

    com audcia.

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    CAPTULO QUINTOO recurso alcolico

    Um perigoso labirinto rabeDesarmada

    Vamos Depressa! Tenho O carro embaixo.Poderemos chegar l em poucos minutos...

    Stanley PerkinS olhou para Merletti, enquanto vestia ascalas.

    Tem um carro? Estava minha espera no aeroporto, naturalmente.

    Que est pensando? J lhe disse que tudo foi bemcalculado... menos isto! Tenho que saber se esses doishomens conseguiram localizar-nos trabalhando isolados, ouse fazem parte de uma rede na qual nos apanharam...

    Voc disse que tudo era seguro... Por minha parte, era! Mas voc deve ter cometido

    algum erro, Perkins! Eu no... Estou certo de que seguiram seus movimentos no

    Cairo... S assim tero podido encontrar o esconderijo deBoabdil Habuz!

    Talvez tenham vigiado a ele... Talvez. Est pronto?Perkins meteu a fralda da camisa nas calas de qualquer

    maneira, colocou a gravata no pescoo e apanhou ocasaco... no momento em que se ouvia a batida na porta.

    Um revlver apareceu imediatamente na mo direita deMerletti, enquanto Perkins empalidecia e ficava imvel.

    Aps uns segundos de tenso, a batida repetiu-se. Perkins

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    olhava assustado para Merletti, cuja expresso era agoracruel, fria.

    V ver quem murmurou o italiano. Mas se forem da CIA...

    No diga mais tolices. A CIA no se daria ao trabalhode bater se soubesse que estamos aqui: nos esperaria l forapara caar-nos como ratos, ao sair. Veja quem e despacheimediatamente.

    Bem... Mas se estiverem armados... Eu estarei aqui para proteg-lo. V abrir.

    Stanley Perkins saiu do quarto, ainda plido,absolutamente inseguro de si mesmo. Deteve-se diante daporta, clareou a voz e perguntou:

    Quem ? Abra, querido! Venho cuidar de voc.Hip!Perkins voltou-se para Merletti, que estava no limiar do

    quarto. ... a tal miss Montfort... E parece que tornou a

    encher-se de gim... Mande-a embora sussurrou Merletti. Perkins

    assentiu com a cabea. Brigitte, por favor, v descansar... No estou

    passando bem... Eu... hip!... sei. Por Isso mesmo venho cuidar devoc. E assim poderemos bater um... hip!... papinho...

    V, embora, por favor. Amanh nos veremos. No me afastarei daqui! Voc um... bip!... mal-

    agradecido Mas no vou embora assim...

    Eu j estou melhor, Brigitte. Bastante melhor... Ento, tomaremos champanha! Viva o Tio Sam! Amanh... Amanh, Brigitte, por favor...

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    No quer deixar-me entrar? Esta noite, no. Pois... hip!... me sentarei em sua porta e daqui no

    arredarei at que... hip!... at que voc me receba. J estou

    sentando...Ouviu-se um baque surdo no cho. Depois, um tilintar

    de cristal, seguido de dois hips!. Stanley Perkins voltou-se novamente para Merletti, com expresso desesperada.

    Abra disse Merletti, frio. Mas...

    Abra!O americano abriu a porta e contemplou Brigitte,

    sentada no cho com as pernas cruzadas; defrontando aporta. No estava tomando gim, mas champanha Tinha umagarrafa na mo direita e uma taa na esquerda. Ao abrir-se aporta, ergueu a cabea, sorriu alegremente e brindou:

    Viva o Tio Sam!Tomou o contedo da taa de um trago. Perkins viu a

    garrafa vazia e mordeu os lbios. Olhou para ambos oslados do corredor, mas no havia ningum. Inclinou-se esegurou Baby pelo brao, ajudando-a a levantar-se.

    Ser, melhor que entre, Brigitte...

    Voc ... muito mau, Stanley... Sim, sim... Entre...Puxou-a para dentro da sute e fechou rpidamente a

    porta. Brigitte lanou os braos ao pescoo, aindasegurando nas mos a garrafa de champanha vazia e a taa.

    Voc ... um simptico americano, Stan... ley. E

    vou... hip!... dar-lhe um beijinho muito gostoso...Deu-lhe. Apertou-lhe os braos com fora e seus lbioscolaram-se aos de Stanley Perkins, que no sabia o que

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    fazer. Ela gemia docemente e, por um momento, ele quaseesqueceu a realidade de sua situao.

    Mas subitamente tirou os braos de Brigitte de seupescoo e afastou-a de si.

    Voc precisa deitar-se disse. Ser o melhor... disso mesmo que eu preciso! Deitar-me! E por isso

    vim, para dormir com o meu querido americano... J denoite, no?

    Sim, mas... Dormiremos juntos, e falaremos e... hip!... e

    brincaremos de dar beijinhos. Mas antes pediremos outragarrafa de champanha. Viva o Tio Sam! Quer que eu...hip!... tire o vestido, ou prefere tir-lo Voc?

    Leve-a para a cama... Viva o Tio Sam! E quero que durma sem demora.

    Morra o Tio... hip!... Sam! No quero dormir. Queropassar toda a noite acordada, conversando com voc ebrincando de beijinhos gostosos...Hip!

    Stanley Perkins no sabia que fazer. Sua belacompatriota no cessava de lanar-lhe os braos ao pescoo,tentando beij-lo. E ele tinha que estar afastando-a

    continuamente, cada vez mais nervoso, olhando para oumbral do quarto. Por fim, suspirou aliviado quandoRossano Merletti, j sem o revlver na mo, aproximou-se.

    No me disse que tinha uma amiga no Cairo, Perkins.Brigitte voltou-se desequilibradamente, a ponto de cair.

    Ficou olhando para o italiano, piscando muito os olhos...

    Ergueu a garrafa, indicando-o. Quem ... esse? tartamudeou.

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    Sou um amigo de Stanley adiantou-se Merletti,sorrindo amvelmente. Se tivesse sabido que ele tinhaum compromisso para esta noite, no viria visit-lo, miss...

    Voc... mais gentil que Stanley.. Montfort... Hip!

    Brigitte Montfort, jornalista americana,., Voc americano? No... Mas, como pode ver, falo bastante bem o

    ingls, no acha? Fala! J tenho dois amigos para falar ingls... Tem

    alguma coisa contra os Estados Unidos? Que me lembre, no sorriu Merletti.

    Ento, diga comigo: Viva o Tio Sam! Viva o Tio Sam! riu ele. Quer que lhe d uns beijinhos, senhor... senhor,,,

    estimado senhor meu amigo? Bem... No gosto de roubar as noivas dos meus

    amigos replicou divertido o Italiano. E Stanley ficaria

    zangado, voc no acha? Stanley um antiptico! Voc simptico! Vamos...

    hip!... mandar o Stanley embora, e voc e eu faremos... Noquer pedir mais champanha estimado senhor meu amigo?

    Tenho uma idia melhor... Possuo uma bonita casinhano muito longe daqui, com um ptio de palmeiras e

    laranjeiras... E duas garrafas de champanha no refrigerador.Aceita o convite? Viva o Tio Sam! Vamos l, estimado senhor meu

    amigo! E passaremos uma famosa... hip!... uma famosanoite!

    Stanley Perkins olhava de um para outro, assustado. No

    compreendia muito bem o que se propunha Merletti, mas,indubitavelmente, ele estava tentando resolver a situao sua maneira.

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    O italiano tirou de Brigitte a garrafa e a taa. Deixaremos isto aqui... E quero pedir-lhe um favor,

    miss Montfort. O... O que quiser, querido estimado senhor meu

    amigo. Vamos sair do hotel os trs, mas teremos que faz-lo

    de um modo... correto. Acha que poder caminhar comnaturalidade, sem chamar ateno? Seria muitodesagradvel que algum pudesse pensar que bebeu alm daconta.

    Muito desagradvel, na verdade...Hip! Desceremos os trs, como bons amigos, e sairemos

    do hotel em silncio. Procure no soltar mais esses hipsto simpticos. .. E no grite mais Viva o Tio Sam... Semdvida, sabe que os americanos no gozam de grandeestima no Egito, atualmente... Podemos sair com passo

    firme e a boquinha calada? Com... com toda a facilidade... timo. Vamos, ento. casinha com laranjeiras e palmeiras...? Exatamente. Viva o...! levou graciosamente um dedo aos

    lbios. Psit! ... No devemos dizer isso. No devemos dizer isso sorriu Merletti. Em marcha. Em marcha! Abram alas! Um, dois... um, dois...!Miss Montfort, por favor... Discrio.Psit! Que ningum grite sorriu infantil- mente

    Baby. Vamos festa, mas sem acordar o avozinho,seno querer vir tambm...Merletti tambm levou um dedo aos lbios.

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    Psit! Vamos festa.Segurou-a por um brao, fazendo sinal a Perkins, que se

    apressou em abrir a porta da sute. Saram Brigitte eMerletti, e Perkins fechou a porta, juntando-se a eles. A

    outro sinal do italiano, Perkins segurou-a pelo outro brao, edesceram os trs juntos a ampla escada de degrausvermelhos.

    Brigitte aproximou os lbios do ouvido de Merletti emurmurou:

    Viva o Tio Sam!

    E ps-se a rir aps tal confidncia, como uma meninaque acabasse de cometer uma travessura. Merlettiadmoestou-a em silncio, ameaando-a com um dedo.

    Psit! fez Brigitte. Silncio...Cruzaram o vestbulo do hotel sem novidade,

    despertando um interesse certamente relativo, j que ela,

    com grande esforo, soube comportar-se devidamente.Uma vez em Sharia Kamel, o italiano dirigiu-se comrapidez para onde tinha deixado seu carro, duas quadrasmais alm.

    Brigitte e Perkins ocuparam o assento traseiro e Merlettitomou o volante. O carro rodou pelo Boulevard Halim,

    diretamente, para o Canal Ismailiyeh, que cruzou porKantaret Abou Leileh, umo ao Bairro Bulk. Em poucosminutos, comearam a perder-se no intricadssimo labirintode vielas, enquanto Baby, alheia a tudo, dedicava-se acantarolar o hino nacional americano, The Star SplanedBanner, a exclamar de vez em quando Viva o Tio Sam e

    soltar algumas risadas. E se fossemos remar no Nilo? props subitamente.

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    Quero que antes veja minha casa respondeuamvelmente Merletti. Garanto que vai gostar...

    Se me enganou e no houver champanha norefrigerador, eu... eu no lhe darei beijinhos gostosos,

    estimado senhor meu amigo...Perkins permanecia sombrio, pensativo. Achava absurdo

    levar Brigitte Montfort ao esconderijo de Boabdil Habuz. Eisto devia significar que Merletti no tencionava deix-lasair jamais... Coisa que, alm de lamentvel em si,preocupava-o pelas repercusses que pudesse ter para ele.

    Vrias pessoas tinham-nos visto sair juntos do hotel... Se elevoltasse e Brigitte Montfort no aparecesse mais, cedo outarde a Polcia egpcia interviria, sem dvida. A nica coisaque o acalmava um pouco era a certeza de que RossanoMerletti devia saber multo bem o que estava fazendo eencontraria uma soluo para tudo.

    Estamos chegando disse o italiano. Que lugar to feio! exclamou Brigitte. aqui

    sua casinha com laranjeiras e palmeiras...? Os bairros rabes so surpreendentes, miss Montfort,

    como logo ir verificar.Em algumas daquelas vielas, o carro passava quase

    roando as paredes; uma ocasio, teve inclusive que descerpor alguns degraus... Vez por outra, uma sombra afastava-sediante do carro, metendo-se no vo de uma porta, paradeixar caminho livre ao veculo.

    Por fim, numa esquina, Merletti parou. Estendeu o braopor cima da porta do carro, chegando com toda a facilidade

    parede. Apertou uma das pedras desta, depois seguiuadiante. A ruela se alargava medida que avanavam, atque, uns cem metros mais alm, sobrava um espao de meio

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    metro pelo menos a cada lado do veculo. Apesar disso,Merletti passou roando a parede da direita. Uma sombraapareceu bruscamente diante deles, com um brao erguido.No se afastou, mas tampouco foi necessrio, pois o carro

    virou para a esquerda e, dois segundos aps, estava noInterior de uma casa. O homem que tinha surgido na ruelaentrou apressadamente, fechou as duas grandes portas demadeira e abriu outra, ao fundo daquela vasta pea, queparecia um curral. Acenderam-se as luzes do carro,Iluminando uma rampa descendente, que foi percorrida em

    poucos segundos. Por fim, o carro parou, junto de uni outrocuja placa de licena estava registrada no crebroprivilegiado de Baby: era o carro de Boabdil Habuz, oque dois dias antes estivera esperando Stanley Perkins noaeroporto.

    O homem que viera abrindo as portas diante do veculo

    chegou correndo, estacou ao lado da abertura e apertou umponto na parede, de modo que a grande porta fechou-se semque ningum a tocasse.

    Bem... J chegamos, miss Montfort, No quer descer? Mas esta no ... uma casinha com jardim... No?

    Estamos... num poro, ou qualquer coisa assim... Garanto-lhe que logo poder ver minhas laranjeiras...Por acaso possui alguma arma?

    Claro que no! Para qu...? Oh, bem... O queconsidera voc uma arma?

    Ora! Qualquer desses artefatos capazes de prejudicar

    outras pessoas. Tem algum? Bom... Tenho uma espcie de brinquedo que mederam, e que me aconselharam a usar no Cairo, porque...

  • 7/28/2019 B053 Lou Carrigan Morte Fotografica

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    porque uma cidade perigosa... Com lugares perigosos,quero dizer...

    Certamente tinham razo. Este, por exemplo, umlugar perigoso... Tenha a bondade de entregar-me a arma...

    com muito jeitinho. Para qu. ..Brigitte emudeceu bruscamente quando Merletti,

    voltando-se no assento, apontou-lhe suapossante automtica, sem deixar de sorrir.

    A arma, por favor?

    Est parecendo que no vai convidar-me para tomarchampanha, estimado senhor meu amigo...

    CAPITULO SEXTOUm torturador dotado de imaginao

    Mergulho na inconscinciaA confisso de Baby

    Levantou a saia, desprendeu a pequena pistola da coxaarrancando delicadamente as tiras de esparadrapo cor decarne e estendeu-a a Merletti, que a recebeu com a moesquerda, sorrindo friamente.

    Talvez esteja equivocada, miss Montfort. possvelque a convide a tomar uma taa de champanha... porque meparece deliciosa quando est... ligeiramente embriagada.Que aconteceu como seu hip? Sumiu?

    Se quer ouvir mais hips, ter que dar-mechampanha sorriu Brigitte. J passaram os efeitos daprimeira garrafa. H tanto tempo que no bebo!

    Claro... Compreendo. Saia do carro, por favor. Vamos tomar champanha?

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    Sem dvida!Saiu do carro, seguida por Perkins. O ltimo foi

    Merletti, que no deixou de vigi-la um instante. StanleyPerkins estava muito plido e parecia que custava a

    recuperar-se da surpresa experimentada ao ver as formosaspernas de Baby... Ou a surpresa fora produzida pelo fatoinesperado de ter ela escondido uma pistola?

    Merletti disse algumas palavras em rabe, e o homemque tinha aberto as portas, aps inclinar a cabea, passou frente deles, acendendo luzes eltricas. Primeiro desceram

    por uma rampa que girava como uma escada de caracol,muito estreita, a ponto de s dar passagem a uma pessoa.Depois, um longo lano de escadas. Um curto corredor.Atravessaram dois aposentos, cheios de ps e teias dearanha. Outro lano de escadas. Uma porta, que o rabeempurrou simplesmente.

    Entraram todos e, diante deles, prontamente acenderam-se muitas luzes, em fileira direita e esquerda, iluminandoprofusamente um amplo passadio, com no menos deoitenta metros de comprimento. Ao fundo desse passadio,vrias fotografias de Gamal Abdel Nasser, governanteegpcio; todas elas em tamanho natural, produzindo a

    estranha impresso de que ele estava ali, repetido vriasvezes, de p, inconfundvel em seu uniforme militar. Asfotografias apoiavam- se a cavaletes e mantinham-se rgidasmerc da notvel espessura do carto em que estavamcoladas.

    A um lado havia uma mesa velha, carcomida. No centro

    do passadio, direita, viam-se duas zonas negras quedeviam ser outras tantas derivaes do mesmo. A esquerda,duas enormes portas, uma das quais estava-se abrindo.

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    Apareceram quatro homens. Dois deles foramimediatamente reconhecidos pela espi da CIA: eram X e Z,como os havia batizado Johnny, ou seja, os dois homensque tinham anavalhado Romano pelas costas, no aeroporto.

    O terceiro era mais ou menos como eles: escuro de pele,com uma barba curta e pouco espessa, vestido de branco, europia. Evidentemente, era da mesma espcie de Z e X, edo homem que abrira caminho ao carro e acendera as luzesante os recm-chegados.

    O quarto homem era mais interessante. Tambm egpcio,

    sem dvida. Alto, slido, espessa barba negra, cabeloslongos, pequenos olhos muito brilhantes, lbios grossos.Vestia-se europia, corretamente, mas no tanto quepudesse dissimular o excesso de banhas. Boabdil Habuz,estava claro.

    Brigitte voltou-se para Merletti com uma expresso de

    autntica perplexidade. Mas... Quem so...? Que... que isto...? Sem dvida, conhece o senhor Boabdil Habuz

    sorriu o italiano. O senhor...? Claro que no! No conheo ningum

    aqui. S Stanley Perkins e voc, mas...

    Meu nome? Rossano Merletti. Tambm no meconhece? No... E no compreendo... Por que havia de

    conhec-los? Olhe, Merletti, no se ofenda, mas estoudetestando este lugar. Quero ir embora...

    Ora, miss Montfort: no pode desprezar assim um

    amvel convite. Por outro lado, no verdade que queriachegar a este lugar? Claro que no! Por qu...?

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    Mmm... Talvez esteja enganado ao seu respeito, missMontfort.

    Em... em que est enganado? Pareceu-me que tinha interesse em no separar-se de

    Stanley Perkins com o nico propsito de encontrar estelugar, j que, reconheo., sozinha, sem o auxlio de seuscompanheiros, no o teria encontrado nunca.

    Que... que companheiros? Os homens que pretende libertar. Temo que um deles

    j esteja morto...

    Brigitte retrocedeu um passo, assustadssima. Um... um morto...? Senhor Merletti, quero sair daqui

    agora mesmo! E se no me deixar... juro-lhe que... quegritarei.

    Pode gritar quanto quiser. Mas atrevo-me a pedir-lheque no o faa. Seria muito desagradvel. No quer ver o

    seu companheiro que ainda est vivo? No... no tenho nenhum companheiro que... que...

    No sei de que est falando! Quero ir embora! E eu lhe peo que venha comigo, Por favor...Indicou o lugar onde estavam esperando Boabdil e os

    outros trs homens. O olhar de Habuz cravou-se com

    terrvel fixidez no decote de Baby, na carne tenra edourada pelo sol de todos os continentes. E um relmpagopareceu brotar de suas pupilas negrssimas.

    Deixaram-na passar adiante de todos. Encontrou-senuma grande pea em que se viam coxins policrmicos nocho e sobre espcies de leitos de pedra talhados na parede.

    No leito da esquerda viam-se papis pequenos, rolos depapel grande, que pareciam fotografias. Deviam ser mais

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    fotografias de Nasser.,. Algumas cmaras fotogrficas ealgunsflashes.

    E no leito de pedra da direita estava Johnny, estendidode costas sobre um grande X feito de tbuas, a cujas quatro

    extremidades estavam amarradas suas mos, seus ps. Elevirou a cabea, olhou-a e permaneceu impassvel...Impassvel a despeito da dor que devia sentir em todo ocorpo aoitado, no rosto sangrento... Era como umaestranha, terrvel mscara lvida, marcada de vergesvermelhos. Os cabelos louros estavam separados em

    mechas grudadas com sangue... No o reconhece? No... no... Meu Deus, isto horrvel! Que... que

    esto fazendo com esse... esse pobre homem? No um pobre homem, mas, conforme acreditamos,

    um agente da CIA disse Merletti. Est certa de que

    no o conhece? No... no creio t-lo visto antes, nunca... Mas est

    to... to sujo de sangue... Meu Deus! Isto deve ser umpesadelo...

    Voc est completamente acordada... E de nenhummodo tonta, segundo me parece. Acha que poderia mudar

    de opinio se visse limpo o rosto desse homem? Mas que no o conheo... No sei... Limparemos seu rosto, de qualquer modo.Deu uma ordem, em rabe, e um dos egpcios saiu

    daquele aposento. Voltou logo depois com um grande jarrode estanho. A um sinal de Merletti, derramou a gua no

    rosto de Johnny. Boa parte do sangue foi lavada pelo fortejorro, deixando mais visveis suas feies, menoshorripilante seu aspecto.

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    E agora?Os olhos cinzentos de Johnny, imperturbveis,

    cravaram-se nos azuis de Brigitte, que moveunegativamente a cabea.

    No... No sei quem . Nunca o vi antes... Juro! Bem... Nesse caso, no se importar que o

    continuemos interrogando. Que... qu...? Interrogando. Perguntando-lhe coisas. Este homem

    entrou pelo respiradouro sob o qual passamos e esteve

    perambulando por aqui. Felizmente, para ns, foidescoberto... Observe que est ferido na perna e nas costas...Nada de muito grave, mas que o impediu de escapar. Dequalquer modo, teve mais sorte que o outro... Onde est ooutro, Boabdil?

    No aposento ao lado, com o rdio e outras coisas.

    Boabdil falava mal o ingls, mas podia sercompreendido. Evidentemente, ele e Merletti usavam esteidioma para que Brigitte se inteirasse do que diziam.

    Traga-o para que miss Montfort o veja... No! gritou esta. No quero ver nenhum morto,

    no...! Meu Deus, meu Deus!

    Bom... Realmente, por que oferecer-lhe to tristeespetculo? Creio que poder presenciar algo muitomelhor... e mais convincente.

    Estendeu a mo e o egpcio Z lhe entregou sua navalha.Merletti aproximou-se de Johnny fez sair a aguda lminae colocou-a apoiada s costas do espio.

    No o conhece mesmo? perguntou. No...

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    A lmina enterrou-se nas costas de Johnny, que apenaspode conter um gemido, retesando-se violentamente. Apalidez de seu rosto aumentou e seu corpo comeou aestremecer, como se vibrasse, com a navalha enfiada nas

    costas. Continua no o conhecendo? No... No!Merletti moveu a lmina dentro da carne de Johnny.

    Sbito, extraiu-a, produzindo um corte deaproximadamente, cinco centmetros, de dentro para fora,

    como se estivesse cortando um cordel dobrado sobre o fioda navalha, Johnny lanou um grito, tornou a retesar-se...e sbito desmaiou.

    Rossano Merletti olhou para Brigitte, que tinhaempalidecido intensamente e olhava o corte, pelo qualescorria sangue abundante. O italiano franziu a testa,

    pareceu hesitar; por fim, disse: Que este homem no morra. Cuidem dele.. Est

    sentindo alguma coisa, Perkins? No... No sei... Estou um pouco nauseado... Precisa ser mais duro. Pensou que se ganhava um

    milho de dlares fazendo coisas fceis e honestas?

    No, no... J imaginava que... Alm disso, voc medisse que tinha que matar Nasser, mas... Apenas tirar-lhe uma fotografia sorriu Merletti.

    melhor que se acostume a falar em cdigo. Isto evitamuitos deslizes. Se prefere sair daqui, pode faz-lo.

    Sim, eu prefiro, se voc no se importa...

    Stanley Perkins saiu do recinto para o grande passadiocom os retratos de Gamal Abdel Nas- ser ao fundo. Merlettiesperou cinco minutos, o tempo que X levou cuidando com

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    no muito interesse das feridas de Johnny, limitando-se alanar-lhes gua em cima e depois vend-las fortemente,sem nenhuma contemplao.

    Talvez estranhe que eu no mate agora mesmo os

    dois, miss Montfort, mas tenho muito bons motivos. Receioque a CIA esteja-me procurando, ativamente. Isso umgran