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As Bachianas nº 4 “A rel ão entr e cultura e identidade tr anscende os limites tempor ais também na música, exemplo que encontramos na obra de Heitor Villa-Lobos que compôs sua série de Bachianas Brasileiras influenciado pelo obra musical de Bach composta no século XVII. A Bachiana nº 4 para piano, por exemplo, apresenta um Prelúdio e uma Ária com tema de cantiga de roda brasileira inspiradas pelo estilo do compositor barroco..” as peças não são percebidas como meras imitações de Bach, mas sim como um tributo personalíssimo, uma magistral homenagem de Villa-Lobos ao velho mestre de Eisenach Além disso, as peças tiveram papel fundamental na afirmação da música nacionalista brasileira na primeir a metade do século XX, posto que, àquela época, as artes no Brasil passavam por um importante processo marcado pela valorização e consolidação de uma produção artística genuinamente nacional. A utiliza ção de elemen tos tomados das peculiarida des da fauna e da flora, da geografia, do homem, da mulher e do folclore brasileiro, foram freqüentes pretextos para a atividade criadora das artes plásticas e da literatura daquele período, assim como fonte de inspiração perene para os compositores. No caso das Bachianas, essa preocupação se refletiu, dentre outras coisas, na dupla denominação de cada movimento da suíte, pois, além de um título tradicional (normalmente tomado de uma forma barroca), um subtítulo foi acrescido para indicar um gênero tipicamente brasileiro. As Bachianas nº 4 iniciam com um prelúdio destinado às cordas sinfônicas, com muitos divisi. Do ponto de vista estrutural, é construído quase que exclusivamente a partir da transposiçã o de dó menor para si menor das seis primeiras notas do tema da Oferenda musical de Bach, mudança proposta por Frederico II, da Prússia. Aqui, Villa-Lobos mostra-se verdadeiramente um mestre na arte do aproveitamento motívic o, retirando do  pequeno conjunto de notas o máximo de expressividade. Já a partir do coral ( Canto do Sertão), a orquestra é ouvida complet a. Nesse movimento, o compositor busca evocar o interior profundo do planalto central brasileiro, valendo-se de uma melodia longa e arrastada e sobre a qual um insistente si bemol do xilofone e das flautas traduz o pio metálico da araponga, ave brasileira muito comum daquele território.  Na ária ( Cantiga), Villa-Lobos emprega um tema folclórico em modo dórico: "Ó mana deix'eu ir", que é oriundo do nordeste do Brasil (região cuja música será uma das mais  procuradas e estudadas pelos compositores nacionalistas). Após breve introdução de caráter dramático, o tema sucede-se em três seções contrastantes e nas quais é apresentado, primeiro, de modo solene; depois, rápido e diminuído, e, finalmente, recapitul ado em sua forma inicial. Na coda, ouve-se o retorno do material da introdução . A dança ( Miudinho ), é uma alusão a um dos vários passos do samba de roda - típica dança do nordeste brasileiro -, o que confere a este movimento um caráter coreográfic o. Novamente aqui, o composit or lança mão de uma melodia folclórica chamada "Vamos, Maruca", neste caso, tema recolhido na região de São Paulo. O movimento constitui fecho festivo e frenético à suíte.

Bachianas nº 4

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8/6/2019 Bachianas nº 4

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As Bachianas nº 4

“A relação entre cultura e identidade transcende os limites temporaistambém na música, exemplo que encontramos na obra de Heitor Villa-Lobosque compôs sua série de Bachianas Brasileiras influenciado pelo obra

musical de Bach composta no século XVII. A Bachiana nº 4 para piano, porexemplo, apresenta um Prelúdio e uma Ária com tema de cantiga de rodabrasileira inspiradas pelo estilo do compositor barroco..”

as peças não são percebidas como meras imitações de Bach, mas sim comoum tributo personalíssimo, uma magistral homenagem de Villa-Lobos aovelho mestre de Eisenach

Além disso, as peças tiveram papel fundamental na afirmação da músicanacionalista brasileira na primeira metade do século XX, posto que, àquelaépoca, as artes no Brasil passavam por um importante processo marcado

pela valorização e consolidação de uma produção artística genuinamentenacional. A utilização de elementos tomados das peculiaridades da fauna eda flora, da geografia, do homem, da mulher e do folclore brasileiro, foramfreqüentes pretextos para a atividade criadora das artes plásticas e daliteratura daquele período, assim como fonte de inspiração perene para oscompositores. No caso das Bachianas, essa preocupação se refletiu, dentreoutras coisas, na dupla denominação de cada movimento da suíte, pois,além de um título tradicional (normalmente tomado de uma forma barroca),um subtítulo foi acrescido para indicar um gênero tipicamente brasileiro.

As Bachianas nº 4 iniciam com um prelúdio destinado às cordas sinfônicas, com muitosdivisi. Do ponto de vista estrutural, é construído quase que exclusivamente a partir datransposição de dó menor para si menor das seis primeiras notas do tema da Oferendamusical de Bach, mudança proposta por Frederico II, da Prússia. Aqui, Villa-Lobosmostra-se verdadeiramente um mestre na arte do aproveitamento motívico, retirando do

 pequeno conjunto de notas o máximo de expressividade. Já a partir do coral (Canto do

Sertão), a orquestra é ouvida completa. Nesse movimento, o compositor busca evocar ointerior profundo do planalto central brasileiro, valendo-se de uma melodia longa earrastada e sobre a qual um insistente si bemol do xilofone e das flautas traduz o piometálico da araponga, ave brasileira muito comum daquele território.

 Na ária (Cantiga), Villa-Lobos emprega um tema folclórico em modo dórico: "Ó manadeix'eu ir", que é oriundo do nordeste do Brasil (região cuja música será uma das mais

 procuradas e estudadas pelos compositores nacionalistas). Após breve introdução decaráter dramático, o tema sucede-se em três seções contrastantes e nas quais éapresentado, primeiro, de modo solene; depois, rápido e diminuído, e, finalmente,recapitulado em sua forma inicial. Na coda, ouve-se o retorno do material daintrodução. A dança (Miudinho), é uma alusão a um dos vários passos do samba de roda- típica dança do nordeste brasileiro -, o que confere a este movimento um caráter coreográfico. Novamente aqui, o compositor lança mão de uma melodia folclóricachamada "Vamos, Maruca", neste caso, tema recolhido na região de São Paulo. O

movimento constitui fecho festivo e frenético à suíte.

8/6/2019 Bachianas nº 4

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Bachianas nº 4 - Foi composta em 1930 para piano solo, tendo estreadocom Vieira Brandão, em 27 de novembro de 1939. O arranjo para orquestra,de 1941, foi mostrado ao público em 15 de julho de 1942, regido pelo autor.

O pianista Arthur Moreira Lima destaca, do ponto de vista do intérprete, "agrandiosidade do 'Prelúdio (Introdução)', a riqueza de timbres do 'Coral(Canto do Sertão)', a nostalgia da 'Ária (Cantiga)', interrompida por umritmo sincopado típico do Nordeste, e a complexidade técnica da 'Dança(Miudinho)'". Para quem estranhou que a 4 tenha sido escrita antes da 3,esclarecemos que Villa costumava fazer isso - por exemplo, o "Choros nº 7"é de 1924, anterior ao 3, de 1925.

A motivação para compor as obras do ciclo, de acordo com o próprio Villa-Lobos, foram as semelhanças que encontrou entre músicas folclóricas dosertão brasileiro e a obra do alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750).

O contato de Villa-Lobos com as obras de Bach se deu ainda na infância,com o pai.

Outra característica constante na série é que cada parte de uma"Bachianas" tem nome duplo: à denominação clássica de música deconcerto corresponde a designação do ritmo popular ao qual se remete -por exemplo, a primeira parte da "Bachianas nº 3 chama-se "Prelúdio(Ponteio)".

na nº 4, nas partes terceira - "Ária (Cantiga)" - e quarta - "Dança (Miudinho)"

fuga bachiana 1

Outras obras bachianas

Adaptações de obras de Bach

Bachianas brasileiras n° 4 para piano (1930-1941, tendo sido orquestrada em 1942)

Foi composta para piano a partir de 1930, mas estreada somente em 1939. Recebeunovo arranjo para orquestra em 1941, estreando em meados do ano seguinte. Esta obra

contém quatro movimentos:

• Prelúdio (Introdução) - Lento• Coral (Canto do Sertão) - Largo• Ária (Cantiga) - Moderato• Dança (Miudinho) - Muito animado