Baiao Coco Dorival Jackson

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/24/2019 Baiao Coco Dorival Jackson

    1/8

    DORIVAL CAYMMI E JACKSON DO PANDEIRO

    Quem vai de samba ou coco, tudo termina em roda[1]

    Marielson Carvalho

    Creia, ilustre cavalheiro,

    Contra fel, molstia, crime,

    Use Dorival Caymmi,

    V de Jackson do Pandeiro.

    Paratodos, Chico Buarque

    Embora as danas e os cantos populares no Nordeste tenham marcas de expresso

    pr!prias, como o uso de instrumentos musicais di"erentes ou de letras com motivos e temasli#ados $s textualidades culturais do lu#ar, eles atravessam limites e "ronteiras #eo#r%"icos ese cru&am numa "esta de rua ou num terreiro, no canavial ou no bre'o, na Bahia ou na (ara)ba*+raos identit%rios da cultura a"robrasileira constituem a seiva que alimenta essasmani"esta-es* .sso / sentido quando se v0 uma roda de samba ou de coco* coreo#ra"ia, ocompasso e a eu"oria de seus participantes, se'am danadores, cantadores ou espectadores, nosremetem aos 2batuques de ne#ros3 4chulas, "o"as e lundus5 de que "ala 6os/ 7amos +inhoro418895, sur#idos entre os s/culos :;.. e :.:*

    ne d% a id/ia de uma"ormao espontnea, mesmo quando no / tanto assim* ?s parceiros sedisp-em em roda, como se "ossem conversar, e o samba comea*

    "alta de instrumentos como pandeiro, #an&% ou chocalho no impossibilita, portanto,

    que os sambistas reali&em a dana* improvisao tamb/m / marcante no samba de roda*

    =ma caixa de "!s"oro, pedaos de madeira ou at/ um prato com #ar"o serve para animar abrincadeira, al/m das palmas e das batidas de p/*

    http://www.portalanterior.uneb.br/seara/paginas/marielson.htm#_ftn1http://www.portalanterior.uneb.br/seara/paginas/marielson.htm#_ftn2http://www.portalanterior.uneb.br/seara/paginas/marielson.htm#_ftn2http://www.portalanterior.uneb.br/seara/paginas/marielson.htm#_ftn1
  • 7/24/2019 Baiao Coco Dorival Jackson

    2/8

    .nserido no contexto cultural da Bahia, mais precisamente de @alvador e do 7ecDncavodo in)cio do s/culo ::,

  • 7/24/2019 Baiao Coco Dorival Jackson

    3/8

    coro que completa em estilo responsorial o mote do solista / tamb/m uma caracter)stica dessetipo de samba* 4C"* ENC.CS?(R

  • 7/24/2019 Baiao Coco Dorival Jackson

    4/8

    trabalhos em 188K, sua equipe trabalhou com #rupos de coquistas mais do litoral, de 6oo(essoa $ Ba)a da +raio, depois se estendendo para o interior*

    Muitas dessas comunidades t0m di"iculdades de continuar com a brincadeira, $s ve&espor conta de no haver mais interessados em dar continuidade, principalmente entre os mais'ovens, que acham o coco uma 2coisa do passado3* Enquanto meninos e meninas pobres

    dessas comunidades sonham com as maravilhas que a televiso lhes apresenta, o menino6acVson, embora "osse "ascinado por cinema, buscou na sua pr!pria realidade o est)mulo paracrescer* E o coco "oi a sa)da*

    Memori&ava passos, melodias e batidas* +udo intuitivo, primitivo, puro*Pa&ia a marcao no p/ e re#istrava na cabea* s ve&es, deixavaseenvolver pelo balano cadenciado e cochilava, enlaado pela vo& hipn!ticada me* Era ninado assim*cordado ele sonhava* +oda ve& que passava pela sala e via o #an&% e a&abumba pendurados na parede, "icava ima#inando a manipul%los* 4***5 ;iase a toc%los na mesma pancada dos mestres* Estava tudo plantado no 'u)&o,#erminando* No era sonho, na verdade, mas apenas uma realidade adiada*t/ que tivesse o tamanho 'usto para alcanar os ob'etos inacess)veis*4M?=7 e ;.CEN+E, KAA1, p* 95

    'e"astiana "oi a m>sica que trans"ormou 6acVson do (andeiro no maior sucesso do

    Carnaval de 18 em 7eci"e* ? mesmo +heophilo de Barros que revelou Cammi na 7%dio+upi, anos antes no 7io, estava a#ora na 7%dio 6ornal do Commercio* (rimeiramente noacreditou que 6acVson poderia emplacar, porque ele no correspondia ao padro de um artistade r%dio, no tinha 2pinta3 de #al* Mas existiam outros diretores da emissora que apostaramno pandeirista da 6a&&Band (ara#uar e abriram caminho para seu lanamento*

    Convidaramno para tocar um coco num pro#rama de Carnaval, em meio aos sucessosdos sambascan-es e marchinhas da /poca importados da Capital Pederal*Escolheu 'e"astianapara sua estr/ia solo* +ocar coco, era o que sabia "a&er* m>sica erain/dita, mas "altava uma coisaF um coro "eminino* Chamaram uma radioatri& muito conhecidana cidade para responder ao re"ro 2a, e, i, o, u, psilone3* No tiveram tempo de ensaiarmuito, mas a experi0ncia da mulher em apresenta-es com outras bandas lhe davaum "ack%round de improvisos* sica interpretada pelo #rupo de Baianas de .pioca, o andamento e al#uns trechos daletra se assemelham ao coco canto da ema, #ravado por 6acVson em 18L, de autoria de6oo do ;ale, lventino Cavalcante e res ;iana*

    Com base nessa in"ormao, / prov%vel que o #rupo da mestra +ere&inha ?liveira tenhaadaptado a letra do coco de 6acVson, bastante reprodu&ido nas r%dios na /poca de seulanamento* (or outro lado, no / escusado lembrar que a maioria dos compositores dos cocos#ravados pelo pandeirista se inspirava na tradio popular*[L]No encarte da Punarte, o"olclorista ala#oano +heo Brando conclui que as!aianas4tamb/m abaianado5 tiveram na

    po/tica e na m>sica in"lu0ncias do coco, o que corrobora a declarao de 6acVson, quando di&que a base da m>sica nordestina / o coco, embora em Coco do (orteele "aa uma distino

    entre o baio e o coco*

    http://www.portalanterior.uneb.br/seara/paginas/marielson.htm#_ftn5http://www.portalanterior.uneb.br/seara/paginas/marielson.htm#_ftn5http://www.portalanterior.uneb.br/seara/paginas/marielson.htm#_ftn5
  • 7/24/2019 Baiao Coco Dorival Jackson

    5/8

    Nessa composio de 7osil Cavalcanti, mesmo autor de 'e"astiana, 6acVson do(andeiro canta os elementos visuais e sonoros do coco que o di"erencia do outro ritmo427esponda este coco com palma de moH.sto / coco do Norte nunca "oi baio35* Pala dosacompanhamentos e instrumentos 4caracax%, &abumba, #an&%, palmas e batidas de p/5, dacoreo#ra"ia 4um casal na umbi#ada5, do improviso do coquista, do tipo de coco 4praieiro,

    dana da beira do mar 5, o ambiente da brincadeira 4o vento, as ondas, a lua5 e a participaode muitas pessoas 46oca, (edro, Noca, Chica, +ia @ebastiana, 6oana5* +udo 'usti"ica para o quese dana ou se toca naquele instante no se'a classi"icado de baio* R como se al#u/mquisesse lo#rar os participantes com um ritmo que, embora parecido com o baio, no o / de"ato* 6acVson explica o que / o coco utili&ando o pr!prio ritmo como base* @ua interpretaodemonstra que / ele quem entende a di"erena entre o coco e o baio, a"inal, no / o 2rei doritmo3\

    interao de stria "ono#r%"icaem expanso tivesse dilu)do o samba e o coco no ramerro da m>sica comercial, assimmesmo mostrou a criatividade e a sensibilidade do 2Cantor das #raas da Bahia 2 e do 27ei do

    ritmo3*=m nasceu em @alvador, $ beiramar, outro em la#oa Trande, no bre'o* =m / ex)mioviolonista, outro #enial pandeirista* =m vai de samba, outro de coco* Mas a roda, quesimbolicamente representa circularidade e retorno, p-e em rotao si#nos e s)mbolos*

  • 7/24/2019 Baiao Coco Dorival Jackson

    6/8

    Estado onde "oi in'entadoo coco de roda "oi a Bahia, porque a Bahia "oilu#ar de mais escravos* cho que sim, no in,cio do Brasi&, acho que "oi, n/\4JS, KAAA, p* K, #ri"os meus5

    vo& de @eu Manuel / a pr!pria vo& po/tica de uma mem!ria que inte#ra outras vo&es*

    @ua experi0ncia como coquista lhe con"ere um conhecimento 2especiali&ado3, mas noinstitucionali&ado, da tradio do coco* +radio aqui entendida como criao cont)nua comsuas poss)veis e imprevis)veis variantes, ao contr%rio de um si#ni"icado ou valor "ixo* Entre a"rica, a Bahia e a (ara)ba criouse o que (aul ^umthor 41885 chama de 2intervocalidade3,ou se'a, troca de vo&es, de textualidades orais que vem desli&ando e se desdobrando desdeesse 2in)cio do Brasil3* (alavra e vo& de @eu Manuel*

    Re-er(nciasSB=Q=E7Q=E 6_N.?7,

  • 7/24/2019 Baiao Coco Dorival Jackson

    7/8

    (ENN, Maura* O 4%e -a5 ser nordestinoF identidades sociais, interesses e o2escndalo3 Erundina* @o (auloF Corte&, 188K*7.@R7.?, ntonio* Ca1i:uma utopia de lu#ar* @o (auloF (erspectivaW @alvador,BF C?(ENE, 1888* 4Coleo

  • 7/24/2019 Baiao Coco Dorival Jackson

    8/8

    [1]7evisado e ampliado de ensaio publicado ori#inalmente na revista 7ra+hosF(!sTraduao em SetrasH=niversidadePederal da (ara)ba, 6oo (essoa, v* , ng K, 'un*Hde& KAA, p* 98K*Bacharel em Setras ;ern%culas 4=PB5 e Mestre em Siteratura e Cultura 4=P(B5*[K]% uma outra seo do Cancioneiro da Bahiadenominada por Cammi de 2Can-es sobre motivos do "olclore3,em que ele assume a in"lu0ncia da cultura popular em seu cancioneiro*

    []ermano ;iana, em O ist2rio do sa!a418885, revela um depoimento de 6oo da Baiana, "ilho de uma das 2tias

    baianas3 que se instalaram no 7io de 6aneiro no "inal do s/culo :.:* ? pandeirista disse que era convidado para animaras "estas de al#uns nomes "amosos da elite social e pol)tica da /poca, mas que no pDde comparecer em 19A9 a umadessas "estas, porque a pol)cia tomou seu instrumento, quando tocava na rua* ssim como o samba era proibido, o

    pandeiro tamb/m era* ? mesmo ri#or aconteceu tamb/m com o violo*[L]=m caso parecido aconteceu com o samba)aracan%alha, uma das composi-es mais conhecidas de Cammi* criao desse samba 2sacudido3 se deve ao ami#o de in"ncia de