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BAIXA DE LISBOA E VILA DE OEIRAS: UMA VIAGEM DO PASSADO AO FUTURO ATRAVÉS DE UM SÍMBOLO PARTILHADO – UMA PROPOSTA DE PROJECTO DE TURISMO E COMPETITIVIDADE URBANA Judite Lourenço REIS 1 , Sónia Paulo CARDOSO 2 , Bruno Pereira MARQUES 3 1 FCSH, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, UNL, Universidade Nova de Lisboa, Socióloga, Estudante no Curso de Mestrado em Metropolização, Planeamento Estratégico e Sustentabilidade, Email: [email protected] 1 , Email: [email protected] 2 ; Email: [email protected] 3 PALAVRAS-CHAVE Baixa de Lisboa, Vila de Oeiras; Símbolo, Turismo, Competitividade Urbana. RESUMO Cada época sempre teve os seus desafios e, de forma unânime, reconhecemos que tempos difíceis e instáveis requerem, ainda mais, estratégias enérgicas, reflectidas e em sinergia. E apesar de sabermos que não há “receitas” prontas a aplicar, também sabemos que há atitudes prospectivas, há identidades que se podem construir, há símbolos que se podem fazer nascer, ou renascer, na medida em que podem ser resgatados do passado. Pois é esta a proposta que sugerimos com a aliança de dois territórios distintos: a Baixa de Lisboa e a Vila de Oeiras. Uma identidade mediada por uma figura de outrora – Sebastião José de Carvalho e Melo – que faz uso de um legado material e das representações simbólicas que aí ficaram gravadas. Estes lugares serão o guião de um projecto de turismo “ganhador”; um símbolo que imprime uma dinâmica territorial competitiva. KEYWORDS Lisbon Downtown, Oeiras Town, Symbol, Tourism, Urban Competitiveness. ABSTRACT Each period has always had its challenges and, in an unanimous way, we recognize that hard and unstable times require, even more, energetic and reflected strategies, as well as synergy. In spite of knowing that there are no “revenues” ready to be applied, we also know that there are foresight attitudes; That there are identities which can be built, symbols that can be given birth to or revive, in a way that can be rescued from the past. So this is our suggestion, which allies two distinct territories: Lisbon Downtown and Oeiras Village. An identity mediated by one of our biggest personalities from the past – Sebastião José de Carvalho e Melo – that uses a material legacy and symbolic representations which were recorded there. These places will be the guideline to a winner tourism project; A symbol which prints a territorial and competitive dynamic. 1. AS CIDADES DEBAIXO DE MIRA Se as cidades, ou se quisermos certos territórios que a compõem, sempre tiveram debaixo de mira. Actualmente assiste-se ao redobrar desse interesse, que pode ser fragmentado em inúmeros

Baixa de Lisboa e Vila de Oeiras: uma viagem do passado ao futuro através de um símbolo partilhado

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REIS, J.L., CARDOSO, S.P. e MARQUES, B.P. (2011) "Baixa de Lisboa e Vila de Oeiras: uma viagem do passado ao futuro através de um símbolo partilhado - uma proposta de projecto de turismo e competitividade urbana", in Actas do VIII Congresso da Geografia Portuguesa, Lisboa, 6 páginas, ISBN 978-972-99436-4-5.

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BAIXA DE LISBOA E VILA DE OEIRAS: UMA VIAGEM DO PASSADO AO FUTURO ATRAVÉS

DE UM SÍMBOLO PARTILHADO – UMA PROPOSTA DE PROJECTO DE TURISMO E

COMPETITIVIDADE URBANA

Judite Lourenço REIS1, Sónia Paulo CARDOSO2, Bruno Pereira MARQUES3

1 FCSH, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, UNL, Universidade Nova de Lisboa, Socióloga,

Estudante no Curso de Mestrado em Metropolização, Planeamento Estratégico e Sustentabilidade,

Email: [email protected], Email: [email protected]; Email:

[email protected]

PALAVRAS-CHAVE

Baixa de Lisboa, Vila de Oeiras; Símbolo, Turismo, Competitividade Urbana.

RESUMO

Cada época sempre teve os seus desafios e, de forma unânime, reconhecemos que tempos difíceis

e instáveis requerem, ainda mais, estratégias enérgicas, reflectidas e em sinergia. E apesar de

sabermos que não há “receitas” prontas a aplicar, também sabemos que há atitudes prospectivas,

há identidades que se podem construir, há símbolos que se podem fazer nascer, ou renascer, na

medida em que podem ser resgatados do passado. Pois é esta a proposta que sugerimos com a

aliança de dois territórios distintos: a Baixa de Lisboa e a Vila de Oeiras. Uma identidade mediada

por uma figura de outrora – Sebastião José de Carvalho e Melo – que faz uso de um legado

material e das representações simbólicas que aí ficaram gravadas. Estes lugares serão o guião de

um projecto de turismo “ganhador”; um símbolo que imprime uma dinâmica territorial competitiva.

KEYWORDS

Lisbon Downtown, Oeiras Town, Symbol, Tourism, Urban Competitiveness.

ABSTRACT

Each period has always had its challenges and, in an unanimous way, we recognize that hard and

unstable times require, even more, energetic and reflected strategies, as well as synergy. In spite

of knowing that there are no “revenues” ready to be applied, we also know that there are foresight

attitudes; That there are identities which can be built, symbols that can be given birth to or revive,

in a way that can be rescued from the past. So this is our suggestion, which allies two distinct

territories: Lisbon Downtown and Oeiras Village. An identity mediated by one of our biggest

personalities from the past – Sebastião José de Carvalho e Melo – that uses a material legacy and

symbolic representations which were recorded there. These places will be the guideline to a winner

tourism project; A symbol which prints a territorial and competitive dynamic.

1. AS CIDADES DEBAIXO DE MIRA

Se as cidades, ou se quisermos certos territórios que a compõem, sempre tiveram debaixo de mira.

Actualmente assiste-se ao redobrar desse interesse, que pode ser fragmentado em inúmeros

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enfoques, mas o mote é uno: a Cidade. Muitas são as designações, e nestes últimos anos parecem

ter-se multiplicado, que nos merecem atenção. Dentre, cidades globais; cidades criativas; cidades

solidárias; cidades educadoras; cidades do conhecimento; cidades ecológicas; cidades

multiculturais; cidades românticas, e um sem número de tantos outros epítetos que ficam por

enumerar, há algo que é transversal a todas estas “cidades” e que se justifica na pretensão de

ocupar um lugar no ranking, obviamente, quanto mais perto do pódio melhor. Pois de acordo com

Salvador (2006), as cidades são a “riqueza das nações”, pelo que se deve potenciar a sua

competitividade. Mas certamente, e de forma unânime, reconhecemos que tempos difíceis e

instáveis requerem, ainda mais, estratégias enérgicas, reflectidas e em sinergia. E apesar de

sabermos que não há “receitas” prontas a aplicar, também sabemos que há atitudes prospectivas,

há identidades que se podem construir, há símbolos que se podem fazer nascer, ou renascer, na

medida em que podem ser resgatados do passado. Pois é esta a proposta que sugerimos com a

aliança de dois territórios distintos: a Baixa de Lisboa e a Vila de Oeiras. Uma identidade mediada

por uma figura de outrora – Sebastião José de Carvalho e Melo – que faz uso de um legado

material e das representações simbólicas que aí ficaram gravadas. Estes lugares serão o guião de

um projecto de turismo “ganhador”; um símbolo que imprimirá uma dinâmica territorial

competitiva.

2. A CIDADE, O LUGAR … PATRIMÓNIO MATERIAL E IMATERIAL

Com a aprovação da Agenda 21 da Cultura, em Barcelona a 2004, os governos locais adoptaram

um documento que norteia o desenvolvimento, mediado pelo vector cultural. O compromisso passa

por fazer com que a Cultura seja uma dimensão-chave da política urbana. Pelo que o documento

“Agenda 21 da Cultura” visa ser mais que do um contributo, assume-se como um protagonista na

resposta aos desafios tangentes ao desenvolvimento cultural que o mundo enfrenta neste século

XXI, à semelhança do que nos deixou o seu “irmão mais velho”, no século XX em relação ao meio

ambiente. Heródoto (geógrafo…e “pai da História”), apud Funari (2005), aponta que esta «(…) faz-

se com testemunhos, com objectos, com paisagens (…)». Pois é também nisso que acreditamos,

na riqueza de entrecruzar o património material, reconhecido desde a carta de Atenas, com o

imaterial, fixado recentemente (2003) na “Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural

Imaterial” em Paris, e ratificado pelo regime jurídico nacional através do Decreto-Lei n.º 139/2009,

de 15 de Junho. O projecto que aqui se traz ancora-se, em grande parte, no conceito de Pierre

Nora (1993) “lugares de memória”. São estes “restos”, tal como nos diz o historiador francês, que

queremos recuperar. É o legado tangível, a Baixa de Lisboa, assente numa malha ortogonal

hierarquizada, com traço de Eugénio dos Santos e Carlos Mardel (ainda que com outras

contribuições) e sob a coordenação do engenheiro-mor do Reino - Manuel da Maia, a que nos

habituámos a designar por Baixa Pombalina (classificada como “Imóvel de Interesse Público” por

Decreto-Lei n.º 95/78, de 12 de Setembro e que contempla desde a Travessa de São Domingos, a

norte, à Praça do Município e Arsenal, a sul, passando pela Rua da Madalena e Borratém (Este) e

fechando com a Rua do Carmo, Rua Nova do Almada e 1º de Dezembro, ao Rossio) e a Vila de

Oeiras. O centro histórico de Oeiras constitui um núcleo urbano, agregando um conjunto de

elementos arquitectónicos com um valor histórico que materializam memórias de outrora, dotando

assim esta área de um extraordinário potencial turístico, associado a uma mítica figura da história

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de Portugal. Onde uma das principais heranças é a Quinta do Marquês de Pombal, que chegou até

aos nossos dias praticamente na sua forma original, com os jardins, o imponente palácio,

classificado como monumento nacional, as dependências agrícolas como a adega e o celeiro, e

ainda a parte da exploração agrícola. Mas também o legado intangível e simbólico que ficou

gravado nestes lugares por Sebastião José de Carvalho e Melo. Depois de ter dobrado meio século

de vida, encetou funções no reinado de D. José I corria o ano de 1750, e foi ainda na qualidade de

Secretário dos Negócios Estrangeiros que começou a revelar as suas ideias reformadoras para o

País, muito inspiradas pelas viagens e pelo “ideário das Luzes”. Dotado de forte iniciativa e espírito

audaz, era um reformador na mais larga acepção da palavra. Mas foi mais tarde (1769), e para

sublinhar o reconhecimento do seu “pulso forte” na altura da reconstrução da Lisboa pós terramoto

de 1755, que recebeu o título de Marquês de Pombal, pois que em 1759 já tinha sido agraciado

com o anterior título de Conde de Oeiras. O cataclismo veio dar ensejo a Sebastião de Carvalho

para mostrar o seu génio organizador, acabando por ser o pretexto para a reedificação de Lisboa,

com um plano muito mais vasto e mais regular do que o da antiga cidade, que acabou por se

traduzir num conjunto formado por quinze ruas e três praças, compreendido, sensivelmente, entre

a Praça dos Restauradores, a norte, e o rio Tejo, a sul. Nessa malha urbana agrupou os diversos

mesteres, corrieiros, douradores, ourives, retroseiros, sapateiros, entre outros, de acordo com as

Corporações de Ofícios. Assim, ainda hoje ao pisar este lugar sentimo-nos num palco de outros

tempos, graças à forma como baptizou as ruas com os nomes desses ofícios, acabando por os

imortalizar. «Na Baixa devem ser conservadas todas as actividades e ofícios que sempre fizeram

dela a sua alma». (Mateus, 2005) Tal como Pierre Nora, acredita-se nesta função tripla dos

lugares. Estes assumem-se como “materiais”, onde a memória social habita e pode ser apreendida,

“funcionais”, capazes de cimentar memórias colectivas, e “simbólicos”, na medida em que

expressam uma identidade colectiva. Pois é esta identidade colectiva que pretendemos verter num

símbolo global. A dar voz, e a reiterar, este nosso projecto surgem as palavras que Saskia Sassen

emprestou ao jornal Público a 24 de Abril de 2011, aquando da sua estada em Lisboa para a

inauguração do projecto “Global City 2.0” e para o lançamento do seu livro “Sociologia da

Globalização”. A socióloga acredita que «Neste momento, [são] as especificidades das cidades

[que] têm muito mais importância. É por isso que não se trata de olhar para o lugar que Lisboa [ou

Oeiras] ocupa na lista, nem para o seu tamanho. O que temos de fazer é procurar a sua

particularidade, as diferenças que a tornam atraente para os investidores e as pessoas».

Prosseguiu afirmando que se vivesse em Lisboa e estivesse a conceber estratégias para a cidade

«começaria por ler muito sobre o seu passado».

3. A “ALMA” DOS «LUGARES»

David Harvey (1973) foi um dos autores que versou sob o processo de formação do lugar,

explicando que este assume um duplo significado: o de localização (posição) e o de entidade ou

permanência construída dentro de um processo social. Segundo o autor, o lugar pode também ser

compreendido como um local de imaginários - “um “locus” da memória colectiva”. Assim, torna-se

perceptível de compreender que os lugares se revestem de inegável poder simbólico, carregando

um “ADN” único. Edward Soja (1989) engrossa este caudal, ao recorrer à noção de “espacialidade”

para apresentar o lugar como um produto social. E nesta perspectiva os espaços, acabam por estar

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em contínua (re)criação, num processo em que a memória desempenha um papel importante na

construção da sua identidade. E falar de “espaço” remete-nos para Lefebvre (1999), que aponta a

diferença entre cidade e espaço, à primeira atribui a “forma”, onde decorrem e se materializam as

relações sociais, já no que concerne ao espaço considera-o o “conteúdo”. Daí ter acusado os

planeadores urbanos de menosprezarem ou ignorarem, por completo, os elementos sociais e

simbólicos em detrimento dos espaciais. O autor defende a cidade como “espaço vivido”.

Diferenças à parte, é esta lógica que anima o projecto de aliar a Baixa de Lisboa e a Vila de Oeiras

através de uma mesma figura – Sebastião José Carvalho e Melo, Conde de Oeiras e comummente

conhecido como Marquês de Pombal – e transformá-la num símbolo “ganhador”. (Benko e Lipietz,

1994)

4. A “MEMÓRIA” COMO FORÇA MOTORA DO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL

Falar de memória implica recordarmos o trabalho de Halbwachs (1990), aluno de Durkheim, que

em 1925 trouxe à ribalta uma nova concepção de memória: “a memória colectiva” desprendendo-

a, assim, do carácter individual a que estava submetida e sublinhado que a memória deve ser

entendida também, ou sobretudo, como um fenómeno social, ou seja, como construção colectiva

que está à mercê de (re)ajustes constantes. Albino (1997) também aposta na preservação e no

reforço da identidade territorial como uma das variáveis mais explicativas do desenvolvimento

territorial e da competitividade, visto que «as estratégias de desenvolvimento deveriam basear-se

no aproveitamento da tipicidade ancestral para encorajar uma evolução diferenciadora que possa

conduzir ao reforço da inovação local.»

5. UM SÍMBOLO: DEVOLUÇÃO DO SENTIMENTO DE PERTENÇA E UM TRUNFO NA

COMPETITIVIDADE URBANA

Bourdieu (1989) referiu que «Os símbolos são instrumentos por excelência da “integração social”:

enquanto instrumentos do conhecimento e de comunicação, eles tornam possível o “consensus”

acerca do sentido do mundo social (…)». Daí revestirem-se [símbolos] de vital importância (ontem,

hoje e sempre), mas o autor foi mais incisivo quando falou da força do poder simbólico, «(…) é

capaz de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do mundo e, deste modo, a

acção sobre o mundo, (…) [é] quase mágico (…)». A promoção de uma cidade ou território passa

por identificar as suas características, os seus traços peculiares, e por construir uma marca forte,

atraente e competitiva, capaz de atrair fluxos, dinamizar o turismo e até mesmo a própria

sociedade. Segundo Kotler e Armstrong (2006), uma cidade (ou lugar) é uma marca e deverá ser

gerida como tal e integrada numa estratégia de marketing. A marca de um destino é um nome, um

símbolo, um logótipo ou outra forma de identificar o local e de o promover a nível nacional e

internacional, resume a sua identidade e a forma como este se pretende projectar. É uma

promessa, uma antecipação, uma expectativa. A crescente concorrência entre os territórios

encaminha para o aperfeiçoamento das estratégias de marketing territorial que, segundo Kotler e

Armstrong (2006), aliadas ao planeamento estratégico, deve revestir a forma de um processo,

visto como um instrumento de apoio às estratégias de desenvolvimento das cidades, indispensável

para uma visão mais objectiva e focalizada, utilizado ao serviço da concepção, gestão e promoção

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dos lugares com o objectivo de aumentar a atractividade e o desenvolvimento interno e a

afirmação externa. A atractividade e a competitividade devem assentar em factores de inovação e

de diferenciação, bem como numa capacidade de governação e de liderança capazes de mobilizar

os actores em torno de uma Visão e de um Programa Estratégico. A competitividade urbana

depende do que as cidades têm para oferecer.

6. UM “PROJECTO” DE TURISMO CRIATIVO

A relevância histórica das cidades consubstancia um dos principais pontos de atracção dos turistas

que viajam motivados pela cultura. Oeiras poderá beneficiar do elevado awareness da história que

caracteriza o período de maior desenvolvimento da cidade de Lisboa enquanto capital e num

momento de renovação arquitectónica pós terramoto de 1755, protagonizada por Sebastião José

de Carvalho e Melo, com residência em Oeiras. Retiradas e reiteradas algumas ideias provenientes

de documentos estratégicos, salientamos o potencial “turismo cultural”, elencado pelo património

histórico, associado ao período de maior desenvolvimento – o período Pombalino. A integração do

património histórico de Oeiras, designadamente o Palácio Marquês de Pombal e Quinta de Recreio

do Marquês de Pombal, património classificado, na oferta cultural de Lisboa, beneficiando da

elevada influência dessa figura simbólica, permitiria celebrar uma identidade e fomentar o

desenvolvimento de programas cooperativos de promoção e incentivo ao turismo cultural. Nesta

medida, o que defendemos é um projecto de turismo criativo, inovador e cooperativo, onde os

aspectos históricos e culturais fossem explanados em quiosques informativos, localizados

respectivamente no centro histórico de Oeiras e na Baixa de Lisboa, nas suas artérias mais

“visitadas”, fundindo as oportunidades que o símbolo medeia. Pretendendo-se assim divulgar para

além da sobejamente conhecida história, alguns aspectos peculiares, como a gastronomia.

Exemplo houve de um doce confeccionado em Oeiras, alusivo ao ilustre e denominado por “Palitos

do Marquês” que deve ser resgatado e inserido numa rota gastronómica que deve ir mais além do

que o pequeno território do centro histórico e do consequente número de visitantes. Outra ideia a

explorar e agarrando o que já tem vindo a ser desenvolvido, é difundir a visibilidade do Vinho de

Carcavelos e promover a sua nova imagem junto de visitor attractions, no sentido de criar

condições para que a marca emergente da Região Demarcada seja divulgada nacional e

internacionalmente. O vinho de Carcavelos iniciou uma nova fase de expansão com a criação de

uma confraria, a Confraria do Vinho de Carcavelos, para comercializá-lo com a marca Conde de

Oeiras, com o objectivo de o tornar no ex-líbris dos produtos regionais deste lugar. Se por um lado

Oeiras tem um passado “sem turismo”, por outro tem a “matéria”. Ora as redes constroem-se

sobre interesses duais, mas certamente distintos. Em Oeiras temos o Palácio, que de acordo com o

Plano Estratégico do Turismo será modificado numa unidade hoteleira, a Quinta com as suas vinhas

demarcadas (e históricas) e o vinho e ainda a possibilidade de resgatar um doce cuja origem não é

certamente da época de vida do Conde de Oeiras, mas que tão bem se enquadra nesta “rota”. Já

Lisboa, a capital do País, dispensa qualquer enquadramento quanto ao turismo próprio. Mas,

seriam ainda concentrados eventos em torno dos marcos cronológicos associados a esta figura.

Assim e atendendo ao dia do seu nascimento, 13 de Maio, em Lisboa, aí se iniciava o período

festivo, aproveitando todo o fluxo de turismo religioso que se verifica em Portugal pelo motivo da

visita ao Santuário de Fátima. Este período, decorreria até ao dia 6 de Junho, que no ano de 1759,

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lhe foi atribuído o título de Conde de Oeiras. Eventos esses que se confinam às festas existentes

em ambos os municípios, no mês de Junho, quer pelo motivo da elevação de Oeiras à categoria de

vila, a 7 de Junho, quer em Lisboa por se festejar o Santo António, a 13 de Junho.

7. NOTAS FINAIS

Não se quer terminar sem tecer uma breve reflexão final, apesar de estarmos cientes de que este

trabalho não constitui mais do que um modesto contributo, a carecer de maior aprofundamento,

ainda assim crê-se que pode ser parte da resposta ao desafio colocado pela United Nations

Conference on Trade and Development, «Each country is different, each market is special and each

creative product has its specific touch and splendour. Nonetheless, every country [or cities, or

places] might be able to identify key creative industries that have not yet been exploited to their

full potential so as to reap developmental benefits. There is no one-sizefits-all prescription; each

country should formulate a feasible strategy to foster its creative economy, based on its own

strengths, weakness and realities. The time for action is now”. (UNCTAD, 2010).

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UNCTAD (2010) Creative Economy Report 2010. UNCTAD, Geneva and New York [Acedido em 30

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