Balanco 1ano

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  • Balano de Atividades CNV 01

    BALANO DE ATIVIDADES1 ano de Comisso Nacional da Verdade

    www.cnv.gov.br

  • sumrio

    introduo 02a pesquisa da comisso nacional da verdade 04 a pesquisa documental 04 a gesto da informao e do conhecimento 08 as tomadas de depoimentos 08 os temas de pesquisa 11 contextualizao, fundamentos e razes do golpe de 1964 12 gravesviolaesdedireitoshumanosnobrasil12

    repressointernacional,mortesedesaparecimentos14

    cadeiasdecomandodoscrimesdosagentesdoditadura16

    alegalidadeautoritria17

    a ditaduraeasociedadecivil18as relaes institucionais da cnv 20

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    introduo

    A partir de sua instalao em 16 de maio de 2012, a Comisso Nacional da Verdade definiu trs formas bsicas de atuao para o desempenho de seu mandato e para atender as expectativas dos sobreviventes e familiares dos mortos e desaparecidos e da sociedade brasileira. A primeira linha definida foi a pesquisa necessria para esclarecer os fatos e as circunstncias dos casos de graves violaes de direitos humanos ocorridas durante o perodo de 1946 e 1988 e promover o esclarecimento circunstanciado dos casos de torturas, mortes, desaparecimentos forados, ocul-tao de cadveres e sua autoria, ainda que ocorridos no exterior, com especial ateno aos fatos decorrentes do regime instalado pelo Golpe de Estado de 1964.

    A pesquisa tem como prioridade o levantamento das informaes relacionadas s mortes e de-saparecimentos ocorridos durante o regime de 6485, mas tambm ir investigar outras graves violaes de direitos humanos, como tortura, violncia sexual e o terrorismo de Estado. Dever ainda investigar as graves violaes de direitos humanos de grupos como estrangeiros, campo-neses, indgenas, mulheres e sindicalistas. A Comisso identificar as cadeias de comando do terrorismo de estado, reconstituindo a estrutura dos rgos de represso do regime implantado em 1964 contra todas as formas de dissidncia e resistncia na sociedade, bem como articulaes internacionais, como a operao Condor.

    As linhas de pesquisa so desenvolvidas atualmente por 13 grupos de trabalho, coordenados pelos membros da comisso. Cada grupo de trabalho (GT) conta com pontos focais que so as-sessores ou consultores da CNV dedicados a garantir a operacionalizao da pesquisa. A CNV conta ainda com a colaborao ad-hoc de pesquisadores para compor suas equipes. Para o traba-lho de pesquisa, a CNV est organizada em duas metodologias de levantamento de informaes: pesquisa documental e tomada de depoimentos.

    Alm do trabalho com a pesquisa, insumo principal do relatrio final que ser apresentado quan-do os trabalhos se encerrarem, a Comisso desde o princpio est convicta de que deve manter constante dilogo com a sociedade civil, com as comisses da verdade e comits de memria verdade e justia, muitos dos quais criados depois da constituio da CNV. Essas organizaes tm a capacidade de aumentar o potencial dos resultados desse processo nico de reconstituio da verdade no Brasil. Igualmente a CNV est articulada com instituies parceiras como, por exemplo, a Ordem dos Advogados do Brasil OAB e a Associao Nacional de Histria ANPUH. Essa relao inclui, de forma privilegiada, a promoo de audincias e outros eventos pblicos, dando a vtimas e testemunhas a oportunidade de partilhar as terrveis experincias que viveram ou presenciaram sob a represso.

    Por fim, a ltima das principais linhas definidas pela Comisso est relacionada com seu com-

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    promisso com a transparncia, assegurando a comunicao de suas atividades, mantendo contato com a imprensa e divulgando suas realizaes.

    A CNV conta com forte apoio do governo por meio dos seguintes rgos: Ministrio da Justia (MJ), Ministrio da Educao (MEC), Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao (MCTI), Ministrio das Relaes Exteriores (MRE) e, dentre os rgos da Presidncia da Repblica, a Casa Civil e a Secretaria Geral, a Secretaria de Direitos Humanos (SDH), a Secretaria de Comunicao Social (Secom) e a Secretaria de Polticas para as Mulheres (SPM).

    Dada a especificidade temtica, a CNV ainda tem discutido formas para potencializar as aes j desenvolvidas pela Comisso Especial sobre Mortos e Desaparecidos Polticos (CEMDP)1 e a Comisso de Anistia2 (j foram contratados, por exemplo, consultores que ajudaro a CNV a mapear e sistematizar informaes importantes contidas nos processos e acervos da Comisso de Anistia). Da mesma forma, o livro-relatrio Direito Memria e Verdade, publicado em 2007, da CEMDP, e o livro Habeas Corpus, da SDH, so referncias bsicas para a CNV.

    Por fim, a CNV ainda conta hoje com o apoio do Programa das Naes Unidas para o Desen-volvimento PNUD, com o qual estabeleceu projeto de cooperao que permitir a contratao de consultores que reforaro o time de pessoas, atuando sob orientao da CNV. Alm disso, o PNUD tem dado suporte logstico e financeiro a diversos eventos realizados pela Comisso no intuito tanto de capacitar sua equipe, como de divulgar seus resultados.

    1 Criada pela Lei n. 9.140, de 4 de dezembro de 1995, e alterada pelas leis 10.536, de 14 de agosto de 2002 e 10.875, de 1 de junho de 2004, a CEMDP foi inicialmente instalada no Ministrio da Justia e, desde 2004, est vinculada Se-cretaria de Direitos Humanos da Presidncia da Repblica.2 Criada em 2001 com vistas a atender a necessidade de regulamentao prevista no artigo 8 do Ato das Disposi-es Constitucionais Transitrias (ADCT) da Constituio da Repblica de 1988, est atualmente vinculada ao Ministrio da Justia.

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    a pesquisa da comisso nacional da verdade

    A pesquisa documental A Comisso Nacional da Verdade est empenhada na busca de arquivos ainda no localizados dos rgos de segurana e informaes integrantes da estrutura do extinto Sistema Nacional de Informaes (SISNI).

    Atualmente, o Ncleo dos Acervos do Regime Militar do Arquivo Nacional j identificou apro-ximadamente 250 estruturas de informaes instaladas em Ministrios, Autarquias, Fundaes, Universidades e Empresas Pblicas. Essas estruturas, conhecidas como Divises de Segurana e Informaes e Assessorias de Segurana e Informaes, foram instrumentos essenciais para a capilaridade do SISNI, cujo ncleo se encontrava no Servio Nacional de Informaes (SNI).

    A imagem abaixo foi feita a partir de esquema grfico produzido pelo prprio Servio Nacional de Informaes. Buscamos, a partir desse esquema grfico, identificar a documentao j reco-lhida ao Arquivo Nacional desde 2005 e mapear os acervos faltantes. Os crculos em azul repre-sentam acervos j recolhidos, j os crculos em verde representam acervos cujo recolhimento se deu de forma parcial. Os crculos em branco mostram ramificaes do Sistema para os quais a CNV tem empreendido esforos na localizao dos acervos.

    Fonte: Documentao administrativa do SNI, Fundo SNI, Arquivo Nacional (com alteraes)

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    Legenda:SNI Servio Nacional de InformaesAGO Agncia GoisAFZ Agncia CearACT Agncia ParanAPA Agncia Rio Grande do SulARE Agncia PernambucoASP Agncia So PauloASV Agncia BahiaABH Agncia Minas GeraisAMA Agncia AmazonasABE Agncia ParARJ Agncia Rio de JaneiroACO Agncia Mato Grosso do SulSSI MIN CIVIS Servio de Segurana e Informaes dos Ministrios CivisDSI SEPLAN Div. Seg. Inf. da Secretaria de PlanejamentoDSI MC Div. Seg. Inf. do Min. das ComunicaesDSI MEC Div. Seg. Inf. do Min. da EducaoDSI MME Div. Seg. Inf. do Min. de Minas e EnergiaDSI MTb Div. Seg. Inf. do Min. do TrabalhoDSI MIC Div. Seg. Inf. do Min. da Indstria e ComrcioDSI MPAS Div. Seg. Inf. do Min. da Previdncia e Assistncia SocialDSI MS Div. Seg. Inf. do Min. da Sade

    DSI MA Div. Seg. Inf. do Min. da AgriculturaDSI MT Div. Seg. Inf. do Min. dos TransportesDSI MINTER Div. Seg. Inf. do Min. do InteriorDSI MF Div. Seg. Inf. do Min. da FazendaDSI MJ Div. Seg. Inf. do Min. da JustiaDSI MRE Div. Seg. Inf. do Min. das Relaes ExterioresDSI DASP Div. Seg. Inf. do Dep. Adm. do Pessoal CivilDPF Dep. de Polcia FederalSSI MIN MILITARES Servio de Segurana e Informaes dos Ministrios MilitaresCISA Centro de Informaes da AeronuticaCIE Centro de Informaes do ExrcitoCIM (CENIMAR) Centro de Informaes da MarinhaSUSIEM Servio de Segurana e Informaes dos Estados MaioresEMFA Estado Maior das Foras ArmadasM/20 2 Seo da MarinhaEME/2 2 Seo do ExrcitoEMAer/2 2 Seo da AeronuticaCIEx Centro de Informaes do Exterior (provavelmente relacionados aos Adidos Militares)ITAIPU Junta de Coordenao de Segurana de Itaipu e da Assessoria Especial de Segurana e Informaes de ItaipuSG CSN Secretaria Geral do Conselho de Segurana Nacional

    Assim, a CNV est em contato com vrios ministrios e outros rgos pblicos no intuito de localizar a documentao produzida por esses organismos no perodo da ditadura. Como um dos resultados dessa atividade, foram localizados mais de 400 rolos de microfilme provenientes da extinta Diviso de Informaes da Petrobras. Alm disso, esto em andamento atividades de busca dos arquivos dos rgos de informaes nos Ministrios das Comunicaes, da Educao, de Minas e Energia, dos Transportes, do Desenvolvimento Agrrio, da Justia, da Previdncia Social, do Trabalho, do Planejamento, Gabinete e Casa Militar da Presidncia da Repblica, in-cluindo aes em seus rgos vinculados.

    Alm das atividades de localizao dos acervos do SISNI, a Comisso Nacional da Verdade estabeleceu rede de cooperao com os arquivos pblicos e instituies de guarda responsveis pela documentao das polcias polticas estaduais. As polcias estaduais, principalmente por meio dos Departamentos ou Delegacias de Ordem Poltica e Social, conhecidos como DOPS, eram responsveis por diligncias, inquritos policiais, investigaes e operaes de controle e represso poltica nas unidades da federao. Alm da pesquisa nos arquivos de polcia poltica j transferidos para instituies pblicas de guarda, a CNV tambm est investigando a destinao dos acervos policiais ainda no localizados.

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    Nesse sentido, vale ressaltar a contribuio recente da Comisso para a localizao e recolhimen-to ao Arquivo Pblico Mineiro de mais de 700 rolos de microfilme e 17 mil jaquetas3 (totalizando cerca de 2 milhes de pginas de documentos) da extinta Coordenao Geral de Segurana da Polcia Civil de Minas Gerais, rgo que assumiu funes particulares do DOPS mineiro a partir de 1970. Ciente do valor dessas informaes, a CNV estruturou uma equipe de pesquisa espec-fica para anlise dessa documentao.

    Ao se empenhar na recuperao dos arquivos do extinto Sistema Nacional de Informaes, de instituies policiais, bem como de outros rgos que atuaram de maneira expressiva na repres-so poltica, a CNV visa encontrar subsdios para a elucidao das graves violaes de direitos humanos. Mas, mais que isso, essa ao tem por finalidade a garantia do direito memria e verdade, por meio da disponibilizao de seus arquivos a todos os interessados.

    As medidas de reparao adotadas ao longo da dcada de 1990 e incio dos anos 2000 no Brasil no descartaram o papel fundamental da questo da memria. A criao de comisses de re-parao estaduais, bem como a instituio de rgos como a Comisso Especial sobre Mortos e Desaparecidos Polticos e a Comisso de Anistia, contribuiu fortemente para a sistematizao de acervos, bem como para o acesso a novas informaes da histria poltica do pas. Com vistas ao desenvolvimento dos trabalhos dessas comisses, foi reunida uma vasta documentao que inclui laudos periciais, depoimentos de familiares e companheiros de militncia de mortos e desaparecidos, de militantes, de agentes pblicos e de vrios representantes de categorias profis-sionais perseguidas durante a ditadura, alm de documentos encontrados em arquivos pblicos e acervos particulares.

    Os acervos constitudos por essas comisses so fundamentais para as pesquisas conduzidas pela CNV, pois representam a materialidade da voz das vtimas.

    Alm da documentao sob a guarda do Arquivo Nacional, cerca de 90 conjuntos documentais j identificados, custodiados por instituies pblicas estaduais, tambm sero objeto de in-vestigao dos grupos de trabalho da CNV. Nesse sentido, a CNV contar com a instalao de equipes de apoio nos arquivos estaduais de maior relevncia. A pesquisa promovida pela CNV inclui, ainda, arquivos privados, acervos de revistas e jornais de poca, como os jornais Correio da Manh, O Globo, Jornal do Brasil, Estado de So Paulo e Folha de So Paulo.

    Alm desses acervos institucionais, h ainda outros registros histricos resgatados a partir da atuao da CNV e de seus parceiros. Um resultado importante, fruto desse empenho, a desco-berta do chamado Relatrio Figueiredo por parceiros da CNV. Dado como desaparecido por dcadas, um documento de 7 mil pginas, produzido a partir de uma Comisso de Inqurito Administrativo do Ministrio do Interior, instalada em julho de 1967. Esse documento contm informaes sobre vrias formas de violao de direitos como maus tratos e assassinatos de ndios, perda de terras indgenas para fazendeiros e empresrios, desvio de verbas, negociatas e negligncia com populaes em extino. A descoberta deste relatrio contribuir para a com-3 Trata-se de envelope de proteo no qual so inseridos fotogramas individuais, recortados. Cada fotograma corresponde imagem de uma pgina de documento, microfilmada.

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    preenso das violaes de direitos de povos indgenas em toda a extenso do territrio brasileiro, no perodo de investigao da CNV (1946 1988).

    A Comisso Nacional da Verdade realizou igualmente pesquisas em acervos no exterior, entre os quais vale destacar o levantamento realizado no Arquivo do Ministrio das Relaes Exteriores da Argentina, iniciado em visita a Buenos Aires em abril ltimo, no qual foram identificadas 66 caixas com informaes sobre o Brasil no perodo ditatorial; o recolhimento de documentao remanescente nos arquivos da embaixada brasileira em Buenos Aires; a pesquisa no acervo do Arquivo do Terror do Paraguai em temas de interesse da CNV; e a pesquisa de documentos sobre o Brasil nos arquivos do Alto Comissariado das Naes Unidas para os Refugiados (ACNUR).

    A CNV iniciou seus trabalhos com um vasto conjunto documental sobre o perodo j dispon-vel como, por exemplo, os arquivos do Superior Tribunal Militar (STM), utilizados no projeto Brasil Nunca Mais, e os acervos recolhidos ao Arquivo Nacional. Alm da oportunidade e desafio de, no cumprimento de sua misso, contar com esse imenso conjunto de dados, a CNV tem tambm a possibilidade de recorrer aos avanos tecnolgicos existentes e s ferramentas ofertadas por tcnicas computacionais de inteligncia para processamento de largas quantidades de dados, como a iniciativa eScience, e outras ferramentas relacionadas.

    Foi para explorar os grandes conjuntos de dados j convertidos para o formato digital que a Comisso decidiu abrir linhas de trabalho para a extrao digital de conhecimento. Para tanto, esto em desenvolvimento sistemas de software de minerao de textos destinados a vasculhar as milhares de pginas de documentos que envolvem cada um dos casos.

    A converso de dados para o formato digital uma vasta quantidade de documentos ainda est em suportes como papel e fotogramas fundamental para que a Comisso possa utilizar ferramentas avanadas de extrao digital do conhecimento. Com o intuito de permitir o uso desses instrumentos, bem como contribuir para a preservao e o acesso aos documentos, a Co-misso da Verdade est apoiando a acelerao do projeto de digitalizao de aproximadamente 16 milhes de pginas de documentos provenientes de rgos de segurana e informaes que se encontram sob a guarda do Arquivo Nacional. A partir de conversas com a CNV, o Arqui-vo Nacional priorizou o processo de digitalizao desses acervos e a gerao de imagens com possibilidade de leitura por meio de mecanismos como o OCR (Optical Character Recognition ou Reconhecimento ptico de Caracteres), tecnologia indispensvel para que as ferramentas computacionais de inteligncia possam processar os documentos e ajudar a orientar a pesquisa. Esse processo tem concluso prevista para julho de 2013.

    Contudo, apesar de a CNV contar com grande volume de acervo documental sua disposio, os documentos produzidos para orientar e para coordenar aes repressivas no so suficientes para o trabalho de investigao da CNV e devem ser confrontados com a coleta de depoimentos de vtimas, testemunhas e agentes institucionais. Os documentos trazem indcios, fragilidades e lacunas a serem preenchidos com outras fontes e, principalmente, com as informaes obtidas na coleta de depoimentos.

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    A Gesto da Informao e do Conhecimento Um dos projetos estruturantes da CNV, e legado importante para aps a concluso dos seus trabalhos, a construo de um Sistema de Informao capaz de reunir de forma organizada o conjunto de informaes produzidas, recebidas e pesquisadas pela CNV. Alm de contribuir para o armazenamento e a preservao permanente do acervo, servir de fonte principal para a extra-o automtica de conhecimento e canal de interao entre instituies parceiras e a sociedade.

    Nesse sentido, o Sistema de Informao, juntamente com o acervo no seu formato original, re-presentam importante legado da Comisso Nacional da Verdade sociedade ao disponibilizar os registros documentais que fundamentaram a reconstruo histrica das graves violaes de Direitos Humanos ocorridas no Brasil no perodo de 1946 a 1988.

    A infraestrutura est sendo desenvolvida em parceria com o MCTI, por meio da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa RNP, do Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia IBICT e do MEC e contempla, entre outros, componentes como um grande Repositrio Institu-cional (Biblioteca Digital da CNV), cujo objetivo principal armazenar, preservar, organizar e disseminar informaes produzidas, recebidas ou resultantes de pesquisa da Comisso Nacional da Verdade.

    O Repositrio tambm servir como uma central para os canais de interao com as instituies parceiras, permitindo o recebimento de documentos e informaes estruturadas, como depoi-mentos de vtimas e outros bancos de dados que possam ser organizados por outras comisses da verdade brasileiras. Ao repositrio est ainda ligada uma infraestrutura de dados no estru-turados, que pretende reunir toda sorte de documentos digitalizados de diversas origens, mas que no estejam ainda ordenados de nenhuma forma planejada.

    A CNV est empenhada tambm no desenvolvimento de uma estrutura de trabalho partilhado no modelo wiki que permita potencializar a articulao com a rede de parceiros, permitindo a construo conjunta e troca de informaes relacionadas com os casos investigados pela CNV e por outras comisses ou parceiros.

    Por fim, a CNV pretende utilizar tcnicas computacionais, estatsticas e de linguagem para a explorao de grande volume de documentos a serem pesquisados pela Comisso, identificando padres consistentes e deteco de relacionamentos relevantes entre as informaes neles conti-das para auxiliar nos processos de anlise e investigao dos diversos grupos de pesquisa da CNV.

    As tomadas de depoimentos

    Os depoimentos so meio essencial para a realizao dos objetivos da Comisso Nacional da Ver-dade, constituindo-se tanto em fonte para o esclarecimento circunstanciado de casos especficos como para a reconstruo histrica do contexto e das prticas do regime do perodo.

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    Os testemunhos orais tm fornecido informaes extremamente relevantes. Essencialmente di-nmicos e quase sempre dotados de forte carga emocional, os depoimentos so apenas a parte verbal de um processo maior, em que fatos invariavelmente marcantes e emoes so revividos em todas suas dimenses.

    Por meio de uma variedade de estratgias, depoimentos de agentes e colaboradores do regime, de testemunhas e de vtimas tm sido colhidos desde o incio das atividades por todos os grupos de trabalho finalsticos da Comisso, seja nas audincias pblicas, seja reservadamente, ou ainda por meio de tomada pblica de depoimento.

    As audincias pblicas da CNV tm, em geral, adotado o formato de abrir espao para especia-listas fazerem uso da palavra, discorrendo sobre algum tema objeto de estudo da Comisso e principalmente coletar depoimentos de vtimas e testemunhas. At o momento foram realizadas 15 audincias pblicas em nove estados da federao (1 em GO, 2 no DF, 4 no RJ, 2 no PA, 1 em PE, 1 em MG, 1 no PR, 1 no RS e 2 em SP).

    Os depoimentos colhidos em audincias pblicas tm o efeito crucial de permitir sociedade a oportunidade de conhecer as verdades indizveis das prticas do regime ditatorial. Possuem, portanto, no s o efeito de permitir a coleta de informaes, mas sobretudo o de proporcionar a ocorrncia de momentos de efeito catrtico, em que o Pas pode iluminar o que estava no espao do segredo.

    Tanto para os casos de audincias pblicas como para as tomadas de depoimento propriamente ditas, a CNV tem, ao longo desses doze meses, se deparado com as dificuldades naturais envol-vidas e, diante delas, criado metodologias procedimentais. Toda tomada de depoimento exige uma preparao que envolve diversas etapas. necessrio mais do que identificar os nomes das pessoas a serem ouvidas. preciso definir uma ordem lgica ideal em que esses depoimentos

    distrito federal gois minas gerais par paran pernambuco rio de janeiro rio grande do sul so paulo

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    devem ter lugar; saber se as pessoas que deveriam ser ouvidas seguem vivas; pesquisar, em bancos de dados governamentais, o local onde residem; definir o espao fsico em que ser feita a coleta do relato; escolher data e hora para o ato; elaborar ofcios; deslocar servidores para realizar a entrevista; decidir se haver gravao em vdeo ou apenas em udio; e, sem pretender esgotar o rol de diligncias prvias, deve-se dedicar, para cada caso, elaborao do roteiro e das perguntas a serem feitas.

    Terminado o depoimento, necessrio armazenar os arquivos gerados com as cautelas que a doutrina de segurana da informao impem; degravar os udios para poderem ser trabalhados com facilidade pelos pesquisadores; armazenar os termos de comparecimento para depoimento e demais documentos colhidos com o depoente. Tudo isso demanda intensa comunicao e articulao interna na CNV, para que um depoimento no deixe de ser explorado em toda sua potencialidade.

    Assim, uma equipe foi criada internamente para ser responsvel pela realizao de pesquisa em bancos de dados de nomes de pessoas cujo depoimento seja de interesse dos Grupos de Traba-lho e manter planilhas e documentos que fornecem um mapa da quantidade de pessoas a ser ouvidas, sua distribuio geogrfica, dados de identificao dos nomes ali constantes e datas dos depoimentos j realizados.

    As tomadas de depoimento so planejadas a partir de vrias estratgias possveis e conforme o perfil do depoente. No raro, pessoas que testemunharam fatos comparecem CNV espontane-amente para relatar o que sabem. Outras so convidadas ou mesmo convocadas a faz-lo.

    A Lei n 12.528/2011 expressamente atribuiu CNV o poder de convocar, para entrevistas ou testemunho, pessoas que possam guardar qualquer relao com os fatos e circunstncias exa-minados.

    Tal poder de convocao atribuio exclusiva da CNV e caracterstica que merece destaque na lei brasileira, realando tanto a importncia atribuda ao instituto dos depoimentos, como a autoridade conferida Comisso Nacional para que os colha. O no atendimento a uma con-vocao pode vir a dar ensejo responsabilizao por crime de desobedincia ou conduo coercitiva do depoente.

    Dada a existncia de prazo para a concluso dos trabalhos e em funo das dificuldades envol-vendo o retorno de um aviso de recebimento postal, a Polcia Federal tem auxiliado a CNV no processo de entrega das convocaes. A cooperao est prevista no art. 4, inciso VIII, da Lei n 12.528/2011.

    Em episdio recente, um ex-agente do regime questionou judicialmente o poder de convocar da CNV lanando mo de Habeas Corpus. O Poder Judicirio, entretanto, reafirmou a autoridade da Comisso, ressaltando a obrigatoriedade de comparecer ao depoimento, com a evidente ressalva quanto ao direito constitucional no auto-incriminao.

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    depoimentos coletados pela cnvcategorias total porcentagem

    Agentes e colaboradores do regime 37 13,8%Vtimas Militares 24 9,0%Vtimas Civis e Testemunhas 207 77,2%Total de depoimentos 268 100%

    Algumas Comisses estaduais, setoriais ou de classe demonstraram interesse de apresentar suges-tes de depoimentos CNV, j considerando, de antemo, a necessidade do uso da prerrogativa de convocao.

    As parcerias com outras comisses, ademais, tm se intensificado tambm no sentido de que a Comisso Nacional possa acompanhar ou mesmo receber diretamente os depoimentos e teste-munhos prestados a outras entidades regionais e setoriais. Isso permite, a um s tempo, o est-mulo rede nacional de comisses de verdade e a expressiva ampliao da quantidade de relatos orais a serem incorporados s pesquisas e acervo da CNV.

    Outra ferramenta essencial no campo dos depoimentos e relatos individuais, os formulrios de-nominados Ficha de Testemunho, baseados em experincia internacional consagrada de outras Comisses de Verdade, foram recentemente disponibilizados a parceiros e no site da CNV.

    Em termos de nmeros, ainda sem o aporte expressivo a ser incorporado com o preenchimento das Fichas dos Testemunhos e com o recebimento das oitivas realizadas pelas comisses parcei-ras, a Comisso Nacional da Verdade conta com os resultados apresentados abaixo. Foram ainda levantados outros 337 nomes para depoimento, sendo que 240 esto vivos e foram localizados, com levantamento preliminar de informaes, incluindo dados pessoais dos futuros depoentes.

    Os temas de pesquisaA organizao da CNV em grupos de trabalho encarregados de levar a pesquisa adiante permite a descentralizao dos processos e autonomia das equipes de pesquisa. Os GTs podem ser agru-pados em 6 principais linhas temticas descritas a seguir.

    13,8%

    agentes e colaboradores do regimevtimas militares

    vtimas civis e testemunhas

    9%

    77,2%

  • Balano de Atividades CNV 12

    Contextualizao, Fundamentos e Razes do Golpe de 1964O exame do golpe de Estado de 1964 contribui para a compreenso de suas bases sociais e dos vrios focos de conspirao, internos e externos. A investigao do carter civil e militar do golpe permitir compreender o espectro amplo e heterogneo da frente social e poltica que deps o Presidente Joo Goulart, bem como a identificao de ncleo com papel decisivo na conspirao desenvolvida no perodo anterior a maro de 1964 e na elaborao de um projeto de reorgani-zao do Estado. Nesse contexto, ser tambm fundamental a anlise do apoio, da participao e do financiamento empresarial da estrutura repressiva.

    Dentre as linhas de pesquisa adotadas pela CNV, inclui-se a contextualizao e a identificao da dinmica repressiva e do projeto de poder de construo e de modificao das estruturas do Estado imposto pelos protagonistas do golpe. Esse trabalho descreve a violncia poltica, as manobras de deteno em massa, a tortura como padres de represso e o papel dos civis e militares na gnese da ditadura.

    A definio da violncia poltica pelas Foras Armadas brasileiras est associada a trs casos clssicos de ao anti-insurrecional Indochina, Arglia, Vietn e aos padres da doutrina da contrainsurgncia. O uso da violncia poltica permitiu ao regime construir um Estado sem limites repressivos. Fez da tortura fora motriz da represso no Brasil. E levou a uma poltica sistemtica de assassinatos, desaparecimentos e sequestros.

    Aspectos dessa poltica ocorrem logo aps o golpe: manobras de deteno em massa realizadas para localizar pessoas cujos nomes constavam de listas previamente preparadas; bloqueio de ruas; buscas domiciliares. Dentre essas manobras, destacam-se as operaes Pente Fino e Arrasto. Nossos primeiros levantamentos sugerem que cerca de 50 mil pessoas foram presas s no ano de 1964, em operaes executadas principalmente nos estados de Guanabara, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e So Paulo. Ressaltamos ainda a identificao de prises em massa, em navios presdio: Raul Soares, Almirante Alexandrino, Custdio de Mello. Calcula-se que cerca de 600 pessoas estiveram presas nos dois primeiros navios, em sua maioria sargentos e lideranas sindicais. Sem contar outros centros de deteno, como o Com-plexo Esportivo Caio Martins (Icara, Niteri); Maracan e a Praa de Esportes Maca (Estado do Rio de Janeiro).

    Tal poltica garantiu a impunidade dos torturadores, consagrou a tortura como forma rotineira de interrogatrio: a violncia sustentada pela legalidade autoritria e o uso combinado de meca-nismos de destruio fsica e psicolgica por parte de agentes do Estado, que jamais reconheceu a sua utilizao.

    Graves Violaes de Direitos Humanos no BrasilA questo central da CNV identificar e esclarecer as graves violaes de direitos humanos, como tortura, mortes e desaparecimentos forados. D-se tambm ateno s violaes de di-reitos das populaes camponesas e indgenas; ao episdio da Guerrilha do Araguaia; e s re-preslias praticadas contra militares que no concordaram com o regime que governava o pas.

  • Balano de Atividades CNV 13

    O trabalho realizado pela Comisso Especial sobre Mortos e Desaparecidos Polticos subsdio para a pesquisa da CNV, que est formando equipe de trs peritos com a atribuio de reexaminar casos de mortes cujas verses oficiais apresentam fragilidades e incoerncias, incluindo 44 casos de supostos suicdios, assim como 6 casos cuja morte se atribuiu a atropelamento em tentativa de fuga. Nesse universo, esto contemplados os casos de desaparecimentos forados, que em sua totalidade sero investigados em carter prioritrio.

    Esto disponveis no site da CNV, para consulta, anlise e avaliao pblicas 10 textos prelimi-nares alusivos a: Aldo de S Brito Souza Neto, Carlos Marighella, Edmur Pricles Camargo, Joo Lucas Alves, Joaquim Cmara Ferreira, Rubens Beyrodt Paiva, Manoel Fiel Filho, Padre Antnio Henrique, Raul Amaro Nin Ferreira e a Operao Ilha abordando as circunstncias de morte de Boanerges de Souza Massa, Rui Carlos Vieira Berbert e Jeov de Assis Gomes.

    A investigao relativa a mortos e desaparecidos centra-se essencialmente na pesquisa documen-tal, subsidiada pela tomada de depoimentos. A prova documental surge de documentos produzi-dos pelos distintos rgos de informao do Regime de 64. Tais documentos esto disponveis no Arquivo Nacional, independentemente do grau de sigilo com o qual foram classificados. Foram analisados, at o momento, 949 documentos do CISA, referentes aos mortos e desaparecidos polticos. Cumpre salientar a dimenso da tarefa: alm do acervo de 16 milhes de pginas do SNI, ainda devem ser considerados os arquivos estaduais e dossis e documentos apresentados por muitos familiares.

    A reviso de atestados de bito outra atividade que vem sendo desenvolvida. Caso exemplar o sucesso obtido por via judicial na retificao do atestado de bito de Vladimir Herzog, em que expressamente foram registradas como causa mortis as torturas e sevcias praticadas nas dependncias do II Exrcito.

    J os trabalhos sobre as violaes de direitos humanos contra camponeses teve seu incio em le-vantamento que, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais, permitiu identificar 223 casos com participao direta ou indireta de agentes da ditadura no perodo 1961-1988. H ainda os casos de omisso, como aqueles em que camponeses, antes de serem assassinados, de-nunciaram ameaas de morte, sem que nenhuma providncia fosse tomada. Outro levantamento que est sendo utilizado como referncia aquele da Secretaria de Direitos Humanos da Presi-dncia da Repblica, que inclui centenas de crimes cometidos por fazendeiros, grileiros e jagun-os, sem necessariamente a participao de agentes da ditadura, mas que do notcia do descaso das autoridades quanto ao dever de assegurar a vida e a integridade do homem do campo.

    A pesquisa tem se dedicado a mapear a tipologia dos conflitos no campo; trabalhar em torno de eventos de grande destaque; e analisar outros casos relevantes, como os de represso e assassinato a padres e freiras no campo e de advogados de camponeses e sindicalistas rurais, bem como a organizao de movimentos armados de proprietrios de terras. Foram tomados depoimentos de 13 vtimas em entrevistas individuais, bem como ouvidos relatos de cinco ex-soldados e de 15 camponeses e indgenas da regio do Araguaia, em Marab.

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    Com relao s violaes de direitos de populaes indgenas, foram ouvidos 7 especialistas. Um levantamento inicial inventariou graves violaes contra pelo menos 17 povos: Waimiri-Atroari (AM/RO), Xavante (GO), Guarani (PR), Cainguange (PR), Awa-Canoeiros (GO), Panar (Kre-na-Karore), Paracan (PA), Suru (PA), Yanomami (RO/AM), Cintas Larga (MT/RO), Pataxs HHHe (BA), Caiap (PA), Guarani-Cayowa (MS), Tupinikins/Guaranis (ES), Presdio Kre-nak/Faz. Guarany (MG) e Araras (MA).

    A pesquisa para esta temtica foi organizada em torno de violaes como chacinas ou assassina-tos de indivduos isolados; expulses das terras ou transferncias para reas de tribos inimigas; contaminao; torturas; e a manuteno de presdios destinados aos indgenas. Nesse processo, tem sido possvel perceber a alterao do perfil das violaes durante governos militares. O j citado Relatrio Figueiredo foi digitalizado e est sendo analisado pela CNV.

    Em relao Guerrilha do Araguaia, objetiva-se esclarecer as circunstncias e o total de mortes e desaparecimentos; identificar as operaes militares ocorridas na regio nos anos de 1972 a 1974; e mapear suas cadeias de comando. De 50 mil documentos produzidos pelo servio de in-formaes da Aeronutica identificados no Arquivo Nacional, 202 referem-se especificamente ao episdio do Araguaia. Em relao ao acervo do SNI, foram selecionados 695 dossis pertinentes, totalizando 21.319 pginas de documentos.

    Foram publicados dois textos para consulta e avaliao da sociedade. O primeiro tem como fonte principal o relatrio Operaes Contraguerrilheiras da 3 Brigada de Infantaria no Sudeste do Par, de 1972, que registra a morte de 14 combatentes. O outro texto tem por base relatrio do capito de corveta Uriburu Lobo da Cruz, que comandou 250 homens da Fora de Fuzileiros de Esquadra em exerccio de treinamento na regio.

    A pesquisa relativa Perseguio a Militares desenvolve seus trabalhos com a colaborao de acadmicos e dos prprios militares perseguidos. Alm da pesquisa documental e bibliogrfica, os trabalhos privilegiam a tomada de depoimento de militares perseguidos no perodo 1946-1988, com o objetivo de esclarecer as graves violaes de direitos humanos que sofreram, assim como de formar acervo de Histria Oral a ser disponibilizado ao pblico.

    Esto sendo elaborados estudos sobre a reforma dos currculos das instituies militares de ensino, bem assim acerca do papel constitucional das Foras Armadas, que devero servir de subsdio para o Relatrio Final da CNV.

    No ltimo dia 4 de maio, foi realizada Audincia Pblica para tomada de depoimentos de mi-litares perseguidos pela ditadura e de seus familiares, trazendo luz um contingente pouco conhecido, mas que constitui, proporcionalmente, dos mais atingidos pelo golpe de 1964 entre as diversas categorias scio-profissionais.

    Represso internacional, mortes e desaparecimentosA Comisso assumiu em profundidade as investigaes sobre violaes de direitos humanos

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    de brasileiros ocorridas no exterior, de estrangeiros ocorridas no Brasil, e sobre a colaborao repressiva entre os pases do Cone Sul, com destaque para a Operao Condor.

    Entre os depoimentos tomados no mbito desta investigao, destacam-se os ocorridos em Bra-slia e Florianpolis com o argentino Claudio Vallejos, ex-agente do Servio de Informaes Navais (SIN), da Marinha argentina. Foi ainda tomado, em Porto Alegre, depoimento do agente uruguaio Mrio Neira Barreiro, a respeito das circunstncias que geram suspeita sobre a causa--mortis do ex-Presidente Joo Goulart.

    Alm disso, em atendimento a pedido da famlia, a CNV em coordenao com o Ministrio Pblico Federal e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidncia da Repblica providen-ciar, junto s instncias competentes, a exumao dos restos mortais do ex-Presidente, a fim de realizar percias, com a participao de especialistas internacionais, que permitam esclarecer as circunstncias de sua morte na Argentina, em 6 de dezembro de 1976.

    Ademais, a CNV est analisando a transcrio do testemunho de Jefferson Lopetegui Alencar Osrio, sequestrado por agentes brasileiros e argentinos em Buenos Aires em 11 de dezembro de 1970, juntamente com seu pai, o coronel de Exrcito Jefferson Cardim de Alencar Osrio, e seu primo, Eduardo Lopetegui, naquela que pode ser considerada a primeira operao internacional conjunta de sequestro de brasileiros no exterior.

    As pesquisas documentais sobre esses temas tm sido realizadas no Arquivo Nacional, no acervo do Ministrio das Relaes Exteriores, e em arquivos estrangeiros.

    Todo o acervo de documentos sigilosos do Itamaraty foi analisado, tendo sido selecionados cerca de 300 documentos ultrassecretos, 600 documentos secretos, e digitalizadas, transcritas e analisadas 34 fitas sigilosas com udios referentes Comisso Geral de Investigao, criada pelo Decreto n 53.897, de 27 de abril de 1964.

    Com base nos Anurios e Listas de lotao da parte administrativa do MRE, tambm foram recuperadas as estruturas e pessoas que atuavam em 11 embaixadas brasileiras no exterior, in-cluindo os adidos militares. Alm disso, utilizando dos documentos do Centro de Documentao do MRE, do fundo do Centro de Informaes do Exterior (CIEX) e da Diviso de Segurana e Informaes-MRE, ambos disponveis no Arquivo Nacional, conseguiu-se estabelecer o organo-grama da distribuio de informaes a partir do CIEX, com o correspondente relatrio analtico sobre a natureza destas informaes e a contribuio dada a outros rgos da represso durante a ditadura, dentro e fora do Brasil.

    Em misses internacionais organizadas pela CNV, foram identificados vrios acervos de in-teresse, bem como iniciada a pesquisa exploratria, com apoio do governo da Argentina, nos Arquivos da Chancelaria, do Arquivo Nacional da Memria, da Secretaria de Direitos Humanos e nos processos da Fiscala General de la Repblica Argentina. Foram identificados na Chance-laria 66 caixas de documentos sobre o Brasil e recolhidas, na Embaixada do Brasil em Buenos Aires, 9 pastas de documentos remanescentes. No Paraguai, foi pesquisado todo o contedo do

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    Arquivo do Terror, resultando em cinco mdias digitais completas, com 43 pastas sobre mortos desaparecidos e outros temas do perodo, e 68 fichas de brasileiros presos no Paraguai, entre outros documentos.

    Com relao aos exilados e refugiados, 14 casos paradigmticos foram destacados na pesquisa feita no Arquivo do Clamor4. Foram, ademais, identificadas 50 organizaes de proteo aos direitos humanos no exterior, onde se buscaro mais detalhes sobre a perseguio a estrangeiros nos perodos de represso: 25 na Amrica do Sul, 9 na Amrica do Norte, e 16 na Europa.

    Outros arquivos mostram, ainda, que, no caso do Uruguai, o servio secreto daquele pas teria conseguido, com a ajuda de Braslia e Buenos Aires, sequestrar e levar de volta para as prises de Montevidu 110 refugiados polticos que estavam no Brasil e na Argentina entre 1976 e 1979. Cerca de 3.300 latino-americanos chegaram ao Brasil entre 1977 e 1982 em busca de asilo poltico e fugindo da tortura. Contudo, o status de refugiado teria sido dado para apenas 1.380 deles e todos teriam sido transferidos pelo ACNUR a locais seguros a pedido do governo brasileiro, a grande maioria para a Europa. Quase 90% deles eram argentinos ou uruguaios. Documentos atestam colaborao como troca de informaes, monitoramento, troca de fotos, sequestros e expulses entre Brasil, Argentina e Chile at o incio dos anos 80.

    Em relao aos mortos e desaparecidos, junto Direo de Verdade, Memria e Justia do Para-guai j se estabeleceu cooperao para investigar 6 novos casos de paraguaios mortos no Brasil no ano de 1960. Durante a audincia pblica realizada pela CNV em Porto Alegre, divulgou-se uma lista de 17 casos de desaparecimentos forados de brasileiros na Argentina, na Bolvia e no Chile, objeto de investigaes.

    Esto sendo feitas gestes junto aos rgos competentes para obter listas de alunos; de pessoas que ministravam cursos; e o contedo das instrues dadas no Centro de Instruo de Guerra na Selva (CIGS) e na Escola das Amricas (The School of Americas, SOA), bem como informaes referentes s Conferncias dos Exrcitos Americanos (CEA), todos espaos de articulao e for-talecimento da represso internacional, com o ensino das tcnicas de tortura e monitoramento de exilados e perseguidos polticos.

    Cadeias de comando dos crimes dos agentes da ditadura de fundamental importncia identificar e detalhar as formas de atuao dos grupos, institui-es e pessoas que, de forma coordenada e sob o regime de 64, utilizaram de violncia ilegal ou ilegtima para reprimir a dissidncia poltica ou a resistncia armada. Para tal, foi, em primeiro lugar, feito um esboo de organograma que reflete a estrutura de represso nacional. Desenhou--se, tambm, um fluxograma de informaes dentro do sistema repressivo. De posse desse mapa inicial, foi necessrio proceder a um recorte metodolgico. Foram escolhidos o DEOPS/SP, as Divises de Segurana e Informaes do SISNI, e os DOI/CODI de So Paulo e do Rio de Janei-ro como primeiras estruturas a serem descritas. Os eventuais financiadores dessas instituies 4 Instituio atuante no estado de So Paulo em defesa dos refugiados e exilados polticos, especialmente aqueles originrios de pases do Cone Sul.

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    tambm se encontram no campo da pesquisa que foi elaborada at agora.

    Para a pesquisa documental, explorou-se, sobretudo, os acervos do Arquivo Nacional em Braslia e do Arquivo Pblico do Estado de So Paulo. No arquivo paulista, foram alocados dois pesqui-sadores para dar agilidade s buscas.

    Estudar a estrutura da represso implica, necessariamente, dialogar com diversos de seus antigos agentes e com vtimas, pois apenas a partir de tais entrevistas possvel traar um panorama real de como as engrenagens funcionavam. Da a importncia que assumem as tomadas de depoimento para essa pesquisa. Os relatos tm permitido no apenas ir alm dos documen-tos encontrados, confrontando-os ou detalhando-os, mas tambm compreender as ideologias, motivaes, crenas, privaes pessoais e dores de quem viveu aquele perodo. Procedeu-se tomada de depoimento de 20 agentes da represso ou de seus colaboradores, trs militares que se opuseram e acabaram se tornando vtimas do sistema repressivo, cinco vtimas civis e cinco testemunhas dos fatos vividos poca. Tem-se constantemente buscado informaes a respeito de pessoas cujo depoimento pode contribuir para a reconstruo histrica, resultando em uma listagem de aproximadamente 150 pessoas nessa situao. Excluindo-se pessoas que faleceram ou aquelas cuja localizao pode ser dificultada, h, no momento, a expectativa de que sejam realizadas pelos menos 100 outras tomadas de depoimento.

    A pesquisa especfica sobre o Estado Ditatorial Militar visa a esclarecer a montagem e a dinmica de funcionamento da estrutura responsvel pela elaborao e execuo da Poltica de Segurana Nacional, razo de ser de sua existncia.

    Essa temtica vale-se da pesquisa documental concentrada em quatro principais acervos sob a guarda do Arquivo Nacional: SNI, Conselho de Segurana Nacional, Comisso Geral de Inqu-rito Policial-Militar (19691970) e a documentao anteriormente classificada como reservada, secreta e ultrassecreta do extinto Estado-Maior das Foras Armadas (EMFA). Dessa pesquisa resultou a formatao de seis linhas centrais, cujos textos em sua inteireza encontram-se no site da CNV, assim apresentados:

    I Estado Ditatorial Militar institucionaliza-se: o golpe dentro do golpe;II Estado Ditatorial Militar: supremacia da segurana interna; III Estado Ditatorial Militar: silncio sepulcral sobre desaparecidos; IV Estado Ditatorial Militar: poder nico, absoluto, incontestvel; V Estado Ditatorial Militar: coeso interna a qualquer custo;VI O Estado Ditatorial Militar: obcecado pela censura

    A legalidade autoritriaA CNV est se dedicando anlise do funcionamento dos rgos do Sistema de Justia durante o regime, tendo em vista a necessidade de aprofundar-se no entendimento da legalidade auto-ritria que caracterizou o perodo.

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    Sabendo-se que, diferentemente de outros pases, no Brasil o arcabouo jurdico e as instituies que dele se ocupavam continuaram funcionando durante a ditadura, entender a dinmica do Poder Judicirio, seja por meio da postura de seus integrantes, seja atravs dos instrumentos sua disposio, representa grande avano na reconstruo histrica da estrutura de represso disseminada entre os rgos pblicos e suas consequncias para a garantia ou violao de direitos fundamentais.

    Para promover as investigaes de forma sistmica, foram criados cinco subgrupos de pesqui-sa, que incluem trabalhos referentes Justia Militar; Justia Comum e Federal; ao Supremo Tribunal Federal; aos Atos Institucionais; e atuao dos advogados e seus rgos de classe. As pesquisas esto baseadas em anlises de jurisprudncia; de registros de rgos administrativos do Sistema de Justia, como Corregedorias e Departamentos de Recursos Humanos; da legislao em vigor poca; de registros escritos de juristas sobre suas posies em relao ao regime; e de relatos orais a serem colhidos entre os profissionais que participaram ativamente do perodo.

    Nesse sentido, j foram estabelecidas parcerias com o Conselho Federal da Ordem dos Advo-gados do Brasil (OAB); sua Subseo do Rio de Janeiro; com professores da Universidade de Braslia e da Universidade Federal do Rio de Janeiro; bem como com a Associao de Juzes para a Democracia. Realizou-se, tambm, seminrio interno com o professor Anthony Pereira, da Kings College da Universidade de Londres, que atuar como consultor, tendo em vista sua larga experincia sobre o tema.

    A ditadura e a sociedade civilA CNV estuda ainda, no mbito da sociedade civil, o papel das igrejas, o recorte de gnero e a viso dos trabalhadores e das organizaes sindicais. No que se refere ao papel das igrejas, a CNV tem sido apoiada por religiosos, estudiosos e acadmicos, com o objetivo de examinar e esclarecer as aes de resistncia e cooperao de diferentes igrejas durante o regime de 64.

    Assim, pretende-se identificar as aes realizadas pelas igrejas, bem como as omisses relevan-tes, que desencadearam, facilitaram ou permitiram graves violaes de Direitos Humanos pelo Estado. So trabalhadas tanto questes relativas Igreja Catlica Apostlica Romana como s chamadas Igrejas Protestantes Histricas de Misso, que compreendem as igrejas Congregacio-nal, Presbiteriana, Metodista, Batista e Episcopal Anglicana e pode incluir as igrejas Luteranas.

    Nessa pesquisa, foram visitados, at o momento, nove acervos em Pernambuco, Rio de Janeiro e So Paulo; realizadas trs grandes reunies para troca de informaes e sete reunies para organi-zao dos trabalhos. Tambm houve 15 outras reunies com parceiros externos para articulao, levantamento de informaes e mapeamento de fontes; bem como ouvidas 21 pessoas, dentro da linha que busca identificar no s as violaes de direitos humanos, como seus perpetradores e o modus operandi.

    Um levantamento inicial identificou casos de violaes que incluem 97 padres catlicos e 3 pasto-res deportados pelo regime ditatorial. So exemplos dramticos o assassinato do Padre Henrique

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    Pereira, assessor de D. Hlder Cmara; a morte de Frei Tito de Alencar, torturado pela OBAN; e o desaparecimento de Paulo Stuart Wright e Ivan Dias (presbiterianos).

    A pesquisa orientada a partir de questes bsicas, estruturadas em quatro eixos transversais: o Papel das Igrejas no perodo que antecede o Golpe de 1964; o papel das Igrejas na consolidao e legitimao da ditadura; a colaborao de setores das igrejas com a represso e aes repressivas internas a grupos dissidentes; e a resistncia de setores das igrejas ditadura.

    Outra linha de trabalho da CNV refere-se importncia de se compreender como se deu a violncia contra a mulher, suas consequncias e impactos, incluindo a violncia sexual. Tem se considerado o protagonismo das mulheres na busca pela verdade, pela apurao dos crimes do perodo e na luta pela anistia.

    Essa temtica representa tambm o desafio CNV de incorporar, transversalmente, a questo de gnero em seu Relatrio Final. Para esse fim, foi realizada oficina com especialistas, bem como desenvolvido questionrio especfico sobre a violncia sexual, que vem sendo utilizado em todos os casos em que as vtimas indicam terem sido submetidas a tais prticas criminosas ou relatem haverem testemunhado eventos dessa natureza. A CNV promoveu em conjunto com a Comis-so da Verdade Rubens Paiva, do Estado de So Paulo a primeira audincia pblica temtica, dedicada questo.

    Por fim, ainda nessa linha de trabalho, foi aberta recentemente pesquisa sobre a represso aos trabalhadores e ao movimento sindical, com a criao de um GT que inclui representantes do prprio movimento. Foram realizadas duas reunies que permitiram Comisso estruturar sua atuao, visando ao mapeamento das organizaes sindicais da poca que sofreram alguma for-ma de interveno; as mudanas legais em desfavor dos trabalhadores e os prejuzos decorrentes.

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    as relaes institucionais da cnv

    A Comisso Nacional da Verdade, desde o incio de sua organizao interna, previu e implemen-tou uma linha de atuao para tratar de suas relaes com a sociedade civil e com instituies parceiras.

    Ciente de que, alm de fomentar e acolher a participao social, de extrema relevncia disse-minar o alcance de seus trabalhos, a CNV props-se a buscar formas de colaborao que dessem voz aos grupos sociais envolvidos com a temtica de violaes de direitos humanos, em especial no perodo da represso, e agregassem expertise de instituies nacional e internacionalmente comprometidas com a promoo de garantias individuais e coletivas.

    Com vistas qualificao de seus trabalhos, a CNV est em constante dilogo com o Alto Co-missariado das Naes Unidas para Direitos Humanos, com o Instituto Interamericano de Po-lticas Pblicas em Direitos Humanos do Mercosul, e com o Centro Internacional para a Justia de Transio. Estas parcerias buscam, ademais, possibilitar o intercmbio de informaes com especialistas sobre a temtica de Direito Memria, Verdade e Justia e com integrantes de Co-misses de Verdade antecessoras da brasileira, bem como pautar e facilitar o debate internacional sobre o tema.

    Da mesma forma, visitas esto previstas neste primeiro semestre de 2013 ao Chile e Uruguai, e ofcios foram encaminhados a outros 11 pases nos continentes americano, europeu e africano, para firmar tratativa que permita conhecer e analisar o maior nmero de arquivos no exterior com informaes do cenrio repressivo brasileiro e suas consequncias.

    Ainda no sentido de ampliar e contribuir para os avanos na concretizao de seus objetivos, a CNV tem estendido sua rede de articulao com parceiros locais, firmando Acordos de Coope-rao Tcnica com Comisses Estaduais, de organizaes da sociedade civil, de universidades, associaes de pesquisa, entidades profissionais, entre outros. At hoje, foram firmados 18 termos de cooperao tcnica, com fundamento no artigo 4 da Lei 12.528/2011 e na Resoluo n 4 do Colegiado.

    Um primeiro objetivo dessas colaboraes trata do levantamento e sistematizao de informa-es sobre casos ou episdios especficos. Resultados enviados pelas instituies parceiras da CNV apontam para a sincronia de estratgias utilizadas no desenrolar dos trabalhos, com o uso combinado de tomada de depoimentos e anlise documental. As Comisses locais tambm tm promovido reunies peridicas com organismos locais, especialmente comits e grupos de familiares e vtimas da represso, e ouvido especialistas no tema.

  • Balano de Atividades CNV 21

    Alm do aspecto investigativo, estas colaboraes tambm contemplam a estratgia de mobili-zao e realizao de audincias pblicas. Conhecendo aspectos importantes da realidade local, nossos parceiros contribuem tanto com a deciso sobre a pauta das audincias pblicas, como com a indicao de pessoas que devam delas participar.

    As audincias esto sendo registradas em vdeos e seu contedo passa por processo de edio, separando depoimento por depoimento, antes de integrar o acervo da CNV, a fim de ser utilizado como fonte de pesquisa. Os vdeos so colocados no canal da comisso no site youtube.com/comissaodaverdade, facilitando o acesso do pblico.

    Por fim, para atender a demandas mais especficas, a CNV realizou, ainda, 3 reunies ampliadas focadas no intercmbio de informaes e experincias com atores que requerem maior grau de aproximao, ou mesmo para prestao de contas e troca de ideias:

    30 de julho de 2012, em Braslia | Audincia Pblica com Comits pela Verdade, Me-mria e Justia do Brasil. Objetivo: Conhecer as expectativas destes grupos, registrar suas demandas e receber ma-terial para subsdio das investigaes.

    25 de fevereiro de 2013, em Braslia | Reunio Ampliada com as Comisses Estaduais, Municipais, de entidades profissionais, organizaes da sociedade civil e universidade. Objetivo: Promover o intercmbio entre as comisses locais e iniciar o processo de cons-truo da sistemtica de recebimento de informaes a serem envidas para a CNV.

    29 de abril de 2013, em So Paulo | Reunio com Comits pela Verdade, Memria e Justia do Brasil. Objetivo: Balano prvio das estratgias e resultados dos trabalhos da CNV, recebimento de sugestes, programao dos prximos encontros.

    A CNV tambm recebeu relatrios de vrias comisses parceiras, onde so relatados progresso do trabalho, como por exemplo, o da Comisso Municipal da Verdade de So Paulo Vladimir Herzog, que ouviu mais de 20 pessoas, entre vtimas, testemunhas e especialistas, no segundo semestre de 2012.

    A Comisso da Verdade da Paraba, criada em maro de 2013, organizou-se em 10 grupos de trabalho com linhas de pesquisa prximas s estabelecidas pela CNV e tambm trata de um caso de grande repercusso no estado, ocorrido no Cine-Teatro Apollo II, em 1975. A Comisso da Verdade do Sindipetro de Alagoas colheu nove depoimentos relacionados a perseguies polti-cas e ao caso especfico da Operao Cajueiro.

    No Rio de Janeiro, a OAB focou seus trabalhos na questo da Justia Militar e colheu depoi-mentos de sete ex-presos polticos, disponveis para consulta na internet. No Esprito Santo, a Comisso da Verdade da Universidade Federal tomou cinco depoimentos e est analisando a documentao da Assessoria Especial de Segurana e Informao - AESI/Ufes. J no Rio Grande

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    do Sul, seis relatos foram registrados e firmado acordo com a Universidade Federal do estado para contratao de estagirios de apoio ao trabalho.

    No intuito de institucionalizar o contato com a sociedade, a CNV estruturou internamente uma coordenao de Ouvidoria, cujo trabalho divide-se, basicamente, em atuar como canal para re-cebimento de colaboraes atividade-fim da CNV e de transparncia. Em sua funo de trans-parncia e prestao de contas, a Ouvidoria atua como intermediria entre o cidado e os demais setores da CNV, para o atendimento das demandas por informaes, cujos principais pedidos so dvidas sobre o funcionamento da CNV, pedidos de acesso a informaes administrativas e pedidos baseados na Lei de Acesso Informao.

    Os principais motivos pelos quais as pessoas buscam a Ouvidoria so para o envio de denncias, envio de documentos e informaes e oferecimento de depoimentos. Desde a instalao do siste-ma eletrnico de gerenciamento de demandas, a Ouvidoria, baseada no padro de demandas at ento enviadas, criou categorias para as solicitaes recebidas as quais aparecem como opes aos cidados que utilizam o formulrio eletrnico na internet: pedido de informaes; envio de informaes; oferecimento de depoimento; denncia, sugesto; reclamao; e elogio.

    De acordo com essa classificao, as 864 solicitaes registradas pela Ouvidoria, desde a instala-o da CNV at 17 de maio de 2013, foram classificadas como mostra a tabela a seguir.

    Das solicitaes enviadas com o intuito de colaborar com os trabalhos da CNV, aps trabalho de triagem, consulta aos gerentes de projetos e eventuais complementaes de informaes, os dados potenciais para novas investigaes pelos Grupos de Trabalho so distribudos aos GTs, de acordo com a pertinncia temtica.

    Por fim, a CNV tem ainda uma Coordenao Geral de Comunicao e Imprensa, responsvel por gerenciar os contatos da CNV com os veculos de mdia, bem como divulgar suas atividades.A CNV possui pginas no facebook (www.facebook.com/comissaonacionaldaverdade), twitter (www.twitter.com/CNV_Brasil) e youtube (www.youtube.com/comissaodaverdade).

    solicitaes recebidas at 17 de maio de 2013categorias total percentual

    Envio de informaes 107 12%Pedido de informaes 467 54%Reclamao 121 14%Denncia 72 8%Oferecimento de depoimento 32 4%Sugesto 54 6%Elogio 11 1%Total de Solicitaes 864 100%

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    membros da cnvClaudio Fonteles

    Gilson Dipp

    Jos Carlos Dias

    Jos Paulo Cavalcanti

    Maria Rita Kehl

    Paulo Srgio Pinheiro

    Rosa Cardoso

    realizao:

    Recentemente, foi lanada, em parceria com a SECOM, campanha nacional de divulgao do trabalho da CNV e motivando os cidados a ajudarem enviando informaes que possam ser teis no trabalho da CNV.

    introduoa pesquisa da comisso nacional da verdade Os temas de pesquisaContextualizao, Fundamentos e Razes do Golpe de 1964Graves Violaes de Direitos Humanos no BrasilRepresso internacional, mortes e desaparecimentosCadeias de comando dos crimes dos agentes do ditaduraA legalidade autoritriaA ditadura e a sociedade civil

    As tomadas de depoimentosA Gesto da Informao e do ConhecimentoA pesquisa documentalas relaes institucionais da cnv