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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS I ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA ADEIR BOIDA DE ANDRADE RENATO BARRETO DOS SANTOS SISTEMA DIGITAL DE IDENTIFICAÇÃO BALÍSTICA (IBIS): ADEQUAÇÃO PARA ELUCIDAR CRIMES COMETIDOS COM ARMA DE FOGO NA BAHIA SALVADOR 2004

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS I

ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA

ADEIR BOIDA DE ANDRADE

RENATO BARRETO DOS SANTOS

SISTEMA DIGITAL DE IDENTIFICAÇÃO BALÍSTICA (IBIS): ADEQUAÇÃO

PARA ELUCIDAR CRIMES COMETIDOS COM ARMA DE FOGO NA BAHIA

SALVADOR

2004

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ADEIR BOIDA DE ANDRADE

RENATO BARRETO DOS SANTOS

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: BALÍSTICA FORENSE

SISTEMA DIGITAL DE IDENTIFICAÇÃO BALÍSTICA (IBIS): ADEQUAÇÃO

PARA ELUCIDAR CRIMES COMETIDOS COM ARMA DE FOGO NA BAHIA

SALVADOR

2004

Monografia apresentada como requisito para

conclusão do Curso de Especialização em Segurança

Pública pela Academia da Polícia Militar e

Universidade do Estado da Bahia.

Orientadores:

Profa. Maria de Fátima Noleto

Eng.º Marcelo Antônio Sampaio Lemos Costa

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FICHA CATALOGRÁFICA

Andrade, Adeir Boida de Sistema digital de identificação balística ( IBIS ) : adequação para elucidar crimes cometidos com arma de fogo na Bahia / Adeir Boida de Andrade , Renato Barreto dos Santos . – Salvador : [ s. n. ] , 2004. 89f. : il. Contém gráficos, apendices e bibliografia . Orientador : Professora Maria de Fátima Nolêto . Co-orientador : Eng. Marcelo Antônio Sampaio Lemos Costa. Monografia ( especialização ) – Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Ciências Humanas. Campus I. Academia de Polícia Militar do Estado da Bahia. 2004.

1. Balística . 2. Armas de Fogo. 3. Prova pericial . 4..Banco de dados – Medidas de segu - rança . 5. Preservação pela digitalização. I. Santos , Renato Barreto dos . II. Nolêto, Maria de Fátima . III. Costa, Marcelo Antônio Sampaio Lemos. IV. Universidade do Estado da Bahia – Departamento de Ciências Humanas. V. Academia de Polícia Militar do Estado da Bahia. CDD : 623.51

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DEDICATÓRIA Às Instituições do Sistema de Defesa Social do Estado da Bahia, a quem esperamos este trabalho possa agregar valor. A Polícia Técnica baiana, pelo apoio incondicional assegurado. Aos nossos familiares, pela paciência e compreensão inabaláveis.

“...pela intervenção estatal, a Sociedade pode entrar num processo acelerado de modernização tecnológica capaz de mudar o destino das economias, do poder militar e do bem-estar social em poucos anos.” CASTELLS (1999:26)

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SUMÁRIO

RESUMO vii

ABSTRACT viii

ABREVIATURAS E SIGLAS ix

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I: A IDENTIFICAÇÃO DE UMA ARMA DE FOGO 15

1.1 HISTÓRICO 16

1.2 A BALÍSTICA FORENSE NA HISTÓRIA 19

1.3 A IDENTIFICAÇÃO DE UMA ARMA DE FOGO 20

1.4 EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE IDENTIFICAÇÃO 24

1.5 EQUIPAMENTOS COMPLEMENTARES 25

1.6 MÉTODO SEMI-AUTOMÁTICO DE IDENTIFICAÇÃO 26

CAPÍTULO II: SISTEMA INTEGRADO DE IDENTIFICAÇÃO BALÍSTICA - IBIS

2.1 O IBIS: COMPOSIÇÃO 28

2.1.1 IBIS Hub: Estação para operação isolada 30

2.1.2 LDAS: Estação local de captura de imagens 31

2.1.3 Servidor 33

2.1.4 RDAS: Estação remota para captura de imagens 33

2.1.5 Matchpoint: Estação de consulta 35

2.1.6 Inserção de dados e leitura de resultados no IBIS 36

2.1.7 Preços básicos do IBIS 42

2.1.8 Paises que operam o IBIS 43

2.1.9 Qualificação dos operadores do IBIS 44

2.2 OPERAÇÃO DO IBIS EM REDE: A REDE NIBIN 45

2.2.1 Correlação: Condição para máxima eficiência e eficácia (Hits) 51

2.3 LIMITAÇÕES DO IBIS 51

2.4 USO DO IBIS COMO BANCO DE DADOS DE REFERÊNCIA 53

2.5 NOVA GERAÇÃO DO IBIS – GERAÇÃO 3D 55

2.6 IMPACTO DO IBIS NUMA UNIDADE DE BALÍSTICA FORENSE 56

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CAPÍTULO III: PANORAMA BRASILEIRO: A BALÍSTICA FORENSE NA BAHIA

3.1 PANORAMA BRASILEIRO - ESTATUTO DO DESARMAMENTO 60

3.1.1 Legislação polêmica 60

3.1.2 Limitações da Lei 61

3.2 BALÍSTICA FORENSE NA BAHIA 62

3.2.1 Estatística atual 62

3.2.2 Expectativa de impacto com o IBIS 65

CAPÍTULO IV: CONFIGURAÇÃO DO IBIS PARA A BAHIA

4.1 INSTALAÇÃO E OPERAÇÃO DO IBIS NA BAHIA 67

4.1.1 Adaptações na Coordenação de Balística Forense 67

4.1.2 Adequação do IBIS para a Bahia 73

4.2 AQUISIÇÃO E USO DE ARMAS DAS CORPORAÇÕES POLICIAIS 74

CONSIDERAÇÕES FINAIS 77

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 79

ANEXOS

ANEXO I – PREÇOS DO IBIS 80

ANEXO II – Lei n.º 10.826 de 22/12/2003 – Estatuto do Desarmamento 81

ANEXO III – Autorização para referência 90

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RESUMO

A tecnologia digital para identificação balística vem recebendo especial atenção no cenário internacional, como uma poderosa ferramenta capaz de ajudar a Justiça no combate aos crimes cometidos com armas de fogo, pela possibilidade de correlacionar múltiplos eventos criminosos. O equipamento conhecido como IBIS (da sigla inglesa Integrated Ballistic Identification System), permite às Polícias estabelecer uma correlação entre estojos e projéteis coletados em locais de crime com evidências vinculadas a outros atos criminosos e, também, com armas de fogo confiscadas em situação irregular. As imagens de projéteis e estojos não identificados são cadastradas no banco de dados do IBIS, sendo normalmente chamados de peças questionadas. Quando uma nova arma de fogo é apreendida, ou novas evidências materiais são recebidas, elas são naturalmente comparadas com os dados das peças questionadas objetivando correlacionar diferentes locais de crime. Após esta comparação automática feita pelo IBIS, Peritos em balística devem confrontar as peças originais, confirmando ou não a correlação, e estabelecendo desta forma conexões que seriam perdidas caso não fosse usada esta tecnologia. O Estado da Bahia está planejando adquirir o IBIS, e este trabalho se constitui numa pesquisa que pretende apontar as condições para se obter o melhor desempenho com esta tecnologia projetada para elucidar crimes com armas de fogo.

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ABSTRACT

Digital imaging technology for ballistic identification has received international attention as a potent tool for moving the law in your battle against violent gun crimes, by linking multiple crime scenes to one firearm. The equipment known as Integrated Ballistic Identification System, or IBIS, allow law enforcement to link recovered cartridge cases and bullets to other crimes scenes and to seized firearms. The images of unidentified cartridge cases and bullets are retained in IBIS database and this is often called open cases. When a new firearm is seized or a new evidence material is received, it is usually compared to this open case file to link different scene crimes. After this automatic comparison, Firearms examiners has to compare original evidence to confirm a match, providing connections between crimes that would have been lost without this technology. The State of Bahia is planning to acquire IBIS technology and this monograph is a research work that represents a attempt to search the conditions to our State obtain the best performance of this digital database, sized to help in elucidation of gun crimes.

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ABREVIATURAS E SIGLAS

SSP – Secretaria da Segurança Pública

SSP/Ba – Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

APM – Academia da Polícia Militar

UNEB – Universidade do Estado da Bahia

DPT – Departamento de Polícia Técnica (Bahia)

ICAP – Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto (Bahia)

CBF – Coordenação de Balística Forense (órgão da estrutura do ICAP/DPT/SSP/Ba)

IBIS – Integrated Ballistic Identification System

IBIS Hub – Configuração básica do IBIS (para operação isolada)

NIBIN – National Integrated Ballistic Information Network

ATF – Bureau of Alcohol, Tobacco and Firearms, Department of Treasury, USA

FTI – Forensic Technology Incorporated

FBI – Federal Bureau of Investigation

Hit – Correlação apontada pelo IBIS, depois de confirmada pelos Peritos.

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INTRODUÇÃO

Este trabalho consiste numa reflexão sobre o desempenho de uma relativamente

nova tecnologia digital destinada a identificação balística: da sua compatibilidade com a

realidade brasileira, das possibilidades de utilização, das suas limitações, e das eventuais

adaptações necessárias para que se possa obter, na Bahia e no Brasil, resultados práticos com

este equipamento, dimensionado para correlacionar e elucidar crimes cometidos com armas

de fogo. O equipamento examinado é o IBIS, sigla do inglês Integrated Ballistic Identification

System, que é produzido pela empresa Canadense FTI – Forensic Technology Inc., originária

da área de Automação Industrial. O equipamento é considerado por especialistas

internacionais como a mais moderna e consistente tecnologia até então disponível, para o

estabelecimento de correlação entre delitos, e para a identificação de uma arma suspeita.

O interesse pelo tema ficou reforçado em junho de 2003, ocasião em que a

Administração da Polícia Técnica e do Instituto de Criminalística convidou um dos autores

para liderar a Coordenação de Balística Forense – CBF baiana. Tratava-se de um grande

desafio e da delegação de uma missão no sentido de modelar um projeto de modernização

para a nossa Unidade de Balística, uma das mais importantes do Instituto de Criminalística: O

que haveria de mais moderno e eficiente no mundo? Quais os bancos de dados usados pelos

profissionais dos países mais desenvolvidos? Quais os procedimentos adotados nas unidades

onde o trabalho de identificação dá certo? O que se poderia implantar no curto prazo, com o

uso de ferramentas e equipamentos de baixo custo, de fácil aquisição pela própria Polícia

Técnica.

O trabalho foi iniciado pela prospecção de uma série de ferramentas digitais,

começando por bancos de dados gratuitos, disponíveis em páginas eletrônicas de algumas

instituições americanas (características gerais do raiamento das armas de fogo, e dados

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relativos a identificação de fabricantes mundiais de munição). Em seguida, iniciou-se a busca

de dados sobre o IBIS, o sistema integrado de identificação que estaria fazendo sucesso no

mundo. O primeiro contato com o equipamento ocorreu em setembro de 2003, durante uma

visita efetuada ao Instituto de Criminalística Carlos Éboli, no Estado do Rio de Janeiro, onde

o equipamento estava implantado (desde agosto de 2002) e em condições de funcionamento.

Foi uma excelente oportunidade para troca de idéias com as profissionais Peritas Criminais

cariocas que tinham feito o curso de operação do IBIS no centro de treinamento mantido pelo

fabricante do equipamento na localidade de Largo, na Florida, Estados Unidos da América,

onde funciona uma equipe que dá suporte 24 horas aos usuários e, ainda, monta os IBIS que

são instalados em território norte americano.

Em resumo, o IBIS do Rio de Janeiro, que é composto por duas estações para

aquisição de dados e de uma estação para analise de correlação, estava (e continua como tal,

até a entrega desta Monografia) em condições de funcionamento, porem sem que fosse

alimentado com o registro de dados relativos a evidências de crimes cometidos com arma de

fogo. Em seguida veio o conhecimento de uma outra unidade do IBIS, esta instalada em

Vitória, Espírito Santo, que se encontraria também em ociosidade, e que teria sido comprada

mais ou menos no mesmo período.

Estávamos, portanto, diante de uma questão realmente instigante: Um

equipamento digital de custo extremamente elevado (mais de um milhão de dólares

americanos por unidade), que já fora adquirido por dezenas de países e que estaria, no

hemisfério norte, revolucionando o processo de identificação balística, esta mesma tecnologia,

no Brasil, teria redundado num exemplo bem acabado de absoluto fracasso. Afinal, seria o

IBIS, em sua configuração básica, incompatível com a cultura, a doutrina ou a legislação

penal brasileira? Seria possível proceder a adaptações no sentido de compatibilizar esta

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tecnologia com a realidade do Brasil e da Bahia? Esta Monografia nasceu exatamente do

desejo de encontrar respostas para estas questões.

A proposta de aprofundar os estudos sobre o desempenho do IBIS foi prontamente

acolhida pela Diretoria da Polícia Técnica do Estado da Bahia, de modo que um dos autores

efetuou duas viagens internacionais para prospecção do conhecimento, ambas no primeiro

semestre de 2004: primeiramente para Estados Unidos e México, no período de 11 a 17 de

abril e, depois, para participar de um Simpósio Internacional de usuários do IBIS, ocorrido em

Roma (Itália), de 2 a 6 de maio. A elaboração deste trabalho reflete um esforço no sentido de

transferir o conhecimento adquirido em todo este processo de pesquisa.

Conforme poderá ser constatado, o foco do trabalho está nas questões relativas ao

uso que se pode fazer do IBIS, com destaque para os procedimentos adotados e para as

opiniões dos, digamos assim, usuários bem sucedidos com a tecnologia, com absoluta

prevalência sobre as informações contidas nos catálogos ou peças promocionais do fabricante

do equipamento.

Sendo o IBIS um banco de dados digital, uma espécie de arquivo de última

geração, a pergunta fundamental que deve preceder todo o processo de aquisição do

equipamento, diz respeito ao modo como se pretende usar o arquivo, e este trabalho aborda

exatamente as duas principais opções possíveis:

• Usar o IBIS como um arquivo ou banco de dados civil ou de referência, onde

seriam cadastradas as evidências colhidas em todas as armas de fogo

produzidas ou comercializadas numa determinada região, ou pertencentes a

determinadas corporações policiais ou militares ou, ainda, do uso particular dos

seus integrantes. Enfim, um enorme arquivo com milhares ou milhões de

evidências catalogadas para referência futura.

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• Fazer do IBIS um arquivo ou banco de dados criminal, para onde iria com

exclusividade, as evidências vinculadas ao cometimento de infrações penais

com arma de fogo, além das evidências colhidas de armas suspeitas ou

apreendidas em situação irregular.

Durante a realização do trabalho os autores se depararam com algumas

dificuldades. Primeiro, com relação às informações disponíveis na língua vernácula, onde

havia apenas a tradução de algumas páginas do catálogo do fabricante (feita pela empresa

TSL, sediada em Belo-Horizonte-MG, e que representa a FTI no Brasil) e numa Monografia

elaborada pela Dra. Simone Soares Leite, Perita do Instituto Carlos Éboli, do Rio de Janeiro.

Enfim, informações relativas ao uso bem sucedido e a superação de obstáculos por parte de

usuários do IBIS estavam apenas em língua estrangeira, particularmente na língua inglesa. A

falta de experiência brasileira com o uso bem sucedido da tecnologia, de certo modo,

impossibilitou a elaboração de um trabalho empírico sobre o tema, fato que motivou a busca

de experiência estrangeira, para embasar uma proposta de adaptação a nossa realidade. Em

segundo lugar, foi enfrentada a questão do sigilo que marca as investigações policiais no

hemisfério norte, particularmente sob o atual cenário de ameaça do terrorismo internacional

(uma Corporação Policial conectada através do IBIS na rede Federal americana precisa de

autorização do Governo para passar uma simples informação relativa a sua própria estatística

dos casos de sucesso).

Este trabalho está divido em quatro capítulos, sendo o primeiro destinado a

rememorar os conceitos relativos à identificação de uma arma de fogo, com dados históricos e

atuais relativos a este fascinante capítulo da Criminalística e da Balística Forense. O segundo

capítulo está centrado no IBIS propriamente dito, sendo que no início fazemos uma descrição

do equipamento e dos seus componentes, com base nas informações passadas pelo fabricante;

em seguida são abordadas as questões relativas à forma adequada (e, também inadequada) de

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se fazer uso deste arquivo digital, e da maneira como os usuários bem sucedidos o têm

transformado numa extraordinária ferramenta de investigação criminal, examinando, ao final,

o impacto que o seu uso pode produzir numa unidade de Balística Forense. No terceiro

capítulo, estão comentários sobre o panorama atual da identificação balística no Brasil, diante

da regulamentação contida no chamado “Estatuto do Desarmamento”, sendo apresentadas,

também, informações e estatísticas relativas a Balística Forense no Estado da Bahia. No

quarto e último capítulo é apresentada uma proposta das adaptações: na configuração do IBIS

propriamente dito; e da adequação dos recursos (humanos, materiais e das dependências

físicas) da unidade de Balística da Bahia no sentido de receber e operar, com eficiência e

eficácia, o novo equipamento.

As considerações finais dos autores encerram o trabalho, quando é apresentada

uma síntese sobre a problemática abordada, e fixados conceitos globais sobre o IBIS, e sobre

o que ele representa para a Criminalística contemporânea.

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CAPÍTULO I - A IDENTIFICAÇÃO DE UMA ARMA DE FOGO

No campo da Criminalística, o capítulo relativo à identificação de um modo geral,

seja em relação a pessoas, seja em relação a coisas, constitui sempre matéria das mais

fascinantes. É o que ocorre com a identificação das armas de fogo, particularmente daquelas

envolvidas na prática de delitos tipificados na Lei Penal, cujos exames são da competência da

Balística Forense. Conceitos de Identificação, por outro lado são encontrados nas melhores

referências brasileiras da Balística Forense:

Antes de falar em identificação, é importante estabelecer a diferença entre identificação e identidade. Identidade de um ser é o conjunto de características próprias, peculiares, que o torna único e diferente de todos os demais seres. Identificação é o procedimento, o método pelo qual se verificam as características próprias, intrínsecas de um ser, as quais permitem estabelecer sua identidade. (TOCCHETTO, 2003, 3.ª Edição, p. 93)

O processo de identificação de uma arma de fogo suspeita de envolvimento num

crime consiste na busca e comparação de marcas singulares de identificação: dos elementos

propositais apostos pelo fabricante na arma propriamente dita, às estrias de dimensões

microscópicas que ficam estampadas nos projéteis e estojos que ela dispara. Constatada a

coincidência do calibre e de outras características específicas, a comparação destas marcas

singulares com aquelas que ficaram nas evidências coletadas em cadáveres ou em local e

crime, permite a identificação ou não da arma questionada ou suspeita, propiciando a sua

individualização, num universo de inúmeras outras armas de características idênticas.

Durante dezenas de anos este trabalho foi realizado por peritos e estudiosos da

Balística Forense através do minucioso exame individual das peças, a olho nu, através de

lentes de aumento e microscópios comuns, e, mais recentemente, com o uso de microscópios

comparativos especialmente desenvolvidos para os confrontos balísticos (e, também, para a

comparação de documentos e de marcas de ferramentas). O desenvolvimento da informática

nas últimas décadas fez surgir novas tecnologias de apoio a Criminalística, inclusive alguns

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bancos de dados com informações preciosas relativas às marcas deixadas pelas armas

cadastradas, seja nos projéteis onde ficam as impressões produzidas pelo atrito com o

raiamento, seja nos estojos da munição disparada, onde ficam estampadas as marcas

produzidas pelo ferrolho ou culatra, além daquelas deixadas pelo extrator e ejetor, como

ocorre nos disparos das armas semi-automáticas e automáticas.

1.1 HISTÓRICO

Toda arma de fogo do tipo de retrocarga, que opera com cartuchos metálicos,

possui características individuais que a diferencia de todas as outras, de modo semelhante ao

que ocorre com as impressões digitais nos seres humanos: Projéteis singulares disparados por

canos raiados trazem em suas laterais impressões bem definidas, deixadas pela passagem

forçada através do interior do cano, o mesmo ocorrendo com as bases dos estojos da munição

disparada, onde ficam estampadas as marcas provenientes do percussor e da culatra ou

ferrolho, além das marcas de extração e ejeção, próprias das armas semi-automáticas ou

automáticas. Quando os projéteis e estojos são coletados em local do crime (ou projéteis

retirados do corpo de vítimas de disparos) estas marcas singulares oferecem às Policias

Técnicas a possibilidade de determinar, primeiro, se estes projéteis e estojos foram disparados

ou não por uma única arma de fogo e, segundo, se foram disparados por uma arma suspeita,

quando esta é apreendida pela Polícia.

No disparo de um cartucho numa arma de fogo, enquanto o projétil ainda se

encontra em deslocamento no interior do cano, ocorre uma vertiginosa geração de gases

provenientes da combustão da pólvora. A pressão interna chega a milhares de Psi (Pounds

per square inch = libras por polegada quadrada) causando a dilatação das paredes do estojo e

o deslocamento do projétil em direção à boca do cano da arma. A mesma pressão que força a

saída do projétil em atrito contra o raiamento, produz o deslocamento e o impacto violento da

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base do estojo contra a culatra ou ferrolho da arma. O raiamento das armas de fogo é

constituído por estrias em alto relevo espiraladas nas paredes internas do cano, estrias estas

que removem material das laterais dos projéteis, como se fosse uma ferramenta metalúrgica

de desbaste. As figuras abaixo ilustram o raiamento dos canos, indicando os ressaltos e

cavados (lands and grooves, em inglês).

Figura 1 – Raiamento convencional das armas de fogo

Fonte: www.firearmsid.com. Acessado em 20 de outubro de 2004.

O raiamento do cano das armas de fogo foi a solução encontrada pela indústria

bélica para o emprego de projéteis com formato ogival, que tinham a vantagem de agregar

maior massa num pequeno diâmetro, característica que lhes conferia coeficiente aerodinâmico

superior ao das esferas, necessário para o desenvolvimento de maiores velocidades na

atmosfera gasosa terrestre. Como os projéteis ogivais têm o centro de gravidade deslocado em

direção à própria base, de modo semelhante a uma peteca estes projéteis ao serem disparados

por canos lisos tendem a girar de 180º ao longo da trajetória, dando uma espécie de

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cambalhota em pleno ar, perdendo velocidade e atingindo o alvo de lado ou de base (e não de

ponta como desejável). Para lhes garantir a estabilidade ao longo da trajetória, foi necessário

acrescentar aos projéteis ogivais uma aceleração tangencial durante o disparo, dotando-lhes

então de um movimento de rotação em torno do próprio eixo. É este o papel do raiamento, e é

por este motivo que o diâmetro dos projéteis vai até o fundo dos cavados, fazendo com que a

sua passagem pelo cano seja forçada, em atrito direto contra os ressaltos que estão em alto

relevo no interior do cano.

Depois de disparados, os projéteis ficam marcados como indicado na Figura 2:

Figura 2 – Marcas de raiamento.

Fonte: Balística Forense de Eraldo Rabello. O confronto balístico, entre projéteis ou estojos disparados por uma arma de fogo

pode ocorrer entre evidências coletadas no local do crime (ou extraídos de vítimas) e as peças

obtidas através do disparo, em local adequado, de uma arma suspeita apreendida pela Polícia

(estojos ou projéteis que passam, então, a ser denominados de “padrões” daquela arma). É

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importante proceder, ainda, ao confronto entre projéteis ou estojos relativos a dois ou mais

diferentes delitos, quando ainda não se tem a arma, mas suspeita-se de correlação. O exame

de comparação visual entre cada evidência nova que chega com os milhares de outras peças

previamente arquivadas nas unidades da Balística, entretanto, é tarefa impossível de realizar

contando apenas com o trabalho humano.

A esperança da Criminalística era de que o desenvolvimento tecnológico viesse

proporcionar um sistema informatizado para armazenamento e comparação entre os detalhes

das imagens de grande quantidade de projéteis e estojos disparados por arma de fogo, de

evidências de crime a padrões de armas suspeitas. O IBIS foi criado com a pretensão de

preencher esta lacuna: viabilizar o trabalho pesado de correlação prévia entre evidências

vinculadas a crimes cometidos com arma de fogo.

1.2 A BALÍSTICA FORENSE NA HISTÓRIA

Segundo o Professor Eraldo Rabello, o embrião da Balística Forense, na forma em

que hoje a compreendemos, surgiu na primeira ocasião em que alguém, examinando as

características de uma flecha retirada do corpo de um guerreiro morto, logrou determinar a

tribo, ou o clã, a que pertenceria aquele que a desferira.

A identificação de uma arma de arremesso, dentre as quais destacam-se as de

fogo, constitui talvez um dos mais fascinantes capítulos da Balística Forense. Nas armas

raiadas, os primeiros exames de identificação, feitos com o objetivo de demonstrar

cientificamente se um determinado projétil, coletado em local de crime ou retirado de vítima,

foi disparado ou não por uma arma suspeita, eram feitos a olho nu, e estavam fundamentados

em marcas produzidas por pequenos defeitos da arma, dentre os quais podemos citar o

alinhamento irregular das câmaras de um revólver com o seu cano.

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Em 1927 nos Estados Unidos o Major Calvin Hooker Goddard (1891-1955)

empregou pela primeira vez na história da Balística Forense microscópios comuns,

devidamente adaptados para visualização de duas imagens simultâneas, para proceder à

identificação indireta de uma arma de fogo. Isto ocorreu no desfecho do famoso caso dos

anarquistas italianos Sacco e Vanzetti, ocasião em que Goddard determinou que o revolver

apreendido com Nicola Sacco havia sido efetivamente empregado no caso do roubo fatal ao

carro forte. Em 1932 Goddard coordenou os trabalhos da Polícia Federal Americana (FBI) na

criação do primeiro Laboratório de Ciência Forense Criminal dos Estados Unidos. A Figura

abaixo mostra Goddard com seu pioneiro microscópio balístico, uma adaptação de dois

microscópios comuns para visualização simultânea de duas imagens:

Figura 3. Major Calvin Hooker Goddard Fonte: www.goddardaward.com. 2004.

1.3 A IDENTIFICAÇÃO DE UMA ARMA DE FOGO

A identificação e a identidade de uma arma de fogo já foram amplamente

conceituadas pelos nossos melhores autores da Balística Forense:

Uma arma de fogo, em analogia com o indivíduo que a possui, tem, por assim dizer, uma identidade civil e uma identidade física. A identidade civil, no caso, é definida pelos dados de qualificação que deverão constar nos documentos e registros, oficiais ou não (nota ou recibo de compra, certificado de propriedade e autorização para o porte), por intermédio dos quais se provará a existência de uma determinada arma, como bem patrimonial, tutelado e vinculado a determinada pessoa física ou jurídica. A identidade física é a resultante do conjunto de características e particularidades

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distintivas, de constatação segura e objetiva, mediante as quais é possível demonstrar-se, categoricamente, que a arma a qual correspondem é a mesma a que se referem seus documentos e registros1.

Segundo o mesmo Autor, o processo de identificação de uma arma de fogo

compreende três fases distintas:

• Identificação genérica. A primeira fase onde se determina o gênero ao qual a

arma pertence: revólver, pistola, garrucha, espingarda, carabina, rifle ou

submetralhadora.

• Identificação específica. Definido o gênero, busca-se então a determinação da

espécie: por exemplo, dois revólveres de calibre nominal .38 Special são

examinados, sendo um deles de marca Taurus, fabricado em aço inox, com

cano de 4” (quatro polegadas), capacidade para 6 cartuchos, modelo 889 e o

outro, da marca Rossi, oxidado, com cano de 6 polegadas, tambor para 6

cartuchos, modelo 951.

• Identificação individual. É a identificação de uma arma em particular, num

universo de outras da mesma espécie. Dos exames de identificação é este o

mais importante e o que produz maiores conseqüências no mundo Forense,

constituindo o objetivo máximo dos trabalhos dos Peritos em balística de todas

as Polícias do mundo.

A identificação de uma arma de fogo pode ser efetuada pelo processo direto, ou

indireto. O processo é direto quando realizado sobre ela própria, nas suas características e

peculiaridades distintivas. Como referência para uma identificação direta ou imediata, temos

os elementos cunhados exteriormente no corpo da arma, como o nome e o logotipo do

fabricante, o calibre, o número de série e a naturalidade e nacionalidade. Estes elementos

constituem os chamados sinais propositais de identificação, alguns deles apostos pelo

fabricante para garantir a autenticidade do produto e orientar o usuário sobre o tipo de

1 TOCCHETTO, Domingos. Balística Forense. Editora Millennium. 3.ª Edição. 2003.

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munição a utilizar. Além destes elementos, comuns, podem ser cunhados nas armas de fogo

outros elementos qualificadores como marcas de bancos de prova, brasões de armas de

Estados e marcas relativas à sua vinculação com corporações policiais civis e militares. Estes

sinais propositais, aliados às características físicas da arma, como a forma, dimensões, tipo de

cano e acabamento, permitem ao perito a identificação segura da arma para futura referência.

Já no processo de identificação indireto ou mediato de uma arma de fogo, os

elementos utilizados como referência são as características gerais e particulares das

deformações impressas pela arma considerada nos projéteis e estojos por ela disparados. A

identificação indireta é feita não mais pelo exame da arma em si, mas mediante a análise

comparativa, macro e microscópica, das deformações constatadas nos padrões produzidos

pelo disparo da arma, com as marcas examinadas nas peças questionadas, extraídas de vítimas

ou coletadas em local de crime. Um resultado conclusivo dependerá sempre das condições das

peças questionadas, do número e valor das deformações pesquisáveis nestas evidencias.

Os fundamentos técnicos para a identificação indireta de uma arma de fogo estão

na própria dinâmica do disparo, nos fenômenos que ocorrem durante milésimos de segundo,

tempo que separa a percussão da espoleta ao instante em que o projétil sai do cano da arma. A

espoleta é constituída por uma mistura iniciadora (um explosivo) que detona e inflama a

pólvora (um propelente) no interior do estojo. Neste processo será produzida uma grande

quantidade de gases, em alta temperatura e alta pressão, tendo como resultado a dilatação das

paredes laterais do estojo da munição e a violenta aceleração dos dois elementos já separados:

o projétil, que é empurrado violentamente para o exterior do cano, em passagem forçada e

mediante forte atrito contra o raiamento; e o estojo, que recebe a mesma força na porção

interna da sua base, e é também violentamente projetado contra o percussor e contra a

superfície da culatra da arma, recebendo ali a estampa das irregularidades destas superfícies,

sob a forma de micro-estrias.

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Observe-se que nos projéteis, além das deformações macroscópicas caracterizadas

pela largura e profundidade de ressaltos e cavados do raiamento, ficam as deformações

microscópicas produzidas pelas irregularidades (não propositais) das respectivas superfícies.

Conveniente lembrar que em mecânica não existem superfícies metálicas totalmente lisas: o

polimento apenas reduz as dimensões das irregularidades superficiais dos metais, as quais

poderão, sempre, ser ampliadas e visualizadas em aparelhos óticos apropriados.

Figura 4. Deformações produzidas pelo disparo de arma de fogo em projétil e em estojo de

munição. Fonte: Coordenação de Balística Forense. ICAP. DPT. SSP/Ba. 2004.

Com o exame de micro comparação balística é possível obter a identificação individual, pelo

processo indireto, portanto, de uma arma de fogo vinculada ao cometimento de uma infração

penal. Também é possível o confronto entre peças questionadas, para estabelecer uma

possível correlação entre evidências de diferentes crimes, o que é extremamente vantajoso

para a investigação policial. A Figura 5 abaixo mostra a correlação positiva entre peças

questionadas e os padrões coletados em arma suspeita:

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24

Figura 5. Micro-comparações entre peças disparadas por arma de fogo. PQ = Projétil Questionado; PP = Projétil Padrão; EQ = Estojo Questionado; EP = Estojo Padrão.

Fonte: Coordenação de Balística Forense. ICAP. DPT. SSP/Ba.

No caso das espingardas e armas curtas de alma lisa, de retrocarga, a identificação

indireta fica limitada apenas à comparação entre as deformações produzidas na base dos

estojos.

1.4 A EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE IDENTIFICAÇÃO

O processo de identificação indireta de uma arma de fogo, através da comparação

das deformações em projéteis e estojos, sofreu uma evolução gradativa ao longo da história da

Balística Forense. No início, fazia-se a comparação visual macroscópica dos ressaltos e

cavados impressos no projétil com o objetivo de constatar a coincidência do número, das

dimensões e da orientação destas marcas, obtendo-se então a identificação específica da arma

de fogo. Quando se lograva obter marcas individuais, provenientes de defeitos no cano ou

proveniente do desalinhamento entre as câmaras e o cano do revólver, chegava-se a desejada

identificação individual da arma. O Quadro 1 mostra um resumo dos marcos históricos na

evolução do processo de identificação balística:

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25

QUADRO 1

ANO EVENTO 1900 Primeira comparação entre projéteis nos Estados Unidos

1922 Aplicação de microscópio comum para a análise das imagens ampliadas entre projéteis e estojos de munição disparada.

1922 - 1950 Evolução do microscópio para visualização simultânea de duas imagens, para aplicação específica na comparação balística.

1980 Uso de computadores para armazenar e analisar casos relacionados com projéteis e estojos.

1992

Surgimento de equipamento informatizado para fazer a comparação entre fotos polaroid capturadas em estojos de munição deflagrada (sistema que ficou conhecido como “Drugfire”). A empresa canadense FTI – Forensic Technology Incorporated cria um sistema que captura a imagem e armazena a sua “assinatura” empregando um algoritmo matemático. O sistema permite a comparação com outros projéteis cadastrados e é batizado pelo fabricante como “Bulletproof”.

1994

A FTI associa, ao primeiro sistema desenvolvido, um segundo, batizado como “Brasscatcher”, destinado a captura e comparação de estojos de munição deflagrada. A empresa reúne os dois sistemas resultando no que ficou conhecido como IBIS.

Fonte: Forensic Technology Inc. 2004. 1.5 EQUIPAMENTOS COMPLEMENTARES

Todo o processo de Identificação balística, iniciado ou não por intermédio de um

equipamento digital como o IBIS, necessita do uso de equipamentos complementares,

particularmente de uma caixa para coleta de padrões (caixa de desaceleração para disparo de

arma de fogo e coleta de projéteis) e de microscópios para comparação balística. A caixa de

coleta de projéteis existente na Coordenação de Balística Forense da Bahia é de algodão,

medindo aproximadamente 40cm x 40cm x 120cm, e fica na área externa do prédio, de modo

que só pode ser utilizada com tempo bom e luz do dia. Nos países do hemisfério norte e nos

locais onde opera o IBIS a coleta é sempre feita num tanque de água, que tem a vantagem de

não propiciar a aderência de materiais na superfície dos projéteis, como é o caso das fibras de

algodão. Quanto aos microscópios balísticos, os aparelhos instalados na Bahia ainda são

adequados, estando prevista a aquisição de modelos mais modernos.

Page 26: Bali Stica

26

O tanque de água recomendado, que serve inclusive para a coleta de padrões de

fuzis, tem dimensões aproximadas de 0,90m (largura de 3 pés) x 0,90m (altura = 3 pés) x

3,00m (comprimento = 10 pés), e o cano da arma deve ser posicionado no interior do tubo

aberto, instalado numa das suas extremidades. Na água o disparo é feito com a arma

praticamente na posição horizontal, com leve inclinação do cano no sentido do vértice inferior

do tanque e, para evitar o ricochete, é imposta uma pequena vibração na superfície, para

quebrar a tensão superficial da água. O tanque aparece na Figura 6, ao lado do moderno

micro-comparador LEICA modelo FSC:

Figura 6. Tanque de água para coleta de padrões e Micro-comparador balístico.

Fonte: www.firearmasid.com acessado em 20 de outubro de 2004

Um tanque de água está sendo adquirido pela Polícia Técnica da Bahia e a

recomendação é que seja instalado em local abrigado, ao lado das demais dependências da

Coordenação de Balística Forense.

1.6 MÉTODO SEMI-AUTOMÁTICO DE IDENTIFICAÇÃO

Como ocorre em todos os ramos da Criminalística, o uso da Informática veio

proporcionar avanços na realização de exames de identificação balística. Grandes bancos de

Page 27: Bali Stica

27

dados informatizados foram desenvolvidos e estão disponíveis no mercado mundial como o

que foi desenvolvido pela Polícia Federal Americana, o FBI, contendo as características

gerais do raiamento de milhares de armas de fogo fabricadas em todo o mundo. Trata-se do

software conhecido como GRC (iniciais de General Rifling Characteristics, em inglês) que

permite, senão a identificação específica da arma de fogo que disparou determinado projétil

questionado, pelo menos a restrição a um pequeno universo de armas suspeitas.

Também estão disponíveis bancos de dados para utilização no processo de

identificação direta de uma arma de fogo, com imagens, dimensões, dados técnicos e de

acabamento, calibres e capacidade de munição, etc, de milhares de armas de fogo já

produzidas pela indústria de todo o mundo. A própria empresa que fabrica o IBIS, a Forensic

Technology Inc., também comercializa um destes bancos de dados, conhecido como

Gunsight.

Para a identificação individual, a tecnologia ainda não produziu um sistema

completo de identificação. Consta que o mundo dispõe hoje de três sistemas informatizados

para comparação de imagens das deformações produzidas por uma arma de fogo nos

elementos de munição que dispara: Francês, Russo e Canadense. Todos os três se constituem

em sistemas semi-automáticos de identificação, sendo que os dois primeiros comparam as

imagens das deformações impressas nas peças cadastradas, diferenciando-se do IBIS

Canadense que compara, não as imagens, mas a “assinatura” delas, apresentando um escore

de possibilidade de correlação. Para conclusão do processo de identificação, compete ao

Perito a confirmação final, através do exame micro-comparativo convencional.

Como o equipamento aponta apenas um escore de similaridade, pode-se dizer que

constitui um sistema semi-automático de identificação. O IBIS é hoje o equipamento mais

utilizado pelas Polícias de todo o mundo para este exame semi-automático, exatamente pelo

estabelecimento e comparação destas “assinaturas”, conforme consta do próximo Capítulo.

Page 28: Bali Stica

28

CAPÍTULO II - O SISTEMA INTEGRADO DE IDENTIFICAÇÃO BALÍSTICA

(IBIS)

2.1 O IBIS: COMPOSIÇÃO

O Sistema Integrado de Identificação Balística, do inglês Integrated Ballistic

Identification System – IBIS, é produzido pela empresa Canadense FTI - Forensic Technology

Inc., firma que atuava originalmente na produção de soluções para automação industrial. Em

1992 a FTI criou um sistema para identificação de projéteis disparados por arma de fogo, o

qual foi batizado como Bulletproof. Quando, em 1994 a mesma empresa criou um outro

sistema para identificação de estojos de munição disparada, denominado então de

Brasscatcher, e, integrou os dois sistemas numa única unidade, ficou constituído o sistema

integrado ou IBIS.

O IBIS, assim como outros equipamentos criados com o mesmo objetivo, captura

e armazena em sua memória eletrônica a imagem de campos previamente selecionados das

deformações impressas nos projéteis e nas bases dos estojos disparados por uma arma de

fogo. No caso dos projéteis, diferentemente do que faz o Perito em um exame micro-

comparativo, o IBIS utiliza apenas a imagem dos cavados impressos em sua superfície lateral

(o equipamento não considera as eventuais deformações contidas nos ressaltos), imagens estas

que o IBIS chama de LEAs (áreas demarcadas pelos ressaltos do cano, sigla de Land

Engraved Area, em inglês). Por exemplo, num projétil contendo 6 (seis) ressaltos e 6 (seis)

cavados, o Operador do IBIS deverá fazer a captura das 6 (seis) LEAs, sendo necessário

demarcar previamente as duas linhas paralelas (num total de 12 linhas) situadas nos limites

laterais destes cavados. Segundo a FTI, este processo consome, em média, 15 (quinze)

minutos.

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29

Nas bases dos estojos de munição disparada, o Operador do IBIS faz a seleção das

áreas onde aparecem as deformações, delimitando-as através de uma poligonal fechada. Nos

estojos de munição de fogo central, normalmente seleciona-se a área em volta da cápsula de

espoletamento (onde está a marca da percussão, e do impacto sobre o ferrolho ou culatra) e a

área onde ocorreu o impacto do ejetor.

Consta que a semelhança entre o IBIS e seus concorrentes se encerra logo após a

captura e armazenamento das imagens das deformações impressas nos elementos de munição.

A partir daí, empregando um algoritmo2 matemático especialmente desenvolvido pela FTI, o

IBIS cria uma grande equação matemática sob a forma de polinômio, representativo das

deformações visualizadas. As imagens são armazenadas no banco de dados, devidamente

associadas a este polinômio representativo das deformações, sendo que este último passa a ser

denominado de “assinatura” digital das deformações cadastradas. Esta equação ou

“assinatura” digital obtida pelo algoritmo se constitui então no elemento fundamental que é

enviado automaticamente para o servidor do IBIS, para a comparação (matemática) com as

outras unidades (projéteis ou estojos) do mesmo calibre e características. Segundo a FTI, a

tecnologia IBIS é constituída por 15 (quinze) patentes, e já teria produzido a elucidação de

cerca de 30.000 crimes cometidos com arma de fogo em todo o mundo.

Tecnicamente, o IBIS é um banco de dados com arquitetura Oracle que opera no

ambiente Windows, dispõe de um sistema automático de back-up, e vem equipado com uma

unidade de suprimento de energia UPS, do tipo no-break (UPS = Uninterruptible Power

Supply). O equipamento está dimensionado para operar em rede, mediante uso do protocolo

TCP/IP (Transmission Control Protocol/Internet Protocol). É um sistema totalmente

integrado que vem equipado com câmaras digitais e tem iluminação ajustável através de cabos

2 Seqüência finita de regras, raciocínios ou operações que, aplicada a um número finito de dados, permite solucionar classes semelhantes de problemas num número finito de etapas, segundo o Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro. 1ª Edição. 2001.

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30

de fibra ótica. É totalmente modular, composto por uma família de componentes, que podem

ser arranjados para operar de modo interligado, e tem capacidade para capturar e armazenar

dados relativos a componentes de munição do calibre .22 ao calibre 12 (cartucho para

espingarda).

Por recomendação do fabricante, o IBIS deve ser instalado em ambiente com

umidade controlada, climatizado, e com iluminação ajustável em intensidade. Esta mesma

recomendação aplica-se aos microscópios comparadores balísticos e todo tipo de equipamento

ótico sensível ao ataque de fungos. O ideal seria instalar o IBIS no mesmo ambiente onde

ficam os micro-comparadores balísticos.

Acrescente-se que a empresa fabricante, a FTI - Forensic Technology Inc está

sediada em Quebec, no Canadá e mantém filiais nos Estados Unidos (Washington e Largo, na

Flórida), em Dublin, na Irlanda e, também em Johannesburg na África do Sul. A FTI é

representada no Brasil pela empresa TSL, sediada em Belo Horizonte – MG.

2.1.1 IBIS Hub: Estação para operação isolada

O IBIS Hub é a unidade básica do IBIS, uma estação completa do equipamento,

destinada ao trabalho isolado (aceitando também conexão de rede) com recursos para a

captura das imagens e geração da “assinatura” digital das deformações impressas nos

elementos de munição cadastrados. O equipamento é composto por duas estações de trabalho

e um servidor. A primeira estação (chamada DAS = Data Acquisition Station) faz a captura

das imagens de projéteis e estojos, gera a “assinatura” digital, e a encaminha automaticamente

para o servidor, o qual efetua a comparação matemática. É também na DAS que se insere toda

a informação relativa aos elementos que estão sendo cadastrados. A outra estação,

denominada SAS (sigla de Signature Analysis Station), é onde se visualiza o resultado do

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31

trabalho do equipamento, caracterizado por um escore de similaridade entre as peças recém-

cadastradas e os outros elementos que já constavam do banco de dados. As correlações são

feitas de modo automático pelo servidor, podendo, opcionalmente, serem requisitadas

manualmente pelo operador.

O Instituto de Criminalística da Polícia Técnica da Bahia, fundamentada na

Estatística da sua Coordenação de Balística Forense – CBF, está encomendando um IBIS

Hub, associado com mais uma estação DAS local (LDAS), num total de duas estações para

aquisição de dados e uma estação SAS. No Espírito Santo consta que está instalado um IBIS

Hub, enquanto que no Rio está um Hub + 1 LDAS (estação local para aquisição de dados). A

Figura 7 mostra a imagem do IBIS Hub:

FIGURA 7 – Configuração básica do IBIS ou IBIS Hub.

Fonte: FTI - Forensic Technology Inc. 2004.

2.1.2 LDAS: Estação local para captura de imagens

A estação local para captura de imagens LDAS (do inglês Local Data Acquisition Station) é

uma estação de trabalho onde se faz a captura das imagens de projéteis ou estojos disparados

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32

por uma arma de fogo e se inserem os dados relativos às evidências. É uma unidade DAS,

estação que é a porta de entrada do sistema, dimensionada para operar através de uma rede

local, podendo ser acrescentada a um sistema IBIS Hub pré-existente através de uma rede

LAN (de Local Area Network). A Figura 8 abaixo mostra a estação LDAS, em cujo sistema

ótico constam os dispositivos para captura da imagem de projéteis (esquerda do operador) e

de estojos (direita), tal como uma DAS:

Figura 8. Estação LDAS. Ao lado, imagens da captura das deformações em estojo (acima) e

em projétil (abaixo). Fonte: Forensic Technology Inc. 2004.

A estação local para captura de imagens LDAS dispõe dos seguintes recursos:

• Duplo microscópio com controle automático de luz e foco

• Duas câmeras digitais independentes, para projéteis e estojos.

• Mouse, teclado e dois monitores de vídeo (visualização das imagens capturadas

e inserção de dados de registro da evidência).

• Sistema de conversão (algoritmo) para obtenção da assinatura digital

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33

• Envio dos dados, e requisição automática de correlação para o Servidor.

2.1.3 Servidor

O Servidor de correlação é a máquina que perfaz a função de correlação entre as

evidências cadastradas no IBIS. O servidor recebe, formata e compara, matematicamente, as

“assinaturas” digitais das evidências, proporcionando então um escore de similaridade. Tem

capacidade para proceder a comparação de mais de 130 (cento e trinta) estojos por segundo, e

é completamente modulado, de 2 a 18 centrais de processamento (CPUs). Os servidores com

maior capacidade surgiram recentemente, para atender a demanda da grande rede americana.

A Figura 9 abaixo mostra os servidores do IBIS nas suas configurações extremas:

Figura 9. Servidores do IBIS. Com dezoito CPU (à esquerda, para atender a grandes redes) e

com duas CPU (à direita, para ser montado numa pequena torre de micro-computador). Fonte: Forensic Technology Inc. 2004.

2.1.4 RDAS: Estação remota para captura de imagens

A estação remota para captura de imagens RDAS (do inglês Remote Data

Acquisition Station) é uma estação de trabalho DAS adaptada para operar em local remoto,

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34

interligada a um servidor através de uma rede larga do tipo WAN (de Wide Area Network). A

figura 10 mostra a estação RDAS, cujo sistema ótico é idêntico ao da LDAS:

Figura 10. Estação remota RDAS. Fonte: Forensic Technology Inc.

A estação remota RDAS dispõe de recursos para captura, armazenamento e envio

automático (com requisição de resultados) da assinatura digital das deformações visualizadas

para um servidor, através de uma rede WAN, tudo de modo semelhante a uma estação LDAS.

A diferença é que numa RDAS, podem ser visualizados os resultados produzidos pelo

servidor, bem como acessar dados constantes de qualquer outra RDAS da mesma rede.

São os seguintes os recursos adicionais:

• Exibição da comparação produzida pelo servidor, com imagem lado a lado.

• Requisição manual de correlação com evidencias cadastradas em qualquer

unidade da rede.

• Recursos para impressão de imagens e relatórios.

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35

• Importação de imagens capturadas em outras unidades da rede.

Ainda não se tem previsão para a instalação de estações remotas do IBIS na

Bahia.

2.1.5 Matchpoint: Estação de consulta

A estação de análise Matchpoint é um micro-computador com tecnologia

compatível com o sistema IBIS, feita para consulta aos dados constantes do sistema através de

uma rede local LAN. A estação foi dimensionada para permitir ao Perito acesso aos dados e

análise dos resultados da comparação feita pelo IBIS, da sua própria sala, sem a necessidade

de ocupar a estação SAS. Permite a visualização das imagens lado a lado, e, tal como a

própria SAS ou uma RDAS, também propicia a impressão de imagens e relatórios. Ainda não

foi encomendada sua aquisição pelo Estado da Bahia.

Figura 11. Estação Matchpoint.

Fonte: Forensic Technology Inc. 2004.

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36

2.1.6 Inserção de dados e leitura de resultados no IBIS.

Para se proceder ao cadastramento de evidências no IBIS é necessário criar

preliminarmente um caso ou evento e, em seguida inserir os dados, através de um

procedimento operacional padrão (POP), fazendo-se então o registro de uma arma, projétil ou

estojo. O fluxograma abaixo ilustra o procedimento:

Figura 12: Fluxograma de operação do IBIS (Proposta)

Durante o registro, o IBIS requer o preenchimento dos seguintes campos:

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37

• Registro de Caso ou Evento.

É o procedimento preliminar, onde são inseridas as seguintes informações:

Número do caso ou evento. Tipo de evento (crime).

Departamento de Polícia (órgão responsável). Razão da prioridade.

Data da ocorrência. Supervisor do caso (Perito).

Número de referência. Comentários.

• Registro de arma de fogo.

Depois do registro do evento, faz-se o registro das provas materiais propriamente

ditas, podendo-se escolher, inicialmente, o cadastramento de uma arma de fogo, preenchendo-

se as seguintes informações:

Número da amostra. Calibre.

Marca. Número de série.

País de origem. Modelo.

Tipo. Comentário.

Importador. Data do registro.

Crime. Comprimento do cano.

Capacidade de munição. Descrição do acabamento.

Apreensão. Nome do possuidor.

Nome do policial (responsável pela apreensão).

Observação: Importante ressaltar que, depois de digitados os dados acima

requeridos, deve-se proceder à captura das imagens das deformações produzidas pela arma em

apreço no projétil e estojo disparados por ela (peças padrão), cujas imagens irão para o banco

de dados do IBIS, para correlação com as evidências de crime ali existentes.

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38

Vale salientar, ainda, a importância do correto preenchimento do campo relativo

às datas de apreensão (elemento que nem sempre chega até a nossa Polícia Técnica) e de

inserção do registro da arma. Na versão básica do IBIS esta é uma informação decisiva, vez

que ele procede à divisão do seu banco de dados em dois segmentos: elementos vinculados a

delitos anteriores, e posteriores, a data da apreensão da arma. O equipamento básico foi

configurado mediante a fundamentação de que uma arma apreendida pela Polícia não volta

depois para cometer novos crimes e, por isso mesmo, o IBIS padronizado compara o padrão

daquela arma apenas com as evidências de crimes cometidos até a data da sua apreensão! O

padrão daquela arma é desconsiderado, então, para todas as demais evidências que forem

vinculadas a delitos posteriores a data da sua apreensão.

Esta configuração, adotada para evitar a lentidão do processamento das

comparações, vai diretamente de encontro à realidade brasileira onde uma arma apreendida e

examinada hoje, pode sim (infelizmente), voltar para cometer novos crimes amanhã!... Em

consulta a FTI, fomos informados que é possível modificar esta configuração, embora o

sistema fique mais carregado.

• Registro de projétil.

Prosseguindo-se com o registro de evidências materiais, pode-se escolher o

registro de projétil (evidência de crime), preenchendo-se as seguintes informações:

Número da amostra. Calibre (família de calibres).

Calibre nominal. Orientação do raiamento.

LEA/GEA (número de raias). Composição.

Tipo de crime (cometido). Registro da arma (se padrão).

Observação: Cabe destacar aqui a necessidade de inserção de duas informações

distintas, ambas relativas ao calibre do projétil. É comum nos países de língua inglesa o

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39

emprego da palavra caliber como indicativo da “família” de calibres de projéteis do mesmo

diâmetro, seguidos sempre de números indicativos, expressos normalmente em centésimos ou

milésimos da polegada (Ex: 25, 32, 38, etc.). O caso típico é o dos projéteis fabricados para

os calibres nominais .380 Auto, .38 SPL, .357 Magnum e 9mm Luger, tratados todos como

sendo do caliber 38, vez que podem ser disparados por qualquer arma de um dos citados

calibres nominais (projéteis fabricados para um calibre nominal podem ser montados num

estojo de outro calibre e, então, disparados eficazmente por esta outra arma). O IBIS leva isto

em conta e faz, quando constatada a similaridade das características do raiamento, a

comparação entre projéteis da mesma família de calibres ou caliber.

Já nos casos dos estojos ou das armas de fogo, se emprega unicamente a palavra

cartridge, que para nós tem o significado de cartucho ou calibre nominal, indicando ainda,

quando relativo a uma arma de fogo, o cartucho para o qual ela foi dimensionada.

• Registro de estojo.

A terceira e última alternativa, como escolha para o registro de evidências

materiais, é o cadastramento de estojo de munição disparada, preenchendo-se campos

relativos as seguintes informações:

Número da amostra. Calibre nominal (cartridge).

Marca. Forma da percussão.

Tipo de crime. Número da arma (quando padrão).

Observação: Verifica-se, portanto, que para todas as evidências materiais

cadastradas faz-se necessário realizar um exame prévio preciso das suas características

balísticas, elementos que serão considerados pelo servidor do IBIS para o procedimento, ou

não, das correlações.

• Resultado da correlação entre projéteis.

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O servidor do IBIS quando efetua, automaticamente ou mediante solicitação do

operador, a correlação entre evidências, leva em conta as informações cadastradas: data da

ocorrência; “família” do calibre (projétil) e calibre nominal; forma da marca de percussão

(estojos); e características gerais do raiamento (projéteis).

Para os projéteis, havendo coincidência nas deformações produzidas pelo

raiamento, o IBIS compara as micro-deformações contidas em cada um dos cavados (ou

LEAs) de uma peça com todas as marcas contidas em cada LEA da outra amostra. Por

exemplo, na comparação entre dois projéteis contendo quatro raias, o IBIS efetua 16

(dezesseis) comparações, decorrentes do cotejo entre cada um dos cavados da primeira (peça

padrão) com todos os quatro cavados da peça questionada. O equipamento denomina de fase

cada um dos alinhamentos assumidos entre os projéteis comparados.

Segundo Simone Soares Leite3 a perfeita compreensão da correlação entre

projéteis feita pelo IBIS exige o entendimento de 3 (três) conceitos fundamentais:

Fase máxima: a mais alta pontuação dentre todas as fases da comparação.

Indicativo utilizado no escore de similaridade elencado pelo IBIS.

Pico de fase: cavados com maior pontuação dentro da fase máxima. Indicativo de

maior similaridade a partir daquela pontuação.

Cavado máximo: leva em conta a pontuação absoluta da comparação entre dois

determinados cavados. É relevante no caso de projéteis deformados que tem

apenas cavados remanescentes (permite indicar uma correlação positiva, embora

não pontue como fase máxima, por ausência de cavados ou LEAs).

3 LEITE. Simone Soares. Sistema Integrado de Identificação Balística. UNESA. Rio de Janeiro. 2002.

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A Figura 13 mostra os dados contidos na tela do IBIS como resultado da

comparação entre dois projéteis de quatro raias (a peça padrão é indicada como T - teste e a

questionada como R - referência):

FASE 1 FASE 2 FASE 3 FASE 4 R:T Pontos R:T Pontos R:T Pontos R:T Pontos

1:1 47 1:2 34 1:3 61 1:4 78

2:2 0 2:3 55 2:4 25 2:1 67

3:3 60 3:4 82 3:1 14 3:2 59

4:4 23 4:1 0 4:2 37 4:3 75 Contagem

d f130 171 137 279

R – Referência

contagem do cavado máximo (Max. LEA) contagem do pico de fase (Peak Phase) contagem de fase máxima (Max. Phase)

Figura 13. Resultado da correlação do IBIS entre dois projéteis de 4 raias, cada, sendo R = referência (evidência) e T = teste (padrão).

Fonte: Simone Soares Leite

• Resultado da correlação entre estojos.

Para cada par de estojos, o IBIS produz três contagens independentes: deformação

produzida pelo ferrolho ou culatra; marca do percussor; e marca de ejeção (ME, quando

existir). A FTI recomenda avaliar as 10 (dez) primeiras amostras de cada uma destas

contagens. A Figura 14 abaixo mostra o resultado da correlação entre estojos:

Classificação ID do caso Nº da Nome do l l

Face l t

percussor ME ou PR

1 OF 33/04 EQ1 7 CP 28 5 0

2 OF 23/03 EQ3 13 CP 28 19 0

3 OF 17/04 EQ1 12 CP 24 18 0

4 OF 44/03 EQ5 DPT 24 9 0

5 OF 25/02 EQ3 4 CP 23 25 0

6 OF 12/04 EP3A1 23 BPM 20 12 0

7 OF 17/03 EP2A3 5 CP 19 22 0

8 OF 44/03 EQ3 9 CP 19 12 0

9 OF 14/04 EQ1 7 CP 19 9 0

10 OF 78/02 EQ2 9 CP 18 10 0 Figura 14. Resultado da correlação entre estojos.

Fonte: Simone Soares Leite.

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42

De um modo geral, o fabricante recomenda que os peritos avaliem os primeiros 10

(dez) colocados no escore de similaridade apresentado como resultado das correlações

produzidas pelo IBIS. Normalmente os casos positivados situam-se entre os 5 (cinco)

primeiros da lista mas, sobretudo no caso de projéteis, deve-se considerar as correlações feitas

com peças deformadas, em que foram cadastrados apenas cavados remanescentes, e que,

portanto, não pontuam entre os primeiros de fase máxima. Uma grande pontuação de um

cavado máximo (máxima LEA), pode ser indicativa de uma correlação positiva.

2.1.7 Preços básicos do IBIS.

Os preços de referência do IBIS foram passados pela FTI, através de correio

eletrônico enviado pelo Sr. Augusto San Cristóbal em 13 de julho de 2004, e consta do

ANEXO I. Os preços estão em dólares Canadenses (CAD), moeda que em outubro de 2004

valia cerca de 1,25 dólares americanos. Destaca-se que depois dos dois anos de garantia,

incidem sobre os preços dos equipamentos adquiridos uma taxa anual de manutenção de

11,5% (onze e meio) por cento para a geração atual do IBIS e de 17,5% para a nova geração

(3D).

2.1.8 Países que operam o IBIS.

Em maio de 2004, eram os seguintes os países que dispunham e operavam o IBIS

no mundo, segundo a FTI4:

EUA Tailândia Rússia Porto Rico

África do Sul Grécia Hong Kong Israel

4 Fonte: Forensic Technology Inc. 2004.

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Turquia Venezuela Taiwan Alemanha

Espanha Holanda Austrália México

Brasil Itália Colômbia Dinamarca

Quênia Noruega Arábia Saudita Suécia

Argélia Bélgica Canadá Chile

Inglaterra

Em Cidade do México foi instalado um IBIS Hub em meados de 2003, na

Procuradoria General de La República, estando programada a implantação de uma rede

mediante a aquisição e instalação de mais cinco unidades RDAS nas cidades de Jalisco,

Revnosa, Sinaloa, Cancun e Oaxaca, tudo isto até o final e 2005. Em maio de 2004 os

mexicanos já haviam cadastrado 2.944 casos com 5.422 peças, e conseguido elucidar nove

casos (9 Hits). A operação do IBIS mexicano tem sido feita por 4 operadores (Técnicos, que

não fazem micro comparação), um por estação, em dois turnos de trabalho: das 9h:00min às

15h:00min e das 16h:00min às 22h:00min5.

Na Itália, segundo o Ten Walter Meinero6, existem duas redes compostas por

unidades do IBIS: A primeira, inaugurada em 2.000, dos Carabineiros (Corporação a qual ele

pertence) que é composta por uma unidade Hub, em Roma, interligada com três unidades

RDAS nas cidades de Parma, Cagliari e Messina. Em todas as cidades foi instalada uma

estação Matchpoint, e a operação do IBIS é feita pelos próprios Peritos que fazem o exame de

micro comparação.

A outra rede italiana pertence a Polizia di Stato, foi criada em 2003 e é composta

por uma unidade IBIS Hub + LDAS em Roma, interligada com 6 (seis) RDAS que ficam nas

5 Informações obtidas pessoalmente em Ciudad Del México. Maio de 2004. 6 Ten Walter Meinero é Perito da Unidade de Balística da R.I.S. (Reparto Investigazioni Scientifiche) do carabinieri, em Roma. e-mail de 30/09/2004.

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44

cidades de Milão, Ancona, Nápolis, Palermo e Reggio Calábria. Não foram fornecidas

informações sobre a qualificação dos operadores nem do número de Hits obtido. Acrescente-

se que a Itália tem uma população de 58 milhões de habitantes distribuídos por um território

de cerca de 300.000km2 (contra o Estado da Bahia com 13,1 milhões de habitantes e

565.000km2).

No Brasil, temos um IBIS Hub em Vitória no Espírito Santo, e um Hub + LDAS

no Rio de Janeiro.

2.1.9 Qualificação dos operadores do IBIS

A FTI inclui no preço do IBIS o treinamento de técnicos para proceder a sua

operação, num total de 2 (dois) técnicos por estação adquirida (num IBIS Hub, quatro

operadores). O curso de formação de operador tem duração de uma semana, e deve ser

precedido por um outro curso de noções de Balística Forense, mais especificamente no

Capítulo de identificação de arma de fogo.

A operação do equipamento, portanto, exige qualificação nas matérias acima, que

pode ser assimilada por um profissional com conhecimentos prévios de geometria e física, no

prazo máximo de 30 (trinta) dias. Afinal, o trabalho do operador do IBIS não é processar o

confronto balístico definitivo, e sim, cadastrar e capturar as imagens das peças e interpretar os

resultados do escore disponibilizado pelo aparelho.

Importante ressaltar o caso norte americano, onde a formação de operadores do

IBIS para a sua rede NIBIN, no capítulo da identificação de uma arma de fogo, é feita através

de uma simples Cartilha elaborada pela ATF (Quick Reference Guide for IBIS users),

enquanto que para a formação de Peritos em confronto balístico, a mesma ATF fundou uma

Academia Nacional (National Firearms Examiner Academy).

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45

No caso da Bahia, os autores recomendam o treinamento, além do time de

operadores, de mais dois Peritos Criminalísticos (especialistas em confronto balístico), com o

objetivo de assumir o “status” de “Administrador” do sistema, nomeados para estabelecer a

conexão direta com o suporte mantido pelo fabricante do IBIS, para solucionar, on-line,

eventuais problemas.

2.2 OPERAÇÃO DO IBIS EM REDE: A REDE NIBIN.

Desde o início da sua criação, o IBIS foi configurado para operação em rede, seja

em rede local ou LAN, seja em rede larga ou WAN. É o modelo mais eficiente de operação, já

que permite uma redução do custo de aquisição e uma maior cobertura na correlação de

delitos praticados com arma de fogo em locais diferentes de um mesmo Estado, Região ou

País, propiciando um rastreamento de uma arma empregada em ações criminosas.

É em rede, portanto, que opera os IBIS dos países mais desenvolvidos, neles se

destacando os Estados Unidos da América, onde se encontra a maior de todas as redes de IBIS

do mundo. O processo de automação da identificação balística nos EUA iniciou com um

equipamento desenvolvido pela Polícia Federal americana (FBI), denominado Drug Fire, o

qual foi posteriormente substituído pelo IBIS Canadense.

Ressalte-se que, para o IBIS da FTI, a implantação da rede NIBIN representou a

verdadeira conquista do território americano, desbancando o concorrente nativo. O episódio

marcante para este fato teria ocorrido em 1997, quando a ATF testava o IBIS em seu

Laboratório Nacional de Ciência Forense (National Forensic Science Laboratory) em

Rockville, Maryland, local onde recebeu de um Tribunal Internacional 1.466 estojos de

munição disparada, coletada na localidade de Ovcara, na Bósnia, antiga Iugoslávia, onde teria

ocorrido um massacre e desejava-se saber o número de armas envolvidas. Todas as evidências

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46

foram inseridas no IBIS que as separou em 18 diferentes grupos. Depois de exaustivo trabalho

dos peritos em examinar todas as evidências, ficou determinado que, efetivamente, apenas 18

armas haviam sido empregadas no evento (o uso de poucas armas caracterizava um massacre,

e não um confronto entre facções adversárias), fato que foi confessado posteriormente por um

acusado (que foi condenado por crime de guerra) e duas testemunhas, no Tribunal de Haia, na

Holanda.

A rede norte-americana se constitui num verdadeiro programa do Governo

Federal do País, foi criada em 1998 e denominada de NIBIN – National Integrated Ballistic

Information Network. Foi criada, e é monitorada, pela ATF – Bureau of Alcohol, Tobacco,

Firemarms and Explosives, órgão ligado ao Departamento do Tesouro Americano. Interliga

todos os estados norte-americanos, sem exceção, e está constituída por cerca de 232 (duzentos

e trinta e duas) estações, interligadas a 12 (doze) IBIS Hub equipados com servidores de alta

capacidade (a previsão é para 16 Hubs e 235 estações, quando a rede estiver completa), sendo

que as informações principais sobre suas características podem ser acessadas na Internet, no

endereço www.nibin.gov. A Figura 15 mostra o mapa da rede:

Figura 15. Mapa da rede americana de identificação balística NIBIN, onde as áreas agrupadas

indicam atendimento por um servidor do IBIS. Fonte: www.nibin.gov. acessado em 20 de outubro de 2004.

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47

Seis anos depois de criada, a rede NIBIN7 está composta por 180 (cento e oitenta)

Corporações Policiais, já cadastrou 826.700 (oitocentos e vinte e seis mil e setecentas) peças,

e propiciou cerca de 10.000 (dez mil) correlações entre diferentes crimes, ou entre crimes e

uma arma suspeita, ou Hits, como chamam os norte-americanos as correlações detectadas

pelo IBIS e confirmada pelos peritos (aquelas que seriam perdidas caso o IBIS não existisse).

Como regra, todos os equipamentos instalados na rede foram adquiridos pelo Governo

Federal americano (ATF) e instalados nas Corporações Policiais dos vários Estados mediante

determinados requisitos e critérios, destacando-se os seguintes:

Requisitos para uma Corporação integrar a rede NIBIN.

• Manifestação de vontade e habilitação para trabalho em parceria.

• População atendida.

• Taxa de crimes cometidos com arma de fogo.

• Número de armas apreendidas em situação irregular.

• Capacitação técnica mínima em Balística Forense. Infra-estrutura física,

equipamentos para coleta de padrões, micro-comparadores balísticos e Peritos

qualificados em confronto balístico.

• Compromisso de atendimento às Corporações vizinhas.

Condições para uma Corporação permanecer na rede NIBIN.

• Uso exclusivo do equipamento na área Penal.

• Proibição de cadastramento de armas civis

• Compromisso de cadastrar o máximo número possível de evidências coletadas

em local de crime: prioridade para projéteis, estojos, e padrões de armas

apreendidas, nesta ordem.

7 Todos os dados relativos a Rede NIBIN foram obtidos em www.nibin.gov. Acessada em 20.10.2004.

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48

• Atendimento de meta para o quociente n.º de evidências/n.º de padrões. Quanto

maior o valor do quociente, maior a eficiência e eficácia do equipamento na

correlação de crimes considerados insolúveis, segundo a NIBIN.

• Entrega de relatório mensal de desempenho do equipamento.

• Ressalte-se que nos Estados Unidos existem cerca de 18.000 (dezoito mil)

Corporações Policiais8, ou law enforcement agencies, como chamam os norte-

americanos, todas elas com acesso (através de uma das 180 Corporações

integrantes) à rede de identificação balística NIBIN. A ATF mantêm um comitê

permanente para a gestão do programa, do qual participam representantes de

todas as Corporações que integram a rede, sendo que, em caso de mau

desempenho, o IBIS pode ser removido de uma Corporação, ficando apto,

então, para ser instalado em outra. Em suma, no país mais rico do planeta não

se admite nem ineficiência, nem desperdício de dinheiro público, que é o que

ocorre quando um equipamento sofisticado e caro como o IBIS é colocado em

ociosidade...

A Analise das condições impostas pelo Governo americano para permanecer na

rede NIBIN permite destacar a proibição para o cadastramento de armas civis, seja em pontos

de fabricação, importação ou de venda de armas para cidadãos comuns. Consta que os estados

americanos de Nova York e Maryland, que integram a rede, aprovaram recentemente Leis que

obrigam ao cadastramento de padrões de todas as armas de fogo comercializadas nos

respectivos Estados: Foram obrigados a instalar novas unidades do IBIS, completamente

isolados da rede, para cumprir a obrigação legal.

A proibição do cadastramento de armas civis nos remete a refletir sobre o papel

dos bancos de dados de um modo geral, e das ameaças mais comuns que pairam sobre eles: a

8 Informação obtida na página do Departamento de Justiça americano. www.usdoj.gov/cops.

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49

falta de lançamento de dados importantes, ou seu enchimento com informações irrelevantes.

Não é a toa que os americanos não fazem a identificação civil e lá não existe o que aqui

conhecemos como carteira de identidade. Tem, em contrapartida, um sistema de identificação

criminal extraordinário, completamente interligado entre todos os estados do País. Parece que

estão lutando para fazer o mesmo com o sistema de identificação balística.

Voltando a rede NIBIN, é interessante conhecer o impacto produzido pela rede no

sistema de identificação balística americano. Primeiro, pelo estabelecimento de metas claras

para cadastramento de provas materiais de delitos, que levou ao limite da busca de convênios

com hospitais, no sentido da coleta e cadastramento de projéteis retirados de vivos (no Brasil,

raramente estas peças chegam aos Institutos de Criminalística). Nos EUA foi criado um

programa denominado Docs and Cops (médicos e policiais, em inglês), cujo objetivo é

esclarecer a classe médica sobre os critérios para coleta e identificação das peças (evitando

danos capazes de comprometer as micro-deformações dos projéteis) e assegurar a passagem

semanal de policiais pelos nosocômios, para recolhimento das amostras.

Outro impacto significativo ocorreu no trabalho dos Peritos americanos, vez que o

funcionamento da rede fez aumentar de modo substancial a demanda por micro-comparações,

provenientes dos IBIS da rede NIBIN. A ATF estima que existiam nos EUA cerca de 850

profissionais especializados em confronto micro-comparativo, antes da rede NIBIN, número

que foi considerado insuficiente para atender a demanda propiciada pela nova rede (no Brasil

não existem estatísticas, mas estima-se um número próximo de 50). Para solucionar o

impasse, a ATF criou uma Academia Nacional para formação destes profissionais,

denominada National Firearms Examiner Academy. Verifica-se, portanto, que a questão vai

além da criação de uma rede nacional, sendo necessário uma gestão profissional capaz de

assegurar todo o suporte para garantir o funcionamento eficaz, eficiente, e efetivo do

programa.

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50

Finalmente, poderíamos proceder a uma estimativa grosseira do custo unitário

pago pelo contribuinte americano na elucidação de crimes cometidos com armas de fogo, a

partir do custo investido em equipamentos da família IBIS no programa da rede NIBIN.

Admitimos para isto que das 232 estações interligadas na rede, 12 (doze) são IBIS Hub com

servidor de 12 CPU (a um custo de referência de 1.650.000 CAD, conforme ANEXO II)

sendo o restante constituído por 220 (duzentas e vinte) estações RDAS, ao custo unitário de

890.000 CAD. Teríamos, então:

12 IBIS Hub x 1.650.000 19.800.000 CAD

220 RDAS x 890.000 19.580.000 CAD

TOTAL 215.600.000 CAD

O valor acima, dividido pelos 10.000 acertos obtidos, resulta no custo unitário

(investimento em equipamento), até então, de 21.560,00 dólares Canadenses para cada Hit

obtido. A análise deste custo unitário deve levar em conta o seguinte:

• O número de acertos (Hits) encontra-se no denominador da fração, de modo

que o custo unitário tende a infinito (equivalente a desperdício de dinheiro

público) quando o equipamento é posto em ociosidade.

• Informações obtidas junto a usuários do IBIS em outros países dão conta de

que a ATF conseguiu junto a FTI (que dependia da conquista do território

americano para crescer), devido à escala, um desconto médio de 45% sobre os

valores tabelados, com o que o custo unitário acima calculado cairia para algo

em torno de 12.000 dólares Canadenses por Hit. Segundo a FTI cada Hit

equivale a dois casos elucidados.

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51

2.2.1 Correlação: Condição para máxima eficiência e eficácia (Hits)

O estudo da experiência americana com a rede NIBIN mostra que a máxima

eficiência no correlacionamento de crimes considerados insolúveis ocorre quando se insere no

IBIS uma grande quantidade de elementos materiais relacionados ao cometimento de crime

comparado com a quantidade de padrões de armas de fogo que são cadastradas, ou seja,

muitas evidências e poucas armas (relativamente). Apenas armas apreendidas em situação

irregular (ou fruto de suspeita fundamentada de envolvimento em crimes), são cadastradas na

rede e, não voltam mais para as mãos dos seus proprietários originais, mesmo no caso de

armas desviadas de cidadãos comprovadamente honestos ou autoridades.

Quando o Perito constata, através do exame visual das peças no micro-

comparador, que uma correlação constante do escore produzido pelo IBIS é positiva, ele deve

consignar o fato na tela própria da estação DAS, a partir de quando os dois casos ganham a

cor vermelha, indicando um acerto do equipamento ou, como chama a FTI, um Hit do IBIS.

Evidentemente que, quanto maior o número de acertos ou Hits, menor o custo relativo do

equipamento em R$/caso solucionado.

2.3 LIMITAÇÕES DO IBIS.

Durante a realização deste trabalho seus autores fizeram contato com vários

profissionais ligados ao processo semi-automático de identificação balística através do IBIS.

No Rio de Janeiro, foram ouvidas opiniões de Peritos Criminalísticos lotados na unidade de

Balística, inclusive a Dra. Simone Soares Leite, autora de uma Monografia sobre o tema,

referenciada neste trabalho. Além de profissionais ligados a empresa FTI e seu representante

no Brasil, a TSL, foram consultados peritos e técnicos operadores do IBIS nos Estados

Unidos, México e Itália. A pergunta básica era sobre os “defeitos” ou limitações do

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equipamento (que não costumam ser destacadas pelo fabricante), referindo-se sempre a

geração atual, sendo que as respostas mais freqüentes foram as seguintes:

• Custo muito elevado (trata-se de um monopólio)

• Não utiliza a imagem da superfície total dos projéteis, apenas dos cavados.

• Lentidão na captura das imagens dos cavados (LEAs) dos projéteis, de uma em

uma, com destaque para as evidências de crime, normalmente deformadas.

Necessidade de equipamento complementar para conclusão.

• Incompatibilidade com projéteis disparados por armas de raiamento poligonal.

Com referência as armas de raiamento poligonal, explica-se que são aquelas cujos

ressaltos do cano tem o formato poligonal, quase curvilíneo, de modo que escavam nos

projéteis disparados LEAs de dimensões irregulares. O exemplo mais conhecido no Brasil é o

das armas de origem Austríaca do fabricante Glock, cujo raiamento está na Figura 16 abaixo:

Figura 16. Raiamento poligonal da Glock.

Fonte: www.firearmsid.com, acessado em setembro da 2004

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53

Segundo a ATF, são as seguintes as armas de raiamento poligonal, cujos projéteis

são incompatíveis com o IBIS, produzidas atualmente no mundo:

• Dornaus & Dixon: 10mm Auto

• Franchi: .223 Rem

• F.I.E.: 9mm Luger

• Glock: Todos os calibres

• Heckler & Koch: .22 LR, .22 Win Mag, 9mm Luger, .45 Auto, .223 Rem, .30-

06 Sprg, .308 Win

• IMI: Desert Eagle .357 Magnum, .44 Rem Magnum

• Kahr: 9mm Luger

• Sites: 9mm Luger

• Steyr: 9mm Luger

2.4 USO DO IBIS COMO BANCO DE DADOS DE REFERÊNCIA.

Aqui, como banco de dados de referência, entende-se um banco de dados para

cadastramento de todas as armas produzidas, comercializadas e em circulação numa

determinada região ou corporação, como ocorre no cadastramento de armas de civis ou de

corporações militares ou policiais. A análise da performance do IBIS como banco de dados de

referência, foi efetuada pelos autores Jan De Kinder, Hugues Thiebaut e Frederic Tulleners,

sendo os dois primeiros integrantes do Institut National de Criminalistique et de Criminologie

(NICC/INCC) da Bélgica, e o terceiro do Sacramento Laboratory, Califórnia Department of

Justice, de Sacramento, USA, em trabalho publicado na revista Forensic Science

International. O título do trabalho é Reference ballistic imaging database performance, de 10

de julho de 2003.

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54

Segundo os autores, o sucesso obtido pelas corporações policiais americanas no

estabelecimento de correlação entre atos delituosos cometidos por arma de fogo mediante o

uso da tecnologia balística de imagem através da rede NIBIN (que não permite o

cadastramento indiscriminado), tem estimulado diversas opiniões e governos estaduais (citam

Maryland e Nova York) no sentido da ampliação do conceito, criando grandes bancos de

dados digitais denominados RBID (do inglês Reference Ballistic Image Database).

No trabalho citado, os autores utilizam 600 pistolas semi-automáticas de marca

Sig Sauer, modelo P226, de calibre 9mm Luger (todas idênticas), armas pertencentes aos

Departamentos de Polícia de Sacramento e Modesto, na Califórnia. Foram efetuados 7

disparos com cada arma, num total de 4.200 tiros, utilizando cartuchos de seis marcas

distintas (Remington, Federal, Speer, Winchester, Wolf e CCI), cujos estojos foram

cadastrados no IBIS. Usando armas idênticas, as marcas de percussão na espoleta dos estojos

apresentavam a mesma configuração, e, também, a estampa da culatra e a marca do ejetor. O

resultado do estudo e do escore de correlação apontado pelo IBIS para os 4.200 estojos foi

absolutamente desanimador: o IBIS freqüentemente atribuía alta pontuação para estojos de

mesma marca (influência das gravações na base), disparados por diferentes armas, ao mesmo

tempo em que, também, ocorria o contrário, quando estojos diferentes, disparados por uma

mesma arma apareciam com menor pontuação no escore do IBIS. Em resumo, o trabalho

manual para confirmação envolvia um grande percentual de amostras no topo superior do

escore do equipamento, o que tecnicamente inviabilizava o confronto final dos peritos.

Os autores concluem o trabalho afirmando que a relação de erros constatada era

inaceitável para um o banco de dados de referência (RBID) destinado ao trabalho policial. Era

necessário avaliar outras opções, com o surgimento de novas tecnologias, para que fosse

criado um RBID apto a operar com padrões de milhões de armas cadastradas. Imagine se os

autores tivessem utilizado cartuchos da CBC brasileira, cujas espoletas possuem um “V” em

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baixo relevo, marca que normalmente fica na área capturada pelo IBIS! O estudo, de 2003,

apenas confirma o acerto da decisão da ATF, tomada durante o processo de criação da rede

NIBIN em 1998.

Durante o IV Seminário Nacional de Balística Forense, ocorrido em Campo

Grande – MS, de 17 a 20 agosto de 2004, recebemos a informação de que as indústrias

brasileiras de armas de fogo (Imbel, CBC, Taurus, Rossi e Boito), juntas, produziam para o

mercado interno cerca de 1.500.000 (um milhão e quinhentas mil) armas de fogo anualmente,

antes da entrada em vigor da nova legislação (Estatuto do desarmamento).

2.5 NOVA GERAÇÃO DO IBIS

Como foi dito, a FTI está procedendo ao lançamento de uma nova geração do

IBIS, chamada geração 3D (de três dimensões), equipamento que se propõe efetuar a captura

e armazenamento da imagem completa da base dos estojos e da superfície lateral (ressaltos +

cavados) dos projéteis. A proposta é eliminar algumas das limitações intrínsecas do IBIS,

especialmente o tempo dispendido na captura da imagem de projéteis, e a necessidade do uso

de equipamento complementar (micro-comparadores balísticos). Com a nova geração, o

Perito concluiria a correlação utilizando o próprio IBIS, examinando agora, não apenas a

projeção horizontal das micro-estrias produzidas pelo atrito com o raiamento ou impacto com

a culatra e percussor, mas, também, sua forma e profundidade.

O equipamento para captura da imagem de estojos, denominado pelo fabricante de

BrassTrax 3D, já está sendo comercializado, enquanto aquele destinado ao trabalho com

projéteis, denominado de BulletTrax 3D, ainda está sendo desenvolvido e testado, com

previsão para lançamento para o primeiro trimestre de 2005.

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56

Figura 17. Brasstrax 3D. Nova Geração do IBIS.

Fonte: Forensic Technology Inc. 2004.

O BrassTrax 3D, destinado à captura da imagem de estojos foi apresentado em

maio de 2004 no encontro anual da FTI, em Roma, na Itália, é totalmente automatizado, e

pode ser visto na Figura 17, acima.

Resta aguardar pelo lançamento do BulletTrax 3D.

2.6 IMPACTO DO IBIS NUMA UNIDADE DE BALÍSTICA FORENSE

A instalação do IBIS na CBF deverá produzir alterações substanciais na estrutura,

na cultura e no quadro de profissionais de uma unidade de Balística Forense. Infelizmente, o

Brasil não dispõe de números relativos a variação da quantidade de exames demandados,

sobretudo os exames de micro-comparação ou de confronto balístico, cuja expectativa é de

um aumento significativo, por força dos escores de similaridade apontados pelo IBIS. Hoje no

Brasil praticamente todos os exames de confronto balísticos efetuados são objeto de uma

solicitação externa, nascida da investigação policial.

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57

Na ausência de uma referência Nacional, os signatários deste trabalho foram

buscar a experiência de uma Corporação do exterior, o Departamento de Polícia de Boston,

nos Estados Unidos da América. Trata-se do trabalho já referenciado, elaborado por Anthony

A. Braga e Glenn L. Pierce em 2004, denominado Linking Crime Guns: The Impact of

Ballistics Imaging Technology on the Productivity of the Boston Police Department’s

Ballistics Unit, publicado no Journal of Forensic Sciences, 49 (4): 701 – 706. O trabalho

mostra o impacto produzido pela operação do IBIS na unidade de Balística Forense do

Departamento, cujo número de exames micro-comparativos ou de confrontos balístico

aumentou da média anterior de 8,8 exames por ano, para a cerca de 46 exames anuais depois

do IBIS.

Como era de se esperar, por estabelecer possibilidade de correlação entre

inúmeros casos cadastrados no seu banco de dados, o IBIS, onde operado corretamente,

impõe um aumento considerável do trabalho de realização de confrontos balísticos (fato que o

seu fabricante não destaca no material promocional do equipamento). A Figura 18 mostra o

impacto do IBIS na unidade de Balística do Departamento de Polícia de Boston:

Departamento de Polícia de Boston (USA) - Confrontos balísticos

0

10

20

30

40

50

60

70

80

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002Ano

N.º

de c

onfr

onto

s

Confrontos balísticosObs: Instalação do IBIS em Março de 1995

Figura 18. Impacto do IBIS no número de confrontos balísticos da Polícia de Boston.

Fonte: Boston Police Department. 2004

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58

A leitura dos dados permite-nos destacar o número relativamente baixo de exames

de confrontos balísticos lá realizados, tanto antes do IBIS (quando se fazia uma média de 8,8

exames por ano), quanto depois da instalação do equipamento em 1995, quando a média de

exames passou para 46, num crescimento de 5,22 vezes. Na ausência de estatísticas locais,

este é o número que será empregado para efeito de estimativa do impacto esperado para a

unidade de Balística da Bahia.

A boa notícia tirada da experiência da Polícia de Boston é a redução obtida no

número de crimes cometidos com arma de fogo depois da instalação, e eficiente operação do

IBIS. A média de crimes foi reduzida de 2.340 por ano (antes do IBIS), para cerca de 1.218

por ano, depois do equipamento, numa redução substancial, de cerca de 48%. Trata-se de uma

interessantíssima evidência da importância da elucidação das infrações penais em bases

científicas, mais do que isso, da influência que a divulgação destes casos de sucesso exerce na

inibição do cometimento de delitos semelhantes.

A Figura 19 abaixo mostra a influência do IBIS na estatística local relativa ao

cometimento de crimes com arma:

Departamento de Polícia de Boston - N.º de crimes com armas de fogo

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002Ano

N.º

de c

rimes

N.º de crimes com armas de fogoObs: Instalação do IBIS em Março de 1995

Figura 19. Número de crimes cometidos com arma de fogo, antes e depois do IBIS. Fonte: Boston Department of Police. 2003.

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59

Definido o impacto da nova tecnologia no que diz respeito a alterações na

qualidade e na quantidade de serviços, resta avaliar o impacto do IBIS na cultura de uma

unidade de balística: Antes do IBIS, dentro de um Instituto de Criminalística a Balística

Forense funciona como uma unidade de COMPROVAÇÃO onde a investigação é externa e

o pedido de correlação vem de fora para dentro; uma vez instalado e corretamente operado, o

“pedido” de correlação será originado pelo IBIS que, desta maneira, transforma a Balística

numa unidade de INVESTIGAÇÃO, no verdadeiro nascedouro da correlação. É o aumento

da responsabilidade que, espera-se, poderá conduzir a um aumento do prestígio da unidade

dentro do Sistema de Defesa Social.

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60

CAPÍTULO III: PANORAMA BRASILEIRO: A BALÍSTICA FORENSE NA BAHIA

3.1 PANORAMA BRASILEIRO: O ESTATUTO DO DESARMAMENTO

Em 22 de dezembro de 2003 o Presidente da República sancionou a Lei n.º

10.826, conhecida como Estatuto do Desarmamento, legislação que veio alterar

substancialmente a regulamentação relativa a fabricação, comercialização e uso das armas de

fogo e das munições no Brasil. A nova Lei remeteu para o Ministério da Justiça, através da

Polícia Federal, com o Sistema Nacional de Armas – SINARM, todo o controle relativo ao

tema, acabando com a atribuição dos Estados para o controle do comercio, do registro e da

concessão da licença para o porte de armas de fogo. O texto da Lei consta do ANEXO II, ao

final deste trabalho.

3.1.1 Legislação polêmica.

Todo o processo de tramitação da Lei no Congresso Nacional foi marcado por

uma grande polêmica, devido a forte oposição de muitos segmentos da sociedade. O principal

argumento era de que a Lei alcançaria apenas os pais de família e cidadãos honestos, vítimas

da criminalidade brasileira, que ficariam então sem opção para se defender do ataque dos

bandidos. Dizia-se que o País que impõe o serviço militar obrigatório para os jovens

inexperientes (para aprender a manusear armas pesadas e defender a Pátria) não poderia

desarmar este mesmo cidadão (depois de ter amadurecido e constituído família) retirando-lhe

a possibilidade de defender a sua própria vida e a dos seus entes queridos.

Independentemente da polêmica, compete a este trabalho avaliar as disposições

colocadas na nova Lei, estritamente no que se refere à Identificação das armas de fogo e a

Balística Forense.

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61

3.1.2 Limitações da Lei.

No entendimento dos autores deste trabalho, são as seguintes as falhas da Lei:

• De um modo geral, a Lei desvia a Polícia Federal brasileira da sua missão

Constitucional (Art. 144, §2.º, alíneas I, II, III e IV da CF), ou seja, da esfera

criminal para a esfera civil, o que é muito grave.

• Na alínea X do art. 2º a Lei impõe ao SINARM – Sistema Nacional de Armas

da Polícia Federal, a criação de um banco de dados de referência, sem

entretanto determinar o tipo do banco de dados, onde ficaria e qual a sua

utilização. Com o IBIS, já sabemos que não dá certo. Confunde, por outro

lado, identificação (processo) com identidade, e cria um banco de dados

parcial, onde não constariam as imagens dos estojos de munição disparada,

contrariando uma tendência mundial (o uso cada vez mais freqüente das

pistolas semi-automáticas em substituição aos revólveres), desprezando, ainda,

os crimes cometidos com as armas de alma lisa (espingardas de retrocarga, por

exemplo).

• No § 2º do art. 23, impõe a identificação do lote e do adquirente da munição

para as Corporações policiais e militares num local ininteligível para quem

conhece o tema: culote de projétil (sic).

• A Lei não cria, como é absolutamente necessário, um critério único para a

identificação das armas de fogo no Brasil (semelhante ao VIN que identifica os

veículos automotores). Não impõe a gravação de um número oculto e, também,

não acaba com as gravações feitas a laser (usadas no Brasil pelo fabricante

Taurus), que desaparecem apenas com o manuseio da arma. Tampouco obriga,

como ocorre nos paises mais desenvolvidos e é imperioso para a nossa

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62

Balística Forense, que o mesmo número de série, identificador das armas de

fogo, seja cunhado na armação, no cano e no ferrolho (caso das pistolas e

armas aferrolhadas).

• Não cria um banco de dados criminal, em rede (semelhante a NIBIN) como

seria desejável.

Sob a ótica da Balística Forense, portanto, restaria lutar pela feitura e

promulgação de uma Lei de verdade.

3.2 A BALÍSTICA FORENSE NA BAHIA

Os exames de Balística Forense no Estado da Bahia são efetuados na

Coordenação de Balística Forense – CBF do Instituto de Criminalística, sediado em Salvador,

e, também, em cerca de duas dezenas de Coordenações Regionais localizadas em algumas das

principais cidades do interior do Estado. Exames de confronto balístico são realizados apenas

em Salvador, a cargo de 8 (oito) Peritos Criminalísticos especializados neste trabalho.

3.2.1 Estatística atual

Em algumas das Regionais do interior são realizados exames de identificação e de

eficácia de armas de fogo e, também, exames físico-descritivos e de identificação de

componentes de munição (projéteis + estojos). Para efeito deste trabalho foi estimado um total

de 50 (cinqüenta) armas e de 100 (cem) peças (projéteis + estojos) de munição que ficam hoje

mensalmente no interior e que deverão ser enviados para inserção no IBIS em Salvador, após

a sua instalação. Tabela 1 abaixo, mostra a estatística atual da CBF em Salvador:

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TABELA 1 – Estatística da CBF

COORDENAÇÃO DE BALÍSTICA FORENSE – ESTATÍSTICA

2003 2004 Média EXAME

Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago 2003 2004

Req 128 110 156 157 99 244 117 183 147 148 132 227 171 131 171Armas

L 176 144 148 137 178 153 167 170 153 127 102 121 125 152 140Req 132 154 150 195 179 187 129 224 161 130 159 152 166 162 164Munição &

componentes L 162 223 239 207 149 156 180 138 150 167 107 90 93 196 135Req 19 27 24 24 17 25 32 27 25 30 14 16 30 22 25 Confronto

balístico L 19 27 24 24 17 25 32 27 25 30 14 16 30 22 25

Req 279 291 330 376 295 456 278 434 333 308 305 395 367 315 360TOTAIS

L 357 394 411 368 344 334 379 335 328 324 223 227 248 370 300Legenda: Req = Requisições de exames; L = Laudos expedidos. Observações: 1 - O número de requisições indica o quantitativo de casos e não o número de peças remetidas para exame. 2 - Em 2004 foram apuradas as médias de 1,22 peças/requisição para armas e de 3,28 peças/requisição para projéteis e componentes de munição. 3 - Cerca de 30 requisições mensais para exames de armas de fogo referem-se a espingardas de antecarga. 4 - Dos componentes de munição, mais de 90% refere-se a projéteis coletados em cadáveres e em local de crime. Fonte: Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto.DPT.SSP/Ba. 2004.

Na Tabela podemos constatar que a CBF recebeu em 2004 uma média de 171

requisições para exames de armas, das quais 30 não podem ser consideradas para inserção no

IBIS, por se tratar de espingardas de antecarga. Temos, portanto, 171-30 = 140 requisições

que multiplicado pela média de 1,22 armas por requisição dá um total mensal de 171 armas.

As 164 requisições para exame de elementos de munição, multiplicadas pela média de 3,28

peças/por requisição perfaz o total de 538 peças por mês. Com a estatística atual e sem o IBIS,

a CBF funciona de acordo com o Fluxograma indicado na Figura 20 a seguir:

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64

Figura 20: Fluxograma atual da Coordenação de Balística Forense: CBF

Fonte: Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto DPT SSP Ba 2004

Somando-se o material que hoje chega a Salvador com o que hoje fica no interior

do Estado, estimamos a demanda total de peças para exames (para ser inserido no IBIS que

está por vir) como sendo:

• Armas (171+50): 221

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65

• Elementos de munição (538+100): 638

• Demanda total de amostras (expectativa) 859

Estes números serão empregados no Capítulo IV.

3.2.2 Expectativa de impacto com o IBIS.

A instalação do IBIS na CBF deverá produzir alterações substanciais na estrutura,

na cultura e no volume mensal de confrontos balísticos feitos na Coordenação de Balística.

Infelizmente, o Brasil não dispõe de números que possam retratar a expectativa da variação da

quantidade de exames demandados, sobretudo os exames de micro-comparação ou de

confronto balístico, cuja expectativa é de um aumento significativo, por força dos escores de

similaridade apontados pelo IBIS. Como mostra o Quadro 2, a CBF recebeu em 2004 uma

média de 25 requisições mensais para exames de confronto balístico ou de micro-comparação,

todos eles solicitados por órgão externos à Coordenação, seja pela apreensão de uma arma

suspeita, seja pela suspeita de correlação entre casos. Todos, porém nascidos externamente, da

investigação policial.

Na ausência de uma referência Nacional, os signatários deste trabalho foram

buscar a experiência de uma Corporação do exterior, o Departamento de Polícia de Boston,

nos Estados Unidos da América, já relatada no Capítulo II. O trabalho mostra o impacto

produzido pela operação do IBIS na unidade de Balística Forense do Departamento, cujo

número de exames micro-comparativos aumentou da média anterior de 8,8 exames por ano,

para a média cerca de 46 exames depois do IBIS. A verdade é que o IBIS, onde instalado e

operado corretamente, impõe um aumento significativo no trabalho de realização de

confrontos balísticos (fato que, em nenhum momento, é destacado pelo seu fabricante), e isto

está absolutamente de acordo com a lógica.

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66

Com base nos dados relatados, podemos estimar que o número de confrontos

balísticos no Estado da Bahia tende a aumentar da atual média de 25 exames por mês para

cerca de 5,22 vezes mais, ou seja, cerca de 130 (cento e trinta) exames por mês, ou 4,3

exames por dia. Nunca é demais lembrar que estamos falando do exame de maior

complexidade e, também, de maior responsabilidade, que se faz em qualquer unidade de

Balística Forense em qualquer unidade Policial do mundo.

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67

CAPÍTULO IV – CONFIGURAÇÃO DO IBIS PARA A BAHIA

4.1 – INSTALAÇÃO E OPERAÇÃO DO IBIS NA BAHIA

A instalação do IBIS na Coordenação de Balística Forense da Bahia, de modo

semelhante ao que ocorreu em unidades policiais estrangeiras, haverá de produzir alterações

substanciais na cultura e na estrutura da unidade, vez que todo o material que chega para

exame (à exceção das armas de antecarga e dos projéteis disparados por armas de raiamento

poligonal), passará a ser cadastrado no banco de dados do equipamento. Antes do

cadastramento, as peças passarão por um exame físico-descritivo preliminar, exatamente para

levantamento das suas características técnicas principais, dados que serão digitados e que

constarão do relatório emitido pelo IBIS. Depois de instalado, equipamento passará a ser uma

espécie de porta de entrada da Unidade de Balística.

4.1.1 Adaptações na Coordenação de Balística Forense

O início de operação do IBIS na Bahia, após a fase inicial de ensaio, deverá se

constituir numa espécie de marco: primeiramente todas as peças chegadas a partir desta data

terão como destino o IBIS e, segundo, não mais serão digitados Laudos relativos ao exame

físico-descritivo das peças examinadas (o que se constituiria num re-trabalho). Os Laudos

serão substituídos pelo relatório emitido pelo IBIS, no qual constarão os dados inseridos pelo

operador, levantados no exame físico-descritivo preliminar feito pelo Perito. Saliente-se que

não se trata de relatório referente a eventuais correlações com outras peças previamente

cadastradas no IBIS, mas, tão somente, relatório contendo os dados físico-descritivos

inseridos quando do cadastramento da peça.

Com o IBIS, o fluxograma de trabalho na CBF passará a ser o seguinte:

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Figura 20: Fluxograma da Coordenação de Balística Forense com o IBIS

Fonte: Instituto de Criminalística Afrânio Peixoto DPT SSP Ba

Comparado como fluxograma mostrado na Figura 20, a figura acima mostra um

direcionamento de todas as peças examinadas no sentido do IBIS. Como já ocorre atualmente,

antes do início de qualquer exame, todo material contaminado com sangue ou matéria

orgânica deve ser submetido à limpeza e esterilização em estufa, conforme procedimento já

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69

padronizado. No caso de armas de fogo com inscrições ou número de série alterado ou

suprimido, o exame físico-descritivo preliminar será precedido pela etapa de revelação

metalográfica, processo químico que pode durar alguns dias.

A substituição dos Laudos relativos a exame físico-descritivo de armas e

componentes de munição, hoje editados individualmente em três micro-computadores

instalados na CBF, pelos relatórios produzidos no IBIS (onde estarão os dados técnicos

levantados no exame preliminar), representa uma mudança cultural substantiva. Esta alteração

deve produzir efeitos a jusante e a montante da Coordenação da Balística:

• Alteração nas Requisições expedidas pelos Peritos Médicos, com acréscimo

dos dados demográficos relativos ao ato violento, conforme requerido pelo

IBIS.

• Padronização dos dados demográficos constantes nas Guias expedidas pelas

unidades requisitantes das Polícias Civil e Militar.

• Definição de números seqüenciados de Relatórios, para controle da Instituição

em substituição ao sistema atual de numeração (SISAP – Laudos).

No Capítulo III foi calculado, como função do número de requisições e da média

de peças envolvidas, a quantidade mensal estimada de amostras que chegam atualmente a

Coordenação de Balística Forense – CBF do Instituto de Criminalística, em Salvador. Após a

instalação do IBIS, estimou-se que o número de micro-comparações balísticas passaria de 25

para 130 mensais, sendo esperadas, ainda, a seguinte demanda mensal de armas de peças para

exame:

• Armas: 221

• Projéteis ou estojos de munição: 638

• Confronto balístico (micro-comparação) pós IBIS 130

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70

Com este volume mensal de peças para examinar e cadastrar no IBIS, restaria

agora estimar o tempo gasto nestas operações, para efeito de determinar o quadro de pessoal

necessário para dar conta do serviço. Por se tratar de operações independentes, deixaremos de

considerar no cálculo o tempo dispendido nas etapas de limpeza e esterilização de projéteis ou

estojos, bem como no processo de revelação química das inscrições da arma. Feito isso,

estaremos adotando tempos médios conservativos: média de 60 minutos (1 hora) para o

exame físico-descritivo preliminar, coleta de padrões, cadastramento dos dados e captura das

imagens relativas a uma arma de fogo; e de 30 minutos (0,50 hora) para o físico-descritivo,

cadastramento de dados e captura das imagens das deformações de um projétil ou estojo9.

Para o exame de micro-comparação, consideramos a necessidade de coletar novos padrões e a

própria confecção do Laudo, com montagem das peças, e estimamos o tempo médio de 10

(dez) horas por exame. Com o IBIS, o número de horas necessárias seria, portanto:

• Armas = 221 x 1 h = 221 h

• Projéteis ou estojos de munição = 638 x 0,50h = 319h

Tempo mensal de operação do IBIS 540 horas

• Confronto balístico = 130 x 10 h = 1.300h

Os números acima indicam que foi acertada a decisão tomada pela Administração

do Instituto de Criminalística da Bahia no sentido da aquisição de um IBIS Hub + uma

LDAS. A divisão do número de peças por duas estações para aquisição de dados nos permite

recomendar a operação do IBIS em horário semelhante ao adotado em outros países (México,

por exemplo), em regime 12 (doze) horas por dia útil: o cálculo de 12h/dia x 2 Estações x

22,5 dias úteis por mês resulta nas 540 horas calculadas acima. Uma sugestão para o turno de

trabalho dos operadores do IBIS poderia ser das 8h00 às 14h00 e das 14h00 às 20h00, salvo

melhor juízo. 9 Segundo a FTI, estojos consomem cerca da metade do tempo. No caso da CBF, entretanto, seu número é inferior a 10% do universo de elementos de munição examinada.

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Importante aqui estabelecer um paralelo com a demanda da rede NIBIN

americana. Na Bahia (13.100.000 habitantes) estaremos inserindo no IBIS cerca de 900 peças

mensais, ou 10.800 peças por ano, entre evidencias de crimes e padrões de armas apreendidas,

o que dá cerca de 83 peças por 100.000 habitantes/ano. Nos Estados Unidos (260.000.000 de

habitantes) foram 826.700 peças cadastradas, em 6 anos, o que dá cerca de 53 peças por

100.000 habitantes/ano. O número deve revelar o esforço dos norte-americanos no sentido de

trazer para a rede absolutamente todas as evidências de crime, e não apenas as relativas aos

homicídios.

Com o volume de trabalho previsto, os Operadores do IBIS não poderão ser

deslocados para nenhuma outra atividade senão a digitação de dados e a captura de imagens

no equipamento. Já para os exames de confronto balístico, agora em sua maioria demandados

pelo IBIS (impossíveis de serem descartados ao simples exame macro-comparativo,

portando), em face de sua complexidade e responsabilidade, além da sua natural propensão

em produzir fadiga visual, recomenda-se evitar a sua execução no período noturno. Com uma

demanda mensal de 130 exames, cerca de 7,5 plantões por mês (na escala de 24 x 72h) e a

possibilidade de execução de um confronto por período diurno do plantão (o que daria cerca

de 7,5 confrontos mensais por Perito Plantonista), concluímos pela necessidade de 130/7,5 ou

aproximadamente 18 Peritos especialistas em confronto balístico para a CBF pós IBIS.

Nesta nova fase da Balística baiana, será imperativo proceder muitas outras

alterações, do número e disposição de equipamentos complementares ao acréscimo e

alteração das instalações físicas. A necessidade de coletar padrões de mais de duas centenas

de armas de retrocarga que serão examinadas mensalmente, por exemplo, associada a

sensibilidade do IBIS com a presença de fibras na superfície dos projéteis, obrigará a adoção

de tanque de água para o disparo de cerca de uma dezena de armas por dia corrido. A

recomendação é de que o tanque seja instalado numa sala localizada ao lado das demais

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72

dependências da CBF, dependência que deverá ser dotada de tratamento acústico e dispositivo

para exaustão de gases. Como ocorre nas unidades de Balística dos países do hemisfério

norte, seria recomendável instalar também nesta sala um pequeno estande de tiro com

estativas e cronógrafos para permitir a realização de exames de precisão e de velocidade

(energia) de projéteis disparados. Com o substancial acréscimo previsto para o número de

exames de confronto balístico, que passará de um para cerca de 4 a cinco por dia, faz-se

necessário, também, aumentar o número de micro-comparadores.

Quanto aos operadores do IBIS, os mesmos poderão ser selecionados entre os

profissionais de carreira do quadro da Policia Técnica, ou seja Peritos Técnicos ou Peritos

Criminalísticos, desde que se comprometam com a dedicação exclusiva a operação do

aparelho, em escala administrativa. De qualquer maneira, os autores recomendam que sejam

treinados 2 (dois) Peritos Criminalísticos, do quadro atual (especialistas em confronto), os

quais também se comprometeriam com o deslocamento para o regime administrativo, porém

para funcionarem com o status de “Administradores” do sistema IBIS (com autorização

exclusiva para determinadas operações no aparelho). Estes profissionais seriam nomeados

para supervisionar o trabalho dos Operadores comuns e manter contato direto com o suporte

da FTI, para solução on-line de eventuais problemas na operação do IBIS. Além disso, no

regime administrativo, continuariam procedendo aos confrontos balísticos e respectivos

Laudos.

A Tabela 02 abaixo é auto-explicativa, e resume a disposição dos recursos

alocados à CBF, bem como as alterações necessárias no modelo atual, para atender a

implantação da nova tecnologia trazida pelo IBIS:

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TABELA 02. Configuração da Coordenação de Balística antes e depois do IBIS - Proposta.

COORDENAÇÃO DE BALÍSTICA FORENSE - RECURSOS Descrição Antes CBF + IBIS Obs

Coordenador 1 1 Aux. Administrativo 1 1 Perito Criminalístico 8 18 * Perito Técnico 6 8 Operador do IBIS 0 6 Pe

ssoa

l

Efetivo 16 34 Micro-comparador digital 2 4 Micrômetro digital 1 2 Micro-computador 3 3 Tanque de água 0 1

Equ

ipam

ento

s

Cronógrafo digital 0 2

Sala de exames 1 (60m2) 1 (60m2) Depósito de armas e munições 1 (15m2) Sala de limpeza e esterilização

Sala única (15m2) 1 (15m2)

Sala para coleta de padrões e testes de precisão Não existe 1 (60m2)

Sala para exames óticos 1 (15m2) 1 (40m2) IBIS + Micros D

epen

dênc

ias

Área Total (m2) 90 190 Obs: (*) 2 (dois) Peritos Criminalísticos receberiam treinamento de Operador do IBIS, e

passariam a desempenhar, no horário administrativo, o papel de "Administrador" do sistema, além de também procederem aos confrontos balísticos.

4.1.2 Adequação do IBIS para a Bahia

O IBIS foi formatado basicamente para o mercado norte-americano, e, por isto,

utiliza unidades de medida daquele País, sobretudo a polegada (1” = 25,4mm) e termos

técnicos na língua inglesa. Seja no registro de caso, de arma, de projétil ou de estojo, o IBIS

possui inúmeras janelas sob a forma de menu, onde se faz necessário a conversão, da

polegada para o milímetro, e dos termos em inglês para aqueles usados normalmente na

Balística Forense Brasileira. No Quadro 2 abaixo, são apresentadas algumas sugestões para

esta conversão, tendo sido destacados aqueles considerados mais importantes ou incomuns:

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QUADRO 2. Alterações básicas sugeridas para adaptação do IBIS ao Brasil

ITEM OBJETO SUGESTÃO

Agency Law Órgão requisitante (permitir livre preenchimento)

Registro de caso Lista de crimes (menu com dezenas de delitos, muitos sem relação direta com arma de fogo)

Menu com 7 itens: Homicídio, Grave ameaça, Tentativa de homicídio, Roubo, Porte ilegal de arma, Posse ilegal de arma e Outros.

Lista de crimes (menu com dezenas de delitos, muitos sem relação direta com arma de fogo)

Menu com 7 itens: Homicídio, Grave ameaça, Tentativa de homicídio, Roubo, Porte ilegal de arma, Posse ilegal de arma e Outros.

Comprimento do cano (número inteiro, em polegadas)

Permitir livre preenchimento, em milímetros (mm), com duas casas decimais.

Acabamento da arma (menu com vários tipos) Permitir livre preenchimento

Registro de arma

Local da apreensão (Estados e Cidades americanas) Permitir livre preenchimento

Caliber Família de calibres Cartridge Calibre nominal LEA/GEA Ressaltos/Cavados Registro de projétil

Comments Conclusão (permitir livre preenchimento, com até 15 linhas)

Breech face mark Marca da culatra Registro de estojo Rimfire Percussão periférica

4.2 AQUISIÇÃO E USO DE ARMAS PARA AS CORPORAÇÕES POLICIAIS

O exame de identificação individual de uma arma de fogo envolvida em ato

violento ou ilegal fica, especialmente no caso das armas das Corporações Policiais,

freqüentemente dificultados pela semelhança das deformações examinadas nos projéteis e

estojos por elas disparados, particularmente no caso de armas com números seriados, fato que

pode indicar que seus canos foram fabricados pela mesma ferramenta de desbaste ou

usinagem. Por outro lado, a munição comercializada no Brasil pela Companhia Brasileira de

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75

Cartuchos – CBC, empresa que monopoliza o setor em nosso País, vem com a marca de um

“V” em baixo relevo (exatamente como se fosse uma estampa proveniente do recuo do estojo

durante o disparo) fato que irá confundir o IBIS, produzindo como resultado a indicação

indevida de probabilidades de correlação, com prejuízo para o resultado do trabalho dos

Peritos.

Seria importante, também, reduzir a demanda, sobretudo originárias das Polícias

Militar e Civil, por exames de mecanismos de segurança de suas pistolas semi-automáticas,

particularmente dos modelos Taurus PT-58, PT-100 e PT-940, armas que operam em ação

dupla e em ação simples (podem ficar engatilhadas, no processo semi-automático ou manual),

também conhecidas na literatura como de ação dupla e movimento duplo. Tais armas, para

usuários pouco treinados, propiciam a ocorrência de tiros involuntários ou não desejados.

Estas lamentáveis ocorrências, que freqüentemente vitimam os próprios policiais ou seus

colegas de trabalho, poderiam ser reduzidas mediante a adoção de pistolas que operam apenas

em ação dupla (DAO – Double Action Only), que exigem sempre pressão positiva nas teclas

do gatilho e não permanecem engatilhadas, em nenhuma hipótese.

Considerando, ainda, a omissão da Legislação, estamos recomendando à

Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia e às nossas Polícias Militar e Civil, a

adoção das medidas indicadas na Quadro 02 a seguir, cujo conteúdo é auto-explicativo.

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76

QUADRO 3. Armas de fogo para Corporações Policiais. Proposta

ARMAS DE FOGO PARA CORPORAÇÕES POLICIAIS IDENTIFICAÇÃO DIRETA

Descrição Sistema atual Exigir Obs

Número de série (método) Laser Puncionamento a frio *

Número de série (localização)

Apenas na armação das pistolas

Armação, Ferrolho e Cano

Armação e Cano dos revólveres (*)

Logotipo da Corporação Policial Laser Puncionamento a frio

Insc

riçõe

s

Distribuição às unidades policiais Seriadas

Diferença de pelo menos dez pontos no número de série

Pist

olas

Mecanismo de disparo Ação dupla e ação simples

Ação dupla exclusiva (DAO - Double Action Only)

Redução de tiros involuntários (**)

Arm

as

parti

cula

res Armas usadas por

policiais com alterações e até supressão do número de série

Uso até ostensivo Proibir e apreender

É crime, e macula a imagem das Corporações

Mun

ição

Espoleta com impressão de "V" em baixo relevo

Munição da CBC Eliminação da marca

Confunde identificação do IBIS (*)

* Medida apropriada também para armas e munições de uso civil. ** Pistolas DAO não permitem o prévio engatilhamento, manual ou através do ferrolho

(Ex. Pistolas Glock ou Taurus Millenium e Taurus 24/7). A exigência de pressãopositiva na tecla do gatilho, em todos os disparos, reduz a possibilidade de tiro involuntário.

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77

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Sistema Integrado de Identificação Balística (IBIS) produzido e comercializado

pela empresa Canadense FTI – Forensic Technology Incorporated se constitui numa

tecnologia digital consolidada, que tem sido empregada com sucesso por dezenas de países do

hemisfério norte, como sua principal ferramenta no processo de estabelecimento de correlação

entre evidencias de diferentes crimes cometidos com arma de fogo. O uso da máquina permite

o estabelecimento de correlações que seriam impossíveis de fazer usando apenas o trabalho

humano. Não se trata de um equipamento mágico como uma bola de cristal, que tenha por

objetivo a substituição do trabalho do profissional de polícia. Ao contrário o uso do IBIS,

acarreta a necessidade de reforçar o quadro de pessoal de uma unidade de Balística, em

quantidade e em qualidade, na medida em que aponta por possibilidades de correlação que

não seriam detectadas antes, e que precisam da confirmação através do exame visual.

A nossa pesquisa permitiu destacar três pontos principais em relação ao uso do

IBIS: primeiro, que se trata de uma tecnologia comprovadamente eficaz como banco de dados

ou arquivo criminal; segundo, que existem estudos comprovando ser o IBIS inadequado para

uso como banco de dados ou arquivo civil ou de “referência”; terceiro, o IBIS é um

sofisticado banco de dados para identificação semi-automática (que apenas fornece um escore

de probabilidade) que, onde instalado, fez aumentar em muito, a execução de confrontos

balísticos, exigindo, portando, o reforço do quadro de pessoal da unidade onde vai ser

instalado.

A montante do IBIS é necessária uma estrutura para os exames preliminares, a coleta de

padrões de armas apreendidas e o cadastramentos e identificação das peças. Operando o IBIS,

com o volume de evidências que temos no Brasil e na Bahia, é preciso gente qualificada,

motivada, e com dedicação exclusiva. E, finalmente, o IBIS requer à jusante uma equipe

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78

altamente qualificada de Peritos Criminalísticos especializados em confronto balístico, sem o

que não haverão casos elucidados ou Hits.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

RABELLO, Eraldo. Balística Forense. 3.ª Edição. 488p. Sagra-Luzzatto. Porto Alegre. 1995.

TOCCHETTO, Domingos. Balística Forense: Aspectos técnicos e jurídicos. 3.ª ed. 352p.

Millennium. Campinas, SP. 2003.

ATF – BUREAU OF ALCOHOL, TOBACCO, FIREARMS AND EXPLOSIVES. QUICK

REFERENCE GUIDE FOR IBIS USERS. Estados Unidos da America. 2004. 115p.

NATIONAL INTEGRATED BALLISTIC INFORMATION NETWORK (NIBIN). The

Missing Link: Ballistic Technology That Helps Solve Crimes. EUA. 2004. Disponível em:

http://www.nibin.gov Acesso em: 20.10.2004.

FORENSIC TECHNOLOGY INC. Solutions for a safer society: IBIS/Ballistic

identification. Canadá. 2004. Disponível em: http://www.fti-ibis.com Acesso em: 20.10.2004.

US DEPARTMENT OF JUSTICE. Community Oriented Police. USA. Disponível em

www.usdoj.gov/cops. Acessado em 19.09.2004.

DOYLE, Jeffrey Scott. An Introdution to Firearm Identification. USA. Disponível em

www.firearmsid.com. Acessado em 20.10.2004.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Tradução de Roneide Venâncio Majer. São

Paulo: Paz e Terra, 1999.v.1 – A era da informação: economia, sociedade e cultura.

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ANEXO I – PREÇOS DO IBIS

----- Original Message ----- From: "Augusto San Cristóbal" <[email protected]> To: "'Cesar Braid'" <[email protected]> Cc: "Jose Dias Sobrinho (E-mail)" <[email protected]> Sent: Tuesday, July 13, 2004 2:23 PM Subject: RE: IBIS Caro Cesar! Nossos preços em janeiro deste ano já mudaram a dólares canadenses porque nossos custos estão principalmente no Canada e somente fazemos cotizações em dólares americanos caso por caso quando uma proposta es emitida. Por enquanto, estou marcando ao lado de cada um dos itens que você deseja o preço aproximado total que o item teria em dólares canadenses (CAD) considerando dois anos de garantia inclusa e as despesas de embarquem, de treinamento e da instalação onde aquilo seja aplicável. Atenciosamente, Augusto 1 IBIS Hub convencional >1,250,000 CAD 2. Servidor de correlação convencional (indicar quantidade de CPU) 2P 380,000 CAD

4P >470,000 CAD 8P >610,000 CAD 12P >780,000 CAD

3. LDAS >530,000 CAD 4. MatchPoint >89,000 CAD 5. MatchPoint Plus >115,000 CAD 6. RDAS STD >890,000 CAD 7. BrassTrax DAS >270,000 CAD 8. BulletTrax 3D DAS >600,000 CAD (primeiro trimestre do 2005) 9. IBIS Trax Hub (BulletTrax 3D DAS, BrassTrax DAS, 2x Data Concentrator STD, MatchPoint Plus, Correlation Server (2P) >1,700,000 CAD (primeiro trimestre do 2005) 10. Remote DAS Configuration (BulletTrax 3D DAS, BrassTrax DAS, 2x Data Concentrator STD, MatchPoint Plus) >1,300,000 CAD (primeiro trimestre do 2005) 11. Custo de manutenção anual (%)sobre o preço do equipo com dois anos de garantia IBIS 11.5% ; Família Trax 17.5%

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ANEXO II – ESTATUTO DO DESARMAMENTO

LEI No 10.826, DE 22 DE DEZEMBRO DE 20031

O Presidente da República Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I DO SISTEMA NACIONAL DE ARMAS Art. 1o O Sistema Nacional de Armas (SINARM), instituído no Ministério da Justiça, no

âmbito da Polícia Federal, tem circunscrição em todo o território nacional. Art. 2o Ao SINARM compete:

I - identificar as características e a propriedade de armas de fogo, mediante cadastro; II - cadastrar as armas de fogo produzidas, importadas e vendidas no País; III - cadastrar as autorizações de porte de arma de fogo e as renovações expedidas pela

Polícia Federal; IV - cadastrar as transferências de propriedade, extravio, furto, roubo e outras

ocorrências suscetíveis de alterar os dados cadastrais, inclusive as decorrentes de fechamento de empresas de segurança privada e de transporte de valores;

V - identificar as modificações que alterem as características ou o funcionamento de arma de fogo;

VI - integrar no cadastro os acervos policiais já existentes; VII - cadastrar as apreensões de armas de fogo, inclusive as vinculadas a

procedimentos policiais e judiciais; VIII - cadastrar os armeiros em atividade no País, bem como conceder licença para

exercer a atividade; IX - cadastrar mediante registro os produtores, atacadistas, varejistas, exportadores e

importadores autorizados de armas de fogo, acessórios e munições; X - cadastrar a identificação do cano da arma, as características das impressões de

raiamento e de microestriamento de projétil disparado, conforme marcação e testes obrigatoriamente realizados pelo fabricante;

XI - informar às Secretarias de Segurança Pública dos Estados e do Distrito Federal os registros e autorizações de porte de armas de fogo nos respectivos territórios, bem como manter o cadastro atualizado para consulta.

Parágrafo único. As disposições deste artigo não alcançam as armas de fogo das Forças Armadas e Auxiliares, bem como as demais que constem dos seus registros próprios.

1 Publicada no Diário Oficial da União de 23 de dezembro 2003.

Dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas (SINARM), define crimes e dá outras providências.

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CAPÍTULO II DO REGISTRO

Art. 3o É obrigatório o registro de arma de fogo no órgão competente. Parágrafo único. As armas de fogo de uso restrito serão registradas no Comando do Exército,

na forma do regulamento desta Lei. Art. 4o Para adquirir arma de fogo de uso permitido, o interessado deverá, além de declarar a

efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos: I - comprovação de idoneidade, com a apresentação de certidões de antecedentes

criminais fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal;

II - apresentação de documento comprobatório de ocupação lícita e de residência certa;

III - comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestadas na forma disposta no regulamento desta Lei.

§ 1o O SINARM expedirá autorização de compra de arma de fogo após atendidos os requisitos anteriormente estabelecidos, em nome do requerente e para a arma indicada, sendo intransferível esta autorização.

§ 2o A aquisição de munição somente poderá ser feita no calibre correspondente à arma adquirida e na quantidade estabelecida no regulamento desta Lei.

§ 3o A empresa que comercializar arma de fogo em território nacional é obrigada a

comunicar a venda à autoridade competente, como também a manter banco de dados com todas as características da arma e cópia dos documentos previstos neste artigo.

§ 4o A empresa que comercializa armas de fogo, acessórios e munições responde

legalmente por essas mercadorias, ficando registradas como de sua propriedade enquanto não forem vendidas.

§ 5o A comercialização de armas de fogo, acessórios e munições entre pessoas físicas somente será efetivada mediante autorização do SINARM.

§ 6o A expedição da autorização a que se refere o § 1o será concedida, ou recusada com a devida fundamentação, no prazo de trinta dias úteis, a contar da data do requerimento do interessado.

§ 7o O registro precário a que se refere o § 4o prescinde do cumprimento dos requisitos dos incisos I, II e III deste artigo.

Art. 5o O Certificado de Registro de Arma de Fogo, com validade em todo o território

nacional, autoriza o seu proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou domicílio, ou dependência desses, desde que seja ele o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa.

§ 1o O Certificado de Registro de Arma de Fogo será expedido pela Polícia Federal e será precedido de autorização do SINARM.

§ 2o Os requisitos de que tratam os incisos I, II e III do art. 4o deverão ser comprovados periodicamente, em período não inferior a três anos, na conformidade do estabelecido no regulamento desta Lei, para a renovação do Certificado de Registro de Arma de Fogo.

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§ 3o Os registros de propriedade, expedidos pelos órgãos estaduais, realizados até a data da publicação desta Lei, deverão ser renovados mediante o pertinente registro federal no prazo máximo de três anos.

CAPÍTULO III

DO PORTE 2Art. 6º proibido o porte de arma de fogo em todo o território nacional, salvo para os casos

previstos em legislação própria e para: I - os integrantes das Forças Armadas; II - os integrantes de órgãos referidos nos incisos do caput do art. 144 da Constituição

Federal; III - os integrantes das guardas municipais das capitais dos Estados e dos Municípios

com mais de quinhentos mil habitantes, nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei;

IV - os integrantes das guardas municipais dos Municípios com mais de cinqüenta mil e menos de quinhentos mil habitantes, quando em serviço;

V - os agentes operacionais da Agência Brasileira de Inteligência e os agentes do Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República;

VI - os integrantes dos órgãos policiais referidos no art. 51, IV, e no art. 52, XIII, da Constituição Federal; VII - os integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas prisionais, os integrantes

das escoltas de presos e as guardas portuárias; VIII - as empresas de segurança privada e de transporte de valores constituídas, nos

termos desta Lei; IX - para os integrantes das entidades de desporto legalmente constituídas, cujas

atividades esportivas demandem o uso de armas de fogo, na forma do regulamento desta Lei, observando-se, no que couber, a legislação ambiental.

§ 1o As pessoas previstas nos incisos I, II, III, V e VI deste artigo terão direito de portar arma de fogo fornecida pela respectiva corporação ou instituição, mesmo fora de serviço, na forma do regulamento, aplicando-se nos casos de armas de fogo de propriedade particular os dispositivos do regulamento desta Lei.

§ 2o A autorização para o porte de arma de fogo dos integrantes das instituições descritas nos incisos V, VI e VII está condicionada à comprovação do requisito a que se refere o inciso III do art. 4o, nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei.

§ 3o A autorização para o porte de arma de fogo das guardas municipais está condicionada à formação funcional de seus integrantes em estabelecimentos de ensino de atividade policial e à existência de mecanismos de fiscalização e de controle interno, nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei, observada a supervisão do Comando do Exército.

§ 4o Os integrantes das Forças Armadas, das polícias federais e estaduais e do Distrito Federal, bem como os militares dos Estados e do Distrito Federal, ao exercerem o direito descrito no art. 4o, ficam dispensados do cumprimento do disposto nos incisos I, II e III do mesmo artigo, na forma do regulamento desta Lei.

2 Artigo com nova redação dada pela Lei no 10.867, de 12-5-2004 (DOU de 13-5-2004).

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§ 5o Aos residentes em áreas rurais, que comprovem depender do emprego de arma de fogo para prover sua subsistência alimentar familiar, será autorizado, na forma prevista no regulamento desta Lei, o porte de arma de fogo na categoria "caçador".

§ 6o Aos integrantes das guardas municipais dos Municípios que integram regiões metropolitanas será autorizado porte de arma de fogo, quando em serviço.

Art. 7o As armas de fogo utilizadas pelos empregados das empresas de segurança privada e de

transporte de valores, constituídas na forma da lei, serão de propriedade, responsabilidade e guarda das respectivas empresas, somente podendo ser utilizadas quando em serviço, devendo essas observar as condições de uso e de armazenagem estabelecidas pelo órgão competente, sendo o certificado de registro e a autorização de porte expedidos pela Polícia Federal em nome da empresa. § 1o O proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança privada e de

transporte de valores responderá pelo crime previsto no parágrafo único do art. 13 desta Lei, sem prejuízo das demais sanções administrativas e civis, se deixar de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de armas de fogo, acessórios e munições que estejam sob sua guarda, nas primeiras vinte e quatro horas depois de ocorrido o fato.

§ 2o A empresa de segurança e de transporte de valores deverá apresentar documentação comprobatória do preenchimento dos requisitos constantes do art. 4o desta Lei quanto aos empregados que portarão arma de fogo.

§ 3o A listagem dos empregados das empresas referidas neste artigo deverá ser atualizada semestralmente junto ao SINARM.

Art. 8o As armas de fogo utilizadas em entidades desportivas legalmente constituídas devem

obedecer às condições de uso e de armazenagem estabelecidas pelo órgão competente, respondendo o possuidor ou o autorizado a portar a arma pela sua guarda na forma do regulamento desta Lei.

Art. 9o Compete ao Ministério da Justiça a autorização do porte de arma para os responsáveis

pela segurança de cidadãos estrangeiros em visita ou sediados no Brasil e, ao Comando do Exército, nos termos do regulamento desta Lei, o registro e a concessão de porte de trânsito de arma de fogo para colecionadores, atiradores e caçadores e de representantes estrangeiros em competição internacional oficial de tiro realizada no território nacional.

Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de uso permitido, em todo o território

nacional, é de competência da Polícia Federal e somente será concedida após autorização do SINARM. § 1o A autorização prevista neste artigo poderá ser concedida com eficácia temporária

e territorial limitada, nos termos de atos regulamentares, e dependerá de o requerente:

I - demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física;

II - atender às exigências previstas no art. 4o desta Lei; III - apresentar documentação de propriedade de arma de fogo, bem como o seu

devido registro no órgão competente.

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§ 2o A autorização de porte de arma de fogo, prevista neste artigo, perderá automaticamente sua eficácia caso o portador dela seja detido ou abordado em estado de embriaguez ou sob efeito de substâncias químicas ou alucinógenas.

Art. 11. Fica instituída a cobrança de taxas, nos valores constantes do Anexo desta Lei, pela

prestação de serviços relativos: I - ao registro de arma de fogo;

II - à renovação de registro de arma de fogo; III - à expedição de segunda via de registro de arma de fogo; IV - à expedição de porte federal de arma de fogo; V - à renovação de porte de arma de fogo; VI - à expedição de segunda via de porte federal de arma de fogo.

§ 1o Os valores arrecadados destinam-se ao custeio e à manutenção das atividades do SINARM, da Polícia Federal e do Comando do Exército, no âmbito de suas respectivas responsabilidades.

§ 2o As taxas previstas neste artigo serão isentas para os proprietários de que trata o § 5o do art. 6o e para os integrantes dos incisos I, II, III, IV, V, VI e VII do art. 6o, nos limites do regulamento desta Lei.

CAPÍTULO IV

DOS CRIMES E DAS PENAS

Posse irregular de arma de fogo de uso permitido Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso

permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa: Pena – detenção, de um a três anos, e multa.

Omissão de cautela

Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de dezoito anos ou

pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade: Pena – detenção, de um a dois anos, e multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras vinte quatro horas depois de ocorrido o fato.

Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido

Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que

gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

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Pena – reclusão, de dois a quatro anos, e multa. Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma de fogo

estiver registrada em nome do agente.

Disparo de arma de fogo Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências,

em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime: Pena – reclusão, de dois a quatro anos, e multa.

Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável.

Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder,

ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de três a seis anos, e multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: I - suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma

de fogo ou artefato; II - modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a

arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;

III - possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar;

IV - portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado;

V - vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e

VI - produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.

Comércio ilegal de arma de fogo

Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar,

montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de quatro a oito anos, e multa.

Parágrafo único. Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência.

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Tráfico internacional de arma de fogo Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional, a qualquer

título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização da autoridade competente: Pena – reclusão, de quatro a oito anos, e multa.

Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada da metade se a arma de

fogo, acessório ou munição forem de uso proibido ou restrito. Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é aumentada da metade se

forem praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6o, 7o e 8o desta Lei.

Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são insuscetíveis de liberdade provisória.

CAPÍTULO V DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 22. O Ministério da Justiça poderá celebrar convênios com os Estados e o Distrito

Federal para o cumprimento do disposto nesta Lei. Art. 23. A classificação legal, técnica e geral, bem como a definição das armas de fogo e

demais produtos controlados, de usos proibidos, restritos ou permitidos será disciplinada em ato do Chefe do Poder Executivo Federal, mediante proposta do Comando do Exército. § 1o Todas as munições comercializadas no País deverão estar acondicionadas em

embalagens com sistema de código de barras, gravado na caixa, visando possibilitar a identificação do fabricante e do adquirente, entre outras informações definidas pelo regulamento desta Lei.

§ 2o Para os órgãos referidos no art. 6o, somente serão expedidas autorizações de compra de munição com identificação do lote e do adquirente no culote dos projéteis, na forma do regulamento desta Lei.

§ 3o As armas de fogo fabricadas a partir de um ano da data de publicação desta Lei conterão dispositivo intrínseco de segurança e de identificação, gravado no corpo da arma, definido pelo regulamento desta Lei, exclusive para os órgãos previstos no art. 6o.

Art. 24. Excetuadas as atribuições a que se refere o art. 2º desta Lei, compete ao Comando do

Exército autorizar e fiscalizar a produção, exportação, importação, desembaraço alfandegário e o comércio de armas de fogo e demais produtos controlados, inclusive o registro e o porte de trânsito de arma de fogo de colecionadores, atiradores e caçadores.

Art. 25. Armas de fogo, acessórios ou munições apreendidos serão, após elaboração do laudo

pericial e sua juntada aos autos, encaminhados pelo juiz competente, quando não mais interessarem à persecução penal, ao Comando do Exército, para destruição, no prazo máximo de quarenta e oito horas.

Parágrafo único. As armas de fogo apreendidas ou encontradas e que não constituam prova em inquérito policial ou criminal deverão ser encaminhadas, no mesmo

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prazo, sob pena de responsabilidade, pela autoridade competente para destruição, vedada a cessão para qualquer pessoa ou instituição.

Art. 26. São vedadas a fabricação, a venda, a comercialização e a importação de brinquedos,

réplicas e simulacros de armas de fogo, que com estas se possam confundir. Parágrafo único. Excetuam-se da proibição as réplicas e os simulacros destinados à instrução,

ao adestramento, ou à coleção de usuário autorizado, nas condições fixadas pelo Comando do Exército.

Art. 27. Caberá ao Comando do Exército autorizar, excepcionalmente, a aquisição de armas

de fogo de uso restrito. Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às aquisições dos Comandos Militares. Art. 28. É vedado ao menor de vinte e cinco anos adquirir arma de fogo, ressalvados os

integrantes das entidades constantes dos incisos I, II e III do art. 6o desta Lei. Art. 29. As autorizações de porte de armas de fogo já concedidas expirar-se-ão noventa dias

após a publicação desta Lei. Parágrafo único. O detentor de autorização com prazo de validade superior a noventa dias

poderá renová-la, perante a Polícia Federal, nas condições dos arts. 4o, 6o e 10 desta Lei, no prazo de noventa dias após sua publicação, sem ônus para o requerente.

Art. 30. Os possuidores e proprietários de armas de fogo não registradas deverão, sob pena de

responsabilidade penal, no prazo de cento e oitenta dias após a publicação desta Lei, solicitar o seu registro apresentando nota fiscal de compra ou a comprovação da origem lícita da posse, pelos meios de prova em direito admitidos.

Art. 31. Os possuidores e proprietários de armas de fogo adquiridas regularmente poderão, a

qualquer tempo, entregá-las à Polícia Federal, mediante recibo e indenização, nos termos do regulamento desta Lei.

Art. 32. Os possuidores e proprietários de armas de fogo não registradas poderão, no prazo de

cento e oitenta dias após a publicação desta Lei, entregá-las à Polícia Federal, mediante recibo e, presumindo-se a boa-fé, poderão ser indenizados, nos termos do regulamento desta Lei.

Parágrafo único. Na hipótese prevista neste artigo e no art. 31, as armas recebidas constarão de cadastro específico e, após a elaboração de laudo pericial, serão encaminhadas, no prazo de quarenta e oito horas, ao Comando do Exército para destruição, sendo vedada sua utilização ou reaproveitamento para qualquer fim.

Art. 33. Será aplicada multa de R$ 100.000,00 (cem mil reais) a R$ 300.000,00 (trezentos mil

reais), conforme especificar o regulamento desta Lei: I - à empresa de transporte aéreo, rodoviário, ferroviário, marítimo, fluvial ou

lacustre que deliberadamente, por qualquer meio, faça, promova, facilite ou permita o transporte de arma ou munição sem a devida autorização ou com inobservância das normas de segurança;

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II - à empresa de produção ou comércio de armamentos que realize publicidade para venda, estimulando o uso indiscriminado de armas de fogo, exceto nas publicações especializadas.

Art. 34. Os promotores de eventos em locais fechados, com aglomeração superior a mil

pessoas, adotarão, sob pena de responsabilidade, as providências necessárias para evitar o ingresso de pessoas armadas, ressalvados os eventos garantidos pelo inciso VI do art. 5o da Constituição Federal.

Parágrafo único. As empresas responsáveis pela prestação dos serviços de transporte

internacional e interestadual de passageiros adotarão as providências necessárias para evitar o embarque de passageiros armados.

CAPÍTULO VI

DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 35. É proibida a comercialização de arma de fogo e munição em todo o território

nacional, salvo para as entidades previstas no art. 6o desta Lei. § 1o Este dispositivo, para entrar em vigor, dependerá de aprovação mediante

referendo popular, a ser realizado em outubro de 2005. § 2o Em caso de aprovação do referendo popular, o disposto neste artigo entrará em

vigor na data de publicação de seu resultado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Art. 36. É revogada a Lei no 9.437, de 20 de fevereiro de 1997. Art. 37. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 22 de dezembro de 2003; 182o da Independência e 115o da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Márcio Thomaz Bastos José Viegas Filho Marina Silva

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ANEXO III – AUTORIZAÇÃO DE FONTE DE REFERÊNCIA De: [email protected] delivered-to: [email protected] Data: Mon, 13 Sep 2004 11:35:14 -0400 Cccc: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]

Assunto: Re: Enc: IBIS Technology in Bahia, Brazil Dear Adeir, Please feel free to reference our work. The official reference is... Braga, Anthony A. and Glenn L. Pierce. 2004. "Linking Crime Guns: The Impact of Ballistics Imaging Technology on the Productivity of the Boston Police Department's Ballistics Unit." Journal of Forensic Sciences, 49 (4): 701 - 706. My apologies for the slow reply. Anthony Anthony A. Braga, Ph.D. Program in Criminal Justice Policy and Management John F. Kennedy School of Government Harvard University 79 John F. Kennedy Street Cambridge, Massachusetts 02138 Voice: (617) 495-5188 Fax: (617) 496-9053 [email protected] 09/12/2004 03:29 PM To: [email protected], [email protected] cc: [email protected], [email protected], [email protected]

Subject: Enc: IBIS Technology in Bahia, Brazil

Please, Mr. Anthony A. Braga and Mr. Glenn L. Pierce, I need a lot of yours answer. The time is passing and it is very important for my monograph to do reference to your work with regard to the importance and possibility of IBIS technology help the Public Security in our battle against crimes committed with firearms. Your confirmation is, also, important for our law Corporation. Regards, Eng.º Adeir Boida de Andrade Technical Police of the State of Bahia/Brazil Ballistic Unit Message from "Adeir" <[email protected]> on Sat, 31 Jul 2004 19:52:16 -0300 -----

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To: "Mr. Anthony A. Braga, Ph.D" <[email protected]>, "Mr. Glenn L. Pierce, Ph.D" <[email protected]> Subject: IBIS Technology in Bahia, Brazil Dear Sirs. Anthony A. Braga and Glenn L. Pierce: I am a Criminalistic Expert and firearm examiner in the Police Department of the State of Bahia, Brazil, and I was in International Forensic Technology Symposium, in Rome, last month of May. Now, I am going to write a monograph work about the subject "Modeling a digital identification system of firearms for the investigation of murders in Bahia", necessary for the conclusion of the "Course of Specialization in Public Security", here in our Military Academy of Police, I would like to request your permission to refer your work "ASSESSING THE VALUE ADDED TO FIREARMS ENFORCEMENT OPERATIONS BY BALLISTICS IMAGING TECHNOLOGY" in my new Academic work. Regards, Adeir Boida de Andrade Crimminalistic Expert/Firearm Examiner Ter. 71 9121-9746