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BAN.0001516-12.2008 - Monitória. Não conhecimento da ... · ciência da ação monitória, mas ignora a existência da referida empresa, não assinou os documentos para abertura

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PODER JUDICIÁRIO

Justiça Federal de Primeira Instância SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SERGIPE

1ª VARA FEDERAL Sentença Tipo “A” – Fundamentação Individualizada

Processo nº 0001516-12.2008.4.05.8500 Classe 28 - Ação Monitória. Autor: CAIXA ECONÔMICA FEDERALRéus: MILLY PRODUTORA DE EVENTOS E PUBLICIDADE

LTDA E OUTROS

S E N T E N Ç A

1. RELATÓRIO

A CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – CEF propôs a presente ação monitória em face de MILLY PRODUTORA DE EVENTOS E PUBLICIDADE LTDA, TIAGO DE JESUS RODRIGUES e NEIDE VALDA SANTIAGO BATISTA, objetivando a cobrança da quantia de R$ 24.173,74 (vinte e quatro mil cento e setenta e três reais e setenta e quatro centavos) referentes a Cédula de Crédito Bancário GIROCAIXA Instantâneo – OP 734, contrato n.º 22.2175.734.0000021/75.

Com a inicial, juntou procuração e substabelecimento (f. 05-07), documentos (08-21) e guia de arrecadação de custas (f. 22).

Os réus foram devidamente citados: Neide Valda Santiago Batista (f. 70-71), Tiago de Jesus Rodrigues e Milly Produtora de Eventos e Publicidade Ltda (f. 73-74).

A Defensoria Pública da União requereu vista dos autos para patrocínio da defesa do réu Thiago de Jesus Rodrigues (f. 76).

A Neide Valda Santiago Batista apresentou embargos monitórios (f. 78-81), alegando, em síntese, a sua ilegitimidade passiva porque foi vítima de fraude, já que nunca teve empresa, não conhece o réu Thiago de Jesus Rodrigues e as demais pessoas que figuraram como antigos sócios desta empresa fraudulenta, nunca residiu na Rua Nestor Sampaio, nº 264, bairro Ponto Novo e não é detentora do nº do celular 79 9937-8349. Aduz ainda que: 1) em meados de 2002/2003, antes do início do pleito, entregou seus documentos pessoais para uma senhora de prenome Lúcia, sua vizinha, que se encontrava realizando campanha eleitoral, com a finalidade de inscrever-se no programa para casa própria; 2) que sua cunhada, Edijanete dos Santos, também forneceu documentos à referida Lúcia, tendo sido criada uma empresa de nome VIRTUAL PRODUÇÕES PUBLICIDADE E

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Processo nº 0001516-12.2008.4.05.8500

II

EVENTOS LTDA, no mesmo endereço da empresa-ré, diferenciando somente o número das salas. Requereu o benefício da justiça gratuita e a realização de perícia grafotécnica. Apresentou rol contendo duas testemunhas.

Com a resposta, acostou procuração (f. 82) e demais documentos (f. 83/96).

Despacho de f. 98 recebeu os embargos (f. 98)

Intimada (f. 99), a CEF impugnou os embargos (f. 101-104), alegando a inexistência nos autos de elemento hábil para comprovação dos argumentos da ré Neide Valda Santiago Batista.

Intimados para especificarem sobre as provas que pretendem produzir (f. 105 e 118): 1) a CEF não se manifestou; 2) a ré Neide Valda Santiago Batista requereu o exame grafotécnico e a oitiva das testemunhas de defesa e o depoimento do réu Thiago de Jesus Rodrigues, a juntada de boletim de ocorrência e comprovantes de residência dos últimos 07 (sete) anos (f. 107-117); 3) Thiago de Jesus Rodrigues, assistido pela DPU, manifestou o seu ciente (f. 118).

Despacho de f. 121/122 determinou a realização de perícia grafotécnica pelo Departamento da Polícia Federal em Sergipe, sendo intimada a referida instituição para indicação de um dos peritos de seu quadro (f. 126/127).

Em resposta, o Superintendente acostou Resolução nº 002/2010-DG/DPF (f. 130/131).

Na f. 133/133-v, ratifiquei que a perícia fosse realizada pelo Departamento da Polícia Federal em Sergipe, considerando que “os fatos narrados podem ter reflexos na esfera criminal”.

Na f. 139, ofício da Superintendência designando perito criminal e informando que a requisição do exame grafotécnico seria tratada como notícia-crime com a conseqüente instauração de inquérito policial.

Designada a data para a realização da perícia (f. 141), as partes foram devidamente intimadas (f. 146-151).

Nas f. 153-163, foi acostado laudo pericial de exame grafotécnico no tocante a autenticidade das assinaturas da ré Neide Valda Santiago Batista.

Intimados para manifestarem-se sobre a perícia (f. 166), a ré Neide Valda Santiago Batista concordou com o laudo pericial, requerendo, ao final, a condenação da CEF em danos morais, no valor indevidamente cobrado na ação monitória, além de custas e honorários advocatícios (f. 167-168). A CEF deixou escoar o prazo (certidão de f. 169) ao passo que o réu Tiago de Jesus Rodrigues, assistido pela DPU, não foi intimado.

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III

A CEF requereu a suspensão dos prazos por 30 (trinta) dias em razão da greve (f. 170).

Considerando o término da greve este juízo devolveu o prazo (f. 173).

Intimados para apresentarem alegações finais (f. 170): 1) a ré Neide Valda Santiago Batista deixou escoar in albis o prazo; 2) a CEF asseverou que deixava critério do Juízo decidir acerca da legitimidade de Neide Valda Santiago Batista, mas requeria a procedência do pedido monitório em relação à Milly Produtora de Eventos e Publicidade Ltda. e ao Tiago de Jesus Rodrigues (f. 175/176)

Tiago de Jesus Rodrigues, assistido pela DPU, manifestou o seu ciente sem apresentar qualquer petição (f. 177).

Conclusos os autos em 18.01.2011 (f. 179), este Juízo converteu o feito em diligência para determinar a renovação da intimação da Defensoria Pública da União, responsável pela defesa dos requeridos Milly Produtora de Eventos e Publicidade e Tiago de Jesus Rodrigues, a fim de assegurar a oposição de embargos monitórios, com indicação de provas e para manifestação sobre o laudo pericial de f. 152-162 (f. 181).

Intimada (f. 182), a DPU apresentou embargos monitórios (f. 184-190) tão-somente em relação ao réu Tiago de Jesus Rodrigues. Afirmou que: 1) tomou ciência da ação monitória, mas ignora a existência da referida empresa, não assinou os documentos para abertura da sociedade comercial e desconhece os demais executados; 2) tomou ciência da realização da perícia realizada em relação à Neide Valda Santiago Batista e compareceu ao local, onde também foi submetido ao exame, contudo o laudo não foi juntado ao processo por não ter sido objeto de determinação judicial.

Alegou: 1) a sua ilegitimidade passiva porque também seria vítima de fraude, já que os seus dados pessoais foram utilizados e sua assinatura falsificada por terceiros a fim de incluí-lo no quadro social de uma empresa; 2) a inexistência/invalidade do negócio jurídico por ausência de consentimento. Requereu a realização de perícia grafotécnica. Requereu o benefício da justiça gratuita e a realização de perícia grafotécnica.

Conclusos os autos em 08.06.2011 (f. 192), a Juíza Titular determinou: 1) a intimação da CEF para impugnar os embargos opostos pelo réu Tiago de Jesus Rodrigues; 2) a realização de perícia grafotécnica pela Superintendência da Polícia Federal em Sergipe no tocante ao réu Tiago de Jesus Rodrigues, com a intimação das partes para apresentarem quesitos e indicarem assistentes técnicos.

A CEF impugnou os embargos monitórios (f. 199-200), alegando que: 1) o réu Tiago não trouxe elementos hábeis para comprovar que foi vítima de

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IV

falsários; 2) os documentos já acostados ao feito demonstram que o mesmo foi quem efetivamente contratou com a CEF, não havendo que se falar em existência de fraude.

Nas f. 213/226, foi acostado laudo pericial de exame grafotécnico no tocante a autenticidade das assinaturas do réu Tiago de Jesus Rodrigues.

Intimados para manifestarem sobre o laudo de f. 213/226 (f. 227, 233 e 233): 1) a CEF concordou com a conclusão da perícia e reiterou os pedidos expostos na inicial (f. 229); 2) a ré Neide Valda requereu a exclusão do pólo passivo e a condenação da CEF ao pagamento das custas processuais, danos materiais e morais e honorários advocatícios (f. 231-232); 3) o réu Tiago, assistido pela DPU, aduziu que embora o laudo tenha concluído que as assinaturas saíram do próprio punho do réu Thiago de Jesus, o mesmo não tinha à época maturidade ou instrução suficiente para ter o devido conhecimento do compromisso que firmava, pois tinha apenas 19 anos (f. 235/236)

Intimadas para apresentação de alegações finais (f. 237 e 241): 1) a CEF reiterou todas as manifestações anteriores, pugnando pela procedência dos pedidos (f. 239); 2) a ré Neide não se manifestou (f. 240); 3) a DPU reiterou os termos da petição de f. 235-236, com a conseqüente a anulação do negócio jurídico (f. 241).

Os autos vieram conclusos em 02.05.2012 (f. 212).

É o relatório. Passo a decidir.

2. FUNDAMENTAÇÃO

Cumpre relembrar, para fins de eventuais embargos de declaração, que incumbe ao órgão julgador decidir o litígio segundo o seu livre convencimento motivado, utilizando-se das provas, legislação, doutrina e jurisprudência que entender pertinentes à espécie. Assim, o julgador não se encontra obrigado a manifestar-se sobre todas as alegações das partes, nem a ater-se aos fundamentos indicados por elas ou a responder, um a um, a todos os seus argumentos, quando já encontrou motivo suficiente para fundamentar a decisão. Isto porque a decisão judicial não constitui um questionário de perguntas e respostas, nem se equipara a um laudo pericial a guisa de quesitos. Neste sentido, colacionam-se os seguintes precedentes:

“O não acatamento das argumentações contidas no recurso não implica cerceamento de defesa, posto que ao julgador cabe apreciar a questão de acordo com o que ele entender atinente à lide. Não está obrigado o magistrado a julgar a questão posta a seu exame de acordo com o pleiteado pelas partes, mas sim com o seu livre convencimento (art. 131, do CPC), utilizando-se dos fatos, provas, jurisprudência, aspectos

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V

pertinentes ao tema e da legislação que entender aplicável ao caso concreto.” 1 (destaquei) “Processo civil. Sentença. Função prática. A função judicial é prática, só lhe importando as teses discutidas no processo enquanto necessárias ao julgamento da causa. Nessa linha, o juiz não precisa, ao julgar procedente a ação, examinar-lhe todos os fundamentos. Se um deles e suficiente para esse resultado, não esta obrigado ao exame dos demais. Embargos de declaração rejeitados.” 2 (destaquei)

“(....) A função teleológica da decisão judicial é a de compor, precipuamente, litígios. Não é peça acadêmica ou doutrinária, tampouco se destina a responder a argumentos, à guisa de quesitos, como se laudo pericial fosse. Contenta-se o sistema com a solução da controvérsia, observada a res in judicium deducta, o que se deu no caso ora em exame.” 3 (destaquei)

1. Não conhecimento do pedido de danos morais. Preclusão consumativa.

Dispõe o CPC: Art. 1.102.a - A ação monitória compete a quem pretender, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, pagamento de soma em dinheiro, entrega de coisa fungível ou de determinado bem móvel.(Incluído pela Lei nº 9.079, de 14.7.1995) Art. 1.102-C. No prazo previsto no art. 1.102-B, poderá o réu oferecer embargos, que suspenderão a eficácia do mandado inicial. Se os embargos não forem opostos, constituir-se-á, de pleno direito, o título executivo judicial, convertendo-se o mandado inicial em mandado executivo e prosseguindo-se na forma do Livro I, Título VIII, Capítulo X, desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.232, de 2005)

A ação monitória constitui uma tutela diferenciada em que aquele que não possui documento sem força de título executivo poder se valer desta via para constituir um, desde que o réu não apresente qualquer oposição do réu dentro do prazo legal. A ação monitória impõe ao devedor o ônus de questionar a relação jurídica emanada do documento (contraditório eventual), sob pena de não o fazendo ter contra si constituído um título executivo.

Em sede de ação monitória, não obstante o nomen juris, os embargos monitórios equivalem a uma verdadeira resposta, assumindo o feito o rito ordinário. Em sendo assim, admite-se a apresentação de reconvenção dentro do prazo de resposta, nos termos da súmula n.º 292 do STJ, verbis:.

1 - STJ. T1. AgRg no Ag 512437/RJ. Rel. Ministro JOSÉ DELGADO. DJ 15.12.2003, p. 210. 2 - STJ. T2. EDcl no REsp 15450/SP. Rel. Ministro ARI PARGENDLER. DJ 06.05.1996, p. 14399. No mesmo sentido: REsp 172329/SP. S1. Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS; REsp 611518/MA. T2. Rel. Ministro FRANCIULLI NETTO; REsp 905959/RJ. T3. Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI; REsp 807690/SP. T2. Rel. Ministro CASTRO MEIRA. 3 - STJ. T2. EDcl no REsp 675.570/SC. Rel. Ministro FRANCIULLI NETTO. DJ 28.03.2006, p. 206

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VI

Súmula n.º 292 – A reconvenção é cabível na ação monitória, após a conversão do procedimento em ordinário.

Colaciona-se o aresto abaixo: Processual Civil. Recurso Especial. Ação monitória. Reconvenção. Admissibilidade. Segundo a mens legis os embargos na ação monitória não têm "natureza jurídica de ação", mas se identificam com a contestação. Não se confundem com os embargos do devedor, em execução fundada em título judicial ou extrajudicial, vez que, inexiste ainda título executivo a ser desconstituído. Não pagando o devedor o mandado monitório, abre-se-lhe a faculdade de defender-se, oferecendo qualquer das espécies de respostas admitidas em direito para fazer frente à pretensão do autor. Os embargos ao decreto injuncional ordinarizam o procedimento monitório e propiciam a instauração da cognição exauriente, regrado pelas disposições de procedimento comum. Por isso, não se vislumbra qualquer incompatibilidade com a possibilidade do réu oferecer reconvenção, desde que seja esta conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa. A tutela diferenciada introduzida pela ação monitória, que busca atingir, no menor espaço de tempo possível a satisfação do direito lesado, não é incompatível com a ampla defesa do réu, que deve ser assegurada, inclusive pela via reconvencional. Recurso provido, na parte em que conhecido. 4

Acerca da distinção entre defesa e reconvenção, transcrevo os ensinamentos abaixo:

“Distinguem-se, entretanto, a ação e a defesa quanto ao objeto material. Na ação o autor formula uma pretensão, faz um pedido. Diversamente, na defesa não se contém nenhuma pretensão, mas resistência à pretensão e ao pedido do autor. Defendendo-se, o réu não pretende nada de quem aciona, mas apenas resiste à sujeição processual a que o submete o órgão jurisdicional, ou à pretensão do autor, afirmando que não está sujeito ao seu poder jurídico. O réu – ensina Couture – não aspira um direito, mas tão somente excluir o alheio. Sua pretensão nada mais é que afirmação da liberdade jurídica” (Cf. Carnelutti).5 “Como ato puramente defensivo que é, a contestação não alarga o objeto do processo. Limita-se a opor resistências à pretensão do autor, seja com o objetivo de proporcionar ao réu a tutela jurisdicional oposta à pedida por aquele (improcedência da demanda), seja para pleitear a extinção do processo sem julgamento do mérito, seja para imprimir-lhe rumos diferentes (defesas dilatórias, que retardam o procedimento mas não conduzem à extinção processual – incompetência absoluta, impedimento do juiz). A contestação não interfere no objeto do processo (Streitgegenstand), o qual continua dimensionado pelo pedido contido na petição inicial (supra, nn. 480-481); mas pode alargar o objeto do

4 STJ, REsp 222.937/SP, 2ª Seção, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, julgado em 09/05/2001, DJ 02/02/2004, p. 265 5 Santos, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 2000.

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VII

conhecimento do juiz, i.é, trazer ao exame deste os fatos ou razões jurídicas novos que o réu vier a alegar, não contidos na petição inicial, como o pagamento, a prescrição, a compensação ou mesmo uma nova versão dos fatos alegados na petição inicial (supra, n. 775). Sequer isso acontece, quando o réu se limita a negar o que o autor afirmara, situação em que a instrução processual girará somente em torno dessas afirmações, a serem confirmadas ou desmentidas pela prova; quando o réu alega fatos novos (impeditivos, modificativos, extintivos) a instrução incluirá os que o autor havia afirmado, mais estes. Sempre, contudo, sem aumentar as possibilidades de julgamento de meritis: como resultado do acolhimento da contestação, o juiz poderá julgar o mérito a favor do réu (improcedência da demanda), negar ao autor o julgamento do mérito (extinção do processo) ou desviar o processo para outros rumos (incompetência absoluta, impedimento do juiz). Jamais conceder ao réu um provimento de mérito estranho ao que fora pedido pelo autor, o que só se admite quando é feita reconvenção (p. ex., conceder a separação judicial por culpa do autor, não tendo o réu reconvindo), denunciação da lide ou pedido contraposto”. 6

Por seu turno, a preclusão nada mais é do que a perda, extinção da possibilidade de praticar um ato, independente de declaração judicial, podendo ser de ordem temporal (decurso do prazo), lógica (incompatibilidade com um ato anterior) e consumativa (prática de um ato). Nos termos do art. 299 do CPP 7, a reconvenção deve ser apresentada simultaneamente a resposta do réu, sob pena de preclusão consumativa. A propósito, cito os julgados abaixo:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE COBRANÇA. CONVÊNIO FIRMADO ENTRE MUNICÍPIO E ESTADO. RECONVENÇÃO. CONTESTAÇÃO. SIMULTANEIDADE. PRECLUSÃO CONSUMATIVA. ART. 299 DO CPC. 1. A contestação e a reconvenção devem ser apresentadas simultaneamente, ainda que haja prazo para a resposta do réu, sob pena de preclusão consumativa. Precedentes do STJ: REsp 31353/SP, QUARTA TURMA, DJ 16/08/2004; AgRg no Ag 817.329/MG, QUARTA TURMA, DJ 17/09/2007; e REsp 600839/SP, DJe 05/11/2008. 2. Agravo Regimental desprovido. 8 CIVIL E PROCESSUAL. AÇÕES DE MANUTENÇÃO DE POSSE E CONSIGNATÓRIA. PEDIDO RECONVENCIONAL PARA A RESCISÃO DO CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. APRESENTAÇÃO DA RECONVENÇÃO APÓS A CONTESTAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. PRECLUSÃO CONSUMATIVA. CPC, ART. 299. INADIMPLÊNCIA CONTRATUAL E CORREÇÃO MONETÁRIA DO SALDO DO PREÇO SOLUCIONADAS À LUZ DA INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULAS E DOS FATOS.

6 Dinamarco, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. 6.ed.rev.e atual. São Paulo: Malheiros, 2009. 7 CPC, Art. 299. A contestação e a reconvenção serão oferecidas simultaneamente, em peças autônomas; a exceção será processada em apenso aos autos principais. 8 STJ, AgRg no REsp 935.051/BA, 1ª Turma, Rel. Ministro LUIZ FUX, julgado em 14/09/2010, DJe 30/09/2010

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VIII

REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULAS NS. 5 E 7-STJ. PREQUESTIONAMENTO, ADEMAIS, DEFICIENTE. SÚMULA N. 211-STJ. I. omissis II. omissis. III. Aplica-se o princípio da preclusão consumativa, adotado pela uniforme jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, à regra do art. 299 do CPC, de sorte que tardio o pedido reconvencional apresentado após o oferecimento da contestação pelo mesmo réu, ainda que antes de terminado o prazo original de defesa. IV. Recurso especial conhecido em parte e provido, para julgar extinta a reconvenção e, conseqüentemente, a pretensão rescisória do compromisso de compra e venda. 9

No caso em exame, por ocasião dos embargos monitórios, a ré somente se limitou ao reconhecimento de sua ilegitimidade passiva (f. 78/81). Ora, por ocasião do prazo para embargos, não apresentou reconvenção, somente após a intimação para se manifestar sobre a perícia (f. 166), é que a ré veio requerer também a condenação em danos morais.

Desta forma, o pedido não pode ser conhecido ante a preclusão consumativa.

2. Regularidade procedimental em relação a MILLY PROMOTORA DE EVENTOS E PUBLICIDADE LTDA.

Os réus foram devidamente citados: Neide Valda Santiago Batista (f. 70-71), Thiago de Jesus Rodrigues e Milly Produtora de Eventos e Publicidade Ltda, esta última na pessoa do réu Tiago que seria o seu representante legal (f. 73-74).

Inicialmente, somente a ré Neide Valda Santiago Batista apresentou os embargos.

A DPU requereu vista para patrocinar a defesa do réu Thiago de Jesus Rodrigues, contudo o processo prosseguiu por algum tempo sem que tivesse oportunidade de oferecer embargos.

Posteriormente, verificado o equívoco procedimental, este Juízo converteu o feito em diligência para determinar a renovação da intimação da Defensoria Pública da União, responsável pela defesa dos requeridos Milly Produtora de Eventos e Publicidade e Thiago de Jesus Rodrigues, a fim de assegurar a oposição de embargos monitórios, com indicação de provas e para manifestação sobre o laudo pericial de f. 152-162 (f. 181).

Intimada (f. 182), a DPU apresentou embargos monitórios (f. 184-190) tão-somente em relação ao réu Thiago de Jesus Rodrigues. 9 STJ, REsp 31.353/SP, 4ª Turma, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, julgado em 08/06/2004, DJ 16/08/2004, p. 260

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IX

Pois bem. .

Ao contrário do processo penal, em que a defesa é indispensável, o processo civil contenta-se com a citação dos réus/embargados para tomar ciência do feito e, para querendo, se defender. Excepcionalmente, o juiz é obrigado a nomear curador especial nos casos de citação ficta a fim de garantir o contraditório, considerando que nesta modalidade nem sempre o réu/embargado tem ciência efetivamente da tramitação do feito.

Por sua vez, o réu tem o ônus de responder a demanda, sob pena de não o fazendo operar o fenômeno da revelia, cujos efeitos principais são presunção de veracidade dos fatos articulados na inicial (art. 319 do CPC) e a fluência dos prazos independente de intimação (art. 322). Isto não assegura a vitória ao autor, uma vez compete ao magistrado aplicar o direito ao concreto, podendo ocorrer, em caso de revelia, o julgamento de improcedência caso a parte autora não tenha direito. Ressalte-se que tal presunção jamais foi considerada absoluta, pois o Juiz pode examinar se os fatos alegados repousam em qualquer elemento de prova.

Considerando que a ré Milly Produtora de Eventos e Publicidade Ltda foi validamente citada na pessoa do seu representante legal (Tiago de Jesus Rodrigues) e não apresentou resposta no prazo legal, impõe-se reconhecer os efeitos da revelia.

Considerando que os réus (pessoas naturais) apresentaram as suas respostas nos autos, os efeitos da revelia – presunção de veracidade – são mitigadas pela limitadas pelas matérias que forem comuns aos réus (art. 320, I do CPC).

Declaro a revelia da empresa Milly Produtora de Eventos e Publicidade Ltda, ressalvando as defesas que forem comuns aos dos demais réus.

3. Ilegitimidade passiva.

Os réus Tiago de Jesus Rodrigues e Neide Valda Santiago Batista argüiram a sua ilegitimidade passiva para a demanda, uma vez que foram vítimas de fraudes ao terem seus dados pessoais utilizados e suas assinaturas por terceiros para realizarem uma alteração societária e um contrato de empréstimo.

A legitimidade ad causam nada mais é do que o vínculo de pertinência subjetiva entre a situação afirmada e a pretensão de direito material posta em juízo, seja no pólo ativo, seja no passivo. De acordo com a teoria da asserção, deve ser aferida in status assertionis, vale dizer, a partir da análise da causa de pedir veiculada na inicial, sem adentrar na questão de que aquilo que foi afirmado corresponde ou não à verdade. Segundo Alexandre Freitas Câmara,

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X

“Deve o juiz raciocinar admitindo, provisoriamente, e por hipótese, que todas as afirmações do autor são verdadeiras, para que se possa verificar se estão presentes as condições da ação” 10

Em sua inicial, a autora aduziu os réus, na qualidade de representantes legais da empresa da Milly Produtora de Eventos e Publicidade Ltda. e de co-devedores solidários, Contrato de Cédula de Crédito Bancário GIROCAIXA Fácil – OP 734 n.º 22.2175.734.0000021/75.

Ora, para a aferição desta condição da ação, basta que o autor narre fatos imputáveis aos réus, sendo que a questão de serem efetivamente os responsáveis ou não integra o próprio mérito da causa. Em adendo, a questão da falsidade das assinaturas se confunde com o mérito porque depende da realização de perícia, logo será examinada em momento oportuno (mérito).

Não havendo outras preliminares argüidas ou conhecíveis de ofício, examino o mérito.

2.1. Mérito

Trata-se de ação monitória proposta pela CEF por meio da qual pretende cobrar o valor de R$ 24.173,74 (vinte e quatro mil cento e setenta e três reais e setenta e quatro centavos), atualizada até a data de 07/01/2008, referente ao Contrato de Cédula de Crédito Bancário GIROCAIXA Fácil – OP 734 n.º 22.2175.734.0000021/75.

Antes de adentrar no mérito, é preciso delimitar a matéria controvertida que será objeto de julgamento.

De acordo com o documento de f. 08/13, em 15.02.2007, a CEF celebrou o referido contrato com a Milly Promotora de Eventos e Publicidade Ltda., sendo que os réus, na qualidade de sócios, assumiram a condição de co-devedores solidários, conforme cláusula 1ª e seu parágrafo único.

Consoante a alteração contratual (f. 44/46), os sócios anteriores transmitiram as suas quotas aos réus Tiago de Jesus Rodrigues e Neide Valda Santiago Batista, sendo que o primeiro seria o sócio-administrador (cláusula sexta). Consta da referida alteração que “Os Sócios TIAGO DE JESUS RODRIGUES e NEIDE VALDA SANTIAGO BATISTA, assumem neste ato todo o ATIVO E PASSIVO da referida Sociedade como também se responsabilizando perante órgãos Federais, Estaduais e Municipais, por eventuais débitos” (f. 45)

Em suas defesas, os réus Tiago de Jesus Rodrigues e Neide Valda Santiago Batista alegaram que foram vítimas de fraudes ao terem seus dados

10 Lições de Direito Processual Civil. 10.ed., rev. e atual. segundo o Código Civil de 2002. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2004. p. 129.

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XI

pessoais utilizados e suas assinaturas falsificadas por terceiros para realizarem uma alteração contratual societária e, posteriormente, um contrato de empréstimo, em que figuraram como co-devedores solidários.

Pois bem.

Este juízo vinha conhecendo de ofício de eventuais ilegalidades no contrato bancário, contudo o Superior Tribunal de Justiça perfilhou tese oposta ao editar a súmula n.º 381 que possui o seguinte conteúdo:

Súmula 381 do STJ – Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas. 11

Ressalvo o meu entendimento pessoal para acompanhar o entendimento firmado pelo Tribunal Superior sobre a matéria.

A defesa dos réus se funda na negativa dos fatos constitutivos do direito do autor (defesa direta de mérito), vale dizer, não foram eles que celebraram o contrato em questão. Ora, como não houve manifestação das defesas acerca da validade das cláusulas contratuais previstas no contrato de abertura de limite de crédito (f. 09-13), este Juízo não emitirá qualquer juízo de valor em relação às mesmas, em conformidade com a súmula retromencionada.

Por sua vez, em sede de embargos, além de questionar a autenticidade de sua assinatura no contrato de financiamento, o réu Tiago de Jesus Rodrigues defendeu também a desconstituição da alteração contratual registrada na Junta Comercial, nos seguintes termos:

“Conseqüentemente, o registro de um ato constitutivo inexistente na Junta Comercial jamais poderá ser válido, devendo sua inexistência ser igualmente declarada pela autoridade judicial” (f. 189)

Tal matéria não pode conhecida por dois motivos: 1) não houve a formulação de pedido expresso através de reconvenção; 2) ainda que houvesse, este Juízo não seria competente para o exame.

A alteração do contrato social com a admissão de novos sócios autoriza que estes passem a atuar em nome da empresa, inclusive praticando atos e negócios jurídicos. A eventual invalidade da alteração contratual contamina os atos subseqüentes, mas a recíproca não é verdade. Isto porque a alteração contratual pode ser considerada válida, mas o contrato possuir algum vício.

As relações jurídicas decorrentes da alteração societária e do contrato bancário estão interligadas entre si por força da conexão, mas não significa que a Justiça Federal seja competente para apreciar ambas as demandas. A reunião de causas conexas pressupõe que o Juízo onde se pretende reuni-las seja 11 2ª Seção, julgado em 22/04/2009, DJe 05/05/2009

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XII

absolutamente competente para ambas. Assim, a pretensão visando desconstituir contrato social deve ser dirigida contra a suposta pessoa jurídica e os seus sócios, sendo de competência da Justiça Estadual.

Na presente demanda, somente vai ser objeto de julgamento a validade do negócio jurídico celebrado entre a CEF e os réus sem desconstituir eventual registro da Junta Comercial. Ainda que seja examinada a questão da validade da alteração do contrato social, tal questão será examinada como questão incidental sem que seja alcançada pela coisa julgada (art. 469, III do CPC).

Nas f. 121/122, 133 e 192, Este Juízo determinou que um Perito Criminal da SR/DPF/SE realizasse perícia grafotécnica na alteração contratual (f. 44/46 12) e também no contrato de financiamento a fim de determinar a autenticidade das assinaturas dos réus Tiago de Jesus Rodrigues e Neide Valda Santiago Batista.

Realizado o exame grafotécnico nas f. 153/163 (somente em relação à ré Neide) e na f. 213/226 (somente em relação ao réu Tiago), o expert chegou as seguintes conclusões:

“Tendo em vista todos os elementos técnicos evidenciados durante a realização dos exames – principalmente, as discordâncias grafotécnicas: morfogenéticas, de ritmo e de dinamismo, constatadas entre os materiais questionados e os padrões – e tomando como base de cotejo os padrões fornecidos, o Perito pode afirmar que os lançamentos questionados descritos no item I.1 – Material Questionado do presente laudo (figuras 01, 02 e 03 deste Laudo), não são autênticos, isto é, não foram provenientes do punho de NEIDE VALDA SANTIAGO BATISTA.” O documento da figura 01, refere-se a assinatura do contrato com a CEF (f. 13). “Tendo em vista todos os elementos técnicos evidenciados durante a realização dos exames – principalmente, as concordâncias grafotécnicas: morfogenéticas, de ritmo e de dinamismo, constatadas entre os materiais questionados e os padrões – e tomando como base de cotejo os padrões fornecidos, o Perito pode afirmar que os lançamentos questionados descritos no item I.1 – Material Questionado do presente laudo (figuras 01, 02 e 03 deste Laudo), são autênticos, isto é, foram provenientes do punho de TIAGO DE JESUS RODRIGUES.”

De acordo com as conclusões da pericia, tem-se que as assinaturas em relação a Neide Valda Santiago são inautênticas em ambos os documentos (alteração contratual e contrato bancário) ao passo que são autênticas em relação a Tiago de Jesus Rodrigues.

12 A perícia fez o exame sobre o documento original arquivado na JUCESE

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XIII

Ora, se a ré Neide não foi quem assinou os documentos, não pode ser responsabilizada pela dívida decorrente do contrato bancário, justamente porque não prestou qualquer consentimento.

Em relação ao réu Tiago, a DPU requereu a sua exclusão de responsabilidade porque embora o laudo tenha concluído que as assinaturas saíram do próprio punho do demandado, o mesmo não tinha à época maturidade ou instrução suficiente para ter o devido conhecimento do compromisso que firmava, pois tinha apenas 19 anos.

Razão não lhe assiste, pois a simples alegação de imaturidade não o exime da responsabilidade pelos atos por ele praticados, pois à época da assinatura dos contratos era maior, portanto capaz para os atos da vida civil. Inexistindo prova nos autos de sua incapacidade ou de qualquer fraude acerca da obtenção de seu consentimento, o negócio jurídico realizado com a autora é válido. Ressalte-se que o réu não trouxe qualquer explicação convincente de como os seus dados foram parar no contrato, muito menos arrolou testemunhas.

Portanto, considerando que o contrato de financiamento (f. 08/13) foi assinado pelo representante legal da empresa Milly Promotora de Eventos e Publicidade Ltda. (cláusula sexta da alteração contratual – f. 44/46), persiste a responsabilidade da referida empresa e também de seu sócio-administrador, na qualidade de co-devedor solidário.

3. DISPOSITIVO

Diante do exposto:

1) não conheço do pedido de danos morais formulado pela ré Neide Valda Santiago Batista e também de desconstituição do registro na Junta Comercial formulado pelo réu Tiago de Jesus Rodrigues;

2) julgo parcialmente procedentes em parte o pedido formulado nos embargos monitórios com resolução de mérito (art. 269, inciso I, do CPC c/c nos termos do art. 1.102 – C, § 3º do CPC), para:

1) declarar a ausência de qualquer responsabilidade de Neide Valda Santiago Batista, dos débitos decorrente do Contrato de Cédula de Crédito Bancário GIROCAIXA Fácil – OP 734 n.º 22.2175.734.0000021/75 (f. 08/13);

2) constituir em título executivo judicial o valor de R$ 24.173,74 (vinte e quatro mil cento e setenta e três reais e setenta e quatro centavos), atualizada até a data de 07.01.2008, acrescidos dos encargos constantes no contrato, em desfavor dos réus Milly Produtora de Eventos e Publicidade Ltda e Tiago de Jesus Rodrigues.

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XIV

Sem condenação em custas de Neide Valda Santiago e Tiago de Jesus Rodrigues por ser isento em razão do deferimento da gratuidade da Justiça (art. 4º, II, da Lei nº 9.289/96).

Quanto aos honorários, os réus Neide Valda Santiago Batista e Tiago de Jesus Rodrigues são isentos destas verbas por serem beneficiários da Justiça, já que o art. 12 da Lei n.º 1.060/50 não foi recepcionado perante a ordem constitucional, com base no precedente abaixo:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. SENTENÇA QUE DEIXOU DE CONDENAR O BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA VENCIDO AO PAGAMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS. INAPLICABILIDADE DO ART. 12 DA LEI 1.060/50. NÃO RECEPÇÃO PELA CARTA MAGNA DE 1988. 1. Relativamente à condenação em honorários do beneficiário da gratuidade da justiça, deve se observar, inicialmente, o disposto no art. 3o., inc. V da Lei 1.060/50, que estabelece as normas para a Assistência Judiciária Gratuita. 2. Apesar de ser bastante clara a isenção do beneficiário da justiça gratuita vencido em ação judicial quanto ao pagamento de honorários advocatícios, há a norma legal contida no art. 12 da mesma Lei, afirmando que o art. 3o. deve ser aplicado em harmonia com o disposto no citado art. 12. 3. O multicitado art. 12 da Lei 1.060/50, que prescreve que, se dentro do prazo de cinco anos for superado o estado de pobreza, é devida a verba de sucumbência pelo beneficiário de justiça gratuita, não foi recepcionado pela Carta Magna de 1988, especialmente, diante do que prescreve o inc. LXXIV do art. 5º. 4. O referido dispositivo constitucional não se refere à lei infraconstitucional, como ocorria com o art. 153, parág. 32 da Constituição de 1969, razão pela qual se entende que o legislador constitucional não desejou abrir exceção à norma posta no inc. LXXIV do art. 5o. 5. Assim, restando indubitável que o apelante não possui condições de arcar com as verbas de sucumbência sem colocar em risco a sua manutenção, sendo, portanto, beneficiário da gratuidade da justiça, não pode ser condenado ao pagamento dos honorários advocatícios, a teor do art. 3o., inc. V da Lei 1.060/50. 6. Precedentes desta eg. Turma Recursal. 7. Apelação improvida. 13

Condeno a CEF ao pagamento das custas pro rata, as quais já se encontram recolhida na f. 22.

Considerando a sucumbência recíproca (derrota de Neide quanto ao não conhecimento do pedido de danos morais e derrota da CEF em relação a exclusão da responsabilidade de Neide), deixo de condenar a CEF em honorários em favor de Neide.

13 TRF 5ª, AC395223/RN (200584000046383), 2ª Turma, Des. Fed. FRANCISCO BARROS DIAS, julgamento: 03/02/2009, publicação: dj 09/03/2009 - página 169.

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XV

Após o trânsito em julgado sem reforma, remeter os autos à Distribuição para alteração da classe do processo para execução de título executivo judicial e dê-se início a execução, na forma prevista no Livro I, Título VIII, Capítulo X do CPC (art. 1.102-C, § 3º do CPC).

Ressalte-se que, para fins de embargos de declaração, não pretendo modificar o meu entendimento, ainda que uma das partes venha a colacionar uma jurisprudência, doutrina e etc. diverso deste juízo, uma vez que a modalidade recursal cabível é o recurso de apelação. Advirto que a interposição de embargos de declaração pretendendo o rejulgamento da matéria, sem que estejam presentes quaisquer dos vícios (obscuridade, contradição, omissão ou para correção de erro material) que autoriza o manejo desta modalidade excepcional, ensejará a análise de eventual litigância de má-fé.

Retificar a autuação processual para constar no nome de “Tiago de Jesus Rodrigues” ao invés de “Thiago de Jesus Rodrigues”.

Publicar. Intimar a DPU pessoalmente. Registrar.

Considerando que a alteração contratual de f. 44/46, foi praticada de maneira fraudulenta e também de esquivar eventual responsabilidade tributária da empresa Milly Promotora de Eventos e Publicidade Ltda., vista dos autos ao MPF para, querendo, adotar as providências que entender cabíveis na seara criminal.

Aracaju, 24 de julho de 2012.

Fábio Cordeiro de Lima Juiz Federal Substituto da 1ª Vara/SE