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7/24/2019 Banco de História Economia Solidária
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Projeto Banco de Histórias de Trabalhadoras e Trabalhadores e a Economia Solidária:Uma tecnologia social de valorização da experiência humana
Andrea Paula dos Santos
Drielli PeyerlLílian Cruvinel Torres
A criação do Projeto “Banco de Histórias de Tra balhadoras e Trabalhadores e a Economia
Solidária: uma tecnologia social de valorização da experiência humana” surgiu a partir do
Convênio MEC/Sesu 182/2005 firmado entre o Ministério da Educação e a Universidade
Estadual de Ponta Grossa desde o início de 2006. O Convênio foi fruto da aprovação do Projeto
“Práticas Teóricas e Metodológicas do Trabalho de Campo para a Elaboração de um Diagnóstico
Participativo: Economia Solidária, Educação Popular e História Oral”, contemplado no Edital do
ano de 2005 do Programa de Apoio a Atividades de Extensão em Políticas Públicas – PROEXT.
Esse projeto inicial foi formulado no bojo das atividades que realizamos desde 2000 relacionadas
à economia solidária (SANTOS & SANTOS, 2004) e especificamente, desde o ano de 2005
como pesquisadores/extensionistas do Programa de Extensão Incubadora de Empreendimentos
Solidários (IESOL-UEPG), com vistas à elaboração de Diagnósticos Participativos dos grupos de
trabalhadores a serem acompanhados pela IESOL com o objetivo de criação e consolidação de
cooperativas e associações como alternativa de geração de trabalho e renda no contexto da
economia solidária (SINGER, 2000; GAIGER, 2004).
O projeto atual de disponibilização do Banco de Histórias dos Trabalhadoras e
Trabalhadores e a Economia Solidária é uma tecnologia social de valorização da experiência
humana numa crítica contra a sua destruição no contexto contemporâneo (BENJAMIN, 1985;
AGAMBEN, 2005) que conta com a parceria do Portal do Cooperativismo criado e mantido pela
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP-COPPE/UFRJ) e da ITCP da
Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV/SP). Essas Incubadoras estão interessadas emcontribuir com a proposta de construção de uma Rede Nacional de Tecnologias Sociais,
compreendidas como a reunião de métodos e técnicas de trabalho junto aos grupos populares com
vistas a impulsionar processos de empoderamento das representações coletivas da cidadania para
habilitá-los a disputar nos espaços públicos alternativas de desenvolvimento que se originam das
experiências inovadoras e que se orientem pela defesa dos interesses das maiorias e pela
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distribuição de renda, possibilitando melhoria de qualidade de vida e inclusão econômica, política
e social (CARRION; VALENTIM; HELLWIG, 2006).
Daí o nascimento dessa proposta de parceria com a ITCP/COPPE/UFRJ e da ITCP/FGV-
SP, para a disponibilização no Portal do Cooperativismo da tecnologia social composta pelo
Banco de Histórias de Trabalhadoras e Trabalhadores e a Economia Solidária (com entrevistas,fotografias e vídeos) e pelos planos de trabalho detalhados realizados com alguns grupos
acompanhados pela IESOL/UEPG-PR, como início do processo de criação da Rede Nacional de
Tecnologias Sociais. Dessa forma, graças ao Convênio MEC/Sesu com a IESOL/UEPG, as
atividades de produção da tecnologia social do Banco de Histórias e dos planejamentos/projetos
para cada grupo de trabalhadoras e trabalhadores, passíveis de serem divulgadas e reaplicadas,
tornaram-se uma atividade permanente da IESOL. E, com a parceria da ITCP da COPPE/UFRJ e
da ITCP/FGV-SP, o Portal do Cooperativismo pode ampliar sua ação de divulgar e dar acesso às
informações referentes às tecnologias sociais com práticas e metodologias das Incubadoras
Universitárias voltadas para a Economia Solidária numa Rede Nacional de Tecnologias Sociais.
Para a construção permanente dessa tecnologia social, ocorre a capacitação do pessoal que
realiza a intervenção social junto aos grupos acompanhados pela IESOL na Oficina de
Metodologia de Diagnóstico, Formação e Assessorias, realizada semanalmente. A população alvo
dessa capacitação é composta de professores, e alunos de graduação e de pós-graduação,
funcionários de órgãos da administração pública municipal e estadual e profissionais voluntários
que se preparam para intervir na realidade dos grupos incubados ou em acompanhamento. Omaterial produzido no diagnóstico participativo tem sido construído através de relatórios de
acompanhamento dos grupos, de fotografias, de coleta de documentos e de entrevistas de
histórias de vida (SANTOS, 1996; SANTOS, RIBEIRO, MEIHY, 1998; MEIHY, 2005). A
sistematização dessa documentação compõe um banco de dados para diversas áreas do
conhecimento humano, favorecendo um olhar interdisciplinar. Além de atingir o propósito
principal da incubadora de buscar garantir por meio dos processos de incubação,
acompanhamento e formação de redes, a geração de trabalho e renda para os trabalhadores da
Economia Solidária.
Foi a partir das tecnologias sociais do Banco de Histórias e dos Planos de Trabalho de
cada grupo, com registros documentais feitos com os trabalhadores (histórias de vida, imagens
fotográficas e audiovisuais da realidade vivenciada pelos sujeitos em suas comunidades, cadernos
de campo) que vem se tornando possível subsidiar as intervenções a serem realizadas pela IESOL
para o desenvolvimento dos empreendimentos solidários, gerando trabalho e renda para aqueles
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que necessitam. Acreditamos que os Diagnósticos Participativos realizados com os grupos de
trabalhadores acompanhados pela IESOL precisam possibilitar o registro documental, bem como
sua guarda em um acervo e sua disponibilização aos membros da IESOL, aos grupos de
trabalhadores que participam do processo e também aos pesquisadores que se interessem por
estudar a história e a realidade vivida pelas pessoas envolvidas nas atividades da EconomiaSolidária.
Por meio dessas práticas como pesquisadores-extensionistas se constatou na prática
cotidiana que as metodologias existentes e tradicionalmente utilizadas nos processos de
incubação e acompanhamento dos grupos de trabalhadores da Economia Solidária, não dão conta
do trabalho proposto. Isto porque tentam aplicar instrumentos técnicos e metodológicos
padronizados sem considerar as memórias, as identidades e as subjetividades dos trabalhadores
associados ou cooperados. Identidade aqui compreendida como processos em que a noção de
pertencimento e de continuidade histórica dos grupos sociais é construída por meio de memórias
e de subjetividades também em construção a partir das lutas sociais, políticas e econômicas e suas
contradições e ambigüidades no presente (POLAK, 1992; BOURDIEU, 1997; CASTELLS,
2002; GROS, 2004; FOUCAULT, 2004; CANCLINI, 2005; BAUMAN, 2005; HALL, 2006).
Graças ao debate constante sobre a necessidade de renovação das metodologias das
Incubadoras universitárias e a busca de um horizonte metodológico próprio, este Projeto garantiu
a instalação permanente da Oficina de Metodologia de Diagnóstico, Formação e Assessorias -
Equipe de Incubação, favorecendo a organização em reuniões semanais com oficina permanente,aprendendo a produzir as tecnologias sociais por meio de documentação variada e a refletir sobre
a utilização das mesmas nos processos de acompanhamento e incubação. Pois, é praticamente
impossível fazer um trabalho de extensão da magnitude do que é proposto na IESOL, que tenha
permanência e caráter realmente transformador da realidade dos grupos de trabalhadores, se não
houver produção constante de tecnologias sociais que qualifiquem os processos e os debates e,
por sua vez, os profissionais formados e em formação para realizá-lo.
Professores, assessores e acadêmicos constataram que a pesquisa, o ensino e a extensão
estão indissoluvelmente ligados e que, somente através da valorização das tecnologias sociais
relacionadas ao trabalho de diagnóstico com histórias de vida atravessando os processos de
formação e de assessorias, é que se aprende na prática a fazer um bom trabalho, dentro e fora da
Universidade para que a formação acadêmica seja mais ampla e para que os trabalhadores
possam conseguir viver melhor. O desenvolvimento cotidiano de tecnologias sociais favorece a
criticidade dos pesquisadores-extensionistas. Isso tem sido fundamental para nossa equipe, para
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os trabalhadores (que em nossa região quase nunca tiveram visibilidade da sua história e das suas
demandas) e para o desenvolvimento de políticas públicas nos municípios em que atuamos (Ponta
Grossa, Porto Amazonas, Tibagi e Ortigueira).
Atualmente, há na IESOL a compreensão coletiva de que, quando o Convênio MEC/Sesu
for encerrado, continuaremos atuando em várias frentes a partir da renovação metodológica proporcionada pela produção do Banco de Histórias e dos Planos de Trabalho com cada grupo
acompanhado/incubado. Dessa forma, o Banco de Histórias, e os diagnósticos e Planos de
Trabalho com os grupos, continuarão a existir como tecnologias sociais e instrumentos de
trabalho (para pesquisa, formação, assessorias) que se propuseram a criar novas metodologias
necessárias para as Incubadoras no movimento da Economia Solidária. É importante ressaltar que
foram realizadas mais de quarenta entrevistas de histórias de vida com cinco grupos de
trabalhadores, as quais ofereceram bases para o diagnóstico participativo, destacando os seguintes
aspectos.
Em geral, os grupos acompanhados têm um perfil de funcionamento bastante problemático,
com níveis de conflitos diversos, mas que transitam da dependência das prefeituras/igrejas e da
baixa e/ou grande rotatividade/oscilação na participação das pessoas até a exploração do trabalho
de uns por outros. Os grupos têm dúvidas e/ou problemas quanto às formas de configuração legal,
têm problemas de viabilidade econômica e nos processos de trabalho, quanto à forma precária
como eles são organizados, à forma de apresentação dos produtos e à garantia de sua qualidade,
ao cálculo do seu custo, ao não atendimento de uma pesquisa de demanda, à não eficiência deestratégias de comercialização, à não disponibilidade de infra-estrutura e recursos adequados,
entre outros problemas.
Em relação ao perfil dos trabalhadores e trabalhadoras dos grupos destacamos que
trabalhadores manifestaram orgulho, satisfação pessoal e certa realização profissional ao
desenvolver seus trabalhos nos grupos de maior configuração solidária. Essa informação
contrasta com histórias de trabalho em geral relacionadas à desvalorização de seus fazeres e
saberes e repletas de exploração. Nesse sentido, as práticas econômicas solidárias têm favorecido
a inclusão, econômica, social, política e cultural desses sujeitos, que sentem diferenças entre as
situações que vivem atualmente nos grupos e o contexto de isolamento a que estavam submetidos
antes de ingressarem nos mesmos.
Em geral, os trabalhadores e as trabalhadoras estão nas faixas etárias dos 20/30/40 e 50 anos
e têm: condições precárias de sobrevivência com baixa qualidade de vida, remuneração baixa ou
inexistente, escolaridade baixa ou inexistente, formação profissional baixa ou inexistente, locais
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de moradia nas periferias das cidades ou na zona rural, com parentes agregados, situação de
migração do campo para a cidade e de cidades menores para maiores, situação de desemprego,
situação de trabalho informal com vários “bicos”, situação de dependência de algum tipo de
serviço de assistência social, tais como: Bolsa Família, Bolsa Escola, entre outros, situação de
chefia de famílias com vários filhos em idade escolar que de alguma forma são incorporados àsatividades de trabalho dos pais, problemas pessoais, familiares e de relações de gênero de
gravidade, tais como: casamentos e gravidez na adolescência; violência doméstica contra
mulheres e crianças; famílias desagregadas/reconstituídas; filhos que pararam de estudar para
trabalhar; avôs que criam netos abandonados/deixados pelos pais; problemas de saúde que vão da
depressão às doenças laborais, ausência de condições adequadas de trabalho na sede dos grupos
ou em casa, quando o trabalho é desenvolvido ali, ausência de recursos que garantam a ida e a
permanência no cotidiano do trabalho, tais como transporte, alimentação e cuidado de crianças,
ingresso nos grupos por necessidade econômica e falta de outra alternativa de trabalho,
consciência baixa ou inexistente da gravidade de suas condições de vida e de trabalho.
A partir dessas considerações, afirmamos como muito oportuna à realização desse projeto,
pois, por meio dele, deu-se à valorização do desenvolvimento de tecnologias sociais no contexto
de uma metodologia permanente da atuação da Equipe de Incubação. Propiciou, assim, a
renovação das metodologias de Incubação fortalecendo nosso processo de amadurecimento e de
profissionalização do trabalho na IESOL. Por fim, a meta principal é contribuir com a construção
da Rede Nacional de Tecnologias Sociais, em parceria com a ITCP/COPPE-UFRJ e com aITCP/FGV-SP.
Referências Bibliográficas
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______; RIBEIRO, Suzana Lopes Salgado & MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Vozes da Marcha
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