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CENTRO DE INSTRUÇÃO ALMIRANTE GRAÇA ARANHA - CIAGA ESCOLA DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DA MARINHA MERCANTE – EFOMM BANDEIRAS DE CONVENIÊNCIA – BENEFÍCIOS E MALEFÍCIOS Por: Renata Engler Velloso Dabul Orientador Prof. Alexandre de Oliveira Gomes Rio de Janeiro 2008

Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

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CENTRO DE INSTRUÇÃO

ALMIRANTE GRAÇA ARANHA - CIAGA

ESCOLA DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DA

MARINHA MERCANTE – EFOMM

BANDEIRAS DE CONVENIÊNCIA – BENEFÍCIOS E MALEFÍCIOS

Por: Renata Engler Velloso Dabul

Orientador

Prof. Alexandre de Oliveira Gomes

Rio de Janeiro

2008

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CENTRO DE INSTRUÇÃO

ALMIRANTE GRAÇA ARANHA - CIAGA

ESCOLA DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DA

MARINHA MERCANTE – EFOMM

BANDEIRAS DE CONVENIÊNCIA – BENEFÍCIOS E MALEFÍCIOS

Apresentação de monografia ao Centro de Instrução Almirante

Graça Aranha como condição prévia para a conclusão do Curso

de Bacharel em Ciências Náuticas do Curso de Formação de

Oficiais de Náutica (FONT) da Marinha Mercante.

Por: Renata Engler Velloso Dabul

Page 3: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

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CENTRO DE INSTRUÇÃO ALMIRANTE GRAÇA ARANHA - CIAGA

CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DA MARINHA MERCANTE – EFOMM

AVALIAÇÃO PROFESSOR ORIENTADOR (trabalho escrito):_______________________________ NOTA - ___________ BANCA EXAMINADORA (apresentação oral): ___________________________________________________________________________ Prof. (nome e titulação) ___________________________________________________________________________ Prof. (nome e titulação) ___________________________________________________________________________ Prof. (nome e titulação)

NOTA: ________________________

DATA: ________________________

NOTA FINAL: __________________

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4

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que, de alguma maneira,

contribuíram para o desenvolvimento deste

trabalho, principalmente meu orientador e mestre

Alexandre de Oliveira Gomes. Gostaria de

agradecer aos mestres Accioly e Coppieters e à

amiga Cris, que também me auxiliaram na

confecção deste.

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DEDICATÓRIA

Dedico (e também agradeço): a meus pais, irmão e

família, que sempre estiveram do meu lado. Àqueles

que de alguma maneira, direta ou indiretamente,

também contribuíram com minha formação e

caráter. Às verdadeiras amizades que fiz na

EFOMM e aos grandes amigos “lá de fora”. Dedico

também ao meu namorado e principalmente amigo

Alexandre, que me apóia e ajuda sempre.

Sem eles eu não chegaria onde cheguei.

Page 6: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

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RESUMO

Neste trabalho acerca das Bandeiras de Conveniência serão especificados a definição

do termo e o histórico da utilização das Bandeiras. Serão analisados os malefícios originados

a partir da utilização deste sistema para os tripulantes, para os países em desenvolvimento,

para o país do armador, bem como para os demais países, para o armador e para o meio

ambiente. Serão apontados também os benefícios dessa prática para os países que oferecem

suas bandeiras e para os armadores que as hasteiam. Explicitará a relação da Organização

Internacional do Trabalho e Organização Marítima Mundial com o sistema de Bandeira de

Conveniência. O trabalho discorre ainda acerca da Federação Internacional dos Trabalhadores

em Transportes (ITF) e sua campanha contra a utilização das Bandeiras. Além disso, são

especificados registros de embarcações e o Registro Especial Brasileiro. Por fim, são

propostas medidas a serem tomadas pelos armadores a fim de atenuar os malefícios

provenientes da utilização do sistema de Bandeiras de Conveniência.

Palavras-chave: Bandeiras de Conveniência, histórico, malefícios, benefícios,

Organizações Internacionais, ITF, campanha da ITF, registros, possíveis soluções.

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ABSTRACT

In this workman presentation about Flags of Convenience, the definition of this

expression and the history of its use will be specified. This work will explain how the use of

this system lead disadvantages to the crew, to the developing countries and to the shipowner’s

country, as well as to the other countries, to the shipowner and to the environment. The work

shows the benefits of it to the countries that provide their flags and to the shipowners. It will

explain the relation among two International Organizations (the International Labour

Organization and the International Maritime Organization) and the Flags of Convenience

system. Besides that, this work will also consider as for the International Transport Workers

Federation (ITF) and its campaign against the use of the Flags. And beyond that, vessel’s

registrations and the Brazilian Special Registration are specified. Then, measures to be taken

by the shipowners are suggested, in order to minimize the harm originated from the use of

Flags of Convenience.

Descriptors: Flags of Convenience, history, harm, benefits, International

Organizations, ITF, ITF campaign, registrations, possible solutions.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ___________________________________________________________ 10

1 – A origem das Bandeiras de Conveniência ____________________________________ 12

1.1 – Definição _________________________________________________________ 12

1.2 – Histórico __________________________________________________________ 13

2 – Utilização das Bandeiras de Conveniência ___________________________________ 17

2.1 – Definição de Registro ________________________________________________ 17

2.2 – Principais características dos países que oferecem sua bandeira _______________ 18

2.3 – Malefícios originados pela utilização de Bandeiras de Conveniência ___________ 19

2.3.1 – Principais problemas que marítimos a bordo de navios de Bandeiras de

Conveniência enfrentam ____________________________________________________ 19

2.3.1.1 – Problemas Trabalhistas _______________________________________19

2.3.1.2 – Problemas Econômicos ______________________________________ 20

2.3.1.3 – Problemas Sociais __________________________________________ 21

2.3.1.4 – Problemas de Seguridade Social _______________________________ 22

2.3.1.5 – Problemas Sindicais _________________________________________ 22

2.3.1.6 – Conseqüências na segurança da vida humana no mar _______________ 23

2.3.2 – Impacto Econômico nos países em desenvolvimento ___________________ 24

2.3.3 – Desvantagens para o país do Armador _______________________________ 25

2.3.4 – Desvantagens para os países / pessoas em geral ________________________26

2.3.5 – Desvantagens para o Armador _____________________________________ 26

2.3.6 – Impactos Ambientais ____________________________________________ 27

2.4 – Benefícios decorrentes da utilização das Bandeiras de Conveniência ___________ 31

2.4.1 – Vantagens para o país que oferece sua bandeira _______________________ 31

2.4.2 – Vantagens para o Armador que utiliza Bandeira de Conveniência _________ 31

3- Organizações Internacionais e a Bandeira de Conveniência _______________________ 34

3.1 – A Organização Internacional do Trabalho (OIT) ___________________________ 34

3.2 – A Organização Marítima Internacional (IMO) ____________________________ 35

4 – A Federação Internacional dos Trabalhadores em Transportes (ITF) _______________ 36

4.1 – Definição _________________________________________________________ 36

4.2 – Principais problemas enfrentados pela ITF _______________________________ 37

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4.3 – A campanha da ITF contra as Bandeiras de Conveniência ___________________ 38

4.3.1 – A evolução da campanha _________________________________________ 38

4.3.2 – A campanha ___________________________________________________ 40

5 – Registros de embarcações ________________________________________________ 44

5.1 – Registros Nacionais _________________________________________________ 44

5.2 – Segundo Registro ___________________________________________________ 44

5.3 – Registro Especial Brasileiro (REB) _____________________________________ 47

CONSIDERAÇÕES FINAIS _________________________________________________ 49

ANEXO A _______________________________________________________________ 51

ANEXO B _______________________________________________________________ 53

ANEXO C _______________________________________________________________ 57

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS __________________________________________ 61

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INTRODUÇÃO

A utilização de Bandeiras de Conveniência é um assunto complexo, conflitante e

polêmico. Dependendo de quem se utiliza delas, torna-se passível de muitas opiniões e

interpretações diferentes, sendo considerada uma das questões mais discutidas no universo

marítimo. Esta prática vem assumindo proporções cada vez maiores no transporte no mar. Em

estudos realizados pela Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento

(UNCTAD), verificou-se que em 1976 a frota de Bandeiras de Conveniência abrangia 30% da

tonelagem mundial e com índice de crescimento superior ao das frotas de demais países. Foi

também estimado que, atualmente, para navios graneleiros, a frota já tenha ultrapassado 70%.

Pelo que se é conhecido, a prática da Bandeira de Conveniência existe desde antes do

século XVI, mas se desenvolveu principalmente a partir da Segunda Guerra Mundial. Eram

utilizadas como bandeiras neutras nos navios, para não serem atacados. Após a Guerra, os

armadores não retornaram para suas bandeiras de origem como seria esperado e, com o

tempo, o número de navios com esse tipo de registro foi crescendo cada vez mais. Um

histórico mais completo sobre o surgimento da prática do Registro em Bandeiras de

Conveniência, bem como o porquê de, após a Guerra, os armadores não terem voltado para

seus registros nacionais, serão explicitados no capítulo 1. Mas antes será apresentado o

significado do termo de acordo com algumas definições. Serão explicitadas também algumas

informações sobre as frotas mundiais de Bandeira de Conveniência e uma relação cronológica

do aumento desta prática.

Este sistema vem sendo defendido por grupos ligados diretamente ao problema:

tripulantes, armadores e Governos. Devido às facilidades oferecidas, esse tipo de registro é

extremamente favorável aos armadores, que por sua vez, contratam tripulantes de baixo custo,

tendo o mínimo de despesa possível. Entretanto, também têm uma baixa qualificação

profissional, o que acarreta riscos à segurança da navegação e da vida humana no mar. Esse

assunto será analisado no capítulo 2, juntamente com diversos malefícios gerados pela

utilização das Bandeiras de Conveniência. Malefícios esses para os marítimos (apresentando

os principais problemas trabalhistas, econômicos, sociais, de seguridade social e sindicais),

para os países em desenvolvimento, para o armador e seu país de origem, para os demais

países e para o meio ambiente (explicitando alguns dos principais acidentes com navios de

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Bandeiras de Conveniência). Além disso, serão destacados os benefícios para os países que

fornecem suas bandeiras e para os armadores que as utilizam. Será apresentada também, no

início do capítulo, uma breve idéia do que vem a ser o registro de uma embarcação.

A Organização Mundial do Trabalho (OIT) não se refere diretamente aos Pavilhões de

Conveniência, mas inclui a abordagem de questões trabalhistas dos marítimos. Já a

Organização Marítima Internacional visa à realização dos esforços necessários para

implementar padrões relacionados à proteção do meio ambiente e à navegação segura. A

relação existente entre essas duas organizações mundiais e as Bandeiras de Conveniência será

apresentada no capítulo3, juntamente com uma breve lista de alguns países membros da IMO

que fornecem suas bandeiras para os Registros nesses pavilhões.

Perante os problemas gerados pela utilização de Bandeiras de Conveniência, a

Federação Internacional dos Trabalhadores em Transportes (ITF) verifica se as convenções da

OIT estão sedo cumpridas corretamente, se referindo à proteção dos direitos e interesses do

pessoal marítimo. Visa estabelecer um vínculo entre a bandeira e a nacionalidade do armador

e tripulação, bem como assegurar aos tripulantes dos navios que Bandeiras de Conveniência

proteção contra a exploração por parte de muitos armadores. Criou uma campanha contra a

utilização da prática desses registros. No capítulo 4 será discorrido acerca da ITF, dos

principais problemas enfrentados por essa Federação no que tange esses registros e analisada

sua campanha pouco mais detalhadamente.

Com a necessidade de tentar recuperar seus navios das Bandeiras de Conveniência,

muitos países buscaram meios para evitar a concorrência, evitar que cada vez mais armadores

se desviassem para esses registros e motivá-los a registrarem seus navios nas bandeiras

nacionais. Foi criado assim o Segundo Registro, que juntamente com uma breve análise dos

registros nacionais, será especificado no capítulo 5. Ao mesmo tempo em que os países

almejavam recuperar seus navios do registro em Pavilhões de Conveniência, o Brasil

procurava um meio de reduzir seus custos, através da diminuição de encargos sociais e fiscais.

A idéia era desenvolver uma legislação que fornecesse facilidades e incentivos para os

armadores brasileiros que aqui registrassem seus navios. Assim, foi criado o Registro Especial

Brasileiro, que também será apresentado neste capítulo, que tem o objetivo de aumentar a

competitividade da Armação Nacional em relação à estrangeira.

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CAPÍTULO 1

A ORIGEM DAS BANDEIRAS DE CONVENIÊNCIA

1.1 – Definição

A expressão Bandeira de Conveniência engloba algumas interpretações, dependendo

do ponto de vista de quem se refere à mesma ou de quem a utiliza, como por exemplo,

sindicatos, governos, armadores, entre outros.

Para os sindicatos, Bandeira de Conveniência pode ser considerada um mal aos

empregados, pois há a preocupação com o salário, tratamento, segurança, direitos humanos e

condições de trabalho dos tripulantes desses navios. Já para os armadores, a Bandeira de

Conveniência é considerada um meio de obter mais lucros, ou melhor, de reduzir custos,

pagando menos impostos, taxas, salários devidos, etc. Sendo imposta uma restrição mínima

pelos governos dos países que a cedem, por mais que cada navio registrado forneça uma

pequena receita, o conjunto final constitui uma soma considerável.

Para os governos dos países que deixam de ter o navio sob seu registro de origem, a

Bandeira de Conveniência diminui a renda que entra no país, uma vez que os navios são

registrados em outros estados, diminuindo os lucros para o país de origem do navio (país da

nacionalidade do armador).

Segundo a Federação Internacional de Trabalhadores em Transportes (ITF –

International Transport Workers Federation), o termo Bandeira de Conveniência pode ser

definido como: “Quando a propriedade beneficiária e o controle do navio residem em um país

diferente ao da bandeira que o navio hasteia, considera-se que o navio navega sob Bandeira de

Conveniência. Isto significa que não existe um vínculo genuíno entre o armador ou

proprietário e o pavilhão do navio.”.

O Comitê Econômico Social da Comunidade Européia expressa o termo com duas

definições equivalentes:

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1ª) “A bandeira de qualquer país permitindo o registro da propriedade estrangeira e

controle estrangeiro sob condições que, por quaisquer razões, são convenientes e oportunas

para as pessoas que estão registrando os navios.”.

2ª) “A bandeira dos países cujas leis permitem e certamente facilitam para navios

armados por nacionalidades estrangeiras ou companhias que ostentam estas bandeiras em

contraste com a prática dos países marítimos, onde o direito de ostentar a bandeira nacional é

sujeito a severas condições e acarretam extensas obrigações.”.

Já Metaxas, no livro “Flags of Convenience”, define “Bandeiras de Conveniência são

as bandeiras nacionais daqueles estados, nos quais empresas de shipping registram seus

navios, objetivando maximizar seus benefícios e minimizar seus custos, evitando a legislação

econômica e outras legislações e as condições em termos de emprego dos fatores de produção,

que seriam aplicáveis em seus próprios países.”.

As quatro definições são bastante semelhantes e abrangentes e resumem, se forma

sucinta, o significado do termo. Em resumo, pode-se dizer que Bandeiras de Conveniências

são aquelas fornecidas por um país que oferece facilidades fiscais, mediante pagamento de

uma taxa de matrícula e uma renovação anual, com o objetivo de os armadores registrarem

seu navio na sua bandeira, sem restrições para a real nacionalidade do navio ou de quaisquer

membros da tripulação.

1.2 – Histórico

Pelo que se é conhecido, as Bandeiras de Conveniência são utilizadas desde antes do

século XVI, mas não com essa nomenclatura. A prática se tornou mais usada no século XVI,

quando este expediente era recorrido pelos comerciantes britânicos ao colocarem seus navios

sob a bandeira espanhola, a fim de ganhar acesso à atividade comercial nas Índias Ocidentais

e não serem excluídos da mesma. No início do século XIX, parte da frota dos Estados Unidos

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utilizava a bandeira portuguesa para não ser capturada por navios britânicos. Já no começo de

1920, a Bandeira foi utilizada para burlar a “Lei Seca” 1 nos Estados Unidos.

Devido à Segunda Guerra Mundial, muitos armadores (principalmente americanos)

transferiram o registro de seus navios para países neutros (como Panamá e Libéria), a fim de

protegerem seus navios mercantes e frotas, especialmente de longo curso, de serem atacados

ou aprisionados. Foi durante esse período de conflito que a prática da utilização das Bandeiras

de Conveniência começou a ser mais realizada.

As Marinhas Mercantes que participaram da Guerra se reorganizaram e cresceu a

concorrência. Portanto, cresceu também a necessidade de se ter fretes competitivos e para tal,

os custos deveriam ser baixos. Foi feito o possível, mas com o aumento de impostos, crises e

reivindicações crescentes dos sindicatos dos trabalhadores, muitos armadores migraram com

seus navios para países que oferecessem uma legislação mais branda e impostos mais baixos.

Em 1924, o Panamá foi o primeiro país que implantou o sistema de Bandeiras de

Conveniência. Ao final do ano, a Lloyd’s Registers of Shipping já havia um total de quinze

navios registrados na bandeira do Panamá.

No final da guerra, imaginava-se que os navios fossem voltar a ter seus registros nos

países de origem, uma vez que não havia mais necessidade de deixá-los sob o registro de

outra bandeira. Entretanto, isso não ocorreu. Durante a Guerra esses navios obtiveram um

enorme lucro devido à exploração comercial do navio. Tal fato ocorreu por esses países onde

os navios eram registrados fornecerem inúmeras facilidades fiscais, pouco controle sobre

operações e manutenção dos mesmos, sonegação de impostos, entre outros. Ou seja, ao

contrário do que se esperava, a frota sob Bandeiras de Conveniência cresceu ainda mais.

É apresentada a seguir, uma relação cronológica, para se ter uma idéia do aumento

crescente dos navios sob Bandeiras de Conveniência (Graf. nº 1).

1 A Lei Seca é caracterizada pela proibição de bebidas alcoólicas. Vigorou nos Estados Unidos por quase quatorze anos e condenava a fabricação, venda, transporte, importação e exportação das bebidas alcoólicas em todo país e territórios que eram submetidos judicialmente a eles.

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1955 – Países desenvolvidos possuíam 80% da tonelagem mundial

Registros em Pavilhões de Conveniência: 10% da tonelagem mundial.

1970 – Registros em Pavilhões de Conveniência: 23% da tonelagem mundial.

1977 – Países desenvolvidos possuíam 55% da tonelagem mundial

Registros em Pavilhões de Conveniência: 28% da tonelagem mundial.

(O que mostra um decréscimo de 25% da tonelagem mundial possuída pelos países

desenvolvidos e um crescimento de 18% da possuída pelas Bandeiras de Conveniência.).

1985 – Registros em Pavilhões de Conveniência: 37%

1996 – Registros em Pavilhões de Conveniência: 46,5%

1998 - Navios sob Bandeiras de Conveniência chegaram a 56,5% da tonelagem

mundial bruta.

Observando o Graf. nº 2, pode-se perceber que no período compreendido entre 1939 e

1991 houve um grande aumento na tonelagem dos navios que arvoram Pavilhão de

Conveniência.

É válido acrescentar que, entre os anos de 1980 e 1998, a tonelagem de navios com

registro nessas bandeiras aumentou em 77%.

Atualmente, ocorre em grande escala a transferência das bandeiras dos países

desenvolvidos para as de Registro Aberto (o mesmo que Bandeira de Conveniência). Tal fato

é observado principalmente em relação aos navios graneleiros. Porém, há um enorme

crescimento no Registro sob Bandeiras de Conveniência de outros tipos de embarcações que

operam em diferentes segmentos, como navios tanque, cargueiros e porta contêineres (Tab.

nº 1).

Podem ser relacionadas algumas informações sobre as frotas mundiais, as quais serão

listadas a seguir.

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Em 1995, das dez maiores frotas mundiais, cinco eram de países de

Bandeiras de Conveniência (Libéria, Panamá, Chipre, Bahamas e Malta) (Tab. nº 2);

O Panamá é a maior Bandeira de Conveniência, a Libéria é a segunda

maior (Tab. n° 3);

A Bandeira Panamenha é a primeira das dez com maior demanda de

marítimos (Tab. nº 4);

Em 1995, os principais países de Bandeiras de Conveniência possuíam a

maior participação na frota mundial por tipo de navio. (Tab. nº 5). Além disso, de

acordo com dados e variações, esses países tendem a um aumento nessa participação

(Tab. nº 6).

Os países relacionados na Tabela nº 7 foram declarados os principais fornecedores de

Bandeira de Conveniência do mundo. A lista foi divulgada pela ITF como oficial, autorizada

e mundialmente conhecida. Inclui 32 países e é interessante ressaltar alguns deles, tais como:

→ Antigua e Barbados, Bahamas, Bermudas, Chipre, Gibraltar, Honduras, Ilhas

Caimã, Ilhas Marshall, Ilhas Maurício, Jamaica, Líbano, Libéria, Malta, Mongólia, Antilhas

Holandesas, Coréia do Norte, Panamá, São Vicente, Sri-Lanka, Tonga e Vanuatu.

Em uma publicação da ONU que analisa o setor de Bandeiras de Conveniência, a

relação dos maiores fornecedores de Bandeira de Conveniência está encabeçada pelo Panamá,

Libéria e em seguida, Bahamas, a que correspondem respectivamente à Grécia, Japão e

Alemanha, como países proprietários ou de controle dos navios. (Fig. nº1)

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CAPÍTULO 2

A UTILIZAÇÃO DAS BANDEIRAS DE CONVENIÊNCIA

2.1 – Definição de Registro

Em sua definição, no que tange à natureza jurídica, o conceito de navio enquadra-se

em bem móvel de natureza sui generis, ou seja, um bem móvel com características de bem

imóvel.

Por ser considerado um imóvel, existe a necessidade de que haja um registro. Depois

de ser vistoriado e constatado que está nas devidas condições, ele deve ser registrado em um

país para que possa operar no comércio marítimo. Isto é, precisará de uma bandeira para

oficialmente poder operar e navegar, estando sob suas leis e normas.

Os registros das embarcações podem ser Nacionais ou Abertos. Nos Registros

Nacionais, há por parte do Estado da Bandeira um efetivo controle sobre os navios nele

registrados, para mantê-los submetidos à sua legislação. Já os Registros Abertos se constituem

de Registros de Bandeiras de Conveniências e de Segundos Registros.

O registro do navio é feito junto a uma autoridade naval em um determinado porto

(porto de registro) e navegará sob a bandeira do país do respectivo porto. Caso este porto seja

o de origem do navio, ostentará a bandeira do país de domicílio e nacionalidade de seu

armador. Caso o registre em outro porto, por quaisquer razões, diz-se que está sob um registro

de Bandeira de Conveniência.

Diversos países oferecem suas bandeiras para serem ostentadas a bordo de inúmeros

navios estrangeiros. Ao ostentar a bandeira de uma nação, a embarcação passa a ser parte

integrante de seu território, fazendo-se valer de suas leis e convenções ratificadas por esse

país do pavilhão.

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2.2 – Características comuns dos países que oferecem sua bandeira

Primeiramente, pode-se dizer que os países que fornecem seu registro são países de

pouca expressão econômica. Observa-se também a necessidade de obterem uma fonte de

entrada de divisas para utilização em suas balanças de pagamento, o que faz com que esses

países coloquem seus pavilhões a serviço da conveniência. Normalmente cobram taxas mais

baixas para as companhias de navegação de qualquer país, tornando fácil a obtenção do

registro, sendo uma fonte proveitosa de imposto para o país interessado. Em relação ao meio

marítimo, a regulamentação é reduzida e há exoneração dos impostos sobre os lucros,

assegurando aos armadores que exploram suas frotas sob essas bandeiras vantagens que

dificilmente conseguiriam sob sua própria bandeira.

Existem características comuns a todos esses países que oferecem registro em

Bandeira de Conveniência. Por exemplo, eles permitem livremente a contratação de

tripulações estrangeiras, sem restrição de número de tripulantes por nacionalidade e autoriza

cidadãos não-residentes a serem armadores e/ou controlarem seus navios mercantes.

Já com relação ao registro, o mesmo é de fácil obtenção, uma vez que o navio pode se

registrar no estrangeiro, não estando a transferência sujeita a qualquer restrição. O rendimento

obtido pela exploração dos navios não está sujeito a impostos ou quando está, é irrisório, e os

direitos por matrículas e a taxa anual (sobre a tonelagem do navio) são, em geral, os únicos

encargos exigidos e existentes. E as receitas obtidas por essas taxas, apesar de pequenas,

quando aplicadas sobre a tonelagem dos navios, têm uma importante e grande influência na

economia desses países.

Mesmo com tantos navios que ostentam Bandeiras de Conveniência, o país da

matrícula é, na realidade, uma pequena potência na qual não se vê qualquer necessidade, em

quaisquer circunstâncias previsíveis, dos navios registrados. Esses países obtêm lucro em

função dos muitos recursos financeiros das vantagens de ordem fiscal.

Infelizmente, a maioria desses países que fornece sua bandeira não tem condições para

controlar as empresas de navegação e tampouco cobra rendimentos pela exploração dos

Page 19: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

19

navios. Na realidade, muitos também não têm poderes nem estrutura administrativa para fazer

cumprir os regulamentos e convenções internacionais.

2.3 - Malefícios originados pela utilização de Bandeiras de Conveniência

2.3.1 - Principais problemas que marítimos a bordo de navios de Bandeiras

de Conveniência enfrentam

2.3.1.1 – Problemas trabalhistas

Em relação ao registro em Bandeiras de Conveniência, os marítimos podem ser

considerados o elo mais fraco do sistema. Os países que fornecem suas bandeiras não

cumprem ou fazem cumprir as normas mínimas sociais nem os direitos do movimento

sindical dos marítimos.

Uma grande parte dos marítimos que trabalham a bordo de navios de Bandeiras de

Conveniência vive em condições precárias a bordo. Trabalham longos períodos fora do

horário, têm salários extremamente baixos, não descansam direito, quase não baixam terra,

não recebem atendimento médico adequado e enfrentam riscos, uma vez que há negligência

nos procedimentos de segurança e manutenção dos navios e equipamentos.

Os países nos quais a tripulação é recrutada só podem fazer pouco ou até mesmo não

podem fazer nada para protegê-la, uma vez que as normas aplicadas a bordo são as do país de

registro (nesse caso, os da Bandeira de Conveniência). Infelizmente muitos desses marítimos

não possuem dispositivos legais contra os abusos e problemas que enfrentam a bordo desses

navios, ficando, dessa maneira, muito prejudicados. Não são associados a sindicatos e, quando

são, o sindicato geralmente é fraco para influenciar no que ocorre a bordo.

Estão relacionados a seguir, com mais detalhes, alguns dos principais problemas

trabalhistas enfrentados.

Page 20: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

20

Tripulação extremamente reduzida, com o objetivo de diminuir os custos com a

mesma, o que resulta em uma sobrecarga de trabalho para a que está a bordo;

Longas jornadas de trabalho, sem o tempo necessário para descanso ou intervalo entre

tarefas, o que as torna extremamente cansativas, prejudicando a atenção e o empenho

necessários ao trabalhador de bordo;

O trabalho é dificultado devido à falta da manutenção adequada e ao mau estado de

conservação dos navios, uma vez que muitas vezes os padrões e normas são

negligenciados;

A existência de tripulações sem qualificação apropriada, competindo com marítimos

qualificados ou até mesmo ocupando seus lugares, recebendo salários menores e

oferecendo pouca condição de desempenhar suas funções;

O tripulante é embarcado sem um exame médico. Ou seja, sem estar estabelecido se o

mesmo se encontra em condições para o embarque e atividade e / ou trabalho a bordo

do navio;

Há instabilidade no emprego, uma vez que existe a possibilidade de o marítimo ser

desembarcado em qualquer hora, em qualquer porto do mundo;

Geralmente a obrigação de repatriação não é cumprida pelos armadores. Eles são

obrigados a repatriar o tripulante ao seu país de origem ou porto de engajamento, o

que muitas vezes não ocorre; e

Não há contratos de trabalho com cláusulas adequadas às condições do mesmo e,

algumas vezes, contratos são firmados em língua diferente à do tripulante.

2.3.1.2 – Problemas econômicos

Os tripulantes não recebem os devidos reajustes salariais. Muitos chegam a ficar até

um ano sem receber;

Page 21: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

21

Também não recebem as devidas horas extras, causando-lhes prejuízos diretos;

Com relação ao fim de contrato e indenizações, em alguns casos não são computados

o tempo de serviço acumulado e as férias do trabalhador;

Muitas vezes, os pagamentos dos salários são efetuados em moedas diferentes das

estipuladas nos contratos ou às normas regulamentares (dólares americanos). Isso traz

problemas aos tripulantes quanto à aquisição desta moeda ou, dependendo da data,

podem até mesmo perder no câmbio vigente;

Em muitos casos, a transferência de pagamento para as famílias não são entregues

corretamente. Existe uma retenção indevida ao demitir os tripulantes. A companhia

retém os salários para diversas despesas, negando-lhes o pagamento adequado; e

O salário pago nos navios de Bandeira de Conveniência é baixo e, em muitos casos,

inferior ao mínimo imposto pela Convenção da Organização Internacional do

Trabalho (OIT). Inclusive, é também inferior ao das convenções nacionais do país da

bandeira e, geralmente, menores aos da tabela determinada pela ITF.

2.3.1.3 – Problemas sociais

Navios, quase na totalidade, sem enfermeiros e medicamentos indicados;

Como os navios não têm rotas pré-fixadas, os tripulantes não sabem a data do retorno

ao porto de embarque, ficando longos períodos longe de suas casas e famílias;

A comunicação é difícil uma vez que existem variados costumes, nacionalidades,

crenças e línguas a bordo de um mesmo navio;

Existe certa discriminação dos tripulantes da bandeira do navio para com a tripulação

estrangeira no que diz respeito ao tratamento. Os salários dos tripulantes do país da

bandeira e os vindos de outros países muitas vezes também são diferentes;

Page 22: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

22

Más condições de conforto e bem-estar: banheiros e chuveiros mal conservados,

navios infestados de roedores (colocando em risco a saúde dos tripulantes e da

população); e

A alimentação é incompleta e de má qualidade e as acomodações geralmente não têm

as devidas condições de habitabilidade.

2.3.1.4 – Problemas de seguridade social

Os tripulantes carecem de seguros sociais, aposentadoria, férias e indenização por

tempo de serviço;

Acidentes de trabalho não são indenizados;

O período no qual o tripulante apresenta doenças causadas pelo trabalho não é

compensado;

Muitos tripulantes são submetidos a períodos excessivos de serviços diversos,

inclusive no passadiço. Assim, é maior a possibilidade de ocorrerem acidentes de

trabalho e doenças; e

A família do tripulante fica completamente desamparada.

2.3.1.5 – Problemas sindicais

Na maior parte dos países fornecedores de mão de obra não existem sindicatos

autênticos;

O tripulante não tem noção suficiente sobre a importância dos sindicatos para a defesa

dos seus direitos;

Page 23: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

23

A maior parte dos tripulantes dos navios de Bandeira de Conveniência não é

sindicalizada. Alguns o são, mas são contratados por agentes engajadores sem

proteção alguma expressa no contrato de embarque; e

Existe a proliferação de agentes engajadores que tentam desestabilizar os sindicatos,

com o intuito de encobrir suas atividades ilegais.

2.3.1.6 – Conseqüências na salvaguarda da vida humana no mar

Alguns fatores que podem levar a ocorrência de acidentes no mar, comprometendo

principalmente a segurança da vida humana:

A não observância das normas e regulamentos sobre segurança no mar, o que causa

inúmeros acidentes ocorridos no mar, canais e zonas de perigo;

As normas de carga máxima não são cumpridas, colocando em risco a estrutura da

embarcação e aumentando as chances de ocorrer um acidente como conseqüência;

Muitas vezes, devido às diferentes línguas e nacionalidades, alguns tripulantes não são

capazes de efetivamente se comunicarem com outros, colocando em risco à segurança

e operação do navio e da vida humana no mar;

Os botes salva-vidas e demais embarcações de sobrevivência apresentam mal estado

de conservação, estando em más condições, com palamenta faltando ou incompletos –

freqüentes deficiências dos mecanismos e manobras de arriamento;

A manutenção das máquinas propulsoras e de todas as partes e sistemas do navio é

deficiente. Os navios de Bandeira de Conveniência geralmente são velhos, inseguros,

degradados e não têm os reparos apropriados (Fig. nº 2);

Falta de conservação dos equipamentos de segurança e navegação, comprometendo

uma boa condição de navegabilidade;

Page 24: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

24

Deficiência ou inexistência de treinamentos diversos (para sinistros, tais como

incêndio e abandono); e

Os sistemas de combate a incêndio existem em condições deficientes ou estão

incompletos.

Além disso, os armadores dos navios que ostentam Bandeiras de Conveniência

geralmente utilizam tripulações inferiores, com relação à quantidade e qualificação. Assim,

esses navios e as tripulações estão mais sujeitos a acidentes no mar do que os navios de

Registro Nacional. As autoridades marítimas dos países desenvolvidos e de tradição náutica

exigem um “cartão de lotação”, que representa o mínimo indispensável para a boa condução /

operação do navio. A partir do momento em que são empregadas pessoas em número menor

ao indispensável, as que conduzem o navio não ficam devidamente descansadas.

Essas práticas realizadas pelos armadores dos navios de Bandeiras de Conveniência

muitas vezes causam uma situação em que a segurança do navio, pessoal e carga ficam

seriamente comprometidas. Inclusive, a segurança de outros navios, portos e costas também é

comprometida.

2.3.2 – Impacto Econômico nos países em desenvolvimento

Com o passar dos tempos, percebeu-se que a utilização das Bandeiras de Conveniência

começou a se tornar uma certa ameaça aos interesses marítimos e ao desenvolvimento das

frotas mercantes dos países em desenvolvimento. Uma maneira de reverter ou, pelo menos,

melhorar essa situação é conseguida através de lutas e interferências de classes, como por

exemplo, as da ITF. Caso contrário, os países em desenvolvimentos estão fadados a ficarem

sob o domínio de grandes empresas que ostentam Bandeiras de Conveniência e que podem

acabar monopolizando o comércio exterior no tráfego marítimo.

Esses países em desenvolvimento tentam com inúmeros esforços criar e aumentar sua

própria Marinha Mercante. Porém, para que seja possível e que a invasão das Bandeiras de

Conveniência acabe ou ao menos diminua, é necessário que se faça concessão de subsídios ou

quaisquer outros incentivos sejam dados. Isto tem como objetivo tornar essas Marinhas

Page 25: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

25

Mercantes Competitivas (mesmo que isso afete suas balanças de pagamento) e a luta pelo

tráfego marítimo mais justa.

Mas infelizmente, as empresas de navegação dos países em desenvolvimento arvoram

o pavilhão de Conveniência com o respaldo de autoridades dos países que fornecem a

bandeira. Elas alegam que os navios afretados possuem custos menores que os da própria

bandeira. Em 1998, por exemplo, 46% dos navios e 62% da tonelagem dos 35 Estados

marítimos mais importantes do mundo estavam sob Bandeiras de Conveniência.

Esta desleal concorrência pode ser tão prejudicial a esses países que eles chegam a

correr o risco de ocorrer uma eliminação progressiva de suas frotas Mercantes. Devido a esse

problema, a UNCTAD 2 desenvolveu uma seção a fim de adotar um plano de ação para a

transferência gradativa dos registros em Bandeiras de Conveniência para o registro normal e

tentar implementar a participação desses países no tráfego marítimo.

2.3.3 – Desvantagens para o país do Armador

Além de os Pavilhões de Conveniência serem uma concorrência desleal para com os

armadores que arvoram as bandeiras de seus próprios países, seu uso acarreta uma série de

problemas e desvantagens para o país do armador. Eles perdem, ou melhor, deixam de receber

o dinheiro de impostos e outros encargos sociais (que seriam recebidos corretamente caso os

armadores não ostentassem outra bandeira). Ocorre diminuição e perda de registros e o país

do armador deixa de ter sua bandeira divulgada em inúmeros portos do mundo. Devido à

diminuição da oferta de emprego no setor marítimo, há um agravamento no problema social e

um maior risco para a segurança nacional e da navegação. Esses diversos problemas podem

ser considerados prejuízos, que prejudicam a economia do país do armador.

2 United Nations Conference on Trade and Development – Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento. Criada em 1964, procura desenvolver o comércio internacional, em busca do progresso econômico.

Page 26: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

26

2.3.4 – Desvantagens para os países / pessoas em geral

Muitas pessoas bem qualificadas perdem suas vagas para os contratados que oferecem

mão de obra barata e com condições inferiores de trabalho, com pouca ou até mesmo

nenhuma qualificação profissional.

Em uma visão geral, pode-se dizer que a utilização de Bandeiras de Conveniência

apresenta mais desvantagens do que os benefícios propriamente ditos. Os mais beneficiados

com a utilização são os armadores, que, em sua maioria, fogem às suas responsabilidades

legais.

Normalmente, as pessoas ou países que sofrem danos com as atitudes dos usuários de

Bandeiras de Conveniência têm dificuldade em localizá-los e fazê-los responder pelos

prejuízos causados.

2.3.5 – Desvantagens para o Armador

No ponto de vista de muitos armadores que as utilizam, as desvantagens do uso das

Bandeiras de Conveniência não chegam a afetar as vantagens provenientes de sua utilização.

Entretanto, são muitas as desvantagens e é valido relacionar algumas.

Exclusão no tráfego de cabotagem (que em muitos países é privativo aos navios

nacionais);

Ausência de representação diplomática em muitos portos do mundo - dificulta e/ou

impede operações de carga / descarga e de assistência diplomática em caso de

acidentes com o navio ou pessoais;

Perda de, por exemplo, incentivos fiscais, facilidades de financiamento, redução de

juros, isenções e subvenções que as nações marítimas oferecem aos navios nacionais;

Page 27: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

27

Seus navios / tripulações estão mais propensos a sofrerem acidentes – muitos

armadores de navios de Bandeira de Conveniência usam tripulações com menor

qualificação e em menos quantidade. A segurança de pessoal, da carga, do próprio

navio e de outros, dos portos e costas e do litoral de todos os países fica seriamente

comprometida;

Pouca reputação dos navios que arvoram Pavilhões de Conveniência – existem alguns

armadores inescrupulosos que se valem da inexistência de administrações marítimas

nos países que oferecem suas bandeiras para registrarem navios desclassificados e

obsoletos que não têm mais condições de trafegar numa bandeira tradicional e, na

verdade, não deveriam trafegar em nenhuma.

2.3.6 – Impactos Ambientais

A maioria dos países que fornecem Bandeiras de Conveniência são desinteressados ou

incapazes de tomar decisões no que tange a segurança, legislação social e condições de

trabalho. Costumam delegar estas responsabilidades às Sociedades Classificadoras e

autoridades dos países onde esses navios aportam. É importante notar que quase todos esses

países aceitam e ratificam convenções da IMO (International Maritime Organization -

Organização Marítima Internacional), mas são meras aceitações formais, pois geralmente não

são capazes de cumprir / fazer cumprir suas normas e dispositivos. Logo, esses navios

representam grandes perigos à navegação (como foi explicitado no subitem 2.3.1.6) e ao meio

ambiente principalmente dos países costeiros.

Tais riscos são também resultados dos longos períodos de trabalhos aos quais os

tripulantes são submetidos, causando-lhes fadiga e falta de atenção. A mão de obra pouco ou

até mesmo não qualificada existente nesses navios também vem acarretando acidentes em

larga escala no mundo inteiro e, conseqüentemente, prejuízos ecológicos e econômicos.

Em muitos casos, esses acidentes ocorrem devido à imprudência das empresas de

navegação e transporte, com relação à política de corte nos custos da segurança da navegação

e da proteção ambiental, e por falta da adequada fiscalização dos governos.

Page 28: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

28

Para poder reduzir a ocorrência de acidentes no mar, é necessário que normas de

segurança marítima sejam aplicadas por completo. Isto acarretará na diminuição do número

de acidentes e, conseqüentemente, na redução prejuízos ambientais. A segurança e aplicação

de todas as medidas para sua garantia é responsabilidade de todos e, talvez, o único caminho

para conseguir com que as embarcações com padrões de navegação inferiores aos corretos

não sejam mais utilizadas no tráfego marítimo.

Infelizmente, navios que arvoram Bandeiras de Conveniência têm estado na vanguarda

dos acidentes, na maioria das vezes devido à fuga às responsabilidades legais.

Serão relacionados alguns dos acidentes mais marcantes ocorridos com navios que

ostentam Pavilhões de Conveniência.

Março, 1967

Bandeira: Libéria

O navio “Torrey Canyon” encalhou próximo à costa da Grã-Bretanha e causou uma mancha

de 300 km2 ao derramar 123 mil toneladas de petróleo e 180 km de praias francesas e inglesas

foram atingidos. A embarcação foi construída nos Estados Unidos, reformada no Japão,

registrada na Libéria, segurada em Londres e tripulada por italianos. No inquérito foi apurado

que seu comandante estava tuberculoso e não saía do navio há um ano. (Fig. nº 3)

1970

Bandeira: Libéria

O petroleiro “Arrow” encalhou no Canadá. No inquérito foi constatado que o Radar tinha se

avariado 4 horas antes, a sonda elétrica não funcionava há 2 meses e a agulha giroscópica

apresentava um erro permanente de 3 graus para Oeste. O Oficial de Serviço do horário do

acidente não tinha licença e nenhum dos oficiais tinha o conhecimento necessário de

navegação (exceto o comandante, mas ainda assim seu conhecimento foi posto em dúvida).

Agosto, 1972

Bandeira: Libéria

Dois petroleiros de mesma bandeira: “Oswego Guardian” (95 mil toneladas completamente

carregado) e “Texanita” (100 mil toneladas, vazio) abalroaram no Oceano Índico, a nordeste

Page 29: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

29

de Capetown, África do Sul. O segundo explodiu tão violentamente que quebrou vidraças a

uma distância de 40 milhas da costa. Partiu-se em dois e sumiu em poucos minutos. Trinta e

três pessoas morreram no “Texanita” e uma a bordo do “Oswego Guardian”. Ambos

navegavam a toda força debaixo de um nevoeiro tão denso que o comandante do “Texanita”,

um dos poucos sobreviventes, não via os mastros do próprio navio. Apesar de terem se

detectado no mar, nenhum diminui a velocidade e o “Texanita” só fez duas plotagens (sendo

que a segunda foi a quatro milhas) e o “Oswego Guardian” não fez nenhuma. Logo após o

abalroamento o comandante do “Oswego Guardian” ordenou que seu navio se afastasse do

local, não prestando socorro aos náufragos do outro. Além disso, pediu socorro só que dando

a posição errada (não se sabe se foi de propósito ou não), o que atrasou a descoberta em mais

de 6 horas. Este acidente provocou o derramamento mais de 90 mil toneladas de petróleo ao

largo da África do Sul.

Março, 1978

Bandeira: Libéria

O petroleiro “Amoco Cadiz” afundou perto da costa da Bretanha, derramando 230 mil

toneladas de petróleo cru. A maré negra afetou mais de 300 km de costas francesas.

Março, 1980

Bandeira: Madagascar

O petroleiro “Tanio” de origem malgaxe, carregando 27 mil toneladas de petróleo cru, partiu-

se em dois ao norte do cabo Finisterra e oito marinheiros morreram. A parte da frente do

navio afundou com oito mil toneladas de crude ainda nos tanques.

Abril, 1991

Bandeira: Chipre

O petroleiro “Haven”, com 140 mil toneladas de petróleo, explodiu no Mediterrâneo, na costa

de Gênova (Itália). Em 48 horas, foram derramadas 30 mil toneladas de petróleo. Três dias

depois afundou sem se partir, o que evitou o que poderia ser a maior catástrofe ecológica no

Mediterrâneo.

Page 30: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

30

Janeiro, 1993

Bandeira: Libéria

O petroleiro “Braer” encalhou nas rochas de uma região costeira na Grã-Betranha, devido às

más condições climáticas. Mais de 84 mil toneladas de petróleo foram derramadas e a mancha

negra se estendeu ao longo de 40 km da costa.

Fevereiro, 1996

Bandeira: Libéria

O petroleiro “Sea Empress” encalhou na costa do País de Gales e derramou 70 mil toneladas

de óleo. Mais de 25 mil aves marinhas morreram devido ao acidente.

Dezembro de 1999

Bandeira: Malta

O petroleiro “Érika” se quebrou em dois, próximo à costa da Bretanha Francesa, derramando

20 mil toneladas de óleo. Mais de 400 km do litoral francês foram afetados.

Novembro, 2002

Bandeira: Bahamas

O petroleiro “Prestige”, no caminho de Bahamas para Gibraltar, começa a derramar óleo ao

longo da costa da Galícia. Seis dias depois naufraga a mais ou menos de 250 km (Fig. nº 4) do

litoral da Espanha e 295 km de praias galegas foram contaminados por cerca de 20 mil

toneladas de combustível e a pesca foi proibida ao longo de 100 km. Entidades marítimas

sindicais de todo o mundo denunciaram as precárias condições laborais em que trabalharam

os 24 marinheiros a bordo do navio. Todos os tripulantes do petroleiro (exceto o comandante

grego) eram das Filipinas, país em que se encontra a mão de obra mais barata para a atividade

marítima.

Cabe ressaltar ainda que os países que fornecem Bandeiras de Conveniência também a

fornecem para embarcações de pesca de grande escala. De acordo com a “WWF”, mais de

1200 dessas embarcações foram registradas em Bandeiras de Conveniência e

aproximadamente 15% da frota mundial de pesca de grande escala apresenta registro em

Pavilhões de Conveniência ou está registrada como bandeira desconhecida. Isso influencia na

pesca ilegal, gerando enormes prejuízos para o meio ambiente marinho.

Page 31: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

31

2.4 – Benefícios decorrentes da utilização das Bandeiras de Conveniência

2.4.1 – Vantagens para o país que oferece sua bandeira

Basicamente, não são muitas as vantagens existentes para o país que cede seu pavilhão

para conveniência. A principal é a entrada de capital, proveniente das taxas anuais e

matrícula. Como foi dito no subitem 2.2, os países que oferecem a bandeira são de pouca

expressão econômica e esta fonte de receita geralmente se constitui no maior fator de ingresso

de dinheiro.

Com o aumento no número dos navios que arvoram Bandeiras de Conveniência, há,

conseqüentemente, uma maior divulgação da bandeira de determinados países ao redor do

mundo. Esses países detêm parte da tonelagem mundial, mas a maioria dos seus navios está

sob Bandeira de Conveniência.

Os Estados que fornecem as bandeiras detêm um poder considerável sob os navios que

as ostentam. Infelizmente, com o aumento dessa prática, pode-se dizer que está ocorrendo

uma banalização na relação entre navio / armador e o país onde o registro realmente deveria

ser feito.

2.4.2 – Vantagens para o armador que utiliza Bandeira de Conveniência

Para o Armador que registra seu navio em Bandeira de Conveniência, existem

inúmeras vantagens, como, por exemplo, o alcance de facilidades fiscais, promovendo

aumento em seus ganhos reais e a fuga dos altos custos, sejam eles salariais ou custos

diversos. É interessante ressaltar algumas, tais como:

A taxa de matrícula e a renovação anual são baixas, se tornando uma facilidade

chamativa para os armadores;

Ao registrar o navio em Bandeira de Conveniência, o armador não paga as devidas

taxas e impostos (para a sociedade nem de renda). Também não segue as legislações

Page 32: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

32

trabalhistas de seus países, muitas vezes desenvolvidos, de origem;

Como não há o pagamento dos impostos nem outras obrigações legais, existe a

possibilidade de um reinvestimento dos lucros;

O armador tem maior autonomia na escolha do estaleiro construtor do navio e na

companhia de seguros, das oficinas de reparos e fontes de abastecimento, sem

interferência ou restrições governamentais;

A admissão de novos sócios também fica a critério do armador;

Detém também liberdade na escolha das linhas de navegação que vai seguir, dos tipos

de carga, das operações de afretamento e também não há vínculos nem obrigações

para com o Estado;

Para o armador, é mais fácil a obtenção de créditos bancários para novas construções,

uma vez que há uma maior participação própria no capital de investimento;

Possui o poder de reduzir a tripulação, uma vez que na maioria das vezes, não cumpre

muitas normas e legislações trabalhistas, desvinculando-a dos “cartões de lotação” que

são exigidos pelas autoridades de muitos países;

Também pode diminuir sensivelmente os salários e encargos salariais. Isso ocorre

principalmente para com os tripulantes de uma categoria mais baixa, que geralmente

são os recrutados em países de menor nível econômico. Com isso, também se vê uma

piora na alimentação e nas condições de trabalho, acomodações e higiene;

No caso de uma guerra, seus navios ficariam menos expostos a um controle por parte

do governo do país do armador. Também pode operar em cenários de guerra sem

ocorrer a quebra de uma possível neutralidade do país do armador;

Page 33: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

33

Arvorando Bandeira de Conveniência, é mais fácil para o armador fugir da

responsabilidade caso ocorram acidentes ou atos que prejudiquem qualquer pessoa,

navio ou país.

A prática de registrar o navio em Bandeira de Conveniência é extremamente favorável

ao armador. As diversas vantagens, adicionadas à inexistência do controle que há por parte

dos países que cedem suas bandeiras, motiva cada vez mais os armadores do mundo inteiro a

participarem desse sistema.

Page 34: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

34

CAPÍTULO 3

ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS E A BANDEIRA DE

CONVENIÊNCIA

3.1 – A Organização Internacional do Trabalho (OIT)

Estabelecida em 1919, visa promover a justiça social. Anos depois, a OIT se tornou a

primeira agência especializada a se filiar às Nações Unidas, sendo, atualmente, a única do

Sistema que tem estrutura tripartite, ou seja, os representantes dos empregadores e dos

trabalhadores têm os mesmos direitos que os do governo.

Reafirma o comprometimento dos Estados Membros e da comunidade internacional

de respeito, promoção e aplicação de um patamar mínimo de princípios e direitos no trabalho,

fundamentais para os trabalhadores.

Esses princípios e direitos baseiam-se, basicamente, na liberdade sindical e direito à

negociação coletiva, na não discriminação no emprego ou ocupação e na eliminação do

trabalho forçado. Em resumo, estuda os diversos aspectos do trabalho. A OIT recomenda

padrões internacionais mínimos e a redação de convenções internacionais sobre o trabalho,

incluindo pontos de vista relativos a horas de trabalho, salários, idade mínima para o emprego,

limitação das horas de trabalho de menores e mulheres, condições de trabalho decentes,

fiscalização do trabalho, prevenção de acidentes do trabalho, previdência social, férias

remuneradas e liberdade de associação e repatriação, conferindo assim, uma melhoria nas

condições de trabalho, nos padrões de vida e no progresso de uma economia social estável.

A OIT cria e adota normas internacionais de trabalho, em forma de Convenções e / ou

recomendações adotadas pela Conferência Internacional do Trabalho, com participação de

representantes dos trabalhadores, do governo e dos empregadores.

As convenções da OIT não tratam especificamente sobre Bandeiras de Conveniência,

entretanto, se referem às questões trabalhistas de marítimos. A Convenção 147, por exemplo,

Page 35: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

35

se refere a qualquer navio que se encontre fora dos padrões. A OIT autoriza Autoridades

Portuárias a inspecionar navios onde haja suspeita de violação das normas, mesmo que

pertençam a países que não a tenham ratificado, podendo também mantê-los no porto até que

as providências sejam tomadas para a regularização da situação.

3.2 – A Organização Marítima Internacional (IMO)

Criada em Genebra, a Organização Marítima Internacional – a IMO (International

Maritime Organization) – é um organismo das Nações Unidas. Com o intuito de estabelecer

um sistema de colaboração integrado entre governos (no que tange às questões técnicas que

interessam à navegação comercial internacional), tem o objetivo de encorajar a adoção geral

de normas relativas à segurança marítima e à eficácia da navegação. Também tem o propósito

conseguir altos padrões das mesmas, facilitando a cooperação entre esses governos, em

relação às matérias técnicas que afetem a navegação internacional.

A IMO examina questões ligadas às práticas desleais de empresas de navegação,

promove que medidas discriminatórias relacionadas à navegação sejam extintas, trata de

outros assuntos apresentados por outros órgãos das Nações Unidas (relacionados à navegação

marítima) e promove um intercâmbio de informações / projetos estudados entre governos.

Trata de assuntos marítimos em geral, na parte técnica e de segurança e atualmente é um

órgão normativo.

É importante ressaltar que muitos dos países que oferecem suas bandeiras para

armadores estrangeiros são membros da IMO, tais como: Antigua e Barbados, Bahamas,

Chipre, Honduras, Líbano, Libéria, Malta, Ilhas Marshall e Maurício, Mongólia, Panamá,

Singapura, Sri-Lanka, Tuvalu e Hong Kong (membro associado).

Pode-se dizer que o objetivo da Organização é realizar os esforços necessários para

implementar padrões relacionados à proteção do meio ambiente bem como a uma navegação

segura. Infelizmente, não é uma tarefa tão fácil fazer com que todos os navios de Bandeira de

Conveniência sigam corretamente esses padrões. Pode parecer que tal fato seja resultado da

falta de vistorias e inspeções, mas a verdade é que, devido às inúmeras facilidades

encontradas, muitos desses navios continuam a burlar normas, mesmo com as inspeções.

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36

CAPÍTULO 4

A FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DOS

TRABALHADORES EM TRANSPORTES (ITF)

4.1 – Definição

A ITF, International Transport Workers Federation, foi fundada em 1896 na Holanda

por organizações de marítimos e portuários / estivadores europeus. Durante a Segunda Guerra

Mundial, foi transferida para Londres, onde se localiza desde então. Uma das finalidades da

Federação é verificar se as convenções da OIT estão sendo cumpridas, bem como os diversos

acordos estabelecidos entre trabalhadores e organizações marítimas de empregadores. Desde

que foi criada, pode ser considerada uma voz unida e democraticamente governada das

organizações sindicais dos trabalhadores em transportes em todas as regiões do mundo. É uma

das organizações que detêm forte controle sobre os salários e condições de trabalho dos

marítimos.

Um dos principais objetivos da Federação é garantir a proteção dos direitos e

interesses do pessoal marítimo. Com relação às Bandeiras de Conveniência, intervém nas

disputas entre os marítimos e os navios que ostentam estes pavilhões. Busca assegurar que as

tripulações desses navios de beneficiem de acordos sindicais que salvaguardem os salários –

quantitativo e o correto pagamento – e as condições laborais. Preconiza a aplicação efetiva de

tais normas pelos armadores, qualquer que seja o país de registro.

De um modo geral, pode-se afirmar que a ITF realiza três funções primordiais:

1. Promover a solidariedade entre as organizações de transporte e os trabalhadores nos

diversos países;

2. Representar estas organizações sindicais nos vários organismos internacionais e

regionais que fixam regras ou políticas relativas ao transporte e / ou questões sociais; e

3. Oferecer serviços de informação e educação para as entidades sindicais de transporte

no mundo.

Page 37: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

37

4.2 – Principais problemas enfrentados pela ITF

A ITF é contra a discriminação e o abuso para com os marítimos e acredita que a

utilização dos registros em Bandeiras de Conveniência facilita a exploração e permite os

armadores tratarem seus empregados do jeito que lhes convir, provendo, muitas vezes uma

relação extremamente desigual entre as partes.

A Federação Internacional considera que os navios que arvoram Pavilhões de

Conveniência têm um status diferente daqueles que hasteiam a Bandeira Nacional. Segundo

sua política, devem ser aplicados regulamentos e padrões mínimos muito mais elevados aos

navios de Bandeiras de Conveniência.

O Acordo Coletivo da ITF dita uma relação detalhada de regulamentos e normas sobre

condições de trabalho, bem como uma tabela salarial para essas embarcações. Para serem

aceitáveis pela ITF, os navios que ostentam Bandeira de Conveniência têm que estar cobertos

por acordos que incluam níveis salariais mais elevados. O Gráfico nº 3 apresenta as variações

ocorridas no número de navios de Bandeiras de Conveniência cobertos por acordos da

Federação.

Os tripulantes dos navios que ostentam Pavilhões de Conveniência geralmente são

instruídos pelos armadores a não fazerem contato com a ITF e alguns chegam a obrigá-los a

assinarem contratos ou declarações prometendo não entrar em contato com Federação. Nesses

contratos também são especificadas sanções que serão aplicadas contra o marítimo, ou até

mesmo seus familiares, caso a proibição não seja obedecida.

Existem também alguns agentes de engajamento e armadores que chegam a assinar

acordos com a ITF, mas depois enganam seus tripulantes, pagando menos e ignorando o

combinado, ameaçando os marítimos que informarem o exercício destas práticas à ITF.

Algumas vezes, os trabalhadores dos navios de Bandeira de Conveniência são obrigados a

concordar em devolver à empresa quaisquer salários atrasados obtidos pela ITF ou por ação

da tripulação. Em alguns casos, é inclusive obrigado a deduzir esse valor de salários futuros,

sob ameaça de represálias por parte das autoridades – muitas vezes negligentes – em seus

países de origem.

Page 38: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

38

Segundo a Federação Internacional, os armadores deveriam ser proibidos de

escolherem quais leis querem obedecer e que salários pretendem pagar, saindo de seus países.

O Acordo Coletivo da ITF é designado não apenas para garantir uma boa renda aos marítimos

dos navios que hasteiam Pavilhões de Conveniência, mas também para servir como um freio

aos armadores que registram seus navios fora de suas bandeiras.

Muitos armadores, governantes e agentes de engajamento que exploram marítimos

também difundem mentiras e calúnias sobre a Federação e sua campanha contra as Bandeiras:

acusam a Federação de discriminação contra os marítimos de países pobres, de ser

protecionista e de realizar extorsão e chantagem. Essas acusações são falsas, mas servem de

base para confirmar que a ITF é considerada o principal problema para aqueles que obtêm

lucros através da exploração de trabalhadores do mar na indústria do transporte marítimo.

É perceptível a existência de uma grande discórdia entre os sindicatos de marítimos

filiados à ITF nos países industrializados e os sindicatos de países pobres que fornecem de

mão de obra. Os primeiros detêm a propriedade dos navios e vêem seus membros perderem

seus postos de trabalho por culpa do registro fora, enquanto que os outros fornecem mão de

obra barata e pouco qualificada que tripulam os navios registrados fora de bandeiras

nacionais.

Em meio a diversas discussões, o mais importante para todos os marítimos é que

estejam unidos contra as vontades dos armadores de rejeitar uma tripulação nacional em favor

de outra, com o intuito de baratear a força de trabalho e diminuir seus custos.

4.3 – A campanha da ITF contra as Bandeiras de Conveniência

4.3.1 – A evolução da campanha

O início da Campanha – 1948

Ocorreu no Congresso da ITF, realizado em Oslo, meados de 1948. A Seção de Marítimos da

ITF sugeriu um boicote contra as bandeiras do Panlibhonco (abreviatura dada para os quatro

principais países que ofereciam sua bandeira: Panamá, Libéria, Honduras e Costa Rica).

Page 39: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

39

Inicialmente, o plano de ação foi procurar negociar coletivamente com os armadores dos

navios, nas bases das condições mínimas definidas. O boicote contra o armador que recusasse

aplicar os padrões mínimos só haveria se essas negociações falhassem.

O boicote mundial – 1958

Dez anos após ter sido proposto em 1948, a ITF organizou um boicote mundial de quatro dias

contra navios da bandeira do Panlibhonco que não tinham acordos. Entre 300 e 400 navios

foram parados e a ITF calculou que 90% do transporte foi atingido.

A ação foi bem sucedida ao mostrar à indústria do transporte marítimo que os filiados da ITF

eram capazes e tinham disposição para coordenar uma ação industrial de nível mundial.

Contudo, o preço foi pesado para muitos sindicatos: processos legais e multas por prejuízos

foram comuns em muitos países.

Os anos 60

Durante essa década, o lado prático da campanha foi reduzido. A ITF concentrou o trabalho

da campanha no lobby em cima de governos e organismos internacionais. Para uma grande

parte do mundo foi um período de expansão econômica. Houve aumento do comércio e os

padrões reais das condições de vida de muitos trabalhadores foram melhorados. Apesar de as

Bandeiras de Conveniência ainda ameaçarem, muitos sindicatos sentiam que o uma ação

governamental solucionaria o problema.

A retomada da Campanha – 1971

Aos poucos, a campanha foi renovada e revitalizada. No final da década de 60, houve um

grande aumento na tonelagem das Bandeiras de Conveniência. Por esse motivo, o Congresso

da ITF, realizado em Viena (1971), dedicou muito tempo a essa questão. O resultado do

Congresso foi a reorganização da campanha e seu crescimento. Além disso, a Inspetoria da

ITF foi criada, com o objetivo de fazer o contato direto entre as tripulações dos navios de

Bandeira de Conveniência e a Campanha da ITF (Fig. nº 5). Esses inspetores asseguram

acordos para navios que não os têm e controlam os acordos nos navios que os têm.

Page 40: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

40

4.3.2 – A campanha

Por mais de 50 anos, a ITF vem promovendo a Campanha contra os armadores que

abandonam a bandeira de seus países, na procura de tripulações mais baratas e padrões de

segurança e qualificação mais baixos.

Pode-se dizer que, em curto prazo, a Campanha contra as Bandeiras de Conveniência

da ITF tem como objetivo assegurar acordos aceitáveis para os empregados de navios de

Bandeira de Conveniência. Já em longo prazo, tem como objetivo a total erradicação do

sistema de Bandeira de Conveniência, bem como o retorno à situação onde exista o vínculo

entre a nacionalidade da bandeira que o navio hasteia e o país do armador.

O Acordo Coletivo realizado entre armadores e a ITF determina o salário e condições

de trabalho de toda a tripulação de Bandeira de Conveniência, independente da nacionalidade.

A ITF procura garantir que ela não seja desfavorecida quanto aos salários e condições de

trabalho a que é submetida.

A atuação dos inspetores é essencial para a Campanha. Eles são os delegados de

organizações nacionais filiadas (de marítimos ou portuários / estivadores) à ITF nos

respectivos países e podem ser encontrados em diversas regiões do mundo. Os inspetores:

• Visitam navios de Bandeira de Conveniência que não têm um acordo aceitável para a

ITF e realizam gestões para negociar esse tipo de acordo com o armador ou com o

comandante;

• Fazem vistorias quanto ao correto pagamento dos salários e também às condições

sociais e trabalhistas dos marítimos e, se necessário, impõem a política da ITF;

• Entram em contato com os sindicatos dos marítimos para agir contra navios sem

acordos aceitáveis;

• Verificam os termos dos contratos coletivos aceitáveis pela ITF, e outros, que tenham

sido assinados, e tomam medidas legais e / ou industriais para assegurar que os

Page 41: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

41

marítimos recebam o pagamento a que têm direito (Fig. nº 6);

• Conversam com os marítimos a respeito de seus problemas, oferecendo-lhes conselhos

e assistência sempre que possível;

• Agilizam apoio de emergência (comida, água, acomodação) para marítimos em greve

ou abandonados pelo armador;

• Realizam audiências com as autoridades do trabalho, departamentos de imigração,

polícia e órgãos governamentais, para assegurar que o navio tenha condições de

navegabilidade e que as normas mínimas internacionais e / ou nacionais de segurança,

habilitação, lotação e alojamento da tripulação estejam sendo devidamente

observados; e

• Negociam com os representantes do armador em favor dos tripulantes sobre seus reais

direitos.

Infelizmente, os inspetores nem sempre podem ajudar as tripulações. Algumas vezes a

ITF somente pode ajudar os marítimos que realmente são associados de uma organização

filiada ou do Departamento Especial de Marítimos (DEM).

O DEM também atua na campanha, além dos inspetores. O Departamento mantém

contato permanente com eles, informando-os a respeito das reclamações recebidas,

oferecendo-lhes informação e alternativas de como lidar com os casos difíceis. É um órgão

especial instalado sob os estatutos da ITF. Funciona como um centro administrativo para a

condução da campanha das Bandeiras de Conveniência e como uma organização sindical para

marítimos que não podem, por diversas razões, associarem-se a uma organização de

marítimos filiada à ITF.

O Departamento abrange dois setores, o administrativo e o político, os quais possuem

uma Unidade de Acordos (que processa as solicitações de aprovação de acordos coletivos e as

Page 42: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

42

matérias relativas ao chamado “Certificado Azul” 3 – emitido para os armadores com acordos

aprovados pela ITF), uma Unidade de Reclamações (que supervisiona o processo de

recebimento de reclamações contra os armadores por salários retidos e indenizações por

acidentes, por exemplo) e uma Unidade de Ação para Navios (que procura um vínculo com os

Inspetores e informa sobre ações industriais e legais contra os navios de Bandeira de

Conveniência).

Por quase meio século, a Campanha da ITF tem tido, além das muitas já citadas, as

seguintes metas:

• A eliminação das Bandeiras de Conveniência e o estabelecimento de uma organização

regulamentar onde toda indústria do tráfego marítimo participe;

• Proteger os marítimos e melhorar suas condições de trabalho e assegurar que todos os

trabalhadores estejam seguros quanto à exploração feita pelos empregadores e que

tenham recebido seus corretos salários e;

• Tentar manter acordos com navios que estejam abaixo dos padrões.

A Figura nº 7 apresenta uma imagem de marítimos que, por meio de um cartaz, dizem

“Seja bem vinda, ITF, nos ajude”. Esta imagem mostra a realidade de muitos trabalhadores

que não estão seguros quanto à exploração e outros malefícios gerados pela prática de

Bandeira de Conveniência.

Em muitos casos, as relações entre patrões e empregados a bordo dos navios que

ostentam Bandeiras de Conveniência não são regulamentadas e muitos tripulantes não estão

representados por nenhuma organização coletiva com força de negociação. Entretanto, em

alguns casos, a ITF tem conseguido obter entendimento coletivo com as companhias de

navegação que operam nessas bandeiras.

3 “Certificado Azul”, ou “Blue Certificate”, é uma certificação emitida pela ITF aos armadores dos navios de Bandeiras de Conveniência que mantêm os salários e acordos trabalhistas conforme o padrão da Federação Internacional.

Page 43: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

43

A campanha de política da ITF pode não ser tão bem sucedida quanto o esperado no

que tange a prevenção do aumento do número de navios sob Bandeiras de Conveniência.

Entretanto, a campanha industrial teve sucesso com relação aos mínimos salários pagos e

condições de trabalho a bordo em quase 5 mil navios registrados em Bandeiras de

Conveniência.

A ITF se tornou uma das principais organizações responsáveis pelo combate à

exploração e maus tratos dos marítimos, independentemente de nacionalidade ou empresa

onde trabalha.

A Figura nº 8 mostra a campanha da ITF contra as Bandeiras de Conveniência.

Page 44: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

44

CAPÍTULO 5

REGISTROS DE EMBARCAÇÕES

5.1 – Registros Nacionais

Segundo Rodirère e Pontavice, “Um navio não pode deixar de ter uma

nacionalidade” 4. Essa nacionalidade citada se constitui no país de registro do navio, ou seja,

onde o navio é registrado. Quando é registrado fora de sua bandeira de origem, esses autores

chamam essa nacionalidade de “pseudo-nacionalidade”, uma terminologia funcional e

operativa.

Nos Registros Nacionais, há um controle efetivo do governo do país sobre os navios.

Isso faz com que o proprietário / armador cumpra exigências legais relacionadas, por

exemplo, à sua origem, domicílio, pessoa física ou jurídica, e obrigam que parte da tripulação

seja nacional. Alguns dos principais países que adotam o Registro Nacional em muitas de

suas embarcações: Estados Unidos, países do Norte da Europa e Japão.

O crescimento da utilização de Bandeiras de Conveniência diminuiu a quantidade de

navios registrados nos seus países de origem (de domicílio ou nacionalidade do armador). Nos

últimos anos, alguns dos países que eram considerados tradicionalmente marítimos tiveram

um fluxo crescente de saída de seus navios para o regime.

Com medo de haver perda total ou quase, a solução encontrada pelos Governos para

que os armadores trouxessem seus navios de volta para os registros nacionais foi a criação de

um Segundo Registro Nacional.

5.2 – Segundo Registro

Esses países, a maioria desenvolvida, que estavam perdendo suas frotas para aqueles

que cediam seu pavilhão, estavam paulatinamente perdendo suas Marinhas Mercantes e, 4 Em RODIRÈRE, René. PONTAVICE, Emmanuel. Droit Maritime. 10ª Ed., Paris, 1986, p.65.

Page 45: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

45

conseqüentemente, tudo o que se referia ao apoio dado a navios e indústrias de navegação. Os

Governos procuraram meios para evitar a concorrência, evitar que os armadores fugissem

para as Bandeiras de Conveniência e para motivá-los a registrarem seus navios em suas

bandeiras, ou seja, nas nacionais e, como foi citado no subitem 5.1, criaram o Segundo

Registro Nacional.

Na impossibilidade da eliminação total da prática de Bandeira de Conveniência e do

desenvolvimento da bandeira convencional devido aos custos tributários, o Segundo Registro

foi implementado como medida, se não satisfatória, ao menos, menos prejudicial. É cedido

por países que já possuem navios registrados em Registros Nacionais a navios de sua

nacionalidade, ou até mesmo de outras.

Nesse registro, o país abre mão da arrecadação de certos direitos e contribuições

sociais, para conservar o navio sob o controle do Governo, por questões de segurança e com o

intuito de fazer com que os navios registrados tenham uma melhor reputação perante o

mercado de transporte marítimo do que os de Bandeiras de Conveniência. A tributação é

basicamente desse país cujo Governo controla e fiscaliza a movimentação das frotas.

O país que adota o sistema de Segundo Registro concede a seus armadores certas

facilidades para o registro e redução de custos, tais como:

– Taxas reduzidas;

– Diminuição ou isenção de encargos fiscais;

– Ônus sensivelmente reduzidos;

– Facilidades para utilização da bandeira de navios afretados a casco nu;

– Aceitação de tripulação de variadas nacionalidades. Em alguns casos, a única exigência é

que só o Comandante tenha a nacionalidade do país do Segundo Registro;

Page 46: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

46

– Existência de uma legislação previdenciária e trabalhista para qualquer tripulante, apoiada

nas convenções internacionais da OIT; e

– Reputação da bandeira do país do Segundo Registro (uma vez que os navios ficam sujeitos à

legislação aplicada ao Registro Nacional).

Após a introdução de seus navios no Segundo Registro, muitos armadores procuram a

contratação de alguns tripulantes estrangeiros para suas embarcações. Isso torna a armação

internacional competitiva, e gera aos armadores isenção de encargos sociais sobre os salários.

Com algumas vantagens semelhantes às do sistema de Bandeiras de Conveniência, o

Segundo Registro é capaz de oferecer redução de custos. Entretanto, o Segundo Registro não

pode ser considerado Bandeira de Conveniência, pois exige que a propriedade corresponda ao

país da bandeira e que os acordos sejam aceitáveis para os sindicatos do dito país. Existem

diferenças básicas entre o Segundo Registro e o Registro em Bandeiras de Conveniência.

Enquanto que praticamente todos os proprietários dos navios que ostentam Bandeiras

de Conveniência são de nacionalidade estrangeira, o Segundo Registro se compõe de

proprietários (pessoas ou empresas), quase na sua totalidade, de mesma nacionalidade da do

país de registro.

Os países que adotaram o Segundo Registro são países desenvolvidos e de tradição

marítima. E os países que oferecem seus pavilhões são basicamente de economia pouco

desenvolvida e pouca tradição marítima.

De maneira sucinta, o Segundo Registro foi adotado por certos países a fim de resgatar

suas frotas mercantes do domínio das Bandeiras de Conveniência. Os navios sob Segundo

Registro detêm uma melhor reputação no mercado de transportes em questões relacionadas à

segurança nacional, pressão dos sindicatos locais, exigências derivadas da concessão de

subsídios, reserva de mercado para a bandeira nacional, no transporte de cargas mais rentáveis

ou estratégicas à economia do país.

Page 47: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

47

É importante ressaltar que o Segundo Registro não contribui negativamente com a

segurança da navegação nem a desrespeita. Devido ao efetivo controle sobre seus navios, os

países de Segundo Registro são sujeitos à legislação nacional e a diversas normas e

regulamentos.

5.3 – Registro Especial Brasileiro

Ao mesmo tempo em que muitos dos países que adotavam o Segundo Registro tinham

o objetivo de interromper o êxodo dos navios para o Registro de Bandeiras de Conveniência,

o Brasil almejava uma redução dos custos. Essa redução dos custos seria obtida pela

diminuição dos encargos sociais e fiscais, tornando a Marinha Mercante nacional mais

competitiva. Isso sem deixar de perder o direito a benefícios da Bandeira Brasileira, como

reserva de carga, financiamento através do Fundo de Marinha Mercante e subsídios do

Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante.

A idéia era desenvolver uma legislação que liberasse os armadores nacionais dos

elevados encargos trabalhistas, fiscais e previdenciários. Isso possibilitaria que a Marinha

Mercante Brasileira disputasse o mercado internacional de transportes, tivesse navios de

bandeira brasileira em rotas mundiais e que constituísse a maneira mais segura para o

desenvolvimento da construção naval do país.

Após diversos estudos, a solução foi a criação de um Registro Especial Brasileiro

(REB), regulamentado em 1997. A partir daí, a Marinha Mercante Brasileira passou a ter uma

atuação competitiva no mercado mundial.

O REB constitui uma legislação que oferece diversos incentivos administrativos e

fiscais aos armadores brasileiros, com o intuito de aumentar a competitividade da Armação

Nacional em relação à estrangeira (cujos navios são operados com custos baixos devido às

Bandeiras de Conveniência). Esse registro oferece diversas vantagens para quem (empresa /

armador brasileiros) o utiliza, dentre as quais, pode-se destacar:

– Construção, conservação, modernização e reparos de navios registrados ou inclusive pré-

registrados no REB são equiparados à operação de exportação para efeitos legais e fiscais. Ou

Page 48: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

48

seja, o financiamento oficial para tais operações contará com taxa de juros semelhante à da

embarcação para exploração, a ser equalizada pelo Fundo de Marinha Marcante (FMM);

- A contratação da cobertura do seguro e resseguro do casco, máquinas e responsabilidade

civil é assegurada no mercado internacional;

- As embarcações registradas no REB são isentas do recolhimento da taxa para a manutenção

do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Profissional Marítimo; e

- O frete aquaviário produzido por navios de Bandeira Brasileira inscritos no REB não integra

a base do cálculo para tributos incidentes sobre importação e exportação de mercadorias pelo

país.

As embarcações estrangeiras afretadas à Casco Nu (Bareboat), com suspensão

provisória de bandeira, também podem adotar o REB, caso o afretador queira registrá-las.

Essas vantagens constituem algumas das facilidades encontradas na adoção do

Registro Especial Brasileiro, criado com o objetivo de tornar o Registro Nacional mais

vantajoso e fazer com que os armadores brasileiros deixem de ostentar Pavilhões de

Conveniência em prol do Nacional.

Page 49: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

49

CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar de o surgimento das Bandeiras de Conveniência ter tomado grande vulto na

Segunda Guerra, quando os armadores tentavam escapar dos riscos provenientes do conflito,

ao término da situação seus navios não voltaram para os registros de origem. Pelo contrário,

foram crescendo cada vez mais os registros em Pavilhões de Conveniência, uma vez que

lucros eram obtidos. Isso resultou em um crescimento desordenado de navios com esse tipo

de registro.

A ação contra as Bandeiras de Conveniência é baseada no fato de que uma grande

parte dos armadores que a utilizam não cumpre com as obrigações relacionadas à tripulação

(como pagamento de salários, férias, tempo de descanso e direitos humanos, por exemplo),

segurança da navegação e proteção do meio ambiente. Os que mais se beneficiam com a

existência de Bandeiras de Conveniência são esses armadores e os Governos dos países que

fornecem suas bandeiras. O combate às Bandeiras de Conveniência também ocorre devido à

baixa qualificação da tripulação e más condições dos navios usados. Os armadores visam

economizar e obter lucros, por isso contratam marítimos recrutados em países pobres, que são

em sua maioria sem qualificação profissional, e não fornecem seus devidos direitos.

A implementação de um Segundo Registro em diversos países, e no caso do Brasil, de

um Registro Especial Brasileiro, contribui para a tentativa de acabar com, ou pelo menos,

diminuir, os registros nos Pavilhões de Conveniência. As vantagens oferecidas, juntamente

com uma melhor reputação desses navios com relação às questões de segurança da

navegação, servem de motivação para muitos armadores trocarem os Registros em Bandeiras

de Conveniência pelos Nacionais.

Ao final desta pesquisa sobre Bandeiras de Conveniência, posso afirmar que sua

utilização é totalmente favorável aos armadores e governos dos países que as fornecem. Em

compensação, infelizmente, essas bandeiras chegam a ser consideradas Bandeiras de

Inconveniência, por serem inconvenientes e totalmente prejudiciais aos tripulantes, ao país de

origem do armador, à salvaguarda da vida humana no mar, ao meio ambiente, à segurança da

navegação e aos países em desenvolvimento.

Page 50: Bandeiras Conveniencia Beneficios Maleficios

50

Não acho que seja admissível que os benefícios econômicos preponderem sobre

direitos humanos, segurança da navegação e da vida humana. A utilização de Bandeiras de

Conveniência não somente prejudicam os países de origem dos navios, como “permitem” a

exploração abusiva dos empregados. Além disso, esses navios que a utilizam geralmente não

cumprem normas e regulamentos e não seguem os padrões mínimos de segurança necessários.

Acredito que, para os armadores de Bandeiras de Conveniência, mesmo que ocorram perdas

fiscais para o país do navio, as vantagens econômicas e estratégicas que obtêm compensam

sua utilização.

Muitos desejam combater a prática de Bandeiras de Conveniência, mas em diversas

partes do mundo ela é tolerada e não se faz muito para mudar essa situação. Pode parecer

ilusória a idéia de um dia, acabar com a prática dessas Bandeiras, uma vez que em todos os

portos do mundo observa-se um aumento crescente dessa frota. Logo, pôr fim à utilização

dessas bandeiras pode parecer um plano ingênuo e sem sucesso. Entretanto, o que venho a

propor neste estudo é sugerir a armadores que detêm navios sob Pavilhões de Conveniência

que repensem nas atitudes que estão tomando. Que considerem a possibilidade de contratar

tripulantes do seu país de origem, remunerar corretamente, de acordo com o mercado, efetuar

reparos e manutenções, seguindo os padrões internacionais de segurança, fornecer aos

empregados os devidos direitos trabalhistas, entre outros. Proponho também que considerem a

possibilidade de transferirem seus registros de Bandeiras de Conveniência para os Nacionais,

ou até mesmo, caso seja possível, Segundos Registros.

Sei que as medidas que propus podem parecer utópicas para muitos que as lêem após a

leitura deste trabalho. Entretanto, acredito que para outros, elas sejam uma esperança e uma

amostra de que é possível, sim, melhorar nossa Marinha Mercante, dignificando-a. Porém,

enquanto não se alcançar o objetivo principal, a saída é a contestação, difusão e

esclarecimento de como esse sistema de navegação prejudica diversas classes ligadas ao

transporte de mercadorias pelo mar.

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ANEXO A

GRÁFICO 1 (FEMAR – 2000)

GRÁFICO 2

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GRÁFICO 3 (ITF – 1991)

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ANEXO B

TABELA 1

TABELA 2

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FLAG OF REGISTRY

NUMBER OF

VESSELS

GROSS TONNAGE OF VESSELS (MILLIONS)

Panama 6247 124.7 Liberia 1535 50.4 Malta 1350 36.3

Bahamas 1348 35.8 Greece 1548 28.8 Cyprus 1325 23.0

Singapore 1768 21.1 Norway (NIS) 722 18.4

China 3325 17.3 Hong Kong 766 16.2

TABELA 3

(Top 50 fleets by flag, January 2003, “Seafarers’ Bulletin”, International Transport Workers Federation, nº18, 2004)

TOP 10 FLAGS BY DEMAND FOR SEAFARERS Officers Ratings Total

1. PANAMA 54,559 49,862 104,421 2. CHINA 26,447 61,473 87,920 3. JAPAN 31,212 44,573 75,785

4. GREECE 18,755 32,239 50,994 5. RUSSIA 24,580 22,676 47,256 6. CYPRUS 20,955 19,394 40,349 7. LIBERIA 15,777 21,738 37,515

8. NORWAY 13,137 18,930 32,067 9. INDONESIA 8,743 16,870 25,613 10. GERMANY 9,205 15,790 24,995

Source: International Shipping Federation

TABELA 4 (Seafarer’s Bulletin, nº13, ano 1999. p.25)

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TABELA 5

TABELA 6

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The following 32 countries have been declared FOCs by the ITF’s Fair Practices Committee, which runs the ITF campaign against FOCs

Antigua e Barbuda Cayman Islands Honduras Netherlands Antilles Bahamas Comoros Jamaica North Korea Barbados Cyprus Lebanon Panamá

Belize Equatorial Guinea Liberia São Tome and Príncipe Bermuda (UK) French International Ship

Register (FIS) Malta St. Vincent

Bolivia German International Ship Register (GIS)

Marshall Islands (USA)

Sri Lanka

Burma Georgia Mauritius Tonga Cambodia Gibraltar (UK) Mongolia Vanuatu

TABELA 7

(ITF Global – www.itfglobal.org – acessado em 30 de julho de 2008)

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ANEXO C

FIGURA 1 (Fleet by Flag)

FIGURA 2

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FIGURA 3

FIGURA 4

FIGURA 5

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FIGURA 6

FIGURA 7

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FIGURA 8

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61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Rio de Janeiro, CIAGA, 1992.

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Janeiro, CIAGA, 2007.

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Janeiro, CIAGA.

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22 - Notícias Jurídicas. Paraísos Fiscais. Júris. 31 de maio de 2008. Disponível em:

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23 - Stop Illegal Fishing. Medidas do Estado de Bandeira e do Estado do Porto. Stop Illegal

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<http://www.stopillegalfishing.com/portugues/making_illegal_fishing_history.html> Acesso

em 19 de junho de 2008.

24 - Bandeiras de Conveniência. Ao Sabor da Maré. 30 de novembro de 2007. Disponível em:

<http://aosabordamare.wordpress.com/> Acesso em 19 de junho de 2008.

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<http://www.itfglobal.com> Acesso em 29 de março de 2008, 19 de junho de 2008, 26 de

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26 - Organização Marítima Internacional. Disponível em: <http://www.imo.org> Acesso em

29 de março de 2008, 19 de junho de 2008 e 26 de julho de 2008.

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<http://www.sindmar.org.br> Acesso em 27 de junho de 2008.